Uma Casa Mágica: O Teatro Vila Velha

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Ministério da Cultura e Banco do Brasil apresentam:

vila velha por exemplo

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Realização

A história que vou contar é uma história do nascimento de uma Vila Mágica – um Vila, na verdade –, onde moravam todos os personagens.

Para quem não me conhece, me chamo Cândida, mas todo mundo me conhece como Vovó Candinha. Eu sou uma contadora de histórias!

Eu conto histórias para todo mundo: pra gente pequena e também pra gente grande.

E agora vou contar pra vocês a história da aventura do nascimento de um teatro mágico: o Teatro Vila Velha. Um teatro bem baiano, protegido por todos os Santos e por todos os que amam a nossa Bahia.

Você vai me perguntar: “O que é um teatro, vovó?”. Então a vovó vai responder: teatro é a casa onde se contam todas as histórias. Dentro dele estão muitos personagens. Quem acha que os personagens vão embora depois do espetáculo tá errado. Quando a pessoa faz um espetáculo, os personagens ficam morando naquele lugar pra sempre. E você pode falar com eles e tudo mais.

A imaginação aqui corre solta, e todo mundo pode ser o que quiser e criar quem quiser. No teatro cabe o mundo inteirinho. Aqui você pode voar, pode ser uma lagartixa que canta, uma formiga sapateadora, um celular com pernas, pode inventar o que quiser e o que precisar pra contar uma história.

A gente brinca de inventar, brinca de contar, brinca de criar, brinca de sonhar e sonha junto com todo mundo que tá assistindo.

Aí começa uma belíssima confusão, porque no teatro uma caneta pode virar uma varinha mágica, uma porta se transforma em um tapete voador, um guarda-chuva vira um céu estrelado, uma tampa de lixeira de metal vira um escudo de um grande cavaleiro, como nosso querido Dom Quixote, que mora aqui na nossa casa.

Cada criança que brinca junto ou que assiste a essa história sai com uma semente nova de imaginação plantada em seu coração e assim vai construindo esse lindo jardim que vem de dentro da gente cheio de ideias.

Agora que vocês já sabem o que é um teatro, eu posso contar tudo sobre a casa mágica. O Teatro Vila Velha. Ele já fez aniversário de 60 anos, mas continua uma criança, brincando, inventando, sonhando e contando muitas histórias.

Então, como disse, vou contar pra vocês como ele nasceu. Eu estava lá, eu vi tudo! Fui uma das primeiras espectadoras e acompanhei toda a aventura desta turminha.

Tudo começou quando uma turma de baianos, estudantes da Escola de Teatro da Universidade da Bahia: Carminha, Soninha, Petrô, Othon, Echio e Tereza, foi expulsa injustamente da Escola por um professor.

Eles eram muito talentosos e queriam muito continuar estudando e contando suas histórias e, então, pediram ajuda ao professor João Augusto para embarcar com eles nesse novo desafio de continuar criando seus personagens em outro lugar.

O professor João Augusto era um dramaturgo, um mágico criador de grandes histórias. É muito bom poder escrever e criar as aventuras que vão ser contadas. Quando você escreve, os personagens vão nascendo.

Na criação destas histórias você pode tudo: pode contar sobre um menino que criava mundos, ou contar sobre o sonho de uma menina que brincava com sua boneca, mas que um dia perde esta boneca, e a aventura de procurar a boneca começa: a boneca procurando a menina e a menina procurando a boneca. Tudo pode. O teatro é a liberdade.

Como adorava ensinar e fazer nascer milhões de personagens, o professor João Augusto aceitou a proposta da turma imediatamente, mas perguntou onde eles poderiam começar essa nova aventura.

Aí eles tinham um problema, pois precisariam de uma casa para estudar e abrigar todos os seus personagens, um espaço para deixar a imaginação correr solta, daquele jeitinho que contei para vocês: uma casa cheia de afeto, onde cabe todo mundo em um grande abraço.

Então a vovó vai ensinar mais uma coisa para vocês: quando se tem um grande problema, o desafio passa a ser: colocar a imaginação pra funcionar e resolver tudinho. Aí começou a chover um milhão de ideias.

