Vila Velha, por Exemplo - Desenvolvimento Urbano e Transformações Arquitetônicas

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Nivaldo Andrade

Ministério da Cultura e Banco do Brasil apresentam:

vila velha por exemplo

Apoio

Realização

Produção Coprodução

Salvador. Bahia —2024

5 DESENVOLVIMENTO URBANO E TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS

Banco do Brasil apresenta e patrocina Vila Velha, por Exemplo – 60 Anos de um Teatro do Brasil, uma exposição que mostra a vida de um teatro construído e gerido por artistas, que se reinventou com a cidade e os tempos.

O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) será vizinho do Teatro Vila Velha e, a partir desse momento, as duas histórias passam a dialogar, criando um potente parque artístico, junto com outras organizações, no Corredor Cultural do Centro de Salvador.

Enquanto prepara sua instalação definitiva no Palácio da Aclamação, o CCBB já se faz presente na cidade com programação em parceria com diversos espaços culturais, a exemplo do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), que calorosamente nos acolheu para a realização desta importante exposição.

7 AprEseNtaçãO

Ao realizar este projeto, o CCBB reafirma o compromisso de ampliar a conexão dos brasileiros com a cultura e com a valorização da produção cultural nacional. Viva! O CCBB chegou à Bahia.

Centro Cultural Banco do Brasil

AprEseNtaçãO

O Teatro Vila Velha retoma o projeto Cadernos do Vila a partir da publicação dos artigos curatoriais para a exposição Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de Um Teatro do Brasil, patrocinada pelo Centro Cultural Banco do Brasil. São quatro Cadernos nos quais os conteúdos são apresentados e aprofundados, oferecendo uma outra experiência ao leitor no contato com o vasto material histórico e iconográfico que compõe o Acervo do Teatro Vila Velha.

Mais do que um teatro que exibe produções artísticas diversas – o que já seria muito –, o Vila é um espaço de construção cidadã através da arte. Atento e consciente de sua responsabilidade frente às questões do tempo, tem uma história marcada pelo ativismo em seu palco, mas também em espaços públicos diversos, em Salvador, em cidades do interior da Bahia e pelo mundo afora.

Essa série de quatro publicações dentro do projeto Cadernos do Vila foi pensada para oferecer ao leitor a história do teatro, mas também das diversas relações construídas durante seu percurso de décadas. Adentrar essa história é acompanhar trajetórias de artistas e coletivos de arte, militantes sociais e políticos, gente das periferias e dos postos de comando. Também é conhecer como determinados fatos da história do Brasil levaram o Vila a se superar, reinventar-se tantas vezes quantas se fez necessário, sempre defendendo aquilo que lhe é inegociável: sua independência.

Dessa forma, o Cadernos do Vila Volume 6 - DESENVOLVIMENTO URBANO E TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS é a segunda publicação da série desenvolvida a partir da exposição Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de Um Teatro do Brasil. Os textos proporcionam uma viagem por uma Salvador que se metamorfoseia como cidade, seu desenvolvimento e as mudanças da sua arquitetura. Nesse percurso, busca-se traçar relações entre essa realidade dinâmica e as diversas fases do edifício do Teatro Vila Velha, construído entre 1961 e 1964 e, depois disso, por várias vezes, reformado e alterado por manutenções, pela reconstrução que o reconfigurou entre 1994 e 1998, até esse novo momento, quando, aos 60 anos de atividades, passa por ampla requalificação estrutural e de seus equipamentos.

A exposição Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de Um Teatro do Brasil viabiliza a reunião de vasto conteúdo que passa a ser disponibilizado a pesquisadores e ao público em geral. Os novos volumes do projeto Cadernos do Vila (de 5 a 8) já são um dos desdobramentos do levantamento histórico e iconográfico empreendido para a exposição. Outros virão. Boa leitura!

Teatro Vila Velha

DESENVOLVIMENTO URBANO E TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS

AS VANGUARDAS E A MODERNIZAÇÃO

AS VANGUARDAS

E A MODERNIZAÇÃO URBANA, ARQUITETÔNICA

E CULTURAL DE SALVADOR

O ESCRITÓRIO DO PLANO DE URBANISMO DE SALVADOR (EPUCS)

Nas décadas de 1940 e 1950, Salvador vive um período de transformações vanguardistas em diversos campos. Em 1942, é criado o Escritório do Plano de Urbanismo da Cidade do Salvador (Epucs), coordenado por Mario Leal Ferreira e contratado pela prefeitura.

Inicialmente, o Epucs elabora exaustivos trabalhos de pesquisa, levantamento de dados e definição de diretrizes para os principais problemas de Salvador, incluindo levantamento aerofotogramétrico e pesquisas sobre temas como geologia, topografia, meteorologia, climatologia, arquitetura, higiene e saneamento, redes de infraestrutura urbana, abastecimento alimentar, produção industrial, educação, cultura, religião, esportes, artes, literatura, finanças, economia urbana e legislação urbanística.

Esses levantamentos subsidiaram as propostas do plano, dentre as quais estavam a diferenciação de zonas urbanas; a definição de vias de comunicação, de áreas destinadas a parques e jardins e de zonas de habitações; a localização dos diversos serviços públicos, bem como de centros cívicos de alcance local e urbano e de centros de abastecimento.

