Fico ansioso ao tomar decisões - Michael Gembola

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Rio de Janeiro, RJ

Fico ansioso ao tomar decisões: Encontrando a verdadeira liberdade na paz de Deus?

Traduzido do original em inglês: Anxious About Decisions: Finding Freedom in the Peace of God

Copyright © 2022 Michael Gembola

Publicado originamente por New Growth Press Greensboro, NC 27401 www.newgrowthpress.com

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por PRO NOBIS EDITORA, Rua Professor Saldanha 110, Lagoa, Rio de Janeiro-RJ, 22.461-220

1ª edição: 2025

ISBN: 978-65-81489-74-8

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo citações breves, com indicação da fonte.

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Judiclay Silva Santos

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Supervisão editorial: Cesare Turazzi

Coordenador técnico: Lucas Sabatier

Tradução: Leandro Bachega

Preparação de texto: Lucas V. Freitas

Revisão de provas: Thalles de Araujo

Capa e design original: Studio Gearbox

Adaptação gráfica: Wirley Corrêa

Diagramação: Marcos Jundurian

Nesta obra, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA), salvo informação em contrário.

As opiniões representadas nesta obra são de inteira responsabilidade do autor e não necessariamente representam as opiniões e os posicionamentos da Pro Nobis Editora ou de sua equipe editorial.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Hambrick, Brad.

Fico ansioso ao tomar decisões: encontrando a verdadeira liberdade na paz de Deus / Brad Hambrick; tradução Leandro Bachega. – Rio de Janeiro: Pro Nobis Editora, 2025.

Título original: Anxious about decisions: finding freedom in the peace of God.

ISBN 978-65-81489-74-8

1. Aconselhamento - Aspectos religiosos - Cristianismo 2. AnsiedadeAspectos religiosos - Cristianismo 3. Liberdade - Aspectos religiosos - Cristianismo 4. Teologia 5. Tomada de decisão - Aspectos religiososCristianismo 6. Vida cristã I. Título.

25-259162 CDD-248.4

Índices para catálogo sistemático: 1. Tomada de decisão: Vida cristã: Cristianismo 248.4

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

contato@pronobiseditora.com.br www.pronobiseditora.com.br

Extraordinário. Michael identifica as novas variantes dos quadros atuais de ansiedade, reunindo, então, reflexões de pessoas sábias e combinando-as com sua própria sabedoria pastoral de um modo que realmente instrui.

Edward T. Welch , docente e conselheiro da Christian Counseling & Education Foundation (CCEF); autor de Recebi um diagnóstico psiquiátrico (Pro Nobis Editora)

Nem toda decisão envolve direções tão distintas como casar-se ou comprar uma bicicleta. É verdade, no entanto, que muitas delas são capazes de nos paralisar de tanta ansiedade. Afinal, quanto maiores os riscos e as incertezas, maiores os medos. Neste livro, Michael Gembola nos ajuda a considerar o papel do coração nas tomadas de decisões, estimulando-nos a alinhar nossos desejos e valores aos de Cristo e, assim, encontrar descanso e segurança nele.

Lucas Sabatier (PhD, The Southern Baptist Theological Seminary), professor de aconselhamento bíblico no Seminário Bíblico Palavra da Vida

Você já refletiu sobre o privilégio de ter a voz de Deus guiando suas decisões? É exatamente essa experiência que Gembola nos proporciona em seu livro, por meio da abundância de textos bíblicos que utiliza. Prepare o seu coração para se despir da ansiedade na tomada de decisões, ser renovado no modo de pensar sobre o assunto e se revestir da confiança que é fruto da semelhança com Cristo Jesus.

Daniel Simões, pastor na Igreja Batista Memorial de São Paulo

Escrito com clareza e de extrema relevância, este livro de Michael Gembola é um dos livros mais úteis que já li. Qual de nós já não se afligiu com decisões pendentes? Gembola se vale da Escritura e recorre a uma variedade incrivelmente ampla de pensadores cristãos, terminando cada capítulo com questões práticas para reflexão, o que torna este livro perfeito para estudo individual ou em grupo. Mal posso esperar para oferecê-lo aos membros da minha congregação!

Christopher A. Hutchinson , pastor da Grace Covenant Presbyterian Church, Virgínia; autor de Rediscovering Humility

Este livro está repleto de uma sabedoria bíblica profundamente confortadora, gentil e prática. Michael Gembola trata de forma perspicaz das muitas razões por que temos dificuldades ao tomar decisões. Após a leitura, você entenderá como tomar decisões com confiança humilde, sabendo que Jesus o segura em meio a seus temores e incertezas.

Darby Strickland , docente e conselheiro da Christian Counseling & Education Foundation (CCEF); autor de Is It Abuse?

A ansiedade perante decisões é real, mas muito mais a paz que Deus oferece. As páginas deste livro estão repletas de maneiras práticas e bíblicas de lidar com a sua ansiedade. Ele ajudará o leitor a chegar àquilo que está no cerne do seu estado ansioso, e o direcionará à paz de Deus.

Eliza Huie, conselheira bíblica certificada; diretora de aconselhamento na McLean Bible Church em Vienna, Virgínia; coautora de The Whole Life

Não pude deixar de pensar em várias pessoas na minha vida que se beneficiariam imediatamente com esta mais recente contribuição de Michael Gembola. Bem escrito, com uma excelente fundamentação e transbordando de reflexões sábias e bíblicas, este livro aborda uma questão frequentemente negligenciada com habilidade e humanidade. Aqueles que se veem ansiosos e precisando de auxílio encontrarão em Michael um guia paciente e compreensivo, ajudando-os a caminhar em direção a uma fé mais profunda em Cristo.

