Ed 199 - Jun/Jul 24

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A Revista do Gestor Escolar ano 20 | Junho e Julho de 2024 www.direcionalescolas.com.br Edição nº 199

Educação em diálogo com as transformações sociais

O universo educacional é atravessado por constantes diálogos, reflexões e reelaborações de percursos e estratégias. Na esteira dos debates e das análises que abarcam as demandas atuais com o intuito de traçar rotas para alcançar uma educação que contemple as diversidades e necessidades do futuro, a 29ª edição da Bett Brasil, que ocorreu presencialmente entre os dias 23 e 26 de abril de 2024, em São Paulo, foi um encontro significativo em prol da educação.

Agregando temáticas atuais, os diversos profissionais que atuam em variadas áreas da educação acompanharam a programação oficial do evento, como também conheceram as propostas de inovações e soluções práticas das marcas expositoras do evento. Neste ano, com um número expressivo de público que circulou entre os espaços ao longo dos quatro dias, a Bett Brasil inseriu em sua programação debates exclusivos que permeiam as complexidades e particularidades

da educação pública, privilegiou o protagonismo de professores/as e estudantes, e ressaltou a necessidade de diálogos transversais – que contemplem toda a comunidade escolar.

Seguindo o tema norteador “Inovação com Propósito: Educação em diálogo com as transformações sociais”, foram desdobrados subtemas, como equidade com qualidade, cultura digital, conexões humanas, aprendizagem transformadora, inteligência socioemocional e futuros sustentáveis. Com 13 auditórios disponíveis, os conteúdos foram apresentados nos formatos de roda de conversa, painel expositivo, aquário e palestra inspiradora, que disponibilizaram uma programação para diversas áreas educacionais, como educação pública, educação básica, gestão, ensino superior e tecnológico.

Nesta edição bimestral de junho/julho da Direcional Escolas , que marca o fechamento do

primeiro semestre de 2024, trouxemos alguns destaques que estiveram presentes nos quatro dias da Bett Brasil, considerado o maior evento de inovação e tecnologia para educação na América Latina. Além dos destaques, nesta edição você também encontra matérias sobre arquitetura escolar, uniformes, lousa digital, e artigos de opinião de nossos renomados colunistas.

Boa leitura e boas férias de julho!

Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 4
Editorial

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Público: Diretores e Compradores

Periodicidade: Mensal exceto Junho / Julho e Dezembro / Janeiro

Jornalista Responsável: Rafa Ella Pinheiro | MTB 0076782/SP

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Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 6 EXPEDIENTE
A Revista do Gestor Escolar

Nesta Edição:

Coluna - Christian Coelho

Megatendências do mercado educacional

Especial Bett Brasil

Inovação com propósito: educação em diálogo com as transformações sociais orientou a Bett Brasil 2024

Dica: Arquitetura

Ambiente em transformação

Coluna - Eric Amorim

Você garante que sua escola é isenta de riscos e ameaças para toda a comunidade escolar?

Dica: Lousa Digital

Ferramenta de aprendizagem

Coluna - Eliza Flauzino e Renan Abranches

A pedagogia de projetos em perspectiva

Coluna - Luciano Monteiro

Transformar a experiência escolar é construir o futuro que queremos

Dica: Uniformes

Bem-estar no dia a dia

Opinião - Idelfranio Moreira

Smartphones em sala de aula: uma ferramenta? Em quais termos?

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Megatendências são grandes forças transformadoras que moldam a sociedade e a economia. No caso do setor educacional privado, vivenciamos u m m omento de rápidas e profundas mudanças, algo não observado desde o pós-guerra, q u ando as mulheres retornaram ao mercado de trabalho e a queda na qualidade do ensino público impulsionaram o crescimento e a d i versificação das escolas privadas. Confira algumas mudanças que impactaram o mercado educacional:

A e ntrada dos grandes investidores no mercado educacional já ocorre há 15 anos e se dá em ondas com impactos significativos no mercado. O mercado premium tende a afetar um público bem restrito de escolas, como a s i nternacionais. Por outro lado, as low cost tendem a influenciar os mercados regionais, principalmente nos dois primeiros anos, pelo seu custo-benefício e a nova onda de franquias pelo seu visual e organização.

M u ndo tecnológico – A pandemia impulsionou uma rápida adaptação das escolas ao ambiente virtual, onde a tecnologia d e sempenhou um papel essencial na transição para o ensino remoto. E a evolução n ã o para por aí. As mudanças causadas pelas inteligências artificiais estão apenas no começo e irão impactar diretamente o modo de fazer educação.

S u stentabilidade – A educação socioambiental ganhou destaque devido à necessidade intrínseca de melhorar a qualidade de vida d a s pessoas e o meio ambiente. Atualmente, vivenciamos os impactos das mudanças climáticas em nosso dia a dia, com as enchentes, o ca lo r fora de época e o aumento da epidemia de dengue, ao contrário do que ocorria há tempos, quando os problemas pareciam distantes e não nos afetavam diretamente, como

COLUNA / CHRISTIAN COELHO

MEGATENDÊNCIAS DO

MERCADO EDUCACIONAL

p r oteger as tartarugas dos resíduos plásticos, lidar com o degelo polar e preservar es p écies ameaçadas, como os pandas e os micos-leões-dourados.

E s colacentrismo – Atualmente, é cada vez mais comum encontrar indivíduos enfrentando desafios emocionais, como depressão e ansiedade, e essa realidade não poupa sequer a s crianças. Diante desse panorama, é imperativo que as escolas assumam seu papel central na formação integral e utilize a educação c o mo uma ferramenta para instruir e influenciar as pessoas nas questões relacionadas à s a úde física e mental.

Redução de alunos na educação infantil – Esse fenômeno representa uma inversão e m relação ao que era observado nos anos anteriores. Escolas maiores perdem alunos para instituições menores, as quais se multiplicaram e reduziram suas mensalidades d e vido à intensificação da concorrência de preços, motivada pela diminuição de alunos durante a pandemia.

N o vas parcerias público-privadas para escolas de ensino fundamental II e médio – Em 2022, o Estado do Paraná lançou um projeto-piloto que entregou a administração de escolas à iniciativa privada. Esse p r ojeto foi implementado durante o mandato de Renato Feder, atual secretário da Educação de São Paulo, quando ele estava à frente da pasta paranaense. São Paulo e outros estados têm se mobilizado para implementar empreendimentos semelhantes. O projeto do governo do Estado de São Paulo prevê a concessão d e 25 anos para a iniciativa privada, provavelmente conduzida pelos grandes investidores que têm adquirido escolas particulares. E s sa mudança no mercado afetará diretamente as escolas particulares que oferecem e n sino fundamental II e médio em regiões com menor poder aquisitivo.

