Revista Capoeirando no. 4 (Mar/24)

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NIL SENA Capoeirando

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É com a alma cheia que queremos agradecer primeiramente pela generosidade de cada troca dessa edição, em nome de toda a equipe da revista Capoeirando, pelas sabenças imensuráveis e imateriais que são a própria matéria fértil para a cultura poder arar, nutrir e parir o mundo. Gratos e emocionados entregamos essa edição, esperando traduzir um pouco do muito que nos foi dado.

A toda equipe da revista, aos alunos da disciplina de extensão, a todos os nossos colaboradores, a minha honra de criar com cada um. Todo o nosso trabalho só é possível pela força coletiva, pelo engajamento e pelo comprometimento de vocês em todo o processo. Aos nossos professores orientadores, sou imensamente grata por todo o apoio na construção da nossa vida profissional. Foi e é um privilégio poder estar nesse ambiente e ser cada vez mais estimulada a entregar um bom trabalho.

Aos nossos leitores aí vai! Uma edição cheia de magia, resistência, movimentos que volteja à ciranda do mundo, onde as almas dançam, se reconhecem e se rememoram. Viva aos que vieram antes!

Maryane Comparoni.

Direção de Redação: Adriana Barão e Cristiano M Gallep.

Conselho Editorial: Christian da Silva Rodrigues, Gina Monge Aguilar e Luciano Medina.

Editora chefe: Maryane Comparoni.

Editora executivo: Beatriz Luizari M. de oliveira.

Editora de texto: Gabriela Bandeira Pereira.

Redes Sociais: Isabella Carolina Silva De Araújo e Lilia Cordeiro França.

Logotipo: Luciana Barbeiro.

Direção de arte: Beatriz Luizari M. de Oliveira, Maryane Comparoni.

Ilustração: Beatriz Luizari M. de Oliveira, Maryane Comparoni.

Capa: Beatriz Luizari M. De Oliveira e Maryane Comparoni.

Editoração: Beatriz Luizari M. De Oliveira, Cristiano M Gallep, Isabella Carolina S. de Araújo e Maryane Comparoni.

Edição de vídeo: Guilherme B. Fauth.

Colaboradores desta Edição: Alessandra Melo, Beatriz Luizari M. de Oliveira, Beatris R. Cleto, Gabriela Bandeira Pereira, Gabriela A. de Souza, Guilherme B. Fauth, Giovana Mel, Henrique Gebara, Isabella Carolina S. de Araújo, João G. Prestes, Karolyne E. Serafim, Lilia Cordeiro França, Luciano Medina, Maryane Comparoni, Manuela M. S. Patrinheri, Rafael I. Rogano, Vitória A. Freitas.

F I C H A T É C N I C A

Índice

pg 4 - Tributo a Nêgo Bispo

pg 6 - História - Me. Curió 87 anos

pg 8 - Capa - Fala Mestra! - Nil Sena

pg 12 - Evento - Capoeira de Valor

pg 14 - Passo a passo

pg 18 - Roda do conhecimento - Herança e legado

pg 20 - TESTE - Para conhecer mais sobre Capoeira

pg 24 - Entrando na roda

pg 28 - GREVE!

pg 32 - KENEIHU - Reinauguração do teatro de arena.

pg 34 - Conexão ancestral - Povos indígenas e a preservação ambiental

pg 36 - Capoeira em Hollywood

pg 38 - Povos indígenas - Ensino Superior

pg 40 - III Marcha das mulheres indígenas

pg 42 - Samba do Candieiro

pg 46 - Primeiros indígenas a se formarem na Unicamp

pg 48 - Brilhando nas ruas - O poder transformador do graffiti feminino

pg 52 - Cultura nas ruas - As redes que sustentam nossos movimentos

pg 56 - Batuques paulistas - O tempo não tem começo nem fim

pg 58 - Estudante é que faz - Negranças

pg 62 - De Rolê - KLJ

pg 64 - De Rolê - Serviço de preto

pg 66 - Dicas

pg 68 - Poesia na roda

mande seus pedidos, sugestões e críticas para: capoeirandorevista@gmail.com

https://issuu com/revistacapoeirando

Me. Curió 87 anos!

Liderança destacada entre os fazedores culturais dos Pontos de Cultura e símbolo da Cultura ViVa

Um dos maiores expoentes das práticas afordiaspóricas do Brasil, o paraibano de Salvador Jaime Martins dos Santos, o Mestre Curió, nasceu no dia 23 de janeiro de 1937, na cidade de Patos Pinhares / Paraíba. Antes de se tornar um dos discípulos mais conhecidos de Mestre Pastinha, o menino Jaime já mandigava as manhas da capoeiragem. A iniciação do velho mestre se deu aos seis anos de idade, através de sua família. Seu avô Pedro Virício, Curió Grande, seu pai José Martins dos Santos, o Malavadeza, e a sua mãe Maria Bispo: todos praticantes da Capoeira Angola e integrantes de uma elite tradicional das práticas culturais afro-brasileira, responsáveis pelo rito iniciático de Curió.

Mestre Curió é a encarnação das práticas descoloniais no Brasil. Representante de uma das manifestações mais antigas da humanidade, o Doma, Mestre Curió inspirou e contribuiu para a fundamentação do registro e reconhecimento do Ofício de Mestre de Capoeira inscrito no Livro de expressões e saberes do IPHAN, e certamente para o reconhecimento da Capoeira como Patrimônio Cultural da Humanidade. Não se trata de uma exaltação exagerada e nem romantização identitária quando a referência é mestre Curió; trata-se sim de um fato histórico e cultural, corroborado tardiamente por várias universidades do Brasil e do mundo. Nesse contexto, Mestre Curió se insere como detentor imprescindível para difusão das demandas urgentes e que se faz necessário para a sobrevivência de mestres e mestras da Capoeira, sobretudo quando comprometidos com os Pontões e Pontos de Cultura acobertados pela Lei Cultura Viva, e vários outros diplomas legais criados nas últimas décadas na tentativa de reparação histórica aos saberes afrodiaspóricos transmitidos no Brasil, hoje em mais de 160 países

Há dez anos Mestre Curió capoeirou nas rodas da TEIA da Diversidade, realizada na cidade de Natal no Rio Grande do Norte. Esse evento foi promovido pelo Ministério da Cultura em parceria com o Conselho Nacional dos Pontos de Cultura, e teve como objetivo avaliar a execução das políticas públicas do então programa Cultura Viva, bem como propor novos desafios a serem enfrentados a partir daquela TEIA.

Aos 77 anos de idade, o velho Mestre soltou o verbo, agradeceu de forma educada a todos e a todas, mas, como é sabido, não se omitiu e criticou de forma contundente a burocracia e a falta de alinhamento dos órgãos gestores de cultura com os detentores dos saberes tradicionais. Esse questionamento ficou evidente em sua intervenção no Fórum de Cultura Afro que fora realizado em umas das tendas instaladas no Campus da Universidade Federal do Rio Grande Norte para as atividades da TEIA (2014). A fala de Mestre Curió mantem-se atual até o presente momento, e os ensinamentos transmitidos através da sua participação na Rádio Amnésia e no Fórum de Cultura se equivale a uma verdadeira aula de Capoeira, de Filosofia, Sociologia, Educação, enfim: uma partilha de saberes que ficou marcado na memória de todos os presentes naquela roda.

As intervenções de Mestre Curió estão disponíveis nos links

Áudio: A chegada do Mestre à TEIA e a recepção da Radio Amnésia, emissora comunitária da cidade de Olinda PE e que também é Ponto de Cultura. Para o evento, a rádio converte-se em Radio Diversidade. https://www.youtube.com/watch?v=8Wukav4_C74&t=3s

Áudio: Intervenção de Mestre Curió no Fórum de Cultura Afro realizado na Tenda das Culturas Tradicionais da TEIA.

1º - https://www.youtube.com/watch?v=uX8kgQzUotI&t=74s

2º - https://www.youtube.com/watch?v=JfWnmrLBtrc&t=10s

3º - https://www.youtube.com/watch?v=gmHSswqV2vg&t=7s

Texto, fotos e audios: Luciano Medina www.lucianomedina.com.br

NIL SENA Mestra

1 primeiras memórias, família e mudanças

2 desalfabetização da mãe

3 morte da mãe

4 infancia na roça e a contituição do seu feminino e masculino internos

5 produção artística e novos horizontes

6 sua história com a dança

7 vida em campinas capoeira, teatro

Nil Senna é uma força da natureza que sublime cresce a cada dia alimentada da mesma lama que lhe arredondou o bucho. Nil se expande em ladainhas, danças e cantos, rezas, comidas e conquistas. E enquanto se move ilumina de estrelas nosso caminho. Nil é pedagoga, agente de saúde, artista, compositora, teatróloga e mãe. Voa Nil, Ave Sapiens do Mangue!

Entrevista: Alessandra Melo, roda com toda equipe capoeirando e convidados. texto: Alessandra Melo.

Foto: Maryane Comparoni.

Vídeo: Guilherme Fauth, Rafael Ims Rogano.

Ed. vídeo: Guilherme Fauth.

ECapoeira de Valor

Festival Capoeira de Valor recebe praticantes dos EUA, Equador e Chile no mês da Consciência Negra

Novembro passado (2023), durante o período que marcou a reflexão e as ações do mês da Consciência Negra, o Coletivo Capoeira de Valor e Ponto de Cultura promoveu a 2ª Edição do Festival Capoeira de Valor. O evento foi realizado entre os dias 17 e 19 de novembro no Clube Bonfim, na cidade Campinas/SP, e contou com a participação de coletivos de três países, e alguns Estados do Brasil.

Durante todo o sábado capoeiristas participaram de um intercâmbio cultural que contou com praticantes dos EUA, Equador e Chile. Participaram também capoeiras dos Estados do Maranhão, Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo. Além das aulas e oficinas culturais de Capoeira Angola e Maculelê, participantes e convidados assistiram as apresentações culturais como Peça Musical, regida por uma bateria tradicional de berimbaus, acompanhadas de cantorias populares entoadas por mulheres do coletivo de Campinas.