Jonathan D. Holmes , diretor executivo da Fieldstone Counseling; coautor de Rescue Skills

Valendo-se de anos de experiência no aconselhamento daqueles que se sentem ansiosos para tomar decisões, sejam grandes ou pequenas, Michael Gembola leva os leitores, de forma ponderada e cativante, a reflexões mais profundas sobre sua ansiedade, fornecendo também sugestões práticas centralizadas em Cristo para que enfrentem os problemas, libertem-se da paralisia da escolha e parem de ficar se remoendo. Considerando se deve ou não ler este livro? Gembola diria que você tem a liberdade diante de Deus para escolher ambas as opções. (Mas, se assumir o risco e adquiri-lo, eu tenho 99,9% de certeza de que você não vai se arrepender!)

Michael R. Emlet , reitor de faculdade e conselheiro da Christian Counseling & Education Foundation (CCEF); autor de Saints, Sufferers, and Sinners

Para a minha mãe

Sumário

Prefácio à edição em português — Eduardo Ross .................................................................. 13 Agradecimentos ............................................................... 17 Introdução ....................................................................... 19

Primeira parte: Entendendo a ansiedade perante decisões

1. Como funciona a ansiedade perante decisões .......... 39

2. Por que tentar consertar a ansiedade não funciona ............................................................. 49

3. Sentindo-se confuso com a vontade de Deus ........... 57

Segunda parte: De onde vem a ansiedade perante decisões

4. A vida em uma cultura de medo durante a juventude e a idade adulta ......................................................... 71

5. Como famílias ensinam do que se deve ter medo, e por que é tão convincente ...................................... 83

Terceira parte: Como mudar

6. Ansiedade com o casamento ..................................... 95

7. Ansiedade perante a ideia de vocação pessoal .......... 115

8. Ansiedade perante planos, aquisições e outras coisinhas ......................................................... 137 Conclusão ........................................................................ 155 Bibliografia recomendada ................................................ 161

Prefácio à edição em português

Pare agora mesmo por alguns segundos e tente se lembrar de quantas decisões você tomou apenas hoje. É provável que tenham vindo à sua mente momentos claros em que, de forma consciente, essas escolhas ocorreram. Talvez você tenha se lembrado de decisões significativas que tomou ao longo do dia. Entretanto, por mais que se esforce, seria impossível ter plena consciência de quantas escolhas somos capazes de fazer. Alguns especialistas estimam que pelo menos 35.000 decisões são tomadas ao longo de um dia comum. Situações que variam desde decidir se levantar no horário programado pelo despertador ou desfrutar — ainda que irresponsavelmente — de apenas mais cinco minutos na cama, até sair de problemas complexos no trabalho e nos relacionamentos ou ainda o que — e quanto — comer no café da manhã.

Refletir sobre esta incrível capacidade revela algo impressionante: somos máquinas de tomar decisões. Todos nós, todos os dias, temos a responsabilidade de fazer diferentes escolhas em distintos níveis de complexidade. Essa capacidade de considerar, às vezes de maneira inconsciente ou em uma fração de segundos, milhares de possibilidades, gostos e consequências é uma das mais impressionantes habilidades que Deus nos concedeu. Contudo, vivemos numa era em que essa capacidade tem sido vista mais como um fardo do que um privilégio para um

número crescente de pessoas. Embora decisões fizessem parte da vida humana antes mesmo da queda, é inegável que as exigências, as pressões e as incontáveis opções de nosso tempo têm tornado essa experiência algo cada vez mais complexo, assustador e imprevisível.

Pense na quantidade de carreiras disponíveis para um jovem em idade pré-vestibular há trinta anos em comparação com as profissões disponíveis hoje. Para encontrar o futuro cônjuge, ao invés de procurar no mesmo bairro ou na mesma igreja, há bilhões de possíveis candidatos conectados pelas redes sociais. Praticamente ninguém mais vai à locadora em busca dos lançamentos da semana, mas precisa optar dentre um catálogo infinito nas plataformas de streaming. Atire a primeira pedra quem nunca perdeu a fome e desistiu do pedido depois de um longo tempo escolhendo o que comer pelo aplicativo de pedir comida.

Esse leque de opções para quase tudo de fato tornou a vida mais fácil, mas também aumentou significativamente as crises relacionadas às tomadas de decisões. Mais e mais pessoas relatam sentir-se paralisadas, assustadas e ansiosas diante de escolhas que precisam tomar. Sentem-se perdidas, inseguras e temerosas sobre o que fazer. Um fenômeno que vai além de jovens e adultos inseguros e que tem crescido consideravelmente mesmo entre aqueles que tem na tomada de decisões a sua própria profissão, como gestores e empresários.

Embora sejamos seres criados para administrar e governar tudo o que Deus nos confiou, essa capacidade é frequentemente afetada pela preocupação, pela insegurança e pelo medo. A diversidade de opções disponíveis alimenta o temor de más escolhas. A insegurança evidencia a real incapacidade de prever todos os desdobramentos. Assim, paralisados, em vez de mordomos fiéis desta habilidade sublime, somos consumidos pelo abismo infinito da ansiedade e da incerteza.