Sazonalidade atrasada – Um movimento que persiste nas últimas duas sazonalidades é o atraso na efetivação das rematrículas pelos alunos. Cada vez mais, os p ai s demoram para realizar as renovações, muitas são realizadas nos meses de março e abril, inclusive para alunos do ensino fundamental II e médio.

E s se fenômeno pode estar relacionado ao aumento das dúvidas das famílias diante de escolas muito semelhantes, à falta de algo diferencial, ao aumento da insegurança relacionada ao inconsciente coletivo devido ao d e sequilíbrio emocional já mencionado e ao conhecimento dos pais de que, se esperarem, poderão conseguir descontos maiores em escolas que não alcançaram suas metas.

A um ento da disparidade de desempenho entre escolas similares – U m f enômeno que as consultoras da Rabbit observaram em suas análises comparativas foi a gr ande discrepância no crescimento ou declínio das escolas, mesmo aquelas localizadas no mesmo bairro, com o mesmo público-alvo. Também foram observadas grandes diferenças entre escolas confessionais p er tencentes à mesma congregação. Isso ocorreu por conta do aumento da oferta no mercado. Em um ambiente altamente competitivo, onde a concorrência é intensa, todos os d e talhes fazem diferença, já que os pais têm mais opções à disposição.

A c esse o nosso site e confira o texto completo: direcionalescolas.com.br

O Colunista

CHRISTIAN ROCHA COELHO

Formado em comunicação, especialista em andragogia e neuropsicologia. Diretor do Grupo Rabbit Educação. www.rabbitmkt.com.br

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foto cedida pelo colunista

COLUNA / ERIC AMORIM

VOCÊ GARANTE QUE SUA ESCOLA É ISENTA

DE

RISCOS

E AMEAÇAS PARA TODA A COMUNIDADE ESCOLAR?

Garanto que este texto contribuirá para simplificar o que a Lei Estadual de São Paulo 17.341/22 estabelece como obrigações de segurança para o ambiente escolar. A lei traz um conjunto de diretrizes que auxiliam o gestor escolar a estabelecer medidas para respaldar e prover um ambiente escolar seguro, tanto ambiental quanto comportamental.

O parágrafo único do Artigo 1º enfatiza a necessidade de garantir um ambiente isento de ameaças para toda a comunidade escolar. Isso implica na implementação de uma gestão de segurança escolar com normas e protocolos específicos para mitigar ou eliminar os riscos, sejam estas ameaças ambientais ou comportamentais.

Desafios da Segurança Escolar

A primeira reação de muitos gestores escolares ao lerem a exigência de garantir um ambiente escolar isento de ameaças é de incredulidade. A pergunta que frequentemente surge é: como isso é possível? A resposta está na interpretação da lei, que indica a necessidade de um conjunto de medidas, ou seja, uma gestão que permita comprovar a prevenção e a intervenção, e que inclua normas e condutas para reduzir ou eliminar os riscos.

Prevenção e Combate a Situações de Insegurança e Violência Escolar

A educação contínua sobre segurança e a identificação precoce de vulnerabilidades dentro do ambiente escolar é o primeiro passo. Programas de formação para a equipe são essenciais, tanto para identificar sinais de potencial risco como saber como agir preventivamente. Atualmente, as escolas abordam quase exclusivamente o tema do bullying. Embora importante, essa ênfase revela uma falta de informações sobre a realidade completa da segurança na sua escola.

Estabelecimento de Prioridades e Parcerias

É fundamental fazer um levantamento da realidade dos riscos da sua instituição para desenvolver documentos que comprovem e estabeleçam prioridades de ação. A colaboração com empresas especializadas em segurança escolar pode auxiliar na elaboração desses documentos e na implementação das estratégias.

Acompanhamento e Avaliação da Eficácia das Medidas

Toda ação de segurança implantada deve ser gerenciada e sua eficácia comprovada. Isso requer um sistema de monitoramento e avaliação contínua para assegurar que as medidas adotadas estão efetivamente reduzindo os riscos e promovendo um ambiente seguro.

Participação da Comunidade Escolar

A participação ativa de toda a comunidade escolar – incluindo alunos, pais, professores e funcionários – é crucial para o sucesso das políticas de segurança. A colaboração entre todos os stakeholders permite a criação de um ambiente mais seguro e solidário. Existem diversas estratégias para envolver as famílias e obter resultados positivos, e a assessoria especializada pode oferecer suporte nesse processo.

Programas de Formação em Segurança Escolar

Desenvolver programas de formação específicos para dirigentes, docentes, discentes e funcionários é essencial. Esses programas devem focar na identificação de vulnerabilidades, criação de barreiras preventivas e intervenção quando necessário.

Planejamento e Execução de Simulações de Emergência

A prática de simulações de emergência é uma ferramenta adequada para avaliar a eficácia dos planos de segurança e preparar a equipe escolar para responder adequadamente em situações reais. As simulações ajudam a identificar falhas e áreas de melhoria nos protocolos de segurança.

Diagnósticos Periódicos de Segurança

Realizar diagnósticos regulares da situação de segurança nas imediações dos estabelecimentos de ensino é fundamental. Isso permite a identificação de novas ameaças e a atualização das medidas de segurança conforme necessário. Este ponto é crucial e mais fácil do que imagina, podemos desenvolver o diagnóstico através de pesquisas com a comunidade escolar.

Quais são os princípios fundamentais da segurança escolar?

Os princípios fundamentais incluem a prevenção e o combate a situações de insegurança, estabelecimento de prioridades e parcerias, acompanhamento e avaliação das medidas adotadas, participação da comunidade escolar, desenvolvimento de programas de formação, simulações de emergências, prevenção da violência e diagnósticos periódicos de segurança.

Conclusão

Garantir a segurança no ambiente escolar é uma tarefa complexa e contínua. A Lei Estadual de São Paulo 17.341/22 e as diretrizes nela contidas oferecem um caminho para a implementação de medidas eficazes de segurança. foto cedida pelo colunista

O Colunista

Diretor do Grupo Impacto, desenvolvedor da Metodologia Projeto Anjo – Lições que salvam Vidas. Especialista em segurança escolar e com dez anos de investigação para desenvolver um ambiente escolar mais seguro. www.impactoforschool.com.br

Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 12

COLUNA / ELIZA FLAUZINO E RENAN ABRANCHES

A PEDAGOGIA DE PROJETOS

EM PERSPECTIVA

Das muitas abordagens alternativas possíveis na prática do ensino, possivelmente a menos compreendida e mais discriminada em nosso país seja a Pedagogia de Projetos.

