

Capoeirando



É enorme a satisfação de, com este segundo número, dar continuidade à revista, que agora também é disciplina de graduação da UNICAMP! Abrimos apresentando a revista alternativa Sikudani - nova frente cultural em Barão; seguido por conversa com Me. Tulé, elemento vivo da Capoeira na UNICAMP; o registro da visita de Me. Jogo de Dentro ao IA/DACO, e mais: as atléticas estudantis nos campi Limeira; um registro do IX ENEI - Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas; o especial sobre as atividades da Semana Cultural/FCA, além de uma entrevista com Puma Camilê pra fechar com rasteira de ouro!
Sem falar de diversos registros de eventos e celebrações que ocorreram no 2o semestre de 2022, no de rolê: a festa O Jazz é primo do samba, a mesa migração Africana e sociedade, o lançamento do filme A Verdadeira História de Besouro Mangangá, o 4o. Iêêê Viva Anastásia de Capoeira Angola e Cultura Afro-brasileira, a roda com Me. Marrom na UNICAMP, o Cortejo de Tia Ciata no Rio de Janeiro, e também o X Semeando - Encontro Internacional de Capoeira Angola, em SP e BA! Venha!!! Você é camarada especial e deve fazer parte dessa Rod@ conosco!

Quem vem lá? - Sikudhani, pg.3
Fala Mestre! - Mestre Tulé, pg.6 de rolê - eventos e pessoas em registro, pg.8
Camaradinha - Mestre Jogo de Dentro, pg.26
Estudante é que faz - Esporte no Campus, pg.28
Diga, Parente! - Encontro Nacional do Estudante Indígena, pg.30
Cultura Vive! - Semana Cultural FCA, pg.34
Zum zum zum - Capoeira para todes: Puma Camilê, pg.42
Saideira - e dicas, pg.46
Direção e Editoria: Adriana Barão e Cristiano de Mello Gallep
Conselho Editorial: Christian da Silva Rodrigues, Gina Monge Aguilar e Luciano Medina
Logotipo: Luciana Barbeiro
Colaboradores desta Edição: Luciano Medina, Maryane Comparoni, Meire Baptista Ferreira, Guilherme Leite de Sousa, Thais Cristina Santana Souza, Alessandra Melo, Cristiano M Gallep.
Capa: Maryane Comparoni
Editoração: Cristiano M Gallep e Maryane Comparoni

https://issuu.com/revistacapoeirando capoeirandorevista@gmail.com mande seus pedidos, sugestões e críticas para:
Um tributo à Cultura Popular.


'Atenção! Conteúdo inflamável, independente, coletivo e violento' - assim se anuncia a revista Sikudhani, que segue fraturando o racismo e roubando máscaras brancas, propondo um atravessamento violento que institua novas formas de pensar Partindo do conceito de escrevivência da intelectual Conceição Evaristo, a revista, que já está em sua 14ª edição, tem majoritariamente o público leitor de estudantes É coordenada por Pedrosa, pedagogo, artista visual e batuqueiro, e conta com a contribuição de Joyce Nascimento, responsável pelas capas, de Ana Callenas, responsável pelas capas e revisão do texto, e também da Dra Alessandra Ribeiro A revista tem o intuito de apresentar um conteúdo que não é totalmente científico ou acadêmico, mas que ao mesmo tempo está longe de ser informal
A escolha das pautas e das pessoas que vão participar das edições são determinadas por Pedrosa, que é o curador dos textos, mas os temas são definidos sempre derivados de muitas conversas, ouvindo assinantes, leitores e coletivos negros atuantes na cidade de Campinas - afinal, uma das preocupações da revista é que o fato de ser uma produção independente não tem nada a ver com ser individual Pedrosa em seu percurso acadêmico compreendeu a necessidade de uma discussão acerca da questão negra que ainda não era tratada academicamente A trajetória acadêmica e reflexiva de Pedrosa se confunde com sua própria identificação como negro dentro da academia, pois essa se dá à partir de sua entrada na Universidade
As cotas para estudantes negros na UNICAMP, aprovadas em 2017 após muita luta do NCN (Núcleo de Consciência Negra), trouxeram para sala de aula outras dicussões sobre corpos, saberes e trajetórias que antes eram parte somente dos objetos de pesquisa da academia e que desse momento histórico em diante tornaram-se protagonistas Todas estas mudanças e conquistas do movimento negro trouxeram à tona referências que antes não eram discutidas dentro da Universidade, mostraram que o curriculum que é trabalhado em sala de aula deixa

