MaiSBEM - Edição nº 43

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Nº43 out nov dez 2019

MaiSBEM

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Revista Online da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

VIGILÂNCIA ATIVA OU CIRURGIA PARA mCPT NA AMÉRICA LATINA Estamos prontos?

EM DESTAQUE Estudo do EASD: benefícios promovidos pelas combinações hormonais Dose de mineralocorticoide e concentração de renina plasmática: uma relação complexa

E MAIS Rotulagem nutricional: a saúde pública na fila de espera Destaques do American Society for Bone and Mineral Research e do Congresso Brasileiro de Diabetes Trabalhos premiados no COPEM 2019

ORIENTE SEU PACIENTE Obesidade é uma doença


Palavra do Presidente

O ano está acabando, mas continuaremos aqui Chegamos ao final de mais um ano e gostaria de relembrar com vocês algumas das realizações até aqui. No primeiro semestre, tivemos o 13º COPEM, evento de alta relevância científica tanto na pesquisa quanto na prática clínica, que sempre marca o início de uma nova gestão. Também realizamos mais atividades de educação continuada aos endocrinologistas do interior: o Endocaipira de Bauru, com coordenação da Dra. Nanci Bueno Figueiredo, e o Endocaipira de Marília, com coordenação do Dr. Leonardo Parr e já com divulgações de nova marca do evento. Em 2020, já tem mais uma cidade agendada para esse encontro: Olímpia.

Índice

Em setembro, lançamos a Campanha de Autenticidade do Endocrinologista, como forma de reconhecer os especialistas e associados e fortalecer nossa especialidade. Foi uma ação muito gratificante porque outras Regionais pegaram carona nela, formando

uma corrente pelo Brasil em prol da Endocrinologia. Todas as fotos recebidas estão disponíveis em nosso site. Também trabalhamos de forma intensa, especialmente com a imprensa e redes sociais, as campanhas da tireoide, teste do pezinho, Dia do Homem, colesterol, obesidade, menopausa, osteoporose — em participação ativa com a ABRASSO — e diabetes, com a SBD. Já iniciamos por aqui também os trabalhos para o EPEC 2020 e COPEM 2021. Seguiremos assim no ano que se aproxima: priorizando os eventos que possam colaborar para o aprimoramento científico de todos os endocrinologistas associados e as campanhas para levar informação de qualidade ao público, visando sempre à ética e ao fortalecimento da Endocrinologia. Boa leitura e boas-festas a todos! Dr. Sérgio Setsuo Maeda, presidente da SBEM-SP

Repórter Médico

Rotulagem nutricional: a saúde pública na fila de espera

pág. 3

Atualizando

Vigilância ativa ou cirurgia para mCPT na América Latina: estamos prontos?

pág. 4

Palavra de Especialista

Excesso de diagnóstico leva ao excesso de tratamento dos nódulos da tireoide

pág. 5

Dose de mineralocorticoide e concentração de renina plasmática

pág. 6

Informe-se

Amplo espectro fenotípico do DDS disgenético 46,XY

pág. 7

Compreensão e comunicação acerca de DDS

pág. 7

Giro Endócrino

ASBMR: Highlights do principal evento sobre osteometabolismo

pág. 8

Novas formas de insulina e telemedicina entre os destaques do Congresso Brasileiro de Diabetes

pág. 8

De Olho na Pesquisa

EASD: Benefícios promovidos pelas combinações hormonais

pág. 9

Informação ao Paciente Obesidade é uma doença

MaiSBEM |

págs. 10 e 11

Revista Online da SBEM Regional São Paulo

Presidente: Sérgio Setsuo Maeda | Vice-Presidente: Sonir Roberto Rauber Antonini | Secretária-Executiva: Larissa Gomes Garcia | Secretária-Executiva Adjunta: Vania dos Santos Nunes | Tesoureiro-Geral: João Roberto Maciel Martins | Tesoureiro-Geral Adjunto: Adriano Namo Cury

CONSELHO FISCAL Membros Efetivos: Glaucia M. F. S. Mazeto, Marcio Krakauer e Angela Maria Spinola e Castro | Membros Suplentes: Danilo Glauco Pereira Villagelin Neto, Felipe Henning Gaia Duarte e Jacira Caracik de Camargo Andrade Contato: Luciana Bastos – Assistente Administrativa | Tel: 11 3822-1965 - Fax: 11 3826-4677 | E-mail: contato@sbemsp.org.br - Site: www.sbemsp.org.br Endereço: Av. Angélica, 1.757, conj. 103, Santa Cecília - CEP: 01227-200 – São Paulo – SP

