
EDIÇÃO 12 - ANO 2 - JULHO/2024

VIRALIZOU
INFORMAÇÃO COM HUMOR
EDUCAÇÃO
NA ESCOLA, SEM CELULAR
MERCADO MUSICAL
VENDAS DE VINIS
RESISTEM NO



EDIÇÃO 12 - ANO 2 - JULHO/2024
VIRALIZOU
INFORMAÇÃO COM HUMOR
EDUCAÇÃO
NA ESCOLA, SEM CELULAR
MERCADO MUSICAL
VENDAS DE VINIS
RESISTEM NO
[ 05
INSTAGRAM IMPULSIONA COMERCIALIZAÇÃO DE DISCOS VINIS EM MACEIÓ
NÓTICIA E HUMOR INDEPENDENTE EM MACEIÓ [ [ 09
ALUNOS SEM CELULAR NA SALA DE AULA [ [ 34
[ 18
A Revista Fora da Caixa é um produto editorial da disciplina Laboratório de Mídia Impressa desenvolvido pelos alunos do 6º período do Curso de Jornalismo do turno noturno da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Esta edição foi produzida no semestre letivo 2023.2
Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Arte (ICHCA)
Curso de Jornalismo
Endereço
Av. Lourival Melo Mota s/n, Tabuleiro do Martins, Maceió - AL / CEP 57072-900
E-mail: rforadacaixa@gmail.com
Instagram: @revista foradacaixa
Youtube: youtube.com/@Revista.ForadaCaixa
Issuu: issuu com/revistaforadacaixa
Siga nosso perfil no Spotify e fique por dentro das nossas playlists!
EFEITO ZAP ZUM, NAS REDES EU VOU!
EDITOR-CHEFE
Marcelo Robalinho (MTE 13538/PE)
MONITORIA
Bruno Melo
Caroline Oliveira
Eduarda Lima
Maykon Felipe
Teresa Cristina
EDITORES RESPONSÁVEIS
Editor: Arthison Lucena
Subeditor: Guilherme Nobre
REPORTAGEM
Arthison Lucena
Brenda Souza
Damasio Frank Guilherme Honório
Guilherme Nobre
Maria Eduarda
Matheus Correia
Priscilla Nascimento
Rebecca Loureiro
NÚCLEO DE DESIGN
Editor: Matheus Correia
Subeditora: Brenda Souza
NÚCLEO DE REDES SOCIAIS
Editor: Leandro Lima
Subeditor: Guilherme Acioly
Social Media: Vitor Manoel
Caro leitor,
Não tem como vivermos hoje sem compreender as mudanças que as redes sociais estão causando. E esse processo está sendo rápido, por isso é importante uma análise. De que forma as mídias sociais interferem na educação, decidem nossas escolhas, influenciam as relações humanas e como somos influenciados por elas? O que ocorreria se deixassem de existir?
São perguntas que esta edição da Fora da Caixa irá responder Juntos em equipe e cada qual com suas produções, os colaboradores buscaram esclarecer e desvendar as formas de interferência das mídias sociais em nossas vidas Um estudo feito em 2023 pela Agência We Are Social indica que 4,76 bilhões de pessoas no mundo têm acesso às redes. Esse núm representa 60% da população Brasil, são 181 milhões de pe on-line, ou 85% dos habita Imagine o impacto que seri economia, na comunicação comportamento se, de uma para outra, as redes so parassem de funcionar e voltassem mais. Em 202 Facebook (atual Meta) parou de funcionar por seis horas Isso foi o suficiente para que ela perdesse
36 bilhões de dólares. Imagine todas as mídias parando por dias, meses, anos, não voltando mais
A partir desse exercício de imaginação, vamos pensar juntos nos benefícios e malefícios das redes A partir da realidade local de Alagoas, vamos ver como uma escola do interior lidou com o uso das redes sociais em sala de aula. Também iremos levar você ao centro de Maceió para saber como o Instagram ajudou a impulsionar a venda de vinis E entender o chamado efeito ZAP ZUM. Você sabe o que é? Se não ainda, iremos contar para você! Ficou curioso? Embarque conosco nesta 12° edição da Fora da Caixa!
Boa leitura!
Editores da 12ª edição da Revista o
Os textos veiculados nesta revista não representam a opinião da UFAL, nem do curso de Jornalismo
Por Brenda Souza e Damásio Frank
Orkut e o famoso MSN vamos combinar, naquela época, o acesso ainda tinha suas limitações. Seja por uma internet lenta e com uma cobertura de rede mais rasa ou porque os computadores não eram acessíveis para todos. E cá estamos nós, nos tempos modernos, que até os idosos usam celulares digitais sensíveis ao toque. Quem imaginaria que um escritório inteiro caberia dentro de um pequeno aparelho celular! Ou que uma sala de aula se transformaria em um novo espaço educacional onde o professor lecionaria de um lado da tela e o aluno aprenderia do outro! Será que toda essa revolução tecnológica é benéfica dentro das escolas em que os smartphones reinam soberanos? E os impactos disso?
Para buscar essas e outras respostas, fomos até a Escola Municipal Senador Arnon de Mello, em Matriz de Camaragibe, município da zona da mata alagoana, a 75 quilômetros de Maceió (AL). Para começar, imagine uma sala de aula onde o som dos teclados digitais é substituído pelo burburinho animado das conversas entre os alunos. Em uma conversa descontraída com a professora de português do 6º ano do ensino fundamental Iraci da Silva, ela nos levou numa viagem nostálgica relembrando os tempos em que os alunos interagiam sem as distrações das redes sociais.
“Até uns 10 anos atrás, por exemplo, o Instagram não tinha tanta audiência como hoje Nem os celulares tinham as possibilidades tecnológicas que hoje têm... Nunca pensei que eu iria sentir falta do barulho dos meninos na sala. Botam o fone no ouvido, já era”, desabafa a professora.
TECNOLÓGICA
RUMO À DESCONEXÃO
Após uma reunião do conselho escolar liderada pela diretora Leila Antonia, que viu a necessidade de conter os excessos tecnológicos, foi decidido que o uso de celulares seria proibido. A gestora explica que os alunos estavam extrapolando, ou melhor, ultrapassando todos os limites “Os alunos estavam escutando músicas em sala de aula, jogando e assistindo muito conteúdo desnecessário, como dancinhas do TikTok, produções do Instagram e conteúdo adulto”, explica Leila
Segundo os demais docentes, foram feitas reuniões antes e depois da implementação da medida para garantir que todos estivessem cientes da mudança. Mas não foi fácil Alguns pais criticaram a ideia, enquanto outros temiam que a escola estivesse tentando ”amordaçar” seus filhos, bem ao gosto da velha censura No entanto, com o tempo, as coisas se acalmaram e os benefícios começaram a surgir Leila lembra ainda que o jogo eletrônico “Free Fire”, da Battle Royale, comum nos dispositivos móveis, consumia bastante tempo dos alunos, além de os deixar com o humor alterado
Para preencher esse espaço que os celulares deixaram, foi preciso muito diálogo e rodas de conversa em sala de aula, além de gincanas e debates sobre determinados assuntos, deixando as aulas mais interativas. A docente Carla Mariane diz que, para poder prender a atenção dos alunos, usa uma estratégia de explicar o conteúdo e logo abrir uma roda de conversa, dando es-
Escolas vêm adotando medidas para incentivar nos estudantes as interações offline na aula
Entre recursos educacionais e distrações, um dilema atual busca equilíbrio entre aprendizado e tecnologia F o t o :
paço para eles se expressarem. “Antes o professor de História, por exemplo, apenas apresentava o conteúdo. Hoje esse mesmo professor explica o conteúdo e, em seguida, instiga esses alunos a falarem. Dessa forma, fica melhor até de avaliar o aluno, pela participação, uma espécie de mini prova discursiva”, explica Carla Mariane.
“EU NÃO SOU TODO MUNDO!”
