

Capoeirando


#1-2022


com grande alegria que a revista Capoeirando - um tributo à Cultura Popular - acorda novamente, depois de quase 30 anos após as quatro impressões inaugurais em 1995/96. Agora em formato eletrônico, que possibilita múltiplas mídias e ampla divulgação, a proposta da revista se mantém: um espaço para estudantes e professores da UNICAMP (mas não só!) divulgarem matérias sobre Capoeira e todas a chamadas ‘culturas populares’, com suas complexas matrizes afro-brasileiras e indígenas (incluíndo-se as culturas de convivência nos diversos campi) e que muito ainda podem contribuir para/na Universidade.
Esse primeiro número eletrônico inicia com resumo de uma conversa sobre as origens e batalhas da revista em sua versão impressa, no anos 1990, o papel fundamental das alunas envolvidas nesse processo e também como isso reverbera até hoje. Seguimos com uma entrevista em vídeo com outra então aluna, hoje professora de dança e mestra de Capoeira, sobre sua trajetória que também perpassa pela história anterior: Lara Machado. A seguir, um pouco da saúde indígena a partir de relato pessoa, da etnia Baré: a farmácia da natureza. Outra entrevista é com o 'Baque Mulher', coletivo que empodera pela dança e percussão, e que nos brinda também com lindas fotos! Temos também uma apresentação do Choro, gênero musical ainda a ser mais praticado na universidade, e uma matéria sobre Baba Toloji, um guardião da africanidade em Campinas. Terminamos com a Saideira, chamando para a próxima edição e dando dicas de material recente na área.
Você é nosso convidado para fazer parte dessa Rod@, venha conosco!

Direção e Editoria:
Adriana Barão e Cristiano M Gallep
Conselho Editorial:
Christian da Silva Rodrigues e Gina Monge Aguilar
Logotipo: Luciana Barbeiro
Colaboradores desta Edição: Regional da Vila, Gabrielle Luzia Antônio, Helthon Fernandes Rodrigues, Luciano Medina, Maryane Comparoni, Mariana Pereira Procópio
Capa: Maryane Comparoni
20/Agosto/2022 - Adriana Barão e Cristiano M Gallep

j Revista Capoeirando, pg.3
Fala Mestra! - Mestra Lara Machado, pg.9
Diga, Parente! - Saúde indígena, pg.10
Quem vem lá? - Baque Mulher, pg.12
E tú, toca o quê? - Caminhos do Choro, pg.18
Volta ao Mundo - Baba Toloji, o guardião, pg.22
Saideira, pg.26
Editoração: Cristiano M Gallep e Maryane Comparoni

mande seus pedidos, sugestões e críticas para:
capoeirandorevista@gmail.com
https://issuu.com/revistacapoeirando





No interesse de resgatar a memória da 'Revista Capoeirando - um tributo à cultura popular', e também de conhecer um pouco sobre os caminhos das mulheres, à época alunas de graduação, que realizaram esse trabalho em conjunto com colaboradores diversos na UNICAMP, convidamos Adriana Barão e Andrea Mendes para uma conversa virtual. Trabalho pioneiro de 1995, a 'Capoeirando' teve quatro edições impressas, com matérias diversas sobre Capoeira e também sobre outras manifestações da chamada "cultura popular"vide quadro resumo no link. Segue parte da nossa conversa, realizada virtualmente nesses tempos de pandemia.

Trajetória da Revista Capoeirando Trajetória da Revista Capoeirando - uma conversa - uma conversa sobre as origens… sobre as origens… com Adriana Barão e Andrea Mendes com Adriana Barão e Andrea Mendes
"Eu tenho uma irmã mais velha, e eu percebi que ela sempre gostou mais dessas coisas femininas: ela tocava piano, eu odiava piano - daí eu fui para o violão popular. Daí minha mãe colocava a gente para fazer balé, eu odiava balé, doía meu corpo inteiro”.
Ambas entrevistadas apresentaram também pessoas que seriam modelos para elas nesse processo, Andrea com prof. Eusébio e Adriana com Lara**, então aluna de Dança e hoje Mestra de Capoeira.
Começamos perguntando sobre os contatos iniciais com a Capoeira, com intuito de entender um pouco das trajetórias de ambas, antes da faculdade, e como suas experiências as levaram à 'Capoeirando'. Andrea demonstra grande interesse pela cultura africana (atualmente é historiadora da África e Diáspora Africana), além do vínculo com o prof. Eusébio Lobo* e a dança, que de certa forma a resgata: “Minha formação na graduação foi nas artes cênicas, e desde o período que eu estava na graduação meu interesse começou a se voltar para manifestações da cultura popular que estavam vinculadas ao continente africano, então foi a partir daí que eu comecei a orientar a minha atenção, para essas manifestações, para as danças populares em especial, foi por aí que a Capoeira acabou entrando por uma via paralela, muito em função do meu contato com o Eusébio Lobo na dança”.

A seguir, questionamos quanto a percepção, à época, da presença das mulheres nos espaços de/da Capoeira. Observamos a importância já mencionada de Lara no processo, e de ter docentes como aliados para começar um projeto do tamanho da 'Capoeirando': (Adriana) “A Lara é uma figura super importante, porque ela abriu caminho dentro da UNICAMP, como professora de dança e introduziu a Capoeira, é uma das primeira mestras em Campinas; [...] recentemente [em uma entrevista], e ela fala que muitos mestres falam: 'Porque essas capoeiristas... essas mestras…’ e nem olham para ela como uma mulher, mestra, né.” Um mestre não fazer menção sobre Lara como uma mestra que é, ou não enxergá-la dessa forma, nos mostra como o processo de aceitação de mulheres nesse espaço precisava ser trabalhado e que mulheres ainda não eram aceitas; as que conseguiam adentrar, como Lara, precisavam colocar em jogo sua condição de mulher para buscar a aceitação, o que é confirmado por Andrea:
”E eu me lembro muito da figura da Lara na Capoeira naquele período... era vista de modo geral com uma certa estranheza… Estranheza primeiro por causa claro do próprio fato da questão de gênero mesmo, uma mulher que estava conseguindo galgar um percurso dentro da
Para Adriana, encontrar a Capoeira serviu como um refúgio contra a normatização do que é o feminino para a sociedade , algo que percorre por todas as fases da vida: *Eusébio Lobo da Silva (Mestre Pavão) então docente