Proposta, incialmente, pelo filósofo e pedagogo estadunidense John Dewey (18591952), ativo representante do movimento Escola Nova, essa metodologia tem por objetivo superar a dicotomia professor-aluno no processo de ensino-aprendizagem, tornando a criança uma figura ativa, protagonista do próprio desenvolvimento cognitivo.

A ideia é, a partir de um projeto de pesquisa que desperte na criança o interesse pelos problemas do mundo concreto, ensiná-la, então, por meio da experiência.

Pela ressignificação do espaço escolar, o professor compartilha a centralidade da educação com o aluno, tornando-se mediador onde, antes, era apenas transmissor do conhecimento. Longe de substituir de forma definitiva o ensino tradicional e suas disciplinas, como Linguagens, Ciências da Natureza e as Ciências Exatas, a Pedagogia de Projetos oferece um importante meio de conectar teoria e prática na vivência do estudante.

Das muitas possibilidades oferecidas pela Pedagogia de Projetos, podemos mencionar a Educação Empreendedora, Financeira, Ambiental e Patrimonial, além do desenvolvimento de habilidades socioemocionais, atitudes proativas, formação ética, entre muitas outras. Com elas, é possível vislumbrar a realização da tão sonhada e pouco concretizada educação integral.

Mas, sendo essa alternativa capaz de agregar tantos ativos à formação da criança (e, por que não dizer, dos professores e co-

munidade escolar como um todo), por que ela enfrenta, ainda, resistência por parte de alguns educadores? Afinal, quem, como nós, já passou pela experiência da sala de aula, sabe o quanto falar em um “novo projeto” pode causar maus burburinhos pelos corredores da escola.

Em primeiro lugar, o desconhecimento de sua verdadeira proposta. Para alguns professores, o desenvolvimento de projetos em sala de aula ainda representa uma perda de tempo, que poderia ser melhor aplicado no simples cumprimento da matéria. Contribuem para essa visão equivocada a inexperiência de muitos com a prática da Pedagogia de Projetos, a desinformação sobre o tema e os consequentes resultados de algumas experiências malsucedidas.

Em segundo lugar, a falta de material humano preparado para esse tipo de abordagem. Como toda teoria cientificamente testada e validada, a Pedagogia de Projetos requer método em seu desenvolvimento. Assim, as qualificações teórica e prática do docente, associada a uma formação continuada seriamente comprometida com os resultados, é essencial para que se cumpra o papel esperado por essa abordagem.

Em terceiro lugar, a recorrente falta de infraestrutura. É empiricamente observável que, em muitas escolas, faltam os recursos essenciais ao desenvolvimento de projetos pedagógicos: da carência de recursos para pesquisas de campo à inexistência de matérias-primas para atividades maker, a indisponibilidade de elementos básicos a esse tipo de trabalho é uma realidade triste e relativamente comum.

Por fim, aquilo que seria uma espécie de vício de tempos passados, ou seja, uma visão de educação que ainda é, de certa forma, “professocêntrica”, ou seja, que entende

o processo de ensino-aprendizagem não como uma construção mediada, mas uma transmissão unilateral. Nessa perspectiva, para a qual a criança é coadjuvante (aluno, do latim alumnus, “aquele que é alimentado”), tendo papel secundário de absorver aquilo que lhe é oferecido. O “professocentrismo”, herança de tempos passados que ainda não conseguimos superar, é, talvez, um dos grandes obstáculos para a consolidação de uma educação integral, capaz de formar na criança habilidades intelectuais e humanísticas, preparando-a para os desafios da vida real.

Contudo, apesar das dificuldades que se impõem, é preciso encarar o tema com otimismo. Da Lei de Diretrizes e Bases às orientações da BNCC, contamos com uma das mais modernas legislações educacionais do mundo, a qual contempla a Pedagogia de Projetos como um de seus alicerces. A formação acadêmica de nossos docentes também tem acompanhado essa evolução. Além disso, o mercado educacional brasileiro tem oferecido novas alternativas para o desenvolvimento de projetos pedagógicos nas escolas. Os desafios são muitos, mas o futuro é promissor.

Os Colunistas

Mãe, empreendedora há mais de duas décadas, mentora de negócios, escritora, palestrante, criadora da personagem Carangolina, idealizadora do programa Carangolina de Educação Empreendedora e sócia-fundadora da Tantão Educação.

RENAN ABRANCHES

Pai, professor de História e Filosofia, pedagogo com experiência em Pedagogia de Projetos, educador patrimonial, palestrante, diretor pedagógico e sócio-fundador da Tantão Educação.

fotos cedidas pelos colunistas

Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 14

COLUNA / LUCIANO MONTEIRO

TRANSFORMAR A EXPERIÊNCIA ESCOLAR É

CONSTRUIR O FUTURO QUE QUEREMOS

Oprocesso educativo transcende amplamente a mera transmissão vertical de conhecimento. Educar significa fomentar a cidadania, embasada em valores civilizatórios universais, que são alcançados estimulando competências e habilidades individuais em busca de uma convivência harmoniosa entre o indivíduo e a coletividade, bem como entre a sociedade e o meio ambiente de maneira abrangente.

A sustentabilidade emerge como um valor global, cada vez mais intrínseco aos desafios de todas as atividades humanas. Assistimos diariamente a transformações climáticas que, até recentemente, eram previstas apenas para um futuro distante. Simultaneamente, vemos as bases da democracia, da equidade social, da diversidade e da igualdade serem desafiadas por ondas de autoritarismo ao redor do mundo.

A educação se destaca como a ferramenta transformadora essencial para assegurar um futuro promissor. Contudo, o verdadeiro aprendizado vai além da teoria; ele engloba práticas inclusivas, exemplos inspiradores e a reinvenção de paradigmas.

Nesse contexto, acredito que a educação é o principal caminho para alcançarmos, de forma consistente, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS), um plano de ação com 17 metas globais estabelecidas pelas Nações Unidas e que deve ser compreendido como um marco civilizatório a ser atingido até 2030.

A cooperação global com foco no bem-estar comum deve ter na educação a principal ferramenta estratégica de implantação e conscientização. Isso, porém, demanda o engajamento de autoridades, sejam elas públicas ou do mundo empresarial, mas não nos exime da responsabilidade individual, dentro do seu potencial de contribuição de cada um de nós.

A participação de professores, gestores escolares, alunos, familiares e da própria comunidade é fundamental para vencermos os desafios que se avolumam nas mais variadas esferas. E o que pavimenta o caminho para um futuro melhor, sem dúvida, é a educação, em todos os seus níveis. Educar para a sustentabilidade socioambiental demanda escolas engajadas e uma postura ativa que transcenda a simples retórica.