Conteúdo Editorial: Gengibre Comunicação | Tel: 11 94466-0408 | www.gengibrecomunicacao.com.br | Jornalista Responsável: Regiane Chiereghim - MTB: 036768 | Edição e Redação: Patrícia de Andrade e Regiane Chiereghim | Colaboração: Débora Torrente | Revisão: Patrícia de Andrade, Paulo Furstenau e Regiane Chiereghim | Diagramação: www.trovare.com.br | Periodicidade: Trimestral

Prezado associado: queremos saber quais são suas pesquisas recentes, novas alternativas de tratamento da sua especialidade e atuais pautas científicas. Se você tem algum estudo em desenvolvimento, recém-lançado, ou quer comentar algum artigo científico, envie seus contatos para imprensa@gengibrecomunicacao.com.br.

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Sbem-São-Paulo

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Repórter Médico

Rotulagem nutricional A saúde pública na fila de espera

A Anvisa sugere o formato lupa, entretanto, a identificação com o uso dos triângulos foi desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) em conjunto com a Universidade Federal do Paraná, com comprovação de eficiência através de trabalhos publicados. Esse estudo testou, entre 1.607 adultos brasileiros, se os rótulos de advertência em triângulos (warning labels - WLs) melhoraram a compreensão, as percepções e intenções de compra comparadas aos rótulos de semáforos (traffic-light labels - TLLs). Os participantes do experimento controlado randomizado on-line viram imagens de 10 produtos e responderam perguntas duas vezes — em uma condição de controle sem rótulo e, em seguida, de forma aleatória em uma condição de rótulo atribuído. As diferenças relativas nas respostas entre WLs e TLLs entre controle e as condições do rótulo foram estimadas usando análise de variância (ANOVA) de uma via ou testes de qui-quadrado. Como resultado, os rótulos de advertência em triângulos em produtos comparados a rótulos de semáforos ajudaram os participantes a: (i) melhorar sua compreensão do excesso de nutrientes (27,0% versus 8,2%, p < 0,001); (ii) melhorar sua capacidade de identificar os produtos mais saudáveis (24,6% versus 3,3%, p < 0,001); (iii) diminuir as percepções de produto saudável; (iv) identificar corretamente produtos mais saudáveis (14,0% versus 6,9%, p < 0,001), em relação à condição de controle.

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“O rótulo da embalagem de um alimento pode estimular ou inibir a compra” – Dra. Maria Edna de Melo

por não comprar qualquer produto (13,0% versus 2,9%, p < 0,001), em relação à condição de controle. Esses participantes demonstraram opiniões significativamente mais favoráveis dos rótulos em comparação com as do grupo do rótulo de semáforos. A partir dessa análise, conclui-se que a rotulagem de advertência em formato triangular é mais eficaz na melhoria da escolha alimentar, em comparação com o formato em semáforos. Foto: portal Direito de Saber

E

m 12 de setembro, a Anvisa divulgou relatório sobre mudanças dos rótulos de alimentos produzidos ou comercializados no Brasil; na sequência, abriu-se a consulta pública, cujo prazo final será 9 de dezembro, para que cidadãos comuns e especialistas possam opinar sobre o formato dos sinais de advertência para os produtos com alto teor de sal, gordura e açúcar. “Sempre que houver uma oportunidade de opinar, mesmo que seja uma opinião simplificada, é importante, pois a união faz a força”, declara a endocrinologista-chefe do Ambulatório de Obesidade Infantil do HC-USP e membro ativa no tema da rotulagem, Dra. Maria Edna de Melo.

Linha do tempo A discussão sobre rotulagem nutricional foi iniciada em 2011, durante reunião do Mercosul. Foi em outubro de 2013 que o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), do qual faz parte o Idec, cobrou do Governo a criação de um Grupo de Trabalho para elaborar nova regulamentação sobre rotulagem de alimentos. Em junho de 2014, o Diário Oficial da União (DOU) anunciou a Portaria 949 da Anvisa, que instituiu um grupo de profissionais para contribuir com a agência reguladora em assuntos técnicos e/ou científicos relacionados à rotulagem nutricional, propondo soluções sobre os problemas encontrados. Esse grupo é composto por representantes dos Ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social (MDS), da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) e da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad), do Conselho Federal de Nutricionistas, das Universidades de Brasília (UnB) e da Federal de Santa Catarina (UFSC), do Consea, Proteste e Idec. Quatro anos depois, em maio de 2018, a Anvisa divulgou o Relatório Preliminar de Análise de Impacto Regulatório (AIR) sobre Rotulagem Nutricional, documento para informar qual o modelo de rotulagem frontal seria mais adequado. Após essa divulgação, foi aberta a Tomada Pública de Subsídios (TPS), que coletou informações sobre esse relatório com especialistas e outros profissionais que pudessem contribuir, porém, foram os consumidores que mais opinaram — cerca de 70% da participação —, o que acabou se tornando uma consulta pública, que só viria em 23 de setembro de 2019. “O tempo vai passando e as decisões são proteladas. Quando há evidência, não há justificativa para demora. Existem forças externas desconhecidas que acabam arrastando decisões importantes em termos de saúde pública” — Dra. Maria Edna de Melo

