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Prêmio UBC

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ENSINAR A OUVIR

Iniciativas de formação de público, já tradicionais no âmbito da música de concerto, se difundem por gêneros como a MPB

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de_ São Paulo

“A música é a arte mais direta: entra pelo ouvido e vai ao coração”. A frase célebre, atribuída ora à flautista espanhola Magdalena Martínez, ora ao compositor argentino Astor Piazzolla, traduz o espírito livre da arte mais difundida, a que toca quase qualquer um sem que se precise ensinar a apreciá-la.

Exceto quando se trata de gêneros que não estão entre os mais populares.

Desde a primeira metade do século XX, a música de concerto vive décadas de plateias minguantes que obrigam seus diligentes artistas a se envolverem em intentos de renovação/formação de público. A novidade é que a outrora dominante MPB, ante o avanço de estilos como sertanejo, pop e funk, também tem ganhado iniciativas de proteção e difusão.

Uma delas é de um dos mais bem-sucedidos projetos de música para crianças, o Mundo Bita, um pacote multimídia que envolve vídeos de animação com mais de 3,5 bilhões de visualizações na internet, teatro, música e licenciamentos de objetos. Ao se associar a nomes como Milton Nascimento, Alceu Valença, Vanessa da Mata, Toquinho e Ivete Sangalo, entre outros, a turma criada por Chaps Melo e seus parceiros da produtora recifense Mr. Plot faz releituras de canções deles ou de outros mestres para apresentá-las ao seu jovem público. Tudo estrelado pelos popularíssimos personagens da série.

“(Os convidados) são artistas que, com sua arte, tocaram muito a nossa criação, influenciando-nos com suas letras e melodias. Considero um trabalho importante de formação de público infantil, de famílias, visto que o cenário não tem sido tão propício a essas obras que admiramos tanto”, Chaps descreve.

“Para a nossa agradável surpresa, os vídeos desse novo projeto, que chamamos de Rádio Bita e que ganhou também uma identidade estética nova para os personagens, têm tido um desempenho tão bom quanto os clássicos do Bita. Lançamos um novo a cada mês, e a média de visualizações tem se mantido em dois milhões mensais. Os artistas vibram muito, veem que estão conversando com um novo público”, completa João Henrique, sócio da Mr. Plot.

A renovação vem pela rede, mas também em projetos presenciais que difundem, sobretudo, a música clássica país afora.

É o caso, entre muitíssimas outras iniciativas, do projeto Guri, em São Paulo; do Neojibá, na Bahia; e dos Concertos Banrisul para a Juventude, das sessões para crianças e adolescentes do IPDAE (Instituto Popular de Arte-Educação) e também do Instituto de Artes da UFRGS, os três últimos no Rio Grande do Sul. Professor na federal gaúcha, o maestro, pianista e compositor Dimitri Cervo crê que a apreciação de “vários tipos de música de excelência, não só a de concerto, é uma decorrência natural” do “desenvolvimento do conhecimento musical e da sensibilidade estética”. Daí, para ele, a importância dos projetos de difusão de gêneros que não ocupam o radar do mainstream atual.

Alceu Valença e Ivete Sangalo, em desenhos e fotografias com Chaps Melo: participantes do projeto Rádio Bita

O CENÁRIO NÃO TEM SIDO PROPÍCIO A ESSAS MÚSICAS.

Chaps Melo, Mundo Bita

Como ele analisa, é natural que, inclusive nos serviços de streaming, note-se um crescente interesse de um renovado público, muitas vezes nativo digital, pela música de concerto. O caminho é óbvio: posto em contato com gêneros eruditos em iniciativas de formação de plateia, esses novos ouvintes vão se aprofundar na internet. “Estamos passando por uma revolução tecnológica e uma mudança de paradigma. Tivemos há algumas décadas a substituição do vinil pelo CD e, agora, do CD pelo streaming. É natural que esse fenômeno atinja também os ouvintes de música clássica.”

Com iniciativas como essas, as ondas sonoras que tanto nos tocam ganham uma parada a mais no caminho proposto pela frase de Martínez (ou será de Piazzolla?): entram pelos ouvidos, passam pelo cérebro e vão ao coração.

Chaps e João Henrique (sócio na Mr. Plot) com Milton Nascimento; à direita, o compositor, maestro e professor Dimitri Cervo

LEIA MAIS Cinco perguntas para o criador do Mundo Bita ubc.vc/MBita

CLÁSSICO NO STREAMING

O recém-lançado disco “Música Sinfônica”, de Dimitri Cervo, é um notável exemplo de popularidade no contexto da música de concerto. Logo nas primeiras semanas após chegar ao mercado, alcançou a marca de 25 mil ouvintes, o que demonstra um interesse nada desprezível pelo gênero. Autoral, o CD é o registro de Cervo à frente da Orquestra Sinfônica da Venezuela, que, como ele lembra, foi conduzida por nomes como Stravinsky, Villa-Lobos e Carlos Chávez. “Sinto-me honrado”, resume o regente, que executou com os músicos venezuelanos algumas de suas composições mais conhecidas, como “Abertura Brasil 2012 Bis” e “Brasil Amazônico”. Ele acaba de concluir outro concerto, para violino e orquestra, “As Quatro Estações Brasileiras”, que planeja reger outra vez em Caracas.

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