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Dr. Luiz da Costa Carvalho
LUCIDEZ E SENSO CRÍTICO AOS 85 ANOS
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Ele é mineiro de coração, mas um ligeiro sotaque acaba por denunciar que sua cidade natal era a capital do Brasil: o Rio de Janeiro. Dr. Luiz da Costa Carvalho, que completou recentemente 85 anos, é Delegado de Polícia e sempre se destacou no meio policial como um colega culto, perspicaz, equilibrado, leal e extremamente preocupado com a família e a instituição Polícia Civil. Antes de se tornar Delegado de Polícia, ele trabalhou num escritório de Depósito Judicial e foi aprendiz na 6ª Vara de Família. Também trabalhou numa empresa de revenda de ferro e aço e em um banco, até ser aprovado no vestibular para Direito, curso concluído em 1961, pela Faculdade do Estado da Guanabara. Com a ajuda de um irmão advogado, foi indicado para um trabalho na cidade de Itajubá, vinculando-se para sempre à Minas Gerais. “Meu objetivo era prestar concurso para juiz. Eu nunca tentei e acabei sendo aprovado em um concurso para Delegado”, diz ele. Nessa época, também conheceu sua esposa Ione, sua companheira ainda, com quem tem 4 filhos e 4 netos. Sua primeira designação foi para Pedralva. Iniciava ali na pequena cidade do Sul de Minas um ciclo de andanças profissionais por Minas Gerais. Dr. Luiz trabalhou em Santa Rita do Sapucaí, Cambuí,
“NA VERDADE, A Campanha, Ouro Fino, Conselheiro POLÍCIA CIVIL, DESDE Lafaiete, Pouso Alegre, Betim e, em SEMPRE, NUNCA FOI UMA INSTITUIÇÃO Belo Horizonte, na Cidade Industrial, 1º Distrito, Delegacia QUE ESTIMULASSE de Plantão do Departamento de O PROFISSIONAL NA SUA CARREIRA. Investigações, 13º Distrito, 11º Distrito, 12º Distrito, 15º
INFELIZMENTE. SE Distrito, 19º Distrito, Delegacia de Plantão NÃO FOSSE A LUTA DAS ENTIDADES DE do Detran-MG, Delegacia de Crimes contra a Fazenda
CLASSE, NÃO SEI no Departamento de Investigações.
O QUE SERIA DOS POLICIAIS CIVIS E Na sequência, foi Delegado Regional de Conselheiro
DA INSTITUIÇÃO.” Lafaiete, Regional de Curvelo, Guanhães e se aposentando na Delegacia de Crimes contra o Meio Ambiente, na Capital. “De fato, trabalhei muito na minha vida e, apesar de muito satisfeito com o meu ofício, houve uma época em que quase desisti de

ser delegado. Não se ganhava muito e, além disso, chegamos a ficar mais de três meses sem receber o salário. Tive um extraordinário apoio da minha esposa e de colegas como o Dr. Mário Zucato Filho, que me emprestavam dinheiro para que eu pudesse visitar a minha família.” Mas foram muitos os colegas que o ajudaram nessa longa jornada. E ele faz questão de que sejam lembrados: Lindolfo Coimbra, Zaluar de Campos Henriques, Darwin Teixeira, Fábio Bandeira de Figueiredo, Raimundo Tomaz, Newton Ribeiro, Edson Derona, Dionê de Oliveira Fernandes, entre outros, além do desembargador Starling e do procurador de Justiça, José Arthur Carvalho Pereira. Com a aposentadoria, Dr. Luiz da Costa passou a se dedicar ainda mais à leitura dos milhares de clássicos que ele tem em sua casa em Belo Horizonte. Com 50 minutos diários de bicicleta ergométrica, ele segura como pode a hipertensão e a diabetes. Dono de uma simpatia e uma lucidez invejáveis para os 85 anos, ele conversa sobre História, Filosofia, Literatura, Direito, Teologia e Ciência Criminal com a desenvoltura de um professor universitário. Quanto ao futuro da Polícia Civil, enquanto instituição, Dr. Luiz se diz desesperançoso. “Sempre acreditei que deveríamos fazer parte do poder judiciário, apesar de ter ciência do quanto isso seria utópico num país como o nosso. Na verdade, a Polícia Civil, desde sempre, nunca foi uma instituição que estimulasse o profissional na sua carreira. Infelizmente. Se não fosse a luta das entidades de classe, não sei o que seria dos policiais civis e da instituição. Para exemplificar pergunto: como pode um Delegado Regional receber um adicional ínfimo fixado em 78 reais pelo resto da sua vida? Como pode um Delegado recém saído da Acadepol maltratar colega delegado aposentado dentro de uma delegacia? Certamente há algo muito errado com essa instituição”, alerta ele. Para Dr. Luiz, a missão do policial é extremamente diferenciada. O que requer do jovem policial “uma habilidade nata para a profissão, exigindo também vocação, equilíbrio, honestidade – já que durante a carreira o mal nos assedia regularmente – e jogo de cintura para tratar de pessoas, em situação frágil, indistintamente de classe social ou importância política.”
