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Tabela 3 - Relatório de violência à jornalistas - FENAJ

---------------------------- Capítulo II - Trolls, Bots e Fake News ----------------------------

Tabela 3 - Relatório de Violência à jornalistas - Fonte: FENAJ

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TIPOS DE VIOLÊNCIA

ASSASSINATOS AGRESSÕES FÍSICAS AGRESSÕES VERBAIS OU VIRTUAIS AMEAÇAS / INTIMIDAÇÃO ATAQUES CIBERNÉTICOS ATENTADO CENSURAS LIBERDADE DE EXPRESSÃO / AÇÕES JUDICIAIS DESCREDIBILIZAÇÃO DA IMPRENSA IMPEDIMENTO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL RACISMO / INJÚRIAS RACIAIS SEQUESTRO / CÁRCERE PRIVADO VIOLÊNCIA CONTRA O SINDICATO Nª DE CASOS % 2 0,47% 32 7,48% 76 17,76% 34 7,94% 6 1,40% 1 0,23% 86 19,86% 16 3,74% 156 35,51% 14 3,27% 2 0,47% 2 0,47% 6 1,40%

Um exemplo violência realizada a fim de descredibilizar a imprensa que não se limitou apenas ao método das fake news, foi a situação passada pela jornalista Patrícia Campos Mello. A jornalista, que é colunista da Folha de S. Paulo, sofreu diversos ataques cibernéticos após publicar uma matéria que denunciava o uso de robôs de disparo em massa via Whatsapp para efetuar ataques ao candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad. A notícia foi ao ar 10 dias antes das eleições de 2018, e descrevia um esquema comandado por empresários apoiadores de Bolsonaro, configurando o crime de “caixa dois” durante a campanha e ferindo a lei Nª13.488/2017 - que proíbe a contratação pessoas ou mecanismos com fins de ofender a honra ou prejudicar a imagem de um candidato ou partido. Foram necessárias algumas horas depois da publicação, para a jornalista começar a sofrer com uma

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enxurrada de ataques cibernéticos e verbais, recebendo inclusive ligações e xingamentos de vizinhos de moradia, como ela mesmo relata em seu livro:

Recebi milhares de mensagens ofensivas no Facebook, no Twitter e no Instagram. Fechei todas as minhas redes sociais. Em uma delas, o Facebook, um fulano afirmava: “Se você quer a segurança do seu filho, saia do país. Não é uma ameaça, é um aviso” . [...] Hackearam meu celular. Textos a favor de Bolsonaro foram disparados a partir da minha conta no WhatsApp. Várias mensagens sumiram (por sorte eu tinha backup de tudo o que importava para a matéria). Em e-mails, eleitores de Bolsonaro passaram a ser convocados a aparecer em eventos de que eu participaria. As mensagens traziam data, horário e endereço e diziam: “A jornalista petista vai. Vão lá” . Tive que cancelar tudo por um mês. (MELLO, 2020)

De acordo com a autora, o extremismo desta situação a abalou tanto que ela passou a sair na rua somente com guarda-costas, algo que ela relata não ter cogitado nem mesmo durante a cobertura da guerra na Síria. (MELLO, 2020) Este tipo de situação não pode ser considerado exceção, pois como demonstrado na tabela 3, diversos outros casos aconteceram. O relatório da FENAJ 2020 também aponta que 428 casos de violência contra jornalistas foram registrados, aumentando em 105,77% em relação ao ano anterior. Entre os principais agressores estão: políticos, servidores públicos, internautas, juízes e procuradores e o presidente da República, Jair Bolsonaro.

Uma vizinha, moradora do prédio ao lado do meu, no mesmo conjunto, abria a janela e gritava, quando eu estava na portaria: “Chupa, petista! Aêêê Bolsonaro!” . Ligaram no meu celular: “Sua vagabunda petista mentirosa. Vou na sua casa destruir sua cara” [...] Em alguns dias, deixei de ser conhecida só no meu meio, por reportagens internacionais de guerra, refugiados e ebola, e passei a ser uma pessoa odiada e xingada. (MELLO, 2020)

Quem também desempenha papel importante neste processo são as redes sociais, pois o caráter de imediatismo das redes criaram dois comportamentos que facilitam muito a descredibilização da imprensa. Dentro de plataformas como Facebook e Twitter, os usuários possuem duas reações ao que circula pela sua timeline: compartilhar o conteúdo porque concorda com o que foi expresso nele, independente de ser ou não falso. E por conta da falta de tempo ou da velocidade que as coisas acontecem no mundo digital compartilhar o que lhe parece ser mais verídico. “Se uma pessoa acessou um link para se inscrever em um grupo, ela

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tende a ter um viés de confirmação , 29 ou seja, está predisposta a acreditar no conteúdo que vai receber”. (MELLO, 2020) Também podemos apontar como um participante influente as companhias de telefonia no Brasil, que através de planos que oferecem custo zero no uso de redes sociais como: Whatsapp, Facebook, Instagram e Twitter, acabam indiretamente forçando a sociedade a consumir apenas as notícias que circulam por essas plataformas, local que conforme apresentado anteriormente, as fake news e a desinformação no geral possui bastante engajamento. Além claro, da dificuldade de se filtrar os conteúdos, o que torna muito difícil não apenas para o jornalismo - que precisa entrar neste segmento para conquistar mais credibilidade -, mas também para os usuários que se deparam com diversas informações sem a possibilidade de checar se elas de fato são verdadeiras.

De acordo com uma pesquisa Datafolha de outubro de 2018, 46% das pessoas liam sobre política e eleições pelo WhatsApp; também 46% das pessoas se informavam pelo Facebook. Entre os eleitores que se serviam do WhatsApp, 47% acreditavam, muito ou um pouco, nas notícias que recebiam pelo aplicativo. Entre os eleitores de Bolsonaro, 52% acreditavam, muito ou um pouco, nas notícias que chegavam pelo aplicativo, contra 44% dos que votavam em Haddad. (MELLO, 2020)

Por conta disso, em alguns dos casos o jornalismo sequer tem chances de combater as fake news, pois são disseminadas em ambientes no qual o jornalismo não se encontra - como é o caso dos disparos por Whatsapp. Entretanto, uma maneira do jornalismo responder e combater as fake news é através das agências de checagem, um braço do próprio jornalismo, que se dedica totalmente ao combate da disseminação deste tipo de notícia. Afinal, estes acontecimentos não se restringem a acontecimentos passados, recentemente durante o Dia da Independência do Brasil - 7 de setembro -, diversas fake news rondaram a internet, e os conteúdos foram desde notícias criadas - como é o caso da notícia que afirmava que a Polícia Militar teria feito uma estimativa de cerca de 86 milhões de apoiadores nos atos pró-presidente -, até mesmo deepfakes e montagens, como por exemplo as publicações feitas por páginas bolsonaristas de que a Torre Eiffel, principal cartão postal de Paris e o Empire State Building, em Nova Iorque foram iluminados com as cores verde e amarelo em

29 Viés cognitivo faz com que a pessoa descuidadamente procure informações que confirmam suas crenças e opiniões, consequentemente obrigando ela a descartar aquelas que não o fazem. Esse comportamento também afeta os dados de que você se lembra e a credibilidade que você dá às informações que lê.

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