CUMANANA LI-POR

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EDIÇÃO NOVEMBRO 2025 NÚMERO LI

Cumanana

BOLETIM VIRTUAL DE CULTURA PERUANA PARA A ÁFRICA

MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DO PERU

EDIÇÃO DEDICADA À PRESENÇA PERUANA NA MISSÃO MULTIDIMENSIONAL INTEGRADA DE ESTABILIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS NA REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA (MINUSCA)

O PERU NA MINUSCA

EXPANDINDO A AFRICANIDADE

RECEITA MABOKÉ DE CAPITAINE

CONTEÚDO

O Peru na Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas (MINUSCA): uma contribuição contínua para a paz e a proteção das comunidades na República Centro-Africana.

Embaixada do Peru na República Árabe do Egito

A presença peruana na Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA)

Conselheira no Serviço Diplomático da República, Sandra Rodríguez Sánchez.

Policiais e militares peruanos na República Centro-Africana, uma conquista compartilhada pela paz.

Terceiro Secretário no Serviço Diplomático da República, Víctor Diego Velásquez Biaggi.

O Peru e a República Centro-Africana: uma ponte de solidariedade no coração da África.

Terceira Secretária no Serviço Diplomático da República, Carolina Cavero Zavala.

Do Callao a Bangui: a travessia dos soldados da paz peruanos

Romina Suñé Escaró

SEÇÃO ESPECIAL: EXPANDINDO A AFRICANIDADE

Chocolate “Cumanana”: Uma iniciativa de Promoção Econômica, Cultural e Turística

Oficina Desconcentrada em Tumbes do Ministério das Relações Exteriores

Conferência intitulada: “Angola: história, cultura e diplomacia”

Manuel da Silva Domingo

Maboké de Capitaine

O PERU NA MISSÃO MULTIDIMENSIONAL INTEGRADA

DE ESTABILIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS NA REPÚBLICA

CENTRO-AFRICANA

(MINUSCA): UMA CONTRIBUIÇÃO CONTÍNUA PARA A PAZ E PARA A PROTEÇÃO DE

COMUNIDADES

Embaixada do PEru na rEPública ÁrabE do Egito

Resumo

O artigo analisa a participação do Peru na Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA), com ênfase no desdobramento da Companhia de Engenharia Peru (PERENGCOY). O objetivo é examinar a contribuição técnica, operacional e humanitária do contingente peruano nos esforços internacionais de estabilização e proteção de civis em contextos de conflito. O artigo sustenta que a engenharia militar peruana, combinada com uma abordagem multissetorial e inclusiva, constitui um modelo eficaz de apoio à infraestrutura crítica, à mobilidade e à coesão comunitária em zonas de alta vulnerabilidade. Conclui-se que a participação contínua do Peru na MINUSCA representa um exercício de diplomacia no terreno que reforça o multilateralismo e gera impactos tangíveis na recuperação social, evidenciando a capacidade do país de contribuir de maneira profissional, solidária e humanitária para a paz internacional.

O compromisso de um país com a paz

Há mais de seis décadas, o Peru tem construído uma trajetória sólida nas operações de manutenção da paz das Nações Unidas, reafirmando sua vocação de serviço e seu compromisso internacional com a segurança coletiva. Desde sua primeira participação em 1958, o país tem enviado observadores militares e civis a mais de uma dezena de missões ao redor do mundo, contribuindo com profissionalismo, disciplina e um profundo sentido humanista.

Em 1982, o Peru participou da Força Multinacional de Paz e Observadores (MFO) no Sinai, Egito, contribuindo com contingentes militares para o monitoramento do tratado de paz entre Egito e Israel. Com presença nos acampamentos Norte e Sul, o pessoal peruano desempenhou funções essenciais de vigilância, patrulhamento e apoio logístico.

O Peru participou ativamente das Operações de Paz no Haiti de 2004 a 2016, como parte da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH). Durante esse período, o país enviou contingentes das três Forças Armadas, que cumpriram funções

de segurança, apoio humanitário, reconstrução e assistência em desastres, especialmente após o terremoto de 2010.

Minusca Fonte: Reliefweb

A participação ativa do Peru nas operações de paz da ONU ocorre, em geral, por meio do envio de observadores militares e oficiais de Estado-Maior, em sua maioria treinados no Centro de Treinamento e Capacitação para Operações de Paz (CECOPAZ), onde adquirem as competências necessárias para desempenhar funções como monitoramento de zonas de conflito, verificação de acordos de paz, planejamento operacional e coordenação logística, entre outras.

A presença peruana em missões como MINUSCA, MONUSCO, UNMISS, UNIFIL, MINURSO, UNTSO e UNVMC reforça o compromisso do país com a paz, a segurança e a cooperação internacional, tendo rendido reconhecimento ao profissionalismo e solidariedade do pessoal militar, policial e civil que integra essas missões.

Hoje, esse compromisso com a paz e o bem-estar se expressa na República Centro-Africana, onde o Peru desempenha um papel essencial na MINUSCA. Ali, os engenheiros peruanos constroem, reparam e reconstroem estradas e pontes, levando esperança a diversos centros urbanos e rurais dessa nação africana.

O Peru e uma missão para reconstruir esperança e aliviar necessidades

A MINUSCA foi estabelecida em 2014, após um período de grave instabilidade política e violência intercomunitária na República Centro-Africana. Seu mandato central, focado na proteção da população

civil, na facilitação da ajuda humanitária e no apoio ao processo de reconciliação nacional, exigiu uma presença internacional contínua e comprometida.

O Peru decidiu integrar-se a essa tarefa em 2015, enviando uma Companhia de Engenharia Militar especialmente preparada para operar em ambientes adversos, sob o comando do Coronel EP Antonio Córdova Espinoza. A equipe avançada chegou em dezembro daquele ano, e em 7 de janeiro de 2016 completou-se o desdobramento de mais de 200 integrantes das Forças Armadas do Peru — Exército, Marinha de Guerra e Força Aérea — que chegaram a Bangui, capital do país.

Desde então, mais de dois mil integrantes peruanos, organizados em dez contingentes, têm se revezado na República Centro-Africana, mantendo viva uma cadeia de experiência, disciplina e solidariedade. Cada rotação incorpora inovações em procedimentos técnicos e protocolos humanitários, consolidando a Companhia de Engenharia Peru (PERENGCOY) como referência regional em eficácia operacional e ética profissional. A cidade de Bouar, no oeste do país, tornou-se desde o primeiro ano o centro permanente de suas operações.

Ação social dos capacetes azuis peruanos.
Fonte: PERENGCO X

Atualmente, o Contingente PERENGCOY X, sob o comando do Coronel EP Clever Chuquillanqui Caycho, é composto por 220 integrantes e mantém suas operações a partir da cidade de Bouar, na região ocidental do país, apoiando a estabilização territorial e a reconstrução de infraestrutura essencial. Esse desdobramento integra um Memorando de Entendimento entre o Estado Peruano e as Nações Unidas, que assegura cooperação técnica e logística de longo prazo.

Engenharia peruana: técnica, disciplina e sensibilidade

PERENGCOY constitui o núcleo da contribuição nacional à MINUSCA. Integrada por pessoal do Exército, da Marinha de Guerra e da Força Aérea, essa Companhia se destaca por sua abordagem multissetorial, integrando pessoal especializado em diversas áreas da engenharia militar: infraestrutura vertical e horizontal, manutenção de aeródromos, logística tática, gestão de materiais e suporte técnico. Essa unidade combina conhecimento técnico com vocação de serviço.

Entre suas principais responsabilidades, podem ser mencionadas [1]:

• Manutenção de aeródromos e helipontos essenciais para o transporte de pessoal, ajuda humanitária e evacuações médicas.

• Construção e reparo de estradas rurais que reconectam comunidades isoladas e reativam o comércio local.

• Montagem de bases operacionais e centros logísticos da ONU em regiões remotas.

• Desativação de artefatos explosivos (EOD), protegendo a população civil.

• Trabalho social direto por meio de apoio comunitário e cooperação com autoridades locais.

Bouar–Bonhong: um corredor de esperança

Um dos projetos mais emblemáticos liderados por PERENGCOY é a reabilitação integral da estrada Bouar–Bonhong, uma via de 75 quilômetros que conecta a capital provincial de Nana-Mambéré a aldeias agrícolas e comunidades rurais, cuja conclusão está prevista para 26 de fevereiro de 2026.

Durante anos, esse caminho permaneceu intransitável devido à erosão e à insegurança. Hoje, graças ao esforço do contingente peruano, a rota foi nivelada e compactada, devolvendo mobilidade e segurança a mais de 40 mil habitantes. A via impulsiona a economia local e favorece a reintegração de comunidades deslocadas. É um exemplo tangível de como a infraestrutura se torna instrumento de paz.

Da mesma forma, no noroeste do país, na cidade de Paoua — de 35 mil habitantes, capital da prefeitura de Lim-Pendé — a presença peruana também se traduz em obras emblemáticas. Em apenas 184 horas de trabalho efetivo, o contingente ergueu a Praça Principal Estatal de Paoua, hoje um espaço cívico que simboliza a recuperação do tecido social após anos de violência.

PERENGCOY I, ano 2016.
Fonte:PERENGCOY X
PERENGCOY X, ano 2025.
Fon1te:PERENGCOY X

Em apenas 184 horas, o projeto transformou um terreno árido em um centro de encontro comunitário e cultural, permitindo o desenvolvimento de atividades cívicas e comerciais em um ambiente seguro e ordenado. Simultaneamente, os engenheiros peruanos vêm reabilitando o aeródromo de Paoua, vital para o transporte humanitário. Essas ações representam o rosto humano do Peru no exterior: um país que não busca protagonismo, mas serve silenciosamente ao bem comum.

Mulheres peruanas pela paz

A participação de mulheres militares peruanas na MINUSCA constitui um marco na história das operações de paz do país. Atualmente, 31 mulheres integram o PERENGCOY X, incluindo 8 oficiais (1 Major, 6 Capitãs e 1 Tenente) e 23 Técnicas e Suboficiais (12 técnicas e 11 suboficiais e oficiais de mar das três Forças Armadas), atuando como engenheiras, médicas, psicólogas e oficiais logísticas.

Sua presença reafirma a política de igualdade de oportunidades e empoderamento promovida pelo Estado peruano. Elas lideram projetos e simbolizam uma liderança inclusiva que inspira respeito na comunidade internacional.

Conclusões

Além de seu aporte técnico e operacional, a participação peruana na MINUSCA constitui um verdadeiro exercício de diplomacia no terreno. O trabalho da PERENGCOY demonstra que o Peru não apenas contribui com capacidades de engenharia altamente especializadas, mas também com uma visão de serviço que prioriza a proteção das pessoas e o fortalecimento de comunidades vulneráveis.