Capoeira, naquele período, e pelo poder que ela tinha, de agregar pessoas em torno dela… O povo velho da Capoeira, não só os mestres, mas os contramestres, olhavam para a Lara com reservas - eu acho importante que se diga isso, porque ela era um ponto fora da curva né, porque a sensação que eu tenho, no período, do que eu via na Capoeira, as mulheres até podiam jogar, até podiam ir para a academia, eventualmente podiam ir para uma roda, mas mulher tinha um lugarzinho ali, não se esperava da mulher galgar um percurso da Capoeira que a levasse a contramestre, que a levasse a professora, que a levasse a mestra, não! Era meio entre aspas 'Café com Leite'."
E como surgiu a ideia da revista? E o suporte UNICAMP/FAEP? Adriana conta que uma alemã, Angela, aluna do grupo Cordão de Ouro, na academia de Me. Cícero em Campinas, escrevia muito sobre Capoeira: "porque gringo quando vem para o Brasil adora fazer registro, parece antropólogo [risos], eles registram tudo [...] e coincidia naquela época de eu fazer jornalismo na PUC e Ciências Sociais na UNICAMP e rolou um ônibus que foi para a Bahia".
Esse ônibus para a Bahia foi um marco importante entre Andrea e Adriana, pois mostra o momento em que se conhecem e já começam sua amizade através de um gosto em comum: o amor pela Capoeira. Ao voltarem da Bahia, juntamente com Angela, a alemã, se unem no processo de escrever a antecessora da Capoeirando: a revista “Rasteira”. E conhecemos também outra personagem importante: Luciana
Barbeiro Restivo, então aluna de Artes Visuais, e que findou sendo a ilustradora da revista e designer da capa da primeira edição da Capoeirando. Adriana conta um pouco sobre o processo de produção: "Daí a gente fez a revista Rasteira, e aí eu tava terminando o curso de jornalismo e a gente precisa fazer um projeto experimental na graduação quando termina, e a Andrea quem me ajudou a fazer o contato com o Eusébio, por que ela era do Instituto de Artes Cênicas, e o Eusébio falou assim: “ Olha, essa revista pode sim sair pela Unicamp por um projeto que era da FAEP, que era um fundo de apoio para a pesquisa”.
As primeiras impressões sobre o projeto não foram bem aceitas pelos colegas de jornalismo de Adriana, que na sua apresentação de banca recebeu avaliações bem negativas: “Quando a gente apresentou esse projeto para a banca de jornalismo, foi um desastre porque a banca falou que aquilo era um péssimo projeto, que nunca ia render nada, que não tinha público, que era horrível e quase que a gente não passa”.
Porém, negando todas as avaliações contrárias, a primeira edição acaba fazendo muito sucesso:
"Só que acontece que em seguida a gente fez a Capoeirando, [...] foi um sucesso! Eu não sei o que houve na época, é que realmente estava um “boom” da Capoeira e começaram a fazer muita revista comercial de Capoeira na época, saíram eu acho que umas 10 revistas só de Capoeira vendendo muito, comercialmente, foi um sucesso! Os capoeiristas compravam demais, ou seja, tinha público. Aí, a partir do segundo número a Andrea entrou”.
A entrada de Andrea traz um acréscimo importante para as edições seguintes, pois seu contato com as artes e culturas populares nos leva a um novo título para a revista, passando a se chamar “Capoeirando: Um tributo à cultura popular” - e a trazer assuntos em alta na cultura popular brasileira da época:
"Então, porque eu, na verdade, tinha ligação com as danças populares de matrizes africanas, fui aluna da Raquel Trindade no Departamento de Artes Cênicas, e o meu convívio com ela começou a me proporcionar a aproximação desse universo, da cultura popular de um modo geral, e a Capoeira acabava sendo um dos braços dessa cultura popular. E eu tinha ligação com o Eusébio também, por conta da dança, embora eu estivesse nas Artes Cênicas. E aí, quando teve esse projeto foi que o Eusébio disse: 'eu acho que você também devia fazer parte desse projeto, porque a Capoeirando não necessariamente tem que ser uma revista fechada só na Capoeira, mas seria interessante que a gente pudesse refletir os caminhos que a Capoeira trilhou, isso em relação às culturas de heranças africanas do Brasil, e eu acho que era legal você estar junto.' E foi assim que eu entrei também para o corpo editorial.”
Após perguntarmos sobre o processo de criação, adentramos no assunto da divisão de tarefas da revista e da criação das pautas - de acordo com a Andrea os temas vinham muito das oportunidades do momento, de falar com cada entrevistado ou de algum evento que estava acontecendo no momento:
"A gente ia muito na intuição do que estava acontecendo, das oportunidades, né Adriana? Uns que apareciam e a gente fazia uma entrevista, ou tinha um evento e a Adriana ia, era um fluxo contínuo de ideias que a gente ia juntando.” (Andrea)
Notamos também o espaço informal utilizado para a elaboração dos conteúdos, o que nos mostra que além de uma atividade de cunho profissional, a criação da revista era igualmente um momento social:
“A gente fazia a aula; quando acabava ou fazia o

