Cumanana
BOLETIM VIRTUAL DA CULTURA PERUANA PARA A ÁFRICA MINISTÉRIO DE RELAÇÕES EXTERIORES
OSCAMINHOSQUENOSLEVAM AOPERUEESSEÀNÓS
ÉPOCASEESPAÇOSDIFERENTES, LUTASSEMELHANTES:
![]()
BOLETIM VIRTUAL DA CULTURA PERUANA PARA A ÁFRICA MINISTÉRIO DE RELAÇÕES EXTERIORES
OSCAMINHOSQUENOSLEVAM AOPERUEESSEÀNÓS
ÉPOCASEESPAÇOSDIFERENTES, LUTASSEMELHANTES:
Com esse texto, pretendemos traçar algumas linhas que visamreflectirsobreasrelaçõesentreAngolaeoPeru,uma relaçãodiplomáticaqueseiniciaasensivelmente38(trinta eoito)anos,ouseja,desde6desetembrode1985equefoi conhecendo diferentes etapas, destacando aqui as deslocações à Peru de diferentes delegações oficiais angolanaseperuanasquesedeslocaramparaAngolano sentidodefortalecerentãoasrelaçõesdiplomáticas.
Entretanto, para o texto que nos propusemos fazer, nós traçamos três grandes linhas de pensamento que podem ajudar a partir dos vários encontros mantidos, não só no reforçodasideiasdessacooperaçãonosdomíniosjurídicos einstitucionaisdosdiferentesacordosqueoPerupretende subscrevercomonossoPaís,mastambémnaapresentação de propostas concretas que podem ajudar na materialização do quadro de acordos da cooperação políticaeeconómica,técnico-científicoeculturalquesevão resumirnoseguinte:
I AsituaçãodeAngolaserumpaísqueherda aspectos culturais e linguísticos das antigas naçõesafricanas,asnaçõesqueantecederama presençadosportugueseseoutroseuropeusno nossoterritórioeessasantigasnaçõesdeixaram marcasprofundasevisíveisnanossaterraeque continuamasemanifestardediferentesformas; aspráticasdalínguanaspráticassociaisenas representações da sociedade, aliás, definição quealínguaeosdiscursosdasartestêm
Oimportanteaquiévercomoesseselementos podem ser ressignificados nos aspectos de natureza político-económica, técnico-científica ecultural,podendoapartirdessefocogarantir que se identifiquem aí os objectos de desenvolvimento sustentável, a cooperação universitária,oscentrosdepesquisaeasCasas deAngolapodemasseguraroaprofundamento doestudoevalorizaçãodessesectordacultura dosnossospovos
II De igual modo, se olharmos aquilo que foi o projectodapóscolonialidadequeéolugarondeos europeus e os africanos nas suas relações e diferentes contactos que criaram um lugar ou outro de relacionamento, que deve ser melhor compreendidoeadministrado,poisaísedesenhao surgimentodoterritóriocomoAngolaeasrazões deste território adotar um idioma como a língua portuguesa e criar todos os símbolos que vão orientaroEstado
Feitoisso,cria-setodoumconjuntodeartefactos culturaissustentadosoufeitosapartirdessenovo lugarondeassentaessenovomodelodecriaçãoda sociedade Este lugar é que vai fazer o cidadão angolanonacionalquetemcomolínguaoficial,a línguaportuguesaaomesmotempoquesecriouos cidadãos que se vão distribuir nas diferentes provínciasequepassamaidentificar-secomessas províncias
Os angolanos neste caso já não passam a identificar-se só com as antigas sociedades instaladas no espaço onde se construiu o seu território,massimpassamaidentificar-setambém comasnovasfronteirasqueforamcriadasequeo caso,porexemplo,deserdoUíge,doCunene,deser doCuandoCubango,deserdeMalange,serdoBié, ou seja, as diferentes províncias que compõem Angola.Issotambémestáouaparecemanifestado no processo de comunicação linguística, nas práticassociaisenasrepresentaçõesdasdiferentes provínciasdeAngola
Esse elemento também se estende nos discursos artísticos nos diferentes espaços culturais em Angola A mesma problemática identificada em Angola também se constata no Peru, são estes aspectos que animam a cultura, manifestas nas diferentes artes e outras formas de criação e que podemseraproveitadasnoquadrodestasrelações.
