Esse Caminho Longe

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Esse Caminho longe

M/14

Portugal, Brasil e São Tomé e Príncipe, num espetáculo imersivo de teatro, vídeo e música ao vivo

“Esse Caminho Longe” é um espetáculo imersivo que cruza teatro, vídeo e música ao vivo. O público senta-se nos quatro lados de um palco em forma de cruzamento. Duas telas de vídeo, de um lado e do outro mostram imagens de São Tomé e de Portugal. São uma das vozes que contam a história de uma mulher afastada da sua terra natal ainda em criança e da sua luta para regressar e reencontrar aquilo que perdeu, a essência do seu ser. Três atrizes, duas negras e uma branca, narram estórias, narram histórias, narram a HISTÓRIA, colocam questões, fazem perguntas, convidam o público e empatizar e apontam um caminho para um recomeço, depois de tanto e tantos séculos de escravidão real e metafórica. A relação entre atriz e público é muito próxima.

A música, tocada ao vivo, é uma quarta voz, o vídeo a quinta, o conjunto um só objeto, forte, duro, apaixonado e no final ressoa uma frase: “O sofrimento passa, o que não passa é ter sofrido”.

Conseguiremos, reconhecendo os erros do passado, recomeçar no presente um outro futuro?

O começo

Se um espetáculo é uma viagem esta foi das grandes.

Começa em 2013 quando conheci o Marcio Meirelles. Começa em 2018 quando conheci (pela primeira de muitas vezes) a “Ilha de Nome Santo” e a sua abençoada gente.

Começa em 2019 quando conheci a Guida Rolo e nasceu um projeto que se viria a chamar CEM Palcos. Começa em 2021 quando (re)encontrei a Filipa Fróis, numa esplanada na Praça

Dom Duarte. Começa em 2022 quando conheci a Olinda Beja e a Lígia Soares e o Gonçalo Alegre, em diferentes paragens, mas com a mesma vontade de partilhar caminho com gente como elas e ele, gente generosa, gente firme, gente criativa e inteligente. Começa em 2023 quando viajei de novo para São Tomé com o Leandro Valente para recolhermos imagens e tive a sorte de cruzar caminhos com a Marta Espírito Santo e a Vanessa Santos. Começa num gabinete da Casa da Cultura com o Ayres Major, o Guilherme Carvalho e a Mardginia Pinto.

Começa em longas conversas com o Alfredo Assunção, o António Figueiredo, o Domingos Barros, a Eugénia Vasques, o José Fernandes e o Manuel Carvalho. Começa nos contos e nas canções das mulheres de Várzea de Calde e da Família

Camblé da Trindade.

Começa há mais de quinhentos anos quando os meus longeavôs viajaram, escravizaram, exploraram outros longeavós e longeavôs de outras terras e de outras gentes, quando os trataram como animais, quando enriqueceram às suas custas e arrasaram a sua terra.

Começa cada vez que saboreio um quadradinho de chocolate e me lembro da sua história, das suas origens, das estórias que esse quadradinho escuro, negro, pleto lu-lu-lu tem para contar.

Começa hoje com os São Tomenses, Angolanos, Cabo -Verdianos que vivem na Quinta do Mocho, na periferia de Lisboa, em condições desumanas, mas que comem Bonito assado na brasa, com sabor a África, acompanhado de fruta-pão, banana cozida e matabala.

As viagens são feitas de lugares, mas acima de tudo são feitas de pessoas. Se o espetáculo é o destino, esta viagem termina aqui, neste espetáculo. Sendo que um espetáculo é sempre e apenas o início de uma outra viagem, de novos encontros com as novas gentes do nosso público.

E todo e qualquer espetáculo não é um fim em si. É sempre o (re)início de um outro espetáculo, de uma nova viagem, que há de nascer no lugar que este deixará depois da sua passagem…

Esse caminho pra São Tóme

O convite de Graeme para compartilhar criação e realização deste projeto foi um presente e um privilégio. Graeme Pulleyn é meu irmão em teatro. Seu amor pela humanidade encontra no teatro seu ninho/bunker onde defende valores e sentimentos quase em extinção e os cultiva em sua horta de Deméter, deusa que garante a prosperidade e reprodução dos alimentos para todos. Minha admiração por esse ser/teatro de Pulleyn é indestrutível. É um prazer vê-lo conduzir a cena, as atrizes, quase se tornando uma delas, sugerindo e empurrando-as para que todas sejam mais do que são, sejam mais que atrizes, sejam humanas mais que tudo, em cima do palco.

O convite me permitiu retornar de alguma forma à São Tomé dez anos depois de ter lá ido trabalhar num projeto da CenaLusófona. Lá onde está um paraíso ocupado pelo capital e em risco na sua integridade e força. Lá onde a independência, como em muitas das ex-colônias, ainda tarda, ainda falta, ainda urge.

Levou-me a conhecer Olinda Beja – uma epifania. Ser acolhido em sua sala, ao redor de sua mesa de criação, trabalho e refeição, coisas indistintas para ela, foi atravessar um portal e estar ao mesmo tempo em dois mundos: o ocidente e o seu país insular recriado ao sul, em um oriente habitado por outra visão de mundo, de onde vem a força incrível dessa mulher-árvore, cheia de raízes por todas as terminações nervosas do corpo, cavando e buscando solos férteis no passado e no presente onde brotar, germinar, onde frutificar e deitar sementes para o futuro.

Os dois mundos estão em cena, com reflexões de muitos corpos presentes e ausentes. O primeiro, o grande corpo matriz, da própria Olinda, de onde surgem os outros, os longeavós ancestrais que se foram e construíram nossa história e nosso ser e estar no mundo agora.

Depois o de Lígia Soares, com seu olhar brechtianamente distanciado, separado por água e poesia, de uma história que não é dela, mas não deixa de ser, sendo nossa, de todos que ainda cultivam o dom mais necessário à humanidade –a empatia. Através de sua perícia para encontrar palavras escondidas e colocá-las onde devem estar, junto com outras para recriar o acontecido, fizemos o que só o teatro consegue: transpor corpos e indivíduos para tornarmo-nos o outro, fazer soar nossa voz numa outra voz que se reconhece na nossa própria e soa como se ela fosse, sendo também, de todos.

Outra voz e som é a música de Gonçalo – que obedece ao seu nome, Alegre – e enche o silêncio de narrativas complementares ao som das palavras de Olinda e de Lígia e Marta e Filipa e cria silêncios entre elas e faz Vanessa pulsar em seu rap, às vezes sem melodias e mesmo sem acompanhamento.

Só energia rítmica, melódica, harmônica e desarmônica, polifônica. E quem me conhece sabe o que esta última palavra significa pra mim, num discurso.

As imagens de Leandro Valente – cineasta que também obedece ao seu nome e investiga através de suas lentes e de seu garimpo por arquivos o que está antes e depois das imagens – acrescentam à polifonia questionamentos de imagens reais do que foi e do que é a história da colonização e luta por independência e liberdade.

Tudo isso conduzido pela atuação ao vivo e presença em carne e osso, logo espírito, das atrizes santomenses – Marta Espírito Santo e Vanessa Faray – e a portuguesa Filipa Fróis.

Diferentes sotaques/melodias. Diferentes energias poderosas/femininas, negras e branca, diferentes histórias e tempos, passageiras e viajantes do palco, por isso da vida, nos levam a esse longe caminho pra São Tomé – terra da qual fomos exilados, terra que reinventamos pra sobreviver, em outras terras do exílio, que precisam ser reinventadas para nos acolher. Ver a alquimia na escolha de Graeme desse elenco harmônico e dissonante em si, capaz de nos conduzir entre os barbantes labirínticos inventados para o cubo/cenário, espaço confinado e emaranhado de entradas e saídas, de entres e através para essa terra que é nossa mátria e casa e terreno para plantar e colher novos mundos.

Cristina Castro, com magia e delicadeza auxilia esse caminhar, esse movimento entre obstáculos, para chegar ao outro lado.

Agradecimento à CEM Palcos e à produção dedicada e firme de Guida Rolo. Que nos colocou no barco grande desta viagem e garante, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo, a travessia segura, com o auxílio de André Felix, Laura Tavares, Filipa e Gustavo Iván.

