Revista Plano B Brasília n.º 04

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6 Arquitetura Não é Luxo!

8 O papel do Banco Central

36 Qualquer Semelhança Não é Mera Coincidência

38 Bob Dylan O Sino da Liberdade

42 Série Vaga-Lume: os 50 anos da coleção que estimulou prazer da leitura em milhões de jovens

12 30 18 38 24 42
12 O resgate da cultura da paz 16 Sou uma, mas não estou só 18 O amor constrói, o ódio destrói 22 O médico, os exames e o paciente
velocidade
2 4 A nova obra de Iberê Carvalho 28 A droga da
30 A UnB sob a ótica feminina 34 Pau para toda obra
SUMÁRIO

EXPEDIENTE EDITORIAL

Diretor Executivo

Chefe de Redação: Paulo Henrique Paiva

Colaboradores: Adriana Vasconcelos, Ana Beatriz Barreto, Humberto Alencar, Itamar Ramos, Romulo

Neves, Luciana Campos, Renata Dourado, Paulo

César, Wilson Coelho

Design Grafico: Alissom Lázaro

Redação: Adriana Vasconcelos

Fotografia: Ronaldo Barroso

Tiragem: 10.000 exemplares

Redação: Comentários sobre o conteúdo editorial, sugestões e criticas às matérias: planob@gmail.com

Aviso ao leitor: acesse o site da Revista Plano B e tenha acesso a todo o conteúdo na íntegra, inclusive a Revista Digital.

www.revistaplanob.com.br

Abril/2023

Ano 01 – Edição 04 – R$ 14,90

Aonde foi parar

nossa paz?

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2022) indicam que o Distrito Federal registrou, desde 2018, 5 vezes mais episódios de violência com armas de fogo do que a média nacional, enquanto o Brasil viu triplicar esse tipo de ocorrências no mesmo período.

Só em janeiro passado, houve um aumento de 79,4% nesse tipo de registros no país, segundo dados da Polícia Federal. Na capital federal, o número de ocorrências policiais envolvendo os Cacs (Colecionador, Atirador e Caçador) cresceu 754% no ano passado.

Diante desse quadro é que o deputado distrital Ricardo Vale tomou para si a missão de ajudar a implantar na capital federal uma política pela cultura da paz e pelo desarmamento da população. Esse é o objetivo do projeto que ele apresentou com o objetivo de promover o desarmamento dos moradores de Brasília e assim tentar reduzir os casos de violência com armas na cidade.

Capital federal, por anos, foi modelo de segurança pública e seus moradores se vangloriavam de poder ir e vir pela cidade sem risco de assaltos ou casos de violência recorrentes. Mas esse quadro infelizmente mudou. Reflexos não só do incentivo do governo Bolsonaro em armar a sociedade, como se isso fosse garantir a segurança, como também pelo avanço das desigualdades sociais, que abrem flanco para o aumento dos casos de violência.

Criar condições para a implantação de uma cultura de paz na sociedade não é um desafio trivial, mas deve ser buscado como propõe o deputado Ricardo Vale. Assim sendo, a revista Plano B decidiu abrir espaço nesta edição para o debate de seu projeto dentro de uma sociedade ainda dividida entre os extremos políticos. Que isso não seja usado como desculpa para não se fazer nada.

Precisamos pacificar o país, sob pena de seguirmos enxugando gelo, paralisados entre discursos de ódio, que tanto têm dificultado a governabilidade na esfera federal e também local.

Não é permitida a reprodução parcial ou total das matérias sem prévia autorização dos editores.

A Revista Plano B não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.

Pior ainda é assistir o avanço da escalada da violência dentro das nossas escolas, vitimando professores e alunos. Isso precisa mudar!

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Arquitetura Não é Luxo!

O arquiteto Henrique Coutinho, do BLOCO Arquitetos, diz que arquitetura não deve ser vista como luxo e aposta na reestruturação dos centros urbanos.

Brasília é um destaque no mundo por causa de sua arquitetura desde a sua inauguração e continua mantendo a tradição. Em abril de 2023, o projeto do Mercado Mané, complexo gastronômico situado no Eixo Monumental projetado pela equipe brasiliense do BLOCO Arquitetos, foi eleito um dos 50 melhores projetos arquitetônicos do mundo pela conceituada revista britânica Monocle, na categoria “Top Temporary Activation”. O escritório de arquitetura é reconhecido como um dos melhores do Brasil e coleciona prêmios e menções honrosas nacionais e internacionais. Aproveitando a celebração da premiação, Luciana Campos convidou o arquiteto Henrique Coutinho, da BLOCO Arquitetos, para compartilhar suas ideias sobre arquitetura e sua função na sociedade.

LC: Henrique, arquitetura é luxo? Como a arquitetura pode contribuir para uma sociedade melhor?

HC: Para nós, arquitetura é uma área do conhecimento que é vital para a criação de cidades mais belas, funcionais

e democráticas. Nesse sentido, seria essencial que o governo de cada país e cada cidade investisse em boa arquitetura para áreas e equipamentos públicos, que não é o que acontece no Brasil há mais de 50 anos, de forma geral. Por isso, hoje em dia há obviamente um descompasso entre o que fazemos e a forma como a sociedade nos enxerga, pois acabamos por nos distanciar de projetos relevantes na escala pública das cidades. Hoje em dia, muitas vezes a boa arquitetura no Brasil fica restrita a construções privadas (casas, apartamentos e alguns poucos edifícios). Dessa forma, os arquitetos também se distanciaram de algumas de suas prerrogativas profissionais mais importantes, sendo mais conhecidos por atuarem com clientes de alto poder aquisitivo. Somos formados para trabalhar em diferentes escalas de atuação e com os mais diversos programas de necessidades. Criar uma cidade, projetar uma calçada, um conjunto habitacional popular ou desenhar uma residência privada tem complexidades distintas, mas envolvem, ou deveriam envolver, o trabalho de um arquiteto e urba-

Crédito: Divulgação
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nista. Por isso, não achamos que a arquitetura deveria ser vista como um luxo, e sim como necessidade básica.

LC: Que conceitos principais você procura contemplar na elaboração de seus projetos arquitetônicos?

HC: Arquiteto é essencialmente um prestador de serviço, portanto, a base do nosso trabalho está em responder e interpretar uma demanda para que o resultado seja o mais adequado técnica, estética, financeira, cultural, construtiva e ecologicamente. Em nosso trabalho, especificamente, simplicidade e racionalidade são conceitos básicos em todos os projetos.

LC: Vocês escolheram montar o escritório do BLOCO no Setor Comercial Sul. Acredita na revitalização da área? Tem algum exemplo de projeto do BLOCO que alterou a dinâmica de um determinado local?

Sem dúvida o Setor Comercial Sul é um dos mais interessantes locais do Plano Piloto de Brasília. A reestruturação de centros urbanos de grandes cidades é uma necessidade em quase todas as capitais brasileiras, mas não é só um fenômeno nacional. Projetos urbanísticos de grande porte envolvendo o poder público, mas também a iniciativa privada, estão acontecendo em quase todos os grandes centros urbanos do mundo. É uma necessidade mundial rever o uso do carro, melhorar espaços e equipamentos públicos, diversificar o uso, pensar espaços inclusivos e seguros para o idoso e para a mulher. No Brasil há muita discussão sobre isso, mas pouquíssima ação. Acredito que podemos melhorar substancialmente nossas cidades quando unirmos a sociedade civil organizada e a política. Ocupar o SCS é parte da estratégia de discutir essa região da cidade e fazer com que ela seja social e economicamente viável. O potencial é gigante!

Em termos de algum exemplo específico no qual tenhamos trabalhado, há o Mercado Mané. Trata-se de um projeto de reaproveitamento de uma estrutura de cobertura existente ao lado do Estádio Nacional e sua transformação em um mercado gastronômico, um “oásis” no meio de uma área que foi deixada deserta e inacabada após os jogos olímpicos e Copa do Mundo, em Brasília. Sua construção mudou completamente a dinâmica de uso daquele espaço e o qualificou, mostrando possibilidades de uso para áreas similares na cidade. Recentemente esse projeto foi publicado pela importante revista britânica “Monocle”, que o premiou como um dos “50 melhores projetos de 2023” em uma lista que reúne arquitetura, design e mobiliário. O prêmio “Monocle Design Awards 2023” foi conferido na categoria “Top Temporary Activation” (Melhor Ativação Temporária). Trata-se de um projeto temporário, pois ele será desmontado em seis anos para a cons-

trução de um grande complexo comercial nos arredores do estádio. O Mercado Mané também foi um dos 15 projetos finalistas do “Prêmio Obra do Ano 2023” do Archdaily Brasil .

LC: Num país heterogêneo, com grande desigualdade social e com problemas econômicos como o Brasil, há espaço para se preocupar com arquitetura?

HC: Como disse anteriormente, infelizmente a sociedade ainda vê a nossa profissão de maneira excludente e elitista, mas podemos mudar isso agindo de maneira respeitosa e efetiva. Precisamos convencer nossos clientes a fazer menos muros, menos vagas de garagem, menos cômodos minúsculos de serviço� precisamos convencê-los a melhorar as calçadas, praças, iluminação pública. Precisamos nos envolver com governos locais, associações de classe e outras organizações comunitárias para que possamos atuar numa escala mais abrangente. Isso é pouquíssima coisa, mas faz muita diferença e pode ser um bom começo! Arquitetura, sozinha, não pode mudar o mundo. Porém, ela pode ser parte importantíssima dessa mudança.

LC: O trabalho de seu grupo é reconhecido internacionalmente e o BLOCO está entre os principais escritórios de arquitetura do país. Qual é o segredo do sucesso?

Muito trabalho, autocrítica, persistência, resiliência e acima de tudo muito respeito por quem nos contrata e por quem constrói o que projetamos. Respeito deve existir em todas as etapas do nosso trabalho, desde o cliente ao pintor. Sempre aprendemos a escutar mais do que a falar.

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Crédito: Divulgação
ARQUITETURA

O papel do Banco Central

Um dos pontos de debate atualmente é a política de combate à inflação pelo Banco Central brasileiro, que recentemente manteve a taxa básica de juros em 13,75%. Sem entrar tanto na questão técnica se este patamar de juros é ou não adequado, vamos tratar dos motivos pelos quais a inflação é um problema grave e que de fato vale a preocupação. O que é a inflação e quais suas causas?

A inflação é um fenômeno econômico no qual ocorre um aumento geral e contínuo dos preços dos bens e serviços ao longo do tempo. Quando a inflação está alta, o poder de compra das pessoas é reduzido, pois o dinheiro que possuem se torna insuficiente para adquirir a mesma quantidade de produtos ou serviços que antes. Esse processo afeta diretamente a vida das pessoas e gera uma série de problemas sociais.

Uma das principais consequências da inflação é a perda do poder aquisitivo. Com o aumento dos preços, os salários e rendimentos das pessoas acabam sendo corroídos. Mesmo que uma pessoa receba um aumento salarial, se a inflação estiver alta, esse aumento pode não ser suficiente para compensar o aumento dos preços dos produtos básicos. Dessa forma, as pessoas se veem obrigadas a fazer escolhas difíceis, cortando gastos em áreas essenciais, como alimentação, saúde e educação.

Além disso, a inflação prejudica especialmente aqueles que possuem uma renda fixa, como aposentados e pensionistas. Essas pessoas dependem de um valor pré-determinado para sobreviver, e quando os preços sobem, seus recursos se tornam cada vez mais escassos. Isso pode levar a uma deterioração das condições de vida, dificuldade em arcar com despesas básicas e até mesmo à pobreza.