intervalo da aula, a gente se encontrava na cantina, nas mesas ali ou tomando uma cerveja, ou tomando um suco, comendo alguma coisa, que as ideia rolavam, os contatos rolavam, e grandes contatos e grandes empenhos, um ajudando o outro, e ajudando de coisas práticas e até, no nosso caso, pautas da revista, desde de divisão de tarefas… Liberac* chegava: 'Vai ter tal evento, importante vocês irem…' então eram coisas assim que aconteciam fundamentais, era ponto de encontro básico a gente tá ali e se encontrar.” (Adriana)
Andrea completa:
"A gente não tinha reunião de pauta, era muito mais orgânico, porque tinha essa coisa do convívio mesmo, efetivo né, então quando digo que nosso sistema era intuitivo para pensar as pautas, era porque na verdade era uma coisa que a gente vivenciava efetivamente, no cotidiano, na medida em que iam acontecendo as coisas, a gente não tinha essa coisa formal da pauta".
Mas apesar das questões orgânicas no processo de criação, a revista era bem organizada quanto às sessões temáticas. Um ponto interessante observado durante a entrevista é a participação do professor Eusébio Lobo e das demais figuras apoiadoras, lembradas com muito carinho por Andrea e Adriana, como o já mencionado Liberac e também de Eugênio**, pesquisadores em formação que viriam a ser referência na bibliografia capoeiristica:
“No mesmo período a gente teve dois acadêmicos que foram muito importantes para a história da Capoeira, que foi o Liberac, que era capoeirista, e escreveu muito sobre Capoeira, e o Eugênio; e os dois apoiavam muito eu e a Andrea; e até porque os capoeiristas tinha certa desconfiança comigo e com a Andrea, quando a gente ia fazer entrevista, quando a gente falava da revista, havia uma certa desconfiança e eles davam, tipo, a carta de anuência (risos). Assim, nas rodas eles falavam: 'não, essas meninas tão fazendo um trabalho bom, confia; é sim, vai dar certo isso aí, essa revista é muito importante'todo lugar que eles iam eles falavam, e falavam muito bem da revista, e isso foi abrindo caminho
*Antônio Liberac Cardoso Simões Pires, professor UFRB; **Carlos Eugênio Líbano Soares, professor UFBA e UFRRJ; ambos então pós-graduando em História
para a gente, porque eles confiavam no Liberac e no Eugênio, e eles diziam de antemão, eles passavam e falavam da gente, antes da gente efetivamente aparecer nos lugares” (Adriana).
Nas falas sobre prof. Eusébio, se destaca a maneira com que ele dava a liberdade de trabalho para a produção da revista, e de como ele era um reconhecedor do trabalho que estava sendo feito por Andrea e Adriana:
“Ele deu muita liberdade para a gente, isso foi muito legal, que não é uma prática muito usual dentro da universidade, né? [...] Quando eventualmente ele era parabenizado por isso, e eu presenciei dentro do departamento, ele falava: 'Não! Aquelas meninas que fizeram a revista! Eu só assinei porque elas precisavam de assinatura, mas o trabalho é delas!' O Eusébio tinha essa generosidade.” (Andrea)
Mesmo com o sucesso das distribuições da revista, Adriana e Andrea sofriam com as frequentes desqualificações do trabalho, tanto no universo da Capoeira quanto no da academia, como se elas e Mestre Pavão não tivessem as qualificações necessárias para dar andamento em um projeto como esta revista.
"Eu sentia que me desqualificavam porque eu era só uma aluna de Capoeira “café com leite”, que não ia mesmo subir nos cordões né, meio desajeitada, [...] o Mestre Pavão que 'era só um acadêmico" que foi se “esconder na academia'”. (Adriana)
"Bailarino…" (Andrea)
"Tinha isso 'ah ele é bailarino e a Andrea não joga Capoeira, então o que ela tava fazendo aí? porque ela tá falando de Capoeira?', rolou muito... 'O que vocês estão escrevendo de Capoeira se nem fazem Capoeira?', ao mesmo tempo que criticavam por demais, nossa, foi muito cansativo…" (Adriana)
"Outros muito silenciosos, fingindo que não existia né, mas todo mundo queria a revista ao mesmo tempo… esse era o ponto! Todo mundo queria!" (Andrea)
"Exatamente! 'me dá aqui' 'quando você vai trazer a minha revista?', 'É uma porcaria hein? Vocês não têm nada a ver que falar de Capoeira… Mas me dá a revista? Quando você vai trazer?'" (risos, Adriana)
O fim do projeto se dá devido às dificuldades para se conseguir um patrocinador para uma revista de Capoeira nos anos 90, e também devido às diferentes rotinas dos colabores, que se encontravam na fase final da graduação ou da pós, e com o cortes do subsídio FAEP, que tinha tempo limitado. Para encerrar a entrevista, buscamos saber o que cada uma achava importante falar sobre mulheres e Capoeira, caso o projeto fosse retomado para os formatos dos dias atuais:
"Eu acho que tem, sim, muitas mulheres que estão despontando na Capoeira e teria muito o que falar, dava para fazer sim uma sessão só com mulheres na Capoeira e ouvir né, parar para colocar essas falas." (Adriana)
"Ia ter que ter uma sessão: 'Menina quem foi tua Mestra?', porque hoje a gente tem muita representatividade, e acho que poderia ter mais! Comparado ao cenário da época, eu acho que hoje se sustentaria uma sessão na revista só sobre a voz feminina na Capoeira, com toda certeza, a mulherada está mandando bem." (Andrea)
"Tem bastante mulher, né, na Capoeira Angola, e eu vejo muito bonito assim, mulheres grávidas, jogando assim até com barriga bem grande; na Regional você não vê porque é um pouco mais rápido, dificulta mesmo, falar até sobre essa questão da maternidade e a Capoeira…" (Adriana).
P P or Gabrielle Luzia Antônio e Cristiano M Gallep or Gabrielle Luzia Antônio e Cristiano M Gallep
Esse trabalho é parte do projeto de Iniciação Científica "As alunas da Revista Capoeirando" - PIBIC / UNICAMP 2021-22.

Registro Registro




Me. Tulé
Eliana Kefalás Oliveira (Lica) e Bia Labate
Me Pavão, Liberac e Me Salvador
Adriana e Angela
Clique para acessar cópia digital:







Me. Maia, Liberac, Me. Salvador e Me. Jogo de Dentro Lançamento da Revista Capoeirando - Centro Cultural Evolução, em Campinas




Conversa com
Lara Rodrigues Machado
Mestra de Capoeira e professora Mestra de Capoeira e professora de Dança (UFSB/UFBA/UFRN), de Dança (UFSB/UFBA/UFRN), sobre sua trajetória na Capoeira, sobre sua trajetória na Capoeira, desafios e perspectivas! desafios e perspectivas!


#3 - Dificuldades na trajetória


#5 - E a 'Capoeirando'?


#1 - Como foi conhecer a Capoeira?



#2 - E as mulheres na Capoeira de então?


#4 - E a relação com a Academia?
#6 - Como é ser inspiração para alguém?