Nas últimas décadas, diversos autores se dedicaram a encorajar a igreja a caminhar por esse pântano escuro e sombrio. Foram obras que nos ajudaram a caminhar seguros pela vontade que Deus expressou a seus filhos nas Escrituras. Aprendemos a distinguir exatamente o que queremos dizer com a expressão “vontade de Deus” e como ela se relaciona com nossas escolhas. Combatemos terminologias estranhas, como “descobrir” ou “buscar” uma vontade oculta ou não revelada de Deus. Combatemos uma busca mística e pagã por segurança, mas que somente trazia medo e engano. Poucos autores, porém, se voltaram para a experiência e as dores de quem sofre com esse problema, e menos ainda ofereceram caminhos práticos para ajudar pessoas a navegar pelos revoltos mares da dúvida e encontrar o descanso e a segurança que Cristo oferece. Essa abordagem quanto aos aspectos interiores e profundos do coração de quem sofre para tomar decisões é certamente o grande mérito deste livro, pelo qual Michael Gembola preenche essa lacuna que ficou por muito tempo aberta. Somos convidados a abraçar a realidade de que decisões sempre envolvem uma dose de incerteza e a incapacidade natural do homem de prever todas as variáveis envolvidas. Sempre haverá riscos, mas, ainda que estes existam, podemos encontrar na presença amorosa e segura de Deus, nosso refúgio e fortaleza, a certeza de que acertos e erros estão nos conduzindo à maturidade em Cristo, para a qual ele nos predestinou antes da fundação do mundo. Com esta perspectiva em mente, podemos ajudar quem sofre a considerar a tomada de decisões não como um fardo, mas como um privilégio concedido por Deus. Sendo nós pessoas regeneradas por sua graça, podemos aprender até mesmo a ver com novos olhos a ansiedade e o temor diante das escolhas. Ao reconhecer as dinâmicas de um coração que sofre, Gembola destaca que esses sentimentos são mecanismos dados

por Deus para nos proteger dos perigos da inconsequência. Isso não significa que as decisões devam ser repletas de autoconfiança, mas este livro nos lembra de que a tomada de decisões sábias é uma habilidade que pode e deve ser desenvolvida, em submissão, confiança e fé no Salvador, que não apenas nos guia, mas também deseja nosso crescimento em maturidade.

Ao ler este livro, somos mais uma vez lembrados do privilégio de tomar decisões para a glória de Deus. Podemos ouvir sua voz por meio das Escrituras e, pouco a pouco, sermos transformados por ela e experimentarmos não mais o fardo das decisões, mas sua beleza. Assim, seguimos confiantes, sabendo que decisões fazem parte do chamado de Deus para as nossas vidas, e conscientes de que, embora sempre envolvam riscos, encontramos em Jesus o poder para andar em confiança e submissão, humildes diante dele, mas também corajosos e seguros.

Eduardo Ross , pastor na Igreja Fonte São Paulo; diretor de desenvolvimento global na ShareWord Global; membro da ABCB (Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos)

Agradecimentos

Agradeço à equipe da New Growth pelo convite para contribuir com a série Pergunte a um conselheiro cristão, pelas conversas úteis e agradáveis com Barbara e Rush, e pela sábia ajuda editorial de Sarah e Ruth. Agradeço, também, à Fundação de Aconselhamento Cristão e Educação (CCEF) pela oportunidade de estudar e apresentar este tópico em sua Conferência Nacional de 2019. Aquele seminário, intitulado “Ansiedade com Decisões e a Paz de Deus”, proporcionou a oportunidade de trabalhar muitas das ideias agora inclusas neste livro.

Também sou grato ao conselho e aos meus colegas da Blue Ridge Christian Counseling, pela confirmação e pelo incentivo, tanto para com meu trabalho diário local quanto para oportunidades externas, como este projeto.

As histórias que usei para ilustrar este projeto foram tiradas da minha experiência como conselheiro mas não experiências únicas. Em todo caso, devo agradecimentos aos cristãos fiéis que aconselhei ao longo dos anos em seus períodos de ansiedade com as decisões. Eles me ensinaram muito sobre a fé que prospera mesmo em meio a questões difíceis.

Amigos e familiares queridos caminharam comigo durante minha própria parcela de ansiedade com decisões. Joel, Eamon e Dave estão comigo há muito tempo. Meus pais sempre

modelaram uma fé madura e estável, e me convidaram a fazer o mesmo em muitas conversas sobre as decisões da vida. Meus filhos — Adriano, Shane e Malia — me ensinaram muito sobre o medo e fé como a de uma criança. A fé madura e constante de minha esposa Kelly tem me influenciado há uma década, e impacta tudo que escrevo. Ela também dedicou várias noites editando e contribuindo com ideias úteis para este livro — melhor do que o esperado!

Introdução

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.” (Mt 11.28)

A mensagem fundamental que eu quero que você tire desse livro é que Deus usa o processo de tomada de decisões para ajudar você a crescer e amadurecer como cristão. A tomada de decisão é uma arena para a formação espiritual. Esta arena, em especial, tem o potencial de levar você em direção a um maior senso de paz, firmeza e confiança para viver sua vocação. Viver com um senso de vocação pode parecer complicado se você experimenta uma dose significativa ou extrema de ansiedade com as decisões, ou se sofre com pensamentos invasivos e obsessivos. Essas lutas mais profundas podem ser particularmente paralisantes, então são parte do foco deste livro. Porém, muitas coisas que eu direi ainda se aplicam àqueles que vivenciam as irritações e as dores menos severas de se sentir recorrentemente empacado em momentos de decisão.

