MaiSBEM - Edição nº 38

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Nº38 jul ago set 2018

MaiSBEM

Foto: iStock

Revista Online da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

VACINAÇÃO CONTRA BCG E DIABETES TIPO 1 Dados de pesquisa ainda não são conclusivos

ORBITOPATIA DE GRAVES Estudo apresenta marcadores de inflamação expressos, de maneira inédita, mesmo sem sinais clínicos

DESTAQUES - Trabalhos premiados no CBEM 2018 - Vírus Epstein-Barr e a relação com o câncer de tireoide

E MAIS - Workshop no Chile trata da fisiologia do fósforo e o papel do FGF-23 no controle da fosfatúria - Desreguladores endócrinos: o que seu paciente merece saber


Palavra do Presidente

Inovando no presente para colher bons frutos no futuro

U

ma primeira iniciativa de aproximação das Ligas Acadêmicas de Endocrinologia do Estado de São Paulo, ainda que tímida, foi a criação de um espaço exclusivo a elas durante o COPEM 2017. Agora, damos mais um passo importante, ao criarmos o EPINE – I Encontro Paulista Interligas de Endocrinologia, que será realizado em 27 de outubro, no salão nobre da Faculdade de Medicina de Botucatu, sob coordenação da Dra. Vania dos Santos Nunes. Sem interesse financeiro, o I EPINE será totalmente financiado com recursos da SBEM-SP, com o único objetivo de fortalecer nos alunos o interesse legítimo e ético pela especialidade.

Índice

Outro investimento da SBEM-SP é o Encontro Paulista de Endocrinologia Clínica, o EPEC, cuja quinta edição será realizada em Ribeirão Preto, nos dias 23 e 24 de novembro, presidida pelo Dr. Sonir Antonini (USP-Ribeirão). O EPEC foi uma aposta da nossa Regional SP para atender ao clamor dos endocrinologistas do interior para receber eventos

científicos da SBEM. Com caráter clínico-revisional, o EPEC é um cenário idealizado para um encontro informal entre o professor “sênior” e os endocrinologistas do interior. Vamos, assim, semeando educação continuada para o aperfeiçoamento da Endocrinologia. Aproveito aqui o espaço para agradecer todo o apoio recebido durante nossa campanha para a escolha da sede do Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia de 2022. Faremos dessa oportunidade um grande evento, digno de sua importância e magnitude. Convido-os agora à leitura desta edição da MaiSBEM, uma revista interativa feita para você, endocrinologista clínico e pesquisador. Leia e compartilhe! Dr. José Augusto Sgarbi - presidente da SBEM-SP

Repórter Médico

Vacinação contra BCG e diabetes tipo 1

pág. 3

Homenagem

Endocrinologistas paulistas no CBEM 2018

pág. 3

Atualizando

Destaques da 78ª edição do ADA

pág. 4

Palavra de Especialista

Mortalidade na acromegalia diminuiu na última década Inflamação contínua em orbitopatia de Graves

pág. 4 pág. 5

Em Debate Crescimento na puberdade precoce central

pág. 6

Informe-se

Disgenesia gonadal: novo gene candidato? Outros fatores podem implicar achado de dosagens de Tg-PAAF O uso de painéis genéticos permite identificação de mais subtipos de MODY