Com os rótulos de advertência em triângulos, houve também um aumento no percentual de pessoas: (v) expressando a intenção de comprar a opção relativamente mais saudável (16,1% versus 9,8%, p < 0,001); (vi) optando

Com o encerramento da consulta pública, estima-se que a Anvisa deva levar ainda seis meses para divulgar o relatório final e outros tantos para que a indústria se adéque às novas regras. Ainda há tempo para ver os frutos de tanto empenho.


Atualizando

Vigilância ativa ou cirurgia para mCPT na América Latina Estamos prontos?

F

oram recentemente publicados, nos Archives of Endocrinology and Metabolism (Volume 63 - Issue 5) , uma opinião de especialistas, dois editoriais e um estudo argentino sobre a vigilância ativa de pacientes com microcarcinomas papilíferos da tireoide (mCPT), um tipo de tumor sabidamente indolente, pouco agressivo e com baixíssima taxa de mortalidade. Faz pouco tempo que foi ampliada a discussão sobre se pacientes com mCPT deveriam se submeter a tratamento cirúrgico (tireoidectomia total) sempre ou se poderiam ser conduzidos com abordagem mais conservadora, ou seja, acompanhamento clínico com ultrassonografia seriada da tireoide.

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Em alguns grupos de pacientes, estudos indicam que a observação em vez da cirurgia imediata é uma opção válida. Mas ouvir a palavra ‘câncer’ pode ser muito pesado para o paciente. Como fazê-lo entender que a vigilância é também uma boa opção “terapêutica”? Será que serve para todos os pacientes? Todo tipo de câncer precisa de remoção imediata? Será que, no Brasil, temos centros experientes para fazer essa vigilância ativa?

-americanos); idade maior que 60 anos; localização do nódulo dentro da tireoide (não pode estar muito próximo da cápsula da glândula nem próximo da traqueia); e ausência de linfonodos suspeitos. “A vigilância ativa não significa que não haverá cirurgia, mas é um método pelo qual se observa o paciente buscando evidências de que não há crescimento do tumor. É muito importante que os médicos saibam quem é o indivíduo adequado para essa prática terapêutica. A vigilância ativa é uma necessidade premente, já que apenas 3% dos mCPTs aumentam de tamanho rapidamente, e ela não modifica o prognóstico” — Dra. Laura Ward No entanto, a aplicabilidade dessa alternativa em pacientes com diagnóstico de mCPT precisa ser avaliada considerando os vários cenários, que incluem: a) Uma equipe médica preparada para seguir essa nova abordagem; b) Pacientes que aceitem essa estratégia; c) Um profissional que saiba o que deve ser considerado em cada estudo de imagem durante o acompanhamento. Os estudos indicam que os pacientes que acabam por escolher a cirurgia imediata o fazem por ansiedade sobre a progressão da doença e incerteza em relação à identificação de metástases com observação contínua. No Brasil Aqui, muitos aspectos regionais precisam ser avaliados, já que o País é diverso e desigual. É preciso ter certeza de que haja uma equipe capacitada e de que o paciente tenha a real compreensão de que ele é um agente ativo desse acompanhamento, ou seja, que ele precisa retornar nas avaliações médicas. Caso não seja observado esse entendimento, a vigilância se torna inviável.

Vigilância ativa, o começo Dr. Akira Miyauchi foi o primeiro a propor uma vigilância ativa para os pacientes com mCPT, com base no fato de que uma minoria desses tumores acaba progredindo. Essa estratégia de vigilância ativa implicou a realização de exames de ultrassonografia do pescoço a cada seis a 12 meses, e a progressão foi definida como um aumento no diâmetro do tumor de 3 mm ou mais e/ou identificação de linfonodos com metástases durante o acompanhamento.