A ansiedade com decisões abrange um conjunto de sentimentos e comportamentos que interrompem, complicam ou desaceleram excessivamente nossas decisões. Ela inclui sentimentos de medo, pânico ou uma instabilidade persistente que é excessiva e não condiz com as circunstâncias.

Para a maioria de nós, algum grau de ansiedade complica nossa tomada de decisão e nosso senso de vocação como cristãos.

Com frequência, nós simplesmente não sabemos o que fazer, e nos perguntamos o que Deus quer que façamos. Qual é a nossa vocação? Nós a lemos em Miqueias 6.8:

Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus.

Decisões cotidianas são oportunidades de aplicarmos este amplo chamado a nível pessoal. Nas decisões da nossa vida, como escolher entre permanecer como professor do ensino médio ou voltar para a faculdade de enfermagem, estaremos mais fundamentados espiritualmente se pensarmos em buscar opções que ofereçam meios de vivermos nossa vocação, mas, frequentemente, a resposta específica não estará clara ou óbvia neste aspecto. A maior parte das profissões proporciona oportunidades diárias para que alguém seja justo, misericordioso e caminhe humildemente com Deus. Tomar boas decisões tem a ver com crescer em sabedoria e desenvolver a habilidade de aplicar os princípios do chamado cristão mais amplo às especificidades das nossas vidas, em dependência humilde de Deus e em comunidade com auxiliadores sábios.

Além do que é abordado nos Dez Mandamentos e na regra áurea, geralmente as decisões não se tratam de descobrir a vontade divina nos detalhes, pois Deus tipicamente não nos diz quais decisões tomar, e não esconde de nós as coisas que ele deseja que façamos. Por exemplo, sabemos muito mais sobre como ele quer que vivamos do que onde ele quer que vivamos, com o que ele quer que trabalhemos quando chegarmos lá, e com quem devemos buscar esta vocação. Há mais coisas por trás da vontade divina do que aquilo que sabemos, e nós jamais desvendamos todos os mistérios. Deus é gentil ao nos

dar o que ele quer que saibamos, mas refletir sobre tudo o que permanece desconhecido nos torna humildes (Dt 29.29; 1Co 2.9-12; 2Pe 1.3).

Ser uma criatura, e não o Criador, significa que nosso conhecimento é parcial, incompleto e limitado. Não há como contornar as incógnitas que levam à ansiedade com decisões. Isso pode parecer decepcionante, mas, por favor, não pare de ler aqui. Deus tem grandes planos para nossas grandes decisões, e ele tem algo a nos oferecer também para as pequenas. Muito embora, em certo sentido, a ansiedade e a preocupação sejam coisas que fazemos, nós também costumamos vivenciar a indecisão como uma aflição — algo que acontece a nós ou em nós, e que machuca. E Deus tem muito a dizer a pessoas sofredoras. Com frequência, Deus tem guiado seu povo por períodos de deserto, por vales onde a morte lança uma sombra longa, e por tempos de sofrimento quando sua força é aperfeiçoada em nossa fraqueza. Incerteza, perigo e risco são formas de sofrimento que nunca são agradáveis. Mas ele nos oferece algo melhor do que a certeza ou a ausência de riscos: ele promete estar conosco. E, quando o Bom Pastor está nos guiando, descobrimos que ele usa nossos momentos de tomada de decisão para nos formar de duas formas: ele nos torna mais pacíficos e nos faz mordomos melhores. Quanto maior for o tempo e a proximidade com que caminhamos com o Bom Pastor, mais as decisões que provêm do nosso coração estarão alinhadas com o coração dele.

Quando desistimos de tentar desvendar o plano divino em todos os detalhes, isso nos abre a porta para procurarmos por outra coisa. Podemos começar a buscar sua paz, uma firmeza espiritual bem no meio da incerteza — este é o tipo de paz

Paz

que excede o entendimento (Fp 4.7). Passamos a buscar o descanso, a calma e a confiança que experimentamos em nosso relacionamento com Deus. E, assim, nós caminhamos com esta “minha pequena luz” que temos, uma lâmpada para os nossos pés iluminando alguns passos à frente no caminho. Nós aceitamos a incerteza, respiramos fundo e, como diz Emily P. Freeman (e também a princesa Anna em Frozen II), fazemos “a próxima coisa certa”.1 Abraçar a paz é o ato de não lutar para sempre ter certeza absoluta em nossas decisões, e, em alguma medida, é não ficar esperando que Deus intervenha e tome as decisões em nosso lugar. Tomamos decisões melhores quando entendemos que Deus nos deu sua presença, paz e direção através de sua Palavra e entre o seu povo, e que, no final das contas, nós mesmos somos chamados a tomar decisões.