pág. 6 pág. 7 pág. 7

Giro Endócrino

Fisiologia do fósforo e o papel do FGF-23

pág. 8

De Olho na Pesquisa

Vírus Epstein-Barr está relacionado com o câncer de tireoide

pág. 8

Informação ao Paciente Desreguladores endócrinos

MaiSBEM |

págs. 9 e 10

Revista Online da SBEM Regional São Paulo

Presidente: Dr. José Augusto Sgarbi | Vice-Presidente: Dra. Laura Sterian Ward | Secretário-Executivo: Dr. Felipe Henning Gaia Duarte | Secretária-Executiva Adjunta: Dra. Larissa Garcia Gomes | Tesoureiro-Geral: Dr. João Roberto Maciel Martins | Tesoureiro-Geral Adjunto: Dr. Adriano Namo Cury CONSELHO FISCAL Membros Efetivos: Dr. Antonio Mendes Fontanelli, Dr. Marcio Krakauer e Dr. Sérgio Setsuo Maeda | Membros Suplentes: Dra. Angela Maria Spinola e Castro, Dr. Sonir Roberto Rauber Antonini e Dra. Vania dos Santos Nunes Contato: Luciana Bastos – Assistente Administrativa | Tel: 11 3822-1965 - Fax: 11 3826-4677 | E-mail: contato@sbemsp.org.br - Site: www.sbemsp.org.br Endereço: Av. Angélica, 1.757, conj. 103, Santa Cecília - CEP: 01227-200 – São Paulo – SP Conteúdo Editorial: Gengibre Comunicação | Tel: 11 94466-0408 | www.gengibrecomunicacao.com.br | Jornalista Responsável: Regiane Chiereghim - MTB: 036768 | Edição e Redação: Patrícia de Andrade e Regiane Chiereghim | Colaboração: Débora Torrente | Revisão: Patrícia de Andrade, Paulo Furstenau e Regiane Chiereghim | Diagramação: www.trovare.com.br | Periodicidade: Trimestral

Prezado associado: queremos saber quais são suas pesquisas recentes, novas alternativas de tratamento da sua especialidade e atuais pautas científicas. Se você tem algum estudo em desenvolvimento, recém-lançado, ou quer comentar algum artigo científico, envie seus contatos para imprensa@gengibrecomunicacao.com.br.

sbemsp.org.br @SBEMSP

Sbem-São-Paulo

sbemsp


Repórter Médico

Vacinação contra BCG e diabetes tipo 1 Dados ainda não são conclusivos

O

uso da BCG para pessoas com diabetes tipo 1 vem sendo estudado pelo grupo da Harvard, liderado pela Dra. Denise Faustman, desde 2012. Durante o ADA (Congresso da American Diabetes Association), que ocorreu recentemente em Orlando, foi mostrado um pôster acompanhado de paper, também publicado na revista Nature Partner Journals Vaccine. A pesquisa acabou chegando ao público leigo, gerando dúvidas e interpretações equivocadas por alguns veículos de comunicação, tal como a notícia publicada pela IstoÉ (leia a matéria aqui), dando a entender que teria sido descoberta a cura do diabetes.

- A pesquisa não contempla gráficos de evolução das curvas de insulina; - Não houve análise do sistema imunológico. “Parece que o uso de BCG pode realmente modular, mas até o momento trata-se apenas de uma boa pesquisa a ser desenvolvida. Não podemos falar que é bom ou ruim”, reforça Dr. Couri no vídeo, que você pode conferir na íntegra, com explicações mais aprofundadas, clicando abaixo.

Dr. Carlos Eduardo Barra Couri, endocrinologista da USP-Ribeirão Preto e membro da SBEM-SP, conversou com a Dra. Denise e traz no vídeo a seguir alguns esclarecimentos e pontos importantes sobre a pesquisa, que visa aplicar a vacina BCG em pacientes com diabetes tipo 1 para promover imunomodulação. Entre eles: - A BCG usada nessa pesquisa não é a que temos no Brasil. Trata-se de uma vacina com concentração 50% maior e usada para câncer de bexiga; - Nos EUA, não há vacinação para BCG como temos aqui;

Homenagem

Reconhecimento justo

D

urante o 33º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia (CBEM 2018), especialistas da SBEM-SP receberam homenagens especiais.

Foto: SBEM Nacional/DC Press

Em amplo reconhecimento por suas atividades, Dr. Ayrton C. Moreira (USP-Ribeirão Preto) recebeu o Prêmio Luiz Cesar Póvoa da SBEM. Em 2016, o mesmo prêmio foi concedido ao saudoso Dr. Bernardo Leo Wajchenberg (USP-SP).

Foto: SBEM Nacional/DC Press

CBEM 2018 premia endócrinos de SP

O Prêmio Antonio Barros de Ulhôa Cintra foi concedido à Dra. Nina Musolino (USP-SP), pelos mais de 30 anos dedicados à Neuroendocrinologia. Em 2014, o mesmo prêmio foi concedido ao Dr. Cláudio Kater, também de São Paulo (Unifesp). "Para, nós da Regional São Paulo, é uma honra ver esses especialistas serem homenageados durante o maior congresso da Endocrinologia no Brasil", comenta o presidente da SBEM-SP, Dr. José Augusto Sgarbi.