Nessa missão, o Peru reafirma sua condição de país comprometido com a paz, a cooperação internacional e o multilateralismo efetivo. Cada contingente leva consigo não só ferramentas e maquinário, mas também valores: disciplina, solidariedade, profissionalismo e respeito irrestrito ao mandato das Nações Unidas.

As obras executadas — estradas, pontes, aeródromos e espaços comunitários — não apenas melhoram a mobilidade ou a infraestrutura local; criam condições reais para que populações afetadas pelo conflito recuperem esperança, segurança e oportunidades. Esses resultados refletem o papel transformador que um país pode exercer quando combina sua capacidade técnica com um profundo

sentido humanitário.

Assim, na República Centro-Africana, como antes em outras regiões, os engenheiros peruanos deixam uma marca que transcende o material. O Peru demonstra, mais uma vez, que sua contribuição para as operações de paz é constante, responsável e profundamente humana.

Bibliografía

Ministério da Defesa do Peru. (2016–2024). Informes sobre Participación del Perú en Operaciones de Paz. Governo do Peru.

CECOPAZ – Centro de Treinamento e Capacitação para Operações de Paz. (vários anos). Manual de Capacitación para Operaciones de Paz. Ministério da Defesa.

Chancelaria do Peru. (2022). La Política Exterior del Perú y su Participación en Operaciones de Paz. Ministério das Relações Exteriores.

Notas

[1] Fonte: Ministério da Defesa (https://www.gob. pe/institucion/mindef/noticias/862241-cascosazules-peruanos-reparan-puente-y-caminos-enrepublica-centroafricana?utm_source=chatgpt.com)

A PRESENÇA PERUANA NA MISSÃO

MULTIDIMENSIONAL

INTEGRADA DE ESTABILIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS NA REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA (MINUSCA)

Sandra rodríguEz SÁnchEz

conSElhEira, Sdr

mSc intErnational human rightS law, univErSity of oxford

Manutenção da paz das Nações Unidas

Uma das ferramentas mais eficazes das Nações Unidas (ONU) para ajudar os países a transitar do conflito para a estabilidade é por meio de suas diversas operações de manutenção da paz (peacekeeping missions), encarregadas — segundo a situação particular de cada país anfitrião — de proporcionar segurança, proteger civis, apoiar processos políticos, promover os direitos humanos, contribuir para o desarmamento, entre outras funções.

Como afirmou o então Secretário-Geral da ONU, Embaixador Javier Pérez de Cuéllar, ao receber o Prêmio Nobel da Paz em nome das Forças de Manutenção da Paz, em 1989: “the aim of political institutions like the United Nations is to draw the line between struggle and conflict and to make it possible for nations to stay on the right side of that line. Peacekeeping operations are one very practical means of doing this” (Pérez de Cuéllar, 1989).

Contribuintes de tropas por país Fonte: UN Peacekeeping

Desdobradas geralmente em ambientes geográfica e politicamente difíceis, as operações de manutenção da paz da ONU se regem pelos princípios básicos do consentimento das partes, da imparcialidade e do não uso da força, salvo em legítima defesa e/ou em defesa do mandato. Desde 1948, a ONU já desdobrou 71 operações de paz e, até o momento, conta com onze em andamento em três continentes (ONU).

O Peru tem um compromisso histórico com as operações de manutenção da paz e contribui com pessoal militar, policial, especialistas e oficiais desde 1958, quando militares peruanos integraram o Grupo de Observação das Nações Unidas no Líbano (UNOGIL) (Duclos, 2020). Após uma participação significativa na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH), entre 2005 e 2017, atualmente nosso país tem presença em seis missões de manutenção da paz, quatro delas na África [1]. Sem dúvida, a Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização na República Centro-Africana (MINUSCA), criada em 2014, é aquela na qual o Peru possui o maior contingente, com 220 militares, 9 oficiais e 7 especialistas.

Em setembro de 2022, Lima sediou a Primeira Conferência da América Latina e do Caribe sobre Operações de Paz, reunião que teve como objetivo fomentar o aumento da participação dos países da região nas operações de paz da ONU. Como resultado, 16 Estados da América Latina e do Caribe subscreveram a Declaração de Lima “Viver em paz”, por meio da qual, entre outros compromissos, acordaram estabelecer a primeira “Rede LatinoAmericana e do Caribe para a Cooperação em Operações de Manutenção da Paz – RELACOPAZ” (Declaração de Lima, 2022).

A

A maior parte dos habitantes da atual República Centro-Africana (RCA) pertence a diversos grupos e etnias que se instalaram no território durante a primeira metade do século XVIII. Depois de alcançar a independência da França em 1960, o país caracterizou-se pela instabilidade políticomilitar, desencadeando contínuos golpes de Estado e rebeliões.

O aparente período de estabilidade foi interrompido em 2006, quando grupos rebeldes se estabeleceram no norte com o objetivo de depor o então presidente François Bozizé. Um ano depois, os rebeldes formaram a coalizão Séléka [2], integrada sobretudo por rebeldes muçulmanos e mercenários provenientes do Chade, Níger e Sudão. A coalizão assinou um acordo para sua incorporação progressiva ao exército nacional, mas, diante do que consideraram ser o descumprimento do acordo, levantaram-se novamente em armas em 2012. Em 2013, tomaram Bangui, a capital, provocando o exílio de Bozizé e a proclamação de seu líder, Michel Djotodia, como presidente (Rodríguez, 2020). Apesar de Djotodia ter renunciado em 2014, um governo de transição foi estabelecido, e em 2016 Faustin-Archange Touadéra venceu as eleições — sendo o atual presidente —, o país continua enfrentando sucessivas crises.

A partir daí, ambos utilizaram a retórica religiosa com fins políticos, provocando enfrentamentos que debilitaram as instituições do Estado e deixaram milhões de pessoas em situação humanitária crítica.

A MINUSCA

A ONU tem presença na RCA desde 1999, quando o Conselho de Segurança aprovou a proposta do Secretário-Geral Kofi Annan de estabelecer o Escritório das Nações Unidas de Apoio à Consolidação da Paz — BONUCA (ONU, 1999), posteriormente substituído, em 2010, pelo Escritório Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na República Centro-Africana (BINUCA), para apoiar a consolidação da paz e o fortalecimento das instituições democráticas (ONU, 2009).

Diante da escalada da violência e da amplitude territorial do conflito, que excediam as capacidades das tropas internacionais, em março de 2014 o então Secretário-Geral Ban Ki-moon recomendou ao Conselho de Segurança que autorizasse, sob o Capítulo VII da Carta da ONU, o desdobramento de uma operação multidimensional de manutenção da paz, cuja função principal seria a proteção de civis. Assim, em abril de 2014, foi oficialmente estabelecida a Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA), incorporando a BINUCA à nova missão.

A RCA é um país majoritariamente cristão, ainda que com uma minoria muçulmana significativa. Embora ambas as comunidades tivessem coexistido pacificamente, a chegada da Séléka ao poder desencadeou confrontos. Em resposta, surgiram os Anti-balaka [3], grupos cristãos de autodefesa.

Bangui, República Centro-Africana, 2018 Fonte:propia
Capacetes azuis em Koui, República Centro-Africana, 2025 Fonte:MINUSCA

As tarefas prioritárias da MINUSCA incluem: a) proteção de civis; b) apoio à extensão da autoridade do Estado, ao desdobramento das forças de segurança e à preservação da integridade territorial; c) bons ofícios e apoio ao processo de paz; d) facilitação da chegada imediata, completa, segura e sem obstáculos da ajuda humanitária. Outras funções incluem a promoção e proteção dos direitos humanos; apoio às eleições previstas para dezembro de 2025; assessoramento estratégico na reforma do setor de segurança; colaboração em programas de desarmamento, desmobilização, reintegração e repatriação; além de apoio à justiça nacional e internacional e ao Estado de direito (ONU, 2025).

O Peru e a MINUSCA

O Peru contribui com a MINUSCA, desde 2016, com uma companhia de engenharia composta por mais de 200 integrantes (provenientes do Exército, da Marinha de Guerra e da Força Aérea do Peru), assim como oficiais e especialistas, convertendo-se na missão de manutenção da paz na qual o país possui a maior presença. A participação do Peru nessa missão enquadra-se no Memorando de Entendimento entre o Estado Peruano e as Nações Unidas, por meio do qual o Peru expressou seu compromisso de contribuir com as operações de manutenção da paz desse organismo internacional.

Não surpreende, portanto, que durante a última participação do Peru no Conselho de Segurança da ONU (2018–2019), a delegação peruana tenha dado especial importância à situação na RCA, destacando a necessidade de fortalecer as forças nacionais de defesa e segurança interna para seu desdobramento em todo o território do país, bem como a importância da aceleração dos programas de desarmamento, desmobilização e reintegração de combatentes, e de repatriação de mercenários.

Durante esses anos, motivo de especial preocupação foram os diversos ataques sofridos pela MINUSCA e, em particular, a situação da companhia de engenharia peruana que estava destacada na zona oeste do país, dedicada a trabalhos de limpeza e nivelamento do terreno para o avanço das tropas (Rodríguez, 2020).

Em outubro de 2018, o Comitê de Sanções 2127 do Conselho de Segurança realizou uma visita à RCA, a fim de avaliar o estado de implementação do regime de sanções imposto ao país desde 2013 [4]. Durante essa visita, na qual o Peru participou junto com representantes da Côte d’Ivoire, Estados Unidos, França, Holanda, Kuwait, Polônia e Rússia, a

delegação pôde constatar as precárias condições de vida resultantes do conflito.

Além das reuniões com as autoridades do governo centro-africano, a delegação peruana pôde manter um encontro com o Chefe da companhia de engenharia peruana destacada na RCA, a fim de conhecer com maior detalhe o trabalho que realizam. Como parte de suas funções, o contingente peruano havia participado de duas operações relevantes. Na primeira, desenvolvida na zona de fronteira com Camarões, o papel da companhia de engenharia foi executar trabalhos de limpeza e nivelamento do terreno para que as tropas da MINUSCA pudessem avançar a fim de neutralizar as forças rebeldes instaladas nessa fronteira. Uma vez alcançado o objetivo, o contingente peruano encarregou-se da construção da base temporária para que as tropas se instalassem na área. Na segunda operação, na fronteira com o Chade, à medida que o contingente avançava e controlava territórios ocupados por grupos rebeldes, a companhia peruana ia abrindo caminhos até erguer a base temporária para as tropas. Graças ao estabelecimento dessa base e à presença da MINUSCA na região, havia sido possível o retorno de mais de mil deslocados.

Ao longo desses anos, a companhia peruana de Engenharia de Construção e Manutenção de Aeródromos destacada na MINUSCA executou diversas obras de manutenção e reabilitação de estradas, acessos, pontes e helipontos. O contingente peruano especializou-se, entre outros, na construção e manutenção de aeródromos, instalação e implementação de bases, limpeza de campos minados e construção de caminhos entre diferentes povoados, a fim de alcançar maior interconexão e presença da ONU na RCA.