Agradecimentos a Dona Fátima Magalhães pela costura das roupas desse figurino, vindas de outros tempos e palcos também, para caminharem longamente em nosso percurso.

A Óscar Pulleyn, Lucas Pulleyn, Clara Pulleyn, Ricardo Augusto, Zé Ferreiro e Gustavo por construírem o cubo/ labirinto – cenário de nosso lugar. A Cristóvão Cunha por ajudar as luzes a iluminarem o mundo. E a Luís Belo, pela arte dos cartazes e pelas fotos, que trazem o adjetivo que também é o seu nome.

Agradecimentos a todos os que se rebelaram que insistiram em voltar, insistiram em sair, insistiram em ser livres, porque assim devem ser todos. É sobre isso essa peça de fúria e poesia pelos longe caminhos à uma improvável e possível São Tomé.

textos: Olinda Beja

texto e dramaturgia: Lígia Soares

dramaturgia: Graeme Pulleyn e Marcio Meirelles

O sofrimento passou, mas não passa nunca o ter sofrido. Olinda Beja.

ABERTURA

ENTRADA DO PÚBLICO - MÚSICA

VOZ DE OLINDA:

Quiseram fazer de mim uma europeia e por esse motivo me arrancaram das costas de mãe-África, minha mãe. Esperaram que um barco me levasse para além do horizonte outras terras, outras gentes, outros sóis onde fiquei à mercê de suas leis e seus costumes. Puxaram meus cabelos, alisando-os dado-lhes nova forma, esquecendo como Medeia penteou os filhos de África. Deram-me um colégio por escola para aprender, enfim, boas maneiras e assim poder entrar na sociedade.

Obrigaram-me a cantar todos os rios montes, montanhas e até ganhei um belo prémio por saber tudo sobre o mar e sobre a terra.

Mostraram-me os frutos, as árvores desenhei suas formas, suas cores mas nunca me disseram que cresciam tamarindos nas praias do Equador! Fizeram-me decorar todos os reis seus nomes, cognomes, dinastias mas esqueceram que na terra do cacau houve um Amador que foi mais bravo que o mais bravo dos reis de Portugal. Tentaram fazer de mim uma europeia e aconselharam até que quando um dia chegasse a hora certa do amor escolhesse alguém em cuja cor se notasse bem a nobre raça para que assim ficasse assegurado aos descendentes da minha geração o esquecimento total da negritude que resultou de uma loucura do meu pai…

Tudo por bem eles disseram tudo por bem eles fizeram!

Mas o tempo que é amigo e tudo sabe resolveu enviar a voz do sangue que me disse haver um barco de regresso às costas de Mãe-África minha mãe!

Quiseram fazer de mim uma europeia só que se esqueceram de cortar o cordão umbilical que ficou preso nas raízes da velha eritrineira que meu bisavô plantou na roça de Molembu.1

MARTA: mina… mina mué2

VANESSA:

Esta carta é para ti Mãe África sim, para ti porque tu és a minha verdadeira mãe a mãe que eu nunca tive mas amei por isso te escrevo pois tenho a certeza que ainda te lembras de mim mãe-África… nasci na linha do Equador na ilha de nome santo na rainha das ilhas foi em fevereiro. Os coqueiros gemiam ao fundo da roça e as palmeiras agitavam seus longos braços ao vento cresci. Aprendi a conhecer os teus segredos e corria… ai mãe-África lembras-te como eu corria, como eu brincava, como eu pulava e me escondia atrás dos cacaueiros?!

Depois… ai mãe-África depois mandaram-me num barco muito grande3

FILIPA:

Abril foi mais que um sonho, foi magia

Abril foi mais que força, foi vontade

Abril foi a mais bela sinfonia

E se não fosse abril eu não estaria

Hoje aqui cantando em liberdade!4

VANESSA:

Mandaram-me para a Metrópole e eu vim e cá fiquei. Trambolhão dali, mais outro de além, enfim lá me criei… fui crescendo… mas fui também crescendo por dentro (compreendes mãe-África?)

estudei e li, li muito, muito, li coisas que não se podiam ler coisas escondidas, proibidas mas só assim é que soube o quanto sofrias por veres os teus filhos humilhados, roubados, troçados, destruídos mas também soube o quanto te orgulhavas ao veres a coragem dos que não se rendiam nem se entregavam e ficavam prisioneiros mas não se rendiam!

Podes crer, mãe-África, que nesses momentos eu tive vergonha muita vergonha por não estar nas tuas fileiras e dizer “Presente!”5

FILIPA:

Abril foi a semente, foi o fruto

De um país lavrado com suor

Abril foi apenas o produto

De um povo que andou sempre de luto

Na esperança de um futuro bem melhor6

VANESSA:

Ai se tu soubesses o que eu sofri… e quando ouvia dizer “os terroristas atacam de novo…” os terroristas – imagina tu – eram os teus filhos, os meus irmãos os que sofreram na carne e no sangue quinhentos anos de escravidão os que queriam unicamente viver em paz e dignidade!

Tu sabes lá o que eu ouvi, o que eu sofri, o que eu tive que fingir!

Senti-me inútil, destroçada, acobardada

Porque eu era tua filha e uma filha nunca abandona a mãe, pois não África?

Mas a minha vida… sabes, a minha vida era aqui deste lado do mar

E fiquei… sentada… à espera…

A espera de que, por fim, Mãe-África, vais ver um dia, finalmente, a paz e a justiça nessa terra.

A espera de que, um dia por fim, Mãe-África, poderás ver, finalmente, a paz e a justiça nessa terra7

FILIPA:

Abril foram cravos de vitória

Que uma mulher espalhou pela cidade

Abril foi outra página da História

Onde o povo português gravou memória

De um dia vinte e cinco em Liberdade!8

VANESSA:

Eu amo-te Mãe-África!

Podes contar comigo porque mesmo longe muito longe deste lado do mar ou onde quer que eu esteja sei que serei sempre tua filha e tu serás sempre minha Mãe!

(Era só isto que eu queria dizer-te Mãe-África) 9

PROJEÇÃO LEGENDA:

25 de abril de 1974

12 de julho de 1975

1. DESLOCAMENTO - PARTIDA DE SÃO TOMÉ

MARTA:

O preto minha senhora não gosta de estudar

O preto minha senhora não gosta de estudar

só gosta de comer bem não gosta de trabalhar!

só gosta de comer bem não gosta de trabalhar!10

VOZ DA MÃE:

mina mu… mina mué11

MARTA:

História é história.

Uma vez um rei que morava na cidade com seu filho o príncipe. O desejo do rei era que seu filho se casasse com uma moça pura do obô. O rei mandou avisar a todos obô. Mas pra chegar ao palácio tinha que passar pela floresta do obô. Mas ali tinha bicho que come pessoas e as meninas vinham e os bichos comiam as meninas. Foi uma menina o bicho comeu. Foi outra o bicho comeu. Só ficou uma menina. Ela disse à sua avó que queria ir ao palácio para casar com o príncipe. A avó disse que antes ela tinha que ir até o rio pegar camarão pra fazer calulu. Ela foi e a avó fez o calulu como só ela sabia fazer. Ela fez o calulu e botou na cabeça da menina e disse: quando chegar o bicho você diz seu nome, diz que é uma menina pobre e quer ir para a cidade ter uma vida melhor. E assim foi: vieram os bichos e ela ofereceu o calulu, os bichos comiam e deixavam ela passar. Já no fim da floresta, é que tem o bicho mais perigoso, que é a Cobra Branca. Assim que a Cobra Branca vê a menina ela recua pra trás. Então vem em cima da Água Mata, uma cheia de água que cobre tudo. A menina canta pra Água Mata e ela desaparece. Tudo fica seco e a Cobra Branca avança pra menina. Ela então ajoelha e reza pra Cobra Branco - Seu Cobra

Branca, meu Deus! Meu nome é Naná, Não tenho dinheiro, meu pai e minha mãe não tem para me dar. Quero ir para o palácio, melhorar a minha vida. Oferece o Calulu para a cobra. A cobra come o calulu e deixa ela passar.12

VANESSA:

Estou aqui a contar-te dos caminhos que percorro velhos estreitos esventrados caminhos de sulcos e de cabras onde nossos avós colheram pão de côdea dura estou aqui a contar-te dos cheiros doces e acres dos frutos tropicais cheiros que se foram confundindo no sangue que se afundou em docas e mares mas emergiu mais vermelho que o chão da nossa terra estou aqui inteira viva irrequieta como pássaro que acasala no equilíbrio de um ramo e como tu quero ferir meus pés no lençol de pedras que atapeta o obô inundar de algas azuis o corpo reflectido no espelho das calemas estou aqui para escutar o vento no zinco dos casebres e exorcizar os medos que vagueiam na linguagem do povo estou aqui como tu borboleta tricolor que pousa no eco das muralhas e morre a ouvir histórias de um país calcinado.13

FILIPA:

Agora imagina que sais daqui deste lugar. Imagina que este é o lugar que conheces e que adoras como se adora um pai ou uma mãe ou um irmão. Sim, aquele amor que nasce connosco que não passa pelo apaixonamento, o amor que nos corre já nas veias antes ainda de virmos ao mundo. E que é feito da mesma matéria com que nascemos, nariz do pai, olhos da mãe, tipo de sangue, peso, altura e esse amor por este lugar onde mora o irmão que nos anseia em casa.

Agora imagina que este lugar com que nasces e que amas, antes ainda de o conseguir nomear ou distinguir, é o mesmo lugar onde não podes viver. Sendo ele a tua vida. Mas não podes viver nele quando pensas na vida para levar. Que tens de te fazer à vida como se ela não estivesse lá em todas as coisas. E então começas a estranhar as coisas vivas e a procurar as coisas mortas para que possas não morrer no lugar onde nasceste e sim começar uma vida nesse lugar para onde vais.

Ouves falar de tudo o que lhe falta a tal ponto, que tudo o que antes resplandecia, fica agora imbuído de uma sombra escura e húmida que esconde doenças e perigos e onde temes estar a preferir viver num paraíso que morre aos trinta anos em vez de te propores ao justo trabalho que diz que, por cada hora que morres a trabalhar enquanto jovem, irás ganhar mais uma hora de vida enquanto velho.

E segues para esse lugar onde poderás estudar e trabalhar, esse lugar onde irás ter de te levantar todos os dias à mesma hora nos próximos quarenta anos ao som de um despertador, e que é o lugar de escolhas e oportunidades porque não terás de colher o que a árvore deixou ao teu alcance e sim escolher entre dezenas de frutos já arrancados e embalados ao teu dispor por quase 4€ o quilo. É por isso que terás de trabalhar tanto.

E aí, provavelmente, ninguém vai perceber o quanto tiveste de aprender para conseguires aplanar as características desse lugar que te corre nas veias e que perturba o fluxo das coisas pagas que se multiplicam impiedosamente, mesmo sem criarem raízes, devorando o teu tempo com a sua necessidade de as ter.

E aí, provavelmente, ninguém vai nunca reparar o quanto tiveste de mudar, porque ninguém te conhecia antes e agora até te vestes com as roupas elegantes e tristes que não deixam contrastar uma tez mais escura.

VANESSA:

A ilha do chocolate é diferente, é mais que saudade, é uma dor ainda mais forte, um apego enorme, um querer ficar a cheirar os cafezeiros em flor, uma vontade louca de voltar no próximo avião, um desejo oculto de permanecer mais um dia a olhar a Baía de Ana de Chaves, o Cão Grande, o Príncipe, o Ilhéu das Rolas… África é isso mesmo, saudade e feitiço, tudo fundido num sentimento só, uma profusão de cores e sons, um mosaico de sentimentos profundos e infinitos que nos remetem sempre para os primórdios da nossa existência.14

FILIPA:

Aquela profissão, aqueles miúdos e até, como há bocado te estava a contar até aquela experiência cultural. Que para mim sinceramente não desejei nunca mais ter. A experiência cultural de estar perante uma turma de crianças pequenas que vinham das suas aldeias, ali, a quem eu ia ensinar em francês como é

que se dizia o pequeno almoço dos franceses que era comer croissant, lait au chocolate et (coisas em francês) coitadinhos eles ficavam a olhar para mim arregalados e foi aí que eu comecei a desenvolver uma técnica de narrativa teatral, para lhes ensinar os verbos.15

VANESSA:

Não é fácil deixar-se a terra onde já se conhece o sussurro do vento, a voz da coruja, o sino da aldeia, o cheiro do rosmaninho…16

FILIPA:

…E assim, comecei a inventar coisas, como é evidente, porque comecei a perceber e alias falávamos entre nós sobre isso de como aquelas manuais que iam de Portugal, já depois da independência, não esquecer, mas continuavam a vir de Portugal, eram realmente uma, um instrumento de instabilidade social daquelas crianças que no final me comprovaram o que eu comecei a sentir. Que era eles não sabiam do que é que se estava a falar, eles queriam saber o que eram as coisas e queriam ir embora. Portanto, o que nós estávamos a fazer com estes manuais com “La France, c’est Paris, le voiture, le métro”. Eles não sabiam, nem podiam saber a que é que isto correspondia. E depois quando eu me vim embora muitos deles se agarraram às minhas pernas fisicamente a dizerem “Leve-me consigo”. Isto foi a coisa que mais me ofendeu ainda. Foi perceber que, eu sei que era por generosidade e por solidariedade, mas esta ideia de importar uma cultura para ensinar aos miúdos era uma violência.

Aí sim, sim. Isso são choques culturais, os choques culturais que engraçado. Colonialistas. Que éramos.17

MARTA:

História é história. Ter um “Nome de casa” é a mesma coisa que usar uma pulseira na perna, a pulseira no tornozelo. Porque os piratas que passavam nas praias, isto é século XVII/XVIII, se encontrassem crianças ali a brincar, levavam as crianças. E as mães depois perguntavam a alguém onde estavam os seus filhos e diziam “isso foi o vento que as levou”. Então, para que o vento não as levasse, usavam as sementes das árvores e punham nessas pulseiras uma marca para o vento não as levar, a isso chama-se menlofi, a mãe e o filho agarrados, na língua em crioulo, porque não queriam que o vento as levasse. O nome de casa também, é a mesma coisa, é feitiçaria, e é para nós, para mais ninguém… 18

2.

SER ESTRANGEIRO - VIDA EM VISEU

VANESSA:

Tenho uma ilha por dentro de mim cheia de corais e praias sem fim que chora e repete na longa distância os dias e as horas que me deu na infância tenho as canoas correndo na alma e bebo em orgias vinho de palma na roça à noite varrendo o terreiro eu falo e discuto com piadô feiticeiro santo é o seu nome e santa é a gente que as ilhas povoam bendito o seu ventre tenho uma ilha por dentro de mim cheia de floresta de mato capim que chora e repete no porto de abrigo os dias e as horas que eu trouxe comigo19

MARTA e FILIPA:

Reparas agora que todos desconhecem os trilhos do teu sangue. Sangue que circula por lugares em ti, que não têm espelho em teu redor, como se houvesse duas geografias a mapear-te ao mesmo tempo, uma aos teus passos outra ao pulsar dos teus órgãos.

MARTA:

E passas a viver em duas geografias, aquela que sentes alimentar a tua carne, o teu cérebro e órgãos e aquela por onde andas a trabalhar para embuchar os teus pés cansados que te levarão ao trabalho no dia seguinte. Por vezes essa impressão é tão forte que te sentes paralizado, apesar das milhas que fazes a cada dia a pé ou de autocarro cumprindo os ditames do teu calendário. Tu e as coisas que fazes transitam entre circuitos que te parecem fechados um para o outro e perguntas-te, como será isso possível: transitar entre circuitos fechados?

FILIPA:

Arrastas um pouco os pés à procura de apoio para a música do passado que ainda ressoa nos teus ouvidos e apercebes-te mais uma vez da fragilidade do teu chinelo sobre esse asfalto peremptório. Asfalto que te assa os pés quando os arrastas.

MARTA:

E voltas depressa para aquele sítio a que chamas agora a tua casa, com o mesmo tipo de pressa com a qual, em tempos, os meus avós fugiram à sova dos teus avós.