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Atualizando

Destaques da 78ª edição do ADA Confira!

D

r. Antonio Mendes Fontanelli, diretor da SBEM-SP, traz alguns temas de atualização que foram debatidos nas sessões científicas do Congresso da American Diabetes Association (ADA). O evento, que ocorreu em junho deste ano em Orlando (Flórida/EUA), reuniu cerca de 15 mil profissionais de saúde para discutir os mais recentes avanços em pesquisa e tratamento do diabetes. Nesse vídeo, Dr. Fontanelli chama atenção para os seguintes temas:

Aperte o play no vídeo abaixo e saiba mais.

• Uso da testosterona em longo prazo reverte DM2 em alguns pacientes com hipogonadismo; • Diabetes tipo 1: uso do SGLT associado à insulina em diabéticos insulino–dependentes; • Tratamento usando GLP1 com insulina no DM1; • Comparação entre uso da insulina humana NHB e o análogo basal de insulina; • Insônia como fator de risco para desenvolver diabetes tipo 2.

Palavra de Especialista

Por Dra. Vania dos Santos Nunes

Mortalidade na acromegalia diminuiu na última década

Provável consequência do uso do análogo da somatostatina

P

remiado como melhor trabalho clínico durante o 19° Simpósio Internacional de Neuroendocrinologia (SINE 2018), a revisão é resultado da dissertação de mestrado da Dra. Fernanda Bolfi, com minha orientação, pelo programa de pós-graduação em Fisiopatologia Clínica da Faculdade de Medicina de Botucatu-Unesp. A revisão já está divulgada em uma das publicações científicas mais prestigiadas em Endocrinologia, o European Journal of Endocrinology. O principal objetivo desse trabalho foi comparar a mortalidade na acromegalia entre os estudos publicados antes e depois de 2008. Entre os métodos aplicados, utilizamos uma revisão sistemática com metanálise da literatura, incluindo estudos observacionais em que a mortalidade na acromegalia foi comparada à mortalidade na população geral por meio do SMR (standardized mortality ratio). Os resultados mostraram que, antes de 2008, a mortalidade na acromegalia era superior à da população geral, mas que isso não se repetiu na última década. Ou seja, a mortalidade na acromegalia não ficou diferente da mortalidade da população geral. Observamos também que, nos estudos em que a mortalidade na acromegalia se manteve aumentada, os pacientes não dispunham de nenhum tratamento farmacológico complementar para o controle da doença. Nossa conclusão é de que a mortalidade na acromegalia diminuiu na última década, e isso ocorreu por causa das maiores taxas de controle da doença. Muito provavelmente, é a consequência do uso do análogo da somatostatina como tratamento complementar nos pacientes não curados cirurgicamente.

Para os pacientes com diagnóstico de acromegalia, a pesquisa traz um dado muito relevante: se antes eles morriam mais cedo que a população geral, atualmente, com todo o tratamento disponível para controle da doença, as taxas de mortalidade se igualaram à da população geral. Foto: iStock

Have mortality rates in Acromegaly changed in the last decade? A Systematic Review and Meta-Analysis


Palavra de Especialista

Por Dr. Adriano Namo Cury

Inflamação contínua em orbitopatia de Graves Foto: iStock

Sem sinais clínicos

Distinct inflammatory gene expression in extraocular muscle and fat from patients with Graves’ orbitopathy

E

sse estudo foi publicado em 2017, no European Journal of Endocrinology, e foi parte do trabalho de pós-graduação da Dra. Ivana Lopes Romero Kusabara. Trata-se de uma pesquisa clínica que pretendia demonstrar, através de marcadores moleculares clássicos de inflamação (NFKB, IKBKB, FOS, entre outros), que a musculatura e gordura da orbitária de pacientes com orbitopatia de Graves estão inflamadas de maneira contínua, mesmo quando clinicamente não há sinais da fase inflamatória e ativa da doença ocular. O objetivo principal era, no aspecto imune e celular, contestar a curva de Rundle, que preconiza uma fase não inflamatória ocular como evolução natural da orbitopatia de Graves. A orbitopatia de Graves, que acompanha até 50% dos casos de hipertireoidismo na doença de Graves, ainda precisa de elucidações quanto a caminhos inflamatórios dos fibroblastos e células adiposas na órbita. Sabemos que, após um certo período, os pacientes transitam de uma fase ativa clínica e dita inflamatória para uma fase mais fibrótica e até então chamada sem sinais de inflamação evidentes ao exame físico. Essa pesquisa, através da coleta de material de 34 pacientes submetidos a descompressão orbitária e comparando grupo controle cuidadosamente desenhado com 38 pacientes, mostrou que tanto a musculatura quanto o tecido adiposo da órbita apresentam marcadores (através do estudo de expressão do mRNA) de inflamação expressos,