Apesar dos desafios próprios do país, a experiência do contingente peruano na MINUSCA é altamente positiva. Os oficiais e técnicos peruanos têm a oportunidade de estar em contato com oficiais de outros países e organizações internacionais, e são conscientes da importância do trabalho que desempenham em nível internacional. A companhia de engenharia peruana é considerada uma das melhores dentro da MINUSCA, pela consistente qualidade de seus membros e equipamentos.

Referencias:

Declaración de Lima “Vivir en paz”. (7 de septiembre de 2022). Obtenido de: https://relacopaz.org/ wp-content/uploads/2025/01/Declaracion-deLima-2022-1.pdf

Organización de las Naciones Unidas. What is peacekeeping. Obtenido de: https://peacekeeping. un.org/en/what-is-peacekeeping

Organización de las Naciones Unidas. Consejo de Seguridad. (13 de diciembre de 1999). Lettre datée du 10 décembre 1999, adressée au secrétaire général par le président du conseil de sécurité (S/1999/1236). Obtenido de: https://docs.un.org/en/S/1999/1236

Organización de las Naciones Unidas. Consejo de Seguridad. (07 de abril de 2009). Statement by the President of the Security Council (S/PRST/2009/50). Obtenido de: https://docs.un.org/en/S/PRST/2009/5

Pérez de Cuéllar, J. (9 de enero de 1989). United Nations Peacekeeping Forces. Nobel Prize lecture. Obtenido de: https://www.nobelprize.org/prizes/ peace/1988/un/lecture/

Solari, A., Horna, A., Prieto, E., Tenya, F., Talavera, G., Seoane, G., Meza-Cuadra, G., Rivera, G., Velásquez, H., Castillo, J., Ugarelli, L., Popolizio, N., Lukashevich, O., Duclos, P., Habich, R., Rodríguez, S., Bustamante, V. (2020). El Perú en el Consejo de Seguridad (2018 – 2019). Diplomacia constructiva en tiempos de polarización. Reflexiones del equipo peruano.

Fundación Academia Diplomática del Perú.

United Nations Multidimensional Integrated Stabilization Mission in the Central African Republic (MINUSCA). Mandate. Obtenido de: https://minusca. unmissions.org/en/mandate

Notas:

[1] O Peru participa na Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização na República Centro-Africana (MINUSCA), na Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS), na Força Provisória de Segurança das Nações Unidas para Abyei (UNISFA) e na Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO).

Minusca, República Centro-Africana Fonte: Naciones unidas

POLICIAIS E MILITARES PERUANOS NA REPÚBLICA

CENTRO-AFRICANA, UMA CONQUISTA COMPARTILHADA

PELA PAZ

RESUMO

O presente artigo destaca a sólida participação do Peru nas missões de paz da ONU desde 1958, com um enfoque atual no continente africano. Em 2023, alcançou-se um marco histórico com o desdobramento de policiais peruanos na MINUSCA, assinalando a primeira participação conjunta de policiais e militares peruanos em uma missão de paz. Esse avanço reflete o trabalho estratégico e coordenado de diversas instituições nacionais para alcançar esse objetivo, entre as quais se encontram o Centro de Treinamento e Capacitação para Operações de Paz (CECOPAZ PERU), a Unidade Funcional de Missões de Paz (UFMP), a Direção de Segurança e Defesa (DSD) e a Representação Permanente do Peru junto à ONU (ONUPER), refletindo assim o profundo compromisso do Peru com a paz e a segurança internacionais, promovendo a cooperação multilateral e o trabalho conjunto entre diplomatas, militares e policiais.

Além disso, destaca-se que essa participação não apenas contribui para a estabilidade global, mas também fortalece a política externa e a imagem do Peru no sistema internacional. Inspirado no lema da União Europeia “Unidos na diversidade”, o caso peruano evidencia como a cooperação entre instituições, setores e culturas permite alcançar objetivos comuns de alcance global, promovendo a paz em diversas regiões do mundo.

I. Introdução

O Peru possui uma longa tradição nas operações de paz das Nações Unidas que remontam a 1958, contribuindo diretamente para a paz e a segurança internacionais com o desdobramento efetivo de 254 policiais e militares em 6 missões de paz da ONU, todas elas concentradas no continente africano.

Em 8 de fevereiro de 2023, o Comandante PNP Luis Enrique Panibra Rojas e o Suboficial Néstor Sánchez Sáenz tornaram-se os primeiros policiais peruanos a participar de uma missão de paz da ONU, integrando a Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA), junto a 220 militares da Companhia de Engenharia “Perú” e 4 observadores militares, constituindo a primeira missão de paz da história com presença conjunta de policiais e militares peruanos.

Essa conquista só foi possível graças ao trabalho coordenado entre o Centro de Treinamento e Capacitação para Operações de Paz (CECOPAZ PERU), a Unidade Funcional de Missões de Paz (UFMP), a Direção de Segurança e Defesa (DSD) do Ministério das Relações Exteriores e a Representação Permanente do Peru junto às Nações Unidas (ONUPER).

"Não basta falar de paz. É preciso acreditar Nela. e Não basta acreditar Nela. É preciso trabalhar por ela."
leoNor roosevelt
Comandante PNP Luis Enrique Panibra Rojas e o Suboficial Néstor Sánchez Sáenz junto com outros oficiais de polícia desdobrados na MINUSCA. Fonte: MINUSCA

Curso de Policiais das Nações Unidas (UNPOL)

Fonte: Major PNP Juan G. Bajonero Rodríguez

II. CECOPAZ PERU: “Centro que forma futuros peacekeepers”

A preparação é fundamental para qualquer desdobramento em uma missão de paz das Nações Unidas. Nesse sentido, o Centro de Treinamento e Capacitação para Operações de Paz (CECOPAZ – PERU) é a instituição responsável por capacitar e treinar o pessoal civil, policial e militar para desempenhar-se nos diferentes papéis que possam assumir nas operações de manutenção da paz, de acordo com as normas e padrões estabelecidos pela ONU [1].

Para isso, o CECOPAZ – PERU desenvolve cursos certificados para Observadores Militares (UNMO) [2] e Oficiais de Estado-Maior (UNSOC) [3], além do curso de Pré-Desdobramento para os integrantes da Companhia de Engenharia “Perú” e o curso de Polícia das Nações Unidas (UNPOL), entre outros.

Além disso, o CECOPAZ – PERU oferece capacitação em idiomas, incluindo cursos de inglês e francês técnico em nível básico e intermediário voltados às operações de paz. Esse é um elemento central para o desempenho das atividades do pessoal a ser desdobrado, assim como para superar as provas de suficiência realizadas pelo Departamento de Operações de Paz (DPO) das Nações Unidas.

Nesse sentido, o CECOPAZ – PERU cumpre um papel fundamental no treinamento do pessoal da PNP, o que contribuiu para alcançar o primeiro desdobramento de policiais à MINUSCA. A capacitação dirigida aos

integrantes da Polícia Nacional do Peru começou em 2016 e, desde então, é realizada anualmente. Isso tornou possível contar com pessoal policial — Oficiais, Técnicos e Suboficiais — que atendem às capacidades profissionais exigidas pela UNPOL.

Graças ao trabalho articulado com o Ministério das Relações Exteriores, entre 1 e 6 de agosto de 2022, pela primeira vez na história, o Peru recebeu a visita da Equipe de Assistência em Seleção e Avaliação (SAAT [4]) das Nações Unidas, com o objetivo de avaliar as competências profissionais dos candidatos da polícia para serem desdobrados em uma missão de paz.

A prova SAAT avaliou 59 integrantes da PNP na normativa das Nações Unidas sobre operações de paz, condução de veículos 4x4, manejo de arma curta (pistola), bem como o domínio intermediário dos idiomas inglês e/ou francês. Ao término da avaliação, 8 policiais foram certificados para participar em missões de paz das Nações Unidas [5].

III. DIRASINT PNP: “Trabalhando pelo Peru e pelo mundo”

Uma vez tomada a decisão da PNP de desdobrar efetivos em missões de manutenção da paz das Nações Unidas, determinou-se a criação da Unidade Funcional de Missões de Paz (UFMP) [6], subordinada à Divisão de Cooperação Internacional, Enlaces e Agregadurias, em 13 de maio de 2021.

A criação da UFMP facilitou a gestão de documentos e ações orientadas ao desdobramento do pessoal policial em missões de paz, fortalecendo os laços de trabalho com o CECOPAZ – PERU, com a Direção de Segurança e Defesa (DSD) do Ministério das Relações Exteriores e com nossa Representação Permanente junto às Nações Unidas (ONUPER); atores que, dentro de seus âmbitos de competência, também são responsáveis por gerir o desdobramento do pessoal civil, policial e militar em missões de paz da ONU.

Dessa forma, mediante reuniões de trabalho e troca de informação, foram identificadas necessidades relacionadas à uniformização dos procedimentos que permitissem um desdobramento eficaz. Isso foi especialmente importante diante de determinados procedimentos e aspectos não expressamente regulados na normativa nacional, mas necessários para preencher os formulários e documentos exigidos pelas Nações Unidas [7].

Desde então, a UFMP converteu-se no ente reitor em matéria de missões de paz da ONU dentro da instituição policial, responsável pela execução das ações necessárias para articular os esforços que permitiram concretizar a participação da PNP em missões de paz e garantir a continuidade dos processos para a consolidação da participação policial nessas operações.

IV. Direção de Segurança e Defesa do Ministério das Relações Exteriores

O Ministério das Relações Exteriores assume um

papel central na gestão e coordenação da participação do Peru nas operações de manutenção da paz das Nações Unidas, e a Direção de Segurança e Defesa é a unidade orgânica responsável por conduzir essas atividades. O diálogo e o trabalho com a PNP intensificaram-se quando foi tomada a decisão de desdobrar efetivos policiais em operações de paz da ONU, permitindo a gestão das avaliações SAAT, a interação com o Departamento de Operações de Paz (DPO) das Nações Unidas e o aprendizado das melhores práticas de outros países contribuintes com pessoal policial.

Durante o ano de 2022, em trabalho coordenado com o Ministério da Defesa, coorganizou-se a I Conferência Latino-Americana e do Caribe sobre Operações de Paz das Nações Unidas (LAC-UN), marcando um marco mundial ao ser a primeira de seu gênero, concluindo com a criação da “Rede Latino-Americana e do Caribe para a Cooperação em Operações de Manutenção da Paz” – RELACOPAZ, com o objetivo de criar uma rede regional de cooperação entre Ministérios da Defesa, ou seus equivalentes, no campo das Operações de Paz, visando ampliar a participação regional nesse tipo de operação.

