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Figura 4 - Homepage do G1 no dia 15/out /2021

seu público. Esta concepção se divide em duas frentes, os portais horizontais, que buscam abordar todas os assuntos possíveis e os verticais, como explica Pollyana Ferrari:

Os portais verticais nasceram em 1999, em busca do usuário interessado em conteúdo e serviços personalizados como, por exemplo, a livraria virtual [...] são a melhor alternativa estratégica para que as empresas de mídia enfrentem os grandes sites horizontais, donos dos maiores volumes de tráfego. (FERRARI, Pollyana, 2003, pg. 33-34)

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Analisando desta maneira, pode-se notar que o “jornalismo mainstream” comumente está habitando os portais horizontais, afinal eles costumam discutir todos os tipos de assuntos. Normalmente o aprofundamento de uma matéria feita por este tipo de portal não é tão intenso quanto o de uma feita por um portal especializado naquele assunto. Por exemplo, o Grupo Globo possui o G1, um site que costuma abordar diversos conteúdos, de diversas áreas, inclusive economia.

Figura 4 - Homepage do G1 apresentando os principais assuntos do dia 15/out/2021:

Que são temas base para os conteúdos aprofundados pelo jornal Valor Econômico, que além da versão impressa conta com uma digital, e utiliza um modelo vertical, ou seja,

totalmente focado em assuntos sobre economia. Sendo assim, o modelo de jornalismo digital que conhecemos hoje, é uma construção dos pontos citados anteriormente, como a cultura participativa, as mudanças financeiras no negócio da comunicação e a multimidialidade com o conceito de portais onlines. Onde a notícia e os sites precisam possuir um conteúdos que sejam atraentes e até mesmo interativos com o consumidor final da informação. Quando analisamos os conteúdos impressos, por exemplo, a resposta a um leitor é muito lenta, é necessário aguardar a próxima edição daquele jornal ou revista para ter um questionamento respondido. O mesmo aconteceu com a televisão, que dominou o mercado comunicacional por quase 50 anos. Antes da massificação da internet era muito comum chegar do trabalho e ligar a televisão, entretanto a chegada do digital alterou até mesmo a configuração de se fazer televisão. Quase não se tinha troca entre a mídia televisiva e os telespectadores, era uma relação muito autoritária por parte da televisão, onde ela apenas distribuía os seus conteúdos e passiva por parte dos espectadores, que apenas consumiam o que era exibido. Hoje por exemplo temos o “Big Brother Brasil” da TV Globo que deixa nas mãos de seus consumidores o rumo do programa, e no caso mais específico do jornalismo podemos citar outro produto da Globo, o “SPTV” 1ª e 2ª edição, que contam com a participação totalmente ativa dos telespectadores, que através de hashtags e comentários respondem pelas redes sociais às matérias que foram transmitidas naquela edição, e até denunciam situações parecidas. Este fator acontece porque no online, o que predomina é a instantaneidade, a velocidade da informação e da resposta. Quando se vincula um produto, principalmente os que possuem um teor jornalístico, tem que se entender que as respostas e questionamentos para o que está sendo reportados serão instantâneos, afinal agora a sociedade está a todo instante conectada e atenta aos principais acontecimentos. Esta forma de fazer jornalismo tornou-se um padrão entre as empresas jornalísticas que atuam no digital, por essa razão, é comum ver que dois portais jornalísticos não só abordam o mesmo assunto, mas como acabam por relatar a mesma história, às vezes possuindo até projetos gráficos similares. De modo habitual as únicas diferenças que podemos ver são os títulos e algumas vezes o enfoque principal da matéria. Um comportamento que por parte das empresas pode ser atribuído à forma como os internautas absorvem o conhecimento passado pelas notícias. De acordo com Pollyana Ferrari (2019), como o aprendizado na internet normalmente não vem de um processo de reflexão - assim como acontece com os livros, e também não vem da influência 21

