Vª Série - Edição Nº 8

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ISSNe: 2182.2883 / ISSNp: 0874.0283

SÉRIE V

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PUBLICAÇÃO CONTÍNUA | 2021


Editor/Editor Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem/Health Sciences Research Unit: Nursing Escola Superior de Enfermagem de Coimbra/Nursing School of Coimbra Editora Chefe/Editor-in-Chief Tereza Barroso, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra/Nursing School of Coimbra Editora Adjunta/Deputy Editor Isabel Gil, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra/Nursing School of Coimbra Editores Sénior/Senior Editors Aida Cruz Mendes, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra/Nursing School of Coimbra João Alves Apóstolo, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra/Nursing School of Coimbra Conselho Editorial Nacional/National Editorial Board Aliete Cunha Oliveira, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Amorim Rosa, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Anabela Pereira, Universidade de Aveiro Ananda Maria Fernandes, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra António Salgueiro Amaral, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Arménio Cruz, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Carolina Graça Henriques, Instituto Politécnico de Leiria Clara Ventura, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Fernando Ramos, Universidade de Coimbra João Malva, Universidade de Coimbra Joaquim Alvarelhão, Universidade de Aveiro Luís Loureiro, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Luís Sousa, Universidade de Évora Manuel José Lopes, Universidade de Évora Maria dos Anjos Dixe, Instituto Politécnico de Leiria Paulo Queirós, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Ricardo Ferreira, Hospitais da Universidade de Coimbra Rosa Lopes – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Vítor Rodrigues, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Wilson Correira Abreu, Escola Superior de Enfermagem do Porto Conselho Editorial Internacional / International Editorial Board Afaf Meleis, University of Pennsylvania, Estados Unidos da América do Norte Alacoque Lorenzini Herdemann, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Alan Pearson, University of Adelaide, Austrália António Almeida Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Arja Holopainen, Nursing Research Foundation, Finlândia Carl von Baeyer, University of Saskatchewan, Canadá Christine Webb, University of Plymouth, Reino Unido Cíntia Fassarella, Universidade do Estado do Rio de Janeiro Dalmo Machado de Lima, Universidade Federal Fluminense, Brasil Danélia Gómez Torres, Universidade Autónoma do Estado de México, México Deborah Finnell, Johns Hopkins School of Nursing, Estados Unidos da América do Norte Eufemia Jacob, University of California, Estados Unidos da América do Norte Francisco Durán, Universidad de Extremadura, Espanha Francisco Félix Lana, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Gilberto Reis da Silva, Universidade Federal da Bahia, Barsil Heidi Parisod, University of Turku, Finlândia Isabel Costa Mendes, Centro Colaborador da Organização Mundial de Saúde, Brasil Jane Salvage, International Council of Nurses Global Nursing, Reino Unido Joakim Öhlén, Universidade de Gothenburg, Suécia Lam Nogueira Bernice, Instituto Politécnico de Macau, Macau Manuel Amezcua, Fundação Índex, Espanha Márcio Tadeu Francisco, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil María Castañeda Hernández, Centro Médico Nacional Siglo XXI, México Maria de Lourdes de Souza, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Miloslav Klugar, University of Adelaide, Austrália Miwako Honda, Tokyo Medical Center, Japão Nancy Reynolds, Johns Hopkins University School of Nursing, Estados Unidos da América do Norte Pirkko Kourri, Savonia University of Applied Sciences, Finlândia Rattikorn Mueannadon, Boromarajonani College of Nursing, Tailândia Rodrigo Chácon Ferrera, Universidad de las Palmas de Gran Canaria, Espanha Zoe Jordan, University of Adelaide, Austrália Conselho Consultivo/Consultive Board Comissão Administrativa e Comissão Externa de Aconselhamento e Comissão de Ética da Unidade de Investigação / Administrative Commission, External Advisory Committee and Ethics Committee of the Research Unit A Revista de Enfermagem Referência apresenta-se em versão eletrónica (ISSNe: 2182.2883). Todo o processo de gestão, da submissão à publicação realiza-se em plataforma web: http://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=articleSubmission, por forma a garantir o controlo de qualidade em todas as fases. / The Journal of Nursing Referência is available in electronic version (ISSNe: 2182.2883). The entire management process, from submission to publication is carried out on a web platform: https://rr.esenfc. pt/rr/index.php?module=rr&target=articleSubmission Os artigos publicados neste número foram traduzidos para versão inglesa por Técnicos Especializados do Gabinete de Projetos da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Antes da publicação, a versão inglesa foi validada pelos autores. / The articles published in this edition of the Journal of Nursing Referência were translated into English version by a specialized Technical Projects Offise of the Nursing School of Coimbra. Before publication, the English version was validated by the authors. O Corpo de Revisão e Apoio Técnico e de Redação está acessível em: https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=page&id=11672 https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=page&id=11674 T he Review Board and Technical Sheet is available at: https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=page&id=11672 https://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=page&id=11674 Contactos/Contacts Escola Superior de Enfermagem de Coimbra / Nursing School of Coimbra Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem /Health Sciences Research Unit: Nursing Avenida Bissaya Barreto s/n - 3004-011 Coimbra / Portugal Tel. 239 487 255 / 239 487 200 (ext. 2077) E-mail: referencia@esenfc.pt (Revista de Enfermagem Referência / Referência Journal of Nursing) – Secretariado Editorial / Editorial Secretariat (Susana Oliveira) investiga@esenfc.pt (Unidade de Investigação / Research Unit) URL: https://rr.esenfc.pt/rr/ (Revista de Enfermagem Referência – disponível em texto integral / Journal of Nursing Referência – available in full text) https://rr.esenfc.pt/ui/ (Unidade de Investigação/Research Unit)


Ficha Catalográfica REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA. Coimbra, 2010- . Revista de Enfermagem Referência / prop. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. - Série III, nº1 (jul. 2010) - nº12 (dez. 2013); Série IV, nº1 (mar. 2014) - nº23 (dez. 2019); Série V, nº1 (mar. 2020)- . Coimbra: Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem. - 27 cm. Trianual.- A partir da Série IV a periodicidade é trimestral. - A partir da Série V a periodicidade é em sistema de publicação em fluxo contínuo. Continuada de: Referência: Revista de Educação e Formação em Enfermagem, iniciada em 1998. ISSNe: 2182.2883 / ISSNp: 0874.0283

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Objetivos e Contexto A Revista de Enfermagem Referência é uma revista científica, peer reviewed, editada pela Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem. Esta Unidade de Investigação é acolhida pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra e acreditada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. O objetivo da revista é divulgar conhecimento científico produzido no campo específico das ciências da enfermagem, com uma abordagem interdisciplinar englobando a educação, as ciências da vida e as ciências da saúde. É requisito que todos os artigos sejam cientificamente relevantes e originais e de um claro interesse para o progresso científico, a promoção da saúde, a educação em saúde, a eficácia dos cuidados de saúde e tomada de decisão dos profissionais de saúde. Cerca de 80% dos artigos são publicados como artigos científicos originais e cerca de 20% dos artigos são artigos de revisão (revisão sistemática), artigos teóricos e ensaios. O processo de revisão por pares, double blind, inclui 10 fases, da submissão à disseminação (Pré-análise; Checklist; Revisão por pares; Gestão de artigo; Tratamento técnico e documental; Revisão final; Tradução; Maquetização e atribuição de DOI; HTML; Divulgação pelas bases de dados). Os seguintes documentos estão disponíveis aos autores: checklist, termo único e tópicos de análise crítica para ajudar a escrita de artigos científicos de acordo com o seu tipo específico. Os revisores podem aceder a estruturas sistemáticas de avaliação. A gestão do processo de revisão é totalmente automatizada. Isto permite uma ação efetiva de controlo, regulação e avaliação (gestão de autores, revisores e artigo). A revista tem uma extensão internacional e é publicada em formato bilingue (é obrigatória a versão em Inglês). É dirigido a estudantes, investigadores e profissionais das ciências da vida, ciências da saúde e área da educação. Políticas editoriais definidas de acordo com os critérios do Directory of Open Access Journals – DOAJ. Acessível em open access em www. esenfc.pt/rr Sistema de publicação em fluxo contínuo, divulgação em formato digital. Nossa missão: Compartilhar a luz do conhecimento

Aims and Scope The Journal of Nursing Referência is a peer-reviewed scientific journal published by the Health Sciences Research Unit: Nursing. This Research Unit is hosted by the Nursing School of Coimbra and accredited by the Foundation for Science and Technology. The objective of the journal is to disseminate scientific knowledge produced in the specific field of nursing science with an interdisciplinary approach covering the areas of education, life sciences and health sciences. All papers are required to be scientifically relevant and original and to show a clear significance for the scientific progress, health promotion, health education, health care effectiveness and health professionals’ decision-making. Around 80% of the articles published are scientific and original articles, and around 20% of the articles are review papers (systematic review), theoretical papers and essays. The double-blind review process includes 10 stages from submission to dissemination (Pre-analysis; Checklist; Peer review; Article management; Technical and documentary support; Final review; Translation; Layout and DOI Assignment; HTML; Database dissemination). The following documents are available to authors: checklist, author’s statement, and critical analysis topics to help prepare the scientific papers according to its specific type. Reviewers can access systematic assessment structures. The management of the review process is fully automated. This allows for an effective control, regulation and evaluation (authors, reviewers and article management). The Journal has an international dissemination and is published in a bilingual version (the English version is mandatory). It is directed at students, researchers and professionals from the areas of life sciences, health sciences and education. Editorial policies defined according to criteria of Directory of Open Access Journals – DOAJ. Available in open access at www.esenfc.pt/rr Rolling pass publishing system, digital dissemination. Our mission: Sharing the light of Knowledge


SUMÁRIO

EDITORIAL/ EDITORIAL Health literacy: A nursing perspective Literacia em saúde: A perspetiva da enfermagem Graeme D. Smith

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL) / RESEARCH ARTICLES (ORIGINAL) Adolescentes com diabetes mellitus tipo 1 e o seu processo de construção da autonomia para o autocuidado Adolescents with type 1 diabetes mellitus and their process of developing autonomy for self-care Annanda Fernandes Moura Bezerra Batista; Maria Elizabete de Amorim Silva; Vanessa Medeiros Nóbrega; Leiliane Teixeira Bento Fernandes; Neusa Collet

Conhecimento sobre suporte básico de vida em estudantes do ensino superior de ciências da saúde Knowledge about basic life support in higher education health students Pedro Miguel Barreira Preto; Carlos Pires Magalhães; Adília Maria Pires da Silva Fernandes

Consulta de enfermagem pré-operatória: Implementação e avaliação Preoperative nursing consultations: Implementation and evaluation Diana Isabel Arvelos Mendes; Cândida Rosa Clemente Ferrito

Da subjacência à não implicação do processo de enfermagem na construção da identidade profissional dos enfermeiros From subjacency to the lack of involvement of the nursing process in the construction of nurses’ professional identity Leidiane Moreira Alves; Maria Lúcia Silva Servo; Deybson Borba de Almeida

Efetividade de programas de enfermagem de reabilitação no equilíbrio, marcha e independência funcional em idosos hospitalizados Effectiveness of rehabilitation nursing programs on balance, gait, and functional independence in hospitalized older people Ricardo Patrício Limão; Rosa Maria Lopes Martins

Fazer a Diferença 3 - um programa de estimulação cognitiva individual para pessoas idosas: Aceitabilidade e aplicabilidade Making a Difference 3 – an individual cognitive stimulation program for older people: Appropriateness and feasibility Rosa Carla Gomes da Silva; Elzbieta Malgorzata Bobrowicz-Campos; Paulo Jorge dos Santos-Costa; Isabel Maria de Assunção Gil; Maria de Lurdes Almeida; João Luís Alves Apóstolo

Índice de qualidade na manutenção do cateter venoso central num serviço de medicina intensiva Quality index in central venous catheters maintenance in an intensive care unit Solange Marisa Lage Gomes; Matilde Delmina da Silva Martins; Maria José Gonçalves Alves

Necessidades de aprendizagem das mães e dos pais durante a gravidez Mothers’ and fathers’ learning needs during pregnancy Anabela Figueiredo; Sandra Fonseca; Alexandrina Cardoso

O cuidado à família no serviço de urgência: A experiência vivida do enfermeiro Family care in the emergency department: Nurses’ lived experiences Florinda Laura Ferreira Rodrigues Galinha de Sá; Maria Antónia Miranda Rebelo Botelho Alfaro Velez

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Prácticas pedagógicas desarrolladas por docentes en la enseñanza de enfermería Pedagogical practices developed by nursing teachers Jessica Belen Rojas Espinoza; Lucila Cárdenas Becerril; Beatriz Arana Gómez; Silvana Silveira Kempfer; Maria Eduarda De Carli Rodrigues; Alessandra Antunes Catarina

Propriedades psicométricas de um questionário de avaliação das competências do cuidador informal Psychometric properties of a questionnaire for assessing informal caregivers’ skills Fernanda Gatez Trevisan dos Santos; Rafaely de Cassia Nogueira Sanches; Elizabeth Bernardino; Eraldo Schunk Silva; Maria do Carmo Fernandez Lourenço Haddad; Amanda de Souza Gonçalves; Cremilde Aparecida Trindade Radovanovic

Validação da Escala de Autoavaliação da Promoção da Autonomia dos Idosos (EAPAI) por parte dos enfermeiros Validation of the Self-Assessment Scale of Autonomy Promotion in Older Adults (EAPAI) by nurses Maria Manuela Frederico Ferreira; Alexandre de Assis Bueno; Maria de Lurdes Lomba

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA (ORIGINAL)/ HISTORICAL RESEARCH ARTICLES (ORIGINAL) Os registos de enfermagem nas revistas portuguesas (1958-1998): Um estudo bibliométrico Nursing records in Portuguese journals (1958-1998): A bibliometric study Maria Helena Almeida Sousa; Amélia Simões Figueiredo

ARTIGOS DE REVISÃO/ REVIEW ARTICLES Condicionantes da adaptação das famílias enquanto sistema e cliente face à situação de cancro: Scoping review Factors influencing the adaptation of families, as systems and clients, to cancer: A scoping review Carla Alexandra Santos; Katia Sophie Ribeiro Da Costa; Maria Jacinta Dantas; Carminda Morais

Programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais a vivenciar cancro parental: Protocolo de scoping review Intervention programs for children, adolescents, and parents experiencing parental cancer: A Scoping review protocol Ana Filipa Domingues Sousa; Joana Filipa Cunha Rodrigues; Maria João Graça Silva Neves Dias; Daniela Filipa Batista Cardoso; Maria Margarida da Silva Reis dos Santos Ferreira; Maria de Lurdes Lopes de Freitas Lomba

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EDITORIAL

Literacia em saúde: A perspetiva da enfermagem Health literacy: A nursing perspective

Graeme D. Smith 1 https://orcid.org/0000-0003-2974-3919 Caritas Institute of Higher Education, Hong Kong

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Autor de correspondência Graeme D. Smith E-mail: smithgd0901@gmail.com

A enfermagem enquanto profissão desempenha um papel fundamental na manutenção e proteção da saúde global. Com uma força de trabalho superior a 28 milhões, a enfermagem representa de longe o maior grupo de profissionais de saúde (World Health Organization [WHO], 2020). A sua importância tem sido incontestável durante a pandemia da COVID-19, materializando-se no forte contributo dado pelos enfermeiros a nível global enquanto prestadores de cuidados de saúde, educadores, investigadores e defensores dos utentes (Smith et al., 2020). Durante a pandemia, foi pedido aos enfermeiros que fornecessem aos utentes de uma forma compreensível informações precisas sobre saúde. Apesar da crescente consciencialização da importância de fornecer informação sobre saúde ao longo de todo o continuum de cuidados, é surpreendente descobrir que pouca atenção tem sido dada ao conceito de literacia em saúde na literatura de enfermagem. Nos últimos anos, a literacia em saúde alargou o seu foco original de competências de literacia elementar passando a incluir também a capacidade de analisar criticamente e usar informação sobre saúde, proporcionando assim um melhor envolvimento com os sistemas de saúde. Do ponto de vista do prestador de cuidados, a literacia em saúde pode ser definida como estando “ligada à literacia e envolvendo os conhecimentos, motivação e competências das pessoas para aceder, compreender, avaliar e usar a informação sobre saúde de modo a fazer julgamentos e tomar decisões na vida quotidiana relativamente aos cuidados de saúde, prevenção de doenças e promoção da saúde para manter ou melhorar a qualidade de vida ao longo da mesma” (Sørensen et al., 2012, p. 3). Neste sentido, a literacia em saúde está relacionada com a capacidade da pessoa de aceder, compreender, avaliar e depois usar informação sobre saúde (Sørensen et al., 2015). Quando lidam com questões de literacia em saúde, é igualmente importante para os enfermeiros terem a consciência de que ninguém é plenamente instruído em matéria de saúde. Todos necessitam de alguma ajuda na altura de enfrentar situações complexas relacionadas com a saúde, como demonstrado pela pandemia da COVID-19 (Jackson et al., 2020). Assim, a literacia adequada em saúde não se limita apenas à capacidade de as pessoas lerem e compreenderem informações sobre saúde, mas inclui, fundamentalmente, a capacidade de assumirem mais responsabilidades pela sua saúde. Este editorial, através da análise das evidências existentes, procura destacar a importância da literacia em saúde na enfermagem, fazendo referência específica à pandemia global, e sublinhando a importância da literacia em saúde no ensino da enfermagem e a possível ligação que pode existir entre literacia em saúde, resiliência e empoderamento. A prevalência de níveis limitados de literacia em saúde na população mundial em geral pode estar a ser muito subestimada. A WHO concluiu que os níveis de literacia em saúde são geralmente baixos tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento (WHO, 2016). Sørensen et al. (2015) consideram que a literacia em saúde de até metade de todos os adultos europeus é de alguma forma limitada. No entanto, há evidência de que os enfermeiros geralmente sobrevalorizam o nível

Como citar este artigo: Smith, G. D. (2021). Literacia em saúde: A perspetiva da enfermagem. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e21ED8. https://doi.org/10.12707/RV21ED8

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de literacia em saúde dos utentes. Assim, independentemente da localização geográfica ou nível de cultura, pode assumir-se que as pessoas podem ter problemas em compreender a informação sobre saúde que lhes é transmitida pelos enfermeiros. Desta forma, eventuais problemas de literacia em saúde poderão surgir sempre que a informação sobre saúde for difícil de compreender. Considerando que os eventuais benefícios de uma maior literacia em saúde são muitos, os enfermeiros ocupam uma posição privilegiada para ajudar e apoiar aqueles com literacia em saúde limitada, incluindo a população idosa. (Smith et al., 2021a). É importante salientar que a prestação de apoio à literacia em saúde isento de pudor por parte dos enfermeiros tem estado associada a maiores níveis de empoderamento, envolvimento, e ativação, e a melhores resultados de saúde (Loan et al., 2018). Independentemente da especialidade de enfermagem, a literacia em saúde é uma competência fundamental que pode melhorar a comunicação e facilitar a prestação de cuidados centrados na pessoa de forma eficiente. A literacia em saúde é um conceito extremamente complexo. Os pacientes com níveis mais baixos de literacia em saúde são associados a níveis de saúde e resultados de saúde subótimos, no que diz respeito ao cumprimento de regimes de tratamento, adesão à medicação e capacidade de autogestão (Smith et al., 2021b). Baixa literacia em saúde pode estar associada a um estado de saúde mais fraco e uma deterioração da qualidade de vida. A WHO defende que a literacia em saúde é um melhor indicador de saúde do que muitos outros determinantes sociais de saúde, incluindo a etnia, a educação e o estatuto laboral (Kickbusch et al., 2013). Com efeito, se não for já um dos mais decisivos indicadores de saúde, a literacia em saúde é o mais influente determinante social de saúde (Ho & Smith 2020). A importância global da literacia em saúde ficou exemplificada pela pandemia da COVID-19 (Paakkari & Okan, 2020). A rápida chegada da COVID-19 exigiu que as pessoas se adaptassem de forma igualmente rápida de modo a adquirirem e usarem informação sobre saúde, levando a cabo muitas vezes adaptações drásticas ao estilo de vida e aos comportamentos relacionados com saúde. Não obstante, as tremendas consequências humanitárias e económicas da COVID-19, os desafios com o rigor e sobrecarga de informação têm sido constantes. O surto de COVID-19 ilustra o cuidado que deve ser tomado em relação à fiabilidade e segurança da informação sobre saúde. Sentell et al. (2020) defendem que a pandemia constituiu um teste fundamental à literacia em saúde, dando a oportunidade de realçar a sua importância em relação à saúde e bem-estar da população. Globalmente, os governos e as agências de saúde parecem estar cada vez mais conscientes de que a melhoria da literacia em saúde na população pode levar a uma diminuição das desigualdades em saúde e à melhoria dos resultados de saúde. Independentemente do ambiente em que os cuidados são prestados, os enfermeiros são importantes agentes de educação e informação sobre saúde dos seus utentes. Daí, que seja de certo modo surpreendente que a atenção global prestada à educação dos enfermeiros em matéria de literacia em saúde, seja reduzida, ainda que sejam estes a assumir a maior parte da responsabilidade pela educação sobre saúde dos utentes. Há mais de uma década, Scheckel et al. (2010) destacaram a importância da educação sobre literacia em saúde, defendendo abordagens mais inovadoras para o ensino da literacia em saúde aos profissionais de enfermagem. Embora a melhoria da educação sobre a prática da literacia em saúde possa contribuir para expandir as competências e conhecimentos dos estudantes de enfermagem, poucas instituições educativas de enfermagem oferecem educação sobre literacia em saúde. A preparação dos estudantes de enfermagem em matéria de literacia em saúde parece estar negligenciada em muitos currículos de enfermagem. Uma possível solução para esta situação e um bom ponto de partida poderá ser a inclusão de questões relacionadas com literacia em saúde nas diferentes formas de avaliação dos cursos de enfermagem. Os estudantes de enfermagem devem também ser encorajados a fazer perguntas abertas e a utilizar métodos de teach-back (“ensinar de volta”) como formas de fornecer informação sobre saúde aos utentes. O recurso à abordagem teach-back ajuda o enfermeiro a confirmar que forneceu informação de forma compreensível, dado que a compreensão do utente é confirmada assim que este consegue repetir nas suas próprias palavras a informação que lhe foi transmitida. A abordagem teach-back tem a vantagem de permitir aos enfermeiros confirmar a compreensão do utente e corrigir qualquer informação errada. Não obstante, o desenvolvimento nos últimos anos de várias iniciativas promissoras de literacia em saúde no âmbito da enfermagem, estas parecem ter sido subutilizadas por esta categoria profissional (Loan et al., 2018). A educação de literacia em saúde para todos os estudantes de enfermagem, com base em evidências comprovadas, pode ser o melhor caminho para melhorar a situação, atenuando a generalização dos problemas de literacia. Numa perspetiva de educação contínua pós-graduação, Parnell e Agris (2020) argumentam que o desenvolvimento de uma educação de literacia em saúde baseada em competências estratégicas pode melhorar as competências profissionais dos enfermeiros em matéria de literacia em saúde. Estas iniciativas educativas são necessárias com urgência tendo em conta a rápida mudança e a natureza dinâmica da literacia em saúde. A nível mundial, os enfermeiros devem não só estar conscientes dos possíveis problemas associados à iliteracia em saúde, mas devem também conseguir procurar ativamente soluções para a situação. A abordagem universal de medidas de salvaguarda da literacia em saúde, ou seja, a assunção de que todos os utentes podem ter alguma dificuldade em compreender informação sobre saúde, é defendida pelos enfermeiros. Ao contrário de outras características sociodemográficas que os utentes possam ter, como a idade e etnia, que são fixas, há evidências satisfatórias que sugerem que os níveis de literacia em saúde podem ser modificados e melhorados (Nutbeam, 2000). Berkman (2011) demonstrou que as intervenções de literacia em saúde podem melhorar a compreensão da informação sobre saúde Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e21ED8 DOI: 10.12707/RV21ED8

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por parte dos utentes. Até à data, as intervenções de literacia em saúde têm incidido principalmente na melhoria das competências de literacia em saúde através de uma melhor comunicação entre os profissionais de saúde e os utentes, simplificando materiais educativos sobre saúde e implementando intervenções de eHealth. Para aumentar a eficácia das intervenções de enfermagem em literacia em saúde é importante que estas sejam submetidas a testes adequados, assentem numa forte base teórica e coloquem ênfase no desenvolvimento de competências. Com as intervenções de literacia em saúde surge a necessidade de avaliação das mesmas. É necessário o desenvolvimento de ferramentas de medição de literacia em saúde, ainda que se reconheça que este procedimento é complexo. Na sua avaliação da literacia em saúde de idosos, Eronen et al. (2019) sublinham os muitos desafios que os investigadores de enfermagem podem ter de enfrentar ao medir este determinante crítico de saúde. Inicialmente, os investigadores aplicavam medidas objetivas, como a REALM, no âmbito da investigação em idosos (Kobayashi et al., 2016). Posteriormente, começaram a surgir instrumentos de medição subjetiva e abrangente. Uma delas, a HLS-EU, originalmente desenvolvida e validada na Europa, é agora amplamente utilizada em todo o mundo. A HLS-EU fornece uma escala centrada em competências específicas de tarefas, tais como a prevenção de doenças e a promoção da saúde. A WHO defende o papel fundamental que a literacia em saúde desempenha no desenvolvimento do empoderamento e da resiliência (Kickbusch et al., 2013). Neste sentido, o empoderamento é um processo através do qual as pessoas ganham mais controlo sobre as suas vidas, a sua saúde, e os seus determinantes. Através do empoderamento, os programas de literacia em saúde contribuem para democratizar o sistema de saúde e para alcançar um compromisso mais forte com a saúde e o bem-estar das comunidades e da sociedade em geral. A resiliência pode ser vista como uma forma de adaptação, recuperação e ressurgimento perante a adversidade. Dentro de ambas as perspetivas, a literacia em saúde deve ser encarada como uma mais-valia para os indivíduos e comunidades. Assim, qualquer investimento feito para reforçar a literacia em saúde pode produzir um retorno substancial na melhoria da saúde e bem-estar (Abel & Frohlich, 2021). Associada aos recursos sociais apropriados, a literacia em saúde pode tornar-se um ativo valioso no processo de tornar as pessoas mais empoderadas e resilientes. Muitas vezes negligenciada, a literacia em saúde é um conceito fundamental que pode melhorar a experiência do utente. Este editorial pretende chamar à atenção para alguns aspetos atuais da literacia em saúde em enfermagem. Globalmente, a literacia em saúde tornou-se um dos mais importantes determinantes da saúde, tem potencial para melhorar os resultados de saúde e pode revelar-se essencial para o desenvolvimento da resiliência e do empoderamento da população em geral. A COVID-19 sublinhou a importância da literacia em saúde em todo o mundo, sendo merecida e urgentemente necessária uma maior atenção à gestão, investigação e educação deste importante determinante social da saúde em enfermagem. De modo a assegurar a prestação eficaz de uma prática de literacia em saúde baseada em evidências, é essencial uma investigação de alta qualidade, e os enfermeiros ocupam uma posição privilegiada para conduzirem esta investigação. Referências bibliográficas Abel, T., & Frohlich, K. L. (2012). Capitals and capabilities: Linking structure and agency to reduce health inequalities. Social Science and Medicine, 74(2), 236–244. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2011.10.028 Berkman, N. D., Sheridan, S. L., Donahue, K. E., Halpern, D. J., & Crotty, K. (2011). Low health literacy and health outcomes: An updated systematic review. Annals of Internal Medicine, 155(2), 97-107. https://doi.org/10.7326/0003-4819-155-2-201107190-00005 Eronen, J., Paakkari, L., Portegijs, E., Saajanaho, M., & Rantanen, T. (2019). Assessment of health literacy among older Finns. Aging Clinical and Experimental Research, 31(4), 549–556. https://doi.org/10.1007/s40520-018-1104-9 Ho, K. H., & Smith, G. D. (2020). A discursive paper on the importance of health literacy among foreign domestic workers during outbreaks of communicable diseases. Journal of Clinical Nursing, 29(23-24), 4827-4833. https://doi.org/10.1111/jocn.15495 Jackson, D., Bradbury-Jones, C., Baptiste, D., Gelling, L., Morin, K., Neville, S., & Smith, G. D. (2020). Life in the pandemic: Some reflections on nursing in the context of COVID-19. Journal of Clinical Nursing, 29(13-14), 2041-2043. https://doi.org/10.1111/jocn.15257 Kickbusch, I., Pelikan, J. M., Apfel, F., & Tsouros, A. (Eds.). (2013). Health literacy: The solid facts. World Health Organization. https://apps. who.int/iris/bitstream/handle/10665/128703/e96854.pdf Kobayashi, L., Wardle, J., Wolf, M., & von Wagner, C. (2016). Aging and functional health literacy: A systematic review and meta-analysis. The Journals of Gerontology: Series B, Psychological Sciences and Social Sciences, 71(3), 445–457. https://doi.org/10.1093/geronb/gbu161 Loan, L. A., Parnell, T. A., Stichler, J. F., Boyle, D. K., Allen, P., VanFosson, C. A., & Barton, A. J. (2018). Call for action: Nurses must play a critical role to enhance health literacy. Nursing Outlook, 66(1), 97-100. https://doi.org/10.1016/j.outlook.2017.11.003 Nutbeam, D. (2000). Health literacy as a public health goal: A challenge for contemporary health education and communication strategies into the 21st century. Health Promotion International, 15(3), 259–267. https://doi.org/10.1093/heapro/15.3.259 Paakkari, L., & Okan, O. (2020). COVID-19: Health literacy is an underestimated problem. Lancet Public Health, 5(5), e249-e250. https:// doi.org/10.1016/s2468-2667(20)30086-4 Parnell, T. A., & Agris, J. (2020). Health literacy: An essential element of health care professionalism and resilience. Studies in Health Technology and Informatics, 269, 65-71. https://doi.org/10.3233/shti200023 Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e21ED8 DOI: 10.12707/RV21ED8

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Smith, G. D.

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

Adolescentes com diabetes mellitus tipo 1 e o seu processo de construção da autonomia para o autocuidado

Adolescents with type 1 diabetes mellitus and their process of developing autonomy for self-care Adolescentes con diabetes mellitus tipo 1 y el proceso de construcción de la autonomía para el autocuidado Annanda Fernandes Moura Bezerra Batista 1 https://orcid.org/0000-0002-6974-9816 Maria Elizabete de Amorim Silva 2 https://orcid.org/0000-0002-4388-5529 Vanessa Medeiros Nóbrega 2 https://orcid.org/0000-0002-2596-8259 Leiliane Teixeira Bento Fernandes 2 https://orcid.org/0000-0003-2643-5638 Neusa Collet 2 https://orcid.org/0000-0002-4795-0279

1

University of Illinois Chicago, College

of Nursing, Chicago, Illinois, Estados Unidos da América 2

Universidade Federal da Paraíba, João

Pessoa, Paraíba, Brasil

Resumo Enquadramento: A diabetes mellitus tipo 1 requer autonomia do adolescente para a realização do autocuidado. Objetivo: Analisar o processo de construção da autonomia para o autocuidado de adolescentes com diabetes mellitus tipo 1. Metodologia: Pesquisa descritiva-exploratória com nove adolescentes com diabetes tipo 1, através de entrevistas semiestruturadas e dados interpretados pela análise temática indutiva. Resultados: O processo de construção da autonomia do adolescente com diabetes inicia com o interesse em procurar conhecimento sobre a doença e tratamento, aprimorado pelo apoio da rede social, potencializando a confiança em si para assumir o seu autocuidado. Dificuldades em controlar a dieta, ter acesso aos materiais para insulinoterapia e falta de segurança para manuseá-los constituem obstáculos para essa construção. Conclusão: É fundamental apoiar esses adolescentes na construção da autonomia para o autocuidado a fim de superar as dificuldades na gestão da diabetes e prevenir complicações que podem comprometer a sua qualidade de vida e gerar custo ao sistema de saúde. Palavras-chave: diabetes mellitus; adolescente; autocuidado; autonomia pessoal Abstract Background: Type 1 diabetes mellitus requires adolescents’ autonomy to perform self-care. Objective: To analyze the process of developing autonomy for self-care in adolescents with type 1 diabetes mellitus. Methodology: Descriptive-exploratory research with nine adolescents with type 1 diabetes mellitus. Data were collected through semi-structured interviews and interpreted using inductive thematic analysis. Results: The process of developing autonomy in adolescents with diabetes begins with an interest in seeking knowledge about the disease and treatment, with the support of the social network, to gain the confidence in themselves to perform self-care. Obstacles to this process include difficulties in controlling diet, poor access to insulin therapy materials, and lack of safety in handling them. Conclusion: It is essential to help these adolescents develop autonomy for self-care so that they can overcome difficulties in managing diabetes and prevent complications that can compromise their quality of life and put a burden on the health system. Keywords: diabetes mellitus; adolescent; self-care; personal autonomy

Autor de correspondência Annanda Fernandes Moura Bezerra Batista E-mail: abatis5@uic.edu

Recebido: 18.12.20 Aceite: 12.07.21

Resumen Marco contextual: La diabetes mellitus tipo 1 requiere la autonomía del adolescente para el autocuidado. Objetivo: Analizar el proceso de construcción de la autonomía para el autocuidado de adolescentes con diabetes mellitus tipo 1. Metodología: Investigación descriptiva-exploratoria con nueve adolescentes con diabetes tipo 1, mediante entrevistas semiestructuradas y datos interpretados por análisis temático inductivo. Resultados: El proceso de construcción de la autonomía del adolescente con diabetes comienza con el interés por buscar conocimientos sobre la enfermedad y el tratamiento, potenciado por el apoyo de la red social, lo que aumenta la confianza en sí mismo para asumir el autocuidado. Las dificultades para controlar la dieta, el acceso a los materiales de insulinoterapia y la falta de seguridad para manejarlos son obstáculos para esta construcción. Conclusión: Es esencial apoyar a estos adolescentes en la construcción de la autonomía para el autocuidado con el fin de superar las dificultades para gestionar la diabetes y prevenir las complicaciones que pueden comprometer su calidad de vida y generar gastos al sistema de salud. Palabras clave: diabetes mellitus; adolescente; autocuidado; autonomía personal

Como citar este artigo: Batista, A. F., Silva, M. E., Nóbrega, V. M., Fernandes, L. T., & Collet, N. (2021). Adolescentes com diabetes mellitus tipo 1 e o processo de construção da autonomia para o autocuidado. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20213. https://doi.org/10.12707/RV20213

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pp. 1 - 8


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Introdução O número de casos de crianças e adolescentes com diabetes mellitus tipo 1 (DM1) tem aumentado em muitos países. No mundo, anualmente, existem cerca de 98.200 diagnósticos de DM1 em menores de 15 anos, aumentando para 128.900 quando a faixa etária se estende a menos de 20 anos. Índia, Estados Unidos da América e Brasil têm a maior incidência e prevalência deste diagnóstico em crianças e adolescentes, especialmente na faixa etária dos 0 aos 14 anos. Em países com acesso limitado aos serviços de saúde, esta população pode apresentar desfechos clínicos indesejáveis e mortalidade precoce (International Diabetes Federation, 2019), constituindo-se como um grande problema de saúde pública. Além das exigências impostas pela doença, os adolescentes com DM1 têm que lidar com as mudanças físicas, psicológicas, sociais e comportamentais próprias dessa fase do ciclo vital (Feitor et al., 2020). Nessa fase, começam a assumir a responsabilidade pelo autocuidado com a doença, entretanto, muitas vezes, esta é dada sem a avaliação da sua maturidade para gerir adequadamente o cuidado de si, requerendo, para tal, autonomia comportamental, cognitiva e emocional (Jones & Foli, 2018). Assim, justifica-se a importância deste estudo ao evidenciar os problemas que interferem na construção da autonomia do adolescente com DM1, de modo que, a partir desse conhecimento, os profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, possam traçar estratégias proactivas no cuidado a essa população a fim de facilitar esse processo. Este estudo teve como objetivo analisar o processo de construção da autonomia para o autocuidado de adolescentes com DM1.

Enquadramento A DM1 é uma doença metabólica autoimune manifestada por um quadro de hiperglicemia persistente, devido à ineficiência da produção e/ou ação da insulina. Pode ser subdividida em DM tipo 1A e 1B, em que a primeira é definida conforme haja comprovação laboratorial de autoanticorpos que destroem as células β; e a segunda quando estes não são identificados, considerado de natureza idiopática (Sociedade Brasileira de Diabetes, 2019). A Organização Mundial da Saúde define adolescência como o período compreendido entre 10 e 19 anos de um indivíduo (World Health Organization, 1986). Esta fase traz consigo várias mudanças psicobiológicas intrínsecas à transição desse ciclo de vida, que, quando somadas à DM1, podem repercutir-se negativamente no processo de autonomia na manutenção do regime terapêutico necessário (Feitor et al., 2020). Perante este contexto, entende-se a relevância de se avaliarem as três dimensões da autonomia, que estão inter-relacionadas, com a finalidade de identificar a maturidade do adolescente com DM1 para a realização do autocuidado. A autonomia cognitiva refere-se à capacidade de o adolescente confiar em si para tomar decisões com base nos seus conhecimentos, valores e crenças de modo independente, sem precisar de aprovação externa. Já a autonomia

comportamental diz respeito à capacidade para executar as ações necessárias de acordo com as suas decisões, como as ações de cuidados com a diabetes (monitorizar a glicemia, calcular o consumo de hidratos de carbono, determinar e administrar a dosagem de insulina). Por sua vez, a autonomia emocional ocorre quando o adolescente começa a ver os pais como pessoas com características e necessidades fora do relacionamento pai-filho. Quando isso acontece, o jovem começa a cortar dependências infantis sobre os pais e a assumir a responsabilidade pelo próprio comportamento (Jones & Foli, 2018). Nessa dupla transição, da fase de vida e de responsabilidades para o autocuidado, podem ocorrer desajustes na glicemia, por vezes com picos hiperglicémicos (glicemia acima de 140 mg/dL) ou hipoglicemia (glicemia abaixo de 70 mg/dL; Beck et al., 2019). Tal, decorre da imaturidade do adolescente para gerir o tratamento, comprometendo a sua saúde (Mok et al., 2019). Destarte, as três dimensões da autonomia devem ser avaliadas continuamente, assim como os fatores que contribuem ou dificultam a sua construção, a fim de saber se o adolescente alcançou a maturidade completa para realizar de maneira efetiva as atividades de autocuidado relacionadas à DM1 (Jones & Foli, 2018). É importante prestar atenção a este processo, de construção da autonomia, uma vez que interfere diretamente no autocuidado, ou seja, nas atitudes adotadas para o cuidado de si. Neste sentido, necessita-se de dar voz ao adolescente com DM1, para que exponha as suas vivências com a doença e os aspetos que interferem na construção da autonomia para o autocuidado, com o intuito de identificar estratégias para potencializar a superação das adversidades. O estudo de Cruz et al. (2018) reconhece a relevância de a equipa de saúde identificar as barreiras que os adolescentes enfrentam no quotidiano, ao realizar o autocuidado, a fim de planear ações que visem a prevenção de complicações e melhor qualidade de vida. Através desse trabalho é possível construir um plano de cuidados direcionado para a implementação de acordos mais efetivos, que favoreçam o desenvolvimento da autoeficácia para o alcance da autonomia na gestão da DM1 (Collet et al., 2018). Decorrente do impacto que a DM produz na vida desses adolescentes (Zanatta et al., 2020) é importante que os profissionais de saúde procurem estratégias para os ajudar a minimizar esse impacto, como a do autocuidado apoiado.

Questões de investigação Como é que os adolescentes com DM1 desenvolvem a autonomia para o autocuidado? Quais as dificuldades vivenciadas no processo de construção dessa autonomia?

Metodologia Pesquisa exploratório-descritiva com abordagem qualitativa, realizada em ambulatório pediátrico de um hospital de grande porte e em domicílios de adolescentes com DM1

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no Estado da Paraíba, Brasil. A recolha de dados ocorreu entre setembro e dezembro de 2017. Para assegurar a validade dos resultados e diminuir os erros de interpretação desse estudo, utilizaram-se as recomendações do Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ). Os participantes da pesquisa foram nove adolescentes, que atenderam aos critérios de inclusão: ter o diagnóstico de DM1, estar na faixa etária entre 10 e 19 anos e fazer insulinoterapia regularmente. Esta faixa etária foi escolhida por possibilitar a análise do processo inicial de construção da autonomia para o autocuidado, além das histórias dos que já alcançaram essa autonomia. Como critério de exclusão considerou-se: presença de problemas cognitivos e/ou de comunicação. Todavia, nenhum potencial participante precisou de ser excluído. Para a seleção dos participantes utilizou-se o método snowball, em que informantes-chave, denominados sementes, indicavam novos respondentes que correspondessem ao perfil da investigação (Costa, 2018). Desta forma, iniciou-se a seleção com o contacto prévio com as sementes no serviço ambulatorial e, a partir destes adolescentes, conseguia-se o número de telefone de outros e dos seus responsáveis, para convite à participação na investigação. Caso aceitassem, a entrevista era agendada nos seus domicílios. Os dados foram colhidos através de entrevista semiestruturada, após apresentação da investigadora aos participantes. Esta, foi norteada pelas seguintes questões: “fale-me como é realizado o seu autocuidado em relação à diabetes”; e, “quais dificuldades você encontra para realizar esse autocuidado?”. No ambulatório, as entrevistas ocorreram após a consulta com o especialista e, nos domicílios, por agendamento de data e horário conveniente aos adolescentes. As entrevistas foram conduzidas por uma investigadora experiente e realizadas individualmente, gravadas em áudio, com duração média de 60 minutos, e transcritas na íntegra para análise. Como critério de encerramento da recolha dos dados utilizou-se a saturação, quando o objetivo do estudo foi considerado alcançado, e as informações repetidas já permitiam a compreensão do fenómeno de estudo, não havendo necessidade de inclusão de novos participantes (Minayo, 2017). Para a interpretação dos dados foi utilizada a análise temática indutiva (Braun & Clarke, 2013), realizada por meio de avaliação cruzada de dois investigadores, a qual possibilitou identificar, analisar e relatar temas padrão presentes nos dados. Nesse processo, inicialmente, realizou-se digitação das entrevistas, que proporcionou maior familiarização com os dados. A partir desse ponto,

os investigadores individualmente procuraram codificar o banco de dados, e agrupá-los, conforme afinidade para a formação dos pré-temas. Estes, tiveram os seus códigos revisados e refinados para construção dos temas, que foram confrontados na avaliação cruzada, e posteriormente ocorreu a elaboração do relatório final. O estudo seguiu os preceitos éticos do Conselho Nacional de Saúde do Brasil sobre pesquisa com seres humanos e obteve parecer favorável nº2.046.382. Os adolescentes com 18 anos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e os menores o termo de assentimento e os seus responsáveis o TCLE. Como garantia do anonimato, foi utilizada a letra “A”, de adolescente, seguida do numeral ordinal de realização das entrevistas e das idades dos entrevistados.

Resultados Os adolescentes tinham entre 10 e 18 anos, sendo a maioria do sexo masculino (A1, A3, A4, A6, A7, A8). A escolaridade variou do quinto ano do ensino fundamental ao ensino superior incompleto. Já a escolaridade dos seus cuidadores variou do ensino fundamental incompleto ao ensino superior completo. Quatro participantes residiam no município em que a pesquisa foi realizada, (A1, A6, A8, A9), dois na região metropolitana (A5, A7) e três no interior do estado (A2, A3, A4). Quanto ao tempo de diagnóstico destaca-se: A1, A5 e A7, 7 anos; A2, 3 anos; A3, 4 anos; A4, 1 ano; A6, 12 anos; A8, 13 anos; e A9, 15 anos. Os tratamentos eram realizados através do uso de insulina e seringa (A1, A4), caneta de insulina (A2, A3, A5), bomba de insulina (A7, A8, A9), e bomba e caneta de insulina (A6). Apenas quatro dos adolescentes possuíam plano de saúde (A5, A6, A7, A9), estes não frequentavam a unidade de saúde da família (USF). A frequência na USF dos demais variou entre semanal e bimestralmente. Os seguintes temas foram identificados após a análise dos dados empíricos: Processo de construção da autonomia de adolescentes com DM1 para o autocuidado e Dificuldades vivenciadas na construção da autonomia para o autocuidado de adolescentes com DM1. Processo de construção da autonomia de adolescentes com DM1 para o autocuidado Nesta construção da autonomia, os adolescentes necessitam de receber tanto o suporte externo quanto aprimorar o seu conhecimento sobre a doença e o tratamento, a fim de acreditar no seu potencial para gerir os cuidados, conforme a Figura 1.

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Figura 1 Ações realizadas na construção da autonomia para o autocuidado de adolescente com DM1

Sendo assim, o início deste percurso ocorreu quando o adolescente desejou procurar mais conhecimento sobre a DM1 para melhor controlo da doença: “Comecei a pesquisar sobre a doença e quanto mais eu pesquisava, mais eu entendia . . . mais eu tinha controle sobre a doença em si. Saber o que eu estou enfrentando me ajuda a lidar com ela” (A7). O desejo de aprender aprimora a autonomia cognitiva e comportamental, e o apoio da família e dos profissionais de saúde é fundamental. Dentre esses suportes, encontra-se o aconselhamento e o acompanhamento da aplicação da insulina: “Porque eu via ele (pai) aplicando, e me dava vontade também. . . . Aí ele passou a me ensinar e o pessoal do PSF (Programa de Saúde da Família) me ajudou também. Desde então, eu venho aplicando” (A1). A abertura dos pais para que o adolescente realizasse as ações de autocuidado contribuiu para a autonomia emocional: “Com oito anos de idade comecei a aplicar. Papai falou que já dava para eu ser responsável. Ele me ensinou . . . Eu gosto de aplicar em mim e ter responsabilidade comigo mesmo” (A3). O apoio dos pais ao longo da vivência com a DM1 foi apontado como fator essencial no processo de construção do conhecimento acerca da DM1 para a autonomia cognitiva, o que favoreceu o enfrentamento da doença. “Meus pais me ajudaram. À medida que eu ia crescendo e amadurecendo, comecei a entender o porquê de tudo, o que é a doença e o tratamento. Hoje convivo de boas com isso” (A7). O apoio recebido potencializou esse conhecimento ao longo do tempo, e resultou em melhor distinção dos sinais e sintomas de intercorrências agudas, bem como a realização de intervenções para corrigi-las. Esse aprimoramento contribuiu para a autonomia comportamental dos adolescentes no seu autocuidado. “Quando está baixa a pessoa fica fraca, perdendo o equilíbrio das pernas . . . Tem que fazer o teste. Se der alta, toma a dosagem certa da insulina que está no papel (A2) A hipo(glicemia) . . . sinto tremor, faço glicemia e se tiver baixa eu corrijo com algo doce. Quando está hiper, está alta, fico com a visão turva, com sono e bebo muita água. Aí faço o teste e corrijo com a Novorapid. (A5). Assumir paulatinamente a responsabilização pela gestão terapêutica favoreceu a construção da maturidade para o autocuidado e o alcance da independência almejada pelo adolescente.

À medida que eu tinha mais responsabilidade de cuidar de mim mesmo, tinha mais liberdade. Antes minhas taxas eram muito elevadas, e eu só pensava ‘ah, não me deixam comer doces’ e eu comia escondido. Eu comecei a entender o porquê de não comer e porque alterava. E isso me ajudou a ser independente. (A6) Novas tecnologias para o tratamento também contribuíram para a autonomia dos adolescentes na realização das ações de autocuidado, gerando segurança nas ações quotidianas. Eu me sentia mal com a seringa, porque eu não gostava daquelas agulhas grandes. Na canetinha as agulhas são pequenas e já é tranquilo. Faço sozinha. . . . Na seringa eu tinha que ver quanto era a unidade, e na canetinha eu só rodo a roletinha, e já me diz a quantidade de unidade certa. (A2) Com a caneta eu passei a aplicar . . . trouxe mais facilidade, porque a seringa a gente tinha que ficar andando com o isopor para conservar a temperatura, e não poderia ficar fora da geladeira por muito tempo. Já a caneta não precisa, só não pode expor ao sol. (A5) A bomba de insulina facilitou a gestão da doença, desencadeando a perceção de uma vida normal, com menos restrições alimentares e melhor gestão, com o uso da técnica de contagem de hidratos de carbono. Acho que posso dizer que agora eu tenho uma vida normal, porque eu não tenho mais a preocupação de fazer os testes várias vezes ao dia . . . Antes, a dieta era bastante restrita, tudo diet e contado. (Agora) eu posso comer de tudo, mas moderado. A bomba e a contagem me dão mais liberdade em tudo. (A7) Voltar para a caneta foi muito ruim. Apesar de estar com 13 anos, eu não queria me furar muitas vezes, ao invés de apertar dois botões e pronto. Eu tinha mais liberdade com a bomba e com a contagem de carboidratos, assim como foi no teste . . . Me deu mais liberdade na alimentação, no esporte e na glicemia. (A8) Dificuldades vivenciadas na construção da autonomia para o autocuidado de adolescentes com DM1 Os fatores que dificultam este processo de construção, descritos na Figura 2, estão vinculados à própria terapêutica da DM1. Dentre eles, a dieta, o acesso aos materiais para insulinoterapia e a habilidade para manuseá-los.

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Figura 2 Dificuldades vivenciadas por adolescentes com DM1 para a construção da autonomia

O controlo da dieta é parte integrante do autocuidado de adolescentes com DM1. Porém, o consumo restrito de alimentos foi explicitado como uma das dificuldades dos adolescentes na gestão da doença. “Foi muito ruim a primeira vez (primeira dieta), porque eu estava acostumado a comer as coisas normais do dia a dia . . . Agora eu tenho o diagnóstico, tenho mais consciência do que é uma dieta” (A4). “No começo do ano eu comecei uma dieta, perdi peso, passou um tempo e eu voltei com tudo. Influenciou de forma ruim no tratamento, porque minha taxa aumentou mais, aumentei mais o peso, a insulina também” (A5). Realizar a autoadministração da insulina é uma atividade complexa para os adolescentes, necessitando de conhecimentos e habilidades técnicas. Além disso, os materiais utilizados para a administração foram apontados como fatores que dificultam o alcance da autonomia comportamental para o autocuidado. “Quando aplico (insulina com a seringa) fico nervoso e quando é meu pai fico mais calmo. Na coxa eu tinha medo de pegar alguma parte errada” (A1). “Foi melhor a caneta, porque era ruim estar sempre contando os tracinhos para aplicar, e também doía menos, porque a agulha era menor” (A5). Uma tecnologia disponibilizada no Brasil a poucos adolescentes com DM1 é a bomba de insulina. Apesar dos inúmeros benefícios descritos pelos que a utilizam, muitos ainda não têm acesso e anseiam um dia poder tê-la no seu tratamento. “Queria usar a bombinha porque ela ajuda a regular (a glicemia). Meu pai ia pedir ao governo para comprar, porque os diabéticos estão precisando” (A3). “Eu acho que nos próximos anos as coisas vão evoluir mais, porque meu nome já está na lista para conseguir a bombinha, só que não chegou. Ele (governo) deveria investir mais nos diabéticos, a bombinha iria trazer mais independência” (A5). “Acho que se outras pessoas tivessem acesso à bomba de insulina, o controlo delas melhoraria . . . Porque muita gente ainda faz tratamento muito atrasado e doloroso . . . Ajudaria na aceitação” (A7). Diante das vivências na realidade atual, os adolescentes explicitaram as suas expectativas em relação ao autocuidado e ao seu futuro com a DM1. Particularmente, preocu-

pam-se com o acesso aos materiais para insulinoterapia. O maior problema é conseguirmos os insumos (materiais para insulinoterapia) com o governo e o alcance dos nossos direitos. O diabético consciente entende a doença e se trata, então o problema maior não será o cuidado em si, mas ter acesso aos insumos para ter esses cuidados. (A6)

Discussão Entende-se que o início da adolescência traz consigo a necessidade da transição da responsabilização pelo cuidado com a DM1 dos pais para os filhos (Collet et al., 2018; Jones & Foli, 2018) e o desenvolvimento da sua autonomia. No entanto, destaca-se que o envolvimento dos pais nesse processo, por meio do compartilhamento de responsabilidades, torna-se relevante para o alcance do controlo glicémico (Vloemans et al., 2019; Zanatta et al., 2020). Assim, o apoio recebido no processo de construção do conhecimento e no desenvolvimento de habilidades para o autocuidado é essencial para o alcance da maturidade na gestão segura da doença (Collet et al., 2018). Ter conhecimento sobre a doença e ver os resultados positivos obtidos através dele, estimula os adolescentes a procurarem mais conhecimento para melhor controlar a sua condição. Além disso, ajuda-os a desenvolver habilidades de enfrentamento e aceitação para o alcance da autonomia comportamental. Um estudo norueguês refere que o conhecimento adequado dos adolescentes com DM1 sobre a doença e o tratamento é de extrema relevância para fortalecer as habilidades para o autocuidado. Assim, podem realizar os procedimentos diários, observar e responder aos sinais e sintomas vivenciados no quotidiano (Strand et al., 2019). Conhecer os sinais e sintomas da hiperglicemia e da hipoglicemia dará suporte para identificar e resolver prontamente valores glicémicos descompensados, variações alimentares e uso erróneo da dosagem de insulina. Essas alterações podem resultar em coma, complicações vasculares e cetoacidose diabética. Para evitá-las, o adolescente

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e os seus cuidadores devem saber a definição de hiper e hipoglicemia, reconhecer precocemente os sinais e sintomas de cada situação, bem como o seu tratamento e prevenção (American Diabetes Association, 2020). Esse conhecimento, geralmente, é construído a partir das experiências vividas, bem como a partir de orientações de profissionais da saúde que integram a sua rede social. Um estudo (Cruz et al., 2018) enfatiza a importância do apoio dos profissionais e dos pais ao adolescente com DM1 para o alcance de melhor desempenho com o seu autocuidado, que se reflete positivamente na sua qualidade de vida. Esse apoio potencializa o sucesso da implementação dessas ações de forma coerente com a situação vivenciada. Neste sentido, os profissionais podem realizar educação para a saúde para trabalhar questões que interferem na autonomia dos adolescentes identificadas neste estudo. Assim, enriquece-se o cuidado ofertado e garante-se a gestão adequada que, também, previne complicações futuras. O adolescente com DM1 vivencia no seu quotidiano inúmeras modificações, exigindo força de vontade, mudança de comportamento e atitudes de adaptação. Neste processo, o suporte fornecido pelas redes sociais de apoio auxilia-o a adquirir autonomia para gerir a sua vida com a doença com qualidade (Collet et al., 2018). Este processo é favorecido quando existe o interesse do adolescente em desenvolver habilidades necessárias, aliada à abertura dos pais para que o mesmo realize as atividades de autocuidado, como por exemplo, a insulinoterapia e o teste glicémico. Deste modo, superam-se os receios face ao procedimento e contribui-se para a construção da autonomia emocional e comportamental do adolescente, impulsionando a sua maturidade. Não obstante, a avaliação da maturidade do adolescente para o autocuidado pelos profissionais de saúde é um ponto fundamental neste processo de transição e decisivo para a gestão adequada do autocuidado. Quanto à insulinoterapia, a experiência desses adolescentes com a seringa para administrar a insulina foi descrita como difícil, dolorosa e ultrapassada, o que pode dificultar a construção da autonomia. Já a caneta de insulina por ter agulha menor e ser mais fácil de calibrar a dosagem fomenta o interesse dos adolescentes em aprender a realizar esse autocuidado, ao trazer mais segurança e autoconfiança na aplicação. Assim, infere-se com este estudo que a tecnologia contribui para a adesão ao protocolo estabelecido, ao facilitar o transporte, o manuseamento e a administração, favorecendo o desenvolvimento da autonomia emocional e comportamental. Fortalecem estes resultados uma pesquisa realizada em São Paulo, Brasil, a qual destacou que os materiais utilizados na insulinoterapia estão relacionados com o seguimento da terapêutica e indica o uso de canetas aplicadoras como excelente alternativa para facilitar essa adesão. Contrariamente, podem existir barreiras à administração de insulina quando necessita de diferentes materiais decorrentes do armazenamento e do transporte ou quando são despertados sentimentos como medo, insegurança e dor pela forma de administração do injetável (Dias & Junqueira, 2020). Bariya e Nayberg (2017) da Universidade da Califórnia também enfatizaram os benefícios da substituição da seringa pela caneta aplicadora, ao minimizar a sobrecarga

na gestão e permitir melhor performance, pois a seringa está associada à dor, inconveniência e estigma social. Neste estudo, benefícios ainda maiores foram evidenciados com o uso da bomba de infusão contínua (BIC) de insulina que foi sinónimo de melhor qualidade de vida para os adolescentes. Esta tecnologia facilita a gestão terapêutica, contribuindo para um maior controlo da glicemia, diminuição das variações glicémicas e a liberdade de gerir a sua rotina sem muita intervenção de terceiros. A satisfação em usufruir dessa tecnologia motiva o seguimento terapêutico por promover maior autonomia. A terapia com BIC envolve a libertação de insulina basal de ação prolongada, geralmente uma ou duas vezes por dia, e de insulina de ação rápida após as refeições. Ao comparar o uso desta terapia com a aplicação de múltiplas injeções diárias de insulina, um estudo apontou o efeito benéfico na redução das concentrações de hemoglobina glicosilada e nos casos de hipoglicemias (American Diabetes Association, 2020). Além destes, também foram destacados como benefícios a satisfação com o tratamento, a liberdade alimentar, a redução de complicações diárias e do stress parental, com impacto positivo na qualidade de vida do adolescente com DM1 (Beck et al., 2019), assim como da sua família. O maior obstáculo para o acesso à BIC é o investimento insuficiente do governo em tecnologias de tratamento para pessoas com diabetes. Apreendeu-se, pelos relatos dos adolescentes, que as formas de tratamento disponibilizadas pelo governo influenciam na aceitação, na gestão e no autocuidado. Este é um aspeto relevante a ser considerado pelos profissionais de saúde ao cuidar dessa população e requer mudanças importantes nas políticas públicas. Outra dificuldade para o autocuidado enfatizada pelos adolescentes foi a dieta. Identificaram-se diferentes comportamentos, pois, para alguns, o entendimento do objetivo do seguimento da dieta já se mostra suficiente para motivá-los a segui-la e para outros controlar a dieta vai além do entendimento e da consciência, e o desejo de comer algo proibido torna-se maior. A consciência das responsabilidades mostra-se positiva, mas as motivações e barreiras precisam de ser pontuadas na etapa da avaliação do autocuidado apoiado, e trabalhadas nas etapas de acordo e da assistência, refinando a autonomia para o controlo da dieta. Corroborando os achados deste estudo, uma investigação realizada no estado do Ceará, Brasil, evidencia que faz parte do dia-a-dia dos adolescentes com DM1 o dilema entre seguir a dieta e cair na tentação de comer alimentos considerados inadequados pelos profissionais de saúde e/ou pelos pais. Isto acontece devido à dificuldade em enfrentar os desejos internos e os apelos aos estímulos externos em torno da alimentação, interferindo no seu autocontrolo (Fragoso et al., 2019). Neste sentido, a contagem de hidratos de carbono associada ao uso da bomba de insulina proporciona maior sensação de liberdade na dieta, constituindo-se como fator motivador para manter o controlo glicémico. Neste método conta-se o número de hidratos de carbono em cada refeição, com base nos alimentos consumidos, sabendo que por dia 45 a 65% das suas calorias precisam

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de ser hidratos de carbono, com a finalidade de definir a dosagem de insulina a ser administrada (American Diabetes Association, 2020). Quanto à gestão da doença, as boas expetativas do adolescente com DM1 para o futuro estão vinculadas ao uso da BIC de insulina. Entretanto, o acesso a essa tecnologia fica depende do governo. Este deve apoiá-los, fornecendo os materiais necessários, pois, por mais que o adolescente realize o autocuidado satisfatoriamente, sem o apoio do governo e da rede de atenção, os resultados esperados para o controlo da doença podem não ser alcançados por falta de condições favoráveis. A equipa de saúde necessita de aprimorar atitudes que já fazem parte do quotidiano, orientando os adolescentes a assumirem o próprio cuidado, incentivando-os a aderirem às mudanças necessárias ao seu estilo de vida, tendo, assim, ferramentas potentes para autogerir a sua condição de saúde com mais autonomia (Fragoso et al., 2019). Não obstante, perante a complexidade dos cuidados diários exigidos pela terapêutica, para a construção da autonomia, apreende-se a importância do apoio dos profissionais de saúde, inclusive o enfermeiro, para os adolescentes com DM1 e para as suas famílias. Ao receber apoio, estes poderão compreender melhor a doença e os cuidados para a adoção de atitudes adequadas, de modo a empoderarem-se para autogerir a própria saúde. Salienta-se que este estudo apresenta algumas limitações, como a seleção de adolescentes em apenas um serviço ambulatorial de referência da capital do nordeste brasileiro, bem como o número reduzido de participantes. Apesar disso, a abordagem qualitativa utilizada não procura a generalização dos achados, mas sim a singularidade nas falas daqueles que participaram no estudo. Este, por sua vez, trouxe contributos importantes relacionados com os fatores que podem contribuir ou interferir na construção da autonomia para o autocuidado do adolescente com DM1, agregando conteúdo para a construção de novos conhecimentos acerca da temática em estudo.

das suas famílias. Este estudo possibilita ao enfermeiro ter uma compreensão mais aperfeiçoada do que pode potencializar ou dificultar o processo de autonomia dos adolescentes com DM1 e esse novo conhecimento pode sustentar o agir proactivo face às singularidades. Não obstante, sugere-se o desenvolvimento de estudos futuros com o intuito de identificar estratégias mais promissoras no autocuidado apoiado, que poderão ser utilizadas pelos enfermeiros para ajudar esses adolescentes no processo de construção da sua autonomia e mecanismos de resiliência.

Conclusão

Referências bibliográficas

O processo de construção da autonomia do adolescente com DM1 inicia-se com o seu desejo em ter mais conhecimento sobre a doença e o tratamento para desenvolver as atividades de cuidado no quotidiano. A família e os profissionais de saúde são fundamentais nessa construção do cuidado em saúde, apoiando-os para que alcancem as autonomias cognitiva, comportamental e emocional, a fim de confiarem no seu potencial para realizar o autocuidado, superando os desafios para o alcance da maturidade. Segundo os resultados, percebe-se que facilitar o acesso dos adolescentes aos recursos tecnológicos para administração da terapêutica favorece a autonomia comportamental e emocional. Ao analisar a relação custo-benefício da bomba de insulina, tecnologia não disponibilizada a todos pelo governo por ser alto custo, o uso pode reverter-se em economia para o governo, ao obter maior adesão ao tratamento e prevenir complicações clínicas que, certamente, gerarão maior ónus para o sistema de saúde, e interferência na qualidade de vida desses adolescentes e

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Contribuição de autores Conceptualização: Batista, A. F., Nóbrega, V. M., Collet, N. Tratamento de dados: Batista, A. F., Nóbrega, V. M., Collet, N. Análise formal: Batista, A. F., Silva, M. E., Nóbrega, V. M., Fernandes, L. T., Collet, N. Investigação: Batista, A. F., Nóbrega, V. M., Collet, N. Metodologia: Batista, A. F., Nóbrega, V. M., Collet, N. Administração do projeto: Batista, A. F., Nóbrega, V. M., Collet, N. Supervisão: Nóbrega, V. M., Collet, N. Validação: Batista, A. F., Nóbrega, V. M., Collet, N. Visualização: Batista, A. F., Silva, M. E., Fernandes, L. T., Collet, N. Redação – rascunho original: Batista, A. F., Nóbrega, V. M., Collet, N. Redação – análise e edição: Silva, M. E., Fernandes, L. T. Financiamento Retirado do projeto de iniciação científica “Necessidade de autocuidado apoiado de adolescentes com diabetes tipo 1 sob o uso de múltiplas dosagens diárias de insulina e infusão subcutânea contínua de insulina”, financiado pelo CNPq, Processo nº 305926/2016-0 - Produtividade em Pesquisa, Universidade Federal da Paraíba, 2017-2018.

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

Conhecimento sobre suporte básico de vida em estudantes do ensino superior de ciências da saúde

Knowledge about basic life support in higher education health students Conocimientos sobre el soporte vital básico en los estudiantes de ciencias de la salud de la enseñanza superior Pedro Miguel Barreira Preto 1 https://orcid.org/0000-0002-6488-4533 Carlos Pires Magalhães 2,3 https://orcid.org/0000-0003-0170-8062 Adília Maria Pires da Silva Fernandes 2,3 https://orcid.org/0000-0003-1658-4509

Unidade Local de Saúde do Nordeste, EPE. Unidade Hospitalar de Bragança, Bragança, Portugal

1

Instituto Politécnico de Bragança, Bragança, Portugal

2

Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA: E), Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal

3

Resumo Enquadramento: A paragem cardiorrespiratória constitui um grave problema que prossupõe uma atuação imediata de terceiros, devendo-se para tal recorrer ao suporte básico de vida (SBV). Objetivo: Avaliar os conhecimentos em SBV, em estudantes do ensino superior da área da saúde, e analisar as associações entre o nível de conhecimento e variáveis sociodemográficas, académicas e de contexto socioeducativo. Metodologia: Estudo correlacional, transversal, quantitativo, efetuado numa amostra de estudantes do ensino superior. Resultados: Obteve-se uma amostra de 683 estudantes, em média com 21 anos de idade e maioritariamente do sexo feminino. A pontuação média dos conhecimentos foi de 11,79 pontos, numa escala de 0 a 20. O nível de conhecimentos está relacionado de forma estatisticamente significativa, com a licenciatura e o ano de curso frequentado, com o terem frequentado um curso/formação em SBV, com a frequência de unidades curriculares onde se abordaram conteúdos de SBV. Conclusão: As pontuações médias obtidas enquadram-se num nível suficiente, destacando-se com pontuações mais elevadas os seguintes grupos: estudantes de 4º ano; curso de enfermagem; formação prévia em SBV. Palavras-chave: estudantes de ciências da saúde; primeiros socorros; reanimação cardiopulmonar; conhecimento Abstract Background: Cardiac arrest (CA) is a serious problem that requires the immediate intervention of third parties using basic life support (BLS). Objectives: To assess higher education health students’ knowledge about BLS and analyze the associations between level of knowledge and sociodemographic, academic, and socio-educational variables. Methodology: Quantitative correlational cross-sectional study in a sample of higher education students. Results: The sample consisted of 683 students, with a mean age of 21 years, mostly women. The mean knowledge score was 11.79 points, on a scale of 0 to 20. There was a statistically significant association between the level of knowledge and the program, the year of study, having attended a BLS course/ training, and having attended course units with BLS content. Conclusion: The mean scores reflect a sufficient level of knowledge, with the following groups obtaining higher scores: 4th-year students, nursing program, and previous BLS training. Keywords: health students; first aid; cardiopulmonary resuscitation; knowledge

Autor de correspondência Carlos Pires Magalhães E-mail: cmagalhaes@ipb.pt

Recebido: 12.12.20 Aceite: 20.09.21

Resumen Marco contextual: La parada cardiorrespiratoria es un problema grave que requiere la intervención inmediata de terceros, para lo cual debemos recurrir al soporte vital básico (SBV). Objetivo: Evaluar los conocimientos sobre el SVB en los estudiantes del área de la salud de la enseñanza superior y analizar las asociaciones entre el nivel de conocimiento y las variables sociodemográficas, académicas y del contexto socioeducativo. Metodología: Estudio correlacional, transversal y cuantitativo, realizado sobre una muestra de estudiantes de enseñanza superior. Resultados: Se obtuvo una muestra de 683 estudiantes, con una edad media de 21 años y mayoritariamente del sexo femenino. La puntuación media de los conocimientos fue de 11,79 puntos en una escala de 0 a 20. El nivel de conocimiento está relacionado de forma estadísticamente significativa con la titulación de grado y el año del curso realizado, con haber asistido a un curso/formación en SVB y con la frecuencia de las unidades curriculares en las que se abordaron contenidos de SVB. Conclusión: Las puntuaciones medias obtenidas están dentro de un nivel suficiente, y destacan con puntuaciones más altas los siguientes grupos: estudiantes de 4.º curso; grado de enfermería; formación previa en SBV. Palabras clave: estudiantes del área de la salud; primeros auxilios; reanimación cardiopulmonar; conocimiento Como citar este artigo: Magalhães, C. P., Fernandes, A. M., & Preto, P. M. (2021). Conhecimento sobre suporte básico de vida em estudantes do ensino superior de ciências da saúde. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20182. https://doi.org/10.12707/RV20182

Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e20182 DOI: 10.12707/RV20182

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Preto, P. M. et al.

Introdução A paragem cardiorrespiratória (PCR) constitui um grave problema de saúde pública pela sua elevada incidência e mortalidade. A PCR, como acontecimento súbito, constitui uma das principais causas de morte, estimando-se que na Europa afete entre 55 a 113 pessoas por 100 000 habitantes (Perkins et al., 2015). Na comunidade, numa situação de PCR fica-se dependente do comportamento de terceiros, que devem avaliar a situação, ligar aos serviços de emergência e iniciar manobras de reanimação o mais rápido possível. Como a maioria destas situações ocorre em ambiente extra-hospitalar, é fundamental que qualquer cidadão esteja habilitado para prestar socorro. Este deve agir com base nas melhores evidências e recomendações internacionais. O suporte básico de vida (SBV) consiste num conjunto de atitudes e procedimentos padronizados que tem como principal objetivo ganhar tempo, visando manter alguma circulação e ventilação até à chegada de ajuda diferenciada, aumentando as probabilidades de sobrevida (Nolan et al., 2010; Perkins et al., 2015). Os conhecimentos dos estudantes em reanimação são cruciais para aumentar as probabilidades de sobrevivência na PCR, quer na comunidade quer em instituições de saúde. Os profissionais de saúde são as primeiras testemunhas de uma PCR em ambiente hospitalar, de modo que a sua formação e treino, enquanto estudantes, tem impacto na eficiência e nos resultados da reanimação cardiorrespiratória (RCR), pelo que avaliar os seus conhecimentos é deveras importante para a melhoria dos programas formativos (Vural et al., 2017). No ensino superior em saúde a formação em SBV não está ainda consistentemente integrada no currículo académico (Awadalla et al., 2020), com grande heterogeneidade nos métodos de ensino e avaliação (García-Suárez et al., 2019). Considerando o exposto, efetuou-se uma investigação que teve como objetivos: identificar os conhecimentos em SBV em estudantes do ensino superior que frequentavam os cursos de licenciatura na área das ciências da saúde e analisar a relação entre o nível de conhecimentos e as variáveis sociodemográficas, académicas e de contexto socioeducativo.

Enquadramento Em agosto de 1988, um grupo de médicos europeus, entusiastas em reanimação, criou um grupo que nomeou de European Resuscitation Council (ERC), com o objetivo de contribuir para salvar vidas no espaço europeu. Tal deveria ser alcançado através da produção de diretrizes e recomendações, através da criação e implementação de programas de ensino, através do controlo e auditoria das práticas de reanimação cardiopulmonar (RCP), através da promoção e organização de reuniões científicas em reanimação (Bossaert & Chamberlain, 2013). Desde o primeiro congresso internacional realizado pelo ERC ficou estabelecida uma parceria com a American Heart Association. Desde então o ERC tem apresentado reco-

mendações em inúmeras matérias como sejam o suporte básico e avançado de vida, gestão básica e avançada da via aérea, gestão das arritmias periparagem, entre outros (Bossaert & Chamberlain, 2013). As recomendações são apresentadas e revistas a cada 5 anos, com base na evidência científica disponível. A parceria com a American Hearth Association permite consensos e uma prática uniforme, embora com algumas adaptações a realidades regionais (Bossaert & Chamberlain, 2013). À luz da melhor evidência científica existem alguns fatores que podem influenciar os resultados do socorro (Nolan et al., 2010; Perkins et al., 2015). Para uma RCP bem-sucedida salienta-se o conceito de cadeia de sobrevivência, representada por um conjunto de etapas interligadas (elos em sequenciação de atitudes) que, quando respeitadas, maximizam a probabilidade de sucesso. Segundo Perkins et al. (2015) essas etapas são: (i) Reconhecimento precoce e pedido de ajuda; (ii) RCP precoce; (iii) Desfibrilhação precoce; (iv) Suporte Avançado de Vida (SAV) precoce e cuidados pós-reanimação estandardizados. Estudos efetuados na população portuguesa colocaram em evidência um baixo nível de qualificação para realizar SBV (Dixe & Gomes, 2015; Sá-Couto & Nicolau, 2019), mas uma grande disponibilidade para fazer formação (Dixe & Gomes, 2015). O conhecimento sobre SBV mostrou estar associado à realização de cursos/formação prévia na área (Dixe & Gomes, 2015) e ao tempo transcorrido desde essa formação (Sá-Couto & Nicolau, 2019). Dentro do grande segmento do público em geral, é consensual a necessidade de formação sobre SBV em ambiente escolar incluindo professores e estudantes (López et al., 2018). O relatório final do Grupo de Trabalho para a Requalificação do Programa Nacional de Desfibrilhação Automática Externa (GT-RDAE) refere que os estudantes do ensino superior das áreas das ciências da saúde e do desporto constituem grupos populacionais prioritários na formação em reanimação (Grupo de Trabalho, 2018). Segundo Saquib et al. (2019) os estudantes da área da saúde devem ser portadores de um conhecimento adequado em SBV e RCR, pelo que os procedimentos respeitantes a estes devem ser incluídos nos currículos de ensino. Estudos realizados sobre conhecimentos em SBV em estudantes da saúde relatam uma alta percentagem de conhecimentos inadequados por parte desta população (Alanazi et al., 2014; Al-Mohaissen, 2017; Mejia et al., 2016). De um modo geral os estudantes que tiveram formação em SBV integrada nos seus currículos apresentam maiores níveis de conhecimento (Al-Mohaissen, 2017; Mejia et al., 2016). Uma revisão sistemática conduzida por García-Suárez et al. (2019) sobre as metodologias pedagógicas usadas em SBV nas escolas de saúde concluiu que os 11 estudos analisados mostraram uma grande heterogeneidade nos métodos de ensino, assim como os dispositivos de feedback utilizados nas avaliações práticas e na mensuração da qualidade da RCR. Por outro lado, a aprendizagem com recurso à simulação clínica de alta-fidelidade com feedback em tempo real mostrou ser mais eficaz do que os demais recursos analisados (García-Suárez et al., 2019).

Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e20182 DOI: 10.12707/RV20182

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Preto, P. M. et al.

Questões de investigação/Hipóteses Qual o nível de conhecimentos de SBV em estudantes do ensino superior da área da saúde?; Qual a relação entre o nível de conhecimentos de SBV em estudantes do ensino superior da área da saúde e algumas variáveis sociodemográficas, académicas e de contexto socioeducativo? (i) Existem diferenças estatisticamente significativas entre os conhecimentos em SBV dos estudantes e o respetivo sexo; (ii) Existem diferenças estatisticamente significativas entre os conhecimentos em SBV dos estudantes e o curso que frequentam; (iii) Existem diferenças estatisticamente significativas entre os conhecimentos em SBV dos estudantes e o ano do curso que frequentam; (iv) Existem diferenças estatisticamente significativas entre os conhecimentos em SBV dos estudantes e o facto de terem frequentado formação em SBV ou terem alguma vez prestado socorro a alguém; (v) Existem diferenças estatisticamente significativas entre os conhecimentos em SBV dos estudantes e o facto dos estudantes terem frequentado unidades curriculares onde foram ministrados conteúdos de SBV.