#7 - Sobre a participação feminina atual
Clique para acessar os vídeos!
Entrevista e edição: Entrevista e edição: Gabrielle Luzia Antônio Gabrielle Luzia Antônio






Saúde indígena a partir da farmácia da Natureza
Meu nome é Helthon Fernandes Rodrigues, nascido na cidade de São Gabriel da Cachoeira / RR, da etnia Baré
A meu ver, do qual sou conhecedor e conforme informações de meu pleno interesse, trato aqui sobre como os meus ancestrais viviam na época, sem recurso da medicina branca, mas tendo apoio de sua própria maneira de sobrevivência natural, que consideravam como seus médicos: o recurso da própria natureza.
Em se tratando do contexto e do meu lugar de origem, retrato aqui os casos de doença que aconteceram em minha família durante a época que ainda não havia remédios farmacêuticos, nem cura.
Primeiramente, retrato a época do surgimento da tuberculose em nossa região. O meu tio uma época de difícil acesso a medicamento farmac
A única opção era recorrer pelos meus bisavôs.
E utilizavam muito o matruz, batido dentro de um pano, e misturavam o sumo com leite, que era utilizado todos os dias, assim se curavam aos poucos da doença.
Outro fato foi com minha irmã Nesta época já havia hospital em nossa região, e ela pegou malária três vezes. E utilizou o remédio tradicional do povo, que se chama Saracura. Remédio que é preparado da casca da Saracura, uma árvore grande do mato; seu sabor é muito amargo. Tomava sempre antes do banho, um copo de manhã cedo.
E eu, quando pequeno, sofri a doença da asma. E minha mãe dios farmacêucasca do ovo os dias pela

Certamente outro remédio caseiro, muito bom como complemento para minha asma, foi a utilização de um chá feito do pêlo do animal Mucura tirava o pêlo, torrava e depois preparava como chá e bebia todos os dias de manhã e à noite; e da carne deste animal ela preparava um frito e fazia para eu comer. E assim fui curado com este pêlo deste animal Mucura.


Sabemos que nossa região é distante de tudo, e para nos protegermos principalmente da malária e da dor do corpo utilizávamos também o chá da casa do cupim, encontrado no mato.
O carapanaúba também é um dos remédios essenciais para todas essas doenças citadas acima. São remédios que nos fortalecem também, é por isso que meus ancestrais usavam bastante e até hoje ele é essencial pra minha família, em todas essas doenças como malária e dor no corpo.
Texto e desenhos de Helthon Fernandes Rodrigues



Com quase 10 anos de existência, o Baque Mulher Campinas carrega o nome de um dos movimentos de Maracatu mais importantes do Brasil. O “Baque Mulher” - situado na cidade de Recife / PE - é um movimento que se denomina como "Movimento de empoderamento feminino Baque Mulher" - “Feministas do Baque Virado”uma vez que seus princípios são de fomentar, a partir do Maracatu de Baque Virado, projetos voltados para o empoderamento feminino, que colocam em pauta o legado da mulher na cultura popular, a valorização das matriarcas, e as discussões sobre o racismo e a violência contra a mulher. Entrevistamos a coor-denadora Iara Lage, que apita o BM (abreviação que usaremos para nos referimos ao Baque Mulher) da região de Campinas.


Capoeirando: Iara, queria começar pedindo para você se apresentar. Você apita o Baque Mulher Campinas desde 2017, certo? Como foi sua trajetória até chegar aqui?
Iara: Foi em 2017. Mas eu conheci o Baque Mulher mesmo em 2012, quando eu tocava no Maracatu Ribeirão Preto: no “Chapéu de Sol”. O Chapéu de Sol tinha proposta de investigar várias Nações de Maracatu. Aí, quando a gente começou a investigar a nação Porto Rico, o grupo sofreu um racha entre a galera que queria continuar com a ideia das várias nações e a galera que queria começar um foco em uma nação especifica.


Quando eu conheço o Chapéu de Sol é quando eu conheço o universo do Maracatu quase que por completo, apesar de ser impossível conhecer tudo. São mais de 100 anos de história! O Maracatu surge historicamente no século XVIII, em um momento onde a escravização ainda estava em vigor. Como diz o site do Governo do Estado de Pernambuco, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ele “é um movimento da cultura popular que envolve música, dança e história - além de figurinos extravagantes, que remetem à cultura africana, indígena e portuguesa.”.


I: Em 2012 foi quando teve o primeiro encontro nacional de Maracatu, aí eu conheci a mestra Joana Cavalcante, mestre Chacon e mestre Walter O Baque Mulher, em si, chega na minha vida em 2014, dois anos depois, quando eu pessoalmente resolvi mudar para Campinas, descobri que na região existe o Maracatucá, um grupo que está muito envolvido com carnaval do Recife E essa aproximação entre Campinas e Recife se dá principalmente através da Glória Cunha, Juliana Viana e Tati Farias, que eram mulheres importantes e que iam para Recife gerar essas trocas A Glória, inclusive, é a nossa referência de matriarca do grupo, por estar a mais tempo no movimento. Elas tinham uma prática de ficar mais de mês em Recife no carnaval, contribuindo com as nações e trocando com as nações Tinham contato principalmente com a Nação Porto Rico e a Nação de Maracatu Encanto do Pina, que é a nação da mestra Joana Cavalcante, primeira mestra de Maracatu no Brasil e no mundo. É através dessas mulheres e do Maracatucá que eu fui conhecer o Baque Mulher.
Iara explica que o BM nasceu por volta de 2008, lá no Recife, e que o BM Campinas foi a primeira filial do movimento Essa criação ocorreu em 2014,
muito a partir da troca que as mulheres do Maracatucá já tinham com o Carnaval de Pernambuco. Conforme os anos foram passando, elas iam participando das tocadas e, aos poucos, foram chamadas de Baque Mulher pela própria mestra Joana Cavalcante, que deu a permissão para que elas fizessem esse Baque em Campinas, gerando assim o ponta pé inicial para que o movimento alcançasse a atual dimensão de 39 filiais de feministas do Baque Virado.
C: A gente sabe que o Maracatu do Baque Mulher vai além da festa, e que seu intuito é gerar mundos mais seguros para as mulheres, expandindo debates sobre a importância de refletir sobre o racismo, a valorização das mestras e todos os tipos de violência contra a mulher. Sabemos que as pautas das mulheres são diversas. Pensando nisso, nos conte como se dá o desenrolar desses objetivos na prática. Ainda nesse sentido, como o movimento tem acolhido as demandas das mulheres LGBTQIA+?
I: Temos homens aliados nas nossas rodas de conversas. Esses debates, sem eles, não geram a consciência de que são deles as ações que causam as violência contra suas próprias parceiras. Quanto às mulheres bissexuais, lésbicas