A partir do entendimento geomorfológico de Salvador e da ocupação que, historicamente, privilegiara o topo dos morros, o Epucs identificou e adotou um sistema radioconcêntrico de ocupação, com vias radiais ligando os bairros ao centro e vias concêntricas fazendo as ligações bairro-bairro. Eram previstas, ainda, a articulação entre cumeadas e vales; a separação do tráfego por modos de circulação que incluíam os automóveis, os bondes e os pedestres; e a criação de vias de tráfego rápido nos vales da cidade, então livres.

As avenidas de vale são, certamente, o aspecto mais conhecido do plano do Epucs, uma vez que a primeira delas – a Avenida do Centenário – começou a ser implantada em 1949, como parte das comemorações do quarto centenário de fundação de Salvador, a partir de traçado definido por Diógenes Rebouças, principal responsável pela espacialização das propostas do Epucs.

Também a partir da geomorfologia do sítio, o Epucs identifica, no território de Salvador, um conjunto de altiplanos, associados à figura de um trevo de quatro folhas e que têm ao centro áreas relativamente planas, nas quais são propostos 19 centros cívicos, onde seriam concentrados os bens e serviços de consumo diário, como comércio, higiene, assistência e segurança.

É também no âmbito do Epucs que são construídos equipamentos fundamentais para a cidade, como o Hotel da Bahia (projeto de Diógenes Rebouças e Paulo Antunes Ribeiro datado de 1948 e inaugurado em 1952), a Escola Parque e as Escolas Classe (cujas primeiras etapas, desenhadas por Diógenes Rebouças e Hélio Duarte, foram inauguradas em 1951) e a Penitenciária Lemos de Brito (projeto de Rebouças e João Augusto Calmon, construído a partir de 1950). Essas edificações vieram no rastro do projeto de Rebouças para o Complexo Esportivo da Fonte Nova, iniciado em 1942 e inaugurado, em sua primeira etapa, em 1951.

ANÍSIO TEIXEIRA

E A CONSOLIDAÇÃO

DA ARTE MODERNA

EM SALVADOR

A consolidação da arte moderna em Salvador deve muito à incorporação de obras artísticas de grande porte em edificações como o Hotel da Bahia, com o gigantesco mural Festas Regionais (1950), de Genaro de Carvalho, e o conjunto de obras integradas – especialmente murais – de Carybé, Mario Cravo Júnior, Carlos Bastos, Maria Célia Amado, Jenner Augusto e Carlos Magano que foram executadas no Pavilhão de Atividades de Trabalho da Escola Parque e nas Escolas Classe I, II e III do Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR), entre 1949 e 1956. No caso do CECR, essa iniciativa se deve a Anísio Teixeira, secretário estadual de Educação e Saúde no Governo Otávio Mangabeira (1947-1951) e responsável pela concepção dos Centros de Educação Elementar formados por uma Escola Parque e quatro Escolas Classe.

Como secretário de Educação e Saúde, Anísio Teixeira promoveu também as três primeiras edições do Salão Bahiano de Belas Artes, em 1949, 1950 e 1951, no Hotel da Bahia (ainda em construção à época das duas primeiras edições). Nesses salões, além da tradicional e conservadora Divisão Geral, Anísio criou uma Divisão de Arte Moderna, com júri próprio. Já na primeira edição, em 1949, a Divisão de Arte Moderna expôs obras de Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Anita Malfati, Iberê Camargo, Milton Dacosta, Alfredo Volpi, Aldo Bonadei, Guignard, Poty, Clóvis Graciano, Emeric Marcier, Inimá de Paula e dos baianos Carlos Bastos, Genaro de Carvalho e Mario Cravo Jr.

O CENTRO EDUCATIVO DE ARTE TEATRAL (CEAT) E O TEATRO CASTRO ALVES (TCA)

A revolução promovida por Anísio nos campos da educação e da cultura baianas inclui ainda a decisão de construir um teatro no Campo Grande, concebido pelo então secretário estadual de Educação e Saúde, como não apenas uma imensa sala de espetáculos, mas um equipamento que integraria música, dança e artes cênicas e conciliaria entretenimento, cultura e formação em artes cênicas. O próprio nome escolhido para o equipamento – Centro Educativo de Arte Teatral (Ceat) – já destacava que, mais do que um conjunto de salas para apresentação de espetáculos, tratava-se de um centro de formação artística. O projeto arquitetônico do Ceat foi elaborado por dois arquitetos do Rio de Janeiro, Alcides da Rocha Miranda e José de Souza Reis, indicados por Diógenes Rebouças, e sua principal sala de espetáculos, com 2.400 assentos, deveria receber o nome de Teatro Castro Alves.

A construção do Ceat, iniciada pela Construtora Christiani & Nielsen, foi interrompida em 1951, no final do governo Mangabeira, sendo retomada apenas em 1957, no governo Antônio Balbino, já com uma outra empreiteira – Construtora Norberto Odebrecht S.A. –, que apresenta um novo projeto arquitetônico, de autoria do arquiteto José Bina Fonyat Filho. O projeto de Bina Fonyat abandonava o caráter de centro de formação que o Ceat possuía e tinha a capacidade da sala principal reduzida para 1.500 assentos.