Maculelê, Puxada de Rede do Xaréu, Dança Guerreira, exibição de jogos tradicionais da Capoeira Angola e Regional destacaram-se como parte das apresentações. A realização do ritual de batismo, troca de graduação e formatura de capoeiristas encerraram as atividades do evento. O Festival fez parte do calendário de ações da Associação Cultural e Ponto de Cultura Capoeira de Valor, que promove e difunde o ensino e a preservação do patrimônio da Capoeira há mais de 30 anos no mesmo endereço, localizado na região central da cidade.

A Capoeira é Patrimônio Cultural Imaterial registrado em 2008 pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e reconhecida em 2014 como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO - órgão das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Praticada em mais de 170 países, é a principal difusora da língua e da cultura brasileira no mundo

O Festival contou com a participação de importantes detentores dessa arte, como os mestres Jogo de Dentro, Lobão, Marcelo Caverinha, Chicote, Marquinhos de Boituva, Invertebrado, Rubinho, Macaco, Claudio, Tuim, Geusa, entre outros, além dos mestres que integram o coletivo no Brasil e no exterior.

Mestres convidados registraram suas participações através de depoimentos de agradecimento ao Coletivo e ao Mestre Cicero, responsável pela fundação da Associação Cultural, Ponto de Cultura e Coletivo Capoeira de Valor.

Mais informações:

Avaliação de Mestre Cícero acerca do Festival Capoeira de Valor, além de três testemunhos de grandes mestres de gerações diferentes no mundo da capoeiragem https://www.youtube.com/watch?v=zjobF2a9nOk.

Para conferir o que rolou todos os dias do evento acesse o instagram https://www.instagram.com/capoeiradevalormestrecicero/

Texto e vídeos: Luciano Medina www.capoeiradevalor.com

PASSO A PASSO

A Capoeira é uma arte de alegria, espontaneidade e fluidez, cada roda é única e construída pelas contrastantes performances dos jogadores presentes. Que tal conhecer um pouco mais sobre os estilos da prática e alguns de seus movimentos?

Angola, Regional e Contemporânea

De início, vale aprender um pouco sobre a diferença entre os estilos mais conhecidos de Capoeira.

A Capoeira de Angola conta com movimentos mais contidos, onde o perigo se esconde e pode-se vadiar (brincar) por longo tempo, exercitando-se e divertindo-se simultaneamente.

Já a Capoeira Regional apresenta movimentos mais rápidos e explosivos, porém 'revelados', mais previsíveis para o outro camarada; e na Capoeira Contemporânea é também valorizada uma movimentação mais aérea, com saltos e exibições acrobáticas.

Comportamento em roda

O treinamento para o jogo deve procurar adequar o jogador para a Roda – alguma força, muito equilíbrio e elasticidade são essenciais, assim como uma mínima condição aeróbica. Além disso, necessita-se também de alegria, espontaneidade e fluidez; solidez de ânimos e dedicação - corpo disposto, coração aberto e mente calma.

Movimentos

descrição conceitual: movimento de deslocamento e esquiva, para escapar rapidamente de golpes.

texto descritivo do movimento: similar a acrobacia “estrela”, deve-se tomar impulso movimentando as mãos para o chão ao lado do corpo e logo em seguida repassando as pernas de um lado para o outro, com as mãos ao chão como guia espacial e de equilíbrio.

variações: a cabeça pode ir ao chão e também ser usada como base, e o movimento também pode ser feito sem as mãos ao chão, apenas tomando o impulso e repassando as pernas.

Meia lua de compasso ou

rabo de arraia

descrição conceitual: manobra evasiva combinada com movimento de ataquemuito utilizada no jogo de angola, com movimentos mais ao chão.

texto descritivo do movimento: giro completo com o corpo onde realiza-se a inversão de direcionamento, posiciona-se a mão no chão para apoio e o movimento continua com a passagem de perna até o outro lado, voltando-se para a direção de corpo inicial.

descrição conceitual: base principal para a movimentação no jogo. Permeia todos os movimentos de defesa e ataque, importante para a cadência do jogo e para um momento de descanso e troca entre os jogadores, dentre as sequências de movimentos.

texto descritivo do movimento: movimento ritmado no qual se realiza a troca de pés em sincronia a das mãos, em posição de defesa. São intercaladas as pernas, uma à frente enquanto a outra como base atrás, e os braços cruzando, protegendo a parte superior do corpo. Ginga

Negativa (defesa)

descrição conceitual: movimento de defesa e deslocamento

texto descritivo do movimento: movimento no qual se agacha sobre a ponta do pé de alguma das pernas flexionada sob o corpo e a outra esticada à frente, com uma mão de apoio levada ao chão e a outra em posição de defesa ao rosto.

de Mestre Pastinha: “[...] negativa é fazer que vai e não vai, e na hora que nego mais espera capoeirista vai e entra e ganha”

Texto: Vitoria Andrade de Freitas

Registros da procissão da Lavagem da Escadaria de 2023 por Beatriz LuMO

RODA DO CONHECIMENTO HERANÇA E LEGADO

A Capoeirando foi até a Roda do Conhecimento 2023 - Herança e Legado, que aconteceu na Estação Cultura no centro de Campinas nos dias 20 e 21 de outubro, Idealizada pelo Mestre Griô Marquinhos Simplício. O encontro promoveu vivências com mestres de manifestações culturais brasileiras como: Capoeira Angola, Tiririca, Samba de Bumbo, Samba Lenço Rural Paulista, Quatru Pé Cacunda e Samba de Roda da Bahia. Entre os mestres estavam a Matriarca Ana Maria Miranda, Professor Elizeu Cruz, Mestre Griô Alcides De Lima, Mestre Limãozinho e Sambadeira Professora Dona Rosinha e Mestre Topete.

Chegamos em um espaço muito acolhedor, as pessoas estavam sorrindo, cantando e batendo palmas. No centro da roda vi a matriarca Ana Maria Miranda cantando músicas que regem o Samba de Bumbo, enquanto as pessoas a seguiam dançando. O mestre Marquinhos estava tocando o bumbo. Em cima da mesa no canto da sala, panelas grandes com comidas muito apetitosas. Do lado de onde eu estava, havia um banquinho e em cima dele pude ver uma tigela com um líquido bem amarelinho. Assim que o Samba de Bumbo acabou, todos vieram tomar esse líquido. Perguntei para uma moça o que era, e ela me disse que se chamava “Puta que pariu”, uma bebida tradicional, relacionada ao Samba de Bumbo, feita com cachaça e gemas de ovos.

Logo depois, o mestre Marquinhos puxou uma fala sobre sua conexão com o Mestre Griô Alcides de Lima, abrindo os caminhos para começar uma nova vivência. O Mestre Alcides fez um cortejo com todos ali presentes. Enquanto entoava uma cantiga, olhava nos olhos das pessoas, como quem diz “canta comigo”, e dava certo! Todos ali cantaram e dançaram com ele. Às vezes, ele parava pra explicar como acontece o Congado, lá no Sul de Minas, tradição marcada pelos cortejos para São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, mas que varia a sua manifestação de acordo com as regiões do Brasil.

Na sequência, já ia começar o Samba de Roda da Bahia, mas antes aconteceu uma homenagem para o mestre Simplício. Duas pessoas dançavam na roda, enquanto ele tocava o “cajon”. Foi um momento muito especial, uma celebração.

Depois da homenagem, a Sambadeira Rosinha entrou na roda de samba do Recôncavo Baiano, acompanhada de mulheres vestidas com saias floridas e rodadas. Elas fizeram uma verdadeira coreografia. Iam todas comprimentar os músicos, inclusive o Mestre Limãozinho, e os mais velhos que ali estavam, depois saiam sambando o miudinho.

Em outro momento, elas sambaram uma por uma e se “umbigavam”, chamando outra para sambar. A professora Rosinha foi tão generosa com todos ali presentes… Ela chamou todas as mulheres que observavam a roda, chamou uma por uma pra sambar com ela dentro da roda e depois chamou os homens, um por um. Foi tão bonito poder sambar e aprender com ela, me senti absolutamente feliz. E esse foi um segredo que o Samba Limão Rosa contou ali, como sambar de pé no chão pode trazer uma felicidade única.

Todos os mestres que compartilharam seus saberes ancestrais na Roda do Conhecimento 2023 - Herança e Legado, são muito importantes para a história do Brasil e foi muito rico estar na presença deles.

Em 2024 tem mais!

Texto por Gabriela Bandera.

A Capoeira é mais do que um tipo de luta, é uma forma de expressão, de resistência, de manifestação histórica, artística, espiritual e cultural. Para fortalecer essas dimensões, ela é movida pelas músicas e pelos cânticos de roda, e é conduzida pelos Mestres. Então, para conhecer mais sobre as MÚSICAS e os MESTRES de Capoeira aqui do Brasil, faça este teste e se conecte com a potência e a importância dessas temáticas!

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Qual é a importância das músicas de/para a Capoeira?

A) Elas têm a finalidade de determinar o ritmo do jogo, que pode ser mais acelerado ou mais lento. Também determinam o conjunto de instrumentos que serão utilizados: berimbau, reco-reco, pandeiro, etc., pois cada um tem sua sonoridade particular.

B) Elas tratam de temáticas importantes, tanto no sentido histórico, quanto político e social. As músicas costumam trazer fatos históricos e/ou experiências vividas, prestar reverência a quem veio antes e deixou seu legado, afirmar o protagonismo negro no processo de construção do Estado brasileiro e, por vezes, criticam a Historiografia, que dá destaque a narrativas brancas e europeias.

C) São essenciais para conectar os praticantes e fazê-los sentir a potência da capoeira. Como afirmou o Mestre Pastinha, “O ‘jogo da Capoeira Angola’, ao ritmo do conjunto típico que acompanha as melodias e improvisos dos cantadores adquire graça, ternura, encanto e misticismo que bole com a alma dos capoeiristas.”.

D) Todas as anteriores.

Mestre Paraná ficou conhecido por:

A) Ser um exímio tocador (e confeccionador) de berimbau.