Esse evento permitiu que a PNP tivesse um contato direto com outros países que desdobram pessoal policial em missões de paz, aprendendo com as melhores práticas e procedimentos antes de concretizar o desdobramento dos primeiros oficiais de polícia peruanos.

Policiais que aprovaram a prova SAAT junto da Sra. Agnessa Ryabikina, avaliadora da UNPOL. Fonte: Juan G. Bajonero Rodríguez

Da mesma forma, o Departamento de Operações de Paz (DPO) das Nações Unidas reconheceu os esforços do Peru em incorporar pessoal policial em seus desdobramentos e o trabalho realizado pela PNP para contar com pessoal devidamente capacitado para atuar em um tipo de missão que mantém contato direto com a população local, diferentemente dos desdobramentos militares.

Da mesma forma, em nível intersetorial, a Direção de Segurança e Defesa participa ativamente no marco do Mecanismo Intersetorial Integrado sobre Operações de Paz (MEC-OPAZ), criado mediante Decreto Supremo [8] em junho de 2022 e que integra o Ministério da Defesa, o Ministério das Relações Exteriores e a Representação Permanente do Peru junto às Nações Unidas, a fim de dotar as operações de manutenção da paz da ONU de um enfoque intersetorial integrado. Este mecanismo serviu de base para coordenar o desdobramento dos primeiros efetivos policiais à MINUSCA, existindo o compromisso de incorporar formalmente a PNP a esse mecanismo.

O papel de gestor e mediador da Direção de Segurança e Defesa foi determinante para reunir os esforços dos diversos setores envolvidos sob um mesmo objetivo: concretizar o desdobramento do pessoal policial às operações de paz das Nações Unidas.

V. Representação Permanente do Peru perante as Nações Unidas (ONUPER)

A Representação Permanente do Peru perante as Nações Unidas (ONUPER) contribui de maneira decisiva para consolidar a imagem do Peru no âmbito multilateral e posicionar o país como um ator relevante no campo das Operações de Paz.

Para alcançar esse objetivo, a gestão e administração direta que cada país realiza perante o Departamento de Operações de Paz (DPO) é feita através das

“Assessorias Militares”, contando estas, para tal finalidade, com pessoal especialista e assessores na matéria. É precisamente esse pessoal que constituiu uma peça fundamental para a gestão, controle e acompanhamento do desdobramento do pessoal policial, assistindo também nos trâmites administrativos e na obtenção de vagas para o desdobramento dos policiais que aprovaram a prova SAAT.

Dessa maneira, a Assessoria Militar conseguiu o desdobramento dos 6 primeiros policiais peruanos como Individual Police Officers (IPO) na MINUSCA (República Centro-Africana) e na Missão das Nações Unidas na República do Sudão do Sul (UNMISS) [9].

Nesse sentido, a Assessoria Militar para Assuntos de Manutenção da Paz configura-se como um elemento de enlace e coordenação de grande importância, já que sua localização estratégica permite contato direto com o DPO das Nações Unidas. Do mesmo modo, por tratar-se de um órgão de assessoramento da Representação Permanente do Peru perante as Nações Unidas, essa Assessoria participa ativamente das reuniões e eventos de especial relevância vinculados à paz e à segurança internacionais, em apoio aos interesses nacionais.

VI. Conclusões

El despliegue de personal de la PNP a misiones de paz de las Naciones Unidas. O desdobramento de pessoal da PNP em missões de paz das Nações Unidas representa um feito histórico para o Peru, na medida em que reforça o compromisso do país em contribuir para a manutenção da paz e da segurança internacionais. Do mesmo modo, representa o cumprimento de uma das funções da PNP em apoio à Política Externa estabelecida no Decreto Legislativo Nº 1267, a qual, até antes do primeiro desdobramento policial, era uma tarefa pendente.

É importante destacar que o desdobramento do pessoal policial também implica oportunidades para a PNP, permitindo que o pessoal desdobrado aumente suas capacidades profissionais por meio das capacitações oferecidas pelas Nações Unidas e do intercâmbio de experiências, procedimentos e doutrina conforme a normativa de cada país. Essas capacidades adquiridas são plenamente transferíveis ao contexto nacional, fortalecendo as capacidades da PNP na luta contra diferentes tipos de criminalidade organizada, assim como em aspectos doutrinários de instrução.

Emblema da Unidade Funcional de Missões de Paz (UFMP) da PNP Fonte: PNP

Da mesma forma, a mera presença de pessoal policial em Operações de Paz contribui para projetar a imagem do país e consolidar a presença institucional da PNP no cenário mundial.

O primeiro desdobramento do pessoal da PNP em missões de paz da ONU é o resultado do trabalho conjunto entre:

1. O Centro de Treinamento e Capacitação para Operações de Paz (CECOPAZ PERÚ), ator-chave em formação e instrução.

2. A Direção de Assuntos Internacionais da PNP (DIRASINT), que, por meio da UFMP, lidera a gestão e consolidação da participação policial.

3. A Direção Geral de Assuntos Multilaterais e Globais do Ministério das Relações Exteriores, por meio da Direção de Segurança e Defesa.

4. A Representação Permanente do Peru ante a ONU (ONUPER), ator técnico e estratégico nos trâmites com a Divisão Policial da ONU.

“Unidos na diversidade” é o lema da União Europeia [10], cujo objetivo é transmitir que, embora haja diversidade de culturas, tradições e línguas, é possível trabalhar juntos por um objetivo comum. O fato histórico do desdobramento dos policiais da PNP em Operações de Paz representa o resultado do trabalho integrado de diplomatas, militares e policiais que, desde ângulos distintos, contribuíram para alcançar esse marco para a instituição policial e para a Política Externa do Peru.

Isso demonstra que, quando existe um objetivo comum, o trabalho integrado de múltiplos setores pode alcançar resultados de alcance global. O compromisso do Peru com a paz e a segurança internacionais materializa-se, entre outros aspectos, no desdobramento de militares e policiais em Operações de Paz das Nações Unidas — um esforço reconhecido pelas mais altas autoridades do Departamento de Operações de Paz (DPO) da ONU.

Atualmente, o compromisso dos atores envolvidos no primeiro desdobramento policial é reforçado pelo interesse de manter, fortalecer e ampliar a presença peruana nesse tipo de missão ao redor do mundo, trabalhando sob um objetivo comum, baseado nos interesses nacionais e no firme compromisso de preservar a paz e a segurança internacionais.

Cecopaz Fonte: Cecopaz Perú

VII. Notas

[1] Regulamento Geral do CECOPAZ – PERÚ, missão.

[2] Curso de Observadores Militares das Nações Unidas.

[3] Curso de Oficial de Estado-Maior das Nações Unidas.

[4] Selection Assistance and Assessment Team (SAAT).

[5] 59 integrantes da PNP foram avaliados pela Sra. Agnessa Ryabikina, chefe da equipe SAAT. Ao término, 08 membros da PNP foram aprovados: 05 foram acreditados para participar em missões de paz no idioma inglês, 02 em francês e 01 em ambos os idiomas.

[6] A UFMP foi criada mediante Resolução da Comandância Geral da Polícia Nacional Nº 091-2021-CGPNP/EMG, de 13 de maio de 2021.

[7] Para apresentar os candidatos à avaliação SAAT e antes do desdobramento do pessoal policial a uma missão de paz, as Nações Unidas exigem a apresentação de diversos formulários — a maioria deles em inglês e outros não regulados na normativa nacional. Para isso, contou-se com a assistência da ONUPER, do CECOPAZ PERÚ e do Ministério das Relações Exteriores.

[8] Decreto Supremo Nº 006-2022-DE, de 17 de junho de 2022.

[9] Em 29 de março de 2023 realizou-se o segundo desdobramento para a missão UNMISS, componente policial integrado por: Capitão PNP PRADINETT LEZANO Luis Felipe; Suboficial TCO 2º PNP SARCCO TINTAYA Juan Jorge; Suboficial TCO 3ª PNP LANTARON ABUHADBA DE ROSE Melissa Georgett (primeira mulher PNP desdobrada em missão de paz); e Suboficial de 2ª PNP CHAMANE VILCHEZ Crhistian Adrián.

[10] São símbolos da União Europeia o lema, o Dia da Europa, o hino e a bandeira europeia.

VIII. Bibliografía

Capitán PNP Juan G. BAJONERO RODRGUEZ (2022). ¿Cuáles son las misiones de paz de las Naciones Unidas en las que deben ser desplegados el personal de la Policía Nacional del Perú?, se accedió el 09 de junio 2023. Disponible en el portal web de la Policía Nacional del Perú: www.policia.gob.pe/pnp/archivos/

Capitán PNP Juan G. BAJONERO RODRGUEZ (2021). Las operaciones de mantenimiento de la paz: oportunidades y desafíos para la Policía Nacional del Perú, se accedió el 02 de abril 2023. Disponible en el portal web de la Policía Nacional del Perú: www. policia.gob.pe/pnp/archivos/

Capitán PNP Juan G. BAJONERO RODRGUEZ (2020). La Policía Nacional del Perú y su participación en las Operaciones de Mantenimiento de la Paz de las Naciones Unidas, se accedió el 05 de marzo 2023. Disponible en el portal web de la Policía Nacional del Perú: www.policia.gob.pe/pnp

CPTM UN - Panorama general de las operaciones de mantenimiento de la paz de las Naciones Unidas. Lesson 1.7: Working as One in the Mission. Disponible en inglés en: peacekeepingresourcehub. un.org/en/training/pre-deployment/cptm/module1

Decreto Supremo N° 006-2022-DE, del 17 de junio de 2022 Disponible en el portal: www.gob.pe/ institucion/

Informe sobre los resultados de UN Selection Assessment and Assistance Team (SAAT) visit to Peru 05/08/2022.

ONU Perú. 2020. “75 años de una carta que cambio al mundo”. Se accedió el 28 de marzo de 2023. Disponible en español en: peru.un.org/es

Reglamento de organización y funciones del Ministerio de Relaciones Exteriores.

Resolución de la Comandancia General de la Policía Nacional N°091-2021-CGPNP/EMG de fecha 13 de mayo 2021.

Resolución de la Comandancia General de la Policía Nacional N°544-2019-CGPNP/SUB.COMGEN de fecha 22 de agosto de 2019, con el cual se conforma el “Equipo Técnico Facilitador de la PNP” para tratar en los eventos internacionales sobre misiones de paz desarrollados el año 2019.

Resolución Ministerial Nº0141-2023-IN de fecha 03 de febrero del 2023. Se accedió el 28 de marzo de 2023. Disponible en español en: cdn.www.gob.pe/ uploads/

Revista PNP – EDICIÓN N°07 “Policía Nacional del Perú participa en la 25° Conferencia Anual de la Asociación Internacional de Centros de Formación para el Mantenimiento de la Paz”, se accedió el 02 de setiembre de 2021. Disponible en español en: issuu.