E o que os alunos têm a dizer sobre tudo isso? No geral, eles também tiveram que se adaptar. Procuramos entender como é o ambiente escolar sem o celular e sem a interatividade das redes sociais. Um pequeno grupo de alunos defendeu a ideia. Segundo relatam, eles passaram a conversar
mais e a estudarem juntos. Quando chega em casa, os jovens costumam assistir um vídeo, depois outro e mais outro e, quando se dão conta, o tempo se passou e esquecem de fazer as atividades
Luana Oliveira, do 6º ano do fundamental 2, quase reprovou de tanto assistir vídeos de maquiagem no TikTok. “Eu colocava o fone de ouvido dentro do quarto para minha mãe não ouvir e ficava assistindo vídeos de make, culinária e pegadinhas. Não fazia as atividades ou entregava com atraso Por conta disso, minhas notas ficaram vermelhas Daí, minha mãe foi chamada na escola, fiquei de castigo e sem celular. Depois disso, consegui recuperar as notas e passar de ano”, relata Luana.
Já o Miguel, também do 6º ano, não concorda totalmente. “Às vezes, queremos fazer umas pesquisas na internet e não podemos. Por isso, demoramos mais para encontrar as respostas porque está em livros, o que no celular levaria segundos E jogar de vez em quando não faz mal a ninguém e eu não sou todo mundo”, disse Miguel.
Buscando aprofundar o assunto com os professores, a reportagem da Fora da Caixa perguntou se eles acreditam que serão substituídos algum dia, devido aos avanços tecnológicos. A maioria acredita que não, pois o próprio avanço digital só ocorre, devido aos estudos realizados pelos próprios humanos “A inteligência artificial (IA), por exemplo, só sabe de tal conhecimento, após alguém produzir aquele material e publicálo. A IA só funciona com a internet, ela não está nos livros. Quanto à questão das redes sociais, pode haver uma perda no aprendiza-
Claro que depende do estudante, das orientações que ele tem em casa, mas se outras escolas não tomarem uma medida que possa corrigir esse comportamento, teremos uma queda no aprendizado dos nossos alunos. Já temos, na verdade”, afirma a diretora Leila Antonia.
Apesar dos desafios, a experiência tem sido positiva na Escola Municipal Senador Arnon de Mello Os professores acreditam que a tecnologia é uma ferramenta valiosa, representando um verdadeiro aprendizado no qual os alunos têm a oportunidade de se conectar uns com os outros e com o conteúdo de forma mais genuína E os resultados estão aí para provar: uma escola onde a conversa é mais do que um emoji e o aprendizado é real, mesmo sem a ajuda dos smartphones.
A nossa reportagem entrou em contato com a Secretaria de Estado da Educação de Alagoas (Seduc-AL), a fim de saber como funciona nas escolas estaduais o uso dos aparelhos celulares Através de uma nota encaminhada pela Assessoria de Imprensa da Seduc, a pasta declarou que vê com bons olhos o uso das tecnologias com viés pedagógico na rede estadual de ensino, especialmente observado com a pandemia da covid-19. “No que concerne à legislação, não temos uma lei ou uma regulamentação normativa a respeito, mas existem os direcionamentos para o uso produtivo, com uma intenção pedagógica, das tecnologias disponíveis, inclusive o celular. Nossos professores são incentivados a utilizar, de forma inovadora e criativa, os recursos tecnológicos, digitais ou não, em sua prática docente”, acrescentou a nota
Eduardo Galeano, em “Dias e Noites de Amor e Guerra”, tinha razão. “A memória guardará o que valer a
pena e ela não perde o que merece ser salvo” Embora o contexto da obra do escritor e jornalista uruguaio seja das histórias de intolerância e violência vividas nos chamados “anos de chumbo” das ditaduras militares na América Latina, podemos fazer uma conexão com a música, foco da nossa reportagem. Ela serve como um alicerce de momentos que ficaram marcados em nossas memórias - sejam positivos ou negativos.
Que o digam os comerciantes de álbuns de vinil, aqueles discos antigos que parecem umas “bolachas” pretas contendo um rótulo e um furo no meio e tocam canções nos velhos aparelhos de som Esses longs plays ainda mexem com o imaginário de amantes e colecionadores Nas redes sociais, esse sentimentalismo costuma vir à tona, sobretudo quando impulsionado pelas estratégias de divulgação e vendas
Wellysson Omena, proprietário e colecionador há dois anos da banca Só Discos, relembra com afeto suas primeiras lembranças envolvendo o cancioneiro popular e os “bolachões”. “Entre os 9 e 10 anos de idade, lembro perfeitamente que minha mãe tinha uma coleção de vinil. A mídia física ficou marcada na minha memória”. Em tempos em que os streamings centralizam o consumo midiático, as redes sociais desempenham um valioso papel na perpetuação da cultura da mídia física, em especial dos LPs E Wellyson tem consciência dessa importância, tanto que atualmente esse comércio é sua principal fonte de renda “Hoje nosso mundo é o virtual Então
temos que fazer a divulgação, usando as redes sociais para isso, como o Instagram, o Facebook e até o YouTube, além das plataformas de vendas, como OLX”, considera o comerciante
A paixão de Deborah Rocha pelo vinil começou no passado “Eu tenho uma lembrança muito forte, quando comprei meus primeiros discos das cantoras Fafá de Belém e da Tracy Chapman. Comprei aleatoriamente, porque tinha o intuito de ser colecionadora” Ao lado do marido, Júlio Rosendo, ela comanda a Ginga Discos há cinco anos “A abertura principal para começarmos a venda de discos foram as redes sociais. Foram a nossa forma de acesso com as pessoas, porque muitas nem colecionavam. Após conhecerem nossa loja, passaram a ter esse intuito”, observa O sentimento passional em relação aos discos de vinil ainda permanece, mas agora dividindo espaço com a seriedade do trabalho, numa parceria que rende frutos.
Residente em Arapiraca, município do agreste alagoano situado no oeste do estado a cerca de 125 quilômetros da capital, o casal Helder Pereira e Jussara Santos, proprietários da Bolinho Discos, é outro exemplo de vendedores que se utilizam das redes sociais para anunciar e vender LPs Hélder, que é professor de Filosofia e Sociologia da educação básica, recordou com carinho o primeiro álbum que escutou, na mesma época em que a mãe adquiriu um aparelho de som três em um da marca CCE, que reunia toca-discos, rádio e toca-fitas num só equipamento.
“Foi o disco da Simone, de Natal!”, diz Hélder O álbum a que ele se refere é o “25
de Dezembro”, lançado pela cantora brasileira em 1995 pela gravadora Polygram (atual Universal Music), que ultrapassou a marca de mais de um milhão de cópias vendidas na época, sendo um case de sucesso da indústria fonográfica brasileira Helder ressalta que a venda de vinis é um hobby para o casal, mas que usa o Instagram para divulgação e comercialização dos produtos
Assim como o casal arapiraquense, para Glaudistone Ferreira, professor de Português do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), a venda de vinil é um passatempo, comercializando os excedentes da coleção pessoal, no qual anuncia pelo Instagram e por outras plataformas, como o Mercado Livre e a OLX As feiras de discos, similares à 9° Feira de Discos, Arte e Cultura, realizada em março no Mercado das Artes, no bairro do Jaraguá, em Maceió, onde Glaudistone esteve presente, são os momentos em que mais arrecada
Acompanhado da neta, Ana, ele relembrou, afetuosamente, os “primórdios” da sua coleção. “Quando era garoto, aqui, em Maceió, eu participava de programas de rádio, da Rádio Gazeta, e sempre ganhava discos, onde você tinha que adivinhar qual era a música que estava tocando” Ele ainda guarda itens daquela época, oriundos dos anos 70 “Tenho ‘Vento Sul’, do Marcos Valle, que ganhei na Rádio Gazeta; ‘Acabou Chorare’, dos Novos Baianos, de 1972, e vários outros guardados em casa”.
A Dinossauro Discos é outro estabelecimento que trabalha com o Instagram na divulgação dos títulos que comercializa no Recife, capital pernambucana. Edson José, o proprietário, surfa nas ondas da nostalgia, ao evocar, devi-
do à idade, o sucesso e o declínio dos discos de vinis para o Compact Disc (CD). Fiel ao saudosismo musical comercializando itens do passado - paralelamente, também é responsável por uma loja de acessórios de moda voltados ao rock, ele conta com o impulso do Instagram somente para divulgação. Ao ser questionado qual albúm em especial que guarda boas lembranças, Edson não titubeia: “O ‘Paranoid’, do Black Sabbath [banda de heavy metal britânica]!”