“Não há nenhum estudo controlado head-to-head comparando a eficácia e segurança da vigilância ativa versus cirurgia imediata. Um ponto crucial: se a vigilância passar a ser uma opção de tratamento, deve ser dada ao paciente toda a liberdade de querer ou não optar por essa abordagem inicialmente e, se optar por fazer o seguimento, também deve ter a autonomia por desistir da vigilância e optar pelo tratamento cirúrgico a qualquer momento” — Dr. João Roberto Maciel Martins

Esse estudo foi publicado em 2003, e mostrou que o tamanho do tumor permaneceu estável ou diminuiu em comparação com o valor basal em mais de 70% dos pacientes.

Estudos norte-americanos, europeus e alguns latino-americanos que utilizam a vigilância mostram que ela é possível na América Latina, mas é preciso saber se é factível regionalmente. O que se sabe é que os indivíduos mais idosos têm maior tendência da não progressão do mCPT.

Os critérios para indicar vigilância ativa são bem estabelecidos e incluem, por exemplo: nódulos menores que 1 cm (para os pesquisadores japoneses) e menores que 1,5 cm (para os pesquisadores norte-

A pergunta que fica aos endocrinologistas e demais profissionais que cuidam desses pacientes é: quando estaremos todos prontos? Muita coisa ainda precisa ser discutida.


Palavra de Especialista

Excesso de diagnóstico leva ao excesso de tratamento dos nódulos da tireoide Por Dra. Janete Cerutti

O

excesso de diagnóstico dos nódulos da tireoide (overdiagnosis) tem levado a um excesso de tratamento (overtreatment), sem claro benefício para o paciente, pois a maioria dos nódulos submetidos a tireoidectomia é benigna. Para diminuir o número de cirurgias desnecessárias, alguns testes moleculares estão comercialmente disponíveis. O ThyroSeq v3 (CBLPath, EUA), por avaliar alterações genéticas prevalentes nos carcinomas da tireoide e ser mais eficiente em diagnosticar câncer, tem sido denominado “rule-in”. Essa última versão do teste avalia diferentes alterações genéticas em 112 genes via sequenciamento de nova geração (NGS). Embora venha sendo preferencialmente indicado para nódulos classificados como Bethesda IV e V, incrementou consideravelmente a sensibilidade (94%) e o VPN (97%) às custas da especificidade (82%) e VPP (66%) nos nódulos classificados como Bethesda III e IV. Assim, tem sido eficiente também em detectar lesões benignas e evitar cirurgias desnecessárias.

O mir-THYpe (Onkos Diagnósticos Moleculares, Brasil) avalia a expressão de 11 microRNAs e algoritmos para classificação de nódulos em “positivos e negativos”. Embora venha sendo considerado tanto “rule-out” quanto “rule-in”, a especificidade (81%) e o VPP (76%) são inferiores à sensibilidade (94%) e VPN (96%). Portanto parece ser efetivo na identificação dos nódulos que tenham maior probabilidade de serem benignos ou “rule-out”. Vale lembrar que esses testes não têm sido avaliados na população pediátrica e as recentes versões dos testes (Afirma GSC, Afirma-XA e Foto: iStock

O teste ThyGeNEXT and ThyraMIR (Interpace Diagnostics, EUA) também evoluiu nos últimos anos. É uma plataforma que combina a análise de mutações pontuais em 10 genes e 38 tipos de fusões gênicas (painel oncogênico), associado com a expressão de 10

Afirma GSC é utilizado principalmente no diagnóstico de nódulos com maior probabilidade de serem benignos (Bethesda III e IV), sendo considerado um teste “rule-out”. A especificidade e VPP do GSC foram superiores ao antigo teste denominado Afirma Gene Expression Classifier (GEC), enquanto a sensibilidade VPN não diferiu entre os dois testes. Em resumo, o GSC manteve a performance como teste “ruleout”. E aumentou a acurácia como teste “rule-in”. O teste Afirma-XA avalia um painel de 511 genes. Clinicamente, é indicado para os nódulos classificados pelo Afirma GSC como suspeitos, e nódulos com maior probabilidade de malignidade (Bethesda V e VI) e, portanto, apresentando maior performance como “rule-in”.

microRNAs. Esse teste apresenta sensibilidade (89%) e VPN (94%) superiores à especificidade (85%) e VPP (74%), sendo mais eficiente em diagnosticar lesões benignas. Os recentes testes Afirma Genomic Sequencing Classifier (GSC) e Afirma Xpression Atlas (Afirma-XA) (Veracyte, EUA) utilizam plataforma de NGS para sequenciamento completo do RNA (RNA-Seq) e Machine Learning (algoritmos) para classificação dos nódulos. O