Outro problema social causado pela inflação é o aumento da desigualdade. As camadas mais vulneráveis da população são as mais afetadas, uma vez que uma parcela maior da sua renda é destinada a itens básicos, como alimentos e moradia. Aqueles que possuem maior poder aquisitivo têm mais recursos para lidar com a inflação, seja investindo em ativos que acompanham o aumento dos preços ou buscando alternativas mais acessíveis.

Humberto Alencar*
8 ECONOMIA
Um pouco da discussão entre Banco Central e governo federal sobre as taxas de juros e controle da inflação.

Essa discrepância de oportunidades e recursos amplia as desigualdades sociais, agravando a pobreza e a exclusão.

Além disso, a inflação desestimula o investimento e o crescimento econômico. Empresas tendem a reduzir seus investimentos e contratações quando os preços estão instáveis, o que pode levar a um aumento do desemprego e a uma desaceleração da economia. Isso cria um ambiente de incerteza e insegurança para os indivíduos e para a sociedade como um todo, minando a confiança e gerando instabilidade social.

Por fim, a inflação também afeta negativamente os mais pobres ao aumentar os preços dos alimentos básicos. O custo dos alimentos é uma grande parte do orçamento das famílias de baixa renda, e quando os preços sobem, elas são forçadas a gastar uma proporção ainda maior de sua renda para se alimentar adequadamente. Isso pode levar à desnutrição, à fome e a problemas de saúde, além de gerar tensões sociais e protestos.

Em resumo, a inflação reduz o poder de compra das pessoas, aumenta a desigualdade, prejudica os mais vulneráveis e desestabiliza a economia. Os problemas sociais causados pela inflação são diversos e afetam a qualidade de vida e o bem-estar da população como um todo.

O Brasil tem um histórico marcado por períodos de alta inflação ao longo das últimas décadas. Desde o final da década de 1940 até meados da década de 1990, o país enfrentou uma série de episódios inflacionários que impactaram significativamente a economia e a vida das pessoas.

Durante os anos 1950 e 1960, a inflação no Brasil permaneceu relativamente controlada. No entanto, a partir da década de 1970, a inflação começou a acelerar devido a diversos fatores, como o aumento dos gastos públicos, o financiamento monetário do déficit fiscal, a indexação da economia e os choques externos do petróleo.

A década de 1980 foi marcada por um período de hiperinflação, com taxas anuais de inflação chegando a patamares elevadíssimos. O país enfrentou sucessivos planos econômicos, como o Plano Cruzado (1986), o Plano Bresser (1987) e o Plano Verão (1989), que buscavam controlar a inflação, mas tiveram resultados efêmeros.

Em 1990, o governo implementou o Plano Collor, que congelou as contas bancárias e promoveu a abertura da economia. No entanto, a inflação persistiu alta, levando à necessidade de um novo plano econômico. Foi somente com o Plano Real, lançado em 1994, que o Brasil conseguiu estabilizar a economia e controlar a inflação de forma mais duradoura. O Plano Real adotou uma série de medidas, como a criação de uma nova moeda, a implantação de um regime de metas de inflação, a manutenção de uma política monetária rigorosa e o controle dos gastos públicos.

Ao longo das últimas décadas, o Brasil registrou avanços no controle da inflação. As taxas de inflação anual têm se mantido dentro das metas estabelecidas pelo Banco Central. No entanto, ainda existem desafios a serem enfrentados, como a redução da inflação de serviços, a melhoria da eficiência do sistema tributário e a busca pela estabilidade macroeconômica em um contexto de incertezas políticas e econômicas.

É importante destacar que a estabilidade da inflação é fundamental para o crescimento econômico, a distribuição de renda e o bem-estar da população. O controle efetivo da inflação é

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Foto: Divulgação
ECONOMIA

um objetivo central das políticas econômicas no Brasil, buscando garantir um ambiente econômico mais estável e previsível para os agentes econômicos e a sociedade em geral.

Existem várias medidas que podem ser adotadas para controlar a inflação. A seguir, vou descrever algumas das principais estratégias utilizadas:

Política Monetária Contracionista: O Banco Central pode adotar uma política monetária contracionista, aumentando a taxa de juros básica da economia. Isso torna o crédito mais caro, desestimulando o consumo e o investimento, o que ajuda a reduzir a demanda e, consequentemente, controlar a inflação. Atualmente a política monetária do Banco Central do Brasil vai nessa linha.

“A inflação prejudica especialmente aqueles que possuem uma renda fixa, como aposentados e pensionistas. Essas pessoas dependem de um valor pré-determinado para sobreviver, e quando os preços sobem, seus recursos se tornam cada vez mais escassos.”

Política Cambial: Em países onde a inflação está relacionada à desvalorização da moeda, o Banco Central pode intervir no mercado cambial para controlar a inflação. Por exemplo, pode comprar moeda estrangeira para aumentar a demanda pela moeda local, valorizando-a e reduzindo os preços dos produtos importados.

Essas são as três linhas típicas de atuação no controle da inflação, por isso se fala tanto na relação entre o Novo Arcabouço Fiscal que o governo mandou para o Congresso Nacional, e em como o Banco Central pode combinar essa proposta numa queda gradual da taxa de juros da economia. O fato é que normalmente para problemas complexos não existem soluções fáceis.

Vamos ver as cenas dos próximos capítulos.

Política Fiscal: O governo pode adotar medidas fiscais para controlar a inflação. Isso inclui reduzir os gastos públicos, aumentar a arrecadação de impostos ou adotar políticas de austeridade fiscal, visando equilibrar as contas públicas e reduzir a pressão sobre os preços.

* Humberto Nunes Alencar, servidor público, Analista de Orçamento do Ministério do Planejamento, mestre em economia e doutorando em Direito pelo IDP.

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ECONOMIA

O resgate da cultura da paz

Essa é uma das prioridades do mandato do deputado distrital Ricardo Vale

O deputado distrital Ricardo Vale iniciou uma cruzada que tem como meta implantar na capital federal uma política pela cultura da paz e pelo desarmamento da população. Esse é o objetivo do projeto que apresentou na Câmara Distrital que estimulará o desarmamento dos moradores da cidade e assim tentar reduzir os casos de violência com armas na cidade, que dispararam nos últimos anos com a política do governo federal que estimulou os brasileiros a se armarem.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2022) apontam que o DF contabilizou, desde 2018, 5 vezes mais episódios de violência com armas de fogo do que a média nacional, que viu essas ocorrências triplicarem neste período. Só

em janeiro passado, houve um aumento de 79,4% nesse tipo de registros no país, segundo dados da Política Federal. Na capital federal, o número de ocorrências policiais envolvendo os Cacs (Colecionador, Atirador e Caçador) cresceu 754% no ano passado.

Na sua opinião, as armas precisam estar nas mãos de quem tem preparo para usá-las. O deputado alerta ainda que outro fator preocupante é que grande parte das armas compradas após o relaxamento das leis em vigor, acabam caindo nas mãos de bandidos. Assim, defende: “Precisamos de campanhas permanentes de desarmamento, pregar o amor e a paz entre as pessoas”.

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Brasília segue com um eleitorado ainda muito alinhado ao bolsonarismo. Quais as chances de sua proposta de desarmamento passar na Câmara Distrital?

As chances são boas, porque queremos trabalhar e há entendimento nessa casa e também do ponto de vista científico de que muito mais armas, mais violência. Tenho acompanhado pesquisas sobre isso, portanto não vejo dificuldades. Não cabe ao projeto que estamos apresentando coibir ou proibir as pessoas de obterem suas armas, só achamos que a coisa está exagerada, o uso e propaganda sobre armas, muita gente dizendo que armas protege, que dá segurança, e estamos vendo que não é por aí. A quantidade de armas que foram adquiridas em consequência do relaxamento das leis nos últimos tempos, fez com que aumentasse a violência, seja em homicídios, feminicídios e outros crimes com armas. O número de ocorrências com CACs também aumentou.

As armas precisam estar nas mãos de quem tem preparo para isso. Outro fato preocupante é o fato de que grande parte das armas compradas com as leis relaxadas, acabam caindo nas mãos de bandidos. Desse modo, o projeto será

aprovado e ganhando apoiadores, assim que formos explicando aos deputados daqui e ele for tramitando nas comissões necessárias.

Outro fato importante, é que no DF houve casos de clubes de tiros com participação de crianças, e também exposição dessas crianças com armas e ao lado de adultos com armas. Essa exposição, seja na TV, Redes Sociais ou outros veículos, acabam contaminando as crianças e induzindo elas a pensarem que as armas são a melhor defesa.

A violência nas escolas e o aumento do número de ataques a professores e colegas está assustando o país. Como reagir a isso?

Com medidas concretas para melhorar a segurança nas escolas, impedindo que alunos entrem armados nas escolas, que haja um controle melhor. Policiais nas portas das escolas com rondas ostensivas. Na época em que eu estudava, me sentia muito seguro, policiais fora da escola, a dupla Cosme e Damião, sempre estudei em escolas públicas. Há necessidade de aumentar o efetivo do Batalhão escolar. Fazer campanhas educativas, acabar com essa coisa de que todo mundo armado é seguro. Precisamos mostrar para as crianças e jovens que

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“Outro fato preocupante é o fato de que grande parte das armas compradas com as leis relaxadas, acabam caindo nas mãos de bandidos.”

esse não é o caminho, precisamos criar e difundir uma cultura de paz, menos armas é menos violência, é menos crimes. Precisamos de campanhas permanentes de desarmamento, pregar o amor e a paz entre as pessoas.

Como o senhor avaliar a última pesquisa do Paraná Pesquisas mostra que a aprovação do governador Ibaneis em 67%, mesmo depois de passar os primeiros meses de seu mandato afastado? Enquanto que o presidente Lula é rejeitado por 58% dos entrevistados.

Acho natural. Nós estamos aí aos 4 meses de um novo governo Lula no país e no Distrito Federal do segundo Governo Ibaneis, no DF o Governo Bolsonaro foi muito bem votado. O Ibaneis inclusive é da base do Bolsonaro, Brasília é uma cidade extremamente conservadora, os próprios votos mostraram isso. Ibaneis foi eleito do primeiro turno, o presidente Lula ficou em segundo lugar aqui, Bolsonaro ganhou, e você não muda a conjuntura assim em apenas quatro meses.

O Governo Lula tem buscado retomar políticas públicas importantes para ajudar as pessoas mais pobres, trabalhadores que ao longo desses quatros anos tiveram um retrocesso muito grande no emprego, no salário, e Ibaneis foi tão bem avaliado que inclusive ganhou a eleição no primeiro turno.

Então, eu acho que a gente tem que dar tempo ao tempo, certamente, e eu espero _ que tanto aqui no âmbito do Distrito Federal, como no nacional _ coisas melhores para os trabalhadores, para o povo brasileiro, que tudo possa ir melhorando no decorrer do tempo, e certamente acontecendo isso, eu tenho muita esperança, realmente do governo federal, onde as coisas vão andar bem logo, e a avaliação do presidente Lula será melhor.

O senhor tem acompanhado a CPI da Câmara Distrital que apura os ataques de 8 de janeiro às sedes dos 3 Poderes?

Eu tenho acompanhado assim um pouco mais de longe, devido a uma série de atribuições que eu tenho aqui como vice-presidente. Mas acredito que os deputados que compõem a CPI têm feito um bom trabalho. Na minha avaliação, a Câmara Legislativa tem dado uma resposta para sociedade do Distrito Federal, saiu na frente nessas investigações e só agora o Congresso Nacional está desenhando uma CPI.

