REVISTA APM #20

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FEVEREIRO/MARÇO DE 2022

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ANO 02 03 N°08 N°20 FEVEREIRO\MARÇO 2020 FEVEREIRO/MARÇO DE 2022

Diretoria APM-Mogi (Triênio 2020/2023) Presidente: Carlos Eduardo Godoi Marins Vice - Presidente: Alex Sander José Miguel 1º Tesoureiro: Zeno Morrone Junior 2º Tesoureiro: Thiago Veras Pinto Pires 1º Secretário: José Shiro Higashi 2º Secretário: André Luiz Pupo Diretora da Sede Associativa: Pwa Tjioe K. Tjim Diretor Científico: Antonio dos Santos Taveira Filho Diretor Cultural: José Carlos Melo Novaes Diretor de Comunicação: Guilherme Augusto Rodrigues do Prado Diretor Associativo: Pwa Kiong Ping Diretor Defesa Profissional: Carlos Eduardo Amaral Gennari Delegado: Abdul Kader El Hayek Delegado: Péricles Ramalho Bauab Conselho Fiscal 1º Conselheiro: Julio Batista Cota Pacheco 2º Conselheiro: Alexandre Netto 3º Conselheiro: Anderson Wei Y Pwa Suplentes: Flávio Isaías Rodrigues, Fabricio Issamu Mochiduky e Carlos Alberto Gallo

Todo conteúdo opinativo da revista Plantão é de responsabilidade de seus autores, devidamente identifi cados nos artigos. identificados

DEZEMBRO/JANEIRODE DE2020 2022 FEVEREIRO/MARÇO

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COMITÊ CIENTÍFICO DE DOR DA APM PLANEJA ANO REPLETO DE EVENTOS

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Comitê Científico de Dor da Associação Paulista de Medicina (APM) planeja um 2022 repleto de atividades. O grupo, presidido pela especialista Telma Regina Mariotto Zakka, já tem três eventos híbridos programados para o ano.

Durante todo o dia, as mesas debaterão em detalhes diversos aspectos do tema, como as características da dor e a relação dela com arte, literatura e música.

O primeiro deles é a jornada “A dor de ouvir a dor”, programada para 21 de maio, das 8h30 às 18h, na sede da APM. O intuito do evento é explorar as dificuldades e desafios dos médicos como indivíduos diante das suas próprias histórias e narrativas e as do que os procuram para aliviar seu sofrimento.

Em setembro, ocorrerá a quinta edição da consagrada “Jornada de Dor na Mulher”, voltada a médicos, acadêmicos e residentes de diversas especialidades e áreas de atuação, com atualizações sobre diagnósticos e tratamentos neste campo.

Nessa abordagem, o Comitê Científico de Dor está propondo uma jornada cujo diferencial é manter os médicos e suas dores como protagonistas das discussões, relembrando a relevância de ouvirmos e tratarmos também a dor dos profissionais.

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DOR NA MULHER E NO HOMEM

Serão abordadas as principais queixas femininas que comprometem a vida das mulheres com as mais recentes informações e dados científicos. Além disso, haverá mesas abordando a relação da mulher com o Direito e outras áreas da vida social.

Já no final do ano, em novembro, o Comitê Científico irá inaugurar um novo evento: a “Jornada de Dor no Homem”. O evento também receberá médicos, acadêmicos e residentes de diferentes campos para abordar as dificuldades de expressão, diagnóstico e tratamento do sexo masculino. As mesas debaterão, por exemplo: as peculiaridades do comportamento doloroso masculino, depressão, sono, endocrinopatias, disfunção no sistema urinário, prática de exercícios físicos, neuropatias, cefaleia, a dificuldade dos homens em admitirem dor e muito mais. Se interessou pelas jornadas? Fique atento ao site e às mídias sociais da APM, onde serão divulgados todos os detalhes e novidades sobre estes e outros eventos.