O PERU E A REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA: UMA PONTE DE SOLIDARIEDADE NO

fElicita carolina cavEro zavala – tErcEira-SEcrEtÁria

CORAÇÃO DA ÁFRICA

funcionÁria da dirEção-gEral dE EStudoS E EStratégiaS dE Política ExtErna

"o que importa Na vida Não É o simples fato de termos vivido. são as mudaNças que provocamos Na vida dos outros que determiNam o sigNificado da Nossa."

Resumo:

O artigo analisa a participação da Companhia de Engenharia Peruana na missão de paz da ONU (MINUSCA) na República Centro-Africana, apresentando-a como um caso exemplar de Cooperação Sul-Sul (CSS) utilizada como instrumento eficaz de política externa. Por meio da construção de infraestrutura vital, simbolizada pela ponte em Bocaranga, o contingente peruano não apenas contribui para a paz e a estabilidade, mas também projeta a imagem de um Peru solidário e capacitado no cenário global. O texto conclui que essa missão, fundamentada nos princípios de horizontalidade e benefício mútuo, fortalece a projeção internacional do Peru e constrói uma ponte sólida para futuras relações entre o nosso país e o continente africano.

Quando os “capacetes azuis” peruanos chegaram ao povoado de Bocaranga, na República Centro-Africana, encontraram duas margens separadas pelo rio Ouham. Com a chegada da estação das chuvas, esse rio transformava-se em uma barreira intransponível durante meses, interrompendo o comércio, isolando comunidades e impedindo que a ajuda humanitária chegasse. O desenvolvimento de uma ponte modular de 60 metros, portanto, foi mais que um trabalho de engenharia: foi um ato de reconexão. Esta é a imagem da participação peruana na Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA) desde 2016.

O compromisso histórico do Peru com o multilateralismo e com o mantenimiento da paz (Soto Millonez, 2016) transformou-se: já não é apenas uma responsabilidade, mas uma ferramenta estratégica de projeção internacional. Isso se reflete no respaldo contemporâneo ao “Plano Estratégico para a África 2024-2030”, promulgado pelo nosso Ministério das Relações Exteriores, antecipando uma relação mais proativa e organizada com o continente africano (Ministério das Relações Exteriores, 2025). Este artigo sustenta que a tarefa realizada na RCA, simbolizada por essa ponte, é mais do que uma operação comum de manutenção da paz da ONU. Ela se apresenta como um caso exemplar de Cooperação Sul-Sul (CSS), que simultaneamente funciona como um instrumento eficaz de poder brando e projeção nacional.

A República Centro-Africana (RCA) procura libertar-se de um período prolongado de violência que destruiu sua infraestrutura essencial. O mandato da MINUSCA é complexo: não deve limitar-se simplesmente a proteger civis ou evitar o avanço de grupos armados. Crucialmente, inclui também o apoio (Nações Unidas, 2023) para que o Estado centro-africano tenha a oportunidade de voltar a habitar plenamente o seu território.

NelsoN maNdela
Fotografia oficial da ponte construída pelo contingente peruano na MINUSCA Fonte: Andina

Mapa da República Centro-Africana com os principais setores e o desdobramento territorial da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA).

Fonte: Un.org

Em um país como a RCA, sobretudo, o problema é logístico. A paz sustentável depende realmente da infraestrutura. Para que o Estado possa garantir segurança e distribuir ajuda, são indispensáveis estradas transitáveis e pontes em funcionamento; caso contrário, a tarefa torna-se praticamente impossível (Nações Unidas, s.f.). Nesse contexto, o papel dos engenheiros militares não é suplementar, mas fundamental para a consolidação da paz.

Se os contingentes de infantaria cumprem uma função dissuasória, a Companhia de Engenharia “Perú” tem uma missão inerentemente construtiva. Eles trabalham para criar condições mínimas que tornem possível a paz por meio de três grandes tarefas.

A função mais visível é garantir movimento e acesso, já que os engenheiros peruanos executam trabalhos cruciais de nivelamento e compactação de estradas que, de outra forma, estariam bloqueadas para a passagem de comboios humanitários (Comando Conjunto das Forças Armadas, 2021). Ao mesmo tempo, o contingente executa obras destinadas a restaurar a autoridade estatal, essenciais para a construção de bases operacionais e para facilitar a infraestrutura local, como o Hospital de Nível 2 da MINUSCA em Bouar (Comando Conjunto das Forças Armadas, 2022). Finalmente, esses esforços são complementados pelos Projetos de Impacto Rápido (PIR), obras de benefício direto para a comunidade, como perfuração de poços de água ou reabilitação de escolas.

Como descrito anteriormente, o trabalho mais importante da contribuição feita pelos peruanos foi

Os capacetes azuis são forças militares e policiais internacionais que atuam sob mandato da ONU para proteger a população civil em zonas de conflito.

19 de outubro de 2021,

Companhia

projeto da ponte modular “Perú” em Bocaranga. Essa elaborada façanha de engenharia, realizada em um contexto de segurança volátil, constitui um símbolo poderoso da missão. A ponte é mais do que uma estrutura de aço; é uma ferramenta de estabilização. A região havia permanecido isolada durante meses antes de sua construção. E hoje, ela conecta comunidades, reativa mercados, permite o retorno de refugiados e continua sendo o emblema físico dessa contribuição peruana. É a evidência de que a missão da ONU, sob liderança peruana, produz resultados concretos (Nações Unidas Peru, 2020).

producida en un contexto de seguridad volátil, es un símbolo potente de la misión. El puente es más que una estructura de acero; es una herramienta de estabilización. La región había estado aislada durante meses antes de su establecimiento. Y hoy, los conecta, reconecta mercados, permite el regreso de refugiados y el puente sigue siendo el emblema físico de esa contribución peruana. Es evidencia de que la misión de la ONU, bajo la dirección peruana, conduce a resultados (Naciones Unidas Perú, 2020).

Assim, a participação do Peru na RCA deve ser entendida em termos de Cooperação Sul-Sul (CSS). Isso contrasta com a perspectiva habitual de assistência vertical (Norte–Sul), pois a assistência horizontal é influenciada por princípios de horizontalidade, solidariedade, interesse comum e

Fonte: Infobae
Em
a
de Engenharia Peru iniciou os trabalhos de engenharia para a preparação do terreno que será utilizado para a construção do Hospital de Nível 2 da MINUSCA na cidade de Bouar.
Fonte: Gob.pe

benefício mútuo. A Agência Peruana de Cooperação Internacional (APCI, 2012, p. 14) descreve a CSS como “uma forma de cooperação por meio de parcerias nas quais se contribuem e/ou trocam recursos, tecnologia e conhecimento entre países em desenvolvimento”. A missão na MINUSCA é um grande exemplo dessa política em prática: não se trata de doação, e sim de uma oportunidade para transferência de capacidades entre países do Sul Global.

O Peru não é um doador tradicional; é um parceiro que compartilha experiências semelhantes às da República Centro-Africana. Nosso país está plenamente consciente dos desafios logísticos de conectar regiões geograficamente complexas — desafios moldados, como no caso peruano, pelas dificuldades de engenharia impostas pelos Andes e pela Amazônia. Portanto, o Peru possui um knowhow sustentado pela prática. A experiência dos engenheiros militares peruanos na construção de pontes modulares e na reabilitação de infraestrutura viária em condições adversas é uma capacidade altamente transferível à realidade centro-africana. Essa experiência compartilhada entre nações do Sul Global gera um grau de empatia e confiança com a população local, algo difícil de reproduzir por atores externos. Embora produza um efeito semelhante ao da diplomacia pública (ao fortalecer a confiança da população local) não se trata de uma política comunicacional, mas sim de uma legitimidade derivada da afinidade Sul-Sul e de vivências compartilhadas difíceis de replicar externamente.

Sob essa lógica, a Cooperação Sul-Sul entende que todos os participantes podem beneficiar-se trabalhando juntos, e no contexto da MINUSCA, esse princípio se cumpre plenamente. Para a República Centro-Africana, os benefícios são imediatos e concretos: infraestrutura e1ssencial que melhora a segurança, permite o retorno de pessoas deslocadas e cria condições para a reativação econômica. Também é estratégico para o Peru. Do ponto de vista da política externa, a missão tem sido uma iniciativa operacional que dá vida aos “objetivos do Plano Estratégico para a África 2024–2030” (Ministério das Relações Exteriores, 2025). No setor de defesa, os benefícios são tangíveis: a missão fornece experiência indispensável às Forças Armadas em um teatro de operações real e multinacional. O resultado direto é uma maior interoperabilidade e treinamento avançado prático (CECOPAZ, 2022), apoiando o propósito declarado da Defesa Nacional de contribuir para a paz internacional (Ministério da Defesa, 2005). Da mesma forma, em nível bilateral,

esse trabalho estabelece um vínculo extraordinário de apreço com uma nação africana, ajudando a “expandir a africanidade” de nossa política externa, transformando-a da teoria para a prática cotidiana

Dicha proyección estratégica está en línea con el objetivo de la política exterior peruana de "expandir la africanidad" (Ministerio de Relaciones Exteriores, 2025). Esta idea trata de avanzar desde una relación con África de conmemoración con la diáspora histórica como vínculo básico a un compromiso real y aún más contemporáneo. La entrada peruana en la MINUSCA representa, por lo tanto, una "cabeza de puente" diplomática. Es la presencia peruana más grande, operativa y más conspicua en África Central. Esta misión establece la confianza y el conocimiento mutuo indispensable para establecer estas futuras relaciones bilaterales (diplomáticas, comerciales, de cooperación) no solo con la República Centroafricana sino también con las naciones de la Comunidad Económica de los Estados de África Central (CEEAC).

Essa dinâmica também abrange o poder brando da engenharia e da solidariedade. Hoje, um país exerce poder não apenas por meios econômicos, militares ou demográficos, mas também por meio da atração cultural, de valores e de exemplos positivos. Nesse sentido, a Companhia de Engenharia “Perú” é um dos instrumentos de poder brando mais úteis e eficientes do Estado peruano. O capacete azul, a imagem da reabilitação peruana de uma rota chave, tem impacto profundo e duradouro na percepção local. A diplomacia dos fatos cria laços que fomentam confiança e apreço, apresentando o Peru não apenas como um ator convencional de poder, mas como um parceiro solidário. Trata-se de uma imagem valiosa em um continente cuja história de intervenções externas nem sempre trouxe resultados positivos.