No entanto, nem todos estão familiarizados com as redes sociais, como é o caso do Edivaldo José, responsável pela banca Escritos e Discos Há 30 anos no ramo, tendo seu local de trabalho no paredão da Assembleia Legislativa de Alagoas, no centro de Maceió, ele admite que precisa melhorar nesse quesito. “Uso muito pouco, mas penso em melhorar No momento, utilizo mais o Whatsapp e, futuramente, pretendo criar um perfil no Instagram”
Na maioria das vezes, números não são apenas números. Por trás da “neutralidade” das estatísticas e dos resultados, podemos perceber alguns fenômenos. Em 2022, de acordo com o relatório da Associação Americana da Indústria de Gravação, a venda de discos de vinil superou a de CDsplacar final de 41 milhões a 31 milhões, respectivamente. Desde o longínquo ano de 1987, o mundo não testemunhava tal fato. Como relatado pela grande maioria dos vendedores de discos, o universo virtual, com destaque ao Instagram, desempenha um grande papel na venda dos LPs.
A rede social, lançada em 2010 e adquirida pelo Facebook dois anos mais tarde (ambas
fazem parte da Meta), possui, atualmente, mais de dois bilhões de usuários espalhados pelo mundo No Brasil, cerca de 99 milhões estão conectados. De acordo com a consulta realizada pela Opinion Box, empresa especialista em pesquisa de mercado e customer experience, em 2024, com mais de 2 000 usuários brasileiros, 68% afirmaram que já compraram algum produto ou serviço visto no Instagram
Lorenna Monteiro, publicitária e responsável pela Agência de Marketing Wave Mídia, explica. “A rede social entra, de maneira fundamental, nesse âmbito da compra e da venda, porque estamos o tempo todo com ela nas mãos e os desejos estão cada vez mais próximos da gente”, reconhece. Nesse contexto, o Instagram possui certas singularidades, em comparação com as outras: “Ele se transformou numa vitrine pela facilidade do contato, já que traz essa vitrine no feed das postagens do Instagram”,
“O
INSTAGRAM SE TRANSFORMOU NUMA VITRINE VIRTUAL PELA FACILIDADE DO CONTATO COM O PÚBLICO ATRAVÉS DO FEED
Esse contato é importante, tendo em vista as ligações que são fortalecidas com o consumidor final. No caso de produtos nichados ou específicos - assim como a venda de discos, é possível usar o algoritmo da plataforma, como destaca a publicitária. “Você vai ter anúncios patrocinados para o público específico desse material O algoritmo ajudará a selecionar esses clientes e, consequentemente, eles começarão a escolher essas marcas e lojas Com isso, você também pode romper as barreiras da geolocalização”. Em Maceió, Jailson, responsável pela Solar Discos, rapidamente percebeu esse potencial exclusivo do Instagram
Impossível passar e não desviar a atenção, mesmo que por um milésimo de segundo, das famosas figuras que nos encaram penduradas na banca. O sorriso faceiro de Gilberto Gil, em “Realce”, era uma espécie de boas-vindas. Belchior, em tom azulado do primeiro álbum, de 1974, conhecido como “Mote e Glosa”, antecipava sua futura alucinação. O “Feitiço”, disco lançado em 1978 pelo cantor Ney Matogrosso, estava na seriedade do rosto do artista, adornado por rosas brancas. Isso era só uma parte da grande coleção presente na Solar Discos
Jailson Alvim, proprietário, está há 15 anos no ramo, na “residência do vinil em Maceió”, como ele mesmo costuma dizer, no paredão da Assembleia Legislativa. A lembrança musical destacada por ele é parecida com a do Wellysson, do Hélder, talvez a sua, na qual o convívio familiar molda o contato com a música “É do meu pai, na minha casa, na minha infância, ouvindo os discos do Paulo Sérgio”.
Você, leitor da Fora da Caixa, talvez conheça, mas não saiba Até pouco tempo atrás, a canção “Não Creio Mais em Nada” embalou diversos vídeos humorísticos no TikTok e reels do Instagram, possuindo mais de 12 milhões de acessos no YouTube. Numa rápida olhada nos comentários, vemos que há a presença de uma galera mais jovem que simpatizou com a canção Viver com música era um sonho antigo que o Jailson carregava consigo, desde a época em que era frequen-
tador assíduo das lojas de discos de Maceió, onde idealizava todo o processo. “Ficava imaginando ouvindo música, atendendo os clientes. Depois, surgiu a oportunidade de comercializar aqui, no paredão. Embarquei nessa e estou até hoje”, relembra
Durante a pandemia de covid-19, Jailson ficou desempregado e, por conta disso, as vendas de LPs tornaram-se sua fonte de renda primordial E sabendo do atual poder das redes sociais, utiliza como ferramenta de divulgação e comércio do trabalho o Instagram. “Todo mundo, hoje em dia, tem que usar esse canal, para que seu produto seja visto”, destaca o comerciante.
A página da Solar conta com mais de 2 mil seguidores. Além de divulgar os produtos, o proprietário costuma publicar as fotos dos clientes garimpando em busca das relíquias disponíveis ou adquirindo algum disco novo
FORA DA CAIXA
no estabelecimento. Consequentemente, isso aproxima o público da banca “Por ser muito visual, o Instagram chama a atenção. As pessoas, quando viam a página, ficavam muito curiosas em saber que há um local desses em Maceió. A partir dessa divulgação, elas puderam vir aqui, conversar com a gente, saber da nossa realidade”, explica.
solar.discos
sável por uma boate e um bar. Julia, aos 17, mesmo sendo tão jovem, é fã dos discos de vinil e orgulho do patriarca que, desde a infância, ele comentou, já instruiu a garota a gostar do que denomina como “música boa” - espaço aberto às subjetividades, leitor.
A camisa da banda AC/DC não esconde a predileção da garota por rock, herdado do “paizão” Há pelo menos quatro anos, ela é cliente da banca, da qual também é seguidora no Instagram: “Quando eu tinha uns 14 anos, a minha tia deu uma vitrola de presente de aniversário. Eu estava procurando algum lugar para comprar vinil e na internet, geralmente, é mais caro, e na época achei a página da Solar Discos”.
solar.discos O garimpo hoje começa às horas e vai até as 18 horas com mais discos na promoção
Publicação da Solar Discos no Instagram destaca o garimpo de clientes do estabelecimento em busca por discos em promoção ou raridades disponíveis à venda
No momento propício, dois clientes aparecem na banca Bruno Fazio e Julia Fazio, pai e filha, respectivamente, simbolizam o contraste geracional. Bruno, aos 52 anos, possui história na capital alagoana e pernambucana, onde foi respon-
Mas o que realmente atrai uma pessoa dessa idade, nativa digital, a comprar os antigos “bolachões”? “Eu gosto do som, do sentimento de escutar a música no vinil. O som é bom, você não precisa de uma playlist, com internet, para ouvir. No vinil, você tem a música consigo. É legal, para se desfazer um pouco do mundo virtual e dos eletronicos”, respondeu Julia.
Bruno, com um sorriso de orelha a orelha, sente que fez um bom trabalho, quando vê a filha carregando os discos “Ooh Yeah!”, do Daryl Hall & John Oates; “Black and Blue”, do Rolling Stones; “Blackless”, do Eric Clapton; e “Even In The Quietest Moments”, do Supertramp. “Cara, dever cumprido, né?! Fui eu que apresentei a ela tudo isso, ainda bebezinha”, comemora o pai. E ele ainda faz um paralelo interessante “O vinil é como o livro. Você tem acesso a tudo nas plataformas eletrônicas, mas tem coisa mais maravilhosa do que pegar um livro e ver aquilo na estante?”, questiona.
Mais do que um ponto de vendas e de boa prosa, no centro da cidade, a Solar Discos integra um local es-
pecífico. Na região da Rua Doutor Luís Pontes de Miranda, no centro de Maceió, diversos sebos e alfarrabios estão presentes. Lá, são vendidos discos e livros a preços acessíveis. Não raramente,ovisitanteencontraimpressõesanti-
gas de obras clássicas de nomes da literatura alagoana e brasileira. Ou seja: também é um espaço cultural Todavia, não serem vistos dessa forma é algo prejudicial, de acordo com o Jailson “A nossa feira é marginal, porque vivemos à margem das políticas culturais, municipais e estaduais, há anos. Isso tem que mudar”, defende.