SUBVARIANTE BA.2 DA ÔMICRON: VEJA O QUE SE SABE SOBRE A NOVA CEPA Por Felipe Prado – Isto É Dinheiro

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variante Ômicron do coronavírus (BA.1) predomina em todo o mundo atualmente, mas cientistas detectaram que a subvariante da cepa, conhecida como BA.2, começa a superar a Ômicron em países da Europa e da Ásia. A Ômicron original respondia por 98,8% das amostras de Covid-19 sequenciadas geneticamente pela plataforma internacional GISAID, que reúne informações de 172 países, em 25 de janeiro. Porém, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a BA.2 começa a se espalhar com velocidade.

A OMS ainda cita outras duas subvariantes da Ômicron: a BA.1.1529 e a BA.3, todas muito semelhantes geneticamente, mas que podem apresentar comportamentos distintos. Uma pesquisa dinamarquesa ainda sem revisão por pares afirma que a BA.2 é 1,5 vezes mais contagiosa que a BA.1, embora não foi detectado um aumento da gravidade da infecção. Contudo, pessoas vacinadas, principalmente com a dose de reforço, têm menos chances de espalhar a subvariante. Virologista do Fred Hutchinson Cancer, Trevor Bedford destaca que a BA.2 já representa 82%

dos casos na Dinamarca, que começa a suspender as restrições sanitárias. No Reino Unido, a subvariante da Ômicron já responde a 9% das infecções; nos EUA, 8%. Já o professor Seshadri Vasan, da Agência de Ciências da Austrália, disse ao jornal inglês The Guardian, que “até agora, evidências mostram que, embora possa se espalhar mais rapidamente, não há evidências de aumento da gravidade. Portanto, é importante manter a calma e continuar as medidas existentes, como nos vacinar e seguir o distanciamento social, máscaras e diretrizes locais”.

VACINAÇÃO EM CRIANÇAS TEM AGENDAMENTO ABERTO EM MOGI

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ogi das Cruzes mantém aberto agendamento online para vacinação de crianças de 5 a 11 anos pelo www.cliquevacina.com.br . Há, ainda, algumas vagas para primeira, segunda e terceira dose contra a Covid-19 para adultos e adolescentes. O trabalho continua para avançar ainda mais a imunização contra a Covid-19 na cidade. Até o momento, 857.335 doses já foram aplicadas na cidade, sendo 359.349 primeiras doses, 333.882 segundas doses, 153.805 terceiras doses e 10.299 doses únicas. Na aplicação da dose, todas as crianças precisam estar acompanhadas por um responsável maior de 18 anos e apresentar documento de identificação (preferencialmente CPF), comprovante de residência e carteirinha de vacinação.

A vacinação das crianças acontece nas unidades de saúde, com acolhimento humanizado e totalmente especializado. Para crianças de cinco anos, independente se tem ou não algum tipo de comorbidade ou deficiência, a dose liberada é Pfizer. Já as crianças de 6 a

11 anos (exceto imunossudeprimidas), recebem a vacina Coronavac. Já as crianças imunossudeprimidas, com comorbidades ou deficiências que exigem o imunizante Pfizer, o agendamento também pode ser feito pelo SIS 160.

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COVID-19: ANS APROVA INCL ROL DE COBERTURA OBRIGAT Por Francine Curtolo - Assessora Jurídica da APM - OAB/SP nº 185.480

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Agência Nacional de Saúde Suplementar ANS, em reunião extraordinária da Diretoria Colegiada, realizada em 19 de janeiro de 2022, aprovou a inclusão do exame teste rápido para detecção de antígenos da Covid-19 (SARS-COV-2), no rol de coberturas obrigatórias para beneficiários de planos de saúde. O procedimento “150. TESTE SARS-COV-2 (CORONAVÍRUS COVID-19), TESTE RÁPIDO PARA DETECÇÃO DE ANTÍGENO” irá constar do Anexo I da Resolução Normativa nº

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465/2021, publicada no Diário Oficial da União de 20 de janeiro de 2.022, de modo que a partir dessa data, a cobertura passa a ser imediata e obrigatória. Assim, a cobertura do teste será obrigatória para os beneficiários de planos de saúde com segmentação ambulatorial, hospitalar ou referência e será feito somente quando houver indicação médica (pedido médico) e valerá para pacientes intomáticos que apresentarem Síndrome Gripal (SG) ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), entre o 1° e o 7° dia de início dos sintomas.