Essa projeção estratégica está alinhada com o objetivo da política externa peruana de “expandir a africanidade” (Ministério das Relações Exteriores, 2025). Trata-se de avançar de uma relação com a África centrada na comemoração da diáspora como vínculo básico para um compromisso real, ativo e contemporâneo. A entrada peruana na MINUSCA representa, portanto, uma “cabeça de ponte” diplomática. É a presença peruana mais ampla, operacional e visível na África Central. Essa missão estabelece a confiança e o conhecimento mútuo indispensáveis para construir futuras relações bilaterais — diplomáticas, comerciais e de cooperação — não apenas com a RCA, mas também com os países da Comunidade Econômica dos Estados da África Central (CEEAC).

Em conclusão, a Companhia de Engenharia “Perú” na MINUSCA oferece um modelo exemplar de boa política externa, no qual os compromissos multilaterais se combinam com os princípios da Cooperação Sul-Sul para gerar uma situação de ganha-ganha. A missão não se restringe ao cumprimento de um mandato internacional: trata-se da implementação de uma política que, ao mesmo tempo, ajuda a desenvolver uma vantagem estratégica nacional (Soto Millonez, 2016). Às portas de completar quase uma década nesse cenário, está claro que o Peru não está apenas exportando engenharia; está exportando estabilidade, esperança e unidade.

Por essas razões, a ponte de Bocaranga construída pelos trabalhadores peruanos representa a materialização dessa visão. Não é apenas uma estrutura de aço sobre um rio; é uma ponte de solidariedade que une a América do Sul à África. Demonstra a capacidade do Peru de ser uma figura positiva e colaboradora no mundo, servindo como exemplo perfeito de que a melhor maneira de fortalecer a projeção internacional é por meio de ações concretas que promovam a paz.

REFERÊNCIAS

Agencia Peruana de Cooperación Internacional (APCI). (2012). Compendio de Normas Legales de la Cooperación Técnica Internacional. Lima: APCI. Enlace: portal.apci.gob. pe

Comando Conjunto de las Fuerzas Armadas. (2021, julio 20). Comando Conjunto de las Fuerzas Armadas despide a Cascos Azules que participarán en Misión de Paz en la República Centroafricana - MINUSCA. Plataforma Digital del Estado Peruano. Enlace: https://www.gob.pe/ institucion/

Comando Conjunto de las Fuerzas Armadas. (2022, enero 17). Habilitación del terreno para la construcción del Hospital Nivel 2 de la MINUSCA en la ciudad de Bouar. Plataforma Digital del Estado Peruano. Enlace: www.gob. pe/institucion/

Ministerio de Defensa del Perú. (2005). Libro Blanco de la Defensa Nacional. Enlace: www.gob.pe/institucion/

Ministerio de Defensa del Perú. (2022, octubre 25). CECOPAZ fortalece la formación de las Fuerzas Armadas del Perú para misiones de paz de la ONU. Plataforma Digital del Estado Peruano. Enlace: www.gob.pe/ institucion/mindef/noticias/

Ministerio de Relaciones Exteriores del Perú. (2025). Discurso del Viceministro de Relaciones Exteriores, Embajador Félix Denegri Boza, en la XVI edición del Día de la Amistad Peruano-Africana. En: Cumanana, Boletín Virtual de Cultura Peruana para el África. (N° 50). Enlace: cdn.www.gob.pe/uploads

Naciones Unidas, Consejo de Seguridad. (2023). Resolución 2709 (S/RES/2709). Enlace: docs.un.org/es/s/ res/2709(2023)

Naciones Unidas, Operaciones de Paz. (s.f.). MINUSCA: Mandato. Enlace: peacekeeping.un.org/es/mission/ minusca

Naciones Unidas Perú. (2020, agosto 19). Cascos Azules peruanos y su aporte en República Centroafricana. Enlace: peru.un.org/

Soto Millonez, A. (2016). La participación del Perú en las Operaciones de Mantenimiento de la Paz de Naciones Unidas y su contribución a la política exterior Tesis de Maestría. Academia Diplomática del Perú Javier Pérez de Cuéllar. Enlace: https://repositorio.adp.edu.pe/bitstream

Integrantes do contingente peruano durante operações iniciais na região de Bocaranga. Fonte: Gob.pe

DO CALLAO A BANGUI: A TRAVESSIA DOS SOLDADOS DA PAZ PERUANOS

Desde o porto do Callao, onde o mar guarda séculos de despedidas, parte um grupo de peruanos que aprendeu a servir à pátria não apenas em sua fronteira, mas também no horizonte mais amplo da humanidade. Rumo a Bangui, capital da República Centro-Africana, viajam os integrantes do contingente peruano designado para a Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas (MINUSCA). Sua viagem não é apenas geográfica. É também uma travessia cultural e moral: um trânsito desde a costa do Pacífico até o coração da África Central, desde a rotina militar até a cotidianeidade da paz.

1. O contexto da missão

A MINUSCA foi estabelecida pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas em abril de 2014, como resposta ao colapso institucional que se seguiu aos conflitos armados na República Centro-Africana. Seu mandato é amplo: proteger a população civil, promover o diálogo político, facilitar a assistência humanitária e reconstruir a presença do Estado (United Nations Peacekeeping, 2025a). Nesse cenário, o Peru decidiu contribuir com um contingente de engenharia militar, reafirmando seu compromisso histórico com o multilateralismo e com as operações de manutenção da paz.

Soldados da paz Fonte: geopolitical monitor

O contingente peruano — composto por mais de duzentos efetivos — representa uma das contribuições mais significativas da América Latina para a missão (United Nations Peacekeeping, 2025b). Desde 2020, nossos capacetes azuis se deslocam por diversas regiões da República Centro-Africana, levando não apenas ferramentas de engenharia, mas também um bagaje cultural de disciplina, respeito e solidariedade (Agencia Andina, 2020).

2. A viagem e a adaptação

Partir do Callao implica mais do que embarcar. Significa abandonar um clima, uma língua, uma geografia e uma forma de vida para entrar em um mundo radicalmente distinto. Bangui, situada às margens do rio Ubangui, oferece uma paisagem de contrastes: vegetação densa, aldeias de barro vermelho, mercados ruidosos e uma população marcada pela resiliência. Ali, onde as distâncias se medem em horas de lama e as chuvas ditam os ritmos do dia, os peruanos começam a construir estradas, pontes e pistas de pouso que facilitam o trânsito de suprimentos e pessoas em zonas de difícil acesso.

As tarefas do contingente peruano não são de combate, mas sim de engenharia e apoio logístico. Como explicou a capitã Jessica Chuquisengo Acosta, do Exército do Peru, em entrevista ao Geopolitical Monitor (Sánchez, 2020), a equipe realiza trabalhos de limpeza de terrenos, compactação de solos e nivelamento como parte da construção de aeródromos; manutenção, reparo e edificação de pistas não asfaltadas; construção e manutenção de heliportos; e transporte de equipamentos para as zonas de obra. Desde sua chegada à República Centro-Africana, o V Contingente desenvolveu projetos como a construção da estrada Ghambia–Nofou e o reparo de três pontes em Amada Gaza. Do mesmo modo, encontram-se em execução trabalhos de manutenção na via Bouar–Bossembele e a instalação de uma ponte pré-fabricada de 15 metros em Bocaranga.

Da mesma forma, a companhia de engenheiros peruana presta apoio logístico no transporte de água para os campos de refugiados e dissidentes dentro de sua zona de operações. Um dos projetos mais importantes em andamento é a construção de um heliporto em Bouar — com três áreas de pouso, zonas de taxiamento e espaços complementares — que servirá como base operativa para uma unidade de manutenção da paz procedente de Bangladesh. Segundo o Financial Express daquele país, a Bangladesh Air Force (BAF) deslocará um contingente

de três helicópteros armados MI-171 equipados com sistemas de visão noturna e 125 efetivos (Sánchez, 2020).

Em Bangui, a disciplina aprendida nos quartéis peruanos transforma-se em uma ferramenta cultural. A continência militar converte-se em gesto de respeito; a pontualidade, em demonstração de confiança. Por meio desses sinais, os capacetes azuis peruanos integram-se pouco a pouco às comunidades locais, aprendendo palavras em sango, compartilhando alimentos, participando de celebrações comunitárias. A distância reduz-se quando os valores humanos coincidem.

3. A dimensão humana da missão

Toda missão de paz é também uma lição de humanidade. Na República Centro-Africana, os soldados peruanos não apenas constroem estradas e pontes: constroem vínculos com as comunidades locais, marcadas por anos de violência e precariedade. Nesse contexto, o contingente peruano descobriu que a cooperação técnica também se transforma em um ato de solidariedade e respeito intercultural.

Como afirmou a capitã Jessica Chuquisengo Acosta, do Exército do Peru, em entrevista ao Geopolitical Monitor (Sánchez, 2020), as condições no terreno são exigentes, mas o compromisso do pessoal peruano permanece inalterado: “embora as restrições limitem nossas atividades, não deterão nossas operações, porque chegamos com um objetivo e esse objetivo será cumprido”. Seu testemunho resume a resiliência do contingente e a convicção de que a paz se sustenta tanto com infraestrutura quanto com humanidade.

Peru: Ministro da Defesa destaca participação feminina nos Cascos Azuis
Fonte: Andina

Nos acampamentos da MINUSCA, a convivência cotidiana entre peruanos e centro-africanos gera espaços de diálogo cultural que transcendem o trabalho técnico. Os capacetes azuis peruanos compartilham sua música e costumes, trocam palavras em espanhol e sango, e participam de celebrações comunitárias. Esses gestos, aparentemente simples, configuram uma forma diferente de diplomacia — uma diplomacia do afeto — na qual a empatia e o respeito mútuo se tornam ferramentas essenciais para a construção da paz.

4. A mulher peruana no terreno

No cenário da República Centro-Africana, a presença feminina dentro do contingente peruano da MINUSCA representa um dos avanços mais notáveis da história recente das operações de manutenção da paz do Peru. A incorporação progressiva de mulheres em áreas técnicas, de comando e de assessoria especializada não apenas redefiniu o perfil operacional das forças peruanas, como também consolidou um modelo de liderança que combina competência técnica, sensibilidade intercultural e compromisso ético.

A companhia de engenharia peruana destacada na MINUSCA conta atualmente com 26 mulheres, entre oficiais, suboficiais, técnicas e pessoal naval. Suas funções abrangem engenharia militar, medicina, psicologia, comunicações, inteligência, tradução e gestão logística, bem como tarefas no estado-maior. Pela primeira vez, o contingente inclui uma assessora jurídica especializada na prevenção do abuso e da exploração sexual — uma função que articula as políticas internas de disciplina com os padrões éticos das Nações Unidas (Sánchez, 2020).

Nas palavras da capitã Jessica Chuquisengo Acosta, essa participação tem um valor duplo: fortalecer as

capacidades operacionais do contingente e construir pontes de confiança com a população local. As mulheres centro-africanas, explica, “sentem-se mais à vontade interagindo conosco; isso facilita as operações, pois conseguimos criar um senso de confiança com elas” (Sánchez, 2020). Esse contato direto favoreceu a inclusão de mulheres e crianças em projetos comunitários de reconstrução e assistência sanitária, o que coincide com as prioridades estratégicas estabelecidas pelas Nações Unidas em matéria de participação feminina em operações de paz (United Nations Peacekeeping, s.f.).