III.PercebercomoéqueAngolaexperimentou,antes deoser,arelaçãocomaescravatura,comotrabalho forçado, com a colonização. E como é que esses elementos se estruturam de diferentes formas no imagináriodaquiloqueéAngolaetambémnados povosdiaspórios,nessecasonosdiferenteslugares da América Latina onde os africanos escravizados terão ido, mais especificamente os angolanos que saíramdoGolfodaGuiné
Percebidos esses elementos achamos que era interessante, por exemplo, olharmos para o Peru comoumpaíssituadonaAméricaLatinaeveraté que ponto os povos saídos de Angola pela escravatura não terão deixado marcas culturais relacionadascomessasantigaspopulaçõeseoutras marcas, claro que criadas pela relação não só da escravatura como também da colonização e do trabalhoforçado
Esta é a linha de pensamento que nós achamos importante, a serem discutidas aqui nesse texto, e porquê que nós achamos isso de capital importância? Porque ao olharmos para o quadro queéarelaçãoentreAngolaePeru,nãoverificamos acçõesmaisconcretasqueaproveitamapartirdesses segmentos culturais aquilo que nós temos como produtos simbólicos comuns, que podem ser partilhadosnoâmbitodessacooperação
AFILDA–AFeiraInternacionaldeLuanda,ondese podeassinalaraausênciadosempresáriosperuanos, em termos de comércio, indústria, tecnologia e outras formas de transações que sustentam o comérciointernacionalouocomérciolocalmesmo no Peru, podem ser partilhados a partir dessa amostra
Temos as feiras do livro, temos os dias dedicados à África,podemosnesteâmbitocriaruma“Semanade AngolanoPeru”euma“SemanadoPeruemAngola”, espaços que podem servir de mostra de um país no outro, englobando, cultura, comercio e ciência, quer dizertemosdiferentesformatosdeeventosquepodem sercriadosouinventadosnocasoparaqueAngolae Peru possam não só estreitar essas relações que se estabelecem, mas dar sentido movente, dar sentido entrelaçadonesteselosentreosdoispovos
Precisamente são esses os elementos que achamos que devemserpotencializados,devemsertrabalhadosnoquadro dessacooperaçãoentreosdoispaíses,emlinhasgeraissão estes aspectos que nós achamos interessantes trabalhar e vermos comoéqueascâmarasdecomércio,comoéqueo própriocomérciointernacionalédesenvolvidoemAngolaou desenvolvidonoPeru,omultilateralismoqueéapolíticaque foi adotada pelo governo Angolano em termos de relacionamento com diferentes povos, a produção dos discursosartísticos,desportivoseculturais,orelacionamento dosdomínioscientíficoseacadêmicosdemodogeral,comoé que eles podem ser potencializados para atenderem as necessidades que as nossas embaixadas tanto a peruana comoaangolanadevemterparafortaleceroufortalecerema relaçãoentreosdoispovos
É desse modo que nós achamos interessante poder segmentarasnossasrealizações,independentementedeque as actividades sejam realizadas em território angolano, território peruano ou em território brasileiro onde as embaixadas tanto de Angola quanto do Peru estejam instaladas.
No caso, por exemplo, da embaixada de Angola, a casa de culturaexistentenaBahia,essapodesimsuportareventosou actividades como amostras culturais e outros domínios; comoapresentaçãodecinema,feiradelivros,exposiçãode artesplásticaserealizaçãodeeventosacadémicosetecnocientíficos,nocaso,porexemplo,desecomemorarnoanode 2022 o centenário do livro de poesia “Trilce” do Poeta peruano Cesar Vallejo, cuja celebração coincide com o centenáriodonascimentodopoetaeprimeiroPresidentede Angola,AntónioAgostinhoNeto
Esse pode ser o catálogo de ideias que Angola tenha necessidadedeapresentarcomoPeruparaascomunidades deangolanosenãosóresidentesnesseterritório,comono território angolano para o caso dos peruanos virem cá participareidemparaoterritórioperuanoparaocasodeos angolanos quiserem ir lá participar as suas diferentes dimensões e é desse modo que nós podemos estreitar e estabelecerasrelaçõesconstantesentreAngolaeoPeru
PerueAngola,sãonaçõescomumaforteherançahistórica e traços culturais únicos que moldaram e definiram constantemente o modo de vida dos seus cidadãos. Um aspectodeparticularimportânciaparaodesenvolvimento socialdetalnuance,emambosospovos,estánosseusfeitos emancipatórios: árduos processos de iniciativa nacional que, apesar de se terem desenvolvido em continentes e séculos diferentes, geraram nas suas sociedades sentimentos de protesto, reivindicação e activismo, encontrandooseucaminhoparaaexpressãoliteráriacom acentuadasemelhança