A gente já está bem adiantado aqui sobre esses episódios, um trabalho importante que está sendo feito pela Câmara Legislativa, em um trabalho conjunto da base e da oposição. Espero que o resultado final possa mostrar as pessoas que responsáveis pelos tristes atos de 8 de janeiro de 2023 contra a democracia. Enfim, quem tiver que pagar que pague pelas

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consequências. Avalio como positivo até agora o trabalho da nossa Câmara, quero reforçar e parabenizar todos os deputados que estão ali na linha de frente dessa CPI.

Deputado, o senhor gostaria de falar mais alguma coisa em relação ao projeto?

Gostaria de agradecer a disposição e o trabalho da Revista Plano B Brasília. Estamos aqui sempre à disposição. Estamos muito felizes com o nosso mandato, com esse projeto. Certamente é polêmico, já tem muitas críticas chegando, mas essas críticas são de pessoas que desconhecem o projeto e acham que eu estou querendo impedir as pessoas de terem suas armas, e não se trata disso.

São entrevistas como essa que vão ajudar a gente a desmitificar e divulgar a ideia central desse projeto. A gente quer que a Polícia esteja armada, bem equipada e pronta para combater o crime. Mas também não queremos ver uma sociedade totalmente armada e pessoas despreparadas em posse de armas.

O nome da revista é Plano B, qual o seu plano B?

Existe o plano A e acredito não ser preciso o B. Essa lei vai dar certo. Se precisar de algumas modificações, que possam vir para melhorar. Sugestões dentro das comissões, certamente virão e serão bem-vindas. Na audiência pública as pessoas poderão dar sugestões. Estamos vendo que as pessoas não estão entendo a proposta, e é bom para provocarmos o debate.

Foto: Clube de Tiro em Jataí GO, reprodução Metrópoles
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Foto: Clube de Tiro em Jataí GO, reprodução Metrópoles

Sou uma, mas não estou só

Esse é o mantra que entrou na minha vida desde que conheci Gabriela Rollemberg , advogada, cientista política e cofundadora do laboratório de inovação política ‘Quero Você Eleita’, do qual me tornei consultora em 2022.

Meu primeiro contato com Grabriela foi em janeiro de 2021, em plena pandemia, quando organizei uma série de encontros virtuais da então candidata à Presidência do Senado e atual ministra do Planejamento, Simone Tebet , com diferentes lideranças políticas, entre elas a empresária Luiza

Nossos destinos voltaram a se cruzar, desta vez definitivamente, durante a campanha eleitoral do ano passado, quando fui convidada para integrar o incrível time de consultoras da ‘Quero Você Eleita’, com especialistas de diferentes áreas, mas todas com o mesmo objetivo: transformar o mundo que vivemos, garantindo mais respeito e espaço para mulheres.

Minha primeira missão foi organizar com Gabriela o lançamento da campanha ‘Seja Semente de Paz nas Eleições’, em apenas 2 semanas, para coincidir com um evento que a ‘Quero Você Eleita’ havia organizado em Brasília e reuniu cerca de 300 candidatas de todo o país.

A iniciativa ganhou de pronto o apoio de todas as mídias do Correio Braziliense e de 3 das 4 então candidatas à Presidência: Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Vera Lúcia (PSTU), reforçando que as mulheres na política conseguem atuar e se posicionar de maneira suprapartidária em favor de pautas que as unem, sobretudo quando visam o bem estar comum.

Tal comportamento não representa uma novidade para quem acompanha a atuação das bancadas femininas da Câmara e do Senado, que encontraram justamente na união de forças e em ações suprapartidárias o melhor caminho para conquistar suas vitórias, mesmo sendo ainda minoria nas 2 casas do Legislativo.

Essa, aliás, é uma característica típica de lideranças femininas, que no exercício do Poder costumam demonstrar mais empatia e jogo de cintura para lidar com crises, afinal de contas somos treinadas para sobreviver desde cedo em uma sociedade ainda patriarcal.

A mensagem de paz que levamos às candidatas e eleitores no ano passado, em meio ao acirramento da disputa eleitoral, segue sendo necessária na política e também na sociedade de um modo geral.

Assim sendo, a ‘Quero Você Eleita’ está reeditando sua campanha: ‘Seja Semente de Paz na Política’, ainda que estejamos mais dispostas do que nunca a defender as conquistas garantidas até aqui e organizadas para impedir retrocessos.

O novo desafio que desponta no horizonte está vinculado à uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) apresentada pelo deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), que visa anistiar mais uma vez as legendas que não destinaram os 30% dos recursos do Fundo Eleitoral ao financiamento de candidaturas femininas e de negros, conforme determina agora a Constituição.

A ideia é estimular os segmentos femininos e negros dos partidos a se sentarem desde já na mesa de negociação e tentarem fazer do limão uma limonada. Uma das possibilidades em discussão pode ser a adoção de um percentual mínimo de cadeiras nas Câmaras Municipais a partir das eleições do próximo ano. Vitórias futuras dependerão novamente da nossa capacidade de mobilização e união, para assegurarmos mudanças efetivas na forma de se fazer política no Brasil. A diversidade de olhares já garante maior lucro para empresas com mais mulheres em cargos de comando. Imagina a diferença que esses olhares podem fazer no debate de políticas públicas?

“A ideia é estimular os segmentos femininos e negros dos partidos a sentar desde já na mesa de negociação e tentar fazer do limão uma limonada, de forma de que a anistia proposta tenha como contrapartida a criação de um Fundo Provisório.”
Adriana Vasconcelos*
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*Adriana Vasconcelos, jornalista e consultora da AV Comunicação Estratégica e da ‘Quero Você Eleita’
POLÍTICA

O amor constrói, o ódio destrói

Confira esse projeto de escuta popular lançado em abril que busca levar esperança aos brasilienses

As mulheres socialistas do Distrito Federal, em parceria com o Fórum Brasiliense de Ética Eco-Política-Social e o Instituto Josefina Serra realizou no dia 29 de abril, na Cidade Estrutural, o primeiro evento, de uma série de 9 que serão realizados em distintas áreas administrativas do DF no decorrer do ano de 2023, para implantar o projeto de escuta popular denominado: “O amor constrói, o ódio destrói”.

falar de rua quando é também esgoto a céu aberto?

Qual a discrepância entre o eixo monumental e essas ruas”

O Brasil é um país diverso, reconhecido e admirado mundialmente tanto pelas suas riquezas naturais, bem como pela população alegre, criativa, resiliente e trabalhadora que ocupa os quatro cantos da nação. Mas, é sabido também das condições de desigualdades sociais que permeiam as comunidades em situação de vulnerabilidades que atingem, em grande medida, os mais pobres, os negros, as mulheres e as crianças nos seus territórios periféricos.

Yara Gouvêa, Izete Santos, Adriano Sandri e Luize Lima da Rosa
“Como
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Nos últimos 4 anos vimos o avanço vertiginoso das violências e do ódio que afetou diversos setores da população brasileira, tais como a educação, a saúde, a geração de emprego e renda, a moradia, a segurança pública. Diante de tal realidade não podemos deixar de proceder à escuta popular do povo dessas regiões do Distrito Federal, levando a eles a esperança de que possamos assim contribuir para com um Brasil com menos desigualdade social, menos racista, com menos violência e mais afetividade entre os humanos.

A grande lição que nos foi dada na Cidade Estrutural foi a de que o discurso do ódio legitima e perpetua a banalização da segregação na sociedade - e da compartimentalização no pensamento, fomentando o conflito social e a confusão política. O povo não possui os meios ou o tempo para tratar de pensar a política em bons jantares e em caras salas de reunião.

Cumpre, portanto, a nós insistir, peregrinar e inovar em diálogos e reuniões possíveis dentro da realidade social popular. Não permitindo a rendição ao ódio - que destrói e busca transformar a todos em verdadeiros analfabetos políticos. Mas, sim, fomentando o entendimento do potencial do amor, que constrói, por meio da facilitação do entendimento político e suas ramificações no exercício da cidadania ativa na vida cotidiana, pela prática de um pensamento norteado pela ética.

Ao apresentar o Fórum de Ética ao grupo de mulheres catadoras de lixo recicláveis, que moram na Cidade Estrutural

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COMPORTAMENTO

COMPORTAMENTO

de Brasília _ mulheres na sua grande maioria mães solas_, foi falado sobre a necessidade de voltarmos aos tempos antigos, 2.000 anos atrás, quando as pessoas se reuniam na praça, que se chamava fórum, para conversar sobre todas as questões comuns às pessoas que moravam nas redondezas do fórum, daquela praça. Conversar sobre os problemas comuns era conversar sobre a ética. Assim foi introduzida a atividade e a conversa com aquele grupo de mulheres catadoras de lixo recicláveis, cuja maior preocupação, devemos sinalizar, é a criação de seus e seus/suas filhos/as.

O encontro foi realizado em uma creche, que abriga de dia as crianças, permitindo às suas mães que saiam da Estrutural e entrem no território da capital para ganhar o sustento da família. A estrutura da creche é muito precária, como toda estrutura das habitações do lugar, muitas de lata, quase nenhuma de tijolos, as “ruas” de lama, com o esgoto correndo no meio.

Como falar de rua quando é também esgoto a céu aberto? Qual a discrepância entre o eixo monumental e essas ruas?

Nossa convivência de três horas com as mulheres daquela comunidade terminou com uma ação simbólica:

Plantamos um Ipê!!!

Naquele intricado espaço em que vivem centenas ou milhares de pessoas, não vimos uma só árvore. Mais um sinal de degradação da nossa sociedade. Talvez a nossa Constituição sonhe com uma vida ecológica.

É um sonho ético realizável?

O amor constrói, e fomos testemunhas de que através dele podemos realizar o sonho que se vislumbra nos olhares profundos e encantadores das crianças, filhos e filhas daquelas mulheres, que teimam em viver num espaço físico conquistado na beira daquilo que foi o maior empreendimento imobiliário brasileiro do século XX: Brasília....

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O médico, os exames e o paciente

Frequentemente atendo em meu consultório pessoas me pedindo que eu lhes solicite o maior número de exames possível: “Doutora, me investigue dos pés à cabeça, peça todos os exames que puder”. Muitas vezes, nem têm queixas clínicas relevantes, mas são motivados pelo grande medo de doenças ou da morte. Outras vezes, pacientes me mandam resultados de exames pelo WhatsApp me perguntando se está tudo bem. Não me contam nem o que estão sentindo, mas estão preocupados em saber o que mostram os números e os laudos. Preciso, nesses casos, explicar-lhes que não é possível interpretar exames sem ter uma suspeita clínica levantada numa consulta clínica adequada. Isso tem me feito questionar: quando foi que nós médicos deixamos nossos pacientes terem a impressão de que o resultado de exames é mais importante que a cuidadosa escuta da sua história, um exame físico minucioso e a elaboração de um bom raciocínio clínico?

É importante entender que os exames são pequenas amostras de um todo muito complexo representado pelo organismo humano. Não é possível avaliar toda a saúde de um indivíduo através de exames de sangue, como pensa uma boa parte das pessoas leigas. Cada doença tem alterações laboratoriais específicas e é preciso formular uma suspeita diagnóstica antes de solicitá-los. Além disso, todo exame tem uma taxa de falsos positivos e de falsos negativos, e o médico tem que considerar prosseguir com a investigação de sua hipótese diagnóstica mesmo que um exame solicitado não mostre o resultado que era inicialmente esperado. Mesmo os exames de imagem, que estão cada vez mais avançados e precisos, têm limitações diagnósticas porque mostram apenas as anormalidades anatômicas e não o funcionamento dos sistemas. Ainda é preciso considerar que os sintomas associados a uma doença não dependem só da disfunção orgânica do corpo, mas também da interação com o sistema psíquico do doente.