S i k u d h a n i
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a desejar, já que o estudo da África traz a necessidade de se discutir a construção dos saberes de outro modo, pois o próprio fato da cultura africana ser oral traz uma necessidade diferente quanto a forma de estudo e propagação destes saberes
A revista Shikudani é produzida pela Editora Anansi, que ganhou seu nome partindo do paralelo possível entre a mitologia negra do povo Acã e a necessidade do desenvolvimento de um portal pelo qual seja possível proliferar textos de autores negros Anansi seria o primeiro griot, aquele que é aranha e humano, que é responsável por trazer as histórias para este mundo, segundo o grupo étnico Acã.
A editora surge em 2018, tendo como primeira publicação o texto “Do seu anfitrião”, um livro que aborda o valor intrínseco de cada ser humano. Idealizada por Pedrosa, a editora não se propõe somente a publicar: sua intenção é muito maior que isto, já que pretende funcionar como um portal de histórias, assim como seu nome indica

A revista Sikudhani dispõe-se a funcionar como local de discussão e veiculação da produção intelectual e acadêmica de autores negros, e nasce da necessidade trazida pela pandemia, que seu editor sentiu de se manter conectado e de proliferar discussões acerca de temas que não são discutidos academicamente, sempre com a inten-ção de enriquecer a discussão teórica
As edições da revista trazem temas relevantes, tais como os adinkras, pertencentes ao povo africano Ashanti - mais de duzentos símbolos, originalmente utilizados em tecidos, representando coisas da natureza, objetos e animais. Um dos símbolos adinkras mais conhecidos é a Sankofa, que nos ensina que nunca é tarde para se visitar o passado e voltar ao futuro com um novo aprendizado.
A revista Sikudhani sempre propõe uma discussão tendo por objetivo fraturar o racismo, não somente com meras palavras de ordem e revolta, e sim com a ideia de chacoalhar os alicerces teóricos colonialistas e refundar uma discussão que leve


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ao fundamento de novos alicerces pretos, e de uma forma que sempre esteja aberta a possibilidade de diálogo. Isto pode, inclusive, ser notado no evento de lançamento da revista que tem ocorrido há cerca de um ano - “ O jazz é o primo do samba”, que traz uma proposta de encontro e troca de saberes, proporcionando um espaço de intercâmbio, discussões e encontros na construção dessa referência preta, dentro e fora da Universidade. Assim como anunciado: Sikudhani permanecerá trazendo a filosofia como revolta.
Texto Alessandra Melo Fotos Maryane Comparoni

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Celso Niger, Hellio Zullu, Willians Santos, Thiago Machado, Pedro Anansi





Conversamos com Mestre Conversamos com Mestre Tulé em sua casa, onde nos Tulé em sua casa, onde nos contou um pouco sobre sua contou um pouco sobre sua trajetória, as mudanças na trajetória, as mudanças na Capoeira, as vivências no Capoeira, as vivências no Campus, e a batalha das 1as Campus, e a batalha das 1as edições (impressas...1995) da edições (impressas...1995) da Capoeirando... Capoeirando...







#1 Origens... Vida e Capoeira





#4 Dos estudos ao tennis...




#5 A Capoeira hoje... a cultura

#6 A revista Capoeirando, 1995...

Click nos links para assistir à cada vídeo

#2 A Capoeira e a Bahia...

#3 A Capoeira e a UNICAMP...



Gravação/fotos: Maryane Comparoni Edição vídeo: Cristiano M. Gallep



O J A Z Z
É P R I M O D O S A M B A









Festa " O Jazz é primo do samba", lançamento da 14° edição da revista Sikudhani.



I M E R S Ã O
A F R I C A N A E
S O C I E D A D E




Imigração Africana e sociedade: François Muleka
Otis Selimane mediação: Dra. Alessandra Ribeiro
Fotos Maryane Comparoni



B E S O U R O
M A N G A N G Á


O lançamento do filme documentário que retrata a biografia de Manoel Henrique Pereira, o lendário capoeirista conhecido como Besouro, aconteceu no Espaço Cultural Casa do Lago, em set./22, com a presença de vários mestres e da produção do filme.

Fotos Maryane Comparoni


Contramestre Paulo Ferraz - Meia Noite, com jovens e velhos capoeiras no Quilombo dos Ancestrais, celebrando em Nov/22 os 25 anos de trabalho e resistência na periferia de Piracicaba/SP.












Fotos Cristiano M Gallep

Me. MARROM



Angola chama seu povo!
No dia 19 de novembro de 2022 tivemos uma vivência de Capoeira Angola com o Mestre Marrom, do Grupo de Capoeira Angola Irmãos Guerreiros (GCAIG), com sede em São Paulo.

O evento aconteceu no Barracão das Cênicas, também para celebrar atividades do núcleo GCAIG de Campinas, e terminou com uma roda aberta, contando com a presença dos mestres Topete, Jurubeba e Pezão, além de diversos contramestres e alunos de diversos grupos.
