de maneira inédita, até 40 vezes mais do que no grupo controle, mesmo que do ponto de vista clínico não haja fase ativa. Esses achados laboratoriais apoiam a ideia de que a transformação celular é possivelmente permanente e eventualmente subclínica, justificando que a doença da órbita pode ocorrer em qualquer momento, independentemente do momento tireoidiano, ou com piora clínica ou novos casos sem que antes houvesse qualquer suspeita de orbitopatia. O resultado dessa pesquisa também pode justificar por que a melhora da doença ocular normalmente não é satisfatória quando o paciente passou pelo tratamento do hipertireoidismo, e a possível piora da órbita para alguns pacientes submetidos à iodoterapia. Servirá para despertar atenção dos clínicos sobre a inexata história natural da orbitopatia de Graves. Os achados do nosso grupo também sustentam o porquê do uso dos glicocorticoides sistêmicos (em especial o endovenoso) como a primeira linha de tratamento nos pacientes em fase ativa da doença orbitária, sendo os glicocorticoides potentes fármacos anti-inflamatórios, com ação importante nos mesmos marcadores de inflamação estudados pelo nosso grupo. A diferenciação da célula adiposa ou muscular da órbita nesse formato inflamado ocorre em um contínuo, e todo esse processo pode ser atenuado, quando indicado clinicamente nos casos moderados ou graves da doença ocular, ao utilizar o glicocorticoide no momento e fase adequada, interferindo na evolução natural da doença e impactando a qualidade de vida de maneira definitiva dessa séria doença da prática clínica do endocrinologista.

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Em Debate

Crescimento na puberdade precoce central Pontos de atenção são elencados no CBEM 2018

D

urante o 33° Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia, a Dra. Angela Spinola (Unifesp) discutiu o tema Como otimizar o crescimento de meninas com puberdade precoce central, que gerou bastante interação dos congressistas. Conversamos com ela para detalhar os principais pontos a que o endocrinologista clínico deve se ater durante o tratamento de bloqueio puberal. MaiSBEM - Por que a idade da criança é um fator determinante? Dra. Angela - A idade contribui muito para o melhor prognóstico estatural, pois crianças tratadas antes dos seis anos de idade têm uma evolução melhor do que aquelas que recebem tratamento entre seis e oito anos. Acima dos oito anos, não há recuperação da estatura. Diminuir ou bloquear a produção estrogênica é o que vai melhorar o prognóstico da altura e contribuir para que a idade óssea progrida de maneira mais lenta. Mas é importante realizar o tratamento o mais precocemente possível, por isso a idade da criança é um fator relevante. MaiSBEM - Nas crianças maiores, qual dado é relevante para o tratamento? Dra. Angela - A idade óssea. Naquelas que já tenham sido expostas ao estrógeno e cuja idade óssea já esteja avançada, ocorre um envelhecimento da placa de crescimento (senescência) quando se inicia o tratamento de bloqueio puberal. Assim, elas param de crescer, o que piora de maneira marcante o prognóstico estatural.

MaiSBEM - É possível determinar a estatura final? Dra. Angela - A estatura de início do tratamento e a do término do bloqueio são dados importantes que se correlacionam com a estatura final, mas não é possível determiná-la. Reforço aqui que o uso do GH não deve ser recomendado como rotina, pois não existem trabalhos ou protocolos que recomendem essa prática. Cada caso deve ser avaliado individualmente. O endocrinologista clínico precisa fazer um controle adequado do bloqueio, certificando-se de que a criança voltou a crescer no ritmo pré-puberal, que a idade óssea está em evolução de acordo com o crescimento da criança no mesmo período e que os sinais puberais estejam equilibrados (sem aumento mensal). É preciso analisar o prognóstico da estatura e verificar se ele vem melhorando em relação ao início do tratamento. Dentro do possível, deve-se ter certeza do diagnóstico da puberdade precoce central. Seu diferencial com o diagnóstico da antecipação constitucional do crescimento e da puberdade pode ser difícil, o que ocorre com crianças na faixa etária ente sete e oito anos. Em puberdade, o tratamento deve levar em conta tudo que esteja acontecendo com a criança, para estabelecer uma melhor conduta e resgatar um pouco da estatura. O aprofundamento do conhecimento sobre o que controla a placa do crescimento permitirá ações mais apropriadas e com melhores resultados em termos de estatura no futuro.