ThyroSeq v3) não têm sido validadas em outras séries ou populações. Finalmente, nosso grupo desenvolveu um painel de marcadores (DDIT3, ITM1, C1orf24 e PVALB) que vem se mostrando eficiente na distinção das lesões benignas e malignas. De fato, foi utilizado no diagnóstico pós-cirúrgico dos casos de câncer de tireoide nos respondedores ao ataque às Torres Gêmeas (World Trade Center) em 11 de setembro de 2001, com acurácia de 100%. Está sendo avaliado na PAAF para verificar se o VPP e VPN correspondem aos observados na biópsia cirúrgica.

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Palavra de Especialista

Dose de mineralocorticoide e concentração de renina plasmática

Uma relação complexa

P

ela falta de consenso para a otimização da terapia mineralocorticoide em pacientes com insuficiência adrenal primária, foi realizado estudo para explorar a relação entre a dose de reposição de mineralocorticoide, a concentração de renina plasmática (CRP) e as variáveis clinicamente importantes para determinar quais são mais úteis para orientar a titulação da dose de mineralocorticoide na insuficiência adrenal primária. Foi realizada uma análise observacional, retrospectiva e longitudinal entre 280 pacientes (984 consultas clínicas e medições de renina plasmática) com insuficiência adrenal primária recrutados em bancos de dados locais e no registro internacional de hiperplasia adrenal congênita (HAC) (i-cah.org). Trinta e sete pacientes foram excluídos da análise final por causa da avaliação incompleta. Foram analisados dados de 204 pacientes com HAC que desperdiçam sal (SW-CAH) (149 adultos e 55 crianças) e 39 pacientes adultos com doença de Addison (DA).

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“Entre as medidas de saída principais, utilizamos CRP, eletrólitos, pressão arterial (PA) e parâmetros antropométricos para prever sua utilidade na otimização da dose de reposição de MC”, conta a Dra. Tania Bachega, uma das autoras do trabalho.

Os resultados A CRP foi baixa, normal ou alta em 19%, 36% e 44% dos pacientes, respectivamente, com grande variabilidade na dose de mineralocorticoide e na CRP. A análise univariada demonstrou uma relação positiva direta entre a dose de mineralocorticoide e a CRP em adultos e crianças. Não houve relação entre a dose de mineralocorticoide e a PA em adultos, enquanto a PA aumentou com o aumento da dose de mineralocorticoide em crianças. Usando modelagem de regressão múltipla, o sódio foi a única medida que previu a CRP em adultos. Longitudinalmente, a mudança na dose de mineralocorticoide foi capaz de prever o potássio, mas não a PA ou a CRP. A relação entre a dose de mineralocorticoide e a CRP é, portanto, complexa e isso pode refletir variabilidade na amostragem em relação à postura, momento da última dose de mineralocorticoide, adesão e medicações concomitantes. Os dados desse trabalho sugerem que a titulação de mineralocorticoides não deve se basear apenas na normalização da CRP, mas também em parâmetros clínicos como pressão arterial e concentração de eletrólitos.


Informe-se

Amplo espectro fenotípico do DDS disgenético 46,XY

Compreensão e comunicação acerca de DDS

Causado por variantes deletérias no DEAH-box helicase 37 (DHX37)

Sob as perspectivas dos pacientes

Por Nathália Lisboa Gomes (Orientadora: Dra. Berenice Bilharinho de Mendonça)

Autores: Quintão LML, Domenice S, Costa EF, Bachega TASS, Fontenele EGP and Mendonça BB

O espectro fenotípico da disgenesia gonadal (DG) 46,XY é amplo, indo desde sua forma completa à síndrome de regressão testicular embrionária (SRTE), caracterizado pela presença de micropênis, ausência de derivados müllerianos e ausência de tecido testicular uni ou bilateralmente. A maior parte dos pacientes com DG 46,XY permanece sem diagnóstico molecular, especialmente aqueles com a SRTE.

Você já deparou com um paciente com genitália atípica? Sentiu dificuldades em abordar o tema com o paciente e os familiares? Sentiu-se seguro se o paciente e os familiares compreenderam a condição? A comunicação acerca de DDS é complexa, pois envolve aspectos sobre diagnóstico, perspectivas sobre tratamento, atividade sexual e fertilidade, além de ser influenciada por aspectos culturais, religiosos e psicológicos. Um adequado entendimento da condição pelos pacientes e familiares é fundamental para o seguimento.