O Cortejo da Casa de Tia Ciata e um batalhão de blocos saiu mais uma vez, indo em encontro ao Monumento à Zumbi dos Palmares, na celebração carioca pelo Dia da Consciência Negra, instituído como lei inicialmente no município do Rio/RJ.












Com atividades em Campinas, São Paulo, e também em sua sede em Cacha-Prego (Vera Cruz/BA), o encontro organizado por Mestre Jogo de Dentro celebrou os mais de 30 anos de atividade do grupo SJA (1991) e contou com camaradas de diversos continentes!!!



















Fotos Semente do Jogo de Angola


Mestre Jogo de Dentro
O IA/UNICAMP, via disciplina AC243 e com apoio dos projetos "Em busca do Teatro Latino Americano" e "Conversando com o Mestre" (Grupo Pindorama/LabDrama), teve o privilégio mais uma vez de receber, em Setembro/22, ao Mestre Jogo de Dentro, que nos ofereceu uma aula de movimentos e também uma conversa sobre seu recente livro: Capoeira Angola e Ancestralidade.
As raízes da Capoeira Angola, sua força e sua luta são apresentadas em diversos assuntos neste livro, a partir da experiência e da liderança de mais de 30 anos à frente do grupo Semente do Jogo de Angola.
A
conversa toda pode ser assistida no Youtube:










IA
Calouríadas 2022-@pdsfotografias
A existência de Atléticas dentro do ambiente universitário e sua importância social
As Associações Atléticas Acadêmicas (A.A.A.s) são organizações sem fins lucrativos e que tem como objetivo integrar os estudantes universitários através do esporte, contribuindo de tal forma para a promoção da saúde dentro do ambiente universitáriosendo saúde, segundo definição de 1946 da Organização Mundial da Saúde (OMS), “um estado de completo bem-estar físico, mental e social”.
Além de promover atividades associadas ao esporte, importantes para a vida universitária, as atléticas também estão envolvidas em atividades sociais participando dessa forma de atividades que vão para além do ambiente universitário.
Importância das Atléticas para a vida universitária
As atléticas para muitos estudantes representa o primeiro contato com a universidade, pois dentre um dos atuais eventos dos quais as atléticas participam está a Calourada, geralmente realizada junto e durante a semana de matrícula na Uni-

versidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Durante o decorrer do primeiro semestre, passado a calourada, assim como ao longo do ano, as atléticas se dedicam às atividades esportivas como vôlei, futsal, handebol, dentre outras modalidades; e também eventos tais como competições que ocorrem entre as próprias atléticas, localizadas dentro do mesmo campus, com atléticas de campus diferentes e até mesmo outras universidades.
As ações promovidas pelas atléticas contribuem para que o aluno possa realizar atividades que vão para além do currículo formal estabelecido para sua formação acadêmica, tendo a oportunidade de conhecer diferentes pessoas - as que compõem o seu curso e para além dele - o que pode até mesmo representar a criação de uma rede de contatos e contribuir na sua vida profissional, desenvolvendo também habilidades como oratória, trabalho em equipe e liderança.
Declarações de membros de atléticas sobre sua importância
"Trazer esporte para dentro da Universidade é jeito de mostrar como se movimentar,

AAASE coordenadoria 2022-@instaaase é importante para saúde”.
Sofia Turato Faran
“Promove a integração entre pessoas de Ciências do Esporte e Nutrição, além da oportunidade de conhecer lugares”.
Lívia Caroline
“Conhecimento proporcionado por fazer parte de uma atlética auxilia na busca por emprego.”
Lívia Caroline
“As atléticas têm importância no fornecimento do lazer, por oferecer treinos para a comunidade acadêmica”.
André Ferreira
Função social das atléticas
As atléticas, além de atividades esportivas, também exercem papel importante além da integração universitária, através de suas ações sociais, como a participação em campanhas de arrecadação de agasalho, tendo como exemplo a que foi promovida pela Associação Atlética dos Alunos do Instituto de Artes (A.A.A.A.A.IA), em que a parte do dinheiro arrecadado em uma de suas festas tradicionais, conhecida como Arraiá, era destinado a esse fim - arrecadação de produtos higiênicos, e que teve como exem-

plo a provida pelo A.A.A.A.A.IA durante a pandemia: setembro amarelo, outubro rosa e novembro azul, que lembram a importância de assuntos como a saúde mental e física. Outro exemplo são as ações desenvolvidas anualmente pela Associação Atlética Acadêmica de Saúde e Esporte (A.A.A.SE), em ações de Natal e Páscoa que visam contribuir para que mais pessoas possam comemorar estas datas.
Por Thais Cristina Santana Souza.
Se você se interessou por esse assunto, materiais que podem ser interessantes:
Uma reflexão sobre a saúde mental dos estudantes de Medicina: importância do exercício físico durante a graduação e ação das atléticas no meio universitário