B) Ser o pioneiro no ensino de Capoeira no Rio de Janeiro.

C) Ser o expoente da Capoeira Regional no Brasil.

D)Ser um grande aluno da Mestre Sandrinha.

O Mestre Pastinha e o Mestre Bimba são tidos como expoentes de que tipos de Capoeira, respectivamente?

A) Capoeira Regional e Capoeira Angola

B) Capoeira Angola e Batuque

C) Capoeira Angola e Capoeira Regional

D) Batuque e Capoeira Regional

O quanto você sabe sobre as músicas e os mestres de Capoeira brasileiros?

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Há diferença entre as músicas da Capoeira Angola e as da Capoeira Regional?

A) Não. Elas têm o mesmo ritmo e as mesmas temáticas.

B) Sim. Enquanto a Capoeira Regional tem um ritmo musical e instrumental mais lento, as músicas da Capoeira Angola são mais rápidas e têm batidas fortes.

C) Sim. As músicas da Capoeira Angola têm um ritmo mais lento e fluido. Já as músicas da Capoeira Regional, que é marcada pela rapidez dos movimentos, é mais acelerada, o que é expressado através do ritmo acelerado dos toques de um único berimbau, acompanhado de apenas dois pandeiros. As palmas do povo da roda são batidas em três compassos.

D) Sim. Apesar de terem os mesmos instrumentos (berimbau, pandeiro, reco-reco, agogô, atabaque e chocalho), na mesma quantidade (três de cada um para compor a sonoridade), o ritmo da Capoeira Angola é mais calmo, enquanto o ritmo da Capoeira Regional é mais acelerado.

Mestre baiano que se tornou uma lenda, nacional e internacionalmente, para a Capoeira. Foi um exímio praticante, além de ser um grande defensor do que acreditava. Em 2009, um filme brasileiro foi lançado em sua homenagem. Quem ele é?

A) Mestre Roque

B) Mestre Besouro Manganga

C) Mestre Cobrinha Verde

D) Mestre Toni Ramos

Quem foi uma das primeiras mulheres formadas na capoeira, no Rio de Janeiro e no Brasil, ensinada por Mestre Roque e por Mestre Caiçara?

A) Mestra Nil Sena

B) Mestra Tisza

C) Mestra Sandrinha

D) Mestra Mara

O quanto você sabe sobre as músicas e os mestres de Capoeira brasileiros?

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Das alternativas a seguir, qual traz corretamente um tipo de cântico de roda de capoeira?

A) Ladainha: cântico que inicia a roda de Capoeira (Angola, principalmente). Tem ritmo lento. Costuma trazer a história e a importância de grandes personagens da capoeira, ou uma mensagem aos participantes.

B) Corrido: dita o ritmo do jogo (na Capoeira Regional, este se torna mais acelerado, como o nome do cântico sugere). Por ser cantado pelo puxador e pelo coro, permite o envolvimento de todos e a energia coletiva é muito sentida durante esse momento.

C) Quadra: usualmente, quatro estrofes são cantadas, seguidas do refrão. Aparece com frequência na Capoeira Regional, como via-se nas rodas de Mestre Bimba.

D) Todas as anteriores.

Quais trechos da música “Vou dizer a meu senhor” são repetidos pelo coro?

A) “A manteiga é do patrão, caiu n'água e se molhou”

B) “Vou dizer a meu senhor, que a manteiga derramou”

C) “A manteiga não é minha, é para filha de ioiô”

D) “A manteiga é de iaiá, a manteiga é de ioiô”

As músicas “Dona Isabel, que história é essa?” e “A história nos engana” trazem:

A) Uma crítica à figura salvadora da Princesa Isabel

B) A história de resistência e luta da população negra do Brasil

C) Novas possibilidades de ver a história brasileira, sob a lente do protanogismo

negro

D) Todas as anteriores

O quanto você sabe sobre as músicas e os mestres de Capoeira brasileiros?

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RESULTADOS:

De 1-3 acertos: A Capoeira é uma arte tão rica, vale a pena conhecê-la!

De 4-6 acertos: Aprofunde-se nos temas abordados, e conheça a potência, as particularidades e a resistência da Capoeira!

De 7-8 acertos: Está quase lá! Mergulhe nas músicas, na contribuição dos mestres brasileiros e ajude a Capoeira a permanecer e a ser disseminada!

9 acertos: Muito bem!! Agora espalhe seus conhecimentos para outras pessoas, para que elas também vivenciem a força da Capoeira!

RESPOSTAS:

Texto: Manuela Maria Schiezar Patrinheri.

doradorador rodaroda roda ENTRANDO NA RODA

Depois de fazer o teste sobre as músicas de Capoeira e os grandes Mestres brasileiros, vamos explorar mais a fundo essas temáticas!

Como vimos na seção anterior, a Capoeira é uma rica forma de expressão cultural, histórica e espiritual. Suas dimensões simbólicas, de luta e resistência são fortalecidas pelas músicas e pelos cânticos de roda, que são conduzidos pelos Mestres de Capoeira.

A Roda de Capoeira foi reconhecida pelo Iphan como Patrimônio Cultural Brasileiro em julho de 2008. Esse fato é um marco contra o histórico preconceito contra a prática, refletindo então, a importância da manifestação cultural no território brasileiro e reconhecendo toda a luta para preservá-la

Incrível, não? Agora, prepare-se para conhecer ainda mais a Capoeira e, o mais importante, para sentir a sua FORÇA! Vamos lá!

Para começar, é interessante sabermos que a Capoeira engloba muitos tipos de movimentos, ritmos e formas de se expressar. Por isso, ela é segmentada em três tipos principais: A Capoeira Angola, a Capoeira Regional e a Capoeira Contemporânea. A Capoeira Angola, também conhecida como “Capoeira tradicional”, tem origens africanas e chegou ao Brasil através das pessoas escravizadas que, para manter suas culturas, para lutarem contra as violências sofridas e para resistirem enquanto povo, criaram diversas formas de resistência e algumas destas, com o tempo, originaram a Capoeira Angola como é conhecida hoje. Já a Capoeira Regional vem da "luta regional baiana" criada por Mestre Bimba no início do séc.XX, com jogo mais rápido, ritmo próprio e menos instrumentos na bateria.

ENTRANDO NA RODA

doradorador rodaroda roda

ACapoeiraContemporâneaaparece,nosudeste,apartirdaexpansãodaCapoeira Regionaleaintroduçãodeacrobaciasemumjogomaisexplosivocorporalmente. MaisalgumasparticularidadesdasdiversasCapoeiras:

ACapoeiraAngolatemmúsicasemovimentoscomumritmomaislentoefluido. JáasmúsicasdaCapoeiraRegional,queémarcadapelarapidezdosmovimentos, émaisaceleradaeincisiva;

A Capoeira Regional apresenta um ritmo acelerado nos toques de um único berimbau,acompanhadodeapenasdoispandeiros.Aspalmasdopovodaroda sãobatidasemtrêscompassos;

NaCapoeiraContemporânea,agrega-seorítmorápidoàbateriacompletada Angola:trêsberimbaus,doispandeiros,reco-reco,agogôeatabaque.

SOBREOSINSTRUMENTOS

MuitosdosinstrumentosdaCapoeira,responsáveispordarritmoeconduziraroda, foram trazidos do continente africano. No Brasil, foram adaptados ao longo do tempo,maséimportanteressaltarquemantêmsuaconexãocomasraízesafricanas daCapoeira.Sãoeles:

BERIMBAU CAXIXI ATABAQUE AGOGÔ PANDEIRO RECO-RECO

ENTRANDO NA RODA

NOMES IMPORTANTES QUE MARCARAM A CAPOEIRA

Mestre Paraná: Oswaldo Lisboa nasceu e cresceu na cidade do Salvador. Era notável em sua habilidade com o berimbau Não apenas tocava, mas também construía o instrumento, aproveitando suas habilidades como carpinteiro.

Mestre Roque: Roque Mendes dos Santos nasceu em 1938, em Salvador. Praticante da Capoeira Angola, dizia que a sua capoeira era da linha de São Bento, mais rápida

Mestre Sandrinha: Sandra Eugênia Feitosa aprendeu Capoeira com Mestre Roque, que havia fundado um grupo na região onde morava. Contribuiu fortemente para levar a presença feminina para a Capoeira e para o ensino dessa luta e forma tão poderosa de expressão.

doradorador rodaroda roda

Mestre Pastinha: Vicente Ferreira Pastinha, nascido em 1899 em Salvador, é reconhecido como um dos maiores representantes da Capoeira Angola no Brasil, embora não tenha sido o seu criador, já que essa prática era cultivada há muito tempo no país.

Mestre Bimba: Manoel dos Reis Machado, deixou um legado notável na Capoeira brasileira ao fundar a Capoeira Regional. Em suas palavras: “Em 1928, eu criei a Regional, que é o batuque misturado com a Angola, com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o físico e para a mente”.

Mestre Besouro Manganga: Manoel Henrique Pereira foi um exímio praticante da capoeira. Era um defensor incansável dos menos favorecidos, lutando contra as injustiças com convicção.

ENTRANDO NA RODA

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Nas músicas de Capoeira, tão importantes para determinar o ritmo do jogo, para trazer vivências, para construir o respeito e a reverência a quem veio antes, para dar voz à luta e à resistência dos povos negros e para conectar os participantes. Alguns cânticos cantados em rodas de Capoeira são:

ALGUNS CÂNTICOS CANTADOS EM RODAS DE CAPOEIRA

Muitos dos instrumentos da Capoeira, responsáveis por dar ritmo e conduzir a roda, foram trazidos do continente africano No Brasil, foram adaptados ao longo do tempo, mas é importante ressaltar que mantêm sua conexão com as raízes africanas da Capoeira. São eles:

“Manteiga derramô”: remete ao período violento e totalmente desumano da escravidão no Brasil. Isso é mostrado pela figura do enunciador, que é encarregado de levar uma manteiga de seu ioiô para o sinhô, sem derramar (isso embaixo de um sol forte).

