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A UnB sob a ótica feminina

Primeira

Arevista Plano B conversou com a reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão, a professora e pesquisadora que comanda uma das maiores e mais importantes universidades do Brasil. Primeira mulher no maior cargo da UnB, ela chega à metade do segundo mandato acumulando realizações em meio a muitos desafios. Geóloga de destaque internacional, torcedora entusiasmada do Fluminense e avó de primeira viagem, ela foi uma das responsáveis pela expansão da UnB para outras cidades do Distrito Fede- ral, reafirmando o papel da UnB como instituição de ensino superior que alia excelência acadêmica à inclusão social, com respeito pelos direitos humanos em todos os níveis.

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A Universidade de Brasília completou 61 anos no último dia 21 de abril. Como a senhora avalia o atual momento da Universidade?

A UnB é uma das instituições de ensino superior mais prestigiadas do país e da América Latina. Em nossa história, máximo da instituição, uma Secretaria de Direitos Humanos, ações afirmativas para a pós-graduação, dois prêmios voltados para os direitos humanos, entre outros. Este ano, a UnB aprovou três importantes iniciativas de promoção dos direitos humanos: a Política do Envelhecer Saudável, Participativo e Cidadão; a Política de Prevenção e Combate ao Assédio Moral, Sexual, Discriminações e Outras Violências; e a Política de Assistência Estudantil (Paes). São ações que buscam democratizar o acesso e a formação de qualidade dos nossos estudantes, além de garantir a permanência de estudantes, técnicas(os) e docentes com equidade. Um presente para a comunidade da UnB. formamos mais de 170 mil profissionais altamente qualificados em todas as áreas do conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento do país e para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Sonhada por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira, a UnB traz a inovação em seu DNA. Depois de resistir à ditadura militar e aos recentes ataques à nossa imagem, à ciência e ao nosso orçamento, nos mantivemos firmes. Estamos motivados para contribuir para a reconstrução do Brasil, que voltou a valorizar e respeitar a educação e a ciência. A UnB está comprometida em fazer o melhor no presente e contribuir para as principais questões do nosso tempo. Agendas como as mudanças climáticas, o acesso às tecnologias, a inteligência artificial, a justiça social, a fome, a democracia e a violência contra as mulheres estão na ordem do dia.

A emergência climática é assunto de grande relevância. A UnB vem adotando medidas de sustentabilidade?

Quais as expectativas da UnB em relação ao novo governo?

É um governo que reconhece nosso papel como instituição atuante e necessária para o desenvolvimento do Brasil.. E isso é uma notícia excelente. A educação pública volta a ser uma das prioridades para a pavimentação do caminho para chegarmos a uma sociedade menos desigual. Nossa perspectiva é de um futuro de desenvolvimento e equidade, respeito e harmonia. Mais do que nunca, devemos pensar e agir para criar o país que queremos, sem intolerância, sem devastação do meio ambiente, sem boicotes à educação pública, aos professores e à ciência, em que os direitos humanos se tornem, de fato, um dos pilares de nossa sociedade.

A

UnB demonstra comprometimento com os direitos humanos.

Quais os avanços da Universidade nesta área?

Desde que assumimos em 2016, criamos vários políticas na área de direitos humanos, que incluem uma Câmara de Direitos Humanos vinculada ao Conselho

A UnB precisa ser protagonista e instituição educadora também nesse tema tão importante para a humanidade. Desde o início do nosso mandato, fizemos várias ações. Em 2019, criamos a Secretaria de Meio Ambiente da Universidade para que a sustentabilidade e o uso racional dos recursos sejam uma meta contínua. Temos um dos maiores parques de usinas fotovoltaicas entre as universidades federais. São 12 usinas em operação, gerando economia de aproximadamente R$ 960 mil ao ano. O campus Faculdade UnB Gama é autossuficiente na geração e consumo de energia elétrica. Em 2021, a Universidade recebeu do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) atestado de compensação florestal. Agora, em 2023, destinamos 4,37 hectares de área próxima ao Centro Olímpico para revitalização do cerrado. E aumentamos a reciclagem em 68,2%. Com ações de conscientização e mudanças de hábitos, conseguimos aumentar a reciclagem em quase 70%. Separamos, em

Educa O

seis meses de 2022, mais de 25 toneladas de papel, plástico e metais.

A senhora é a primeira reitora mulher da história da UnB. Na sua avaliação, as mulheres estão avançando no ambiente acadêmico?

Hoje, mulheres já são maioria nas universidades. Na UnB, somos maioria no mestrado (52%), no doutorado (53%) e nos programas de iniciação científica (62%). Na graduação, somos iguais em quantidade (50%). Nos grupos de pesquisa certificados da Universidade, 336 têm mulheres como líderes (47,86%). Nos projetos aprovados pelo Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de Combate à Covid-19 (Copei), 113 (50,6%) têm mulheres como proponentes. Na docência, somos 45,44%. Temos também projetos de extensão de sucesso voltados para estimular meninas a ingressar nos nossos cursos de ciências exatas. Avançamos nessa questão. Mas, ainda há muito a ser feito. Em diversos cursos de ciências exatas da UnB, por exemplo, mulheres representam menos de 26% dos estudantes. E, apesar de ocuparmos em peso os espaços de pesquisa, somos menos de 10% dos que atingem o topo da carreira científica. Dos 22 Pesquisadores 1A do CNPq da UnB, 31% (7) são mulheres e 15 homens. Isso precisa mudar.