Associações Atléticas Acadêmicas: gestão esportiva universitária








O IX ENEI - Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas, ocorreu no fim de julho/22, na UNICAMP, com diversas atividades e participação de grandes representantes das diversas etnias presentes.
Fotos Maryane Comparoni



A partir dessa necessidade humana, surgiu dentro de uma mulher chamada Juliana Arruda, professora do curso de Administração na Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp (FCA), a grande ideia de criar um movimento de propagação cultural dentro da universidade. Historicamente, no Brasil, as Universidades são espaços de liberdade de expressão, onde as pessoas encontram acolhimento para expressar suas ideias e serem elas mesmas, livres de qualquer julgamento ideológico, religioso ou político: pode-se dizer que a cultura da universidade é ser livre.
Nas palavras do Antropólogo britânico Edward B. Tylor, cultura é "todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade". Com isso podemos entender a cultura como o acúmulo de experiências obtidas pelo ser humano em um determinado local dentro de um contexto social.
Dentro dessas experiências, vale destacar aquela que traz consigo a essência da necessidade de expressão humana, a Arte.
Desde os primórdios as pessoas buscam mostrar seus sentimentos, pensamentos e razões através da arte, que toma forma a partir de diversas maneiras, como a música, desenhos, dança, lutas, fotos, vídeos e etc. Todas essas formas são na verdade as muitas maneiras de expressão do indivíduo dentro de uma cultura.
Juntando essa necessidade de expressão humana com um ambiente livre, que é a Universidade, Juliana juntamente com alunos voluntários conseguiu criar e realizar o movimento chamado SEMANA CULTURAL FCA, que tem como objetivo propagar a cultura, não somente a local mas também de vários outros polos e inclusive dos alunos pertencentes ao ambiente.
Durante a semana, houveram atividades de diversas expressões culturais, que incluíram todos aqueles que tiveram o interesse de conhecer e fazer parte.
A seguir, mostraremos algumas dessas várias formas de cultura que estiveram presentes.
texto Guilherme Leite

Historicamente, as ervas medicinais, assim como as benzedeiras, foram muito importantes para saúde da população em determinadas épocas, quase sempre significavam a única opção de tratamento para várias enfermidades que surgiam em diversos períodos, além de agregar na sabedoria de grande parte da população pois, devido ao acesso fácil a estas ervas, o conhecimento adquirido através desse contato era tradicionalmente repassado na família.
A professora Julicristie que ministrou a oficina de Culinária - Plantas medicinais, abordou os seguintes assuntos: “Apesar das plantas medicinais trazerem muitos benefícios para saúde, as indústrias farmacêuticas tem um poder de influência muito grande em relação ao que se recomenda para saúde; consequentemente, deixamos de lado as plantas medicinais e passamos a utilizar remédios comerciais. Além disso, existe uma tensão, não só da pressão para os profissionais de saúde usarem esses medicamentos das indústrias farmacêuticas, como também uma pressão de custo no sistema, pois, esse mesmo sistema utiliza os medicamentos industrializados.

Professora da FCA/Unicamp, atua em Ensino, Pesquisa e Extensão em Segurança Alimentar e Nutricional, Aspectos socioculturais da alimentação, Políticas de Alimentação e Nutrição, de Saúde e Práticas Integrativas
É possível que algumas questões de saúde possam ser trabalhadas com plantas medicinais de uma forma mais tranquila, com efeitos colaterais menores, mas isso não quer dizer que, não tenha efeitos colaterais. Quando se trabalha com as plantas medicinais, devemos ter o cuidado com a dosagem: não é porque se trata de uma infusão de camomila que podemos tomar 1L por dia! É de extrema importância, que a dosagem seja controlada".
Durante a oficina foram utilizadas plantas secas, chamadas no Sistema Único de Saúde (SUS) como Droga Vegetal (uma parte da planta com um princípio ativo). Julicristie explicou que a planta, ao passar por um processamento, é chamada de "droga vegetal". Nem todas as partes das plantas são utilizadas. A proposta da oficina foi ensinar a fazer o básico da preparação de chás e infusões, e teve a participação de diversos alunos.
texto e fotos Meire Baptista


Julicristie


Assim explica Vanessa Sardinha dos Santos: "Muitas plantas são consideradas sem uso pela população, apenas identificadas como mato, praga ou erva daninha. Entretanto, várias espécies podem, sim, servir de alimento e inclusive apresentar grande valor nutricional. Esses vegetais pouco utilizados são chamados de PANCs - as “plantas alimentícias não convencionais”, termo criado em 2008 pelo biólogo Valdely Ferreira Kinupp. A oficina de Culinária-Plantas Alimentícias Não Convencionais, ministrada pela prof.a Julicristie, proporcionou aos participantes o privilégio de prestigiar três receitas criadas por ela mesma, utilizando PANCs retiradas da horta que está sendo cultivada na própria FCA, em Limeira: de folhas de ora-pro-nóbis, de folhas de peixinhoda-horta e de flores de malvavisco. Durante a oficina, ocorreu o preparo das receitas de bolinho de batata-doce, de mandioca ou mandioquinha com ora-pro-nóbis e ervilha; de peixinho-da-horta, e de salada de alface com malvavisco.