Nesse mesmo sentido, o Ministério da Defesa do Peru destacou, durante a cerimônia de despedida do IV Contingente da Companhia de Engenharia do Peru, que “pela primeira vez na história dos contingentes, vinte mulheres militares se uniram a uma missão de manutenção da paz”, acrescentando ainda que “o Peru já conta com uma participação feminina de 12,2%, aproximando-se dos 15% recomendados pela ONU para forças nacionais em operações de manutenção da paz” (Agencia Andina, 2020). Esses avanços evidenciam o compromisso institucional de fortalecer a participação feminina nas operações de paz.

Assim, as oficiais peruanas na República CentroAfricana não apenas desempenham funções de engenharia ou tarefas administrativas, mas representam um processo de transformação cultural dentro das próprias Forças Armadas. Seu desempenho demonstra que a participação feminina em missões internacionais fortalece a capacidade do Estado peruano de projetar uma diplomacia baseada na cooperação e no cuidado, na qual a profissionalidade técnica se articula com uma dimensão humana que contribui para o cumprimento dos objetivos da missão.

5. Uma travessia que continua

A experiência peruana na MINUSCA faz parte de uma trajetória mais ampla: a do compromisso contínuo do Peru com as operações de paz das Nações Unidas. Desde sua participação em missões no Haiti, Sudão do Sul e Líbano, o país tem demonstrado que sua vocação internacional não se define pelo tamanho de suas forças, mas pela convicção ética que guia sua atuação.

Peru envia oficiais femininas para a MINUSCA
Fonte: Dialogo americas

Na África Central, o contingente peruano aportou não apenas infraestrutura, mas também confiança. Mostrou que a solidariedade pode se expressar a partir do uniforme e que a construção da paz transcende as barreiras linguísticas. Sua travessia — do Callao a Bangui — simboliza a capacidade de construir pontes entre culturas e de levar o espírito do país a lugares onde a esperança ainda está em reconstrução.

Cumanana recolhe esta história não como um relatório de guerra, mas como um testemunho cultural: o Peru que dialoga, coopera e aprende. No olhar de cada capacete azul reflete-se uma convicção silenciosa: servir à paz do mundo é, ao mesmo tempo, uma forma de servir à alma do próprio país.

Referencias

Agencia Andina. (2020, 15 de enero). Peru: Defense Minister highlights female participation in Blue Helmets. https://andina.pe/ingles/noticia-perudefense-minister-highlights-female-participationin-blue-helmets-739242.aspx

Diálogo Américas. (2020, 28 de enero). Peru deploys female officers to MINUSCA.

https://dialogo-americas.com/articles/perudeploys-female-officers-to-minusca/

Sánchez, W. A. (2020, June 19). Soldiers of Peace: A Peruvian Blue Helmet in MINUSCA. Geopolitical Monitor. https://www.geopoliticalmonitor.com/ soldiers-of-peace-a-peruvian-blue-helmet-inminusca/

United Nations Peacekeeping. (2025a). About | MINUSCA. https://minusca.unmissions.org/en/about

United Nations Peacekeeping. (2025b). Troop and police contributors. https://peacekeeping.un.org/en/ troop-and-police-contributors

United Nations Peacekeeping. (s. f.). Women, peace and security. Recuperado el 17 de noviembre de 2025, de https://peacekeeping.un.org/en/womenpeace-and-security-0

Capacetes Azuis Fonte: Andina

EXPANDINDO A AFRICANIDADE

CHOCOLATE “CUMANANA”: UMA INICIATIVA DE PROMOÇÃO ECONÔMICA, CULTURAL E TURÍSTICA

IMPULSIONADA PELO ESCRITÓRIO DESCONCENTRADO EM TUMBES DO MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

autor: odE-tumbES

O Escritório Desconcentrado em Tumbes do Ministério das Relações Exteriores (ODE-Tumbes) realizou, em 2025, uma iniciativa cujo objetivo foi promover as tradicionais cumananas de origem afroperuana por meio de uma coleção de chocolates elaborados com cacau produzido na região de Tumbes.

A cumanana é um gênero literário, musical e poético declarado, em 2004, Patrimônio Cultural Imaterial da Nação. São pequenas canções que nasceram sob influências hispânicas, africanas e indígenas, e que se enraizaram profundamente no norte do país, especialmente em Tumbes. Seus autores, seja recitando ou cantando, expressam nelas seus sentimentos mais profundos de amor, alegria e melancolia, em duelos “encarniçados”, ao som da guitarra.

Chocolate “Cumanana”: um produto genuinamente tumbesino com valor agregado

A iniciativa consistiu no desenho e na elaboração de uma série de quatro embalagens de chocolates, cuja marca comercial “Cumanana” foi registrada perante o Escritório Regional de Tumbes do Instituto Nacional de Defesa da Concorrência e da Proteção da Propriedade Intelectual (INDECOPI).

Essas embalagens contêm informações turísticas e imagens das principais paisagens e atrações da região de Tumbes. Além disso, contam com dois códigos QR online, que podem ser lidos por dispositivos móveis.

O primeiro código QR permite visualizar, por meio de um link do YouTube, vídeos de curta duração nos quais meninos e meninas de Tumbes recitam cumananas originais criadas por eles mesmos, em meio a belíssimos cenários naturais da região, como: as praias de Zorritos e as Poças Termais de Hervideros, na província de Contralmirante Villar; a Ilha dos Pássaros, localizada no Santuário Nacional Los

Manglares de Puerto Pizarro; a Lagoa Lamederos, no distrito de Papayal; a zona de El Caucho, pertencente ao Parque Nacional Cerros de Amotape, no distrito de Pampas de Hospital. Os vídeos contam, ainda, com linguagem de sinais, tornando-os acessíveis para pessoas com deficiência auditiva.

Embalagem do Chocolate Cumanana

Fonte: Propia

O segundo código QR exibe um Livro Digital intitulado “Cumananas, versos que brotam do rio – Desde Casa Blanqueada com voz de criança e alma ancestral”, que contém uma coletânea de todas as cumananas apresentadas pelas crianças do ensino primário da Instituição Educativa N.º 042 “Sagrada Família” – Casa Blanqueada, localizada no distrito de San Jacinto, província de Tumbes, no âmbito do concurso escolar promovido por essa instituição e pelo Escritório Desconcentrado em Tumbes do Ministério das Relações Exteriores. O objetivo desse concurso foi selecionar quatro crianças com as melhores cumananas, que foram posteriormente incorporadas nas quatro embalagens do chocolate “Cumanana”.

As cumananas que integram esse livro digital foram registradas na Oficina Regional do INDECOPI em Tumbes com direitos autorais a favor das crianças tumbesinas. Com esse registro, a cada chocolate vendido ao público, 10% do preço ao consumidor será destinado às crianças autoras, beneficiandoas economicamente em agradecimento pelo aporte

cultural que agrega valor ao chocolate Cumanana. É importante destacar que os textos presentes no interior das embalagens estão escritos em espanhol e foram traduzidos para o inglês, a fim de facilitar a leitura e compreensão por parte de turistas e visitantes estrangeiros que adquirirem o produto.

Chocolate “Cumanana”: aliados estratégicos

Para concretizar essa iniciativa, a ODE Tumbes convocou instituições e organizações da sociedade civil como parceiras. Entre elas:

Instituto Nacional de Defesa da Concorrência e da Proteção da Propriedade Intelectual – INDECOPI Tumbes

No início de 2025, a ODE Tumbes visitou a sede regional do INDECOPI e alinhou os objetivos do projeto com a Chefe Regional de Tumbes. Conseguiram, além disso, envolver os funcionários da instituição nessa atividade conjunta, dentro do marco do Convênio de Cooperação Interinstitucional existente entre o Ministério das Relações Exteriores e o INDECOPI.

A atuação do INDECOPI Tumbes concentrouse principalmente em: oferecer capacitação e acompanhamento permanente aos envolvidos no projeto sobre registro de propriedade intelectual; realizar palestras de orientação para as mães integrantes da Associação de Mulheres Inovando Produtos Derivados do Cacau e Outros – Paraíso Norteño; apoiar essa organização na obtenção do registro da nova marca de chocolate “Cumanana”, que agora se soma à sua marca já existente “Choco Tumpis”.

Além disso, o INDECOPI Tumbes realizou ações de empoderamento junto às autoridades educativas e aos pais de família da I.E. N.º 042 “Sagrada Familia” – Caserío Casa Blanqueada, distrito de San Jacinto, sobre a importância e os benefícios de integrar o registro de propriedade intelectual.

O aporte institucional permitiu elaborar o livro digital “Cumananas, versos que brotam do rio – Desde Casa Blanqueada com voz de criança e alma ancestral”, que reúne todas as cumananas criadas pelos estudantes e apresentadas no concurso interno organizado pela escola com apoio da ODE Tumbes.

Asociación de Mujeres Innovando Productos Derivados del Cacao y Otros - Paraíso Norteño

No coração da fronteira norte entre Peru e Equador encontra-se o distrito de Papayal, na província de

Zarumilla. A ODE Tumbes deslocou-se até esse local com o propósito de desenvolver essa estratégia de promoção econômica, turística e cultural junto a uma organização situada na fronteira e integrada por mulheres empreendedoras da zona rural da região.

O aliado fundamental para o desenvolvimento dessa iniciativa foi a Associação de Mulheres Inovando Produtos Derivados do Cacau e Outros – Paraíso Norteño, composta por 25 mulheres que representam 125 membros de suas respectivas famílias, todas unidas pelo trabalho, pela tradição e pelo amor ao cacau.

Fonte:Propia

Seu ateliê artesanal é um verdadeiro laboratório de sabores e saberes. Ali, cuidam de cada grão de cacau colhido em suas próprias parcelas, localizadas no Vale de Zarumilla – Tumbes, único no país por sua riqueza genética – e o transformam em finas barras de chocolate. Utilizam processos rigorosos e sustentáveis que incluem fermentação, secagem, torrefação e refino em pequena escala, preservando as características naturais do cacau.

Essa articulação permitiu à Associação “Paraíso Norteño” criar um novo produto autêntico, saudável e profundo em sabor: o chocolate “Cumanana”. Um produto que não apenas encanta o paladar, mas também destaca a riqueza cultural de Tumbes por meio do talento das crianças que criaram suas cumananas e são protagonistas desta iniciativa.

Iván Silva Rivera, Director of the ODE Tumbes, during a coordination visit with the women entrepreneurs of the “Paraíso Norteño” Association.