A escola é um ambiente integrador por essência. Por isso, a jornada de formação de cidadãos e cidadãs conscientes de seu papel no mundo é um instrumento de enfrentamento de desigualdades e de luta contra a fome e a pobreza, de combate à destruição ambiental e de busca por soluções para a construção de um mundo mais justo e inclusivo em toda sua diversidade.

Essa visão orienta o Prêmio Escolas Sustentáveis, uma iniciativa da Santillana, da Organização de Estados Ibero-americanos (OEI) e da Fundação Santillana, que em 2024 chega a sua segunda edição. Na sua estreia, em 2023, mais de 1.100 instituições de ensino do Brasil, México e Colômbia inscreveram projetos que engajaram alunos dos Ensinos Fundamental e Médio na edificação de um mundo melhor.

Esse prêmio internacional visa a incentivar escolas a aprofundarem suas iniciativas transformadoras, promovendo a maturação da consciência socioambiental. Mais do que uma competição educacional, representa uma oportunidade singular de troca de soluções inovadoras e de sensibilização para questões sociais, em um processo de aprendizagem em rede.

Agora, vamos além, incluindo também a educação infantil nessa missão, pois as crianças são a semente do futuro. Juntos, com ações

e resultados práticos, vamos unir estudantes de três países irmãos em prol da educação pela sustentabilidade e na conexão com a comunidade onde vivem.

O prêmio, como um valor, é um incentivo à expansão de boas práticas estudantis, mas é menos importante do que os ganhos trazidos à sociedade pelos resultados de cada projeto. Queremos dar visibilidade para essas ideias visionárias, iniciativas inspiradoras e transformações até então inesperadas. Queremos mostrar que cada criança e cada jovem, aluno e professor, podem fazer muito mais que imaginam.

Menos do que uma competição, mais um convite à colaboração. Educar pela sustentabilidade é colocar essa conscientização em prática. É mostrar que a preservação e a recuperação ambiental, a igualdade e a inclusão social e o respeito a direitos básicos de cada cidadão fazem parte de um processo em que todos podemos contribuir. Essas são algumas das premissas do Prêmio Escolas Sustentáveis.

O mundo que queremos passa, imprescindivelmente, pela educação. A escola, com sua conexão direta com a comunidade em que se insere, é o espaço para a construção e desenvolvimento de uma cultura voltada para o sustentável, responsável e comprometida com a busca de soluções para os imensos desafios postos à nossa frente. Não é uma missão fácil, mas não podemos abrir mão dessa responsabilidade. Como já disse outras vezes, transformar a escola é transformar o futuro.

O Colunista

É diretor Global de Comunicação e Sustentabilidade da Santillana.

Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 16
foto cedida pelo colunista LUCIANO MONTEIRO

INOVAÇÃO

COM PROPÓSITO: EDUCAÇÃO EM DIÁLOGO COM AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS ORIENTOU A BETT BRASIL 2024

Considerado o maior evento de inovação e tecnologia para educação na América Latina, a edição deste ano do evento contemplou um espaço exclusivo para debates sobre educação pública, privilegiou o protagonismo de professores/as e estudantes, e ressaltou a necessidade de diálogos transversais

“ A Bett Brasil é um momento de celebração de todas as iniciativas da educação pública e privada”, disse Claudia Valério durante a abertura oficial do e vento. “E quando percebemos que conseguimos unir toda a comunidade – escolas, professores/as, educadores/as, gestores/as e os desenvolvedores de soluções e tecnologias, percebemos o quanto o n o sso trabalho tem sentido”, continuou a diretora da Bett Brasil.

“ Todos os anos temos uma temática que norteia as nossas discussões, e em 2024 é a ‘educação de propósito’. Esse tema se concentra n a educação inclusiva e de qualidade, buscando igualdade e oportunidade de aprendizado para todas as pessoas”, complementou Va lério em sua fala de boas-vindas. O evento reforçou neste ano o seu compromisso com as diversidades e demandas plurais que emergem cotidianamente em todas as instituições

de ensino, o que ficou evidente tanto no tema central do evento – Inovação com Propósito: Educação em Diálogo com as Transformações Sociais – c o mo na grade da programação e nas soluções/inovações presentes na á r ea expositiva.

Adriana Martinelli, diretora de Conteúdo da Bett Brasil, ressalta a diversidade do conteúdo apresentado na 29ª edição do evento. “ Temos um conteúdo muito voltado para a realidade atual da Educação, que é direcionar o olhar para as transformações sociais. E c o m isso, conseguimos trazer a diversidade para os palcos da Bett Brasil, incluindo palestrantes internacionais, o que ajuda a compreender de forma globalizada os desafios d a Educação”, ela afirma.

Adriana também destaca as novidades que marcaram essa edição. “Uma novidade na Bett Brasil deste ano foi a participação

Fotos Divulgação/Bett Brasil

dos estudantes com uma programação especial para que eles tenham uma voz ativa n o e vento. Outro ponto marcante foi a ampliação da presença da educação pública. 8 0 % da realidade da educação básica no país é pública, portanto, é muito importante abrir um espaço de diálogo para os gestores públicos com painéis específicos sobre p ol íticas públicas e o compartilhamento de cases interessantes de projetos que estão espalhados pelo Brasil”.

E n tre os dias 23 e 26 de abril, no Expo Center Norte, mais de 40 mil pessoas visitaram o e ve nto, o que marcou um recorde de público. Durante os quatro dias, mais de 400 palestrantes estiveram presentes em 13 auditórios d i sponíveis, e os conteúdos foram apresentados nos formatos de roda de conversa, painel e x positivo, aquário e palestra inspiradora. Na área expositiva, mais de 300 marcas apresentaram soluções diversas que podem ser incorporadas no dia a dia escolar.

Q UAL É A SUA ESCOLA IDEAL?

Diferente de anos anteriores, que era realizado um protocolo com entidades e associações nacionais, na abertura oficial desta edição a jornalista e apresentadora Didi Couto c oma ndou um bate-papo tendo como fio condutor as possibilidades de inovação e transformação na escola. Lucas Coelho, estudante do P rojeto Juventude Bett e bolsista do primeiro ano do Ensino Médio na Escola Lourenço C a stanho, destacou que a sua escola ideal é “aquela que é humana, que trabalha com pensamento crítico, arte e música, características que fundamentam o cidadão. Uma esco -

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ESPECIAL BETT BRASIL
Abertura oficial: da esquerda para a direita – Didi Couto, Aberson Carvalho de Sousa, Vera Cabral, Francisco Celso Leitão Freitas e Lucas Coelho

la que ouve o estudante, que o coloca como protagonista”. Francisco Celso Leitão Freitas, professor que venceu as etapas estadual e regional do prêmio Educador Transformador, na categoria Ensino Fundamental – Anos F i nais, com o projeto RAP (Ressocialização, Autonomia e Protagonismo), concordou com a fala do estudante e acrescentou que a inovação não ocorre apenas com a tecnologia. “A inovação pode ser uma alteração na atitude de professores/as. Inovar na educação é u m processo que horizontaliza as relações e que todas as vozes são ouvidas. É uma educação que transforma”.