Peixinho-da-horta frito
Alface com malvavisco
texto e fotos Meire Baptista
Experimentar o Corpo Experimentar o Corpo

A ideia da oficina foi experimentar o corpo, entender o corpo, sua capacidade, até aonde ele consegue chegar, o que ele pode fazer, e assim compreendê-lo, suas possibilidades e funcionalidades que, devido aos hábitos do cotidiano, se tornam muitas vezes repetitivos, e o corpo enrijece.
Bruna HesselMestrandaICHSA UNICAMP; Cientista SocialPUC Campinas; Profa SociologiaColmeia prévestibular, UNICAMP @hesselbruna

A oficina possibilitou aos interessados uma experiência do próprio corpo através da experimentação, com exercícios práticos aplicados para fornecer aos participantes a consciência corporal.
Segundo Bruna Hessel, "existe uma diferença entre expressão corporal e experimentação corporal. Expressão corporal, como o próprio nome já diz, é a forma de se expressar corporalé quando fala, quando






texto / foto Meire Baptista
foto Bruna Hessel


E o Cinema ... E o Cinema...
No Cine Vagalume, localizado na FCA/Unicamp, ocorrem sessões abertas à todo o público, sempre gratuitas, e muitas vezes acompanhadas por debates referentes ao tema do filme apresentado. Durante a Semana Cultural, a oficina "O fim do Cinema?", ministrada pelo professor Marcio Barreto, proporcionou aos participantes a oportunidade de prestigiar "Um Corpo Que Cai", de Alfred Hitchcock (1958), exibido no segundo dia do evento: o detetive aposentado John ‘Scottie’ Ferguson sofre um terrível medo de altura; certo dia, encontra com um antigo conhecido, que pede que ele siga a sua esposa, Madeleine Eister, por toda a cidade; ele teme que ela esteja enlouquecendo, talvez até pensando em suicídio, já que ele acredita que ela foi possuída por um ancestral morto que cometeu suicídio. Scottie é cético, mas concorda com a tarefa depois que vê a bela Madeleine.

Ao invés de respostas, quem assiste começa a ter muitas perguntas: qual será o segredo da esposa?
Será que Midge, a melhor amiga de Scottie, tem algo a ver com isso? E a fobia do protagonista, mostrada apenas no começo, terá importância?
A resposta de Hitchcock a isso é um filme que se revela aos poucos e, além de responder às dúvidas do público, apresenta outros aspectos ainda mais profundos, como loucura, obsessão, sensualidade e cobiça.
Durante a oficina, foi discutido sobre "o fim do cinema", na visão do professor Marcio Barreto; em uma cidade como Campinas ou Limeira, por exemplo, vc só consegue ir ao cinema assistir blockbusters, não consegue assistir filmes fora desse grande circuito; logo as opções que não são para salas de cinemas estão nos serviços de streaming. Consequentemente, as sala de cinema ficam ainda mais reservadas só para os enlatados comerciais, exceto em cidades muito grandes como São Paulo, por exemplo, onde é possível encontrar filmes fora desse circuito comercial. Assim, cada vez mais o número de salas de cinema é decrescente - a ideia que o cinema acabou vem dessa discussão: streaming versus cinema. A oficina propôs trazer um filme clássico com intuito de levantar essas questões, pois ao assistir filme clássico muitas vezes pensamos, no senso comum, o clássico como coisa velha, coisa antiga. Mas grosso modo podemos dizer que um clássico é um filme que você sempre vai assistir pela 'primeira vez', sempre vai poder assistir de novo, pois ele nunca esgota todo o seu potencial por mais que você assista - sempre estará apresentando coisas novas, com uma riqueza inesgotável.