Eu me pergunto se isto parece pouco espiritual. O Espírito de Deus não nos guia quando tomamos decisões? Algumas pessoas comentam sobre frequentemente terem uma percepção sensível da orientação divina, e falam de receber cutucões ou clareza enquanto jejuam e oram. Por vezes, as histórias são atraentes — por exemplo, repentinamente sentir um desejo intenso de ligar para alguém só para descobrir uma chance de atender a uma necessidade urgente. Eu certamente já senti coisas assim, e muitas vezes desejei que acontecesse com mais frequência. Algumas vezes, desejei que Deus interviesse e tomasse certas decisões para que eu mesmo não tivesse que tomá-las; quis que ele me comunicasse a resposta certa por intermédio de outras pessoas ou de sentimentos fortes e claros. Alguns cristãos poderiam me encorajar a esperar com mais

1 Emily P. Freeman, The Next Right Thing: A Simple, Soulful Practice for Making Life Decisions (Grand Rapids, MI: Revell, 2019), e o podcast dela com mesmo nome.

paciência até que Deus fale comigo dessa forma, e a dar mais espaço para considerar meus sentimentos como um palco para a possível direção divina. Muito embora eu não compartilhe muito da perspectiva dessas pessoas, quero deixar espaço para o tipo de humildade que escuta esse encorajamento, pois cristãos certamente acreditam em um Deus que se preocupa com os detalhes de nossas vidas e que intervém para o bem. Meditaremos melhor nesta questão no capítulo 3. Independente do nosso desejo por sensações vindas de Deus, cristãos que lutam com ansiedade raramente experimentam momentos de clara e perceptível direção divina. E, mesmo que os tivessem, nossos impulsos mais espirituais ainda precisam ser moldados pela sabedoria bíblica e pela humildade em comunhão. Minha convicção própria é que Deus está mais interessado em nos fazer crescer como cristãos, e nos ajudar a tomar decisões sábias, do que em tomar decisões em nosso lugar por meio de sensações ou figuras de autoridade. Pensar que nossas decisões, em alguma medida, cabem a nós mesmos pode ser um pensamento assustador. Mas só é assustador se estamos sozinhos nessas decisões, e se o resultado final para nossos corpos e almas está nas mãos do acaso, ou é totalmente dependente da nossa própria sabedoria. Deus pode usar até nossos erros e fracassos para nosso bem e sua glória. A tomada pessoal de decisão não é uma independência isolada, mas maturidade e agência conectadas. Somos livres para fazer, livres para agir, e, especialmente, livres para amar a Deus e ao nosso próximo. Esta é a vida livre, madura e ativa que Deus tem para nós. E, em toda a nossa tomada de decisão, o Espírito Santo nunca nos deixa ou abandona. Deus é gentil em nos dar seu Espírito, que nos guia em direção ao que mais importa, mas no tempo e no jeito dele. E, no último dia, ele revelará sua obra misteriosa — e veremos como ele trabalhou um bem maior a

partir do nosso bem menor, e como subverteu ou derrubou todo o mal feito a nós ou por nós (Rm 8.28).

Minha percepção geral é que os cristãos que lutam com ansiedade em relação às decisões não são ajudados quando os orientamos a dar mais tempo e atenção para possíveis sensações do Espírito. Pelo contrário, o foco de nossas orações e reflexões deveria estar nas coisas que o Espírito promete fazer na Bíblia, especialmente sua promessa de nos levar à paz. Ela é um fruto do Espírito (Gl 5.22) — Deus a faz crescer em nós tanto como uma experiência quanto um estilo de vida. A paz é parte do que significa ser sábio (Tg 3.17,18). Paz, no sentido de não sermos jogados por aí e constantemente abalados, também é parte da maturidade cristã. Ser um cristão cheio com o Espírito é estar ligado a outros cristãos pela paz, tornando-nos mais firmes e mais fortes juntos, a fim de que todos permaneçamos sobre ambos os pés (Ef 4.2,11-16). Não estamos tentando agir de forma mais independente; em vez disso, temos como alvo descansar na dependência de Deus e na interdependência dos outros. A partir desse profundo senso de segurança, somos fortalecidos a agir com confiança. Longe de ser um esforço pouco espiritual, buscar pela paz em nossas decisões requer que caminhemos com Jesus, o Príncipe da Paz. Que paz mais profunda poderíamos acessar do que aquela criada por ele através de seu amor sacrificial e reconciliador? Ele cria paz entre Deus e pessoas, entre as pessoas, e também dentro delas. Ele acalma a guerra e a hostilidade fora de nós e dentro de nós. A paz é uma emoção, e é uma coisa maravilhosa de se experimentar. Mas é também muito mais que isso. Shalom, na Bíblia, é um termo usado para descrever uma paz reconciliadora para a pessoa e para toda a comunidade — bem-estar, bondade e plenitude compartilhados, — uma sensação de que as coisas estão funcionando da forma que deveriam.

Com este tipo de paz dentro de nós, pois fomos reconciliados com Deus, somos movidos a criar paz fora de nós mesmos, com os outros, amando nosso próximo e nosso inimigo. Com esta paz dentro de nós, também nos preocupamos menos em saber quais decisões são as melhores para nós, e passamos a estar mais preocupados em tomar o tipo de decisão que traz a paz de Deus para o mundo, especialmente em nosso cantinho do mundo. Continuamos esperando e orando para que venha o reino divino da paz, sobre a terra assim como no céu, e esta orientação transforma nossa calma paz interior em uma ativa paz exterior. Ela transporta nosso Sábado para dentro de uma semana de trabalho na nova criação. Em vez de sermos imobilizados pela ansiedade com as decisões, somos mobilizados para a obra de Deus no mundo. Ter esta mentalidade é estar realmente vivo, tal como fomos criados a ser.