NoPerudoséculoXIX,emboraametadaindependência tenha sido alcançada no início do século, os arquétipos raciais, religiosos e económicos pertencentes ao legado colonizador de Espanha permaneceram arraigados na sociedade Os arquétipos baseavam-se num sistema de castas severo e na institucionalização da exploração indígena nacional e no absoluto desrespeito aos seus costumes Nesse contexto, o crioulo César Vallejo escreve, primeiro em verso e depois em prosa, a partir da sua experiênciapessoal,sobumavisãodetristezaeabandono dosAndesnativosquelogosetransformanumavisãode protesto social, uma reclamação pela injustiça da exploração,alibertaçãodoíndio-representadoportodos aqueles que sofrem - e, finalmente, a necessidade de revolução
Assim, nos seus Heraldos Negros, Vallejo se posiciona dentro da corrente indigenista peruana, evocando com ternuraaculturadasuaterranatal,identificando-secomo peruanoandinoereivindicando-o,semdeixardedescrever oremorsodeumpovoconquistado.Oescritorexpressao seu pesar durante a dura época dos abusos da República Aristocrática, durante a qual vivenciou a privação e o abandono dos índios que trabalhavam nas minas de Quiruvilca e na fazenda Roma, bem como o nível de violênciaaplicadonarepressãoàrebeliãonaCasaGrande, depropriedadedafamíliaGildemeister
Consequentemente, essa experiência marcou a sua inclinaçãoparaacríticasocialedefiniupartedoseuestilo literário num espírito de protesto que, mais tarde, encontrou a sua expressão nos ideais comunistas Em Tungsteno, obra publicada no ano da sua assimilação ao Partido Comunista Russo, o autor conta uma história de exploraçãodascomunidadesindígenasporumaempresa de mineração estrangeira, juntamente com a indiferença das autoridades peruanas corruptas, a negligência eclesiástica e o desprezo permanente pela raça nativa Ao mesmo tempo, ele exalta o sentimento de indignação nacionalcontraaexploraçãoeaconsequentenecessidade deumarevoluçãodostrabalhadores
Essatendênciacontinuoueganhouumpúblicomaiorcom a publicação de Paco Yunque, uma obra póstuma publicadaem1951,naqualoautordescreveavidadeum meninotímidoehumilde,filhodeumtrabalhadordacasa do Sr. Grieve, atormentado na escola pelo seu filho Humberto Grieve. Nesse clássico da literatura infantil peruana, Vallejo encontra o recipiente perfeito para exemplificar o desprezo, a violência e a exploração que foram temas centrais em Tungsteno, mas que em Paco Yunque têm as crianças da escola como antagonistas Assim, de certa forma, eles se adequam à ideia contemporâneadeumafábulaouliçãoinfantil,emvezda críticasocialrealistaquepretendiaevocarumsentimento derebeliãoelibertaçãodosoprimidoseignorados
Damesmaforma,quaseumséculodepoiseadezmil quilómetros de distância, na costa ocidental da África Austral,umjovemnativo,filhodeumaprofessoraedeum pastormetodista,escreve,apartirdoseuprópriopontode vista,poemassobreojugocolonialportuguês,aforma como a sua sociedade sofreu por quinhentos anos, a indignaçãodesuageraçãocomosabusos,anecessidadede lutaeosseusideaisderevoluçãoAntónioAgostinhoNeto, quesetornouumheróinacionaleoprimeiroPresidenteda RepúblicadeAngolaem1975,descreveuadesilusãodesua geração,asuavisãooptimistadofuturo,adestruiçãodo esquemasocialtradicionaldoseupovoeaexploração massivasofridaduranteaocupaçãoportuguesaemAngola
Emumdosseusprimeirospoemas,“OAdeusnahorade Partida”,Netoescreveumadespedidaparaasuamãepor ocasiãodesuamigraçãoacadémicaparaLisboa,evocando ocolectivojovemdasuageraçãoeexpressandoasuanoção dedesconfiançaemrelaçãoàspromessasdemelhoriada potência colonizadora, que os levou a emigrar para a metrópoleembuscadeformaçãoacadémica
Emboraoautordarepressãoqueosmotivaaviajarnunca seja citado no poema, a intervenção portuguesa é claramenterejeitadapeloautor,queaidentificacomofruto detodososmalessofridosnoseupaís Emparticular,o autordescreveaperdadaquelesqueforamseparadosdas suasfamíliassoboschamados"contratos":umesquemade escravidãolegalizadaetrabalhoforçadopormeiodoqual qualquer pessoa que não pudesse provar que havia trabalhadoporpelomenosseismesesnoúltimoanoou quetivesseumempregonaépocaeratransferidaàforça para centros de trabalho, geralmente na colónia portuguesadeSãoToméePríncipe.