VANESSA:

Sabe a volta à velha casa.

A certeza da calma e do silêncio… o fogo, o odor do bôcadu no d’já chinja.20

Evódia21 partindo caroço açoitada à sombra do safuzeiro22 na tela do poente reverdece a haste de pau-kimi23; minha zagaia24 contra males de amor e ódio.25

FILIPA:

Imagina que todos os que têm pais e mães e tios e irmãos se sentem mais adultos do que tu, porque transpiras uma carência que te dá um aspeto para sempre infantil. Imagina que és jovem demais para não trazeres contigo a renúncia e a gratidão que esperam de ti.

És jovem demais para não precisares de um adulto a quem renunciar em prol da tua emancipação juvenil. Esse sítio seguro onde a afirmação pelo contraditório se faz à autoridade de um pai ou de uma mãe em vez de teres de te emancipar perante toda uma sociedade, também ela paternalista, também ela muito mais forte do que tu, mas que não te deu um nome.

Mas imagina que te dizem que é tudo para teu bem e que te dizem que tens de acreditar nisso

é para teu bem e tu anuis é a verdade e tu acreditas desconfiado

Devias estar grato pelo acolhimento, pelo beliche, pelos estudos. E tu calas a necessidade de te mexer e ficas quieto a pensar no que ainda não estudaste, no que ainda não és, no teu devir constante que devia ser mais rápido, mais económico e eficiente.

Ficas quieto a pensar na oportunidade única que te foi oferecida para remendar esse teu nome mal nascido que todos hesitam em dizer.

Sentes-te só, mesmo sabendo que és uma maioria e que um dia seremos todos mal nascidos só por estarmos aqui neste planeta. E que todos teremos de abrir mão desse nosso nascimento ingrato para ir apagar o crescimento da Terra, sempre tão inchada, quase a explodir.

VANESSA:

Na minha terra há um rio que nunca vai ter ao mar trago-o eu dentro do peito

e o meu corpo é o seu leito onde ele se pode espraiar

na minha terra há um pranto de uma mãe que o não secou escorre nas minhas veias como o mar por entre as areias que o oceano afundou

na minha terra há um porto com barcos por atracar as amarras trago-as eu no destino que me deu outro porto p’ra embarcar

na minha terra há um mundo diferente deste onde estou mas não o trago comigo ficou para meu castigo no canto do ôssobô…26

MARTA:

Ouve o passarinho, ouve? É a ave mais bela do mundo. É o ôssobô... anuncia a chuva... anuncia sim!27

FILIPA:

Éramos muito novos muito cheios de sonhos muito felizes, portanto São Tomé foi uma espécie de possibilidade de viver o paraíso na terra, São Tomé representou muito, no ponto visto da paisagem, o paraíso. Era a ideia que nós tínhamos do catecismo do paraíso, as palmeiras, o ar quente, que eu não sei se estava no catecismo, mas pelo menos eu inventei. O calor húmido que eu nunca tinha sentido, uma vida realmente com outro ritmo, porque não podíamos andar muito depressa porque se não ficávamos estafados ao fim de cinco minutos, aliás o pessoal de São Tomé, os habitantes, os São Tomenses, quando nós passávamos nos primeiros dias recém professores vinham para a janela ou vinham meter-se connosco na rua e diziam assim “Leve, leve! Leve, leve” porque a gente estava a andar muito depressa para chegar muito depressa e não podia ser a gente ia aprender que era preciso “Leve, leve”.28

MARTA:

História é história: vivia em Portugal uma menina da África e estudava numa

escola, onde só estavam portugueses. Aproximava-se o dia em que o Sr. Inspector iria fazer uma visita à escola e todos os meninos e meninas de todas as classes tinham que demonstrar o seu aproveitamento. Uns recitariam poemas, leriam lições ou notícias de jornais, resolveriam problemas difíceis, outros mostrariam as suas habilidades em desenhos feitos em grandes folhas de papel, outros ainda diriam de cor nomes de rios, montanhas, cidades de Portugal Continental e Ultramarino. E na classe da menina, o professor-organizador da recepção, escolheu-a para cantar. Porque, segundo ele, como ela cantava “como um rouxinol”, uma canção estava mais que a propósito. Quando dizia “rouxinol” pousava os olhos nela, sorria vitorioso e ela já sabia o que estes gestos significavam. Ir para a frente e fazer com que a sua voz sobressaísse. Era assim quando cantavam.29

VANESSA:

O preto minha senhora não gosta de estudar só gosta de comer bem não gosta de trabalhar!30

MARTA:

O corpo bamboleava para a esquerda, depois para a direita e a boca abria-se-lhe num esgar desajeitado:31

VANESSA:

Mais pr’aqui, mais pr’acolá ri-se o preto ah.... ah... ah!...32

MARTA:

Mais pr’aqui, mais pr’acolá ri-se o preto ah.... ah... ah!...33 Ao som dos últimos dois versos, risos e olhos cravavam-se em mim como insultos que ferem mais que uma arma de dois gumes... Perante o silêncio da menina e sua expressão de desconsolo, a Celestina, com aqueles olhos enormes que a grossura das lentes tornava ainda maiores, segredou-lhe numa ternura: 34

CELESTE:

Faz de conta que não é nada contigo.35

FILIPA:

E então no final do ano letivo no liceu, não era no ciclo, era no liceu, fazia-se uma récita de fim de ano, recitar poemas etc. E nós estávamos à espera numa sala todos juntos a fazer o aquecimento dos alunos com os colegas do liceu e tal que tinham preparado aquilo tudo e chega a ministra da cultura, a poeta Alda

Espírito Santo e vira-se para os alunos e disse36

MARTA:

Quando estiverem no palco lembrem-se que eles são os colonialistas.37

FILIPA:

Esta foi a maior ofensa que eu senti, porque nós não estávamos ali como colonialistas e ela sabia-o bem e ela depois soube que eu saí e vim chorar cá para fora e ela soube e depois não me pediu desculpa, mas veio falar comigo. 38

MARTA:

Tem que se dar consciência aos miúdos, precisam saber quem vocês são.39

3.

DESTINO MESTIÇO - SER SANTOMENSE

VÍDEO - SENHORAS DAS VÁRZEAS:

Quem vier de má vontade com ela há-de ficar

Aquele homem que ali vem quem me dera ver cair com as costas numa laje muito me havia de rir

VANESSA:

África vivia do mar e da terra sem medo e sem guerra e sem tirania seus cabelos crespos ao vento oferecia livre forte bela nos rios lavava nos rios cantava... e África corria pelo oceano corria e dançava com frutos maduros colhidos dos ramos que por ela havia e em África crescia como espigas de oiro a nossa origem

mas quis o destino que com lágrimas choradas se fizesse a nossa História

nos rostos decepados de risos e de abraços contornámos o tempo contornámos a História calcorreámos a Europa e mais longe até… América do Sul... América do Norte mas foi o mar só o mar que engoliu o nosso grito imenso: KIDALÊ… Ô40!!!!41

MARTA:

História é história: Ele chegou um dia. Trazia nos olhos a longidão de um outro oceano profundo onde deixou seus pensamentos lusos.42

FILIPA:

Trazia o voo dos pássaros migrantes. Chegou. Dançavam puíta no quintal de Sam Gidiba, mulata sem idade como todas as mulatas, e ficou extasiado ao ouvir o som frenético dos batuques. Que sons eram aqueles?!43

VANESSA:

Que ritmos?

Que requebros?

Tudo soava a novo para teus ouvidos lusos

Depois teus passos levaram-te por toda a ilha que foi tão gentil contigo!

Comeste kalulu, d’jógó, sôo, manga d’ôbô, bebeste café de Bom Jesus, até no dia das cinzas comeste “bôcadu”.44

FILIPA:

E quando enfim, despertou do encantamento, já corriam, descalços e seminus, seus filhos meninos.45

MARTA:

Não veio para ficar.

Veio para encher o baú de fortunas.

Veio para dar ordens, ensinar, amealhar e partir de novo.