e trans dentro do movimento, a Mestra sofreu muita retaliação por parte dos homens Eles acham que é um movimento da bagunça quando vêem casais participando E homens próximos a ela falam isso. Então, levantar a bandeira de empoderamento feminino já é complexo, e levantar essas bandeiras das mulheres bissexuais e lésbicas acaba sendo mais difícil Sobre as mulheres trans, o movimento em si ainda não conseguiu ter de fato uma representatividade Mas a gente tenta trazer essas mulheres cada vez mais para perto para conhecer o movimento, para estarem com a gente
A gente ainda não tem uma participação social de poder contar com promotoras populares legais, não estamos unificadas com alguma instituição que luta contra a violência doméstica e todas as violências contra a mulher Eu sei, por exemplo, das mulheres do BM de Porto Alegre, que ajudaram a criar um site falando de todos os tipos de violências contra mulheres. Uma cartilha mesmo, e elas até ajudaram a levantar uma lei que protegesse mais as mulheres de Porto Alegre A princípio, quando a mulher vem conhecer a gente e ela fala: “Eu nunca toquei nenhum instrumento!”, a gente começa a ensiná-la. Isso já é um movimento de empoderamento Acaba que a tocada em si é uma forma de iniciar esse debate e, aos poucos, a gente vai trazendo esses temas de discussão - que você apontou - através das “Loas” e através das nossas discussões em ensaio. Quando escutamos a mestra Joana cantar a loa, a gente já está estudando a história. Como quando a gente canta, por exemplo, o número da Lei Maria da Penha. É Impressionante! Quer queira, quer não, quando a gente toca essas palavras, no final da apresentação sempre vem uma mulher falar que sentiu muita força, que é legal que estamos falando desse tema e que precisa falar mesmo Só por a gente estar carregando uma camiseta que tem uma mulher preta estampada, isso já traz a força do nosso movimento e do empoderamento. Cada filial vai contando o seu peso um pouco político em cada região, mas a princípio a nossa existência já é política e já traz o nosso debate.
As “Loas”, gênero musical que se refere às músicas do Maracatu, são um dos fios condutores das menssagens que mulheres do BM trazem co-
mo debate à sociedade De acordo com Ana Cláudia de França e Débora Amorim Gomes da Costa-Maciel, em artigo publicado em 2021: “A loa é um gênero poético, muitas vezes, improvisado (...) Esse gênero da tradição oral é organizado por quatro elementos: versos, oração, rima e métrica É produzido por mestres(as), produtores(as) culturais, poetas/tiradores de loas que, de improviso, constroem as loas a partir de suas vivências, experiências, considerando fatos da atualidade Os versos têm parentesco com os repentes de viola e com a poesia de cordel, na rima e na métrica, diferenciando-se destes apenas quanto ao ritmo ” No caso das loas do coletivo BM Campinas, seguese as criações oriundas da Mestra Joana Cavalcante, em contribuição com outros mestres e integrantes do Maracatu em Recife Dessa forma, as canções assumem um papel fundamental de manter a ancestralidade e as histórias das lutas das mulheres vivas, honrando o nome da única mulher Mestra de Maracatu do Brasil, bem como sua história de vida e a ancestralidade brasileira
C: Para finalizar, gostaria de dizer que essas entrevistas que a Revista Capoeirando vem fazendo surgem da procura de gerar trocas que decolonializem a universidade, a fim de abrir cada vez mais espaços para que os saberes da cultura popular, que estão na comunidade externa a esse espaço físico/epistêmico e academicista, sejam reconhecidos e valorizados com o mesmo prestígio que as produções científicas daqui tem. Por isso, foi muito importante ter a sua contribuição nesta edição, bem como a contribuição do Baque Mulher, movimento no qual você representou lindamente. Obrigada! Abro o espaço para suas considerações finais agora
I: Só agradecer mesmo! Eu sou muito grata por todo esse aprendizado. Gostaria de contribuir falando que todas as coisas que eu disse são histórias de outras pessoas. Eu adoro ser porta voz do movimento mas, quem sabe algum dia, trazer mesmo a mestra Joana na revista seja possível Imagina a conexão que seria: começar com esse pequeno relato da minha história e depois expandir e fugir um pouco da região de Campinas, gerando conexões em outros territórios também. Quando a revista da Unicamp puder, em algum dia, entrevistar a mestra, é importante também monetizar a entrevista, a fim
de fortalecer essas pessoa
Queria agradecer por vo também Ela é importa Campinas garanta seus lug cada vez mais intensas en A gente agradece. Muito dizendo que eu não estou Baque Mulher de Camp mulheres todas que estão engajadas em levantar Então, agradecer também estão por trás do BM Ca representando
Iara ainda indica um docu mais sobre as matriarcas do Pina" (2018).

Nós, da revista Capoeirando, convidamos todes a seguirem as páginas das redes sociais do grupo de Maracatu Baque Mulher Campinas Baque Mulher:
@baquemulhercampinas @mestrajoanacavalcante @movimentobaquemulherfbv @encantodopina www.baquemulher.com.br
Entrevista com Iara LageCampinas.
Por Mariana Procópio Fotos Maryane Comparoni
Referências:
Governo do Estado de Pernamb Patrimônio Histórico e Artístico Na FRANÇA, A. C. D., & COSTA-MACIEL (2021) “Loas de Maracatu de Baqu turma de alfabetização: inserção d gênero da tradição oral no contex de pessoas jovens, adultas e idosa DA EDUCAÇÃO, 12(34), 213–237

ROSA E LARANJA, FORÇA E CORAGEM, BAQUE MULHER, AQUI JÁ CHEGOU!
AS MULHERES DA MINHA NAÇÃO
SÃO GUERREIRAS, BATUQUEIRAS, BAIANAS E YALORIXÁS
CONHECEM A FUNDO
O SEGREDO DO MUNDO
COM O BRILHO DA OXUM, A CORAGEM DA OYÁ
A DAMA DO PASSO
CARREGA A CALUNGA
MÃE YEMANJÁ
VEM NOS ABENÇOAR
Loa “As mulheres da minha nação”, Autoria: Tenily Guian








O Choro é considerado por muitos historiadores e musicólogos como o primeiro gênero musical genuinamente brasileiro. Sua história data de meados do século XIX e, até hoje, o Choro mantém-se vivo através de novas gerações de compositores e intérpretes que dedicam suas vidas a esta tradição.
Nascido através da influência de gêneros de dança de salão europeia, tais como a Polca, a Valsa, e gêneros africanos como o Lundu, o Choro abriga alguns de nossos principais compositores desde o final do século XIX. Nomes como Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha e Jacob do Bandolim têm sua obra aclamada em toda extensão do território nacional, e já tiveram suas composições gravadas por artistas de todo o mundo.
Impulsionado pela "Era de Ouro" das rádios nas décadas de 30 e 40, o Choro encontrou através dos "regionais" – conjuntos formados por pandeiro, cavaquinho, violão de 6 cordas, violão de 7 cordas e um instrumento solista de corda ou sopro, tal como o bandolim e a flauta transversal – a sua formação instrumental mais característica. Hoje, mesmo distantes dos holofotes que revelaram os regionais de Choro e os grandes compositores do gênero, o Brasil ainda abriga um número imensurável de conjuntos, bandas e solistas que se apoiam no Choro enquanto sua principal expressão artística.