Mordomia

Trazemos a paz de Deus para o nosso papel de administradores, ou “mordomos”, de nossas vidas. Na Bíblia, um mordomo é alguém que administra o que pertence a outra pessoa. Isto significa que tudo o que temos vem de Deus, e ele nos deu o chamado e a tarefa de administrar ou governar aquilo que ele confiou a nós. Na maioria das vezes, provavelmente não nos sentimos como pequenos reis e rainhas, governando nossos mundos. Temos supervisores no trabalho, na igreja e na sociedade. Muitas vezes, sentimos que não temos muito poder em nosso mundo. E é verdade: não somos igualmente responsáveis por tudo da mesma forma, e nem tudo é só nosso. É uma dádiva saber que nem todos fomos chamados para estar no comando em todos os sentidos. Porém, de outro ponto de vista, pequenos reis e rainhas é exatamente o que nós somos. A imagem que o livro de Gênesis

pinta da humanidade inclui figura s de vice-regentes, jardineiros reais, organizadores, classificadores, nomeadores e governantes. A humanidade, em seu ideal do Salmo 8, é um pouco menor que os anjos, pequena diante de Deus, mas grande no mundo dele. As pessoas têm todo tipo de autoridade, gerenciando e organizando todo tipo de animal na terra, no céu e no mar. É claro que, com o mal em cena, a humanidade é apenas uma casca de seu antigo eu — às vezes, mais parecida com as feras do que com os anjos.2 Todos os dias, os humanos administram este mundo de maneira imperfeita, com resultados surpreendentemente mistos, curando doenças com uma mão e afastando crianças refugiadas com outra. Mordomia importa; grandes decisões importam.

Todos os dias, os humanos também administram seu próprio mundinho com impressionante imperfeição. As pessoas aceitam empregos dos quais se arrependem, se envolvem em namoros e casamentos que contrariam o bom senso, e, às vezes, dirigem bêbadas. Ao mesmo tempo, enquanto escrevo, algumas pessoas estão fazendo um trabalho heroico e sacrificial para oferecer assistência médica durante uma pandemia global, algumas estão namorando e se casando com sabedoria e bondade, e algumas outras estão voltando a se reunir em grupos no andar de baixo das igrejas para se ajudarem a tentar viver sóbrios. Somos gerentes imperfeitos de um mundo bom, mas quebrado. Somos gerentes imperfeitos de vidas boas, mas

2 Muitos dos temas relacionados à mordomia foram extraídos da obra de Doug Green, um estudioso do Antigo Testamento. Confira: Douglas J. Green, “Psalm 8: What Is Israel’s King That You Remember Him?” (versão revista do discurso de capela no Westminster Theological Seminary, Filadélfia, 2 mar. 2001, e no Reformed College of Ministries, Brisbane, 5 set. 2002). Disponível em: https://www.academia.edu/7222228/ Psalm_8_What_Is_Israels_King_That_You_Remember_Him.

quebradas. Não temos a opção de vivermos vidas perfeitas e de tomar decisões perfeitas. Muitas vezes, não temos nem plena confiança de que tomamos a melhor decisão entre as opções disponíveis. Certamente, não sabemos o que o futuro nos reserva. Então, o que Deus pede de seus mordomos, seus administradores de vidas imperfeitas?

O apóstolo Paulo nos dá uma ideia. “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (1Co 4.1,2). Deus dá ao seu povo um encargo, uma supervisão gerencial, e, nesta passagem, os primeiros líderes da fé cristã queriam administrar fielmente sua responsabilidade de ensinar sobre o amor de Jesus. Por extensão, Deus também nos dá o gerenciamento de nossas próprias vidas e áreas de serviço. Não suplantamos o chamado original para a humanidade em Gênesis, de governar nosso cantinho do mundo, ordená-lo e organizá-lo para que seja frutífero (Gn 1.28; Mt 25.14–30).

Às vezes, parece que temos coisas demais para administrar, e, outras vezes, parece que é pouco. Mas, em última análise, ninguém mais é responsável por minha vida da mesma forma que eu sou — é um encargo especial pelo qual prestaremos contas (Rm 14.4,12; 2Co 5.10). O que se exige dos mordomos não é que sejam perfeitos, conheçam o futuro ou apostem nas probabilidades. Somos chamados a ser fiéis. Nem sempre acertaremos, e nem todas as situações têm uma boa solução. Mas, todos os dias, precisamos sair para o pedacinho de terra que Deus nos deu para cultivar. Nós regamos e adubamos, cuidamos e aparamos, e confiamos em Deus para que os frutos de nosso trabalho venham (1Co 3.6–8).

Como este livro será útil

Este livro não oferecerá um protocolo completo de como tomar boas decisões. Não posso garantir um ótimo resultado para cada uma delas. Quero ajudá-lo a se libertar da ansiedade com decisões, e parte dessa liberdade envolve aceitar uma realidade difícil: para a maioria de nossas decisões não morais, não temos garantia absoluta de que elas serão boas. Às vezes, nem mesmo temos uma garantia confiável de que nossas decisões não são ruins. Meu objetivo é ajudá-lo a viver fielmente com essas incertezas.

Ajuda adicional está disponível em recursos claros e acessíveis, como Farsighted [Clarividentes], de Steven Johnson, que destila princípios práticos a partir de um estudo mais amplo sobre a tomada de decisões, seja para planejamento urbano e estratégia corporativa, seja para decisões pessoais sobre carreira e relacionamentos.3 Recursos como este ajudarão você a fazer uma lista melhor de prós e contras antes de tomar uma decisão significativa, adicionar um valor numérico aos itens na sua lista, reconhecer coisas conhecidas e desconhecidas, pensar no quadro geral e nas possíveis consequências a longo prazo, tolerar ambiguidades e incertezas, e tomar atitudes construtivas. Muitos recursos cristãos se baseiam nestes tipos de estratégias práticas, mas procuram adicionar também uma imagem mais completa dos objetivos da tomada de decisão de um cristão, bem como ajudá-lo a entender melhor a vontade de Deus. Destacarei apenas um.