dos fatos divulgados -, ele pode ser colocado como um aprendizado superficial, afinal o compromisso que o leitor tem com essa realidade, de certa forma é raso. Essa a falta de absorção de conhecimento por parte dos internautas, gerou o modelo de produção atual, onde o que realmente tem importado não é o conteúdo em si, mas a maneira como transmitimos este conteúdo. Ou seja, você é o primeiro jornal a dar aquela informação? É o portal mais confiável a falar sobre este assunto? Entre outros questionamentos que ganharam muita força desde o início da pandemia do Covid-19. Outro fator determinante para este modelo é que devido as coisas acontecem de maneira extremamente rápidas no ambiente virtual, os cibernautas possuem pouca atenção, por isso é necessário que eles sejam impactados de cara, não importando se o seu conteúdo realmente é bom ou não. Este cenário criou fortes brechas para criação de informações falsas ou meias verdades, os famosos click-baits, que não se importam em sensacionalizar uma informação, desde que haja maior tráfego de usuários em seu portal. O verdadeiro paradoxo desta situação, é que vinte anos atrás, a prioridade do jornalismo digital era trazer informações mais completas o possível, pois assim era assegurado que os internautas passariam mais tempo utilizando os seus portais. Até mesmo o costume de linkar matérias foi adaptado, através do uso de hyperlinks, assim os internautas se mantém em um determinado site e navegam no assunto sem a necessidade de procurar matéria por matéria. Isso fez com que a criação de conteúdos fosse as palavras-chave desta nova tendência comunicacional, ao menos no seu início, como explica Pollyana em seu livro, Jornalismo Digital (2019) “é em busca de conteúdo - mais até mesmo do que de serviços - que as pessoas acessam a maioria dos sites”. Tendo isso em mente é possível afirmar que os principais elementos que normalmente compunham uma matéria jornalística - textos, fotos e gráficos -, a partir da inserção do digital neste meio, se tornaram apenas opções disponíveis para apresentar um fato. Tanto que o comumente hábito de escrever novos textos ou matérias para atualização de algum assunto deixou de ser absoluto, afinal agora outros elementos como, as sequências de vídeo, imagens e até ilustrações animadas podiam integrar uma notícia. Isso sem falar da possibilidade de comentários de leitores complementarem o que foi noticiado, além de apresentar uma outra perspectiva do fato. O que tornou a experiência de cobertura jornalística muito mais rica e dinâmica. Afinal, o acesso a um conteúdo digital não significa que você estará lendo algo. E se anteriormente os moldes jornalísticos exigiam que um repórter, por exemplo, dominasse a mídia para qual ele prestava serviço - seja impresso, 22

radiofônico ou televisivo -, agora existe uma multimidialidade, e entender sobre todas as formas de mídia é necessário para produzir uma única matéria para um site.

“Além da necessidade de trabalhar com vários tipos de mídia, o jornalismo multimídia precisa desenvolver no repórter uma visão multidisciplinar [...] Para se ter uma ideia dessa mudança do fazer jornalístico, o portal G1 prepara o repórter para ir a rua com um notebook, um modem wireless para acesso à banda larga, uma máquina fotográfica digital, um gravador de áudio digital e um radiocomunicador. ” (FERRARI, Pollyana, 2003, pg. 40)