Informe-se

Disgenesia gonadal Novo gene candidato?

Por Nathália Lisboa Gomes (orientadora: Dra. Berenice Bilharinho de Mendonça)

DEAH-BOX HELICASE 37 (DHX37): NOVO GENE CANDIDATO À ETIOLOGIA DOS DISTÚRBIOS DA DETERMINAÇÃO SEXUAL 46,XY

A disgenesia gonadal (DG) 46,XY possui largo espectro fenotípico, que vai desde sua forma completa à síndrome de regressão testicular embrionária (SRTE), que é caraterizada por pacientes com micropênis, sem derivados müllerianos e ausência de um ou ambos os testículos. A maioria dos pacientes com DG permanece sem etiologia molecular, especialmente aqueles com SRTE. Estudamos por sequenciamento paralelo em larga escala por painel de genes associados aos distúrbios do desenvolvimento sexual, ou por exoma, 88 pacientes com DG e SRTE, sendo oito famílias e 71 casos esporádicos. Identificamos quatro variantes novas no gene DEAH-box helicase 37 (DHX37), classificadas como possivelmente patogênicas, em cinco famílias e seis casos esporádicos de SRTE e DG parcial,

incluindo uma família argentina, uma chilena e um caso esporádico sino-americano, e os demais brasileiros. A herança é autossômica dominante. Esse gene participa de processos envolvidos na alteração da estrutura secundária do RNA, é expresso nas células germinativas, dos estágios iniciais da maturação testicular embrionária à vida adulta. A identificação de variantes deletérias no DHX37, recorrente em casos familiais e esporádicos de diferentes etnias, indica ser esse gene um forte candidato à etiologia da DG, em todo seu espectro. A variabilidade de fenótipos associados a uma mesma variante, até mesmo dentro de uma mesma família, reforça a complexidade genética dos distúrbios da determinação sexual 46,XY. O trabalho foi um dos premiados no 33° Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia (CBEM 2018) como melhor apresentação oral.


Informe-se

Outros fatores podem implicar achado de dosagens de Tg-PAAF Estudo recebeu o prêmio Professor Waldemar Berardinelli pelo melhor trabalho de Área Clínica no ano de 2017 Por Dra. Maria Cecília Martins Costa

Clinical impact of thyroglobulin (Tg) and Tg autoantibody (TgAb) measurements in needle washouts of neck lymph node biopsies in the management of patients with papillary thyroid carcinoma.