O centro de Maceió, embora seja uma região histórica, sofre de um processo visto em outras metrópoles, caracterizado pelo abandono público. Prédios antigos e fachadas deterioradas espalham-se dentre as ruas estreitas, muitos ainda carregando traços de uma arquitetura que ficou no passado. Paralelo ao esquecimento, o local registra o frenesi diário ocasionado pela presença das grandes lojas de roupas, varejo, restaurantes, lanchonetes e ambulantes com suas barraquinhas À noite, a insegurança domina, e poucos querem ser testemunhas do medo que recai sobre a região.
Jailson comenta que um projeto de reestruturação da área onde atuam os sebos, no paredão, foi apresentado. “Existe uma proposta de reurbanização de toda essa área feita pelo pessoal do CESMAC [Centro de Estudos Superiores de Maceió]. Na época da gestão do ex-prefeito Rui Palmeira, veio uma verba boa para executar esse projeto, mas não tocaram mais para frente”.
Enquanto isso, a inércia reflete-se em calçadas esburacadas, remendadas pelos próprios proprietários dos sebos, e bancas que adquirem as marcas das intempéries.
Logo, o Instagram, através da página oficial da Solar Discos, perante a desassistência, também assume o propósito de despertar usuários e clientes, sobre o atual momento vivido pela cultura maceioense e alagoana “Pela rede social, temos um canal para que as pessoas começem a indagar sobre a cidade”, diz Jailson
A nossa reportagem entrou em contato com a Assessoria de Imprensa do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Maceió
(Iplan), ligado à Prefeitura Municipal. O órgão, que também é responsável pelo Plano Diretor dada cidade (o atual data de 2005 e, por lei, deve ser renovado a cada dez anos), declarou que tem abordado de maneira “integral e abrangente na concepção do plano para o Centro, visando favorecer sua reabilitação”. Conforme nota enviada pela Assessoria de Imprensa, o instituto afirmou que, entre a troca dos mandatos da gestão municipal, no fim de 2020, o projeto não foi encaminhado para análise. “Em relação à reurbanização da área, o referido projeto não foi repassado para análise, impossibilitando qualquer manifestação específica”, comunicou a pasta Em nota, o Iplan informou que segue atuando no Centro da capital alagoana, promovendo melhorias estruturais e recebendo as demandas reportadas pela população local. (GH)
que era comum nos rádios, jornais impressos e telinhas da TV, agora tem como principal meio às novas fontes de tecnologia. Sim, a nossa forma de escutar e compartilhar informações se modificou com o “boom” da modernidade e, como tudo se transforma, eis que vem à tona o impacto das redes sociais. Pensando nisso, surge uma nova forma de transmitir notícias no mundo e Maceió não ficou para trás
Como já dizia o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman: “Não há como conceber a sociedade do futuro sem tecnologia. Então, se não pode vencê-la, una-se a ela”
E cá estamos, em um constante crescimento da era digital, sobretudo quando se fala nas relações humanas e sua maneira de comunicar-se Em meio aos cliques no feed e nos stories da rede social Instagram, a busca pela velocidade das postagens é cada vez mais frequente. E, é claro, que isso também entrou no campo das notícias.
Com o humor e entretenimento, atingindo a marca de mais de 1 milhão de seguidores, surge na vida dos maceioenses uma das páginas mais divertidas da web: o Maceió Ordinário. Criada pelo influenciador Diogo Moreira, a comunidade atua há 12 anos no mercado e deixou a sua marca registrada, no decorrer dos anos, quando o assunto é divulgar os principais acontecimentos da capital alagoana, com foco em história, notícias e memes, conforme consta na descrição do perfil do veículo no Instagram
A página segue como uma das mais acessadas pelos macioenses e atrai também outros influenciadores
O Maceió Ordinário se moldou na mente de Diogo e hoje é uma das páginas de notícias e humor mais acessadas do Estado. Surgiu com a ideia de “jogar no ar” algumas notícias curtas sobre a capital alagoana e apostar para dar certo “A página começou no Twitter (atual X), por volta de 2012, quando também tinha criado uma conta no Orkut, uma antiga rede social vinculada ao Google, uma espécie de “prima distante” do Facebook Só que no Twitter dava pra escrever algumas sátiras e conteúdos não muito longos, porque só era possível colocar até 140 caracteres”, relembra Diogo.
À reportagem da Revista Fora da Caixa, o influenciador contou que apostou - assim co-
mo a maioria dos criadores de conteúdo da época - no “boom” do Facebook e, com uma simples publicação de memes, o projeto começou a dar certo Após longos anos de experiência com o público alagoano, Diogo salienta que os conteúdos que mais se destacam na página são notícias inusitadas. Segundo ele, fenômenos naturais é um dos tópicos que mais causam engajamento
“Sempre optamos em falar sobre o que está acontecendo em Maceió. Algo inusitado que aconteceu, como um fenômeno natural, são as coisas que mais engajam. A última coisa que aconteceu foi um redemoinho em fevereiro deste ano, como se fosse um tornado, na orla da Ponta Verde [bairro da zona nobre de Maceió situado na parte baixa da cidade]. Esse foi um dos que mais engajaram, com mais de 6 milhões de visualizações. A galera gosta dessas coisas inusitadas, já que Maceió é bem ‘parada’ de acontecimentos”, destaca
A página recebe diversos materiais pelos internautas, via WhatsApp ou até no próprio Instagram. E criar conteúdo a partir disso é um dos fatores que contribuem com o sucesso da página. Diogo diz que, após vários anos de experiência, é preciso também haver um filtro no momento das postagens, para não cair em um dos maiores malefícios do século: as fake news, as famosas notícias falsas.
“No começo, já caí em fake news, quando eu atuava sozinho no Maceió Ordinário e publicava no impulso, por ser um garoto ansioso, querendo passar a notícia mais rápido Hoje em dia, a gente não tem mais essa pressa. A gente vê a veracidade de tudo.
Verificamos se os portais de notícias publicaram algo primeiro, ou então entra em contato com a pessoa que mandou. Temos um filtro para publicar realmente o que vale a pena na página. Qualquer coisa que aconteça num bairro: se tem um buraco, as pessoas mandam foto, se chove e alaga, mandam também. Basta ser relevante para publicarmos”, enfatiza
Diogo ainda relata que, como todo criador de conteúdo, é alvo de críticas, porém, não se deixa abalar. As diversas interpretações sobre as publicações são variadas e ele te que aprender a lidar com isso. Mesmo que página receba milhares de comentári desagradáveis, ele enxerga que, para fazer entretenimento, há os dois lados moeda
“Em relação a conteúdo sobre polític recebemos comentários de todos os tipo porque, às vezes, só queremos passar o q está acontecendo Por exemplo: se Bolsonaro [ex-presidente da República Ja Bolsonaro (PL)] chega e tem um tumulto n aeroporto, a gente publica. Mas as pesso levam para outro lado, acham que a gente está fazendo politicagem e não é isso Nós só publicamos os fatos”, ressalta.
“Eu não tive tempo de estagiar. Certo dia, tive a ideia de começar a filmar sempre quando avistava algum problema pelos bairros por onde passava e, ao final da gravação, dizia: ‘Pronto, falei!’, como forma de contribuição com a sociedade”. Foi assim que o criador de conteúdos digitais Walter Santos iniciou sua trajetória na comunicação social, com umas das páginas de notícias mais acessadas de Maceió atualmente: o Pronto Falei Alagoas.
forma mais rápida no Maceió Ordinário
Sucesso absoluto atuando como portal de notícias, o Maceió Ordinário já publicou mais de 1,5 milhões de conteúdos, alcançando mais de 2,5 milhões de seguidores no Instagram O veículo conta também com um canal secundário na vibe dos podcasts, com o Ordinário Cast, no qual são convidadas personalidades para conversar sobre a cultura do estado de Alagoas, bem como abordar diversos assuntos.