Metodologia Com base nos objetivos do estudo, foi desenhado um estudo correlacional, transversal, de natureza quantitativa. A população-alvo da presente investigação foram os estudantes que frequentam cursos do primeiro ciclo (licenciatura) numa Escola Superior de Saúde do Norte de Portugal (N = 937). A amostra foi obtida aplicando o seguinte critério de inclusão: Estudantes que se encontrassem a frequentar unidades curriculares em espaço escolar, ou que, estando a frequentar ensinos clínicos ou estágios se deslocassem à escola, em horário programado, para apresentação de trabalhos. Foi ainda aplicado o seguinte critério de exclusão: Estudantes estrangeiros em programa de mobilidade, não falantes de língua portuguesa, pela dificuldade na compreensão e interpretação do questionário usado como instrumento de recolha de dados. Para recolha de informação usamos um questionário subdividido em várias seções, designadamente aspetos sociodemográficos e académicos, formação e experiência em SBV, confiança para prestar SBV e conhecimentos sobre SBV. A variável dependente conhecimentos dos estudantes sobre SBV refere-se aos conhecimentos de natureza teórico-prática dos estudantes relativamente às orientações do ERC de 2010, atualizadas pelas recomendações 2015 (Nolan et al., 2010; Perkins et al., 2015). O nível de conhecimento é avaliado através de 20 questões de escolha múltipla com quatro opções de resposta, estruturadas de acordo com a literatura temática e seguindo uma metodologia análoga a estudos prévios (Al-Mohaissen, 2017; Alotaibi et al., 2016; Dixe & Gomes, 2015). Às respostas certas foi atribuída a classificação de 1 ponto e às erradas 0 pontos, podendo a pontuação final oscilar numa escala de 0 a 20, correspondendo maiores pontuações a maior conhecimento. Os tópicos específicos do SBV avaliados

pelo questionário de conhecimentos foram: Conceito de cadeia de sobrevivência; Conhecimento do número de emergência médica; Verificação de condições de segurança; Avaliação do estado de consciência; Estado de consciência e ausência de respiração como sinais de PCR; Permeabilização da via aérea; Técnica de avaliação da respiração; Tempo máximo dedicado à técnica de avaliação da respiração; Taxa de compressões torácicas e ventilações com um reanimador; Taxa de compressões torácicas e ventilações com vários reanimadores; Em que circunstâncias se avalia a circulação; Momento de pedido de ajuda diferenciada; Início das manobras de RCR com compressões torácicas ou ventilação; Conhecimento da máscara de bolso e sua utilização; Em que circunstâncias suspender manobras de SBV; Local correto para a realização das compressões torácicas; Depressão do tórax (em cm) nas compressões torácicas; Rácio de compressões torácicas por minuto; Quando colocar uma vítima em PLS (Posição Lateral de Segurança); Conhecimento do DAE (Desfibrilhador Automático Externo) para desfibrilhação. O questionário foi construído tendo por base a vasta literatura existente, respeitando as orientações emanadas pelo ERC e investigações que visaram avaliar o conhecimento em SBV em estudantes universitários. Foram consultados dois peritos da área e realizado um pré-teste envolvendo 30 estudantes de um curso de licenciatura da área da saúde, para testar a compreensão das questões e o tempo necessário para o seu preenchimento. O instrumento de recolha de dados foi aplicado no ano letivo 2017/2018, utilizando os 30 minutos iniciais das aulas. O investigador esteve presente, explicando a finalidade e objetivos do estudo. Foram respeitados todos os princípios éticos. Todos os participantes assinaram consentimento informado livre e esclarecido. Obteve-se um parecer favorável de uma Comissão de Ética relativamente ao estudo (RI001-2020/02486). O tratamento de dados foi realizado recorrendo-se ao programa IBM SPSS statistics, versão 23.0. Os dados foram analisados através de técnicas estatísticas descritivas e inferenciais. Recorreu-se ao cálculo de frequências absolutas e relativas, medidas de tendência central (média, moda e mediana) e medidas de dispersão (desvio padrão). No estudo das hipóteses de investigação compararam-se as médias obtidas no questionário de conhecimentos pelas categorias das variáveis independentes, recorrendo ao teste t para duas amostras independentes e teste ANOVA para mais do que duas amostras, para um grau de significância p < 0,05.

Resultados Participaram no estudo 683 estudantes, predominantemente do sexo feminino (82,6%), cujas idades variavam dos 17 aos 40 anos. A média da idade foi de 21,01 anos (DP = 2,65), para uma variância amostral de 7 anos, sendo que a moda se situou nos 20 anos, com 140 estudantes a apresentarem essa idade. Tendo por base a análise das respostas ao questionário utilizado (Tabela 1), constata-se que a maioria dos estudantes (93,4%) conhecia o número europeu de emergência médica

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e o conceito de cadeia de sobrevivência (84,2%). Mais de metade da amostra acertou na maioria das respostas, excetuando alguns indicadores avaliados, entre os quais, a técnica de permeabilização da via aérea pela extensão da cabeça e elevação do queixo (38,9%), a avaliação da

circulação caso o reanimador seja profissional de saúde experiente (24,2%), o momento no algoritmo de SBV no qual se pede ajuda diferenciada (45,7%), o rácio de compressões torácicas entre 100 a 120 por minuto (30,6%) e o conhecimento do DAE para desfibrilhação (40,6%).

Tabela 1 Respostas corretas no questionário de Suporte Básico de Vida Itens

n (%)

Conceito de cadeia de sobrevivência

575 (84,2%)

Conhecimento do número de emergência médica

638 (93,4%)

Verificação de condições de segurança

465 (68,1%)

Avaliação do estado de consciência

518 (75,8%)

Sinais de paragem cardiorrespiratória

424 (62,1%)

Permeabilização da via aérea

266 (38,9%)

Técnica de avaliação da respiração

446 (65,3%)

Tempo máximo dedicado à técnica de avaliação da respiração

459 (67,2%)

Taxa de compressões/ventilações com um reanimador

462 (67,6%)

Taxa de compressões/ventilações com vários reanimadores

409 (59,9%)

Em que circunstância se avalia a circulação

165 (24,2%)

Momento de pedido de ajuda diferenciada

312 (45,7%)

Início das manobras de RCR com compressões ou ventilação

402 (58,9%)

Conhecimento da máscara de bolso e sua utilização

410 (60,0%)

Em que circunstâncias suspender manobras de SBV

429 (62,8%)

Local correto para a realização das compressões torácicas

408 (59,7%)

Depressão do tórax (em cm) nas compressões torácicas

399 (58,4%)

Rácio de compressões torácicas por minuto

209 (30,6%)

Quando colocar uma vítima em PLS

383 (56,1%)

Conhecimento do DAE para desfibrilhação

277 (40,6%)

Nota. SBV = Suporte básico de vida; RCR = Reanimação cardiorrespiratória; PLS = Posição lateral de segurança; DAE = Desfibrilhação automática externa.

Para o questionário de SBV, numa escala de 0 a 20, a média aritmética da amostra situou-se nos 11,79 pontos (DP = 3,84). As pontuações médias obtidas no teste de conhecimentos em SBV são ligeiramente mais elevadas no sexo masculino, sendo que estas diferenças não são estatisticamente significativas (Tabela 2). A amostra é maioritariamente constituída por estudantes do curso de licenciatura em Enfermagem (55,8%), seguida pelo curso de licenciatura em Ciências Biomédicas Laboratoriais (21,2%), Farmácia (11,0%), Dietética e Nutrição (8,5%) e pelo curso de licenciatura em Gerontologia (3,5%). Os estudantes

do curso de licenciatura em Enfermagem (M = 13,33; DP = 3,75) e do curso de licenciatura em Gerontologia (11,92; 2,15) foram aqueles onde se obtiveram maiores pontuações médias no teste de conhecimentos em SBV. Encontrou-se diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05) na média de respostas corretas consoante o curso frequentado (Tabela 2). Encontrou-se uma relação estatisticamente significativa entre os conhecimentos em SBV dos estudantes e o ano curricular que o estudante frequentava (p < 0,05), sendo que quanto maior o ano, maior a média de respostas corretas (Tabela 2).

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Tabela 2 Conhecimento dos estudantes sobre SBV nas variáveis sociodemográficas e académicas n (%)

M (DP)

Feminino

564 (82,6)

11,76 (3,82)

Masculino

119 (17,4)

11,92 (3,93)

Enfermagem

381 (55,8)

13,33 (3,75)

Farmácia

75 (11,0)

9,16 (3,00)

Dietética e Nutrição

58 (8,5)

10,62 (3,15)

Valor do teste

Valor p

t = -0,406

0,685

F = 48,737

< 0,05

F = 79,22

< 0,05

Sexo

Curso frequentado

Ciências Biomédicas Laboratoriais

145 (21,2)

9,53 (2,80)

24 (3,5)

11,92 (2,15)

1º ano

209 (30,6)

9,88 (2,83)

2º ano

219 (32,1)

11,04 (3,69)

3º ano

184 (26,9)

13,14 (3,75)

4º ano

71 (10,4)

16,20 (1,83)

Gerontologia Ano curricular

Nota. M = Média; DP = Desvio padrão; t = Teste t para amostras independentes; F = Teste ANOVA; p = Significância estatística

Os estudantes que referiram ter frequentado um curso ou formação em SBV em algum momento nas suas vidas (57%) apresentaram resultados mais elevados no teste de conhecimentos (M = 14,29; DP = 2,80), quando comparados com os que nunca realizaram qualquer formação (Tabela 3), diferença estatisticamente significativa (p < 0,05). O facto de alguma vez se ter prestado socorro a alguém em perigo de vida (referido por 14,8% dos estudantes) não tem relação estatisticamente significativa

com os resultados obtidos no teste de conhecimentos (p= 0,094). Verificou-se ainda que cerca de 67% (n = 459) referiu que a licenciatura frequentada disponibiliza no seu plano de estudos formação em SBV e 229 estudantes relataram já ter frequentado essas unidades curriculares. O nível de conhecimentos em SBV revelou uma relação estatisticamente significativa com estas variáveis (p <0,05), o que comprova a quinta hipótese.

Tabela 3 Conhecimento dos estudantes sobre SBV nas variáveis de contexto socioeducativo n (%)

M (DP)

Sim

389 (57,0)

14,29 (2,80)

Não

294 (43,0)

8,48 (2,15)

Sim

101 (14,8)

12,38 (4,18)

Não

582 (85,2)

11,68 (3,77)

Sim

459 (67,2)

12,98 (3,71)

Não

224 (32,8)

9,34 (2,80)

Sim

229 (49,9)

15,80 (1,89)

Não

230 (50,1)

10,17 (2,85)

Valor do teste

Valor-p

t = 29,63

< 0,05

t = 1,68

0,094

t = 12,97

< 0,05

t = 24,95

< 0,05

Formação em SBV alguma vez na vida?

Já socorreu alguém em perigo de vida?

A licenciatura que frequenta disponibiliza formação em SBV?

Se sim, já frequentou essa Unidade Curricular? (a)

Nota. (a) = Percentagem calculada em função dos estudantes que responderam à questão (n = 459); SBV = Suporte básico de vida; M = Média; DP = Desvio padrão; t = Teste t para amostras independentes; F = Teste ANOVA; p = Significância estatística

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Discussão Os resultados sociodemográficos do presente estudo mostram uma população maioritariamente feminina. A população estudantil feminina é a predominante no ensino superior designadamente nos cursos da saúde. Um fraco nível de conhecimento sobre SBV em estudantes do ensino superior que frequentam cursos de saúde tem sido relatado em diversos países (Al-Mohaissen, 2017; Alanazi et al., 2014; Mejia et al., 2016) e em Portugal as investigações sobre esta temática são escassas. Relativamente aos conhecimentos sobre SBV, e numa escala de 0 a 20, obteve-se uma média de 11,79 pontos (DP = 3,84). Traduzindo essa pontuação para uma escala de 0 a 100 obtém-se 58,95 pontos. Tendo por base a relação entre o nível de conhecimento e o sexo, verificamos que os resultados obtidos estão em consonância com vários estudos realizados em estudantes da área das ciências da saúde (Khader et al., 2016; Mejia et al., 2016), não se tendo encontrado diferenças estatisticamente significativas. Os resultados do presente estudo apontam para diferenças significativas, entre os distintos cursos da amostra, relativamente aos conhecimentos dos estudantes. Em relação ao curso frequentado, resultados semelhantes foram relatados por um estudo que encontrou melhores conhecimentos em estudantes de enfermagem, seguindo-se os estudantes dos cursos de ciências laboratoriais, fisioterapia e radiologia (Khader et al., 2016). Um maior nível de conhecimentos em estudantes de enfermagem, comparados com estudantes de farmácia, medicina, odontologia e fisioterapia foram também reportados num estudo levado a cabo na Arábia Saudita (Al-Mohaissen, 2017). A anos curriculares mais elevados correspondeu igualmente um maior conhecimento, facto que poderá ser atribuível à frequência de cursos de formação ou unidades curriculares temáticas bem como às experiências de aprendizagem que gradualmente os estudantes desenvolvem nos seus ensinos clínicos ou estágios, resultados semelhantes encontramos no estudo efetuado por Kadler et al. (2016). Neste estudo a maioria dos estudantes (57%) referiu ter feito formação em SBV em alguma fase das suas vidas, predominantemente na instituição de ensino superior que frequentam. Esta percentagem é superior à do estudo de Dixe e Gomes (2015), no qual, numa amostra de 1700 inquiridos portugueses, 17,8% referiram ter formação e experiencia em SBV. No estudo efetuado por Mejia et al. (2016), envolvendo uma amostra de estudantes de Medicina, encontraram uma taxa de formação de 42,9%. Os inquiridos que frequentaram formação em SBV apresentavam em média melhores conhecimentos, mas o mesmo não se verificou naqueles que referiram já ter socorrido alguém. A formação como influenciadora dos conhecimentos teóricos e habilidades práticas é corroborada em outros estudos (Al-Mohaissen, 2017; Kose et al., 2020). Neste estudo verificou-se que as pontuações médias obtidas no teste de conhecimentos são mais elevadas nos estudantes que frequentaram unidades curriculares onde se ministraram conteúdos de SBV. A este respeito Durak et al. (2006) desde há longa data defendem que a formação em

SBV deve ser feita precocemente na formação em cursos de medicina. O conhecimento adequado é fundamental para garantir medidas de socorro adequadas em PCR e os profissionais de saúde devem desenvolver competência e confiança para reanimar desde o início dos seus cursos (Saquib et al., 2019). Este estudo coloca em evidência que os estudantes que frequentaram formação em SBV, seja através de formação curricular ou extracurricular, foram aqueles que obtiveram pontuações médias mais elevadas no teste de conhecimentos sobre SBV. Este facto releva a importância da formação prévia nesta área, seja para atuação em ambiente comunitário ou em instituições de saúde. Atendendo a que os cursos de licenciatura na área da saúde possuem uma forte componente de estágio em serviços de saúde onde, devido à maior vulnerabilidade da pessoa em situação de doença, existe maior probabilidade de encontrar situações de PCR. Quando ocorre em instituições de saúde, o estudante deve conhecer os protocolos básicos da reanimação, designadamente o reconhecimento da situação, o acionar do sistema de emergência interna e a prestação da primeira ajuda, mobilizando os conhecimentos adquiridos. Na interpretação dos resultados devem ser consideradas algumas limitações do estudo. Sendo a amostragem não probabilística os resultados não podem ser extrapolados. Uma outra limitação prende-se com o facto de a avaliação dos conhecimentos ter sido feita apenas por questionário, que avalia principalmente conhecimentos teóricos e do domínio cognitivo e não o desempenho prático e as habilidades psicomotoras.

Conclusão Os estudantes dos cursos de saúde, como cidadãos e futuros profissionais, encontram-se na linha da frente, pelo que a avaliação dos seus conhecimentos em SBV torna-se pertinente. Nesta linha desenvolvemos uma investigação que teve como principal objetivo avaliar os conhecimentos sobre SBV em estudantes do ensino superior que frequentavam os cursos de licenciatura na área das ciências da saúde, e procurar associações entre o nível de conhecimentos e outras variáveis de contexto. Neste estudo a pontuação média dos conhecimentos dos estudantes universitários da área da saúde sobre SBV foi de 11,79 pontos (numa classificação de 0 a 20) . Concluiu-se que os conhecimentos são independentes do sexo, e variam conforme as licenciaturas e o ano curricular frequentado. Aqueles estudantes que frequentaram cursos ou formação em SBV, bem como os que abordaram conteúdos de SBV em unidades curriculares já frequentadas, foram os que apresentaram um maior nível de conhecimento. Face ao exposto considera-se que todos os planos de estudos deveriam contemplar a lecionação prévia dos referidos conteúdos antes dos estudantes iniciarem os ensinos clínicos/estágios. A formação extracurricular é decorrente da validação temporal destes cursos (SBV) que presentemente para Portugal é de cinco anos, conferida por entidades acreditadas pelo Instituto Nacional de Emergência Médica. Sugere-se o desenvolvimento desta temática através de no-

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vos estudos em cenários educativos do ensino secundário e superior. Encorajam-se estudos longitudinais com avaliação dos conhecimentos antes da formação, imediatamente após e avaliação de follow up para avaliar a eficácia dos programas formativos e a retenção de conhecimentos. Ao nível educativo sugere-se que a formação e treino em RCR se tornem matérias obrigatórias em todos os cursos de licenciatura na área das ciências da saúde, ressalvando que a capacitação em reanimação é também do domínio da responsabilidade individual pelo que os estudantes devem, neste campo, fazer formação extracurricular que vise a certificação contínua das suas aptidões. Contribuição de autores Concetualização: Preto, P. M., Magalhães, C. P., Fernandes, A. M. Tratamento de dados: Preto, P. M., Magalhães, C. P., Fernandes, A. M. Análise formal: Preto, P. M., Magalhães, C. P. Redação – rascunho original: Magalhães, C. P. Redação – análise e edição: Fernandes, A. M. Referências bibliográficas Al-Mohaissen, M. A. (2017). Knowledge and attitudes towards basic life support among health students at a Saudi women’s university. Sultan Qaboos University Medical Journal, 17(1), e59–e65. https:// doi.org/10.18295/squmj.2016.17.01.011 Alanazi, A., Alsalmah, M., Alsomali, O., Almurshdi, A., Alabdali, A., Al-Sulami, M., Al-Nemer, A., Al-Qusairy, A., Aloraibi, S., & Iqbal, Z. (2014). Poor Basic Life Support awareness among medical and college of applied medical sciences students necessitates the need for improvement in standards of BLS training and assessment for future health care providers. Middle-East Journal of Scientific Research, 21(5), 848–854. https://doi.org/10.5829/ idosi.mejsr.2014.21.05.82335 Alotaibi, O., Alamri, F., Almufleh, L., & Alsougi, W. (2016). Basic Life Support: Knowledge and attitude among dental students and staff in the College of Dentistry, King Saud University. Saudi Journal for Dental Research, 7(1), 51–56. https://doi.org/10.1016/j.sjdr.2015.06.001 Awadalla, N. J., Al Humayed, R. S., & Mahfouz, A. A. (2020). Experience of Basic Life Support among king khalid university health profession students, southwestern Saudi Arabia. International Journal of Environmental Research and Public Health, 17(13), 1–7. https://doi.org/10.3390/ijerph17134822 Bossaert, L., & Chamberlain, D. (2013). The European Resuscitation Council: Its history and development. Resuscitation, 84(10), 1291–1294. https://doi.org/10.1016/j.resuscitation.2013.07.025 Dixe, M. A., & Gomes, J. C. (2015). Knowledge of the Portuguese population on Basic Life Support and availability to attend training. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 49(4), 636–644. https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000400015 Durak, H., Çertug, A., Çalişkan, A., & Dalen, J. (2006). Basic Life Support skills training in a first year medical curriculum: Six years’ experience with two cognitive–constructivist designs. Medical Teacher, 28(2), e49–e58. https://doi.org/10.1080/01421590600617657 García-Suárez, M., Méndez-Martínez, C., Martínez-Isasi, S., Gómez-Salgado, J., & Fernández-García, D. (2019). Basic Life Support training methods for health science students: A systematic review.

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

Consulta de enfermagem pré-operatória: Implementação e avaliação

Preoperative nursing consultations: Implementation and evaluation Consulta preoperatoria de enfermería: Implementación y evaluación Diana Isabel Arvelos Mendes 1, 2 https://orcid.org/0000-0001-7239-8167 Cândida Rosa Clemente Ferrito 1 https://orcid.org/0000-0002-2834-8573

1 Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Portugal.

Hospital da Luz Lisboa, Lisboa, Portugal. 2

Resumo Enquadramento: O programa Enhanced Recovery After Surgery (ERAS) é um programa de cuidados perioperatórios, que objetiva melhorar resultados cirúrgicos e a recuperação do cliente. O enfermeiro tem uma intervenção importante nomeadamente na consulta pré-operatória. Objetivos: Planear, implementar e avaliar a consulta de enfermagem pré-operatória inserida no ERAS®. Metodologia: Estudo descritivo, quantitativo com três fases: planeamento (elaborados documentos orientadores); implementação (realizadas as consultas); avaliação, (através questionário e plataforma de auditoria). Duas amostras não probabilísticas, uma sem consulta e temporalmente anterior ao programa ERAS (n = 65) e outra com consulta (n = 93). Resultados: Realizadas 96 consultas, em que 74,2% dos clientes ficaram muito satisfeitos e 59,1% consideraram as informações transmitidas muito importantes. Se necessidade de nova cirurgia todos os clientes (100,0%) gostariam de voltar a ter consulta. Tempo médio de internamento reduziu de 7,09 para 6,73 dias (p = 0,044). Tempo de retorno à autonomia na mobilização diminuiu de 3,48 para 2,00 dias (p < 0,001). Conclusão: A consulta foi importante para os clientes, com elevados níveis de satisfação e com efeitos positivos no retorno à autonomia. Palavras-chave: enfermagem perioperatória; assistência centrada no paciente; recuperação pós-cirúrgica melhorada; assistência perioperatória; educação do paciente; satisfação do paciente Abstract Background: The Enhanced Recovery After Surgery (ERAS) program is a perioperative care pathway that aims to improve surgical outcomes and patient recovery. Nurses have a key role, particularly in preoperative consultations. Objectives: To plan, implement and evaluate the preoperative nursing consultation included in the ERAS program. Methodology: This is a descriptive, quantitative study with three phases: planning (development of guidance documents), implementation (consultations), and evaluation (through a questionnaire and audit platform). The study was conducted with two non-probability samples, one without consultations before the ERAS® program implementation (n = 65) and the other with consultations (n = 93). Results: Ninety-six consultations were held, with 74.2% of the patients reporting they were very satisfied and 59.1% considering the information transmitted very important. If new surgery was needed, all patients (100.0%) stated they would want a consultation. The mean length of hospital stay reduced from 7.09 to 6.73 days (p = 0.044), and the time to recover autonomy in mobilization decreased from 3.48 to 2.00 days (p < 0.001). Conclusion: The consultations were important for patients, had high levels of satisfaction, and positively impacted the recovery of autonomy. Keywords: perioperative nursing; patient-centered care; enhanced recovery after surgery; perioperative care; patient education as topic; patient satisfaction

Autor de correspondência Diana Isabel Arvelos Mendes E-mail: diana.arvelos.mendes@gmail.com

Recebido: 13.02.21 Aceite: 03.08.21

Resumen Marco contextual: El Enhanced Recovery After Surgery (ERAS) es un programa de cuidados perioperatorios destinado a mejorar los resultados quirúrgicos y la recuperación del cliente. El enfermero tiene una importante intervención en la consulta preoperatoria. Objetivos: Planear, implementar y evaluar la consulta de enfermería preoperatoria incluida en el ERAS®. Metodología: Estudio descriptivo, cuantitativo con tres fases: planeamiento (elaborados documentos orientadores); implementación (realizadas las consultas); evaluación (a través de cuestionario y plataforma de auditoría). Dos muestras no probabilísticas, una sin consulta y temporalmente anterior al programa ERAS (n = 65) y otra con consulta (n = 93). Resultados: Realizadas 96 consultas, en las que el 74,2% de los clientes quedaron muy satisfechos y el 59,1% consideraron las informaciones transmitidas muy importantes. En caso de necesitar una nueva intervención quirúrgica, todos los clientes (100,0%) desearían volver a tener consulta. El tiempo medio de internamiento se redujo de 7,09 a 6,73 días (p = 0,044). El tiempo de retorno a la autonomía en la movilización disminuyó de 3,48 a 2,00 días (p < 0,001). Conclusión: La consulta fue importante para los clientes, presentó altos niveles de satisfacción y tuvo efectos positivos en el retorno a la autonomía. Palabras clave: enfermería perioperatoria; atencion dirigida al paciente; recuperación mejorada después de la cirugía; atención perioperatória; educación del paciente; satisfacción del paciente Como citar este artigo: Mendes, D. I., & Ferrito, C. R. (2021). Consulta de enfermagem pré-operatória: Implementação e avaliação. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20216. https://doi.org/10.12707/RV20216

Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e20216 DOI: 10.12707/RV20216

pp. 1 - 8


Mendes, D. I. & Ferrito, C. R.

Introdução Na procura contínua da melhoria da qualidade dos cuidados prestados aos clientes cirúrgicos, foi criada, implementada e avaliada uma consulta de enfermagem pré-operatória em contexto hospitalar, integrada num programa de cuidados perioperatórios multiprofissional. Esta consulta de enfermagem é uma intervenção complexa e autónoma, que contempla um conjunto de atividades com a finalidade major de conhecer o cliente e de o informar sobre todo o seu percurso cirúrgico, atendendo às suas necessidades e expetativas e cujos resultados elencam num plano de cuidados multidisciplinar. Os objetivos definidos para este estudo foram: Planear a consulta inserida no ERAS® dirigida aos clientes de cirurgia colorretal; Implementar a consulta; Avaliar a consulta. Foram selecionados focos para a avaliação e a cada um deles corresponde um objetivo específico: avaliar a informação transmitida; avaliar a participação do cliente na recuperação; avaliar a satisfação do cliente; avaliar as implicações no retorno à autonomia na mobilização; e avaliar as implicações no tempo médio de internamento.

Enquadramento O enfermeiro é o profissional que se encontra melhor posicionado para informar o cliente através de uma linguagem adequada e por isso salienta-se a relevância de uma consulta de enfermagem com uma estrutura que atenda às caraterísticas e situação clínica de cada cliente (Gonçalves et al., 2017). Esta consulta enquadra-se no âmbito da enfermagem perioperatória, que engloba os cuidados de enfermagem dirigidos aos clientes durante o período pré-, intra- e pós-operatório. Integra um conjunto de intervenções realizadas em diferentes contextos hospitalares, com o objetivo de prestar os melhores e mais adequados cuidados ao cliente cirúrgico. Nos últimos anos, o conceito de enfermagem perioperatória evoluiu, tornando-se mais centrado no cliente, uma vez que espelha a preocupação de aproximar a prática das necessidades dos clientes (Arakelian et al., 2017). Assim, ao longo de todo o processo cirúrgico, os enfermeiros avaliam o cliente, recolhem, organizam e priorizam os dados, elaboram diagnósticos de enfermagem, identificam os resultados esperados para o cliente; e avaliam os resultados e as respostas do cliente (Rothrock, 2018). Por sua vez, o programa Enhanced Recovery After Surgery® (ERAS®) é um programa de cuidados perioperatórios que tem como objetivos diminuir o stress cirúrgico, promover/ manter o funcionamento fisiológico no pós-operatório e acelerar a recuperação depois da cirurgia (Gustafsson et al., 2019). Assenta em princípios como a prática baseada na evidência, em processos perioperatórios e numa abordagem multimodal e multiprofissional de trabalho em equipa e de auditoria de resultados (Ljungqvist & Hubner, 2018). Existem, além disso, guidelines internacionais que recomendam o ensino pré-operatório, otimização pré-operatória, diminuição do tempo de jejum pré-operatório, evicção do uso de fármacos opióides, reintrodução da

alimentação via oral precocemente, analgesia multimodal e mobilização precoce e agressiva, entre outros (Gustaffson et al., 2019). O ERAS® valoriza a intervenção de enfermagem em todo o percurso cirúrgico do cliente, com enfoque no ensino pré-operatório. Para assegurar este ensino considerou-se o planeamento e implementação de uma consulta de enfermagem pré-operatória, cumprindo as guidelines internacionais e assente nas necessidades, caraterísticas e expetativas dos clientes. A principal finalidade deste estudo foi implementar uma consulta de enfermagem pré-operatória assente numa filosofia patient centered care e simultaneamente, produzir conhecimento sobre esta temática, avaliando as implicações que esta intervenção tem para os clientes e para os seus resultados em saúde. O estudo desenvolveu uma intervenção baseada na melhor evidência disponível, prevendo identificação, aquisição e translação de conhecimento. Por outro lado, ao avaliar essa intervenção promove-se a qualidade do serviço prestado e uma maior adequação às caraterísticas dos clientes.

Metodologia Tipo de estudo Tratou-se de um estudo descritivo de natureza quantitativa com três fases: Fase 1: planeamento, que consistiu na elaboração de documentos de apoio à consulta (guia informativo para o cliente e orientação técnica para enfermeiros) baseados em pesquisa bibliográfica (realização de duas revisões tipo scoping, uma sobre o ensino pré-operatório e outra sobre as intervenções de enfermagem no programa ERAS®) e em guidelines internacionais; e formação às equipas de enfermagem; Fase 2: implementação da intervenção no contexto de prestação de cuidados; Fase 3: avaliação da consulta, de acordo com os focos selecionados. População, participantes, processo de amostragem: Foram considerados os clientes propostos a cirurgia colorretal de uma instituição hospitalar privada. Selecionaram-se 2 amostras não aleatórias, por conveniência: Amostra pré-ERAS®: clientes cirúrgicos sem consulta (n = 65); Amostra ERAS®: clientes cirúrgicos com consulta (n = 93). Para a amostra ERAS® foram definidos os seguintes critérios de inclusão: ter mais de 18 anos, estar consciente e orientado e ser alfabetizado. Como critérios de exclusão: já ter realizado uma cirurgia no âmbito do programa ERAS® anteriormente. A amostra pré-ERAS® foi composta por clientes submetidos a cirurgia colorretal, mas que não foram alvo da consulta de enfermagem. Variáveis Na caracterização das amostras consideraram-se variáveis de atributo: género (feminino ou masculino); intervalos de idade (30-49 anos, 50-69 anos e 70-89 anos); classificação anestésica American Society of Anesthesiologists (ASA 1-2 e ASA 3-4), área cirúrgica (cólon ou reto); e abordagem cirúrgica (aberta, laparoscópica, robótica

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e outra/desconhecida). A consulta de enfermagem foi considerada como variável independente e definiram-se como variáveis dependentes: informação transmitida, participação na recuperação, a satisfação, o tempo médio de internamento e o tempo de recuperação da autonomia. Estas variáveis foram consideradas como focos de avaliação da consulta: (a) Informação transmitida - importância atribuída à informação, adequação da quantidade de informação, temas considerados mais importantes; (b) Participação do cliente na recuperação - integrando uma filosofia patient centered care, o engaging do cliente na sua recuperação é vital, avaliar a participação dos clientes na sua recuperação e se esta foi influenciada pela informação transmitida na consulta; (c) Satisfação do cliente - avaliou-se o nível de satisfação e se o cliente, em caso de nova cirurgia, gostaria de voltar a ter esta consulta; (d) Retorno da autonomia na mobilização - sendo a mobilização precoce um dos pressupostos do ERAS®, avaliou-se se a consulta e a informação transmitida no pré-operatório influenciaram a recuperação da autonomia na mobilização; (e) Tempo médio de internamento: depende de vários fatores/profissionais, mas considerou-se relevante avaliar se a consulta poderá ter tido influência neste resultado, uma vez que grande parte dos estudos publicados sobre o ERAS® mencionam esta variável. Instrumentos de recolha de dados No processo de avaliação da consulta foram utilizados dois instrumentos: Questionário - construído especificamente de acordo com os focos de avaliação, que foi aplicado à amostra ERAS® (clientes com consulta); Plataforma de auditoria do programa ERAS® - permite comparar resultados entre as duas amostras (ERAS® e pré-ERAS®). Atendendo às variáveis dependentes foi realizada uma pesquisa para selecionar um instrumento que permitisse a sua avaliação, uma vez que não foi encontrado nenhum instrumento de recolha de dados que se adequasse, foi desenvolvido um questionário de acordo com as variáveis a avaliar. O questionário é constituído por duas partes, uma de caraterização dos participantes e outra com questões de resposta fechada (escala de tipo likert). Apenas uma questão permitia mais do que uma resposta, na identificação dos temas de ensino que o cliente considerou mais importantes na consulta. O questionário foi submetido a pré-teste da qual resultou a alteração de uma expressão que foi identificada pelos participantes como pouco clara. A plataforma de auditoria é exclusiva do ERAS®, desenvolvida por uma entidade internacional, que permite avaliar indicadores referentes a todo o percurso cirúrgico do cliente. Destes consideraram-se: o tempo em dias que cada cliente demora a alcançar a sua autonomia na mobilização e o tempo de internamento (indicadores analisados e comparados entre as duas amostras). Procedimentos de recolha e análise dos dados O questionário foi aplicado à amostra ERAS® entre maio de 2018 e junho de 2019. A sua aplicação consistiu na distribuição do instrumento ao cliente 1 a 2 dias antes da data prevista para alta, acompanhada de uma explicação acerca do estudo. Ao cliente foi reservada a possibilida-

de de preencher o questionário ou não (sem qualquer prejuízo) e se participasse o questionário era devolvido no momento da alta, dentro de envelope fechado na receção administrativa do serviço de internamento. Os dados obtidos nos questionários e pela plataforma foram analisados recorrendo ao software IBM SPSS Statistics, versão 23.0 e, posteriormente, apresentados sob a forma de gráficos e tabelas. Considerações éticas Solicitaram-se autorizações à Comissão de Investigação Clínica (obtida em 22/01/2018) e à Comissão de Ética para a Saúde (Ref. CES/11/2018/ME, em 05/03/2018) da respetiva instituição hospitalar, ambas com pareceres positivos. A cada cliente que integrou a amostra foi solicitado o consentimento livre e esclarecido (artigo 5.º Resolução da Assembleia da República n.º 1/2001).

Resultados Na fase de planeamento da consulta foram elaborados um guia informativo para o cliente e uma orientação técnica para enfermeiros, sustentados teoricamente pelas revisões efetuadas. Nesta fase foram ainda desenvolvidas sessões de formação para os enfermeiros abrangendo mais de 140 profissionais. Estas sessões deram a conhecer a consulta, o programa e as suas principais implicações para a prática de enfermagem e obtiveram uma avaliação muito positiva por parte dos participantes com uma média total de 4,8 (1 a 5). A consulta foi implementada entre maio de 2018 e junho de 2019. Foram realizadas consultas a 96 clientes propostos para cirurgia colorretal, todas as consultas foram realizadas pela investigadora com duração média de 40 minutos e aproximadamente uma a duas semanas antes da cirurgia. A consulta dividiu-se em três momentos: (1) recolha de informação sobre o cliente e contexto envolvente, (2) avaliação física, e (3) ensino pré-operatório com transmissão da informação e esclarecimento de dúvidas. A avaliação foi efetuada através do questionário aplicado à amostra que participou na consulta – amostra ERAS® e, atendendo aos critérios de exclusão e inclusão, consideraram-se um total de 93 questionários. Foram excluídos três clientes que realizaram anteriormente uma cirurgia ao abrigo do ERAS® e, deste modo, já conheciam a dinâmica da consulta. Por sua vez, da plataforma, foram recolhidos dados da amostra ERAS® e pré-ERAS® (65 clientes sem consulta de enfermagem). Para a avaliação do retorno à autonomia e ao tempo médio de internamento, compararam-se as amostras pré-ERAS® e ERAS® do ponto de vista estatístico. Selecionaram-se variáveis para testar a comparabilidade: género, intervalos de idade, classificação anestésica ASA, área cirúrgica e abordagem cirúrgica. Avaliou-se a hipótese de existir relação entre estas variáveis e ser ou não da amostra pré-ERAS® ou ERAS® recorrendo ao teste Qui-quadrado. De acordo com os resultados descritos na Tabela 1 considerou-se ser possível comparar as duas amostras.

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Tabela 1 Comparação entre as amostras pré-ERAS® e ERAS® Pré-ERAS (n = 65)

Género

Intervalos de idade

Classificação ASA Área cirúrgica

Abordagem cirúrgica

ERAS (n = 93)

p-value

n

%

n

%

Feminino

32

49,2

41

44,1

Masculino

33

50,8

52

55,9

30-49 anos

7

10,8

13

14,0

50-69 anos

35

53,9

29

31,2

70-89 anos

23

35,3

51

54,8

ASA 1-2

52

80,0

79

84,9

ASA 3-4

13

20,0

14

15,1

Cólon

51

78,5

67

72,0

Reto

14

21,5

26

28,0

Aberta

9

13,8

11

11,8

Laparoscópica

48

73,8

60

64,5

Robótica

7

10,8

13

14,0

Outras/Desconhecida

1

1,6

9

9,7

p = 0,812*

p = 0,140*

p = 0,416* p = 0,361*

p = 0,059*

Nota. *Teste Qui quadrado; ASA = American Society of Anesthesiologists; ERAS® = Enhanced Recovery After Surgery.

Os resultados da avaliação da consulta são apresentados de acordo com os objetivos específicos do estudo. Avaliar a informação transmitida na consulta Importância atribuída à informação transmitida: 59,1% (n = 55) muito importante; 34,4% (n = 32) importante e 6,5% (n = 6) razoavelmente importante. Nenhum cliente referiu que as informações não foram importantes. Sobre a quantidade de informação transmitida, 50,5% (n = 47) consideraram quantidade adequada; 38,7% (n = 36) consideraram muita informação e 10,8% (n = 10) consideraram quantidade razoável. Nenhum cliente considerou pouca informação. Relativamente aos temas do ensino havia possibilidade de cada cliente assinalar mais de um tema, sendo que o total de respostas assinaladas foi 461 (100,0%), em que cada cliente assinalou em média cinco temas. Os considerados mais importantes foram: bebida energética no pré-operatório para diminuir o tempo de jejum 16,3% (n = 75); utilização de pastilha elástica/rebuçado para estimulação gastrointestinal 13,0% (n = 60); dor e gestão da dor 12,8% (n = 59); 9,5% (n = 44) mobilização precoce no pós-operatório. O tema da preparação para a alta, que se pensou que poderia ser um dos mais importantes para o cliente contou apenas com 2,8% (n = 13) de respostas. Relativamente à oportunidade de esclarecer as suas dúvidas, 65,6% (n = 61) concordaram inteiramente que tiveram oportunidade de esclarecer as dúvidas, 30,1% (n = 28) concordaram e 4,3% (n = 4), não concordaram nem discordaram. Nenhum cliente manifestou ter ficado com dúvidas por esclarecer após a consulta.

Avaliar a participação do cliente na recuperação No que toca à influência da informação na colaboração do cliente, 59,1% (n = 55) concordaram inteiramente que a informação influenciou positivamente a sua colaboração nos cuidados pós-operatórios, 31,2% (n = 29) concordaram e 9,7% (n = 9) não concordaram nem discordaram. Nenhum cliente discordou. Em relação à participação ativa do cliente na recuperação: 60,4% (n = 56) concordou inteiramente que teve uma participação ativa na sua recuperação após a cirurgia e 26,9% (n = 25) concordou. Cerca de 12,9% (n = 12) ficaram indiferentes a esta questão. Avaliar a satisfação do cliente com a consulta Sobre a importância da consulta para o cliente, 62,4% (n = 58) consideram a consulta muito importante e 31,2% (n = 29) importante, cerca de 6,5% (n = 6) razoavelmente importante. Nenhum cliente considerou pouco ou nada importante. Em termos do nível de satisfação, 74,2% (n = 69) ficaram muito satisfeitos e 19,4% (n = 18) satisfeitos com a consulta, apenas 6,5% (n = 6) razoavelmente satisfeitos. 100,0% (n = 93) dos clientes referiu que em caso de necessidade de outra intervenção cirúrgica, gostaria de ter novamente a consulta de enfermagem. Avaliar as implicações da consulta no retorno à autonomia na mobilização Admitindo um intervalo de confiança de 95% e um valor de p = 0,05, esta variável demonstrou não ter uma distribuição normal (p < 0,001, pelo teste de Shapiro-Wilk). Na amostra pré-ERAS® o tempo médio que o cliente demorou a recuperar a sua autonomia foi 3,48 dias, a

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mediana foi 3 com um valor mínimo de 1 e máximo de 11 dias. Por sua vez, a amostra ERAS® contemplou um tempo médio até recuperar a autonomia de 2,00 dias, a mediana foi 2, com um valor mínimo de 1 e máximo de

14 dias conforme Figura 1. Considerou-se que a redução no tempo até recuperar a autonomia pós-operatória foi estatisticamente significativa (p < 0,001, teste de Mann-Whitney).

Figura 1 Gráfico com resultados do tempo médio de recuperação da autonomia na mobilização

No que respeita à autonomia na mobilização, avaliou-se ainda a percentagem de clientes que realizou o primeiro levante pós-operatório no próprio dia da cirurgia, que correspondeu a 80,6% (n = 75) na amostra ERAS® e a 3,2% (n = 3) na pré-ERAS®. Avaliar as implicações da consulta no tempo médio de internamento Admitindo um intervalo de confiança de 95% e um valor de p = 0,05, esta variável também demonstrou não ter uma distribuição normal (p < 0,001, pelo teste de

Shapiro-Wilk). Na amostra pré-ERAS® o tempo médio de internamento foi 7,09 dias, a mediana foi 5, com um valor mínimo de 3 e máximo de 36 dias até à alta. A amostra ERAS® teve um tempo médio de internamento de 6,73 dias, a mediana foi 4, com um valor mínimo de 2 e máximo de 25 dias conforme Figura 2. Considerou-se que a redução do tempo de internamento foi estatisticamente significativa através da aplicação do teste de Mann-Whitney (p = 0,044). No entanto, apesar deste valor de p, deve salientar-se que a existência de vários outliers na Figura 2 pode atribuir alguma fragilidade à análise desta variável.

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Figura 2 Gráfico com resultados do tempo médio de internamento

Discussão As consultas apresentaram uma duração média de 40 minutos o que está de acordo com a literatura, com oscilações entre 30 minutos por consulta (Louw et al., 2013) e de 33 minutos de média por consulta (Petterson et al., 2018). A consulta realizou-se cerca de 2 semanas antes da data prevista para a cirurgia, conforme previsto no planeamento. O ensino pré-operatório foi bastante valorizado por todas as partes e realça-se que é essencial os clientes obterem informação detalhada do seu interesse, de forma a se sentirem mais preparados para gerir os cuidados necessários no pós-operatório e para o período de recuperação em casa (Deng et al., 2019). Relativamente à avaliação da consulta, a maioria dos clientes considerou a consulta como muito importante/importante o que pode relacionar-se com o facto da transmissão de informação puder proporcionar um aumento da sensação de controlo do cliente e também porque cada vez mais os clientes expressam interesse em ter informação adequada para integrarem as decisões de saúde que lhe dizem respeito (Forsberg et al., 2015). Por sua vez, a quantidade de informação transmitida demonstrou-se, na sua maioria, ser adequada. Sabe-se que transmitir a quantidade de informação adequada é fundamental, uma vez que informação em excesso pode também dificultar o entendimento do cliente (Pereira et al., 2016). Em relação aos temas abordados na consulta, e que o cliente considerou mais importantes, salientam-se a ingestão de bebida energética antes do procedimento cirúrgico como tema mais assinalado, eventualmente por divergir do conceito predefinido da obrigatoriedade de um jejum prolongado antes da cirurgia. Esta medida é importante no sentido de diminuir a resposta de stress orgânico provocado pela cirurgia, assim como se reconhece um impacto

positivo na recuperação pós-operatória também em termos de resistência à insulina e bem-estar do cliente (Sena et al., 2013). O segundo tema mais assinalado foi a estimulação gastrointestinal através da pastilha elástica/rebuçado no pós-operatório, o que se considera poder estar associado ao facto de despertar curiosidade, e ser uma indicação pouco conhecida. A mobilização precoce e agressiva foi um aspeto bastante mencionado pelos clientes, pois durante a consulta o cliente é informado que deverá fazer o primeiro levante ainda no dia da cirurgia, o que causou alguma admiração. A mobilização precoce do cliente no pós-operatório tem sido considerada como uma medida importante na recuperação e diminuição de complicações pós-operatórias (Petterson et al., 2017), dependendo acentuadamente da equipa de enfermagem, o que reforça a importância das sessões de formação incluídas neste estudo. A maioria dos clientes revelou ter tido oportunidade de esclarecer as suas dúvidas na consulta o que foi considerado muito positivo e salientou a importância de existir um momento para esclarecimento de dúvidas durante o ensino pré-operatório (Pereira et al., 2016). No que diz respeito à participação dos clientes na recuperação, a maioria considerou que a informação transmitida influenciou a sua colaboração nos cuidados, sendo que quando não tem informação suficiente é mais difícil para o cliente participar de forma ativa. Constata-se que é fundamental criar um sistema de transmissão de informação estruturado e realista que permita ao cliente melhorar a sua adesão ao plano de cuidados e assumindo-se que uma melhor adesão ao plano pode conduzir a melhores resultados em saúde (Cavallaro et al., 2018). A maioria dos clientes consideraram ter tido uma participação ativa na sua recuperação, sendo que a aceitação e participação do cliente no processo de recuperação é crucial em programas de recuperação

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acelerada (Hughes et al., 2015). Se o cliente sentir que as suas caraterísticas e desejos são tidos em consideração, mais facilmente se envolve no processo cirúrgico, tornando-se, assim, mais participativo (Arakelian et al., 2017). Na avaliação da satisfação verificou-se que a maioria dos clientes considerou a consulta como muito importante/ importante, o que reforça a relevância de avaliar as intervenções, incluindo a perceção do cliente e, deste modo, realizar uma melhor adaptação, visando melhores resultados (Kruse et al., 2009). Inferiu-se que a maioria dos clientes ficou muito satisfeito com a consulta, o que foi muito positivo, dado que este é um indicador direto de qualidade e permite desenvolver estratégias e serviços adequados às necessidades e expetativas dos clientes (Chahal & Mehta, 2013). Uma das formas mais comuns e simples de proceder a esta avaliação é sob a forma de questionários escritos e posterior tratamento dos dados (Jones et al., 2017), de acordo com o que foi dinamizado neste estudo. Evidenciou-se que todos os clientes inquiridos, caso necessitassem de outra cirurgia, gostariam de voltar a ter a consulta o que se julga estar associado à filosofia patient centered care que pressupõe a avaliação de satisfação e experiência do cliente no processo de cuidados (Van Zelm et al., 2018). A consulta influenciou positivamente o tempo de retorno à autonomia na mobilização após a cirurgia, promovendo uma diminuição significativa, o que pode estar associado ao facto de os clientes estarem mais informados, mais preparados e mais confiantes (Gillis et al., 2017). Implementar uma consulta que permite conhecer o cliente, identificar as suas fraquezas e potencialidades e alocar adequadamente recursos pode potenciar a participação do cliente na sua recuperação, bem como acelerá-la (Petersson et al., 2018). A responsabilidade do levante no dia da cirurgia é em cerca de 80% do enfermeiro e 20% do cliente (Roulin et al., 2017) e neste estudo, foi transmitida informação ao cliente sobre a mobilização precoce e também realizada formação aos enfermeiros, o que se considera ter sido vital para os resultados positivos. Verificou-se uma tendência decrescente na diminuição do tempo médio de internamento. A literatura apresenta tempos médios de internamento entre os 12-15 dias na cirurgia colorretal na maioria dos países (Ljungqvist & Hubner, 2018). Neste sentido, considera-se que os resultados em ambas as amostras já se revelavam bastante positivos. Embora as intervenções de enfermagem tenham efeitos diretos no decurso do internamento, este é um aspeto que depende de vários outros intervenientes e fatores. Julga-se ainda que esta tendência decrescente pode estar associada também ao conceito de empowerment do cliente, com o ensino pré-operatório, com a expetativa e participação do cliente nos cuidados. Este estudo proporcionou uma avaliação detalhada da informação transmitida ao cliente e que temas o cliente considera mais importantes para o ensino pré-operatório o que é crucial numa consulta de enfermagem assente na filosofia patient centered care. Salienta-se também que se relacionou a consulta de enfermagem diretamente com resultados em saúde, como a autonomia na mobilização e o tempo médio de internamento, o que é cada vez mais uma preocupação das entidades prestadoras de cuidados

de saúde, abrindo, deste modo, caminho para promover a avaliação de intervenções de enfermagem e inferir resultados sensíveis a estes cuidados. A principal limitação do estudo foi a técnica de amostragem. Uma vez que a partir do momento em que a consulta passou a ser realizada, todos os clientes cirúrgicos da área colorretal passaram a integrá-la (por questões institucionais), constituindo-se deste modo uma amostra por conveniência e, por sua vez, a amostra pré-ERAS® corresponde a um conjunto de clientes temporalmente anteriores à implementação da consulta.

Conclusão A implementação da consulta de enfermagem pré-operatória, baseada na melhor evidência disponível em contexto hospitalar, promoveu uma mudança na prática de cuidados. Contribuiu para uma melhoria dos processos e dos resultados através de uma melhor preparação do cliente, mais informação e maior colaboração. No pós-operatório os clientes retomaram a sua autonomia na mobilização mais precocemente, mais informados, mais participativos, com uma experiência cirúrgica mais positiva e com uma tendência para diminuir o tempo médio de internamento. Os resultados obtidos motivaram o reconhecimento desta intervenção de enfermagem, suscitando interesse na equipa multidisciplinar promovendo assim a expansão da consulta a outras áreas cirúrgicas. Sugere-se que a consulta possa ser importante para melhorar os resultados de clientes de outras áreas cirúrgicas, sobretudo de cirurgias complexas nas quais se prevejam tempos médios de internamento elevados e recuperações mais longas e difíceis. Constatou-se também uma mudança na prática de cuidados pós-operatórios na instituição, com a recuperação mais precoce da autonomia na mobilização e antecipação do primeiro levante pós-operatório maioritariamente no dia da cirurgia. Considera-se a importância de efetuar esta consulta em outras áreas cirúrgicas, e que esta seja avaliada através de outros focos de atenção, como por exemplo, o autocuidado ou a gestão de sintomas no pós-operatório ou ainda a perspetiva da equipa de saúde. Contribuição de autores Concetualização: Mendes, D. I., Ferrito, C. R. Tratamento de dados: Mendes, D. I. Análise formal: Mendes, D. I., Ferrito, C. R. Investigação: Mendes, D. I. Metodologia: Mendes, D. I., Ferrito, C. R. Administração do projeto: Mendes, D. I. Supervisão: Ferrito, C. R. Validação: Ferrito, C. R. Redação – rascunho original: Mendes, D. I. Redação – análise e edição: Mendes, D. I., Ferrito, C. R. Agradecimento Ordem dos Enfermeiros, Secção Sul. Dr. Tiago Domingues pelo apoio prestado a nível do tratamento de dados.

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Mendes, D. I. & Ferrito, C. R.

Nota Este estudo foi distinguido com uma Menção Honrosa pela Ordem dos Enfermeiros – Secção Sul, no âmbito do Prémio de Investigação em Enfermagem Mariana Diniz de Sousa, no ano de 2020. Referências bibliográficas Arakelian, E., Swenne, C. L., Lindberg, S., Rudolfsson, G., & von Vogelsang, A. C. (2017). The meaning of person‐centred care in the perioperative nursing context from the patient’s perspective: An integrative review. Journal of Clinical Nursing, 26(17-18), 2527-2544. https://doi.org/10.1111/jocn.13639 Cavallaro, P. M., Milch, H., Savitt, L., Hodin, R. A., Rattner, D. W., Berger, D. L., Kunitake, H., & Bordeianou, L. G. (2018). Addition of a scripted pre-operative patient education module to an existing ERAS pathway further reduces length of stay. The American Journal of Surgery, 216(4), 652-657. https://doi. org/10.1016/j.amjsurg.2018.07.016 Chahal, H., & Mehta, S. (2013). Developing patient satisfaction construct for public and private health care sectors. Journal of Services Research, 13(2). https://web.s.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?vid=0&sid=dc59d15d-a92b-4cdb-b932-ea99409e1f9d%40redis Deng, X., Liang, S., Li, H., Gouda, D., Zhu, T., & Xiao, K. (2019). A cross-sectional study to assess the difference in perception of day surgery information between patients and medical staff in China. Patient Preference and Adherence, 13, 381-387. https:// doi.org/10.2147/ppa.s196674 Forsberg, A., Vikman, I., Wälivaara, B. M., & Engström, Å. (2015). Patients’ perceptions of quality of care during the perioperative procedure. Journal of Perianesthesia Nursing, 30(4), 280-289. https://doi.org/10.1016/j.jopan.2014.05.012 Gillis, C., Gill, M., Marlett, N., MacKean, G., GermAnn, K., Gilmour, L., Nelson, G., Wasylak, T., Nguyen, S., Araujo, E., Zelinsky, S., & Gramlich, L. (2017). Patients as partners in Enhanced Recovery After Surgery: A qualitative patient-led study. BMJ Open, 7(6), e017002. http://dx.doi.org/10.1136/bmjopen-2017-017002 Gonçalves, M. A., Cerejo, M. D., & Martins, J. C. (2017). A influência da informação fornecida pelos enfermeiros sobre a ansiedade pré-operatória. Revista de Enfermagem Referência, 4(14), 17-26. https://doi.org/10.12707/RIV17023 Gustafsson, U. O., Scott, M. J., Hubner, M., Nygren, J., Demartines, N., Francis, N., Rockall, T. A., Young-Fadik, T. M., Hill, A. G., Soop, M., Boer, H. D., Urman, R. D., Chang, G. J., Fichera, A., Kessler, H., Grass, F., Whang, E. E., Fawcett, W. J., Carli, F., . . . Ljungqvist, O. (2019). Guidelines for perioperative care in elective colorectal surgery: Enhanced Recovery After Surgery (ERAS®) society recommendations: 2018. World Journal of Surgery, 43(3), 659-695. https://doi.org/10.1007/s00268-018-4844-y Hughes, M., Coolsen, M. M., Aahlin, E. K., Harrison, E. M., McNally, S. J., Dejong, C. H. C., Lassen, K., & Wigmore, S. J. (2015). Attitudes of patients and care providers to enhanced recovery

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

Da subjacência à não implicação do processo de enfermagem na construção da identidade profissional dos enfermeiros

From subjacency to the lack of involvement of the nursing process in the construction of nurses’ professional identity De lo subyacente a la no implicación del proceso de enfermería en la construcción de la identidad profesional de los enfermeros Leidiane Moreira Alves 1 https://orcid.org/0000-0001-5229-2437 Maria Lúcia Silva Servo 2 https://orcid.org/0000-0003-4809-3819 Deybson Borba de Almeida 2 https://orcid.org/0000-0002-2311-6204

Hospital Geral de Vitória da Conquista, Vitória da Conquista, Bahia, Brasil

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Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Bahia, Brasil

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Resumo Enquadramento: O processo de enfermagem é um instrumento de trabalho fundamentado em conhecimentos científicos para planeamento dos cuidados e oportunidade de construção da identidade profissional dos enfermeiros. Objetivo: Identificar os motivos da não implicação do processo de enfermagem na construção da identidade profissional dos enfermeiros. Metodologia: Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, realizado com 10 enfermeiros que trabalham numa unidade de terapia intensiva neonatal de um hospital público do interior da Bahia, Brasil. A entrevista semiestruturada foi utilizada como técnica de colheita de dados. Para a análise de dados foi utilizada a hermenêutica-dialética, alicerçada no referencial teórico-filosófico de Claude Dubar, com apoio do software Nvivo 11. Resultados: Emergiram três categorias: Uma compreensão instrumental tecnicista; Entre a subjacência e a incompreensão; e A procura da identidade e a sua incompreensão. Conclusão: A não implicação do processo de enfermagem na construção da identidade profissional desses enfermeiros acontece devido à incorporação mecanizada, rotinizada e não reflexiva do processo de enfermagem no ambiente de trabalho, traduzidas pela incompreensão do processo identitário da profissão. Palavras-chave: processo de enfermagem; identificação social; enfermeiros e enfermeiras Abstract Background: The nursing process (NP) is a care planning tool based on scientific knowledge, which also constitutes an opportunity for nurses to build their professional identity. Objective: To identify the reasons why the NP is not used to build nurses’ professional identity. Methodology: This is a qualitative study conducted with ten nurses working in a neonatal intensive care unit of a public hospital from the interior of Bahia, Brazil. Semi-structured interviews were used for data collection. The data analysis was performed using the hermeneutic-dialectic approach, based on Claude Dubar’s theoretical-philosophical framework, and with the support of Nvivo 11 software. Results: Three categories emerged: a technicist instrumental understanding, between subjacency and lack of understanding, and the search for identity and its lack of understanding. Conclusion: The lack of involvement of the NP in the construction of these nurses’ professional identity results from the routine, automatic, and non-reflective use of this tool in the work environment due to the lack of understanding the profession’s identity process. Keywords: nursing process; social identification; nurses

Autor de correspondência Leidiane Moreira Alves E-mail: leideenf@yahoo.com.br Recebido: 05.11.20 Aceite: 12.07.21

Resumen Marco contextual: El proceso de enfermería es una herramienta de trabajo basada en el conocimiento científico para planificar los cuidados y una oportunidad para construir la identidad profesional de los enfermeros. Objetivo: Identificar los motivos de la no implicación del proceso de enfermería en la construcción de la identidad profesional de los enfermeros. Metodología: Se trata de un estudio cualitativo, realizado con 10 enfermeros que trabajan en una unidad de cuidados intensivos neonatales de un hospital público del interior de Bahía, Brasil. Se utilizó la entrevista semiestructurada como técnica de recogida de datos. Para el análisis de los datos se utilizó la hermenéutica-dialéctica, basada en el marco teórico-filosófico de Claude Dubar, con el apoyo del software Nvivo 11. Resultados: Surgieron tres categorías. Una comprensión instrumental tecnicista; Entre lo subyacente y la incomprensión, y La búsqueda de la identidad y su incomprensión. Conclusión: La no implicación del proceso de enfermería en la construcción de la identidad profesional de estos enfermeros se produce por la incorporación mecanizada, rutinaria y no reflexiva del proceso de enfermería en el ámbito laboral, traducido por la falta de comprensión del proceso de identidad de la profesión. Palabras clave: proceso de enfermería; identificación social; enfermeros y enfermeras Como citar este artigo: Alves, L. M., Servo, M. L., & Almeida, D. B. (2021). Da subjacência à não implicação do processo de enfermagem na construção da identidade profissional dos enfermeiros. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20180. htts://doi.org/10.12707/RV20180

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Introdução A identidade profissional do enfermeiro tem vindo a ser construída no decorrer das suas transformações históricas como profissão, a partir dos contextos socioeconómicos, políticos e culturais que permeiam a enfermagem como ciência. É uma construção social permanente, que envolve um processo de autorreconhecimento das suas competências, da sua inserção no ambiente de trabalho, das suas expectativas e das suas vivências individuais e coletivas. Essa trajetória de estruturação da identidade profissionaldo enfermeiro é marcada por avanços e retrocessos. O processo de enfermagem (PE) é um exemplo de avanço, porque através do uso deste dispositivo como orientador do planejamento do cuidado e guiado por teorias que o fundamentam, os enfermeiros fortalecem e contribuem para a sua prática profissional . O PE é definido como um instrumento metodológico, orientador do cuidado profissional de enfermagem e dos registos da prática profissional (Resolução Cofen nº 358/2009 do Conselho Federal de Enfermagem, 2009). No entanto, no quotidiano dos serviços, o PE é comumente percebido como atividade burocrática e sobrecarga de trabalho, sendo utilizado para o cumprimento da rotina do serviço e, consequentemente, pouco valorizado pela equipa de enfermagem Neste sentido, estudos que fomentem a discussão da identidade profissional dos enfermeiros em diferentes ambientes de atuação provocam reflexão e fundamenta a compreensão do exercício profissional, visto que estudos revelam que profissionais que alcançam a perceção da sua identidade são mais confiantes na transformação de práticas (Nocerino et al., 2020). Assim, com o intuito de preencher as lacunas de conhecimento existentes e produzir novos saberes que possam provocar mudanças nas atividades profissionais, o presente estudo teve como objetivo identificar os motivos da não implicação do PE na construção da identidade profissional dos enfermeiros.

Enquadramento Na perspetiva sociológica de Claude Dubar (2005), a construção da identidade profissional dá-se pela influência de dois processos: o processo biográfico e o processo relacional. O primeiro refere-se a uma construção gradativa de identidades sociais e profissionais, a partir das categorias oferecidas por instituições como família, escola, mercado de trabalho e empresa. O processo identitário relacional reporta-se na identificação dentro de um ambiente legitimado, das identidades ligadas aos saberes, competências e retratos de si apontados e declarados pelos sujeitos nas instituições. A interação desses processos é que constrói numa perspetiva mutável a identidade profissional. Para tanto, refletir sobre a construção da identidade profissional dos enfermeiros é reconhecer todo o contexto histórico e os aspectos socioeconómicos, políticos e culturais dessas trabalhadoras a partir da profissionalização da enfermagem.

Tal, é reforçado por Figueiredo e Peres (2019) quando reportam que para compreender as minúcias da evolução da enfermagem é preciso resgatar a sua história. Assim, a forma como um grupo profissional específico se mostra e se reconhece coletivamente não está condicionado a possíveis definições, pelo contrário, compreende um processo complexo que envolve passado e presente, olhar intrínseco e extrínseco, anseios e insatisfações do grupo nas relações sociais (Queirós, 2015). Logo, as relações sociais estabelecidas nos serviços reforçam a terceira tese de Dubar (2012), quando o autor interpreta que o trabalho pode ser orientador, em determinadas circunstâncias no exercício de uma função, como eixo estrutural para o desenvolvimento de habilidades, partilha de experiências e produção de conhecimentos vindouros. Nesta direção, Motta e Freitas (2016) afirmam que o PE é proposto como eixo estruturante do trabalho do enfermeiro, pois implica diretamente na qualidade da assistência e na prática profissional, produz e organiza o cuidado de modo sistematizado, possibilitando um reconhecimento social, delimita-se área de atuação à medida que colabora com a manutenção das conquistas legais da profissão e, consequentemente, fortalece a sua identidade profissional à medida que a solidifica. Assim, o PE configura-se como uma ferramenta de gestão, assumindo um papel de alicerce nos processos de tomada de decisão para a organização do trabalho do corpo de enfermagem (Pimenta & Souza, 2017). É importante reforçar que todos os membros da equipa de enfermagem deveriam compreender todas as fases do PE, como também participar efetivamente na sua construção, outorgando-lhe racionalidade científica, contribuindo para comprovar a especificidade saber/fazer da profissão (Gutiérrez & Morais, 2017). Deste modo, o PE mobiliza forças para a valorização do trabalho dos enfermeiros e, consequentemente, contribui para a construção da sua identidade.

Questão de investigação Que motivos levam à não implicação do PE na construção da identidade profissional dos enfermeiros?

Metodologia Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa guiada no aprofundamento e compreensão dos conteúdos latentes a respeito da não implicação do PE na construção da identidade profissional dos enfermeiros. Para qualidade da investigação e segurança do rigor na pesquisa qualitativa, foram seguidas as diretrizes do Consolidated Criteria For Reporting Qualitative Research (COREQ). O estudo foi realizado numa unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN) de um hospital público da cidade de Vitória da Conquista, interior da Bahia, Brasil. Os critérios que levaram à escolha desse serviço compreenderam o facto de representar um cenário de assistência a pacientes críticos, que demandam cuidados intensivos de

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enfermagem neonatal mais complexos e especializados; e ter o PE implantado. Os participantes do estudo foram enfermeiros da UTIN que demonstraram interesse em participar voluntariamente no estudo. Os critérios de inclusão compreenderam: não estarem afastados por motivos de férias, licença ou atestado médico; trabalharem na assistência e terem no mínimo três meses de atuação no serviço. Para colheita de dados foi utilizada a técnica da entrevista guiada por roteiro semiestruturado, tendo estas sido realizadas no período de junho a agosto de 2019, gravadas por meio de aplicativo de smartphone com duração média de 19 minutos. Para o encerramento da colheita de dados foi utilizado como parâmetro a saturação das respostas, tendi sido entrevistados 10 enfermeiros. Os participantes do estudo foram identificados com a letra E, seguida de uma sequência de número ordinal para garantia da confidencialidade. As entrevistas foram validadas após a transcrição ser avaliada e confirmada pelos participantes do estudo. A análise dos dados foi concretizada em três etapas: ordenação dos dados, classificação dos dados e análise final dos dados. Alinhado ao método hermenêutico-dialético foi utilizado o software NVivo 11, para a ordenação e classificação dos dados, que auxiliou nesse processo de identificação das unidades de análise, permitindo a estratificação das falas de forma organizada e célere a partir das suas ferramentas. A análise hermenêutica dá-se pelas convergências, divergências, complementariedades e di-

ferenças. Os achados ficaram situados nas convergências e complementariedades. Foram respeitados todos os aspetos éticos previstos nas Resoluções 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e aprovação do Projeto de Pesquisa pelo Comissão de Ética sob o parecer nº 3187006 e CAEE 06501319900008089.

Resultados Quanto à caracterização sociodemográfica dos participantes do estudo, nove são do sexo feminino e um do sexo masculino. A idade variou entre 32 a 60 anos, com tempo de formação entre 6 a 28 anos. Na sua maioria, os enfermeiros possuíam pós-graduação, cinco em UTIN e nove eram oriundas de instituições privadas. Em relação ao número de vínculos de trabalho, dos 10 enfermeiros, oito tinham mais de um emprego. Apresentavam jornadas exaustivas de trabalho, sendo que oito cumprem mais de 60 horas semanais. O tempo de atuação na UTIN variou entre 7 meses a 16 anos. Ficou evidenciado nos discursos dos entrevistados que nas suas práticas profissionais, por diferentes motivos, o PE não tem implicações para a construção da identidade profissional dos enfermeiros. Confrontando com o referencial téorico-filosófico de Dubar e com as possibilidades apontadas no software NVivo 11, elaborámos uma tabela de análise (Tabela 1).

Tabela 1 Categorias de Análise Categorias de análise:

RV1

... RV10

Síntese Horizontal

Uma compreensão instrumental tecnicista Entre a subjacência e a incompreensão A procura da identidade e sua incompreensão Síntese Vertical *Adaptado de (Almeida, 2017).

A primeira categoria (Tabela 2) apresenta os modos de compreensão dos enfermeiros a respeito do PE nas suas práticas profissionais de modo singularizado, com o predomínio de uma visão estritamente técnica, conforme observado na convergência dos excertos das

entrevistas. E, como elementos complementares, são descritas as atividades desenvolvidas no serviço pelos enfermeiros.

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Tabela 2 Uma compreensão instrumental tecnicista Corpus

Síntese Hermenêutica- dialética

“Você tá falando do SAE? . . . É um instrumento que nos auxilia, né? . . . mas que muitas vezes a gente não consegue colocar em prática como ele realmente precisa ser né?” (E01).

Instrumento

“você saber quadro clínico, você saber qual é o tratamento adequado aquele paciente” (E05). “Ele norteia a gente na assistência que a gente deve executar” (E07). “é um método/ ferramenta . . . exame físico, na coleta de dados, do histórico do paciente, dos cuidados prescritos e prestados” (E09).

Método

“são as etapas que a gente utiliza pra dar a assistência pra o paciente” (E10). “através do cuidar, através do observar, do lidar com os bebês, com os pais” (E02). “você recebe o plantão, você analisa as pendências . . . avalia todos os pacientes” (E03). “você vai dar continuidade ao trabalho sempre avaliando e dando prioridade ao paciente que requer mais cuidado” (E05).

Desempenho de atividades

“entra na unidade e supervisiona . . . ao decorrer do plantão as coisas vão surgindo e vamos executando” (E06). “o que você tem que tá sinalizando pra sua equipe, né? . . . tanta coisa que a gente acaba englobando tudo” (E08).

Na segunda categoria (Tabela 3) foram experenciadas conceções diferentes, ambíguas e manifestações subjetivas a respeito do PE. Emergiram conceitos elaborados pelos

enfermeiros a partir das suas experiências individuais e profissionais associadas às relações sociais estabelecidas no ambiente de trabalho.

Tabela 3 Entre a subjacência e a incompreensão Corpus

Síntese Hermenêutica- dialética

“então o processo de enfermagem é uma plantinha que você vai cuidando e ela vai se abrindo, e ela vai crescendo...então é uma construção” (E02).

Subjetividade

“o processo no meio da saúde é o que mais, tá mais presente diretamente com o paciente, né. Então é um dos papéis mais importantes que tem (E08). “é complicado saber como ele vai interferir, ou formar a personalidade do enfermeiro . . . talvez eu teria que pensar mais . . . e não saberia te dizer (E01). “Seria a melhora na qualidade da assistência de enfermagem, baseado em cada cuidado específico que os pacientes necessitam” (E03).

Incompreensão

“Eu acho que o processo de enfermagem está relacionado a atuação do enfermeiro . . . de como o enfermeiro ele planeja o seu trabalho e coloca em prática . . . eu lembro que quando a gente instalou a prescrição aqui uma médica me falou assim: prescrição de enfermagem e vocês prescrevem o que?” (E04). “Eu acho que o processo é um só . . . pra quem aprendeu direito” (E05). “Depende de afinidades. Afinidade do setor, afinidade com as pessoas que você trabalha” (E06). Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e20180 DOI: 10.12707/RV20180

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Foi possível apreender, a partir das falas, como a incompreensão do PE e da identidade profissional interfere no estabelecimento da conexão entre ambas e compromete o processo de identificação profissional dos enfermeiros.

Na terceira categoria (Tabela 4) é possível verificar depoimentos diversificados. As falas que são apresentadas de seguida são convergentes em relacionar a identidade profissional ao exercício da função e o cumprimento de rotinas.

Tabela 4 A procura da identidade e sua incompreensão Corpus

Síntese Hermenêutica- dialética

“O cuidar, o supervisionar, o organizar setor, equipe, o trabalho da equipe, orientar a equipe, supervisionar se as coisas de rotina estão sendo cumpridas” (E02).

Cumprimento de rotinas

“Minha identidade? É que tem algumas delegações, algumas situações que tipo eu vou ter que executar, algumas tarefas . . . ter um olhar mais, mais amplo né” (E03). “Eu acho que a gente precisa de mais respeito, se impor mais... mostrar realmente o que é o nosso serviço . . . a gente ver muito a enfermeira como dona de casa” (E01). “eu acho que ele não se reconhece como profissional, é sempre submetido a outros . . . um elo entre todas as profissões . . . E apesar de, a gente ter essa dependência do médico . . . não se posiciona . . . a maioria das vezes abaixa a cabeça . . . eu acho que isso ainda vai demorar muito tempo pra ser conquistado” (E04). “Pra mim a identidade profissional da enfermeiraé o meu, eu executando o meu serviço . . . também tem o meu lado eu, que eu quero ser respeitada . . . porque na enfermagem é por amor e não é por dinheiro” (E02).

Submissão

Invisibilidade

Incompreensão

“Essa parte da identidade não ficou um pouco claro pra mim” (E03). “Identidade profissional da enfermeira? Em que sentido assim?” (E08). “É um tema pouco discutido, porém que requer muito conhecimento . . . devemos primeiramente descobrir nossa identidade profissional” (E09). “Não entendi a pergunta. Identidade? . . . cada um tem sua forma de atuar, a equipe em si cada um faz de uma forma” (E10).

Apesar da evolução da enfermagem como ciência, falas que sustentam características romantizadas da profissão ainda aparecem nos discursos. O modo como o enfermeiro percebe a sua profissão pode gerar divergências de ideias e perceções a respeito de si e dos seus pares. Estes conflitos demarcam à busca de uma identidade pelos enfermeiros e evidenciam a necessidade de uma discussão ampliada sobre essa construção permanente de identificação profissional.

Discussão A primeira categoria retrata uma compreensão instrumental tecnicista evidenciado nos múltiplos discursos. Alguns participantes entendem o PE como uma forma de organização e direcionamento da assistência e o confundem com a sistematização da assistência de enfermagem (SAE). Este facto é bastante comum no quotidiano do trabalho e acontece porque os termos foram usados como sinónimos muitos anos pelos dispositivos legais da profissão (Resolução Cofen nº 358/2009 do Conselho

À procura da identidade profissional

Federal de Enfermagem, 2009). Um dos entrevistados afirma que o PE é difícil de pôr em prática, conforme preconizado. Nesse discurso está implícito que apesar de se considerar o PE um instrumento importante, existem obstáculos como a sobrecarga de trabalho, subdimensionamento de pessoal e a falta de valorização do PE pela equipa que o impede de ser executado corretamente. O entendimento dos entrevistados sobre o PE, maioritariamente, remete uma visão limitada, circunscrita a um enfoque técnico assistencial, outorgando-lhe apenas a função de norteador das atividades a serem desenvolvidas pela equipa. Essa valorização das atividades mais técnicas, tornam as práticas mecanicistas e tarefeiras, comprometendo o PE e a identidade profissional dos enfermeiros. Esta, deve ser pautada nas interações sociais estabelecidas no âmbito da sua função assistencial, educativa, científica, social e política (Padilha et al., 2011). Portanto, fica evidenciado que reduzir a compreensão do PE ao enfoque técnico e assistencial acarreta a sua não implicação na construção da identidade profissional dos enfermeiros. É preciso pensar o PE nas suas dimensões

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Alves, L. M. et al

técnicas, científicas, políticas e culturais, ampliando o olhar do enfermeiro quanto às suas possibilidades na prática profissional. Já a segunda categoria, entre a subjacência e a incompreensão, reúne conteúdos ocultos e insipientes a respeito da temática. Foram reveladas conceções diferentes, com discursos abstratos sobre o PE. Tais falas permitem a subjetividade do conceito do PE pelos enfermeiros, denotando o que consideram relevante e o que esperam deste processo nas suas atividades profissionais. Por outro lado, o cuidado qualificado prestado ao paciente é sinalizado pelos entrevistados como eixo orientador da enfermagem. Os autores Merhy e Feuerwerker (2016) asseguram que o cuidado integral, centrado no paciente, continua a ser um enorme desafio para os gestores e trabalhadores comprometidos na produção do cuidado no interior das organizações e serviços de saúde. Observa-se ainda um depoimento importante que expressa com certa dúvida do que se trata o PE e demonstra a sua forma de interpretação, como compreende a profissão e menciona a submissão dos enfermeiros ao profissional médico. Para Lage e Alves (2016) a falta de reconhecimento do trabalho do enfermeiro não é somente da sociedade, mas também da equipa de saúde, que de modo mais abrangente acaba por afetar a construção da sua identidade profissional e, assim, comprometendo as relações sociais. Acredita-se que o PE deva ser guiado por uma teoria alinhada com os ideais da instituição, incorporado por toda a equipa de enfermagem e depois de consolidado, estar presente no processo de trabalho em saúde para que os demais membros da equipa multiprofissional o percebam como método científico com dimensões mais abrangentes do saber/fazer dos enfermeiros. Tal, é reforçado por Figueiredo e Peres (2019) quando asseguram que as pessoas precisam do reconhecimento do seu saber profissional pelos demais membros da sua prática. Portanto, mesmo que os seus pares reconheçam, a valorização dos demais profissionais de saúde é vital para os enfermeiros. Destarte, esta categoria permitiu identificar as fragilidades da compreensão do PE e da identidade profissional pelos enfermeiros a partir dos diferentes contextos que reúnem os elementos constitutivos dos seus processos identitários, tais como: a biografia, formação académica, relações sociais e profissionais, ambientes de trabalho, entre outros. Portanto, apesar de trabalharem num mesmo setor, cada enfermeiro apresenta uma compreensão singular sobre o PE e a identidade profissional e os conduz de forma diversificada. Corroborando o conceito de Dubar (2005), acredita-se que a identidade é um processo permanente em construção, desconstrução e reconstrução. Assim, a terceira categoria, a procura da identidade e a sua incompreensão, demonstram as ideias ocultas sobre esse processo inconclusivo que é a construção da identidade profissional dos enfermeiros. Emergiram falas que traduzem a ideia de que a identidade profissional está voltada para as ações desempenhadas pelos enfermeiros no seu ambiente de trabalho. Segundo Campos e Oguisso (2008), essa falta de clareza da iden-

tidade profissional aparece, uma vez que muito do que o enfermeiro faz se afasta do que ele é. Sendo assim, é fundamental estabelecer as especificidades da profissão e apresentar o enfermeiro pelo o que ele é e não pelo que faz. Existe uma carência do enfermeiro compreender a sua identidade profissional como uma construção social, que transcende as suas funções técnico-assistenciais, visto que quotidianamente são identificadas pelas atividades que realizam e não pelo que realmente representam. O discurso em que aparece a expressão “dona de casa” está relacionado com o estereótipo do género que está presente desde a institucionalização da profissão. Outro ponto importante a ser destacado é distinguir os termos identidade profissional do enfermeiro e a identidade da profissão (enfermagem). Os termos usualmente são confundidos como sinónimos, na visão de Porto (2004), a identidade profissional é em todo o tempo de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. Ela está incorporada e conectada com a identidade da profissão, uma vez que a enfermagem engloba elementos que ultrapassam o domínio da identidade profissional. Assim, existe uma relação dialógica entre a identidade da enfermagem e a identidade profissional do enfermeiro, de modo que as duas sofrem interferências mútuas (Teodosio et al., 2020). Já a referência de que “ele não se reconhece como profissional está sempre submetido a outros” aborda as relações de submissão estabelecidas pelos profissionais no ambiente de trabalho. Essas relações de subordinação dos enfermeiros são resultantes da génese da profissão e estão ligadas a supremacia médica. Tal, é reforçado por Melo et al. (2016) no momento em que afirma que o modelo assistencial biomédico reduz a autonomia técnica do enfermeiro devido à sua influência na organização do processo de trabalho em saúde. É complementado por Almeida (2017), que afirma como risco potencial para o estabelecimento de profissionais submissos, o facto de não compreenderem a sua prática e o seu objeto de trabalho. Portanto, é preciso romper com essas práticas de subordinação nos serviços a partir da apropriação da sua construção social como profissional, respeitando as singularidades e tornar visível o seu trabalho como enfermeiro. As expressões usadas pelos entrevistados, que denotam a incompreensão sobre a identidade profissional, manifestadas mesmo após fluírem os significados produzidos por cada participante, sugerem a necessidade de ampliar a discussão sobre a temática. A expressão “devemos primeiramente descobrir a nossa identidade profissional”, desperta para refletir sobre a descoberta e a temporalidade. Este pensamento é também defendido por Dubar (2005), quando acrescenta que as particularidades profissionais não são transmitidas de uma geração de profissionais para a geração seguinte, a menos que os trabalhadores envolvidos materializem tais peculiaridades. Despontam expressões que descrevem a identidade profissional como autoreconhecimento e processo de afirmação profissional. Essa busca de identidade pelo enfermeiro é descrita por Collière (1999) como influenciada pelas

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diferentes correntes socioeconómicas sobre a prática da enfermagem, modificando o seu papel e as suas expectativas. A representação do enfermeiro é transformada e diversificada, torna-se mais complexa ao passo que é fragilizada a estabilidade do seu papel. O estudo apresenta limitações porque retrata uma realidade pensada e vivenciada num contexto particularizado sob a ótica de apenas uma categoria profissional. No entanto, esta investigação demonstra a sua pertinência diante de escassas publicações na literatura científica que façam a conexão entre o PE e a construção da identidade profissional dos enfermeiros, e principalmente porque sinaliza a necessidade de ampliar as investigações sobre o tema e aponta caminhos para potencializar o PE como um dispositivo para consolidar os processos identitários e o empoderamento dos enfermeiros em diferentes campos de atuação.