A b erson Carvalho de Sousa, Secretário de Estado de Educação, Cultura e Esportes do Acre, destacou durante o bate-papo que, com a pandemia de Covid-19, a experiência e o processo educacional sofreram transformações que ainda ecoam. “A pandemia nos t r ouxe desafios e passamos a viver em um novo momento educacional. Percebemos a importância da associação do conhecimento com a t ecnologia, e a inserção da tecnologia não apenas em laboratórios de informáticas, mas como um acessório que faz parte do processo educacional. É um instrumento que conecta o estudante contemporâneo com o aprendizado. E o desafio para a inovação é perceber a p e rspectiva do/a aluno/a e estabelecer uma nova relação de ensino-aprendizagem”, afirmou o secretário.

Ver a Cabral, Diretora Edu-Skilling Microsoft Brasil, ressaltou que a tecnologia não faz a educação. “A educação é feita por educadores/as e estudantes. A grande questão é p ensar em uma inovação na escola que contemple as diferenças. As tecnologias têm recursos que magnificam significativamente todo esse movimento de inovação que estamos falando”, finalizou.

P R OTEÇÃO DE DADOS E TECNOLOGIA

A programação do Fórum de Gestores contou com uma palestra especial, no terceiro dia do evento, sobre proteção de dados e o uso da

tecnologia na Educação. Alessandra Borelli, advogada especializada em Direito Digital, iniciou a apresentação listando uma série de dúvidas comuns aos gestores educacionais quando o assunto é o uso de tecnologia, e reforçou a necessidade de treinamento e cautela ao lidar com dados em unidades de ensino. “ P recisamos nos atentar que o universo escolar compreende várias legislações, não somente a Lei Geral de Proteção de Dados. Não é i ncomum termos problemas de vazamentos decorrentes de atitudes como superexposição de alunos por professores ou uso indevido de ferramentas tecnológicas, que infringem, além desta, outras leis”.

A es pecialista citou alguns casos nacionais e internacionais em que escolas tiveram dados vazados, e demonstrou preocupação pelo fato de grande parte da população não ter conhecimento do que é a LGPD e seu devido impacto na sociedade. Uma pesquisa do Serasa Experian confirmou que 75% dos brasileiros desconhecem a lei.

B o relli enfatizou ainda que menos é mais. “Não coletem dados desnecessários. Trabalhem com o mínimo, assim, podemos ter um í nd ice menor de riscos e danos. Lembrem-se que a confiança é a porta de entrada para uma relação, então é preciso ter cuidado com ocorrências que possam levar a danos reputacionais”. A advogada também chamou a a t enção dos presentes aos cuidados com documentos físicos. “LGPD não é somente para a m biente digital. Temos que ter atenção às pastas, formulários, listas de contatos e outros papéis que deixamos à vista ou em lugares desprotegidos”, destacou.

No Brasil, as multas previstas pela Lei Geral

de Proteção de Dados podem ser de até 2% do faturamento da empresa no último exercício, limitadas a R$ 50 milhões por infração. E s sas multas podem ser aplicadas em casos de descumprimento das disposições da lei, como o tratamento inadequado de dados pessoais ou a falta de medidas de segurança para proteção dessas informações. O p a inel contou ainda com a participação de Daniel Magnavita, gestor e líder da frente de Inteligência Artificial na Fundação Va nzolini e mediação de Hermani Araujo, diretor no Colégio GGE.

F L UÊNCIA LEITORA

Renato Feder, secretário de Educação do Estado de São Paulo, em sua passagem pelo e ve nto anunciou uma nova etapa do Alfabetiza Juntos SP, programa para a alfabetização d e c rianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Trata-se da ampliação do teste de f l uência leitora para os 3º, 4º e 5º anos e a implantação de uma ferramenta que permitirá aos professores acesso simultâneo ao resultado e um mapa do desenvolvimento de cada a l uno e de sua sala de aula.

“Com essa ação, a Educação de São Paulo está expandindo o olhar para o processo de alfabetização em todo o primeiro ciclo do Ensino Fundamental, mais um passo d o A lfabetiza Juntos SP. Nós temos uma meta de alfabetizar 90% dos estudantes do 2º ano até 2026. Na avaliação de fluência leitora já em curso, os resultados apontam que estamos no caminho certo e já temos 64% de leitores iniciantes e fluentes. É p r eciso garantir a equidade e esse patamar também para estudantes matriculados nas outras turmas dos anos iniciais”, declarou o secretário.

S OC IOEMOCIONAL

“Quanto mais estudo, mais certeza eu tenho que doenças psiquiátricas são doenças pediátricas. É melhor construir crianças inteiras d o q ue adultos quebrados”. A frase da psiquiatra Maria Carolina Pinheiro comoveu a p l ateia de congressistas, afinal, grande parte dos gestores e educadores vivem a realidade desafiadora de lidar com traumas e transtornos em crianças e adolescentes nas escolas. S e gundo a médica, ao menos 12% dos jovens do mundo possuem ao menos um tipo de t r anstorno psicológico.

As causas para esse cenário são muitas, mas Maria Carolina lista, principalmente: mu -

Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 20
Claudia Valério, diretora da Bett Brasil Mais de 300 marcas apresentaram soluções educacionais no espaço expositivo

danças sociais bruscas; aumento da pressão acadêmica, familiar e social; excesso n o u so da tecnologia; traumas e adversidades; desequilíbrios químicos e hormonais desencadeado por fatores ambientais; c o ndições genéticas associadas a um estilo de vida ruim, entre outros.

D e a cordo com a especialista, a cura está na transformação dos jovens e no convite à construção da saúde. “Saúde e doença não são opostas. Se adoecemos, é porque estamos recebendo um convite para revermos n o ssa relação com o mundo. Não devemos sofrer em vão, é necessário discutir e, principalmente, ouvir”, enfatizou.