Lá no início de 2012, quando o Facebook era a sensação do momento, o então estudante de jornalismo Walter decidiu começar sua jornada criando uma página de conteúdo na plataforma. Contudo, só anos após foi que o projeto alavancou no Instagram, em 2021. Com uma equipe formada por apenas três integrantes, e vendo o Instagram se tornar uma das redes mais clicadas pelos alagoanos, o sucesso não veio de imediato. Além de começar a atender as demandas diariamente nas ruas, o público foi, de início, sua principal fonte de informação
Criador de conteúdos digitais, Walter Santos percorre as ruas da capital maceioense diariamente, buscando levar os fatos e o entretenimento em primeira mão para os alagoanos
“A COMUNICAÇÃO NAS REDES DEMOCRATIZOU O ACESSO À INFORMAÇÃO”
WALTER SANTOS, JORNALISTA DO CANAL
PRONTO FALEI ALAGOAS
“Com o passar do tempo, tivemos que nos adaptar à nova era digital e, atualmente, estamos presentes no Instagram, Facebook e TikTok. Por dia, uma média de 20 a 30 pessoas entram em contato conosco para pedir ajuda ou passar alguma informação. Sempre temos o cuidado de analisar todos os casos e atender ao máximo possível, pois muita coisa chega pra gente de imediato, e não podemos nos apressar e publicar rapidamente”, revela. O jornalista diz que, com o ritmo acelerado em que a sociedade vive, é uma luta diária poder transmitir as notícias com qualidade e credibilidade, para não cair nas temidas fake news. “Fazemos sempre uma apuração rápida e precisa, até porque a informação nas redes é muito rápida. Já fomos vítimas de fake news logo no início, mas dobramos a atenção para evitar que isso aconteça de novo”, pontua Walter.
O maior alcance de engajamento ainda se encontra no Instagram e o número chega a milhões de visualizações mensalmente Devido a isso, Walter enfatiza o papel do comunicador e destaca a importância do jornalismo para os dias atuais. “A comunicação nas redes democratizou o acesso à informação Por outro lado, isso atrapalha o trabalho do jornalista por formação. Ficou mais fácil comunicar nesses veículos, mas gerar conteúdo e ter credibilidade com a informação é outro patamar, por não existir mais aquela espera
da notícia no jornal do meio-dia ou das 20h. O consumo é feito de forma rápida e o perigo está, justamente, na possibilidade da desinformação”, analisa
No Instagram do Pronto Falei, são alcançados cerca de 7 a 12 mil de visualizações diárias nos stories. Já os reels atingem entre 100 e 140 mil. Agregado a isso, a página tem vídeos com alcance de mais de 5 milhões de visualizações, até o fechamento desta reportagem.
A relação entre redes sociais e notícias ser delicada não é algo exclusivo do meio jornalístico A publicitária e social media
Layza Cassiano, que exerce suas funções na TV Gazeta de Alagoas, relata que as redes possuem um papel fundamental para a continuidade das informações. “Hoje, as redes sociais são pilares da comunicação, conectando pessoas e marcas de forma instantânea e global. Elas são essenciais para a disseminação de informações, construção de marcas e relacionamento com o público”.
Para ela, jornalismo e redes sociais vivem em uma relação complexa Até por isso, há um rigor por parte dos veículos de comunicação na apuração da veracidade dos fatos. E como toda relação conturbada, há pontos bons e ruins.
“O crescimento de páginas independentes pode interferir tanto de forma positiva quanto negativa. Positivamente, pode ampliar a diversidade de vozes e a cobertura de temas. Negativamente, pode contribuir para a disseminação de informações falsas e para a competição por audiência No entanto, a vantagem de um veículo de comunicação é sua relevância e veracidade, que gera credibilidade”, enfatiza.
“HOJE, AS REDES CONECTAM PESSOAS E MARCAS DE FORMA INSTANTÂNEA E GLOBAL”
LAYZA CASSIANO, SOCIAL MEDIA DA TV GAZETA
Os social medias atribuem pontos positivos e negativos para a relação do jornalismo com as redes sociais
Imagine os possíveis desdobramentos deste cenário “apocalíptico” numa sociedade sem a existência das mídias digitais
Nesta reportagem, vamos fazer um exercício de imaginação com as mídias sociais E se elas deixassem de existir? Quais seriam as mudanças causadas em nossa sociedade? Quais seriam os efeitos práticos disso? Quem mais sofreria com o sumiço delas? Uma sociedade sem redes sociais seria melhor? Para essa tarefa tão desafiadora e “fora da caixa”, vamos fazer o contraponto também de lembrar como era a nossa sociedade antes de elas existirem
Em uma sociedade digital, na qual estamos acostumados com as tecnologias que ela nos proporciona, é difícil imaginar um cenário de desaparecimento de alguns produtos tecnológicos. Aposto que você que nasceu em plena era digital ou surgiu ainda na fase analógica e precisou se adaptar ao “novo mundo” nunca imaginou um possível “chá de sumiço” das redes sociais. Acertei? Realmente, as mídias digitais fazem parte da nossa vida como se fossem um “ente” querido, um amigo, um familiar ou alguém tão próximo que não costumamos pensar na sua morte, ainda mais de quem gostamos. Ou “precisamos”...
EDIÇÃO 11 - ANO 2 - MAY/2024 FORA
Com o surgimento das mídias sociais, novas profissões apareceram, como a de social media (gestor de perfil de redes sociais) e influencer (influenciador digital), além de alavancar tantas outras. Atualmente é quase que imprescindível, para quem atua no setor de comércio ou serviços, o profissional ter um perfil em alguma rede social para divulgar o seu trabalho. É um efeito prático do marketing digital na atual sociedade. Aumentar a visibilidade da marca (empresa ou pessoa física), construir relacionamento com o cliente, promover engajamento,
melhorar o posicionamento de marca e consolidar a base de clientes fiéis são algumas das vantagens para as empresas
O aparecimento delas acarretou diversas mudanças em nossas vidas, da comunicação, passando pelo comportamento humano e as relações interpessoais Disse o sociólogo espanhol Manuel Castells, ao tratar metaforicamente da internet como uma galáxia, que ela - juntamente com a Web 2.0 - modificaram muito a forma de as pessoas conseguirem informações e se relacionarem no meio em que vivem. Para ele, a internet é a “base tecnológica para a forma organizacional da Era da Informação: a rede”, sendo esta uma espécie de conjunto de nós interconectados, levando a um novo caminho, mais flexível e adaptável. Nesse sentido, as redes seriam como um “amor” que apareceu sem avisar e veio para ficar, mexendo profundamente conosco
Há alguns anos, o Brasil testemunha um aumento exponencial na utilização das redes sociais. O acesso à internet e smartphones democratizaram o acesso às mídias Porém, nem só de pontos positivos essa acessibilidade se sustenta. As redes sociais oferecem uma plataforma para expressão pessoal e socialização de pontos de vista, permitindo que as pessoas compartilhem suas opiniões, experiências e interesses para uma audiência ampla, independentemente dos conteúdos serem eticamente corretos ou não.
O aumento do uso das redes também levanta preocupações relacionadas a questões como privacidade, efeitos à saúde mental e disseminação de conteúdos falsos. Segundo levantamento feito pela empresa norte-ame-
ricana de análise da internet Comscore, de janeiro de 2020 até o final de 2022, o tempo gasto pelos brasileiros nas plataformas digitais aumentou 31%, chegando a 356 bilhões de minutos
Ainda conforme a pesquisa, a categoria de redes sociais foi a mais consumida em dezembro de 2022, totalizando 356 bilhões de minutos, o que equivale a 46 horas de navegação por usuário no mês. Isso representa um aumento de 31% em relação a janeiro de 2020. A audiência nas plataformas também ultrapassou o tempo utilizado em categorias múltiplas na internet, como serviços, entretenimento, trabalho e varejo
As pessoas podem se sentir, em algum momento, sobrecarregadas pela pressão para manter uma presença on-line ou uma constante comparação de suas vidas com as representações idealizadas de outros nas redes sociais. Ou seja, o consumo excessivo das mídias sociais é um reflexo da sociedade moderna, na qual a tecnologia desempenha um papel central em nossas vidas.