E o que dizer, então, dos exames preventivos, solicitados mesmo quando o indivíduo investigado não sente nada? Sim, há situações em que há espaço para estratégias de prevenção, mas essas devem ser muito bem pensadas e referendadas por estudos científicos, que levam em consideração a prevalência das doenças em determinadas populações e faixas etárias. É recomendada, por exemplo, a realização de mamografia em mulheres acima dos 50 anos para a prevenção do câncer de mama. A realização de colonoscopia para prevenção do câncer de intestino é recomendada em pessoas com 45 anos ou mais. O exame do colo do útero deve ser rotineiramente realizado em mulheres em idade entre 25 e 65 anos de idade. Essas estratégias comprovadamente aumentam as taxas de detecção de câncer e a prevalência elevada dessas doenças em nossa população justifica os custos. Isso pode se refletir na diminuição de mortes por essas doenças. Não adianta, por outro lado, recomendar estratégias de prevenção para doenças mais raras, pois o aumento do número de casos detectados não justifica os custos e o trabalho. Concluindo, o que queiro deixar como mensagem é que solicitar múltiplos exames não é sinal de melhor cuidado com a saúde. A boa prática médica está em saber solicitar os exames corretos com racionalidade, evitando assim gastos desnecessários e o desgaste do paciente. Precisamos urgentemente voltar a valorizar a boa consulta, onde há escuta, atenção, empatia e cuidado. Isso sim, vai se refletir em resultados mais satisfatórios e ganhos para todos os lados envolvidos.

* Luciana Campos é médica gastroenterologista da rede pública e privada, mestre em Ciências Médicas pela USP e pesquisadora clínica no L2 Instituto de Pesquisas. IG: @lucianatcampos.

Luciana Campos *
“Precisamos urgentemente voltar a valorizar a boa consulta, onde há escuta, atenção, empatia e cuidado. Isso sim, vai se refletir em resultados mais satisfatórios e ganhos para todos os lados envolvidos.”
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Rócio Barreto

A nova obra de Iberê Carvalho

Um projeto que contou com R$ 725 mil do Fundo de Apoio à Cultura

Ocineasta Iberê Carvalho prepara-se para estrear em Brasília seu novo filme: “O homem cordial”. A obra teve como inspiração sua indignação com o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef e conta a estória de um roqueiro em um país de meias verdades e traz Paulo Miklos no papel principal. Feliz com a repercussão da nova obra, Ibere conta nesta conversa com a revista Plano B seus planos para o futuro.

Qual a emoção de estrear o novo filme a Brasília?

Ah, é sempre bom estrear um novo filme, né? Situação que é um pouco mais rara do que eu gostaria, mas é sempre bom mostrar o filme na minha cidade para as pessoas que eu

conheço, com meus familiares, sobretudo no cinema onde eu aprendi a ver filme brasileiro, que é o Cine Brasília.

Qual a inspiração da estória de um roqueiro em um país de meias verdade?

Bom, a inspiração do filme nasceu de uma indignação, de uma sensação de impotência. Ali em 2016, vendo o impeachment da presidente Dilma acontecer em um país cada vez mais dividido e com a redes sociais como elemento central. Nessa nova forma de atuação política, nessa nova forma de manipulação das massas. Aí, certo dia eu vi a notícia do Chico Buarque sendo atacado em frente de um restaurante no Leblon, simplesmente pela sua opinião política. As pessoas se

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CINEMA

acham no direito de cercear opinião do outro. E ali foi a sementinha do roteiro do Homem Cordial.

Como classifica atuação de Paulo Miklos neste filme?

Paulo Miklos é um ator especial, assim, muito inteligente, intuitivo, até por não ter uma formação em artes cênicas. É um ator muito generoso com as pessoas, um workaholic também. O Paulo saía do set e ia fazer show, no outro dia de manhã já estava no set de novo. É um cara que gosta muito de trabalhar, então acho que esse filme não funcionaria com qualquer ator. E o sucesso do filme agora, esse retorno positivo que a gente está tendo do filme é uma consequência do trabalho do Paulo Miklos.

O filme conta com recursos de R$ 725 mil do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Qual a importância do financiamento a cultura brasileira, que se viu abandonada nos últimos anos?

Sim o filme conta com dinheiro do FAC e conta com dinheiro também do fundo setorial do áudio visual. É fundamental que existam linhas de fomento e de apoio a cultura brasileira. A UNESCO defende que pelo menos 2% do PIB do país seja investido em cultura, fala que isso é um investimento, não é um gasto. E o FAC, que é o Fundo de Apoio à Cultura, a lei que rege o FAC, determina que 0,3% do arrecadado pelo GDF seja usado para o financiamento da cultura. Então isso fica muito aquém do que recomenda a UNESCO, a ONU, só que mesmo assim já é um impacto tremendo na produção cultural local e fundamental não só para a sobrevida dos artistas, mas também para que a cidade tem a sua história e a sua riqueza em material ali registrada, guardada para próxima gerações. E que a gente evolua, enquanto cidade, enquanto Estado, enquanto país. E isso vale também para os investimentos nacionais. É um equívoco pensar que isso é uma coisa que só acontece no Brasil, vários países investem pesado no seu cinema, inclusive os Estados Unidos, que é um grande exemplo do neoliberalismo e da iniciativa privada, tem muito dinheiro governamental, dinheiro público investido nas

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produções de Hollywood inclusive. Então, eu vejo como um acerto os investimentos do governo. Só um governo muito míope e equivocado corta os investimentos na cultura.

Quais são seus projetos futuros?

Bom, eu tenho vários projetos futuros. Estou para dirigir, pois está em fase de quase pré-produção de uma série documental chamada como nasce os heróis, um longa que vai ser produzido pela O2 filmes do Fernando Meireles chamado “O menino que não existia”, que dialoga muito com o “O homem cordial”. Estou também com um próximo filme que é um projeto que vai acontecer em breve, é um filme para crianças, projeto de cinema para o público infantil chamado “Liga das estrelas”, escrito pela Renata Mestra, uma roteirista carioca muito talentosa que acabou que escreveu o Maria esse filme que eu acabei de lançar na Globo, na Globo Brasília e no Globoplay.

O filme em Brasília teve a receptividade imaginada?

Foi maravilhoso ver o cine Brasília lotado para ver a pré-estreia do filme. Um filme que estava sendo muito aguardado, então acho que Brasília deu sim, uma receptividade boa para o filme. E espero esse retorno de público também na sala de cinema enquanto o filme tiver em cartaz. É muito importante para a gente que as pessoas vejam o filme no cinema. E é muito importante que o público de Brasília vá ao cinema para ver o cinema brasiliense, esse é um é um filme brasiliense e filmado em são Paulo, e se o público abraçar o filme, for cinema assistir, com essa característica de um filme de Brasília, ficar ainda mais marcante. Então estou muito curioso para ver como é a resposta nas salas de cinema, o filme está no cine Brasília, No Liberty Mall, no Casapark, mas só ficará mais tempo se as pessoas forem assistir, caso contrário sai de cartaz.

Considerações finais, fique à vontade para falar o que quiser.

Quero dizer que o Homem Cordial é um trailer de suspense, um filme que está sendo classificado por muitos críticos e muita mídia especializada como um filme agoniante, necessário, urgente e que fala sobre o Brasil. Então é muito importante que as pessoas vão assistir nos cinemas para sentir a máxima potência do filme e também para valorizar o cinema nacional.

26 CINEMA
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MOBILIDADE

A droga da velocidade

Há quem diga que a velocidade produz nas pessoas efeito similar ao das drogas. Não conheço estudos científicos que confirmem isso, nem tenho qualificação para empreendê-los, mas ouso fazer uma suposição. Podemos não saber no caso dos indivíduos, mas há fartos indícios de que a velocidade é uma droga para a sociedade.

A percepção que temos é a de que incrementos de velocidade nos trazem grandes benefícios em termos de ganho de tempo. Ou, de forma mais intuitiva, reduções de velocidade provocam perdas inaceitáveis no nosso precioso tempo. Mas será que é isso mesmo? Se examinarmos essas perdas e ganhos com racionalidade confirmaremos mesmo a grandeza dessas percepções?

Um exercício que gosto de fazer com meus alunos é pedir para eles calcularem quanto tempo economizariam percorrendo a 80 km/h os aproximadamente quinze quilômetros do Eixão, entre a Ponte do Bragueto e o Viaduto Camargo Corrêa, sem precisar reduzir a velocidade no Buraco do Tatu, em comparação com a realização do mesmo percurso a 60 km/h.

A título de curiosidade, especialmente para quem não mora em Brasília, quinze quilômetros em um ambiente urbano é uma distância bastante considerável, que raramente se consegue percorrer de forma contínua, ininterrupta. Tudo bem, no Rio de Janeiro corresponde mais ou menos à extensão da Ponte Rio-Niterói. Mas em geral são trajetos saturados, com retenções e interrupções. Se estivéssemos falando da Região Metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, quinze quilômetros é mais ou menos a distância entre o centro da cidade e o município de Betim. Ou, saindo do centro de S. Paulo, rodando quinze quilômetros consegue-se atravessar Osasco e chegar a Barueri. Ou seja, percursos longos e demorados.

Em Brasília, porém, mantendo a velocidade estável na marca de 80 km/h, é possível cruzar a cidade de Norte a Sul

em pouco mais de 11 minutos. E se a viagem se der a 60 km/h, gastam-se apenas 3 minutos e 45 segundos mais. Isso mesmo. Se as autoridades de trânsito do DF propusessem a impopular redução do limite de velocidade no Eixão, provavelmente enfrentariam pesadíssimas reações, mas estaríamos falando de uma perda de menos de quatro minutos, tempo que só dá para tomar um cafezinho se ele estiver frio.

Em termos de segurança, porém, que racionalmente deveria contar mais que as percepções e falsas sensações, deveríamos estar falando de vidas poupadas. Estudos sérios estimam que, em casos de atropelamentos a 30 km/h, 5% das vítimas morrem. A 50 km/h, a taxa de mortos já chega a 45%. A 80 km/h, nenhum atropelamento deixa sobreviventes. Isso porque a energia envolvida no impacto não é proporcional à velocidade, mas ao quadrado dela. Em outras palavras, quando a velocidade dobra, o impacto do atropelamento é multiplicado por quatro.

Essa é que é a dura realidade. Ou seja, se quisermos mesmo falar de uma política de combate às drogas que realmente impactam na população, incapacitando pessoas, ceifando vidas e desagregando famílias, a velocidade precisa figurar como séria candidata a alvo número um.

* Paulo Cesar Marques da Silva é professor da área de Transportes da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília. Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia (1983), mestrado em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e doutorado em Transport Studies pela University of London (University College London) (2001).

Paulo Cesar Marques da Silva *
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“A título de curiosidade, especialmente para quem não mora em Brasília, quinze quilômetros em um ambiente urbano é uma distância bastante considerável, que raramente se consegue percorrer de forma contínua, ininterrupta.”

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A UnB sob a ótica feminina

Primeira

Arevista Plano B conversou com a reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão, a professora e pesquisadora que comanda uma das maiores e mais importantes universidades do Brasil. Primeira mulher no maior cargo da UnB, ela chega à metade do segundo mandato acumulando realizações em meio a muitos desafios. Geóloga de destaque internacional, torcedora entusiasmada do Fluminense e avó de primeira viagem, ela foi uma das responsáveis pela expansão da UnB para outras cidades do Distrito Fede-

ral, reafirmando o papel da UnB como instituição de ensino superior que alia excelência acadêmica à inclusão social, com respeito pelos direitos humanos em todos os níveis.

