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Bob Dylan O Sino da Liberdade

Blowin in the wind é uma das canções mais importantes da cultura pop, inserida em uma época de grandes transformações sociais, como a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, ela traz em seu corpo elementos questionandores sobre o sentido do mundo em que se vive. Expondo de uma forma poética enunciados sobre o porquê de o mundo ser um lugar tão contraditório. Inaugurando um estilo poético que não existia em sua época (anos 1960), pois os temas sérios não eram tratados na cultura musical pop de forma poética, Dylan se torna percussor de uma transformação cultural que vai ser seguida por outros artistas. Vindo da tradição folk, que trazia em suas composições crônicas do cotidiano relacionadas a injustiças sociais, racismo, assassinatos, relacionamentos. Dylan também relata a realidade mais de forma carregada de linguagem conotativa. As canções folks funcionavam como um jornal, trazendo em suas letras mais uma exposição de fatos. Os enunciados das canções folks contextualizam um dado momento circunscrito no espaço-tempo. Desde o seu surgimento Blowin´in the Wind foi incorporada por vários movimentos engajados na luta pelos direitos de minorias. É uma canção atemporal, quebrando os liames do tempo-espaço. Se Blowin´in the Wind fosse a única composição de Dylan, ele já merecia um lugar na história da música pop devido a sua originalidade, soando como algo totalmente novo. A canção inicia questionando: quantas estradas um homem deve andar para ser aceito como homem? A pergunta traz em si o questionamento sobre a realidade vigente de seu país nos anos 1960 e ao mesmo tempo se projeta para o futuro como uma denúncia a todo tipo de opressão.

O enunciado no corpo de Blowin´in the Wind não exige uma resposta difícil. No próprio questionamento a resposta se levanta naturalmente, deixando o interlocutor num estado de “suspenção”, onde a mente não reage com ideias preconcebidas. Blowin´in the Wind é uma canção carregada de humanidade, ela tanto absorve a sociedade da qual se tem a sua origem, como também revela o homem que a criou. É uma canção curta em relação aos dois minutos e trinta segundos de sua duração, mas tem em seu discurso a perenidade, pois, enquanto o mundo for um lugar de opressão e medo, Blowin´in the Wind levantará como um hino. O pronome interrogativo quantos é repetido buscando um sentido para a problemática criada, o levantamento do questionamento traz em seu corpo uma relação de indignação.

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O processo de segregação nos Estados Unidos faz surgir vozes, como em toda efervescência de uma revolução faz surgir líderes. E Dylan surge como um porta voz da mensagem da liberdade, convocando a todos como um sino para a luta pelos ideais. No verso “Quantas estradas um homem de andar para ser aceito como homem?” Traz em si o questionamento de um Dylan ainda jovem, mas com toda a compreensão de sua realidade, indicando que não é necessário passar por tudo na vida para ser um homem. Para Dylan a dignidade está na própria pessoa humana e não nos títulos que se carrega. A imagem da senhora Rosa Parks sendo expulsa do ônibus e presa por policiais brancos demonstra claramente o porquê de Blowin´in the Wind juntamente com a canção folclórica We Shall Overcome (que fora adaptada de um velho hino religioso negro), ter uma veemente importância no Movimento Pelos Direitos Civis. Ela surge como uma consciência, um desnudamento da realidade, uma derrota da mentira. Ela tem o poder de fazer o homem voltar para si mesmo e questionar o sentido de seus atos.