Ah, como ficou mais fácil se comunicar com o surgimento das mídias sociais Quer falar com o seu contatinho? Manda um zap! Precisa falar com um amigo que não mora mais na mesma cidade que a sua? Manda um direct no Instagram. As mídias digitais mudaram a comunicação humana Assim como o calendário da história é dividido em antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (d.C.), podemos fazer uma nova divisão: antes das Mídias Sociais (a.M.S.) e depois das Mídias Sociais (d M S )
De acordo com o estudo realizado pela agência We are Social, referência em pesquisas sobre tecnologia, no ano de 2023, 60% da população mundial tinha perfis nas redes sociais. Essas pessoas passaram, em média, 20 horas por mês no Facebook, 12 horas no Instagram, 17 horas WhatsApp e 23 horas no YouTube e no TikTok.
REPRESENTA 70% DA POPULAÇÃO DO PAÍS
A rede social mais usada pelos brasileiros é o WhatsApp, com 142,2 milhões de contas. Em seguida, vem o YouTube, com 142 milhões de usuários O Instagram fecha o “pódio”, com 113,5 milhões de usuários. Agora imagine um mundo sem as redes sociais Qual seria o impacto?
Segundo o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEAC/UFAL) Cícero Péricles Carvalho, fazendo aquele exercício de imaginação no campo econômico, os setores que sofreriam os primeiros impactos do desaparecimento das mídias digitais seriam o de comércio e o de serviços “Esses dois segmentos são os mais importantes em termos numéricos nas economias nacionais e suas empresas estão todas integradas a este conjunto de canais de divulgação. O marketing digital é a sua maior ferramenta e o e-commerce, a expressão mais visível dessa relação, que tem a capacidade de incorporar empresas de todos os segmentos e todos os portes, desde os microempreendedores individuais aos indivi-
duais aos grandes conglomerados industriais ou financeiros”, argumenta o professor Cícero, que também é doutor em Economia pela Universidade de Córdoba, na Espanha
Em 4 de outubro de 2021, as plataformas Facebook, WhatsApp e Instagram tiveram um apagão que durou aproximadamente seis horas O impacto econômico disso foi uma queda de 5% nas ações da empresa, representando uma perda de R$ 33 bilhões De acordo com uma pesquisa feita pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em conjunto com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Brasil, 70% dos microempreendedores vendem on-line, utilizando o Instagram, WhatsApp e Facebook A rotina desses pequenos negócios foi impactada negativamente com apenas seis horas de desaparecimento dessas redes. Imagine se as redes sociais deixassem de existir, igual aquele dinheiro que você emprestou a um amigo que nunca mais o viu, com certeza seria um cenário caótico, onde não só as pequenas empresas seriam afetadas, as gigantes do mercado também seriam, pois dependem das mídias sociais para divulgarem e venderem seus produtos.
Com o advento das redes sociais, profissões novas surgiram, a mais notória na sociedade digital em que vivemos é a de influencer, também chamada de influenciador digital, que depende única e exclusivamente das mídias sociais para poder trabalhar O desaparecimento delas seria o fim da profissão, o que possivelmente obrigaria os influenciadores a se reinventarem
Julliana Fernanda, influenciadora digital e madrasta do Álvaro Xaro, outro influencer alagoano conhecido, conta que “caiu de paraquedas” na profissão por causa do enteado “Vim através dele para esse cenário digital e, quando você topa abrir o seu perfil, tem que trazer algo de interessante para que as pessoas permaneçam ali”, atesta
Como influenciadora digital, Julliana Fernanda tem as m mesmas obrigações de um trabalhador, tendo de cumprir horário e metas a bater para se destacar no meio digital
Julliana Fernanda destaca que, como influencer, trabalha com as mesmas obrigações de um trabalhador, tendo que cumprir horário e metas para bater. A lógica é a mesma regida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a legislação básica do direito trabalhista Para manter os seus 334 mil seguidores, ela conta as estratégias adotadas. “Mostro o meu dia a dia, o meu trabalho, a minha rotina de exercícios físicos, a rotina com o meu filho, aquele cor-
re-corre do dia a dia de todo trabalhador” destaca Julianna. Para ela, a vida de influencer é prazerosa e motivadora “A gente está sempre buscando trazer coisas novas e dicas para interagir o máximo que puder com o público. Eu gosto demais dessa outra versão minha da Julliana”, explica
O social media é uma das principais profissões do marketing que nasceu com as redes sociais. “O social media é um profissional contratado por uma empresa ou personalidade para gerenciar perfis nas redes sociais”. Essa é a definição dada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), quando damos um “google” rápido na internet
Nathan Araújo, empresário e social media, afirma que o trabalho obviamente deixaria de existir com a falta da rede social, assim como muitos empreendimentos também perderiam parte da sua força motriz. “A economia hoje se apoia na publicidade digital. Tenho clientes, por exemplo, que vendem apenas pelo Instagram e isso não é exagero Atualmente as pessoas comuns podem ter sua vitrine e seu catálogo digital por meio da conta business A ausência das redes sociais prejudica as grandes empresas e, principalmente, a fomentação dos pequenos negócios Com isso, o microempreendedor passa a ter uma visibilidade reduzida”, acredita
interdepende da internet e das redes lidando com geração e atualização de conteúdo
Nos últimos anos, os profissionais da área desempenharam um papel de destaque na gestão da presença on-line de empresas, marcas e pessoas públicas. No entanto, sem as mídias, a própria razão dessa profissão desapareceria, o que só reflete a importância da rede social no quesito de fazer a “roda girar”, gerar novas oportunidades e abrir caminhos que antes não seriam possíveis sem a presença dela.
A social media Rosane Torres descreve como “complicado” um possível sumiço das redes sociais. “Se as redes sociais desaparecessem, minha vida profissional seria drasticamente afetada, pois atualmente elas desempenham um papel fundamental na minha carreira. Teríamos que buscar outras formas de alcançar o público-alvo, como a realização palestras e firmar mais minha presença no rádio e na televisão, onde também atuo”, diz. Em relação às empresas, ela comenta que a alternativa para um possível cenário de desa-
parecimento das redes sociais seria voltar aos meios tradicionais para se conectarem com o seu público-alvo “O uso de e-mail com mensagens de marketing, eventos presenciais e até mesmo banners e comerciais usando os meios de comunicação tradicionais”, afirma.
Perguntada sobre a importância das redes sociais atualmente, Rosane, comentou que elas se tornaram uma parte essencial de nossas vidas. “As redes sociais se tornaram uma parte essencial, principalmente de forma profissional! A adaptação a uma eventual ausência delas exigiria uma mudança significativa na forma como nos comunicamos”. Constantemente on-line, a social media diz que sente necessidade de se desconectar para não ficar muito sobrecarregada. “Há momentos em que me desconecto para evitar sobrecarga de informações e garantir um equilíbrio saudável entre a vida on-line e offline” , diz
Ela descreve a sua relação com as redes sociais como “ampla”. Além de as utilizar para o trabalho, ela usa para se comunicar com os amigos, familiares e para o seu interesse pessoal. Exercendo uma profissão que necessita entrar sempre no mundo das redes, Rosane conta como lida com essa pressão de estar sempre on-line “Lido constantemente com a ‘pressão’ de estar online, produzindo e definindo horários específicos para interagir nas redes sociais, além de praticar o autocuidado e a gestão do tempo de forma consciente”, comenta a influenciadora digital.
Trabalhar com as redes sociais é um enorme desafio, pois é tudo muito rápido e os padrões mudam a todo momento. Uma hora algo agrada, outra não mais. Como tudo é inconstante, segundo Rosane Torres, a maior dificuldade é sempre estar se reinventando, sobretudo pela pressão, muitas vezes, de estar sempre se reinventando, pensando no diferente e nem sempre estar tão bem para isso. “No final das contas, sempre dá certo, mas acredito que esse seja um baita desafio! Principalmente lidar com algoritmos em constante mudança e manter-se atualizado com as tendências do mercado, para garantir que o conteúdo seja relevante”, finaliza Rosane
Quando um influencer se torna famoso, ele adquire um enorme status na sociedade, por causa do número de seguidores nas redes sociais. Além disso, ele adquire u-
ma legião de fãs que o tratam como intelectual e deus, quando o que ele faz é apenas entretenimento. Devido ao status adquirido, ele passa a ser visto como alguém de destaque na sociedade. De acordo com Ellen Quintela, psicóloga clínica e escolar e especialista em terapia cognitivocomportamental, isso acontece porque o número de engajamento e seguidores que uma pessoa tem nas mídias sociais está se tornando uma espécie de novo valor humano Isso ocorre porque o indivíduo, ao comparar seus números nas redes sociais com o de outra pessoa e ver que está com mais seguidores e tem mais engajamento, entenderá que ela está em um lugar melhor, de mais prestígio O que nem sempre é a realidade.