A Universidade de Brasília completou 61 anos no último dia 21 de abril. Como a senhora avalia o atual momento da Universidade?

A UnB é uma das instituições de ensino superior mais prestigiadas do país e da América Latina. Em nossa história,

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mulher a assumir a reitoria da instituição, Márcia Abrahão não foge da responsabilidade de promover a diversidade dentro da universidade

máximo da instituição, uma Secretaria de Direitos Humanos, ações afirmativas para a pós-graduação, dois prêmios voltados para os direitos humanos, entre outros. Este ano, a UnB aprovou três importantes iniciativas de promoção dos direitos humanos: a Política do Envelhecer Saudável, Participativo e Cidadão; a Política de Prevenção e Combate ao Assédio Moral, Sexual, Discriminações e Outras Violências; e a Política de Assistência Estudantil (Paes). São ações que buscam democratizar o acesso e a formação de qualidade dos nossos estudantes, além de garantir a permanência de estudantes, técnicas(os) e docentes com equidade. Um presente para a comunidade da UnB.

A emergência climática é assunto de grande relevância. A UnB vem adotando medidas de sustentabilidade?

formamos mais de 170 mil profissionais altamente qualificados em todas as áreas do conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento do país e para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Sonhada por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira, a UnB traz a inovação em seu DNA. Depois de resistir à ditadura militar e aos recentes ataques à nossa imagem, à ciência e ao nosso orçamento, nos mantivemos firmes. Estamos motivados para contribuir para a reconstrução do Brasil, que voltou a valorizar e respeitar a educação e a ciência. A UnB está comprometida em fazer o melhor no presente e contribuir para as principais questões do nosso tempo. Agendas como as mudanças climáticas, o acesso às tecnologias, a inteligência artificial, a justiça social, a fome, a democracia e a violência contra as mulheres estão na ordem do dia.

Quais as expectativas da UnB em relação ao novo governo?

É um governo que reconhece nosso papel como instituição atuante e necessária para o desenvolvimento do Brasil.. E isso é uma notícia excelente. A educação pública volta a ser uma das prioridades para a pavimentação do caminho para chegarmos a uma sociedade menos desigual. Nossa perspectiva é de um futuro de desenvolvimento e equidade, respeito e harmonia. Mais do que nunca, devemos pensar e agir para criar o país que queremos, sem intolerância, sem devastação do meio ambiente, sem boicotes à educação pública, aos professores e à ciência, em que os direitos humanos se tornem, de fato, um dos pilares de nossa sociedade.

A

UnB demonstra comprometimento com os direitos humanos.

Quais os avanços da Universidade nesta área?

Desde que assumimos em 2016, criamos vários políticas na área de direitos humanos, que incluem uma Câmara de Direitos Humanos vinculada ao Conselho

A UnB precisa ser protagonista e instituição educadora também nesse tema tão importante para a humanidade. Desde o início do nosso mandato, fizemos várias ações. Em 2019, criamos a Secretaria de Meio Ambiente da Universidade para que a sustentabilidade e o uso racional dos recursos sejam uma meta contínua. Temos um dos maiores parques de usinas fotovoltaicas entre as universidades federais. São 12 usinas em operação, gerando economia de aproximadamente R$ 960 mil ao ano. O campus Faculdade UnB Gama é autossuficiente na geração e consumo de energia elétrica. Em 2021, a Universidade recebeu do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) atestado de compensação florestal. Agora, em 2023, destinamos 4,37 hectares de área próxima ao Centro Olímpico para revitalização do cerrado. E aumentamos a reciclagem em 68,2%. Com ações de conscientização e mudanças de hábitos, conseguimos aumentar a reciclagem em quase 70%. Separamos, em

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EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO

seis meses de 2022, mais de 25 toneladas de papel, plástico e metais.

A senhora é a primeira reitora mulher da história da UnB. Na sua avaliação, as mulheres estão avançando no ambiente acadêmico?

Hoje, mulheres já são maioria nas universidades. Na UnB, somos maioria no mestrado (52%), no doutorado (53%) e nos programas de iniciação científica (62%). Na graduação, somos iguais em quantidade (50%). Nos grupos de pesquisa certificados da Universidade, 336 têm mulheres como líderes (47,86%). Nos projetos aprovados pelo Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de Combate à Covid-19 (Copei), 113 (50,6%) têm mulheres como proponentes. Na docência, somos 45,44%. Temos também projetos de extensão de sucesso voltados para estimular meninas a ingressar nos nossos cursos de ciências exatas. Avançamos nessa questão. Mas, ainda há muito a ser feito. Em diversos cursos de ciências exatas da UnB, por exemplo, mulheres representam menos de 26% dos estudantes. E, apesar de ocuparmos em peso os espaços de pesquisa, somos menos de 10% dos que atingem o topo da carreira científica. Dos 22 Pesquisadores 1A do CNPq da UnB, 31% (7) são mulheres e 15 homens. Isso precisa mudar.

E qual a atuação da gestão para promoção dos direitos das mulheres?

Como instituição de ensino superior pública, a UnB tem a responsabilidade e o compromisso de promover a diversidade e a justiça social plenamente. Para nós, interessa permitir o acesso e garantir a permanência de mulheres e meninas no ensino superior e no mundo científico de maneira mais igualitária. Em um esforço conjunto institucional, lançamos o edital inédito “Mulheres e meninas na ciência: o futuro é agora”, para fomentar projetos que incentivem a participação de mulheres nas áreas de ciência e tecnologia. Aprovamos a Política de Prevenção de Combate ao Assédio Moral, Sexual, Discriminação e outras violências. Ano passado, criamos a Secretaria de Direitos Humanos. Em 2020, ampliamos os prazos para que docentes com produções científicas e estudantes de pós-graduação grávidas não tivessem prejuízos em comparação com os homens. Com recursos de emenda parlamentar da Bancada do DF, uma creche, designada de Centro de Ensino da Primeira Infância (Cepi), e um Centro de Pesquisa em Primeira Infância começaram a ser construídos na UnB. Este ano, esperamos entregar as obras e iniciar as atividades. Para garantir a permanência das mães na Universidade, nós criamos o Programa Auxílio Creche. O benefício de R$ 485 mensais é oferecido a estudantes de graduação em vulnerabilidade socioeconômica, com filhos de até 5 anos —

que não tenham sido contemplados com uma vaga na rede pública de educação. Do início do ano passado, a UnB ampliou o número de beneficiárias de 34 para 65, atualmente. Outra iniciativa é a instalação de fraldários nos nossos campi. Até o momento, são 41 equipamentos instalados tanto em banheiros femininos quanto em masculinos. E teremos mais 38 até o fim deste ano.

A Universidade de Brasília tem mantido os índices acadêmicos mesmo com os desafios dos últimos anos?

A UnB, na verdade, tem melhorado constantemente seu desempenho. Com muita dedicação de toda a nossa equipe e da comunidade acadêmica, demos um grande salto de qualidade na pós-graduação no quadriênio 2017-2020, conforme avaliação divulgada recentemente pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). E voltamos à nota máxima – 5 – no Índice Geral de Cursos (IGC), elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

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Educacionais Anísio Teixeira, do Ministério da Educação. Passamos por recredenciamento institucional pelo MEC em 2020, que é um processo externo que avalia toda a instituição, e também obtivemos a nota máxima (5). Nos diversos rankings internacionais divulgados em 2022, a UnB manteve-se entre as dez melhores universidades federais e entre as 15 melhores brasileiras, entre públicas e privadas. A Universidade é também destaque na América Latina e no mundo. Temos 193 pesquisadores entre os 10 mil melhores da América Latina, segundo o ranking Alper-Doger (AD) Scientific Index. Temos ainda 28 pesquisadores entre os 10% melhores do mundo. O resultado é reflexo de um trabalho sério e comprometido de toda a nossa comunidade acadêmica, discentes, docentes, técnicos e trabalhadores terceirizados. Nós direcionamos esforços e priorizamos a utilização de recursos que contribuem para a excelência acadêmica da UnB, apesar dos drásticos cortes no orçamento da nossa universidade e de apoio à pesquisa no país nos últimos anos. Além de impactar a imagem da Universidade e a capacidade de atrair excelentes estudantes, docentes e técnicos para a instituição, os indicadores acadêmicos influenciam diretamente no orçamento da instituição. Ainda temos desafios e muito a melhorar em algumas áreas e cursos.

A infraestrutura é outro desafio, certo? Há avanços na UnB?

Sem dúvida. Mesmo com todas as restrições orçamentárias, investimos mais de R$ 147 milhões em obras, desde que assumimos a gestão. São recursos próprios, do governo e de emendas federais. Nos quatro campi, são 67 obras, entre recuperação de espaços abandonados; requalificação de espaços em uso; e construções de novos prédios. E entregamos 83,5% delas para a comunidade.

A senhora pode falar um pouco sobre a campanha institucional da UnB deste ano?

A campanha “Futuro é agora” traz a Universidade de Brasília para o presente, sem esquecer seus 60 anos de existência, e projeta a instituição para construir um futuro no qual se consolide cada vez mais como uma universidade de excelência e de forte compromisso social, apta a enfrentar e superar novos desafios. Após os anos em que a pandemia de covid-19 obrigou a instituição a se reinventar para salvar vidas e a continuar cumprindo a sua missão, além de resistir aos seguidos ataques do governo federal, chegou a hora de retomar com força e muita disposição o nosso projeto de universidade: excelente, inclusivo, amoroso. Agora, portanto, já é o futuro. A iniciativa incentiva docentes, técnicos, estudantes, terceirizados e sociedade em geral a experimentar, de forma ousada, novas possibilidades para concretização de horizontes promissores. E convidamos a comunidade a se mobilizar frente à perspectiva otimista e propositiva do futuro, engajando-se na construção da Universidade que queremos.

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EDUCAÇÃO

Pau para toda obra

Acoluna deste mês é sobre um personagem que a cada dia ganha mais destaque no governo: o Secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli. Trata-se de uma espécie de curinga ou pau-pra-toda-obra que o governo vem utilizando para resolver situações tensas que exigem ao mesmo tempo firmeza e temperança, além de uma imensa capacidade de tomar e comunicar decisões.

Foi acionado logo nos primeiros dias do governo para assumir a função de interventor federal à frente da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, depois da catastrófica aventura anti-democrática do 08 de janeiro, em Brasília. Pouco mais de dois meses depois – uma breve pausa para comemorar os 51 anos de idade -, foi novamente convocado para apagar um incêndio de grandes proporções. Frente à polêmica envolvendo o Gabinete de Segurança Institucional, foi escalado para assumir interinamente o órgão, até que o presidente Lula encontrasse um novo titular. Os riscos em ambas as operações eram enormes - para o governo e para ele mesmo. Em ambos os casos, saiu maior do que entrou, deixando a cozinha arrumada.

ficou em terceiro lugar, não muito longe da votação de José Serra (23% contra 18%). Cappelli assistia do chão de fábrica à confusão no andar de cima.

“Lula e Geraldo Alckmin. O PSDB, cujo presidente estadual no Rio Grande do Sul participara das “Conversas de Frente”, resolveu apostar na terceira via, que minguava ao longo dos meses que antecediam as eleições. O PMDB, que nem havia participado da minha série de entrevistas, entraria de cabeça na campanha no segundo turno, contra a reeleição de Bolsonaro.”