Veio conquistar facilmente um reino, ilha onde a fortuna era fácil para qualquer homem de pele clara que nela aportasse…46

VANESSA:

E tu que entraste no barco grande que te trouxe a esta terra. Que depois foi tua. Que amaste logo nessa noite em que o ritmo desenfreado da puíta se colou à tua alma como mais tarde se colou também ao teu corpo o corpo sempre sedento de Sam Gidiba…47

FILIPA:

Como foi importante para ele essa noite… Para o meu longeavô, que vinha colonizar e acabou colonizado! Nunca regressou nem mais falou da sua lusa gente e foi nesse chão de basalto e de areia que se diluíram seus ossos pálidos e seus cabelos lisos e direitos como fio de prumo.48

VANESSA:

Que estranho quando me olho ao espelho! Que estranho quando vejo a minha pele, quando sei que toda eu sou negra acetinada, negra carvão, pletu lu, lu, lu, como forro diz… Pois é, meu longeavô, quando me olho de alto a baixo quase quase me esqueço que sou um cruzamento de terras de além do horizonte, um fruto de uma maré viva da nossa História tão pequena e afinal tão grande.49

IMAGENS:

Gorgulho. Massacre de Batepá. Voltar a 1953. Imagens de arquivo do tempo salazarista.

MARTA:

História é história: Já no século XX vão tentar fazer de São Tomé uma cidade moderna porque é o maior produtor de cacau do mundo…50

FILIPA:

O major Carlos de Sousa Gorgulho chegou para governar o país, vinha incumbido de uma missão: fazer da capital uma cidade de traça europeia, mesmo que para isso tivesse que utilizar a mão-de-obra nativa que trabalhava na agricultura. Para fazer a cidade precisava de muita mão de obra.51

MARTA:

Mas não tinham pessoal para o fazer, então obrigam o forro a ir também trabalhar nas obras. O forro recusa-se.52

FILIPA:

Só restou uma alternativa ao major: mandar os seus soldados buscar à força todos os forros e obrigá-los a trabalhar nas obras da cidade com o estatuto de contratados.53

MARTA:

“Eu não sou escravo. Não vou trabalhar para ti. E para além disso eu estou na minha terra, o branco é que está em terra alheia.” Havia ainda outro problema mais antigo, a mudança das marcações das roças e das pequenas glebas dos forros. “Pouco a pouco fomos expulsos das nossas terras. Ficamos sem as terras herdadas dos nossos antepassados.”

E mesmo denunciando esta vil situação, a justiça estava sempre do lado do roceiro, senhor absoluto de domínios sem fim.54

FILIPA:

Na cidade dizia-se que os negros estavam organizados e que enfrentariam os brancos, visto que certas famílias mestiças de elevada cultura e riqueza material lhes davam todo o apoio e os incitavam à revolta. Os ânimos agitam-se.55

MARTA:

O governador Gorgulho diz que estava a haver uma revolta comunista, que o querem matar, que os pretos querem matar os brancos todos para ficarem com as mulheres brancas e é isso que veio para Lisboa. Os ânimos agitam-se.56

FILIPA:

Um alferes português, inexperiente, vai patrulhar a zona da Trindade. Escondidos atrás de um cacaueiro, dois homens derrubam o alferes e matam-no. 57

MARTA:

Vingaram assim o assassínio de dois dos nossos homens ocorrido na véspera. 58

FILIPA:

Quando chega à cidade a notícia da morte do alferes o pânico apodera-se da população branca e o governador Gorgulho faz distribuir armas de guerra aos civis e desarma os soldados indígenas. 59

MARTA:

Durante dias e noites, fuzilaram, queimaram, deitaram fogo às palhotas com

gente dentro, traspassaram corpos de homens, mulheres e crianças.

O povo ficou aterrado, ficou calado.

E no rádio do Sr. Major, o vizinho rico do fundo da rua, o senhor Salazar discursava: 60

SALAZAR - em vídeo:

Os homens marcham pra climas inóspitos e terras distantes a cumprir o seu dever. O dever que lhes é ditado pelo coração e pelo desafio da fé e patriotismo que os ilumina. Diante desta missão, eu entendo mesmo que não se deve chorar os mortos. Melhor… nós havemos de chorar os mortos se os vivos não o merecerem.. 61

MARTA:

O sofrimento passou, mas não passa nunca o ter sofrido.

Até hoje, o povo de São Tomé e Príncipe ainda continua à espera de um pedido público de desculpas. 62

FILIPA:

Agora imaginem a ironia da História das estórias. Sintam-na, riam-se dela.

MARTA:

História é história:

FILIPA:

Estava-se a inventar a história de São Tomé que, por acaso, era um dos nossos colegas cooperantes que era de direito, de Coimbra, e era ele que estava a coordenar a elaboração da fábula. Claro que - eu digo isto hoje - claro que é verdade, eu vi, eu vi. Portanto estava a ser criada uma fábula relativamente à originalidade do povo de São Tomé, portanto ideologicamente determinada. Eu não estou, atenção, não estou a inventar. Esta era uma realidade. Como é que nós - quando o nosso colega chegava para o almoço naqueles almoços coletivoscomo é que eu sentia mentira? Como tudo era novo para mim, como tudo era desconhecido para mim, tentava não julgar. É - porque é necessário - não julgo. Mas certamente que não esqueci, eu esqueço-me de tudo, mas isso não esqueci. Quer dizer que a coisa me afligiu sobremaneira. 63

MARTA:

História é história. Havia um casal de tartarugas com seus filhos que vivia em extrema pobreza. Aquele casal e seus filhos só comiam folha da matabala cozida. Como a folha de matabala não era suficiente pro senhor tartaruga, ele ia pro mato.

Um dia, Seu Tartaruga resolveu ir pro mato catar e comer caroço, e fez: catou caroço, um caiu num buraco. Seu tartaruga entrou no buraco também. Foi parar no quintal de Nossa Senhora.

Nossa Senhora perguntou: o que está fazendo no meu quintal? Seu Tartaruga disse que ele e a família tinham muita fome e ele ia para a floresta colher caroço.

Nossa Senhora “Ah, então o senhor e sua família têm fome? Tome esta benguela, leva pra sua casa e com sua família em volta, você diz:

A benguela que Nossa Senhora me deu dá-me de comer, dá-me de beber. Depois você manda a benguela recolher tudo.

Seu Tartaruga agradeceu e foi para uma floresta bem longe. Mandou a benguela botar a comida e depois recolher tudo. Seu tartaruga ri “Que riqueza. Vocês acham que vou levar tudo isso pra dividir com minha mulher e filhos? vou levar tudo isso pra minha família? Ha ha ha. vou ficar só pra mim, eles que comam folha de matabala cozida até o dia que Deus os levar…… 64 Continua a falar enquanto sua voz é coberta pela Voz de Olinda.

VOZ DE OLINDA vai-se sobrepondo à narrativa de Marta: História é História.

Riam-se sabendo que, por muita estória que seja contada, nunca vamos poder contar nada muito diferente dessa História que nos aplanou.

Bem que podem vir escarafunchar em nós à procura do que ainda está bom.

E as pessoas vão lá e procuram em nós, que a nossa cultura está viva, que não nos mataram, que agora podemos ser nós. E dão-nos fundos para sermos nós, e escolas para sermos nós, e palcos e livros e dissertações sobre nós e preocupam-se conosco porque querem ouvir que estamos bem. Que ainda temos alguma floresta, que saberemos continuar a equilibrar cestas na cabeça, que ainda temos ancas largas para acalmar tareias, que estamos bem.

Que nos podemos sentar a contar as nossas estórias que já querem ouvir. Mas a História é sempre só uma que nos olhou como animais durante tantos séculos. Sem nos ouvir, ver, sem olhar para nós. E nós fomos desviando também o olhar desses que só podíamos temer.

E então falamos de cobras, de jacarés e de outros seres-vivos que não tenham consciência do que lhes aconteceu, que não tenham memória, que possam viver a inocência de não conhecerem a História única.

Agora, com o mesmo dinheiro que ganhou às custas da nossa destruição, do nosso empobrecimento, esse dinheiro agora devolvido em pequenas gotas de caridade para nos deixar sobreviver um pouco nas malhas urbanas dessas capitais europeias construídas em estilo neo-clássico sobre fundações de cacau e café.