As mídias sociais têm uma relação muito próxima com a depressão, assim como outros transtornos psiquiátricos, a depender dos usos e da dependência que se tem delas. Navegando pelo Instagram, o indivíduo visualiza diversos posts e stories mostrando a viagem dos sonhos que estão fazendo, o casamento perfeito que têm, mostram como suas vidas são maravilhosas. Ao se deparar com esse “cenário”, a pessoa que não se en-
contra psicologicamente muito bem tende a fazer comparações, podendo concluir que a vida dos outros é perfeita, menos a dela, criando um ar de infelicidade em sua mente e permitindo, dessa maneira, entrar num ciclo vicioso de comparação, algo que pode vir a desencadear transtornos psicológicos. Transtornos desenvolvidos porque, ao ver apenas uma parte da vida de outras pessoas, é importante ressaltar, a parte que elas escolhem mostrar como “perfeitas” ou mais interessantes e legais, não sendo a totalidade de suas vidas No fundo, isso representa apenas um determinado recorte da vida do outro que deseja revelar, às vezes nem sendo o real da sua vida
Nas redes sociais, busca por validação se transforma em comparação, podendo causar depressão, dependendo do uso e da dependência que se tem delas
Pode ser de uma viagem que estou fazendoe, no fundo, eu estar passando por graves problemas na minha vida. Por isso, meu caro leitor “fora da caixa”, evite fazer comparações da sua vida com a de outras pessoas, pois o que você vir é apenas um recorte mínimo da vida delas. Saiba que nem tudo o que aparenta ser, é realmente.
EM TERAPIA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL
Mas será que a ausência das redes sociais, de fato, mudaria a análise que é feita hoje da saúde mental dos brasileiros? A ilusão com a vida ideal do outro usuário é uma forte contribuição para o desencadeamento de pensamentos e costumes que podem afetar na saúde mental, afirma Ellen Quintela. “Com as redes sociais, nós estamos sempre nos comparando, seja com o que os outros alcançaram ou conquistaram, com o quanto de dinheiro eles possuem ou com o quão bonito eles são. Tudo isso implica que o tempo todo nosso cérebro trabalhe em busca de nos colocar em um local de diferenciação”, explica a psicóloga.
Com as redes sociais fazendo parte de nossas vidas, como se fossem um órgão externo, os transtornos psicológicos começaram a se tornar cada vez mais comuns na sociedade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas Aqui, 9,3% pos-
suem o diagnóstico. A situação preocupa. Aponta a OMS que uma em cada quatro pessoas no país sofrerá com algum transtorno mental ao longo da vida.
Para Ellen Quintela, o alto nível de comparação pode agravar problemas preexistentes às redes sociais, como a depressão e transtornos de ansiedade. Alguns transtornos poderiam ter uma redução em um cenário de ausência das mídias sociais. Se fizermos uma análise comparando atualmente com os anos 2000, quando a utilização das mídias sociais ainda não era tão constante, podemos observar uma crescente preocupante relacionada ao estado mental dos brasileiros.
BRASIL É O PAÍS DA
LATINA COM MAIOR
a de resolver um problema e a aptidão para leitura. “Essas habilidades são de extrema importância, para nós, seres humanos Por isso, é preocupante essa constatação de crianças e adolescentes não conseguirem desenvolver essas vocações, devido à exposição à tecnologia”, afirma.
É importante destacar que o fato de não estar ativamente presente e interagindo nas redes sociais não implica no não consumo delas É muito comum observar pessoas que realizam o que podemos chamar de uso “passivo” das mídias, ou seja, esse tipo de utilização está relacionado àquela pessoa que não necessariamente publica uma foto todos os dias, ou comenta em diferentes postagens. O uso “passivo” ocorre quando esse tipo de utilizador, mesmo que de forma discreta, ainda está ali quase 100% do seu tempo inserido no âmbito das mídias sociais.
Segundo o Ministério da Saúde, a tendência é que esse número chegue a 15% nos próximos anos. Para deixar mais claro esse relacionamento dos transtornos psiquiátricos com as mídias sociais, um dos fatores de risco para desenvolvê-los é o uso excessivo das redes sociais. “Na pandemia da covid-19, crianças que estavam no final da infância passando para a adolescência, muitas delas, as habilidades sociais quase não existem devido ao fato de terem ficado muito expostas a tecnologia”, afirmou Ellen Quintela. Segundo ela, entre as aptidões não desenvolvidas, estão a habilidade de fazer amizades e de mantê-las, a de expressar uma opinião e de se regularem emocionalmente,
De acordo com a psicóloga Ellen Quintela, esse tipo de utilização, muitas vezes, pode ser até mais prejudicial do que o daquela pessoa que está freneticamente ativa no mundo virtual. “Um adolescente com transtorno depressivo, por exemplo, pode ser um jovem que aparece pouco nas redes sociais, posta pouco no Instagram, mas há muitas chances dele estar lá consumindo”, relata.
Apesar do momento atual ser marcado pela constante exposição nas redes sociais, muitas pessoas permanecem em posição de observar cautelosamente o mundo digital, enquanto mantêm uma presença discreta. A estudante universitária Arianny Serafim, 20, é uma dessas pessoas que garantem sua pre-
sença na mídia digital, mas apenas como consumidora e afirma que pode sentir de forma esclarecida as consequências desse tipo de uso. “Mesmo não postando muito nas redes, costumo consumir bastante o conteúdo dos demais. Quando vejo algo relacionado ao corpo, alimentação e exercícios, me comparo de forma excessiva”
“QUANDO VEJO CONTEÚDO RELACIONADO A TRABALHO,
ARIANNY SERAFIM, ESTUDANTE UNIVERSITÁRIA
O paradoxo de ser afetado por uma utilização de rede social que não é percebida só evidencia mais a complexidade das relações digitais e o impacto que o consumo passivo de conteúdo alheio pode exercer sobre a nossa percepção de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.
podendo representar um uso “passivo” não atuante
Outro transtorno que se tornou cada vez mais comum foi o alimentar, também derivado da comparação. A distorção da própria imagem é algo muito perigoso e reforçado pela saturada exposição de corpos irreais. A psicóloga Ellen Quintela revelou que a maioria dos casos de jovens e adolescentes que recebe em seu consultório com predisposição a um transtorno alimentar.
De alguma forma, as redes sociais têm influência no desenvolvimento desse distúrbio “As realidades expostas nas redes sociais não podem ser um espelho. A maioria das pessoas que têm uma vida invejável na mídia está quase sempre muito arrumada, com uma maquiagem e cabelo feitos em salão, em algum evento chique e com uma foto tirada por um fotógrafo renomado No dia a dia, essas mesmas pessoas não vão estar sempre dessa forma”, explica a psicóloga.