Entre 1997 e 1999, foi presidente da UNE, como muitas das lideranças de seu então partido, tendo sucedido Orlando Silva, que depois viria se tornar Ministro do Esporte, substituindo seu chefe, Agnelo Queiroz, eleito Senador pelo DF. Está com Lula desde o primeiro governo, quando assumiu a Diretoria de Esporte Universitário, naquele ministério. Era o órgão cativo do partido na esfera federal sob a a gestão do PT - com breve soluço de comando do PRB com Dilma (vale lembrar que no nível dos estados é o setor predileto da representação política da Igreja Universal). Nesse órgão foi subordinado exatamente de Orlando Silva, que atuava como Secretário-executivo. Daí, foi trabalhar com outro ex-presidente da UNELindbergh Farias, então Prefeito de Nova Iguaçu, como Secretário de Desenvolvimento. A UNE, o PcdoB e a intrincada política do Rio de Janeiro fazem parte de sua história e de seu aprendizado. E ele ainda estava no PCdoB quando o conheci. Sua saída, juntamente com Flávio Dino, para o PSB ocorreu depois de nossa aproximação.

Mas se engana quem acha que o curinga do Palácio da Justiça é novo na arena. Tem uma longa trajetória política, tendo passado anos no PCdoB. Integrou o Governo do Estado do Rio de Janeiro, num momento de muita confusão sobre o destino da centro-esquerda naquele estado - Garotinho fora eleito governador pelo PDT em 1998, mas deixou o partido por desavença com Brizola. Migrou para o PSB e desincompatibilizou-se para disputar em 2002 a Presidência pelo PSB - sua vice, a petista Benedita da Silva, o substituiu e se elegeu governadora nas eleições daquele ano. Garotinho

Foi na condição de representante do PCdoB que o convidei para uma conversa. Em razão das eleições municipais de 2020, organizei, entre os dias 17 de julho e 04 de agosto daquele ano, uma série de entrevistas – muito mais conversas abertas – com lideranças partidárias espalhadas pelo Brasil de nove diferentes partidos – PDT, Cidadania, PCdoB, PV, PSDB, PT, Rede, PSB e Psol. A série se chamava “Conversas de Frente” e o tema era o papel das eleições municipais na formatação de uma frente ampla nas eleições que ocorreriam dois anos depois, para Presidente.

Rômulo Neves*
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POLÍTICA

Além da diversidade de filiação partidária, havia uma grande diversidade geográfica – desde o Rio Grande do Sul até o Maranhão, passando por São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, Ceará e o Distrito Federal. Dentre os entrevistados, desde candidatos locais e vereadores, até secretários de estado e presidentes estaduais e nacional de alguns dos partidos. Cappelli foi a voz do PCdoB, na função de Secretário de Representação do Maranhão em Brasília – logo em seguida assumiria a Secretaria de Comunicação. Já demonstrava muito pragmatismo, com uma posição claramente favorável à formação de uma frente mais ampla do que alguns dos outros representantes dos partidos mais à esquerda. Menos de dois anos depois, Cappelli participava ativamente de uma costura complexa para fazer caber, numa mesma chapa, Lula e Geraldo Alckmin. O PSDB, cujo presidente estadual no Rio Grande do Sul participara das “Conversas de Frente”, resolveu apostar na terceira via, que minguava ao longo dos meses que antecediam as eleições. O PMDB, que nem havia participado da minha série de entrevistas, entraria de cabeça na campanha no segundo turno, contra a reeleição de Bolsonaro.

Hoje está no PSB, de Alckmin, França e de seu parceiro e mentor Flávio Dino. A aproximação com este se concretizaria apenas em 2015, por meio das estruturas de seu antigo partido - Dino precisa de gente qualificada para montar seu governo - mas a parceria é, hoje, das mais sólidas do governo e, certamente, Cappelli é o mais importante membro do segundo escalão. Não apenas porque seu chefe é uma das estrelas da nova gestão Lula, como porque ele mesmo está trilhando um caminho de êxitos, liberado do peso de seu antigo partido – o centralismo democrático do PCdoB não é para os fracos. A disciplina e fidelidade que trouxe da sua experiência comunista lhe é muito útil, mas no novo e maleável partido, pra onde migrou por uma costura eleitoral, Cappelli pode exercer com muito mais desenvoltura suas habilidades de comunicador e administrador. Na altura onde está atuando, a flexibilidade e a capacidade de diálogo são mais do que habilidades desejáveis, são a única forma de continuar voando. Flexibilidade e estômago.

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* Rômulo Neves é Professor de Ciência Política e Diplomata
POLÍTICA

CONTOS EM CONTA-GOTAS

Qualquer Semelhança Não é Mera Coincidência

Não estamos em guerra, ou pensando melhor, vivemos em estado de beligerância sem trégua. A dor que sentimos, mesmo nós que não vivemos à época de Auschwitz, sinto ao visitar um presídio. Sei que no último estão presos pessoas que cometeram ou supostamente praticaram alguma espécie de crime, enquanto no primeiro ficavam confinados homens, mulheres e crianças, civis ou militares que eram prisioneiros de guerra e/ou políticos.

Aqui a nossa Constituição não é respeitada, pois está escrito bem legível que nenhuma pena pode passar da pessoa do réu, e ela passa...

Da mesma forma que não é correta nenhuma generalização, como a de dizer que “bandido bom é bandido morto”, e outras sandices similares, também não é correto nivelar os agentes penitenciários pelo seu pior contingente. Há pessoas nesse ofício que exercem seu trabalho impecavelmente. Porém como em todas as profissões há os que se julgam acima dos éditos reais, só falta se autoproclamarem como A LEI. “ Je suis la Loi, Je suis L’Etat, Le Etat c’est moi” (Luís XIV, Rei Sol). Isso tudo para dizer que a pena passa sim da pessoa do réu, que seus familiares são muitas vezes escarnecidos e desrespeitados em suas dignidades humanas. Também os encarcerados, que se encontram custodiados pelo Estado, são mais do que apenados em bis. Casos há em que são punidos em bis, em triz, e até ao modelo Auschwitz.

Leio muito acerca do preso ter que trabalhar e posso garantir que eles iam amar. O pior é ver com seus próprios olhos que as famílias quase tem que penhorar os rins para manter um parente encarcerado. Os detentos que recebem visitas de quinze em quinze dias podem receber até R$ 250,00. E ao contrário das novelas, ao entrarem no estabelecimento prisional e ao entregar seus pertences, o preso nunca mais os reaverá.

Depois de tantos governos corruptos, e muito cansados de sempre pagar o pato, o povo brasileiro começa a proferir um bocado de idiotices por aí afora. A “lavagem” que é servida aos detentos até nossos porcos recusam, mas como em tudo que existe por aqui, debaixo do Equador, posso apostar

que as refeições terceirizadas são superfaturadas. Fizessem um restaurante comunitário, como os criados na gestão do Governador Roriz, onde o prato servido, com comida honesta, custava tão somente R$ 1,00.

Dois dias são sagrados no inferno: as quartas e quintas-feiras. Dois dias o inferno ascende ao patamar de purgatório, pois desde a madrugada de terça-feira uma profusão de anjos vai levar esperança, carinho e alento aos homens que ficam trancafiados num espaço para um determinado número de pessoas e que são sempre ocupados por pelo menos o triplo recomendável.

A procissão caminha, aguardam bebês, crianças, adultos e anciãos, todos carregando no peito a alegria encharcada de lágrimas, mas que não deixa de ser alegria, pelo simples fato de poderem abraçar um marido, um filho, um pai ou um neto.

A procissão passa em imensas fileiras, todos vestidos de branco como vestidos estão os encarcerados, crianças que já começam suas jornadas conhecendo o melhor retrato do inferno que existe sobre a face da terra. Branco, a cor da pureza, evoca a paz.

*Essa crônica foi escrita há dez anos.

Hoje em dia não há mais filas desorganizadas e não há crianças nelas.

Não há mais cantinas nos blocos, e sendo assim ficou proibida a entrada de dinheiro.

*Essa crônica foi escrita há dez anos.

Hoje em dia não há mais filas desorganizadas e não há crianças nelas.

Não há mais cantinas nos blocos, e sendo assim ficou proibida a entrada de dinheiro.

*Essa crônica foi escrita há dez anos.

Hoje em dia não há mais filas desorganizadas e não há crianças nelas.

Não há mais cantinas nos blocos, e sendo assim ficou proibida a entrada de dinheiro.

Os agentes, via de regra, tratam todos os visitantes com cordialidade e respeito. E as refeições continuam nojentas.

36 Por
Ângela Beatriz Sabbag

ARTES PLÁSTICAS

Aquarela sobre papel 100% algodão

Flávia Mota Herenio @motaflaviafm

Bob Dylan O Sino da Liberdade

Blowin in the wind é uma das canções mais importantes da cultura pop, inserida em uma época de grandes transformações sociais, como a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, ela traz em seu corpo elementos questionandores sobre o sentido do mundo em que se vive. Expondo de uma forma poética enunciados sobre o porquê de o mundo ser um lugar tão contraditório. Inaugurando um estilo poético que não existia em sua época (anos 1960), pois os temas sérios não eram tratados na cultura musical pop de forma poética, Dylan se torna percussor de uma transformação cultural que vai ser seguida por outros artistas. Vindo da tradição folk, que trazia em suas composições crônicas do cotidiano relacionadas a injustiças sociais, racismo, assassinatos, relacionamentos. Dylan também relata a realidade mais de forma carregada de linguagem conotativa. As canções folks funcionavam como um jornal, trazendo em suas letras mais uma exposição de fatos. Os enunciados das canções folks contextualizam um dado momento circunscrito no espaço-tempo. Desde o seu surgimento Blowin´in the Wind foi incorporada por vários movimentos engajados na luta pelos direitos de minorias. É uma canção atemporal, quebrando os liames do tempo-espaço. Se Blowin´in the Wind fosse a única composição de Dylan, ele já merecia um lugar na história da música pop devido a sua originalidade, soando como algo totalmente novo. A canção inicia questionando: quantas estradas um homem deve andar para ser aceito como homem? A pergunta traz em si o questionamento sobre a realidade vigente de seu país nos anos 1960 e ao mesmo tempo se projeta para o futuro como uma denúncia a todo tipo de opressão.

O enunciado no corpo de Blowin´in the Wind não exige uma resposta difícil. No próprio questionamento a resposta se levanta naturalmente, deixando o interlocutor num estado de “suspenção”, onde a mente não reage com ideias preconcebidas. Blowin´in the Wind é uma canção carregada de humanidade, ela tanto absorve a sociedade da qual se tem a sua origem, como também revela o homem que a criou. É

uma canção curta em relação aos dois minutos e trinta segundos de sua duração, mas tem em seu discurso a perenidade, pois, enquanto o mundo for um lugar de opressão e medo, Blowin´in the Wind levantará como um hino. O pronome interrogativo quantos é repetido buscando um sentido para a problemática criada, o levantamento do questionamento traz em seu corpo uma relação de indignação.

O processo de segregação nos Estados Unidos faz surgir vozes, como em toda efervescência de uma revolução faz

38 CULTURA

surgir líderes. E Dylan surge como um porta voz da mensagem da liberdade, convocando a todos como um sino para a luta pelos ideais. No verso “Quantas estradas um homem de andar para ser aceito como homem?” Traz em si o questionamento de um Dylan ainda jovem, mas com toda a compreensão de sua realidade, indicando que não é necessário passar por tudo na vida para ser um homem. Para Dylan a dignidade está na própria pessoa humana e não nos títulos que se carrega. A imagem da senhora Rosa Parks sendo expulsa do ônibus e presa por policiais brancos demonstra claramente o porquê de Blowin´in the Wind juntamente com a canção folclórica We Shall Overcome (que fora adaptada de um velho hino religioso negro), ter uma veemente importância no Movimento Pelos Direitos Civis. Ela surge como uma consciência, um desnudamento da realidade, uma derrota da mentira. Ela tem o poder de fazer o homem voltar para si mesmo e questionar o sentido de seus atos.