No segundo verso da primeira estrofe “Quantos mares uma gaivota irá sulcar para poder descansar na areia? ”, Dylan continua na mesma vertente questionando o esforço necessário para que se dele possa descansar. No não dito, Dylan revela a sofreguidão humana pela conquista desenfreada dos bens materiais. No terceiro verso “Quanto tempos as balas dos canhões explodirão antes de serem para sempre banidas? ”, a guerra é tratada como algo que carece de sentido, onde os diálogos são silenciados brutalmente pelas vozes das armas. No refrão “A resposta meu amigo está soprando no vento/ A resposta está soprando no vento, não é que a resposta está em qualquer lugar e sim que está presente no coração do homem. Dylan diz de forma indireta, mas todo o ouvinte sente a presença que a resposta não está numa busca árdua, e que toda mazela humana é gerada pelo egoísmo. Dylan leva a mente do ouvinte ao esquema gerado pelos Koan´s do Zen Budismo, onde a resposta está no estado natural da mente: qual o som de uma palma só? A segunda estrofe se apresenta como a primeira, com Dylan levantando questionamentos sobre a realidade da existência e qual a necessidade de ser assim: “E quanto tempo pode uma montanha existir/ antes que o mar a desfaça?/ E quanto tempo pode um povo viver sem conhecer a liberdade?/ E quantas vezes o homem deve virar a cabeça/ fingindo não ver o que está vendo?” Blowin´in the Wind é uma canção simples, sem grandes elaborações técnicas, a sua força está na sua poética. Dylan ultrapassa os problemas de seu tempo, deixando o seu texto aberto não delimitando um tempo e nem um lugar. Usando a linguagem, o homem modifica a realidade em que está inserido, atribuindo-lhe sentido. A última estrofe continua os questionamentos: “E quanta vezes deve o homem olhar para cima para poder ver o céu? /E quantos ouvidos um homem deve ter para ouvir os lamentos do povo? E quantas mortes ainda serão necessárias/ para que se saiba que já matou demais?”. A canção se encerra deixando o ouvinte num estado de perplexidade, exercendo o texto o seu sentido poético. Segundo Moises Massaud: “a característica específica da poesia reside antes na visão própria que oferece da realidade que no fato de ser expressa em versos, sua análise há de implicar, sobretudo, e em última instância, essa concepção de mundo”.

Dylan construiu um texto simples e profundo, carregado de poesia, Blowin´in the Wind fez de Dylan um poeta célebre, mas o enunciado exposto na canção não é particularmente seu, pois Blowin´in the Wind é uma canção humana, pertence a toda humanidade.

Blowin’ In The Wind

How many roads must a man walk down

Before you can call him a man?

How many seas must a white dove sail

Before she can sleep in the sand?

Yes and how many times must cannonballs fly

Before they’re forever banned?

The answer, my friend, is blowin’ in the wind

The answer is blowin’ in the wind

Yes and how many years can a mountain exist

Before it’s washed to the sea

Yes and how many years can some people exist

Before they’re allowed to be free?

Yes and how many times can a man turn his head

Pretend that he just doesn’t see?

The answer, my friend, is blowin’ in the wind

The answer is blowin’ in the wind

Yeah and how many times must a man look up

Before he can see the sky?

Yes and how many ears must one man have

Before he can hear people cry?

Yes and how many deaths will it take till he knows

That too many people have died The answer, my friend, is blowin’ in the wind

The answer is blowin’ in the wind?

Soprando No Vento

Quantas estradas um homem deve para que se possa chamá-lo de homem?

Quantos mares uma pomba branca precisará sulcar Para que possa descansar na areia?

Sim, e quanto tempo as balas de canhão voarão

Antes de serem para sempre banidas?

A resposta, meu amigo, está soprando no vento

A resposta está soprando no vento.

Sim, e quantos anos uma montanha pode existir

Antes que o mar a desfaça?

Sim, e quantos anos podem um povo existir

Sem conhecer a liberdade?

Sim, e quantas vezes um homem pode virar sua cabeça

E fingir que ele simplesmente não vê?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento

A resposta está soprando ao vento

Sim, e quantas vezes um homem precisará olhar para cima

Antes que ele possa ver o céu?

Sim, e quantas ouvidos um homem precisará ter

Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?

Sim, e quantas mortes ele causará até saber

Que pessoas demais morreram?

A resposta, meu amigo, está soprando no vento

A resposta está soprando no vento?

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