A construção do Teatro Castro Alves – nome conservado no novo projeto do equipamento – é conduzida de forma bastante acelerada, com a inauguração agendada para 14 de julho de 1958. Cinco dias antes dessa data, contudo, com as obras praticamente concluídas, um incêndio destruiu o TCA. Sua reconstrução foi realizada de forma lenta e intermitente, ao longo dos anos seguintes, e a efetiva inauguração somente ocorreria em 1967.

EDGARD SANTOS E A UNIVERSIDADE DA BAHIA

A criação, em 1946, da Universidade da Bahia, sob a liderança do reitor Edgard Santos, representa outro importante acontecimento do período. A Universidade Federal da Bahia (Ufba), nome que adota a partir de 1950, teve um papel fundamental tanto em áreas como direito, medicina e engenharias, quanto nos diversos campos artísticos, com destaque para a criação, na década de 1950, das escolas de Teatro, Música e Dança, as primeiras do país.

O longo reitorado de Edgard Santos encerra-se em 1960, em parte como consequência do desgaste decorrente de uma greve de mais de cem dias promovida em 1959 pelos estudantes do curso de arquitetura da Ufba, que pleiteavam a saída do curso da Escola de Belas Artes e a criação de uma Faculdade de Arquitetura autônoma.

A Ufba teve um papel importante na consolidação da arquitetura moderna em Salvador, com edifícios como os da Faculdade de Direito, construído na Graça entre 1956 e 1961 a partir de projeto do arquiteto mineiro Décio Corrêa Machado; da Escola Politécnica, concebido por Diógenes Rebouças, Fernando Machado Leal e José Bina Fonyat Filho a partir de 1953 e inaugurado em 1960, na Federação; e da Faculdade de Arquitetura, projetado por Rebouças e um grupo de estudantes da própria unidade entre 1963 e 1964 e construído entre 1965 e 1971, também na Federação.

A DÉCADA DE 1960 E A CRIAÇÃO DOS

ESPAÇOS CULTURAIS

EM SALVADOR

Em 1959, a arquiteta italiana Lina Bo Bardi, radicada em São Paulo desde 1946, é convidada pelo governador Juracy Magalhães para criar e dirigir o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). O museu é instalado provisoriamente, em 1960, no foyer do Teatro Castro Alves (TCA), no Campo Grande, que sobreviveu imune ao incêndio que destruiu o palco e a plateia, dois anos antes. Entre 1960 e 1963, Lina promove exposições de artistas modernos locais e estrangeiros no foyer e elabora a arquitetura cênica da Ópera dos Três Tostões, de Brecht, montada por Martim Gonçalves, diretor da Escola de Teatro da Ufba, no teatro arruinado pelo fogo. Com a iminente reconstrução do TCA e a consequente perda da sede provisória, Lina restaura o conjunto industrial do Unhão, ao mesmo tempo em que se constrói, ao lado, a Avenida de Contorno, projeto do arquiteto e urbanista Diógenes Rebouças. A sede definitiva do MAM-BA no Unhão – e do Museu de Arte Popular, igualmente concebido por Lina – é inaugurada em 1963; quatro anos depois, a construção do TCA é finalmente concluída.

OS PRIMEIROS ANOS DA SOCIEDADE TEATRO DOS NOVOS, UMA COMPANHIA NÔMADE

(1959-1964)

O Teatro Vila Velha foi construído no Passeio Público, entre 1962 e 1964, como sede da Sociedade Teatro dos Novos, no mesmo período e nas proximidades do MAM-BA e do TCA, até hoje os dois principais equipamentos culturais de Salvador. Entretanto, entre a criação da Sociedade Teatro dos Novos, em 1959, e a inauguração do Vila, em julho de 1964, a companhia teatral teve três sedes provisórias.

A primeira foi um solar neoclássico situado na Avenida Princesa Leopoldina, na Graça, ao lado da famosa Casa dos Carvalho e próximo à Igreja da Graça, no local onde atualmente se encontra um edifício de apartamentos. A companhia esteve sediada nesse solar durante aproximadamente um ano e meio até que, em junho de 1961, transferiu-se para outro solar, de propriedade do Sr. Miguel Lima Dias Santos, com um amplo jardim frontal e localizado no igualmente nobre Largo da Vitória. Em outubro de 1961, o Teatro dos Novos precisou desocupar o imóvel, pois ele seria demolido.

Embora naquele mesmo mês o governador Juracy Magalhães tenha cedido um terreno no Passeio Público para a construção da sede definitiva da Sociedade Teatro dos Novos – o Teatro Vila Velha –, ela só seria inaugurada em 31 de julho de 1964, e, neste intervalo, a companhia teria como sede provisória a Galeria Oxumaré, também no Passeio Público, emprestada pelo seu proprietário, Odorico Tavares, diretor dos Diários Associados na Bahia.

Além dessas quatro sedes, deve-se registrar que, em 1961, a Companhia de Seguros Aliança da Bahia autorizou, por meio de um contrato de comodato, o uso de um terreno de 750 metros quadrados de sua propriedade, localizado na Rua João Florêncio, nos Barris, para a construção de um teatro desmontável. Esse teatro, contudo, não chegou a ser construído.