texto Meire Baptista fotos Marcio Barreto
Márcio Barreto docente da FCA (Núcleo Geral Comum) e dos programas de pós graduação ICHSA (FCA) e Multimeios (IA). Graduado em Ciências e em Matemática, Mestrado em Educação, Doutorado em Ciências Sociais e Pós Doutorado em 'Cinema e percepção da Ciência'. Atualmente, pesquisa a interface entre cinema e ciência.
Lambe - LambeLambe - Lambe
O Lambe-Lambe é um movimento modernista, que nasceu como uma forma de manifestação e expressão artística. Por precisar empregar uma técnica simples e de baixo custo, que consiste em fixar cartazes de papel com algum material colante, acabou se tornando um meio de mídia a partir do século XIX que foi muito utilizado principalmente por circos e teatros para fazer a propaganda de seus eventos. Até hoje é possível ver a mesma ferramenta sendo utilizada para a divulgação de shows em postes e muros dentro das grandes cidades.
A técnica de lambe, antigamente, era empregada com uma mistura de trigo e vinagre para fazer a fixação desses cartazes; hoje em dia, por ter um custo baixo, se utiliza cola branca.
Como uma das utilidades do lambe-lambe é ser uma forma de reivindicação e ocupação dos espaços, o Coletivo Arteação trouxe a ideia de criar um mural nas paredes da FCA como uma forma de manifestação; para realizar esse mural, foram utilizadas algumas obras modernistas e pósmodernistas brasileiras, para que se pudesse ser feita uma releitura sobre o que realmente é o Brasil.
As obras utilizadas foram O mestiço (1934 - Candido Portinari), Mulata/Mujer (1952 - Di Cavalcanti), A boba ( 1916 - Anita Malfatti) e Auto retrato (1927 - Ismael Nery).
Toda essa expressão artística trouxe uma nova estética para o ambiente universitário propor-cionando um espaço de liberdade e cultura, além de elucidar os participantes da oficina e transeuntes sobre as muitas formas de manifestação.
Foto e texto Guilherme Leite


Roda de Capoeira Roda de Capoeira

A Capoeira, como quase todos já sabem, é uma representação cultural que mistura luta, dança e música - uma junção da cultura popular brasileira e africana.
Fundada no ano de 1993, a Capoeira Iuna busca oferecer condições básicas, para que a capoeira possa ser vista com respeito e valorização pela sociedade, preservando as tradições, fundamentos, desenvolvimento técnico e a evolução constante do aprendizado com a finalidade de lapidar o caráter e a dignidade de seus integrantes.
No dia 10/11 os membros da Iuna fizeram uma roda de Capoeira ao lado do restaurante universitário da FCA para trazer um pouco dessa cultura ao ambiente universitário e mostrar que todos podem participar, como foi possível ter certeza já que a roda contava com a participação de homens, mulheres, adultos, crianças e até mesmo alguns alunos da universidade.
Esse esforço coletivo trouxe mais visibilidade para a cultura da Capoeira, além de integrar os membros da universidade (docentes, alunos e funcionários) com a comunidade limeirense, estreitando ainda mais os laços.

Capoeira Iuna Limeira - Mestre Paçoca
Foto e texto Guilherme Leite






CULTURA VIVE!
Em termos de expressão cultural podemos concluir que a Semana Cultural FCA foi um prato cheio! Vimos muitas formas graciosas de cultura sendo propagadas; aprendemos sobre o valor das plantas medicinais e das PANCs, também aprendemos um pouco mais sobre o corpo, sobre a belíssima arte da Capoeira, e ainda colocamos a mão na massa com a prática de lambe-lambe!
Tudo que foi mostrado aqui foi só uma parte de um movimento muito maior, que ainda teve como palco para a expressão cultural palestras e discussões de temas como raça e racismo, pinturas, orquestra, um sarau com a participa-ção de vozes da comunidade e da universidade, além de uma roda se samba convidada para fechar essa semana riquíssima.
A ideia de disseminar a cultura dentro de um espaço livre foi amplamente atendida conforme o prometido, e seus efeitos serão refletidos por muito tempo dentro da universidade, considerando que algumas das amostras culturais (lambe-lambe por exemplo) ficaram fixadas nas paredes, para a conexão completa com o corpo universitário.
Ainda sobre os reflexos causados com toda essa amostra cultural, também podemos ver claramente as marcas que foram deixadas nas pessoas que participaram:
Foi uma experiência muito boa participar da Semana Cultural na FCA, principalmente por me sentir representado vendo outros alunos mostrando suas artes e trazendo um pouco mais de cultura para nossa universidade. Espero que tenham mais eventos assim no futuro...
Leonardo Moreira, Graduando de Eng. Telecomunicações
Foi muito gratificante acompanhar alguns dos movimento mais importantes da nossa cultura em nosso campus. É de suma importância que nossa expressão cultural seja mantida e vivenciada" - Luís Grou, Cientista do Esporte
Esse foi um movimento promovido em conjunto com toda a FCA (Diretoria, administração, docentes, alunos e funcionários) que causou um enorme impacto em todos que tiveram a oportunidade de participar de alguma forma, e naturalmente foi o início de um ciclo que vai se perpetuar ao longo dos próximos anos. E que venham muitos!!!