“Dona Isabel, que história é essa?”: A música traz críticas à criminalização da Capoeira no Brasil, a construção idealizada e romântica da Princesa Isabel e a historiografia oficial que é ensinada nas escolas.

“A história nos engana”: A música traz críticas à 13 de maio ser considerado o dia da abolição da escravatura e à realidade de muitas pessoas negras no Brasil.

“Maltas de Capoeira”: a música diz respeito ao contexto pós-abolição da escravatura, trazendo críticas às visões hegemônicas de criminalizar os hábitos e costumes dos africanos e a estrutura social da sociedade, que permaneceu a mesma do período escravocrata para o republicano.

A Capoeira é rica, carregando muito potencial, força e expressividade, ressoando de diversas maneiras. Continue mergulhando nessa forma de expressão e ajude a propagar tais temáticas a outras pessoas, para que elas também vivenciem a energia da Capoeira!

Texto: Manuela Maria Schiezar Patrinheri.

GREVE!

Com quantas pessoas se faz uma greve? Talvez essa seja a primeira pergunta feita no início das movimentações, visto que não existe resposta para a pergunta: o que começa uma greve?

Algumas pessoas podem acreditar que o começou da greve foi a decisão de um professor racista de tentar ferir gravemente dois alunos, em razão de não interromper sua programação letiva em meio a uma paralisação. Mas não seria a própria decisão de levar consigo uma arma, branca lógico, e um spray de pimenta ao sair de casa? Mesmo servindo de estopim, nada teria surgido se não pela luta do movimento trabalhista de organizar a paralisação em prol das pautas que os deixava em uma greve já travada por mais de um mês antes daquele fatídico dia. Mas oque seria a greve pela demissão de um professor sem a presença dos outros grupos que travariam suas lutas com afinco por três semanas?? Não foi de forma alguma oportunismo da situação, mas o concomitante efeito de que quanto mais se segura a panela fechada no fogo, mais e mais e mais pressão se acumula, até que por fim, explode. De certa forma é impossível pensar quando a luta e resistência trans, PCD, negra, dos alunos em prol de uma real democratização da Unicamp e contra a fome começa, levando em consideração seu longo histórico. Em vários aspectos se inicia antes mesmo de em 1966, com a sua pedra fundamental.

GREVE!

A greve das cotas étnicas raciais foi um grande ponto de apoio. Durante as reuniões para saber como seguir as movimentações, muitas vezes foram dito “em 2016 fizemos…”. Percebe-se assim que a luta de cotas se insere em uma história. Além de uma cronologia específica também se insere em uma onda de movimentações no estado de São Paulo, em resposta a políticas neoliberais que atacam múltiplos setores públicos, incluindo a educação universitária. Mesmo a greve não vindo de fora, em um movimento capitalinterior, como sugerido em meios de comunicação, definitivamente existiu um companheirismo explícito entres as universidades estaduais.

Exposto que o bagulho é complexo, voltemos à primeira pergunta, a qual a resposta foi dada depois da primeira 24h da assembleia de deflagração. Mais de 16 centros acadêmicos já tinham aderido. Durante todo o período apenas dois CAs não tinham participado. Além do campus Campinas, tivemos a participação de Limeira. Inúmeros grupos e coletivos auxiliaram nesse tempo, além dos quais se utilizaram do momento para criarem novos coletivos. Mais do que a discussão pelas pautas, a greve foi um momento de manutenção e retomada de problemas pré existentes assim como o de surgimento de novas pautas, que se fosse preciso apostar, certamente estarão presentes em uma próxima greve daqui a algum tempo.

Mesmo sendo uma história de quando, quantos e porque a greve conta uma história de como. O como se deu com muita luta, sim. Mas, é preciso falar, com muito afeto. E para falar de afeto na greve é preciso falar da ocupação. E por sua vez, para falar da ocupação é preciso falar do Bandejão da Moras, que quando solicitado fornece alimentação para todos, durante dias, noites, madrugadas, finais de semana e um feriado, mostrando mais que solidariedade (tanto daqueles que cozinharam por horas, quanto dos que doaram alimentos) e um exímio trabalho social, mas para a Unicamp, que a demanda era existente e sua realização possível. Para falar de afeto é preciso mencionar o evento no feriado, mostrando que a manifestação de alegria de um grupo pode sim ser política. É preciso contar com acolhimento para todes, e de um senso de coletividade, seja com um colchão, um sofá, com várias aulas e palestras ou com uma rampa improvisada, feita na marra por estudantes, para a acessibilidade do prédio do Imec, uma demanda a tempos não comprida pela universidade. É preciso lhe falar que mesmo com uma tensão pairando

GREVE!

GREVE!

sobre o vão da ocupação. Mesmo que os alunos lá residindo, fossem parados pela segurança do campus de madrugada, no caminho de alguma conveniência, em busca de algo para comer ou beber, porque assim que foram tratados estudantes racializadas, trans e periféricos, mesmo menores em números na universidade, maioria na ocupação e no comando da greve. Dentro do prédio a risada era frequente, o baralho rolava 24/7, alguns em reunião às 02h da manhã enquanto casais se abraçavam nos bancos, amigos conversavam e outros tentavam 3h horas de sono que seja.

O ponto não é, retornando ao parágrafo inicial, com quantos paus se faz uma canoa de greve, ou quando a canoa foi feita. A canoa é imensa, maior que um navio. Inúmeras as partes que a constituem. Ela está sempre sendo construída, refeita, remendada. É forte e encara tempestades, ondas imensas. Navega por mares fortes assim como sobrevive seguindo com leves brisas. E para quem acha que ela chegou a seu destino, se engana. Ainda há muita comemoração, reuniões e frutos dessa greve. As demandas encaminhadas, darão resultado a partir deste ano, no começo de do ano que vem e por mais vários anos.

O destino, pode parecer incerto e obscuro para aqueles que tentaram pará-la a todo o custo, mas é certamente brilhante para aqueles que nela navegam.

Texto: Henrique Gebara.

Foto Henrique: Maria Dutra. Foto vão IMECC: Mariana Petrucci.

KENEIHU

REINAUGURAÇÃO DO TEATRO DE ARENA

KENEIHU é uma palavra originária da língua Pano. Esta palavra remete ao nome de uma indigena do povo Yawanawa, que além de ser uma grande caçadora tinha, também, o dom da música, tanto para cura quanto para matar através da lírica, segundo Kaylan YAWANAWA.

Em forma de empoderamento e representatividade, estudantes indígenas dos campi da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e da Faculdade de Tecnologia (FT) da UNICAMP nomearam seu grupo como KENEIHU. Este grupo surgiu pela necessidade de interação étnica social entre as diferentes etnias presentes na universidade.

O convite de apresentar na reinauguração do teatro Arena surgiu pela Adilce Wanano, a qual foi guia para o projeto. Após a reinauguração do Teatro Arena, que ocorreu no dia 24 de agosto de 2023, vários grupos artísticos, formados por estudantes indígenas da UNICAMP realizaram suas apresentações, e estava presente o KENEIHU.

O evento contou com a participação de convidados especiais, como a Djuena Tikuna e os estudantes indígenas da UFSCar. Estes trouxeram a dança tradicional indígena Carriçu, que tem origem dos povos originários da região noroeste do Amazonas.

Essa manifestação artística e cultural foi uma grande celebração, pois o Teatro Arena agora conta com os desenhos dos estudantes indígenas da UNICAMP em sua estrutura, sendo esses ricos em beleza e diversidade. Tendo em vista que cada povo carrega consigo uma história, e essas são manifestadas de formas artísticas, através de danças, pinturas, histórias, grafismo, adereços e instrumentos. Sendo, portanto, mais uma conquista para a cultura indígena na universidade por meio da arte.

Fazer parte de um grupo musical indígena, com diferentes etnias, é uma nova forma de adquirir conhecimento, pois o grupo contribui para preservação de uma língua indígena, que tem como objetivo buscar canções em línguas ancestrais. Além do mais, desde a primeira apresentação do grupo surgiram outras oportunidades e convites para que este se apresentasse.

Relatos dos participantes:

“Keneihu tem origem do povo Yawanawá e significa várias artes sendo elas dança, grafismos e músicas.”

Adilce Ferraz Wanano - Integrante e fundadora do grupo

“Fazer parte deste grupo, pra mim é uma forma de poder demonstrar sobre a cultura, dança e música que nós povos indígenas sempre usamos, para nos expressar tanto em rituais, apresentações e até mesmo em familiares. Fazer parte desta família dá um norte de que não estamos sozinhos aqui num lugar distante de nossas casas e culturas que no meu caso é o Amazonas”! Marlon Tukano - integrante do grupo

O Grupo KENEIHU, é um grupo formado por estudantes indígenas da Unicamp de Limeira. Seus integrantes são:

Kaylan Rodrigues Yawanawa; Maria Rose Desana; Adilce Ferraz Wanano; Lilia França Baré; Monique Pontes Baré; Marlon Melo Tukano; Paula Baré; Aguinaldo Baniwa. Texto: Lilia Cordeiro França

CONEXÃO ANCESTRAL

POVOS INDIGENAS E A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

Os povos indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais são verdadeiros pioneiros quando se trata da conservação de florestas, rios e biodiversidade. Para eles, essa relação transcende a simples proteção do meio ambiente; é um profundo entendimento de serem parte integrante da natureza, manifestando um respeito e conexão notáveis com o ambiente em que vivem.

Samela Sateré Mawé, ativista indígena de Manaus (AM), enfatiza que a relação entre esses povos e a preservação ambiental é única, semiótica e ritualista. De fato, é impossível discutir a preservação do meio ambiente e da Amazônia sem levar em consideração os povos indígenas. Eles contribuem de várias maneiras cruciais para a proteção e conservação do meio ambiente.

Um aspecto fundamental é a prática de safras sustentáveis, inspiradas por uma abordagem agropecuária mais responsável. Isso inclui o cultivo com menos poluentes e desperdício, juntamente com o uso consciente dos recursos naturais. Além disso, os povos indígenas são responsáveis pela proteção de cerca de 80% da biodiversidade, abrangendo animais, plantas, rios e lagos.