Grande parte da mensagem básica para os cristãos sobre a tomada de decisão e a vontade de Deus é capturada no livreto

3 Steven Johnson, Farsighted: How We Make the Decisions That Matter Most (New York: Riverhead Books, 2018).

de J. I. Packer, Finding God’s Will [Conhecendo a vontade de Deus]. 4 Ele pontua que, frequentemente, encontramos seis problemas-chave em momentos de tomada de decisão. Trabalhar contra cada um deles é ter mais liberdade para tomar boas decisões:

1. Falta de vontade de pensar;

2. Falta de vontade de pensar no futuro;

3. Falta de vontade de aceitar conselhos;

4. Falta de vontade de suspeitar de si mesmo;

5. Falta de vontade de descontar o magnetismo pessoal;

6. Falta de vontade de esperar. 5

Ao destacar o valor do pensamento, Packer está se opondo às tendências pietistas e seguindo em favor do raciocínio com uma consciência moldada pela Palavra de Deus, e de valores moldados pelo coração de Deus. Por “falta de vontade de descontar o magnetismo pessoal”, ele identifica o problema das pessoas que permanecem sob a influência de um líder convincente e dominador, tendo, assim, sua tomada de decisão comprometida e corrompida.

A maioria das pessoas precisará de mensagens como a de Packer para crescer em seu discipulado como cristãs. Aquelas que lutam contra a ansiedade com decisões também se beneficiarão com esses amplos recursos, mas ainda não. A razão disso é que as que lutam contra a ansiedade com decisões são tipicamente marcados por uma lista de lutas que são o oposto aos seis problemas da lista de Packer:

4 J. I. Packer, Finding God’s Will (Downers Grove, IL: Inter Varsity Press, 1985). [Decisões Conhecendo a vontade de Deus (Cultura Cristã, 2012).]

5 Ibid., p. 18-21.

• pensam demais;

• pensam tanto no futuro que acabam não estando no presente;

• coletam conselhos de tantas pessoas quanto possível;

• constantemente duvidam e desconfiam de si mesmas;

• são incapazes de confiar nos outros;

• atrasam decisões por tanto tempo que acabam perdendo oportunidades.

Estes problemas tornam as decisões bastante difíceis, e, quanto mais graves eles são, mais paralisado fica quem luta com eles. Se essas pessoas recorrerem primeiro a recursos excelentes, como o livro de Packer, provavelmente ficarão ainda mais atoladas na ansiedade com decisões. Estes tipos de lutas justificam uma ajuda focada. Portanto, limitarei meu foco a ajudar as pessoas que lutam contra a ansiedade com decisões, ao passo que muitos outros bons livros podem ajudar a nos moldar como tomadores de decisões fiéis. Uma limitação deste livrinho é que eu não oferecerei uma abordagem abrangente para a tomada de decisões, mas estruturas úteis e instruções gerais podem ser encontradas nos recursos listados ao final.

Como ler este livro em seu contexto

Quero reconhecer também outras limitações. A cultura molda fortemente as pressões e os protocolos básicos das tomadas de decisão. Embora eu tenha tentado expandir meu trabalho para que possa ser aplicado de várias maneiras, minha perspectiva é geralmente limitada ao contexto da minha cultura americana majoritária, que também descreve a maioria das pessoas a quem servi como conselheiro durante os últimos dez anos. Ainda assim, eu realmente vejo muitas maneiras pelas

quais a cultura afeta diretamente a ansiedade com decisões; portanto, o que compartilho precisará ser trabalhado e adaptado em contextos individuais e locais. Por exemplo, eu acho que a vida comunitária é anêmica para muitas das pessoas da cultura americana majoritária que lutam contra a ansiedade com decisões às quais ofereci aconselhamento. Sentir-se sozinho e sentir uma grande pressão para agir, criar a si mesmo, otimizar-se e ter sucesso de maneiras excepcionais são fatores que contribuem significativamente para a ansiedade.6 Grande parte da orientação que apresento é moldada de forma a oferecer cuidados contra esse cenário cultural. Pessoas de outras culturas podem perceber desafios um tanto diferentes ao seu senso de paz e mordomia, e, portanto, outros fatores que contribuem para sua ansiedade com decisões. Em algumas culturas mais coletivistas, a pressão para se ter sucesso pode ser expressa de forma diferente, mas a ansiedade também as invade. Greg Jao destaca a diferença entre o slogan do Exército dos EUA — “Seja tudo o que você pode ser” — e os valores asiáticos tradicionais que dizem: “Seja tudo o que a sua família sacrificou para que você fosse”.7 Em ambos os casos, a pressão para ter sucesso, seja para si ou para a família, pode contribuir significativamente para a ansiedade com decisões. Nossas comunidades e culturas moldam os contornos de nossas pressões e ansiedades. Outras ansiedades também surgem de maneiras específicas da cultura, como aquela que Sheila Wise Rowe chama de “culpa separatista”. Alguns jovens

6 B. Janet Hibbs, Anthony Rostain, The Stressed Years of Their Lives: Helping Your Kid Survive and Thrive During Their College Years (New York: St Martin’s Press, 2019).