O objetivo de nosso trabalho foi relatar um novo gene causador de DG 46,XY, especialmente da SRTE, o DEAH-box helicase 37 (DHX37). Foram estudados 88 pacientes, sendo 17 casos familiais (oito famílias não consanguíneas) e 71 casos esporádicos, sendo 56 pacientes com DG (20 com SRTE) e 32 pacientes com DDS de etiologia indeterminada (DDSI). Os casos esporádicos foram estudados por sequenciamento paralelo em larga escala por painel de genes associados aos distúrbios do desenvolvimento sexual e os casos familiais por sequenciamento exômico. Identificamos quatro variantes novas no gene DEAH-box helicase 37 (DHX37), classificadas como patogênicas ou possivelmente patogênicas, em cinco famílias e seis casos esporádicos de SRTE e DG parcial, incluindo uma família argentina, uma chilena e um caso esporádico chinês-americano, e os demais brasileiros. A herança é autossômica dominante. Todas as variantes estão localizadas em domínios conservados da proteína, o helicase de ligação ao ATP e helicase C-terminal (vide Figura). Verificamos, ainda, que a frequência de variantes raras e preditas como deletérias presentes em nossa coorte de pacientes com DG 46,XY (14%), especialmente de SRTE (50%), é significativamente maior àquela observada de variantes presentes nessas regiões conservadas da proteína nos bancos de dados populacionais (0.04%, p < 0.001), mostrando que há associação entre as variantes e os fenótipos em questão. Esse gene participa de processos envolvidos na alteração da estrutura secundária do RNA, é expresso nas células germinativas, dos estágios iniciais da maturação testicular embrionária à vida adulta. Assim, fornecemos evidências genéticas de que o DHX37 é um novo participante da complexa cascata de diferenciação e manutenção gonadal testicular. Nosso trabalho foi um dos premiados no CBEM 2018 e sua íntegra pode ser conferida na edição do Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism (2019 Jul 9, jc.2019-00984).

Desenho esquemático da proteína do DHX37 com a identificação dos domínios e localização das variantes identificadas. O quadro mostra que as variantes envolvem aminoácidos muito conservados entre as diferentes espécies

Objetivando analisar o grau de entendimento de pacientes sobre sua condição e quais são as barreiras para compreensão e comunicação adequadas sobre o tema, 53 pacientes adultos foram submetidos a entrevistas semidirigidas a partir de um roteiro específico com 69 questões. A média de idade dos pacientes foi de 36 ± 13,3 anos e 26,4% tinham concluído pelo menos o ensino médio. O seguimento médio foi de 19 ± 13,3 anos. Apesar de 68% estarem satisfeitos ou muito satisfeitos (4 ou 5 em uma escala de 1 = totalmente insatisfeito e 5 = totalmente satisfeito) acerca da compreensão de suas condições, 58% ainda apresentavam dúvidas, 62% não sabiam como se referir à condição, 51% não sabiam quais as principais características e repercussões associadas à condição e, positivamente, 86% sabiam o tratamento necessário. As dúvidas foram sobre diagnóstico e mecanismo da condição, medicamentos, cirurgias, aparência da genitália, cariótipo, fertilidade e consequências da condição e da reposição hormonal na saúde geral dos pacientes. Como barreiras para o entendimento adequado, foram citados os termos científicos utilizados pela equipe de saúde, a complexidade das condições, a ausência de diálogo em casa e alguns pacientes optaram por não querer entender. Para uma melhor adaptação à condição, 73% dos pacientes gostariam de ter sido informados ainda na infância, de forma gradual e clara, evitando o uso de termos difíceis, com recursos visuais e apoio psicológico. Em relação à comunicação com familiares e comunidades, 68% dos pacientes não se sentem à vontade para dialogar sobre o tema e 60% já foram vítimas de comentários negativos. Evidenciamos que, mesmo em um centro terciário com uma equipe multidisciplinar, o entendimento dos pacientes acerca de DDS é escasso. A comunicação sobre o tema é dificultada pela falta de entendimento e o estigma sofrido por esses pacientes. Assim, deve-se abordar a presença de dúvidas em todas as consultas, além de se viabilizar ações educativas continuadas com pacientes, familiares e comunidade, com o intuito de modificar esse cenário.

Esse trabalho foi premiado como melhor pôster clínico no COPEM 2019.