A Bett Brasil foi palco do anúncio oficial dos resultados inéditos do estudo “Social and Emotional Skills for Better Lives (Competências socioemocionais para uma vida melhor, em t radução livre),” divulgado pelo Instituto Ayrton Senna (IAS). O estudo foi conduzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em colaboração com o Instituto Ayrton Senna (IAS). É a p r imeira vez que o Brasil participa como campo de implementação principal na coleta global de dados sobre o assunto, junto com outros 16 países e organizações. No Brasil, o estudo foi conduzido na cidade de Sobral, no Ceará, em 2023, com mais de 4.500 estudantes de 10 e 15 anos, professores, diretores escolares e pais/responsáveis.

O e studo representa uma das primeiras pesquisas internacionais em larga escala sobre competências socioemocionais no m u ndo, abrangendo dados de milhares de estudantes de 10 e 15 anos, avaliando 15 competências socioemocionais e sua importância na vida dos estudantes, além de examinar os fatores que promovem ou dificultam

seu desenvolvimento.

I d ade: o estudo evidencia disparidades no desenvolvimento das competências socioemocionais entre estudantes de 10 e 15 anos. Enq u anto os estudantes mais jovens demonstraram maior progresso em competências c om o confiança, determinação, assertividade e otimismo, os de 15 anos relataram um a v anço superior na competência de empatia. Essas discrepâncias ressaltam a importância de compreender os elementos que influenciam tal desenvolvimento. Uma hipótese sugerida pela gerente de pesquisas e membro do e duLab21, do Instituto Ayrton Senna, Karen Teixeira, é que os estudantes de 10 anos, es pe cialmente aqueles no ensino fundamental 1, desfrutam de uma relação mais próxima c o m um único professor, o que pode facilitar o progresso socioemocional.

Frequência escolar: o relatório também aborda a questão da frequência escolar, destacando que os estudantes de Sobral têm menos faltas em comparação com a média dos pa í ses participantes, embora relatem chegar atrasados à escola com maior frequência. Karen destaca a importância de observar essa t e ndência: “A incidência de faltas e atrasos é crucial, pois pode ser um indicador de possível abandono escolar e afetar o desempenho dos alunos. Competências como determinação, persistência e responsabilidade contribuem para a redução das taxas de faltas e atrasos. Além disso, competências como otimismo e entusiasmo estão associadas a indicadores de saúde e bem-estar.”

N o tas escolares: Entre os resultados mais relevantes, Karen apontou que competências c o mo desempenho de tarefas e abertura ao novo estão relacionadas com melhores notas escolares; a autogestão e curiosidade foram relevantes como os principais impulsionadores do desempenho em disciplinas como ma -

temática, leitura e artes; enquanto otimismo e entusiasmo influenciam positivamente o bem-estar dos estudantes.

“ Todas as competências socioemocionais analisadas contribuíram para o aprimoramento do desempenho acadêmico, desmistificando a ideia de que o desenvolvimento d es sas habilidades poderia prejudicar o aprendizado tradicional”, ponderou Karen. O Instituto Ayrton Senna é referência no país com atuação importante na promoção do debate e na condução de pesquisas sobre habilidades socioemocionais n o B rasil. Seu trabalho contribuiu para a inclusão dessas competências nos currículos escolares da Base Nacional Comum C u rricular (BNCC), um marco histórico para a educação brasileira.

L A NÇAMENTO DE LIVRO

O Instituto Crescer, laboratório de criação e implementação de metodologias de impacto social para a educação e o fortalecimento de comunidades e pessoas, lançou o livro “Crescer em Rede: inovação e tecnologia com propósito na Educação” durante a Bett Brasil. A p u blicação colaborativa, uma iniciativa do Instituto com o patrocínio da SM Educação, reúne textos de 17 profissionais da Educação de diferentes partes do país, de instituições públicas e particulares e contém relatos de práticas educacionais com o uso de tecnologias digitais. Além do livro físico, a publicação pode ser baixada em sua versão digital, s e m custo, por meio da midiateca no portal do Instituto Crescer. A organizadora dos artigos é a diretora técnica do Instituto Crescer, Lu c iana Allan, doutora em Educação pela USP, autora de outros seis livros e que carrega uma trajetória de mais de 20 anos liderando projetos nacionais e internacionais à f r ente da organização, da qual foi co-fundadora. “Espero que os leitores encontrem inspiração e orientação para criar experiências e d ucacionais inovadoras e mais conectadas aos interesses dos estudantes, colaborando para que, em um futuro próximo, eles sejam capazes de ter e perseguir seus sonhos”, sintetiza Luciana.

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A Bett Brasil 2025 ocorrerá entre os dias 28 de abril e 1º de maio no Expo Center Norte/SP.

Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 22
Prêmio Educador Transformador anunciou os vencedores das categorias durante a Bett Brasil

AMBIENTE EM TRANSFORMAÇÃO

Aestrutura física, tanto externa como interna, é o principal eixo que sustenta uma instituição de ensino. Esta estrutura arquitetônica carrega o histórico da instituição, sua marca e estética, ergonomia, segurança e acessibilidade, assim como agrega os espaços de socialização e os trabalhos de aprendizagens, além de influenciar no bem-estar físico e psicológico, e no acolhimento que uma escola oferece cotidianamente.

O ambiente construído escolar, diz a arquiteta Bruna Vieira de Assis, proporciona um espaço pronto para acolher o usuário, promovendo os desenvolvimentos educacional, social e cognitivo. “A arquitetura voltada para educação torna-se fundamental para criar espaços que abrigam as metodologias educacionais através da estética, forma e função. Arquitetura escolar tem como uma de suas especialidades traduzir em ambientes memórias, métodos e história, proporcionando ambientes inclusivos, personalizados, acolhedores, lúdicos e que respeitem a faixa etária e atividade exercida no espaço”, complementa Bruna, responsável por um escritório mineiro especializado em projetos arquitetônicos educacionais.

Nos últimos anos, avistamos mudanças significativas que começaram a surgir no segmento educacional, como questões comportamentais, culturais, tecnológicas e, também, na arquitetura e nas disposições da infraestrutura. No epicentro dessas mudanças, localizamos um denominador comum: o movimento de repensar a infraestrutura escolar com o objetivo de se adaptar a novos tempos e a novos anseios de estudantes. Nesse sentido, laboratórios maker, espaço para o desenvolvimento de metodologias ativas e a inclusão de equipamentos acessíveis em toda a estrutura, por exemplo, são demandas importantes.

De acordo com Bruna, um dos principais desafios

que a arquitetura encontra, na atualidade, é a adaptação de edificações residenciais em institucionais. Esse processo de adaptação enfrenta inúmeros fatores, o principal deles é tornar esses espaços acessíveis. Em muitos casos, diz Bruna, há resistência da própria gestão da instituição nas adaptações acessíveis, “porém, compreendemos que essa resistência tem um fundo social ao que é atípico. A inclusão espacial tem acontecido de forma lenta, sendo refletida no próprio ambiente educacional. Existe outro ponto, os custos elevados de equipamentos como plataformas, rampas e elevadores.”