No segundo verso da primeira estrofe “Quantos mares uma gaivota irá sulcar para poder descansar na areia? ”, Dylan continua na mesma vertente questionando o esforço necessário para que se dele possa descansar. No não dito, Dylan revela a sofreguidão humana pela conquista desenfreada dos bens materiais. No terceiro verso “Quanto tempos as balas dos canhões explodirão antes de serem para sempre banidas? ”, a guerra é tratada como algo que carece de sentido, onde os diálogos são silenciados brutalmente pelas vozes das armas. No refrão “A resposta meu amigo está soprando no vento/ A resposta está soprando no vento, não é que a resposta está em qualquer lugar e sim que está presente no coração do homem. Dylan diz de forma indireta, mas todo o ouvinte sente a presença que a resposta não está numa busca árdua, e que toda mazela humana é gerada pelo egoísmo. Dylan leva a mente do ouvinte ao esquema gerado pelos Koan´s do Zen Budismo, onde a resposta está no estado natural da mente: qual o som de uma palma só? A segunda estrofe se apresenta como a primeira, com Dylan levantando questionamentos sobre a realidade da existência e qual a necessidade de ser assim: “E quanto tempo pode uma montanha existir/ antes que o mar a desfaça?/ E quanto tempo pode um povo viver sem conhecer a liberdade?/ E quantas vezes o homem deve virar a cabeça/ fingindo não ver o que está vendo?” Blowin´in the Wind é uma canção simples, sem grandes elaborações técnicas, a sua força está na sua poética. Dylan ultrapassa os problemas de seu tempo, deixando o seu texto aberto não delimitando um tempo e nem um lugar. Usando a linguagem, o homem modifica a realidade em que está inserido, atribuindo-lhe sentido. A última estrofe continua os questionamentos: “E quanta

vezes deve o homem olhar para cima para poder ver o céu? /E quantos ouvidos um homem deve ter para ouvir os lamentos do povo? E quantas mortes ainda serão necessárias/ para que se saiba que já matou demais?”. A canção se encerra deixando o ouvinte num estado de perplexidade, exercendo o texto o seu sentido poético. Segundo Moises Massaud: “a característica específica da poesia reside antes na visão própria que oferece da realidade que no fato de ser expressa em versos, sua análise há de implicar, sobretudo, e em última instância, essa concepção de mundo”.

Dylan construiu um texto simples e profundo, carregado de poesia, Blowin´in the Wind fez de Dylan um poeta célebre, mas o enunciado exposto na canção não é particularmente seu, pois Blowin´in the Wind é uma canção humana, pertence a toda humanidade.

39 CULTURA
Rosa parks ícone do movimento pelos direitos civis: “ Eu estava cansada de ceder”.

Blowin’ In The Wind

How many roads must a man walk down

Before you can call him a man?

How many seas must a white dove sail

Before she can sleep in the sand?

Yes and how many times must cannonballs fly

Before they’re forever banned?

The answer, my friend, is blowin’ in the wind

The answer is blowin’ in the wind

Yes and how many years can a mountain exist

Before it’s washed to the sea

Yes and how many years can some people exist

Before they’re allowed to be free?

Yes and how many times can a man turn his head

Pretend that he just doesn’t see?

The answer, my friend, is blowin’ in the wind

The answer is blowin’ in the wind

Yeah and how many times must a man look up

Before he can see the sky?

Yes and how many ears must one man have

Before he can hear people cry?

Yes and how many deaths will it take till he knows

That too many people have died The answer, my friend, is blowin’ in the wind

The answer is blowin’ in the wind?

Soprando No Vento

Quantas estradas um homem deve para que se possa chamá-lo de homem?

Quantos mares uma pomba branca precisará sulcar Para que possa descansar na areia?

Sim, e quanto tempo as balas de canhão voarão

Antes de serem para sempre banidas?

A resposta, meu amigo, está soprando no vento

A resposta está soprando no vento.

Sim, e quantos anos uma montanha pode existir

Antes que o mar a desfaça?

Sim, e quantos anos podem um povo existir

Sem conhecer a liberdade?

Sim, e quantas vezes um homem pode virar sua cabeça

E fingir que ele simplesmente não vê?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento

A resposta está soprando ao vento

Sim, e quantas vezes um homem precisará olhar para cima

Antes que ele possa ver o céu?

Sim, e quantas ouvidos um homem precisará ter

Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?

Sim, e quantas mortes ele causará até saber

Que pessoas demais morreram?

A resposta, meu amigo, está soprando no vento

A resposta está soprando no vento?

40
CULTURA

CONTOS CLÁSSICOS

Série Vaga-Lume: os 50 anos da coleção que estimulou prazer da leitura em milhões de jovens

São Paulo, novembro de 1976. Marcos Rey (1925-1999) estava em um supermercado, acompanhado da mulher, Palma, quando, na hora de pagar as compras, flagrou trechos de uma conversa no caixa ao lado.

“O que você está achando dessa novela que acabou de estrear?”, perguntou uma moça, referindo-se à história do trambiqueiro que se passava por milionário para dar um golpe.

O autor de Tchan, a Grande Sacada, embora estivesse de costas, conseguiu ouvir a resposta da balconista: “É boa. Mas é muito lenta!”.

Ao chegar em casa, o autor da tal novela “boa, mas muito lenta” começou a mexer nos capítulos já escritos. Cortou uma cena aqui, mudou um diálogo ali. Quinze dias depois, o telefone de sua casa tocou.

Era Roberto Talma (1949-2015), diretor de teledramaturgia da Tupi. “Pô, Marcos, o que é que houve? Que melhorada você deu na novela!”, elogiou. “A crítica daquela balconista salvou meu emprego!”, brincou o autor em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo de 4 de setembro de 1983.

Nascido Edmundo Donato, Marcos Rey ficou famoso como escritor de livros adultos, como O Enterro da Cafetina (1967) e Memórias de Um Gigolô (1968), e roteirista de novelas e seriados de TV, como A Moreninha (1975) e O Sítio do Picapau Amarelo (1977).

Mas, no começo dos anos 1980, recebeu um convite que mudaria sua carreira: escrever romances infantojuvenis

para a Vaga-Lume.

“Houve muita resistência por parte dele”, conta a editora Carmen Lúcia Campos, que trabalhou por mais de 20 anos na Ática, entre a década de 1980 e o início dos anos 2000.

“Nunca tinha escrito para o público juvenil e seus temas adultos eram proibidos para menores”.

Seu primeiro livro na coleção foi O Mistério do Cinco Estrelas (1981). Em apenas 15 dias, esgotou a tiragem de 200 mil exemplares. Logo, vieram outros: O Rapto do Garoto Dourado (1982), Um Cadáver Ouve Rádio (1983), Sozinha no Mundo (1984)... Não por acaso, é o recordista em títulos da Vaga-Lume: 16, sendo um deles, O Menino que Adivinhava (2000), pela Vaga-Lume Júnior, selo derivado surgido em 1999. Só O Mistério do Cinco Estrelas, segundo estimativa do editor Jiro Takahashi, teria vendido entre dois e três milhões de exemplares.

“O autor precisava cativar seu público até a página sete”, explica ele, um dos idealizadores do projeto. “Se a história demorasse a decolar, as chances de o leitor se cansar dela eram grandes”.

Marcos Rey foi o primeiro autor especialmente convidado para escrever para a coleção. Até então, a Vaga-Lume só publicava títulos que já tinham sido lançados por outras editoras.

É o caso de O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida (1910-2005). Um dos best-sellers da coleção, foi publicado originalmente pela revista O Cruzeiro, entre 10 de outubro e 26 de dezembro de 1953, e adaptado para o cinema em 2016.

“A Vaga-Lume seguia uma fórmula imbatível de sucesso: livros escritos para o leitor jovem, com personagens jovens, se deparando com questões típicas da juventude. Textos leves, com muita aventura, mistério e humor”, sintetiza Carmen Campos.

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Marcelo Duarte, conhecido pelo ‘Guia dos Curiosos’, era fã dos livros da Vaga-Lume e depois escreveu um título para a série

“A coleção fez gerações de jovens descobrirem o prazer da leitura.”

A Ilha Perdida vendeu 5 milhões de livros

O título que inaugurou a Vaga-Lume, há 50 anos, foi A Ilha Perdida (1973), de Maria José Dupré (1898-1984). Publicada pela Brasiliense em 1944, é a recordista da coleção: 5 milhões de exemplares.

Na pesquisa que fez para seu doutorado, À Sombra da Vaga-Lume (2007), com mais de 200 alunos do Curso de Letras da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Cátia Toledo Mendonça constatou que A Ilha Perdida é o título mais amado — ou lembrado — da coleção.

“Os textos da Vaga-Lume encantam gerações há 50 anos. Mesmo assim, não eram estudados pela academia. Há preconceito em relação à literatura de entretenimento”, admite a doutora em Letras.

“Vários entrevistados declararam ter começado a gostar de ler por causa da Vaga-Lume”.

No mesmo ano de A Ilha Perdida, a Ática lançou mais três volumes: Cabra das Rocas, de Homero Homem (1921-1991); Coração de Onça, de Ofélia (1902-1986) e Narbal Fontes (1899-1960); e Éramos Seis, também de Maria José Dupré.

Alguns livros, como Éramos Seis, e O Feijão e O Sonho (1981), de Orígenes Lessa (1903-1986), fizeram tanto sucesso que ganharam adaptações para a TV.

Só Éramos Seis já foi adaptada cinco vezes: em 1958, pela Record; em 1967 e 1977, pela Tupi; em 1994, pelo SBT; e em 2019, pela TV Globo.

Cada volume tinha em torno de 120 páginas e trazia um suplemento de trabalho com proposta lúdica. Em geral, a Ática lançava quatro títulos por ano.

Mas houve época em que, dependendo da demanda, foram lançados só dois ou até cinco. O nome do mascote da coleção, Luminoso, foi escolhido através de concurso. O vencedor foi um funcionário da editora que trabalhava no Rio de Janeiro.

Livro foi censurado por escola do Rio — em 2018

Com o sucesso de vendas, a Ática lançou, em 1976, outra coleção infantojuvenil: a Para Gostar de Ler, que reunia cronistas como Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Rubem Braga (1913-1990), Paulo Mendes Campos (1922-1991) e Fernando Sabino (1923-2004). E, em 1999, o selo Vaga-Lume Júnior, com 25 títulos.

Sinopse era crucial para sucesso

Editor da Vaga-Lume entre 1973 e 1984, Takahashi pedia aos autores uma sinopse de três páginas sobre a história que gostariam de contar.

Em seguida, enviava aquele resumo, sem mencionar o nome do autor, para 3.000 alunos das redes pública e particular do Rio, São Paulo e Minas. Sob a orientação de professores, os estudantes avaliavam desde a trama até os personagens. Em alguns casos, davam notas. Em outros, sugeriam ajustes.

Foi assim, conta Takahashi, que Marcos Rey incluiu um personagem cadeirante em O Mistério do Cinco Estrelas e mudou o gênero da protagonista de Sozinha no Mundo. “Se os alunos liam rápido demais a sinopse, era sinal de que o livro era bom. Se demoravam, hummm... algo estava errado”, raciocina Takahashi.

“Um livro é bom quando termina a aula, começa o recreio e os alunos não param de falar dele.”