Nos termos da referida Resolução, a ANS esclarece que: “A Síndrome Gripal (SG) é atribuída ao paciente com quadro respiratório agudo, caracterizado por pelo menos dois dos seguintes sinais e sintomas: febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos ou distúrbios gustativos. Em crianças: além sintomas citados, o responsável deve considerar obstrução nasal, na ausência de outro diagnóstico específico. Em idosos: deve-se considerar também critérios específicos de agra-


USÃO DE TESTE RÁPIDO NO ÓRIA DOS PLANOS DE SAÚDE vamento, como: síncope, confusão mental, sonolência excessiva, irritabilidade e inapetência. Na suspeita de Covid-19, a febre pode estar ausente e sintomas gastrointestinais (diarreia) podem estar presentes.” “Já a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) é atribuída ao paciente com Síndrome Gripal (SG), que também apresente: desconforto respiratório ou pressão persistente no tórax, ou ainda saturação de oxigênio menor que 95% em ar ambiente, coloração azulada dos lábios ou rosto. Em crianças: além dos sintomas já mencionados, o responsável deve observar os batimentos de asa de nariz, cianose, tiragem intercostal, desidratação e inapetência.” O teste rápido para COVID-19, incluído no rol de coberturas obrigatórias dos planos de saúde, é feito exclusivamente em laboratórios, sendo que os testes realizados em farmácia não estão cobertos, de sorte que a orientação é que o Beneficiário consulte previamente a Operadora do seu plano de saúde para informações sobre a realização do exame e o local adequado. Ainda, vale pontuar que estão excluídos da cobertura obrigatória: a) os pacientes assintomáticos; b) crianças com menos de 24 (vinte e quatro) meses de idade; c) pessoas que tenham realizado RT-PCR ou teste rápido para

detecção de antígeno para SARS-COV-2, há menos de 30 dias e cujo resultado tenha sido positivo; d) pessoas cuja prescrição tenha como objetivo o rastreamento da doença, retorno ao trabalho, controle de cura ou suspensão de isolamento. De acordo com a ANS, “Para a avaliação da decisão, a ANS considerou o contexto atual, que conta com a circulação e rápido crescimento de casos relacionados à nova variante, Ômicron - designada como variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 26 de novembro do ano passado.” Importante dizer que, em caso de descumprimento de tal normativa pela Operadora de Planos de Saúde, essa negativa poderá ser considerada abusiva e indevida, ferindo-se os direitos do consumidor. Dessa forma, orientamos ao beneficiário: (I) Reunir todas as informações possíveis, em especial o pedido e relatório médico e o documento da negativa da Operadora de Saúde, por escrito (Resolução Normativa nº 319, de 2013, obriga as operadoras a entregar, por escrito, aos beneficiários a justificativa de negativa de autorização de procedimentos solicitados pelo médico); (II) Registrar reclamação nos canais de atendimento da ANS, munidos da negativa por escrito da operadora de saúde, assim como, nos órgãos de proteção

ao consumidor, como PROCON, IDEC e etc. (III) Consultar um profissional (advogado) para melhor orientação, inclusive para possibilidade de ingresso de medida judicial. Nesse sentido, vale dizer, que existem súmulas de tribunais com o entendimento de que os planos de saúde não podem determinar os tipos de tratamentos realizados, cuja a definição cabe aos médicos, tendo a possibilidade, apenas, de limitar as doenças que fazem parte da cobertura. Assim sendo, citamos como exemplos as seguintes Súmulas do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: Súmula 96: “Havendo expressa indicação médica de exames associados a enfermidade coberta pelo contrato, não prevalece a negativa de cobertura do procedimento” Súmula 102: “Havendo expressa indicação médica, é abusiva a negativa de cobertura de custeio de tratamento sob o argumento da sua natureza experimental ou por não estar previsto no rol de procedimentos da ANS”. Por fim, ressalvamos que a cobertura do tratamento aos pacientes diagnosticados com a COVID-19 já é assegurada aos beneficiários de planos de saúde, de acordo com a segmentação de seus planos.