NASCE O TEATRO VILA VELHA (1964)

O Teatro Vila Velha inaugurado em 1964 era um edifício simples, construído com materiais obtidos em grande medida por meio de doações, o que não impediu que ele se convertesse rapidamente em um espaço fundamental para a cultura brasileira: a “pia batismal dos artistas baianos”, como afirmou Gilberto Gil, um dos artistas a quem o Vila deu régua e compasso.

O projeto arquitetônico do Teatro Vila Velha foi elaborado por Silvio Robatto e Alberto Fiúza, que implantaram a caixa cênica no trecho mais largo do terreno, com estrutura em pórticos metálicos treliçados e palco italiano, com nítida separação entre palco e plateia. O foyer está instalado na extremidade norte do terreno, na cota mais baixa de uma ladeira do Passeio Público que remonta a meados do século XIX. Enquanto a caixa cênica tem um caráter industrial, o singelo bloco do foyer emula a arquitetura colonial, com cobertura em telhas cerâmicas e amplo beiral, alvenaria de pedra aparente na fachada voltada para a Rua Gamboa de Cima e gelosias de madeira nas portas e janelas.

A empena norte da caixa cênica é recoberta com telhas cerâmicas, replicando uma solução encontrada em sobrados do centro histórico de Salvador. O chapisco grosseiro das paredes, por sua vez, remete à restauração do conjunto do Unhão, conduzida por Lina Bo Bardi naqueles mesmos anos.

O desabamento de parte do foyer, no final de abril de 1971, leva a uma reforma, projetada por Silvio Robatto, na qual a configuração daquele bloco é bastante alterada: a localização do acesso é modificada, assim como a dos sanitários e da bilheteria. Uma ampla escada externa conectando o foyer à Rua Gamboa de Cima é construída.

Além da restauração do Unhão por Lina, o projeto de Silvio e Fiúza aproxima-se, na sua reinterpretação da arquitetura histórica e adoção de materiais tradicionais, a outras obras construídas na cidade, no mesmo período, por arquitetos da mesma geração, como a residência dos escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, no Rio Vermelho, projetada por Gilberbet Chaves entre 1962 e 1963; o Edifício Ipê, na esquina da Rua do Bispo com a Rua da Oração, no centro histórico de Salvador, desenhado por Paulo Ormindo de Azevedo e construído entre 1964 e 1965; e o Edifício dos Arquitetos, sede do Departamento da Bahia do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-BA), na antiga Ladeira da Praça, hoje Ladeira dos Malês, também no centro histórico, projetado em 1962 por Ary Penna Costa, Ary Magalhães Andrade, Armando Pontes, James Farias, José Maria Drummond e Sérgio Pinheiro Reis, concluído em 1966.

Essas obras inauguram um novo momento da arquitetura baiana, distante das experimentações construtivas e exploração formal de materiais como o concreto e o aço, observadas, no mesmo período, nos projetos de arquitetos da geração anterior, como Diógenes Rebouças e José Bina Fonyat Filho. Entre as obras de Diógenes Rebouças (em coautoria com Assis Reis) inauguradas no início da década de 1960, merecem destaque a biblioteca (1961) e os pavilhões da Cantina e Serviços Gerais (1962) e da Administração e Atividades Socializantes (1962) da Escola Parque, na Caixa d’Água, com coberturas em concreto plissado; a Estação Rodoviária Armando Viana de Castro, das Sete Portas (1961-1963), primeira edificação erguida na Bahia em concreto protendido; e a Estação Marítima de Passageiros Visconde de Cairu (1962), no Porto de Salvador, primeira construção em concreto pré-moldado do estado. Quanto às obras de Bina Fonyat, destacamos o Teatro Castro Alves, inaugurado em 1967, com sua plateia em balanço sobre o foyer; e o edifício-sede do Banco do Brasil, no Comércio, construído entre 1962 e 1968 e, à época, o maior edifício da Bahia, com 40 mil metros quadrados de área construída.

EXPANSÃO URBANA E NOVA CENTRALIDADE

NOS ANOS 1970

O Plano do Centro Industrial de Aratu (CIA), concebido pelo arquiteto Sérgio Bernardes em 1967, propõe uma nova centralidade para Salvador em uma localização menos excêntrica geograficamente que aquela da cidade colonial. No mesmo ano, é inaugurada a nova residência do governador, no bairro de Ondina, que conduz ao abandono do Palácio da Aclamação, que havia abrigado essa função por meio século e que se localiza nas proximidades do Teatro Vila Velha, do outro lado do Passeio Público.

A nova centralidade proposta por Bernardes é efetivamente implementada na década seguinte. Por um lado, o Governo do Estado constrói a Avenida Paralela (1971), a nova Estação Rodoviária (1974) e transfere a administração pública estadual para o novo Centro Administrativo da Bahia (CAB), implantado entre 1972 e 1974 em um terreno desabitado a mais de 10 km de distância do centro histórico. Por outro lado, a iniciativa privada constrói o Shopping Center Iguatemi (1975) – atual Shopping da Bahia –em frente à nova rodoviária e, nos arredores, cria loteamentos residenciais voltados às classes abastadas, como o Caminho das Árvores (1973) e o Itaigara (1976). Em 1979, um pouco mais ao sul, nas proximidades da orla atlântica, seria inaugurado o Centro de Convenções da Bahia, hoje abandonado.