Mas ao inventarmos novas histórias para nós, não nos resta muito para além do tentar aproximar-nos daqueles que historicamente nos saquearam as estórias, porque é difícil andar para trás. Todos dizem que o caminho é para a frente e que são os que nos escravizavam que sabem esse caminho e que determinam

a linha temporal onde todos nos movemos. Foi-se a ver era mesmo verdade.

Vivemos numa só linha temporal, acelerada impiedosamente por esses que nos quiseram escravizar e que, sem se aperceber se escravizaram a si mesmos. O tempo e a escravatura, será que se não houvesse ainda exploração do homem o tempo parava?

Será que o tempo foi mesmo inventado para isso? Controlar o esforço do outro para benefício próprio.

VANESSA:

Era setembro e o cacau estava em pleno verde e rubro pronto a ser colhido 65

FILIPA:

No tempo dos meus avós ao dinheiro chamou-se cacau porque o cacau trouxe dinheiro.

MARTA:

Mas quem trouxe dinheiro aos vossos avós foram os nossos avós que tornaram cacau em dinheiro.

VANESSA:

Cacau que o mundo inteiro consome e saboreia em barras retangulares de cores variadas sem noção alguma do seu verdadeiro gosto.

Amargo, muito amargo.

o mais amargo de todos os cacaus produzidos por terras húmidas e quentes, muito quentes, muito húmidas.

Um cacau com sabor a uma força hercúlea que faz olhar sempre em frente e a não temer nunca a escuridão da vida. 66

4.

RETORNO

- REGRESSAR A SÃO TOMÉ

VANESSA:

Âncoras de esperança.

meu avô lusitano. Caravelas de mãos sangrando Nos quatro cantos do mundo meu avô africano. Meu sangue mestiço angariando esmola meu batuque... minha viola 67

FILIPA:

Agora imaginem que aquilo que vão à procura nos braços dos vossos antigos escravizadores são os vossos pais mas também os vossos filhos. Levados para onde são ensinados a ter vergonha da vossa terra que dá plantas e fruta em vez de dinheiro. E ensinados a agradecer cada passo que pisa a nossa terra, cada golfada desse ar poluído.

VANESSA:

Eu ainda não sei o que me trouxe a esta terra... Mas talvez as estrelas que sabem das coisas, me tenham guiado pela noite infinita até ao meu país de origem... 68

FILIPA:

Ou imaginem que ficaram e que têm sempre de humildemente agradecer cada vergastada que vos permitiu continuar na terra onde nasceram. Onde vos deixaram ficar a apodrecer em campo desmatado conquanto não parassem de trabalhar para ir matar a sede. E assim vocês fizeram, habituaram-se a trabalhar em silêncio e de garganta seca e a levar vergastadas se quebrassem o ritmo, e assim continuaram,

VANESSA / MARTA / FILIPA: a ter sede, a levar pancada, a não quebrar o ritmo, a ter sede, a levar pancada, a não quebrar o ritmo.

FILIPA:

… E por aí fora até aos dias de hoje em que a escravatura já não tem o mesmo nome. Então terás de trabalhar e ser uma mulher emancipada, terás de acordar todos os dias para pôr os teus filhos na escola logo que ela abre para poderes ir limpar a casa de um doutor de manhã, em bicos dos pés para ele não acordar, e

à tarde terás de ficar com os dois bebés da senhora da tarde para ela poder ter tempo para si e ir tratar de si e das suas unhas enquanto ficas com os bebés que são mais velhos do que os teus mas ainda não vão à escola porque são frágeis demais para apanhar doenças e já que a senhora não precisa de trabalhar e os pode ter em casa é melhor não arriscar… E anseias que ela se despache no salão para conseguires apanhar os dois autocarros que saem só de 30 em 30m e ainda apanhar os teus filhos na escola já que o maior hoje estava até muito constipado e esperas mesmo que não tenha feito febre porque amanhã tens mesmo que trabalhar e não te dava jeito nenhum ter de ficar com ele ou levá-lo para o trabalho já que terias de disfarçar que ele estava com febre para ninguém adivinhar que ele poderia pegar alguma doença aos filhos da senhora que te paga para que eles possam ficar em casa protegidos e não andar a apanhar doenças lá fora como o teu que em três semanas, duas está doente, e tu sem saber o que fazer.

Terás filhos, serás mãe como se houvesse água para todos.

VANESSA:

Ternura que arrasa minha alma magoada minha mãe lavando no rio cantando despreocupada

Bibi minha tia que me viu nascer

fala-me em crioulo e ensina-me a ler ensina-me os sons ensina-me as flores ensina-me a vida ensina-me as cores:

blanco fê nê nê

zulu tê tê tê

vlêmê bá bá bá plêtu lu lu lu

Ternura que arrasa minha alma magoada minha mãe dormindo na esteira sorrindo despreocupada... 69

MARTA canta:

blanco fê nê nê

zulu tê tê tê

vlêmê bá bá bá plêtu lu lu lu

blanco fê nê nê

zulu tê tê tê

vlêmê bá bá bá plêtu lu lu lu

RAÍZES

- SILÊNCIO -

MARTA:

Esta é a minha terra, a minha casa, a minha mátria, o meu lugar

Este é o chão da minha placenta, o húmus dos meus, dos teus, dos nossos filhos 70

VÍDEO - SENHORAS DE VÁRZEA DE CALDE:

O linho é o linho o linho é amor o linho floresce na paz do Senhor

FILIPA:

Agora imagina que não tens casa e não te ralas com isso.

Imagina que, em vez da especulação imobiliária para a qual trabalhas cada minuto da tua vida para poderes voltar a casa e dormir rapidamente depois de arrumar a cozinha, imagina que trabalhas para o teu corpo singrar a subir árvores altas ou arrastar um tubarão pela praia até que ele desista de abocanhar os teus calcanhares nus.

Imagina que passaste a tua infância a treinar essas pernas, essas mãos, para a complexidade viva da natureza, em vez de aprenderes a contar o abstracto das formulações lógicas, dos métodos quantitativos que te salvaram da fatídica negativa a matemática e consequente castigo paterno. Imagina que sabes os nomes das plantas mesmo que não vás em visitas de estudo ao Jardim Botânico, e que elas se atravessam no teu caminho mesmo quando não estás de férias.

MARTA:

A minha avó Uaka Throm dizia “nós somos pobres por sermos ricos demais”.

A minha mãe vai ao mato buscar um inhame. Ela puxa, cova e tira o inhame e o resto que fica na terra, passados oito dias já nasceu de novo.

“Nós plantamos e Deus rega”.

O forro que tem o seu pedaço de terra praticamente não precisa trabalhar. 71

FILIPA:

Agora precisa, porque entrou a tecnologia moderna, toda a gente quer um fri-

gorífico, uma arca, uma televisão e aí isso já vai desequilibrar. 72

Já imaginaste o que é então a tua casa, um T0, um T1?

Alguém?

Tudo?

Que casa maior é essa que torna incompreensível a tua vida aqui?

Imagina que tentaste explicar isso a alguém mas que, mesmo assim, as casas proliferaram em cima de ti e para além de ti, excluindo-te. E que tiveste de procurar um abrigo longe, um lugar que te protegesse desse teu primeiro amor, dessa tua tendência em subir árvores e a misturar infância com idade adulta como se tudo pudesse conviver sem separação, essa tendência da qual te separam. Imagina que olhar para as árvores ou apanhar animais é considerado distrativo, que dar saltos em comprimento é considerado atletismo e que andar descalço é errado porque o asfalto é que é natural e não os pés. E, mesmo assim, tantos outros quantos tu, começam a caminhar descalços sobre esse asfalto escaldante para encontrar um lugar para descansar, longe da família mas com acesso à internet através da qual vão poder manter o contacto com a imagem do que está ausente.