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PANDEMIA DE COVID-19 FAZ NOTIFICAÇÕES DE HANSENÍASE CAÍREM 57% EM 2021 Não foram sequer diagnosticados para que pudessem ser notificadas.” CAMPANHA

Agência Brasil

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pandemia de covid-19 provocou, no ano passado, queda de 57% nas notificações de hanseníase no Brasil. Até o momento, foram registrados no país 12.045 novos casos da doença, informa levantamento preliminar feito pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) com base em dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. A pesquisa encerrou a programação do Dia Mundial contra a Hanseníase, que é sempre lembrado no último domingo de janeiro. Segundo a médica Araci Pontes Aires, assessora do Departamento de Hanseníase da SBD, o resultado que aponta queda nas notificações da doença não considera, porém, os números totalmente fechados de 2021, que o ministério deverá divulgar somente a partir de março ou abril deste ano. Isso significa que os casos apurados em 2021 ainda poderão mudar nos próximos dois meses. Em entrevista à Agência Brasil, Araci Aires informou que houve 28,8 mil notificações da doença em 2019 no Brasil e que, em 2020, ocorreu queda de quase 40%. “Isso é muito preocupante, pelo fato

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de a hanseníase ser uma doença crônica, que permanece endêmica no nosso país, com média de 28 mil casos nos últimos três anos antes da pandemia [2017, 2018, 2019]”, ressaltou a dermatologista. Com a pandemia, houve retração nas notificações, que passaram da média de 28 mil casos, em 2019, para 18 mil casos, em 2020. “Mas isso não corresponde à realidade”, afirmou Araci. Para a médica, este é mais um dos “efeitos deletérios” da pandemia, por conta do lockdown, do medo de comparecer a uma unidade de saúde e contrair a covid-19 e até mesmo pela sobrecarga do sistema de saúde, que foi obrigado a relegar um pouco as outras doenças crônicas. “A hanseníase também sofreu isso.” A dermatologista disse que os casos não notificados correspondem a pessoas que deveriam ter procurado as unidades de saúde para serem diagnosticadas e que permaneceram doentes, sem diagnóstico e, consequentemente, sem tratamento, “o que é grave”. Para Araci, a falta de notificações prejudica o rastreamento da doença. O Brasil é o segundo país em número de casos de hanseníase, atrás apenas da Índia, destacou a médica, lembrando que a pandemia causou grande impacto no subdiagnóstico. “Pessoas não foram diagnosticadas e permanecem doentes.

A conscientização das pessoas sobre a hanseníase foi o tema da campanha Janeiro Roxo 2022, intitulada “Precisamos falar sobre hanseníase”. Para Araci, a campanha deveria se realizar durante todo o ano, porque a hanseníase é uma endemia que, diferentemente da dengue, por exemplo, não ocorre em um período determinado, mas durante todos os meses. O foco da campanha da SBD é alertar a população, com informações sobre os sinais e sintomas da doença, o tratamento e o combater à questão do estigma dos portadores de hanseníase. “Em tratamento, a pessoa não transmite mais [a doença] e pode conviver normalmente com parentes, amigos e colegas no local de trabalho, sem nenhuma restrição.” A Sociedade Brasileira de Dermatologia recomenda que a pessoa procure um posto de saúde se tiver algum sintoma da doença. Entre os sintomas clássicos que podem alertar as pessoas para a hanseníase, a dermatologista Araci citou o aparecimento de mancha mais clara que a pele, avermelhada ou, às vezes, acastanhada, que não apresente sensibilidade normal; dormência de mãos e pés; orelha mais inchada; aparecimento de caroços pelo corpo; olhos ressecados; feridas, sangramento e ressecamento no nariz; febre e mal-estar geral. “Todos são sinais de alerta para que a pessoa busque uma unidade de saúde para confirmar se é um caso de hanseníase.”