E qual a atuação da gestão para promoção dos direitos das mulheres?

Como instituição de ensino superior pública, a UnB tem a responsabilidade e o compromisso de promover a diversidade e a justiça social plenamente. Para nós, interessa permitir o acesso e garantir a permanência de mulheres e meninas no ensino superior e no mundo científico de maneira mais igualitária. Em um esforço conjunto institucional, lançamos o edital inédito “Mulheres e meninas na ciência: o futuro é agora”, para fomentar projetos que incentivem a participação de mulheres nas áreas de ciência e tecnologia. Aprovamos a Política de Prevenção de Combate ao Assédio Moral, Sexual, Discriminação e outras violências. Ano passado, criamos a Secretaria de Direitos Humanos. Em 2020, ampliamos os prazos para que docentes com produções científicas e estudantes de pós-graduação grávidas não tivessem prejuízos em comparação com os homens. Com recursos de emenda parlamentar da Bancada do DF, uma creche, designada de Centro de Ensino da Primeira Infância (Cepi), e um Centro de Pesquisa em Primeira Infância começaram a ser construídos na UnB. Este ano, esperamos entregar as obras e iniciar as atividades. Para garantir a permanência das mães na Universidade, nós criamos o Programa Auxílio Creche. O benefício de R$ 485 mensais é oferecido a estudantes de graduação em vulnerabilidade socioeconômica, com filhos de até 5 anos — que não tenham sido contemplados com uma vaga na rede pública de educação. Do início do ano passado, a UnB ampliou o número de beneficiárias de 34 para 65, atualmente. Outra iniciativa é a instalação de fraldários nos nossos campi. Até o momento, são 41 equipamentos instalados tanto em banheiros femininos quanto em masculinos. E teremos mais 38 até o fim deste ano.

A Universidade de Brasília tem mantido os índices acadêmicos mesmo com os desafios dos últimos anos?

A UnB, na verdade, tem melhorado constantemente seu desempenho. Com muita dedicação de toda a nossa equipe e da comunidade acadêmica, demos um grande salto de qualidade na pós-graduação no quadriênio 2017-2020, conforme avaliação divulgada recentemente pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). E voltamos à nota máxima – 5 – no Índice Geral de Cursos (IGC), elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira, do Ministério da Educação. Passamos por recredenciamento institucional pelo MEC em 2020, que é um processo externo que avalia toda a instituição, e também obtivemos a nota máxima (5). Nos diversos rankings internacionais divulgados em 2022, a UnB manteve-se entre as dez melhores universidades federais e entre as 15 melhores brasileiras, entre públicas e privadas. A Universidade é também destaque na América Latina e no mundo. Temos 193 pesquisadores entre os 10 mil melhores da América Latina, segundo o ranking Alper-Doger (AD) Scientific Index. Temos ainda 28 pesquisadores entre os 10% melhores do mundo. O resultado é reflexo de um trabalho sério e comprometido de toda a nossa comunidade acadêmica, discentes, docentes, técnicos e trabalhadores terceirizados. Nós direcionamos esforços e priorizamos a utilização de recursos que contribuem para a excelência acadêmica da UnB, apesar dos drásticos cortes no orçamento da nossa universidade e de apoio à pesquisa no país nos últimos anos. Além de impactar a imagem da Universidade e a capacidade de atrair excelentes estudantes, docentes e técnicos para a instituição, os indicadores acadêmicos influenciam diretamente no orçamento da instituição. Ainda temos desafios e muito a melhorar em algumas áreas e cursos.

A infraestrutura é outro desafio, certo? Há avanços na UnB?

Sem dúvida. Mesmo com todas as restrições orçamentárias, investimos mais de R$ 147 milhões em obras, desde que assumimos a gestão. São recursos próprios, do governo e de emendas federais. Nos quatro campi, são 67 obras, entre recuperação de espaços abandonados; requalificação de espaços em uso; e construções de novos prédios. E entregamos 83,5% delas para a comunidade.

A senhora pode falar um pouco sobre a campanha institucional da UnB deste ano?

A campanha “Futuro é agora” traz a Universidade de Brasília para o presente, sem esquecer seus 60 anos de existência, e projeta a instituição para construir um futuro no qual se consolide cada vez mais como uma universidade de excelência e de forte compromisso social, apta a enfrentar e superar novos desafios. Após os anos em que a pandemia de covid-19 obrigou a instituição a se reinventar para salvar vidas e a continuar cumprindo a sua missão, além de resistir aos seguidos ataques do governo federal, chegou a hora de retomar com força e muita disposição o nosso projeto de universidade: excelente, inclusivo, amoroso. Agora, portanto, já é o futuro. A iniciativa incentiva docentes, técnicos, estudantes, terceirizados e sociedade em geral a experimentar, de forma ousada, novas possibilidades para concretização de horizontes promissores. E convidamos a comunidade a se mobilizar frente à perspectiva otimista e propositiva do futuro, engajando-se na construção da Universidade que queremos.

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