Outras contribuições vitais envolvem a restauração de florestas e recursos naturais. Comunidades indígenas dedicam-se à gestão consciente do solo e da água, preservando fauna e flora, ao mesmo tempo em que combatem queimadas e desmatamento, especialmente nas florestas da Amazônia. Adicionalmente, muitas plantas cruciais para nossa sociedade, como a castanheira, a pupunha, o cacau, o babaçu, a mandioca e a araucária, tiveram seu manejo originado em técnicas indígenas de gestão florestal.

Os povos indígenas sempre utilizaram os recursos naturais de forma sustentável, sem ameaçar os ecossistemas. Essas práticas ancestrais de manejo são fundamentais para a conservação da biodiversidade em várias paisagens brasileiras, incluindo a Amazônia, o Cerrado, o Pampa, a Mata Atlântica, a Caatinga e o Pantanal.

Além de proverem moradia, a relação entre os povos indígenas e as florestas é sobre a proteção do planeta e da vida como um todo. Recentemente, um relatório da ONU destacou a forte conexão entre Terras Indígenas e a conservação florestal na América Latina e no Caribe. Este estudo apontou que as taxas de desmatamento são substancialmente mais baixas em territórios indígenas, onde seus direitos às terras são formalmente reconhecidos pelos governos.

Impressionantemente, 45% das florestas intactas estão localizadas em territórios indígenas. Além disso, essas terras evitaram a emissão de dezenas de milhões de toneladas de CO2, equivalente a remover milhões de veículos das estradas anualmente. Os custos de proteção das terras indígenas são notavelmente menores do que os gastos com outras estratégias para redução de CO2, demonstrando sua eficiência.

Hoje, os povos originários enfrentam uma batalha constante contra o desmatamento e a exploração ilegal de suas terras e da Floresta Amazônica como um todo. Infelizmente, essa luta enfrenta resistência de diferentes frentes, incluindo indivíduos, organizações e até mesmo o governo.

Texto: Karolyne Enir Serafim

Capoeira Hollywood e m

A Capoeira é uma mistura entre esporte e arte, e, falando em arte, que tal falarmos um pouquinho da sétima? Confira aqui momentos nos quais a Capoeira pode ter passado despercebida por você em algum desses grandes sucessos do cinema.

Em Blade (1998), um clássico de ação, podemos notar que até na luta contra vampiros a Capoeira pode ser muito bem utilizada.

Na grande sequência de luta final do filme vemos o protagonista, interpretado por Wesley Snipes, acabar com dezenas dos capangas de seu inimigo, e acompanhado por uma trilha sonora eletrizante Blade demonstra, além de muitos outros estilos de artes marciais, a Capoeira. Em dois pontos específicos o personagem desfere uma séria de armadas em sincronia com seu adversário, série de golpes que perduram e deixam a coreografia muito dinâmica e interessante. Em outro ponto, Blade carrega uma benção ao peito de seu oponente, numa rápida e eficiente manobra de ataque e defesa, afastando o adversário de si.

Já em Doze Homens e Outro Segredo (2004), acompanhando seu antecessor da mesma franquia (Onze Homens e Um Segredo - 2001) esse divertidíssimo longa conta com um elenco de peso para entregar uma trama ainda mais mirabolante que a do primeiro filme. Porém, o foco da nossa atenção está agora na performance de Vincent Cassel, um ator francês praticante de Capoeira, que não precisou de dublê algum para realizar toda a coreografia!

A cena em questão mostra seu personagem habilidosamente se locomovendo dentre lasers de segurança, que o impedem de chegar ao tesouro no qual deseja colocar as mãos. O estilo é reconhecível cheio de movimentações mais lentas, bem calculadas e um jogo totalmente levado ao chão, percebemos que se tenta aproximar do estilo de Capoeira de Angola.

Hora dos heróis…

Em Batman (2022), um sucesso das telonas mais recente nos mostra a volta do morcegão que todos conhecemos, Batman, agora interpretado pelo galã Robert Pattinson. Porém, não é ele quem rouba a cena, e sim Zoë Kravitz, no papel de Mulher-gato.

Com uma personagem que deve se comportar fisicamente como um gato, a agilidade e os movimentos furtivos, são características importantes. E é nesse ponto que vemos a força da capoeira.

A exagerada falta de iluminação na cena (um problema recorrente no filme todo, convenhamos...) torna a amplitude dos movimentos um pouco difíceis de serem notadas, mas podemos perceber um clássico golpe furtivo e eficaz, a rasteira, em certo momento da sequência de movimentos.

No filme Pantera Negra (2018), o universo Marvel sempre marca presença onde quer que passe, e não foge à regra quando o quesito são as coreografias de luta! Uma das melhoras obras do catálogo MCU, Pantera Negra, é um belíssimo exemplo disso.

Durante a batalha de reis, ritual pela coroa de Wakanda, o protagonista T'Challa (Chadwick Boseman) enfrenta um forte oponente e podemos vê-lo praticando diversos movimentos de Capoeira como a cabeçada, o aú, a tesoura e a esquiva.

A cena é bem frenética e a montagem combinada com o empecilho visual da luta, está sendo travada sobre água. Fica um pouco mais complicado notar todos os movimentos demonstrados, mas vale a pena dar uma olhada - é um dos momentos mais empolgantes da obra!

Texto: Vitoria Andrade de Freitas.

Povos indígenas ensino superior

Nos dias 8 e 9 de agosto de 2023, ocorreu no auditório Raízes o seminário "Povos Indígenas e o Ensino superior". O evento teve início com a apresentação de lideranças indígenas regionais:

Dario Casimiro Baniwa (um dos diretores regionais da Federação das organizações indígenas do Rio Negro-FOIRN)

Myrian Vasques (ativista indígena, integrante e conselheira da Associação das Mulheres indígenas Tikuna- AMIT)

Cristine Takuá (co-fundadora do fórum dos professores indígenas do estado de São Paulo)

Rosilene Cruz Araújo (coordenadora-geral de educação Escolar Indígena na SECADI/MEC e Professora da licenciatura intercultural da Unifap)

A mesa de abertura estava composta por estudantes indígenas da Unicamp

Marcela Pankararu e Vera Lúcia TuKano.

A desvalorização dos saberes tradicionais foi um dos temas centrais discutidos. Os conhecimentos que povos indígenas trazem ao ingressar na universidade, muitas vezes, são desconsiderados, mas a luta por espaço e a necessidade de eventos como esse para ouvi-los e promover a inclusão desses saberes é essencial. O conhecimento não tem limites e quanto mais aberto e inclusivo, mais benéfico é para a sociedade.

Marcela, estudante de ciências sociais, marcou sua presença representando os discentes indígenas na mesa de abertura. Ela relata:

“A permanência dos povos indígenas dentro das Universidades é de extrema importância, quando eu entro na Universidade não entro sozinha, comigo trago minha Ancestralidade e meu povo.

Ninguém é desprovido de conhecimento, nós povos indígenas levamos a sabedoria dos nossos Encantados, dos nossos remédios naturais (ervas medicinais) que são muitos vendidas e apropriadas por não indígenas, levamos para dentro da Universidade nossos cantos, nosso conhecimento científico, nossas danças, nossos idiomas...

Por exemplo essas novas palavras como agro-ecologia, muitas dessas técnicas nada mais são que saberes indígenas. O Agro se infiltrou em nossas aldeias, aprendeu os cuidados com a terra e então transformou em uma nova palavra, apropriando-se dos nossos conhecimentos.

Estamos enfrentando uma crise climática, na qual as florestas estão morrendo. Se uma árvore morre é como se matasse um de nós, porque nossa força, nossos saberes vem da Mata, nós somos a florestas. Sem rios, sem árvores não existe humanidade.

Se a Universidade enxergasse a importância que nós temos e a nossa sabedoria, o cenário poderia ser diferente e o impacto ambiental menor.”

Marcela Torres Pankararu, estudante de ciências sociais Texto e fotos: Lilia C. França

A 3° Marcha das Mulheres Indígenas ocorreu em Brasília, nos dias 11, 12 e 13 de setembro de 2023. O local de concentração do evento foi o Complexo Cultural Funarte As acadêmicas indígenas Uirapuru marcaram presença juntamente com as acadêmicas indígenas do coletivo indígena de Limeira. Durante os dias de evento tivemos diversas plenárias, rodas de conversa, participações de lideranças indígenas, figuras públicas, influenciadores, ativistas, estilistas, cantoras, acadêmicas… Mostrando a força da nossa diversidade, pluralidade e a nossa capacidade como mulheres indígenas de preencher qualquer espaço.

A III Marcha reuniu mulheres indígenas de todos os biomas, desde as Caiapós até as Rionegrinas, a força das mulheres indígenas vem quebrando fronteiras. Mulheres indígenas de outros países como Estados Unidos, México, Colômbia, Venezuela e África do Sul também participaram dessa luta e celebração. Durante os 3 dias de evento, ocorreram noites culturais com muita música e também o desfile das ancestrais, descolonizando a moda, reflorestando as mentes e lutando por nossa cultura, nossas terras, nossos direitos e respeito!

Uma das mulheres, professora Cláudia, conta como foi participar do evento:

“Olá! Sou Cláudia Baré, professora, artesã, pedagoga e atualmente faço mestrado em linguística no Instituto de Estudo da Linguagem, IEL, na Unicamp, aqui no município de Campinas, Estado de São Paulo. Para mim, como mulher, como líder e como uma mulher indígena, é muito importante estarmos nesses espaços de fortalecimento, participando com demais mulheres, com demais lideranças, mulheres indígenas, para que a gente possa se fortalecer mais ainda na nossa causa, envolvendo questões e nossos direitos indígenas

Focando na nossa permanência como uma mulher indígena atuante e militante, precisamos tomar iniciativas em prol não só das causas e das mulheres indígenas, mas em todo o contexto indígena. Então, para que a gente possa estar por dentro do que está acontecendo, das nossas reivindicações, das nossas lideranças maiores que estão aí nos representando, é muito importante que nós estejamos nesse espaço participando de forma ativa, Quando nos fortalecemos, ficamos prontos para as lutas do dia-a-dia e nossos deveres.”