Cultura

EM MOGI DAS CRUZES

THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO CELEBRA O CENTENÁRIO DA SEMANA DE ARTE MODERNA DE 22 “A arte, mesmo a mais pessimista, é uma proposição de felicidade”

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ssa é uma das memoráveis frases de Mário de Andrade, poeta, musicólogo e um dos precursores do modernismo no país. Palco de uma das manifestações mais importantes do Brasil, o Theatro Municipal celebrará em 2022 os 100 anos da Semana de Arte Moderna, movimento que reuniu artistas e intelectuais que estavam dispostos a renovar o ambiente artístico da época e iniciar um período de valorização de uma cultura essencialmente nacional. Em 1922, entre os dias 13 e 17 de fevereiro, o manifesto artístico-cultural reuniu diversas apresentações de dança, música, recital de poesias, exposição de obras – pintura e escultura – e palestras. Artistas consagrados como Mário de

Andrade, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Oswald de Andrade, entre outros, trouxeram uma nova visão de arte para o país. O movimento, que deu origem ao Modernismo no Brasil, chocou grande parte da população e rompeu com a arte acadêmica ao trazer uma revolução estética e social. Para fazer jus a esse movimento, o Municipal apresentará, de 10 a 17 de fevereiro, uma programação especial, que conta com apresentações da Orquestra Sinfônica Municipal, Coral Paulistano, Quarteto de Cordas e Balé da Cidade, ciclo de encontros, shows, sarau e expedições e diversas atividades. A programação completa pode ser conferida no site: theatromunicipal.org.br.

Entre os dias 12 e 19 de fevereiro, a Secretaria Municipal de Cultura vai promover uma programação especial, em homenagem aos 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. Intitulada “Contexto e Protagonismo – 100 anos da Semana de 22”, a agenda vai reunir nove atrações, entre palestras, exibição de filme, oficina, exposição, bate-papo e sarau. Todas as atividades são gratuitas e a entrada do público deverá obedecer a protocolos sanitários.

Mais informações sobre a programação podem ser obtidas pelo telefone da Secretaria de Cultura, que é o 4798-6900.

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PEQUENA PROTEÍNA REDUZ PATENTE E PODE SER ALIA Por: Júlio Bernardes/ Arte: Ana Júlia (Jornal da USP)

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ma pequena proteína cuja origem são as células do corpo humano pode ter um grande papel no controle da diabete. Em pesquisa com participação do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, cientistas descobriram que o peptídeo Ric4, sintetizado a partir de uma proteína produzida pelas células sanguíneas, aumentou a sensibilidade à insulina e reduziu a glicemia, ou seja, o nível de açúcar no sangue. Os estudos sobre a estrutura e as propriedades do Ric4, realizados em animais, geraram uma patente que, no futuro, poderá dar origem a medi-

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camentos para tratar a diabete, e que sirvam de alternativa à terapia com insulina. Os resultados do trabalho são mostrados em artigo publicado no site da revista científica Pharmaceuticals, no último dia 16 de dezembro. A diabete tipo 2 acontece quando o corpo desenvolve resistência à insulina, responsável por processar o açúcar no organismo e levá-lo às células, o que aumenta a concentração de açúcar na corrente sanguínea. “Há alguns anos, nosso laboratório desenvolveu um teste

em modelo animal que encontrou alterações em um grupo de peptídeos intracelulares (InPeps), que são pequenas proteínas produzidas no interior das células, normalmente a partir de proteínas maiores”, explica ao Jornal da USP o professor Emer Ferro, do ICB, coordenador do estudo. “Os animais testados apresentaram maior sensibilidade à insulina e, consequentemente, maior captação de glicose e glicemia reduzida. Nossa hipótese era de que isso aconteceu devido às alterações nos níveis de InPeps.”