Texto Guilherme Leite

Puma Camille é Capoeira para Todes
Nada mais transgressor do que subverter o padrão: é operar por entre as frestas. A capoeiragem ainda se desenrola mobilizada por esse princípio, o da subversão por entre as frestas. Nesse sentido, mais apropriado do que uma entrevista convencional assentado no liberalismo conservador do lide aposta-se na narrativa autobiográfica, metodologia potente e subversiva que permite capturar de forma honesta e subjetiva, as idéias centrais do diálogo com Puma Camille, uma das idealizadoras e interlocutoras do movimento Capoeira para Todes na cidade de Campinas.
A atitude de Puma e das demais praticantes se caracterizam como corpos pretos em movimento, como territórios políticos, criativos que (re) existem ao dia a dia frente ao ferro, ao fogo e a discriminação O corpo da capoeira é por si só biográfico, o que é então um corpo preto e trans? Para além das definições, como Madame Satã ousou desafiar em outros tempos a normalidade, Puma também transita com o seu corpo entre a colonialidade e sua diáspora. Segue a narrativa potente de uma capoeira malandra e transgressora.


O que é o Movimento Capoeira para Todes, quando surge e qual foi a motivação? A minha história na capoeira não começa em uma capoeira tão libertária ou progressista. Dentro desses movimentos capoeirísticos eu já era uma pessoa que já olhava para essas comunidades à margem. Eu já tinha um trabalho com pessoas LGBT, eu queria mais. Desde 2015 e 2016 já observava que a Capoeira não atendia todas as corporalidades. Isso é hegemônico dentro da Capoeira. Isso se reproduz e se repete em todos os lugares do mundo. Tive oportunidade de ir para mais de quarenta países e eles se repetem em todos. Então, quando volto ao Brasil falo, epa! Eu preciso dar aula para quem não está na Capoeira. No fim das contas era sobre mim.


Não tenho uma missão linda de salvar o mundo. Era mais sobre ter um espaço seguro para que eu pudesse estar. E esse espaço seguro para que eu possa estar precisa ser diverso, ele não pode ser igual. Ao retornar ao Brasil me alio as pessoas que estão em volta do Centro de Referência LGBT de Campinas. Ao mesmo tempo, ainda estava dentro de um movimento de prisma capitalista, dentro da hegemonia de grupo. Sofria vários ataques, lutava contra, não estava criando solução. Eu estava lutando para ser aceita num lugar onde eu não tinha força para mudar. Então eu propus algo que fazia e faz sentido ao invés de lutar contra.
O Capoeira para Todes vem dessa compreensão. Quando eu vou a Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) vejo um menino que faz um movimento numa praça e reúne pessoas trans de diversas artes, de slam, hip hop, maracatu, enfim, vários movimentos pretos. Estava desorganizado, mas estava acontecendo e eu vi. No processo, ele fazia uma roda e durante a roda ele fazia uns cânticos que dava direção para o jogo. Acabava o jogo ele dava um parecer: oh! foi legal e tal, mas olha para isso. Ficava um pouco tenso porque ele não é mestre para falar como pode e deve ser. No meio da tensão ele falava uma poesia. Entrava alguém com uma outra poesia, chamava mais dois, entrava outro jogo. Uau! Olha isso que está acontecendo aqui.
Volto para Campinas em março de 2020, no começo da pandemia, mas antes a gente já estava se encontrando. Jordan, Moranguinho Quântica e eu nos encontrávamos todos os dias para treinar.
Eu falei: “a gente precisa vir pra cá com o berimbau, com tambor, com uma caixa de som".
Começar a trazer o movimento para rua, para quem passar ver a gente de ponta cabeça. A pandemia fechou os espaços, a gente ficou fechado. Com o fim da pandemia continuamos na praça.
Esse movimento que estava na rua começou a ter cara de movimento. Não era só pessoal se encontrando, era tudo embalo, roda, música tocando no mesmo horário, começou a acontecer coisas. Aí todo mundo queria se encontrar a ponto de chegar uma hora que estava insustentável, tinha quarenta e cinco pessoas.
Temos ideias que estão acontecendo no Jardim São Bernardo. É uma ideia que a comunidade está abraçando. Enfim, a Capoeira que eu ouvi e que era sobre isso, eu não via isso acontecendo. Então, Capoeira Para Todes é uma retomada da Capoeira. É muito complexo a gente dá uma retomada sendo que não somos mestres e mestras. A gente se alia a lugares onde a maestria e as pessoas olhem para as nossas corporalidades e entendem a nossa luta política, e ajudam a fortalecem o nosso movimento. Normalmente essas pessoas estão na Capoeira Angola. Mestre Topete está muito presente, Mestres Pedro Peu e Nego Ativo. Encontramos com o Mestre João, com Mestre Marrom do Rio de Janeiro, Mestre Cláudio do Espírito Santo e Mestre Boca do Rio. É um movimento que não tem mais volta. E cada vez que o mais velho, quem me antecedeu, me saúda, eu só preciso continuar.