VANESSA:

A nossa casa mãe é quali 73 de goiabas a projectar-se na floresta azul onde o teu ventre se multiplica e se debate em palavras molhadas de imensidão tempos houve em que o teu rosto ausente se embrenhou no plasma vigoroso que deteve a morte inglória de teus frutos. Volto à nossa casa mãe e o quali de goiabas é o rosto de outras mães que saúdam as úluas sozinhas e distantes na savana inquieta das ilhas 74

MARTA:

História é história: Também o coco chegou em tempos à nossa terra trazido pelas correntes marinhas, também ele levou pancada para que perdesse a sua fibra e se ficasse pelo caroço embebido em água doce muito bem guardada do mar que o lançou mas não afogou. Deixou-o enriquecer a terra que o acolheu, deixou-o germinar no seu solo mais alto que todos os outros. Porque é que não fazemos o mesmo?

FILIPA:

Só que o homem, aprendeu palavras das quais ignorou sempre o seu verdadeiro significado. Utilizou-se delas, saboreou-as, conviveu, brincou, mas nunca lhes deu a forma correta nem desejada, nem a importância de que elas se revestiam. Ignorou por exemplo a verdade do belo, do puro, do intocável. 75

VANESSA:

Esqueceu-se de dar a mão à flor do mato, do loendro 76 , da giesta 77; esqueceu-se de correr ao lado de gazelas e renas; de se abrigar sob a copa frondosa de teixos 78 e tuias 79; de cantar ao som de canaviais ou ao compasso das dedaleiras 80; de se almiscarar com o perfume da canela e do alecrim e de bendizer o zumbido da abelha nas manhãs de infância sempre sonhadas. 81

MARTA:

Esqueceu-se até que as árvores são muito mais úteis e valiosas que os homens que as derrubam. 82

VANESSA:

Se continuarem a devastar as matas deixará de haver chuva e as roupas secarão mais depressa no estendal e terão menos nódoas de fruta fresca e sumarenta que desaparece para dar lugar ao café e ao cacau.

FILIPA:

Agora imagina que um dia tudo vira e os outros queriam afinal a tua terra intacta, queriam a floresta das chuvas os sapos com seu veneno colorido, queriam as tuas frutas bem altas no topo da árvore para aprender a subir coqueiros e ficar forte e belo como tu e não fraco e velho como eles são. Lembravam-se como eras belo antigamente antes de fazerem a tua carne enrijecer, desta maneira, ao

sol cruel das suas roças, à exposição diária ao gel de limpeza. Afinal querem agora que os leves para o paraíso perdido, comido até um caroço que ainda germina com aquela força sem mãos nem máquinas.

MARTA:

O poema está no ritmo do nosso sangue cruzado. Na idade da nossa santomensidão... Cheiros de terra quente palmares de avó Sipinge distância em distância entre o leste e o oeste o norte e o sul 83

FILIPA:

O poema é a única rota que deixa sulcos no cais imensurável dos nossos atropelos Identidade Por vezes procuro-me por toda a ilha… farrapos de mim voam em círculos fatais no chão dos milhos e das mandiocas possuindo os ramos entreabertos de plantas rastejantes 84

VANESSA:

Rebeldes os meus olhos ficam perplexos na praia nua que brinca nesta ilha e inerte a chuva saboreia a crespidão de amor que o meu cabelo exibe canaviais distantes ondulam na minha alma e eu tento no reflexo paisagístico do misticismo ilhéu erguer a voz do sangue e confundir-me nas ruas nos cercados nos terreiros no leve leve do tempo 85

FILIPA:

eu quero continuar a procurar-me na orla infinita das praias e das gentes 86

MARTA:

nas roças salpicadas de café 87

VANESSA: e até na ousadia temporal dos corpos que por mim chamam ao passar

VOZ DE OLINDA:

A verticalidade é uma obsessão para as plantas tropicais.

Têm de furar a floresta densa em direção da luz.

Têm de crescer depressa senão não chegam a dar fruto não chegam a cumprir o seu papel de planta.

notas de rodapé

1 Olinda Beja, Afastamento.

2 Em crioulo: minha filha.

3. Olinda Beja, Carta Para África - Poema escrito em Mangualde (Portugal) no dia da independência de S. Tomé e Príncipe, 12 de julho de 1975.

4. Olinda Beja, Abril - Escrito em Mangualde (Portugal), maio de 1974.

5. Olinda Beja, Carta Para África - Poema escrito em Mangualde (Portugal) no dia da independência de S. Tomé e Príncipe, 12 de julho de 1975.

6. Olinda Beja, Abril - Escrito em Mangualde (Portugal), maio de 1974.

7. Olinda Beja, Carta Para África - Poema escrito em Mangualde (Portugal) no dia da independência de S. Tomé e Príncipe, 12 de julho de 1975.

8. Olinda Beja, Abril - Escrito em Mangualde (Portugal), maio de 1974.

9 Olinda Beja, Carta Para África - Poema escrito em Mangualde (Portugal) no dia da independência de S. Tomé e Príncipe, 12 de julho de 1975.

10. Canção sobre o preto cantada nas escolas portuguesas continentais e ultramarinas.

11. Em crioulo: minha filha.

12. Conto tradicional recontado em portugues por Marta Espírito Santo.

13. Olinda Beja, Eis-me aqui.

14. Olinda Beja, In 15 Dias de Regresso.

15. Excerto da entrevista a Eugénia Vasques.

16. Olinda Beja, In 15 Dias de Regresso.

17. Excerto da entrevista a Eugénia Vasques.

18. Excerto da entrevista a Olinda Beja.

19. Olinda Beja, Ilha.

20. Dia de cinzas (4a feira de cinzas e início da quaresma). Neste dia só se come peixe e a mais velha da família dá “bocado” de comida do mais velho para o mais moço.

21. Evódia, nome de uma prima de Olinda, significa “aquela que deseja boa viagem às pessoas”. Embora o étimo de Evódia seja incerto, há fontes que indicam a possibilidade de o mesmo ter origem hebraica. Segundo alguns, o seu significado seria “aquela que deseja boa viagem às pessoas”.

22. Safuzeiro, árvore que produz frutos que são rosa quando estão verdes e roxos ou azulados quando estão maduros.

23. Pau-kimi, árvore da família das Bignoniáceas, de folha persistente, utilizada na formação de sebes vivas, cuja casca cozida tem ação terapêutica em problemas brônquicos.

24. Zagaia, engodo artificial em forma de peixe, feito geralmente de chumbo, com uma coroa de anzóis numa ponta e um furo, onde se prende a linha, na outra, usado na pesca de predadores em águas profundas. Lança.

25. Olinda Beja, in À Sombra do Oká.

26. Olinda Beja, Solidão, in Leve Leve.

27. Olinda Beja, In 15 Dias de Regresso.

28. Excerto da entrevista à Eugénia Vasques

29. A partir de 15 Dias de Regresso.

30. A partir de 15 Dias de Regresso.

31. A partir de 15 Dias de Regresso.

32. A partir de 15 Dias de Regresso.

33. A partir de 15 Dias de Regresso.

34. A partir de 15 Dias de Regresso.

35. A partir de 15 Dias de Regresso.

36. Excerto da entrevista à Eugénia Vasques

37. Excerto da entrevista à Eugénia Vasques

38. Excerto da entrevista à Eugénia Vasques

39. Excerto da entrevista à Eugénia Vasques

40. “KIDALÊ… Ô!!!!” É a expressão santomense (forro) que melhor traduz um “grito de alerta” associado a estados de espírito de constrangimento, embaraço, espanto; acudam-me! kidalê, a partir de aqui d’el-rei!

