Vª Série - Edição Nº 4

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Oliveira, I. J. et al.

intervenções para depois podermos extrair os resultados e informação” (E2, maio de 2019). Registam-se ainda as seguintes observações: As dietas, consistências e restrições alimentares estão registadas num sistema informático de gestão hospitalar de aprovisionamento e farmácia, não sendo realizado qualquer registo no processo clínico. Toda a informação considerada relevante é transmitida oralmente entre os diferentes profissionais, por exemplo a necessidade de estratégias adaptativas ou ajudas técnicas. (nota de campo [NC]7, maio de 2019). Para além disso, todos os dados de evolução são, como referido acima, monitorizados pelas terapeutas da fala e “transmitidos oralmente aos restantes profissionais” (NC18, junho de 2019). Na subcategoria conhecimento/formação, os participantes manifestaram dificuldade na conceção de cuidados de enfermagem à pessoa com deglutição comprometida por considerarem que durante a sua formação pré-graduada esta temática não terá sido abordada, “na formação de base não tive mesmo formação nenhuma sobre disfagia” (E5, maio de 2019). Acrescentam que: “sinto que preciso de formação em termos dos cuidados a ter com o doente com disfagia, quais são as intervenções que devemos ter no sentido de uniformizar” (E2, maio de 2019), “precisamos de melhorar os nossos conhecimentos na parte da fisiopatologia e como avaliar” (E13, maio de 2019). Este facto, relacionam e referem ter reflexo na conceção e planeamento dos cuidados, traduzido na subcategoria a avaliação da pessoa, “tenho alguma dificuldade em avaliar [a pessoa]” (E12, maio de 2019), “e avaliar é importante” (E13, junho de 2019), “não sei o que avaliar nem como avaliar no processo inicial” (E5, junho de 2019). De notar, ainda através da observação que, “não existem dados provenientes da observação que identifique os instrumentos/estratégias para avaliação das intervenções e reformulação do plano de cuidados” (NC2, abril de 2019). No âmbito da equipa multidisciplinar não são consideradas as competências dos enfermeiros no processo de avaliação, “toda a intervenção que se refere à avaliação da deglutição é definida pelo médico que orienta sempre a pessoa para a terapia da fala, não sendo valorizado o resultado das observações dos enfermeiros” (NC5, abril de 2019). “Nós às vezes até achamos que eles até podiam beber já sem espessante, mas mesmo que a gente o faça, não parte de nós fazer essa alteração e dizer “olhe, a partir de hoje pode beber” (E12, maio de 2019), “na maior parte das vezes vêm com uma indicação ou não e os médicos acabam por pedir sempre uma avaliação por parte das terapeutas” (E12, maio de 2019), “depois nós ajudamos na parte da alimentação e colaboramos com elas, mas essa avaliação, até mesmo a nível dos espessantes, são elas” (E13, maio de 2019). “A monitorização da evolução clínica da pessoa com deglutição comprometida é realizada exclusivamente pelas terapeutas da fala” (NC18, junho de 2019). Neste contexto os participantes identificam, ao nível do planeamento, dificuldades na sistematização das práticas, “devíamos padronizar as intervenções de todos os colegas no serviço, para que todos façamos da mesma forma, seria o mais importante” (E13,

junho de 2019), “e todos usarmos a mesma linguagem” (E2, maio de 2019). Estes são os fatores percecionados pelos profissionais como barreiras à conceção de cuidados. Salienta-se, ainda, da análise do corpus textual a preparação para a alta como foco de atenção dos enfermeiros, “quando as famílias vêm cá de tarde ou ao fim de semana, vemos as dificuldades delas e identificamos logo, vê-se o problema e agendamos” (E1, junho de 2019), “Vamos preparar a família para quando o doente for sair” (E5, junho de 2019). Os participantes tomam como alvo dos cuidados a pessoa e a família, “fazemos reunião familiar de 15 em 15 dias, a consulta com a família para estabelecer os objetivos e destino pós alta” (E5, maio de 2019), “regista-se a observação de várias atividades, principalmente nos turnos da tarde e fins de semana, de estratégias promotoras do envolvimento da família no processo de cuidados” (NC18, junho de 2019), com “momentos de interação dos enfermeiros com a pessoa e a sua família na capacitação para o autocuidado e para a utilização de estratégias adaptativas e ajudas técnicas para o autocuidado, tendo em vista a alta” (NC18, junho de 2019). Implementação das terapêuticas de enfermagem Esta categoria emerge da análise do discurso dos participantes em resposta ao como executam os cuidados e que decorreu de duas subcategorias. A primeira subcategoria identificada relaciona-se com a prestação de cuidados. Os participantes referem que “os enfermeiros sabem o que fazer neste e naquele doente” (E5, maio de 2019), “eu acho que todos nós sabemos atuar perante um doente com disfagia” (E2, maio de 2019), no entanto “sabemos como fazer, não fazemos é todos igual” (E12, maio de 2019), verbalizando a perceção de práticas adequadas. As refeições são, na maior parte das vezes, realizadas no refeitório, exceto em cliente com indicação para isolamento ou cuja condição clínica não permita deslocar-se para o refeitório. Assistem ou supervisionam os clientes durante a alimentação, dependendo do grau de dependência, os enfermeiros, os assistentes operacionais e as terapeutas da fala (estas apenas ao almoço em dias úteis), que utilizam como medidas compensatórias os ajustamentos posturais, modificações de consistências alimentares e ajudas técnicas e cuja duração é de cerca de 20 a 30 minutos. (NC 2, abril de 2019) Relativamente ao autocuidado higiene oral “os enfermeiros supervisionam, assistem ou substituem todos os clientes, sendo realizado uma vez por dia, com pasta de dentes fluoretada e colutório à base de benzidamina, durante cerca de 3/4 minutos” (NC 13, maio de 2019). Ainda nesta categoria encontra-se a subcategoria delegação de tarefas, sendo que no contexto da prestação de cuidados à pessoa com deglutição comprometida após o AVC é delegada nas assistentes operacionais a tarefa de alimentar o cliente “não numa fase inicial, mas sim depois quando a situação clínica está mais estável” (E5, maio de 2019), “avaliamos as condições de segurança e vemos se elas [assistentes operacionais] podem dar a alimentação” (E13, maio de 2019), “estamos sempre por perto e supervisionamos” (E12, maio de 2019).

Revista de Enfermagem Referência 2020, Série V, nº4: e20024 DOI: 10.12707/RV20024

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