Apesar do lema adotado pelo governador Antônio Carlos Magalhães em sua primeira gestão (1971-1975) – “A Bahia constrói o seu futuro sem destruir o seu passado” –, o resultado da promoção dessa nova centralidade urbana contribuiu de modo decisivo para o esvaziamento funcional da região que foi, por mais de quatro séculos, o centro econômico e político de Salvador, com impactos que podem ser percebidos ainda hoje.

LINA BO BARDI E O PROGRAMA ESPECIAL DE RECUPERAÇÃO DOS SÍTIOS HISTÓRICOS (1986-1989)

A segunda metade dos anos 1980 é o período da redemocratização brasileira, com a eleição – ainda que indireta – do primeiro presidente civil em 21 anos, em 1985, e a promulgação da Constituição Federal, três anos depois. Em Salvador, em 1986, nas primeiras eleições diretas para prefeitos do país em 20 anos, Mário Kertész sagra-se vencedor e volta à cadeira que havia ocupado, como prefeito biônico, entre 1979 e 1981. Na gestão de Kertész é criada a Fundação Gregório de Mattos para conduzir as políticas culturais da prefeitura, tendo Gilberto Gil como seu presidente. Sob a batuta de Kertész e Gil, a prefeitura formula e implanta parcialmente o Programa Especial de Recuperação dos Sítios Históricos da Cidade do Salvador (Persh), coordenado pela arquiteta Lina Bo Bardi.

Para Lina, este “não é um trabalho turístico, feito com a intenção de transformar o Pelourinho numa cidade sorvete”, mas sim a “luta contra o folclore”; “não é a preservação de arquiteturas importantes (como seria em Minas), mas a preservação da Alma Popular da Cidade”1 .

Apesar da ambição do plano de Lina, apenas alguns projetos pontuais concebidos no âmbito do Persh foram executados entre 1986 e 1988: o Teatro Gregório de Mattos, o Belvedere da Sé, a Casa do Benin na Bahia, a Casa do Olodum e o ProjetoPiloto da Ladeira da Misericórdia. Este último destaca-se por corresponder ao piloto do que deveria ser replicado em grande parte das edificações do centro histórico de Salvador, conciliando funções comerciais e de pequenos serviços e ofícios, no pavimento térreo, à função residencial, nos pavimentos superiores, além de um restaurante e um bar.

1 BARDI, Lina Bo; FERRAZ, Marcelo Carvalho (Org.). Lina Bo Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, 2008, p. 270.

Com o fim da gestão de Kertész, em 1988, o Persh não teve continuidade, e o projeto da Ladeira da Misericórdia, ainda em execução, teve seu programa alterado, não chegando jamais a servir formalmente como moradia. Se o Persh teve o mérito de legar para a área alguns equipamentos culturais importantes, como o Teatro Gregório de Mattos e a Casa do Benin, por outro, não conseguiu consolidar o modelo de ocupação que deveria predominar na área, associando habitação e comércio local.

O PLANO DE RECUPERAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR – PRCHS

(1991-1997)

O Plano de Recuperação do Centro Histórico de Salvador (PRCHS), concebido no início do terceiro mandato de Antônio Carlos Magalhães como governador da Bahia (1991-1994), foi, nas seis primeiras etapas, executadas pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) entre 1992 e 1997, o maior programa de intervenção em centros históricos já realizado em área contínua no Brasil. O programa atuou em uma área de 55 mil metros quadrados, intervindo em 531 imóveis, além de incluir a restauração de monumentos como a Catedral Basílica e a Igreja da Ordem Primeira de São Francisco. O total de recursos investidos foi de 100 milhões de dólares, em valores da época, e sua execução possibilitou uma sobrevida aos imóveis recuperados.

O PRCHS adotou como estratégia a recuperação física do Pelourinho, do Maciel e do Carmo, áreas de inegável apelo simbólico, por meio do turismo e da animação cultural. Teve grande repercussão internacional e seus impactos podem ser percebidos até os dias de hoje.

O PRCHS promoveu a eliminação do tráfego de veículos das principais ruas, terminando com a trepidação danosa às estruturas existentes e excluindo o risco de choques com os imóveis tombados e de atropelamento dos pedestres que circulam pelas estreitas vias. A eliminação do tráfego de veículos foi possível devido à implantação de três edifícios-garagem. O plano incluiu também a reforma e ampliação de uma extensa rede subterrânea, abrigando os serviços de energia, telefonia, água e esgotamento sanitário, trazendo uma clara melhora na paisagem urbana devido à retirada dos fios e demais equipamentos relacionados, garantindo à área serviços públicos qualificados, inexistentes em muitas outras partes da cidade.