7 Greg Jao et al., “Relating to Others—Understanding Yourself”, Following Jesus without Dishonoring Your Parents (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1998), p. 72.

afro-americanos sentem angústia e ansiedade em relação a como as decisões educacionais e de carreira afetarão sua participação nas comunidades e nos relacionamentos nos quais cresceram, criando pressões únicas no processo de tomada de decisão.8

Além disso, como você verá especialmente nos capítulos sobre casamento e vocação, nossas decisões fluem em grande parte do nosso senso de quem somos e de quem fomos chamados a ser. A ansiedade em relação à identidade inevitavelmente complica as decisões. Em Being Latino in Christ [Sendo latino em Cristo], Orlando Crespo joga luz sobre a confusão a respeito da identidade e a formação da identidade9, assim como, mais recentemente, Robert Chao Romero captura a experiência de liminaridade, ou de estado intermediário, no contexto americano, o que gera confusão sobre identidade e, portanto, torna muitas decisões mais complexas.10

Nosso senso de conexão ou desconexão com nossas comunidades, de como nos encaixamos e a qual cultura pertencemos, afeta diretamente nossa capacidade de tomar grandes decisões — casamento, vocação e localização, —, mas também impacta escolhas menores de estilo de vida. A forma como vivemos está ligada a quem somos e a quem queremos estar ligados. Como cristãos, precisamos que nossas decisões fluam de quem Deus nos chamou para ser, e, idealmente, tomamos essas decisões dentro da comunidade da igreja como nossa família mais profunda. Esta pode ser uma mensagem reconfortante do ponto

8 Sheila Wise Rowe, Healing Racial Trauma: The Road to Resilience (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2020), p. 167.

9 Orlando Crespo, Being Latino in Christ: Finding Wholeness in Your Ethnic Identity (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2003), p. 124-140.

10 Robert Chao Romero, Brown Church: Five Centuries of Latina/o Social Justice, Theology, and Identity (Downers Grove, Il: InterVarsity Academic, 2020).

de vista espiritual, porém, relacionalmente, pode ser complicada. Como posso tomar decisões se enfrento complicações ao me perguntar quem eu sou, quem Deus me fez para ser, e quem ele está me chamando para ser? Como faço isso nas comunidades em que vivo, tanto na família quanto na igreja?

Isto nos leva às mensagens-chave dos capítulos 1 e 2, pois estas questões revelam, em parte, como funciona a ansiedade: tornamo-nos conscientes da ambiguidade e da incerteza, percebemos e reagimos ao risco, e, então, nossos esforços para encontrar a certeza acabam agravando o problema. Para os cristãos, a confusão sobre a vontade de Deus amplifica ainda mais a ansiedade; então, o capítulo 3 completará a primeira parte sobre como a ansiedade funciona. Em seguida, meditaremos sobre a origem da ansiedade — e como lidamos honestamente com ela. Nos capítulos 4 e 5, veremos os tipos de pressões e mensagens que vem da sociedade e da família que nos ajudam a entender com que facilidade a ansiedade com as decisões pode tomar conta, bem como por que ficamos empacados ao tentar tomar decisões como jovens adultos e nos anos seguintes. Finalmente, olharemos para soluções por meio de três exemplos: buscar conhecimento de Deus e de nós mesmos em oração em meio à ansiedade a respeito do casamento (capítulo 6), cultivar uma mentalidade de mordomia em meio à ansiedade a respeito da carreira (capítulo 7), e crescer na habilidade para com a vida cristã enfrentando nossos medos em meio a pequenas decisões (capítulo 8). Este capítulo final abordará mais diretamente o tipo de ansiedade que pode ser descrito como TOC, ou escrupulosidade, embora esta experiência também seja abordada em vários pontos ao longo do livro. A ansiedade com decisões não é um termo técnico, mas uma maneira informal de falar sobre a ansiedade que interfere em nossas decisões. Ao longo do livro, usarei principalmente a linguagem da categoria mais

Introdução

ampla de ansiedade pois a maioria das ansiedades segue o mesmo padrão básico.

Ainda assim, não há respostas fáceis. Acredito, no entanto, que as mensagens centrais deste livro, pelo menos na medida em que refletem as preocupações e esperanças cristãs, farão com que nos lembremos de um ensinamento bíblico fundamental que pode nos trazer paz em um mundo de perigos: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem-presente nas tribulações” (Sl 46.1).

A Pro Nobis Editora nasceu da visão de servir à igreja brasileira mediante a literatura cristã de qualidade. O ministério da Pro Nobis tem por alvo especial ajudar os batistas brasileiros na missão de edificar a igreja e anunciar o Evangelho ao mundo. Para tanto, o conhecimento de suas raízes históricas e herança teológica é fundamental. Existem excelentes editoras evangélicas no Brasil, com as quais juntamos forças nesse trabalho de servir ao povo de Deus.

Mas por que Pro Nobis? Trata-se de uma expressão em latim que significa POR NÓS. Na tradição cristã, essa expressão se relaciona com a obra de Jesus Cristo em nosso favor. A cruz é o símbolo maior e mais sublime da fé cristã, o coração do Evangelho. O Deus Trino fez uma aliança de redenção em favor de seu povo eleito, salvo pelo sangue do Cordeiro. Nosso alvo é edificar a igreja para que ela prossiga na missão de proclamar “o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3.8).

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