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Giro Endócrino

ASBMR

Highlights do principal evento sobre osteometabolismo

O

último encontro da American Society for Bone and Mineral Research (ASBMR) ocorreu em setembro, na Flórida. Esse é o maior evento diversificado do mundo no campo da pesquisa de doenças musculoesqueléticas e osteometabólicas, atraindo mais de três mil participantes de mais de 70 países, incluindo clínicos e pesquisadores.

meses do uso da medicação; painel de especialistas com discussão de dados clínicos sobre tratamento da doença óssea no paciente renal crônico; manejo da baixa massa óssea no paciente com HIV são alguns dos pontos abordados no evento elencados pela Dra. Monique Ohe, uma das endocrinologistas da SBEM-SP que estiveram presentes no ASBMR.

Uso do alendronato após parada do denosumabe; estudo do romosozumabe com resultados de biópsia óssea nos dois primeiros

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Congresso Brasileiro de Diabetes

Novas formas de insulina e telemedicina entre os destaques

D

r. Marcio Krakauer comenta algumas pautas apresentadas durante o Congresso Brasileiro de Diabetes, que ocorreu em outubro, em Natal (RN). Entre elas:

- Palestra sobre novas formas de aplicação de insulina, como a inalada, que chega em breve no Brasil; - Utilização da semaglutida na forma oral;

- A hipoglicemia que o paciente não sente, prevenção e o impacto nas famílias; - Teleoftalmologia, com aparelhos que fazem mapeamento da retina com laudos a distância; - Telemedicina na área de diabetes e como usar as ferramentas. Passar assistir, aperte o play!


De Olho na Pesquisa

Estudo do EASD

Benefícios promovidos pelas combinações hormonais Por Dr. Cristiano Barcellos

O racional dessas combinações é que o GLP-1 e o glucagon sirvam apenas como meios de transporte na circulação com a função de “entregar” os hormônios nucleares (E2, dexametasona e T3), para que estes exerçam seus efeitos nas células-alvos. Isso faz com que os hormônios nucleares atuem somente em tecidos que expressem receptores para GLP-1 ou glucagon. De acordo com os resultados obtidos pela Dra. Kerstin, ratas obesas e diabéticas que receberam a combinação GLP-1/E2 apresentaram perda de peso e melhora do controle glicêmico consequente às ações benéficas do E2 no controle do apetite e na função das células beta, respectivamente. Em outro estudo, animais obesos que receberam GLP-1/ dexametasona apresentaram redução da ingestão alimentar e perda de peso devido ao efeito anti-inflamatório da dexametasona nos neurônios hipotalâmicos responsáveis pelo controle do apetite. Da mesma forma, camundongos com doença hepática gordurosa não alcoólica que receberam a combinação glucagon/T3 mostraram

melhora da doença hepática devido à atuação do T3 nos hepatócitos, que expressam receptores para glucagon. Nesses estudos, os benefícios promovidos pelas combinações hormonais não se acompanharam de eventos adversos comumente associados ao uso dos hormônios nucleares, como efeitos pró-oncológicos no tecido mamário e endometrial (E2), bloqueio do eixo corticotrófico (dexametasona), taquiarritmias (T3) e perda de massa óssea (T3 e dexametasona), entre outros. Referências bibliográficas Brandt SJ, Götz A, Tschöp MH, Müller TD. Gut hormones polyagonists for the treatment of type 2 diabetes. Peptides. 2018;100:190-201. Finan B, Yang B, Ottaway N, Stemmer K, Müller TD, Habegger K et al. targeted estrogen delivery reverses the metabolic syndrome. Nat Med. 2012;18(12):1847-56. Tiano JP, Tate CR, Yang BS, DiMarchi R, Mauivais-Jarvis F. Effect of targeted estrogen delivery using glucagon-like pepeide-1 on insulin secretion, insulin sensntivity and glucose homeostasis. Sci Rep. 2015;5:10211. Quarta C, Clemmensen C, Zhu Z, Yang B, Joseph S, Lutter D et al. Molecular integration of incretin and glucocorticoid action reverses immunometabolic dysfunction and obesity. Cell Metabolism. 2017;26(4):620-32.e6. Finan B, Clemmensen C, Zhu Z, Stemmer K, Gauthier K, Müller L et al. Chemical hybridization of glucagon and thyroid hormone optimizes therapeutic impact for metabolic disease. Cell. 2016;167(3):843-57.e14.

Ilustração: Hernani Rocha Alves

N

a última edição do Congresso da European Association for the Study of Diabetes (EASD), em Barcelona, a pesquisadora alemã Kerstin Stemmer apresentou resultados de estudos realizados em modelos animais referentes a três medicamentos caracterizados pela combinação de hormônios: GLP-1/estradiol (E2), GLP-1/ dexametasona e glucagon/T3 (tri-iodotironina).