Apesar desses aspectos positivos, o PRCHS apresentou diversos equívocos na conceituação e nos métodos adotados nas intervenções arquitetônicas, e esteve envolto em polêmicas. Para permitir a criação de uma ambiência cenográfica com um casario multicolorido, como parte de uma estratégia de marketing, foram expulsas da área 2.909 famílias que residiam em 470 edifícios encortiçados. A essas famílias foram oferecidas duas alternativas: o recebimento de um imóvel próprio, em um bairro afastado, situado no limite norte do município, ou de uma indenização. Deve-se destacar que a população da área, pobre e, em sua quase totalidade, afrodescendente, possuía relações sociais e de vizinhança consolidadas, construídas ao longo de gerações. Foram essas relações sociais que resultaram, por exemplo, na fundação, em 1979, do Olodum, um dos principais blocos afros de Salvador e que tem sua história ligada de forma indissociável à comunidade do Pelourinho e a essa região do centro histórico.

Se a cultura negra e o próprio Olodum tiveram um papel fundamental na constituição estética do “novo” Pelourinho – nome pelo qual o centro histórico passou a ser mundialmente conhecido –, não se pode dizer o mesmo da população até então residente na região, predominantemente negra. Os imóveis antes habitados foram transformados, em sua maioria, em espaços culturais, lojas, bares e restaurantes voltados aos turistas e a uma parcela da população com maior poder aquisitivo. A título de indenização às quase três mil famílias expulsas, o Governo do Estado investiu apenas US$ 3,9 milhões – uma média irrisória de US$ 1,340 por família e um valor ínfimo se comparado com os quase US$ 100 milhões aplicados em obras de infraestrutura e de restauração de edificações. A saída compulsória dessa população da área resultou na destruição de laços comunitários e relações de vizinhança consolidados. Muitas famílias que optaram por receber um novo imóvel na periferia de Salvador perderam, com a mudança, a única fonte de renda que possuíam, ligada, muitas vezes, a atividades informais intrinsecamente vinculadas ao centro histórico, como comércio ambulante de alimentos ou de souvenirs, por exemplo. Já os que optaram pela indenização, em muitos casos, terminaram por gastá-la em curto tempo e passaram a residir nas mesmas condições de antes – ou em condições piores –, em outras áreas, na vizinhança do centro histórico de Salvador, como a Baixa dos Sapateiros, a Saúde, a Palma e a Mouraria.

A execução do PRCHS representou a concretização do projeto de “turistificação” e saneamento social do Pelourinho e do Maciel, que vinha sendo planejado há quase 30 anos pela mesma liderança política, Antônio Carlos Magalhães. O PRCHS representou, ainda, a consolidação do protagonismo do Governo do Estado no centro histórico, com a aquisição de 432 imóveis e o usufruto de outros 133, transformando-se no maior proprietário da área e em seu gestor direto, por intermédio do Ipac.

Assim, o centro histórico foi transformado em um enclave urbano gerido pelo Governo do Estado e, em grande medida, dissociado do restante da cidade. Essa decisão resultou numa integração pouco consistente da iniciativa privada ao processo de recuperação da área, restringindo-se a instalar pequenos empreendimentos comerciais nos imóveis recuperados pelo Estado e de propriedade deste, à custa de aluguéis mensais com valor simbólico.

A ARQUITETURA DA NOVA CENTRALIDADE E A REDESCOBERTA DA COR NA ARQUITETURA — DÉCADA DE 1980

Fora do centro histórico, nas novas áreas urbanas ocupadas a partir dos anos 1970 e, principalmente, dos anos 1980, os principais acontecimentos da arquitetura de Salvador no período também se caracterizam, como no centro histórico, pelo uso de cores fortes. O caso mais emblemático é o conjunto de edifícios comerciais construído na segunda metade da década de 1980, no Loteamento Cidadela, nas proximidades do Shopping Center Iguatemi. Esses edifícios, projetados pelo arquiteto Fernando Peixoto, caracterizam-se pelos volumes simples – em geral, paralelepípedos verticais – e pela adoção, nos revestimentos internos e externos, de materiais econômicos e disponíveis no mercado, como revestimentos cerâmicos. Nas fachadas, tratadas como telas, esses revestimentos são trabalhados como composições geométricas e coloridas, quase sempre adotando cores como preto, branco, vermelho e amarelo.

Peixoto justifica suas escolhas afirmando que o custo é “um fator determinante para o sucesso do empreendimento. Porém, ao serem utilizados de formas não convencionais, [os materiais correntes] se tornaram interessantes e diferenciados”2. As obras de Peixoto em Salvador tornam-se rapidamente novos símbolos urbanos, representando oficialmente a arquitetura brasileira na 5ª Bienal de Arquitetura de Veneza, em 1991, a convite do Ministério das Relações Exteriores brasileiro.

No mesmo período e a cerca de um quilômetro do Cidadela será erguido o singular edifício da Casa do Comércio, projetado a partir de 1982 pelos arquitetos Jáder Tavares, Othon Gomes e Fernando Frank, inaugurado em 1988. O edifício, com 58 metros de altura e caracterizado pelos volumes envidraçados em balanço,

2 Apud RUTMAN, Jacques (Org.). Fernando Peixoto: arquiteto. São Paulo: J.J. Carol, 2011.

recobertos por vegetação e pela estrutura metálica pintada na cor vermelha, logo se converte no símbolo do novo centro de negócios da Avenida Tancredo Neves.