Conclusão O presente estudo alcançou o seu objetivo identificando as razões da não implicação do PE na construção da identidade profissional dos enfermeiros, bem como ampliou o sentido dado ao PE, trazendo o debate e a reflexão dos vínculos estabelecidos entre eles. Este estudo constatou que a não implicação do PE na construção da identidade profissional está relacionada com a forma rotinizada, automática e irreflexiva no uso do PE na UTIN pelos enfermeiros, o que expressa a necessidade de ampliar o debate sobre o PE, SAE, e identidade profissional para os enfermeiros e demais profissionais de enfermagem. O PE somente se consolidará na realidade dos serviços quando for prioridade da gestão institucional em consonância com a valorização dessa importante ferramenta por todos os trabalhadores de enfermagem. O estudo sinalizou dois importantes determinantes que influenciam neste contexto: a centralização do modelo biomédico interferindo negativamente no processo de construção da identidadedos enfermeiros e nas relações sociais do processo de trabalho em saúde; e a necessidade de o enfermeiro compreender a sua identidade profissional como uma construção social, que transcende funções técnico-assistenciais. A efetivação do PE na prática profissional ainda constitui um desafio para a enfermagem brasileira. O PE, como método para o cuidado, é percebido no quotidiano do serviço da UTIN com reduzido teor de criticidade e desprovido de perspetivas políticas, sociais, culturais e económicas para a visibilidade da profissão. O estudo sinaliza que o PE deve ser pensado e incorporado por todos os membros da equipa de enfermagem. Como produto da pesquisa foi elaborado um projeto de intervenção com o propósito de reestruturação do PE na UTIN com escopo na construção da identidade profissional dos enfermeiros do serviço, através de ações educativas e envolvimento da equipa de enfermagem, para que todos se identifiquem e se sintam corresponsáveis em potencializar o PE como instrumento de empoderamento e reconhecimento profissional.

Contribuição de autores Conceptualização: Alves, L. M. Tratamento de dados: Alves, L. M. Investigação: Alves, L. M. Metodologia: Alves, L. M., Servo, M. L., Almeida, D. B. Administração do projeto: Alves, L. M. Software: Alves, L. M., Almeida, D. B. Supervisão: Servo, M. L., Almeida, D. B. Visualização: Alves, L. M. Redação - rascunho original: Alves, L. M. Redação - análise e edição: Servo, M. L., Almeida, D. B. Referências bibliográficas Almeida, D. B. (2017). Constituição de enfermeiras militantes: Um estudo histórico e foucaultiano [Tese de doutoramento, Universidade Federal da Bahia]. Repositório Institucional da Universidade Federal da Bahia. http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/30638 Campos, P. F., & Oguisso, T. A. (2008). The university of São Paulo, school of nursing and the Brazilian nursing professional identity reconfiguration. Revista Brasileira de Enfermagem, 61(6). https:// doi.org/10.1590/S0034-71672008000600017 Resolução Cofen nº 358/2009 do Conselho Federal de Enfermagem. (2009). http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384. html Collière, M. F. (1999). Promover a vida (2ª ed.). Lidel. Dubar, C. (2012). A construção de si pela atividade de trabalho: A socialização profissional. Cadernos de Pesquisa, 42(146), 351-367. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742012000200003 Dubar, C. (2005). A socialização: Construção das identidades sociais e profissionais. Martins Fontes. Figueiredo, M. A., & Peres, M. A. (2019). Identidade da enfermeira: Uma reflexão iluminada pela perspectiva de Dubar. Revista de Enfermagem Referência, 4(20), 149-154. http://dx.doi.org/10.12707/ RIV18079 Gutiérrez, M. G., & Morais, S. C. (2017). Systematization of nursing care and the formation of professional identity. Revista Brasileira de Enfermagem, 70(2), 436-441. http://dx.doi.org/10.1590/00347167-2016-0515 Lage, C. E., & Alves, M. S. (2016). (Des)valorização da enfermagem: Implicações no cotidiano do enfermeiro. Enfermagem em Foco, 7(3/4), 12-16. https://doi.org/10.21675/2357-707X.2016. v7.n3/4.908 Merhy, E. E., & Feuerwerker, L. C. (2016). Novo olhar sobre as tecnologias de saúde: Uma necessidade contemporânea. In: E. E. Merhy, R. S. Baduy, C. T. Seixas, D. E. Almeida, & H. Slomp Júnior (Orgs.), Avaliação compartilhada do cuidado em saúde: Surpreendendo o instituto nas redes (pp. 61-74). Hexis. Mello, C. M., Florentino, T. C., Mascarenhas, N. B., Macedo, K. S., Silva, M. C., & Mascarenhas, S. N. (2016). Autonomia profissional da enfermeira: Algumas reflexões. Escola Anna Nery, 20(4), e20160085. http://dx.doi.org/10.5935/1414-8145.20160085 Motta, C. A., & Freitas, V. M. (2016). Sistematização da assistência de enfermagem na formação profissional: Fortalecendo a identidade da profissão. Revista Dialogus, 5(3), 81-88. https:// revistaeletronica.unicruz.edu.br/index.php/dialogus/article/download/158/91/496 Nocerino, R., Chiarini, M., & Marina, M. (2020). Nurse professional identity: Validation of the Italian version of the ques-

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

Efetividade de programas de enfermagem de reabilitação no equilíbrio, marcha e independência funcional em idosos hospitalizados

Effectiveness of rehabilitation nursing programs on balance, gait, and functional independence in hospitalized older people Eficacia de los programas de enfermería de rehabilitación sobre el equilibrio, la marcha y la independencia funcional en ancianos hospitalizados Ricardo Patrício Limão 1 https://orcid.org/0000-0002-9971-7209 Rosa Maria Lopes Martins 2 https://orcid.org/0000-0001-9850-9822

Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Serviço de Medicina Interna D, Coimbra, Portugal

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Politécnico de Viseu, Escola Superior de Saúde de Viseu, Viseu, Portugal

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Resumo Enquadramento: O papel da reabilitação no equilíbrio, marcha e independência funcional (EMIF), afigura-se relevante na prevenção do declínio funcional do idoso hospitalizado. Objetivo: Avaliar a efetividade de um programa de exercícios de enfermagem de reabilitação (PEER) no EMIF em idosos hospitalizados. Metodologia: Estudo pré-experimental de grupo único com pré-pós teste, em amostra não probabilística por conveniência, em 40 idosos internados num serviço de medicina interna. A intervenção consiste na implementação diária de um PEER multicomponente criado para o efeito. O questionário inclui uma secção de caracterização sociodemográfica e clínica, Medida de Independência Funcional e teste de Tinetti. Resultados: Após sete sessões do PEER observou-se variação positiva significativa de 45% na média de valores de equilíbrio (p < 0,001), de 48,8% na marcha (p < 0,001) e de 15,5% na independência funcional (p < 0,001), revelando a eficácia do programa. Conclusão: O PEER parece ser efetivo na melhoria e restabelecimento do EMIF dos idosos hospitalizados, sugerindo-se a sua aplicação diária e sistematizada nesta população. Palavras-chave: idoso; enfermagem em reabilitação; equilíbrio postural; marcha; desempenho físico funcional; hospitalização Abstract Background: The role of rehabilitation in balance, gait, and functional independence (BGFI) is essential for preventing functional decline in hospitalized older people. Objective: To assess the effectiveness of a rehabilitation nursing exercise program (RNEP) on BGFI in hospitalized older people. Methodology: A pre-experimental one-group pretest-posttest study was conducted with a non-probability convenience sample of 40 older people admitted to an Internal Medicine Unit. The intervention consisted of the implementation of a daily multicomponent RNEP that was created for this purpose. The questionnaire included a section for sociodemographic and clinical characterization, the Functional Independence Measure, and the Tinetti Test. Results: After seven RNEP sessions, significant positive variations in the mean scores were found: 45% for balance (p < 0.001), 48.8% for gait (p < 0.001), and 15.5% for functional independence (p < 0.001), revealing the program’s effectiveness. Conclusion: The RNEP seems to be effective in improving and restoring BGFI in hospitalized older people, thus it should be systematically and daily applied to this population. Keywords: elderly; rehabilitation nursing; postural balance; gait; physical functional performance; hospitalization

Autor de correspondência Ricardo Patrício Limão E-mail: ricardo.limao@hotmail.com Recebido: 29.12.20 Aceite: 12.07.21

Resumen Marco contextual: El papel de la rehabilitación en el equilibrio, la marcha y la independencia funcional (EMIF) parece ser relevante en la prevención del deterioro funcional en ancianos hospitalizados. Objetivo: Evaluar la eficacia de un programa de ejercicios de enfermería de rehabilitación (PEER) en el EMIF en ancianos hospitalizados. Metodología: Estudio preexperimental de grupo único pretest y postest en una muestra no probabilística de conveniencia en 40 pacientes ancianos ingresados en un servicio de medicina interna. La intervención consiste en la aplicación diaria de un PEER multicomponente creado para este fin. El cuestionario incluye una sección sociodemográfica y de caracterización clínica, la Medición de la Independencia Funcional y el test de Tinetti. Resultados: Después de siete sesiones del PEER se observó una variación positiva significativa del 45% en la media de los valores de equilibrio (p < 0,001), del 48,8% en la marcha (p < 0,001) y del 15,5% en la independencia funcional (p < 0,001), lo que demuestra la eficacia del programa. Conclusión: El PEER parece ser eficaz para mejorar y restaurar el EMIF de los ancianos hospitalizados, por lo que se sugiere su aplicación diaria y sistemática a esta población. Palabras clave: anciano; enfermería en rehabilitación; equilibrio postural; marcha; rendimiento físico funcional; hospitalización Como citar este artigo: Limão, R. P., & Martins, R. M. (2021). Efetividade de programas de enfermagem de reabilitação no equilíbrio, marcha e independência funcional em idosos hospitalizados. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20205. https://doi.org/10.12707/RV20205

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Introdução Atualmente a sociedade vê-se cada vez mais confrontada com a realidade do envelhecimento populacional, condicionado quer pelo incremento na longevidade e consequente aumento da esperança média de vida, quer pelo declínio da natalidade. Tendo em conta que todas as previsões apontam para a manutenção desta tendência nos próximos 50 anos e sendo ainda expectável que o número de hospitalizações de idosos (pessoas com 65 ou mais anos) aumente consideravelmente (Tavares et al., 2020), urge uma maior necessidade de aperfeiçoar e redirecionar a prestação dos cuidados de saúde a eles dirigidos. O envelhecimento provoca diversas alterações fisiológicas nos órgãos e sistemas que, segundo Martins et al. (2017), podem gerar défices de equilíbrio e alterações da marcha que predispõem o idoso a quedas e limitações na sua funcionalidade. Deste modo, os idosos tornam-se uma população mais suscetível à doença e à hospitalização, o que por sua vez poderá ter também um impacto negativo na sua mobilidade. Durante a hospitalização pode surgir o declínio funcional, que em muitos casos não pode ser atribuído ao problema médico agudo pelo qual a pessoa foi admitida no hospital, mas sim a fatores pessoais como a idade, o estado socioeconómico, problemas de visão e audição, diminuição na mobilidade, diminuição do estado funcional e cognitivo, assim como fatores iatrogénicos à hospitalização como a imobilização no leito, infeções, úlceras de pressão e fatores como comorbilidades e alteração do equilíbrio (Tavares et al., 2021). O declínio funcional, que acontece com a hospitalização, poderá levar a um descondicionamento físico com alterações da força, resistência, alterações de amplitude articular, entre outros, que inevitavelmente condicionam a mobilidade funcional e a marcha. Marques-Vieira et al. (2016) fazem referência à espiral de perda funcional a que pode levar uma diminuição na capacidade de marcha, tendo em conta que esta diminuição dificulta o acesso a um conjunto de atividades físicas funcionais que integram as atividades de autocuidado, instrumentais e laborais, com uma respetiva diminuição da força muscular. Esta, por sua vez, condiciona o movimento, tornando-se assim um ciclo vicioso entre inatividade e fraqueza. Além disso, a instabilidade na marcha condicionará, por sua vez, um aumento no desequilíbrio do idoso. Considerando que a maioria dos idosos hospitalizados tem graus de dependência significativos, apresentando já algum risco de queda e até alteração no padrão de marcha e equilíbrio, ganha relevância esta questão, emergindo a necessidade de implementar programas de reabilitação que privilegiem o treino de equilíbrio, força muscular e adequação dos auxiliares de marcha (Martins et al., 2016), apresentando o enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação (EEER), pelas competências que lhe estão atribuídas, um papel primordial. Face aos pressupostos descritos, foi objetivo deste estudo avaliar a efetividade de um programa de exercícios de enfermagem de reabilitação (PEER) no equilíbrio,

marcha e independência funcional em idosos hospitalizados.

Enquadramento As alterações estruturais e funcionais que acompanham o processo de envelhecimento do ser humano são diversas, desde o metabolismo, os danos nas células e nos sistemas até às patologias decorrentes. Estes aspetos acarretam incapacidades na generalidade dos sistemas orgânicos do idoso, salientando-se as alterações que levam à perda da integração osteo-muscular-cerebral como principais responsáveis pelas alterações na mobilidade e equilíbrio (Esquenazi et al., 2014). Por sua vez, a limitação na marcha e no equilíbrio são apontados como um dos principais fatores predisponentes e de risco para a síndrome de imobilidade do idoso (Martínez-Velilla et al., 2016). Conjuntamente com a problemática do envelhecimento, o tema da funcionalidade tem vindo a assumir um lugar de destaque e sobre o qual importa refletir. Apesar de o envelhecimento não ser sinónimo de doença e incapacidade, este potencia uma redução progressiva na capacidade funcional do indivíduo, que, em muitos casos, o torna dependente de terceiros para satisfazer as suas necessidades básicas, que anteriormente realizava com autonomia e independência (Marvanejo, 2017). Fermento et al. (2019) referem que a dependência não pode ser encarada como uma condição estanque, de caráter permanente e estático, apontando para a importância da implementação de intervenções ajustadas e adequadas que podem modificar, reduzir, adiar e até prevenir a mesma. Tendo em conta as alterações na capacidade de autocuidado, as intervenções do enfermeiro de reabilitação deverão centrar-se quer na maximização do potencial funcional da pessoa, quer na minimização das incapacidades instaladas (através de estratégias adaptativas), permitindo à pessoa a utilização do máximo potencial de autocuidado (Petronilho et al., 2017). Enquadrado nas competências do EEER, este concebe e implementa intervenções procurando “otimizar e/ou reeducar a função a nível motor, sensorial, cognitivo, cardiorrespiratório, da alimentação, da eliminação, da sexualidade e da realização das Atividades de Vida Diária (AVDs)” e “implementa programas de treino motor e cardiorrespiratório” (Ordem dos Enfermeiros, 2019, p. 13566-13568). Estes programas constituem uma mais-valia na manutenção/reabilitação da mobilidade, maximizando assim autonomia no exercício dos autocuidados. Por outro lado, não podemos esquecer que a melhoria na capacidade de mobilidade nos idosos hospitalizados, e neste caso do equilíbrio e da marcha, pode levar também a uma melhoria nas condições do cuidar destes idosos após a alta hospitalar. A realidade demográfica atual, associada à conjuntura sociocultural em que vivemos, demonstra que muitos idosos regressam a casa para serem cuidados por familiares (cônjuges ou outros) que se encontram também eles na mesma faixa etária, assumindo a dependência um papel que pode ser determinante no bem-estar e na dinâmica funcional da família.

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Questão de investigação Será que a implementação do PEER, por nós proposto, produz benefícios no equilíbrio, na marcha e na independência funcional do idoso hospitalizado?

Metodologia Desenvolveu-se um estudo quantitativo, pré-experimental de caso único com pré-pós teste, realizado numa amostra não probabilística por conveniência, constituída por 40 idosos internados em serviços de medicina interna de um hospital da região centro de Portugal. Como critérios de inclusão foram estabelecidos: idade igual ou superior a 65 anos; apresentar alteração do equilíbrio e da marcha (teste de Tinetti); apresentar dependência completa (até 18 pontos) ou modificada (até 103 pontos; Medida de Independência Funcional) e aceitar a implementação do programa de reabilitação estabelecido. A recolha de dados foi realizada durante os meses de junho e julho de 2018, após parecer positivo da Comissão de Ética da instituição hospitalar (parecer nº CHUC-135-17). A participação no programa foi voluntária, tendo todos os participantes assinado o consentimento informado livre e esclarecido, e os procedimentos foram efetuados respeitando os princípios éticos inscritos na Declaração de Helsínquia. Para a mensuração das variáveis foi utilizado um ins-

trumento de colheita de dados que integra uma secção de caracterização sociodemográfica, uma segunda de caracterização clínica, e duas escalas: (a) Medida de Independência Funcional (Direção-Geral da Saúde, 2011) e (b) Teste de Tinetti (Apóstolo, 2012). O PEER (Tabela 1) foi construído para o efeito, seguindo várias etapas: iniciou-se uma revisão exaustiva dos trabalhos realizados sobre a temática com base na evidência científica demonstrada recentemente, tendo em consideração a nossa população-alvo e os défices em estudo. Foram também analisadas as recomendações internacionais mais recentes sobre atividade física para idosos (em termos de tipo de exercício, intensidade, duração e frequência), estudos sobre tipos de exercícios e programas de reabilitação em idosos frágeis (treino de força, treino de flexibilidade, resistência aeróbica e treino de equilíbrio), estudos sobre os resultados do treino multicomponente em idosos frágeis (em termos de equilíbrio, marcha e independência funcional) e estudos sobre princípios da prescrição de exercícios em idosos frágeis. A implementação do PEER foi desenvolvida por três enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação, durante 7 dias consecutivos, seguindo o programa estabelecido pelo investigador e depois de devidamente esclarecidos sobre a sua execução. As avaliações do equilíbrio, marcha e independência funcional foram realizadas pelos EEER num primeiro contacto com os doentes e após a implementação das sete sessões do PEER.

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Tabela 1 Programa de exercícios de enfermagem de reabilitação Características gerais do plano de exercícios 1 – Tipo de exercício: Multicomponente (treino de força, treino de flexibilidade, treino de equilíbrio incluindo exercícios de reabilitação vestibular e de coordenação e proprioceção e treino de resistência aeróbica) 2 – Intensidade: Muito leve a moderada; Numa escala de 0-10 para perceção de esforço, 5-6 para intensidade moderada. 3 – Duração: 1 semana ou período de internamento até 4 semanas; 30-50 minutos por treino, (incluindo aquecimento, parte fundamental e retorno à calma), podendo ser dividido em períodos nunca inferiores a 10 min. 4 – Frequência: treino diário. 5 – Progressão: aumento lento e gradual da duração, frequência e intensidade ao longo do programa. Aquecimento

10 min; baixa intensidade

Treino de força

1-“Flexão/extensão coxofemoral” 2-“Abdução/adução coxofemoral” 3-“Rotação interna/externa coxofemoral” 1 série – 10 repetições; 4-“Flexão/extensão do joelho” Intensidade leve(40%-50% de 5-“Flexão plantar” 1-RM) a moderada (60%-70% de 6-“Flexão plantar” 1-RM) 7-“Ponte” 8-“Deslizamento ou agachamento contra a parede” 9-“Treino de Sentar-Levantar”

Treino de Flexibilidade

1 série de cada exercício; 15-30 se- Mobilizações articulares passivas dos membros inferiores com alongamentos contígundos cada alongamento nuos estáticos (coxofemoral, joelho, tibiotársica, dedos)

Treino de Equilíbrio

Treino de resistência aeróbica

Retorno à calma

Movimentação cíclica dos membros inferiores em cicloergómetro

Cerca de 10 minutos de treino; 3 séries de cada exercício, com manutenção da posição de equilíbrio 10 segundos cada; no caso dos exercícios vestibulares a estimulação deve durar 1 a 2 minutos

1-“Permanecer de olhos fechados com os pés juntos” 2-“Manter equilíbrio com um pé à frente do outro” 3-“Alternância de carga sobre os membros inferiores” 4-“Caminhar com um pé imediatamente à frente do outro” 5-“Caminhar sobre uma linha” 6-“Exercícios com step” 7-“Manter equilíbrio sobre um só pé” 8-“Transferência de peso (de uma perna para a outra)” 9-“Permanecer de olhos fechados e pés juntos numa superfície de espuma” 10-“Andar sobre piso irregular” 11-“Marcha com rotação simultânea da cabeça” Vestibular: 12-“Rodar a cabeça, para cima e para baixo, para um lado e para o outro, tentando manter a fixação visual num ponto” 13-“Sentado, inclinar o tronco para a frente e apanhar um objeto do chão” Proprioceção 14-“Andar por períodos alternados com os olhos fechados” 15-“Exercícios com almofada dinâmica, sentado ou em pé”

30 minutos por dia (por períodos Marcha (com posterior introdução de mudanças de ritmo e direção) de pelo menos 10 minutos cada); Intensidade leve (até 4) a moderada Subir-descer escadas (5-6) numa escala para perceção de esforço (0-10) 10 min; baixa intensidade ajustando a sua resposta fisiológica até ao Movimentação cíclica dos membros inferiores em cicloergómetro nível de partida

Outras considerações importantes para o treino - As sessões de atividade física devem começar com um aquecimento e acabar com um apropriado “retorno à calma” - A intensidade e duração do exercício deve ser leve para principiantes, pessoas com descondicionamento físico, com patologias crónicas ou limitação funcional - A progressão no exercício deve ser individualizada - As sessões de treino de força com uso de máquinas devem ser supervisionadas por profissionais, pelo menos no inicio do programa - Idosos obesos ou com sobrepeso poderão beneficiar de uma progressão de pelo menos 250 minutos por semana de exercício de intensidade moderada - 1-RM corresponde à quantidade máxima de carga que uma pessoa consegue elevar numa única repetição durante toda a amplitude do movimento - Os programas de treino multicomponente devem incluir aumentos graduais no volume, intensidade e complexidade dos exercícios, juntamente com a realização simultânea de exercícios de resistência muscular, resistência aeróbica e equilíbrio Nota. RM = repetição máxima. Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e20205 DOI: 10.12707/RV20205

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As escalas foram aplicadas antes e depois da implementação do programa, seguidamente procedeu-se à verificação do preenchimento dos questionários e após comprovação de que estavam completos, os dados foram lançados numa base de dados para posterior tratamento estatístico. Este, foi efetuado através do programa IBM SPSS Statistics, versão 22.0 para o Windows e foi processado utilizando estatística descritiva e estatística inferencial. Para avaliação da normalidade das variáveis, recorreu-se à consulta dos valores de assimetria ou enviesamento (skweness) e de achatamento ou curtose (kurtosis). Assim, sempre que utilizada a totalidade da amostra como grupo foram utilizados testes paramétricos. Na comparação dos valores dos componentes de funcionalidade (equilíbrio, marcha e independência funcional) obtidos antes e após a implementação do plano de reabilitação foi utilizado o teste t Student para amostras emparelhadas. Nos testes estatísticos foram considerados intervalos de confiança de 95% e/ou nível de significância p < 0,05.

Resultados Em termos sociodemográficos, os participantes (n = 40) apresentavam idades compreendidas entre os 65 e os 91

anos, com uma média de 77 anos e maioritariamente do género masculino (75%; n = 30). Eram detentores do 1º ciclo de escolaridade (80%; n = 32), coabitavam maioritariamente com o cônjuge (45%; n = 18) e os agregados familiares da maioria eram constituídos por um ou dois elementos (75%; n = 30). Em termos clínicos, verificou-se que 45% (n = 18) foram hospitalizados com diagnóstico de patologia respiratória, possuindo dois ou mais antecedentes patológicos, polimedicados (≥ 5 medicamentos) pertencendo estes a grupos farmacológicos identificados pela literatura como potenciais na alteração do equilíbrio e marcha. Para além do referido, apresentavam ainda problemas associados à visão (90%; n = 36) e à audição (80%; n = 32). Relativamente ao equilíbrio, marcha e independência funcional (Tabela 2), verificou-se que no primeiro momento de avaliação os participantes apresentavam valores médios muito baixos, indicando graves défices nas dimensões estudadas. Porém, após a implementação do PEER (7 dias consecutivos), obteve-se um aumento de 45% na média de valores de equilíbrio (passando de 1,73 para 8,93 num máximo de 16), um aumento de 48,8% no caso da marcha (passando de 1,08 para 6,93 num máximo de 12) e um aumento de 15,5% na média de valores de independência funcional (passando de 45,08 para 64,63 num máximo de 126).

Tabela 2 Resultados obtidos nas variáveis equilíbrio, marcha e independência funcional antes e após o programa N

Min.

Máx.

M

DP

SK/erro

K/erro

CV (%)

Equilíbrio

1ª Avaliação

40

0,0

4,0

1,73

1,30

0,67

-1,16

75,14

(amplitude 0-16)

2ª Avaliação

40

0,0

15,0

8,93

2,55

-0,32

5,99

28,56

Marcha

1ª Avaliação

40

0,0

4,0

1,08

1,44

2,83

-0,36

133,33

(amplitude 0-12)

2ª Avaliação

40

0,0

12,0

6,93

3,35

-1,26

-0,82

48,34

Independência Funcional

1ª Avaliação

40

18,0

74,0

45,08

16,18

0,58

-1,44

35,90

(amplitude 18-126)

2ª Avaliação

40

18,0

116,0

64,63

21,23

1,40

0,46

32,85

Nota. M = média; DP = desvio-padrão; SK = skewness; K = kurtosis; CV = coeficiente de variação.

Relativamente à funcionalidade, constatou-se que 75% dos participantes apresentava, no primeiro momento de avaliação, dependência modificada (com assistência de 25% até 50% da tarefa), não se identificando nenhum caso de independência. Após a implementação do PEER, os participantes com dependência completa diminuíram de 5% para 2,5%,

os participantes com dependência modificada (com assistência até 50% da tarefa) diminuíram de 75% para 40%, aumentando os graus com mais independência, de 20% para 52,5% os participantes com dependência modificada (com assistência até 25% da tarefa) e de 0% para 5% os participantes com independência modificada (Tabela 3).

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Tabela 3 Avaliação da independência funcional por níveis classificativos 1ª Avaliação

2ª Avaliação

Níveis de Dependência Funcional

n

%

n

%

Dependência Completa (18 pontos)

2

5,0

1

2,5

Dependência Modificada com assistência até 50% da tarefa (19-60 pontos)

30

75,0

16

40,0

Dependência Modificada com assistência até 25% da tarefa (61-103 pontos)

8

20,0

21

52,5

Independência Modificada (104-125 pontos)

0

-

2

5,0

Independência Completa (126 pontos)

0

-

0

-

TOTAL

40

100,0

40

100,0

Da análise inferencial conclui-se ainda que existem associações estatisticamente significativas entre os dois momentos de avaliação (antes e após a intervenção) relativamente ao

equilíbrio (p < 0,001), marcha (p < 0,001) e independência funcional (p < 0,001; Tabela 4).

Tabela 4 Teste t para diferença de médias do equilíbrio, marcha e independência funcional entre o primeiro e segundo momento de avaliação Equilíbrio

N

M

DP

1ª Avaliação

40

1,73

1,30

2ª Avaliação

40

8,93

2,55

Marcha

N

DP

1ª Avaliação

40

1,08

1,44

2ª Avaliação

40

6,93

3,35

Independência Funcional

N

DP

1ª Avaliação

40

45,08

16,18

2ª Avaliação

40

64,63

21,23

t

p

-15,149

< 0,001

t

p

-10,952

< 0,001

t

p

-9,805

< 0,001

Nota. M = média; DP = desvio-padrão; t = teste de t-Student; p = nível de significância.

Discussão As características sociodemográficas da nossa amostra estão alinhadas com outros estudos realizados recentemente em contexto português e tendo por alvo populações semelhantes (Marques-Vieira et al., 2016; Tavares et al., 2020). Trata-se de um grupo de idosos com uma média de idade de 77 anos, estando 52,5% no escalão de 75-84 anos de idade. Embora se saiba que a idade só por si, não represente uma condição sine qua non na diminuição do equilíbrio, da marcha e da funcionalidade no geral, em muitos estudos é apresentada uma associação robusta (Lobo, 2012). Similarmente, os valores baixos da nossa primeira avaliação (e antes da implementação do PEER), com graves défices no equilíbrio, capacidade de marcha e independência funcional poderão, por esta razão estar justificados. A comparação longitudinal dos resultados observados

revelou a existência de diferenças estatisticamente significativas entre os dois momentos de avaliação em estudo (p < 0,001), verificando-se um aumento significativo nos valores médios do equilíbrio dos idosos entre a primeira e a segunda avaliação (45%), isto é, antes e após a implementação do PEER. Este ganho na capacidade de equilíbrio enquadra-se no intervalo de ganho verificado no estudo de revisão de Cadore et al. (2013), em que eram referidos ganhos de 5% a 80% no equilíbrio dos idosos, em sete estudos em que também tinham sido aplicados programas multicomponentes. Relativamente à marcha, a comparação longitudinal dos resultados observados revelou a existência de diferenças estatisticamente significativas entre os dois momentos em estudo (p < 0,001), verificando-se um aumento significativo nos valores da marcha dos idosos da primeira para a segunda avaliação (48,8%). Também este ganho se enquadra no intervalo verificado por outros autores como

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Cadore et al. (2013) em que foram encontrados ganhos de 4% a 50% nos seis estudos realizados. Nestes estudos, em três foram aplicados treinos multicomponentes, em dois treinos de força e no último foi aplicado um programa combinado de treino de resistência aeróbica com yoga. Corrobora-se Rodrigues (2019), ao afirmar que, embora a etiologia da instabilidade da marcha em pessoas idosas com comprometimento funcional leve a moderado seja multifatorial, as intervenções destinadas a reduzir a instabilidade da marcha podem ser eficazes em proporcionar um padrão de caminhada mais consistente e mais estável. À semelhança das anteriores, a comparação longitudinal da variável independência funcional revela também a existência de diferenças estatisticamente significativas entre os dois momentos em estudo (p < 0,001), verificando-se um aumento de 15,5% nos valores da independência funcional dos idosos entre o antes e o após a implementação do programa. Estes dados são indicativos de que o treino multicomponente implementado no estudo apresenta melhorias significativas com efeito positivo na funcionalidade do idoso. Outras investigações de dimensão internacional como as de Martínez-Velilla et al. (2016) chegaram às mesmas conclusões, demonstrando o efeito positivo do treino multicomponente no incremento da capacidade funcional em idosos institucionalizados com condição física muito precária. Para estes autores, o exercício e os programas de reabilitação representam mecanismos pelos quais o declínio funcional pode ser prevenido durante a hospitalização. Referem ainda que, se tivermos em conta os benefícios que aportam, a nível clínico, biológico e até económico (e estes dados estão confirmados), o exercício surge como um fator importante no vasto leque terapêutico que se encontra à disposição dos profissionais de saúde. Rodrigues (2019) vai ainda mais longe ao afirmar, que os programas de exercício físico multicomponente constituem as intervenções mais eficazes para retardar a incapacidade funcional e outros eventos adversos associados à fragilidade nos idosos. Na mesma linha de pensamento, Caldas et al. (2020) dão ênfase à capacidade das intervenções com treino multicomponente na redução da incidência de quedas e consequentemente na prevenção da incapacidade, morbilidade e morte. O aumento de funcionalidade observado nos dados do nosso estudo (após implementação do treino de enfermagem de reabilitação) é ainda mais expressivo quando comparado com os dados relativos à prevalência de declínio funcional verificado durante a hospitalização, de Tavares et al. (2018), que foi de 54,5% no momento da alta hospitalar. Menezes et al. (2010), reforçam esta ideia relacionando diretamente a hospitalização com um certo grau de imobilidade para qualquer indivíduo, o que no caso do idoso pode rapidamente desencadear um processo de declínio funcional. Também Sousa (2014) num estudo sobre o declínio funcional e o risco de queda no idoso hospitalizado, aponta para a estreita ligação que parece existir entre a situação de doença aguda e a perda de capacidades no auto desempenho das AVDs. Um dado novo que se pretende salientar, prende-se com o facto de não ter surgido nenhum efeito colateral ne-

gativo em nenhum dos idosos submetidos ao programa de enfermagem de reabilitação, evidenciando-se a boa adaptação das características do treino implementado no tipo de exercício, na intensidade, duração, frequência e progressão, às características dos sujeitos-alvo. Desconhece-se também a existência de estudos similares ao nosso, realizados em idosos hospitalizados (em processo de doença aguda) em Portugal. Além disso, os resultados obtidos direcionam para a necessidade emergente de um maior investimento futuro por parte dos enfermeiros, mas em especial dos EEER, na implementação de programas multicomponentes (ainda pouco explorados) na maximização do potencial funcional da pessoa idosa (hospitalizada ou em contexto comunitário), como um dos pilares do Serviço Nacional de Saúde, numa lógica de promoção e continuidade de cuidados, podendo ser um recurso muito vantajoso para os indivíduos, para as famílias mas também para a sociedade em geral. Como limitações do estudo, apontam-se: a utilização de uma amostra do tipo não probabilístico por conveniência, o que não permite generalizar resultados com precisão estatística; o facto de, na instituição onde decorreu o estudo, todos os doentes com estas características serem submetidos a programas de reabilitação impedindo deste modo a constituição de um grupo de controlo, pois não seria eticamente aceitável excluir destes programas alguns dos idosos internados; os curtos períodos de internamento, o que nos levou a estabelecer um período de avaliação do processo de reabilitação apenas em uma semana, sendo o recomendado pelas evidências científicas, períodos de 4 semanas.

Conclusão O envelhecimento da população é hoje um dado irrefutável e com ele surgem novas problemáticas relacionadas com a perda de funcionalidade, com consequências a nível social, familiar, económico, entre outros. Impõe-se então a necessidade de cuidados específicos a este nível, capazes de assumir um papel preponderante quanto a estes novos desafios. Os idosos internados que constituíram a amostra deste estudo apresentaram, como se constatou, melhorias significativas no seu potencial de recuperação. De facto, foram encontradas variações positivas de 45% na média de valores de equilíbrio, de 48,8% na marcha e de 15,5% na independência funcional, o que coloca em relevo a efetividade do PEER apresentado. Os contributos que a enfermagem de reabilitação pode trazer à problemática relativa à perda de funcionalidade das pessoas idosas é uma questão inegável e diariamente confirmada na nossa vivência hospitalar. Os estudos realizados neste âmbito são de facto parcos, justificando-se a recomendação da Ordem dos Enfermeiros em 2015 sobre a necessidade de desenvolver pesquisas sobre a efetividade das intervenções de enfermagem de reabilitação como área prioritária a investigar em Portugal. Foi nossa intenção contribuir para o colmatar desta lacuna

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e demonstrar a relevância que pode ter este profissional na prevenção e até reversão do declínio funcional, aquando do internamento (ou mesmo em momentos anteriores), através do programa que apresentámos e desde já disponibilizamos, sugerindo-se a sua aplicação diária e sistematizada nesta população. Reconhecemos os efeitos benéficos da atuação do enfermeiro de reabilitação durante a hospitalização do idoso, contudo, na nossa opinião, estas intervenções poderão ser alavancadas se forem devidamente articuladas com os colegas dos serviços de cuidados de saúde primários, nomeadamente EER integrados nas equipas de cuidados continuados integrados (ECCI) das unidade de cuidados na comunidade (UCC), por forma a dar continuidade ao processo de reabilitação e manutenção da tão desejada funcionalidade. Contribuição de autores Conceptualização: Limão, R. P., Martins, R. M. Tratamento de dados: Limão, R. P., Martins, R. M. Análise formal: Limão, R. P., Martins, R. M. Investigação: Limão, R. P., Martins, R. M. Metodologia: Limão, R. P., Martins, R. M. Administração do projeto: Limão, R. P., Martins, R. M. Supervisão: Limão, R. P., Martins, R. M. Validação: Limão, R. P., Martins, R. M. Visualização: Limão, R. P., Martins, R. M. Redação - rascunho original: Limão, R. P. Redação - análise e edição: Limão, R. P., Martins, R. M. Agradecimentos Agradecemos ao Conselho de Administração e à Direção de Enfermagem do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, na pessoa da Excelentíssima Senhora Enfermeira Diretora Áurea Andrade, pelo apoio no desenvolvimento deste estudo. Referências bibliográficas Apóstolo, J. L. (2012). Instrumentos para avaliação em geriatria (geriatrics instruments). https://web. esenfc. pt/v02/include/download Cadore, E. L., Rodríguez-Mañas, L., Sinclair, A., & Izquierdo, M. (2013). Effects of different exercise interventions on risk of falls, gait ability, and balance in physically frail older adults: A systematic review. Rejuvenation Research, 16(2), 105-114. https:// doi:10.1089/rej.2012.1397 Caldas, L. R., Albuquerque, M. R., Lopes, E., Moreira, A. C., Ribeiro, A. Q., & Carneiro-Júnior, M. A. (2020). Multicomponent physical training increases strength, agility and dynamic balance in middle-aged women. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício, 19(6), 478-488. https://doi.org/10.33233/rbfex.v19i6.4041 Direção-Geral da Saúde. (2011). Acidente vascular cerebral: Prescrição de medicina física e de reabilitação. https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0542011de-27122011-jpg.aspx Esquenazi, D., Silva, S. B., & Guimarães, M. A. (2014). Aspectos fisiopatológicos do envelhecimento humano e quedas em idosos. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, 13(2), 11-20. https:// doi:10.12957/rhupe.2014.10124 Fermento, C., Martins, R., & Campos, S. (2019). Investimento pessoal

e independência funcional: Estudo dos níveis e dos determinantes num grupo de idosos. Revista Servir, 60(1-2), 75-84. https://www. aceps.pt/images/Revista_SERVIR_final_24.12.pdf Lobo, A. J. (2012). Relação entre aptidão física, atividade física e estabilidade postural. Revista de Enfermagem Referência, 3(7), 123-130. https://doi:10.12707/RIII1181 Marques-Vieira, C. M., Sousa, L. M., Carias, J. F., & Caldeira, S. M. (2016). Nursing diagnosis” impaired walking” in elderly patients: Integrative literature review. Revista Gaucha de Enfermagem, 36(1),104-111. https://doi:10.1590/1983-1447.2015.01.48602 Martínez-Velilla, N., Cadore, E. L., Casas-Herrero, A., Idoate-Saralegui, F., & Izquierdo, M. (2016). Physical activity and early rehabilitation in hospitalized elderly medical patients: Systematic review of randomized clinical trials. Journal of Nutrition, Health & Aging, 20(7), 738-751. https://doi: 10.1007/s12603-016-0683-4 Martins, R., Andrade, A., Martins, C., & Campos, S. (2017). Physical activity in the elderly: Importance in balance and risk of falls. The European Proceedings of Social & Behavioural Sciences, 67-73. https://doi:10.15405/epsbs.2017.06.9 Martins, R., Campos, D., Moreira, H., Albuquerque, C., Andrade, A., & Martins, C. (2016). Prevalência e determinantes do risco de queda em idosos institucionalizados. Millenium, 2(esp.1), 185-192. http://revistas.rcaap.pt/millenium/article/viewFile/10062/7404 Marvanejo, D. J. (2017). Funcionalidade dos utentes internados no domicílio em equipas de cuidados continuados integrados, ECCI: Intervenção do enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação [Dissertação de mestrado, Instituto Politécnico de Viseu]. Repositório Institucional do Instituto Politécnico de Viseu. https:// repositorio.ipv.pt/bitstream/10400.19/4507/1/DuarteJoseDraqueMarvanejo%20Dm.pdf Menezes, C., Oliveira, V. R., & Menezes, R. L. (2010). Repercussões da hospitalização na capacidade funcional de idosos. Revista Movimenta, 3(2), 76-84. http://repositorio.unb.br/ bitstream/10482/11682/1/ARTIGO_RepercussoesHospitalizacaoCapacidade.PDF Ordem dos Enfermeiros. (2019). Regulamento das competências específicas do enfermeiro especialista em Enfermagem de Reabilitação. https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-/search/122216893/details/ normal?l=1 Petronilho, F. A., Pereira, C. M., Magalhães, A. I., Carvalho, D. M., Oliveira, J. M., Castro, P. R., & Machado, M. M. (2017). Evolução das pessoas dependentes no autocuidado acompanhadas na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. Revista de Enfermagem Referência, 14(4), 39-48. https://doi.org/10.12707/ RIV17027 Rodrigues, K. P. (2019). Treinamento combinado versus multicomponente em parâmetros de saúde de mulheres de 50 a 75 anos: Associação com variantes genéticas [Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo]. Repositório Institucional da Universidade de São Paulo. https://doi.org/10.11606/D.109.2020.tde-29112019-122600 Sousa, J. M. (2014). Declínio funcional e o risco de queda no idoso hospitalizado [Dissertação de mestrado, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra]. Repositório Institucional da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. http://repositorio.esenfc. pt/?url=IKixlQ81 Tavares, J. P., Grácio, J., & Nunes, L. V. (2020). Eficácia da implantação do cuidado centrado na funcionalidade no declínio funcional: Um estudo quase-experimental. Revista de Enfermagem Referência, 5(2), e20012. https://doi:10.12707/RV20012 Tavares, J., Grácio, J., & Nunes, L. (2018). Hospitalized older adults:

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hospitalizada: Preditores do declínio funcional. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 29, e3399. https://doi.org/10.1590/15188345.3612.3399

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

Fazer a Diferença 3 - um programa de estimulação cognitiva individual para pessoas idosas: Aceitabilidade e aplicabilidade

Making a Difference 3 – an individual cognitive stimulation program for older people: Appropriateness and feasibility Fazer a Diferença 3 - un programa de estimulación cognitiva individual para personas mayores: Aceptabilidad y aplicabilidad Rosa Carla Gomes da Silva 1 https://orcid.org/0000-0002-3947-7098 Elzbieta Malgorzata Bobrowicz-Campos 2 https://orcid.org/0000-0001-5889-5642 Paulo Jorge dos Santos-Costa 1 https://orcid.org/0000-0003-0761-6548 Isabel Maria de Assunção Gil 1 https://orcid.org/0000-0002-5387-8285 Maria de Lurdes Almeida 1 https://orcid.org/0000-0002-4454-8743 João Luís Alves Apóstolo 1 https://orcid.org/0000-0002-3050-4264

1

Unidade de Investigação em Ciências da

Saúde: Enfermagem (UICISA: E), Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Coimbra, Portugal 2

Universidade de Coimbra, Centro de

Estudos Interdisciplinares do Século XX, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Coimbra, Portugal

Resumo Enquadramento: A estimulação cognitiva individual desenvolvida em contexto domiciliar por um cuidador é uma intervenção inovadora. O programa de estimulação cognitiva Fazer a Diferença 3 (FD3) é um exemplo deste tipo de intervenção. Objetivo: Explorar a aceitabilidade e a aplicabilidade do programa FD3 para a população portuguesa. Metodologia: Estudo desenvolvido em duas fases: na Fase 1 realizaram-se entrevistas exploratórias a académicos, profissionais de saúde e cuidadores, com o intuito de se conhecer a recetividade a este tipo de intervenção; na Fase 2 conduziu-se um painel de peritos e grupos focais, com cuidadores, para explorar a suas perceções sobre o programa FD3, versão portuguesa. Resultados: A Fase 1 foi impulsionadora do estudo. As partes interessadas analisaram este tipo de intervenção como muito útil e versátil. A Fase 2 permitiu perceber as potencialidades em termos de aceitabilidade e de aplicabilidade da intervenção, traduzida e adaptada, para a população portuguesa. Conclusão: O programa FD3 poderá ser uma excelente ferramenta no cuidado à pessoa idosa com deterioração cognitiva a residir em contexto domiciliar. Palavras-chave: estimulação cognitiva; intervenção não-farmacológica; declínio cognitivo; demência; perturbação neurocognitiva; cuidador Abstract Background: The delivery of individual cognitive stimulation by caregivers in a home-based setting is an innovative intervention. An example of this type of intervention is the Making a Difference 3 (MD3) cognitive stimulation program. Objective: To explore the appropriateness and feasibility of the MD3 program for the Portuguese population. Methodology: This study was developed in two phases. In Phase 1, exploratory interviews were conducted with academics, healthcare professionals, and caregivers to identify the receptivity to this type of intervention. In Phase 2, a panel of experts and focus groups with caregivers were conducted to explore their perceptions about the Portuguese version of the MD3 program. Results: Phase 1 was the driving force behind the study. Participants considered this type of intervention very useful and versatile. Phase 2 allowed identifying the level of appropriateness and feasibility of the intervention that was translated and adapted to the Portuguese population. Conclusion: The MD3 program can be an excellent tool in caring for older adults with cognitive impairment living at home. Keywords: cognitive stimulation; non-pharmacological intervention; cognitive decline; dementia; neurocognitive disorder; caregivers

Autor de correspondência Rosa Carla Gomes da Silva E-mail: rosacgsilva@esenfc.pt

Recebido 11.10.20 Aceite: 04.05.21

Resumen Marco contextual: La estimulación cognitiva individual, desarrollada en casa, por un cuidador, es una intervención innovadora. El programa de estimulación cognitiva Marcando la diferencia 3 (MD3) es un ejemplo de este tipo de intervención. Objetivo: explorar la aceptabilidad y aplicabilidad del programa MD3 para la población portuguesa. Metodología: se desarrollaron dos fases. En la Fase 1, se realizaron entrevistas exploratorias con académicos, profesionales y cuidadores, con el fin de conocer la receptividad a este tipo de intervenciones; La Fase 2, se desarrolló un panel de expertos y grupos focales para explorar sus percepciones sobre el programa, versión portuguesa. Resultados: La Fase 1 fue la fuerza impulsora detrás del estudio. Los grupos de interés consideraron este tipo de intervención como muy útil y versátil. La Fase 2 permitió percibir las potencialidades en términos de aceptabilidad y aplicabilidad de la intervención, traducida y adaptada, para la población. Conclusión: El programa MD3 puede ser una excelente herramienta para el cuidado de las personas mayores con deterioro cognitivo que viven en el hogar. Palabras clave: estimulación cognitiva; intervención no farmacológica; deterioro cognitivo; demencia; trastorno neurocognitivo; cuidador Como citar este artigo: Silva, R. C., Bobrowicz-Campos, E. M., Santos-Costa, P. J., Gil, I. M., Almeida, M. L., & Apóstolo, J. L. (2021). Fazer a Diferença 3 - um programa de estimulação cognitiva individual para pessoas idosas: aceitabilidade e aplicabilidade. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20161. https://doi. org/10.12707/RV20161

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Silva, R. C. et al

Introdução Portugal, à semelhança de outros países em fase de desenvolvimento/desenvolvidos, debate-se com questões societais problemáticas, onde se inclui o aumento do número de pessoas idosas com perturbação neurocognitiva major, frequentemente denominada demência (American Psychiatric Association [APA], 2013). De facto, Portugal integra a minoria dos países europeus que até 2018 nãotinha uma estratégia oficial no cuidado à pessoa idosa com perturbação neurocognitiva major (Despacho nº 5988/2018 do Gabinete do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, 2018). Na literatura de referência nesta área temática, a estimulação cognitiva (EC) tem ganho relevância crescente no contexto clínico, social e económico dada a evidência produzida sobre o potencial efeito terapêutico não-farmacológico desta intervenção (Orgeta et al., 2015; Silva et al., 2020). Existem diferentes tipos de abordagem e de programas no âmbito da EC. Tradicionalmente, esta intervenção psicossocial desenvolve-se em grupo, por meio de um conjunto de atividades significativas, ao longo de várias sessões, e que têm por objetivo preservar a performance cognitiva do indivíduo com declínio cognitivo (DC; Livingston et al., 2017). A EC individual é uma abordagem menos comummente implementada, que consiste na realização de sessões de um para um, que podem ser desenvolvidas em contexto domiciliar. De facto, são parcos os esforços conhecidos internacionalmente em torno de programas de EC individual estruturados e cujo desenvolvimento processual tenha incluído, além de peritos na área, pessoas idosas com DC e os seus cuidadores. Na literatura, um dos programas mais referenciados e replicados intitula-se de Making a Difference 3 (MD3) – Individual Cognitive Stimulation Therapy, desenvolvido por Yates, Orrel, Phoung, et al. (2015). Tendo por base a ausência de programas estruturados de EC individual em Portugal, este estudo tem como objetivo explorar a aceitabilidade (appropriateness) e aplicabilidade (feasibility) do programa de EC individual MD3 para a população portuguesa.

Enquadramento Testemunha-se uma crescente preocupação em se conceptualizar programas de EC estruturados e replicáveis, desenhados de acordo com rigorosos preceitos metodológicos. Como exemplos de programas de EC individual temos o Home-based collaborative memory intervention, Active cognitive stimulation e o próprio MD3 (Silva et al., 2020; Yates, Orrel, Phoung, et al., 2015). O propósito destes programas é dar resposta a um contexto de intervenção menos explorado na área da EC. Ao contrário da maioria dos programas, que são implementados por um profissional de saúde em contexto hospitalar ou comunitário, estes programas de EC individual têm a finalidade de serem implementados por um cuidador informal, em contexto domiciliar. Neste âmbito, o cuidador informal (familiar, vizinho ou amigo) é o facilitador da intervenção. Estes programas têm ainda a mais-valia de poderem ser aplicados a pessoas idosas que não

têm acesso à EC de grupo, por dificuldade de mobilidade ou até por falta dessa oferta na sua área de residência (Silva et al., 2020). O programa MD3 é considerado como um programa inovador, de baixo custo e com potencial terapêutico, que vai ao encontro das políticas centradas no ageing in place (Fonseca, 2018; Orgeta et al., 2015).

Questão de investigação Qual a aceitabilidade e a aplicabilidade do programa de EC individual (PECI) - MD3 na população portuguesa, tendo por base a perceção dos cuidadores, profissionais de saúde e peritos?

Metodologia O desenvolvimento do PECI-MD3, por Yates, Orrel, Phoung, et al. (2015), foi norteado pelas recomendações metodológicas do Medical Research Council (Craig et al., 2008). Este programa foi concebido para ser aplicado três vezes por semana, sendo composto por 75 sessões (Yates, Orrel, Phoung, et al., 2015; Yates, 2016) e é recomendado para pessoas idosas com DC ligeiro e demência, até grau moderado. O PECI-MD3 foi materializado em formato de manual, apresentando duas secções principais: (a) uma parte introdutória, onde são elencados 13 princípios-chave de boas-práticas no desenvolvimento de sessões de EC individual, com o intuito de assistir o cuidador na sua aplicação; (b) a apresentação das sessões desenhadas, centradas em temáticas variadas como “a minha vida”, “assuntos atuais” ou “alimentação”. Cada sessão apresenta uma estrutura principal comum, complementada por instruções práticas para o cuidador de modo a facilitar a interação com a pessoa cuidada, seguindo-se o desenvolvimento das atividades propostas. Todas as sessões de EC individual apresentam dois graus de dificuldade que são geridos pelos cuidadores, durante a implementação das sessões (Yates, Orrel, Phoung, et al., 2015; Yates, 2016). O presente estudo foi desenvolvido com base nas Guidelines for adapting cognitive stimulation Therapy to other cultures, de Aguirre et al. (2014), organizado em duas fases. Na primeira fase, respeitando os princípios de stakeholder engagement, foram envolvidos cuidadores informais (CInf) de pessoas idosas com DC (n = 2), profissionais de saúde (PSau) com experiência na área da EC (n = 3) e académicos (ACad) com extensa experiência de investigação/lecionação na área do envelhecimento (n = 3). O objetivo desta fase foi de conhecer a aceitabilidade e aplicabilidade do PECI-MD3 (versão original - inglesa), e o tipo de díade ou contexto que poderia beneficiar com a implementação do programa. Decorrente dos contributos identificados nesta etapa, procedeu-se à tradução e adaptação do PECI-MD3 para o português europeu. Na segunda fase, foi conduzido um painel de peritos (n = 8) e três grupos focais com familiares cuidadores (n = 10) de modo a conhecer a sua perceção relativamente à parte introdutória e sessões que integram o PECI-MD3 em português europeu. Na Fase 1 os participantes foram selecionados por conveniência e a colheita dos dados foi realizada por meio de

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entrevistas semiestruturadas segundo um guião desenhado pela equipa de investigação. Todos os participantes eram proficientes na língua inglesa escrita e falada. Após convite pela investigadora principal, o PECI-MD3 (versão original) foi facultado a cada participante (CInf, PSau, ACad) para análise. Após o momento formal de análise, a investigadora principal entrevistou cada participante de modo a recolher as suas perceções no que respeita ao PECI-MD3. Na Fase 2, de modo a validar os conteúdos do PECI-MD3 em português europeu, constituiu-se um painel de peritos heterogéneo (Keeney et al., 2010) através da técnica de Delphi modificada. A elegibilidade dos peritos regeu-se pelos seguintes critérios: (a) Ser detentor de conhecimento acrescido na área do cuidado à população idosa, obtido por meio de formação especializada, com experiência no planeamento e execução de intervenções de EC; (b) Desempenhar, no exercício da sua profissão/contexto de trabalho, intervenções semanais de EC direcionadas à população idosa; ou (c) Apresentar extensa atividade de investigação desenvolvida na área da EC. O recrutamento de peritos foi realizado de forma personalizada, através de contacto pessoal ou telefónico. Após a sua aceitação, foi enviado por correio eletrónico informações referentes ao estudo (e.g., objetivo, aplicabilidade do conhecimento produzido pelo painel, organização do Delphi), assim como o PECI-MD3 em português europeu. De modo a uniformizar os contributos de cada perito, a equipa de investigação elaborou um Questionário de Análise, respondido com recurso a escala de Likert de cinco pontos, variando entre 0 (discordo totalmente) e 5 (concordo totalmente). No fim do preenchimento do Questionário de Análise, era igualmente possível aos peritos indicarem outros contributos não explorados anteriormente, através de uma questão de resposta aberta. Com base no guião desenvolvido, foi solicitado a cada perito que avaliasse a sua concordância com a estrutura e conteúdos da parte introdutória (e.g., linguagem, conceitos, tamanho de letra, quadros-conceitos, quantidade de informação) e das sessões do PECI-MD3 em português europeu (e.g., apresentação geral, linguagem e conceitos utilizados, tamanho de letra, imagens, clareza das atividades propostas, potencial nível de envolvimento da pessoa idosa com DC). Ainda na Fase 2, desenvolveram-se três grupos focais com familiares cuidadores de pessoas idosas com DC, selecionados através de contacto com um centro de reabilitação motora e de estimulação cognitiva da região norte de Portugal (após parecer positivo da instituição). A pré-seleção dos potenciais cuidadores (n = 12) e o primeiro contacto com os mesmos foi realizado pela equipa deste centro, assegurando-se a homogeneidade do grupo dentro da área de interesse (Puchta & Potter, 2004). Os que consentiram participar (n = 10) foram contactados por um elemento da equipa de investigação que complementou a informação relativa ao estudo. Neste contacto, foi disponibilizado aos participantes o PECI-MD3 em português europeu, assim como um guião de análise do manual semelhante ao disponibilizado aos peritos envolvidos no painel de Delphi. A condução dos grupos focais foi realizada no centro de reabilitação motora e de estimulação cognitiva, num gabinete amplo, com a presença de dois elementos da

equipa de investigação (um responsável pela condução do grupo, o segundo pelo registo de notas de campo e gravação áudio). A introdução dos temas e condução da discussão pelos grupos foi realizada com base num guião previamente construído pela equipa de investigação. Na Fase 1 o conteúdo das entrevistas foi analisado e categorizado. O processo de organização das categorias ocorreu a priori com os descritivos: (a) aceitabilidade e aplicabilidade; (b) tipologia das díades; (c) contextos. Na Fase 2 para a técnica de Delphi definiram-se níveis de consenso de grupo. Assim, no Questionário de Análise, 75% das respostas deveriam situar-se entre o score 4 e 5, para se poder admitir que existe consenso de grupo (Keeney et al., 2010). Utilizou-se a estatística descritiva, como as medidas de tendências central, de dispersão (mediana) e de frequências. As respostas às perguntas abertas foram sujeitas a análise de conteúdo (Keeney et al., 2010). Nos grupos focais, a equipa de investigação realizou a observação do grupo e foram redigidas notas de campo que complementaram os dados áudio recolhidos. As sessões foram transcritas e analisadas em conjunto com as notas de campo, construindo-se assim o corpo de análise. Para o tratamento do mesmo aplicaram-se técnicas indutivas de análise temática, tendo por base um sistema de categorias também estabelecido a priori, que resultaram do guião de leitura e análise (Puchta & Potter, 2004). Ainda, em relação aos cuidadores, foram recolhidos dados sociodemográficos que foram analisados com recurso à estatística descritiva. O PECI-MD3, apesar de ter 75 sessões, a partir da 35ª sessão repete as suas áreas temáticas com atividades e conteúdos similares. Por isso, a equipa entendeu explorar a aceitabilidade e aplicabilidade do programa até à sessão número 40, por se perspetivar uma saturação dos dados a serem recolhidos. Em termos de considerações éticas, o projeto intitulado EC em pessoas idosas, onde este estudo se insere, obteve parecer positivo da Comissão de Ética da Administração Regional de Saúde do Norte (Parecer nº 27/2017). Neste estudo em particular todos os preceitos éticos foram assegurados.

Resultados Na Fase 1 a perceção dos participantes envolvidos foi impulsionadora do processo de tradução e de adaptação do PECI-MD3 para português europeu (intitulado Fazer a Diferença 3; PECI-FD3). Em relação à caracterização dos participantes, no que se refere aos PSau (PSau1; PSau2 e PSau3): (a) um era enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação, com experiência na área da EC, com 15 anos de experiência profissional; (b) um outro era terapeuta ocupacional, com quatro anos de experiência no contexto da EC; (c) e por fim, um animador social pós-graduado em neuropsicologia de intervenção, também com experiência profissional na área da EC. Os PSau avaliaram o programa como útil e acreditam que a aceitabilidade será positiva e a sua aplicabilidade será conseguida em algumas díades: “A ideia é muito boa, cada vez mais os cuidadores e familiares e até os próprios doentes entendem as vantagens da estimulação cognitiva” (PSau1); “haver um programa de

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estimulação em que um familiar pode aplicar será uma mais-valia para as famílias mais ativas e envolvidas com o envelhecimento dos seus idosos” (PSau1). Os PSau também identificam possíveis famílias onde esta intervenção poderá não ser bem aceite: “nem todos os familiares/cuidadores aceitarão o programa.” (PSau2); “A nossa população em geral, pelo nível de escolaridade que tem ainda não entende muito bem o benefício desta intervenção… infantilizam o idoso” (PSau2); “Os familiares/cuidadores com baixos níveis de escolaridade, desmotivados ou com instabilidade clínica dificilmente aderem” (PSau2). Os cuidadores (CInf1 e CInf2) eram duas filhas, cujas mães estavam numa fase moderada a avançada de DC. Ambas eram cuidadoras a tempo inteiro. CInf1 tinha o apoio de uma cuidadora formal, era licenciada em farmácia e reformada. CInf2 tinha apoio da rede familiar e de uma empregada doméstica, com o curso do magistério primário e também reformada. As cuidadoras mostraram uma boa recetividade ao PECI-FD3: “o manual está bem organizado, é interessante, parece estar tudo bem explicado . . . parece-me muito útil” (CInf1); “é sem dúvida muito interessante, nós cuidadores temos poucos recursos” (CInf2). Uma possível barreira à aplicabilidade do mesmo será os défices sensoriais, que frequentemente as pessoas idosas com DC apresentam: “Quem tem défices auditivos ou visuais podem beneficiar pouco do programa, até ficar irritado porque não consegue ver ou fazer” (CInf1). Os académicos (ACad1, ACad2 e ACad3) envolvidos eram professores do ensino superior politécnico (n = 2) e do ensino universitário (n = 1); expressaram a grande utilidade que o programa poderá ter para algumas famílias, bem como a necessidade de um minucioso trabalho de adaptação cultural do mesmo: “Todos os idosos com demência deveriam ter direito a este tipo de intervenção.” (ACad1); “O isolamento social é uma realidade, . . . eles precisam” (ACad2); “Este tipo de programas será para famílias que se preocupam com os seus idosos e que se envolvam” (ACad2); “um trabalho rigoroso

de adaptação cultural será necessário para a sua fiabilidade e validade . . . ter em atenção os gostos e as preferências da população alvo” (ACad1). Os académicos realçaram ainda um conjunto de aspetos positivos em termos de acessibilidade e aplicabilidade do programa face aos diferentes contextos, mas alertam para a intencionalidade da intervenção e a possível necessidade de supervisão por parte dos profissionais de saúde: “Tem a vantagem de ser em formato livro, o que o torna mais acessível para as famílias.” (ACad3); “tem uma apresentação friendly, colorida” (ACad3); “Tem a vantagem de explicar como fazer a estimulação cognitiva o que ajudará o cuidador, mas será suficiente?” (ACad3); “Penso que este programa pode ter uma aplicabilidade mais ampla [do que unicamente o domicílio]” (ACad1). Fase 2 Em relação aos peritos (n = 8), 37,5% (n = 3) cumpriram o critério de inclusão a), e outros 37,5% (n = 3) o critério de inclusão b) e 25% (n = 2) o critério c). A formação académica é vasta, desde enfermagem (n = 4), psicologia (n = 3), terapia ocupacional (n = 1) e animação e gerontologia social (n = 1). Um dos participantes agregava duas licenciaturas (enfermagem e psicologia), enquanto dois eram estudantes de doutoramento, dois eram doutorados em psicologia, dois eram especializados em enfermagem de saúde mental e psiquiátrica e um era especializado em enfermagem comunitária e saúde familiar. Os resultados dos questionários de análise referentes à parte introdutória do manual do PECI-FD3 oscilaram na escala Likert entre 3 (sem opinião) a 5 pontos (concordo totalmente). Os níveis de consenso obtidos na primeira ronda situaram-se entre 88,5 e os 100%. Os parâmetros com menor classificação foram o tamanho da letra e a quantidade de informação. Os restantes parâmetros obtiveram uma apreciação entre concordo (score 4) a concordo totalmente (score 5; Tabela 1).

Tabela 1 Ronda de avaliação por peritos - Introdução do Manual do PECI-FD3 Parâmetros Apresentação geral Linguagem

Discordo Totalmente n (%) 0 0

0

0

2 (25)

Concordo Totalmente n (%) 6 (75)

0

0

4 (50)

4 (50)

Discordo n (%)

Sem Opinião n (%)

Concordo n (%)

Conceitos

0

0

0

4 (50)

4 (50)

Tamanho da letra

0

0

1 (12,5)

5 (62,5)

2 (25)

Quadros-conceito

0

0

0

1 (12,5)

7 (87)

Quantidade de informação

0

0

1 (12,5)

5 (62,5)

2 (25)

Princípios-chave

0

0

0

1 (12,5)

7 (87)

Explicação sobre Como Usar o Manual

0

0

0

3 (37,5)

5 (62,5)

Secção - Perguntas Frequentes

0

0

0

1 (12,5)

7 (87,5)

Secção - Fontes úteis

0

0

0

4 (50)

4 (50)

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Os parâmetros avaliados em cada uma das 40 sessões oscilaram entre 3 a 5 pontos, apurando-se altos níveis de consenso (Tabela 2). A apresentação geral das sessões foi o parâmetro que obteve a média mais baixa (M = 4,48;

DP = 0,17) e os parâmetros que obtiveram melhor classificação relacionam-se com os conceitos utilizados (M = 4,76; DP = 0,22) e quantidade de informação presente nas sessões (M = 4,75; DP = 0,24).

Tabela 2 Medidas centrais e de dispersão dos parâmetros avaliados por sessão (sessão 1 a 40) Média (±DP)

Média Intervalo

Pontuação Intervalo

Apresentação geral

4,48 (0,17)

4,24-5,00

3-5

Linguagem

4,71 (0,17)

4,52-5,00

3-5

Conceitos

4,76 (0,22)

4,48-5,00

3-5

Tamanho da letra

4,59 (0,21)

4,36-5,00

3-5

Imagens

4,68 (0,22)

4,29-5, 00

3-5

Quantidade de informação

4,75 (0,24)

4,32-4,96

4-5

Atividades da sessão são claras

4,67 (0,16)

4,44 -4,84

3-5

Nível de envolvimento proporcionado

4,68 (0,27)

4,32-5,00

3-5

Parâmetros

Nota. DP = desvio-padrão.

Os peritos (P) identificaram que os poucos recursos tecnológicos e os baixos níveis de escolaridade que caracterizam esta população poderiam constituir constrangimentos à aplicabilidade do programa: “grande parte dos nossos cuidadores não só não dispõem de computador/ tablet/ smartphone como, também, têm poucas ou nenhumas competências de pesquisa ou consulta de sites na internet” (P4); “Os nossos cuidadores têm pouca tradição de leitura. Textos longos ‘assustam’” (P6). Os peritos debruçaram-se sobre o conteúdo, organização e grau de dificuldade de algumas sessões. Outro aspeto igualmente ressaltado pelos peritos prende-se com o significado que algumas das atividades propostas no programa teriam para a população masculina dado que, no seu entender, estariam fortemente associadas à população feminina por questões culturais: “não tenho a certeza se o jogo ‘Pontos e caixas’ é conhecido por todos” (P1, Sessão 10 - Números II); “as sugestões para Questões a refletir, são demasiado complexas para a maioria dos nossos idosos” (P5, Sessão 40 -Arte); “Procurava introduzir mais

problemas que possam ser resolvidos por homens”. (P5, Sessão 21/22 - Dicas Úteis). Sobre o parâmetro envolvimento proporcionado pela sessão, um perito centra a sua opinião no modo como a sessão será implementada: “sobre o nível envolvimento que as atividades proporcionam, implica uma resposta relativa, ou seja, teoricamente as atividades parecem induzir esse envolvimento, . . . Contudo, vai depender da forma como são operacionalizadas” (P1). No geral, as opiniões dos peritos foram tidas em consideração pela equipa de investigação, que as integrou na versão final do PECI-FD3. Questões centrais para a equipa de investigação, como a informação presente na secção introdutória do manual, foram abordadas junto dos participantes dos grupos focais. Grupos Focais A totalidade dos cuidadores que aceitaram participar no estudo eram do sexo feminino, com uma idade média de 59 anos, a maioria eram filhas (n = 5) e todas coabitavam com a pessoa cuidada (Tabela 3).

Tabela 3 Caracterização sociodemográfica dos cuidadores (n = 10) Características Idade, anos(média, min-máx) Género – n (%) Feminino Masculino Escolaridade, anos (média, min-máx)

Cuidadores informais (n =10) 59 (30-74) 10 (100) 0% 10,8 (4-16)

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Silva, R. C. et al Relação parentesco – n (%) Filha(o) Cônjuge Nora/Genro Sobrinha(o)

5 (50) 3 (30) 1 (10) 1 (10)

Nota. Máx = máximo; Min = mínimo. Sobre a parte introdutória do manual do PECI-FD3, as cuidadoras mostraram concordância com a apresentação geral e conteúdos. O conteúdo da parte introdutória foi avaliado como sendo útil e pertinente. A linguagem e/ou conceitos foram avaliados como inteligíveis. Não obstante, as cuidadoras expressaram contributos significativos: “O manual tem uma apresentação muito agradável, gostei muito, está colorido... simpático!” (GF, CInf1); “Pareceu-me muito interessante, em termos de organização, estrutura. . . tem vários títulos que ajuda” (GF, CInf3); “tive necessidade de ler mais que uma vez, não por achar de difícil leitura ou chato, mas porque era um assunto novo… aprendi imenso” (GF, CInf2). Em termos de sessões de EC, foram sugeridas alterações no que respeita a termos e conceitos introduzidos, assim como a nível da dificuldade de algumas das atividades, como é o caso das atividades propostas nas sessões sobre arte (sessão 25, 26 e 40). As cuidadoras, como também foi identificado pelos peritos, consideraram que as atividades das sessões sobre arte eram complexas (apesar de terem sido simplificadas após a apreciação inicial dos peritos): “Eu acho que no geral a apresentação está ótima, atrativa, bem organizada” (GF, CInf8); “A discussão sobre arte é complexa, e nem é um tema que os idosos dominem” (GF, CInf4). Em relação à aceitabilidade do PECI-FD3, as cuidadoras enalteceram o programa, tendo inclusive expressado o seu interesse em aplicar o mesmo aos seus familiares. Porém, quatro cuidadores mencionaram que poderiam encontrar algum nível de dificuldade na sua implementação decorrente da falta de disponibilidade a nível pessoal (comprometendo a adesão ao programa) ou pela instabilidade na relação com o seu familiar idoso com DC. Outras duas cuidadoras identificaram que o atual estado de apatia, desinteresse e dificuldade expresso pelos seus familiares poderia comprometer a execução e compreensão das atividades, pelo agravamento do quadro clínico (DC em estado avançado). Todavia, estas cuidadoras reforçaram a sua opinião sobre o PECI-FD3, considerando-o interessante e aplicável em outros casos clínicos. “Há pouca divulgação deste tipo de material [programas de EC] . . ., eu achei muito bom.” (GF, CInf2); “É sempre um momento de atenção que lhes damos, o estarmos com eles, a fazer alguma destas atividades, é uma forma de darmos esta atenção . . .” (GF, CInf5); “A melhor pessoa para trabalhar com a minha tia e desenvolver este tipo de trabalho seria a empregada . . . há uma distância emocional e assim iria funcionar melhor” (GF, CInf8).

Discussão As Guidelines for adapting cognitive stimulation therapy to other cultures (Aguirre et al., 2014) referem que o

processo de tradução deste tipo de intervenção deve, ao máximo, envolver todas as partes interessadas para que a intervenção seja sensível às preferências, tradições e vivências das pessoas, e ainda ao sistema de crenças e valores. Quanto mais rigoroso for este processo, maior será a probabilidade de termos uma intervenção bem aceite pela população-alvo e uma melhor compreensão da sua aplicabilidade será conseguida. A Fase 1, suportada pela opinião dos cuidadores, académicos e profissionais de saúde sobre a versão original do PECI-MD3, deu impulso e coadjuvou o processo de tradução e adaptação do mesmo. Os resultados das entrevistas exploratórias deram uma perspetiva sobre a possível aceitabilidade, tipologias de díades recetoras da intervenção e contexto e permitiram, ainda, determinar o tipo de participantes a incluir na Fase 2. Na Fase 2 compilaram-se as opiniões do painel de peritos e dos cuidadores que integraram os grupos focais, relativamente à versão traduzida PECI-FD3, o que constituiu um excelente contributo no processo de validação cultural, reforçando desta forma a aceitabilidade e aplicabilidade da intervenção à população portuguesa. Pelas Fases 1 e 2 percebeu-se que esta intervenção é inovadora e necessária para a população portuguesa. A mesma poderá constituir-se como uma resposta de excelência, em especial nos casos das pessoas em risco de DC ou já com DC instalada, que tenham uma família/cuidador ativo, envolvido e motivado no processo terapêutico do seu familiar (Yates, Orrell, Spector, et al., 2015; Yates et al., 2016). Outra dimensão realçada é a qualidade da relação entre os elementos da díade, pois a mesma poderá afetar a aceitabilidade e a aplicabilidade do programa (Orrell et al., 2017). Neste sentido, a avaliação prévia da relação entre os elementos da díade será um aspeto a considerar antes da aplicação deste programa (Yates, 2016). Outra dificuldade a ter em conta é o baixo nível de literacia/ escolaridade da população portuguesa. Esta característica da díade terá de ser considerada pelos profissionais de saúde, aquando da prescrição desta intervenção. A estratégia poderá passar por um maior acompanhamento destas díades, por estes mesmos profissionais. Uma recente revisão sistemática da literatura verificou que o acompanhamento dos profissionais de saúde na implementação de programas de EC individual é determinante para o sucesso da intervenção (Silva et al., 2020). Esta revisão identificou que os estudos que implementaram programas de EC individual, em contextos domiciliar pelo cuidador, em simultâneo com um assíduo acompanhamento da díade pelos profissionais de saúde, conseguiram obter ganhos significativos para a pessoa idosa com DC (Silva et al., 2020). Por fim, no que se refere aos contextos, a EC individual é salientada como um excelente recurso a ser

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Silva, R. C. et al

oferecido em ambiente doméstico e, possivelmente, este programa poderá ser prescrito por profissionais de vários contextos de cuidados, desde os cuidados primários aos cuidados diferenciados, como unidades de psicogeriatria. Em relação às várias secções da parte introdutória do manual do PECI-FD3 as mesmas foram bem aceites, porém, a informação dos peritos diverge da opinião dos familiares cuidadores. Os peritos avaliam como muita informação, referenciando que os nossos cuidadores não têm hábitos de leitura e que os mesmos não dispõem de acesso a recursos tecnológicos como a internet. Por sua vez, os familiares cuidadores apreciaram bastante esta informação, referindo que a mesma lhes permitiu trazer novos conhecimentos. Neste sentido, avaliaram estes conteúdos como sendo de grande importância no cuidado e na interação com a pessoa idosa com DC. As sessões de EC obtiveram boa avaliação em termos de compreensão, organização e de potencial de envolvência da pessoa idosa com DC nessas mesmas sessões. Acredita-se que estes resultados de grande consenso, dentro destas duas fases se devem, em grande parte, ao excelente trabalho realizado pelos autores originais deste programa (Yates, Orrel, Phoung, et al., 2015). A investigação desenvolvida na construção do mesmo foi um processo rigoroso e desenvolvido por uma equipa muito experiente (Yates, Orrel, Spector, et al., 2015; Yates, 2016). Neste seguimento, a equipa de investigação teve o cuidado de realizar também um rigoroso processo de tradução e validação cultural, o que também em si mostrou ser bem-sucedido (Yates et al., 2019; Silva, 2019). O percurso de investigação, suportado por orientações internacionais, teve a intencionalidade de tornar esta intervenção mais específica e sensível às necessidades culturais e linguísticas, considerando que estes passos são essenciais para a futura aceitabilidade e aplicabilidade desta intervenção para a população portuguesa. Mesmo assim, consideramos que as generalizações assumidas, tanto dos dados extraídos do painel dos peritos como dos grupos focais, podem ter as suas limitações. No sentido de as minimizar, procurou-se seguir as diretrizes sobre a definição do número de participantes envolvidos na técnica de Delphi e nos grupos focais, contudo, existe ainda falta de consenso na literatura a esse respeito (Keeney et al., 2010). Porém, consideramos que o processo conduzido neste estudo confere validade dado que nas questões abertas obteve-se saturação dos dados e altos níveis de consenso foram obtidos nas respostas fechadas. Já em relação às cuidadoras, verificamos consenso nas suas interações. No entanto, consideramos que a ausência de cuidadores do sexo masculino se afigura como uma limitação, pois possivelmente as suas opiniões poderiam ter enriquecido mais este processo (Aguirre et al., 2014; Yates, Orrel, Spector, et al., 2015). Outro aspeto ainda a refletir prende-se com a origem regional dos participantes envolvidos já que, na sua maioria, são da região norte do país, mais especificamente da área metropolitana do Porto, e só dois peritos são da região centro (Aguirre et al., 2014; Yates, 2016). Naturalmente, que as experiências destes participantes poderão não ser suficientemente representativas da população portuguesa.