41. Olinda Beja, Balada.

42. Olinda Beja, Lembras-te? in Histórias da Gravana.

43. Olinda Beja, Lembras-te? in Histórias da Gravana.

44. Olinda Beja, Lembras-te? in Histórias da Gravana.

45. Olinda Beja, Lembras-te? in Histórias da Gravana.

46. Olinda Beja, Lembras-te? in Histórias da Gravana.

47. Olinda Beja, Lembras-te? in Histórias da Gravana.

48. Olinda Beja, Lembras-te? in Histórias da Gravana.

49. Olinda Beja, Lembras-te? in Histórias da Gravana.

50. Olinda Beja, Fusão de 15 Dias de Regresso e de entrevista.

51. Olinda Beja, Fusão de 15 Dias de Regresso e de entrevista.

52. Olinda Beja, Fusão de 15 Dias de Regresso e de entrevista.

53. Olinda Beja, Fusão de 15 Dias de Regresso e de entrevista.

54. Olinda Beja, Fusão de 15 Dias de Regresso e de entrevista.

55. Olinda Beja, Fusão de 15 Dias de Regresso e de entrevista.

56. Olinda Beja, Fusão de 15 Dias de Regresso e de entrevista.

57. Olinda Beja, Fusão de 15 Dias de Regresso e de entrevista.

58. Olinda Beja, Fusão de 15 Dias de Regresso e de entrevista.

59. Olinda Beja, Fusão de 15 Dias de Regresso e de entrevista.

60. Olinda Beja, Fusão de 15 Dias de Regresso e de entrevista.

61. Trecho de um discurso de Salazar.

62. Olinda Beja, Fusão de 15 Dias de Regresso e de entrevista.

63. Excerto de entrevista à Eugénia Vasques.

64. Conto tradicional santomense recontado em português por Marta Espírito Santo.

65. Olinda Beja, in O Cruzeiro do Sul

66. Olinda Beja, In Histórias da Gravana

67. Olinda Beja, Âncoras

68. Olinda Beja, in 15 Dias de Regresso

69. Olinda Beja, Paisagem

70. Olinda Beja, inédito.

71. A partir da entrevista à Olinda.

72. A partir da entrevista à Olinda.

73. Cesto.

74. Olinda Beja, In Água Crioula

75. Olinda Beja, in A Ilha de Izunari.

76. O loendro (Nerium oleander) é um arbusto mediterrâneo que a troco de poucos cuidados oferece uma floração rica e abundante.

77. Arbusto perene que pode atingir até cerca de 3 metros de altura. Tradicionalmente os seus ramos de tojo eram matéria-prima no fabrico de vassouras. Pode ser utilizado com sucesso em sebes ou isoladamente, ajudando à fertilidade do solo por ser fixadora de azoto. Na primavera a sua intensa floração amarela atrai inúmeros insetos polinizadores. Adapta-se a diferentes tipos de solo e não exige regas frequentes.

78. O teixo é uma das árvores mais raras e ameaçadas em Portugal.

79. Árvore rústica, a Tuia também é conhecida popularmente como árvore da vida.

80. Espécie de flor

81. Olinda Beja, in A Ilha de Izunari

82. Olinda Beja, in A Ilha de Izunari

83. Olinda Beja, Santomensidão in “No País do Tchiloli” e in “Aromas de Cajamanga”

84. Olinda Beja, Santomensidão in “No País do Tchiloli” e in “Aromas de Cajamanga”

85. Olinda Beja, Santomensidão in “No País do Tchiloli” e in “Aromas de Cajamanga”

86. Olinda Beja, Santomensidão in “No País do Tchiloli” e in “Aromas de Cajamanga”

87. Olinda Beja, Santomensidão in “No País do Tchiloli” e in “Aromas de Cajamanga”

88. Olinda Beja, Santomensidão in “No País do Tchiloli” e in “Aromas de Cajamanga”

APRESENTAÇÕES ESSE CAMINHO LONGE

EM PORTUGAL | 2023

Círculo de Criação Contemporânea de Viseu – Polo 1 4, 5, 11 e 12 de Novembro

Para Público Escolar: 9 e 10 de Novembro

Teatro do Noroeste, Viana do Castelo 14 de Novembro

Casa da Cultura de Sacavém, Loures 17 de Novembro

O Teatrão, Coimbra 23 de Novembro

UCCLA, Lisboa 25 de Novembro

EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE | 2024

CATAP 31 de agosto

Cacau 5 e 7 de Setembro

NO BRASIL - SALVADOR, BAHIA | 2024

Museu de Arte da Bahia

29, 30 de novembro; 1o, 6, 7 e 8 de dezembro

ATIVIDADES PARALELAS

NO BRASIL - SALVADOR, BAHIA | 2024

Troca de Saberes: Vivências Artísticas Africanas e a Riqueza Rítmica de São Tomé e Príncipe com Marta Espírito Santo e Vanessa Faray

Museu de Arte Moderna da Bahia

2 de dezembro

Fala Vila: Identidade, Ancestralidade e Poesia com Leda Maria Martins, Olinda Beja e Vanda Machado

Museu de Arte da Bahia

2 de dezembro

Oficina de Teatro com Graeme Pulleyn

Museu de Arte Moderna da Bahia

3 de dezembro

Recital: A Poesia de Olinda Beja com Olinda Beja e Filipe Santo

Museu de Arte da Bahia

3 de dezembro

Encontro Musical: Musicafrolusobrasileira com Gongori (PT); Ícaro Sá, João Milet Meirelles e Ramon Gonçalves (BR) e Filipe Santo e Vanessa Faray (ST)

Museu de Arte da Bahia

4 de dezembro

FICHA TÉCNICA

ESSE CAMINHO LONGE

TEXTOS: LÍGIA SOARES E OLINDA BEJA

DRAMATURGIA: GRAEME PULLEYN, LÍGIA SOARES E MARCIO MEIRELLES

ENCENAÇÃO: GRAEME PULLEYN E MARCIO MEIRELLES

COMPOSIÇÃO E DIREÇÃO MUSICAL: GONGORI

COCRIAÇÃO MUSICAL: VANESSA FARAY

VÍDEO, REALIZAÇÃO E EDIÇÃO: LEANDRO VALENTE

ELENCO: FILIPA FRÓIS, GONGORI (MÚSICA), MARTA ESPÍRITO

SANTO E VANESSA FARAY

PARTICIPAÇÕES NO VÍDEO DE CENA: EUGÊNIA VASQUES, GRUPO DE SOYA DA FAMÍLIA CAMBLÉ (TRINDADE, SÃO TOMÉ), GRUPO ETNOGRÁFICO DE VÁRZEA DE CALDE (VISEU, PORTUGAL)

CENOGRAFIA, FIGURINOS E DESENHO DE LUZ: MARCIO MEIRELLES

PREPARAÇÃO VOCAL: RICARDO AUGUSTO

APOIO COREOGRÁFICO: CRISTINA CASTRO

GERENCIA OPERACIONAL: MENIKY MARLA

OPERAÇÃO TÉCNICA: MARCOS DEDÉ E GONGORI

APOIO TÉCNICO: JOY BATISTA

CONSTRUÇÃO DE CENÁRIO: RICARDO CAVALCANTI / RCD PRODUÇÃO DE ARTE

COSTUREIRA: FÁTIMA MAGALHÃES

TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS: CLARA PULLEYN, LUCAS PULLEYN E ÓSCAR PULLEYN

DESIGN E REGISTO FOTOGRÁFICO E VÍDEO (Portugal): LUÍS BELO

DESIGN (Brasil): RAMON GONÇALVES

COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO: BEATRIZ DE PAULA

E AMANDA LOPES

COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL: EDSON RODRIGUES

ASSESSORIA DE IMPRENSA: ARLON SOUZA

PRODUÇÃO EXECUTIVA (Portugal): GUIDA ROLO

ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO (Portugal): GUSTAVO IVÁN ROMERO

E LAURA TAVARES

PRODUÇÃO EXECUTIVA (Brasil): BEATRIZ ALBUQUERQUE

E EDU COUTINHO

ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO (Brasil): GABRIELA WENZEL, ÍNDIGO CONCEIÇÃO, EVELYN VENET

ASSESSORIA JURÍDICA (Portugal): PEDRO LEITÃO

COORDENAÇÃO GERAL

SOL MOVIMENTO DA CENA (Brasil): TIAGO BASTO

COORDENAÇÃO ADIMINISTRATIVA E FINANCEIRA SOL MOVIMENTO DA CENA (Brasil): VÂNIA PAIXÃO

AGRADECIMENTOS (Brasil): JORGE WASHINGTON, TICA VILA NOVA (OYÁ COZINHA AFETIVA), NEOJIBÁ

O FUNCIONAMENTO DO TEATRO VILA VELHA

É GERIDO PELA SOL – MOVIMENTO DA CENA

A PROGRAMAÇÃO DO TEATRO VILA VELHA

TEM A CURADORIA DA SOCIEDADE TEATRO DOS NOVOS

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