Merecem destaque ainda as diversas passarelas projetadas e construídas a partir de meados da década de 1980 pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, nas principais avenidas da cidade. A primeira passarela, na Av. Luiz Viana Filho (Paralela), na altura do Imbuí, é concluída em junho de 1987 e é concebida e executada na Fábrica de Equipamentos Comunitários (Faec), criada um ano antes pelo prefeito Mário Kertész, com estrutura em aço e boa parte dos demais elementos pré-fabricados em argamassa armada. As demais passarelas desenvolvidas nos anos seguintes por Lelé aperfeiçoaram o projeto da primeira, sempre adotando cores marcantes, como vermelho e amarelo.

E A CIDADE

O VILA SE TRANSFORMA (1994-1998)

O Teatro Vila Velha está em permanente metamorfose. Quando o Vila completou 30 anos de inauguração, em 1994, um grupo de artistas, liderado por Marcio Meirelles, assumiu a gestão do teatro e convidou o arquiteto Carl von Hauenschild para elaborar um projeto de reforma e ampliação da sede.

A primeira versão do projeto, datada de fevereiro de 1995, previa a preservação quase integral da caixa cênica e de sua estrutura metálica, propondo apenas a criação de galerias técnicas em aço sobre o palco e um revestimento acústico convexo nas paredes.

No ambicioso projeto definitivo, executado entre dezembro de 1995 e maio de 1998, a intervenção contemplou a construção das galerias técnicas e a instalação do revestimento acústico, mas foi muito além, com a total reformulação da sala.

O palco italiano foi substituído por uma caixa cênica flexível, com duas galerias perimetrais estreitas que circundam todo o espaço. Os equipamentos cenotécnicos e os praticáveis de madeira móveis e de altura regulável passaram a permitir inúmeras configurações de palco e plateia, ampliando as possibilidades cenográficas e dramatúrgicas, o que potencializou o Vila como sede de diversos grupos residentes e espaço privilegiado de espetáculos teatrais, musicais e de dança, além de debates sobre a cidade e a cultura.

As referências de Marcio Meirelles e Carl von Hauenschild nesse projeto foram os espaços cênicos projetados por Lina Bo Bardi nos anos anteriores, como o Teatro do Sesc Pompeia, em São Paulo (inaugurado em 1982, coautoria de Lina com André Vainer e Marcelo Ferraz); o Teatro Gregório de Mattos, em Salvador (1986-1987, coautoria com Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki);

e, especialmente, o Teatro Oficina, em São Paulo (1984-1993, coautoria com Edson Elito).

O bloco do foyer foi totalmente reconfigurado, com a criação de um segundo pavimento abrigando um café-teatro – o Cabaré dos Novos –, com acesso independente pelo Passeio Público através de uma escada-passarela.

As duas fachadas principais do Vila, voltadas para o Passeio Público e para a Rua Gamboa de Cima, foram redesenhadas, passando a ressaltar a modulação da nova estrutura de concreto armado.

Internamente, uma série de rampas e escadas conectam os três níveis da caixa cênica com o foyer e o Cabaré. As mais expressivas são a rampa que conecta o Cabaré e a caixa cênica em balanço sobre o jardim externo e a escada que se projeta sobre a calçada da Gamboa de Cima. Carl criou, assim, uma série de percursos arquitetônicos especialmente ricos.

Os antigos camarins foram demolidos e, no lugar, foi erguido um bloco de apoio de três andares, abrigando camarins e as duas salas de ensaio (João Augusto e Mário Gusmão).

O artista plástico Bel Borba realizou uma série de intervenções artísticas no edifício, com destaque para o painel de cacos de azulejos executado na contenção do Passeio Público e representando Dom Quixote, símbolo do Vila, em uma alusão ao espetáculo Um tal de Dom Quixote, que reinaugurou o teatro em maio de 1998.

Em dezembro de 2023, o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), órgão da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia voltado à preservação do patrimônio cultural, abriu o processo de Registro Especial do Teatro Vila Velha como espaço destinado a práticas culturais coletivas.

A CIDADE SE REINVENTA (1994-2024)

Com a implantação do Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS), em 1994, criado pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, e pelo médico Aloysio Campos da Paz, Salvador assume um papel importante na arquitetura brasileira, pois nele são concebidos, desenhados e pré-fabricados os hospitais da Rede Sarah de Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília Lago Norte, Rio de Janeiro e Salvador – este, construído ao lado do CTRS.

No campo do urbanismo, o acontecimento mais relevante é a implantação do metrô de Salvador. A Linha 1, inaugurada em 2014, conecta a Estação Lapa, nos arredores do centro histórico, à Estação Acesso Norte, no novo centro urbano, sendo progressivamente ampliada até o bairro de Águas Claras. A Linha 2, inaugurada em 2016, conecta a Estação Acesso Norte com o aeroporto de Salvador.

Em 2010, um concurso público de arquitetura promovido pela Fundação Cultural do Estado (Funceb) e organizado pelo Departamento da Bahia do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-BA) escolhe o projeto do escritório Estudio America para a requalificação do Teatro Castro Alves. A primeira etapa, inaugurada em 2016, corresponde à requalificação da Concha Acústica e à construção de um edifício-garagem encimado por uma esplanada.