A velocidade de informação de hoje pode ser vista até mesmo observando os aparelhos levados por um repórter, quando o mesmo sai a campo. Apesar de um notebook poder fazer parte do kit, um celular é o que basta para que ele produza uma boa reportagem, basta inclusive entrar ao vivo ou gravar uma passagem que pode ser anexada à matéria. Isso porque a comunicação com a redação já não é mais problema, pois os aplicativos de mensagens disponíveis que temos hoje são instantâneos, como é o caso do Whatsapp, também não é mais necessário andar com câmeras digitais ou gravadores, pois os smartphones também possuem tal função. Tudo com o objetivo de agilizar o processo de produção das notícias, esta evolução transformou o funcionamento do jornalismo digital, que se expandiu e agora saber como escrever um bom texto não é o suficiente para fazer funcionar a grande máquina da informação. A figura do jornalista passou a precisar possuir o domínio de apetrechos que nunca fizeram parte do seu cotidiano, e que muitas vezes nem são de fato objetos, mas conhecimento em programas anteriormente não eram obrigatórios para o jornalista, como o Photoshop e o Premiere, ambos pertencentes a desenvolvedora Adobe. Também se fez necessário estar sempre com olhar de um editor de fotografia, pois imagens se tornaram a maneira de contar o que um texto não pode, além de ter uma agilidade na publicação que para o jornalismo impresso sempre foi impensável. Claro que para atuar como um jornalista não é obrigatório ter conhecimento nestas áreas, porém cada vez mais é necessário que jornalistas o tenham devido a rapidez do mundo digital que exige uma versatilidade dos profissionais que atuam nele. Um bom exemplo de adaptabilidade à velocidade de informação de jornalismo foi durante o atentado do 11 de setembro em 2001. Enquanto jornais impressos e a maior parte dos grandes portais jornalísticos publicavam matérias diariamente, o portal Terra ao invés de fazer uma manchete nova a cada notícia nova, ele simplesmente fez um processo de atualização ao vivo. Apesar de

simples, foi um procedimento extremamente inovador, e também muito facilitador para os usuários. Pois com este sistema, a necessidade de alternar entre matérias de um determinado site tornou-se inexistente, e em um único portal estava disponível, todas as informações sobre o assunto. O grande paradigma quebrado é, que a eficácia desta técnica facilita não apenas o dinamismo da leitura do internauta, como também torna a escrita muito mais prática para os jornalistas, já que trata-se de uma atualização constante sobre um determinado assunto, eliminando a necessidade de sempre criar novas matérias. Ou seja, ao invés de redigir uma matéria sobre alguma descoberta de sobreviventes ou mesmo o número de vítimas, agora o jornalista possuía a liberdade de apenas atualizar os fatos com novas informações. A recepção por parte dos consumidores foi tão positiva, pois poupava o tempo do leitor, que poderia ler tudo que queria de uma só vez e seguir navegando na internet, fazendo com que o modelo utilizado pelo Terra fosse adotado por muitos outros portais posteriormente, que utilizam tal técnica até os dias de hoje. Devido a incorporação do modelo de atualização ao vivo, o jornalismo digital precisou ficar cada vez mais rápido, consequente o caminho para publicar uma notícia também se encurtou, desde a concepção de uma matéria, até a publicação, as vezes o tempo de reunião de pauta não chega aos 10 minutos, principalmente quando falamos da editoria de “últimas notícias”, onde o tempo é ouro. E como boa parte dos grandes jornais onlines trabalham com o método de atualização ao vivo, não é incomum que as matérias sejam publicadas contendo erros de apuração ou mesmo de ortografia, afinal como citado anteriormente, a moeda hoje não é o conteúdo, mas a maneira como você apresenta ele. Ser o primeiro a publicar uma notícia pode acabar fazendo uma grande diferença no número de tráfego diário do seu portal, principalmente quando falamos os horizontais. Por conta disto que erros se tornam comum e de certa forma aceitáveis, até porque o curto tempo de espaço torna o ato de fazer um pente fino no texto muito complexo, e como existe a ferramenta de atualização ao vivo, nada impede que a correção seja feita em minutos ou quiçá segundos após a publicação. Porém, devemos dizer que existe um ponto que jamais muda no jornalismo, independente da mídia que o reproduz, o mais importante é o fato em si, e a credibilidade de um jornal e de uma informação passa pela maneira na qual ela é apresentada ao leitor, não adianta eu ser o primeiro a publicar, se eu entregar uma notícia incompleta ou escrita errada, os erros são compreensíveis e irão existir. Por conta disso, foi desenvolvido uma certa técnica, que virou alternativa para a falta de profundidade das atualizações. Como a publicação de 24

