
2 minute read
Qualquer Semelhança Não é Mera Coincidência
Não estamos em guerra, ou pensando melhor, vivemos em estado de beligerância sem trégua. A dor que sentimos, mesmo nós que não vivemos à época de Auschwitz, sinto ao visitar um presídio. Sei que no último estão presos pessoas que cometeram ou supostamente praticaram alguma espécie de crime, enquanto no primeiro ficavam confinados homens, mulheres e crianças, civis ou militares que eram prisioneiros de guerra e/ou políticos.
Aqui a nossa Constituição não é respeitada, pois está escrito bem legível que nenhuma pena pode passar da pessoa do réu, e ela passa...
Advertisement





Da mesma forma que não é correta nenhuma generalização, como a de dizer que “bandido bom é bandido morto”, e outras sandices similares, também não é correto nivelar os agentes penitenciários pelo seu pior contingente. Há pessoas nesse ofício que exercem seu trabalho impecavelmente. Porém como em todas as profissões há os que se julgam acima dos éditos reais, só falta se autoproclamarem como A LEI. “ Je suis la Loi, Je suis L’Etat, Le Etat c’est moi” (Luís XIV, Rei Sol). Isso tudo para dizer que a pena passa sim da pessoa do réu, que seus familiares são muitas vezes escarnecidos e desrespeitados em suas dignidades humanas. Também os encarcerados, que se encontram custodiados pelo Estado, são mais do que apenados em bis. Casos há em que são punidos em bis, em triz, e até ao modelo Auschwitz.
Leio muito acerca do preso ter que trabalhar e posso garantir que eles iam amar. O pior é ver com seus próprios olhos que as famílias quase tem que penhorar os rins para manter um parente encarcerado. Os detentos que recebem visitas de quinze em quinze dias podem receber até R$ 250,00. E ao contrário das novelas, ao entrarem no estabelecimento prisional e ao entregar seus pertences, o preso nunca mais os reaverá.
Depois de tantos governos corruptos, e muito cansados de sempre pagar o pato, o povo brasileiro começa a proferir um bocado de idiotices por aí afora. A “lavagem” que é servida aos detentos até nossos porcos recusam, mas como em tudo que existe por aqui, debaixo do Equador, posso apostar que as refeições terceirizadas são superfaturadas. Fizessem um restaurante comunitário, como os criados na gestão do Governador Roriz, onde o prato servido, com comida honesta, custava tão somente R$ 1,00.
Dois dias são sagrados no inferno: as quartas e quintas-feiras. Dois dias o inferno ascende ao patamar de purgatório, pois desde a madrugada de terça-feira uma profusão de anjos vai levar esperança, carinho e alento aos homens que ficam trancafiados num espaço para um determinado número de pessoas e que são sempre ocupados por pelo menos o triplo recomendável.
A procissão caminha, aguardam bebês, crianças, adultos e anciãos, todos carregando no peito a alegria encharcada de lágrimas, mas que não deixa de ser alegria, pelo simples fato de poderem abraçar um marido, um filho, um pai ou um neto.
A procissão passa em imensas fileiras, todos vestidos de branco como vestidos estão os encarcerados, crianças que já começam suas jornadas conhecendo o melhor retrato do inferno que existe sobre a face da terra. Branco, a cor da pureza, evoca a paz.


*Essa crônica foi escrita há dez anos.
Hoje em dia não há mais filas desorganizadas e não há crianças nelas.
Não há mais cantinas nos blocos, e sendo assim ficou proibida a entrada de dinheiro.
*Essa crônica foi escrita há dez anos.
Hoje em dia não há mais filas desorganizadas e não há crianças nelas.
Não há mais cantinas nos blocos, e sendo assim ficou proibida a entrada de dinheiro.
*Essa crônica foi escrita há dez anos.
Hoje em dia não há mais filas desorganizadas e não há crianças nelas.
Não há mais cantinas nos blocos, e sendo assim ficou proibida a entrada de dinheiro.
Os agentes, via de regra, tratam todos os visitantes com cordialidade e respeito. E as refeições continuam nojentas.
Artes Pl Sticas
Aquarela sobre papel 100% algodão

Flávia Mota Herenio @motaflaviafm