O VILA SE PREPARA PARA O FUTURO (2024)

Passados 60 anos da inauguração e 30 da grande reforma, o Vila precisa atualizar-se novamente. Como na intervenção dos anos 1990, o novo projeto apropria-se da versão anterior, conformando um palimpsesto de camadas sobrepostas umas sobre as outras ao longo do tempo.

As obras de requalificação, iniciadas em 2024 pela prefeitura de Salvador, baseiam-se no projeto arquitetônico concebido a partir de 2023 pelo escritório A+P Arquitetos Associados, com consultoria do autor do projeto anterior, Carl von Hauenschild. Os objetivos desse projeto são ampliar os espaços de apresentações e administrativos, qualificar tecnicamente as salas de espetáculo e adequar o edifício às normas mais atuais, além de fortalecer a conexão do teatro com o Passeio Público, jardim histórico no qual o Vila nasceu e ao qual sempre esteve vinculado. A premissa geral do projeto é a preservação dos valores arquitetônicos e históricos do Vila.

A caixa cênica será integralmente preservada, recebendo apenas intervenções voltadas à sua qualificação técnica, como ampliação do número de varas e novo sistema de ar-condicionado.

As principais alterações relacionam-se à adequação às normas de acessibilidade universal e segurança contra incêndio e pânico. As rampas construídas na segunda metade da década de 1990 possuem inclinações mais acentuadas que as permitidas pela legislação vigente. A criação de um elevador que articula os três níveis da caixa cênica e aqueles do foyer e do Cabaré permitirá que todas as pessoas tenham acesso a todos os espaços da edificação.

Algumas rampas e escadas construídas nos anos 1990 serão demolidas para permitir a construção do elevador e das novas escadas. A marcante rampa envidraçada construída em 1995 será substituída pelo elemento mais icônico do novo Vila: uma passarela metálica conectando o Passeio Público ao hall de circulação do teatro. À passarela se acoplará a nova bilheteria.

O Cabaré dos Novos receberá tratamento acústico, instalações cenotécnicas e climatização que o transformarão em uma sala de espetáculos com funcionamento independente do restante do teatro. A sala de ensaios João Augusto será qualificada para abrigar pequenos espetáculos.

O futuro Vila apresenta outros elementos justapostos ao teatro existente, como um novo bloco administrativo que será construído sobre o volume principal, voltado para a Rua Gamboa de Cima, além de um contêiner-depósito instalado na área externa, ao lado do foyer. Os novos volumes são construídos com elementos metálicos pintados em vermelho e explicitam-se como inserções contemporâneas que contrastam com o edifício branco preexistente.

O anúncio da instalação do Centro Cultural Banco do Brasil no Palácio da Aclamação, localizado do outro lado do Passeio Público, só reforça o protagonismo do Vila no ambiente cultural soteropolitano e brasileiro e amplia a esperança de que os dois equipamentos culturais possam impulsionar o processo de reocupação do Passeio Público.

Nivaldo Andrade

Arquiteto, mestre e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Ufba, professor da Faculdade de Arquitetura da Ufba.

FICHA TÉCNICA

Coleção CADERNOS DO VILA

Volume 6

Projeto Editorial: Edições do Vila

Coordenação Editorial: Marcio Meirelles e Edson Rodrigues

Projeto Gráfico, Design e Capa: Ramon Gonçalves

Marca da Coleção: Luciana Aquino

Revisão de Textos: Cristiane Sampaio e Edson Rodrigues

A coleção CADERNOS DO VILA

é uma realização do TEATRO VILA VELHA através do selo Edições do Vila.

ANDRADE, Nivaldo. Vila Velha, por Exemplo: 60 anos de um teatro do Brasil – Desenvolvimento Urbano e Transformações Arquitetônicas. Salvador, Edições do Vila, 2024. Coleção

Cadernos do Vila, v. 6.

ISBN Nº 978-65-984609-4-5

1. História - Brasil - Arquitetura. 2. Memória - Teatro Vila

Velha. 3. Arte - Arquitetura - Contexto. 4. Teatro – BahiaTrajetória. 5. Teatro Vila Velha.

TEATRO VILA VELHA – Edições do Vila

Sociedade Teatro dos Novos

Avenida Sete de Setembro 1303 – Dois de Julho

CEP: 40.060-000

Salvador – Bahia 2024

01. HAYDIL LINHARES - 4 PEÇAS de Haydil Linhares (2002)

02. O TEATRO DO BANDO - NEGRO, BAIANO E POPULAR de Marcos Uzel (2003)

03. TEATRO DE CABO A RABO: DO VILA PRO INTERIOR E VICE-VERSA org. Marcio Meirelles (2004)

04. MAIS TEATRO DE CABO A RABO org. Marcio Meirelles (2006)

05. VILA VELHA, POR EXEMPLO - 60 ANOS DE UM TEATRO DO BRASIL CONTEXTO HISTÓRICO de Ricardo Sizilio (2024)

06. VILA VELHA, POR EXEMPLO - 60 ANOS DE UM TEATRO DO BRASIL DESENVOLVIMENTO URBANO E TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS de Nivaldo Andrade (2024)

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