notícias urgentes exige rapidez para garantir acessos, não é possível que os redatores se aprofundem muito em um tema, afinal isso acabaria deixando ele preso em uma única matéria, diminuindo o número de notícias publicadas. Para este tipo de situação é sempre foram criado os hiperlinks, que de maneira mais simples, trata-se de um conjunto de informações que estão conectadas e tornam os conteúdos sobre um determinado mais completos, assim o leitor entende que necessita de mais informações, pode avançar e entender melhor como funciona aquele acontecimento. Além da superficialidade dos conteúdos de homepage, que estão sempre sendo curtos devido ao modelo no qual são publicados, a concepção por trás dos hiperlinks também tem forte relação com a maneira como nos comportamos na internet, como explica Pollyana Ferrari:

Na internet não nos comportamos como se estivéssemos lendo um livro, com começo, meio e fim. Saltamos de um lugar para o outro - seja na mesma página, em páginas diferentes, línguas distintas, países distantes, etc [...] que se expande e se contrai conforme as solicitações do leitor. (FERRARI, Pollyana, 2003, pg. 44)

No geral, é como se o leitor estivesse em uma grande biblioteca digital, onde ele tem a sua disposição, um imenso acervo de imagens, textos, vídeos e até diálogos para que ele possa se informar sobre algum assunto. O que permite que ele configure os conteúdos no que pode ser útil, e o que não pode, tudo de acordo com seus hábitos e preferências. Justamente neste ponto que entram os hiperlinks, afinal, assim como a TV monitora quais os programas fazem mais sucesso através do IBOPE, na internet é possível saber onde os meus leitores clicam ou ficam mais tempo. No caso específico dos jornais online, este monitoramento mostra qual o perfil dos leitores que acessam aquele jornal, permitindo que eles insiram links em suas matérias para que as pessoas permaneçam interagindo com o conteúdo de um determinado site/portal. Por conta disto adotou-se o empacotamento de notícias, retirando a produção dos fatos em si dos exercícios de escrita de um jornalista. Ou seja, ao invés do jornalista em si iniciar a produção das informações, ele recebe um material pronto - que na maioria dos casos são de agências de notícias - e simplesmente adapta para o formato do seu portal. Por conta disto, que, assim como o jornal impresso, a versão digital também conta com as famosas editorias. Como as notícias no seu formato bruto são as mesmas que estão em outros sites, o leitor necessita de uma forma de facilitar a procura de conteúdos específicos. Ter editorias também auxilia os jornalistas que estão redigindo, afinal é mais simples possuir um controle

do que está acontecendo ou sendo falado quando se divide as informações em nichos, por exemplo, eu até posso informar os convocados para seleção brasileira na minha homepage principal, mas é necessário pensar “este assunto é tão relevante quanto o anúncio de elevação da inflação?”. Apesar de sabermos que existe procura em ambos assuntos, assim como no jornal impresso as homepages precisam manchetar os principais assuntos, a diferença aqui se encontra na atualização, pois minutos após a divulgação do aumento da inflação, pode-se por exemplo, iniciar-se uma greve como a dos caminhoneiros, o que faria o aumento da inflação deixar de ser a informação principal. Exatamente por conta dessa imprevisibilidade que é necessário utilizar os hiperlinks, afinal como no exemplo dado, uma informação pode passar de protagonista do dia para coadjuvante em questões de minutos, mas isso não significa que esta informação não é relevante para o nosso dia-a-dia.

Por exemplo, o Oscar, maior prêmio do cinema, possui pelo menos seis prêmios considerados principais pelo público, entre eles estão os de “ Melhor Ator Coadjuvante” e “Melhor Atriz Coadjuvante”, consegue entender o paralelo? No exemplo que foi dado sobre a inflação, ela ainda é relevante, pois se não fosse informado este aumento, pode ser que não houvesse greve, sendo assim, para que um leitor entenda os motivos que levaram os caminhoneiros do exemplo a se manifestarem, ele precisa entender como funciona este aumento da inflação e como ela está afetando aquela classe. Os hiperlinks criam essa conexão entre assuntos, e transformam o aprendizado que antes era leviano por parte do legente.

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