Otemadadesumanizaçãotambéméimportanteparao autor,comopodeservistonasuaobra"AnciãoNegro", poemaemquedescreveoníveldetraumavividoporum homemquefoivendido,chicoteado,linchado,despossuído, espancado e, portanto, desumanizado: "Para obedecer forçadamente,Deuseohomem,perdeu-seasimesmo/ Perdeuasuapátria,eoconceitodeexistir"
Noentanto,comovistonamaioriadassuasobras,Neto maisumavezinsereaideiadocolectivo,daexperiência conjuntadesofrimentodoseupovonaimagemdovelho, representantedetodosaquelesque,emmaioroumenor grau,perderampartesdesimesmosaoseremexpostosà fragmentaçãodasuacomunidadeeàperdadequalquer senso de orgulho nacional ou potencial individual, resultantede"umageraçãodeservos,cujospaistambém eramservos " .
Assim,oaspectosingularquediferenciaapoesiadeNeto, e que busca uma transformação socioeconómica e mentaluniversal,essetomoptimistadeesperançaeluta, é incorporado até mesmo na sua obra dedicada ao MassacredeSãoToméde1953,intitulada"Fevereiro" Nela,oshorroresdomassacresãodescritosgraficamente, destacandocomdelicadezaovalordosacrifíciodaqueles quepereceram-oquegerouumnívelinevitávelde consciênciapolíticaemÁfrica-e,maisumavez,oautor delineiaassuasesperançasparaofuturo"verde"que aguardaa"todos"
Paraconcluir,asproduçõesliteráriasdeVallejoeNeto nos permitem perceber uma expressão sensível e complexa da experiência pessoal de injustiça social, segregação,repressãoeabandonodosmodosdevida tradicionais,quelentamenteconvergemcomanoção individualdesimesmoesetornamumapaixãopeloideal colectivodecoesãobaseadonosofrimentomútuoena lutaconjuntaporumfuturomelhor
Desse modo, embora ambos os autores venham de contextosculturaisdiferentesetenhamvividoemépocas distintas,estudarassemelhançasnassuasobras,comoo compromissocomapolíticacolectivaparaamudança social, nos permite obter uma compreensão mais profundadasforçashistóricas,sociaiseculturaisque fazempartedassuasobras,bemcomoadmiraropoder duradouro da sua poesia para inspirar e provocar mudançasnosseusrespectivostemposeespaços.
"Estou me sentindo revolucionário e revolucionário pela experiência vivida mais do que pelas ideias aprendidas"
"Não basta que seja pura e justa a nossa causa. É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós"
O Mufete é um prato típico de Luanda, se diz que este prato foi criado na Ilha de Luanda Come-se geralmenteaosfinaisdesemanaemváriasregiõesdeAngola FrequentementepodemosencontraroMufete a ser servido em comemorações como: alambamentos*, casamentos, aniversários, festas populares e até em óbitos.
Prato bastante popular em Angola e nas comunidades angolanas espalhadas pelo mundo, o Mufete tem os seguintes ingredientes: o peixe (que pode ser o carapau, o galo, cacusso e outros); o feijão feito com óleo de palma (azeite de dendê); mandioca, batata-doce, banana-pão, farinha musseque (farinha feita com mandioca) e o molho preparado com cebola, vinagre, azeite doce e sal, para quem gosta, também pode colocarogindungo(pimenta).
Ingredientes
6peixesdasespéciesjáreferenciadas(detamanhomédio);
600gramasdedefeijão
2mandiocasmédias
Alho
35 Trêsbananas-pãograndes
1mandiocagrande
3batatas-docesmédias
2cebolasgrandes
1/2 litrodeóleodepalma
250gramasdefarinhamusseque
Azeite(quantobasta
Vinagre(quantobasta)
Sal(quantobasta
1limãomédio
Preparação
Cozinha o feijão até ficar bem cozido, depois do feijão pronto, adicione meio litro de óleo de palma e o sal, deixa-secozeremlumebrandoatéficarapurado
Depois de lavar e escamar o peixe, tempere-o com sal, alho e limão. Deixe o peixe no tempero entre 20 e 30 minutos Gralhandodepoisopeixe(depreferênciacomumagrelhanocarvão);
Empanelasseparadas,depoisdecascadasecortadasleveasmandiocas,asbatatas-doceseasbananas-pãoao lumeatéficarembemcozidas
Apresentação
Esta comida deve ser servida de preferência em pratos grande onde caiba o peixe inteiro e os outros ingredientes Omolhopreparadocomcebolapicada,azeiteevinagrecolocasseemcimadopeixe
alambamentos* (uma palavra angolana que serve para se referir ao casamento tradicional africano ou cerimóniatradicionaldepedidooficialdenoivado)