Texto e fotos: Lilia C. França

SAMBA d o Candieiro

Confia no mistério!

Zé do Coco, por força de tudo que o entendimento humano não entende, conduziu o início do terreiro do Candieiro. A entidade, que assumiu o trabalho espiritual da casa, fez com que seu cachimbo chegasse até Pai Nando, sacerdote da casa.

O nascimento do Samba do Candieiro vem da falta que pai Nando vê da espiritualidade e cultura serem manifestadas em conjunto. Isso não quer dizer que não existam inúmeras manifestações culturais na cidade de Campinas / SP; no entanto, nenhuma delas têm a espiritualidade realmente demonstrada, escancarada.

O samba do Candieiro traz um trabalho espiritual, pois é lavado com banho de folhas, há entrega de oferendas e pedese licença a Exu, que antes de tudo recebe a parte dele. É passado o barreado, a vela está lá e as estátuas no centro da mesa, então não é só uma roda de samba, não é só música, é uma roda de terreiro. E é certo que os ancestrais são convidados a fazer parte dessa roda. Os quadros levados do terreiro são consagrados e a gente pede a licença para tirá-los, explica Pai Nando.

Trata-se de um trabalho pensado e feito e que se manifesta com uma energia fortíssima que pode ser sentida por quem frequenta essa roda de samba rezada e que hoje está em sua quarta edição. O samba é uma derivação de uma série de ações afirmativas que são realizadas visando a promoção, inclusão e diria mais: destaque de mulheres trans e cis como protagonistas da roda de samba, preocupação bem marcada por Pai Nando.

O terreiro do Candieiro, apesar do pouco tempo de existência nesse plano terreno, é uma criancinha que já nasce gigante, nos diz o sacerdote Pai Nando. A atuação do Candieiro é muito importante na cidade de Campinas e se conecta às lideranças indígenas representando a etno identidade e conversando sobre a figura do indígena dentro do terreiro. O culto de caboclos é um trabalho desenvolvido de forma respeitosa e bonita, já que não se faz o uso dos cocares dentro do entendimento que esse é um símbolo político e espiritual.

São inúmeras as preocupações e trabalhos realizados, tais como: o compartilhamento de tecnologias ancestrais, realizadas pela Dona Rute (que é de uma família que já tem uma vivência anterior de coco) ou mesmo as compartilhadas por José Victor, que está fazendo pós-graduação na UNICAMP, ou ainda, o bloco de carnaval o Quebra coco. E não podemos nos esquecer que faz se necessário falar da Saúde Mental do povo de terreiro, assunto que tem sido abordado em diversas frentes, afinal, o preconceito religioso é algo muito forte e tem desdobramentos psíquicos que provocam grande sofrimento. São sucessivas as situações vexatórias que as pessoas de terreiro sofrem. Podemos apontar, por exemplo, o que ocorreu com uma aluna da UNICAMP que por duas vezes, por dois professores diferentes foi abordada com o pedido de retirada de seu turbante.

Uma professora disse que estava tirando a atenção dela e, mais recentemente, um professor numa aula de laboratório falou que podia contaminar o laboratório com cabelo, que ela iria arrumar um emprego e teria que dar um jeito. Racismo, né? Preconceito, pois o turbante tem significado espiritual também, dispara Pai Nando.

Entre essas inúmeras ações está sendo montado o acervo Botânico para que se possa utilizar as ervas que são cultivadas ali nos ritos do terreiro. E ainda existe o podcast Mandinga Pod que em sua primeira temporada está entrevistando os mais velhos da comunidade, apresentando a Dona Rute, a Gislaine, a Edilene que é uma indígena e faz parte do nosso terreiro e o Flávio Azevedo, que atua como músico e educador social na cidade de Campinas. São muitos os planos, sonhos, concretudes e as ações de inclusão, divulgação e consolidação do Terreiro do Candieiro que só cresce a cada dia assim como seu Axé!

Texto: Alessandra Melo.

Foto: Maryane Comparoni.

Primeiros indígenas a se formarem na UNICAMP

Em 2023, um marco histórico ocorreu na Unicamp, no início do segundo semestre ocorreu a formatura dos dois primeiros estudantes indígenas: Luiz Felipe Medina Guarani e Jeovane Tariano.

O estudante de Administração Pública Luiz Felipe concluiu seu curso no fim do primeiro semestre, tendo sua cerimônia de colação de grau realizada no dia 10 de agosto de 2023 às 15h da tarde na Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp.

O Coletivo Indígena da Unicamp de Limeira uniu-se para prestigiar esse dia histórico, levando seus cantos, grafismo e maracá para a cerimônia, comemorando a formatura de um dos primeiros estudantes indígenas da Unicamp.

Na semana seguinte, a história continuou com Jeovane Tariano, estudante do curso de Comunicação Social-Midialogia. Sua cerimônia de colação de grau teve a presença do Coletivo Indígena de Barão Geraldo, que prestou homenagem ao formando.

LuizFelipeMedina

JeovaneTariano

"Meu nome é Jeovane Ferreira Lima, etnia Tariano, entrei no curso de Comunicação Social - Midialogia ano de 2019. Esse ano de 2023 no primeiro semestre, foi a minha conclusão de curso, a minha colação de grau foi realizada no dia 17 de agosto às 14h00 no centro de convenções da Unicamp.

Vim da comunidade Nova Esperança, às margens do Rio Médio Uaupés, em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas Na universidade, meu maior desafio foi manter o foco nos estudos, mergulhar nas leituras e lidar com o impacto social. Chegar em Campinas foi como entrar em um mundo completamente novo, com pessoas de culturas diversas.

Sempre sonhei em estudar na universidade. O vestibular indígena abriu essa porta para mim. É uma honra ser uma referência na minha comunidade e incentivar outros que buscam esse objetivo. É uma realização imensa, um orgulho para minha família, minha comunidade e parentes que compartilham o mesmo objetivo aqui na universidade.

Apesar de nos encontrarmos em ambiente novo, sempre é bom lembrar das nossas raízes, são sentimentos que não podemos deixar lado, é bom mostrar a sua origem, mostrar e falar da sua cultura, os povos indígenas durante muito foram ignorados dentro das universidade e essas portas são a nossa oportunidade de falar de novas perspectivas pelo viés de uma pessoa indígena, a nossa luta querendo ou não tem que seguir adiante, o importante é nunca deixar de sermos nós sempre pensando nos próximos parentes que vão chegar, o vestibular indígena é direito conquistado por meio de grandes movimentos sociais e não podemos deixar que termine ou que tirem esse direito de nós.

Portanto, cultivar a nossa cultura dentro da universidade é muito importante,

Jeovane Ferreira Lima

Texto e fotos: Lilia C França

BRILHANDO NAS RUAS

O PODER TRANSFORMADOR DO GRAFFITI FEMININO

Como tem sido amplamente debatido, este ano marcou o 50º aniversário do movimento Hip Hop, que emergiu de uma cultura de resistência, trazendo cores, sons e novas perspectivas para a comunidade. Ao longo da última década, muitos espaços e vidas foram profundamente transformados pela reflexão crítica e pela mobilização afetiva que suas expressões artísticas proporcionam. Sendo um movimento enraizado nas populações marginalizadas e criado em resposta a suas necessidades, é legítimo questionar qual impacto e quais transformações podem surgir da união das mulheres grafiteiras em um evento marcante, como um grafitaço.

O ano de 2023 evidenciou o persistente apagamento da contribuição das mulheres na produção artística urbana Exposições e eventos de grande renome, dedicados a celebrar cinco décadas de cultura hip hop e a relembrar as raízes que o moldaram, mais uma vez negligenciaram as contribuições femininas para essa história rica e multifacetada. Além disso, ao sair para pintar nas ruas, as mulheres grafiteiras enfrentam uma antiga insegurança que persiste: seus corpos continuam a ser alvos de assédio, e suas habilidades são constantemente questionadas e subestimadas.

Assim, surge a pergunta crucial: quais são as transformações resultantes da união das mulheres grafiteiras em um grafitaço? Embora essa resposta possa estar em desenvolvimento, já é um movimento que podemos testemunhar e vivenciar. Um exemplo notável foi o Encontro de Graffiti de Mulheres de Campinas, organizado pela Camp Crew, que ocorreu em 14 de outubro. Nesse evento, 26 artistas femininas tiveram a oportunidade de expressar suas visões e talentos nas paredes do Jardim San Diego.

Como grafiteira, posso afirmar que é profundamente inspirador ver nossas existências se reunirem e nossas subjetividades serem projetadas em grande escala pelas ruas da cidade. A rua e a cidade são espaços onde as individualidades se desenvolvem e as conexões humanas se formam. Uma das maiores contribuições do grafite é dar voz a diversas pessoas, tornando visíveis suas dores e sonhos

Quando as mulheres se unem em eventos como este, encontram um espaço para compartilhar suas angústias, celebrar seus talentos, explorar suas realidades e exercer sua capacidade crítica. Em um sistema patriarcal, esses momentos de liberdade da objetificação dos corpos, do menosprezo às habilidades e da pressão para se adequar a padrões preestabelecidos são raros. Portanto, é verdadeiramente transformador quando começamos a ocupar espaços com mais segurança, criando, compartilhando, e sendo ouvidas, enquanto nos conhecemos mutuamente.

No Encontro de Graffiti de Mulheres de Campinas, nós vimos crianças brincando, discutimos

Quando as mulheres se unem em eventos como este, encontram um espaço para compartilhar suas angústias, celebrar seus talentos, explorar suas realidades e exercer sua capacidade crítica. Em um sistema patriarcal, esses momentos de liberdade da objetificação dos corpos, do menosprezo às habilidades e da pressão para se adequar a padrões preestabelecidos são raros. Portanto, é verdadeiramente transformador quando começamos a ocupar espaços com mais segurança, criando, compartilhando, e sendo ouvidas, enquanto nos conhecemos mutuamente.