Caminhos do Choro


Formado em 2017 por alunos do curso de música popular da UNICAMP, o grupo Regional da Vila surgiu com uma proposta de promover um espaço para a cultura do Choro dentro do ambiente acadêmico. O grupo criou o projeto “Caminhos do Choro”, um podcast realizado em parceria com a webrádio RTV-Unicamp.
Além da execução ao vivo de obras de compositores selecionados, os membros do grupo compartilhavam histórias, dados biográficos e outras informações relevantes acerca dos homenageados e de suas obras.
Em suas quatro edições, o projeto prestou homenagem a compositores de diferentes gerações: Jacob do Bandolim, Izaías Bueno de Almeida e Aníbal Augusto Sardinha, o “Garoto”, que trataremos a seguir.
“Garoto”, como era conhecido, nasceu em 28 de junho de 1915 na cidade de São Paulo e foi um dos principais instrumentistas da “Era de Ouro” do rádio no Brasil. Garoto possuía fluência em muitos instrumentos de corda, tais como o violão, o violão requinto, o violão tenor, o cavaquinho, o banjo, o bandolim e a guitarra portuguesa. Garoto teve suas primeiras lições de violão com o professor “Quinzinho”, afamado chorão e amigo da família. Um de seus primeiros conjuntos foi a Jazz Band Universal, liderada por seu irmão Batista.

Regional do Benedito Lacerda: Popeye do Pandeiro, Dino 7-cordas, Benedito Lacerda, Canhoto e Meira

www clubadochorodabh com br



Na década de 30, quando Garoto tinha ainda 12 anos de idade, tocou no maior evento automobilístico e social da cidade de São Paulo, no Cine Odeon, com a “Orquestra Típica”, grupo que tinha como diretor musical um dos músicos paulistanos mais importantes da época: Waldyro Frederico Tramontano, o “Canhoto”. Nesse período surgiram vários grupos que valorizavam a música tipicamente brasileira, graças ao trabalho organizado por “Canhoto” em São Paulo - o programa “Noites Brasileiras”, que além das apresentações no Teatro Municipal e no Teatro Boa Vista, era transmitido ao vivo na rádio. Era o começo do processo de profissionalização das rádios no Brasil, sendo as principais a Rádio Sociedade Rio de Janeiro e a Rádio Clube do Brasil, sediadas no Rio de Janeiro, e a Rádio Sociedade Record e a Rádio Educadora Paulista, ambas em São Paulo.
Garoto fez carreira Internacional acompanhando Carmen Miranda com seu conjunto “Bando da Lua”, na década de 40, e nesse período obteve contato com o jazz. Apesar de Garoto ser um músico autodidata desde sua infância, posteriormente estudou Harmonia e Composição no Conservatório de São Paulo, e também estudou violão clássico com o professor Atílio Bernardini, introdutor da escola Tárrega em São Paulo.
O conhecimento harmônico avançado de Garoto pode ser observado pelas diversas

Aníbal Augusto Sardinha, o “Garoto” acervo.casado choro.com.br
Jacob Pick Bittencourt, o “Jacob do Bandolim” acervo.casado choro.com.br

influências, em especial pelas sonoridades da música impressionista e “jazzística”. Essas influências favoreceram um estilo composicional que marcou gerações posteriores em todo o cenário do violão e da Música Instrumental Brasileira como um todo.
Jacob Bittencourt ou Jacob do Bandolim, como ficou conhecido, é considerado o criador de uma escola brasileira de bandolim, influenciando todas as gerações posteriores de bandolinistas e chorões.
Jacob iniciou sua carreira como bandolinista na rádio em 1934, revezando o acompanhamento de cantores com o regional do flautista Benedito Lacerda. Seu primeiro disco como solista de bandolim foi realizado somente em 1947, pela Continental, e gravou entre 1947 e 1969 – ano de sua morte – dezenas de discos maravilhosos, entre 78 rpm, 45 rpm e LPs de 10 e 12 polegadas. Desde muito cedo na sua carreira, Jacob já carregava fama de conservador e avesso às influências estrangeiras na música brasileira, porém essa fama esconde um pouco o seu lado inovador. Como resposta às críticas de que seu estilo era "quadrado", Jacob compôs um Choro atípico, usando modulações inesperadas, improvisos e solos de violão com influências do jazz, tudo isso aliados ao ritmo do samba. No programa “Caminhos do Choro” podemos ouvir um depoimento de Jacob do Bandolim ao Museu da Imagem e do Som (MIS) sobre essa composição.
Jacob do bandolim, além de exímio bandolinista e compositor, também foi um grande pesquisador. Foi um dos primeiros a perceber o Choro como um patrimônio da nossa cultura e a prezar pela sua preservação, criando um acervo com mais de 10 mil itens entre arquivos sonoros, instrumentos musicais, fotos e partituras, que hoje está em posse do Museu da Imagem e do Som no Rio de Janeiro (MIS). Um dos discos considerados mais importante para o gênero Choro é o LP “Vibrações”, gravado em 1967 por Jacob e o conjunto “Época de Ouro”. Nesse LP, Jacob e seu conjunto atingiram uma sonoridade de regional distinta, com acabamento camerístico nos arranjos e uma riqueza de nuances na interpretação que tornaram esse disco um grande marco na história do Choro. Para as novas gerações, além do ambiente das rodas e das escolas de música, o acesso às gravações do repertório do Choro também são uma fonte de conhecimento. A discografia de Jacob é uma referência, não apenas pelo registro de diversos compositores e de suas composições, mas também pela maneira de se tocar e compreender o Choro.
Também chamamos a atenção ao bandolinista e compositor Izaías Bueno de Almeida, conhecido como Izaías do bandolim. Na sua geração, que abrange alguns nomes que destacaram a partir da década de observamos a criação de movimentos visavam promover o ensino do Choro trabalho de grupos comprometidos com gênero musical, tais como a criação de Clubes do Choro – no Rio de Janeiro e em Brasília projetos musicais de Secretarias de Cultura Festivais de Choro.
Nascido em sete de junho de 1937, Izaías ainda hoje uma figura central do Choro paulistano. Começou a estudar música menino, aos 12 anos, tendo as primeiras de teoria e solfejo dadas por seu pai, clarinetista Benedito Bueno de Almeida. Podemos escutar no programa Caminhos Choro o relato de Izaías, que conta empolgação o incentivo que recebia de mãe, que desde pequeno o influenciava com al-
gumas gravações de músicos como Jacob do bandolim, através do LP de 78 rpm.
Ainda criança, Izaías frequentou as rodas de Choro que aconteciam na loja de instrumentos musicais "Casa Del Vecchio", onde conheceu uma figura central do Choro em São Paulo, o violonista Antonio D'Áuria, com quem passou a ter aulas de música. Izaías participou de programas de rádio e televisão dedicados à música brasileira e ao Choro, tais como "O Fino da Bossa", "Bossaudade" e "Noite dos Choristas", pela TV Record; pela TV Cultura os programas "A Alegria do Choro", "As Muitas Histórias da MPB" e "Choro das Sextas-feiras", sendo este último planejado por Jacob do Bandolim em 1954. Na década de 70, Izaías passa a integrar, como solista e arranjador, o Conjunto Atlântico, criado por Antônio D'Áuria na década de 50, que contava anteriormente com o bandolinista Amador Pinho.
Ao lado de seu irmão, Israel Bueno de Almeida, violonista de 7 cordas, Izaías já havia criado na década de 70 o grupo Izaías e seus Chorões, grupo que enaltece o gênero musical através de suas interpretações e composições próprias. Izaías e seu irmão se viram muito influenciados pelo movimento da Bossa Nova na década de 50. Para ele, o movimento musical contribuiu, de