Para os/as gestores/as que pretendem repensar a infraestrutura escolar, a arquiteta aponta algumas dicas. A primeira delas é criar uma identidade visual marcante que possa ser integrada à arquitetura, com elementos visuais que proporcionem uma conexão direta com estudantes e funcionários. É importante pensar na psicologia das cores e em como transpor os tons para criar sensações que auxiliem nas atividades exercidas no ambiente escolar. “Traga a acessibilidade e inclusão para sua escola, pense no todo, pense fora da caixa, atenda não apenas os alunos, mas também seus responsáveis, que em algum momento estarão presentes no ambiente escolar”, diz Bruna. “E preservem suas histórias, porque a arquitetura vem como complemento, uma soma, algo para incluir e gerar novas memórias”, finaliza. (RP)

SAIBA MAIS

BRUNA VIEIRA DE ASSIS incluaarquiteturaescolar@gmail.com

Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (MEC) https://www.gov.br/mec/pt-br/ media/seb/pdf/publicacoes/ educacao_infantil/miolo_infraestr.pdf

Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 24
DICA: ARQUITETURA Imagem: Adobe Stock

FERRAMENTA DE

Aatualidade é constituída por uma era tecnológica: ferramentas, aplicativos e recursos digitais foram, paulatinamente, incorporados em nosso cotidiano em todos os aspectos – pessoal, profissional e educacional. No contexto escolar, a tecnologia pode ser utilizada de variadas formas e propósitos, e está presente tanto nas áreas administrativa e financeira, como também integra o processo pedagógico em sala de aula por meio de recursos e facilitações digitais. Se estreitarmos o olhar para o cotidiano escolar, a lousa digital surge como uma possibilidade eficaz refletindo positivamente na relação ensino-aprendizagem.

“A lousa digital é um dos poucos adventos tecnológicos que não competem com as opções que são usadas em sala de aula sem tecnologia”, enfatiza Esdras Santana, fundador de uma empresa especializada em soluções educacionais. O empresário do setor relembra que a lousa digital foi desenvolvida por Nancy, uma professora no Canadá, e, a partir de suas experiências com o ensino, criou uma lousa integrada à tecnologia que possibilitava interações e dinamismos, além de trabalhar em metodologias de aprendizagem intuitivas em um modo de não apagar a presença do professor em sala de aula. “A lousa digital é uma excelente ferramenta de aprendizado em sala de aula”, afirma Esdras.

A geração de estudantes que adentram as instituições escolares diariamente possui um volume de informação internalizada, conhecendo, utilizando e adaptando todo mecanismo digital em sua rotina. Dessa forma, implementar ferramentas digitais alinhadas com propósitos pedagógicos bem resolvidos

e acionadas pelo/a professor/a em um momento adequado durante a aula, reflete em experiências positivas no ensino.

Segundo o empresário, alguns recursos da lousa digital podem ser explorados por educadores, como “aplicação do conteúdo digital com as mais diversas possibilidades (apresentação de imagens, links, mapas, comentários no conteúdo, fazendo recortes em tempo real), criação de aulas personalizadas para cada nível educacional, e o compartilhamento de aulas com estudantes”.

Para o/a gestor/a que se interessa pela ferramenta e pretende adquirir uma lousa digital, Esdras recomenda que o primeiro passo é discutir internamente com a coordenação pedagógica, a equipe de TI e docentes a viabilidade da implementação da tecnologia disponível. No processo de buscar um fornecedor, indica o empresário, três pontos devem ser observados no momento de adquirir o produto: busque uma lousa com uma tecnologia touchscreen veloz; confira se é uma empresa responsável e que promova treinamentos de uso e capacitação recorrente; se atente se a tecnologia adquirida garante a diminuição do índice de obsolescência durante os anos.

Após a aquisição, treinamentos de usabilidade devem ocorrer durante a implementação e posteriormente, por meio de capacitação continuada para todo o corpo docente. “Tecnologia é um organismo vivo que precisa de dedicação, atualização e treinamento contínuo”, finaliza Esdras. (RP)

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ESDRAS SILVA DE SANTANA atendimento@direcionalescolas.com.br

Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 26
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APRENDIZAGEM DICA: LOUSA DIGITAL Imagem:

Garantindo praticidade, inibição do consumismo e equilíbrio das diferenças sociais, os uniformes escolares são vestimentas funcionais que agregam uma padronização visual e a u xiliam pais e/ou responsáveis tanto no cotidiano como no fator econômico. O vestuário pr o duzido e identificado com o emblema da escola, a junção de cores, as padronagens, os tecidos, as texturas e os detalhes das peças reforçam e indicam uma linguagem visual significativa do histórico da instituição.

É p o ssível afirmar que a maioria das escolas do país optam pela utilização de uniformes customizados. Além de expressar a estética, a tradição e a simbologia de cada escola, as peças au x iliam no desenvolvimento psicossocial das crianças e dos adolescentes, estimulando um sentimento de pertencimento ao grupo.

DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento das peças customizadas, em sua maioria, recebem a participação de membros/as do colégio em variadas etapas do processo. Valdeci Gonçalves da Silva, diretor comercial de uma empresa que produz e comercializa uniformes há 30 anos, nos conta que a c r iação e o desenvolvimento dos modelos são realizados pelo departamento de design, a partir da logomarca, das cores e alguns direcionamentos apresentados pela escola. “O departamento de design sempre busca trazer aos novos u n iformes as tendências do mercado de moda jovem e também se inspira nas grandes marcas esportivas e de streetwear”, destaca Valdeci.

Na primeira etapa do processo, os desenhos/ layouts são apresentados e, em seguida, confeccionam a peça-piloto, uma primeira peça pa r a testes e ajustes. “Na maioria das vezes,

as escolas fazem uma pesquisa junto a um grupo de alunos. Algumas escolas promovem até d e sfiles para a aprovação de pais e alunos das peças”, explica Valdeci.

CONFORTO

Conforto é a palavra-chave quando pensamos em uniformes escolares, já que estudantes utilizam as peças por um longo período do dia. “Pe rcebemos, desde o início de nossas atividades, uma demanda por uniformes mais modernos, principalmente nas modelagens e no c on forto das peças”, conta o diretor. “Estamos sempre participando de feiras em busca das novidades em novos tecidos, aviamentos e personalização (estamparia e bordados) das peças. Esses materiais estão cada dia mais tecnológicos, confortáveis e duráveis. Hoje temos fibras e tecidos com tratamentos UV, antibacteriano etc.”, complementa.