Conclusão O programa PECI-FD3 foi avaliado como útil, versátil e acessível aos cuidadores e pessoas idosas com DC. A auscultação de peritos e cuidadores permitiu a recolha de contributos valiosos para a concretização da versão final PECI-FD3. O programa foi apreciado pela apresentação amigável e organização facilitadora. As cuidadoras enalteceram a informação inicial do programa, bem como os conteúdos e organização das sessões de EC. Estudos futuros deverão atender às especificidades geográficas da população portuguesa, de modo a potenciar a aceitabilidade do programa em contexto nacional. Neste âmbito, impõe-se a realização de estudos a nível nacional para uma ampla validação desta intervenção. Por fim, torna-se necessário avaliar a eficácia do programa, por meio de estudos experimentais, e explorar o significado atribuído ao mesmo pelo cuidador e pessoa cuidada com DC. Contribuição de autores Conceptualização: Silva, R. C., Santos-Costa, P. J., Gil, I. M., Almeida, M. L., Apóstolo, J. L. Metodologia: Silva, R. C., Santos-Costa, P. J., Apóstolo, J. L. Tratamento de dados: Silva, R. C., Bobrowicz-Campos, E. M., Apóstolo, J. L. Análise formal: Silva, R. C., Bobrowicz-Campos, E. M., Apóstolo, J. L. Investigação: Silva, R. C., Bobrowicz-Campos, E. M., Apóstolo, J. L. Redação - rascunho original: Silva, R. C., Bobrowicz-Campos, E. M., Santos-Costa, P. J. Redação - análise e edição - Silva, R. C., Bobrowicz-Campos, E. M., Gil, I. M., Almeida, M. L., Apóstolo, J. L. Financiamento A pesquisa foi desenvolvida no contexto do projeto “Estimulação cognitiva em Idosos: intervenção na fragilidade cognitiva e promoção do autocuidado” [ECOG / 2015] e cofinanciado pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Referências bibliográficas Aguirre, E., Spector, A., & Orrell, M. (2014). Guidelines for adapting cognitive stimulation therapy to other cultures. Clinical Interventions in Aging, 9, 1003–1007. https://doi.org/10.2147/CIA. S61849 American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM5 (5th ed.). APA. Craig, P., Dieppe, P., Macintyre, S., Michie, S., Nazareth, I., & Petticrew, M. (2008). Developing and evaluating complex interventions: The new medical research council guidance. BMJ, 337, a1655. https://doi.org/10.1136/bmj.a1655 Fonseca, A. (Ed.). (2018). Boas práticas de ageing in place: Divulgar para valorizar: Guia de boas práticas. Fundação Calouste Gulbenkian/ Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa. https://gulbenkian.pt/publication/boas-prat-

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

Índice de qualidade na manutenção do cateter venoso central num serviço de medicina intensiva

Quality index in central venous catheters maintenance in an intensive care unit Índice de calidad en el mantenimiento del catéter venoso central en una unidad de cuidados intensivos Solange Marisa Lage Gomes 1, 2 https://orcid.org/0000-0002-4093-0443 Matilde Delmina da Silva Martins 1, 3 https://orcid.org/0000-0003-2656-5897 Maria José Gonçalves Alves 1, 4 https://orcid.org/0000-0001-8506-4393

Instituto Politécnico de Bragança, Escola Superior de Saúde, Bragança, Portugal

1

Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, Serviço de Medicina Intensiva, Vila Real, Portugal

2

Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA: E), Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Coimbra, Portugal

3

Instituto Politécnico de Bragança, Centro de Investigação de Montanha (CIMO), Bragança, Portugal

4

Resumo Enquadramento: As infeções associadas aos cuidados de saúde são consideradas como uma das principais ameaças à segurança do doente e à qualidade dos cuidados. O uso do cateter venoso central (CVC) com fins diagnósticos e terapêuticos é cada vez mais frequente, mas, simultaneamente são responsáveis por cerca de 90% das bacteriemias a nível hospitalar. Objetivos: Analisar o Índice de Qualidade de Manutenção (IQM) do CVC num serviço de medicina intensiva (SMI) de um centro hospitalar do norte de Portugal. Metodologia: Estudo transversal e analítico. A amostra foi de 35 enfermeiros e 170 observações de manutenção ao CVC, através da grelha de observação adaptada da Direção-Geral da Saúde para determinar o IQM. Resultados: Foi obtido um IQM do CVC de 89,2%. O sexo feminino e ser especialista influenciaram o IQM do CVC (p < 0,05). Conclusão: IQM do CVC dentro dos valores recomendados. A formação e a investigação em contexto de trabalho são fundamentais para a melhoria na prestação de cuidados de enfermagem. Palavras-chave: cuidados críticos; cateter venoso central; cuidados de enfermagem; índice de qualidade de manutenção Abstract Background: Healthcare-associated infections are one of the main threats to patient safety and quality of care. Although central venous catheters (CVCs) are increasingly used for diagnostic and therapeutic purposes, they are responsible for about 90% of bacteremia in hospitals. Objectives: To analyze the CVC Maintenance Quality Index (MQI) in an intensive care unit (ICU) of a hospital center in northern Portugal. Methodology: Cross-sectional and analytical study. The sample consisted of 35 nurses and 170 CVC maintenance observations using the observation grid adapted from the Directorate-General for Health to determine the MQI. Results: A CVC MQI of 89.2% was obtained. The female gender and being a specialist influenced the CVC MQI (p < 0.05). Conclusion: The CVC MQI was within the recommended values. In-service training and research are essential to improve nursing care. Keywords: critical care; central venous catheter; nursing care; maintenance quality

Autor de correspondência Solange Marisa Lage Gomes E-mail: smarisalg@hotmail.com Recebido: 11.11.20 Aceite: 20.10.21

Resumen Marco contextual: Las infecciones asociadas a la asistencia sanitaria se consideran una de las principales amenazas para la seguridad del paciente y la calidad de la atención. El uso del catéter venoso central (CVC) con fines diagnósticos y terapéuticos es cada vez más frecuente, pero, a la vez, es responsable de cerca del 90% de las bacteriemias a nivel hospitalario. Objetivos: Analizar el Índice de Calidad de Mantenimiento (ICM) del CVC en una unidad de cuidados intensivos (UCI) de un centro hospitalario del norte de Portugal. Metodología: Estudio transversal y analítico. La muestra estuvo compuesta por 35 enfermeros y 170 observaciones de mantenimiento del CVC, para lo cual se utilizó la parrilla de observación adaptada de la Dirección General de Salud para determinar el ICM. Resultados: Se obtuvo un ICM del CVC de 89,2%. El sexo femenino y ser especialista influyeron en el ICM del CVC (p < 0,05). Conclusión: ICM del CVC dentro de los valores recomendados. La formación y la investigación en el lugar de trabajo son fundamentales para mejorar la prestación de los cuidados de enfermería. Palabras clave: cuidados intensivos; catéteres venosos centrales; atención de enfermería; índice de calidad de mantenimiento

Como citar este artigo: Gomes, S. M., Martins, M. D., & Alves, M. J. (2021). Índice de qualidade na manutenção do cateter venoso central num serviço de medicina intensiva. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20181. https://doi.org/10.12707/RV20181

Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e20181 DOI: 10.12707/RV20181

pp. 1 - 8


Gomes, S. M. et al

Introdução Na atualidade, os cuidados de saúde proporcionam ganhos em saúde sem precedentes às gerações vindouras de doentes e suas famílias, porém, estas conquistas acarretam riscos associados, como o das infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS; Aloush, 2018). Em 2011, a World Health Organization (WHO) definiu as IACS como infeções adquiridas em meio hospitalar no decurso da prestação de cuidados ao doente durante o seu período internamento, sem que as mesmas estejam presentes no período de admissão. As IACS representam na atualidade uma significativa ameaça à segurança do doente e à qualidade dos cuidados (Souza et al., 2015). Segundo a Ordem dos Enfermeiros (OE, 2017), as IACS são definidas como uma situação clínica resultante de reações orgânicas de agentes infeciosos ou das suas toxinas, adquirida pelas pessoas em consequência dos cuidados e procedimentos de saúde prestados, podendo afetar também os profissionais de saúde durante o exercício da sua atividade. Dos vários serviços de internamento a nível hospitalar, um dos que representa maior risco de infeção é o serviço de medicina intensiva (SMI). Este serviço apresenta-se como um serviço especializado, que dispõe de assistência médica e de enfermagem ininterrupta, recursos humanos extremamente qualificados e acesso às tecnologias de diagnóstico e terapêuticas mais sofisticadas. Uma das mais predominantes é a infeção nosocomial da corrente sanguínea (INCS) com origem em microrganismos da flora da pele, resultante da infeção do local de inserção do cateter, da perfusão de soluções intravenosas contaminadas, pela ligação de dispositivos médicos e pelas mãos dos profissionais de saúde. Em 2017 foram realizados novos estudos sobre a infeção hospitalar em Portugal, e a prevalência de IACS foi de 7,8% (10,5% em 2012), ocorrendo também um decréscimo positivo na pneumonia associada à intubação endotraqueal em UCI de adultos em 2016, com valores de 7,1 por 1000 dias de intubação (Direção-Geral da Saúde [DGS], 2017). E segundo o mesmo autor, no que se refere à infeção associada ao cateter venoso central (CVC) em UCI de adultos, a taxa de incidência por 1000 dias de cateter foi de 0,9. Borges e seus colaboradores, em 2018, estabeleceram uma relação entre o risco de adquirir infeção com o tipo de solução em perfusão, permanência do cateter no doente, bem como a experiência dos profissionais em doentes críticos. Apesar de os resultados apresentarem uma tendência decrescente, estas infeções hospitalares, atualmente, assumem um desafio aquando da prestação de cuidados ao doente crítico hospitalizado, bem como a prevenção e o controlo de procedimentos invasivos (Souza et al., 2015). Por conseguinte, segundo o mesmo autor, ao longo do seu exercício profissional o enfermeiro deve perspetivá-la como essencial na sua ação e no seu contexto de trabalho. Face ao exposto, o objetivo deste trabalho é analisar o Índice de Qualidade de Manutenção (IQM) do CVC num SMI de um centro hospitalar do norte de Portugal.

Enquadramento No SMI, os cuidados prestados assumem maior comple-

xidade, devido ao uso de métodos cada vez mais invasivos de tratamento e diagnóstico, mas também a fatores relacionados com a própria pessoa as IACS desenvolvem-se com maior facilidade (Oliveira, Meneses, et al., 2015). O doente crítico apresenta um risco consideravelmente mais elevado para a aquisição destas infeções (Tajeddin et al., 2016). Esta realidade emerge do uso de dispositivos invasivos, em particular linhas centrais, cateteres urinários e tubos endotraqueais (Tajeddin et al., 2016). Assim, o CVC é um dispositivo médico invasivo de acesso à circulação venosa e a sua utilização no doente crítico tornou-se prática diária e imprescindível, em ambiente de cuidados intensivos, devido não só ao acesso vascular de alto débito para a administração de fluidos, sangue, hemodiálise e suporte nutricional, mas também a questões relacionadas com a monitorização hemodinâmica (Aloush, 2018; Günther et al., 2016; Mushtaq et al., 2018). Na atualidade, o uso do CVC com fins diagnósticos e terapêuticos é cada vez mais frequente, mas, simultaneamente, são responsáveis por cerca de 90% das bacteriemias a nível hospitalar (Mushtaq et al., 2018). A nível europeu, em 2017, cerca de 8,3% dos doentes críticos internados nos SMI adquiriram durante o seu internamento neste serviço uma IACS: pneumonia, infeção da corrente sanguínea (ICS) ou infeção do trato urinário (European Centre for Disease Prevention and Control, 2017). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 2017 referiu que as contaminações pelo CVC são a principal causa de INCS. Deste modo, a introdução da Norma n.º 022/2015 (DGS, 2015) e a adesão do SMI ao programa HELICS-UCI contribuiu para a introdução dos feixes de intervenção bem como para vigilância epidemiológica da infeção da corrente sanguínea associada ao CVC. As guidelines relativas à prestação de cuidados à pessoa com CVC encontram-se descritas como feixes de intervenção, quer para a fase de inserção, quer para a fase de manutenção do CVC (DGS, 2015).

Questão de investigação Qual o IQM do CVC num SMI de um centro hospitalar do norte de Portugal?

Metodologia Trata-se de um estudo analítico e transversal, realizado no SMI de uma unidade hospitalar do Norte de Portugal, no período de abril a junho de 2019. A amostra foi constituída por 35 enfermeiros, que realizaram 170 procedimentos de manutenção do CVC. A recolha de dados através da grelha de observação direta foi efetuada pela investigadora, nos seus turnos de trabalho (roulement), em colaboração com a equipa de enfermagem do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA). Foram realizadas 170 observações diretas de forma aleatória aos participantes no estudo respeitantes aos feixes de intervenção na Prevenção

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da Infeção Relacionada com o CVC (PIRCVC) no momento da manutenção. O número de observações por profissional foi em média de 4,8 observações. Foram respeitadas todas as normas éticas e os direitos dos participantes, tendo por base o que está consignado na Declaração de Helsínquia e na Convenção de Oviedo. O estudo foi submetido para análise e autorização ao Presidente do Conselho de Administração e à Comissão de Ética do hospital, tendo obtido a sua aprovação em 20/12/2018, com o n.º 494/2018. Todos os participantes deram o seu consentimento informado, após conhecerem os objetivos do estudo. Os dados foram codificados, inseridos e analisados em programa informático de forma a garantir e respeitar o anonimato dos participantes no software informático IBM SPSS Statistics, versão 25.0. Recorremos à estatística descritiva, através do cálculo da frequência absoluta e relativa para todas as variáveis categóricas em estudo. Para analisar a correlação entre variáveis contínuas foram utilizados os seguintes testes estatísticos: o coeficiente de correlação de Pearson (r), para a comparação de médias, o teste t-Student e análise de variância a dois fatores (Anova). O IQM foi calculado dividindo a soma das respostas positivas pelo número de respostas aplicáveis. Para a definição da amostra partiu-se de um IQM esperado do CVC de pelo menos 80%. Consideramos como valor de significância 0,05. O instrumento de recolha de dados utilizado para a caraterização sociodemográfica foi um questionário constituído por 12 questões fechadas, que inclui: idade, sexo, habilitações académicas e profissionais, experiência profissional, formação na área de PIRCVC e perceção dos conhecimentos de cada elemento acerca da temática em causa. Foi também aplicada uma grelha de observação direta como instrumento de

recolha de dados junto da equipa de trabalho anteriormente referida. Esta foi adaptada com base no feixe de intervenções de PIRCVC da Norma n.º 022/2015 (DGS, 2015). Face à importância das guidelines emanadas na PIRCVC, tornou-se imprescindível o acrescento de mais feixes de intervenções a serem observados na grelha de manutenção/realização de penso do CVC, tais como: evidência de utilização de via única para administração de hemoderivados, soluções lipídicas e para nutrição parentérica total (NPT); evidência de substituição de sistemas e prolongadores a cada 96 horas; evidência de substituição dos sistemas que contenham soluções lipídicas a cada 24 horas (NPT); evidência de substituição de sistemas que contenham propofol a cada 6 a 12 horas; evidência da substituição dos sistemas e prolongadores que contêm sangue, coágulos ou sedimentos; evidência de realização de lavagem com soro fisiológico após a administração de terapêutica em bólus; evidência de manutenção das torneiras protegidas com campo estéril; evidência de registo das queixas do doente quando possível e higienização das mãos após a realização do procedimento.

Resultados A média de idades da equipa de enfermagem (n = 35) foi de 33,9 anos (DP ± 6,0 anos) com um mínimo de 26 anos e um máximo de 59 anos. A maioria dos participantes era do sexo feminino (71,4%), sendo a habilitação académica predominante a licenciatura com 48,6%, seguida de 34,3% de enfermeiros com categoria profissional de enfermeiro especialista. Destes, 91,7% eram detentores de especialização em enfermagem médico-cirúrgica (Tabela 1).

Tabela 1 Dados sociodemográficos, habilitações académicas e área de especialização da equipa de enfermagem em estudo (n=35) Variáveis Sexo

Idade

Habilitações académicas

Área de especialização da equipa de enfermagem Regime de trabalho

n Masculino Feminino 26 – 29 anos 30 – 39 anos 40 – 49 anos 50 – 59 anos Média ± DP Licenciatura Pós-graduação Especialidade Mestrado EMC Reabilitação Por turnos Horário fixo

%

10 25 7 24 3 1

28,6 71,4 20,0 68,6 8,6 2,9 33,9 ± 6,0

17 6 4 8 11 1 34 1

48,6 17,1 11,4 22,9 91,7 8,3 97,1 2,9

Nota. DP = desvio-padrão; EMC = enfermagem médico-cirúrgica.

No que concerne à experiência profissional da equipa, podemos verificar na Tabela 2 que a média do tempo de serviço é elevada, com aproximadamente 11 anos,

havendo um decréscimo relativo ao exercício profissional na instituição (7,5 anos), sendo a permanência no SMI o que apresenta menor média (5,6 anos).

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Gomes, S. M. et al

Tabela 2 Experiência profissional da equipa de enfermagem em estudo Variáveis

Média ± DP

Tempo de exercício profissional

10,8 ± 6,7

Tempo de exercício profissional na instituição

7,5 ± 6,7

Tempo de exercício profissional no SMI

5,6 ± 5,9

Nota. SMI = serviço de medicina interna; DP = desvio-padrão.

Na Tabela 3, pode-se observar que todos os participantes afirmaram possuir conhecimentos relativamente à PIRCVC, dos quais 60% classificaram esse conhecimento como bom. De entre os 35 enfermeiros inquiridos, 85,7%

admitiu ter formação nesta área. Quando questionados acerca da proveniência da formação, 93,3% referiu que a mesma foi em contexto de trabalho.

Tabela 3 Conhecimento e autoavaliação relativamente à PIRCVC da equipa de enfermagem em estudo (n = 35) Variáveis Conhecimentos sobre PIRCVC

(%)

35 13 21

100 37,1 60

Excelente

1

Sim

30

2,9 85,7

Sim Suficiente Bom

Autoavaliação dos Conhecimentos sobre PIRCVC

Formação sobre PIRCVC Em serviço Formação:

n

Académica Congressos, seminários

Tempo decorrido desde a última formação

Conhecimento da existência de norma sobre CVC Padronização cuidados na colocação/manutenção do CVC

Não

5

14,3

Sim Não Sim Não Sim Não < 6 meses 1 ano

28 2 6 24 3 27 20 10

93,3 6,7 20 80 10 90 57,1 28,6

>2 anos

0

12,5

>3 anos

5

14,3

Sim Sim

35 35

100 100

Nota. PIRCVC = prevenção da infeção relacionada com o cateter venoso central; CVC = cateter venoso central.

O IQM geral do CVC foi de 89,2%. Os níveis de adesão mais baixos estão relacionados com a higiene das mãos com água e sabão de pH neutro (67,1%), desinfeção

alcoólica das conexões (71,8%), substituição do sistema do Propofol 12h/12h (24,4%) e realização do penso CVC com técnica assética (72,2%; Tabela 4).

Tabela 4 Distribuição do Índice de qualidade na manutenção na PIRCVC por critério e determinação do IQM geral (n = 170) Critérios

Categoria S 132

1 - Avaliação diária da razão da manutenção do CVC

S₊N 170

2 - Higiene das mãos com água e sabão de pH neutro

170

114

67,1

3 - Desinfeção alcoólica das mãos

170

166

97,6

4 - Desinfeção alcoólica das conexões

170

122

71,8

5 - Realização do penso CVC com técnica assética

90

65

72,2

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IQ (%) 77,6

4


Gomes, S. M. et al 6 - Periodicidade da realização do penso CVC

90

89

98,9

7 - Desinfeção alcoólica/lavagem das mãos no final dos procedimentos

170

133

78,2

8 - Via única para perfusão de sangue até um máximo de 4h após início

8

8

100

9 - Via única para NPT

24

24

100

10 - Substituição do sistema da NPT às 24h

24

24

100

11 - Substituição do sistema do Propofol 12h/12h

82

20

24,4

12 - Substituição de sistemas de soros, soluções eletrolíticas e perfusões de 96h/96h

170

170

100

13 - Substituição de sistemas e/ou prolongadores com sangue ou coágulos

33

33

100

14 - Lavagem com SF (0,9%) após terapêutica em bólus

160

159

99,4

15 - Torneiras 3 vias obturadas e protegidas com campo estéril

170

169

99,4

Índice de Qualidade da Manutenção do CVC

1601

1428

89,2

Nota. CVC = cateter venoso central; NPT = nutrição parenteral total; SF = soro fisiológico; S ₊ N = número de respostas aplicáveis. Obtém-se subtraindo o número de respostas não aplicáveis do número de questões avaliadas. S = respostas positivas; IQ= Índice de Qualidade.

De acordo com a Tabela 5 foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre o IQM do CVC e o sexo, registando o sexo feminino uma média maior que o masculino (t = 2,474; p = 0,019). O IQM do CVC, é influenciado pela categoria profissional, verificamos que os enfermeiros especialistas apresentam maior IQM do CVC (t = 4,110; p < 0,001). Foram também detetadas diferenças estatisticamente significativas entre o IQM do CVC e as habilitações

académicas dos enfermeiros (F = 4,779; p = 0,008). De acordo com o teste Post hoc de Bonferroni foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre as habilitações académicas licenciatura e mestrado (p = 0,018). Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre o IQM do CVC, a idade, o tempo de exercício profissional na instituição e o tempo de exercício no SMI, com um valor de p > 0,05 (Tabela 5).

Tabela 5 Comparação do IQM do CVC em função do perfil da equipa enfermagem: sexo categoria profissional e habilitações académicas Variável dependente

IQM

Variável independente Equipa Enfermagem (n = 35)

Sexo

Equipa Enfermagem (n = 35)

Categoria profissional

Categoria

n

± DP

t

Masculino

10

77,9±9,3

-

Feminino

25

84,8±6,9

2,474

Enfermeiro

23

78,9±8,3

-

Enfermeiro especialista

12

88,8±2,3

4,110

F IQM

Equipa Enfermagem (n = 35)

Habilitações académicas

4,779

p 0,019

0,000

p 0,008

Nota. IQM = índice de qualidade médio; DP = desvio-padrão; t = Teste t-Student; p = valor de significância F = Leneve.

Discussão A amostra deste estudo foi constituída por 35 profissionais de enfermagem, predominantemente do sexo feminino com idade entre os 30 e os 39 anos. Estes resultados vão ao encontro do perfil encontrado por Nunes em 2018, os quais justificam este perfil pelo facto de estes serviços serem promotores de um maior desafio, complexidade e motivação para os jovens profissionais em início de carreira. Assim, segundo o mesmo autor, os profissionais mais velhos não apresentam maioritariamente motivação para a formação contínua e atualização de conhecimentos não tolerando a pressão que lhes é exercida nestes serviços, acabando por serem transferidos. Constatámos

também que a maioria da nossa amostra era constituída por elementos do sexo feminino, resultados que estão em consonância com os dados emanados pela Ordem dos Enfermeiros (2018), onde se pode verificar que 82,2% dos enfermeiros a exercer funções nesse ano no território nacional são do sexo feminino. Além disso, ser do sexo feminino também foi associado a maior pontuação no IQM do CVC (84,9% vs 77,9%). Resultados similares foram obtidos por Oliveira et al. (2016), através dos quais verificou que profissionais do sexo feminino e possuir mais treino em prevenção de infeção, melhora o IQM do CVC. Nas habilitações académicas verificou-se que 48,6% dos enfermeiros possuem licenciatura e 34,3% formação pós-graduada (especialidade e mestrado), com predomí-

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Gomes, S. M. et al

nio de especialização em enfermagem médico-cirúrgica (EMC; 91,7%). Este resultado é bastante relevante tendo em conta que a Ordem dos Enfermeiros (2018), referiu que apenas 21,6 % dos enfermeiros especialistas nestes serviços possuíam especialização em EMC. De acordo com o Regulamento n.º 743/2019, de 25 de setembro, assume cada vez mais relevância a importância de que as equipas dos SMI tenham na sua constituição pelo menos 50% de enfermeiros especialistas em EMC, preferencialmente na área da enfermagem à pessoa em situação crítica, em permanência nas 24 horas, devendo idêntica regra ser assegurada na constituição de cada turno. Pela análise dos resultados podemos constatar que, de entre a equipa, 34,2% são enfermeiros especialista (12), dos quais 91,7% são detentores da especialidade médico-cirúrgica. Apesar de no presente estudo do total de enfermeiros apenas 34,3% apresentarem formação pós-graduada (especialidade e mestrado), destes a percentagem de especialistas em EMC é superior (91,7%) à recomendação emanada pelo regulamento anteriormente referido. A experiência profissional no SMI foi uma variável analisada para perceber se os profissionais seriam experientes na manipulação do CVC, uma vez que é uma prática comum nestes serviços e pouco ou nada utilizada noutros contextos do exercício profissional. Verificou-se que a maioria dos participantes tinha em média mais de 5 anos de exercício profissional no atual SMI, pelo que podemos afirmar que são experientes ou mesmo peritos na sua área de prestação de cuidados tal como verificado em outro estudo, visto possuir pelo menos 5 anos de experiência profissional em ambiente de cuidados intensivos (Oliveira et al., 2016). Para a DGS (2015), os feixes de intervenção, quando agrupados e implementados de forma integrada, promovem melhor resultado, com maior impacto do que a adição do efeito de cada uma das intervenções individualmente. O IQM do CVC foi de 89,2%, considerado dentro do recomendado, uma vez que se encontra acima de 80%, ou próxima de 95%, resultado corroborado por outros estudos (Oliveira, Caetano, et al., 2015, Oliveira, Meneses, et al., 2015; Oliveira et al., 2016; Padilla Fortunatti, 2017). Ainda de acordo com os mesmos autores, o valor IQ individual relacionado com a desinfeção alcoólica das conexões, foi de apenas 17,5% comparativamente com o detetado no presente estudo, que foi de (71,8%). O conhecimento da equipa de enfermagem mostrou-se homogéneo no que respeita à periocidade da realização do penso do CVC, com um IQ de 98,9%. Ou seja, quando este é realizado com compressa o mesmo deve ser trocado a cada 24 horas, e no caso de utilização de penso transparente o mesmo deve ser substituído ao fim de 7 dias e, sempre que se apresente húmido, descolado ou repassado com sangue deve ser imediatamente trocado (Bell & O’Grady, 2017; DGS, 2015; Oliveira, Caetano, et al., 2015; Oliveira, Meneses, et al., 2015; Oliveira et al., 2016). No que respeita à realização do penso com técnica assética, no nosso estudo o valor do IQ foi de apenas 72,2%. Assim, a equipa de enfermagem atinge uma taxa de incumprimento neste parâmetro de 27,8%, onde 43,8% dos enfermeiros não utilizaram campo esterilizado/ kit de penso, 25% destaca-se pelo não cumprimento do

uso de máscara e luvas esterilizadas e, por fim, 6,2% dos enfermeiros não efetuaram corretamente a antissepsia da pele com clorohexidina a 2%, quer no momento de aplicação, quer no momento de secagem. Relativamente à prática da higiene das mãos levadas a cabo em diferentes momentos, verificamos que o IQ individual obtido na higiene das mãos antes da manipulação do CVC foi de apenas 67,1% e o IQ individual da desinfeção alcoólica/lavagem das mãos no final dos procedimentos foi superior com 78,2%, resultados que se situam abaixo do IQ considerado ideal (80%). Estes resultados são corroborados pelo estudo de Oliveira, Meneses, e seus colaboradores (2015), onde o procedimento da higienização das mãos foi nulo, ou seja, não se realizou, o que demonstrou a falta de adesão dos profissionais ao procedimento de higienização das mãos. Diferentes autores (Oliveira, Caetano, et al., 2015; Padilla Fortunatti, 2017) realçam a importância da higiene das mãos, visto que esta é baseada na capacidade de as mãos alojarem microrganismos e transferi-los de uma superfície para outra, por contacto direto, pele com pele, ou indireto, através de objetos potencialmente contaminados. Deste modo, o controlo destas infeções por intermédio da higienização cuidadosa e frequente das mãos (os cinco momentos) atende às exigências legais e éticas, promove a segurança e qualidade da atenção prestada ao doente crítico. Outros estudos (Oliveira, Meneses, et al., 2015; Padilla Fortunatti, 2017) referem que a origem da negligência dos profissionais de saúde para com a realização da técnica da higienização das mãos, pode estar relacionada com reações cutâneas nas mãos, falta de motivação, tempo, preparação e consciência sobre a importância das mãos na transmissão de microrganismos; contudo, no nosso estudo acredita-se que a baixa adesão à higienização das mãos antes dos procedimentos selecionados possa estar relacionada com o tempo de higienização ou desinfeção menor que o recomendado e, por isso, tenha sido contabilizado como incorreto; ou simplesmente pelo uso frequente de luvas, não ocorrendo sempre a higienização das mãos aquando de cada troca de luvas. Destaca-se o não cumprimento por parte dos enfermeiros da substituição do sistema de perfusão do propofol 12/12 horas na sua totalidade (IQ de 24,4%). Os sistemas de perfusão para a administração de propofol devem ser substituídos a cada 6 ou 12 horas, dependendo das indicações do laboratório (ANVISA, 2017; Bell & O’Grady, 2017; DGS, 2015). Este resultado deve-se ao facto de a equipa de enfermagem efetuar maioritariamente a troca de seringa de propofol quando esta termina, e não ao fim das 6h-12h, nomeadamente quando o ritmo de perfusão da mesma é baixo, a fim de minimizar desperdício de terapêutica e de material de consumo clínico. A categoria profissional influenciou também o valor obtido do IQM do CVC, isto porque ser detentor de uma especialidade tem influência no IQM do CVC com um valor de p < 0,001. Considerando que o Regulamento n.º 429/2018, de 16 de julho, considera como competências específicas do enfermeiro especialista em enfermagem médico-cirúrgica tratar a pessoa em situação crítica e maximizar a prevenção, intervenção e controlo da infeção e

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Gomes, S. M. et al

de resistência a antimicrobianos, provavelmente o elevado IQM do CVC obtido no presente estudo deve-se à elevada percentagem de enfermeiros com esta especialidade. Assim, podemos dizer que ser detentor desta especialidade permite obter melhores IQM do CVC, provavelmente porque estes conteúdos foram abordados na teoria e na prática ao longo da formação académica/profissional. O desafio das instituições de saúde atualmente está em criar um modelo adequado, de acordo com a orgânica de cada serviço, com vista a garantir o sucesso da intervenção, motivando os profissionais de saúde no seu exercício profissional (ANVISA, 2017; Oliveira et al., 2016). Com esse intuito, e de acordo com o Regulamento n.º 743/2019, de 25 de setembro (OE), assume cada vez mais relevância a importância de que as equipas dos SMI, tenham na sua constituição pelo menos 50% de enfermeiros especialistas em EMC, preferencialmente na área da enfermagem à pessoa em situação crítica, devendo idêntica regra ser assegurada na constituição de cada turno. A formação e o treino permanente de toda a equipa são estratégias fundamentais no que respeita à inserção e aos cuidados de manutenção e manipulação do CVC para a equipa de enfermagem, nomeadamente para a prevenção das INCS associadas ao CVC (ANVISA, 2017; Oliveira et al., 2016). Estes resultados são animadores e provavelmente refletem o valor apresentado pelo IQM do CVC encontrado. Embora os dados apresentados apenas digam respeito à subjetividade dos inquiridos, com diferentes percursos e experiências, considerámos ser válida a opinião que assumem ter sobre a prevenção da infeção associada ao CVC e a sua adesão no momento da manutenção neste serviço, bem como o que esta representa nas suas vidas profissionais. As principais limitações deste estudo são essencialmente a reduzida amostragem e, consequentemente, a reduzida frequência de observações, bem como a restrição a um único SMI.

Conclusão Verificou-se que o IQM do CVC está dentro do recomendado, acima de 80%, com exceção dos parâmetros de higiene das mãos com água e sabão de pH neutro, desinfeção alcoólica das conexões, realização do penso CVC com técnica assética e substituição do sistema do Propofol 12h/12h. As habilitações académicas, o ser enfermeiros especialista e o sexo influenciou o valor do IQM do CVC obtido, apresentando valores médios mais altos. Pelos resultados obtidos, pensamos que a formação dos profissionais de saúde é uma estratégia essencial para a prevenção e redução dos riscos de infeção, pelo que realçamos a importância da formação contínua, visando os indicadores com menor adesão neste estudo, a formação académica para a constante atualização de conhecimentos, apontando a prestação de cuidados de enfermagem de elevada qualidade. Sugerimos dotar estes serviços de enfermeiros especialistas, e em particular na área da EMC, cumprindo o legalmente estipulado. A implementação de campanhas de sensibilização para a importância da lavagem das mãos com vista a aumen-

tar a taxa de conformidade neste feixe de intervenção. Sugerimos, ainda, a realização de outros estudos com amostras maiores e por um período mais alargado, em serviços distintos, identificando outros fatores de riscos, permitindo retirar inferências por forma a otimizar os cuidados de enfermagem, garantindo cuidados de saúde de maior qualidade. Contribuição dos autores Conceptualização: Gomes, S. M., Martins, M. D. Tratamento de dados: Gomes, S. M., Martins, M. D. Metodologia: Gomes, S. M., Martins, M. D., Alves, M. J. Redação - rascunho original: Gomes, S. M., Martins, M. D., Alves, M. J. Redação - análise e edição: Gomes, S. M., Martins, M. D., Alves, M. J. Referências bibliográficas Agência Nacional de Vigilância Sanitária. (2017). Medidas de prevenção de infecção relacionada à assistência à saúde (2.ª ed.). http:// www.riocomsaude.rj.gov.br/Publico/MostrarArquivo.aspx?C=pCiWUy84%2BR0%3D Aloush, S. (2018). Educating intensive care unit nurses to use central venous catheter infection prevention guidelines: Effectiveness of an educational course. Journal of Research in Nursing, 23(5), 406413. https://doi.org/10.1177/1744987118762992 Bell, T., & O’Grady, N. P. (2017). Prevention of central line-associated bloodstream infections. Infectious Disease Clinics of North America, 31(3), 551-559. https://doi.org/10.1016/j.idc.2017.05.007 Borges, L. C., Souza, T. B., & Spolidoro, F. B. (2018). Atuação do enfermeiro frente ao risco de infecção com cateter venoso central na unidade de terapia intensiva. Revista Enfermagem em Evidência, 2(1), 1-14. https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/ enfermagememevidencia/sumario/74/17122018184624.pdf Direção-Geral da Saúde. (2015). Norma 022/2015: Feixe de intervenções de prevenção de infeção relacionada com cateter venoso central. https:// www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/ norma-n-0222015-de-161220151.aspx Direção-Geral da Saúde. (2017). Programa de prevenção e controlo de infeções e de resistência aos antimicrobianos - 2017. https://www. sns.gov.pt/wp-content/uploads/2017/12/DGS_PCIRA_V8.pdf European Centre for Disease Prevention and Control. (2017). Healthcare-associated infections acquired in intensive care units: Annual epidemiological report for 2017. https://www.ecdc.europa. eu/sites/ default/files/documents/AER_for_2017-HAI.pdf Günther, S. C., Schwebel, C., Hamidfar-Roy, R., Bonadona, A., Lugosi, M., Ara-Somohano, C., Minet, C, Potton, L., Cartier, J.-C., Vésin, A., Chautemps, M. Styfalova, L., Ruckly, S., & Timsit, J.-F. (2016). Complications of intravascular catheters in ICU: Definitions, incidence and severity. A randomized controlled trial comparing usual transparent dressings versus new-generation dressings (the advanced study). Intensive Care Medicine, 42(11), 1753-1765. https://doi.org/10.1007/s00134-016-4582-2 Mushtaq, A., Navalkele, B., Kaur, M., Krishna, A., Saleem, A., Rana, N., Gera, S., Chandramohan, S., Surapaneni, M., & Chopra, T. (2018). Comparison of complications in midlines versus central venous catheters: Are midlines safer than central venous lines? American Journal of Infection Control, 46(7), 788-792. https://

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

Necessidades de aprendizagem das mães e dos pais durante a gravidez Mothers’ and fathers’ learning needs during pregnancy Necesidades de aprendizaje de las madres y de los padres durante el embarazo

Anabela Figueiredo 1 https://orcid.org/0000-0001-5902-1322 Sandra Fonseca 2 https://orcid.org/0000-0001-9468-7269 Alexandrina Cardoso 3 https://orcid.org/0000-0002-9351-6684

Escola Superior de Saúde, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal

1

Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano (CIDESD), Escola de Ciências da Vida e do Ambiente, Departamento de Ciências do Desporto, Exercício e Saúde, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal

2

CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal

3

Resumo Enquadramento: A adaptação à gravidez implica que quem a vivencia incorpore um conjunto de competências que permitam a promoção da saúde. O conhecimento disciplinar que suporta a identificação das necessidades de aprendizagem é ainda limitado. Objetivo: Identificar as necessidades de aprendizagem, das mães e dos pais, para a promoção do autocuidado durante a gravidez. Metodologia: Estudo transversal, qualitativo. Participaram 80 mães e 20 pais, com intenção de engravidar ou gravidez atual ou prévia. Foram salvaguardados os princípios éticos. Foram realizadas entrevistas, entre janeiro e junho 2016. Os dados foram submetidos a análise de conteúdo (grounded analysis), com recurso ao NVivo11. Resultados: As necessidades de aprendizagem identificadas pelas mães e pais foram categorizadas em preparar-se para a gravidez; ajustar-se à gravidez; cuidar de si; cuidar do bebé (feto); assegurar a vigilância da saúde. Conclusão: Para se adaptarem à gravidez emergem três domínios de necessidades em cuidados - processo corporal, autocuidado/autovigilância e saúde fetal. As necessidades identificadas na mãe e pai são sobreponíveis, pelo que poder-se-á considerar o casal como cliente dos cuidados. Palavras-chave: gravidez; autocuidado; avaliação das necessidades educacionais; cuidados de enfermagem Abstract Background: The adjustment to pregnancy implies that those who experience it incorporate a set of skills for health promotion. The disciplinary knowledge supporting the identification of learning needs is still limited. Objective: To identify mothers’ and fathers’ learning needs to promote self-care during pregnancy. Methodology: Cross-sectional and qualitative study with 80 mothers and 20 fathers intending to become pregnant or with a previous or current pregnancy. Ethical principles were safeguarded. Interviews were conducted between January and June 2016. Data were subjected to content analysis (grounded analysis) using NVivo11. Results: The learning needs identified by mothers and fathers were divided into the following categories: preparing for pregnancy, adjusting to pregnancy, caring for oneself, caring for the baby (fetus), and ensuring health surveillance. Conclusion: Three domains of care needs emerged in the adjustment to pregnancy: body process, self-care/self-monitoring, and fetal health. Mothers and fathers have overlapping needs, so the couple can be considered a client of care. Keywords: pregnancy; self-care; educational needs assessment; nursing care

Autor de correspondência Anabela Figueiredo E-mail: afigueired@utad.pt

Recebido: 30.12.20 Aceite: 07.06.21

Resumen Marco contextual: La adaptación al embarazo implica que quienes lo viven incorporan un conjunto de habilidades que permiten la promoción de la salud. Los conocimientos disciplinarios que apoyan la identificación de las necesidades de aprendizaje son todavía limitados. Objetivo: Identificar las necesidades de aprendizaje de las madres y los padres para la promoción del autocuidado durante el embarazo. Metodología: Estudio transversal y cualitativo. Los participantes fueron 20 padres y 80 madres con intención de quedarse embarazadas, que estaban embarazadas o que lo habían estado anteriormente. Se respetaron los principios éticos. Las entrevistas se realizaron entre enero y junio de 2016. Los datos se sometieron a un análisis de contenido (grounded analysis), para lo cual se recurrió a NVivo11. Resultados: Las necesidades de aprendizaje identificadas por las madres y los padres se clasificaron como prepararse para el embarazo; adaptarse al embarazo; cuidar de uno mismo; cuidar del bebé (feto); asegurar la vigilancia de la salud. Conclusión: Para adaptarse al embarazo, surgen tres ámbitos de necesidades de cuidados: proceso corporal, autocuidado/autovigilancia y salud fetal. Las necesidades identificadas en la madre y el padre se superponen, por lo que la pareja puede ser considerada como cliente de los cuidados. Palabras clave: embarazo; autocuidado; evaluacion de las necesidades educativas; atención de enfermería Como citar este artigo: Figueiredo, A., Fonseca, S., Cardoso, A. (2021). Necessidades de aprendizagem das mães e dos pais durante a gravidez. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20217. https://doi.org/10.12707/ RV20217

Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e20217 DOI: 10.12707/RV20217

pp. 1 - 8


Figueiredo, A. et al

Introdução Os enfermeiros especialistas em enfermagem de saúde materna e obstétrica (ESMO) têm assumido como parte integrante da sua missão, capacitar a mulher e família para o autocuidado e autovigilância, bem como promover uma vivência positiva do processo de gravidez, através de intervenções individuais ou em grupo (Ordem dos Enfermeiros [OE], 2018). Estas intervenções que constituem a assistência pré-natal concebida e implementada pelos enfermeiros, em particular pelos enfermeiros especialistas em enfermagem de saúde materna e obstétrica (EEESMO), são fundamentais para salvar vidas e melhorar o bem-estar, a utilização dos cuidados de saúde e a qualidade dos cuidados. A transição para a parentalidade é, atualmente, vivenciada pela maioria dos casais de forma desejada, por essa razão, mesmo ainda durante a gravidez, estão altamente envolvidos na adoção de comportamentos saudáveis e na preparação antecipada da etapa seguinte (Cardoso, 2011; Jones et al., 2019). Esta predisposição para uma participação ativa é notável não só nas mulheres, mas também se tem observado um interesse crescente por parte dos homens (Andersson et al., 2016), em particular nas questões que envolvem a preparação para a parentalidade (Entsieh & Hallström, 2016; Mniszak et al., 2019). A adoção de um modelo de cuidados centrado no casal grávido, como facilitador da sua participação ativa em todo o processo, exige que a avaliação, o diagnóstico e as intervenções se centrem na resposta às suas necessidades em cuidados (Andersson et al., 2016; Almalik & Mosleh, 2017; Direção-Geral da Saúde [DGS], 2015; Jones et al., 2019; OE, 2018; World Health Organization [WHO], 2018). Todavia, atualmente não existem estudos que descrevam as necessidades, sensíveis aos cuidados de enfermagem, das mulheres e dos homens portugueses para manterem a saúde durante a gravidez. Assim, partiu-se para o desenvolvimento de um estudo cujo objetivo é identificar as necessidades de aprendizagem das mães e dos pais para promoverem o autocuidado durante a gravidez.

de interesse, mas centrados apenas na perspetiva das mulheres (Almalik & Mosleh, 2017; Kamali et al., 2017). Alguns tópicos considerados relevantes para as mulheres, incluem a gestão de complicações major, as avaliações e consultas médicas, a dieta adequada, informações sobre medicamentos e suplementos, cuidados com o feto e complicações após o parto. Sobre as necessidades percebidas pelas mulheres e homens, ao longo de toda a gravidez, destaca-se o estudo de Jones et al. (2019) que procurou aproximar o conteúdo dos contactos pré-natais às necessidades percebidas pelos próprios. Verificaram que as necessidades de aprendizagem das mães podem ser agrupadas em três grandes temas: desenvolver relações (com o feto/bebé, amigos e família); bem-estar emocional e aspetos práticos. Observaram ainda que as mães e os pais têm necessidades de aprendizagem diferentes e em momentos diferentes. As mães eram claras sobre o que queriam saber, mas os pais revelavam necessidades mais vagas. Este estudo destaca a dificuldade dos pais em saber o que precisam de aprender, à semelhança do estudo de Palsson et al. (2017), o qual constata ainda a considerável diversidade individual. A referência à promoção da respetiva saúde durante a gravidez remete para o fenómeno do autocuidado, que pode ser compreendido pela teoria do Défice de Autocuidado de Enfermagem de Orem (Orem, 2001). De uma forma geral, o autocuidado é uma função humana reguladora que as pessoas têm que desempenhar por si próprias, no sentido de preservar a vida, a saúde, o desenvolvimento e o bem-estar. Ou seja, é aprendida e executada de acordo com as suas necessidades. A gravidez, enquanto estadio de desenvolvimento humano com características específicas, é aqui entendida como uma condição que vai implicar novas necessidades e, consequentemente, novos requisitos para o autocuidado. Assim, no contexto português, considera-se pertinente que qualquer contributo para práticas promotoras do autocuidado e do bem-estar das grávidas e dos seus companheiros tenha início com o conhecimento das necessidades de aprendizagem percebidas pelos próprios.

Questão de investigação

Enquadramento A qualidade e a satisfação com os cuidados de enfermagem podem ter como pêndulo a resposta às necessidades percebidas pelos clientes. Por isso, a identificação das necessidades torna-se um passo incontornável para a conceção e implementação dos cuidados. Contudo, ainda é limitado o conhecimento disciplinar das necessidades de aprendizagem durante a gravidez para promoverem a respetiva saúde e garantirem o potencial máximo de saúde do seu filho, na perspetiva das próprias mães e pais que a vivenciam. A maioria dos estudos encontrados centram-se em temáticas específicas, como por exemplo a nutrição (Lucas et al., 2014), a atividade física (Broberg et al., 2015) ou a toma de medicamentos na gravidez (Ceulemans et al., 2019). Alguns estudos identificam necessidades mais amplas, abrangendo diversos tópicos

Quais são as necessidades de aprendizagem percebidas pelas mães e pelos pais, para assegurarem o autocuidado na gravidez?

Metodologia Foi preconizado um estudo transversal, descritivo-exploratório e de abordagem qualitativa. Os participantes foram selecionados com a colaboração dos profissionais de saúde das instituições onde se realizaram as entrevistas. A amostragem foi de conveniência ou acidental e os critérios de inclusão definidos foram: aceitar participar no estudo depois de conhecer os objetivos do mesmo, pretender vivenciar em breve uma gravidez/estar a vivenciar uma gravidez/ter vivenciado

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recentemente uma gravidez. Foram realizadas entrevistas a um total de 80 mulheres e 20 homens. A diferença entre o número de participantes pode ser justificada pela reduzida participação dos pais nas consultas e programas de saúde, durante o período em que foi realizado o estudo. As mulheres tinham em média 32 anos (32,3 ± 5,98), variando entre os 16 e os 45 anos e os homens em média 34 anos (34,2 ± 7,52), variando entre os 25 e os 56 anos de idade. A escolaridade dos participantes foi em média de 12 anos (12,95 ± 3,74), a maioria estava casada (56%) e cerca de metade vivia no meio urbano (49%). Os participantes distribuíram-se de forma diferente pelos cinco momentos previstos para a realização da entrevista, período pré-concecional (8%), 1º trimestre (22%), 2º trimestre (23%), 3º trimestre (37%) e período após o parto (10%). A maioria (61%) estava a vivenciar a sua primeira gravidez. O guião da entrevista semiestruturada foi construído em blocos temáticos, tendo em consideração os objetivos do estudo. Para proceder ao pré-teste realizaram-se duas entrevistas (a uma mãe e a um pai). Da análise da realização do pré-teste não emergiu necessidade de alteração às questões colocadas. Além dos dados de caracterização sociodemográfica e da história obstétrica, incluiu questões que detalhavam e permitiam obter resposta à questão central: “O que pensa que será/é/foi necessário aprender para conseguir cuidar-se e assegurar com confiança a sua saúde e a do seu filho, durante a gravidez?”. O modo e o momento em que as questões foram formuladas estiveram dependentes no decurso de cada entrevista, com uma duração média de 20 minutos. No final de cada entrevista era partilhado o conteúdo recolhido e obtida a concordância e validação por parte dos participantes. Antes da implementação da recolha de dados foi realizado um contacto com todas as instituições e serviços onde se pretendia desenvolver o estudo, com o objetivo de confirmar as autorizações previamente concedidas e o calendário para a realização das entrevistas. Os profissionais de saúde responsáveis colaboraram na identificação dos potenciais participantes, através dos registos de marcação das consultas de planeamento familiar, saúde materna, puerpério e dos inscritos nos programas de saúde “Preparação para o parto e parentalidade” e “Recuperação pós-parto”. O primeiro contacto com os participantes foi feito pelo profissional de saúde responsável. Após manifestação de interesse em participar no estudo, foi feita a abordagem pela investigadora no sentido de explicar os objetivos e os procedimentos, com vista à obtenção do consentimento informado. As entrevistas foram realizadas individualmente, em instituições de saúde da região Norte de Portugal (Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados, Unidades de Saúde Familiares, Unidades de Cuidados à Comunidade e Consulta externa do hospital), entre janeiro e junho de 2016. O estudo foi autorizado pela Comissão de Ética da ARS Norte (Parecer N.o 120/2015, estudo T489). A recolha dos dados atingiu a saturação teórica quando as novas entrevistas já não acrescentavam conteúdo novo às categorias ou alteração das categorias já encontradas. Ainda que o número de participantes homens, quando

comparado com as mulheres, tenha sido inferior, constatou-se uma menor variabilidade nas suas respostas pelo que a obtenção da saturação teórica foi observada entre a 14ª e a 16ª entrevista, todavia foram realizadas mais quatro para confirmação. Nas entrevistas das mulheres observou-se uma maior variabilidade das respostas, pelo que a saturação só foi obtida próximo das 80. As entrevistas, depois de transcritas, foram analisadas e organizadas seguindo o método de microanálise grounded analysis (Strauss & Corbin, 2008), com recurso ao software NVivo 11. Este processo de análise foi orientado por questões específicas elaboradas a partir da questão inicial. O primeiro passo foi a seleção detalhada do material que se referia claramente a aspetos do autocuidado durante a gravidez. Posteriormente, procedeu-se à codificação através da decomposição dos textos das entrevistas em unidades de análise, possibilitando progressivamente e num processo de comparação constante a construção de diferentes categorias. Estas categorias definiram as áreas conceptuais das necessidades de aprendizagem para o autocuidado durante a gravidez e incluíram as subcategorias que descreviam as temáticas dentro de cada área.

Resultados A perspetiva das mães e dos pais sobre as necessidades de aprendizagem para cuidarem da sua própria saúde e assegurarem a saúde do seu filho durante a gravidez foi categorizada em cinco áreas: Preparar-se para a gravidez; Ajustar-se à gravidez; Cuidar de si; Cuidar do bebé (feto); Assegurar a vigilância da saúde. Todas as categorias definidas incluem necessidades de aprendizagem identificadas pelas mães e pelos pais, ainda que algumas temáticas dentro de duas destas categorias tenham emergido a partir exclusivamente do discurso das mães (Tabela 1). Preparar-se para a gravidez No período pré-concecional, mães e pais, destacaram a necessidade de saberem mais sobre a consulta pré-concecional e a quem deveriam recorrer. Apenas as mães referiram necessidades de aprendizagem sobre a vacinação neste período. “Mesmo antes da gravidez quando se decide engravidar, como se deve fazer?” (E 33, homem). Ajustar-se à gravidez As mães e os pais referiram que no início é difícil verbalizarem o que precisarão de aprender, principalmente os que se encontram na primeira gravidez. Porém, ambos identificaram necessidades relacionadas com adaptação, o estado da saúde e evolução da gravidez, a sintomatologia e, as doenças ou complicações. “Não faço a mínima ideia que cuidados específicos a gravidez requer e gostava de saber mais” (E 2, homem). “O que acontece com o nosso corpo, as mudanças… e os cuidados.” (E 45, mulher). Saber se a gravidez estava a decorrer de acordo com o esperado e como iria evoluir foi muitas vezes referida. As mães e os pais referiram a necessidade de um cronograma

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para a gravidez. “Sobre as diversas fases da gestação, que não faço ideia . . .” (E 1, mulher). “Uso aplicações que informam sobre a evolução da gravidez . . .” (E 70, homem). Sobre a sintomatologia durante a gravidez, mais frequentemente os pais, referiram querer saber se os sintomas são normais e como os podem resolver. “O que posso fazer para os enjoos? foi a primeira pergunta . . .” (E 15, mulher); “Sintomas que ela tem, se são ou não normais” (E 30, homem). No tema doenças e complicações da gravidez, referido muito frequentemente por ambos, destacam-se as medidas de prevenção e as implicações para o feto. Particularmente os pais, referiram necessitar de saber mais sobre como podiam ajudar perante algum problema, assumindo-se como um apoio e suporte fundamental. “Alguma dor que lhe desse e o que eu deveria fazer, se acontecer alguma coisa o que eu posso fazer?” (E 46, homem); “É preciso o outro para alertar de alguns sinais . . .” (E 6, homem). Cuidar de si Nesta categoria foram incluídas todas as temáticas relacionadas com cuidados que a mãe teria consigo própria, ainda que muitos deles contem com a participação do pai, nomeadamente a alimentação, as emoções, a sexualidade e relação do casal, e os aspetos da segurança e prevenção de acidentes. Mesmo aqueles que não envolvem o pai diretamente, este mencionou necessitar saber também sobre os temas, como por exemplo os cuidados com o corpo, o vestuário e a medicação ou suplementos. Muitas vezes pelas implicações que teriam na saúde do filho (feto). “Se pintar as unhas é prejudicial, se pintar o cabelo é prejudicial . . .” (E 48, homem); “Sobre a posição corporal da grávida no final da gravidez.” (E 6, homem); “Adequação do vestuário para não apertar a barriga” (E 46, homem). Destacam-se as referências aos cuidados com a alimentação pela frequência com que foram referidos. Em particular, os aspetos relacionados com a escolha ou confeção dos alimentos e a prevenção de infeções alimentares. Como controlar o aumento ponderal ao longo da gravidez foi referido de forma muito mais expressiva pelas mães. “Na minha perspetiva os hábitos alimentares, quando o teste foi positivo a questão foi: “e agora? O que podes comer?” (E 24, homem); “Tive que aprender a lavar bem os legumes e tive dúvidas sobre o uso do produto do supermercado para desinfetar . . .“ (E 59, mulher). Os cuidados com o corpo incluíram aspetos relacionados com a higiene corporal, a escolha de produtos de higiene e cosmética e, massagens. As posturas e mecânica corporal, incidiam sobretudo sobre a adequação destas no final da gravidez. No tema atividade física e repouso, incluem-se aspetos como os esforços físicos, questões sobre a maior ou menor necessidade de repouso e a prática de exercício mais adequada à gravidez. Os esforços físicos foram mais vezes mencionados pelas mães e apenas elas falaram nos exercícios do pavimento pélvico. Compreender as alterações emocionais, os seus efeitos e aprender a lidar com as emoções negativas foram aspetos mencionados no tema das emoções, em particular pelos

pais. “O estado emocional e os efeitos no bem-estar da mãe e do bebé.” (E 46, homem); “Aprender a ser um ponto de equilíbrio emocional . . .” (E 33, homem). No tema sexualidade e relação do casal, incluem-se aspetos como a adaptação das práticas sexuais e como a gravidez influencia a relação do casal. Ainda que referidos por ambos, algumas mulheres mencionaram ser um assunto pessoal que não gostariam de partilhar com os profissionais de saúde. A ideia de que a relação sexual pode prejudicar o bem-estar fetal ainda prevalece nos discursos. “São coisas mais pessoais em que não falamos com o médico ou o enfermeiro, por exemplo a vida sexual.” (E 1, mulher); “A vivência da sexualidade, se poderá prejudicar o desenvolvimento do bebé . . .” (E 48, homem). No tema dos medicamentos e suplementos, as necessidades recaem sobretudo sobre que medicamentos a grávida pode tomar e qual a justificação para a toma de alguns medicamentos e/ou suplementos. As necessidades relacionadas com o tema da exposição a fatores de risco incluíram, para ambos, essencialmente a escolha de produtos para a higiene da casa, o uso de substâncias nocivas e o ambiente. “Aprender sobre locais com radiação, mudanças bruscas de temperatura, poluição, locais com demasiada concentração de pessoas . . .” (E 6, homem). O tema atividade laboral, referido por ambos, relaciona-se com aspetos como a gestão do ambiente no local de trabalho, os esforços físicos e o stresse no emprego, mas também com o conhecimento dos direitos sociolaborais. “Em termos de dizer ao patrão, informação sobre baixa, direitos na gravidez . . .” (E 45, mulher). A segurança e prevenção de acidentes, inclui necessidades de aprendizagem muitas vezes referidas pelos pais, reportando-se essencialmente a aspetos relacionados com a condução automóvel, a realização de viagens de avião e os cuidados com os animais domésticos. “Saber se devo aumentar a proteção com os animais, devo usar luvas? Máscara?” (E 49, mulher); “E os cuidados com a condução do carro, porque agora tem mais riscos” (E 61, homem). Cuidar do bebé (feto) Conhecer o desenvolvimento e o crescimento do bebé ao longo de toda a gravidez foi uma das temáticas mais frequentemente referida por ambos, nomeadamente as suas características físicas, o sexo e as competências que vai adquirindo. Ainda que muitas das necessidades de aprendizagem incluídas em outras categorias tivessem subjacente a preocupação em garantirem o potencial máximo da saúde do filho, enquanto feto. Desta forma, o tema saúde do bebé inclui necessidade de informações sobre o seu estado de saúde, o seu bem-estar, posturas corporais fetais e a influência de alguns fatores que podem ser controlados. “Assim como os valores dos batimentos cardíacos do bebé, porque só dizem está tudo bem!” (E 86, mulher); “O desenvolvimento da bebé semana a semana, quanto mede e o que é capaz de sentir ou fazer.” (E 16, mulher); “Quando começa a ouvir, a mexer, o que significam as medidas das ecografias . . .” (E 76, homem). A interação com o bebé inclui aspetos relacionados com a comunicação intrauterina.

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Os padrões de comportamento fetal, referido apenas pelas mães, relacionavam-se com a identificação dos primeiros movimentos fetais e o conhecimento da evolução deste padrão ao longo da gravidez. Assegurar a vigilância da saúde Esta categoria engloba questões muito relevantes para ambos os participantes, pela abrangência e frequência com que foram referidas. Inclui os temas consulta pré-natal, exames clínicos e rastreios, serviços e profissionais. O tema das consultas está relacionado com o conhecimento do calendário de consultas previsto e as avaliações que são efetuadas em cada uma delas. A necessidade de informação sobre os diversos exames complementares realizados durante a gravidez foi o tema com maior número de referências. Neste, foram referidas necessidades relacionadas com ecografias, análises clínicas, amniocentese e rastreio

de cromossomopatias. Em particular, a necessidade de saberem com antecedência os momentos em que estão previstos e de obterem uma explicação completa sobre as indicações, os resultados e as suas implicações. A organização dos serviços e dos profissionais inclui aspetos como o serviço onde devem fazer a vigilância da saúde e/ou que profissional escolher. “O número de consultas na gravidez, o espaçamento entre elas, todo este planeamento que existe quando ela está grávida como consultas, rotinas . . .” (E 58, homem); “Os exames que vai fazer, como se fazem, para que servem.” (E 46, homem); “Eu penso que sou obrigada a ir, mas gostava de saber porque tenho que ir ao centro de saúde . . . devíamos ser melhor encaminhadas . . .” (E 4, mulher); “Necessito saber como conciliar os recursos de saúde que temos disponíveis – centro saúde, consultas particulares, consultas no hospital?” (E 33, homem).

Tabela 1 Conhecimentos identificados pelas mães e pelos pais como necessários para promoverem o autocuidado na gravidez Conhecimento sobre: Preparar-se para a gravidez

Ajustar-se à gravidez

Cuidar de si

Cuidar do bebé (feto)

Assegurar a vigilância da saúde

Mãe

Pai

Consulta pré-concecional Vacinação pré-concecional

X X

X

Adaptação à gravidez Estado da saúde e evolução da gravidez Sintomatologia Doenças e complicações

X X X X

X X X X

Alimentação e evolução ponderal Cuidados com o corpo Postura e mecânica corporal Vestuário Atividade física e repouso Emoções Sexualidade e relação do casal Medicamentos e suplementos Exposição a fatores de risco Atividade laboral Segurança e prevenção de acidentes

X X X X X X X X X X X

X X X X X X X X X X X

Desenvolvimento e crescimento Estado da saúde Padrões de comportamento Interação com o bebé

X X X X

X X

Consulta pré-natal Exames clínicos e rastreios Serviços e profissionais

X X X

X X X

Discussão As aprendizagens identificadas como necessárias para conseguirem assegurar com confiança a sua saúde e a do seu filho durante a gravidez permitiram a construção de categorias que deverão facilitar a conceção e implementação de cuidados de enfermagem, com vista à promoção

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do autocuidado no casal grávido, no contexto português. Estes resultados confirmam o interesse na adoção de comportamentos saudáveis e na preparação antecipada da etapa seguinte, tanto pelas mães como pelos pais. Deste modo, confirma-se que a atenção sobre a saúde durante a gravidez deve incluir o casal grávido, uma recomendação também presente em outros estudos (Entsieh &

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Hallström, 2016; Palsson et al., 2017). Contrariamente ao observado no estudo de Jones et al. (2019), as diferenças observadas entre as necessidades das mães e dos pais não foram relevantes. Pelo que os resultados permitem considerar as necessidades de aprendizagem das mães e dos pais como sobreponíveis. No entanto, foi possível observar nas mães uma maior facilidade em identificar e especificar as necessidades, possivelmente porque é ela que vive este processo corporal. A maior dificuldade na identificação por parte dos pais, também foi constatada nos estudos desenvolvidos por Jones et al. (2019) e Palsson et al. (2017) Este dado pode ainda refletir a coexistência de modelos tradicionais de masculinidade e a crescente disseminação de uma masculinidade cuidadora, notada particularmente no crescimento consolidado do uso das licenças parentais e na constatação de que os homens mais novos são mais favoráveis às medidas que promovem uma paternidade precocemente envolvida (Wall et al., 2016). Questões de género podem estar presentes quando o bem-estar da mãe e as repercussões que pode ter na saúde do bebé, são apresentados como justificação para os pais se assumirem como um apoio fundamental, ou seja, um fator protetor na gravidez. Este estudo confirma a variabilidade individual das necessidades de aprendizagem encontradas em outros estudos (Entsieh & Hallström, 2016; Palsson et al., 2017). Esta variabilidade observou-se não só no conteúdo, mas também na quantidade de informações referidas como necessárias, se uns pareciam querer ter toda a informação com vista à aquisição de novos conhecimentos e habilidades, outros não sentiam qualquer necessidade. A dificuldade em gerir a quantidade de informação disponível também foi referida. As necessidades verificaram-se desde o período pré-concecional, ainda que se tenha observado naqueles que vão ser pais pela primeira vez uma maior dificuldade em antecipar as aprendizagens que serão necessárias. No entanto, com a evolução da gravidez ocorre um aumento da capacidade de formular necessidades e expectativas de aprendizagem mais específicas, como observaram Jones et al. (2019). Ainda assim, a ausência de atenção sobre as necessidades mais precoces pode prolongar-se pelo primeiro trimestre da gravidez, tendo em conta que o número de consultas ou programas de saúde são escassos no período inicial da gravidez. Esta lacuna pode ter repercussões importantes, uma vez que o primeiro trimestre é um período crítico no desenvolvimento fetal saudável e no bem-estar emocional da mulher. De um modo geral, os temas identificados em cada uma das categorias são comuns a um elevado número de participantes e consistentes com os resultados de outros estudos (Almalik & Mosleh, 2017; Jones et al., 2019; Kamali et al., 2017). Destacam-se pelo maior número de referências, tanto das mães como dos pais, os exames complementares, a alimentação, o desenvolvimento fetal, as doenças ou complicações da gravidez e as consultas pré-natais. A expressiva necessidade de aprendizagens relacionadas com os diferentes exames complementares preconizados

para o período da gravidez permite questionar o verdadeiro impacto que estes procedimentos têm no seu bem-estar e a informação obtida para uma tomada de decisão consciente. À semelhança de outros estudos, estes resultados revelam a vontade dos participantes em obterem uma informação mais completa sobre as indicações, os resultados e suas implicações (Ahman et al., 2016). O interesse dos participantes por informações relacionadas com o desenvolvimento do bebé e a evolução da gravidez foi evidente. Provavelmente porque a gravidez está associada a mudanças relevantes que os casais sentem necessidade de antecipar e enfrentar com alguma competência, ou talvez por serem temas poucas vezes abordados no âmbito das consultas e dos programas de saúde. A resposta a estas necessidades é muitas vezes encontrada em sítios da internet ou em aplicações informáticas, como foi referido por alguns participantes deste estudo. Na revisão da literatura efetuada por Hughson et al. (2018), é realçado o enorme potencial destes recursos e que os aplicativos digitais mais utilizados foram os que continham informações sobre saúde da gravidez e desenvolvimento fetal. Estes autores indicam a necessidade de uma melhor orientação para o uso destes recursos por parte das mulheres. Podendo agora acrescentar-se que esta orientação deveria estender-se também aos homens. O presente estudo tem como limitações uma amostra de conveniência obtida nos serviços de saúde, o que pode ter facilitado a referência a temas habitualmente abordados ou relacionados com estes contextos. Todos os participantes são caucasianos, ainda que a amostra se tenha revelado heterogénea em outras características como a idade e as habilitações literárias. O registo escrito das entrevistas em vez do registo áudio apesar de aumentar a possibilidade de perda de informação, foi minimizado tendo em conta que todos os procedimentos foram no sentido de se obter a saturação dos dados. Por fim, estes resultados podem não ser generalizáveis para as necessidades percebidas pelas mães e pelos pais em outras realidades socioculturais.

Conclusão As necessidades de aprendizagem percebidas pelas mães e pelos pais para assegurarem o autocuidado na gravidez foram agrupadas em cinco categorias. Destas categorias emergem três domínios de necessidades em cuidados de enfermagem, as relacionadas com: 1) o processo corporal; 2) o autocuidado e autovigilância; e, 3) a saúde fetal. As necessidades identificadas por ambos são sobreponíveis, pelo que poder-se-á considerar o casal como cliente dos cuidados. Assim, a utilização da expressão casal grávido pode assumir um lugar de destaque no modo de ver os clientes dos cuidados durantes a gravidez, e a consulta do EEESMO ser marcada para ambos simultaneamente. A maior dificuldade dos pais em identificar e, sobretudo especificar as necessidades é a principal diferença observada, talvez por não serem eles a vivenciar o processo corporal ou porque este modelo de envolvimento é muito recente e sem referências anteriores. Todavia, aqueles que revelaram predisposição para aprender identificaram necessidades

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em todas as categorias construídas, com exceção para o conhecimento sobre vacinação no pré-concecional e os padrões de comportamento fetal. O conhecimento destas necessidades contribui para a conceção e implementação de cuidados centrado na promoção do autocuidado durante gravidez, ao casal. Os resultados deste estudo constituem o primeiro passo para a construção de um instrumento orientador do processo de diagnóstico nas consultas desenvolvidas pelos enfermeiros especialistas em ESMO. Contribuição de autores Conceptualização: Figueiredo, A., Fonseca, S., Cardoso, A. Tratamento de dados: Figueiredo, A., Cardoso, A. Analise formal: Figueiredo, A., Fonseca, S., Cardoso, A. Metodologia: Figueiredo, A., Cardoso, A. Supervisão: Figueiredo, A., Cardoso, A. Redação - rascunho original: Figueiredo, A., Fonseca, S., Cardoso, A. Redação - análise e edição: Figueiredo, A., Fonseca, S., Cardoso, A. Referências bibliográficas Ahman, A., Sarkadi, A., Lindgren, P., & Rubertsson, C. (2016). It made you think twice: An interview study of women’s perception of a webbased decision aid concerning screening and diagnostic testing for fetal anomalies. BMC Pregnancy and Childbirth, 16(267), 1-10. https://doi.org/10.1186/s12884-016-1057-y Almalik, M., & Mosleh, S. (2017). Pregnant women: What do they need to know during pregnancy? A descriptive study. Women and Birth, 30(2), 100-106. https://doi.org/10.1016/j.wombi.2016.09.001 Andersson, E., Norman, A., Kanlinder, C., & Plantin, L. (2016). What do expectant fathers expect of antenatal care in Sweden? A cross-sectional study. Sexual & Reproductive Healthcare, 9, 27-34. https://doi.org/10.1016/j.srhc.2016.06.003 Broberg, L., Ersbøll, A., Backhausen, M., Damm, P., Tabor, A., & Hegaard, H. (2015). Compliance with national recommendations for exercise during early pregnancy in a danish cohort. BMC Pregnancy and Childbirth, 15(317), 1-8. https://doi.org/10.1186/ s12884-015-0756-0 Cardoso, A. M. (2011). Tornar-se mãe, tornar-se pai - Estudo sobre a avaliação das competências parentais [Tese de Doutoramento, Universidade Católica Portuguesa]. Repositório Institucional da Universidade Católica Portuguesa. https://repositorio.ucp.pt/ bitstream/10400.14/20745/1/Tornar-se%20mae_tornar-se%20 pai_Estudo%20sobre%20avaliacao%20compet%C3%AAncias%20parentais.pdf Ceulemans, M., Calsteren, K., Allegaert, K., & Foulon, V. (2019). Beliefs about medicines and information needs among pregnant women visiting a tertiary hospital in Belgium. European Journal

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

O cuidado à família no serviço de urgência: A experiência vivida do enfermeiro

Family care in the emergency department: Nurses’ lived experiences La atención a la familia en los servicios de urgencias: La experiencia vivida por el enfermero Florinda Laura Ferreira Rodrigues Galinha de Sá 1 https://orcid.org/0000-0002-4523-1721 Maria Antónia Miranda Rebelo Botelho Alfaro Velez 1 https://orcid.org/0000-0001-7356-2053

Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, Centro de Investigação, Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa (CIDNUR), Portugal

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Resumo Enquadramento: Cuidar a família no serviço de urgência é desafiante para a enfermagem pelas particularidades e desafios do contexto. A evidência revela as experiências e as necessidades da família, contudo pouco é conhecido sobre as experiências dos enfermeiros. Objetivo: Compreender a experiência vivida dos enfermeiros no cuidado à família no serviço de urgência. Metodologia: Estudo qualitativo com abordagem fenomenológica de Van Kaam. Realizaram-se entrevistas em profundidade a 11 enfermeiros. O método modificado de Moustakas norteou a análise de dados. Resultados: A experiência vivida dos enfermeiros revelou oito dimensões: 1) “Sentir-se responsável”; 2) “Acolher, inicialmente, a família”; 3) “Hospedar a família no serviço de urgência”; 4) “Estar, plenamente, presente”; 5) “Aconchegar no sofrimento”; 6) “Dançar, com a família, numa situação-limite”; 7) “Confortar, pautadamente, com a informação”; e 8) “Deixar-se tocar, com cuidado, pela vivência da família”. Conclusão: As experiências dos enfermeiros desocultam dimensões do fenómeno na prática clínica, destacando-se a importância da comunicação terapêutica com a família, a sua presença em situações de reanimação e a necessidade de implementar conferências familiares. Palavras-chave: cuidado de enfermagem; serviço hospitalar de emergência; enfermagem familiar; pesquisa qualitativa; filosofia em enfermagem Abstract Background: Caring for the family in the emergency department is challenging for nursing due to the specificities and challenges of the context. Although the evidence reveals the family’s experiences and needs, little is known about nurses’ experiences. Objective: To understand nurses’ lived experiences of caring for the family in the emergency department. Methodology: Qualitative study with Van Kaam’s phenomenological approach. In-depth interviews were conducted with 11 nurses. The Moustakas’ modified method guided data analysis. Results: Nurses’ lived experiences revealed eight dimensions: 1) “Feeling responsible”; 2) “Initially welcome the family”; 3) “Host the family in the emergency department”; 4) “To be fully present”; 5) “To cuddle in suffering”; 6) “Dance, with the family, in a borderline situation”; 7) “Comfort guided on the information”; and 8) “Let yourself be carefully touched by the family’s experience”. Conclusion: Nurses’ experiences reveal dimensions of the phenomenon in clinical practice, highlighting the importance of therapeutic communication with the families, their presence in resuscitation situations, and the need for family conferences. Keywords: nursing care; emergency service, hospital; family nursing; qualitative research; philosophy, nursing

Autor de correspondência Florinda Laura Ferreira Rodrigues Galinha de Sá E-mail: fgalinha@esel.pt

Recebido: 12.01.21 Aceite: 03.08.21

Resumen Marco contextual: La atención a la familia en urgencias es un reto para la enfermería debido a las particularidades y los desafíos del contexto. Las pruebas muestran las experiencias y necesidades de la familia, sin embargo, se sabe poco sobre las experiencias de los enfermeros. Objetivo: Comprender la experiencia vivida por los enfermeros en la atención a la familia en los servicios de urgencias. Metodología: Estudio cualitativo con el enfoque fenomenológico de Van Kaam. Se realizaron entrevistas en profundidad a 11 enfermeros. El método Moustakas modificado guió el análisis de los datos. Resultados: La experiencia vivida por los enfermeros mostró ocho dimensiones: 1) “Sentirse responsable”; 2) “Acoger inicialmente a la familia”; 3) “Alojar a la familia en el servicio de urgencias”; 4) “Estar plenamente presente”; 5) “Acercarse al sufrimiento”; 6) “Acompañar a la familia en una situación límite”; 7) “Consolar a partir de la información”, y 8) “Dejarse afectar, con cuidado, por la experiencia de la familia”. Conclusión: Las experiencias de los enfermeros muestran dimensiones del fenómeno en la práctica clínica, y destacan la importancia de la comunicación terapéutica con la familia, su presencia en las situaciones de reanimación y la necesidad de implementar conferencias familiares. Palabras clave: atención de enfermería; servicio de urgencia en hospital; enfermería de la familia; investigación cualitativa; filosofía en enfermería Como citar este artigo: Sá, F. L., & Velez, M. A. (2021). O cuidado à família no serviço de urgência: A experiência vivida do enfermeiro. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e21007. https://doi.org/10.12707/ RV21007

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Introdução O cuidado de enfermagem à pessoa em situação crítica (PSC) tem evoluído de forma significativa, no que concerne à qualidade da assistência, em resposta ao considerável investimento tecnológico que tem sido realizado nesta área (Sweet & Foley, 2019). A evidência mostra que a mudança num dos membros do sistema familiar, através do impacto da doença, produz modificações nos outros membros da família (Shajani & Snell, 2019). A situação de doença crítica de um ente querido impõe desafios significativos à família, sobretudo pela vivência da finitude da vida, incerteza do prognóstico e o ambiente tecnologicamente desconhecido, provocando quadros psicológicos em que emerge a ansiedade, a depressão e o luto complicado (Kreuz & Netto, 2021). Assim, numa abordagem holística, centrada na pessoa doente, na pessoa família e na pessoa profissional de saúde, onde se inscreve a intervenção de enfermagem, importa cuidar da família da PSC, no serviço de urgência (SU). A experiência vivida dos enfermeiros é uma fonte fundamental de conhecimento, quando se pretende diminuir a distância entre a evidência e a prática clínica, otimizando a transferibilidade do conhecimento em enfermagem (Moxham & Patterson, 2017). A experiência dos enfermeiros reporta a intencionalidade no cuidar, em que as dimensões do fenómeno representam os constituintes integrantes da essência da consciência em direção ao Outro. O estado da arte sobre esta temática revela estudos sobre as experiências e as necessidades da família no SU (Barreto et al., 2019; Berbís‐Morelló et al., 2019; Hsiao et al., 2017; Yildirim & Özlü, 2018), contudo conhece-se pouco sobre as experiências dos enfermeiros (Sá et al., 2015). Logo, perspetivou-se um estudo para dar resposta ao seguinte objetivo: compreender a experiência vivida dos enfermeiros no cuidado à família no SU.

