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Figura 11 - Memes feitos por deepfake

---------------------------- Capítulo II - Trolls, Bots e Fake News ----------------------------

Figura 11 - Memes feitos com deepfake

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Certamente existem muitas maneiras de se produzir fake news, porém a verdadeira questão é: qual a motivação para gerar desinformação na sociedade? As motivações podem ser diversas, assim como a resposta para essa pergunta, entretanto é possível apresentar as principais que podem ser encontradas através da leitura das notícias falsas que foram produzidas, tendo como estímulo desde atos para incitar a descredibilidade da imprensa à produção para tirar vantagem econômica. As motivações podem inclusive ser relacionadas à classificação apresentada anteriormente, de acordo com Claire Wardle (2017), que catalogou em sete os tipos existentes de fake news. Sátira ou paródia, conteúdo enganoso, falsos contextos, conteúdo impostor, conteúdo produzido, manipulação de conteúdo e falsa conexão (clickbait). Entre as justificativas mais comuns estão: jornalismo sem profissionalismo, paródias feitas para humor, partidarismo, propagandas ou mesmo influência política. (MORAES; MERELES, 2017). Com isso podemos concluir que não apenas a variedade de técnicas de produção, mas também a indústria das fake news tem crescido cada vez mais, tendo como motivações os mais diversos objetivos. Entretanto, não são apenas as técnicas de 50

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produção que evoluem ao passar dos anos, os métodos de se descobrir uma fake news também tem acompanhado a progressão dos produtores, e eles passam desde a checagem dos fatos e fontes na produção da notícia por parte do autor, até o leitor que por sua vez deve procurar se informar se o autor é confiável e se o portal para qual ele escreve possui sua credibilidade.

Para isso podem ser utilizadas ferramentas criadas com o objetivo de verificar se as notícias são falsas ou verídicas, “áreas como mineração de dados, aprendizado de máquina, processamento de linguagem natural e inteligência artificial estão desenvolvendo ferramentas capazes de identificar fake news”. (SERRA, 2018), como é o caso das ferramentas utilizadas no fact-checking , 25 que é uma forma de qualificar o debate público por meio da apuração jornalística. Sendo assim, chegamos a outra questão a ser respondida: Quem lê essas notícias? Segundo (Sumpter, 2018) “como nas teorias da conspiração, fake news têm seus perpetradores e seguidores, mas uma vez que elas crescem, são frequentemente desafiadas”. Ou seja, esse tipo de notícia não é simplesmente jogado na internet para o público geral, antes elas são cultivadas dentro de uma comunidade, explorando muito o conceito de bolha social , 26 e uma vez que essas notícias se tornam extremamente grandes e relevantes dentro daquele círculo social, ela fura essa bolha e chega à sociedade com uma certa credibilidade, como explica David Sumpter:

Começou dentro de uma câmara de eco de simpatizantes de extrema direita, mas se tornou tão grande que ultrapassou os limites do grupo usual de opiniões extremistas. Vários simpatizantes de Trump acharam que ela “fazia sentido” e a compartilharam. [...] O algoritmo do Google deixou-se levar com a celebração da vitória e colocou a publicação como notícia de primeira página. (SUMPTER, 2018)

O autor exemplifica este fenômeno de bolha social com um experimento de formigas colocadas dentro de um balde feito na Universidade de Bristol, que foi conduzido pelo biólogo, Nigel Franks. Este exemplo é muito consistente em explicar como funciona a disseminação de fake news. Pois formigas são animais extremamente comunicacionais e com

25 Ferramentas utilizadas na checagem de fatos, isto é, um confrontamento de histórias com dados, pesquisas e registros.; Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/checagem-de-informacoes/o-que-e-fact-checking/ ; Acesso em: 22 de novembro de 2021 26 uma bolha social é entendida como um grupo de pessoas que se unem por interesses semelhantes e acabam por excluir a participação de quem tem pensamentos contrários;

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um forte senso de comunidade, podendo transmitir mensagens sobre melhores locais para adquirir alimento, como voltar ao ninho ou mesmo se a outra formiga deve acelerar ou diminuir a velocidade de seus passos. Sumpter explica que durante a pesquisa, foi possível notar que ao serem colocados dentro de um balde, as formigas andam em círculos, e através de feromônios espalhavam para as outras formigas que estavam atrás dizendo que poderia ter algo de interessante a frente. Isto fez com que a velocidade de todas as formigas no recipiente fosse a máxima. A analogia apresentada casa justamente o conceito de bolha social, isso porque as formigas apresentaram-se completamente “cegas” e confiantes nas primeiras mensagens recebidas, e por conta disso sequer cogitaram que não havia nada de interessante, ou que poderiam ser tomadas outras rotas.

Um processo semelhante acontece com bolhas sociais, principalmente quando o assunto é política. Como a própria definição apresenta, trata-se de pessoas unidas por interesses comuns e que excluem pensamentos contrários ao do grupo. Consequentemente, a fonte de informações daquele grupo se limita ao que é julgado como correto e de acordo com o pensamento apoiado pelos membros, abrindo a brecha para as fake news se proliferarem. Hoje podemos utilizar com um ótimo exemplo de atuação de fake news dentro de bolhas sociais, os casos de notícias envolvendo bolsonaristas, que se fecharam contra os principais veículos de informação e passaram a receber informações que circulam entre eles. Apesar de estarem abertos a todas notícias que circulam, o grupo adotou uma postura de declarar como fake news tudo que for contrário aos ideais deles. Não é a toa que muito destes grupos contém seus produtores de fake news, de acordo com os relatórios apresentados pela CPMI das Fake News .

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4.2. UMA IMPRENSA DESCREDIBILIZADA?

Apesar da descredibilização da imprensa não ser algo exclusivo da era digital, é justamente no digital que vemos sua atuação em tempo real. Ao pensarmos com base na

27 Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News é uma comissão com integrantes da Câmara dos Deputados e Senado Federal, criada no Brasil para investigar a existência de uma rede de produção e propagação de notícias falsas e o assédio virtual nas redes sociais.

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definição da palavra descredibilizar28 podemos perceber que este fenômeno não só consiste em fazer da imprensa um órgão não confiável na distribuição de notícias, mas também em afastar a sociedade de fontes de informação seguras. Pode-se até dizer que esta é uma maneira que os governos encontraram para combaterem ideias contrárias às suas sem a necessidade de um golpe de estado. Afinal não existem mais a necessidade de censurar de maneira explícita os veículos de comunicação para inibir as suas críticas ou ideias, “basta inundar as redes sociais e os grupos de WhatsApp com a versão dos fatos que se quer emplacar, para que ela se torne verdade” (MELLO,2020). É importante também entender que o processo de descredibilização não é feito somente através da publicação de fake news, ela é apenas um fragmento de todo o procedimento, que é realizado com a construção de diversas ações. Por exemplo, o assassinato de reputação ou mesmo as agressões virtuais - que em alguns casos podem chegar ao ambito físico e numa extremidade levar a morte -, é muito recorrente como parte do processo de transformar a imprensa em mentirosa.

De acordo com dados apresentados pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), entre todos os casos envolvendo um tipo de violência à jornalistas, 35,51% deles foram para descredibilizar as informações trazidas pela imprensa profissional, 17,76% foram relacionados com agressões verbais e virtuais e 19,86% dos casos foram de censura.

28 ato de fazer com que algo ou alguém deixe de ser crível, confiável; deixar de possuir credibilidade, confiança;

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