PONTO DE CHEGADA
PORTUGAL APÓS A PANDEMIA Ponto de partida: Neste tempo em que vivemos, é pertinente pensar que mundo teremos após a pandemia. Há quem acredite num mundo mais sustentável, solidário, justo e afetuoso. Há quem tenha uma visão mais pessimista, antevendo o agravamento das desigualdades e dos problemas ambientais. Partindo do conceito de “utopia” de Thomas More e da importância da Ilha dos Amores n' Os Lusíadas, "princípio da esperança", os alunos foram desafiados a imaginar, numa perspetiva utópica, Portugal após a pandemia. Partilhamos o texto da aluna Beatriz Guilherme do 10.ºC. Sónia Pisco – Professora de Português 10.ºC
UTOPIA DE UM PORTUGAL SUBLIME O termo “utopia” foi primeiramente cunhado por Thomas More em 1516 na sua obra A Utopia, remetendo para uma ilha imaginada onde já existiria uma sociedade ideal. O dicionário da Porto Editora refere-se a utopia como um “modelo da sociedade oposto à ordem política existente no momento, cuja realização se considera impossível”. Em Os Lusíadas, de Luís de Camões, encontra-se o episódio da Ilha dos Amores, onde é possível identificar, por parte do poeta, uma ideia de esperança para aquele que seria um Portugal idealizado, onde viveria uma nova geração aperfeiçoada, fruto da união entre homens e divindades. Estar sujeita a um confinamento e, por momentos, exposta a períodos de reflexão, permitiu-me idealizar como seria um Portugal ideal, pós-pandemia. Nessa versão melhorada existiriam quatro valores imprescindíveis: a liberdade, a igualdade, a solidariedade e a justiça. Vivemos num estado de direito democrático, beneficiando já do valor da liberdade. O facto de as restrições aplicadas terem sido temporárias é um exemplo disso mesmo. Outros valores não estão, infelizmente, tão implementados na nossa sociedade como seria desejável… As desigualdades sociais, relativamente ao ensino, por exemplo, sempre existiram, mas foi graças à pandemia que ganharam ênfase. Tomou-se
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SEMENTINHA ANO XX | fevereiro a julho de 2020
consciência do número de famílias em dificuldades, nomeadamente para conseguir que os filhos pudessem prosseguir os estudos em quarentena. Num país utópico, tais famílias teriam acesso, em igualdade de circunstâncias, à tecnologia. Deveríamos continuar a assistir a manifestações de humanismo e altruísmo por parte da população (sob a forma de entrega de comida ou medicamentos), relativamente a cidadãos pertencentes a grupos de risco ou fragilizados: a sua vulnerabilidade não desaparecerá após a pandemia… A justiça é também tema recorrente de discussão devido às assimetrias no acesso à mesma e à lentidão dos tribunais. Num Portugal utópico, o acesso e a celeridade da justiça constituiriam uma confirmação da igualdade entre cidadãos. Em síntese, apesar de, em sentido literal, utopia ser algo impossível de alcançar, creio que, reunida a determinação e o humanismo dos portugueses poder-se-ia atingir a utopia de ver concretizados os valores da igualdade, da justiça e da solidariedade. Beatriz Guilherme, 10.º C