Enquadramento Em Portugal, a presença da família no SU foi formalizada através do direito de acompanhamento dos utentes do SU (Lei n.º 33/2009). O brotar de uma cultura institucional que assente em respostas integradas e centradas na família requer a reorganização do funcionamento do SU. No processo de admissão a pessoa tem o direito de nomear um acompanhante ou na sua impossibilidade, por alteração do estado de consciência, será também atribuído um acompanhante mediante comprovativo de grau de parentesco (Lei n.º 33/2009). O SU é um contexto altamente diferenciado e tecnologicamente desafiante, no qual o processo de tomada de decisão em enfermagem é complexo, por isso os enfermeiros necessitam frequentemente de dar prioridade ao cuidado da PSC (Sweet & Foley, 2019), colocando as necessidades da família para segundo plano. Ainda assim, os enfermeiros possuem competências para avaliar e intervir face às necessidades da família (Shajani & Snell, 2019), sendo os profissionais de saúde com presença mais assídua junto das famílias neste contexto, o que cria uma janela de oportunidade

para a intervenção diferenciada. A família da PSC experiencia um enorme sofrimento, que é na sua natureza diferente do da própria pessoa (Kreuz & Netto, 2021), que se encontra frequentemente sedoanalgesiada e sem consciência temporal dos intermináveis minutos de espera experienciados pela sua família entre salas de espera, visitas esporádicas, exames complementares de diagnósticos, cirurgias e procedimentos de reanimação. A família encontra-se numa situação de grande vulnerabilidade com necessidade de intervenções terapêuticas de enfermagem (Yildirim & Özlü, 2018). A integração da família no cuidado otimiza o cuidado de enfermagem à pessoa doente (Shajani & Snell, 2019). Num estudo realizado a nível nacional, verificou-se que os enfermeiros atribuem níveis elevados à importância das famílias nos cuidados de enfermagem, no que se refere aos diferentes contextos de cuidados, inclusive no SU (Fernandes et al., 2015). Contudo, cuidar a família da PSC exige do enfermeiro competências especializadas pelas particularidades e desafios impostos pelo contexto de urgência (Sweet & Foley, 2019). Deste modo, importa desocultar a experiência vivida do enfermeiro no cuidar de enfermagem à família da PSC neste contexto. A experiência vivida está intimamente ligada à vivência da experiência primitiva do ser humano, ou seja, o facto sentido enquanto se constrói a realidade de um ponto de vista humanista e existencialista (Van Kaam, 1959). A experiência vivida é a experiência do ser humano no cerne da sua relação com o mundo que o rodeia e o fundamento basilar no seu processo interno de consciencialização de si e dos outros. A experiência vivida centra-se sobretudo na perspetiva individual ao descrever o modo como o fenómeno afeta o corpo, a existência e o mundo de cada ser humano, num equilíbrio entre o individual e o universal (Husserl, 2017). O fenómeno não é neutro para o ser humano e acarreta uma série de constructos mentais inconscientes, que só por força de evocação intencional submergem na palavra, dando voz ao fenómeno em estudo. Logo, o foco foram as experiências humanas circunscritas numa determinada situação e moldadas por um contexto único, o SU, onde os enfermeiros são atores e co-construtores de um fenómeno no processo de saúde-doença, o cuidado à família da PSC, que interessa conhecer na essência das suas dimensões constituintes para melhor cuidar.

Questão de investigação Qual a experiência vivida dos enfermeiros no cuidar da família da pessoa em situação crítica no serviço de urgência?

Metodologia Na investigação qualitativa, o investigador procura apreender o objeto de investigação de forma holística, considerando a sua totalidade, as suas particularidades e o contexto do fenómeno (Creswell, 2013). Ao considerar

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a subjetividade da experiência vivida, assume-se uma compreensão mais lata das vivências humanas, suportada pelo raciocínio indutivo. A fenomenologia enquanto abordagem metodológica permite à enfermagem conhecer a realidade além do visível, percebendo o que significa vivenciar um determinado fenómeno (Moxham & Patterson, 2017). A fenomenologia permite dar resposta à questão de investigação, acedendo à experiência vivida dos enfermeiros, partindo do cuidado como é vivido e se estrutura moldando a prática. Adotou-se a perspetiva fenomenológico descritiva de Van Kaam (1959), que procura capturar a essência da consciência em si mesma antes da conceção teórica do indivíduo sobre a experiência. Assim, desenvolve a capacidade preceptiva dos indivíduos, focando a sensibilidade das relações humanas numa situação concreta em que é importante compreender as formas de participação e suas vivências. As fontes de narrativas na área da saúde podem ser as mais variadas e ao serem proferidas com uma voz na primeira pessoa expressam sentimentos, autoconhecimento e desejos terapêuticos perante a situação pré-refletida (Creswell, 2013). Os participantes deste estudo foram onze enfermeiros, pertencentes todos à mesma unidade hospitalar, que cumpriam os critérios de inclusão definidos: exercer num SU; ter vivenciado uma experiência significativa de cuidar de família de PSC; possuir aptidões internas para a descrição do fenómeno; e aceitar a participação voluntária no estudo. Os critérios de exclusão abrangiam os enfermeiros que não estavam alocados à prestação direta de cuidados de enfermagem, desempenhando sobretudo funções de gestão no SU. A seleção dos participantes foi realizada segundo o método de amostragem não probabilística, de conveniência (Streubert & Carpenter, 2013), em que todos foram informados dos objetivos do estudo e da possibilidade de desistência do mesmo em qualquer das suas etapas. Obteve-se o parecer favorável da Comissão de Ética (n.º 2923) e a autorização do Conselho de Administração do centro hospitalar, respeitando-se os pressupostos éticos ao longo da investigação. No primeiro semestre de 2019, foram realizadas entrevistas em profundidade com a duração média de 60 minutos, não tendo existido uma restrição formal no tempo disponível, num local à escolha dos participantes. A maioria dos entrevistados selecionou uma sala privada dentro da unidade hospitalar, onde foi feito o convite aos participantes para responderam à seguinte questão: “É capaz de me contar uma situação, que tenha sido significativa para si, de cuidar da família da pessoa em situação crítica?”. Ao colocar esta questão aberta pretendeu-se aceder a um momento específico do tempo interno do indivíduo no qual estão presentes as retenções e antecipações dos processos pré-conscientes da experiência (Husserl, 2017). Logo, pretendeu-se que o fenómeno experienciado fosse explorado em profundidade, permitindo que os participantes percorressem livremente a experiência vivida até que a essência da estrutura fosse totalmente iluminada. Recorreu-se a um Diário de Viagem do investigador enquanto fiel memorando dos aspetos contextuais e de interação entre o entrevistador e entrevistado, como a

linguagem não verbal do entrevistado e as perceções do investigador, permitindo uma compilação e aferição de dados, na medida em que o que não é verbalizado pode ser tão significativo para a compreensão do fenómeno como o que o é. Após a recolha de dados, procedeu-se à transcrição na íntegra da gravação áudio das entrevistas. Foi realizada a codificação dos entrevistados, de P1 a P11, e das variáveis sociodemográficas (sexo, idade, habilitações literárias, estado civil e familiar). Na análise dos dados, realizada por dois investigadores, utilizaram-se as etapas processuais do método de Van Kaam Modificado por Moustakas (1994): 1) Listagem e Agrupamento Preliminar: Horizontalização; 2) Redução e Eliminação; 3) Categorização e Tematização dos Constituintes Invariantes; 4) Identificação Final dos Constituintes Invariantes e Temas pela Aplicação: Validação; 5) Construção de Descrição Textural Individual; 6) Construção de Descrição Estrutural Individual; e 7) Construção de Descrição Estrutural-Textural: Descrição Composta. O método, apesar de assente numa abstração pura e transcendental, procura um saber racional e focado na complexidade da realidade, através de um retorno sistemático às narrativas como forma de estruturação e validação dos achados, alicerçando os significados no discurso dos participantes (Moustakas, 1994). Todas as dimensões do fenómeno foram discutidas por ambos os investigadores até ao consenso. A leitura e releitura das entrevistas, entrecruzando os constituintes que emergiam dos dados, permitiu alcançar a estrutura essencial do fenómeno.

Resultados A narrativa experiencial encontra-se repleta de descrições da vivência emocional de situações limite e complexas pelos enfermeiros. Os dados mostram que as situações relatadas pelos enfermeiros, como significativas de cuidar da família da PSC, envolvem maioritariamente jovens adultos em fim de vida, devido a um acontecimento súbito de origem traumática, tais como acidentes de viação, quedas e atos de violência com trauma perfurante, por exemplo, por arma de fogo. Nos participantes entrevistados verifica-se um equilíbrio do sexo feminino (45%) e masculino (55%), a média de idade é de 34 anos, com uma média de 11 anos de experiência profissional. A maioria possui habilitações académicas ao nível pós-graduado (especialidade, mestrado e pós-graduação; 82%). Relativamente à situação familiar, a maioria estão casados ou em união de facto (64%) e têm filhos (73%). A compreensão da estrutura essencial do fenómeno desoculta uma descrição composta da experiência vivida dos enfermeiros constituída por 8 dimensões: 1) “Sentir-se responsável”; 2) “Acolher, inicialmente, a família”; 3) “Hospedar a família no serviço de urgência”; 4) “Estar, plenamente, presente”; 5) “Aconchegar no sofrimento”; 6) “Dançar, com a família, numa situação-limite”; 7) “Confortar, pautadamente, com a informação”; e 8) “Deixar-se tocar, com cuidado, pela vivência da família”.

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A descrição composta do fenómeno, de acordo com Moustakas (1994), deve ser apresentada de forma gráfica. Assim, através de uma figura geométrica, apresentam-se as oito dimensões essenciais e estruturais da descrição composta

do fenómeno, evidenciando a forma como estão interligados e ilustram em si a essência do fenómeno de cuidar da família da PSC no SU, na perspetiva do enfermeiro (Figura 1.).

Figura 1 Modelo octogonal multidimensional representativo da descrição composta do fenómeno de cuidar da família da PSC no SU, englobando a família, o doente e o enfermeiro envoltos numa esfera de tempo

Assim, a descrição composta do fenómeno engloba estas oito dimensões da experiência, surgindo como coexistentes no mesmo tempo e espaço, tendo igual significação para os enfermeiros e sendo parte integrante do mesmo fenómeno.

Discussão A família, o enfermeiro e a PSC são elementos centrais da existência do fenómeno e apesar da fugacidade dos momentos que vivem juntos, neste encontro terapêutico estão envoltos numa esfera de tempo, pois o tempo abranda e fá-los vivenciar esta experiência de forma singular. O tempo é um fenómeno imaterial, pois o ordenamento temporal é uma experiência sincronizada com a consciência e os estados emocionais, ora apreendido perpetuamente pela experiência vivida ora pela inteligibilidade (Marcel, 2013), enquanto realidade distinta e paradoxal do meio englobante, infinito e universal. A temporalidade subjetiva traduz a experiência do tempo à luz da interioridade do ser (Van Kaam, 1959), englobando os pensamentos, sensações, perceções e sentimentos no momento da vivência. Estas influenciam a própria vivência do tempo na situação particular, dando aos intervenientes uma sensação de mestria das propriedades do próprio tempo. Seguidamente, exemplificam-se as diferentes dimensões

do fenómeno através de excertos ilustrativos provenientes das narrativas dos enfermeiros. A dimensão Sentir-se responsável emerge quando os enfermeiros narram um ímpeto para ir ao encontro da família em sofrimento. Não era uma situação nada fácil . . . Entretanto, lembrei-me dessa solução de trazer a filha para junto do doente, pois os minutos, não os segundos, passavam. E o estado do doente estava a deteriorar-se ali, a olhos vistos, mesmo à nossa frente. Senti que tinha que fazer algo! (P11) O sentido de dever profissional e moral na impossibilidade de não agir e a ambivalência face aos desafios surge na resposta ao apelo do outro para a ação ética (Levinas, 2011). Nesta dimensão do fenómeno emerge um sentimento de dever de ajudar aquele que sofre. Na sala de reanimação, na abordagem inicial, a família não entrou e ficou lá fora. Disse às filhas e à neta para se sentarem que assim que possível já lhes ia dar alguma informação, mas dizer isto é o quê? Para quem está ali com o coração nas mãos. Sem saber o que se está a passar . . . assim que consegui fui logo ter com elas, pois só imaginava o que estariam a passar. (P10) De um ponto de vista deontológico e ético, a família tem que ser incluída como parte integrante da humanização do cuidado de enfermagem (Shajani & Snell, 2019),

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pois não se trata meramente de um alargar da esfera de cuidado, mas sim um olhar direcionado para a família como parte integrante dessa mesma pessoa e foco do cuidado de enfermagem. A dimensão Acolher inicialmente surge porque a família vivencia um evento de vida inesperado, que a leva a se dirigir ao SU, onde contactam com os enfermeiros que cuidam do seu ente querido numa situação limite. A senhora vem para aqui completamente sozinha, sem saber nada, sem saber do filho, como é que ele estava, se estava vivo, se estava morto . . . Chegou aqui num pranto e não conseguia sequer falar . . . mas levei-a para a sala, disse-lhe que o filho estava estável e que já o iria ver, até lhe dei um copo de água. (P2) O acolhimento em enfermagem permite o início da relação interpessoal, sendo mediado pela escuta ativa e diálogo (Costa et al., 2016). As famílias entram no SU em busca do seu ente querido, frequentemente ansiosas, procurando informação sobre o seu estado e expressando desejo de o ver. Quando a filha cá chegou (SU), dirigiu-se a mim, agarrou-me as mãos e disse-me logo que queria ver a sua mãe. Estava muito ansiosa e preocupada. E a doente estava em suporte ventilatório e circulatório para colheita de órgãos… Por isso, foi muito complicado gerir toda aquela situação, mas apresentei-me e depois levei-a para a sala onde comecei ali com ela no ponto onde tinha ficado com a sua mãe na última vez que a viu . . . antes do atropelamento. (P1) O acolhimento como um cuidado de enfermagem permite ao enfermeiro receber a família de forma humanizada, entendendo-a como sujeito e participante do processo de cuidar, ampliando a qualidade do cuidado (Costa et al., 2016). Os enfermeiros são os profissionais de saúde na primeira linha de ação, com quem a PSC e a sua família contactam primeiro, portanto, os responsáveis pela manifestação do acolhimento neste contexto. A dimensão Hospedar no SU revela-se porque a hospitalidade distingue-se do acolhimento na medida em que hospedar o outro implica um conjunto de ações concertadas a prolongar no tempo a presença confortável do outro, tornando-o parte integrante da cultura do contexto. ”Os pais puderam estar sempre presentes e foi-lhes dada a possibilidade de estarem sempre próximos do seu filho. Pus lá umas cadeiras, na reanimação, que fui buscar, e portanto, mantiveram-se sempre ali junto ao filho.” (P4). Os enfermeiros procuram criar um lugar para a família, para que esta se sinta confortável, depois de ter sido acolhida. É a hospitalidade que surge habitualmente no momento de maior tensão e sem ser convidada, “Quando uma pessoa experiencia uma perda profunda, o seu estar essência-alma, está perturbado e precisa ser cuidado e alimentado.” (Watson, 2002, p. 151), o que coloca a família da PSC numa posição que requer esta hospitalidade de enfermagem. Ao início, a única coisa que pude oferecer foi uma cadeira para estar ali junto ao doente. E também baixei a cama até ao mínimo possível para o filho

poder estar ali ao mesmo nível e ficarem de mãos dadas. Depois acabei por transferir o doente para a cama X, que fica num canto da sala, com um pouco mais de espaço e privacidade. Permite também puxar completamente as cortinas e as pessoas ficarem ali mais resguardadas naquele momento, com menor interferência do resto da dinâmica do serviço. E com o passar das horas, pois estas situações críticas, por vezes, arrastam-se no tempo, lá arranjei então ao filho um dos nossos cadeirões para poder passar aqui a noite com o pai. (P5) O ser humano possui a infinita responsabilidade de acolher o outro vulnerável (Levinas, 2011), pelo que os enfermeiros na sua senda de cuidar da família, sentem-se impelidos a hospedar a família em sofrimento. O pai entrou para a visita, mas a mãe e o irmão foram logo barrados à porta pelo segurança. Eu é que fui à porta buscá-los, para poderem entrar os três. Tive que arranjar o espaço para poderem estar os três ali junto à maca do doente. Fechei as cortinas da unidade e criei um ambiente mais acolhedor. Recordo que foi um grande choque para a família ver o jovem assim na maca Stryker, com o compasso craniano, e tudo o resto . . . mas assim todos juntos puderam apoiar-se . . . Ainda baixei a grade da cama só para estarem um bocadinho mais próximos e para poderem dar um beijo na face. (P9) A gestão eficaz destas visitas inesperadas num contexto tão exigente tem um impacto relevante em toda a equipa transdisciplinar (Sweet & Foley, 2019). Tal requer a criação de condições, essencialmente físicas (Barreto et al., 2019), mas não somente, para a família exercer o seu direito de acompanhamento. A dimensão Estar, plenamente, presente para as famílias emerge nas narrativas dos enfermeiros. Por isso quando estava ali com o familiar do doente sentia que estava a 100%. E estava ali só para ele! Aliás uma das coisas que fiz questão de dizer foi: “Agora estou consigo e só consigo! É só para si! E vou-lhe explicar as coisas todas e vai dizer-me o que precisa da minha parte.” (P3) O modo de ser presente surge na obra de Marcel (2013) associado à proximidade física e o autor distingue-o do estado de estar presente, pois este último não pressupõe o anterior. O estar presente implica uma forte conexão e consciência de presença para com alguém, frequentemente através da comunhão e disponibilidade para com o outro. Neste registo, as experiências dos outros são significativas para o ser e moldam a sua existência, pelo que o enfermeiro procurar apoiar plenamente e demonstrar total disponibilidade para aquela família naquele momento significativo. Ninguém estava à espera deste desfecho . . . E tentei dar algum apoio à família. Perguntei aos pais: “Então, não têm ninguém da vossa família ou amigos que possam vir aqui, estar convosco agora?” Recordo perfeitamente que perguntei umas dez vezes se precisavam de mais alguma coisa, se não queriam ligar a mais alguém da família . . . e

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eles sempre a dizer que não. E eu recordo-me aí da serenidade dos pais e que fiquei ali, em silêncio, junto a eles. (P7) A presença da família no SU é percebida pelos profissionais enquanto positiva pelos benefícios que daí decorrem para os doentes e a própria família, como maior tranquilidade, segurança, confiança e conforto (Barreto et al., 2019), pelo que os enfermeiros procuram dar de si à família, dar do seu tempo às famílias. Emerge a dádiva de si ao outro para construir e criar tempo para a relação, conseguindo assim estar presente para o outro (Marcel, 2013). Destaca-se o cariz transcendental, pois os enfermeiros sentem que estão plenamente presentes para as famílias, mesmo quando fisicamente não estão a totalidade do tempo junto a elas. Também aqui a esfera tempo, em que se constrói e molda a relação desta presença terapêutica de enfermagem importa analisar na medida em que não limita, mas pelo contrário, expande a relação em intensidade. A dimensão Aconchegar no sofrimento a família surge associada à situação crítica do ente querido, perante a imprevisibilidade e o risco da finitude da vida. Recordo perfeitamente aquela mãe e o seu sofrimento! Sinto que consegui estabelecer uma relação única com aquela mãe, tanto que naquele momento da morte do seu filho ela pediu-me . . . um bocadinho de cabelo do seu filho. E eu estendi a minha tesoura para lhe dar, porque a mim também me estava a custar muito toda aquela situação. E ela pediu-me para ser eu a cortar... E disse-me: “Eu tenho o cabelo dele guardado de quando ele nasceu e agora graças a si também tenho comigo o de quando ele morreu”. Abracei-a enquanto chorava . . . Foi um momento muito emotivo! (P4) O sofrimento não afeta somente a pessoa doente, pois a doença de um membro torna-se um assunto de família (Shajani & Snell, 2019) e a família sofre com ela. Na sala de emergência a família vivencia sentimentos como incerteza, angústia, medo e pesar (Barreto et al., 2019), que expressam o seu sofrimento face à situação. Naquele momento, apercebi-me no olhar dela (filha), daquele cair da ficha de que a situação é irreversível e não se pode fazer mais nada . . . Olhou para mim e perguntava: “Mas porquê? Porque é que isto aconteceu?” e chorava agarrada a mim. Recordo aquela mágoa, aquele sofrimento . . . Tentei dar algum conforto e ela libertou algumas coisas que tinha para dizer, desabafou. (P5) A morte súbita dificulta o processo de luto familiar na medida em que o sistema familiar não teve tempo para se preparar para a perda, lidar com assuntos pendentes e /ou despedir-se da pessoa (Kreuz & Netto, 2021). O estabelecer de uma relação terapêutica, descrita pelos enfermeiros como uma interação significativa com o elemento da família, torna-os elementos de referência para aquela família e permite-lhes aconchegá-la na sua vivência de sofrimento. A dimensão Dançar, com a família, numa situação limite acarreta um compasso de espera, entre exames complementares de diagnóstico e a observação por diversas especialidades médicas, até ao tão aguardado diagnóstico e, sobretudo, prognóstico.

A situação era a vinda dos filhos do estrangeiro. Então o difícil foi o manter aquela senhora ali na sala de reanimação connosco o máximo de tempo possível, depois de tudo o resto que tinha ainda que fazer, como deve calcular, até à chegada dos vários filhos para se despedirem da mãe. E a senhora acabou por falecer, mesmo quando chegou o último filho . . . impressionante! (P3) Neste compasso, os enfermeiros gerem os recursos disponíveis de forma a dar resposta às várias necessidades da família (Hsiao et al., 2017). O enfermeiro e a família dançam na expetativa de um desfecho positivo, movidos pela esperança. E eu assumi a situação e disse: “Venham, não há problema nenhum”, sabendo que teria que gerir as condições para que tal acontecesse. E então fui eu que estive ali mais de três horas com a família e amigos, num processo de cuidado, com eles a limparem, a conversarem, a lerem-lhe livros, a virá-lo, inclusive… fizeram questão de fazer rigorosamente tudo e estarem sempre com ele. (P6) Os enfermeiros tomam decisões que promovem a humanização do processo de cuidar e da morte no SU (Berbís‐ Morelló et al., 2019), envolvendo a presença da família. A metáfora da dança pretende ilustrar a relação dual entre enfermeiro e família, conduzida pelo enfermeiro, enquanto ambos procuram percorrer um tempo e um espaço necessário ao desenrolar da ação. A dimensão Confortar, pautadamente, com a informação surge porque a família da PSC tem necessidades específicas, sendo uma das necessidades mais emergentes a de comunicação (Hsiao et al., 2017; Yildirim & Özlü, 2018). Na transmissão de informação é realizada a articulação com outros profissionais, responsáveis pelo diagnóstico e prognóstico da situação, nesse âmbito o enfermeiro advoga pela família ao mediar e ao apresentar de forma individualizada a família junto da restante equipa de profissionais de saúde. Estive bastante tempo a conversar com a família, no fundo a ajudá-los a perceber melhor tudo o que se estava a passar . . . Consegui perceber que no final ficaram mais confortados e disseram-me que não se sentiam abandonados . . . não esqueço os seus rostos . . . ficaram mais tranquilos . . . também o choro vai-se dissipando e a pessoa fica mais calma. (P2) Oferecer informação à família é relevante para a desconstrução mental do motivo que levou à ida ao SU, aceitação do processo de doença e para a progressiva construção de um prognóstico de situação crítica (Barreto et al., 2019). Num processo, em que a família sofre com a doença crítica do seu ente querido, a informação veiculada surge como uma estratégia portadora de sentido para a situação vivenciada. Aqueles pais chamaram-me em grande aflição. Os pais não percebiam o que era estar inconsciente e depois não têm aquela noção se tem dor ou se está sedado, não é? No fundo também são nossas essas preocupações . . . e até o estar ventilado é assim um misto de questões, porque se vai morrer porque é que tem uma máquina a respirar por ela?

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É complicado responder a estas questões, sem dúvida . . . preocupam-se com o facto da sua filha poder estar a sofrer. E portanto, quando falo com eles, percebo claramente que é uma conversa de conforto para eles, são essas as palavras de conforto que eles entendem. Têm essa necessidade de saber que tudo o que é humanamente possível está a ser feito. (P7) A comunicação eficaz com a família permite diminuir o seu sofrimento, porque clarifica a compreensão da situação, fornece suporte emocional e reduz a ansiedade (Shajani & Snell, 2019). Através da comunicação terapêutica, os enfermeiros procuram apaziguar o sofrimento da pessoa e deste modo, a família também consegue perceber a qualidade do cuidado que o seu ente querido está a ser alvo e de todas as diligências não visíveis que compõem esse cuidado complexo. A dimensão Deixar-se tocar, com cuidado, pela vivência da família emerge quando o enfermeiro sofre com o outro, partilhando da dor vivenciada pelas famílias, pois “o enfermeiro, através do cuidar transpessoal e das transações do cuidar, pode entrar no relacionamento intensamente pessoal - subjetivo com a pessoa desgostosa - pessoa para pessoa - abraçando, segurando, partilhando a dor.” (Watson, 2002, p. 150). Deste modo, o enfermeiro vive a situação conjuntamente com a família, sentindo a tristeza, a revolta e a impotência face à situação crítica. Eu realmente emociono-me e ponho-me naquela situação, e penso, nestas pessoas, as filhas e a neta, que vão-se embora e provavelmente não vão ver mais a senhora. E o que é certo, é que eu saí de turno e realmente a senhora por volta das duas da manhã faleceu. Eu lembro-me de estar a falar com elas e a pensar que a neta parecia gostar mesmo da avó e ser mesmo importante para ela. Lembro-me de estar a pensar, que eu estava a dizer-lhe: “Cada caso é um caso, que é tudo muito imprevisível nesta fase final”, mas se calhar aquilo era mesmo a despedida, não ia voltar a vê-la . . . É triste para nós, porque nós também temos família e também temos pessoas significativas para nós. (P10) A ausência da família no SU também é um aspeto descrito como parte de uma situação marcante para alguns dos enfermeiros. As aprendizagens realizadas com base no testemunho da dor e do sofrimento de outras famílias potenciam a transferência e contratransferência das mesmas para o seu domínio pessoal familiar. Na doença mental normalmente a gestão da doença é feita pela família, porque a doente está sem crítica nenhuma para a doença . . . por isso custa quando a família não está presente. No fundo, ela não tem ninguém . . . A ausência da família faz-me pensar na vida e na importância da família. (P8)

Os enfermeiros escutam também os ensinamentos de vida das famílias que cuidam, assim sentem que aprendem com as famílias, o que está relacionado com a característica da presença do reconhecimento da relevância da experiência do outro para o ser (Marcel, 2013). O sentido do sofrimento e da morte coloca aos enfermeiros questões profundas sobre o próprio sentido da sua vida e da sua vivência em família. A análise da dimensão universal da experiência vivida permite um novo olhar sobre a construção descritiva composta, pois da reflexão fenomenológica, ancorada nas várias dimensões do fenómeno, emergem significados para a esfera de ação da enfermagem. O referencial teórico de Van Kaam (1959) advoga que a consciência humana é no mundo o resultado da direção e intencionalidade no encontro com o Outro, que o estudo desoculta na complexidade da relação profissional enfermeiro-família e na ênfase na comunicação eficaz, usando diversas estratégias. O estudo revela ainda que a maioria das situações envolvem a presença da família na sala de reanimação, onde habitualmente não se realiza o acompanhamento familiar, por isso surge também o cuidado dos enfermeiros em encontrar um local onde se possa conversar, habitualmente, uma sala para realizar uma conferência familiar. Os achados deste estudo brotam do contexto, o que pode ser uma limitação na medida em que os resultados são válidos apenas para o contexto onde decorreu a investigação, contudo tal decorre do tipo de estudo, que procura sobretudo desocultar um fenómeno que interessa aprofundar para melhor cuidar.

Conclusão O estudo permitiu revelar a descrição composta do fenómeno que é constituída por oito dimensões que permitem dar visibilidade aos significados na vivência dos enfermeiros do processo de cuidar de famílias da PSC no SU. Da reflexão fenomenológica emerge: a importância do desenvolvimento de competências de comunicação terapêutica com a família da PSC, o que impele a melhoria contínua do ensino e formação em enfermagem; a presença da família em situações de reanimação, que requer maior investigação a nível nacional; e a necessidade de conferências familiares, que mobiliza recursos humanos e materiais na área da gestão do próprio contexto para suportar a prática clínica. O conhecimento gerado através da abordagem fenomenológico-descritiva permitiu ampliar a compreensão da experiência vivida dos enfermeiros no cuidado à família no SU com potencial benefício para outras famílias, enfermeiros e profissionais de saúde. Sugere-se ainda a realização de estudos sobre o acompanhamento familiar no SU, considerando as atuais políticas em saúde.

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Sá, F. L., & Velez, M. A.

Contribuição de autores Concetualização: Sá, F. L. Tratamento de dados: Sá, F. L. Análise formal: Sá, F. L., Velez, M. A. Investigação: Sá, F. L. Metodologia: Sá, F. L., Velez, M. A. Supervisão: Velez, M. A. Validação: Velez, M. A. Visualização: Sá, F. L. Redação – rascunho original: Sá, F. L. Redação – análise e edição: Velez, M. A. Referências bibliográficas Barreto, M. S., Garcia-Vivar, C., Matsuda, L. M., Angelo, M., Oliveira, M. L., & Marcons, S. S. (2019). Presença da família durante o atendimento emergencial: Vivência de pacientes e familiares. Texto & Contexto: Enfermagem, 28(2), e20180150. http://dx.doi. org/10.1590/1980-265x-tce-2018-0150 Berbís‐Morelló, C., Mora‐López, G., Berenguer‐Poblet, M., Raigal‐Aran, L., Montesó‐Curto, P., & Ferré‐Grau, C. (2019). Exploring family members’ experiences during a death process in the emergency department: A grounded theory study. Journal of Clinical Nursing, 28(15-16), 2790-2800. https://doi.org/10.1111/ jocn.14514 Costa, P., Garcia, A., & Toledo, V. (2016). Acolhimento e cuidado de enfermagem: Um estudo fenomenológico. Texto & Contexto: Enfermagem, 25(1), e4550015. http://dx.doi.org/10.1590/010407072016004550014 Creswell, J. (2013). Qualitative inquiry & research design: Choosing among five approaches (3rd ed.). Sage Publications. Fernandes, C. S., Gomes, J. A., Martins, M. M., Gomes, B. P., & Gonçalves, L. H. (2015). A importância das famílias nos cuidados de enfermagem: Atitudes dos enfermeiros em meio hospitalar. Revista de Enfermagem Referência, 4(7), 21-30. http:// dx.doi. org/10.12707/RIV15007 Hsiao, P. R., Redley, B., Hsiao, Y. C., Lin, C. C., Han, C. Y., & Lin, H. R. (2017). Family needs of critically ill patients in the

emergency department. International Emergency Nursing, 30, 3-8. https://doi.org/10.1016/j.ienj.2016.05.002 Husserl, E. (2017). Ideas: General introduction to pure phenomenology. Paperback. Kreuz, G., & Netto, J. (2021). Múltiplos olhares sobre a morte e luto: Aspetos teóricos e práticos. Editora CVR. Lei n.º 33/2009 da Assembleia da República. (2009). Diário da República: I série, nº 134. https://dre.pt/application/conteudo/492408 Levinas, E. (2011). Otherwise than being or beyond essence (9th ed.). Duquesne University Press. Marcel, G. (2013). Being and having: An existentialist diary. Read Books. Moustakas, C. (1994). Phenomenological research methods. Sage Publications. Moxham, L., & Patterson, C. F. (2017). Why phenomenology is increasingly relevant to nurse researchers. Nurse Researcher, 25(3), 6-7. http://dx.doi.org/10.7748/nr.25.3.6.s2 Sá, F. L., Botelho, M. A., & Henriques, M. A. (2015). Cuidar da família da pessoa em situação crítica: A experiência do enfermeiro. Pensar Enfermagem, 19(1), 31–46. http://pensarenfermagem.esel. pt/files/PE_19_1sem2015_31_46.pdf Shajani, Z., & Snell, D. (2019). Wright & Leahey’s nurses and families: A guide to family assessment and intervention (7th ed.). F. A. Davis Company. Streubert, H., & Carpenter, D. (2013). Investigação qualitativa em enfermagem: Avançando o imperativo humanista (5ª ed.). Lusodidacta. Sweet, V., & Foley, A. (2019). Sheehy’s emergency nursing: Principles and practice (7th ed.). Elsevier. Van Kaam, A. L. (1959). Phenomenal analysis exemplified by a study of the experience of ‘really feeling understood’. Journal of Individual Psychology, 15(1), 66-72. http://www.adlerjournals. com/_private/JIP/JIP%20v15%20n1/Phenomenal_Analysis_Exemplified_by_Study--VanKaam.pdf Watson, J. (2002). Enfermagem: Ciência humana e cuidar: Uma teoria de enfermagem. Lusociência. Yildirim, T., & Özlü, Z. K. (2018). Needs of critically ill patients’ relatives in emergency departments. Nursing Midwifery Studies, 7(1), 33-38. https://doi.org/10.4103/nms.nms_100_17

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ARTIGO DE INVESTIGACIÓN (ORIGINAL)

Prácticas pedagógicas desarrolladas por docentes en la enseñanza de enfermería Pedagogical practices developed by nursing teachers Práticas pedagógicas desenvolvidas por docentes no ensino de enfermagem

Jessica Belen Rojas Espinoza 1 https://orcid.org/0000-0003-4444-0123 Lucila Cárdenas Becerril 1 https://orcid.org/0000-0003-0070-3753 Beatriz Arana Gómez 1 https://orcid.org/0000-0002-5177-4220 Silvana Silveira Kempfer 2 https://orcid.org/0000-0003-2950-9049 Maria Eduarda De Carli Rodrigues 3 https://orcid.org/0000-0001-5623-7718 Alessandra Antunes Catarina 2 https://orcid.org/0000-0002-9244-3698

Universidad Autónoma del Estado de México, Facultad de Enfermería y Obstetricia, Toluca de Lerdo, México

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Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, Florianópolis, Brasil

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Universidade Federal da Fronteira Sul, Santa Catarina, Chapecó, Brasil

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Resumen Marco contextual: Las prácticas pedagógicas en la enseñanza de la enfermería constituyen un amplio campo de estudio debido a las nuevas necesidades de salud. Objetivo: Conocer las prácticas pedagógicas desarrolladas por los docentes en un curso de pregrado en enfermería. Metodología: Investigación cualitativa, a modo de estudio de caso, cuyos datos fueron recolectados a través de entrevistas en profundidad, en 2020. Participaron cinco profesores de enfermería que laboran en una universidad pública de México. Los datos fueron organizados y analizados de manera inductiva con base en la propuesta operativa de Minayo. Resultados: Surgieron cuatro categorías: por qué y para qué enseñar; Preparación pedagógica para la docencia; Estrategias de enseñanza-aprendizaje utilizadas por los profesores de enfermería; Retos del ejercicio pedagógico en la percepción del profesorado de enfermería. Conclusión: Los docentes informan que no tenían formación pedagógica y que, al iniciar la docencia, buscaron individualmente la preparación necesaria para trabajar en la docencia. Palabras clave: enfermería; docentes de enfermería; educación en enfermería Abstract Background: The pedagogical practices in nursing education are a wide field of study due to the new health needs. Objective: To identify the pedagogical practices developed by teachers in an undergraduate nursing program. Methodology: Qualitative research, case study type. Data were collected in 2020 through in-depth interviews with five nursing teachers working at a public university in Mexico. Data were organized and analyzed using an inductive approach based on Minayo’s operational proposal. Results: Four categories emerged: Teaching - Why and for what; Pedagogical preparation for teaching; Teaching-learning strategies used by nursing teachers; Challenges of pedagogical practice from the perception of nursing teachers. Conclusion: Teachers report that they did not have pedagogical training and that, at the beginning of their teaching career, they individually sought the necessary preparation to teach. Keywords: nursing; faculty, nursing; education, nursing

Autor de correspondencia Maria Eduarda De Carli Rodrigues E-mail: mariacarlir@gmail.com

Recebido: 31.10.20 Aceite: 17.09.21

Resumo Enquadramento: As práticas pedagógicas de enfermeiros constituem um amplo campo de estudo em virtude das novas necessidades de saúde. Objetivo: Conhecer as práticas pedagógicas desenvolvidas por docentes num curso de graduação em enfermagem. Metodologia: Pesquisa qualitativa, tipo estudo de caso, cujos dados foram colhidos através de entrevistas em profundidade, em 2020. Participaram cinco docentes de enfermagem que exercem funções numa universidade pública do México. Os dados foram organizados e analisados indutivamente ​​ com base na proposta operacional de Minayo. Resultados: Emergiram quatro categorias: Porquê e para o que ensinar; Preparação pedagógica para o ensino; Estratégias de ensino-aprendizagem utilizadas por docentes de enfermagem; Desafios do exercício pedagógico na percepção de docentes de enfermagem. Conclusão: Os professores relatam que não tiveram formação pedagógica e que, ao iniciarem a docência, procuraram individualmente a preparação necessária para o ensino. Palavras chave: enfermagem; docentes de enfermagem; educação em enfermagem Como citar este artigo: Rojas Espinoza, J. B., Cárdenas Becerril, L., Arana Gómez, B., Kempfer, S. S., Rodrigues, M. E., & Catarina, A. A. (2021). Práticas pedagógicas desenvolvidas por docentes no ensino de enfermagem. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20174. https://doi.org/10.12707/RV20174

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Introducción La enseñanza y el aprendizaje, especialmente en el contexto de la formación profesional en enfermería, es un gran desafío, ya que requiere que las(os) enfermeras(os) enseñen habilidades que promuevan la interacción de los dos campos del conocimiento: educación y salud; y sensibilizar a los involucrados para que comprendan la dinámica de la vida humana en su dialéctica y logren la autonomía necesaria para transformarse y transformar lo que los rodea (Barriga, 2021; Freire, 2018). El proceso educativo visto desde una perspectiva dialógica requiere estrategias de enseñanza-aprendizaje, recursos didácticos y entornos de aprendizaje que sean relevantes para las demandas y exigencias sociales, así como que respondan a los objetivos establecidos en los programas de aprendizaje. Estos aspectos deben apoyar las prácticas pedagógicas de los profesionales de enfermería responsables de planificar, diseñar y predecir estrategias que promuevan un aprendizaje significativo e integral para los estudiantes, de forma que se fortalezca el pensamiento crítico y reflexivo, así como la toma de decisiones para un cuidado de calidad y equitativo (Enderle et al., 2018; Vieira et al., 2020). Aunque hay claridad de la complejidad del trabajo docente y los avances en los diálogos sobre el tema dentro de la comunidad en general, todavía hay profesionales que basan su práctica pedagógica en los métodos de enseñanza utilizados por los maestros que marcaron su experiencia estudiantil; en la creencia de que para ser un profesor universitario, es suficiente con ser un buen profesional de enfermería, y priorizan así la investigación en detrimento de la formación pedagógica (Zamprogna et al., 2019). Este contexto contribuye a la problemática que justifica la realización de este estudio. Es necesario comprender las prácticas pedagógicas de los y las enfermeras docentes, identificar los avances y las dificultades encontradas, para que se lleven a cabo propuestas de intervención que sean consistentes con las necesidades de este espacio. Esto parte de la comprensión de que convertirse en maestro es un movimiento continuo que necesita una reflexión permanente sobre la práctica y constantes resignificaciones personales y colectivas (Mattos & Monteiro, 2017). Se entiende, por lo tanto, que un diálogo entre la investigación y el desarrollo profesional de los docentes de enfermería puede apoyar nuevos estudios, fortalecer las prácticas pedagógicas y, en consecuencia, contribuir a la educación de enfermería que se necesita. Es así que este estudio tiene como objetivo conocer las prácticas pedagógicas desarrolladas por docentes en la enseñanza del cuidado, que trabajan en un curso de pregrado en enfermería en México.

Marco contextual Según Paulo Freire, el hombre es un ser de relaciones con y en el mundo, tiene potencial para transformar la realidad a través de la reflexión y la acción, y es consciente de su papel como agente transformador de la realidad

(Freire, 2008). La educación para Freire se inserta en este contexto de transformación, autonomía y libertad, donde el hombre aprende en relación con el mundo. La docencia, por tanto, se configura en un movimiento continuo de reflexión-acción-reflexión, desarrollado a través de prácticas pedagogías progresistas y problematizantes que valoran al sujeto que enseña y aprende (Freire, 2018). Los sujetos de educación son personas que tienen sus propios conocimientos y, en la medida que conocen y reconocen en el mundo, amplían sus conocimientos. Por lo que es responsabilidad de los docentes planear, diseñar y prever las mejores estrategias para obtener aprendizajes significativos e integrales en los alumnos. Freire considera que todo ser humano es un educador nato y entiende que el acto educativo trasciende en las relaciones educador-educando dentro del aula o en ambientes formales de aprendizaje. Asimismo, considera que la enseñanza exige rigurosidad metódica, investigación, respeto a los saberes de los educandos, crítica, estética y ética, incorporación de las palabras por el ejemplo, reflexión crítica sobre la práctica y respeto a la autonomía de ser del educando (Freire, 2016). La pedagogía de Freire se refiere al papel fundamental de la educación (concientización) de una sociedad de oprimidos a una sociedad de iguales. “Para que eso suceda, es necesario, primeramente, que el protagonista de la educación sea consciente de su realidad, esto es, que sea capaz de actuar y reflexionar” (Freire, 1980, p. 30-31). La mirada a la realidad de la enseñanza de las prácticas pedagógicas en este estudio seguirá los preceptos y el pensamiento problematizador de Paulo Freire sobre la educación.

Cuestión de investigación ¿Cómo perciben los docentes de enfermería de un curso de pregrado en enfermería su práctica pedagógica?

Metodología Investigación cualitativa, de tipo estudio de caso propuesto por Yin (2015), cuyo objeto son los fenómenos sociales y las organizaciones dentro de un contexto de la vida real. Este estudio forma parte de un macroproyecto titulado “Prácticas pedagógicas para un modelo innovador de enseñanza del cuidado de enfermería - Brasil y México”. La recolección de datos se realizó a través de entrevistas semiestructuradas en profundidad, durante los meses de enero a mayo de 2020, después de la finalización de un curso, que discutió el uso de metodologías activas de enseñanza-aprendizaje y que promovió la reflexión sobre sus prácticas pedagógicas, impartido a profesores entrevistados en este estudio. La selección de participantes en este estudio parte de su implicación en el curso, a partir del cual se identificaron a los docentes activos vinculados a alguna unidad de aprendizaje de práctica clínica del programa de pregrado

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en enfermería. A los asistentes al curso se los invitó a participar en una entrevista, quienes aceptaron y firmaron el consentimiento informado, y se los convocó en un espacio (oficina), donde se aseguró no tener interrupciones para la grabación de audio de las entrevistas, las cuales contaron con una duración promedio de 25 minutos. Asimismo, derivado de la pandemia por COVID-19, a los entrevistados en los meses de marzo a mayo de 2020 se los contactó por teléfono, y la llamada fue grabada para su posterior transcripción. El número de participantes entrevistados se definió en función de la saturación teórica, es decir, al percibir la repetición de información en los datos recopilados, se decidió suspender la realización de nuevas entrevistas. Las preguntas guía para las entrevistas fueron: ¿Cuál es el propósito de la enseñanza? ¿Hubo preparación para el trabajo docente? ¿Cómo enseña el cuidado profesional de enfermería? ¿Qué dificultades encontró en la enseñanza? Los datos se organizaron y analizaron de manera inductiva con base en la propuesta operativa de Minayo (2010), siguiendo las etapas de preanálisis, desarrolladas a partir de la lectura del material y la constitución de grupos de estudio; la exploración del material, que proporcionó comprensión temática a partir de unidades de significado; el tratamiento de los resultados obtenidos, la organización e interpretación inductiva. Este estudio fue sometido a evaluación por el Comité de Ética en Investigación de la Universidad de Santa Catarina, y se aprobó con número 3.758.324, y por la Comisión de Ética de la Facultad de Enfermería y Obstetricia de la Universidad Autónoma del Estado de México. Los sujetos de estudio aceptaron y firmaron el formulario de consentimiento libre e informado. Para preservar la identidad de los participantes, sus declaraciones se identificaron con códigos formados por la letra “E” (entrevistado) seguida del número correspondiente que se les asignó durante la realización de los encuentros.

Resultados Los participantes de la investigación tenían entre 30 y 62 años de edad, y han trabajado como docentes por un período de entre 3 y 40 años. Cuentan con diferentes grados académicos (licenciatura, especialidad y maestría en enfermería), tienen especializaciones en diferentes áreas, como pediatría, nefrología, cuidados intensivos, cirugía, obstetricia y salud pública y comunitaria. A partir del análisis de las entrevistas, se obtuvieron cuatro categorías: Por qué y para qué enseñar; Preparación pedagógica para la enseñanza; Estrategias de enseñanza y aprendizaje utilizadas por docentes de enfermería; Desafíos del ejercicio pedagógico en la percepción de los docentes de enfermería. Cuando un profesional de enfermería toma la decisión de trabajar en la docencia, se enfrenta a un gran desafío. Su formación académica lo preparó para trabajar brillantemente en el área de asistencia, sin embargo, para trabajar en la enseñanza necesita otras habilidades que, muchas veces, no adquirió durante su período de formación uni-

versitaria. Por lo tanto, debe desarrollar las habilidades de enseñanza necesarias, generalmente después de haberse unido a la actividad pedagógica. Las siguientes declaraciones se refieren a la primera categoría, ¿Por qué y para qué enseñar?: Creo que estamos aquí por amor, porque nos gusta. Personalmente, nunca imaginé estar de este lado, como profesor, pero me gusta y les enseño lo que sé, o transmitirles lo que sé. En cierto momento, cuando el estudiante gana una competencia…, veo un procedimiento o algo que hace; o quien también nos recuerda o la forma en cómo les enseñamos…, es una satisfacción para nosotros. (E2) “Para que sean buenos profesionales de enfermería. Afortunadamente, para los pacientes, hay personas que brindan cuidados” (E3). “Enseñamos para que el estudiante pueda proporcionar sus conocimientos y habilidades a la población, porque, aunque sea del área de la salud y su objetivo sea proporcionar cuidados de enfermería, [el objetivo final es] proteger la salud” (E5). Los docentes asocian el acto de enseñar con sentimientos de amor y satisfacción, mencionan que tienen la expectativa de contribuir a la sociedad promoviendo, junto con los estudiantes, la construcción de conocimientos, habilidades y competencias que los hacen buenos profesionales de enfermería. Sin embargo, un buen profesional de enfermería no siempre es un buen docente. Estar preparado teóricamente para ejercer la docencia es fundamental para que el proceso de enseñanza-aprendizaje se desarrolle y para que el aprendizaje sea efectivo. La enseñanza no se trata solo de transmitir conocimientos, sino de estar conectado en el contexto de la educación. Esto requiere capacitación en prácticas pedagógicas, tecnologías de la información, programas didácticos, medios electrónicos y otras herramientas que instrumenten al docente para que su práctica sea interesante para los estudiantes. De estas inquietudes de las enfermeras participantes surge la segunda categoría, denominada Preparación pedagógica para la enseñanza de Enfermería: “No fuimos capacitados como docentes, no asistimos a una escuela donde nos enseñaron a decir o brindar conocimiento a otras personas. Creo que antes de eso estábamos buscando nuestras propias estrategias para lograr el conocimiento” (E1). Creo que la experiencia que tenemos en el hospital ayudó mucho para poder cumplir con los objetivos de la práctica y que los estudiantes cumplan con sus competencias… Creo que un docente en la práctica necesita conocimiento sobre la enseñanza-aprendizaje, la metodología; a este respecto, tengo poco conocimiento, no estoy preparado para la enseñanza, que se complementa con la experiencia y el conocimiento de la enseñanza. (E3) En el momento en que ingresé a la universidad, estudié por mi parte, no había tiempo para que nos enseñaran…, así que tuve que adaptarme; y después de un año me dieron un curso sobre metodologías de enseñanza…, realmente tenemos que prepararnos, no hay cursos de prepara-

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ción técnica…, a nosotros también nos gustaría aprender, ir a conferencias, cursos con docentes que tienen recursos de aprendizaje y capacitación, porque pueden enseñarle su experiencia y aprender realmente metodologías… Considero que es una parte importante, tener la capacidad de enseñar, transmitir conocimiento porque “Bueno, si tengo el conocimiento, pero no sé cómo transmitirlo”, esta es una barrera muy importante para el aprendizaje. (E5) Los participantes informaron que no tenían capacitación pedagógica y que cuando comenzaron a enseñar, buscaron individualmente la preparación necesaria para trabajar en la enseñanza. En este contexto, señalaron que la experiencia asistencial y el conocimiento técnico-científico ayudaron a cerrar las brechas didáctico-pedagógicas, sin embargo, reafirmaron la relevancia de experimentar espacios de diálogo sobre metodologías de enseñanza, y destacaron que la base científica no es suficiente si el educador no la hace accesible al estudiante. Elegir la mejor estrategia de enseñanza, así como desarrollar una práctica pedagógica que se acerque a las expectativas de los estudiantes no siempre es fácil. Para que los estudiantes se mantengan motivados para construir conocimiento, el maestro busca varias metodologías, algunas más interactivas, otras menos activas, sin embargo, todas apuntan al aprendizaje. La condición ideal debe promover la autonomía y el compromiso del estudiante con su construcción de conocimiento y capacitación, para que esté preparado para su futuro desempeño profesional. Así, la tercera categoría fue nombrada Estrategias de enseñanza-aprendizaje utilizadas por los docentes de enfermería. Primero conocer el interés del estudiante en el tema o la carrera, luego basarse en su vida diaria y, después de eso, comprender cuáles son las formas de aprendizaje [de los estudiantes], si son visuales, si son auditivos, si les gusta leer más, un video. Si no están satisfechos, entonces debo investigarlos para ver cuál es el camino de aprendizaje y desde allí comenzar a estudiar las diferentes metodologías de enseñanza. (E5) Por lo general, primero hago una lectura… crítica para que entiendan cómo leer un artículo científico. Luego le explico cómo debe leer y cuáles son las secciones importantes de un artículo científico… Tenían que leerlo, tomar notas al margen del artículo o tomar notas en un cuaderno o en una hoja para que esto les permitiera argumentar… Cuando haces este tipo de habilidad, además de saber qué era la filosofía, cuál era el significado de esta asignatura…, ellos tenían que dominar otras habilidades. (E4) Siempre, en mis clases, como requisito, exigía que [los estudiantes] estudiaran el tema que vamos a ver, así que cuando llego, pregunto primero para ver [el material de estudio]. Tomé en consideración la participación, examiné sus tablas, consulté si había alguna información, esto me llenó de satisfacción . . . Y, al final, hice su examen final, pero dije:

“Como requisito antes de hacer el examen, debe hacer una guía de estudio”. (E1) Todo se basa en el método científico… Todo lo que se hace en el cuidado está basado primero en el conocimiento y luego en el desarrollo de habilidades . . ., basado en preguntas y lo que vieron dentro de la escuela…, a veces, a través de un mapa mental para reforzar el conocimiento del alumno. (E2) Les di ejemplos de personas aparentemente sanas o experiencias que tuve, también buscamos la bibliografía del caso para determinar qué necesidades o qué cuidados podríamos brindar a nuestros pacientes… Y les dije que escribieran sus dudas, sus expectativas, cómo se sentían, qué esperaban de la coordinación. Luego, cuando terminó la práctica, les pregunté si habían cumplido con sus expectativas, qué experiencias tuvieron o qué harían en un determinado caso”. (E3) Se enumeraron algunas acciones, que pueden resumirse en actividades que buscaban relacionar teoría y práctica; problematizando la realidad; estudio de caso, y mapas mentales. Algunos de estos aspectos fueron considerados en la evaluación, como la participación de los estudiantes en las actividades propuestas. Destaca la inquietud docente por poner a disposición de los estudiantes contenidos científicos, actualizados, dentro de las expectativas y la comprensión de los propios estudiantes, lo que constituye estrategias activas que son importantes para el aprendizaje. Conocer a los estudiantes, estar cerca de ellos, promover el aprendizaje, sentirse satisfecho con las clases, elegir la mejor estrategia, organizar los contenidos, cumplir con las demandas administrativas y de registros de la universidad, entre otros desafíos, son percibidos por todos los docentes en algún momento de sus vidas académicas. Los desafíos docentes para principiantes y veteranos experimentados pueden no ser los mismos, pero existen a lo largo de la carrera del profesor. Estos aspectos dieron lugar a la cuarta categoría, Desafíos del ejercicio pedagógico en la percepción de los docentes de enfermería. “Era algo nuevo, era difícil para mí enseñar a los estudiantes, cómo lograr los objetivos del programa, sabía que tenía que estar documentado, actualizándome y en movimiento, aprendiendo e implementando técnicas de enseñanza” (E3). “La primera vez, tuve miedo, porque yo también tuve que aprender a organizarme para expresarme frente al grupo. Todo esto, en algún momento, es difícil para nosotros, pero luego fuimos adquiriendo más una manera de organizarnos, para que también sea más fácil para ellos y para nosotros” (E2). La primera dificultad fue tratar de cubrir brevemente todo el contenido del programa, porque, independientemente de si terminé el programa o no, yo quería generar un aprendizaje significativo… Es difícil para mí trabajar con grupos muy grandes, como 30 a 36 estudiantes, me gusta que hagan su trabajo individual, porque de esta manera vamos explorando cómo cada uno tiene habilidades, es pesado evaluar 36 o 46. (E4) Cada uno de los estudiantes aprende de una manera

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diferente, creo que eso es lo más complicado, tener diferentes métodos de aprendizaje y conocer a los estudiantes a medida que aprenden, porque yo solo puedo tener un método, pero no sería efectivo para uno. Todos tienen diferentes habilidades de aprendizaje también. (E5) Los desafíos que enfrentan los docentes, especialmente al comienzo de sus carreras, son la inseguridad, la falta de comprensión con respecto al manejo de los objetivos de aprendizaje, los contenidos programáticos, las metodologías de enseñanza, el número de estudiantes, sus singularidades y la preparación de evaluaciones.

Discusión Comenzar a enseñar de manera inesperada no es exclusivo de esta investigación. Es común identificar en los estudios, que discuten el tema, informes de educadores de enfermería que comenzaron su carrera pedagógica accidentalmente, motivados por la complementación de ingresos o por el reemplazo de algún compañero profesor (Souza et al., 2018; Vendruscolo et al., 2018). En esta perspectiva, parte de estos enfermeros terminaron pensando en los problemas pedagógicos solo después de comenzar su trabajo como docentes; después de todo, se trataba de profesionales que tenían otras carreras y que, sin planearlo, se convirtieron en educadores (Souza et al., 2018). Es decir, sin ninguna preparación o formación pedagógica (Fernandes & Souza, 2017; Vendruscolo et al., 2018). Este aspecto contribuye a que recuperen sus recuerdos de cuando eran estudiantes y a que reproduzcan las metodologías de enseñanza utilizadas por antiguos docentes que hicieron posible algún aprendizaje o que, de alguna manera, fueron importantes durante su proceso de formación (Fernandes & Souza, 2017). Esta elección no siempre es asertiva, ya que la mayoría de los docentes, tomados como ejemplo, actuaron con base en una educación transmisora o bancaria, con moldes jerárquicos, mecanicistas, desconectados de la realidad y que favorecían los ejercicios de memorización e inconsciencia, en la repetición crítica, sin reflexión ni participación de los estudiantes (Freire, 2018). Además, los participantes del estudio informan que, especialmente al comienzo de su carrera docente, se centraron en el conocimiento específico del área, así como en su experiencia profesional para fortalecer sus prácticas pedagógicas. Sin embargo, esto solo refuerza la idea de que la enseñanza se aprende enseñando y que no hay necesidad de capacitación formal para trabajar en la enseñanza (Souza et al., 2018). Tanto el dominio del contenido como la experiencia como enfermero asistencial son importantes para la constitución del ser docente, sin embargo, de ninguna manera reemplazan los conocimientos pedagógicos (Lazzari et al., 2018). Esta inquietud incluso la hace explícita uno de los participantes de la investigación, quien entiende la existencia de una brecha entre el conocimiento del contenido y la capacidad de hacerlo accesible para el estudiante.

Los aspectos resaltados anteriormente contribuyen para que el educador tenga menos herramientas para enfrentar los desafíos característicos del trabajo docente. Según los participantes del estudio, están representados por el miedo, especialmente al comienzo de su carrera docente; desconocimiento de los aspectos disciplinares, curriculares y la implementación de metodologías participativas de enseñanza-aprendizaje. La gran mayoría es común a otros docentes, especialmente con respecto a la implementación de metodologías activas de enseñanza-aprendizaje (Vendruscolo et al., 2018) debido a la estructuración de los planes de estudio; resistencia de profesores y estudiantes, y dificultad para comprender su aplicabilidad en la práctica (Mesquita et al., 2016). En medio de las dificultades, los maestros informan que ya utilizan, aunque sea instintivamente, estrategias que se acercan a los fundamentos participativos de la enseñanza-aprendizaje, basadas en un discurso coherente con la pedagogía problematizadora y con los conocimientos necesarios para la práctica educativa, como el amor y el respeto por los conocimientos de los estudiantes, la criticidad, la reflexión crítica sobre la práctica, la convicción de que el cambio es posible y que la educación es una forma de intervenir en el mundo (Freire, 2016). Esto también representa un potencial en relación con otros estudios, ya que estas estrategias demuestran una mejor efectividad cuando se trata del desarrollo del pensamiento crítico (Oliveira et al., 2016); contribuyen a tener compromiso para nuevos aprendizajes, y proporcionan condiciones para que el estudiante ejerza libertad, autonomía y corresponsabilidad (Berbel, 2011), lo que promueve aún más la proactividad y vincula el aprendizaje de los aspectos significativos de la realidad; el desarrollo del razonamiento y las capacidades para la intervención en el propio contexto (Lima, 2017). El estudiante, que experimenta un proceso de enseñanza con estas características, todavía se siente animado a continuar aprendiendo. Para ellos, es motivador ser “cuidado por un ser humano con sensibilidad” y que todavía demuestra compromiso, organización y placer en la enseñanza (Winters et al., 2017). La práctica docente que es crítica y coherente con este discurso implica un movimiento dinámico y dialéctico entre hacer y pensar sobre lo que se hace. En este contexto, el aprendiz del educador reconoce que saber pensar no es un regalo de los dioses (Freire, 2016), lo que se reconoce insistentemente en el discurso de los educadores de enfermería que reconocen la necesidad de continuar preparándose para la docencia. La educación permanente, por lo tanto, constituye una estrategia importante para fortalecer la postura problematizadora de los educadores de enfermería y minimizar las debilidades relacionadas con la preparación para la docencia (Vendruscolo, 2018). Es importante resaltar aquí el papel de la institución como promotora de estos espacios, para que los educadores compartan conocimientos y colectivamente construyan nuevas posibilidades para la enseñanza en salud. Sobre todo, si tenemos en cuenta el contexto de la actual pandemia de COVID-19, en el que los docentes, en general, necesitaban transformar su

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práctica pedagógica de acuerdo con los lineamientos que lleva a cabo la organización para evitar la transmisión de SARS-CoV-2, sin cambiar la calidad del proceso de enseñanza-aprendizaje. Entre las limitaciones del estudio se encuentra que, ya que hay cinco entrevistas, con diferentes grados académicos (licenciatura, especialidad y maestría en enfermería), tienen especializaciones en diferentes áreas. Además, las entrevistas se realizaron de forma remota debido a la pandemia de COVID-19.

Conclusión La ausencia de formación pedagógica y el inicio inesperado de la carrera docente son aspectos que contribuyen directamente a los desafíos que enfrentan los educadores de enfermería. Para los participantes, el conocimiento científico, específico de enfermería, las experiencias de atención y los recuerdos educativos de antiguos profesores alivian las dificultades encontradas, pero no son suficientes debido a la distancia que hay entre conocer el contenido y hacerlo accesible para los estudiantes. En estas condiciones, los mismos docentes de enfermería reconocen en la educación permanente una importante oportunidad de aprendizaje, especialmente con respecto a las metodologías de enseñanza que abordan las necesidades de los estudiantes. Vale la pena mencionar que este espacio debe ser coherente con la concepción problematizadora de la enseñanza, de modo que subsidie las ​​ estrategias ya utilizadas por los docentes de manera instintiva, dé mayor consistencia a la práctica pedagógica, contribuya así a la formación de profesionales de enfermería que actúen en consonancia con las necesidades de la sociedad actual y pueda actuar. De lo contrario, las formaciones esencialmente transmisoras contribuirán a la perpetuación de los modelos de enseñanza que no coinciden con las necesidades actuales de la educación, la salud y la sociedad en su conjunto. También es esencial que las instituciones educativas comprendan la importancia de los dominios pedagógicos y que brinden oportunidades para acceder a estos contenidos, lo que promueve diálogos y valora la preparación para un ejercicio de docente que sea crítico, reflexivo, ético y creativo. La preparación de educadores con estas características es una de las principales formas de calificar la capacitación de futuros profesionales de la salud que pueden intervenir de manera transformadora en la sociedad. Este estudio, por tanto, cobra relevancia a partir del momento en que refuerza aspectos relacionados con los desafíos encontrados en la práctica docente del enfermero, al tiempo que señala el deseo y reconocimiento de estos profesionales de prepararse en una perspectiva pedagógica para su desempeño en la docencia en enfermería. Contribución de los autores Conceptualización: Rojas Espinoza, J. B., Cárdenas Becerril, L., Arana Gómez, B., Kempfer, S. S. Tratamiento de datos: Rojas Espinoza, J. B., Cárdenas Becerril, L., Arana Gómez, B.

Metodología: Rojas Espinoza, J. B., Cárdenas Becerril, L., Arana Gómez, B., Rodrigues, M. E., Catarina, A. A. Escritura - borrador original: Rojas Espinoza, J. B., Kempfer, S. S., Rodrigues, M. E., Catarina, A. A. Escritura - análisis y edición: Kempfer, S. S., Rodrigues, M. E., Catarina, A. A. Referencias bibliográficas Barriga, D. F. (2021). TIC y competencias docentes del siglo XXI. In R. Carneiro, J. C. Toscano & T. Díaz (Coord.), Los desafíos de las TIC para el cambio educativo. Fundación Santillana. Berbel, N. A. (2011). As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, 32(1), 25-40. http://doi.org/10.5433/1679-0359.2011v32n1p25 Enderle, C. F., Silveira, R. S., Dalmolin, G. L., Lunardi, V. L., Avila, L. I. & Dominguez, C. C. (2018). Estratégias docentes: Promovendo o desenvolvimento. Revista Brasileira de Enfermagem, 71(Suppl. 4), 1650-1656. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0704 Fernandes, C. N., & Souza, M. C. (2017). Docência no ensino superior em enfermagem e constituição identitária: Ingresso, trajetória e permanência. Revista Gaucha de Enfermagem, 38(1), e64495. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2017.01.64495 Freire, P. (2016). Pedagogia da autonomia. Paz e Terra. Freire, P. (2018). Pedagogia do oprimido. Paz e Terra. Freire, P. (2008). Educação e mudança. Paz e Terra. Freire, P. (1980). Conscientização: Teoria e prática da libertação: Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. Moraes. Lazzari, D. D., Gue Martini, J., Lenise do Prado, M., Marli Backes, V., Rodrigues, J., & Testoni, A. K. (2018). Sentimentos associados à docência por professores de enfermagem. Revista Mineira de Enfermagem, 22, e1130. https://doi.org/10.5935/14152762.20180059 Lima, V. V. (2017). Espiral construtivista: Uma metodologia ativa de ensino-aprendizagem. Interface: Communication, Health, Education, 21(61), 421–437. https://doi.org/10.1590/1807-57622016.0316 Mattos, M., & Monteiro, F. M. (2017). Desenvolvimento profissional de docentes da educação superior em enfermagem: Ressignificando experiências. Educação em Revista, 33(0), e162238. https://doi. org/10.1590/0102-4698162238 Mesquita, S. K., Meneses, R. M., & Ramos, D. K. (2016). Metodologias ativas de ensino/aprendizagem: Dificuldades de docentes de um curso de enfermagem. Trabalho, Educação e Saúde, 14(2), 473–486. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sip00114 Minayo, M. C. (2010). Pesquisa social: Teoria, método e criatividade. Vozes. Oliveira, L. B., Díaz, L. J., Carbogim, F., Rodrigues, A. R., & Püschel, V. A. (2016). Effectiveness of teaching strategies on the development of critical thinking in undergraduate nursing students: A meta-analysis. Revista da Escola de Enfermagem, 50(2), 355-364. https://doi.org/10.1590/S0080-623420160000200023 Souza, D. M., Backes, V. M., Lazzari, D. D., & Martini, J. G. (2018). Pedagogical preparation of nursing professors for professional secondary technical education. Revista brasileira de enfermagem, 71(5), 2432–2439. https://doi.org/10.1590/0034-7167-20170289 Vendruscolo, C., Pozzebon, A., Bender, J., W., Kloh, D., Zocche, D. A., & Zanatta, E. A. (2018). Enfermeiro Professor: Limites e possibilidades da carreira. Revista Brasileira das Ciências da Saúde,

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

Propriedades psicométricas de um questionário de avaliação das competências do cuidador informal

Psychometric properties of a questionnaire for assessing informal caregivers’ skills Propiedades psicométricas de un cuestionario de evaluación de las competencias del cuidador informal Fernanda Gatez Trevisan dos Santos 1 https://orcid.org/0000-0001-7082-6949 Rafaely de Cassia Nogueira Sanches 1 https://orcid.org/0000-0002-1686-7595 Elizabeth Bernardino 2 https://orcid.org/0000-0003-1321-8562 Eraldo Schunk Silva 1 https://orcid.org/0000-0002-6253-5962 Maria do Carmo Fernandez Lourenço Haddad 1 https://orcid.org/0000-0001-7564-8563 Amanda de Souza Gonçalves 1 https://orcid.org/0000-0001-5363-315X Cremilde Aparecida Trindade Radovanovic 1 https://orcid.org/0000-0001-9825-3062

Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil

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Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil

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Resumo Enquadramento: Cabe aos profissionais de saúde realizar a capacitação do cuidador informal para executar a assistência domiciliária, e, nesse contexto, é importante avaliar as competências do cuidador. Objetivo: Avaliar as propriedades psicométricas de um questionário de avaliação das competências do cuidador informal. Metodologia: Estudo metodológico, com a participação de 216 cuidadores informais de um município da região sul do Brasil. Estimou-se a validade estrutural de construto por meio de análise fatorial exploratória e confirmatória, para a confiabilidade verificou-se a consistência interna do questionário. Resultados: A análise fatorial exploratória apresentou quatro fatores nesse estudo, que correspondem às competências psicomotora (Fator 1), cognitiva (Fator 2), emocional (Fator 3) e Relacional (fator 4). A análise fatorial confirmatória revelou resultados satisfatórios para todos os índices de ajustamento, e a consistência interna apresentou valor de α = 0,82. Conclusão: O questionário apresenta evidências de confiabilidade e validade e pode ser utilizado para avaliar as competências do cuidador informal no contexto dominciliário. Palavras-chave: cuidadores; psicometria; inquéritos e questionários; estudos de validação; família; assistência domiciliar Abstract Background: Health professionals are responsible for training informal caregivers to provide home care and therefore it is important to assess caregivers’ skills. Objective: To explore the psychometric properties of a questionnaire for assessing informal caregivers’ skills. Methodology: Methodological study involving 216 informal caregivers from a city in the southern region of Brazil. Structural construct validity was examined through exploratory and confirmatory factor analysis. Reliability was assessed by evaluating internal consistency. Results: The exploratory factor analysis revealed four factors corresponding to the following skills: Psychomotor (Factor 1), Cognitive (Factor 2), Emotional (Factor 3), and Relational (Factor 4). The confirmatory factor analysis revealed satisfactory results for all fit indices and internal consistency of α = 0.82. Conclusion: The questionnaire shows evidence of reliability and validity and can be used to assess informal caregivers’ skills in home settings. Keywords: caregivers; psychometrics; surveys and questionnaires; validation study; family; home nursing

Autor de correspondência Fernanda Gatez Trevisan dos Santos E-mail: fer.gatez@gmail.com

Recebido: 13.02.21 Aceite: 11.06.21

Resumen Marco contextual: Corresponde a los profesionales de la salud capacitar a los cuidadores informales para que presten atención domiciliaria y, en este contexto, es importante evaluar las competencias del cuidador. Objetivo: Evaluar las propiedades psicométricas de un cuestionario para evaluar las competencias del cuidador informal. Metodología: Estudio metodológico, con la participación de 216 cuidadores informales de una ciudad de la región sur de Brasil. La validez estructural del constructo se estimó mediante un análisis factorial exploratorio y confirmatorio, y se verificó la consistencia interna del cuestionario para comprobar su fiabilidad. Resultados: El análisis factorial exploratorio mostró cuatro factores en este estudio, correspondientes a la competencia psicomotora (factor 1), cognitiva (factor 2), emocional (factor 3) y relacional (factor 4). El análisis factorial confirmatorio reveló resultados satisfactorios para todos los índices de ajuste y la consistencia interna mostró un valor de α = 0,82. Conclusión: El cuestionario muestra fiabilidad y validez, y puede utilizarse para evaluar las competencias del cuidador informal en el ámbito doméstico. Palabras clave: cuidadores; psicometría; encuestas y cuestionarios; estudio de validación; familia; atención domiciliaria de salud

Como citar este artigo: Santos, F. G., Sanches, R. C., Bernardino, E., Silva, E. S., Haddad, M. C., Gonçalves, A. S., & Radovanovic, C. A. (2021). Propriedades psicométricas de um questionário de avaliação das competências do cuidador informal. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20206. https://doi.org/10.12707/RV20206

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Introdução A dependência de cuidado afeta as atividades básicas da vida diária e tarefas necessárias para manter a saúde e o bem-estar, provocando prejuízos para a autonomia do indivíduo e do seu autocontrolo, e acarreta a necessidade de um cuidador (Budib et al., 2020; Lopes et al., 2020). O termo cuidador classifica-se em formal e informal, e neste estudo abordaremos o informal, que é conceituado como um sujeito que não possui vínculo formal de contratação e remuneração para executar o cuidado, e, além disso, não dispõe de capacidade técnica para prestar o cuidado no domicílio. Este papel geralmente é exercido pelos filhos, cônjuge, pais, vizinhos e/ou amigos e voluntários de organizações não governamentais e religiosas (Pereira et al., 2017; Silva & Silva, 2020; Uribe et al., 2017). Salienta-se que o cuidado no domicílio deve ser realizado de forma segura e eficaz, e, para tanto, o cuidador informal precisa de ser capacitado. O processo de educação e orientação do cuidador é um aspecto fundamental e necessita de ser fortalecido pela equipa de saúde em todos os níveis de atenção, oferecendo apoio e propondo estratégias para o fortalecimento e superação das dificuldades (Ariza-Vega et al., 2019; Holm et al., 2015; Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Hospitalar e de Urgência, 2016). Entre os desafios encontrados para a efetivação da capacitação e treino do cuidador, enfatiza-se a dificuldade de levantamento das competências do cuidador informal. Reforça-se a orientação do Ministério da Saúde do Brasil (2016) sobre a importância de haver profissionais de saúde a acompanhar e supervisionar as atividades do cuidador em assistência domiciliária. Ter uma ferramenta capaz de fornecer informações válidas é essencial para produzir dados cientificamente robustos que norteiem a condução de ações que visem à melhoria das condições de saúde da população (Sanches, 2019; Souza et al., 2017). Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar as propriedades psicométricas de um questionário de avaliação das competências do cuidador informal.

prática clínica, que possui 14 itens, inicialmente distribuídos em três fatores, identificados no pré-teste: competências cognitivo-emocionais, psicomotoras e relacionais, e escala de resposta do tipo likert de cinco pontos (Sanches, 2019). A avaliação das propriedades psicométricas do COPER 14 torna-se indispensável. Após a sua validação, o questionário poderá auxiliar os profissionais na avaliação das competências do cuidador informal, a fim de aperfeiçoá-las e reforçar as orientações de acordo com os aspetos em que este demonstrar maior dificuldade, uma vez que esses cuidados são complexos para a família (Sanches, 2019). A competência psicomotora está relacionada com a execução das atividades relacionadas com os aspetos práticos do cuidado, logo, compreende o saber manusear tecnologias de suporte, ter destreza manual e habilidades, além de associar o conhecimento com a prática (Holm et al., 2015; Sanches, 2019). A competência cognitiva trata-se da capacidade de conhecer o porquê e como realizar o cuidado, bem como a capacidade de planear, organizar e avaliar o cuidado prestado (Jansen et al., 2015; Sanches, 2019; Silva & Silva, 2020). A competência emocional refere-se à capacidade de adaptação do cuidador, disposição de condições psicológicas para assumir o cuidado, capacidade de gerir stress e sobrecarga e ter qualidade de vida (Nascimento & Figueiredo, 2019; Sanches, 2019; Silva & Silva, 2020). A competência relacional trata-se do respeito quanto às singularidades morais e éticas do sujeito dependente, bem como construir uma comunicação efetiva, verbal ou não verbal, e estabelecer relação de vínculo e respeito (Holm et al., 2015; Jansen et al., 2015; Uribe et al., 2017).

Questão de investigação Quais são as propriedades psicométricas da versão final do questionário de avaliação das competências do cuidador informal (COPER 14) numa amostra de cuidadores brasileiros em assistência domiciliária?

Enquadramento

Metodologia

As competências necessárias na assistência domiciliária constituem a capacidade de executar o cuidado e articular conhecimentos, habilidades e atitudes a fim de resolver problemas e prevenir danos, fazendo uso dos recursos de que dispõe (Holm et al., 2015; Pereira et al., 2017; Silva & Silva, 2020). A competência para o cuidado domiciliário foi teoricamente definida como a capacidade do cuidador familiar para exercer o trabalho de cuidar em casa (Sanches, 2019). Até ao momento, não haviam instrumentos de avaliação das competências do cuidador informal de abordagem multidimensional disponíveis na literatura. Assim, foi desenvolvido, no Brasil, um questionário com esse objetivo. Trata-se de um instrumento intitulado COPER 14 – Competências Cognitivas (CO), Psicomotoras (P), Emocionais (E) e Relacionais (R), de fácil aplicação na

Trata-se de um estudo metodológico, de abordagem quantitativa, realizado num município situado no interior do Paraná, Brasil. Adotou-se como referencial metodológico o modelo sugerido por Pasquali (2010), utilizando a psicometria para avaliar a validade e a confiabilidade do questionário. A colheita de dados ocorreu entre maio e julho de 2019. Os participantes do estudo foram cuidadores informais de pessoas dependentes de cuidado para execução das atividades da vida diária, que cumprissem os seguintes critérios de inclusão: ter idade superior a 18 anos, ser apontado como o principal cuidador de pessoas dependentes de cuidado, e residente na região urbana do município estudado. Os critérios de exclusão foram óbito da pessoa dependente de cuidados e duas tentativas mal-sucedidas de contacto com o cuidador.