No Encontro de Graffiti de Mulheres de Campinas, nós vimos crianças brincando, discutimos nossas inseguranças, homenageamos as pioneiras, abordamos questões de maternidade e seus desafios, denunciamos limites ultrapassados e abusos, e reivindicamos o direito de erguer nossos muros, reconstruir nossa dignidade e afirmar nosso trabalho. Apesar de não ser um espaço perfeito, vivemos uma experiência de convivência mais saudável, onde as mulheres podem compartilhar suas experiências e sonhos.

Como disse a poetisa Dina Di:

Um, dois, não deixa pra depois

Três, quatro, o sonho não é fraco

Cinco, seis, respeita a nossa vez

Sete, oito, eu tô do lado oposto pra sonhar

Pra sonhar é preciso gostar

Pra sorrir eu dou tudo de mim

Pra sonhar com a paz por aqui

Pra sonhar não consigo dormir

Se eu fosse ir nessa manhã queria que soubesse

Um pouco de mim, meu coração só Deus conhece

Uma mina normal, com qualidades e defeito

Uma perda fatal é que me fez ser desse jeito

Aí, uma só, uma tatuagem no braço

E tem que ter base e pó pro meu olhar de cansaço

Eu não queria ter pra escrever pra dentro de mim

Tenho sequelas sim, traumas de um passado ruim

Guerreira, solitária, autoritária por nascença

Cada volta é um recomeço, um arremesso à recompensa ( )

Transformar a realidade por meio do grafite é um ato de resistência e empoderamento, e eventos como o Encontro de Graffiti de Mulheres de Campinas são passos significativos em direção a um mundo onde todas as vozes são ouvidas e todas as expressões são celebradas.

Texto e fotos por Beatriz LuMO

CULTURA NAS RUAS

AS REDES QUE SUSTENTAM NOSSOS MOVIMENTOS

Quando olhamos para ação cultural fluindo pelas ruas, espaços privados e coletivos dificilmente conseguimos enxergar e compreender todas raízes e estruturas que a concretizam, possibilitando a sua manifestação no nosso cotidiano. Assim como a arte, a manifestação cultural acontece e se expressa se apoiando numa grande rede, composta por pessoas, saberes, recursos materiais e imateriais e muitos sonhos - o que vivemos e como crescemos é determinante não só para a formação individual, mas também coletiva. A cultura tem o poder de nos gerar reconhecimento e pertencimento dentro de uma sociedade e a maneira com que ela se manifesta no território de uma cidade é capaz de nos contar muito.

No dia 10 de setembro aconteceu o SustentAfro, o evento foi pensado e executado pelos beneficiários do projeto Cultura Nas Ruas, que formou 7 Dj’s, 6 produtores e contou com 7 educadores. Projeto que se tornou possível através da contemplação do FICC - Fundos de Investimentos Culturais de Campinas de 2022 e da parceria com a RuffNeck Sound System, teve sua atuação direcionada para a formação de jovens periféricos e resultou na realização de um festival, sediado na Sala dos Toninhos, da Estação Cultura de Campinas, que contemplou um público de 1000 pessoas.

SustentAfro marcou o dia com diversas apresentações artísticas, regada muita celebração - o que para quem compunha o público pode significar muita diversão, lazer, encontros, admiração e criações de referência, mas para quem estava no palco ou na função de fazer o evento acontecer o significado mora dentro da oportunidade de visibilidade, da autoestima de apresentar o seu trabalho, se entender como realizador e claro, estar um tanto mais exposto às necessidades e carências do setor cultural. E é justamente por se fazer como ponto de encontro de questões tão importantes para a manutenção de convivências e vidas mais saudáveis, que a ação cultural carrega tanto impacto, ela é capaz de nos moldar enquanto seres coletivos e nutrir as nossas perspectivas de vida.

Bruno Amorim, um dos artistas que foi contemplado pela formação de DJ, comentou sobre como o dia do evento foi uma surpresa para ele, justamente por se deparar com um fluxo tão grande de visibilidade no seu trabalho. Em sua trajetória, enquanto suas inspirações artísticas cresceram com o apoio e referência cultural da família, a dúvida sobre a viabilidade de se tornar um profissional sempre o acompanhou, mas foi se diluindo conforme suas referências artísticas locais, como os Deekapz, se desenvolviam dentro do mercado, mostrando as possibilidades de caminho e a sua própria trajetrajetória se desenvolvia através de suas formações e experiências. Em nossa conversa também se destacou a sensação de realização que a formação eo desenvolvimento profissional de Bruno trazem para ele, ainda que ela se choque com a dificuldade de manter o encontro com as oportunidades de atuação, durante o início da carreira.

E em um âmbito coletivo, a presença da cultura nas cidades é capaz de contar muito sobre suas estruturas, como se distribuem seus focos educacionais, objetivos de formação e como os incentivos e recursos são distribuídos para a população em diferentes cenários. Celso Niger, idealizador do Cultura nas Ruas, também teve seu desenvolvimento artístico marcado pelas vivências que teve com a sua família, na escola e na cidade - desde o pai que ouvia samba, aos livros de poesia que ganhava na escola, das apresentações escolares que deram início a Banda Pública. O que ele nos conta, fala sobre como é o agente cultural que garante a existência do movimento da cultura nas cidades, que abre a cena para nós artistas, mas neste filtro não podemos deixar de considerar que a distribuição dos recursos existentes se dá de maneira desigual - desde a educação até o capital - e é aí que a necessidade de garantir que o movimento ocorra dentro das periferias se dá de forma muito mais autônoma, em outras palavras, a ausência da assistência governamental faz com que a própria população se mobilize para que eventos ocorram e os espaços de exposição dos artistas se mantenham fortalecidos, se fortalecendo justamente através das redes de pessoas e saberes que sustentam esse movimento.

“Eu moro no campo grande, né? E não tinha muita coisa assim acessível pra gente, tipo, esses movimentos culturais mais abertos, que não sejam coisas tradicionais, onde a gente pode fazer o que tiver vontade, sabe? e isso, a atuação artística e realização cultural, foi bem difícil no começo. Não só no Campo Grande mas em outras periferias também, o acesso a cultura é muito difícil, as aulas de arte são muito subjetivas, a gente fica aprendendo coisas inúteis, não que seja culpa do professor, a gente sabe que é uma questão do sistema de ensino mesmo, tipo, a gente não aprende sobre cultura de verdade na escola, né?

A gente acaba aprendendo isso em outros ambientes, mas isso também é uma questão de alguns privilégios, tem pessoas que não tem, então, dentro da minha vivência eu acabei. tendo bastante contato, mas na vivência de outras pessoas talvez isso não fosse tão latente. E eu sinto que hoje tem mais, mais acesso, pelo menos eu vejo, por estar fazendo isso, imerso , procurando levar esse acesso pra galera que não tá tendo ele”.

Dentro da perspectiva Campineira, marcada por um passado colonial, por essência, racista, patriarcal e segregador, o compromisso de redistribuir as oportunidades e fortalecer a autoestima dos jovens periféricos é uma urgência, justamente para construirmos a possibilidade de vislumbrar um cenário menos violento para a nossa população, onde podemos reconstruir nossas perspectivas e compreender a possibilidades de ação. A cultura parece abrigar em si dois polos, um criado a partir do seu poder de formar e ornamentar vidas, construir senso crítico e a noção de pertencimento ao que se vive, mas também outro surgido de toda a desvalorização cultural que enfrentamos que nos leva a desmobilização e a sujeição a um sistema adoecedor - e é justamente o conflito entre esses dois pontos que

surge o movimento de resistência. Enquanto os recursos financeiros e institucionais precisam ser hackeados para serem minimamente distribuídos, a força que nos mantém vem justamente do nosso encontro, capaz de reforçar potências, incentivar as criações de novas perspectivas de vida e abrir novas portas.

Texto: Beatriz LuMO
Imagens: Amanda Castro Batista

BATUQUES PAULISTAS

O TEMPO NÃO TEM COMEÇO NEM FIM

A segunda edição da festa dos batuques paulistas, que aconteceu na Casa de Cultura Fazenda Roseira, foi sobre tempo, ancestralidade, território, aquilombamento e transcestralidade. No dia 5 de agosto de 2023, um dos três dias de evento, os grupos paulistanos Asili coletiva, Sansacroma, House of Mamba Negra, Batuque de Umbigada, Jongo Dito Ribeiro e Samba de Bumbo Nestão Estevam mostraram em seus corpos os significados dessas palavras. Com intuito de manifestar a ancestralidade e o tempo (na perspectiva Bantu), os grupos contemporâneos da metrópole uniram-se aos grupos de tradição secular de matriz africana e geraram o espetáculo: “Kala Tambores Bantu”.

Antes da apresentação do espetáculo, houve uma atividade no mesmo dia: “Oficina de danças pretas na metrópole” As aulas foram ministradas em três partes pelos grupos de manifestações mais contemporâneas e afrodiaspóricas. O Sansacroma, a Asili Coletiva, e a House of Mamba Negra, mostraram um pouco de suas vivências corporais e suas relações com a sociedade na oficina gratuita que aconteceu em um dos espaços da Roseira. Cada grupo promoveu aulas singulares, envolvendo pessoas de todas as idades e com vivências diversas de vida, ou seja, um momento de experiência artística para todes.

A primeira parte da oficina foi da “Cia Sansacroma”. A cia, criada pela artista do corpo Gal Martins, veio do Capão Redondo - zona sul de São Paulo, e é uma companhia de dança contemporânea, cuja linha de pesquisa chama-se “Dança da indignação". Uma das integrantes do grupo, Adélia, trouxe para a oficina um aquecimento que passa por essa linguagem, falando muito sobre ativar energias ancestrais, através dos pés, nutrir a disponibilidade do corpo, reconhecer o espaço e entender a respiração.