Porque é sobre ele, não é sobre os novos que estão falando que eu estou errado. É sobre os mais velhos me saudarem. Então, Capoeira para Todes é um movimento que está acontecendo com passinhos de formiguinhas, muito forte. É a idealização de pessoas com diferentes habilidades artísticas terem um espaço para se potencializar e escapar das armadilhas do sistema, através da malandragem da Capoeira.
A corporalidade trans subverte o sistema e a capoeira ensina um jeitinho todo malandro de não parar. Então a gente tem usado essas tecnologias para conseguir subsistir. Vou ser bem sincera e nada modesta para conseguir existir dando um nome na vida. Então, prosperando, acessando recursos e lugares que sempre foram nossos. É uma retomada mesmo. Eu não vou ser simples, nem humilde. É sobre isso.
Quais os desafios para o movimento?
Acessos. Tenho assistido eventos Afro aqui em Campinas onde a gente não está, não faz sentido a corporalidade de pessoas trans e travestis não estarem falando. Ainda mais quando a gente está falando do movimento preto. Acesso é o primeiro deles, e estamos falando de pessoas que precisam de ajuda para vir treinar. Gente que não tem dinheiro para a passagem. Estamos lidando com pessoas à margem de fato. Mas são dificuldades que o tempo tem modificado, e a gente tem percebido. Não dá para a gente ser adiada, não tem como parar a gente. E detalhe, eu falo até da morte porque a morte faz parte do nosso dia a dia. Não é um tabu tão grande assim para se vestir e falar de morte.
Mas se me mata hoje nasce dez cabeças, não dá mais para parar, porque não é sobre mim é sobre um ideal.
Então, é só de gente de quebrada. De 19 a 25 anos de idade, um pessoal que ainda tá morando com a família. São pessoas que estão num processo de formação e de aceitação, e que tem muito conflito em casa, por ser quem é. Sempre que a gente vê uma pessoa preta, uma pessoa trans a gente apresenta o coletivo. Esse movimento conservador e reacionário que a gente viveu nos últimos anos contribui ainda mais com a luta?
Só de existir um movimento que legitima nossos corpos como de fato são. Como é o nome da palavra que está na moda? Diversidade, eu amo. Ao colocar a gente como diverso, significa reforçar que existe uma hegemonia. O mundo é diverso, então colocar a minha existência como diversidade é uma armadilha, e quando eu aceito esse lugar estou dentro do sistema, entende. Essas sacadas fazem os nossos acessos expandirem. A gente percebe que não está para ocupar o lugar só com a cota da diversidade. A gente está preocupado em ocupar com qualidade, entendendo quem somos. Quando a gente entende a importância da pessoa a partir do prisma dela, de uma pessoa gorda, de uma pessoa travestida, de uma pessoa branca, de uma pessoa preta, de uma pessoa anã, de uma pessoa com deficiência. Todos as primas precisam ser ouvidas. E a Capoeira Para Todes atende pessoas diversas, entende? Então estamos acessando, é isso.


no Blog: uma crônica/conversa de 2019 sobre sua trajetória! no Blog: uma crônica/conversa de 2019 sobre sua trajetória!

E também os vídeos coletados na entrevista: roda pra todes E também os vídeos coletados na entrevista: roda pra todes e e cortejo cortejo



Saideira Saideira Saideira





Nossa próxima edição vem recheada de belezas:
- uma conversa com Alessandra Ribeiro, historiadora, pesquisadora, gestora cultural e liderança da Casa de Cultura Fazenda Roseira;
- o registro da visita dos Racionais MCs à UNICAMP;
- uma matéria sobre o filme Balaio, do Instituto Ibaô;
- uma conversa com Mestre Bel, do grupo Malungos Capoeira Angola, escritor e professor;
- e ainda muito mais!

Dicas Dicas

literatura:






(Re)imagining capoeira: a study of Carybé’s illustrated book Jogo da Capoeira
Engolo and Capoeira: from ethnic to diasporic combat games in the Southern Atlantic
Capoeira como estratégia de cuidado em um Caps AD no município de São Paulo
A linguagem do “corpo encapoeirado” frente às diferenças de gênero e “raça”
Berimbau como conteúdo escolar: reflexões sobre cultura africana e afro-brasileira
A experiência do “Águas de menino”: educação de fundo de quintal como pedagogia decolonial


