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Dr. Kid Moreira

O DELEGADO JORNALISTA

“Eu quero muito levar meus colegas delegados escritores para compor os quadros da Academia de Letras do Brasil-MG.”

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Ele é Delegado de Polícia e tem nome artístico. A sua fama como um dos policiais mais conhecidos em Minas Gerais não é em vão. Ele dedicou 35 anos de sua vida ao trabalho na polícia e outros 35 anos ao jornalismo. Esse é o famoso Kid Moreira, ou José Moreira Alves, nascido em Belo Horizonte e que hoje tem 78 anos, repletos de grandes histórias e estórias. A sua habilidade com as palavras se manifestou ainda criança com os primeiros escritos de poesia e contos infantis e, com isso, o desejo de ser jornalista. O primogênito de uma família de 8 filhos foi orientado para arrumar trabalho na polícia pela mãe Josefina Vítor Alves e não pelo pai, o investigador de polícia Venâncio Moreira Alves. Era ela e não o pai que tinha uma boa relação com a Chefia de Polícia naquele momento. Ele topou. Tinha 13 anos. Procurou os contatos sugeridos pela Dona Josefina e se tornou guarda mirim no Detran-MG. Pouco tempo depois, Kid Moreira acabou sendo transferido para o prédio da Secretaria de Segurança Pública, na Praça da Liberdade, onde trabalhou por 5 anos como ascensorista. Ao concluir um curso de datilografia, saiu do elevador para bater petições na Assessoria Jurídica da Secretaria e, de lá, para o Abrigo Belo Horizonte, cujo diretor era também diretor da Penitenciária Estevão Pinto, de mulheres, onde trabalhou por 3 anos, até que surgiu um concurso interno que o aprovou para o cargo de investigador da PCMG. Por ter a fama de ser “um dos mais rápidos datilógrafos da polícia” foi designado para assessorar o trabalho em laudos periciais no Instituto de Medicina Legal, onde permaneceu por quase 10 anos. Indicado pelo repórter policial Cristóvão de Oliveira, Kid iniciou a sua carreira em O Diário e, com isso, virou repórter policial, conciliando com as atividades na Polícia Civil, que eram de meia jornada. “Foi uma paixão alucinante e vibrante, porque estava realizando um sonho de criança”, diz ele emocionado. Com boa voz, boas fontes, boa redação e enorme disposição para manter jornada dupla e, às vezes, tripla, Kid Moreira foi um dos pioneiros e mais conhecidos repórteres policiais da imprensa mineira. Ele trabalhou mais de três décadas em órgãos como a Rádio Inconfidência (programas “A Lei é o Limite” e “Polícia é notícia”), Rádio Jornal de Minas, Jornal do Brasil, Jornal de Minas, Diário de Minas, Hoje em Dia, Folha de São Paulo, Rádio Guarani, Revista Manchete, entre outros. Kid Moreira foi um dos finalistas do Prêmio Esso do Jornalismo, um dos mais importantes do país. No meio de tudo isso, Kid Moreira formou-se em Direito e constituiu uma linda família com cinco filhos. A convite do delegado Prata Neto, foi transferido para a Superintendência Geral de Polícia. A vida agitada, contudo, nunca o impediu de estudar e continuar investindo profissionalmente. Kid Moreira é também graduado em Criminologia pela Acadepol/PUC-MG e é diplomado pela Escola Superior de Guerra. Foi aberto um concurso para Delegado, no qual ele também foi aprovado. A primeira designação foi para a cidade de Santos Dumont. “Lá eu tive a maior alegria e, também, a maior tristeza da minha vida profissional como policial”, lamenta Kid. “Em quatro anos, acabei com o tráfico de drogas, mas o grande desafio foi ter feito a descoberta de uma rede de tráfico internacional de crianças”. Ele explica que desmontou um esquema que vinha operando há muito tempo na região, do qual participavam um juiz, um promotor, advogados, uma escrivã e serventuários da

justiça, envolvendo o tráfico de crianças de até 10 anos, que eram comercializadas ao custo médio de 30 mil dólares cada uma. “Esse trabalho foi o mais marcante de toda a minha vida. Se eu não fosse uma pessoa firme, determinada no meu propósito, eu certamente não estaria vivo agora para contar esse episódio”. Apesar de todo o êxito desta operação policial, que teve como desfecho a indisponibilidade daquele juiz e daquele promotor da Comarca de Santos Dumont, Kid Moreira se viu desmotivado para continuar na ativa, pois “havia lutado muito e os chefes daquela quadrilha, na verdade, nunca foram presos; meu desgosto foi enorme e acabei pedindo minha aposentadoria, contrariando inúmeras manifestações públicas, com abaixo-assinados organizados pela população de Santos Dumont e até por presos, pedindo para que eu continuasse na ativa como Delegado”. Depois disso, Kid Moreira ainda foi juiz classista do TRT por indicação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, nas cidades de Unaí e Ubá por seis anos. De volta a Belo Horizonte, ele redescobriu a música. Kid Moreira, que sempre tocou gaita, trompete e pandeiro, passou a cantar em corais. O primeiro deles foi o Dextera Domni, na igreja do bairro Santa Mônica e, depois, Coral da Afaemg e o Coral da Comunidade Portuguesa que, nas apresentações em conjunto com o Coral da AABB, passa a se chamar Canta Brasil, dirigido pelo famoso maestro Leonardo Cunha. Com este, o sucesso é tão grande que o cronograma de apresentações já conta com temporadas anuais em Portugal, Argentina, Uruguai, Alemanha e França. “A música mudou a minha vida”, avalia ele com satisfação. A música e a literatura. Kid Moreira é autor de três livros. O último deles, Chuva de Poesia, foi lançado em 2012 na Bienal do Livro na França. Sua extensa atividade literária lhe garantiu uma vaga na Academia de Letras do Brasil – seção Minas Gerais. “Eu quero muito levar meus colegas delegados escritores para compor os quadros da Academia de Letras do Brasil-MG”. Já está previsto para o ano que vem o lançamento do próximo livro: “Memórias de um repórter e Delegado de Polícia”. Aliás, uma vida marcada por dezenas de medalhas, diplomas e condecorações, dentre as quais destacam-se a da Academie Française des Arts, Lettres et Culture, do Núcleo de Artes de Lisboa, o Título de Cidadão Honorário de Santos Dumont, a Medalha Santos Dumont e o Grão Colar dos Cavaleiros da Paz. Com uma vivência tão rica, tem-se a certeza de que a vida de Kid Moreira não é para ser assistida de camarote. Para fazer sentido, é necessário senti-la com sabedoria e vivê-la em profundidade no palco de sua plenitude. NOTA: Após a edição final dessa entrevista, fomos informados da conclusão do quinto livro de Kid Moreira, intitulado: “Jornal de Minas, histórias que ninguém leu”, em coautoria com outros 33 jornalistas. Esse livro foi organizado pelo jornalista Fernando Horta Zuba e pode ser adquirido no Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais (Álvares Cabral, 400 - BH) ou diretamente com Kid Moreira.

A entrevista com o Dr. Kid Moreira foi publicada na edição número 26 da Revista dos Delegados, em 2019.

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