Uma série de coisas iria ser diferente na ausência das mídias sociais Não dá para negar que elas nos proporcionam muitas coisas boas, como os inúmeros aprendizados e conhecimentos que podem ser absorvidos pela internet e a conexão oferecida por mensagens e chamadas de vídeo de forma rápida e instantânea. Apesar das ajudas online, a ausência das redes também poderia implicar num mundo onde as pessoas seriam mais saudáveis tanto fisicamente quanto mentalmente A diminuição de transtornos, inseguranças e comparações com os outros seriam significantes. Uma vida menos “instagramável” e mais ligada ao cotidiano real poderia também ser mais leve (AL e RL)
Por Matheus Correia
Como meio de conexão e desconexão nos relacionamentos, redes sociais transformam as formas de interação entre as pessoas
Vem cá Você já percebeu como as interações mudaram após o surgimento das redes sociais? Atualmente é mais fácil
conhecer gente nova que não faz parte do nosso círculo social, seja por recomendação do algoritmo, um stalker e até mesmo a lista de “Pessoas que talvez você conheça”. Com isso, as mídias sociais proporcionam a sensação de proximidade por meio de fotos e vídeos É tanto corre na vida e nas redes que a gente quase não pensa sobre isso, né! Convidamos você a se conectar “fora da caixa” nesta discussão de efeito. O tal efeito “zap zum ”
IT’S NICE TO HAVE A FRIEND ♫
Pollyane Martiniano, 21 anos, alagoana. estudante de jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas, diz ter conhecido três dos seus melhores amigos nas redes sociais. Vitor Rodrigues (23), Juliene Goulart (22) e Larissa Barbosa (22), todos do estado de São Paulo Polly e Vitor se conheceram há 10 anos através da Social Spirit (plataforma de fanfic), por serem fãs da banda One Direction (1D). No final de 2014, os dois passaram a conversar pelo Whatsapp e Twitter (atual X) Com gostos parecidos e afinidades em dia, Vitor decidiu incluir suas duas melhores amigas de infância Juliene e Larissa no grupo do Twitter. A estudante relata que, há oito anos, tem conversas frequentes com os três “A gente começou a
ter uma conexão mais pessoal. Vimos que compartilhamos muitas coisas para além do 1D Foi uma coisa que aconteceu muito naturalmente e que até hoje flui naturalmente Não consigo imaginar o meu dia a dia sem eles”, constata.
FORA DA CAIXA
Pollyane Martiniano destaca que o período da pandemia selou essa amizade, pois ainda existiam dúvidas sobre o prazo de validade do grupo “Durante a pandemia, a gente começou a jogar, assistir filmes, porque existem ferramentas que permitem fazer isso coletivamente. Passamos a ler livros juntos. Inclusive, fizemos um grupo de leitura que chegou a ter cerca de 800 seguidores”. Atualmente, Ela tem certeza de que os quatro manterão essa amizade sólida como diamante. “Depois desse período, eu tive certeza que são pessoas que ficarão na minha vida”, acredita.
Emerson conheceu João nas redes sociais e logo se tornaram melhores amigos Porém, nunca se viram pessoalmente. Com o tempo, Emerson apresentou a japaratinguense para seus amigos No entanto, o relacionamento começou a esfriar por conta de ações problemáticas que ele demonstrava João percebeu e passou a alertá-la sobre tais atitudes. Brenda cansou da situação e resolveu colocar um ponto final no relacionamento. Após o término, Brenda continuou sua amizade com o engenheiro
Os dois passaram a conversar por WhatsApp e, depois de uns meses, comerçaram a assistir filmes todos os dias, até que ele a pediu em namoro Separados por mais de 4.600 quilômetros de estrada entre Porto Velho e Maceió, os pombinhos só se viram pessoalmente depois de sete meses de namoro, quando ele conseguiu visitá-la em Alagoas No início, Elienais Barbosa, mãe da designer, tinha dúvidas. “Essa menina já tá doida Eu tenho que, pelo menos, sondar o cara pra saber se ele não é um psicopata”, cogitou. Por outro lado, Paulo Sérgio, o pai só aceitou após conhecer João pessoalmente
chegando até mesmo recusar diálogos por videoconferência O casal está namorando há dois anos e cinco meses. Para eles, as coisas que pesam são a saudade um do outro e não poderem estar presentes em momentos importantes. Brenda acredita que existem muitos relacionamentos supérfluos, pois há um apego ao contato físico e esquecem da conexão Ambos conversam sobre tudo, pois a transparência traz facilidade na resolução dos conflitos.
É fato que as mídias sociais revolucionaram as formas de comunicação, não só pela agilidade de interação, mas também pelo estabelecimento de relacionamentos à distância, como vimos anteriormente Um deles é a diminuição de diálogos cara a cara, que tornam pessoas menos sentimentais e mais impacientes. A falta de empatia e a impaciência formam uma combinação prejudicial para as relações interpessoais
AFETAM O NOSSO
COMPORTAMENTO
Usuários adeptos a essa combinação passam a enxergar os indivíduos como números, e não mais como pessoas. Esse problema pode ser observado nas discussões sobre divergência de opinião ou gosto. Cerca de duas décadas atrás, isso era tratado com diálogo No entanto, hoje em dia, o unfollow (deixar de seguir) aparenta ser mais eficiente. Nas redes, se algo não dá certo, basta excluir e ir em busca de outras pessoas. “Como as coisas se tornaram muito fáceis e descartáveis para nós, temos a tendên-
cia a generalizar os nossos comportamentos. Já que fazemos com coisas, também começamos a fazer com pessoas. Não é regra, mas existe essa tendência”, ressalta a psicóloga Camila Pusebon Müll, em entrevista à revista Gama.
Vitor Manoel tem 24 anos, é criador de conteúdo, nasceu e cresceu em Maceió (AL). Começou a usar o Tinder aos 17, em busca de relacionamento (Sim, ele mentiu a idade para entrar no aplicativo Quem nunca né?) No começo, as conversas fluíam, mas chegava a um ponto em que as pessoas sumiam, desfazendo o match Isso trouxe frustrações em relação ao aplicativo e seus usuários.
Vitor é baladeiro e não perde uma festa, embora tenha se frustrado com o Tinder na busca por relacionamento
O criador de conteúdo relata como se sentia toda vez que desanimava do aplicativo. “Eu não mereço isso, eu não quero saber de nada, não quero saber mais de nada”, relembra. Só que a carência não o deixava ficar longe do aplicativo por muito tempo. Em menos de quatro meses, o ciclo se repetia “Voltava a curtir novas pessoas, dar
match e conversar”, pontuou. Atualmente, Vitor acredita que o Tinder não vai fazê-lo encontrar o cara ideal para ele. “Lá só tem gente carente, na sua maioria. O aplicativo força um relacionamento, mas não é algo natural”. Na sua opinião, as expectativas que se renovam em cada match logo se tornam frustrações que se arrastam pela realidade, mexendo com o emocional.
♫ ZAP ZUM ♫
É, caro leitor, chegamos ao ponto mais crítico e triste de desconexão, o ghosting (fantasma). Para quem não conhece o termo, podemos resumir como o término repentino de um relacionamento sem qualquer explicação ou aviso, no qual todas as tentativas de contato são ignoradas. A pessoa se torna literalmente um “fantasma”.
É como diz na letra da canção “Zap Zum”, sucesso da Companhia do Calypso, composto por Arionaldo Torres Carvalho e Isac De Souza Santos: “Foi tudo tão de repente, mexeu legal com a minha mente Com teu jeito meigo de me olhar… Você sorriu e foi embora, meu mundo desabou na hora, e nem tive tempo de te amar. Meu anjo, me diz o planeta que você está?”. Parece uma letra emocionante, mas, no fundo, passa a sensação de abandono. Vale destacar que esse tipo de comportamento já existia antes das redes sociais, só não era tão comum. Atualmente se tornou algo naturalizado. As consequências para quem sofre ghosting nas redes e na vida vão de sentimento de abandono até queda na autoestima.
Este repórter que vos escreve já passou por experiências relacionadas ao tema, tanto de quem praticou quanto sofreu
Pelo lado de quem cometeu, posso afirmar que é um ato de covardia e uma falta de sensibilidade, uma espécie de rota de fuga que impossibilita e anula qualquer argumentação ou atrito Por outro lado, sofrer ghosting é complicado, pois você não tem a chance de saber se o término foi culpa sua ou um traço da personalidade do outro na forma de se relacionar, e isso dá brecha para milhares de pensamentos como “será que foi por causa disso?”.
É comum que isso ocorra em relações que ocorrem de forma rápida, pois nos envolvemos com pessoas, sem ao menos ter conhecimento prévio de quem são e como agem Segundo a psicanalista Ana Beatriz Barbosa, terapeuta que se dedica à educação emocional, em seu podcast “PodPeople”, é importante encontrar equilíbrio saudável e reconhecer que relacionamentos requerem tempo e investimento pessoal “As pessoas hoje estão fazendo muito mais colab (colaboração) do que relacionamento Elas não sabem o que é relacionamento, acham que devem ficar com alguém porque todo mundo tem alguém”, atesta
A médica e escritora Ana Beatriz Barbosa, com mais de 2,5 milhões de livros vendidos, reforça importância do tempo e investimento pessoal para a qualidade dos relacionamentos
Disponível para android e IOS Leia o regulamento