O

primeiro passo foi criar oficialmente uma Companhia Teatral. Como tudo era novo, esses amigos criaram a Companhia Teatro dos Novos –trazendo grandes novidades.

No começo não foi nada fácil, mas eles contaram com a ajuda de muita gente. Carminha teve a grande ideia de falar com sua avó, que tinha uma casa antiga que estava fechada, no bairro da Graça, em Salvador. Não dava pra se apresentar nesta casa, mas dava pra começar a ensaiar. E lá foram eles começar a criar.

Aí chegou o segundo grande problema: onde eles poderiam apresentar suas histórias se não tinham um teatro? Mais um temporal de ideias surgiu. Essa turma de baianos era danada. Eles nunca paravam e decidiram que, enquanto os personagens não pudessem ter a casa deles, iam encontrar um cantinho para eles existirem de uma forma ou de outra.

Aí o professor João Augusto falou: se não temos um teatro, vamos fazer o nosso em qualquer lugar!

Foi uma loucura e tanto, Carminha, Soninha, Petrô, Othon, Echio e Tereza se apresentavam em lugares bem diferentes: fizeram peças em igrejas, clubes, escolas, praças... Depois viajaram, se apresentaram em outras cidades da Bahia e outros estados. Cada lugar era um novo desafio e uma nova aventura.

Não era só o professor João Augusto que escrevia as peças. Soninha também era muito inventiva: escreveu uma história chamada “O Auto do Nascimento”. E essa foi a primeira aventura que eles contaram para um público.

O “Auto do Nascimento” foi apresentado até na porta de uma igreja. Agora imagina comigo: essa turma ia se apresentar em uma praça ou na frente de uma igreja, onde ia se preparar, colocar a roupa dos seus personagens, se maquiar...? Ora, eles faziam isso tudo antes de sair e iam sentados em almofadinhas coloridas no fundo de um caminhão, vestidos e maquiados, com cenário e todas as coisas que eles iam usar em cena. Assim a mágica acontecia.

Depois começaram a buscar um teatro, uma casa própria pra que seus personagens pudessem definitivamente morar. Como eram muito audaciosos, resolveram falar com o governador. Isso mesmo: o governador da Bahia! O governador achou graça da ideia, adorava ouvir boas histórias no teatro e deu um espaço no meio de um lindo parque, o Passeio Público, para o grupo construir um teatro. Oba! Um espaço já era um começo. E, além do terreno, o governador ofereceu também uma estrutura de metal que ia ser um galpão. Dentro dele teríamos o nosso palco.

Aproveitaram tudo e começaram a montar a casa mágica. O Teatro Vila Velha seria a vila onde morariam todos os nossos personagens.

O lugar é muito diferente. Já dá pra perceber isso desde a entrada. Fica dentro de um lindo parque.

A porta de entrada do parque é uma porta dessas antigas que parecem um portal mágico que leva para fora deste mundo. Um teletransporte para um lugar diferente. Quando se atravessa o portal, toma-se um grande susto de tanta beleza. Árvores frondosas, jardins lindos e, ao fundo, a maior beleza das belezas: o mar. Ali os passarinhos não param de cantar, namorados não param de sonhar, amigos fazem piquenique, muitas histórias e gente feliz.

O teatro era mais diferente ainda. O piso era de asfalto e o foyer era de paralelepípedos feitos pela prefeitura de Salvador. Já imaginou um teatro com piso de asfalto e uma entrada de paralelepípedos? Era o que eles tinham e aproveitaram tudo que conseguiram! A notícia do nascimento desse novo teatro foi tão boa que saiu até no jornal! E aí todo mundo queria fazer parte dessa história e ajudar.

Muitos artistas colaboraram doando pinturas para serem leiloadas, pessoas importantes e pessoas comuns doavam o que podiam para fazer parte desta grande empreitada. Teve a campanha: “Os Novos aceitam tudo que é velho”.

Foi muito engraçado porque o nome do grupo era “Teatro dos Novos”, e todas as coisas que as pessoas não utilizavam mais, como roupas, objetos, até materiais de construção, eram doadas para que fossem transformadas em objetos mágicos da nossa casa. Esse teatro passou a ser da cidade e não do grupo. Nosso Vila agora era de todos os baianos.

