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Dr. Otto Teixeira Filho

O PRIMEIRO CHEFE DA POLÍCIA

“O que estamos vendo é uma interferência política exagerada e nociva na ação policial e na instituição Polícia Civil de Minas Gerais.”

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Otto Teixeira Filho é um daqueles delegados que marcou a Polícia Civil de Minas Gerais, tanto pela clareza e firmeza das posturas, quanto pela forma sempre educada e respeitosa no trato com a população, os amigos e os colegas de trabalho. A escolha profissional foi influenciada pelo convívio diário com a mãe, escrivã de Polícia Civil, e o pai, tenente da Polícia Militar. Otto nasceu em Belo Horizonte, tem 63 anos, é viúvo e pai de dois filhos. Sua carreira como Delegado de Polícia começou na cidade de Antônio Dias, passando por Ipatinga e, na Capital, pelo plantão do Departamento de Investigações, pela Divisão de Tóxicos e Entorpecentes, chefiando a Divisão de Crimes contra a Vida, o Departamento de Investigações, o Detran, chegando ao ponto de ser nomeado o primeiro chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, em 2006. Entre os casos mais desafiadores da carreira, Otto destaca a investigação da Chacina de Malacacheta e do Esquadrão do Torniquete, que obtiveram sucesso e notoriedade graças ao trabalho de equipe. O delegado lembra com saudades e gratidão dois grandes policiais que ele tem como mestres: Antônio Orfeu Braúna e Raul Moreira. Ele avalia que a Polícia Civil, com “acertos e desacertos”, mudou muito ao longo dos anos. “Nós tínhamos uma polícia em cujo processo de seleção pesava muito o candidato vocacionado para a carreira policial e não apenas as qualidades intelectuais e culturais, evidentemente. Com o tempo, a sociedade mudou e eu aderi a essa mudança defendendo a renovação da Polícia Civil. Continuo

“LAMENTAVELMENTE PERCEBO QUE A INVESTIGAÇÃO ESTAGNOU POR FALTA DE GESTÃO, DE AVANÇOS, E, PRINCIPALMENTE, POR FALTA DE INVESTIMENTOS NA RECOMPOSIÇÃO DOS QUADROS, NA FORMAÇÃO, NO TREINAMENTO DOS POLICIAIS E NAS CONDIÇÕES DE TRABALHO.’’

defendendo a revitalização da instituição, mas precisamos de um “aperto” maior na preparação dos policiais.” Otto diz estar triste com a instituição. “No final

dos anos 90, reestruturamos e preparamos a Polícia Civil de Minas para um novo tempo, inclusive transformando o cargo de secretário de Segurança Pública em Chefe da Polícia, privativo de delegado de polícia. Até então, éramos comandados sempre por políticos e a partir dessa nova concepção passamos a ter um gestor delegado, conhecedor de fato da atividade de segurança pública. Porém o que estamos vendo é uma interferência política exagerada e nociva na ação policial e na instituição Polícia Civil de Minas Gerais.” E ele vai além: “lamentavelmente percebo que a investigação estagnou por falta de gestão, de avanços, e, principalmente, por falta de investimentos na recomposição dos quadros, na formação, no treinamento dos policiais e nas condições de trabalho. Com tudo isso, ainda percebo que tem muita gente que não quer ser policial. Quer um emprego apenas. Isso é muito sério mas o que é mais sério é a falta de rumo institucional porque, de um modo geral, temos excelentes profissionais tanto entre os mais novos, quanto os mais experientes em exercício.” Otto se aposentou em 2009 depois de trabalhar na Assessoria Especial do governador Antônio Anastasia. Na sequência ainda foi secretário municipal de Segurança Pública do município de Matozinhos e, a partir de 2012, voltou a advogar. Para ele, a vida de aposentado, é muito ruim, principalmente depois de uma vida profissional tão intensa. “Depois de se aposentar, não há nada que se faça capaz de satisfazer toda aquela ocupação.” Grande admirador de carros antigos, Otto acabou adquirindo há 20 anos um modelo Citroen 1948, que mantém impecável na garagem. Sua diversão é acompanhar exposições de carros antigos na capital e no interior, apesar de estar impedido de dirigir por restrições visuais. Para o futuro, Otto pretende retomar o convívio dos amigos, importante nesse momento em que ainda vivencia o luto com o falecimento recente da esposa e do pai, além da escrivã Cornélia que o acompanhou por 25 anos, e se dedicar ainda mais à família com a mesma força de espírito e gentileza que marcaram a sua vida.

A entrevista com o Dr. Otto Teixeira Filho foi publicada na edição número 18 da Revista dos Delegados, em 2017.

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