A dosagem da tiroglobulina obtida do lavado da punção aspirativa por agulha fina (Tg-PAAF) de linfonodos (LNs) tem sido considerada uma importante ferramenta para diagnóstico de metástases (Mx) de carcinoma diferenciado de tireoide (CDT). Anticorpos antitiroglobulina séricos (sAcATg) podem estar presentes em até 25% a 30% dos pacientes com CDT e interferir na dosagem da tiroglobulina sérica. Entretanto existem poucos dados sobre dosagem de anticorpos em aspirados de linfonodos (AcATg-PAAF) e se estes poderiam interferir no valor diagnóstico da Tg-PAAF. Os objetivos do estudo foram verificar se pacientes com AcATg séricos apresentavam AcATg no lavado da agulha da PAAF (AcATg-PAAF) e se os sAcATg interferiam na dosagem da Tg-PAAF. Foram avaliadas 232 PAAFs de LNs cervicais suspeitos de Mx de CDT de 144 pacientes. Tais amostras foram divididas de acordo com a presença (sAcATg+; n=29) ou ausência (sAcATg-; n=203) de anticorpos séricos, sendo realizadas dosagens de AcATg nos aspirados linfonodais por dois diferentes ensaios. Nos pacientes com sAcATg+ e dosagens de Tg-PAAF inferior a 10 ng/ mL, a dosagem de Tg-PAAF foi confirmada com outro método. Em relação aos resultados, as dosagens de AcATg-PAAF foram negativas em todas as amostras utilizando-se dois ensaios. Foram identificados baixos níveis de Tg-PAAF em 11/16 LNs metastáticos de pacientes sAcTg+ e em 16/53 LNs metastáticos de pacientes sAcTg- (p < 0,05). Porém, ao se utilizar um ensaio diferente para dosagem de Tg-PAAF, foi possível identificar Mx em cinco LNs de pacientes sAcTg+, não identificadas no primeiro ensaio. Portanto, uma vez que as dosagens de AcATg-PAAF foram negativas em todas as amostras estudadas, concluímos que outros fatores possam estar implicados no achado de dosagens indetectáveis de Tg-PAAF em pacientes com Mx em LNs e sAcATg+. Além disso, dosagem de Tg-PAAF por um outro ensaio foi importante para diagnóstico de LNs metastáticos, em especial quando a análise citológica e os valores de Tg-PAAF são discordantes. Figura 1. Dosagem de anticorpos antitiroglobulina nos aspirados de linfonodos suspeitos de metástases de carcinoma diferenciado da tireoide 144 Pacientes 232 PAAFs

Pacientes sAcATg positivos n=203 PAAFs

Pacientes sAcATg negativos n= 29 PAAFs

O uso de painéis genéticos permite identificação de mais subtipos de MODY MODY pode ser mais comum do que se imagina Por Dra. Milena Gurgel Teles

O presente trabalho é fruto de uma linha de pesquisa iniciada em 2012 para identificação de indivíduos com diabetes mellitus (DM) monogênico - entre eles, o MODY (http://www.diabetesgeneticousp.com/), que se caracteriza por hiperglicemia precoce, história familiar de diabetes, peptídeo C detectável e anticorpos anticélulas beta negativos. Estudos em indivíduos abaixo dos 20 anos com diabetes mellitus tipo 1 identificaram que tal prevalência pode chegar a 8% nessa população. A confirmação do diagnóstico é feita por análise molecular. O teste genético pode ter implicações na terapêutica e prognóstico, e permite o aconselhamento genético. Habitualmente, a análise é direcionada apenas para os subtipos mais comuns de MODY, o que sem dúvida subestima a real prevalência dessa condição. Nosso estudo avaliou 102 indivíduos com resultado negativo para alterações nos genes GCK e HNF1A por meio de um painel contendo todos os genes de MODY. A paciente em questão teve diagnóstico de DM aos 19 anos de idade, fez uso de antidiabético oral (ADO) por 10 anos e hoje, aos 53, usa baixas doses de insulina associada a ADO. Sua mãe e 4/6 das irmãs desenvolveram DM antes dos 30 anos. Avaliação via painel identificou a variante R6H no gene da insulina (INS) localizada na região do peptídeo sinalizador da insulina. Mutações nessa região resultam num defeito de translocação da preproinsulina, estresse do retículo endoplasmático e falência progressiva de células beta. Essa é a primeira descrição de família brasileira com MODY-INS.

R6C/H

Proinsulina porção-n

porção-h

porção-c

Peptídeo sinalizador da preproinsulina

A figura mostra variante R6H na porção N terminal da preproinsulina. A mesma mutação foi descrita numa família dinamarquesa inicialmente classificada como MODY X, cujo probando teve diagnóstico aos 20 anos e grande semelhança clínica e laboratorial com o nosso caso. Adaptada de Liu M et al. Esse estudo recebeu prêmio de melhor pôster (3º lugar) no CBEM 2018.