Izaías Bueno de Almeida, o “Izaías do Bandolim” www ims com br
uma certa forma, para o engrandecimento do Choro. Notam-se em suas composições alguns elementos musicais atípicos no Choro mais tradicional, como por exemplo cadências e extensões harmônicas que demonstram a influência da Bossa Nova e trazem novas interpretações e novos estilos de linguagem ao serem inseridos no contexto do Choro. No programa “Caminhos do Choro”, podemos ouvir um depoimento de Izaías, que comenta que a utilização desses elementos musicais no Choro já se apresentava nas composições e pretações de Garoto que, segundo ele, uma percepção muito moderna”, além violonista e compositor Laurindo de Almeida. Apesar do Choro e do Samba terem grande difusão no Rio de Janeiro, podemos encontrar um forte movimento em São Paulo. Ainda de acordo com a obra de Vasconcelos, na década de 80 observava-se atividade nessa região os conjuntos: Regional do Evandro, Izaías e seus Chorões, Conjunto Atlântico, Caçulinha e Seu Regional Bachorando. Nesta década, observaremos a difusão da prática do Choro em diferentes regiões do Brasil, em parte devido aos movimentos de impulsionamento através das rádios, nas décadas anteriores, e aos festivais inaugurações dos Clubes de Choro, a partir da década de 70.
O trabalho do grupo Regional da Vila pode ser conferido nos sites: www.facebook.com/regionaldavila www.instagram.com/regionaldavila www.youtube.com/c/RegionaldaVila

Convidamos a todos os leitores da revista Capoeirando a ouvirem o programa “Caminhos do Choro”, produzido pelo grupo “Regional da Vila” em parceria com a webrádio RTV-Unicamp, e conhecerem parte do Choro, um gênero musical brasileiro que possui uma história centenária desde o surgimento das primeiras composições. Conhecer o Choro é também conhecer parte da história dos músicos e da música brasileira.

Por Regional da Vila
Gravação na webrádio RTV Unicamp: Maurício Guil (violão-7); Ricardo Henrique (violão); Rafael Peregrino (pandeiro); Guilherme Sakamuta (bandolim) e Eduardo Pereira (cavaquinho)
Regional da Vila: Maurício Guil, Guilherme Sakamuta, Eduardo Pereira e Gabriel Peregrino @NinaPires

Baba Toloji, o guardião da África Negra no Brasil

Suficientemente elevado por Deus, esse é o significado de To olo ji, e que lemos e escrevemos Toloji. Luis Antônio Castro de Jesus é seu nome de batismo na Igreja católica, mas é como Baba Toloji que sua identidade e sua vida ganham dimensão, primeiro por ser uma liderança religiosa no culto do Candomblé de Ketu e, segundo, por ter se tornado um dos guardiões da arte da África Negra na América Latina, com um acervo de 12 mil peças muito bem alocadas no Instituto Baba Toloji, no Jardim São Vicente na cidade de Campinas / SP.


De família católica, filho de um dentista, o baiano chegou à Campinas nos idos da década de 70 para trabalhar na indústria. De acordo com Toloji, não havia Candomblé na cidade, “existia era muita Umbanda por aqui” e foi onde ele estabeleceu os primeiros contatos. Ali, desenvolveu a sua afetividade com a prática dos tambores durante um certo período. Na medida em que se aprofundava nos estudos e nos ritos, percebeu que seria no Candomblé que sua espiritualidade teria continuidade. Baiano que é, regressou ao seu Estado para o processo de iniciação e feitura do santo. Após cumprir todos os procedimentos e preceitos exigidos através das idas frequentes ao seu estado natal, conquistou a fundamentação para a abertura do seu Ilê no Jardim São Pedro em 1976, o primeiro terreiro de

Candomblé da cidade de Toloji é neto da Casa Engenho em Salvador.
Desde a abertura da sua atendimento até os dias de iniciou muita gente no conquistou o respeito e cidade o seu reconhecimento. falar ou se pensar em candomblé Campinas, o nome de emerge automaticamente. Para se ter uma ideia representa Baba Toloji, seu e o Instituto que dirige, é uma imersão - ainda que hora ou alguns minutos companhia - dentro do seu se observa a representatividade líder no culto das expressões matrizes africanas no Brasil América Latina. Uma visita já se configura como um processo aprendizagem.