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Para a definição do cálculo amostral foi preconizado um mínimo de 10 participantes por item do questionário. Conduziu-se um levantamento junto dos gestores das 39 unidades básicas de saúde (UBS) que pertencem ao município, que apontou a existência de 1017 pessoas dependentes de cuidados e seus respectivos cuidadores. Baseando-se neste número, foi realizada amostragem aleatória, estratificada, considerando um erro de estimativa de 5% e 95% de nível de confiança, foi acrescida uma taxa de 15% para possíveis perdas ou erros, constituindo-se uma amostra inicial de 227 cuidadores, sendo que 11 foram excluídos, a amostra final foi composta por 216 pessoas. Para a colheita dos dados, o contacto com os participantes deu-se através de visitas ao domicílio orientadas por agentes comunitários de saúde (ACS). A equipa de investigação foi composta pela investigadora principal e três enfermeiros, que foram previamente treinados para aplicarem o questionário COPER 14. Salienta-se que os enfermeiros foram acompanhados pela investigadora responsável na primeira vez em que foram a campo, a fim de evitar possíveis dificuldades. O questionário é composto por duas partes, a primeira contém 13 questões de caracterização do cuidador, como idade, sexo, escolaridade, entre outros, e a segunda parte foi denominada específica e é composta por 14 itens, com quatro fatores: competências Cognitivas, Emocionais, Psicomotoras e Relacionais. O score total pode ser pontuado de 1 a 70, e para a sua classificação optou-se por dividir o valor de todas as somas das respostas máximas em quartis, sendo que as pontuações mais elevadas indicam maior competência, recebendo a seguinte classificação: de 1-17 pontos, baixa competência, de 18 a 35, pouca competência, de 36 a 52, boa competência e de 53 a 70, ótima competência (Sanches, 2019). Previamente à análise fatorial exploratória (AFE), foi realizado o índice de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), também conhecido como índice de adequação da amostra, sendo um teste estatístico que sugere a proporção de variância dos itens que pode estar a ser explicada por uma variável latente. Tal índice indica o grau de adequação da aplicação da AFE para o conjunto de dados. O seu valor pode variar de 0 a 1, sendo que valores iguais ou próximos de zero indicam que a soma das correlações parciais dos itens avaliados é bastante alta em relação à soma das correlações totais. Nesses casos, possivelmente a análise fatorial será inapropriada. Como regra para interpretação dos índices de KMO, valores menores que 0,5 são considerados inaceitáveis, valores entre 0,5 e 0,7 são considerados medíocres; valores entre 0,7 e 0,8 são considerados bons; valores maiores que 0,8 e 0,9 são considerados ótimos e excelentes, respetivamente (Damásio, 2012). A validade estrutural foi avaliada através da análise fatorial exploratória (AFE) e pela análise fatorial confirmatória (AFC). Existem diversos procedimentos e critérios de retenção fatorial, o mais utilizado é o critério de Kaiser-Guttman, mais conhecido como eigenvalue > 1. Optou-se pela utilização do mesmo no presente estudo, para os critérios de retenção fatorial, sendo que apenas fatores com valor próprio maior que 1 (eigenvalue > 1) foram retidos, e, posteriormente, realizou-se a verificação das

comunalidades (h2; Damásio, 2012). As comunalidades podem variar de 0 a 1, sendo que um bom ajuste para o modelo de análise deve apresentar valores altos, isto é, quanto mais próximos a 1 (100%), melhor é o ajuste do modelo (Silva et al., 2020). A AFC considerou o método de máxima verossimilhança, foram utilizados os índices: Goodness of Fit Index (GFI) e Comparative Fit Index (CFI): valores superiores a 0,90 indicam um ajustamento adequado e superiores a 0,95 indicam um ajustamento ótimo; o Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA): valores superiores a 0,08 indicam um ajustamento fraco; e a razão entre Qui-quadrado e graus de liberdade (α 2/gl). Em relação a este índice, não há um consenso quanto ao seu valor adequado, sugere-se que este seja entre 2 e 5 (Bravo-Andrade et al., 2019). Para estimar a confiabilidade do questionário COPER 14, utilizou-se o coeficiente alfa de Cronbach (α ), cujos valores podem variar de 0 a 1, quanto mais próximo a 1, mais consistente é considerado o instrumento. Para este estudo, valores de alfa superiores a 0,70 foram considerados aceitáveis (Rodrigues & Henriques, 2018). Para identificação de possíveis erros de medida, verificou-se o desvio-padrão (DP; Souza et al., 2017). A aplicação do teste de Kappa de Fleiss (KF) foi utilizada para identificação de possíveis itens redundantes, aqueles que apresentaram correlação acima de 0,30 foram considerados adequados. Os dados foram digitados em folhas de cálculo no programa Microsoft Excel 2013 e as análises foram realizadas por meio do software Statistical Analysis System (SAS, versão 9.4). O estudo seguiu de acordo com a resolução nº 466/2012, sendo aprovado pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, sob o parecer número 2584897/2018. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre esclarecido (TCLE) em duas vias.

Resultados Dentre os 216 cuidadores, a maioria (181) era do sexo feminino (83,80%), 101 (46,76%) tinha idade superior a 60 anos, 119 (55,09%) cuidadores conviviam com o companheiro, 129 (59,72%) possuíam até 8 anos de estudo e 101 (46,76%) encontravam-se desempregados. Quanto ao grau de parentesco, 96 (44,44%) eram filhos, 49 (22,69%) esposos e 24 (11,11%) mães ou pais e 134 (62,04%) referiram ter algum problema de saúde. No que se refere às questões acerca do cuidado, 202 (93,52%) nunca realizaram um curso de cuidador, 130 (60,19%) nunca cuidou de alguém antes e 182 (84,26%) cuidam de apenas uma pessoa atualmente. As horas diárias dedicadas para o cuidado variaram entre 2 e 24, sendo que 161 (74,54%) relataram dispensar mais de 12 horas por dia para o cuidado do familiar doente. A duração do cuidado variou de 3 meses a 46 anos, sendo que 127 (58,80%) afirmaram que exercem o papel de cuidadores há mais de 5 anos. AFE A amostra apresentou tamanho adequado para a análise fatorial exploratória e a adequabilidade do ajuste do mo-

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delo foi considerada aceitável, com um valor de KMO = 0,7951. De acordo com o critério de Kaiser indicou-se a retenção de quatro fatores com valor próprio maior que 1 (eigenvalues > 1), com as respectivas variâncias explicadas, em ordem decrescente: Fator 1 valor próprio = 4,25 (40,36%), Fator 2 valor próprio = 1,40 (10,05%), Fator

3 valor próprio = 1,23 (8,79%) e Fator 4 valor próprio = 1,05 (7,52%; Tabela 1). Na Tabela 1 são apresentados o valor próprio e a variância explicada para os quatro fatores, destaca-se que os fatores retidos na AFE explicaram 56,71% da variância total dos dados (Tabela 1).

Tabela 1 Valor próprio e variância explicada para os quatro fatores do COPER 14 Valor próprio

Variância explicada (%)

Psicomotora

4,25

40,36

Fator 2

Cognitiva

1,40

10,05

Fator 3

Emocional

1,23

8,79

Fator 4

Relacional

1,05

7,52

Geral

-

-

56,71

Fatores

Competências

Fator 1

O primeiro fator, operacionalizado pelos itens Q2, Q3, Q4, Q7 e Q11, foi interpretado como sendo referente a Competência Psicomotora e trata-se do fator mais importante para se explicarem as competências do cuidador informal (Tabela 2). O segundo fator, Competência Cognitiva, foi operacionalizado pelos itens Q1, Q5, Q10 e

Q12 (Tabela 2). O terceiro fator, Competência Emocional, foi operacionalizado pelos itens Q8 e Q9 (Tabela 2). O quarto fator, Competência Relacional, foi operacionalizado pelos itens Q6, Q13 e Q14 (Tabela 2). Na Tabela 2 apresentam-se as cargas fatoriais geradas para os itens do questionário COPER 14 na AFE.

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Santos, F. G. et al

Tabela 2 Cargas fatoriais geradas para os itens do COPER 14 na Análise Fatorial Exploratória Item

Fator 1

Fator 2

Fator 3

Fator 4

Q2 Como você avalia o seu conhecimento para: Identificar os sinais e sintomas de piora da saúde da pessoa que você cuida.

0,67

0,17

0,21

0,00

Q3 Como você avalia o seu conhecimento para: Identificar as necessidades de alimentação da pessoa que você cuida.

0,65

0,21

0,03

0,25

Q4 Como você avalia o seu conhecimento para: Identificar sinais e sintomas de desidratação da pessoa que você cuida.

0,76

0,05

0,01

0,03

Q7 Como você avalia o seu conhecimento para: Reconhecer sinais de alterações nas eliminações da pessoa que você cuida.

0,55

0,27

0,25

0,05

Q11 Como você se sente em relação ao seu preparo para: Avaliar a temperatura corporal da pessoa que você cuida.

0,55

0,25

0,27

0,26

Q1 Como você avalia o seu conhecimento para: Identificar as limitações físicas da pessoa que você cuida.

0,05

0,56

0,16

0,26

Q5 Como você avalia o seu conhecimento para: Identificar os remédios que a pessoa que você cuida faz uso como horários, efeitos colaterais, indicações, contraindicação, alergias.

0,28

0,81

-0,01

0,06

Q10 Como você se sente em relação ao seu preparo para: Administrar/ Ofertar os remédios.

0,18

0,84

0,07

-0,05

Q12 Como você se sente em relação ao seu preparo para: Despir e vestir a pessoa que você cuida

0,06

0,41

0,37

0,15

Q8 Quanto você se sente adaptado: Com a rotina diária de cuidados.

0,20

0,04

0,84

-0,01

Q9 Quanto você se sente adaptado: Em exercer o papel de cuidador.

0,17

0,15

0,83

0,17

Q6 Como você avalia o seu conhecimento para: Identificar expressões faciais que a pessoa que você cuida pode apresentar.

0,27

0,25

0,18

0,34

Q13 Como você se sente em relação ao seu preparo para: Comunicar-se com a pessoa que você cuida.

-0,07

0,06

0,38

0,71

Q14 Como você se sente em relação ao seu preparo para: Estimular a autonomia da pessoa que você cuida.

0,30

0,08

-0,16

0,75

Psicomotora

Cognitiva

Emocional

Relacional

No Fator 1, Competência Psicomotora, as cargas fatoriais variaram entre 0,55 (itens 7 e 11) e 0,76 (item 4); no Fator 2, Cognitiva, a variação foi de 0,41 (item 12) a 0,81 (item 5); no Fator 3, Emocional, as cargas fatoriais foram 0,83 (item

9) e 0,84 (item 8); no Fator 4, Relacional, 0,34 (item 6) e 0,75 (item 14), representaram a menor e maior carga fatorial, respetivamente. Na Tabela 3 apresentam-se as comunalidades (h2) estimadas para os itens do COPER 14 na AFE.

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Santos, F. G. et al

Tabela 3 Comunalidades estimadas para os itens do COPER 14 na Análise Fatorial Exploratória Q1

Q2

Q3

Q4

Q5

Q6

Q7

0,4111

0,5175

0,5329

0,5858

0,7314

0,2776

0,4440

Q8

Q9

Q10

Q11

Q12

Q13

Q14

0,7465

0,7630

0,7488

0,5023

0,3376

0,6628

0,6777

Os valores de comunalidades variaram de 0,2776 (item 6) a 0,7488 (item 10). A comunalidade constatada no item 6 indica possível exclusão do mesmo, contudo, optou-se por um diagnóstico definitivo após a AFC.

AFC Os índices de qualidade de ajuste obtidos para o modelo, testado na AFC, revelaram resultados satisfatórios, conforme a Tabela 4, a seguir.

Tabela 4 Índices de qualidade de ajuste obtidos para o modelo ajustado do COPER 14 Índice

X2/gl

CFI

GFI

RMSEA

Pclose

Valor

1,653

0,934

0,929

0,055

0,929

<3

> 0,9

< 0,08

> 0,05

Referência

> 0,9

O modelo estrutural ajustado e validado demonstra maior correlação entre a competência Psicomotora e Relacional (r = 0,72), seguido pela correlação entre a competência Psicomotora e Cognitiva (r = 0,59). Quanto aos itens, não houve alteração no questionário, todos apresentaram correlação superior a 0,30, até mesmo o item Q6, o qual foi mantido na competência relacional. Confiabilidade Foi observado que todos os itens apresentaram correla-

ção satisfatória (> 0,30), a qual variou de 0,32 no item Q13 a 0,58 no item Q11. Além disso, constatou-se que a retirada de qualquer um dos itens, inclusive do item 6, não alteraria o alfa de Cronbach (α ). Assim, na sua versão final, o questionário manteve os 14 itens, apresentando valor de α = 0,82. O valor de α para cada fator também foi calculado conforme se apresentou a seguir: Competência Psicomotora (α = 0,74), Cognitiva (α = 0,68), Emocional (α = 80) e Relacional (α = 0,46; Tabela 5).

Tabela 5 Média e desvio-padrão dos itens, correlação entre itens (r) e alfa de Cronbach (α ) se o item for excluído, considerando-se os 14 itens do questionário COPER Item

Média

Desvio-Padrão

r

Q1

4,03

0,91

0,40

0,81

Q2

3,13

1,16

0,49

0,80

Q3

3,68

1,14

0,51

0,80

Q4

2,42

1,43

0,35

0,81

Q5

3,76

1,22

0,52

0,80

Q6

4,22

1,01

0,40

0,81

Q7

2,85

1,37

0,51

0,80

Q8

3,74

1,18

0,41

0,81

Q9

3,76

1,18

0,52

0,80

Q 10

4,21

1,13

0,47

0,80

Q 11

3,41

1,38

0,58

0,80

Q 12

3,93

1,27

0,38

0,81

Q 13

4,07

1,06

0,32

0,81

Q 14

3,44

1,41

0,33

0,81

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Santos, F. G. et al

Para verificação das somas dos scores finais para a versão final, optou-se por dividir o valor de todas as somas das respostas máximas em quartis, sendo que pontuações mais baixas indicam menor grau de competência para o cuidar. Para melhor visualização e análise posterior pelo entrevistador, foi inserida uma coluna após o número de cada item, indicando a qual construto aquele item pertence. Desta forma, é possível identificar em qual dimensão o cuidador tem maior dificuldade.

Discussão Foram avaliadas a validade estrutural, confirmatória e a confiabilidade do questionário COPER 14 e constatou-se que o mesmo possui propriedades psicométricas adequadas à sua aplicação para a amostra de cuidadores estudada, tornando-se uma ferramenta útil para estudos nacionais sobre as competências para cuidar. A versão original do instrumento foi avaliada no pré-teste com 30 participantes, a qual apresentou três dimensões. As questões 1, 4, 5, 12, 13 e 14 compuseram a competência Cognitivo-emocional (α = 0,76), a competência Psicomotora (α = 0,66) foi avaliada nas questões 2, 3, 6, 10 e 11, e nas questões 7 a 9 estimou-se a competência relacional (α = 0,79; Sanches, 2019). No presente estudo, obtiveram-se quatro fatores na AFE, sendo desmembrado o fator Cognitivo-emocional, não houve exclusão de nenhum item, contudo, alguns deles foram realocados, a saber: 4 e 7 foram para a competência Psicomotora, item 6 para a Relacional e item 10 para a Cognitiva. Manteve-se a pontuação do score conforme instrumento na versão original, bem como as questões de caracterização do cuidador informal, referentes à primeira parte do COPER 14. Houve também um aumento no coeficiente α de Cronbach de 0,79 (versão pré-teste) para 0,82. Os testes psicométricos são indispensáveis para produzir um instrumento preciso, garantindo assim a qualidade dos seus resultados (Souza et al., 2017). O conceito de validade é aplicado para verificar se o instrumento mede exatamente o fenómeno que se propõe a medir, por exemplo, as competências do cuidador informal (Silva et al., 2020; Souza et al., 2017). Na amostra deste estudo foi demonstrado um alto KMO (0,7951), evidenciando que os itens da escala proposta medem o mesmo construto e estão inter-relacionados, sendo constatado que a matriz de dados é passível de fatoração (Holanda et al., 2019). De acordo com Pasquali (2017), a análise fatorial tem como lógica precisamente verificar quantos construtos comuns são necessários para explicar as covariâncias dos itens. Na AFE retiveram-se quatro fatores (F1, F2, F3 e F4), se considerarmos todos os valores próprios maiores que 1 (eigenvalues > 1), os quais foram denominados: competência Psicomotora, Cognitiva, Emocional e Relacional. As questões Q2, Q3, Q4, Q7 e Q11 referem-se à competência Psicomotora. Esta dimensão compreende o saber-fazer, ter habilidades para executar o cuidado (Ariza-Vega et al., 2019; Holm et al., 2015; Sanches, 2019). A

percentagem da variância total explicada pelos fatores foi de 56,71%, sendo que o F1 competência Psicomotora é o mais importante na determinação do construto em estudo. A competência Cognitiva (F2) é avaliada nas questões Q1, Q5, Q10 e Q12. Trata-se da capacidade de conhecer o porquê e como realizar cada atividade que envolve o cuidado, com planeamento e organização (Jansen et al., 2015; Sanches, 2019; Silva & Silva, 2020). A competência Emocional (F3), composta pelos itens Q8 e Q9, refere-se à capacidade de adaptação e à disposição de condições psicológicas para assumir o cuidado (Nascimento & Figueiredo, 2019; Sanches, 2019; Silva & Silva, 2020). Por fim, as questões Q6, Q13 e Q14 pertencem à dimensão da competência Relacional (F4). Trata-se do vínculo formado entre cuidador e paciente (Holm et al., 2015; Jansen et al., 2015; Uribe et al., 2017). As comunalidades representam a proporção da variância para cada variável incluída na análise que é explicada pelos componentes extraídos. É consensual na literatura que a baixa comunalidade representa um indício de que as variáveis não estão linearmente correlacionadas. Logo, caso o investigador encontre alguma comunalidade abaixo dos valores aceitáveis recomenda-se a exclusão do item e nova realização da análise fatorial (Holanda et al, 2019; Silva et al., 2020). Nesse estudo, o item Q6 apresentou comunalidade ligeiramente abaixo do valor crítico. Numa perspetiva mais conservadora, seria aconselhável excluí-lo, mas optou-se pela conservação do mesmo a fim de favorecer a retenção de três itens no Fator 4, que compreende a competência Relacional (Santos, 2017). Adicionalmente, ao proceder à estimativa da confiabilidade constatou-se que a retirada do item não altera o alfa de Cronbach do questionário, e que o item Q6 apresentou boa correlação entre itens (0,40), e, sendo assim, manteve-se o item na versão final. Todas as correlações entre itens foram consideradas satisfatórias e superiores a 0,30, o que suporta a conclusão de que os fatores do questionário avaliam o mesmo constructo (Santos, 2017). No que se refere à AFC, o seu objetivo foi confirmar e ajustar do modelo teórico proposto para o questionário (Souza et al., 2017), e a análise revelou resultados satisfatórios para todos os índices de ajustamento apresentados. O coeficiente alfa de Cronbach total obtido foi de α = 0,82, o que indica grande confiabilidade e confirma a consistência interna do questionário. A remoção de qualquer item não resultou em melhoria significativa da consistência interna, portanto, mantém-se o questionário COPER composto por 14 itens na sua versão final. Como limitação, ressalta-se que o levantamento dos possíveis sujeitos da investigação foi realizado nas UBS que pertencem ao município, pelo que não foi possível abranger todos os cuidadores para uma amostra representativa, uma vez que existem famílias acompanhadas pelo setor privado e não foram identificadas no levantamento. Ressalta-se que o presente estudo complementa o processo de validação do questionário COPER 14, uma vez que a versão original tinha sido testada apenas no pré-teste com uma amostra consideravelmente pequena.

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Santos, F. G. et al

Conclusão Os procedimentos estatísticos realizados permitiram concluir que o questionário proposto apresenta evidências de confiabilidade e validade com base na consistência interna, na AFE e AFC. O questionário demonstra resultados satisfatórios para utilização no contexto domiciliário brasileiro. O COPER 14 pode ser utilizado no quotidiano do cuidado, em todos os níveis de atenção, a fim de auxiliar os profissionais na avaliação das competências do cuidador informal, contribuindo assim para realizar orientações ou treinos focados nas necessidades dessas famílias, especialmente as que vivenciam a dependência pela primeira vez. Contribuição de autores Conceptualização: Santos, F. G., Sanches, R. C., Bernardino, E., Silva, E. S., Haddad, M. C., Radovanovic, C. A. Tratamento de dados: Santos, F. G., Silva, E. S. Análise formal: Santos, F. G., Sanches, R. C., Silva, E. S., Gonçalves, A. S., Radovanovic, C. A. Investigação: Santos, F. G., Sanches, R. C., Gonçalves, A. S. Metodologia: Santos, F. G., Sanches, R. C., Bernardino, E., Silva, E. S., Haddad, M. C., Radovanovic, C. A. Administração do projeto: Santos, F. G., Radovanovic, C. A. Recursos: Santos, F. G., Sanches, R. C., Gonçalves, A. S. Software: Santos, F. G., Silva, E. S. Supervisão: Santos, F. G., Bernardino, E., Radovanovic, C. A. Validação: Santos, F. G., Radovanovic, C. A. Visualização: Santos, F. G., Sanches, R. C., Bernardino, E., Silva, E. S., Haddad, M. C., Gonçalves, A. S., Radovanovic, C. A. Redação – rascunho original: Santos, F. G., Sanches, R. C., Radovanovic, C. A. Redação – análise e edição: Santos, F. G., Sanches, R. C., Bernardino, E., Silva, E. S., Haddad, M. C., Gonçalves, A. S., Radovanovic, C. A Referências bibliográficas Ariza-Vega, P., Ortiz-Piña, M., Kristensen, M. T., Castellote-Caballero, Y., & Jiménez-Moleón, J. J. (2019). High perceived caregiver burden for relatives of patients following hip fracture surgery. Disability and Rehabilitation, 41(3), 311-318. https://doi.org/1 0.1080/09638288.2017.1390612 Bravo-Andrade, H. R., González-Betanzos, F., Ruvalcaba-Romero, N., López-Peñaloza, J., & Orozco-Solís, M. G. (2019). Psychometric properties of the Resilience questionnaire for 68 children and adolescents in Mexican high school students. Acta Colombiana de Psicología, 22(2), 292-305. https://doi.org/10.14718/ACP.2019.22.2.14 Budib, M. B., Zulim, M. I., Oliveira, V. M., & Matos, V. T. (2020). Integrated continuous care: Collaborating with the elderly functionality. Bioscience Journal, 36(1), 266-275. https://doi. org/10.14393/BJ-v36n1a2020-42308 Damásio, B. F. (2012). Uso da análise fatorial exploratória em psicologia. Avaliação Psicológica, 11(2), 213-228. http://pepsic.bvsalud. org/pdf/avp/v11n2/v11n2a07.pdf Holanda, F. L., Marra, C. C., & Cunha, I. C. (2019). Evidências de

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Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e20206 DOI: 10.12707/RV20206

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

Validação da Escala de Autoavaliação da Promoção da Autonomia dos Idosos (EAPAI) por parte dos enfermeiros

Validation of the Self-Assessment Scale of Autonomy Promotion in Older Adults (EAPAI) by nurses Validación de la Escala de Autoevaluación para la Promoción de la Autonomía del Adulto Mayor (EAPAI) por los enfermeros Andreia Maria Novo Lima 1 https://orcid.org/0000-0001-7535-9040 Maria Manuela Ferreira da Silva Martins 2, 3 https://orcid.org/0000-0003-1527-9940 Maria Salomé Martins Ferreira 4, 5 https://orcid.org/0000-0003-1685-9891 Soraia Dornelles Schoeller 6 https://orcid.org/0000-0002-2822-4407 Francisco Sampaio 3, 7 https://orcid.org/0000-0002-9245-256X Hugo Neves 5, 8, 9 https://orcid.org/0000-0002-6843-6228 Vítor Parola 5, 8, 9 https://orcid.org/0000-0002-0050-5004 Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Escola Superior de Saúde da Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal 1

2 Escola Superior de Enfermagem do Porto, Porto, Portugal

Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), Porto, Portugal 3

Instituto Politécnico de Viana do Castelo – Escola Superior de Saúde, Viana do Castelo, Portugal 4

Unidade de Investigação em Ciências da Saúde (UICISA: E), Coimbra, Portugal 5

6 Universidade Federal de Santa Catarina, Trindade, Florianópolis – SC, Brasil

Escola Superior de Saúde - Fernando Pessoa, Porto, Portugal 7

8 Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Coimbra, Portugal

Centre for Evidence Based Practice: A Jonna Briggs Institute Centre of Excellence, Coimbra, Portugal 9

Autor de correspondência Vitor Sérgio de Oliveira Parola E-mail: vitorparola@esenfc.pt Recebido: 04.01.21 Aceite: 20.09.21

Resumo Enquadramento: A promoção da autonomia do idoso assume particular relevo na prestação de cuidados de enfermagem. Contudo, na literatura não foram encontrados instrumentos que permitam efetuar a autoavaliação da promoção da autonomia dos idosos. Objetivo: Avaliar as propriedades psicométricas de uma escala de autoavaliação da promoção da autonomia dos idosos. Metodologia: Estudo metodológico que compreendeu a avaliação das propriedades psicométricas da escala, com recurso de uma amostra de 360 enfermeiros. A fiabilidade foi avaliada através da consistência interna e a validade de constructo através de análise fatorial exploratória (rotação varimax). Resultados: A consistência interna total (Alfa de Cronbach) foi de 0,983, variando de 0,955 a 0,990 nos seis fatores identificados. Conclusão: Esta escala, que apresenta boas propriedades psicométricas, é um instrumento de avaliação da promoção da autonomia dos idosos, na perspetiva dos enfermeiros, potencialmente útil para aumentar a consciencialização destes profissionais neste domínio. Palavras-chave: assistência a idosos; cuidados de enfermagem; autonomia pessoal; promoção da saúde; estudo de validação; pesos e medidas Abstract Background: The promotion of older adults’ autonomy is particularly relevant in nursing care. However, no instruments were found in the literature that allowed the self-assessment of autonomy promotion in older adults. Objective: To evaluate the psychometric properties of a self-assessment scale of autonomy promotion in older adults. Methodology: This is a methodological study that included the assessment of the scale’s psychometric properties, using a sample of 360 nurses. The scale’s reliability was assessed through internal consistency and construct validity using an exploratory factor analysis (varimax rotation). Results: The total internal consistency (Cronbach’s alpha) was 0.983, ranging from 0.955 to 0.990 across the six factors identified. Conclusion: The scale presents good psychometric properties and consists of an instrument for nurses to self-assess autonomy promotion in older adults. This instrument can potentially increase nurses’ awareness in this area. Keywords: old age assistance; nursing care; personal autonomy; health promotion; validation study; weights and measures Resumen Marco contextual: La promoción de la autonomía de los adultos mayores es especialmente importante en la prestación de cuidados de enfermería. Sin embargo, no se han encontrado en la literatura instrumentos que permitan la autoevaluación de la promoción de la autonomía de los adultos mayores. Objetivo: Evaluar las propiedades psicométricas de una escala de autoevaluación de la promoción de la autonomía de los adultos mayores. Metodología: Estudio metodológico que incluyó la evaluación de las propiedades psicométricas de la escala, para lo cual se utilizó una muestra de 360 enfermeros. La fiabilidad se evaluó mediante la consistencia interna y la validez de constructo mediante el análisis factorial exploratorio (rotación varimax). Resultados: La consistencia interna total (alfa de Cronbach) fue de 0,983, variando de 0,955 a 0,990 en los seis factores identificados. Conclusión: Esta escala, que presenta buenas propiedades psicométricas, es un instrumento para evaluar la promoción de la autonomía en los adultos mayores desde la perspectiva de los enfermeros, lo que resulta potencialmente útil para aumentar la conciencia de estos profesionales en este ámbito. Palabras clave: asistencia a los ancianos; atención de enfermería; autonomía personal; promoción de la salud; estudio de validación; pesos y medidas Como citar este artigo: Lima, A. M., Martins, M. M., Ferreira, M. S., Schoeller, S. D., Sampaio, F., & Parola, V. S. (2021). Validação da Escala de Autoavaliação da Promoção da Autonomia dos Idosos (EAPAI) por parte dos enfermeiros. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e21003. https://doi.org/10.12707/RV21003

Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e21003 DOI: 10.12707/RV21003

pp. 1 - 10


Lima, A. M. et al.

Introdução Devido ao aumento substancial da população idosa, os enfermeiros enfrentam desafios no desenvolvimento de intervenções de enfermagem promotoras da melhoria ou manutenção da autonomia dos idosos (Cruz et al., 2017). Na revisão da literatura realizada não foram encontrados instrumentos que permitam aos enfermeiros autoavaliar a promoção da autonomia dos idosos, pelo que o desenvolvimento de um instrumento com estas caraterísticas pode ser útil para consciencializar os enfermeiros da necessidade de manter ou melhor as suas práticas neste âmbito. Esta consciencialização terá com certeza impacto na qualidade dos cuidados prestados, já que a autonomia se trata de um conceito multidimensional que abrange diversas dimensões, tais como: física, cognitiva, inteligência emocional, e integração social (Lima et al., 2021). Após a análise do conceito na literatura disponível, e da análise de perceção dos enfermeiros especialistas sobre as práticas relativas à promoção da autonomia dos idosos, torna-se útil e pertinente a construção de um instrumento que permita aos enfermeiros avaliar a forma como estes intervêm ao nível da autonomia dos idosos. Assim, o instrumento foi construído e previamente submetido à avaliação de peritos, recorrendo a um estudo Delphi. Deste modo, o presente estudo tem como objetivo avaliar as propriedades psicométricas de uma escala de autoavaliação da promoção da autonomia dos idosos (EAPAI).

Enquadramento Com as alterações demográficas decorrentes do aumento substancial da população idosa nas últimas décadas prevê-se a inversão da pirâmide etária, estimando-se que, entre os anos 2015 e 2080, o índice de envelhecimento possa duplicar, passando de 147 para 317 idosos por cada 100 jovens (Instituto Nacional de Estatística, 2017). Apesar de as pessoas viverem mais tempo, muitas vezes a pessoa idosa, pela inadequada avaliação diagnóstica, é substituída no autocuidado e na tomada de decisão, sendo colocada em causa a sua autonomia e, por conseguinte, a sua qualidade de vida e dignidade. Esta tendência sublinha a problemática relacionada com o envelhecimento, nomeadamente a fragilidade no idoso, e desafia algumas preocupações em relação às condições de vida e aos processos de saúde-doença das pessoas idosas (Apóstolo et al., 2018; Passos et al., 2014). Da autonomia incorre uma fonte intrínseca de motivação para controlar o destino, dominar a sua vida e o seu comportamento, permitindo à pessoa viver sentimentos de liberdade e controlo das suas ações (Reach, 2018). Este conceito envolve, assim, capacidade cognitiva, capacidade intelectual, inteligência emocional, integração social e capacidade física, que possibilita à pessoa gerar um comportamento ajustado e adequado à sua volição (Lima et al., 2021). Pelo exposto, o respeito pela autonomia da pessoa idosa assume particular importância, já que o incumprimento deste princípio, pelos processos decorrentes do envelhe-

cimento e da cultura, coloca a pessoa numa situação de grande fragilidade e vulnerabilidade (Apóstolo et al., 2018). A implementação do processo de enfermagem, tal como em todas as situações de prestação de cuidados de enfermagem, permite identificar as reais necessidades da pessoa-alvo dos cuidados de enfermagem. A correta identificação dos focos de atenção é um passo essencial para a identificação dos diagnósticos, permitindo assim planear uma resposta adequada (Passos et al., 2014). Para a concretização de todos os aspetos salientados, os enfermeiros devem conhecer os conceitos (Watson, 2017) para os quais direcionam os seus cuidados, pelo que neste caso concreto estes devem dominar o conceito de autonomia (Lima et al., 2021) para assim saberem implementar o respetivo processo de enfermagem. A mudança da cultura de cuidados no âmbito da autonomia às pessoas mais velhas assume-se como um desafio para os enfermeiros, já que estes reconhecem e demonstram a aplicação de rotinas, as quais podem ser dificultadoras da promoção da autonomia dos idosos (Nogueira et al., 2018). As instituições de saúde, nomeadamente os gestores destas organizações, devem considerar igualmente as condições em que os profissionais de saúde desempenham as suas funções, especialmente no que concerne à necessidade de manter os rácios adequados (Nogueira et al., 2018; Poeira et al., 2018). O recurso a escalas para a avaliação das necessidades das pessoas tem aumentado nas últimas décadas, assim como a construção de novas ferramentas. Estas permitem aos enfermeiros objetivar as necessidades de cuidados e, ao mesmo tempo, avaliar os ganhos em saúde com a implementação dos cuidados de enfermagem (Almeida et al., 2019). Na literatura foram encontrados alguns instrumentos que pretendem avaliar a autonomia da pessoa, no entanto, estes centram-se na avaliação das competências da pessoa nesse âmbito ou da autonomia percebida pelos utentes sobre o grau em que os profissionais de saúde dão suporte à autonomia (Thomas et al., 2019). Na evidência disponível, não existe qualquer instrumento que permita aos enfermeiros efetuar a autoavaliação da forma como promovem a autonomia. Neste caso em concreto, este instrumento trata-se de uma ferramenta auto preenchida pelos profissionais de enfermagem, com o objetivo de avaliar a forma como estes promovem a autonomia dos idosos na sua prática clínica.

Questão de investigação A Escala de Autoavaliação da Promoção da Autonomia dos Idosos (EAPAI) é uma ferramenta válida e fiável para autoavaliar a promoção da autonomia dos idosos, por parte do enfermeiro?

Metodologia Este trata-se de um estudo metodológico. A construção do instrumento foi baseada em quatro estudos previa-

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Lima, A. M. et al.

mente realizados: 1) a análise de conceito de autonomia, recorrendo a uma scoping review; 2) uma scoping review para mapear as escalas que avaliam a autonomia; 3) um estudo fenomenológico sobre o significado atribuído pelos enfermeiros especialistas ao conceito de autonomia e às suas práticas na promoção da autonomia dos idosos; e 4) um estudo Delphi para validar os itens selecionados. Destes estudos prévios resultou um instrumento com 68 itens. Assim, os três primeiros estudos mencionados serviram como base para a construção do instrumento (Lima et al., 2021) e o quarto estudo para a avaliar a validade de conteúdo do mesmo. Os itens da escala são expressos através de afirmações, as quais devem ser respondidas com recurso a uma escala de Likert com 5 possíveis respostas: não aplico (0); aplico poucas vezes (1); aplico frequentemente (2); aplico muitas vezes (3); aplico sempre (4). De acordo com a literatura, a utilização de uma escala de Likert de 5 níveis é altamente recomendada (Revilla et al., 2014). O instrumento de colheita de dados incluiu uma primeira parte, que consistia na caraterização sociodemográfica e profissional (incluindo sexo, idade, se tem especialidade e qual a especialidade, tempo de serviço como enfermeiro e tempo de serviço como enfermeiro especialista, e tipo de instituição de saúde em que trabalha), e uma segunda parte constituída pelos itens da escala. A colheita de dados realizou-se através da plataforma online Google Forms® durante os meses de setembro e outubro de 2020. As propriedades psicométricas da escala foram avaliadas com recurso a amostra de 360 enfermeiros. A técnica de amostragem utilizada foi não probabilística em bola de neve, tendo sido enviado via e-mail o link para o preenchimento do questionário a enfermeiros das listas de contactos dos investigadores, solicitando-se a esses enfermeiros a partilha com outros enfermeiros com as mesmas caraterísticas profissionais. Os critérios de inclusão foram: 1) ser enfermeiro; 2) trabalhar com idosos; e 3) trabalhar na comunidade ou trabalhar em instituições de internamento. O tamanho da amostra foi calculado de acordo com as recomendações de vários autores, os quais recomendam uma amostra de 5 a 20 participantes por cada item do questionário (Streiner et al., 2015). No âmbito da aplicação dos instrumentos de colheita de dados foram respeitados todos os procedimentos éticos, através da assinatura do Termo de Consentimento Informado Livre e Esclarecido, assim como a avaliação e obtenção da aprovação para a realização do estudo pela Comissão de Ética da Unidade Local de Saúde do Alto Minho e do Centro Hospitalar e Universitário de São João (pareceres n.º 11/18 e n.º 324/17, respetivamente) antes da colheita de dados. Todos os participantes foram informados do estudo e dos seus objetivos, bem como do facto de que todos os dados fornecidos seriam tratados anonimamente, garantindo-se assim a confidencialidade e o anonimato. Os participantes só podiam iniciar a resposta ao questionário depois de confirmarem a leitura e compreensão do consentimento informado, aceitando participar no estudo. A análise dos dados foi realizada com recurso ao IBM

SPSS® versão 26, que permitiu caraterizar a amostra e avaliar a validade e fiabilidade da escala. A caraterização da amostra foi efetuada com recurso a frequências absolutas e relativas (variáveis qualitativas), e média e desvio-padrão ou mediana e amplitude interquartis (variáveis quantitativas). A descrição dos itens do instrumento foi efetuada com recurso a frequências absolutas e relativas. A descrição dos fatores foi realizada com recurso à média e desvio-padrão. Na análise fatorial exploratória (AFE) do instrumento considerou-se a medida Kaiser Meyer Olkin (KMO) e o teste de esfericidade de Bartlett. O teste KMO é considerado excelente se KMO > 0,90 e o teste de Bartlett é considerado apropriado quando o valor de Qui-Quadrado (X2) é alto e o valor de p é inferior a 0,05 (Cunha et al., 2016). Para comparar as correlações simples e a análise de componentes principais optou-se pela rotação ortogonal varimax. A decisão para o número de fatores a serem retidos foi baseada em três aspetos: scree plot, valores próprios (eigenvalues) e percentagem de variância explicada, com base na regra de Kaiser. Realizou-se uma análise fatorial livre, em que cada um dos itens foi considerado relevante caso a sua carga fatorial fosse superior a 0,500. Cada item foi alocado aos fatores onde apresentava maior carga fatorial. A avaliação da consistência interna da escala no seu global e das dimensões que emergiram da AFE, foi realizada através da análise do alfa de Cronbach. A cotação de cada fator foi efetuada através da média do score dos itens que, respetivamente, o compõe. A descrição dos fatores foi realizada com recurso à média e desvio-padrão.

Resultados A amostra foi composta por 360 participantes, a maioria do sexo feminino (86,4%), com uma média de idades de 37,4 anos (DP = 8,7). A maioria dos participantes eram enfermeiros de cuidados gerais (57,2%), sendo 42,8% enfermeiros especialistas. Destes últimos, 47,7% eram enfermeiros especialistas em Enfermagem de Reabilitação. Em média, o grupo de participantes trabalhava há 13,0 anos (mediana de 12,0 anos), sendo que o grupo de especialistas exercia funções nesta categoria, em média, há 6,0 anos (mediana de 8,0 anos), e a maioria dos participantes (77,0%) trabalhava em instituições de internamento e 22,8% trabalhavam na comunidade. No presente estudo verificou-se que as respostas dos participantes variaram entre todos os pontos da escala (ou seja, de 0 a 4), demonstrando que a estrutura da escala é apropriada para avaliar o constructo em análise, conforme se pode constatar na Tabela 1.

Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e21003 DOI: 10.12707/RV21003

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Lima, A. M. et al.

Tabela 1 Estatística descritiva dos itens da escala (n = 360) 0*

Itens da Escala

1**

2***

3**** %

4***** n %

n

%

n

%

n

%

n

Q1 - Capacidade para ir às compras Q2 - Capacidade para gerir o dinheiro Q3 - Capacidade para utilizar o telefone Q4 - Capacidade para cozinhar

108 94 31 104

30,0 26,1 8,6 28,9

102 115 69 78

28,3 31,9 19,2 21,7

70 72 128 87

19,4 20,0 35,6 24,2

48 44 81 48

13,3 12,2 22,5 13,3

32 35 51 43

8,9 9,7 14,2 11,9

Q5 - Capacidade para utilizar os transportes

102

28,3

104

28,9

67

18,6

50

13,9

37

10,3

Q6 - Capacidade para atividades de lazer Q7 - Capacidade para se alimentar Q8 - Capacidade para cuidar da higiene pessoal Q9 - Capacidade para usar o sanitário Q10 - Capacidade para se erguer Q11 - Capacidade para se transferir Q12 - Capacidade para se virar Q13 - Capacidade para andar Q14 - Capacidade de decisão sobre acontecimentos concretos Q15 - Capacidade de entender as questões que lhe são colocadas

45 5 4 5 3 3 4 4 23 3

12,5 1,4 1,1 1,4 0,8 0,8 1,1 1,1 6,4 0,8

91 10 10 11 14 11 12 12 80 21

25,3 2,8 2,8 3,1 3,9 3,1 3,3 3,3 22,2 5,8

103 80 84 82 80 80 82 83 99 100

28,6 22,2 23,3 22,8 22,2 22,2 22,8 23,1 27,5 27,8

59 55 58 57 62 62 56 53 91 86

16,4 15,3 16,1 15,8 17,2 17,2 15,6 14,7 25,3 23,9

62 210 204 205 201 204 206 208 67 150

17,2 58,3 56,7 56,9 55,8 56,7 57,2 57,8 18,6 41,7

Q16 - Capacidade para responder de acordo com as questões que lhe são colocadas

4

1,1

17

4,7

95

26,4

82

22,8

162

45,0

7

1,9

18

5,0

97

26,9

102

28,3

136

37,8

13

3,6

34

9,4

102

28,3

114

31,7

97

26,9

14 19 20

3,9 5,3 5,6

66 69 93

18,3 19,2 25,8

125 124 113

34,7 34,4 31,4

91 88 76

25,3 24,4 21,1

64 60 58

17,8 16,7 16,1

7

1,9

47

13,1

111

30,8

88

24,4

107

29,7

11

3,1

61

16,9

107

29,7

88

24,4

93

25,8

18 17

5,0 4,7

76 81

21,1 22,5

101 101

28,1 28,1

92 92

25,6 25,6

73 69

20,3 19,2

1 1 1 1 1 1 1 144 139 38 159 162 167 71 6

0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 40,0 38,6 10,6 44,2 45 46,4 19,7 1,7

3 4 7 4 4 18 8 84 92 70 73 83 82 70 16

0,8 1,1 1,9 1,1 1,1 5,0 2,2 23,3 25,6 19,4 20,3 23,1 22,8 19,4 4,4

60 59 68 75 58 78 70 53 60 102 62 55 47 91 69

16,7 16,4 18,9 20,8 16,1 21,7 19,4 14,7 16,7 28,3 17,2 15,3 13,1 25,3 19,2

67 63 63 109 80 128 91 49 44 86 41 36 41 65 95

18,6 17,5 17,5 30,3 22,2 35,6 25,3 13,6 12,2 23,9 11,4 10,0 11,4 18,1 26,4

229 233 221 171 217 135 190 30 25 64 25 24 23 63 174

63,6 64,7 61,4 47,5 60,3 37,5 52,8 8,3 6,9 17,8 6,9 6,7 6,4 17,5 48,3

4

1,1

13

3,6

75

20,8

95

26,4

173

48,1

8 5 5

2,2 1,4 1,4

12 13 12

3,3 3,6 3,3

70 71 72

19,4 19,7 20,0

96 97 97

26,7 26,9 26,9

174 174 174

48,3 48,3 48,3

Na minha prática profissional, avalio se o idoso demonstra:

Q17 - Capacidade para reter as informações fornecidas Q18 – Conhecimentos sobre as intervenções que promovem a autonomia Q19 - Capacidade para estabelecer relações interpessoais Q20 - Manifesta volição para a interação com outros Q21 - Manifesta que outros respeitam as suas decisões Q22 - Capacidade de manifestar as suas emoções (reação verbal e não verbal, alegria, choro, raiva, tristeza) Q23 - Capacidade de responder com emoções adequadas às situações Q24 - Perceção de compreensão das suas emoções pelos outros Q25 - Capacidade para compreender as emoções dos outros Na minha prática profissional, para a promoção da autonomia do idoso: Q26 - Estabeleço uma relação empática com o idoso Q27 - Respeito a privacidade do idoso Q28 - Respeito as crenças e rituais religiosos do idoso Q29 - Respeito a vontade e as escolhas do idoso Q30 - Explico os procedimentos ao idoso Q31 - Dou tempo ao idoso para ele realizar as atividades Q32 - Incentivo a independência do idoso Q33 - Capacito o idoso para ir às compras Q34 - Capacito o idoso para gerir o dinheiro Q35 - Capacito o idoso para utilizar o telefone Q36 - Capacito o idoso para limpar a casa Q37 - Capacito o idoso para cozinhar Q38 - Capacito o idoso para utilizar os transportes Q39 - Capacito o idoso para atividades de lazer Q40 - Capacito o idoso para o autocuidado alimentar-se Q41 - Capacito o idoso para o autocuidado cuidar da higiene pessoal Q42 - Capacito o idoso para o autocuidado usar o sanitário Q43 - Capacito o idoso para o autocuidado elevar-se Q44 - Capacito o idoso para o autocuidado transferir-se

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Lima, A. M. et al. Q45 - Capacito o idoso para o autocuidado virar-se Q46 - Capacito o idoso para andar Q47 - Capacito o idoso para o processo de tomada de decisão Q48 - Capacito o idoso tendo em conta a cognição Q49 - Capacito o idoso para socializar Q50 - Capacito o idoso para a expressão de emoções Q51 - Promovo a autoestima do idoso Q52 - Executo mobilizações (ativas, ativas-assistidas, passivas) ao idoso Q53 - Executo exercícios de treino de equilíbrio ao idoso Q54 - Executo exercícios de treino cognitivo (jogos de memória) ao idoso Q55 - Ensino/instruo o idoso sobre exercícios de mobilização (ativa, ativa-assistida) Q56 - Treino exercícios de mobilização (ativa, ativa-assistida) com o idoso Q57 - Ensino/instruo o idoso sobre exercícios de treino de equilíbrio Q58 - Treino o idoso em exercícios de treino de equilíbrio Q59 - Ensino/instruo o idoso sobre exercícios de treino cognitivo Q60 - Treino o idoso em exercícios de treino cognitivo Q61 - Ensino o cuidador sobre autocuidados do idoso Q62 - Ensino o cuidador sobre atividades instrumentais de vida diárias do idoso Q63 - Ensino o cuidador sobre promoção de estilos de vida saudáveis do idoso Q64 - Ensino o cuidador sobre medidas preventivas do idoso Q65 - Ensino o cuidador sobre gestão da terapêutica do idoso Q66 - Ensino o cuidador sobre gestão da atividade física do idoso Q67 - Ensino o cuidador sobre promoção da autonomia do idoso Q68 - Ensino o cuidador sobre promoção da independência do idoso

5 4 4 3 13 7 6

1,4 1,1 1,1 0,8 3,6 1,9 1,7

11 16 34 19 48 40 29

3,1 4,4 9,4 5,3 13,3 11,1 8,1

73 76 103 101 89 103 83

20,3 21,1 28,6 28,1 24,7 28,6 23,1

96 95 102 100 91 91 100

26,7 26,4 28,3 27,8 25,3 25,3 27,8

175 169 117 137 119 119 142

48,6 46,9 32,5 38,1 33,1 33,1 39,4

20

5,6

52

14,4

77

21,4

86

23,9

125

34,7

32

8,9

67

18,6

79

21,9

96

26,7

86

23,9

71

19,7

73

20,3

89

24,7

78

21,7

49

13,6

23

6,4

77

21,4

86

23,9

91

25,3

83

23,1

40

11,1

82

22,8

76

21,1

79

21,9

83

23,1

47

13,1

77

21,4

71

19,7

89

24,7

76

21,1

50

13,9

83

23,1

69

19,2

83

23,1

75

20,8

55

15,3

82

22,8

89

24,7

77

21,4

57

15,8

58 18

16,1 5,0

89 51

24,7 14,2

84 84

23,3 23,3

76 97

21,1 26,9

53 110

14,7 30,6

32

8,9

62

17,2

78

21,7

87

24,2

101

28,1

17

4,7

56

15,6

88

24,4

89

24,7

110

30,6

19 18 27 18

5,3 5,0 7,5 5,0

51 47 64 51

14,2 13,1 17,8 14,2

83 75 84 78

23,1 20,8 23,3 21,7

95 94 85 93

26,4 26,1 23,6 25,8

112 126 100 120

31,1 35 27,8 33,3

18

5,0

54

15,0

75

20,8

92

25,6

121

33,6

Nota. *0 – Não aplico; **1 – Aplico poucas vezes; ***2 – Aplico frequentemente; ****3 – Aplico muitas vezes; *****4 – Aplico sempre.

Após o estudo individual dos itens da EAPAI, procedemos de seguida a uma análise da estrutura latente, recorrendo à AFE, com o intuito de identificar fatores subjacentes a essa avaliação. Esses fatores permitem a compreensão dos conceitos e a relação entre eles, assim como as motivações que se encontram por detrás do padrão encontrado nas respostas. Assim, é possível mensurar a validade do instrumento para o objetivo que se pretende com a sua aplicação. Inicialmente, foram observadas as correlações entre o grau de concordância dos vários itens, constatando-se a existência de muitas correlações moderadas e um número considerável de correlações elevadas. O valor de KMO foi de 0,96, considerado aceitável para a realização da AFE, assim como o nível de significância do teste de esfericidade de Bartlett [X2(gl)=39877,350(2278); p<0,001]. Segundo os valores obtidos na matriz de corre-

lações anti-imagem e na matriz de comunalidades, quer os valores de Measure of Sample Adequacy (MSA), quer os valores da variabilidade explicada do item quando agrupado por fator, não indicam a necessidade de exclusão (superior a 0,500). A AFE foi realizada com extração de fatores pelo método de componentes principais, na qual se obteve uma solução de seis fatores (decisão baseada no scree plot, nos valores próprios [eigenvalues] e na percentagem da variância explicada) que envolviam 68 itens da escala, explicando 78,6% da variância total. Assim, identifica-se igualmente a percentagem de variância de cada item explicada conjuntamente pelos seis fatores extraídos. Na respetiva análise fatorial não foi excluído nenhum item, já que todos apresentaram um valor igual ou superior a 0,500 nos fatores aos quais foram alocados, tal como se pode constatar de Tabela 2.

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Lima, A. M. et al.

Tabela 2 Análise fatorial Itens

Fator 1

2

3

4

5

6

Itens

Fator 1

2

3

Q1

0,796

Q35

0,521

Q2

0,784

Q36

0,813

Q3

0,584

Q37

0,839

Q4

0,751

Q37

0,832

Q5

0,761

Q39

0,578

Q6

0,589

Q40

0,672

Q7

0,854

Q41

0,678

Q8

0,879

Q42

0,665

Q9

0,872

Q43

0,705

Q10

0,867

Q44

0,699

Q11

0,879

Q45

0,709

Q12

0,879

Q46

0,683

Q13

0,857

Q47

0,565

Q14

0,598

Q48

0,579

Q15

0,570

Q49

0,457

Q16

0,589

Q50

0,515

Q17

0,602

Q51

0,545

Q18

0,602

Q52

0,678

Q19

0,744

Q53

0,790

Q20

0,713

Q54

0,686

Q21

0,783

Q55

0,807

Q22

0,790

Q56

0,852

Q23

0,781

Q57

0,825

Q24

0,812

Q58

0,845

Q25

0,809

Q59

0,735 0,773

4

5

6

Q26

0,687

Q60

Q27

0,736

Q61

0,773

Q28

0,702

Q62

0,735

Q29

0,672

Q63

0,772

Q30

0,710

Q64

0,810

Q31

0,686

Q65

0,831

Q32

0,687

Q66

0,760

Q33

0,820

Q67

0,794

Q34

0,816

Q68

0,796

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No que se refere à estrutura fatorial obtida, cabe destacar que o fator 1 explicou 48,8% da variância, sendo composto por 19 itens (Q26-Q32 e Q40-Q51). Uma vez que os itens estão associados a intervenções de enfermagem que capacitam o idoso para a gestão emocional, para a integração social e para o autocuidado, atribuiu-se a este a designação de “Desenvolvimento de intervenções emocionais, sociais e de autocuidado”. O fator 2 explicou 10,6% da variância e nele estão incluídos nove itens (Q52-Q60). Pelo facto de estes itens se direcionarem para intervenções de enfermagem que capacitam o idoso no que concerne ao desenvolvimento das capacidades físicas e cognitivas, este fator foi denominado de “Desenvolvimento de intervenções físicas e cognitivas”. O fator 3 explicou 7,1% da variância e dele constam 13 itens (Q1-Q6 e Q33-Q39). Estes itens estão associados a intervenções de enfermagem que capacitam a pessoa idosa para o desempenho das atividades de vida, pelo que se atribuiu a designação de “Desenvolvimento de intervenções de atividades instrumentais de vida diária”. Já o fator 4 foi composto por 12 itens (Q14-Q25) e explicou 4,9% da variância. Os 12 itens dizem respeito a intervenções de enfermagem realizadas no âmbito da avaliação para as atividades básicas de vida diárias, também definidas por autocuidado, pelo que lhe foi atribuída a

designação de “Desenvolvimento de intervenções avaliativas na área do autocuidado”. Quanto ao fator 5, este explicou 4,0% da variância, sendo composto por sete itens (Q7-Q13). Os itens identificados para este fator dizem respeito a intervenções de enfermagem implementadas com o objetivo de avaliar a componente emocional, cognitiva e social, sendo assim intitulado de “Desenvolvimento de intervenções avaliativas nas áreas emocionais, cognitivas e sociais”. Por fim o fator 6, constituído por oito itens (Q61-Q68), explicou 3,6% da variância. Estes oito itens dizem respeito a intervenções de enfermagem que objetivam a “Capacitação do cuidador”, pelo que se optou por essa definição para este fator. Por fim, procedeu-se à avaliação da fiabilidade e da validade da escala. Os valores do coeficiente Alfa de Cronbach e da fiabilidade encontram-se na Tabela 3. O valor de Alfa para a totalidade da escala foi de 0,98. Todos os fatores apresentaram uma fiabilidade alta, oscilando entre 0,955 e 0,990 para os diferentes fatores. A diferença do Alfa de Cronbach com a eliminação de um item em cada fator é pouco significativa, indicando que todos os itens são adequados, sendo também satisfatórios os valores de correlação item-total para todos os fatores. Portanto, não se verificou a necessidade de eliminar qualquer item.

Tabela 3 Coeficientes de consistência interna Fatores

Itens da escala

Alfa de Cronbach

Alfa de Cronbach se um item é eliminado

Correlação item-total

Fator 1

19 itens (Q26-Q32 e Q40-Q51)

0,975

0,974

0,731

Fator 2

9 itens (Q52-Q60)

0,975

0,977

0,779

Fator 3

13 itens (Q1-Q6 e Q33-Q39)

0,955

0,954

0,660

Fator 4

12 itens (Q14-Q25)

0,957

0,956

0,723

Fator 5

7 itens (Q7-Q13)

0,990

0,989

0,944

Fator 6

8 itens (Q61-Q68)

0,983

0,981

0,902

TOTAL

68 itens (Q1-Q68)

0,983

-

-

Discussão O presente estudo teve como objetivo validar a EAPAI. A utilização de instrumentos de autopreenchimento, realizada pelos enfermeiros, permite o desenvolvimento do pensamento compreensivo, reflexivo, crítico e criativo (Cotta & Costa, 2016). A EAPAI apresenta bons indicadores de validade e fiabilidade, tal como se pode constatar pelos resultados. Foi possível verificar que os itens da escala eram passíveis de análise fatorial, pelo valor obtido de KMO (0,96), permitindo afirmar que a fatorabilidade da matriz de correlações é boa (Gärtner et al., 2018). As escalas devem ser fiáveis e válidas, caso contrário pode correr-se o risco de, através das investigações realizadas, assumir dados imprecisos e tendenciosos (Mokkink et al., 2010). Com o desenvolvimento deste estudo contribuiu-se, assim, para a validação de um instrumento que poderá

contribuir para a melhoria dos cuidados de enfermagem prestados no âmbito da autonomia. Este instrumento permite aos enfermeiros refletir sobre as suas práticas. A análise fatorial, com extração de fatores usando o método de componentes principais, recorrendo à regra de Kaiser e no scree plot, permitiu explicar 78,6% de variância total, valor considerado muito bom, tal como outros autores salientam (Cunha et al., 2016). Essa análise envolveu um número de fatores teoricamente aceitável, constituindo a melhor solução relativamente à interpretação e significado das dimensões. Os itens reunidos pela AFE, em cada fator, apresentavam todos eles cargas fatoriais superiores a 0,5. A fiabilidade é considerada um dos mais importantes critérios que garantem a qualidade do instrumento, tendo em conta o objetivo para o qual o mesmo foi construído, pelo que a sua aplicabilidade durante a validação, e mesmo na aplicação, não deve ser descurada. Os parâmetros do

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coeficiente de fiabilidade variam de acordo com os seguintes valores: valores inferiores a 0,40 são considerados de baixa fiabilidade; valores entre 0,40 e 0,69, de moderada fiabilidade; e valores superiores a 0,70 são considerados de alta fiabilidade (Cunha et al., 2016). No presente estudo os valores de fiabilidade da escala validada revelaram-se altos, mesmo com a eliminação de itens, indicando que todos os itens são adequados. Apesar de o coeficiente de Alfa de Cronbach ser o teste mais utilizado para a avaliação da consistência interna, ainda não existem consensos quanto à sua interpretação, recomendando-se que o Alfa de Cronbach se encontre acima de 0,70 (Echevarría-Guanilo et al., 2017; Gärtner et al., 2018), sendo que outros autores defendem que valores próximos a 1,00 são considerados os ideais (Mokkink et al., 2010; Souza et al., 2017). Em questionários longos, como a EAPAI, o Alfa de Cronbach assume algumas vezes valores mais altos, provavelmente porque cada fator apresenta muitos itens, pelo que se considerou a correlação item-total. Por esta apresentar valores superiores a 0,650, considerou-se satisfatória (Souza et al., 2017). Da AFE com rotação varimax, os 68 itens foram agrupados em 6 fatores, sendo estes denominados: “Desenvolvimento de intervenções emocionais, sociais e de autocuidado”; “Desenvolvimento de intervenções físicas e cognitivas”; “Desenvolvimento de intervenções de atividades instrumentais de vida diária”; “Desenvolvimento de intervenções avaliativas na área do autocuidado”; “Desenvolvimento de intervenções avaliativas nas áreas emocionais, cognitivas e sociais” e “Capacitação do cuidador”. Portanto, este trata-se de um instrumento de avaliação multidimensional. A designação de cada um dos fatores considerou os itens abrangidos e o constructo de autonomia, baseado nos estudos realizados previamente. Estes fatores permitem, no seu todo, dar resposta às necessidades dos idosos no que concerne à promoção da autonomia e a todos os aspetos que este conceito encerra. Perante o exposto, os enfermeiros necessitam de dar respostas às necessidades neste âmbito através de ações avaliativas e de capacitação física (Cruz et al., 2017), cognitiva, de gestão emocional (Passos et al., 2014), e de integração social (Lima et al., 2021). Tratando-se de um instrumento que permite a autoavaliação, por parte do enfermeiro, da promoção da autonomia da pessoa idosa, este parece contribuir para uma maior consciencialização do mesmo relativamente às atividades realizadas neste domínio. Assim, caso o enfermeiro realize poucas atividades de promoção da autonomia do idoso, o reduzido score que este irá obter em decurso da aplicação do instrumento poderá alertá-lo para a necessidade de incrementar a sua atuação neste âmbito, servindo assim este, em certa medida, como um instrumento de autorregulação. Relativamente às limitações do presente estudo, desde logo recorreu-se a uma técnica de amostragem em bola de neve, o que limitou em parte a generalização dos resultados. Adicionalmente, parece relevante a realização de estudos em amostras aleatórias procedentes de outras populações de enfermeiros.

Conclusão A validação da EAPAI integrou um conjunto de itens que permitem avaliar, monitorizar e comparar o desempenho dos enfermeiros no que concerne à promoção da autonomia dos idosos na prática clínica. Esta escala, devido à multidimensionalidade do conceito de autonomia, é composta por 68 itens. No entanto, a sua aplicação é fácil e apresenta boas propriedades concetuais. Esta trata-se de uma ferramenta com uma boa fiabilidade e validade. O instrumento é composto por seis fatores (desenvolvimento de intervenções emocionais, sociais e de autocuidado; desenvolvimento de intervenções físicas e cognitivas; desenvolvimento de intervenções de atividades instrumentais de vida diária; desenvolvimento de intervenções avaliativas na área do autocuidado; desenvolvimento de intervenções avaliativas nas áreas emocionais, cognitivas e sociais e capacitação do cuidador), os quais permitem, por via de um instrumento multidimensional, autoavaliar a promoção da autonomia dos idosos, na sua totalidade. Os instrumentos de medida, no seu todo, desempenham um importante papel na investigação, na prática de cuidados e na avaliação dos ganhos em saúde. No que concerne às escalas de autoavaliação, estas permitem não só implementar medidas retificativas das práticas, mas também alertar para a necessidade da melhoria das condições de trabalho, para a formação contínua, e muito especialmente para a formação em serviço. Até então não existia qualquer instrumento que permitisse ao enfermeiro autoavaliar as suas práticas relativamente à promoção da autonomia dos idosos. Este estudo contribuiu para o desenvolvimento das práticas de enfermagem mais sustentadas no que à promoção da autonomia do idoso diz respeito. A aplicação do instrumento pretende ainda sensibilizar os profissionais para a necessidade de observar a autonomia como um conceito multidimensional e, assim, enriquecer o corpo do conhecimento da disciplina de enfermagem. Contribuição de autores Conceptualização: Lima, A. M., Martins, M. M. Tratamento de dados: Lima, A. M., Martins, M. M., Sampaio, F., Parola, V. S. Análise formal: Lima, A. M., Martins, M. M., Sampaio, F., Neves, H. Investigação: Lima, A. M., Martins, M. M., Parola, V. S. Supervisão: Martins, A. M., Ferreira, M. S., Schoeller, S. D. Validação: Lima, A. M., Martins, M. M., Ferreira, M. S., Schoeller, S. D., Sampaio, F., Neves, H., Parola, V. Redação – rascunho original: Lima, A. M., Martins, M. M. Redação – revisão e edição: Lima, A. M., Martins, M. M., Ferreira, M. S., Schoeller, S. D., Sampaio, F., Neves, H., Parola, V. Referências bibliográficas Almeida, C., Silva, C., Rosado, D., Miranda, D., Oliveira, D., Mata, F., Maltez, H., Luís, H., Filipe, J., Moutão, J., Laranjeira, J., Cid,

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA (ORIGINAL)

Os registos de enfermagem nas revistas portuguesas (1958-1998): Um estudo bibliométrico Nursing records in Portuguese journals (1958-1998): A bibliometric study Los registros de enfermería en las revistas portuguesas (1958-1998): Un estudio bibliométrico

Maria Helena Almeida Sousa 1 https://orcid.org/0000-0002-3640-7553 Amélia Simões Figueiredo 2, 3 https://orcid.org/0000-0003-2908-4052

Hospital das Forças Armadas, Lisboa, Portugal

1

Universidade Católica Portuguesa, Instituto de Ciências da Saúde, Lisboa, Portugal

2

Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde (CIIS), Lisboa, Portugal

3

Resumo Contexto: As alterações verificadas na documentação em enfermagem suscitaram a realização de um estudo histórico sobre a evolução dos registos de enfermagem, entre 1958, com a criação do Ministério da Saúde e Assistência e 1998, ano da criação da Ordem dos Enfermeiros. Neste sentido, tornou-se pertinente fazer a análise das publicações sobre registos de enfermagem, nas revistas portuguesas, no período em estudo. Objetivo: Identificar e analisar a produção científica sobre registos de enfermagem publicada nas revistas portuguesas de enfermagem, entre 1958 e 1998. Metodologia: Efetuou-se um estudo bibliométrico com a consulta de 504 revistas portuguesas de enfermagem publicadas entre 1958 e 1998, aplicando descritores e critérios de inclusão. Resultados: Obteve-se uma amostra final de 22 artigos relacionados com vários aspetos dos registos de enfermagem. Conclusão: Os registos de enfermagem foram assunto de publicação nas revistas portuguesas a partir de 1984. O número de publicações aumentou à medida que surgiram alterações na profissão de enfermagem. Os registos de enfermagem acompanharam a reconfiguração profissional e são determinantes para a autonomia da profissão. Palavras-chave: registos; registos de enfermagem; publicações periódicas; documentação; processo de enfermagem Abstract Background: The changes observed in nursing documentation prompted a historical study on the evolution of nursing records between 1958, when the Ministry of Health and Assistance was created, and 1998, when the Ordem dos Enfermeiros (Portuguese Nursing and Midwifery Regulator) was established. Thus, the analysis of publications on nursing records in Portuguese journals during this period was considered relevant. Objective: To identify and analyze the scientific production on nursing records published in Portuguese nursing journals between 1958 and 1998. Methodology: A bibliometric study was conducted by consulting 504 Portuguese nursing journals published between 1958 and 1998, using descriptors and inclusion criteria. Results: A final sample of 22 articles related to different aspects of nursing records was obtained. Conclusion: Nursing records have been a publication subject in Portuguese journals since 1984. The number of publications increased as changes occurred in the nursing profession. Nursing records have accompanied the nursing career’s professional reconfiguration and are essential for the profession’s autonomy. Keywords: records; nursing records; periodicals; documentation; nursing process

Autor de correspondência Maria Helena Almeida Sousa E-mail: h.almeidasousa@sapo.pt

Recebido: 30.10.20 Aceite: 23.06.21

Resumen Contexto: Los cambios en la documentación en enfermería motivaron un estudio histórico sobre la evolución de los registros de enfermería entre 1958, con la creación del Ministerio de Sanidad y Asistencia, y 1998, año en que se creó el Colegio de Enfermería. En este sentido, se consideró importante analizar las publicaciones sobre los registros de enfermería en las revistas portuguesas durante el período de estudio. Objetivo: Identificar y analizar la producción científica sobre registros de enfermería publicada en revistas de enfermería portuguesas entre 1958 y 1998. Metodología: Se realizó un estudio bibliométrico en el que se consultaron 504 revistas de enfermería portuguesas publicadas entre 1958 y 1998, para lo cual se aplicaron descriptores y criterios de inclusión. Resultados: Se obtuvo una muestra final de 22 artículos relacionados con diversos aspectos de los registros de enfermería. Conclusión: Los registros de enfermería fueron objeto de publicación en revistas portuguesas a partir de 1984. El número de publicaciones aumentó a medida que surgieron cambios en la profesión de enfermería. Los registros de enfermería han acompañado la reconfiguración profesional y son esenciales para la autonomía de la profesión. Palabras clave: registros; registros de enfermería; publicaciones periódicas; documentación; proceso de enfermería

Como citar este artigo: Sousa, M. H., & Figueiredo, A. S. (2021). Os registos de enfermagem nas revistas portuguesas (1958-1998): Um estudo bibliométrico. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20173. https:// doi.org/10.12707/RV20173

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pp. 1 - 6


Sousa, M. H. & Figueiredo, A. S.

Introdução Os registos de enfermagem têm sido tema de reflexão pelo seu papel determinante no desempenho profissional dos enfermeiros. Considerados como uma atividade autónoma dos enfermeiros, os registos de enfermagem são “narrações de eventos relevantes, escritos por enfermeiros em modelos próprios e resultantes da prestação de cuidados de enfermagem” (Silva, 1995, p. 17). As notas de enfermagem são uma parte dos registos de enfermagem e utilizam uma linguagem de texto livre e manuscrito narrando os factos verificados em relação à prestação de cuidados (Silva, 1995). Documentar os cuidados de enfermagem permite promover a sua continuidade, produzir documentação sobre os cuidados, possibilita a sua avaliação, facilita a investigação e otimiza a gestão dos mesmos. É o meio através do qual se pode mostrar a visibilidade do exercício profissional para fora do grupo profissional, produzindo indicadores a partir da informação documentada (Silva, 2006). É Florence Nightingale que nos meados do séc. XIX, início da enfermagem moderna, atribui grande importância aos registos de enfermagem e os considera fundamentais na prestação de cuidados. Reportava a necessidade de se fazerem registos claros e precisos em relação ao aquecimento e ventilação, iluminação, condições sanitárias e higiene, ruído e seleção e administração da dieta adequada. Os dados recolhidos tinham a finalidade de gerir da melhor forma a prestação de cuidados nas áreas deficitárias encontradas (Nightingale, 1860). Nos anos 60, com a teoria holística, o enfermeiro regista todos os passos do seu raciocínio de enfermagem: avaliação inicial, identificação de problemas, determinação dos resultados esperados, planeamento das prescrições de enfermagem, execução dos cuidados e avaliação da eficácia/eficiência dos cuidados prestados (Silva, 1995). Durante esta época, a documentação de enfermagem não era arquivada com o processo do doente e simplesmente eliminada após a sua alta. É na década de 70 que a documentação em enfermagem se torna essencial refletindo as mudanças na profissão de enfermagem. Assim, na década de 70 os registos de enfermagem eram efetuados de uma forma exaustiva, nos anos 80 eram pouco relacionados com as ações de enfermagem e nos anos 90 passaram a estar relacionados com o cliente (Dias et al., 2001). O aparecimento do processo de enfermagem nos anos 50, nos EUA, impôs-se como parte integrante dos cuidados de enfermagem e aplica uma metodologia sistemática do raciocínio em enfermagem (Silva, 1995). Os registos de enfermagem são elementares para documentar todas as fases do processo de enfermagem e a utilização de uma linguagem padronizada é fundamental para a sua aplicação. A sua correta implementação permite ao enfermeiro uma melhor gestão no processo de cuidado e evita a duplicação de registos (Silva et al., 2019). Os enfermeiros tiveram a necessidade de criar uma linguagem comum que permitisse organizar, uniformizar, quantificar e promover a eficácia das suas práticas. Os

sistemas tradicionais em suporte de papel deram origem aos Sistema de Informação em Enfermagem (SIE), acompanhando as novas tecnologias de informação permitindo a gestão de toda a informação produzida (Cunha et al., 2019). O contributo da investigação em enfermagem nesta área facilitou a transição do modelo tradicional de registos de enfermagem para modelos SIE com base em novas estruturas e incorporando uma linguagem padronizada. As organizações de saúde têm acompanhado os novos padrões de exigência para responder aos atuais desafios, criando novos sistemas de informação. Os SIE são uma realidade nas instituições de saúde pelo que se tornou pertinente realizar um estudo histórico com o objetivo de conhecer o percurso dos registos efetuados pelos enfermeiros em contexto hospitalar, antes da criação dos SIE. Este estudo situa-se entre 1958, data da criação do Ministério da Saúde e Assistência e 1998, aquando da fundação da Ordem dos Enfermeiros. É a partir da criação do Ministério da Saúde e Assistência que surge o interesse pelos problemas dos enfermeiros em relação à sua formação e exercício profissional, levando à revisão do ensino, criação e alargamento das escolas de enfermagem e à estruturação das carreiras de enfermagem. A criação da Ordem dos Enfermeiros foi fundamental para a profissão de enfermagem permitindo a sua autorregulação. Todo o conhecimento tem a sua dimensão histórica e quanto mais sistemática for a pesquisa, mais segura e coerente será a sua interpretação. No sentido de alargar esta pesquisa, tornou-se pertinente fazer a análise das publicações sobre registos de enfermagem, nas revistas portuguesas, no período temporal selecionado. O recurso às publicações periódicas baseia-se no facto de a produção da escrita profissional da enfermagem e a sua publicação regular em revistas técnicas contribuir para a divulgação e desenvolvimento do conhecimento técnico e científico (Machado, 2014). Considerando as revistas portuguesas de enfermagem como um meio de divulgação do conhecimento, na época em estudo, a análise das publicações sobre registos de enfermagem permite identificar os aspetos retratados e analisar o conhecimento transmitido. Neste estudo não foram incluídas as publicações em jornais, sebentas e livros. Em Portugal, durante as décadas de 50, 60 e 70, a escrita profissional de enfermagem era baseada na tradução de livros e artigos estrangeiros publicados nas revistas de enfermagem e noutras revistas técnicas, permitindo a divulgação do conhecimento técnico e científico que se verificava a nível internacional. Este aspeto contribuiu para o desenvolvimento da produção da escrita profissional de enfermagem e a publicação regular das revistas técnicas e profissionais adquiriu mais força e expressão. É a partir da década de 90 que este facto se torna mais notório pelas ações que contribuíram para o desenvolvimento e crescimento profissional (Machado, 2014). Neste contexto, levantou-se a seguinte questão de investigação: o que se publicou sobre registos de enfermagem, nas revistas portuguesas de enfermagem entre 1958 e 1998? Para responder à questão de investigação, estabeleceram-se como objetivos: identificar as revistas portuguesas de

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Sousa, M. H. & Figueiredo, A. S.

enfermagem existentes entre 1958 e 1998, assinalar as que publicaram conteúdos sobre os registos de enfermagem, identificar o número de publicações, a categoria dos autores, os conteúdos abordados e em que contextos foram produzidos.

Metodologia A análise bibliométrica foi a metodologia selecionada para este estudo, a qual permite mapear o conhecimento científico numa determinada área de pesquisa, evidenciando as ligações entre as principais publicações, autores, instituições, temas e outras características do campo em estudo (Oliveira et al., 2019). Como critérios de inclusão, as revistas consultadas deveriam ser publicadas entre 1958 e 1998, em Portugal, e os artigos a analisar deveriam conter o termo “registos” ou “registos de enfermagem” ou “documentação” no

seu título, ou outra designação relacionada com a documentação dos cuidados de enfermagem, como é o caso dos aspetos relacionados com a aplicação do processo de enfermagem. Os autores dos artigos poderiam ser nacionais ou estrangeiros. Com base no estudo de Machado sobre a divulgação do conhecimento em periódicos de enfermagem no séc. XX e início do séc. XXI, fez-se um levantamento das revistas portuguesas de enfermagem publicadas entre 1958 e 1998 (Machado, 2014). Em seguida consultou-se o catálogo bibliográfico das bibliotecas da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e da Universidade Católica Portuguesa, núcleo de enfermagem, com o objetivo de identificar as revistas disponíveis para consulta. Obteve-se uma amostra de 504 revistas para consulta de acordo com a Tabela 1. As entidades responsáveis pela publicação destas revistas são associações profissionais, organizações profissionais, escolas de enfermagem, instituições hospitalares e outras entidades editoriais.

Tabela 1 Revistas consultadas, data da publicação e entidade responsável Revista

Entidade responsável

Data da publicação

Números consultados

Servir

Associação Católica dos Profissionais de Enfermagem e Saúde

1960-1998

210

Enfermagem

Associação Portuguesa de Enfermeiros Associação de Enfermeiros da Sala de Operações Portugueses

1985-1996

27

Divulgação

Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil

1987-1996

12

Ecos de Enfermagem

Sindicato dos Enfermeiros do Norte

1988-1998

50

Nursing (edição portuguesa)

Ferreira e Bento

1988-1998

120

Enfermagem em Foco

Sindicato dos Enfermeiros Portugueses

1991-1998

34

Nephro’s

Associação Portuguesa de Enfermeiros de Diálise e Transplantação

1993-1994

4

Sinais Vitais

Formasau, Formação e Saúde Limitada

1994-1998

21

Enfermagem Oncológica

Sociedade Portuguesa de Enfermagem Oncológica

1996-1998

5

Informar

Escola Superior de Enfermagem da Imaculada Conceição

1995-1998

13

Revista Portuguesa de Enfermagem

Instituto de Formação em Enfermagem

1996

2

Pensar Enfermagem

Escola Superior de Enfermagem de Maria Fernanda Resende

1997-1998

4

Referência

Escola Superior de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca

1998

2

A consulta das revistas realizou-se presencialmente nas bibliotecas da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e da Universidade Católica Portuguesa, entre os meses de maio e junho de 2019. Em relação à revista Servir, só se encontravam disponíveis para consulta as publicações a partir de 1960, embora a sua publicação tenha sido iniciada em 1952 (Machado, 2014). Numa primeira fase foi feita a análise do índice de cada revista com a leitura dos títulos dos artigos publicados e identificados os que se inseriam nos critérios de inclusão. Seguiu-se a leitura integral dos artigos selecionados e feita a análise bibliométrica das publicações.