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Informação ao Paciente Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional São Paulo (SBEM-SP)

Foto: iStock

OBESIDADE É UMA DOENÇA

Informação ao Paciente

A definição de obesidade Obesidade é uma doença crônica, progressiva, recidivante. Sim, ela é considerada uma doença e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), já é uma epidemia global. Trata-se do excesso de gordura corporal em quantidade que determine prejuízos à saúde. A OMS define o diagnóstico pelo índice de massa corporal (IMC), que é calculado utilizando a altura e o peso do indivíduo (IMC = peso (kg) / altura (m)2). Segundo a OMS, uma pessoa tem obesidade quando o IMC é maior ou igual a 30 kg/m2 e a faixa de peso normal varia entre 18,5 e 24,9 kg/m2. Os indivíduos que possuem IMC entre 25 e 29,9 kg/m2 são diagnosticados com sobrepeso, e já podem ter alguns prejuízos com o excesso de gordura.

Cálculo do Índice de Massa Corpórea Peso (em quilos) ÷ Altura (em metros) duas vezes De 18,5 a 24,9 kg/m2 = peso normal Entre 25 e 30 kg/m2 = sobrepeso Mais que 30 kg/m2 = obesidade

Existe uma tendência da população em geral, e até de alguns profissionais de saúde, de considerar uma pessoa obesa quando ela já tem um quadro mais grave, daí a importância de monitorar o IMC.


Informação ao Paciente Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional São Paulo (SBEM-SP)

OBESIDADE É UMA DOENÇA

Causas Antes de tudo, é importante que todos saibam que ninguém tem obesidade porque quer ou escolhe ser obeso, pois não é uma questão de força de vontade, determinação ou caráter. A genética contribui com 70% para o desenvolvimento da obesidade, somando-se a outros fatores determinantes como alimentação e sedentarismo. É importante lembrar que, se o peso de uma pessoa está se elevando, é porque ela está comendo mais que o necessário, e o excesso está se acumulando na forma de gordura. O aumento no consumo de alimentos industrializados e o estresse são algumas das causas associadas à obesidade, embora a doença também tenha fatores genéticos em alguns casos. As pesquisas mostram que a obesidade vai além do comer muito e gastar pouca caloria. Alguns estudos já apontam a poluição e bactérias presentes no intestino como fatores que contribuem para o surgimento da doença.

Complicações

Comorbidades associadas à obesidade

Foto: iStock

A obesidade apresenta inúmeras complicações e, de acordo com a tendência individual, ela pode desencadear, por exemplo, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, apneia do sono e alguns tipos de câncer, sem citar fatores psicológicos por causa do estigma da obesidade. A obesidade leva as pessoas a viverem menos e com pior qualidade de vida.

Diabetes Hipertensão Apneia do sono Infarto Acidente vascular cerebral (AVC)

Tratamento O tratamento inclui alimentação saudável, com diminuição da ingestão de calorias e aumento da atividade física, podendo-se associar ao uso de medicamentos. Em casos mais graves, pode ser indicado o tratamento cirúrgico. A cirurgia bariátrica é uma das ferramentas para tratamento da obesidade, porém, não é indicada em todos os casos, e o paciente deve estar ciente de que, ao optar por ela, deverá fazer um seguimento nutricional pelo resto da vida.

Números da obesidade Mais de um bilhão de adultos, em todo o mundo, está acima do peso — destes, 500 milhões são considerados obesos. São mais de 40 milhões de crianças, com idade até cinco anos, que estão acima do peso. Só no Brasil, cerca de 20% da população tem obesidade. O excesso de peso está presente em 60% dos brasileiros adultos. Essas estatísticas estão em elevação e em todas as faixas etárias. Infelizmente, é cada vez maior o número de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade, em razão do sedentarismo e do fácil acesso aos alimentos industrializados. A obesidade é uma doença, com efeitos muito adversos na saúde. Alimentação balanceada e prática de atividade física são pilares no tratamento contra o sobrepeso e a obesidade. Fonte: Dr. Mario Kehdi Carra, especialista titulado pela SBEM, médico assistente do Hospital das Clínicas, médico responsável pelo Ambulatório de Obesidade Cirúrgica do Grupo Santa Helena, em São Bernardo do Campo, e atual presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso)

Aviso importante: a informação contida neste material não deve ser usada para diagnosticar ou prevenir doenças sem a opinião de um especialista. Antes de iniciar qualquer tratamento, procure um médico.


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