A dosagem dos anticorpos antitiroglobulina foi negativa em TODAS as PAAFs Abreviaturas: PAAFs: punções aspirativas com agulha fina; sAcATg: anticorpos antitiroglobulina séricos

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Giro Endócrino

Fisiologia do fósforo e o papel do FGF-23 Atenção para a hipofosfatemia

MaiSBEM - Quais principais temas foram tratados durante o Workshop? Dr. Maeda - Fisiologia do fósforo e o papel do FGF-23 no controle da fosfatúria. Sabe-se que as desordens do FGF-23 são a causa da forma mais comum de raquitismo, que é a hipofosfatemia. Além disso, nos adultos, há uma condição, que é a osteomalácia oncogênica (ou induzida por tumor), onde ocorre produção do FGF-23, levando o paciente a um quadro de dor óssea, fraturas e fraqueza muscular que pode passar despercebido durante vários anos. Também foram discutidas situações em que a ação do FGF-23 é diminuída, como na calcinose tumoral familiar e insuficiência renal crônica.

os vários efeitos colaterais do tratamento convencional. Os estudos realizados até o momento mostraram bons resultados e com poucos efeitos colaterais. MaiSBEM - Quais pontos merecem atenção dos endócrinos na prática clínica? Dr. Maeda - Na investigação das doenças musculoesqueléticas, a solicitação do fósforo não é rotineira, e, quando feita, muitas vezes, a hipofosfatemia passa despercebida e os pacientes ficam anos sem ter o diagnóstico correto. Então fica um alerta sobre o tema. Foto: iStock

O

Workshop on FGF-23 Mediated Diseases ocorreu nos dias 2 e 3 de julho em Santiago, Chile. Foram 11 temas abordados no encontro, 10 palestrantes e ouvintes de seis países (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru). Sérgio Setsuo Maeda, diretor da SBEM-SP, foi um dos endocrinologistas presentes.

MaiSBEM - Quais as novidades sobre o tratamento do raquitismo hipofosfatêmico? Dr. Maeda - Houve o desenvolvimento de um anticorpo contra o FGF-23, o burosumab, que atua na causa do distúrbio. Além de manter uma fosfatemia e desenvolvimento ósseo normais, esse tratamento evita

De Olho na Pesquisa

Vírus Epstein-Barr está relacionado com o câncer de tireoide

Evidência muda maneira de entender a doença

Por Dra. Jacqueline Almeida (aluna de doutorado da Dra. Laura Sterian Ward - Unicamp)

Investigation on the association between thyroid tumorigeneses and herpesviruses Almeida JFM1, Campos AH2, Marcello MA1, Bufalo NE1, Rossi CL3, Amaral LHP1, Marques AB1, Cunha LL1, Alvarenga CA4, Tincani PC1, Tincani AJ5, Ward LS6

S

abemos que os vírus estão presentes em nosso dia a dia e temos contato com diversos patógenos durante toda nossa vida. No entanto, nos últimos anos, muitos agentes biológicos, principalmente os vírus, têm sido apontados como agentes etiológicos ou fatores de risco para desenvolvimento de diversas neoplasias, como o câncer. Nosso grupo de pesquisa foi o primeiro no mundo a relacionar o Epstein-Barr vírus (EBV) ao câncer de tireoide. Analisamos cerca de 183 amostras de DNA de tecido de tumores tireoidianos malignos e benignos e seus respectivos tecidos normais adjacentes e encontramos a presença do EBV em 16% das amostras, com altíssima carga viral (média de 800 cópias virais/µg). Encontramos ainda 7% de amostras positivas no tecido normal adjacente, porém, a carga viral foi maior no tecido tumoral do que no tecido normal. Para confirmar a infecção

do EBV nas células do tireoidianas, realizamos a análise da presença do RNA mensageiro EBER pela técnica de hibridização in situ e constatamos que o EBV infectou, de fato, as células neoplásicas, sendo que a marcação foi maior nos tumores malignos do que nos benignos. Quando analisamos linhagens de células neoplásicas de tireoide in vitro, pudemos observar que o vírus não só infecta as células, como também causa efeito citopático nelas, como perda da adesão celular e formação de aglomerados celulares. Apesar da necessidade de mais estudos moleculares para compreendermos melhor de que maneira o EBV influencia a carcinogênese das células tireoidianas, acreditamos que o EBV esteja associado com o câncer de tireoide. “Esse trabalho é muito importante, pois o EBV, da família dos herpes vírus, fica frequentemente em linfonodos, no pescoço, perto da tireoide. Do ponto de vista clínico, essa é uma evidência relevante e muda a maneira como entendemos o câncer, não só relacionado à radiação ionizante”, comenta Dra. Laura Ward.


Informação ao Paciente Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional São Paulo (SBEM-SP)

Fotos: iStock

DESREGULADORES ENDÓCRINOS

Informação ao Paciente

Você sabe o que são “desreguladores endócrinos”?