Logo após essas aulas gigantescas, de muita diversão e conhecimento, houve uma roda de conversa com os grupos oficineiros sobre o processo de início desses coletivos contemporâneos. E foi possível observar as semelhanças entre eles, que envolve muito a experiência de aquilombamento. No fim do dia, o espetáculo “Kala Tambores Bantu" mostrou o encruzilhamento ancestral entre os grupos contemporâneos e os de tradição afro-caipiras da cidade de São Paulo. A Cia Sansacroma se juntou ao Samba de Bumbo Nestão Estevam, o Batuque de Umbigada ao Asili Coletiva e a House of Mamba Negra ao Jongo Dito Ribeiro. Esses corpos mostraram um tempo cíclico, conectados por afeto, luta, dança e música.

NEGRANÇAS

Negranças

Espetáculo Estuário: entre íntimos e imaginários

O coletivo Negranças apresentou seu primeiro espetáculo “Estuário: entre íntimos e imaginários” no dia da Consciência Negra no Sesc Campinas e a Capoeirando esteve por lá para prestigiá-lo e bater um papo com as artistas sobre o processo do coletivo desde sua formação até a criação e desenvolvimento da peça.

A palavra Estuário se refere ao lugar onde acontece o encontro entre águas, doce e salgada. E é a partir do encontro de 8 mulheres pretas do curso de Dança da Unicamp que nasce o coletivo Negranças, o primeiro coletivo negro em mais de 30 anos de existência do curso. Jéssica Soares, Lívia Nara, Bianca Santos, Stephanie Borges, Vic Correa, Maria Stephani, Ph Veríssimo e Gabrielle Januário iniciam a trajetória do grupo ao se depararem com a potência da possibilidade de trabalharem e se movimentarem juntas como modo de se fortalecerem coletivamente, fazendo com que o trabalho artístico em conjunto viesse a ser para elas, também, uma estratégia coletiva de permanência através da pertença

A princípio, como não se conheciam, escreveram cartas umas às outras, que vieram a se tornar o mote do processo de criação de Estuário. “Por que dançar?“ e “Onde você encontra afeto? “ foram algumas das questões disparadoras para a escrita das cartas, com isso as vivências individuais foram aparecendo e permeando as ideias em torno do que elas gostariam de trabalhar artisticamente, o afeto. O grupo entende esse processo das cartas alinhado ao conceito de escrevivência, da poeta Conceição Evaristo, sendo uma forma de firmar suas identidades no mundo por meio da palavra escrita de “pulso firme e escrita dançada”, como compartilha Stephanie Borges. Durante o processo, a artista Adnã Ionara, entra no projeto a princípio como uma provocadora e depois é convidada para assumir a direção do trabalho. O grupo nos conta que o olhar e o direcionamento da diretora foram fundamentais nessa construção, porque, além de sua originalidade artística, Adnã também se relaciona com o coletivo, pois ocupa o lugar da vivência, sendo uma pessoa preta que passou pelo curso de dança da Unicamp A partir das provocações e experimentações conduzidas pela diretora, foi-se dando movimentos e sentidos. e s t u d a n t e é q u e f a z

N E G R A N Ç A S NEGRANÇAS

Laboratórios em que se liam as cartas e observavam suas reverberações no corpo, a experiência de uma escrita/leitura dançada e depois a observação do que foi trazido, dos sentidos e sensações, que foram traçando as linhas que tecem a dramaturgia do espetáculo.

No decorrer do caminho, contaram também com Ana Clara Ferraz, pesquisadora do uso da voz na dança e preparadora vocal do grupo. O movimento também se presentifica através das vozes das artistas no decorrer do espetáculo, construindo não somente uma parte da paisagem sonora, mas também criando significados ao colocar a voz também em movimento, tendo ela como parte do corpo.

Estuário, então, foi tomando forma, mas assim como água não necessariamente uma forma fixa, porque como o nome sugere, se fez no encontro de coisas diferentes, que naquele espaço-tempo são harmônicas. As artistas nos contam como cada revisita a obra é diferente, “Cada vez que a gente se aproxima novamente de Estuário, ele vem mostrando outras camadas que a gente vai compreendendo”, diz Ph Veríssimo. Entre íntimos e imaginários, o íntimo se refere ao que vem de dentro, ao ser quem é, cada uma com a sua singularidade, com a sua dança, com seus lugares de afeto. A escrita do íntimo de cada uma nas cartas, cartas de pessoas negras endereçadas para pessoas negras, um compartilhamento, um encontro que possibilita a construção coletiva de um imaginário contendo novos territórios, novas prospecções. Tudo isso, quando levado para o corpo que dança, se materializa, se presentifica. O próprio encontro do coletivo, ainda, é a materialização de imaginários dos que vieram antes. É nesse íntimo e nesse imaginário que se dá o encontro das 8 artistas no palco com muito acolhimento e afeto. Afeto em sua completude, onde há afago, carinho, mas também os conflitos, vindos desse lugar de cuidado, que aparecem em toda relação. E é possível enxergar tudo isso no palco, a complexidade de sensações e emoções que surgem de um encontro de pessoas que compartilharam entre si o que possuem de mais íntimo, é cheio de sensibilidade e também densidade.

Dentro da lógica semestral da universidade em que trabalhos são esquecidos no fim do período letivo, o Negranças a desafia e subverte, transcendendo os limites da universidade ao levar o coletivo adiante, para fora. “Que essa experiência de afeto, acolhimento e pertença seja revisitada por novos integrantes do coletivo” deseja o grupo, que outras narrativas sejam possíveis no curso de dança da unicamp e também fora dele.

Texto: Giovana Mel. Foto: Maryane Comparoni.

KLJ d e rolê

Foto: Maryane Comparoni.

e v e n t o r e a l i z a d o n o g o m a a r t e e c u l t u r a

rolê d e SERVIÇO DE PRETO

SERVIÇO DE PRETO

d i cas

Pastinha! Uma Vida pela

Capoeira

Documentário, 52min (1998), Brasil. Com uma cadência e trilha sonora perfeita o documentário nos apresenta a extraordinária vida do grande mestre Pastinha, e também, por sua total ligação com a capoeira, vemos a trajetória da própria arte, através de depoimentos de diversos nomes das áreas de antropologia, sociologia, literatura, jornalismo e também, é claro, outros exímios mestres de capoeira, muitos deles discípulos de Pastinha. Depoimento do escritor Roberto Freire sobre sua conexão com Pastinha (33:45min). Trilha sonora repleta de músicas tradicionais de capoeira, inclusive obras do próprio mestre Pastinha!

Mestre Neco Pelourinho jogando Capoeira com seu cachorro (48:30min). Depoimento emocionante de D. Romélia, companheira do Mestre, sobre seu falecimento (42:30min).

Capoeira, um passo a dois

Filme 72min (2016), Brasil, direção de Jorge Itapuã. O filme mistura documentário e ficção na construção de uma obra tocante e muita rica, tanto em qualidade visual quanto narrativa. Acompanhamos a protagonista Elle (portuguesa de pai angolano) em uma jornada singular dentre a Capoeira. Vendo tudo pelos olhos de sua câmera, temos um gostinho do que foi e é a Capoeira no Brasil e no mundo.

A grande força da obra está na maneira como ao mesmo tempo que informa sobre a história e prática da Capoeira, também, conversa com o telespectador numa narrativa que evoca a força da mulher em ambientes dominados predominantemente por homens.

Um dos alunos do mestre Pastinha conta um pouco sobre como eram suas aulas (08:30min). Uma conversa com Nestor Capoeira, protagonista do filme Cordão de Ouro (15:30min). Mestre Leopoldina!!!! (19:40min). Uma divertida aula para crianças na Índia (35:50min). Protagonismo feminino na Capoeira de Israel (41:50min).

Cordão de Ouro

Besouro

Filme 77min (1977), Brasil, direção de Antônio Carlos da Fontoura. O filme narra a história de Jorge, escravizado por uma companhia mineradora, que foge graças a suas habilidades com a Capoeira. Após fugir, Jorge tem um encontro com Ogum, que fecha seu corpo e lhe dá a missão de libertar seu povo.

A obra se destaca pela participação de pessoas importantes como Mestre Camisa, Mestre Leopoldina, Mestre Nestor Capoeira, entre outros. Além de ser considerado o primeiro filme a retratar um Capoeirista como herói, exalta a cultura afrobrasileira durante o período da ditadura militar no Brasil. Mestre Camisa jogando com Mestre Nestor Capoeira (14:13min). Músicas feitas por Mestre Leopoldina! Participação de Os Ogans!

Filme 94min (2009), Brasil, direção de João Daniel Tikhomiroff. O filme se passa no recôncavo baiano em 1924, onde o Candomblé era reprimido e a Capoeira era proibida por lei. Na história, Besouro, discípulo de Mestre Alípio, passa por elementos de ação, drama e fantasia. Com ótimos enquadramentos e jogos de câmera, a narrativa mostra a importância de Besouro na luta pelos direitos dos negros e na resistência da Capoeira e cultura negra no Brasil. Cenas debaixo d’água (22:40min). Apresentação rápida de alguns Orixás (33:08min). Trilha sonora com diversas músicas autorais, como Cordão de Ouro - Nação Zumbi.

Texto: Vitoria Andrade de Freitas.

Eu-Mulher

Uma gota de leite me escorre entre os seios.

Uma mancha de sangue me enfeita entre as pernas.

Meia palavra mordida me foge da boca.

Vagos desejos insinuam esperanças.

Eu-mulher em rios vermelhos inauguro a vida.

Em baixa voz violento os tímpanos do mundo.

Antevejo. Antecipo. Antes-vivo

Antes – agora – o que há de vir. Eu fêmea-matriz.

Eu força-motriz.

Eu-mulher abrigo da semente moto-contínuo do mundo.

Conceição Evaristo

Ilustração: Maryane Comparoni.

Ah! Desgraçados!

Um irmão é maltratado e vocês olham para o outro lado?

Grita de dor o ferido e vocês ficam calados?

A violência faz a ronda e escolhe a vítima, e vocês dizem: "a mim ela está poupando, vamos fingir que não estamos olhando".

Mas que cidade?

Que espécie de gente é essa?

Quando campeia em uma cidade a injustiça, é necessário que alguem se levante. Não havendo quem se levante, é preferível que em um grande incêndio, toda cidade desapareça, antes que a noite desça.

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