Resultados e discussão Inicialmente foram identificados 34 artigos e após a aplicação dos critérios de inclusão obteve-se um resultado de 22 artigos publicados entre 1958 e 1998. O primeiro artigo encontrado foi publicado pela revista Servir em 1984 e o segundo surge 3 anos mais tarde, em 1987. Entre 1989 e 1998 surgem publicações todos os anos, dispersas pelas várias revistas. Nos anos de 1997 e 1998 foram publicados o maior número de artigos, tal como apresentado na Tabela 2. A revista Servir tem um maior número de publicações (oito), seguida da revista Nursing, Enfermagem e Enfermagem em Foco, com três publicações. A revista Divul-

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Sousa, M. H. & Figueiredo, A. S.

gação, Informar, Enfermagem Oncológica, Sinais Vitais e Referência publicaram um artigo cada. Nas revistas Ecos de Enfermagem, Nephro’s, Revista de Enfermagem Portuguesa e Pensar Enfermagem não foi encontrada nenhuma publicação no âmbito dos registos de enfermagem, no período selecionado. Três dos artigos são traduções de autores estrangeiros relacionados com registos de enfermagem na triagem dos doentes, bloco operatório e aplicação do processo de enfermagem. Os restantes autores são enfermeiros portugueses com funções na área da gestão, prática clínica e ensino da enfermagem, numa dispersão nacional.

Verificou-se que a média de publicação de cada autor, nesta temática, foi de um artigo, exceto dois dos autores que surgem em duas publicações. Quatro dos artigos publicados resultam de trabalhos de investigação realizados em serviços hospitalares, no âmbito dos registos de enfermagem. Dois artigos resultaram de trabalhos realizados no âmbito do mestrado em ciências de enfermagem e um foi realizado no âmbito do curso de especialização em enfermagem médico-cirúrgica. Um dos artigos foi elaborado com o objetivo de orientar os estudantes de enfermagem na realização de registos, durante o ensino clínico. As restantes publicações são artigos de reflexão e opinião.

Tabela 2 Resultado dos artigos selecionados Título do artigo

Autores

Ano

Revista

Romano, Alfredo N.; Silva, João F.

1984

Servir

Registos

Carmo, Dulce

1987

Servir

Documentação na triagem

Blythin, Peter

1989

Nursing

Pudner, Marianne; Hutchings, Berverly

1989

Nursing

Processo de Enfermagem – o que é e como aplicá-lo

Simeão, Maria J.

1990

Servir

Os registos de enfermagem no bloco operatório

Pinheiro, Maria J.

1991

Nursing

Reflexão sobre a importância da comunicação escrita em enfermagem

Pereira, Isabel C.

1992

Servir

Rodeia, João

1993

Servir

Bruges, Maria L.; Bettencourt, Merícia; Delgado, Rosalina

1994

Servir

Ferraz, Isabel

1995

Servir

Marques, Deolinda et al.

1996

Enfermagem

Ramalhão, Maria A.

1996

Divulgação

Registos de enfermagem num serviço de urgência: uma breve reflexão sobre os mesmos

Murcho, Nuno

1997

Enfermagem em Foco

É urgente aprender a registar

Xavier, Sandra

1997

Enfermagem em Foco

Correia, Maria A.

1997

Enfermagem em Foco

Figueiredo, Ana; Figueiredo, Pedro

1997

Enfermagem Oncológica

Pinho, Fátima

1997

Informar

Os registos como instrumentos de avaliação dos benefícios da enfermagem

Registos de enfermagem no bloco operatório

Registos de enfermagem Cuidar bem, sem registar? Manifestação das intervenções de cuidar independentes e interdependentes em enfermagem Registos de enfermagem…possível influência de um modelo teórico de enfermagem na elaboração de notas de evolução Os registos na prática de enfermagem

Reflexão sobre a incompatibilidade dos registos de enfermagem e o corretor Registos de enfermagem Objetividade e subjetividade dos registos de enfermagem Processo de enfermagem informatizado Processo de enfermagem 5 – papelada sem fim Gestão dos registos com aplicação do processo de enfermagem – experiência num serviço de medicina Guia orientador sobre registos de enfermagem A importância do processo de enfermagem na comunicação

Úria, Manuel; Lopes, Sara

1997

Servir

Nancy, Roper; Logan, Win; Tierney, Alison

1998

Enfermagem

Gomes, Sérgio

1998

Enfermagem

Albuquerque, Ana; Delgado, Rosalina

1998

Referência

Caseiro, Helena; Fortunato, Zélia

1998

Sinais Vitais

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Sousa, M. H. & Figueiredo, A. S.

São vários os pontos de interesse dos autores e traduzem aspetos relevantes sobre os registos de enfermagem, no período em estudo. O conhecimento gerado nestas publicações está relacionado com a definição de registos, a sua importância e finalidade, tipologia de registos e orientações para a sua realização. Descrevem o papel dos registos na implementação do processo de enfermagem, na investigação científica, na segurança, individualização e avaliação dos cuidados de enfermagem. Referem-se também à informatização dos registos, aspetos éticos e legais e a sua contribuição para a autonomia da profissão de enfermagem. Para Rodeia (1993), Ramalhão (1996) e Pinho (1997), os registos de enfermagem são um meio de comunicação escrita que permite transmitir informação entre os elementos da equipa de saúde, constituem uma prova documental dos cuidados prestados ao cliente e são um testemunho escrito da tomada de decisão. Quanto à sua finalidade, os autores referem que os registos de enfermagem facilitam a comunicação e permitem conhecer a evolução do estado do cliente, planear os cuidados de enfermagem, garantir a sua individualização e continuidade, avaliar a eficácia das intervenções, verificar o cumprimento das prescrições médicas, proporcionar segurança através da uniformização dos cuidados, salvaguardar a responsabilidade do enfermeiro, formular dados estatísticos, contribuir para a investigação científica, formação em serviço e gestão de recursos humanos e materiais (Romano & Silva, 1984; Rodeia, 1993; Ramalhão, 1996; Albuquerque & Delgado, 1998; Gomes, 1998). Quanto à tipologia dos registos, é atribuída importância ao conhecimento dos enfermeiros sobre todos os regulamentos da instituição relativamente aos processos de registos para poderem efetuar registos de forma exata, concisa e legível (Rodeia, 1993; Ramalhão, 1996). Os registos deveriam seguir a política hospitalar criada para o efeito, fundamentada em conhecimentos sólidos e serem específicos de acordo com o contexto em que se inserem (Murcho, 1997). A inclusão dos registos de enfermagem no restante processo clínico do cliente foi uma sugestão apontada na primeira publicação encontrada, já que uma parte dos registos era inutilizada, perdendo-se um conjunto de informações indispensáveis para a avaliação dos cuidados prestados (Romano & Silva, 1984). É a partir da década de 90 que os autores destacam a importância da existência de um modelo conceptual como guia orientador para efetuar registos e a aplicação prática do processo de enfermagem. Silva (2006) refere que foi no início desta década que se inicia a reflexão sobre a utilização do pensamento crítico como estratégia para o desenvolvimento das práticas de enfermagem, estando relacionado com o processo de enfermagem. Para Marques et al. (1996), os registos de enfermagem deveriam refletir o esquema mental do processo de enfermagem sendo fundamentais para a sua implementação. A documentação das várias fases que o compõem, desde a apreciação até à avaliação, permite a individualização dos cuidados prestados, estabelecer prioridades, transmitir a informação de forma exata de modo a assegurar a continuidade e a individualização

dos cuidados aumentando a humanização dos mesmos. A linguagem científica utilizada possibilita uma uniformização das ações desenvolvidas (Simeão, 1990). É também na década de 90 que se dá início à informatização dos registos de enfermagem com a implementação do processo de enfermagem informatizado. Os autores sugeriram a criação de um sistema de registos que possibilitasse o registo rápido e eficiente e que garantisse uma transmissão da informação concisa, completa e rápida do que foi registado (Murcho, 1997). Neste contexto salienta-se a importância dos estudos desenvolvidos por Silva (1995, 2006) na área dos SIE, os quais devem dar resposta às necessidades de informação e documentação sentidas pelos enfermeiros. A ausência de publicações entre 1958 e 1984 foi justificada por alguns autores com a parca valorização que era atribuída aos registos de enfermagem (Rodeia, 1993). Verificou-se que só a partir da década de 80 é que os registos de enfermagem se tornaram assunto de publicação nas revistas portuguesas de enfermagem, ganhando maior destaque na década de 90. Embora se considere que foi a partir desta década que as publicações periódicas tiveram mais força e expressão (Machado, 2014), a crescente importância atribuída aos registos de enfermagem verificou-se num período com grandes alterações a nível da profissão de enfermagem. Em 1981 foram introduzidas alterações na carreira de enfermagem com o objetivo de uma melhor prestação de cuidados, melhor aproveitamento dos recursos humanos e perspetivas de realização e progressão profissionais. Segundo esta alteração, o enfermeiro ao prestar cuidados deveria avaliar as necessidades de cuidados de enfermagem, programar, executar e avaliar os resultados. A realização destas etapas atribui importância aos registos de enfermagem. A carreira publicada em 1981 sofreu pequenas alterações em 1983 e 1985. A integração do ensino da enfermagem no sistema educativo nacional, a nível do ensino superior politécnico surge em 1988. As escolas de enfermagem tinham a competência de proporcionar a formação científica e técnica adequada para a prestação de cuidados de enfermagem geral e também ao nível de cuidados mais complexos, nos estudos superiores especializados. É no âmbito da educação em enfermagem que se verificaram algumas publicações sobre registos de enfermagem destacando o seu papel neste contexto. De acordo com o estudo de Cunha et al. (2010), quanto maior a categoria profissional e a formação pós-graduada dos enfermeiros, mais facilitadora será a implementação de um sistema de registos. Em 1991 surge uma nova reformulação da carreira de enfermagem e onde pela primeira vez se incluem os registos de enfermagem como uma atividade inerente aos cuidados de enfermagem, também referido por alguns autores (Bruges et al., 1994). O Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro (REPE), publicado em 1996, tinha o objetivo de clarificar conceitos, caracterizar os cuidados de enfermagem, especificar as competências dos enfermeiros, definir responsabilidades, direitos e deveres dos mesmos. Os cuidados de enfermagem são considerados como intervenções

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Sousa, M. H. & Figueiredo, A. S.

autónomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro, no âmbito da sua área de atuação. Os registos de enfermagem são referidos como meio de avaliação das intervenções de enfermagem. Em 1998, foi criada a Ordem dos Enfermeiros, a qual promove a regulamentação e disciplina da prática dos enfermeiros, assegurando o cumprimento das normas deontológicas e garantindo a dignidade do exercício da enfermagem. Estes acontecimentos contribuíram para a autonomia dos enfermeiros e o registo sistemático de todas as ações de enfermagem constitui um caminho para a afirmação da profissão, pois a visibilidade do exercício profissional dos enfermeiros só é possível através da produção de indicadores que resultam da informação documentada (Silva, 2006).

Conclusão É a partir da década de 80 que surgem publicações sobre registos de enfermagem, abordando aspetos relacionados com a sua importância, tipologia, o seu papel na implementação do processo de enfermagem, investigação científica, segurança dos cuidados de enfermagem e registos eletrónicos. Os registos acompanham a recomposição profissional da enfermagem. Verificou-se que à medida que surgiram alterações na profissão, as publicações nesta área aumentaram, contribuindo para a valorização dos registos de enfermagem. Após a reformulação da carreira em 1991, da publicação do REPE em 1996 e da Ordem do Enfermeiros em 1998, surge um maior número de publicações. A autonomia tem um papel fundamental no desempenho profissional dos enfermeiros e os registos de enfermagem, como atividade autónoma são determinantes para a afirmação da profissão. Os assuntos abordados retratam a realidade dos registos de enfermagem aquando da sua publicação permitindo compreender os contextos em que se inseriam. Deste modo, contribuem para o percurso dos registos de enfermagem até à aplicação de modelos SIE. Contribuição de autores Conceptualização: Sousa, M. H. Tratamento de dados: Sousa, M. H., Figueiredo, A. S. Metodologia: Sousa, M. H., Figueiredo, A. S. Redação - rascunho inicial: Sousa, M. H. Redação - análise e edição: Sousa, M. H., Figueiredo, A. S. Referências bibliográficas Albuquerque, A., & Delgado, R. (1998). Guia orientador sobre registos de enfermagem. Revista Referência, 1, 83-84. https://rr.esenfc.pt/ rr/index.php?module=rr&target=publicationDetails&pesqui-

sa=&id_artigo=2027&id_revista=5&id_edicao=16 Bruges, M. L., Bettencourt, M., & Delgado, R. (1994). Cuidar bem, sem registar? Revista Servir, 42(3),140-144. Cunha, A. P., Ferreira, J. J., & Rodrigues, M. A. (2010). Atitude dos enfermeiros face ao sistema informatizado de informação em enfermagem. Revista Referência, 3(1), 7-16. http://www.index-f. com/referencia/2010pdf/31-007.pdf Dias, A., Mendes, C., Moutinho, E., & Carreira, F. (2001). Registos de enfermagem. Revista Servir, 49(6), 267-271. Gomes, S. D. (1998). Gestão dos registos com aplicação do processo de enfermagem: Experiência de um serviço de medicina. Revista Enfermagem, 2(10), 21-25. Machado, M. D. (2014). A divulgação do conhecimento em periódicos de enfermagem e a evolução da profissão em Portugal, no século XX e inicio do século XXI [Tese de doutoramento, Universidade Católica Portuguesa]. Repositório Institucional da Universidade Católica Portuguesa. http://hdl.handle.net/10400.14/20698 Marques, D., Covita, F., Gama, H., Batista, R., Rodrigues, R., Amendoeira, J., Antunes, M. J., Basto, M. L., Ferreira, O., Teixeira M. C., & Viegas, A. (1996). Registos de enfermagem... possível influência de um modelo teórico de enfermagem na elaboração das notas de evolução. Enfermagem, 2(2),16-22. Murcho, N. A. (1997). Registos de enfermagem num serviço de urgência: Uma breve reflexão sobre os mesmos. Enfermagem em Foco, 7(27), 26-27. Nightingale, F. (1860). Notes on nursing: What it is, and what it is not. https://play.google.com/books/reader?id=fAAIAAAAIAAJ&hl=pt_PT&pg=GBS.PP1 Oliveira, O. J., Silva, F. F., Juliani, F., Barbosa, L. C., & Nunhes, T. V. (2019). Bibliometric method for the mapping the state-of-the-art and identifying research gaps and trends in literature: An essential instrument to support the development of scientific projects. https:// doi.org/10.5772/intechopen.85856 Pinho, F. (1997). Objetividade e subjetividade dos registos de enfermagem. Revista Informar, 3(11), 32-36. Ramalhão, M. A. (1996). Os registos de enfermagem na prática da enfermagem. Revista Divulgação, 10(38), 31-42. Rodeia, J. (1993). Registos de Enfermagem. Revista Servir, 41(2), 89-94. Romano, A. N., & Silva, J. F. (1984). Os registos como instrumento de avaliação dos benefícios da enfermagem. Revista Servir, 32(6), 296-323. Silva, A. P. (1995). Registos de enfermagem: Da tradição scripto ao discurso informo [Dissertação de mestrado, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar]. Silva, A. P. (2006). Sistemas de informação em enfermagem: Uma teoria explicativa de mudança. Formasau. Silva, C. P., Bicalho, P. G., Martins, E. F., & Errico, L. P. (2019). Fatores intervenientes na implantação da informatização do processo de enfermagem. Journal of Health Informatics 11(4), 118-124. http://www.jhi-sbis.saude.ws/ojs-jhi/index.php/jhi-sbis/ article/view/630/372 Simeão, M. J. (1990). Processo de enfermagem: Que é e como aplicá-lo. Revista Servir, 38(2), 56-67.

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

ARTIGO DE REVISÃO SISTEMÁTICA

Condicionantes da adaptação das famílias enquanto sistema e cliente face à situação de cancro: Scoping review

Factors influencing the adaptation of families, as systems and clients, to cancer: A scoping review Condicionantes de la adaptación de las familias como sistema y cliente ante la situación del cáncer: Scoping review Carla Alexandra Santos 1 https://orcid.org/0000-0003-3546-1950 Katia Sophie Ribeiro Da Costa 1 https://orcid.org/0000-0001-9564-4842 Maria Jacinta Dantas 1, 2, 3 https://orcid.org/0000-0001-6286-3854 Carminda Morais 3, 4, 5, 6 https://orcid.org/0000-0001-8995-9012

Unidade Local de Saúde do Alto Minho, Hospital de Santa Luzia, Viana do Castelo, Portugal

1

Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal

2

Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), Porto, Portugal

3

Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Escola Superior de Saúde, Viana do Castelo, Portugal

4

Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra (CEISUC), Coimbra, Portugal

5

Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA: E), Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Coimbra, Portugal

6

Autor de correspondência Carla Alexandra Santos E-mail: csantos2010@hotmail.com

Recebido: 10.09.20 Aceite: 06.01.21

Resumo Contexto: O cancro está associado a perda e ameaça à vida, pelo que o seu diagnóstico configura carga emocional, tensão e sofrimento psicológico dos indivíduos e famílias, mediados por múltiplos fatores condicionantes dos processos adaptativos. Objetivo: Conhecer quais os fatores condicionantes da adaptação das famílias face à situação de cancro em um dos seus membros. Método de revisão: Trata-se de uma scoping review seguindo a metodologia do Joanna Briggs Institute. A pesquisa incluiu artigos publicados entre 2015 e março de 2020 em português, inglês e espanhol. Apresentação e interpretação dos resultados: A partir dos 13 artigos incluídos identificaram-se os seguintes fatores condicionantes da adaptação familiar ao cancro de um dos seus membros: avaliação familiar do acontecimento, recursos familiares e coping. Conclusão: A identificação destes fatores é fundamental a práticas clínicas com as famílias enquanto cliente e sistema, promotoras de processos adaptativos dos indivíduos com cancro e suas famílias. Palavra-chave: adaptação psicológica; família; cancro; revisão Abstract Background: Cancer is associated with loss and threat to life, so the emotionally charged diagnosis of cancer brings about psychological distress and suffering to individuals and families, influenced by multiple factors conditioning the adaptive processes. Objective: To determine the factors influencing family adaptation to the cancer of a family member. Review method: This scoping review followed the methodology of the Joanna Briggs Institute. It included articles published between 2015 and March 2020 in Portuguese, English, and Spanish. Presentation and interpretation of results: Based on the 13 articles included, this review identified the following factors influencing family adaptation to the cancer of a family member: family assessment of the event, family resources, and coping. Conclusion: Identifying these factors is essential to intervene with the families as clients and systems and promote adaptive processes in patients with cancer and their families. Keywords: adaptation psychological; family; cancer; review Resumen Contexto: El cáncer está asociado a la pérdida y a la amenaza de la vida, por lo que su diagnóstico constituye una carga emocional, una tensión y un sufrimiento psicológico para los individuos y las familias, mediados por múltiples factores que condicionan los procesos adaptativos. Objetivo: Conocer qué factores condicionan la adaptación de las familias ante la situación de que uno de sus miembros padezca cáncer. Método de revisión: Se trata de una revisión sistemática exploratoria que sigue la metodología del Joanna Briggs Institute. La búsqueda incluyó artículos publicados entre 2015 y marzo de 2020 en portugués, inglés y español. Presentación e interpretación de los resultados: A partir de los 13 artículos incluidos, se identificaron los siguientes condicionantes de la adaptación de las familias al cáncer de uno de sus miembros: evaluación familiar del acontecimiento, recursos familiares y afrontamiento (coping). Conclusión: La identificación de estos factores es fundamental para las prácticas clínicas con las familias como cliente y sistema, las cuales promueven los procesos adaptativos de los individuos con cáncer y sus familias. Palabras clave: adaptación psicológica; familia; cáncer; revisión

Como citar este artigo: Santos, C. A., Costa, K. S., Dantas, M. J., & Morais, C. (2021). Condicionantes da adaptação das famílias enquanto sistema e cliente face à situação de cancro: Scoping review. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20149. https://doi.org/10.12707/RV20149

Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e20149 DOI: 10.12707/RV20149

pp. 1 - 10


Santos, C. A. et al.

Introdução O cancro é uma doença fortemente associada à ideia de perda e de ameaça à vida, com uma grande carga emocional e sofrimento psicológico (Pereira & Branco, 2016) e enorme potencial de gerar tensão e desestabilização nas famílias. Esta é, pois, uma realidade cada vez mais presente na vida das famílias, configurando renovados desafios à prática clínica especializada no âmbito da saúde familiar, designadamente no que se refere às conceções de família que lhe estão subjacentes. A abordagem à família, de acordo com Hanson e Kaakinen (2018), é suscetível de ser perspetivada de formas distintas entre si: família como contexto do desenvolvimento individual em que o foco assenta num dos membros da mesma; como cliente, em que o foco recai sobre todos os seus membros; como sistema, considerada como um sistema interativo em que o todo é mais que a soma das partes e a reciprocidade de relações com outros sistemas é uma constante; e como um componente da sociedade, colocando-a ao nível e em interação com outras instituições sociais. A prática clínica da enfermagem de saúde familiar alicerçada na interação com as famílias, enquanto garante da (co)construção de processos adaptativos inerentes às transições saúde-doença, exige a compreensão da multiplicidade dos elementos envolvidos e da complexidade dos sistemas familiares (Figueiredo, 2012). Numa perspetiva sistémica, a família é reconhecida como um sistema em interação recíproca intra e inter sistemas influenciando-se mutuamente, com capacidade auto-organizativa que lhe permite manter um equilíbrio dinâmico entre crise e estabilidade e assegurar a sua continuidade. Perante a doença de um membro da família desencadeia-se uma transição saúde-doença com consequentes alterações da sua dinâmica, que dá início a um processo adaptativo (Figueiredo, 2012; Kaakinen et al., 2018; Martins, 2014). A adaptação familiar define-se pelo grau de alterações levadas a cabo pelo sistema familiar para conseguir o seu ajuste, num processo evolutivo, contínuo e temporal com consequências a longo prazo no sistema, e expressa a capacidade de a família fazer as mudanças necessárias para recuperar do stress ou da crise (McCubbin & McCubbin, 1993). É, assim, a representação de continuidade da normalidade biopsicossocial e o atingir dos resultados que se pretendem através de estratégias de coping (Ramírez-Perdomo et al., 2018). O grau de tensão que a doença causa na família e a capacidade de adaptação da mesma são influenciados por diversos fatores que, não sendo determinantes, aumentam ou diminuem a probabilidade de respostas efetivas e positivas (Pereira & Branco, 2016). Esses fatores incluem a doença, neste caso o cancro, como fator de stress principal com potencial de provocar mudanças e originar perturbação, tensão ou crise do sistema familiar, que interage com a acumulação de fatores de stress resultante da simultaneidade das transições normativas do ciclo de vida da família, com as exigências internas e externas à mesma e com a perceção (McCubbin & McCubbin, 1993; Price et al., 2016; Walsh, 2016; Kaakinen et al.,

2018). A influência da perceção é transversal a todo o processo de adaptação familiar à doença, integra segundo McCubbin e McCubbin (1993), a forma como a família vê, sente e atribui significado subjetivo à situação presente e à antevisão das dificuldades, recursos e capacidades que considera ter para lidar com a doença. Estas condicionantes interagem com os recursos familiares, que incluem os atributos e as capacidades que provêm do indivíduo, da unidade familiar e da comunidade, que estão disponíveis para a família fazer face a situações adversas (Price et al., 2016). Em conjunto, esses elementos condicionam o coping que incorpora padrões, esforços cognitivos e comportamentais para desenvolver estratégias que permitam às famílias responder à situação de stress (Lazarus & Folkman, 1984, como citado em Kaakinen et al., 2018; Pereira & Branco, 2016). Com base nos pressupostos concetuais enunciados, considerando a família como cliente e como sistema nos termos propostos por Hanson e Kaakinen (2018), para o presente estudo definiu-se a seguinte questão de partida: “Quais os fatores que condicionam a adaptação das famílias, face à situação de cancro de um dos seus membros?”. Visa-se, assim, conhecer os fatores condicionantes da adaptação das famílias enquanto cliente e sistema, face à situação de cancro de um dos seus membros, como contributo para melhoria das práticas clínicas no âmbito da saúde e da enfermagem familiar especializada.

Método de revisão sistemática A scoping review constitui-se a metodologia de revisão adotada, na medida em que visa mapear as evidências existentes, com a particularidade de não visar a análise da qualidade metodológica dos estudos (Peters et al., 2017). Neste contexto, encetou-se o estudo com uma pesquisa preliminar realizada no Joanna Briggs Institute (JBI) Database of Systematic Reviews and Implementation Reports, Cochrane Database of Systematic Reviews e CINAHL Complete, não tendo sido encontrados estudos que sistematizassem os fatores condicionantes da adaptação familiar ao cancro, tomando como referência a família na perspetiva sistémica ou como cliente. Realizou-se a scoping review seguindo as linhas de orientação metodológica proposta pelo JBI (Peters et al., 2017), utilizando como guia a Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR) checklist (Tricco et al., 2018) e a estratégia de pesquisa participantes, contexto e conceito (PCC). Foram incluídos estudos de carácter qualitativo, quantitativo, estudos de caso e revisões de literatura. Assim, na esteira da JBI, e em articulação com as conceções teóricas norteadoras do estudo apresentadas anteriormente, definiram-se como critérios de inclusão os estudos com foco em todos os membros ou pelo menos dois membros da família ou um subsistema familiar (participantes), enquanto abordagem da família como cliente e/ ou sistema, que versassem sobre os fatores condicionantes da adaptação da família (conceito) ao cancro de um dos seus membros, independentemente do ambiente onde a

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Santos, C. A. et al.

família se encontrava (contexto). Excluíram-se os estudos focados apenas num membro da família (participantes), alinhados com abordagens da família como contexto, e que incidissem sobre adaptação familiar a outra doença que não o cancro ou a outra situação que não a doença. Estratégia de pesquisa Os estudos que constituem o corpus de análise desta revisão foram obtidos através de uma estratégia que contempla a identificação, seleção, elegibilidade e inclusão dos mesmos (Peters et al., 2017) conduzida pelos critérios de inclusão e pelos limitadores de pesquisa. Todas as fases da pesquisa, bem como de extração e interpretação de resultados, foram realizadas, pelo menos, por dois revisores de forma independente e as dúvidas e divergências foram discutidas conjuntamente pelos quatro autores. A pesquisa foi efetuada entre novembro de 2019 e março de 2020, nas bases de dados CINAHL Complete e MedicLatina (via EBSCO), SciELO e PubMed, para artigos com resumo e texto completo disponíveis e de livre acesso, em língua inglesa, portuguesa e espanhola, não tendo sido considerada nesta revisão a literatura cinzenta. Definiu-se o horizonte temporal

de publicação de 2015 a março de 2020 para aceder à mais recente produção nesta área do conhecimento. A pesquisa foi estruturada em três fases. Na primeira fase realizou-se a pesquisa inicial na base de dados SciELO e CINAHL Complete, e a análise das palavras existentes no título e no resumo dos artigos encontrados, bem como, dos termos do índice utilizados. A segunda fase consistiu na pesquisa em todas as bases de dados definidas em protocolo (Tabela 1), utilizando linguagem comum com recurso aos termos MeSH adaptação psicológica, família e cancro, em português, inglês e espanhol. Identificados os artigos, procedeu-se à sua seleção, e à exclusão com base na duplicação e no título. Por último, foram delimitados os artigos elegíveis para análise do resumo e posteriormente para análise do texto completo, obtendo-se assim os artigos incluídos nesta revisão, nos quais se realizou a análise intencional das referências bibliográficas, não se encontrando nenhuma com pertinência a incluir. Os dados foram extraídos com recurso a um instrumento adaptado do JBI, em articulação com a questão de partida e objetivo da revisão. Não se considerou necessário o contacto com os autores dos estudos para mais informação e/ ou esclarecimentos sobre os dados.

Tabela 1 Estratégia e limitadores da pesquisa aplicados por base de dados Limitadores: publicação em revistas indexadas entre 2015 e março de 2020, com resumo e texto completo disponíveis e de livre acesso, em língua inglesa, portuguesa e espanhola. Base de dados: CINAHL Complete (Via EBSCO) Data de pesquisa: Pesquisa entre novembro de 2019 e março de 2020 (Adaptation, psychological) [Texto completo] AND (Family)[Título] AND (Cancer)[Resumo] (Adaptação psicológica) [Texto completo] AND (Família) [Título] AND (Cancro)[Resumo] (Adaptation, psychological) [Texto completo] AND (Famil*) [Título] AND (Cancer)[Resumo] (Coping behavior) [Texto completo] AND (Famil*) [Título] AND (Cancer)[Resumo] (Coping skill) [Texto completo] AND (Famil*) [Título] AND (Cancer)[Resumo] Base de dados: SciELO Data de pesquisa: Pesquisa entre novembro de 2019 e março de 2020 (Adaptation, psychological) [Todos os índices] AND (Family) [Todos os índices] AND (Cancer) [Todos os índices] (Adaptação psicológica) [Todos os índices] AND (Família) [Todos os índices] AND (Cancro) [Todos os índices] (Adaptação psicológica) [Todos os índices] OR (Comportamento adaptativo) [Todos os índices] OR (enfrentamento) [Todos os índices] AND (Família) [Todos os índices] AND (Cancro) [Todos os índices] (Adaptação psicológica) [Todos os índices] OR (Estratégias de enfrentamento) [Todos os índices] AND (famil*) [Todos os índices] AND (Cancer) [Todos os índices] Base de dados: MedicLatina Data de pesquisa: Pesquisa entre novembro de 2019 e março de 2020 (Adaptation, Psychological) [Texto completo] AND (Famil*) [Texto completo] AND (Cancer) [Texto completo] (Adaptación psicológica) [Texto completo] AND (Famil*) [Texto completo] AND (Cancer) [Texto completo] Base de dados: PubMed Central Data de pesquisa: Pesquisa entre novembro de 2019 e março de 2020 (Adaptation, Psychological) [Texto completo] AND (Famil*) [Texto completo] AND (Cancer) [Texto completo]

Apresentação dos resultados Os resultados serão apresentados em forma de resumo narrativo recorrendo, quando pertinente, a tabelas e a diagramas. Foram identificados 393 estudos, através da pesquisa nas bases de dados CINAHL Complete (n = 74),

SciELO (n = 19), MedicLatina (n = 8) e PubMed (n = 292). Após exclusão de 35 artigos por se encontrarem duplicados, foram selecionados 358. Destes, foram excluídos 298 por análise de título e 33 por análise de resumo. Os motivos de exclusão relacionaram-se com o facto de versarem sobre a adaptação das famílias a outra situação

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Santos, C. A. et al.

que não doença (n = 273), sobre outra doença que não o cancro (n = 19) e assentarem na conceção de família como contexto (n = 39). Dos 27 artigos elegíveis para análise de texto integral, 14 foram excluídos por o foco

ser na família como contexto. Assim, através do processo de seleção dos estudos foram incluídos para análise 13 artigos (Figura 1).

Figura 1

Identificação

Fluxograma PRISMA (adaptado) do processo de seleção de estudos Artigos identificados através da pesquisa nas bases de dados CINAHL Complete (74), SciELO (19) MedicLatina (8), PubMed Central (292) (n = 393) Artigos selecionados após remoção dos duplicados (n = 358)

Elegibilidade

Seleção

Artigos excluídos (n = 331)

Artigos em texto integral

Título (n = 298)

Resumo (n = 33)

Outro assunto (266)

Outro assunto (7)

Outra doença (19)

Foco só no cuidador (21)

Foco só no cuidador (5)

Foco só no doente (4)

Foco só no doente (7)

Foco só num membro (1)

Foco só num membro (1)

Artigos em texto integral excluídos (n = 14)

Elegíveis (n = 27)

Foco só no cuidador (5)

Inclusão

Foco só no doente (6) Foco só num membro (3) Artigos incluídos na Scoping Review (n = 3) (n = 13)

Como apresentado na Tabela 2, os 13 estudos incluídos caracterizam-se por: oito serem identificados na CINAHL, quatro na PubMed e um na MedicLatina; cinco tiveram origem nos Estados Unidos da América (EUA), dois na Bélgica e um em cada um dos países Espanha, Suíça,

Alemanha, Austrália, China e Colômbia; a publicação dos artigos ocorreu: um em 2015; um em 2016; três em 2017; cinco em 2018; três em 2019 e nenhum em 2020. Utilizaram o idioma inglês 11 dos estudos e dois o espanhol.

Tabela 2 Identificação dos artigos segundo referência bibliográfica, base de dados e país Referência Bibliográfica Acero L. F., & Barboza, C. F. (2019). “Nuestra enfermedad”: Revisión sistemática sobre coping diádico en cáncer de mama. Psicooncología, 16(2), 251-272. https://doi.org/10.5209/psic.65590 Ajamil, E. G. (2018). Arteterapia familiar en oncología pediátrica. Psicooncologia, 15(1),133-151. https://doi. org/10.5209/PSIC.59183

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Base Dados/País MedicLatina (CO) CINAHL (SP)

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Destes 13 artigos, sete recorreram ao método quantitativo, todos transversais, sendo cinco do tipo correlacional e dois do tipo descritivo. Com recurso a metodologia qualitativa são seis artigos, dos quais três são do tipo exploratório e descritivo, um fundamentado na grounded theory e dois artigos de revisão de literatura sistemática e integrativa. Nestes artigos, oito focaram-se na família como sistema, sendo que quatro se centraram no sistema familiar, um no subsistema conjugal e três no subsistema parental. Nos restantes (n = 5), a família foi estudada como cliente. Relativamente ao(s) membro(s) doente(s), em quatro estudos são mulheres, em quatro são crianças, em um é um dos pais e em quatro não é especificado. No que se refere ao ambiente onde foram realizados os estudos, verificou-se que seis decorreram no hospital, três no domicílio, um em

CINAHL (BE) PubMed (BE)

hospital/domicílio, um na comunidade e em dois não se encontrava especificado. O número de famílias envolvidas nestes estudos variou entre 10 e 486. No que se refere aos fatores condicionantes da adaptação das famílias identificados nos estudos face à situação de cancro de um dos seus membros, como apresentado na Tabela 3, inscrevem-se em três fatores: Avaliação familiar do acontecimento, Recursos familiares e Coping. A Avaliação familiar do acontecimento surge mediada pelo entendimento do mesmo como fator de stress, pela perceção familiar e pela acumulação de exigências. Os Recursos familiares emergem em articulação com aspetos de natureza individual, da família enquanto unidade e da comunidade. Por último, o Coping, onde se integra a resolução conjunta de problemas passando por estratégias de natureza variável.

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Tabela 3 Fatores condicionantes na adaptação das famílias face ao cancro

Avaliação familiar do acontecimento

Fatores condicionantes Acontecimento como fator de stress • Perturbações emocionais (Van Schoors et al., 2019; Gunter & Duke, 2018; Inhestern & Bergelt, 2018; Ellis et al., 2017) • Curso da doença (Katapodi et al., 2018; Katz et al., 2018; Garrad et al., 2017; Phillips & Prezio, 2017; Inhestern & Bergetl, 2018). Perceção do acontecimento • Grau de ameaça (Van Schoors et al., 2019; Ellis et al., 2017) • Desempenho dos papéis (Inhestern & Bergelt, 2018) • Grau de incerteza (Van Schoors et al., 2019; Gunter & Duke, 2018; Katz et al., 2018; Ellis et al., 2017) Acumulação de exigências do acontecimento • Alterações nos processos familiares: Padrão relacional (Garrard et al., 2017; Ajamil, 2018; Inhestern & Bergelt, 2018; Van Schoors et al., 2019) Interação de papéis (Inhestern & Bergelt, 2018; Liu et al., 2018; Gunter & Duke, 2018; Senden et al., 2015) • Dificuldades económicas (Gunter & Duke, 2018; Garrard et al., 2017; Katapodi et al., 2018; Phillips & Prezio, 2017)

Recursos familiares

Individuo • Caraterística sociodemográfica (Katapodi et al., 2018; Liu et al., 2018; Van Schoors et al., 2018) • Autoeficácia individual (Ellis et al., 2017) Família como unidade • Autoeficácia familiar (Ajamil, 2018) • Comunicação (Inhestern & Bergelt, 2018; Phillips & Prezio, 2017; Garrard et al., 2017) • Resiliência familiar (Liu et al., 2018) • Apoio familiar (Katapodi et al., 2018) • Classe social (Garrard et al., 2017; Inhestern & Bergelt, 2018; Katapodi et al., 2018) Comunidade • Apoio profissional (Garrard et al., 2017; Senden et al., 2015) • Rede de apoio (Senden et al., 2015) •

Coping

Exigências de outras situações:(Ajamil, 2018)

• • • • • •

Resolução conjunta dos problemas (Inhestern & Bergelt, 2018; Ajamil, 2018; Phillips & Prezio, 2017; Garrard et al., 2017) Comunicação familiar (Inhestern & Bergelt, 2018) Vivência de tempo em família (Inhestern & Bergelt, 2018) Coping espiritual (Prouty et al., 2016) Manutenção da esperança e otimismo (Senden et al., 2015) Coping diádico (mediado pela reação de cada elemento do casal ao stress; Acero & Barboza, 2019) Capacidade de reconhecer/mobilizar recursos da comunidade (Garrard et al., 2017)

Interpretação dos resultados Esta scoping review, que teve como objetivo identificar os fatores condicionantes da adaptação das famílias, face à situação de cancro de um dos seus membros, na perspetiva da família enquanto sistema e cliente, incluiu 13 estudos. Cerca de 38,5% (n = 5) decorreram nos EUA e os restantes em diversos países, na sua maioria um por país. Não foram encontrados estudos realizados em Portugal. Desenvolveram-se maioritariamente em ambiente hospitalar e mais de metade teve como alvo as famílias com mulheres ou crianças doentes. A família como um sistema é abordada em 62,5% (n = 8) dos estudos, sendo que metade se centra nos subsistemas conjugal e parental, e nos restantes a família foi entendida como cliente. Estes resultados, tomando como referencial as diretrizes internacionais e nacionais de saúde e de enfermagem familiar, evidenciam a necessidade de mais estudos centrados na família sob conceções mais amplas, em contexto de cui-

dados de saúde primários onde as famílias permanecem e (co)constroem a maioria dos seus projetos de saúde e de vida, procurando desocultar simultaneamente as interpenetrações entre género e o cuidar. Horta e Fernandes (2018) referem que o foco apenas num membro da família não permite compreender todo o sistema familiar nem captar as diferentes perceções, atitudes e comportamentos. Impõe-se, pois, ao enfermeiro de família, promotor da capacitação das famílias e facilitador da (co)construção dos processos de adaptação mais positivos e efetivos, a consciência da multiplicidade de fatores envolvidos, bem como a complexidade da família enquanto sistema, na linha do preconizado pela International Family Nursing Association (IFNA, 2017) e no Regulamento n.º 428/2018 da Ordem dos Enfermeiros (2018). Os processos de saúde-doença, designadamente de cancro de um membro da família, constituem um fator de stress não negligenciável (Price et al., 2016). Em resposta, a família inicia um processo de reação e ajuste, condicionado

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por vários fatores com potencial preditor da adaptação bem ou malsucedida (McCubbin & McCubbin,1993). Nos estudos em análise emergiram os seguintes fatores: Avaliação familiar do acontecimento, Recursos familiares e Coping. Na Avaliação familiar do acontecimento integra-se o cancro como fator de stress, a perceção do acontecimento e a acumulação de exigências do mesmo. O cancro constitui fator de stress na maioria dos estudos analisados, à semelhança do definido por McCubbin e McCubbin (1993). Surge nestes estudos associado a perturbações emocionais (Ellis et al., 2017; Gunter & Duke, 2018; Inhestern & Bergelt, 2018; Van Schoors et al., 2019) e às dificuldades inerentes ao curso da doença (Garrard et al., 2017; Inhestern & Bergelt, 2018; Katapodi et al., 2018; Katz et al., 2018; Phillips & Prezio, 2017). É consensual nestes estudos e na literatura, a existência de perturbações emocionais associadas ao diagnóstico de cancro tais como sentimentos de devastação, choque e raiva. Em Gunter e Duke (2018) são destacados o stress, ansiedade e a angústia como sintomas mais comuns relacionados com o grau de incerteza. A angústia surge ainda associada a um menor coping individual e familiar, à perceção da doença como mais ameaçadora (Ellis et al., 2017; Katz et al., 2018; Van Schoors et al., 2019) e à solidão, sendo esta comum a todos membros da família (Van Schoors et al., 2019). Assim, e em consonância com Tackett et al. (2016), a angústia abrange vários domínios do sofrimento, constituindo um indicador de disfunção psicológica e de processos de ajuste e adaptação desadequados. A perceção é mencionada na maioria dos estudos, mas aprofundada em apenas dois (Ellis et al., 2017; Van Schoors et al., 2019), em que a doença surge associada a sentimentos mais negativos, evidenciando na perspetiva de Ellis et al., (2017) um menor coping individual e familiar. O estudo de Van Schoors et al. (2019) traz ainda a debate a perceção de cada membro da família mediada pela idade, género, papel dentro da família e experiências anteriores. Em concordância com estes, McCubbin e Patterson (1985, como citado em Price et al., 2016) referem que a construção de significados é influenciada pelo grau de impacto que a família sente e pela crença nos seus recursos e na capacidade em gerir as dificuldades que antevê. A acumulação de exigências do acontecimento, que implica alterações das dinâmicas familiares, surge nestes estudos como aspeto condicionante da avaliação que a família faz da vivência do cancro de um dos seus membros em diferentes perspetivas. Desde logo, evidenciam-se preocupações relacionadas com o ajuste familiar aos internamentos e tratamentos, com consequente acréscimo de responsabilidades da família (Gunter & Duke, 2018) inerente à alteração das rotinas, reorganização de papéis (Ajamil, 2018; Inhestern & Bergelt, 2018) e à diminuição da proximidade entre os membros e do rigor no cumprimento de regras (Garrard et al., 2017; Van Schoors et al., 2019). Famílias com mães doentes e filhos menores evidenciam o confronto com o duplo papel de doente e mãe e à acumulação e assunção de novos papéis e por sua vez, responsabilidades pelo pai, com angústia para ambos. As mães solteiras apresentam

ainda maior tensão devido à dificuldade na divisão de tempos de cuidados com os pais das crianças (Inhestern & Bergelt, 2018). Em outros estudos, a acumulação do papel de cuidador com os demais papéis conforma um desafio para estas famílias (Senden et al., 2015) sendo a sua carga maior quanto menor tempo pós-diagnóstico (Liu et al., 2018). Em outros estudos (Garrard et al., 2017; Katapodi et al., 2018; Phillips & Prezio, 2017) evidenciam-se outras tensões do foro económico com impacto na família decorrentes dos custos de tratamentos, deslocações, e repercussões laborais. Estes resultados vêm ao encontro do referido por Kaakinen et al. (2018), que identificam estes fatores como geradores de stress acrescido, aumentando a vulnerabilidade familiar. Se, como referido por Ajamil (2018), o internamento é um fator desestabilizador importante, não o é menos a fase que o autor denomina de volta a casa, em que as famílias se confrontam com as exigências da reunificação familiar e o regresso ao trabalho e à escola. Outra condicionante que se destaca é o tempo de diagnóstico, realçado por Katz et al. (2018), ao verificarem que no primeiro ano de tratamento as famílias apresentam maior vulnerabilidade e aumento do conflito familiar, ficando mais propensas a reverter os seus padrões habituais de interação ao longo do tempo. Estes resultados vêm ao encontro do identificado por Kaakinen et al. (2018) na medida em que indicam vulnerabilidades, funcionamento e pontos fortes familiares diferenciados em função da fase temporal da doença. Todos estes fatores condicionam a avaliação que as famílias fazem da gravidade da situação que, de acordo com McCubbin e McCubbin (1993), determina o grau de tensão a que esta vai estar sujeita e o modo como vai procurar, identificar e usar os recursos. Este é o ponto de partida para uma prática orientada para a promoção da capacidade das famílias em resolver os seus problemas e sofrimento, e desafia os enfermeiros de família a práticas colaborativas conducentes a processos de ajuste e adaptação bem-sucedidos (Bell, 2016; IFNA, 2017; Kaakinen et al., 2018; Martins, 2014; Regulamento n.º 428/2018 da Ordem dos Enfermeiros, 2018). A relação terapêutica prévia, tendo em conta os vários aspetos enunciados, permite a avaliação precoce e contínua das reações e perceções familiares inerentes à complexa transição de saúde-doença por forma a gerir eficazmente a insegurança característica deste processo. Outro dos fatores condicionantes prende-se com os recursos familiares disponíveis e/ou capacidade de mobilização para fazer face à tensão, quer estes provenham do indivíduo, da unidade familiar ou da comunidade. Dos estudos analisados, os recursos do indivíduo incluem características individuais, como a idade, escolaridade, atividade laboral (Katapodi et al., 2018; Van Schoors et al., 2019), desemprego ou reforma dos doentes, relacionadas com a carga do cuidador (Liu et al., 2018). Apenas as características sociodemográficas dos doentes foram contempladas, não dos outros membros da família. Também não foram encontrados estudos sobre os conhecimentos, habilidades, traços de personalidade, saúde física e emocional, enquanto caraterísticas com implicação direta na forma como as famílias compre-

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endem e resolvem as exigências com que se confrontam (McCubbin & McCubbin, 1993). A autoeficácia surge, a nível do indivíduo, como mediadora da relação entre sintomas e perceção de ameaça com tradução na capacidade de gerir as exigências associadas ao cancro (Ellis et al., 2017) e na promoção da aprendizagem familiar para lidar com perdas e limitações (Ajamil, 2018). A autoeficácia, segundo Dias e Silva (2019) reflete a autoconfiança nas próprias capacidades, influenciando o comportamento e as respostas a adotar. Da análise dos estudos, e em consonância com os autores Walsh (2016) e Kaakinen et al. (2018), emergem recursos da família enquanto unidade, nomeadamente, a classe social e o processo familiar com destaque para a comunicação, a interação de papéis familiares e os seus padrões habituais. A classe social está relacionada com diversos aspetos, de entre os quais os recursos financeiros da família e o local de residência. O primeiro surge associado ao acesso aos cuidados e gestão económica familiar, em particular nas famílias monoparentais (Inhestern & Bergelt, 2018). O segundo está relacionado com a distância aos serviços (Garrard et al., 2017) e com o apoio familiar mediado também pelo rendimento familiar (Katapodi et al., 2018). Este resultado vem ao encontro à literatura que aponta para a relação entre classe social da família e a forma como se organiza e acede aos serviços da comunidade (Figueiredo, 2012; Kaakinen et al., 2018; Walsh, 2016). No funcionamento da família, é destacada a capacidade de comunicação da família e de adequação da mesma (Zhang, 2018), resolução de problemas (Garrard et al., 2017), e da habilidade de coping individual (Inhestern & Bergelt, 2018; Phillips & Prezio, 2017). As famílias com pontuações mais baixas no funcionamento evidenciam menor capacidade para reconhecer as necessidades e mobilizar os recursos. O maior apoio familiar, resultante da interação de papéis, foi percecionado pelos doentes com maior autoeficácia individual, com idade mais avançada e com parentes com mais recursos. Pelo contrário, menor apoio familiar foi associado a doentes com depressão e mais jovens (Katapodi et al., 2018). A resiliência familiar, em Liu et al. (2018), foi associada ao aumento do crescimento pós-traumático entre as sobreviventes de cancro e à diminuição da carga do cuidador. Estes resultados vêm ao encontro a vários autores (Martins, 2014; McCubbin & McCubbin, 1993; Price et al., 2016; Walsh, 2016) que referem a existência de resiliência familiar quando as famílias são capazes de responder às exigências a que estão sujeitas, efetuando as mudanças necessárias para restabelecer a estabilidade e o bem-estar familiar, mobilizando os recursos disponíveis. Os Recursos da comunidade identificados relacionam-se com o apoio social, o apoio profissional e os serviços da comunidade. O apoio profissional surge em Senden et al. (2015) relacionado com a valorização pelas famílias da informação adequada ao longo do processo de doença e da relação de ajuda como um fator tranquilizante. Os serviços da comunidade surgem numa perspetiva de acesso aos mesmos, com todos os autores a concordarem que mais importante do que a existência dos recursos é a disponibilidade e capacidade das famílias para os procurar

e os obter. Por outro lado, verificou-se que famílias com relações comunitárias mais intensas prévias à situação de doença consideravam este apoio mais útil. Relativamente ao Coping, vários dos estudos analisados colocam ênfase nas estratégias enquanto respostas adaptativas às alterações potenciadoras de stress, como as vivenciadas numa situação de cancro de um dos membros da família (Acero & Barboza, 2019; Gunter & Duke, 2018; Liu et al., 2018; Van Schoors et al., 2019). Surgem evidências norteadoras do investimento na promoção da melhoria dos processos adaptativos, designadamente em termos de melhoria de: coping familiar (Inhestern & Bergelt, 2018), coping diádico (Acero & Barboza, 2019); envolvimento familiar na resolução de problemas e mobilização de recursos (Garrard et al., 2017; Inhestern & Bergelt, 2018); a esperança e manutenção de uma história positiva ( Senden et al. 2015); coping espiritual (Prouty et al., 2016); e da perceção e mobilização de recursos da comunidade como os profissionais de saúde, grupos de ajuda, associações, e da rede social (Garrard et al., 2017; Price et al., 2016). Estas estratégias vêm ao encontro a vários autores (Lazarus & Folkman, 1984 como citado Kaakinen et al., 2018; Martins, 2014; McCubbin & McCubbin,1993; Pereira & Branco, 2016; Walsh, 2016), no sentido de promover respostas positivas, cognitivas e comportamentais apropriadas das famílias, a partir da mobilização eficaz de recursos internos.

Conclusão O cancro atinge a maioria das famílias, acrescendo aos múltiplos desafios com que as mesmas se confrontam. Este estudo permitiu identificar fatores condicionantes da adaptação das famílias ao cancro de um dos seus membros integradas em três dimensões: a Avaliação familiar do acontecimento; os Recursos familiares e o Coping. Esta sistematização, tomando a família como unidade sistémica e/ou como cliente, permite recentrar o enfoque clínico nas forças das famílias, constituindo-se mais um contributo para o desenvolvimento e consolidação de práticas clínicas na área da saúde e da enfermagem de família. A estratégia metodológica utilizada na condução do estudo, nomeadamente a não inclusão de literatura cinzenta assim como de artigos de acesso limitado, constitui-se uma limitação do estudo. Considera-se que a revisão efetuada deixa espaço para futuros estudos que permitam suplementar limitações e explorar aprofundadamente a problemática, designadamente em contextos de saúde primários, em novas formas de famílias e na desocultação das relações de género e do cuidar. Contribuição de autores Conceptualization: Santos, C. A., Costa, K. S., Dantas, M. J., Morais, C. Methodology: Santos, C. A., Costa, K. S., Dantas, M. J., Morais, C. Data curation: Santos, C. A., Costa, K. S., Dantas, M. J., Morais, C. Writing - original draft: Santos, C. A., Costa, K. S.,

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ARTIGO DE REVISÃO SISTEMÁTICA

Programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais a vivenciar cancro parental: Protocolo de scoping review

Intervention programs for children, adolescents, and parents experiencing parental cancer: A Scoping review protocol Programas de intervención para niños, adolescentes y padres que experimentan cáncer parental: Protocolo de scoping review Ana Filipa Domingues Sousa 1, 2, 4 https://orcid.org/0000-0002-6390-5742 Joana Filipa Cunha Rodrigues 4 https://orcid.org/0000-0001-5366-284X Maria João Graça Silva Neves Dias 3 https://orcid.org/0000-0002-6968-0660 Daniela Filipa Batista Cardoso 4 https://orcid.org/0000-0002-1425-885X Maria Margarida da Silva Reis dos Santos Ferreira 1, 5, 6 https://orcid.org/0000-0002-7948-9317 Maria de Lurdes Lopes de Freitas Lomba 4 https://orcid.org/0000-0003-1505-5496

Universidade do Porto, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Porto, Portugal

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Instituto Português de Oncologia de Coimbra, Coimbra, Portugal

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Santa Casa da Misericórdia de Alvaiázere, Alvaiázere, Portugal

3

Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA: E), Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Coimbra, Portugal

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Escola Superior de Enfermagem do Porto, Porto, Portugal

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Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), Porto, Portugal

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Autor de correspondência Ana Filipa Domingues Sousa E-mail: afilipa87@esenfc.pt

Recebido: 24.10.20 Aceite: 18.02.21

Resumo Contexto: O cancro parental tem impacto nas crianças, adolescentes e unidade familiar. A aplicação de programas de intervenção resulta no desenvolvimento de habilidades parentais e produz resultados positivos nos filhos ao nível da compreensão do cancro dos pais, desenvolvimento de mecanismos de coping, melhoria da comunicação e relacionamento pais-filhos, permitindo empoderar a família para enfrentar o cancro. Objetivo: Mapear programas de intervenção existentes dirigidos a crianças, adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental (doentes oncológicos). Método de revisão: Metodologia de scoping review proposta pelo Joanna Briggs Institute. O processo de análise, extração e síntese dos dados será desenvolvido por revisores independentes. Apresentação e interpretação dos resultados: O mapeamento dos programas permitirá identificar as intervenções desenvolvidas por profissionais de saúde, dirigidas a crianças, adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental. Conclusão: A revisão resultante do protocolo elaborado permitirá selecionar intervenções adequadas para o desenho de um programa de intervenção de enfermagem dirigido a adolescentes e pais que vivenciam a experiência do cancro parental. Palavras-chave: cancro parental; intervenção; crianças; adolescentes; enfermagem Abstract Background: Parental cancer affects children, adolescents, and the family unit. The implementation of intervention programs leads to the development of parental skills and positive outcomes for children in terms of understanding their parents’ cancer, developing coping mechanisms, improving parent-child communication and relationships, and empowering the family to cope with cancer. Objective: To map the available intervention programs for children, adolescents, and parents experiencing parental cancer (patients with cancer). Review method: Scoping review methodology proposed by the Joanna Briggs Institute. The process of data analysis, extraction, and synthesis will be performed by independent reviewers. Presentation and interpretation of results: Mapping the programs will allow identifying the interventions developed by health professionals for children, adolescents, and parents experiencing parental cancer. Conclusion: The review resulting from this protocol will allow selecting the best interventions for designing a nursing intervention program for adolescents and parents experiencing parental cancer. Keywords: parental cancer; intervention; children; adolescents; nursing Resumen Contexto: El cáncer parental tiene un impacto en los niños, los adolescentes y la unidad familiar. La aplicación de los programas de intervención permite desarrollar las habilidades parentales y genera resultados positivos en los niños a nivel de comprensión del cáncer de los padres, desarrollo de mecanismos de afrontamiento (coping), mejora de la comunicación y de la relación padres-hijos, lo que permite empoderar a la familia para afrontar el cáncer. Objetivo: Mapear los programas de intervención existentes dirigidos a los niños, adolescentes y padres que experimentan el cáncer parental (pacientes oncológicos). Método de revisión: Metodología de revisión sistemática exploratoria (scoping review) propuesta por el Joanna Briggs Institute. El proceso de análisis, extracción y síntesis de datos será desarrollado por revisores independientes. Presentación e interpretación de los resultados: El mapeo de los programas permitirá identificar las intervenciones desarrolladas por los profesionales de la salud, dirigidas a los niños, adolescentes y padres que experimentan el cáncer parental. Conclusión: La revisión resultante del protocolo elaborado permitirá seleccionar las intervenciones apropiadas para el diseño de un programa de intervención de enfermería dirigido a adolescentes y padres que experimentan el cáncer parental. Palabras clave: cáncer parental; intervención; niños; adolescentes; enfermería Como citar este artigo: Sousa, A. F., Rodrigues, J. F., Dias, M. J., Cardoso, D. F., Ferreira, M. M., & Lomba, M. L. (2021). Programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais a vivenciar cancro parental: Protocolo de scoping review. Revista de Enfermagem Referência, 5(8), e20175. https://doi.org/10.12707/RV20175

Revista de Enfermagem Referência 2021, Série V, nº8: e20175 DOI: 10.12707/RV20175

pp. 1 - 8


Sousa, A. F. et al.

Introdução De acordo com o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018) registaram-se em todo o mundo 18 milhões de novos casos de cancro, sendo a taxa de incidência, no ano de 2018, de 23,4% na Europa. Em Portugal, a média é de 260 novos casos por cada 100.000 habitantes (Organisation for Economic Co-operation and Development [OECD], 2019). Nas últimas décadas verificou-se um acréscimo acentuado na incidência de cancro nos grupos etários mais jovens, estimando-se a nível internacional que 15% das pessoas com cancro têm entre os 20 e os 50 anos (O´Neill et al., 2019). Em Portugal não são conhecidas as taxas de incidência do cancro nestas faixas etárias, no entanto, os tipos de cancro com um maior número de novos casos (colorretal, mama e próstata) são cada vez mais comuns nos adultos jovens. As implicações de um diagnóstico de cancro nestas faixas etárias diferem das encontradas nas pessoas idosas, pois muitas ainda trabalham ou estudam, e muitos são pais de filhos menores de 18 anos (Alexander et al., 2019). Nas últimas décadas, os avanços da ciência levaram a que a abordagem do doente oncológico, quer na fase de diagnóstico, quer ao longo da progressão da doença seja holística, sendo fundamental integrar a família, nomeadamente os filhos (crianças/adolescentes) dos doentes. Apesar de não existir um conceito de cancro parental, este compreende a vivência de cancro, numa idade precoce da vida adulta, em pessoas com filhos dependentes (Barbosa, 2015), o que representa um fator significativo de stress para doentes e filhos, devido à doença e à potencial ameaça de morte, podendo esta situação originar alterações na interação pais-filhos (Su & Ryan-Wenger, 2007). Nos últimos 20 anos verificou-se um aumento de estudos sobre o impacto do cancro parental nas crianças e adolescentes, apontando os resultados para um risco aumentado de problemas psicológicos e sociais nesta população (O´Neill et al., 2019; Visser et al., 2004). Os estudos centram-se essencialmente nos problemas adaptativos das crianças e adolescentes, bem como na relação entre as características individuais e a adaptação ao cancro parental. No entanto, constata-se a inexistência de um modelo teórico estruturado que permita sustentar os programas de intervenção destinados às crianças/adolescentes e pais (Su & Ryan-Wenger, 2007). De acordo com Ellis et al. (2016), as intervenções implementadas nos programas devem promover o conhecimento e a compreensão sobre a patologia (cancro); facilitar a comunicação familiar; reforçar a importância do suporte através do grupo de pares; proporcionar a normalização das emoções e experiências; promover o desenvolvimento de mecanismos de coping e preparar para a perda iminente de um dos pais e/ou intervir no processo de luto. O facto de os profissionais de saúde que trabalham em hospitais especializados na prestação de cuidados a adultos poderem apresentar experiência limitada no cuidar de crianças e adolescentes, torna as equipas insuficientemente qualificadas para intervir junto dos filhos dos doentes (Alexander et al., 2019). E, atendendo a que o

foco principal dos profissionais de saúde nestas instituições é o doente oncológico; as necessidades educacionais, sociais e emocionais dos descendentes são, muitas vezes, pouco consideradas, apesar de estas famílias necessitarem de orientação profissional que contribua para a adaptação à doença e bem-estar da díade (Arber & Odelius, 2017; Philips & Prezio, 2016). Assim, a prestação de cuidados aos doentes oncológicos deve incluir a avaliação da família, nomeadamente da componente estrutural a nível interno, e identificar a existência de crianças e/ou adolescentes no agregado familiar (Figueiredo & Martins, 2010; Su & Ryan-Wenger, 2007). Estudos da avaliação da eficácia dos programas de intervenção para a adaptação ao cancro parental demonstram a existência de melhorias significativas nas crianças e adolescentes, nomeadamente a nível dos sintomas de stress pós-traumático e depressão (Alexander et al., 2019), qualidade de vida, desenvolvimento de mecanismos de coping, e aperfeiçoamento da comunicação e relacionamento pais-filhos (Su & Ryan-Wenger, 2007), permitindo aumentar a capacidade da família para lidar com o cancro. Apesar da relevância do fenómeno cancro parental e do impacto no doente e nos filhos, desconhece-se existirem em Portugal programas com intervenções dirigidas para a díade pais-filhos. Acresce ainda o facto de existirem poucos estudos na área e de as intervenções serem escassas e não validadas em contextos clínicos (Alexander et al., 2019). Alguns autores (Alexander et al., 2019; Inhestern et al., 2016; Su & Ryan-Wenger, 2007) mencionam a necessidade do desenvolvimento de intervenções padronizadas para apoio às crianças/adolescentes e pais que vivenciam o cancro parental. Tendo em conta esta problemática, realizou-se uma pesquisa de revisões na MEDLINE (via PubMed), CINAHL Complete (via EBSCO) e Cochrane Database of Systematic Reviews, tendo sido encontradas algumas revisões da literatura referentes a programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais que vivenciam a experiência do cancro parental (Alexander et al., 2019; Ellis et al., 2016; Inhestern et al., 2016; Su & Ryan-Wenger, 2007). O estudo realizado por Su e Ryan-Wenger (2007) é uma revisão integrativa da literatura, que teve como objetivo principal sintetizar a literatura existente sobre o tema e desenvolver um modelo teórico que sustentasse os programas de intervenção. A revisão sistemática da literatura desenvolvida por Ellis et al. (2016) excluía todo o tipo de revisões da literatura bem como programas de intervenção dirigidos apenas aos pais (doentes oncológicos), uma vez que a população-alvo do estudo eram crianças e adolescentes. A revisão sistemática realizada por Inhestern et al. (2016), excluía os estudos cujos programas não integrassem intervenções estruturadas, podendo, eventualmente, excluir programas promotores da adaptação ao fenómeno do cancro parental. A revisão sistemática desenvolvida por Alexander et al. (2019), envolvia apenas estudos com programas cuja população-alvo fossem crianças/adolescentes com pais com cancro, excluindo programas de intervenção dirigidos para os pais que, consequentemente, visassem dar resposta às necessidades da díade. Esta revisão diferencia-se das revisões sistemáticas anterio-

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res nesta área na medida em que prevê o mapeamento de programas de intervenção dirigidos às crianças/adolescentes, pais (doentes oncológicos), ou à díade, identificando a tipologia das intervenções implementadas bem como quais destas são desenvolvidas pelos diferentes profissionais de saúde com o objetivo de dar resposta às necessidades emergentes da população-alvo. Considerando o descrito anteriormente, a presente scoping review tem como objetivos: mapear os programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais, ou díade (doentes oncológicos e seus filhos) a vivenciar o cancro parental; identificar a tipologia das intervenções propostas nos programas; e identificar e descrever os programas de intervenção que são desenvolvidos por profissionais de saúde, nomeadamente enfermeiros. Desta forma, pretende-se dar resposta à questão de revisão: “Quais os programas que existem, dirigidos a crianças, adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental?” e, consequentemente, às seguintes subquestões: “Que intervenções são desenvolvidas nos programas de intervenção dirigidos a crianças, adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental?” e “Qual a tipologia das intervenções desenvolvidas pelos diferentes profissionais de saúde nos programas de intervenção dirigidos a crianças, adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental?”.

Método de Revisão Esta scoping review seguirá a metodologia recomendada pelo Joanna Briggs Institute (JBI; Peters et al., 2020), e de acordo com Preferred Reporting Items for Systematic Reviews - Scoping Reviews (PRISMA-ScR). Serão definidos os critérios de elegibilidade com base na população, conceito e contexto (PCC), de acordo com a metodologia proposta pelo JBI (Peters et al., 2020). A scoping review incluirá estudos cuja população são crianças e adolescentes, até aos 19 anos, com pelo menos um dos pais diagnosticado com cancro, independentemente do tipo de cancro e estadio da doença. No que concerne ao conceito, pretende-se a inclusão de estudos que abordem programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais que vivenciam o cancro pa-

rental, independentemente da tipologia das intervenções implementadas (psicoeducacionais e psicossociais), desenvolvidos por profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos), assistentes sociais, professores, voluntários e/ou outros. Os programas de intervenção têm como objetivo promover o ajuste da criança e adolescente ao cancro parental (Su & Ryan-Wenger, 2007), e atender às necessidades dos pais (doentes oncológicos), capacitando-os ao longo do processo de doença no desempenho das suas competências parentais e simultaneamente na vivência da doença oncológica (Hauken et al., 2019). Relativamente ao contexto, serão considerados todos os contextos de intervenção, sem qualquer limitação: instituições de saúde (hospitais gerais ou oncológicos, centros de saúde), fundações, domicílio dos doentes e ambientes lúdicos (campos de férias). Relativamente ao tipo de estudo, serão incluídos estudos qualitativos, quantitativos ou mistos (descritivo-exploratório, ensaios clínicos randomizados e não randomizados, estudos de intervenção e observacionais), de qualquer nível de evidência, revisões da literatura e literatura cinzenta. Serão incluídos estudos em idioma inglês, português e espanhol e sem limite temporal. Estratégia de pesquisa e identificação dos estudos Relativamente à estratégia de pesquisa delineada e de identificação dos estudos, irão ser utilizadas as seguintes bases de dados eletrónicas: MEDLINE (via PubMed), CINAHL Complete (via EBSCO), Academic Search Complete (via EBSCO), MedicLatina (via EBSCO), Nursing & Allied Health Collection (via EBSCO), SciELO, Cochrane Central Register of Controlled Trials e Cochrane Database of Systematic Reviews. De modo a pesquisar estudos não publicados, será realizada a pesquisa nos Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal, OpenGrey e Dart-Europe. A pesquisa realiza-se em três etapas. Numa fase inicial, com o objetivo de identificar as palavras-chave utilizadas, com maior frequência, nos títulos e resumos, bem como os termos de indexação utilizados na literatura, foi realizada uma pesquisa restrita nas bases de dados MEDLINE (via PubMed) e CINAHL Complete (via EBSCO; Tabela 1).

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Tabela 1 Pesquisa MEDLINE e CINAHL, no dia 07 de abril de 2020 Base de dados

Estratégia

MEDLINE (via PubMed)

Search ((((((program*[Title/Abstract] OR service*[Title/Abstract] OR intervention*[Title/Abstract] OR project*[Title/Abstract]))) OR ((“Program Development”[Mesh]) OR “Program Evaluation”[Mesh]))) AND ((((child*[Title/Abstract] OR adolescent*[Title/Abstract] OR youth[Title/ Abstract] OR teen*[Title/Abstract] OR Infant*[Title/Abstract] OR famil*[Title/Abstract] OR parent*[Title/Abstract] OR mother*[Title/Abstract] OR father*[Title/Abstract] OR spouses[Title/ Abstract] OR offspring[Title/Abstract]))) OR ((((“Infant”[Mesh]) OR “Child”[Mesh]) OR “Adolescent”[Mesh]) OR “Parents”[Mesh]))) AND ((“parental cancer”[Title/Abstract] OR “parent with cancer”[Title/Abstract] OR “parents with cancer”[Title/Abstract] OR “relatives with cancer”[Title/ Abstract] OR “parent diagnosed with cancer”[Title/Abstract] OR “parent developing cancer”[Title/ Abstract] OR “family cancer”[Title/Abstract]))

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CINAHL Complete (via EBSCO)

(TI ( program* OR service* OR intervention* OR project* ) OR AB ( program* OR service* OR intervention* OR project* ) OR (MH “Program Development+”) OR (MH “Program Evaluation”)) AND (TI ( child* OR adolescent* OR youth OR teen* OR Infant* OR famil* OR parent* OR mother* OR father* OR spouses OR offspring ) OR AB ( child* OR adolescent* OR youth OR teen* OR Infant* OR famil* OR parent* OR mother* OR father* OR spouses OR offspring ) OR (MH “Infant+”) OR (MH “Child+”) OR (MH “Adolescence+”) OR (MH “Parents+”)) AND (TI ( “parental cancer” OR “parent with cancer” OR “parents with cancer” OR “relatives with cancer” OR “parent diagnosed with cancer” OR “parent developing cancer” OR “family cancer” ) OR AB ( “parental cancer” OR “parent with cancer” OR “parents with cancer” OR “relatives with cancer” OR “parent diagnosed with cancer” OR “parent developing cancer” OR “family cancer” ))

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Nº de artigos

Posteriormente, na segunda etapa, os termos naturais e as palavras-chave listadas serão combinadas de modo a formar uma expressão de pesquisa, sendo esta adaptada às especificidades de cada base de dados ou repositório. Na terceira e última etapa, com o intuito de identificar potenciais estudos a incluir na scoping review, serão analisadas as referências bibliográficas de todos os artigos e estudos selecionados na tentativa de identificar outros estudos passíveis de ser incluídos nesta revisão. Os resultados da pesquisa nas diferentes bases de dados serão exportados para o gestor de referências Mendeley Desktop (versão 1.19.4), através do qual serão identificados e removidos os registos duplicados. Seguidamente, será realizada a triagem dos estudos através da análise do título e resumo, com o intuito de verificar a elegibilidade dos documentos. Este processo será desenvolvido por três revisores independentes (AFS, JFR, MJD), recorrendo-se a um quarto elemento para clarificar quaisquer divergências

que possam existir no processo de seleção dos artigos. Caso seja necessário, os autores dos estudos serão contactados de modo a clarificar dúvidas ou fornecer informações adicionais que se consideram necessárias. Os documentos que cumpram os critérios de elegibilidade delineados passam para a fase seguinte, a leitura integral, ou seja, a análise do texto completo. Os resultados obtidos com o processo de triagem serão apresentados de acordo com as recomendações do PRISMA Extension for Scoping Reviews (Tricco et al., 2018). Extração de dados A extração dos dados será realizada com recurso a instrumentos desenvolvidos pelos revisores, para a presente revisão (Tabela 2 e 3) os quais poderão sofrer eventuais alterações após a análise dos dados obtidos nos artigos selecionados. Este processo será desenvolvido por três revisores independentes (AFS, JFR, MJD).

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Sousa, A. F. et al.

Tabela 2 Instrumento desenvolvido pelos revisores para a extração de dados: características do artigo INSTRUMENTOS EXTRAÇÃO DE DADOS Título da Revisão

Programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais que vivenciam a experiência do cancro parental: Protocolo de scoping review

Questões de revisão

“Quais os programas que existem, dirigidos a crianças, adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental?”; “Que intervenções são desenvolvidas nos programas de intervenção dirigidos a crianças, adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental?”; “Qual a tipologia das intervenções desenvolvidas pelos diferentes profissionais de saúde nos programas de intervenção dirigidos a crianças, adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental?”.

Metodologia (Mnemónica PCC)

População: Crianças e adolescentes, até aos 19 anos, com pelo menos um dos pais diagnosticado com cancro, independentemente do tipo de cancro e estadio da doença. Conceito: Programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais que vivenciam o cancro parental, independentemente da tipologia das intervenções implementadas (psicoeducacionais e psicossociais), desenvolvidos por profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos), assistentes sociais, professores, voluntários, e/ou outros. Contexto: Todos os contextos de intervenção, sem qualquer limitação: instituições de saúde (hospitais gerais ou oncológicos, centros de saúde), fundações, domicílio dos doentes e ambientes lúdicos (campos de férias).

CARACTERÍSTICAS DO ARTIGO Artigo

Título

Autores

Ano publicação País de origem

Desenho do estudo

Objetivo

Participantes

Contexto

Tabela 3 Instrumento desenvolvido pelos revisores para a extração de dados: resultados extraídos RESULTADOS EXTRAÍDOS

Artigo

Nome do programa

População-alvo do programa

Objetivos do programa

Síntese de dados Os dados serão apresentados em formato narrativo, com recurso a tabelas, sempre que necessário, tendo em consideração o objetivo e foco da scoping review. Este processo de síntese e apresentação dos resultados será realizado por cada um dos três revisores (AFS, JFR, MJD), de modo independente. Por forma a responder às questões de revisão delineadas, foram elaboradas tabelas síntese de dados. A Tabela 4, de identificação dos programas de

Estrutura do programa (Modelo-teórico, Periodicidade/Duração e Tipologia das sessões)

Intervenções propostas no programa (Tipologia e Descrição)

Profissionais de saúde que desenvolvem o programa

intervenção para crianças/adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental, encontra-se dividida em três secções de acordo com a população-alvo (díade, crianças/adolescentes e pais). A Tabela 5 destina-se à identificação da tipologia das intervenções realizadas nos programas bem como à sua descrição e identificação dos programas desenvolvidos por profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos) especificando qual a sua intervenção no desenvolvimento e implementação.

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Tabela 4 Instrumento para a síntese de dados: programas de intervenção para crianças/adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental por população-alvo. Programas de intervenção dirigidos à díade (n= -- estudos e n= --- intervenções) Estrutura do programa de intervenção Autor e ano do artigo

Nome do programa

População-alvo

Objetivos do programa

Profissionais de saúde do programa

Modelo-teórico

Periodicidade/ Duração das sessões

Tipologia das sessões

Programas de intervenção dirigidos às crianças e adolescentes (n= -- estudos e n= --- intervenções) Estrutura do programa de intervenção Autor e ano do artigo

Nome do programa

População-alvo

Objetivos do programa

Profissionais de saúde do programa

Modelo-teórico

Periodicidade/ Duração das sessões

Tipologia das sessões

Programas de intervenção dirigidos aos pais (n= -- estudos e n= --- intervenções) Estrutura do programa de intervenção Autor e ano do artigo

Nome do programa

População-alvo

Objetivos do programa

Profissionais de saúde do programa

Modelo-teórico

Periodicidade/ Duração das sessões

Tipologia das sessões

Tabela 5 Instrumento para a síntese de dados: tipologia das intervenções desenvolvidas pelos profissionais de saúde nos programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental Autor e ano do artigo

Programa de intervenção

Profissionais de Saúde

Apresentação e interpretação dos resultados O mapeamento dos programas de intervenção existentes, bem como das intervenções implementadas pelos profissionais de saúde dirigidas às crianças, adolescentes e pais que vivenciam o cancro parental poderá constituir uma ferramenta informativa de suporte na tomada de decisão e prática clínica dos profissionais de saúde, além de contribuir para a disseminação da evidência disponível sobre o tema.