No dia da inauguração, a festa foi gigante, teve até escola de samba! Depois deste dia a casa nunca mais parou. Todo sonho cabia naquele palco. Cantores, atores, estudantes de teatro, todos levavam um pouco da semente do seu coração e povoavam aquela casa com novos personagens e histórias.

Moram ainda ali no nosso Vila: Dom Quixote e seus moinhos de vento, fadas, duendes, o Drácula, crianças em Pé de Guerra, indígenas, bandos, bailarinas e bailarinos de todos os lugares, Sacis e toda a turma das lendas deste Brasil, moram heróis que mudaram a nossa história e milhões de personagens que se abraçavam em uma casa linda cheia de luz e som. Som mesmo. Sons que marcaram a época. O céu do nosso Vila é repleto de estrelas, como Gil, Caetano, Gal, Tom Zé, colocando até as vovós, como eu, pra dançar.

E esta é a história do início do Teatro Vila Velha.

Agora a vovó está curiosa: qual seria a história que vocês gostariam de contar nesta casa? Ela também é sua, e nos próximos 60 anos vocês também podem vir contar uma história com a gente. Ou reunir seus amigos e fazer o seu próprio teatro onde quiserem. Então virem a página e vamos começar juntos agora!

Inventem comigo uma nova aventura para cada integrante dessa turminha: Carminha, Soninha, Petrô, Othon, Echio, Tereza e o professor João Augusto. Desenhem e escrevam tudo. O lugar, as roupinhas, como eles são, suas histórias, e qual aventura que eles vão viver. Assim vocês também vão ter seu próprio livrinho e vão poder fazer o seu próprio teatro com seus amigos!

E, se quiserem, venham contar pra gente aqui no nosso Vila. Aqui vai ser também a casa dos seus personagens, e vamos brincar de fazer teatro e contar histórias todos juntos!!!

Se quiserem saber como eram os personagens que construíram o Teatro Vila Velha, vejam nas páginas seguintes.

Echio Reis foi um ator e diretor brasileiro reconhecido por suas contribuições ao cinema nacional nas décadas de 1960 e 1970. Participou de filmes significativos, como “Terra em Transe” (1967), dirigido por Glauber Rocha. Sua filmografia inclui ainda “Imagens do Silêncio” (1972) e “André, a Cara e a Coragem” (1971), de Xavier de Oliveira. Echio também contribuiu para o teatro brasileiro, destacando-se como ator, diretor teatral e membro-fundador da Sociedade Teatro dos Novos (1959) e construtor do Teatro Vila Velha, que dirigiu nos anos 1980. Ele também foi criador do Teatro Popular de Ilhéus.

Carmen Bittencourt foi uma atriz brasileira de destaque. Em 1959, juntamente com colegas da Escola de teatro da UFBA, sob a liderança do diretor artístico João Augusto, fundou a Sociedade Teatro dos Novos. O trabalho intenso e inovador do grupo resultou na criação do Teatro Vila Velha, inaugurado em 1964, no Passeio Público, em Salvador. Carmen desempenhou um papel fundamental na administração do grupo e na organização de seu acervo documental, contribuindo significativamente para a memória e preservação das atividades do teatro.

Othon Bastos nasceu em Tucano, na Bahia, sua carreira começou no teatro nos anos 1950. É membro-fundador da Sociedade Teatro dos Novos (1959) e construtor do Teatro Vila Velha (1964). Ícone do Cinema Novo, sua atuação como Corisco em “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha, é um dos maiores momentos do cinema nacional. Outro destaque foi sua atuação em “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” (1969) e no premiado “São Bernardo” (1972). Na televisão, Othon Bastos participou de diversas novelas e minisséries. Ao longo de sua carreira, Othon recebeu inúmeros prêmios e homenagens, consolidando-se como uma lenda viva da dramaturgia nacional, e, aos 91 anos, atuou no monólogo “Eu Não Me Entrego Não”, no qual narra sua trajetória como artista brasileiro.

foi uma figura marcante ligada ao Teatro dos Novos, tendo contribuído de maneira significativa para a fundação e o desenvolvimento do Teatro Vila Velha. Como parte da Sociedade Teatro dos Novos, ela integrou o grupo de artistas pioneiros que revitalizou a cena teatral baiana e ajudou a consolidar um espaço para a experimentação e valorização da cultura brasileira. Como atriz construiu sua carreira entre Salvador e Rio de Janeiro.