Algumas práticas do dia a dia podem minimizar riscos

Certos tipos de recipientes plásticos, cosméticos e outros produtos que fazem parte da nossa rotina podem conter substâncias nocivas à saúde: os desreguladores endócrinos. Atualmente, são conhecidos pelo menos 350 compostos presentes no meio ambiente e em utensílios, como os citados acima.

Um desregulador endócrino pode ter vários tipos de ações - dependendo do composto químico, ele terá diferentes atividades hormonais de acordo com o órgão. Muitos desreguladores têm atividade semelhante à do estrógeno, já que a molécula é muito parecida com a do hormônio feminino. Na população geral, os indivíduos mais suscetíveis à ação dos desreguladores endócrinos são os fetos, crianças com até dois anos e adolescentes, pois se encontram em fase de desenvolvimento de grande multiplicação celular. Um exemplo de desregulador endócrino é o bisfenol A (BPA), uma substância presente no plástico que contém policarbonato e na resina epóxi dos enlatados. Existem na literatura científica vários estudos com esse composto, que tem sido associado com alterações em nosso sistema reprodutivo, aumento do risco de obesidade, cânceres de mama e próstata, entre outros problemas de saúde. Muitos agrotóxicos também possuem atividade de desreguladores endócrinos, o que causa preocupações por estarem em contato direto com a cadeia alimentar.

Adicionalmente, estudos populacionais relacionaram a maior exposição ao BPA com o aumento da frequência de puberdade precoce e infertilidade masculina. Também há pesquisas que associam o BPA aos problemas com a glândula tireoide. Por exemplo, quem trabalha em polos petroquímicos possui mais nódulos de tireoide e maior incidência de hipotireoidismo. Outras pesquisas já demonstraram que o acúmulo de bisfenol A no cérebro aumenta o risco de demência, perda de memória, alteração de coordenação e outras doenças degenerativas do sistema nervoso central.

Foto: iStock

Os desreguladores endócrinos são compostos químicos que podem afetar a função de nossos hormônios, predispondo ao aparecimento de diversos problemas de saúde. Entre eles, destacam-se estudos demonstrando associação com problemas no desenvolvimento neurológico, sistema reprodutivo e até mesmo alguns tipos de câncer como os de mama, útero, próstata e intestino grosso.


Informação ao Paciente Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional São Paulo (SBEM-SP)

DESREGULADORES ENDÓCRINOS Os desreguladores endócrinos não se deterioram facilmente, permanecendo em níveis elevados no ambiente mesmo depois de muitos anos.

Foto: iStock

O objetivo deste texto não é causar preocupação, até porque vivemos em uma cidade urbanizada e a vida corrida nos leva a escolhas mais práticas no dia a dia, porém, podemos minimizar os impactos dos desreguladores. Veja as dicas. - Na medida do possível, prefira os alimentos cultivados sem agrotóxicos; - Evite comprar alimentos embalados em plásticos com policarbonato. A informação está no rótulo; - Não coloque pote de plástico no micro-ondas, a menos que haja indicação do fabricante para isso, já que a alta temperatura pode liberar muito mais esses compostos químicos, contaminando o alimento; - Não compre mamadeiras que não tenham selo do Inmetro. Desde 2011, os fabricantes brasileiros e de países como Estados Unidos, Canadá e Dinamarca estão proibidos de usar bisfenol A na produção de mamadeiras; - Não compre a lata amassada, pois, nesse caso, o verniz interno foi fraturado, o que faz liberar mais bisfenol A no alimento. A Dra. Tania Bachega explica no vídeo - que você pode ver clicando abaixo ou indo direto no link https://bit.ly/2LUnpyL do canal SBEM-SP no YouTube - sobre os desreguladores endócrinos e os cuidados que podem ser colocados em prática para minimizar os impactos na saúde.

Como acontece a exposição aos desreguladores endócrinos: - Através da água, do solo e ar contaminados - Pela ingestão de alimentos e por contato da pele Fonte: Dra. Tania Bachega é membro da Comissão de Desreguladores Endócrinos e médica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional São Paulo

Aviso importante: a informação contida neste material não deve ser usada para diagnosticar ou prevenir doenças sem a opinião de um especialista. Antes de iniciar qualquer tratamento, procure um médico.


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