NÍVEIS DE AÇÚCAR, GERA DA NO COMBATE À DIABETE Em seguida, os pesquisadores sintetizaram quimicamente em laboratório quatro peptídeos, que foram denominados Ric1, Ric2 e Ric3 e Ric4. “O Ric 1 e o Ric2 foram identificados no músculo gastrocnêmio (batata da perna) e são derivados da proteína troponina I; o Ric3 foi encontrado no tecido adiposo epididimal (na região do púbis), produzido a partir da proteína de ligação acil-CoA, e o Ric4 é derivado da subunidade alfa da hemoglobina, proteína existente no sangue”, descreve o professor. “Nosso objetivo foi identificar se algum desses peptídeos poderia reproduzir farmacologicamente a maior sensibilidade à insulina e à glicemia reduzida observada nos animais.”

CAPTAÇÃO DE GLICOSE “Caso isso acontecesse, poderíamos identificar um novo peptídeo que poderia ser usado no tratamento de pacientes diagnosticados com pré-diabete ou diabete tipo 2, que possuem elevados níveis de glicose e não respondem à insulina”, relata Ferro. “Foram realizados testes de viabilidade celular em cultura de células, de avaliação do efeito dos peptídeos nos níveis de expressão de proteínas específicas (Western Blotting), de estabilidade enzimática, de expressão gênica (PCR), de captação de glicose em tecidos animais e culturas

de células de camundongos, e de tolerância e transporte de glicose, em células e modelos animais.” A pesquisa verificou que dois derivados do peptídeo Ric4 (Ric4-2 e Ric4-15) possuem ação hipoglicemiante, isto é, induzem a captação de glicose e reduzem a glicemia em animais após administração oral. “As análises sugerem que o peptídeo se liga ao receptor de insulina para induzir a captação de glicose, de forma independente da insulina, esta última também um peptídeo, aumentando sua sensibilidade”, aponta o professor do ICB. “Modificações estruturais do Ric4 natural, que geraram o Ric4-2 e o Ric4-15, reduziram sua degradação por enzimas digestivas, sem prejudicar a ação farmacológica. Em resumo, peptídeos como o Ric4 podem exercer ação similar à insulina e podem ser úteis no tratamento de pacientes com diabete tipo 2.” De acordo com Ferro, apesar da significância biológica e farmacológica, as possíveis aplicações clínicas do Ric4 ainda merecem mais investigações. “O estudo indica que pacientes com pré-diabete ou diabete tipo 2, que têm hiperglicemia resistente à insulina, poderiam ser tratados com Ric4 ou com seus análogos, Ric4-2 e Ric4-15. Porém, ensaios adicionais precisam ser realizados para avaliar a potên-

cia do peptídeo em reduzir a glicemia de portadores de diabete tipo 2”, destaca Ferro. “Nosso trabalho reforça a perspectiva que os peptídeos podem manter sua atividade farmacológica após administração oral, ‘quebrando’ o dogma que dentro do corpo eles são imediatamente degradados por enzimas digestivas.” Além da publicação do artigo, um pedido de patente do peptídeo Ric4 foi depositado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) pela Agência USP de Inovação (Auspin) e pela INOVA, Agência de Inovação da Unicamp. “Embora o pedido tenha sido depositado em maio de 2018, nenhuma empresa até o momento se interessou em licenciar a patente do Ric4 para desenvolvimento de um fármaco alternativo à insulina para o tratamento da diabete tipo 2”, conclui o professor. O trabalho teve a participação dos pesquisadores Renée Silva, Ricardo Llanos, Rosangela Eichler e do professor Emer Ferro, do Departamento de Farmacologia do ICB, do pesquisador Thiago Oliveira e do professor William Festuccia, do Departamento de Fisiologia do ICB, e do professor Fabio Gozzo, do Instituto de Química da Unicamp.

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