F OR NECEDOR

Para gestores/as que pretendem reformular os uniformes da instituição, Valdeci destaca que a escolha de uma empresa (para a criação, produção e revenda dos uniformes) é essencial, com especial atenção na qualidade e o f erta dos uniformes. “Vemos a logística como um dos grandes problemas das empresas de uniformes, ou seja, oferecer os uniformes aos pais a pronta entrega durante todo o ano. Caso a escola não opte por uma empresa idônea e com boas referências, acaba tendo problemas com pais e estudantes no uso diário dos uniformes”, finaliza. (RP)

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VALDECI GONÇALVES DA SILVA atendimento@direcionalescolas.com.br

Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 28 BEM-ESTAR NO DIA A DIA DICA:
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UNIFORMES Imagem:

OPINIÃO / IDELFRANIO MOREIRA

SMARTPHONES

EM SALA DE AULA: UMA

FERRAMENTA? EM QUAIS TERMOS?

Quando utilizamos nossa rede social, e visualizamos uma postagem de cada vez, temos a sensação de um fluxo de conteúdos (feed) infinito; como se fosse um pergaminho sem fim que desenrolamos para continuar lendo.

Porém, a verdade é que o feed não existe! Hoje sabemos que o engajamento do usuário – curtidas, comentários, compartilhamentos – ensinam o algoritmo a apresentar conteúdos que nos agradam. A construção acontece à medida em que se rola a tela. Afinal, nesse modelo de negócio – onde o produto é você – reter sua atenção e consumir seu tempo é o objetivo.

Muitos acreditam que proteção de dados se trata de CPF, RG e data de nascimento. Mas, os dados que realmente interessam às big techs – as empresas de inovação criadoras das redes sociais – são os dados de engajamento. Eles demonstram os gostos, as crenças e os comportamentos de cada usuário.

No feed, as notificações que avisam novos posts de interesse, novos comentários, novos seguidores etc., são resultado das chamadas tecnologias de persuasão. São exemplos dos mecanismos que os designers comportamentais utilizam para mudar o jeito como os usuários pensam e agem.

Algoritmos de recomendação não é sobre tecnologia, mas sobre funcionamento do cérebro humano. As regiões do cérebro que compõem o chamado Sistema de Recompensa e que, quando alimentadas por Dopamina, nos dão a sensação de prazer imediato. É esse mesmo mecanismo que explica os vícios de todos os tipos. Inclusive, explica muito do comportamento de nossas crianças e jovens (filhos e alunos) hoje. Nasceram imersos neste mundo de tecnologias

móveis, internet e redes sociais, resultou em terem seus cérebros – ainda imaturos – capturados, persuadidos, viciados.

Segundo dados do portal Mobile Time, em pesquisa de 2021, crianças brasileiras possuem smartphones próprios e acesso à internet, a partir dos 3 anos de idade. Daí, desenvolvem hábitos de utilização que levam a tempos de tela de mais de 4 horas por dia.

Em contraponto, no The New York Times (2018) a jornalista Nellie Bowles, demonstrou como os executivos do Vale do Silício tratavam a tecnologia com seus próprios filhos. Um caso marcante e didático é o do criador do conceito de Cauda Longa na internet, Chris Anderson. Pai de cinco filhos, ele estabeleceu 12 regras para eles quanto ao uso de tecnologia móvel e internet. Citarei três aqui: sem aparelhos próprios até a idade do ensino médio, o primeiro aparelho próprio não ser novo nem do último modelo e, rede social própria, não antes dos 13 anos de idade.

Tudo isso, nos faz entender que não se trata apenas da distração causada pelas notificações. Pior é estar preso no fluxo sem fim das redes sociais. Assim, hábitos como largar o aparelho (a tela) pelo menos uma hora antes de dormir e não pegar nele logo ao acordar, podem ser bons para recobrar o controle sobre o próprio cérebro (e comportamentos). Dados do último PISA, de 2022, mostraram que pelo menos metade das crianças e jovens – nos quase 80 países da OCDE – se sentem ansiosos e/ou nervosos quando longe de seus smartphones.

Tratar disso nas escolas com ações pedagógicas que levem a uma cultura digital é urgente. Não se trata da ação simplista de tirar a tecnologia. Seria ingênuo, até. O mundo tornou-se tecnológico. Precisamos aprender a viver nele. E aprende-se a usar, usando! Políticas educacionais que

determinem ‘quando’ e ‘como’ utilizar tecnologia na jornada de aprendizagem é que podem surgir grande efeito.

O ‘quando’ implica que há momentos de uso e de não uso. Interações sociais presenciais e síncronas, mão na massa, consciência social, tudo isso é realizado sem necessidade de smartphones nem internet. O ‘como’ aparece no planejamento dos Professores, nas práticas pedagógicas, nas ferramentas metodológicas e nos objetivos de aprendizagem.

Tempo de tela e smartphone não são o problema, de fato. Dispositivos tecnológicos e tempo de tela orientados por um educador, cumprindo os passos de um planejamento é que trazem os benefícios da tecnologia para a aprendizagem.

Em 2023, um documento da UNESCO questionava em seu título ‘Tecnologia na Educação: uma ferramenta em quais termos?’. Esse questionamento me lembra ‘com grandes poderes vêm grandes responsabilidades’ (do filme do Homem-Aranha... conhece?!). Já presenciamos o grande poder que as tecnologias podem ter sobre nós – e podem ser para nós. Chegou a hora de assumirmos as responsabilidades por isso. foto cedida pelo autor

O Autor

Gerente de Ensino e Inovações Educacionais do SAS Plataforma de Educação. Atua com Formação de Professores. Edutuber integrante do selo YouTube EDU, do Google Brasil, apresentador das Quase 24 Horas de Formação de Professores ao Vivo e divulgador científico integrante do selo Science Vlogs Brasil.

Linkedin: https://br.linkedin.com/in/idelfraniomoreira?trk=people-guest_people_search-card

Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 30
Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 32 ACESSÓRIOS (VENTILADORES, BEBEDOUROS), ALIMENTAÇÃO, ARTIGOS ESPORTIVOS, COBERTURAS E TOLDOS, SOFTWARE DE GESTÃO, MESA DIGITALIZADORA
Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 33 COPIADORAS E IMPRESSORAS, MARCENARIA, REFORMAS E SERVIÇOS, SOFTWARE DE GESTÃO
Direcional EscolasJunho e Julho de 2024 34 GRAMA SINTÉTICA, PLAYGROUNDS, PISOS

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