Carlos Petrovich Ator e educador, nasceu em Natal (RN) e foi um dos criadores da Companhia Teatro dos Novos e do Teatro Vila Velha. Petrô, como era conhecido, participou ativamente da vida cultural baiana, participou de filmes como:”O Caipora”, de Oscar Santana (1964); “A idade da Terra”, de Glauber Rocha (1980) e “Jenipapo”, de Monique Gardemberg (1995). Protagonizou o espetáculo “Um tal de Dom Quixote”, que reinaugurou o Teatro Vila Velha, em 1998. Era ogã do Ylê Axé Opô Afonjá. Perseguiu sempre o sonho de educar crianças com artes, como sujeitos autônomos solidários e coletivos.

Sonia Robatto nasceu em Salvador, é filha do dentista e cineasta Alexandre Robatto Filho, um dos primeiros cineastas da Bahia. Foi aluna da primeira turma da Escola de Teatro da Ufba, onde atuou em espetáculos como, “As Três Irmãs” (1958), “A Almanjarra” (1958), “A Via Sacra” (1958). É membro-fundadora da Sociedade Teatro dos Novos, primeira companhia profissional de teatro da Bahia (1959) e criou o Teatro Vila Velha (1964). A partir de 1965, morou no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde foi editora de revistas e livros. Foi criadora da revista Recreio e de mais de 1.000 histórias para crianças. Em 1998 voltou para a Bahia e retomou os palcos do Teatro Vila Velha, como atriz e autora.

João Augusto Azevedo nasceu no Rio de Janeiro em 15 de janeiro de 1928. Estreou no Teatro do Estudante do Brasil. Foi um dos fundadores d’O Tablado, ao lado de Maria Clara Machado, onde trabalhou de 1951 até 1956. Foi também um dos fundadores do Teatro de Fantoches de Brighella. Veio para a Bahia para ensinar na Escola de Teatro da UFBA, a convite de seu diretor, Martim Gonçalves. Em 1959 criou, com um grupo de ex-alunos da escola, o primeiro grupo profissional da Bahia, a Sociedade Teatro dos Novos, que dirigiu até 1968. Além de peças e recitais de poesia, João Augusto dirigiu também diversos shows musicais. Foi também o primeiro diretor artístico do Teatro Castro Alves e colunista do jornal A Tarde. Em 1966 criou o “Teatro de Cordel”, e a partir daí desenvolveu várias experiências com esse gênero literário com os Novos e com o Teatro Livre da Bahia. João morreu em 25 de novembro de 1979.

Coleção O VILA DAS INFÂNCIAS

Volume 1

Projeto Editorial: Edições do Vila

Coordenação editorial: Marcio Meirelles e Ramon

Gonçalves

Projeto gráfico, design e capa: Vânia Medeiros

Revisão de texto: Cristiane Sampaio

A coleção O VILA DAS INFÂNCIAS é uma realização do TEATRO VILA VELHA através do selo Edições do Vila.

UMA CASA MÁGICA, O TEATRO VILA VELHA

ISBN no 978-65-83534-00-2

ROBATTO, Sonia. Uma Casa Mágica: o Teatro Vila Velha / Sonia Robatto; GRANGEIRO, Gustavo (colaboração)

e MEDEIROS, Vânia (ilustrações). Uma Casa Mágica, O Teatro Vila Velha: Salvador, Edições do Vila, 2025.

Coleção O Vila das Infâncias, v. 1.

1. Literatura infanto-juvenil 2. História - Brasil.

3. Memória - Teatro Vila Velha. 4. Teatro dos Novos.

5. Teatro Vila Velha. 6. Arte - Teatro. 7. Teatro – Brasil/ Bahia - Trajetória.

TEATRO VILA VELHA – Edições do Vila

Avenida Sete de Setembro S/N – Campo Grande Salvador – Bahia 2025

Produção Coprodução

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