Fotos Instituto Baba Toloji
A grandiosidade do verde, com inúmeras espécies de plantas e árvores simbólicas para a ritualidade afrobrasileira, somada à arquitetura do ambiente, já lhe impõe uma tranquilidade e paz, importantes para saborear um pouco dos saberes assentados naquele território. Aliás, tranquilidade e paz, características do Babalorixá, e absorvidas previamente num contato rápido por telefone.
Perguntado sobre a Capoeira e sua relação com as práticas culturais tradicionais, Toloji foi econômico e prático, disse que a Capoeira foi e é uma brincadeira, uma luta cuja origem tem suas raízes fincadas no Candomblé. Uma dança perigosa.
Cafezinho e o Acervo
Pouco antes de iniciarmos o tour pelo terreiro do candomblé, onde estão expostos parte significativa do acervo,, Baba Toloji prepara um cafézinho com creme. Estamos em uma das salas do Instituto, e nessa particularmente dois quadros chamam a atenção: duas pinturas antigas do Barão Geraldo de Rezende e a Baronesa. As telas também compõem o cenário da diversidade de peças nas salas e no salão principal.
Ao todo, são impressionantes 12 mil peças que integram o acervo do Instituto. De acordo com Baba, é o maior acervo em quantidade na América Latina sobre a África Negra. Sua coleção tem início no final da década de 70, quando começa a adquirir as artes diretamente com africanos vindos da Nigéria para o Brasil, na ocasião em que uma espécie de intercâmbio se intensifica entre os dois países. Às vezes, as peças chegavam até ele em razão das suas atenções e particularidades em lidar com elas.
Ultimamente, não tem comprado mais. Um dado curioso, ao longo desse processo de aquisição, é que ele nunca comprou ou chegou até ele peças repetidas ou iguais: a singularidade física e simbólica de cada uma chama atenção. Além disso, igualmente impressionante, Baba Toloji identifica cada uma e se recorda de como cada peça chegou até ele. Baba possui sua própria catalogação mental.
Um esforço de registrar esses itens já foi realizado, segundo ele não existem pessoas qualificadas para esse trabalho, analisa. Não temos um espaço próprio destinado para o museu.



Ins
Fotos Instituto Baba Toloji




Por conta dessa notoriedade, já fez algumas exposições, sempre com muito zelo: ele próprio foi o responsável. Por uma única vez cedeu, por empréstimo, alguns itens para exposição para nunca mais emprestar, segundo o Babalorixá. Não cogita, em hipótese nenhuma, ceder ou emprestar as peças para exposições novamente. Repete, ao dizer que não existem pessoas qualificadas para manusear essas obras de arte. Trabalhar com arte é difícil. Baba Toloji desenvolveu sua própria técnica de restauro para lidar com a multiplicidade das obras que possui. Ele adquiriu muitas peças danificadas, por isso criou sua técnica e uma oficina para essa tarefa. Técnica que lhe permitiu também criar suas próprias artes em madeira.
Cada peça tem sua singularidade, todas com simbolismos; algumas que remetem a fertilidade, à prosperidade e a felicidade. Destaques para o tambor da Nigéria; as máscaras de madeira muito utilizadas em festas para celebrar ritos de passagens de meninos e meninas, colheitas e a cosmologia africana em sua multiplicidade de significações, dependendo muito de um país e de uma tribo para a outra. Toloji destaca
Fotos
Instituto
Baba Toloji
esse aspecto marcante da África Negra: não se trata de um continente único, o pluriculturalismo é uma característica desse continente. Chama atenção, dentre as inúmeras peças, a cadeira de circuncisão feminina que adquiriu dos camaroneses. Uma prática cultural secular e que atualmente tem encontrado resistência das mulheres africanas. Também a representação da comitiva do Rei e da Rainha de Benin, o assentamento do terreiro na companhia de peças que simbolizam o dono da casa, Ogún. São muitas peças, e suas descrições guardam uma certa reserva, muito comum principalmente para quem pela primeira vez se adianta no universo da ritualidade, sem a fundamentação correta para a compreensão dessa cosmologia em obras de arte.

Fotos
Instituto Baba Toloji




Em 2014, Sua Majestade Oba Al-Maroof Adekunle Magbagbeola, Olumoyero II, o Rei de Efon no estado de Osun na Nigéria, considerado Oxalá na Terra, esteve em visita ao Instituto Baba Toloji para conhecer e trocar as bênçãos com o Babalorixá da Comunidade da Tradição do Culto Afro Ilesin Ogun LaKayie Osinmole Baba Toloji. Foi um dos momentos históricos para a comunidade e para a cidade.
São muitas peças organizadas por todo o espaço do terreiro, onde ocorrem os toques de candomblé. Por força do recesso a que estão submetidas as celebrações, tem dado espaço para parte das peças que, segundo Baba Toloji, não representa sequer sua totalidade.
As peças, muito bem localizadas, facilitam a identificação e as narrações de Toloji sobre como adquiriu cada uma delas. Você pode localizar uma peça dialogando com cada espaço por todo o terreiro, quer no escritório, na sala de jogo e nos espaços externos onde se realizam o Candomblé de Caboclo, o Samba de Roda e a brincadeira de Capoeira. Em todo lugar existe uma obra de arte para ilustrar e florear o ambiente.
O bate papo com Toloji termina com um tour nos mais de 2200 metros² de propriedade. A visita ao Instituto e ao terreiro é um exercício fascinante, se aprende quase tudo que se precisa para viver. O contato com as folhas dos ritos, as árvores, etc. Cada uma dessas plantas tem correspondência com as práticas culturais e dialogam com a existência de cada obra de arte vindo da África.
O mariuô (fios de palhas fixadas nas portas) que nos limpou na entrada e não permitiu que levássemmos qualquer mal para dentro no terreiro, nos permitiu a saída. A gratidão pelo conhecimento e a paz obtido junto a companhia de Baba Toloji, sua espiritualidade e seu acervo sobre a África negra na cidade de Campinas, constitui uma pequena parcela do saber, do universo do Babalorixá.
Por Luciano Medina









Vai dar saudade do processo dessa primeira edição digital, buscando parceiros, temas, imagens, trazendo pra Roda da Capoeirando o que pode fazer seus corpos e mentes pulsarem.
Mas já estamos iniciando com muito gosto o processo criativo para a próxima edição, espia aí:
- ENEI - IX Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas, que ocorreu em Julho na Unicamp e teve uma cobertura de nossos repórteres Maryane e Helthon;
Célia Xakriabá - ENEI 2022, Unicamp
- Me. Tulé - José Antônio Silva: uma entrevista com um dos mestres mais antigos de Barão Geraldo;
- Volta ao Mundo traz o documentário Balaio e a experiência do grupo de capoeiristas do Instituto Cultural Ibao em terras africanas.
E tem espaço para participação coletiva, venha contribuir!


mande seus pedidos, sugestões e críticas para:

Me. Tulé
capoeirandorevista@gmail.com



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Lara M Rodrigues e Robson C Haderchpek (org.)
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