Conclusão A literatura aponta para a necessidade de direcionar e centralizar as intervenções utilizadas para a díade crianças/adolescentes e pais, sendo posteriormente necessário desenvolver estudos de validação que sigam as diretrizes metodológicas apropriadas e que envolvam adequada-

Intervenções Tipologia

Descrição

mente as crianças/adolescentes e pais no processo de avaliação. Apesar das evidências científicas disponíveis, a prática clínica realizada não vai ao encontro das mesmas, não sendo implementados programas de intervenção na população-alvo. Neste sentido, pretende-se que a scoping review resultante deste protocolo responda aos objetivos formulados, através do mapeamento dos programas de intervenção dirigidos a crianças/adolescentes e pais a vivenciar o cancro parental, bem como a identificação da estrutura e tipologia das intervenções utilizadas nos programas e que intervenções são desenvolvidas pelos diferentes profissionais de saúde. Assim sendo, este protocolo constitui-se um ponto de partida para a posterior análise e sistematização das principais evidências existentes neste âmbito temático. Pretende-se que a scoping review resultante deste protocolo reúna informação pertinente que sirva de fundamentação para a construção de um programa de intervenção de enfermagem para adolescentes e pais que vivenciam

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Sousa, A. F. et al.

a experiência do cancro parental e se afigure como um contributo informativo que suporte a análise de práticas vigentes no âmbito do cancro parental. Contribuição de autores Conceptualização: Sousa, A. F., Ferreira, M. M., Lomba, M. L. Metodologia: Cardoso, D. F., Sousa, A. F. Validação: Ferreira, M. M., Lomba, M. L. Redação - rascunho original: Sousa, A. F., Rodrigues, J. F., Dias, M. J. Redação - análise e edição: Sousa, A. F., Rodrigues, J. F., Dias, M. J. Referências bibliográficas Alexander, E., O´Connor, M., Ress, C., & Halkett, G. (2019). A systematic review of the current interventions available to support children living with parental cancer. Patient Education and Counseling, 102(10), 1812-1821. https://doi.org/10.1016/j. pec.2019.05.001 Arber, A., & Odelius, A. (2017). Experiences of oncology and palliative care nurses when supporting parents who have cancer and dependent children. Cancer Nursing, 41(3), 1-7. http://doi:org/10.1097/ NCC.0000000000000491 Barbosa, P. R. (2015). Adaptação da família com crianças/adolescentes ao diagnóstico de cancro parental [Dissertação de mestrado]. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. https:// repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/90624/2/172184.pdf Ellis, S. J., Wakefield, C. E., Antill, G., Burns, M., & Patterson, P. (2016). Supporting children facing a parent´s cancer diagnosis: A systematic review of children´s psychosocial needs and existing interventions. European Journal of Cancer Care, 26(1), 1-22. https://doi.org/10.1111/ecc.12432 Figueiredo, M. H., & Martins, M. M. (2010). Avaliação familia: Do modelo Calgary de avaliação da família aos focos da prática de enfermagem. Ciência Cuidado e Saúde, 9(3), 552-559. https:// doi.org/10.4025/cienccuidsaude.v9i3.12559 Hauken, M. A., Dyregrov, K., & Senneseth, M. (2019). Characteristics

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

Cuidados à pessoa idosa

BOAS PRÁTICAS

Folhetos Informativos Baseados em Evidência para Profissionais de Saúde

A efetividade de intervenções para prevenir a progressão da pré-fragilidade e fragilidade em idosos Recomendações* •

Os idosos pré-frágeis ou frágeis institucionalizados ou a viver na comunidade devem ter acesso a exercício físico realizado em grupo para prevenir a progressão da fragilidade. (Grau A)

Os idosos a viver na comunidade podem ter acesso a aulas de atividade física acompanhadas por treino em casa para reduzir o nível de fragilidade. (Grau B)

A suplementação nutricional é fortemente recomendada para idosos pré-frágeis e frágeis que vivem na comunidade para prevenir a progressão da fragilidade. (Grau A)

O exercício físico acompanhado por intervenções nutricionais é recomendado para reduzir ou adiar efetivamente a progressão da fragilidade ou pré-fragilidade. (Grau B)

Os idosos pré-frágeis e frágeis a viver na comunidade podem ter acesso a treino cognitivo de modo a prevenir a progressão da fragilidade. (Grau B)

Idosos a viver na comunidade podem ter acesso uma única visita domiciliária por um profissional treinado para prevenir ou adiar a progressão da pré-fragilidade ou fragilidade. (Grau B)

Recomenda-se a adoção em larga escala de intervenções adaptadas às necessidades individuais, tendo em conta a condição clínica, enquanto estratégia efetiva para a redução de custos. (Grau B)

Os profissionais de saúde podem considerar oferecer sessões educativas individuais ou em grupo a idosos nãoinstitucionalizados ou a viver na comunidade para prevenir a progressão da pré-fragilidade e fragilidade. (Grau B)

*Pode consultar uma definição dos Graus de Recomendação do JBI aqui: https://jbi.global/jbi-approach-to-EBHC

Fonte de Informação Este Folheto Informativo de Boas Práticas resultou de uma revisão sistemática publicada em 2018 na JBI Database of Systematic Reviews and Implementation Reports.1 O relatório da Revisão Sistemática está disponível no JBI (www.jbi.global)

Enquadramento A fragilidade é um processo dinâmico caracterizado por uma espiral de declínio em vários domínios funcionais. A fragilidade predispõe a quedas, fraturas, perda de capacidade funcional, dependência, hospitalização, institucionalização, podendo conduzir à morte. O diagnóstico de fragilidade deve incluir pelo menos três dos seguintes marcadores fenotípicos: fraqueza com diminuição da força muscular (por exemplo, diminuição da força de preensão), lentidão generalizada, diminuição de equilíbrio e mobilidade, fadiga ou exaustão, níveis baixos de atividade física e perda de peso involuntária. A pré-fragilidade é caracterizada pela presença de apenas um ou dois destes marcadores. Uma revisão sistemática evidenciou uma prevalência de 4%-17% de fragilidade e 19%-53% de préfragilidade em idosos a viver na comunidade (com 65 ou mais anos), dependendo da definição operacional de fragilidade adotada e da população estudada. Assim, esta condição clínica é relevante para todos os profissionais de saúde, assistentes sociais, investigadores e decisores políticos. Embora tenham

sido propostas várias intervenções relacionadas com atividade física, oferta de cuidados de saúde e cuidados sociais, estimulação cognitiva, nutrição, medicação e aspetos psicossociais, o impacto destas intervenções nos resultados clínicos ainda não é claro. É necessário analisar a efetividade das intervenções para prevenir a progressão da pré-fragilidade e fragilidade nos idosos em termos dos resultados em saúde e da relação custo-efetividade.

Objetivos O objetivo deste Folheto Informativo é apresentar a melhor evidência disponível relativamente à efetividade clínica e ao custo-efetividade de intervenções para prevenir a progressão da pré-fragilidade e fragilidade em idosos (com 65 ou mais anos). Tipos de intervenção A revisão sistemática considerou estudos que avaliaram intervenções focadas na prevenção da evolução da préfragilidade e fragilidade em idosos (com 65 ou mais anos) em qualquer tipo de contexto (comunidade, lares e hospitais).1 As intervenções incluíram, mas não se limitaram a atividade física, oferta de cuidados de saúde e cuidados sociais, intervenções psicossociais, cognitivas e nutricionais e programas multifatoriais.

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A efetividade de intervenções para prevenir a progressão da pré-fragilidade e fragilidade em idosos Qualidade da investigação Todos os estudos incluídos foram avaliados por pares de revisores independentes. Nenhum estudo focado na componente clínica/médica obteve 100% na análise crítica; três estudos obtiveram 90%; três estudos obtiveram 80% e os restantes estudos obtiveram entre 50% e 70%. Em relação aos dois estudos que abordaram a componente económica, num deles a qualidade metodológica foi baixa e no outro foi moderada (20% e 70%). A limitação metodológica deveu-se em grande parte à não ocultação dos participantes. Contudo, as dificuldades de ocultação neste tipo de intervenções foram tidas em conta.

Resultados Foram incluídos na revisão 21 estudos randomizados controlados (ERC) publicados entre 2002 e 2016. Todos os estudos abordavam a componente clínica/médica da revisão e dois estudos também apresentaram dados sobre a componente económica. Os estudos recrutaram participantes (n=5275; 49% do sexo feminino) da comunidade (n=8), unidades de cuidados de saúde primários (n=3), unidades de ambulatório e internamento (n=3), um serviço de urgência (n=1), uma instituição de cuidados continuados (n=1), e outros contextos (n=6). As intervenções foram implementadas na comunidade (n=14), cuidados de saúde primários, centros médicos (medical centers)a e hospitais comunitários (community hospitals)b (n=4), uma instituição de cuidados a idosos (elderly care institution)c (n=1), uma instituição geriátrica (institute of gerontology)d (n=1), ou uma combinação dos mesmos (n=1). O tamanho da amostra nestes estudos variou entre 24 e 1338 participantes e a mesma amostra foi usada em dois estudos. Dos 21 estudos incluídos, 12 foram realizados na Europa, cinco na Ásia, dois nos Estados Unidos da América, um no México e um na Austrália.

Outros estudos (n=7) avaliaram a fragilidade de forma abrangente considerando os seguintes aspetos: estado funcional e cognitivo, quedas, dependência nas atividades de vida diária (AVD), depressão, desnutrição, incontinência, polimedicação e comorbilidade. Cinco estudos utilizaram um conjunto muito limitado de indicadores: presença de marcha lenta e/ou baixa atividade física (n=1), presença de baixa atividade física e autorrelato de exaustão (n=1), presença de baixa mobilidade e má nutrição (n=1), presença de fraqueza e alterações no desempenho físico (n=1) e dificuldades na realização das AVD (n=1). Os estudos diferem na forma como os indicadores foram avaliados. Foram incluídas 33 intervenções que referiram o resultado primário da fragilidade, enquanto alguns estudos também incluíram dados sobre os resultados secundários. As intervenções foram classificadas da seguinte forma: programas de exercício físico, gestão individual e personalizada da condição clínica, treino cognitivo, suplementação nutricional, substituição hormonal, programas de visitas domiciliárias, sessões de grupo, terapia psicológica, sessão educativa individual e tratamento combinado. Foram reportados os seguintes comparadores: cuidados habituais, serviços comunitários, educação, cuidados habituais com educação, placebo, cuidados habituais com placebo, rastreio sem gestão posterior das necessidades individuais e exercícios de mobilidade. Num estudo, o grupo de controlo incluiu participantes que descontinuaram a intervenção e dois estudos não descreveram a intervenção de controlo de forma detalhada. Além disso, dois grupos apresentaram dados económicos específicos; outro estudo comparou os custos e o custoefetividade da intervenção versus os cuidados habituais; e outro estudo analisou os custos dos serviços de saúde que realizaram avaliação e gestão geriátrica em comparação com os cuidados habituais em regime de ambulatório e internamento.

Em nove estudos, a definição de fragilidade baseou-se nos indicadores fenotípicos do Cardiovascular Health Study (CHS)2, nomeadamente fraqueza, fadiga/exaustão, perda de peso, níveis baixos de atividade física e lentidão. Um destes estudos ainda teve em conta a diminuição do equilíbrio e outro estudo usou o Rockwood Frailty Index.3

a No processo de tradução optou-se por realizar uma tradução literal. Neste contexto quando referimos “centros médicos (medical centers)” estamos a referirmo-nos a “Veteran Affairs Medical Centers” que significa: centros médicos que oferecem múltiplos serviços a veteranos, incluindo os serviços básicos tradicionais como cirurgia, cuidados intensivos, psiquiatria, ortopedia, farmácia, radiologia e fisioterapia. Especialidades médicas e cirúrgicas como, audiologia e terapia da fala, dermatologia, estomatologia, geriatria, neurologia, oncologia, podologia, urologia, prostéticos e oftalmologia. Alguns centros mais avançados podem oferecer serviços mais avançados como transplante de órgãos e cirurgia plástica. b No processo de tradução optou-se por realizar uma tradução literal. Neste contexto quando referimos “hospitais comunitários (community hospitals)” significa: pequenos hospitais que servem uma certa comunidade, e que não tem todos os recursos e infraestruturas de um centro hospitalar universitário, mas responde e adapta-se às necessidades da população. Oferece serviços de internamento, diagnóstico, promoção da saúde, reabilitação, cuidados paliativos, entre outros.

No processo de tradução optou-se por realizar uma tradução literal. Neste contexto quando referimos “instituição de cuidados a idosos (elderly care institution)” significa: instituição de cuidados a idosos institucionalizados.

c

d No processo de tradução optou-se por realizar uma tradução literal. Neste contexto quando referimos “instituição geriátrica (institute of gerontology)” significa: Registo de Residente Básico de pessoas idosas (Basic Resident Register of elderly people). Mais informação sobre o que significa Registo Básico pode ser consultada em: https://www.soumu.go.jp/main_sosiki/jichi_gyousei/c-gyousei/zairyu/english/index.html

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A efetividade de intervenções para prevenir a progressão da pré-fragilidade e fragilidade em idosos Programas de exercício físico Os programas de exercício físico incluíram Tai Chi, treino de resistência e treino multicomponente abrangente. Os programas de exercício físico implementados sob a forma de aulas (incluindo aqueles com algum tipo de treino em casa) demonstraram ser efetivos na prevenção da progressão da préfragilidade e fragilidade em idosos institucionalizados e a viver na comunidade. Todavia, os programas de exercício implementados exclusivamente em casa ou de forma individual não foram considerados efetivos nesta população. Gestão individual da condição A gestão individual e personalizada da condição clínica obteve resultados mistos na diminuição da fragilidade em grupos de participantes frágeis ou pré-frágeis em contexto comunitário. Contudo, não há evidência que suporte a gestão individual e personalizada da condição clínica para prevenir a progressão da pré-fragilidade ou fragilidade nos idosos que vivem na comunidade. Foram observados efeitos positivos na alteração da condição de fragilidade quando as sessões educativas para participantes em risco de fragilidade foram realizadas por um geriatra. Tratamento multidisciplinar Um programa de longa-duração de exercícios de multitarefa baseados em música demostrou reduzir a fragilidade, nomeadamente através da melhoria da velocidade da marcha e da força de preensão manual. As intervenções, com elementos para melhorar a atenção e estimular a memória de curto prazo, reduziram os níveis de fragilidade entre a avaliação inicial e o follow-up aos 12 meses (seis meses após a intervenção). Apesar disso, outra intervenção baseada na terapia (psicológica) de resolução de problemas não teve impacto na fragilidade. Suplementação nutricional e hormonal Nos programas de atividade física acompanhados por suplementação nutricional e treino cognitivo foi observado impacto positivo significativo na fragilidade no follow-up (a três, seis e 12 meses), independentemente do tipo de suplemento (membrana do glóbulo de gordura do leite (MFGM) ou proteína). Um estudo demonstrou que a suplementação nutricional isolada provou ser efetivo quando a MFGM foi dada a mulheres frágeis a viver na comunidade. A substituição hormonal usada num grupo de homens de forma independente não influenciou a fragilidade. Programas de visitas domiciliárias Nove meses de visitas domiciliárias semanais focadas em alterações ao estilo de vida tiveram efeitos positivos nos idosos a viver na comunidade apenas quando estes recebiam um botão de emergência. Nenhum efeito foi verificado quando os participantes não recebiam o botão de emergência ou em 18 meses de visitas Nenhum efeito foi verificado quando os participantes não recebiam o botão de emergência ou em 18 meses de visitas domiciliárias centradas na elaboração de um plano de cuidados. Por outro lado, uma única visita domiciliária preventiva a idosos não frágeis foi considerada efetivo em adiar a progressão da fragilidade sempre que esta era realizada por um profissional de saúde, tal como um enfermeiro.

Custo-efetividade Dois estudos apresentaram evidência relacionada com a efetividade económica na redução da fragilidade: um estudo foi realizado com residentes na comunidade e outro em populações em regime de ambulatório e internamento. O primeiro estudo apresentou uma boa relação custo/benefício, 1 pp.210, especialmente nos participantes muito frágeis, em comparação com os cuidados habituais. O segundo estudo analisou os custos associados à gestão e avaliação geriátrica e constatou que os custos totais num ano relativos à intervenção e aos cuidados habituais foram semelhantes.

Conclusão Esta revisão demonstrou resultados contraditórios relativos à efetividade das várias intervenções na área da fragilidade. Existe evidência para suportar intervenções ao nível do exercício físico (em grupo e não individual) e da nutrição por terem sido as mais bem-sucedidas na redução da fragilidade em homens e mulheres de todos os grupos etários com 65 ou mais anos. As intervenções implementadas com base no exercício físico e/ou suplementação nutricional provaram ser mais efetivas em reverter, adiar ou reduzir os elementos de fragilidade, mas apenas quando implementadas através de aulas ou em grupo. As visitas domiciliárias eram largamente suportadas apesar de não serem universalmente efetivas. Contudo, a adição do botão de emergência indica um aumento do envolvimento do enfermeiro e da confiança do doente. Além disso, não há evidência que sustente a utilização de programas individuais de exercício físico, programas baseados em atividade física exclusivamente no domicílio, terapia de resolução de problemas ou terapia de substituição hormonal para a prevenção da progressão da pré-fragilidade e fragilidade em idosos a viver na comunidade. Existem poucos estudos sobre a fragilidade em idosos a viver na comunidade que utilizem escalas validadas ou medidas de avaliação da fragilidade antes e depois da intervenção que não sejam específicas para a doença. Nenhum dos estudos comparou a efetividade entre homens e mulheres. A heterogeneidade no contexto e os tipos de intervenções nos 21 ERC impediu a realização da meta-análise. As diferenças entre estudos nos quais os resultados foram inconsistentes podem ser explicadas pelo contexto (contexto cultural e geográfico), pela adesão ao protocolo de intervenção ou pelo conteúdo e padrão dos cuidados habituais na comunidade. Oferecer uma gestão individual e personalizada de uma condição de fragilidade demonstrou reduzir os custos para os idosos da comunidade em comparação com os cuidados habituais. A gestão individual e personalizada não aumentou os custos totais dos cuidados com doentes hospitalizados, sendo que os custos foram iguais quando realizado com doentes em ambulatório. Os autores referiram que a realização de programas individuais de exercício físico, programas de exercício físico exclusivamente no domicílio, a terapia de resolução de problemas ou a terapia de substituição hormonal não demonstraram prevenir a progressão da pré-fragilidade e fragilidade em idosos a viver na comunidade.

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A efetividade de intervenções para prevenir a progressão da pré-fragilidade e fragilidade em idosos Implicações para prática As intervenções direcionadas para reverter, adiar ou reduzir a fragilidade são efetivas em homens e mulheres, frágeis e préfrágeis e adultos com idade igual ou superior a 65 anos. Baseado nos resultados da revisão sistemática, as intervenções baseadas em atividade física são recomendadas para prevenir a progressão da fragilidade ou da pré-fragilidade, quando realizadas em sessões em grupo, com ou sem treino no domicílio. Recomenda-se ainda incorporar componentes de exercício físico e nutrição nos programas. Enquanto estratégia de redução de custos, a gestão individual e personalizada de uma condição de fragilidade, comparativamente aos cuidados habituais, deve ser adotada em larga escala. Não houve evidência que sustentasse os programas individuais de exercício físico, os programas baseados em atividade física exclusivamente no domicílio, a terapia de resolução de problemas ou a terapia de substituição hormonal enquanto intervenções para a prevenção da progressão da pré-fragilidade e fragilidade em idosos a viver na comunidade. Figura 1: A efetividade de intervenções para a prevenção da progressão da pré-fragilidade e fragilidade em pessoas idosas.

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A efetividade de intervenções para prevenir a progressão da pré-fragilidade e fragilidade em idosos

Figura 1: A efetividade de intervenções para a prevenção da progressão da pré-fragilidade e fragilidade em pessoas idosas.

Participantes Condição/Diagnóstico ou Apresentação

Um participante/ator, por exemplo profissional de saúde específico, um grupo de doentes ou cuidador. Pode incluir apresentação Uma condição ou diagnóstico, por exemplo “ferida aguda”, ou uma condição específica que tenha surgido, por exemplo “infeção".

Ação Contexto

Uma ação sugerida que possa ser realizada bem como um grau de recomendação Um contexto ou situação específica, por exemplo “serviço de urgência” ou “clínica de saúde remota”

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A efetividade de intervenções para prevenir a progressão da pré-fragilidade e fragilidade em idosos Referências Bibliográficas

Agradecimentos

1. Apóstolo J, Cooke R, Bobrowicz-Campos E, Santana S, Marcucci M, Cano A, et al. Effectiveness of interventions to prevent pre-frailty and frailty progression in older adults: a systematic review. JBI, EBP Database. 2018; 16(1):140-232.

Este Folheto informativo de Boas Práticas foi desenvolvido pelo JBI e revisto por revisores nomeados de Centros Colaboradores Internacionais do JBI.

2. Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol Biol Med Sci. 2001;56(3):M146-56. 3. Rockwood K, Mitnitski A, MacKnight C. Some mathematical models of frailty and their clinical implications. Rev Clin Gerontol. 2001;12(2):109-17.

Autor do sumário Tania S Marin1 1

JBI, Universidade de Adelaide, Austrália do Sul, Austrália.

Como citar este Folheto Informativo de Boas Práticas: Marin T S. A efetividade de intervenções para prevenir a progressão da pré-fragilidade e fragilidade em idosos [Folheto Informativo de Boas Práticas]. JBI EBP Database. 2019; 21(2):1-5

Este Folheto Informativo de Boas Práticas foi desenvolvido pelo JBI com base nos resultados de uma revisão sistemática publicada no JBI Evidence Synthesis. Cada Folheto Informativo de Boas Práticas foi submetido a uma revisão de duas fases por pares nomeados peritos na área. Nota: A informação neste Folheto Informativo de Boas Práticas deve ser utilizada apenas por especialistas na área sobre a qual a informação incide. Embora tenham sido desenvolvidos esforços para garantir que este Folheto Informativo de Boas Práticas sintetizasse a investigação existente e o consenso de peritos, é excluída, dentro dos limites permitidos pela lei, qualquer perda, dano, custo, despesa ou risco resultantes de forma direta ou indireta do recurso a esta informação (que surja em forma de contrato, negligência ou outro). Reproduzido após autorização do JBI. Copyright © 2020, JBI, Faculty of Health and Medical Sciences, The University of Adelaide, SA 5006, AUSTRALIA Phone: +61 8 8313 4880 Email: jbi@adelaide.edu.au | https://jbi.global JBI EBP Database 21(2) 2019 | 6

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REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA homepage: https://rr.esenfc.pt/rr/ ISSNe: 2182.2883

Cuidados à pessoa idosa

BOAS PRÁTICAS

Folhetos Informativos Baseados em Evidência para Profissionais de Saúde

A efetividade de intervenções complexas para a prevenção de quedas em estruturas residenciais para idosos Recomendações* •

Para reduzir significativamente o número de quedas em idosos em estruturas residenciais para idosos (ERPI), são recomendadas intervenções complexas para a prevenção de quedas. Estas intervenções complexas devem ser:

Multifatoriais (por exemplo, exercício, reavaliação da medicação, suplementação vitamínica) e implementadas por uma equipa multidisciplinar;

A vários níveis (ao nível dos residentes, da infraestrutura e da organização) e implementadas através de recursos adicionais, tais como um aumento do número de profissionais de enfermagem, especialistas na área das quedas e fisioterapeutas. (Grau B)

As estruturas residenciais para idosos e as organizações devem implementar intervenções complexas sustentáveis para a prevenção de quedas que expliquem de que forma os recursos são alocados. (Grau B)

*Pode consultar uma definição dos Graus de Recomendação do JBI aqui: https://jbi.global/jbi-approach-to-EBHC

Fonte de Informação Este Folheto Informativo de Boas Práticas resultou de uma revisão sistemática publicada em 2018 na JBI Database of Systematic Reviews and Implementation Reports.1 O relatório da Revisão Sistemática está disponível no JBI (www.jbi.global)

Enquadramento Em estruturas residenciais para idosos, são reportadas cerca de 13 quedas por cada 1000 dias de cama, sendo que metade dos residentes sofrem uma queda nos primeiros 12 meses após serem admitidos na ERPI.1 Verificam-se lesões físicas em 25% a 30% das quedas, podendo estas resultar em perda de confiança e independência, redução da qualidade de vida e sofrimento significativo.1 Nesta população já foram testadas intervenções bem-sucedidas, abrangendo desde estratégias individuais (por exemplo, exercício, reavaliação da medicação, suplementação vitamínica) a abordagens multifatoriais implementadas por uma equipa multidisciplinar. Todavia, a resolução destas questões complexas exige uma colaboração entre gestores, equipa e investigadores de forma a introduzir mudanças a vários níveis dentro de uma organização. Investigadores e profissionais de saúde na área das quedas estão a implementar e a avaliar intervenções complexas a vários níveis para reduzir as quedas em residentes das ERPI. As intervenções complexas na área das quedas são aquelas que são implementadas a vários níveis (ao nível da organização, da infraestrutura e do residente). As intervenções organizacionais são aquelas que envolvem quadros de chefia e estão associadas geralmente a mudanças organizacionais e de práticas com impacto nos cuidados prestados aos doentes. As intervenções ao nível da infraestrutura são aquelas que envolvem diretamente as equipas das ERPI. As intervenções ao nível dos residentes são aquelas que envolvem a participação dos idosos residentes. Contudo, há uma carência de evidências sintetizadas que possam ser aplicadas nestas

estratégias de prevenção de quedas ao nível organizacional devido à variabilidade de critérios de inclusão e resultados utilizados nas revisões, gerando incerteza sobre a efetividade das intervenções complexas a vários níveis.

Objetivos O objetivo deste Folheto Informativo de Boas Práticas é apresentar a melhor evidência disponível sobre a efetividade de intervenções complexas na prevenção de quedas na população das ERPI ao nível da organização, da infraestrutura e dos residentes. Tipos de intervenção Os estudos analisados incluíram intervenções orientadas para mudanças em dois ou mais níveis. Todos os tipos de intervenção envolveram uma combinação de equipas unidisciplinares, multidisciplinares ou colaborativas para a melhoria da qualidade, bem como intervenções múltiplas ou multifatoriais para a prevenção de quedas. Alguns exemplos de intervenções ao nível organizacional incluem mudanças nas políticas relativas às quedas ou à prevenção de quedas e alterações ambientais, tais como auditorias e reformas. Ao nível da infraestrutura, destacam-se a formação da equipa, alterações na escala de serviço e feedback mensal sobre os resultados em termos de quedas. As intervenções ao nível dos residentes consistiram em avaliações do risco de queda, programas de exercícios, reavaliação da medicação e disponibilização de equipamentos auxiliares de mobilidade ou protetores de anca. Os participantes residiam todos em ERPI.

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A efetividade de intervenções complexas para a prevenção de quedas em estruturas residenciais para idosos Qualidade da investigação Os estudos incluídos (n=12) foram avaliados por dois revisores independentes através dos instrumentos padronizados de análise crítica do JBI para estudos randomizados controlados (ERCs) e estudos quasi-experimentais. Sete ERCs e cinco estudos quasi-experimentais com pré- e pós-teste (dois com grupo de controlo) foram avaliados e incluídos na síntese narrativa. Os sete ERCs foram avaliados com qualidade aceitável e agrupados em sete meta-análises de efeitos aleatórios, resultando em evidência de qualidade moderada a baixa. Os estudos que não eram ERCs (considerados como tendo qualidade moderada) não foram incluídos na meta-análise.

Resultados Todos os estudos incluídos compararam uma intervenção complexa com: uma comparação passiva, tal como os cuidados usuais; um comparador ativo tal como uma outra intervenção, uma variação da mesma intervenção; ou nenhum comparador. Os estudos foram realizados em sete países, incluindo os Estados Unidos da América (n=5), o Reino Unido (n=2) e um na Austrália, na Nova Zelândia, na Canadá, na Alemanha e na Suécia. Os participantes (residentes nas ERPI) tinham em média uma idade superior a 80 anos. Os estudos incluíram entre uma e 112 ERPI. Três resultados foram avaliados: a efetividade das intervenções a vários níveis nas taxas de quedas; a efetividade das intervenções a vários níveis nas vítimas de quedas; e a efetividade das intervenções a vários níveis nas taxas de lesões e lesões graves resultantes das quedas. Três estudos analisaram intervenções de prevenção das quedas a dois níveis: dois estudos incluíram os níveis relativos aos residentes e à infraestrutura e o terceiro estudo incluiu os níveis relativos à infraestrutura e à organização. Nove estudos incluíram intervenções aos três níveis (residente, infraestrutura e organização). Efetividade das intervenções a vários níveis nas taxas de quedas As intervenções complexas analisaram as taxas de quedas em cinco ERCs três através da implementação de intervenções ao nível da organização, da infraestrutura e do residente e dois estudos incluíram apenas os níveis relativos aos residentes e à infraestrutura. Uma meta-análise incluindo os cinco estudos, com 64% de heterogeneidade, demonstrou não haver diferenças significativas nas taxas de quedas entre o grupo de intervenção e o grupo de controlo. Um resultado semelhante foi encontrado após a separação entre as intervenções a dois níveis e as intervenções a três níveis: nenhuma das intervenções teve um efeito significativo nas taxas de quedas (DM = -2,20 [IC 95%: -6,13; 1,73] I2= 64% e DM = -0,56 [IC 95%: -4,02; 2,90] I2 = 76%, respetivamente). Contudo, numa análise de sensibilidade, três estudos que implementaram intervenções a dois ou três níveis com recursos adicionais (incluindo reforço da equipa de enfermagem para realizar avaliações do risco de queda, consultas sobre quedas para idosos por uma equipa externa e aumento do número de fisioterapeutas durante e após o período de intervenção) foram considerados efetivos (DM = -2,26 [IC 95%: -3,72; -0,80] p=0,002) e a heterogeneidade reduziu significativamente (I2 = 5%). No caso dos cinco estudos não randomizados, quatro estudos não encontraram alterações significativas nas taxas de quedas entre a avaliação inicial e o follow-up. O outro estudo (um estudo piloto) reportou uma redução na proporção das quedas, mas os autores consideraram este estudo como sendo de baixa qualidade.

Efetividade das intervenções a vários níveis nas vítimas de quedas Uma segunda meta-análise dos mesmos cinco ERCs demonstrou que não houve diferenças significativas entre a proporção de indivíduos que sofreram quedas e os que não sofreram (OR = 0,76 [IC 95%: 0,42; 1,38] p=0,37) após a intervenção. Foi ainda reportada evidência de elevada heterogeneidade nos estudos (I2 = 88%). Contudo, os resultados de um estudo quasi-experimental demonstraram uma redução na proporção de vítimas de quedas ([IC 95%: -21,85; -0,28] p=0,044) e de vítimas de uma única queda ([IC 95%: -15,03; -0,35] p=0,040) após a intervenção a três níveis. Efetividade das intervenções a vários níveis nas taxas de lesões Dois ERCs reportaram taxas de lesões resultantes das quedas. Os restantes ERCs (n=2) reportaram taxas de lesões graves resultantes das quedas (as que envolveram necessidade de hospitalização, ida ao serviço de urgência ou consulta médica). Todas as intervenções abrangeram os três níveis (residente, infraestrutura e organização). Duas meta-análises revelaram uma elevada heterogeneidade entre os dois estudos incluídos (78% e 77%, respetivamente) e nenhuma delas encontrou uma diferença significativa entre os grupos (DM = 0,57 [IC 95%: -1,11; 2,25] p=0,051 e DM = -0,05 [IC 95% -0,24; 0,13] p= 0,056, respetivamente). Outros dois estudos (quasi-experimentais com pré- e pós-teste e grupo de controlo) reportaram dados relativos a lesões resultantes de quedas. Apenas um dos estudos verificou uma redução significativa nas lesões resultantes de quedas (RR ajustado = 0,79 [IC 95%: 0,67; 0,96] p=0,022). No entanto, os autores alertaram para a sua suspeita de existência de confusão e para a necessidade de interpretação cautelosa dos resultados.

Conclusão As intervenções complexas usam uma abordagem a vários níveis para a prevenção de quedas. Porém, esta revisão sistemática não encontrou evidência de uma redução das taxas de quedas ou da proporção de idosos que sofreram uma queda através da implementação de intervenções abrangendo dois (em qualquer combinação) dos três níveis sempre que estas utilizaram os recursos existentes. Todavia, numa análise de sensibilidade que melhorou a heterogeneidade, três estudos que usaram intervenções complexas de dois e três níveis e que incluíram recursos adicionais e apoio especializado demonstraram uma redução significativa das taxas de quedas. Estes três estudos incluíram intervenções direcionadas aos residentes (por exemplo, programas de exercícios), às infraestruturas (por exemplo, formação da equipa) e às organizações (por exemplo, modificações ambientais). A existência de recursos adicionais e apoio especializado durante e depois da intervenção foi um aspeto comum aos três estudos e pode ter permitido uma implementação eficiente da intervenção sem comprometer a atividade normal da equipa.

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A efetividade de intervenções complexas para a prevenção de quedas em estruturas residenciais para idosos Implicações para a prática Esta síntese de resultados revelou que, em linha com o que tem sido demonstrado para outros ambientes, tais como o contexto hospitalar e comunitário, as intervenções bem-sucedidas para a prevenção de quedas em idosos devem ser complexas para serem efetivas. Os autores demonstraram que as intervenções complexas a vários níveis implementadas em ERPI através de um reforço do pessoal, do apoio profissional e dos recursos podem reduzir as taxas de quedas, beneficiando os residentes em ERPI. Embora esta situação gere um problema numa atividade que já enfrenta restrições ao nível dos recursos humanos e financeiros, são necessários recursos adicionais para a implementação de intervenções para reduzir significativamente as taxas de quedas. Recomenda-se que as instituições e organizações implementem de forma sustentável intervenções complexas dotadas de recursos adequados para prevenção de quedas e melhoria dos resultados associados às quedas. Figura 1: A efetividade de intervenções complexas para a prevenção de quedas em estruturas residenciais para idosos

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A efetividade de intervenções complexas para a prevenção de quedas em estruturas residenciais para idosos

Figura 1: A efetividade de intervenções complexas para a prevenção de quedas em estruturas residenciais para idosos

Participantes Condição/Diagnóstico ou Apresentação

Um participante/ator, por exemplo profissional de saúde específico, um grupo de doentes ou cuidador. Pode incluir apresentação Uma condição ou diagnóstico, por exemplo “ferida aguda”, ou uma condição específica que tenha surgido, por exemplo “infeção".

Ação Contexto

Uma ação sugerida que possa ser realizada bem como um grau de recomendação Um contexto ou situação específica, por exemplo “serviço de urgência” ou “clínica de saúde remota”

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A efetividade de intervenções complexas para a prevenção de quedas em estruturas residenciais para idosos Referências Bibliográficas

Agradecimentos

1. Francis-Coad J, Etherton-Beer C, Burton E, Naseri C, Hill A-M. Effectiveness of complex falls prevention interventions in residential aged care settings: a systematic review. JBI EBP

Este Folheto informativo de Boas Práticas foi desenvolvido pelo JBI e revisto por revisores nomeados de Centros Colaboradores Internacionais do JBI.

Database. 2018; 16(4): 973-1002.

Autor do sumário Tania S Marin1 1

JBI, Universidade de Adelaide, Austrália do Sul, Austrália.

Como citar este Folheto Informativo de Boas Práticas: Marin T S. A efetividade de intervenções complexas para a prevenção de quedas em estruturas residenciais para idosos [Folheto informativo de Boas Práticas]. JBI EBP Database. 2020; 22(6):1-5.

Este Folheto Informativo de Boas Práticas foi desenvolvido pelo JBI com base nos resultados de uma revisão sistemática publicada no JBI Evidence Synthesis. Cada Folheto Informativo de Boas Práticas foi submetido a uma revisão de duas fases por pares nomeados peritos na área. Nota: A informação neste Folheto Informativo de Boas Práticas deve ser utilizada apenas por especialistas na área sobre a qual a informação incide. Embora tenham sido desenvolvidos esforços para garantir que este Folheto Informativo de Boas Práticas sintetizasse a investigação existente e o consenso de peritos, é excluída, dentro dos limites permitidos pela lei, qualquer perda, dano, custo, despesa ou risco resultantes de forma direta ou indireta do recurso a esta informação (que surja em forma de contrato, negligência ou outro). Reproduzido após autorização do JBI. Copyright © 2020, JBI, Faculty of Health and Medical Sciences, The University of Adelaide, SA 5006, AUSTRALIA Phone: +61 8 8313 4880 Email: jbi@adelaide.edu.au | https://jbi.global JBI EBP Database 22(6) 2020 | 5

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NORMAS DE PUBLICAÇÃO

Princípios: A Revista de Enfermagem Referência (RER) cumpre os critérios de uma revista de divulgação internacional, indexada e divulgada em formato eletrónico em diversas bases de dados nacionais e internacionais. O interesse dos autores em submeterem artigos científicos de elevada qualidade prestigia a Revista, pelo que damos a maior atenção aos processos de revisão, de forma a salvaguardar princípios científicos e éticos de edição e divulgação. O conteúdo dos artigos é da exclusiva responsabilidade de todos os seus autores, aos quais compete respeitar os princípios éticos da investigação e cumprir as normas e orientações de edição da Revista. Ao publicar na Revista, os autores transferem os direitos autorais para a mesma. A Revista segue as normas da American Psychological Association (APA; 7ª edição, 2020). Consideram-se as regras do novo acordo ortográfico, pelo que o Editor salvaguarda o seu direito de modificar termos de Português do Brasil para português de Portugal. Os artigos são organizados de acordo com as normas APA e guiões de análise crítica, em função de uma categoria específica (Artigos de Investigação; Teóricos/Ensaios; Revisões Sistemáticas; Investigação Histórica). As Revisões Sistemáticas a publicar na Revista deverão, preferencialmente, cumprir as exigências de síntese da evidência recomendadas por instituições reconhecidas internacionalmente na área, como por exemplo o Joanna Briggs Institute ( JBI) e a Cochrane (Site JBI: http://joannabriggs.org/; Site Cochrane – Revisões: http://www.cochrane.org/ cochrane-reviews). Os artigos Teóricos/Ensaios e as Revisões Sistemáticas são publicados em número restrito. Por decisão do Editor-Chefe poderão ainda ser publicados artigos de outro tipo, por exemplo, recensões teóricas, biografias, protocolos de revisão sistemática, etc.. De acordo com o desenho de estudo, os artigos deverão seguir as guidelines internacionais, por exemplo: CONSORT para estudos randomizados controlados (https://www.equator-network.org/reporting-guidelines/consort/); STROBE para estudos observacionais (https://www.equator-network.org/reporting-guidelines/strobe/); COREQ para estudos qualitativos (https://academic.oup.com/intqhc/ article/19/6/349/1791966); PRISMA para revisões sistemáticas (https://www.equator-network.org/reporting-guidelines/prisma/). Além dos guiões que ajudam na construção do manuscrito, os autores procedem ao preenchimento de checklist geral e à assinatura da declaração do termo único ético e legal. O termo único integra: a declaração de originalidade dos artigos submetidos; a declaração da não submissão/publicação a qualquer outro periódico, capítulo de livro, entre outros; a declaração da responsabilidade dos autores; a declaração de cedência de direitos de autor; a declaração de existência de parecer de comissão de ética (obrigatório para artigos de investigação e se aplicável para restantes tipologias de artigos); a declaração de existência de autorização institucional (se aplicável); e a declaração de conflito de interesses. A Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem apoia as políticas de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde

(OMS) e do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) - http://www.icmje.org/. Os autores de artigos de ensaios clínicos deverão, preferencialmente, seguir o procedimento de registo disponível em http://www.who.int/ictrp/en/. O Processo de submissão dos artigos processa-se online, através da página web http://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=login&fromRegister=1. O processo de revisão por pares, double blind, tem 10 fases (Pré-análise, Checklist, Revisão por pares, Gestão de artigo, Tratamento técnico e documental, Revisão final, Tradução, Maquetização e atribuição de DOI, HTML, Divulgação digital). A RER aceita artigos em inglês, espanhol e português. A publicação é bilingue pelo que uma vez aceites para publicação são traduzidos para inglês ou português. A tradução é da responsabilidade da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra e os autores assumem o compromisso de pagar as despesas do serviço de tradução a 15 por página a traduzir, incluindo página de resumos e referências. 1 - O ARTIGO Os artigos submetidos para publicação na Revista de Enfermagem Referência devem obedecer aos seguintes critérios: 1.1 – Tipo: Devem ser artigos originais e versarem temas de saúde, enfermagem e educação, estruturados de acordo com o guião adequado à sua tipologia. 1.2 – Título: Deverá ser informativo e sucinto, redigido na afirmativa, em português, inglês e espanhol (máximo de 16 palavras), sem abreviaturas, nem indicação da localização da investigação. 1.3 – Autores: Devem ser em número não superior a 7, devidamente identificados, com o nome e respetivas habilitações, identificador ORCID, categoria profissional, instituição onde exercem funções, país, contactos (morada, e-mail, telefone), contribuição dos autores nos artigos, e fontes de financiamento do estudo (se for o caso). 1.4 – Resumo: O resumo do trabalho deve ser apresentado em português, inglês e espanhol, não deve exceder 170 palavras. Deve ser estruturado de acordo com os tópicos de análise crítica específicos de cada artigo. 1.5 – Palavras-chave: O artigo deve apresentar, no máximo, 6 palavras-chave, transcritas de acordo com os descritores MeSH e/ou DeCS, em português, inglês e espanhol (Pesquisar em: http://www. nlm.nih.gov/mesh/MBrowser.html e/ou http://decs.bvs.br/). Quando não se encontrar um descritor para uma palavra-chave, considerada relevante no estudo, esta pode ser incluída por decisão do autor. 1.6 – Texto: Estrutura do texto: Os Artigos de Investigação Empírica devem conter as seguintes secções: Título, Resumo, Palavras-chave, Introdução, Enquadramento/ Fundamentação Teórica, Questões de Investigação/Hipóteses, Me-

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todologia, Resultados, Discussão e Conclusão, respeitando os Tópicos de análise crítica de um artigo de Investigação Empírica disponíveis em http://esenfc.pt/rr/?module=rr&target=page&id=11681. O autor deve dar atenção a todos os itens e validá-los na checklist a submeter junto com o artigo. Os Artigos Teóricos/Ensaios devem conter as seguintes secções: Título, Resumo, Palavras-chave, Introdução, Desenvolvimento/Dissertação e Conclusão, respeitando os Tópicos de análise crítica de um artigo Teórico/Ensaio disponíveis em http://esenfc.pt/rr/?module=rr&target=page&id=11681. O autor deve dar atenção a todos os itens e validá-los na checklist a submeter junto com o artigo. Os Artigos de Revisão Sistemática devem conter as seguintes secções: Título, Resumo, Palavras-chave, Introdução, Método de Revisão Sistemática, Apresentação dos Resultados, Interpretação dos Resultados e Conclusão, respeitando os Tópicos de análise crítica de um artigo de Revisão Sistemática disponíveis em http://esenfc.pt/rr/?module=rr&target=page&id=11681. O autor deve dar atenção a todos os itens e validá-los na checklist a submeter junto com o artigo. Os Artigos de Investigação Histórica devem conter as seguintes secções: Título, Resumo, Palavras-chave, Introdução, Seleção do Tema, Enfoque e Formulação de Questões ou Hipóteses, Levantamento da Documentação e a Recolha de Dados, Análise Crítica e Interpretação dos Dados, Resultados e Conclusão, respeitando os Tópicos de análise crítica de um artigo de Investigação Histórica disponíveis em http://esenfc.pt/rr/?module=rr&target=page&id=11681. O autor deve dar atenção a todos os itens e validá-los na checklist a submeter junto com o artigo.

Formato: O texto deve ser apresentado em formato Word, letra Arial, tamanho 11, espaço 1,5, sem justificação, com numeração contínua de linha, páginas em formato A4 (margens superior e inferior de 2,5cm e margens esquerda e direita de 3cm), em coluna única, sem notas de rodapé. O artigo não deverá ultrapassar as 15 páginas incluindo títulos, resumos e palavras-chave (português, inglês e espanhol), referências bibliográficas, tabelas e figuras (gráficos, imagens, etc). NB: Os autores devem dar a maior atenção aos aspetos morfológicos e sintáticos do discurso, evitando erros, redundâncias, jargão... 1.7 – Tabelas e figuras (gráficos, imagens, etc): Apenas devem ser incluídos os que sejam absolutamente necessários para a compreensão do artigo. Devem ser referidos no texto e estar numerados por ordem de inclusão, em função de cada tipo. Os comentários aos dados e resultados apresentados devem anteceder as respetivas tabelas e figuras (gráficos, imagens, etc). As tabelas devem apresentar o número e título em cabeçalho e as figuras (gráficos, imagens, etc) devem apresentar o número e título no respetivo rodapé. Quaisquer abreviaturas usadas em figura/tabela devem ser descritas no rodapé da mesma. 1.8 – Citações: As citações podem ser diretas ou indiretas. Na citação direta, ou textual, a transcrição ipsis verbis do texto original deve ser apresentado entre aspas e acompanhada do autor, data de publicação e número da página. A citação indireta, ou paráfrase, deve ser acompanhada do autor e data de publicação. A citação no texto deve seguir as normas da American Psychological Association (APA 7ª edição, 2020) conforme os exemplos apresentados na Tabela 1. Todos os autores citados deverão constar da lista de referências bibliográficas e vice-versa.

Tabela 1 Estrutura Básica de Citação – Citar referências no texto segundo a APA Tipo de Citação no texto Obra de 1 autor Obra de 2 autores Obra de 3, ou mais autores

Citação Direta e Indireta

Citação entre parêntesis

Luna (2020)

(Luna, 2020)

Salas e D’Agostino (2020)

(Salas & D’Agostino, 2020)

Martin et al. (2020)

(Martin et al., 2020)

National Institute of Mental Health (NIMH, 2020)

(National Institute of Mental Health [NIMH], 2020)

NIMH (2020)

(NIMH, 2020)

Stanford University (2020)

(Stanford University, 2020)

Grupos como autores (identificados anteriormente com abreviatura) 1ª CITAÇÃO CITAÇÕES SEGUINTES Grupos como autores (sem abreviatura) Fonte: APA (7ª Edição, 2020)

A citação de recursos do(s) mesmo(s) autor(es), publicados na mes- cionais indexadas. As referências bibliográficas devem estar elaboradas ma data, deve ser realizada de acordo com este exemplo. de acordo com as normas da American Psychological Association (APA Exemplo: Vários artigos ( Webster, 2020a, 2020b, 2020c; Webster & 7ª edição, 2020). Todas elas deverão estar citadas no artigo. A lista de Sanders, 2020) referem que (…). referências bibliográficas não deverá exceder 20 títulos. Nota: Deve indicar-se também o número de página, no caso de citação textual, tal como nos exemplos: Pereira (2009, p. 20) ou (Pereira, Normas da American Psychological Association (APA) 7ª Edição 2009, p. 20). (2020) - Exemplos 1.9 - Referências bibliográficas: As referências selecionadas devem ser preferencialmente primárias. Devem colocar em evidência as pu- Livros blicações mais representativas do Estado da Arte da problemática, em - Um autor particular as dos últimos 5 anos. As fontes devem ser localizadas, privi- Gonçalves, C. (2021). Enfermagem: Sobrevivi!: Com manual de solegiando a pesquisa em bases de dados de revistas nacionais e interna- brevivência incluído. Chiado Books.

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- Dois a vinte autores Hinkle, J. L., & Cheever, K. H. (2020). Brunner & Suddarth: Tratado de enfermagem médico-cirúrgica (14ª ed.). Guanabara Koogan. NB: Quando tem vinte e um ou mais autores, incluir os nomes dos 19 primeiros autores, seguido de reticências e adicionar o último autor Obras do mesmo autor no mesmo ano Netter, F. H. (2019a). Atlas of human anatomy (7th ed.). Elsevier. Netter, F. H. (2019b). Atlas of human anatomy with latin terminology (7th ed.). Elsevier. NB: Para documentos sem data, o formato é: “s.d.-a,” “s.d.-b.” Para documentos no prelo, o formato é: “no prelo-a,” “no prelo-b.” Obra traduzida Polit, D. F., & Beck, C. T. (2019). Fundamentos de pesquisa em enfermagem: Avaliação de evidências para a prática da enfermagem (M. Toledo, Trans.; 9ª ed.). Artmed. (Obra originalmente publicada em 2001). Autor coletividade (organismo, instituição…) Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens. (2020). Manual de procedimentos: Colaborar ativamente na prevenção e eliminação da mutilação genital feminina. Direcção-Geral da Saúde. (2019). Plano de ação para a literacia em saúde: Portugal: 2019-2021. NB: Quando o nome do autor e o editor são iguais, omite-se o nome do editor, não se substitui pela palavra “Autor”. Editor literário Ferrell, B. R., & Paice, J. A. (Eds.). (2019). Oxford textbook of palliative nursing. Oxford University Press. Capítulo de Livros Cunha, N., & Pacheco, A. (2020). Conceção, implantação e embriologia. In J. Neves (Coord.), Obstetrícia fundamental (pp. 41-51). Lidel. Teses e dissertações Braga, L. (2017). Práticas de enfermagem e a segurança do doente no processo de punção de vasos e na administração da terapêutica endovenosa [Tese de doutoramento]. Universidade de Lisboa. Não publicada: Veloso, E. M. (2017). Transição para a parentalidade: Confiança parental materna e confiança parental paterna no pós-parto [Dissertação de mestrado não publicada]. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Base de dados: Pascoe, S. (2020). Healing bullying in nursing and nursing education through forgiveness (Publication Nº 28259585) [Doctoral dissertation, California Institute of Integral Studies]. ProQuest Dissertations & Theses Global. Repositórios: Cruz, M. D. (2020). Epidemiologia da dor neonatal: fatores determinantes para a sua prevenção e tratamento [Tese de doutoramento, Universidade de Coimbra, Faculdade de Medicina]. Estudo Geral: Repositório Científico da UC. http://hdl.handle.net/10316/91098

Artigos de Publicações Periódicas Artigo com DOI: Almeida, L., & Pereira, H. (2020). Estilos defensivos e funcionamento sexual em adultos. Psicologia, Saúde e Doenças, 21(2), 236-249. http://dx.doi.org/10.15309/20psd210201 Rima, S., Kerbyson, G., Jones, E., & Schmid, M. C. (2020). Advantage of detecting visual events in the right hemifield is affected by reading skill. Vision Research, 169, 41-48. https://doi.org/10.1016/j. visres.2020.03.001 Breda, L. F., & Cerejo, M. N. (2021). Influência da consulta pré-operatória de enfermagem na satisfação das necessidades informativas do doente. Revista de Enfermagem Referência, 5(5), e20088. https:// doi.org/10.12707/RV20088 Chapple, H. S. (2021). Placing a central vascular access device in a patient with substance use disorder: The ethical position of the infusion nurse. Journal of Infusion Nursing, 44(1), 21-25. https://doi. org/10.1097/NAN.0000000000000407 Artigo de periódico com DOI, e 21 ou mais autores Lee, L. Y., Cazier, J.-B., Starkey, T., Briggs, S. E., Arnold, R., Bisht, V., Booth, S., Campton, N. A., Cheng, V. W., Collins, G., Curley, H. M., Earwaker, P., Fittall, M. W., Gennatas, S., Goel, A., Hartley, S., Hughes, D. J., Kerr, D., Lee, A. J., . . . Kerr, R. (2020). COVID-19 prevalence and mortality in patients with cancer and the effect of primary tumour subtype and patient demographics: A prospective cohort study. The Lancet Oncology, 21(10), 1309-1316. https://doi.org/10.1016/S14702045(20)30442-3 Artigo de periódico com DOI, e combinação de autor individual e autor grupo Atkinson Briggs, S., Jenkins, A., Keech, A., Ryan, C., Brazionis, L., & the Centre of Research Excellence in Diabetic Retinopathy Study Group. (2021). A model of culturally informed integrated diabetes education and eye screening in indigenous primary care services and specialist diabetes clinics: Study protocol. Journal of Advanced Nursing, 77(3), 1578-1590. https://doi.org/10.1111/jan.14734 Artigo sem DOI: Artigo de jornal sem DOI, com URL não pertencente a uma base de dados: Henrique, J. S., Azevedo, S. M., Rosa, A., & Santos, J. C. (2021). Perceçao da qualidade de vida da pessoa adulta com estrabismo, antes e após a intervenção cirúrgica de correção do estrabismo. Revista Investigação em Enfermagem, 2(34), 47-58. http://www.sinaisvitais.pt/ images/stories/Rie/RIE34_S2.pdf Jornal, revista ou artigo de jornal sem DOI, de bases dados de pesquisa acadêmica, ou versão impressa Redondo Tébar, A., & Postigo Mota, S. (2021). El paciente con diabetes y COVID-19. Revista Rol de Enfermeria, 44(1), 8-23. NB: Sempre que o URL não permite a visualização do documento, por ser necessário login e password, por exemplo, não deve ser indicado. Documentos legislativos Lei nº 5/2021 da Assembleia da República. (2021). Diário da República: 1.ª Série, n.º 35. https://dre.pt/application/conteudo/157996084 Regulamento nº 5/2021 do Ministério da Ciência, Tecnologia e

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Ensino Superior, Fundação para a Ciência e Tecnologia. Diário da República: 2.ª Série, n.º 3. https://dre.pt/application/conteudo/153024981 nº 70/20 - II Série. Ministério da Saúde, Gabinete da Ministra. Lisboa, Portugal. Documentos eletrónicos Livros Pickering, G., Zwkhalen, S., & Kaasalainen (2018). Pain management in older adults: A nursing perspective. Springer Berlin Heidelberg. Recuperado de https://ehu.on.worldcat.org/search?queryString=no%3A1045796874#/oclc/1045796874 Sem autor Behaviour modification. (2007). Educational Psychologist. Recuperado de http://www.educational-psychologist.org.uk/behaviour.html Sem data Society of Clinical Psychology. (n.d.). About clinical psychology. Recuperado de http://www.apa.org/divisions/div12/ aboutcp.html Livros (com o mesmo autor e editor): Direcção-Geral da Saúde. (2020). Aconselhamento breve para a alimentação saudável nos cuidados e saúde primários: Modelo de intervenção e ferramentas 2020. https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/dgs-lanca-manual-sobre-alimentacao-saudavel-nos-cuidados-de-saude-primarios-pdf.aspx Livro sem DOI: Heng, D. Y., & Kollmannsberger, C, (Eds.). (2020). Practical approaches to managing advanced kidney cancer. Canadian Urological Association. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK566710/ pdf/Bookshelf_NBK566710.pdf Livro com DOI: Acosta, J. D., Cerully, J. L., Wong, E. C., Sayers,E L., Zaydman, M., Meredith, L. S., Blum, I., Nanda, N., Tanielian, T., Ross, R., & Wilks, A. (2020). Cross-agency evaluation of DoD, VA, and HHS mental health public awareness campaigns: Analysis of campaign scope, content, and reach. RAND Corporation. https://doi.org/10.7249/RR1612 NB: Sempre que o documento tiver DOI, este tem preferência sobre o URL Documento impresso com DOI Peixoto, T. A., Peixto, N. M., Pinto, C. A., & Santos, C. S. (2021). Elementos-chave de uma intervenção educacional em enfermagem promotora da adaptação dos sobreviventes de cancro. Revista de Enfermagem Referência, 5(5), e20078. https://doi.org/10.12707/RV20078 Manuscrito: Autor, A. A., & Autor, B. B. (data). Título do trabalho [Manuscrito não publicado/Manuscrito em preparação/Manuscrito submetido para publicação]. Departamento e Instituição onde foi produzido, se possível. NB: Se o manuscrito foi enviado para publicação, não deve ser indicada a revista onde foi submetido, e deve ser citado como um artigo no prelo. Conferências/Congressos Comunicações: Soares, A. M. (2020, janeiro 29-fevereiro 2). My-PEP: A prehabilitation intervention in oesophaseal cancer patients. In H. Pereira, S. Monteiro, G. Esgalhado, A. Cunha, & I. Leal (Eds.), Melhorar o bem estar global [Congresso]. 13º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde da Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde, Covilhã, Portugal.

https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/88803/1/My-PEP_a%20 prehabilitation%20intervention%20in%20oesophageal%20cancer%20 patients%20%2810pp%20paper%29.pdf Poster/Paper: Gouveia, P., Sá, M., Resende, E., Ferreira, M., & Abreu, S. (2020, janeiro 23-26). Tiroidectomia: Revisão de 4 anos de um centro hospitalar [Apresentação de poster]. Congresso Português de Endocrinologia e 71ª Reunião Anual da SPEDM, Coimbra, Portugal. Site Web Com organização como autor World Health Organization. (2020, December 9). The top 10 causes of death. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/the-top-10causes-of-death NB: Omitir o nome do site (editor), quando este e o nome do autor forem iguais. Com autor individual Atkinson, A. (2021, February 7). 3 Habits of incredibly healthy people: No, you don’t have to go to the gym. Medium. https://medium. com/in-fitness-and-in-health/3-habits-of-incredibly-healthy-people-e3bc5ffb4b00?source=extreme_main_feed---------4-73-------------------fc7b347b_b756_4a98_b4a1_551e120ea63e------Post em Blogue Fernandes, J. (2021, janeiro 20). Nutrição na terceira idade. Saúde e Bem Estar. https://www.saudebemestar.pt/pt/blog/nutricao/dieta-no-idoso/ 2 - PROCEDIMENTOS DE SUBMISSÃO DO ARTIGO E DOCUMENTOS A JUNTAR 1º Passo: Entrar no site da Revista: http://www.esenfc.pt/rr/. 2º Passo: Clicar no Menu do lado esquerdo em “Autores Registo” e registar-se como autor, caso já se encontre registado efetuar login. 3º Passo: Preenchimento dos dados solicitados (nomeadamente informação sobre autores). 4º Passo: Preenchimento e submissão automática dos documentos obrigatórios, a saber: Checklist de tópicos de análise crítica, selecionando e submetendo apenas a checklist correspondente ao tipo de artigo submetido: a) Tópicos de Análise Crítica de Artigo de Investigação b) Tópicos de Análise Crítica de Artigo Teórico/Ensaio c) Tópicos de Análise Crítica de Artigo de Revisão Sistemática d) Tópicos de Análise Crítica de Artigo de Investigação Histórica Checklist geral de autoverificação, preenchida na totalidade; Termo único (ético-legal, responsabilidade e conflito de interesses); Parecer de comissão de ética (obrigatório para artigos de investigação e se aplicável para restantes tipologias de artigos); Autorização Institucional (se aplicável). 5º Passo: Fazer upload do artigo (sem elementos que façam referência aos autores) construído de acordo com os tópicos de análise crítica específicos de cada tipo de artigo. 6º Passo: Fazer upload da página de título, em formato Word, a qual deve conter obrigatoriamente os seguintes elementos de cada um dos autores: - Nome dos autores, pela ordem em que deverão aparecer no artigo - Identificador ORCID

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- Instituição, Cidade, Estado (se aplicável), e País - Contribuição no artigo, de acordo com a CRediT – Contributor Ro-

les Taxonomy, disponível em https://casrai.org/credit/ e conforme a Tabela 2.

Tabela 2 CRediT - Taxonomia de Contribuição de Autor Contribuições de Autor

Definição da função

Conceptualização

Formulação ou evolução de ideias, objetivos e metas de investigação abrangentes.

Tratamento de dados

Gestão de atividades para anotar (produzir metadados), limpar e manter dados de investigação (incluindo códigos de software, onde é necessário interpretar os dados em si) para uso inicial e posterior reutilização.

Análise formal

Aplicação de técnicas estatísticas, matemáticas, informáticas ou outras técnicas formais para analisar ou sintetizar dados do estudo.

Aquisição de financiamento

Aquisição do apoio financeiro para o projeto que gerou esta publicação.

Investigação

Condução de um processo de pesquisa e investigação, especificamente a realização de experiências ou recolha de dados/evidências.

Metodologia

Desenvolvimento ou desenho metodológico; criação de modelos.

Administração do projeto

Responsabilidade pela gestão e coordenação do planeamento e da realização da investigação.

Recursos

Fornecimento de materiais de estudo, reagentes, materiais, doentes, amostras laboratoriais, animais, instrumentos, recursos informáticos ou outras ferramentas de análise.

Software

Programação, desenvolvimento de software; conceção de programas informáticos; implementação do código informático e algoritmos de suporte; realização de testes a componentes de código existentes.

Supervisão

Responsabilidade de supervisão e liderança do planeamento e da execução das atividades de investigação, incluindo tutoria externa para a equipa principal.

Validação

Verificação, como parte da atividade ou separadamente, da replicação/reprodutibilidade geral dos resultados/ experiências e outros resultados de investigação.

Visualização

Preparação, criação e/ou apresentação do trabalho publicado, especificamente visualização/apresentação de dados.

Redação - rascunho original

Preparação, criação e/ou apresentação do trabalho publicado, especificamente a escrita do rascunho inicial (incluindo tradução substantiva).

Redação - análise e edição

Preparação, criação e/ou apresentação do trabalho publicado por membros do grupo original de investigação, especificamente análise crítica, comentário ou revisão - incluindo fases pré- e pós-publicação.

Fonte: https://casrai.org/credit/

A página de título deve ainda incluir a identificação do autor de correspondência, com apresentação do respetivo endereço de e-mail. Caso se aplique, de forma a manter o processo de revisão cega, devem ainda ser incluídos na página de título: - Se aplicável, Agradecimentos (Os autores devem identificar instituições ou pessoas que colaboraram ou contribuíram para a realização da investigação/artigo, de acordo com as normas do ICMJE, conforme consta nas políticas editoriais da Revista de Enfermagem Referência). - Se aplicável, Financiamento (Os autores devem identificar as instituições que prestaram apoio financeiro para a realização da investigação/artigo). - Conflito de Interesses: Os autores devem referir a existência ou não de conflitos de interesses (pessoais, comerciais, académicos, políticos ou financeiros). 3 - PROCESSO DE REVISÃO

de artigo, peritos de língua, documentação e estatística - são anonimizados). Processo de revisão dos artigos submetidos à Revista de Enfermagem Referência e tempo limite de resposta em http:// rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=page&id=11899. A decisão final acerca da oportunidade de publicação dos artigos é da responsabilidade do Editor-Chefe da Revista. A publicação de Artigos Teóricos/Ensaios, Revisão e Investigação Histórica é limitada. Endereço: Revista de Enfermagem Referência Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Avenida Bissaya Barreto s/n 3004 - 011 Coimbra

Os artigos propostos são apreciados num processo double blind (duplamente cego, i.e., os intervenientes - autores, revisores, gestores

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TERMO ÚNICO

(ético-legal, responsabilidade e conflito de interesses) A Direção da Revista de Enfermagem Referência assume uma política editorial de responsabilidade, no sentido de salvaguardar todos os princípios ético legais inerentes ao processo de gestão, revisão, publicação e divulgação, protegendo os direitos das pessoas, instituições, com garantia da utilidade e verdade científica do conhecimento que divulga.

DECLARAÇÕES DE AUTOR: Declaro que o artigo que se submete à Revista de Enfermagem Referência é original e não se encontra publicado ou em apreciação, na íntegra ou em partes por outro periódico, livro de atas ou capítulo de livro. Declaro que os direitos de autor deste artigo são transferidos para a Revista de Enfermagem Referência, assim que ele for aceite para publicação eletrónica ou impressa. Declaro que o texto do artigo não tem plágio e cumpre com rigor os processos de referenciação e citação. Declaro que o artigo descreve com precisão, na metodologia, o cumprimento de todos os aspetos ético legais para realização da investigação. Declaro que sou responsável, bem como os demais autores, por qualquer má prática inerente aos princípios acima descritos, ou quaisquer outros que prejudiquem a dignidade científica da Revista e os princípios de rigor da comunidade científica. Apresento autorização institucional (se aplicável). Apresento Parecer de Comissão de Ética (obrigatório para artigos de investigação e se aplicável para restantes tipologias de artigos). Referente ao manuscrito, declaro que não possuo conflitos de interesse de ordem pessoal, comercial, académico, político ou financeiro. Declaro que todos apoios financeiros e materiais recebidos para desenvolvimento da investigação estão descritos no texto. Comprometo-me a suportar as despesas obrigatórias de tradução, uma vez aceite para publicação. (Nota: O formato bilíngue da Revista será para divulgação em bases de dados.)

Título do artigo: Nome do(s) Autor(es/as): Assinatura legível do Autor Principal: Local e data: Validação do Editor Chefe:

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CHECKLIST DE AUTOVERIFICAÇÃO

(Preencher e enviar à Revista, juntamente com o artigo e a checklist/tópicos de análise crítica específica do artigo) 1. ESTRUTURA DO ARTIGO ( RV___________ ) Tipo É um artigo original. Título É informativo e sucinto (em português, inglês e espanhol). Máximo de 16 palavras, sem abreviaturas,nem indicação da localização da investigação. Autores A identificação dos autores não consta do artigo, encontrando-se em ficheiro separado. O número de autores não é superior a 7. Estão indicados os nomes e respectivas habilitações, categorias profissionais, instituições onde exercem funções (cidade, distrito/estado, país), contactos pessoais (morada, e-mail e telefone) e fontes de financiamento do estudo (se for o caso). Resumo Está apresentado em português, inglês e espanhol. Não excede 170 palavras. Inclui descrição das secções relativas ao tipo de artigo escrito (Artigos de Investigação Empírica; Artigos Teóricos/Ensaios; Artigos de Revisão Sistemática). Palavras-chave São apresentadas, no máximo, 6 palavras-chave. Estão transcritas de acordo com os descritores MeSH (pesquisa em http://www.nlm.nih.gov/mesh/MBrowser.html e/ou http://decs.bvs.br/) Encontram-se em português, inglês e espanhol. Formatação do texto O texto apresenta uma estrutura com todas as secções, conforme está descrito na Revista, em função do tipo de artigo: tópicos de análise crítica de um artigo de investigação, tópicos de análise crítica de um artigo teórico/ensaio, tópicos de análise crítica de um artigo de revisão sistemática, tópicos de análise crítica de um artigo de história e memória, incluindo todos os itens que integram cada secção. O texto tem o máximo de 15 páginas, incluindo referências, tabelas, quadros, gráficos e figuras. Está escrito sem erros semânticos ou morfológicos. Está escrito em coerência com o acordo ortográfico. Na apresentação de dados estatísticos, em português a separação das casas decimais deverá ser feita com vírgula e em inglês com ponto final. Está em formato Word, letra Arial, tamanho 11, espaço 1,5. Página sem justificação, formato A4, em coluna única, com margens superiores e inferiores de 2,5cm e margens esquerda e direita de 3cm.

Sem negritos e sublinhados, nem variação de tipo de letra, fundos de cor, etc. Sem notas de rodapé. Tabelas e figuras São apenas as absolutamente necessárias para a compreensão do artigo. As tabelas e figuras estão apresentadas de acordo com estilo APA (7ª Edição, 2020). Estão numeradas por ordem de inclusão no texto, em função de cada tipo. As tabelas apresentam o título em cabeçalho e as figuras apresentam o título por baixo. Os comentários aos dados e resultados antecedem as respetivas tabelas e figuras. Está correta a forma de apresentação gráfica das tabelas. É clara a apresentação dos dados e resultados, bem como o formato dos símbolos da linguagem estatística. As figuras são legíveis e com indicação da fonte (o formato deverá ser em JPG ou TIF e ter no mínimo 200 DPI de resolução). Citações Todos os autores citados constam da lista de referências bibliográficas. Todas as citações literais e paráfrases cumprem as normas American Psychological Association (APA, 7ª edição, 2020). O conteúdo das citações e paráfrases expressam de forma clara e precisa as fontes citadas. Referências bibliográficas Foram elaboradas de acordo com as Normas da APA 7ª edição (2020; ver os exemplos) e estão ordenadas por ordem alfabética de apelido do autor. Todas estão citadas no texto. São, no máximo, 20 e permitem colocar em evidência as publicações mais representativas do “estado da arte” da problemática (últimos 5 anos). Foi feita pesquisa a bases de dados de revistas indexadas internacionais, incluindo a base de dados da Revista de Enfermagem Referência. 2 – PROCEDIMENTOS DE SUBMISSÃO DO ARTIGO Efetuado registo no site da Revista e submissão electrónica do artigo concluída com êxito. Submeti, na plataforma, os seguintes documentos: Artigo integral; Checklist de autoverificação de verificação genérica; Checklist de análise crítica do tipo de artigo submetido; Página de título; Termo único (ético-legal, responsabilidade e conflito de interesses e os documentos comprovativos).

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COMO CITAR REVISTA DE ENFERMAGEM REFERÊNCIA APA Marques, P. A. O., Sousa, P. A. F., & Silva, A. A. P. (2013). Confusão Aguda no idoso: Dados para a decisão do enfermeiro. Revista de Enfermagem Referência, 3 (9), 37-43. Recuperado de http://www. scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0874-02832013000100004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

no idoso: dados para a decisão do enfermeiro. Revista de Enfermagem Referência [Em linha]. Série 3, nº 9 (2013), p. 3743. [Consult. 31 jan. 2014]. Disponível em WWW: <http:// www. scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_ abstract&pid=S0874-02832013000100004&lng=pt& nrm=iso&tlng=pt>. ISSN 0874-0283.

APA - Artigo com DOI (Digital Object Identifier) Marques, P. A. O., Sousa, P. A. F., & Silva, A. A. P. (2013). Confusão Aguda no idoso: Dados para a decisão do enfermeiro. Revista de Enfermagem Referência, 3(9), 37-43. doi: 10.12707/ RIII1292

ISO - Artigo com DOI MARQUES, Paulo Alexandre Oliveira ; SOUSA, Paulino Artur Ferreira de ; SILVA, Abel Avelino de Paiva - Confusão Aguda no idoso: dados para a decisão do enfermeiro. Revista de Enfermagem Referência. Série 3, nº 9 (2013), p. 37-43. doi: 10.12707/ RIII1292. ISSN 0874-0283.

Vancouver - Formato Documento Eletrónico Marques PAO, Sousa PAF, Silva AAP. Confusão Aguda no idoso: dados para a decisão do enfermeiro. Rev Enf Ref [Internet]. 2013 Mar [acesso 2014 Jan 31]; 3(9):37-43. Disponível em: http://www. scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0874-02832013000100004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Vancouver - Artigo com DOI Marques PAO, Sousa PAF, Silva AAP. Confusão Aguda no idoso: dados para a decisão do enfermeiro. Rev Enf Ref. 2013 Mar; 3(9):37-43. doi: 10.12707/RIII1292 ISO - Formato Documento Eletrónico MARQUES, Paulo Alexandre Oliveira ; SOUSA, Paulino Artur Ferreira de ; SILVA, Abel Avelino de Paiva - Confusão Aguda

ABNT - Formato Documento Eletrónico MARQUES, P. A. O.; SOUSA, P. A. F.; SILVA, A. A. P. Confusão Aguda no idoso: dados para a decisão do enfermeiro. Revista de Enfermagem Referência, Coimbra, s. 3, n. 9, mar. 2013. Disponível em:<http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_ abstract&pid=S0874-02832013000100004&lng=pt& nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 31 jan. 2014. ABNT - Artigo com DOI MARQUES, P. A. O.; SOUSA, P. A. F.; SILVA, A. A. P. Confusão Aguda no idoso: dados para a decisão do enfermeiro. Revista de Enfermagem Referência, Coimbra, s. 3, n. 9, mar. 2013. doi: 10.12707/RIII1292

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Ficha Técnica/Technical Board Propriedade/Ownership: Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem Avenida Bissaya Barreto s/n 3004-011 Coimbra / Portugal Telefs. - 239 487 255 / 239 487 200 (ext. 2077) E.mail: referencia@esenfc.pt (Revista de Enfermagem Referência) investiga@esenfc.pt (Unidade de Investigação) URL: http://www.esenfc.pt/rr (Revista de Enfermagem Referência) URL: http://www.esenfc.pt/ui (Unidade de Investigação) Título de Registo de Marca Nacional / Trade Mark Registry: INPI-402077 Depósito Legal / Legal Deposit: 119318/98 ISSNe (electronic version): 2182.2883 Projeto gráfico e maquetização / Graphic Design: Manuel Alves Rodrigues Eurico Nogueira Cristina Louçano Daniela Cardoso Maquetização / Layout: FIG - Indústrias Gráficas S.A.

fig@fig.pt www.fig.pt

Tratamento Documental e Metadados / Documentary Support and Metadata: Serviço de Documentação ESEnfC Desenvolvimento e manutenção da plataforma da Revista/ Platform development and maintenance Serviço de Informática da ESEnFC Periodicidade / Periodicity: Publicação contínua/Rolling pass publication

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«Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto Refª UIDB/00742/2020».

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Eixo Estratégico de Desenvolvimento para a Edição e Disseminação do Conhecimento Científico


SÉRIE V - N.º8

PUBLICAÇÃO CONTÍNUA | 2021

EDITORIAL/ EDITORIAL Health literacy: A nursing perspective Literacia em saúde: A perspetiva da enfermagem ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL) / RESEARCH ARTICLES (ORIGINAL) Adolescentes com diabetes mellitus tipo 1 e o seu processo de construção da autonomia para o autocuidado Adolescents with type 1 diabetes mellitus and their process of developing autonomy for self-care Adolescentes con diabetes mellitus tipo 1 y el proceso de construcción de la autonomía para el autocuidado Conhecimento sobre suporte básico de vida em estudantes do ensino superior de ciências da saúde Knowledge about basic life support in higher education health students Conocimientos sobre el soporte vital básico en los estudiantes de ciencias de la salud de la enseñanza superior Consulta de enfermagem pré-operatória: Implementação e avaliação Preoperative nursing consultations: Implementation and evaluation Consulta preoperatoria de enfermeria: Implementacion y evaluacion Da subjacência à não implicação do processo de enfermagem na construção da identidade profissional dos enfermeiros From subjacency to the lack of involvement of the nursing process in the construction of nurses’ professional identity De lo subyacente a la no implicación del proceso de enfermería en la construcción de la identidad profesional de los enfermeiros Efetividade de programas de enfermagem de reabilitação no equilíbrio, marcha e independência funcional em idosos hospitalizados Effectiveness of rehabilitation nursing programs on balance, gait, and functional independence in hospitalized older people Eficacia de los programas de enfermería de rehabilitación sobre el equilibrio, la marcha y la independencia funcional en ancianos hospitalizados Fazer a Diferença 3 - um programa de estimulação cognitiva individual para pessoas idosas: Aceitabilidade e aplicabilidade Making a Difference 3 – an individual cognitive stimulation program for older people: Appropriateness and feasibility Fazer a Diferença 3 - un programa de estimulación cognitiva individual para personas mayores: Aceptabilidad y aplicabilidad Índice de qualidade na manutenção do cateter venoso central num serviço de medicina intensiva Quality index in central venous catheters maintenance in an intensive care unit Índice de calidad en el mantenimiento del catéter venoso central en una unidad de cuidados intensivos Necessidades de aprendizagem das mães e dos pais durante a gravidez Mothers’ and fathers’ learning needs during pregnancy Necesidades de aprendizaje de las madres y de los padres durante el embarazo O cuidado à família no serviço de urgência: A experiência vivida do enfermeiro Family care in the emergency department: Nurses’ lived experiences La atención a la familia en los servicios de urgencias: La experiencia vivida por el enfermeiro Prácticas pedagógicas desarrolladas por docentes en la enseñanza de enfermería Pedagogical practices developed by nursing teachers Práticas pedagógicas desenvolvidas por docentes no ensino de enfermagem Propriedades psicométricas de um questionário de avaliação das competências do cuidador informal Psychometric properties of a questionnaire for assessing informal caregivers’ skills Propiedades psicométricas de un cuestionario de evaluación de las competencias del cuidador informal Validação da Escala de Autoavaliação da Promoção da Autonomia dos Idosos (EAPAI) por parte dos enfermeiros Validation of the Self-Assessment Scale of Autonomy Promotion in Older Adults (EAPAI) by nurses Validación de la Escala de Autoevaluación para la Promoción de la Autonomía del Adulto Mayor (EAPAI) por los enfermeiros ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA (ORIGINAL)/ HISTORICAL RESEARCH ARTICLES (ORIGINAL) Os registos de enfermagem nas revistas portuguesas (1958-1998): Um estudo bibliométrico Nursing records in Portuguese journals (1958-1998): A bibliometric study Los registros de enfermería en las revistas portuguesas (1958-1998): Un estúdio bibliométrico ARTIGOS DE REVISÃO/ REVIEW ARTICLES Condicionantes da adaptação das famílias enquanto sistema e cliente face à situação de cancro: Scoping review Factors influencing the adaptation of families, as systems and clients, to cancer: A scoping review Condicionantes de la adaptación de las familias como sistema y cliente ante la situación del cáncer: Scoping review Programas de intervenção para crianças, adolescentes e pais a vivenciar cancro parental: Protocolo de scoping review Intervention programs for children, adolescents, and parents experiencing parental cancer: A Scoping review protocol Programas de intervención para niños, adolescentes y padres que experimentan cáncer parental: Protocolo de scoping review


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