Ao todo, a Vaga-Lume é composta de 106 livros. O mais recente é Os Marcianos (2021), de Luiz Antônio Aguiar.

“Como a coleção é voltada para o público jovem, as histórias têm que ter muita aventura”, ensina Aguiar, que já tinha escrito Operação Nova York (2000) para a série. “Mas tem que ser aventura mesmo, com boas histórias, daquelas que seduzem o leitor, e bons personagens”.

No auge da coleção, ou seja, no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, cada título vendia, em média, 120 mil exemplares. Na pior das hipóteses, emplacava 40 mil.

“Os livros vendiam muito porque o preço era baixo. E os preços eram baixos porque os livros vendiam muito”, explica Takahashi. À época, cada livro da coleção não podia custar mais do que um exemplar de uma revista semanal, como Veja ou IstoÉ.

O escritor Marcos Rey e a mulher, Palma
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CONTOS CLÁSSICOS

CONTOS CLÁSSICOS

Aos poucos, novos autores foram convidados a integrar a coleção. Mineiro de Guaxupé, Luiz Puntel foi um deles. Quando morava em Ribeirão Preto (SP), se comunicava, por carta, com Marcos Rey, na capital paulista.

“Apesar da deformação nos dedos, era um furacão para escrever”, afirma Puntel, referindo-se à hanseníase que o colega contraíra aos 10 anos de idade. “Escrevia maravilhosamente bem. Morria de inveja dele”, ri.

Para a Vaga-Lume, Puntel escreveu sete livros, de Deus me Livre! (1984) a O Grito do Hip-Hop (2005). Desses sete, considera dois imbatíveis: Açúcar Amargo (1986), sobre boias-frias, e Meninos Sem Pátria (1988), sobre exilados políticos. “Nunca sofri censura da Ática. Sofri do Santo Agostinho, no Rio”, lamenta Puntel.

Em 2018, a direção suspendeu a leitura de Meninos Sem Pátria a pedido dos pais de alguns alunos do sexto ano. Ao colégio, alegaram que o livro “doutrina crianças com ideologia comunista”. A história foi livremente inspirada na vida do jornalista mineiro José Maria Rabelo (1928-2021). Depois da repercussão, a direção da escola evitou comentou o assunto.

“Escrevia meus livros como se fossem roteiros de filmes de ação, com capítulos curtos e diálogos ágeis.”

Contato próximo com leitores

Logo, colégios do Brasil inteiro começaram a convidar os autores da Vaga-Lume para participar de debates com seus alunos.

Um dos mais requisitados foi Raul Drewnick, autor de oito títulos: de Um Inimigo em Cada Esquina (1994) a A Noite dos Quatro Furacões (2005). Só Marcos Rey publicou mais livros pela Vaga-Lume do que ele.

Os dois, aliás, trabalharam juntos na revista Veja. Foi Marcos Rey que, em 1992, indicou o nome de Drewnick aos editores Carmen Lúcia Campos e Fernando Paixão.

“De dez em dez páginas, nos reuníamos e íamos tocando o projeto, discutindo forma e conteúdo”, recorda o autor.

A princípio, Drewnick recusava todo e qualquer convite para visitar escolas. “Dizia não ter jeito com criança”, entrega Carmen Campos. Até que, um dia, se rendeu e não parou mais.

Não bastasse ter inspiração para novos livros, ainda aprendia o linguajar dos jovens. Num dos colégios, ouviu de um aluno: “O senhor é celebridade?”. Rindo, respondeu que não, de forma alguma.

Mas outro aluno rebateu: “É claro que é! Tem até ja-

Um autógrafo de Marcos Rey

Muitos alunos cresceram e viraram escritores. E hoje se orgulham de fazer parte da coleção que despertou neles o prazer da leitura. É o caso do jornalista e escritor Marcelo Duarte, muito conhecido pela série Guia dos Curiosos.

Autor de cinco títulos, de Jogo Sujo (1997) a Meu Outro Eu (2003), tinha 11 anos quando leu O Caso da Borboleta Atíria (1975), de Lúcia Machado de Almeida. Gostou tanto do livro — “O desfecho é maravilhoso!” — que emendou outros suspenses da autora.

“Eram razoavelmente baratos e fáceis de ler”, elogia. “Li uns para a escola e outros por pura diversão”.

Quando a Ática lançou O Mistério do Cinco Estrelas, Duarte ficou encantado. Decidiu que, quando crescesse, queria escrever igual ao Marcos Rey.

“Tinha um sonho, quase uma obsessão, de, um dia, lançar algo pela coleção que tanta importância teve na minha vida”, explica.

Mas, quando entregou a sinopse de Jogo Sujo, recebeu um tsunami de críticas de alunos e docentes. Alguns reclamaram de personagens mal construídos. Outros, de tramas mal amarradas.

tinho”. “Um típico caso em que a imaginação do leitor é muito mais rica que a do mais criativo dos escritores”, ele cai na risada.

Noutra ocasião, Marcos Rey conheceu um aluno do Colégio Magno que se apresentou como filho do editor da Global, Luiz Alves Júnior. Anos depois, os dois voltaram a se encontrar na sede da editora, em São Paulo.

“Não gostava de apertar a mão das pessoas porque tinha os dedos comprometidos. Apesar disso, escrevia muito rápido. Geralmente, à noite e, quase sempre, acompanhado de um copo de uísque”, relata Richard Alves, diretor geral da Global, que relançou 14 dos 16 títulos publicados por Marcos Rey na Vaga-Lume.

A Ática não recebia apenas convites para seus autores visitarem escolas. Recebia também cartas. Centenas delas.

“Sempre fiz questão de responder uma por uma”, garante Sersi Bardari, autor de A Maldição do Faraó (1991), Ameaça nas Trilhas do Tarô (1992) e O Segredo dos Sinais Mágicos (1993).

“Era um tempo sem internet, e-mail e redes sociais. Dava prazer receber e responder a essas cartas. Levá-las ao correio era um dos meus programas favoritos”.

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“Fiquei chateado. Achei que não fosse conseguir. Mas reescrevi a história e deu certo”, orgulha-se.

Assim que Jogo Sujo saiu da gráfica, Carmen Lúcia mandou um exemplar para Marcos Rey. Em retribuição, o veterano enviou um exemplar autografado de Gincana da Morte (1997) e parabenizou o novato por ingressar no time da Vaga-Lume.

“Muitos tentaram, mas poucos conseguiram”, dizia a dedicatória. “Nunca fiquei tão emocionado. Guardo esse livro até hoje como troféu”, emociona-se Duarte.

Marçal Aquino fez livro em 3 meses

Quem também fala com carinho da Vaga-Lume é Marçal Aquino, autor de quatro títulos, entre eles A Turma da Rua Quinze (1989) a O Primeiro Amor e Outros Perigos (1996).

No finalzinho da década de 1980, ele trabalhava como redator do Jornal da Tarde de São Paulo quando seu chefe, o também escritor Fernando Portela, perguntou se ele não estaria interessado em escrever um livro infantojuvenil para a coleção.

Na Ática, Aquino deu de cara com dois problemas: a sinopse (“Sempre gostei de escrever sem saber muito sobre o livro. É o prazer maior da coisa”) e o prazo (“Um colega estava enfrentando um ‘bloqueio criativo’ e eu teria três meses para entregar o livro”). Mesmo assim, topou o desafio e entregou o manuscrito no tempo estipulado.

Dos quatro livros que escreveu, seu preferido é O Jogo do Camaleão (1992). Como a trama fazia menção ao tráfico e ao consumo de drogas, sofreu restrições.

“Não vi problema em dar uma ‘amansada’ no texto porque não tirava em nada o impacto da narrativa”, avalia. “É a melhor trama que criei para a Vaga-Lume, com direito a um plot-twist radical que nenhum leitor consegue desvendar”, orgulha-se.

O escritor, desenhista e roteirista Rubens Francisco Lucchetti, o R. F. Lucchetti, também precisou fazer ajustes no único texto que lançou pela Vaga-Lume: O Fantasma do Tio William (1994).

Antes de ser lançado pela Ática, o livro foi publicado pela Cedibra, em 1974, e relançado pela Melhoramentos, em 1982.

“Quando foi lançada, a história se passava na Inglaterra e se destinava ao público adulto. Depois, tive que adaptá-la para o Brasil. E, mais adiante, torná-la mais infantil”, relata o autor de 93 anos.

“De todas, prefiro a versão adulta”. Uma curiosidade: Lucchetti criou a história, por volta de 1945, para distrair uma de suas irmãs, Célia, que estava doente, com câncer.

Lançamentos até hoje

A Vaga-Lume prosseguiu até 2008, quando foi lançado O Mestre dos Games, de Afonso Machado. Doze anos depois, a Somos Educação retomou a coleção, com o lançamento de Ponha-se no Seu Lugar (2020), de Ana Pacheco.

“Quando enviei os originais para a editora, não imaginava que meu livro seria lançado pela Vaga-Lume. Soube depois que aceitaram e fiquei feliz da vida”, confessa a autora.

Baseado no conto O Nariz (1836), de Nikolai Gogol (18091852), conta a história de um estudante de classe alta que, certa manhã, acorda sem nariz.

“O mote é absurdo, mas as consequências são reais. Dá oportunidade para alunos e professores debaterem temas atuais, como padrão de beleza, classe social e cirurgia plástica.”

A Somos Educação disponibiliza 68 títulos em seu catálogo, sendo 13 da Vaga-Lume Júnior. E não deve parar por aí.

“Futuramente, pretendemos lançar novos títulos. Queremos manter a coleção viva e dar espaço a mais autores”, adianta Laura Vecchioli do Prado, coordenadora da Somos Educação.

Jiro Takahashi não cabe em si de orgulho por ter ajudado a criar uma série editorial tão longeva e bem-sucedida. Mas lamenta o fato de não ter pensado lá atrás no licenciamento de produtos, como o boneco do Luminoso, o mascote da coleção, por exemplo.

Ou, ainda, na adaptação de filmes, peças e jogos baseados nos livros da série. “Hoje em dia, você encontra de tudo: de álbum de figurinha do D.P.A. (Detetives do Prédio Azul) a parque temático do Harry Potter!”, espanta-se.

“Muitos adultos vêm falar comigo. Uns dizem: ‘Ó, meu vaga-lume favorito é O Escaravelho do Diabo’. É uma coleção que ajudou a formar leitores.”

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Luiz Puntel, autor de Meninos Sem Pátria, livro proibido por um colégio do Rio
CONTOS CLÁSSICOS

A revista Plano B Brasília tem uma tiragem de 10.000 exemplares e será entregue:

. Para todos os parlamentares federais;

. Na Presidência e Vice-Presidência República

. A todos os Ministros do STF;

. A todo o primeiro escalão executivo do Governo Federal e do DF, com entrega de 70 (setenta) exemplares ao Ministério das Relações Internacionais;

. Em todas Embaixadas em Brasília;

. Para todos os Parlamentares do DF;

. Na Governadoria e Vice-Governadoria do DF;

. Em todas as Administrações Regionais do DF;

. Em todas TVs abertas com sede em Brasília;

. Em todas Rádios Comerciais com Sede em Brasília;

. No comércio e em diversos pontos de encontro de formadores de opinião do DF.

. E terá envio na versão digital para mais de 500.000 (quinhentas mil) pessoas através de whatsApp, telegram e e-mails.

Contato

Responsável: Rócio Barreto

Website: revistaplanob.com.br

Instagram: @revistaplanob

E-mail: rociobarreto2000@yahoo.com.br

Tel / zap: +55 (61) 99221-8832

kimcartunista@gmail.com
www.kimcartunista.com.br

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