Esta série de chocolates contém quatro barras, cada uma com 50%, 60%, 70% e 80% de cacau, tornando-o um presente ideal para familiares, amigos, visitantes locais e estrangeiros — não apenas pela qualidade do cacau, mas também pela riqueza cultural presente nas embalagens: tradição, paisagens naturais e conteúdo artístico-literário. Dessa forma, o chocolate Cumanana transforma-se de um produto comercial em um verdadeiro produto cultural de Tumbes para o Peru e para o mundo.

Instituição Educativa N.º 042 “Sagrada Familia” do Caserío Casablanqueada, localizada no distrito de San Jacinto, departamento de Tumbes

A Instituição Educativa N.º 042 “Sagrada Familia”, criada em 1944, foi a aliada para desenvolver o concurso de cumananas entre as crianças tumbesinas com o propósito de promover uma prática tradicional de origem afroperuana que tem se perdido ao longo dos anos.

A diretora María Socorro Céspedes Carrillo foi quem abriu as portas à iniciativa da ODE Tumbes. Ela liderou a organização e execução do concurso interno, cujo objetivo foi selecionar quatro crianças com as melhores cumananas que fariam parte da série de quatro embalagens do chocolate. O concurso foi realizado com o apoio do corpo docente e do pessoal administrativo e contou com a participação de setenta e sete crianças que criaram suas próprias cumananas, baseadas em suas vivências relacionadas aos seus lares, sua escola, comunidade local, problemática rural, entre outros temas.

A menina Dayana Darlin Pardo Rodríguez, aluna do 4.º ano do Ensino Primário da IE N.º 042 “Sagrada Familia”, ensaia sua cumanana com o acompanhamento de guitarra a cargo do Sr. Juan Bautista Rodríguez Cornejo, morador do Caserío de Carretas, distrito de San Jacinto, departamento de Tumbes.

Da esquerda para a direita aparecem as crianças vencedoras: Iham Pardo, Jackson Cabrera, Valeria Ortiz e Dayana Pardo. Flanqueiam a foto os pais, a diretora e os funcionários da ODE e do INDECOPI Tumbes.

Iham Jhosue Pardo Céspedes, aluno do 4.º ano do Ensino Primário

Em Tumbes, terra formosa, onde o sol sempre brilha e assombra, há um doce que enamora, o chocolate que deslumbra.

Seus aromas na brisa, encheram a alma e a memória, o chocolate de Tumbes é um tesouro de história e glória.

Vem provar este chocolate, seu sabor é um deleite, é um sonho saboreá-lo, um prazer que não se iguale.

Dayana Darlin Pardo Rodríguez, aluna do 4.º ano do Ensino Primário

Eu tenho tanta pena de toda a minha população, porque este ano se perdeu a produção.

Todas as nossas plantações o rio levou consigo, por isso os agricultores hoje sofrem um castigo.

Eu tenho tanta pena e às vezes fico a pensar se os agricultores voltarão a cosechar.

À minha instituição, à minha instituição, se aproxima o aniversário, por isso os estudantes já estamos nos preparando.

As moças da Blanqueada adoram sair pra dançar, mas vejam só lá na casa delas: nem sabem cozinhar. Chocolate, chocolate, por que é tão saboroso? Quando tocas o meu paladar, te saboreo sem repouso.

Valeria Lizet Ortiz Canales, aluna do 5.º ano do Ensino Primário

Quando eu ia à minha roçinha, que alegria me dava ver minhas plantinhas verdinha e tão formosa; mas agora que o rio Tumbes transbordou, minha roçinha está cheia d’água, e as plantinhas estão feias, tão murchas e desoladas. Agora peço a Deus que ajude meus papais, que suas plantas reverdeçam e fiquem lindas demais.

Eu venho de um povoadinho que se chama Casa Blanqueada, cheio de gente humilde e pessoas muito honradas.

As moças lá de Tumbes são bonitas e rabugentas, mas quando chega um forasteiro ficam logo muito contentas.

Atrás da minha casinha tem um morro chamado Picacho, de onde vejo o meu povinho e as fofoqueiras bater papo.

Jackson Dayiro Cabrera Rodríguez, aluno do 6.º ano do Ensino Primário

Eu venho lá de Carretas, com todo aquele lamaçal, para vir à minha escolinha e poder cumananear.

Meu avô é guitarrista e eu sou cumananeiro, pela minha escola 042 tiro o meu chapéu por inteiro.

Nós somos o futuro

do nosso querido Tumbes, com crianças esforçadas e pais trabalhadores.

No meu povoado de Carretas sempre chove e faz vento; aonde quer que eu vá, levarei isso no pensamento.

Este concurso de cumananas na I.E. N.º 042 “Sagrada Família” será apresentado em 2026 à Unidade de Gestão Educativa Local – UGEL Tumbes como uma proposta inovadora de boas práticas docentes, destacando a articulação institucional desenvolvida com a ODE Tumbes e o INDECOPI Tumbes.

Chocolate “Cumanana”: apresentação e difusão em nível local, nacional e internacional

Em nível local, esta iniciativa foi apresentada no dia 3 de julho de 2025 no Auditório do I.E.S.T.P. “CAP. FAP. José Abelardo Quiñones” de Tumbes, evento que contou com a presença das principais autoridades da região, assim como representantes de diversas instituições públicas, privadas, sociedade civil convidada e público em geral, ocasião em que se destacou o papel protagonista da ODE Tumbes na promoção de iniciativas de desenvolvimento regional com forte conteúdo de identidade cultural.

Concurrida assistência de autoridades e representantes de instituições públicas, privadas e sociedade civil na cerimônia de apresentação da iniciativa Chocolate “Cumanana” na região Tumbes.

Em nível nacional, graças ao apoio da Municipalidade Provincial de Tumbes, o projeto do chocolate “Cumanana” foi apresentado no XVI Salão Internacional do Cacau e Chocolate 2025, realizado de 17 a 20 de julho no Centro de Convenções da cidade de Lima. Nesta oportunidade, a atividade contou com a presença do Diretor da ODE Tumbes, do Prefeito da Municipalidade Provincial de Tumbes, de altos funcionários do Instituto Nacional de Defesa da Concorrência e da Proteção da Propriedade Intelectual – INDECOPI Lima, da presidenta da “Associação de Mulheres Inovando Produtos Derivados do Cacau e Outros – Paraíso Norteño”, bem como de público nacional e estrangeiro que visitou este importante evento dedicado ao cacau e ao chocolate.

e apresentação

Em nível internacional, esta iniciativa foi colocada à disposição da Direção de Promoção Econômica do Ministério das Relações Exteriores, a fim de que possa ser difundida nos diversos eventos de promoção e feiras especializadas em cacau e chocolate a nível internacional, com o apoio da rede de missões diplomáticas do Peru no exterior.

A ODE Tumbes, junto com a “Associação de Mulheres Inovando Produtos Derivados do Cacau e Outros – Paraíso Norteño”, participa conjuntamente de diversos eventos promocionais e feiras institucionais na região Tumbes, apresentando a iniciativa do Chocolate “Cumanana”, com o objetivo de promover, difundir e posicionar este produto no mercado interno.

A ODE Tumbes agradece a todos aqueles que, com seu trabalho e esforço, acompanharam esta iniciativa de promoção econômica, turística e cultural — atividade que permitiu garantir a devida proteção da propriedade intelectual, beneficiando as crianças criadoras das cumananas; revalorizar e fortalecer sua identidade cultural e ricas tradições; articular autoridades e sociedade civil em um objetivo comum; e, finalmente, promover o potencial turístico desta bela região de Tumbes, zona de fronteira no norte do Peru.

O Diretor da ODE Tumbes, Iván Silva Rivera (lado esquerdo), entrega uma coleção da série de chocolates “Cumanana” ao Governador da Província de El Oro, Equador, Sr. Jimmy Blacio Ochoa (lado direito), no marco do XVIII Comitê de Fronteira El Oro – Tumbes, realizado na cidade de Arenillas, Equador, em agosto de 2025.

Participação
da iniciativa Chocolate “Cumanana” no XVI Salão Internacional do Cacau e Chocolate 2025 realizado no Centro de Convenções de Lima.

ANGOLA: HISTÓRIA, CULTURA E DIPLOMACIA

manuEl da Silva domingoS ARTIGO

INTRODUÇÃO: ANGOLA, UMA NAÇÃO DE MEMÓRIAS E PROJETOS

Angola é, ao mesmo tempo, um território de memórias e de projetos. A sua trajetória histórica foi marcada por conquistas e desafios, por momentos de dor e de superação, mas também pela inabalável capacidade do seu povo de transformar adversidade em esperança e fragmentação em unidade.

No panorama africano, Angola é uma nação cuja história traduz resistência, criatividade e resiliência. De um território colonizado e dilacerado por guerras, emergiu um Estado moderno que alia memória e projeto, tradição e futuro. Como observa Maria da Conceição Neto (2012, p. 9), “a história de Angola é simultaneamente local e global, feita de encontros e desencontros, de rupturas e persistências que configuram uma identidade plural.”

Antes da presença europeia, o espaço angolano era ocupado por formações políticas complexas — Kongo, Ndongo, Matamba, Kwanhama, Bailundo e Huambo — que articulavam poder, comércio e espiritualidade. José Redinha (1962) destaca o

equilíbrio entre tradição e adaptação como traço das instituições locais. Desta forma, a Angola de que falamos, a Angola contemporânea, resulta de um longo processo de sedimentação cultural e política que antecede a colonização.

A presença portuguesa, formalizada em 1575, introduziu novas dinâmicas de poder e de exploração, mas também gerou resistência e mestiçagem. Como afirma Linda Heywood (2017), a ocupação foi contestada desde o início e a dominação cultural esteve sempre acompanhada de resistência simbólica. Após séculos de luta, a independência de 1975 e a paz de 2002 permitiram reconstruir o Estado e redefinir o projeto nacional.

Meus senhores e minhas senhras, a presente comunicação aborda três dimensões centrais: História, Cultura e Diplomacia, compreendendo Angola como sujeito histórico e voz de diálogo internacional. Como sintetizou Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola, “a independência não é um ponto de chegada, mas um processo de libertação continuada.”

RAÍZES HISTÓRICAS

Abordar a história de uma nação é um exercício de síntese, exigindo a selecção cuidadosa dos marcos que melhor definem o seu percurso. Com o propósito de traçar um panorama que sirva de base para o aprofundamento da cooperação bilateral entre Angola e o Peru, permitam-me focar em três momentos estruturantes da nossa trajetcória nacional.

Esta abordagem visa oferecer ao nosso país parceiro um conhecimento mais profundo sobre o potencial, a resiliência e a evolução de Angola:

Da Soberania à Colonização: Abordaremos o período que antecede a ocupação colonial, destacando a existência e a organização dos Reinos Africanos précoloniais. Esta perspetiva realça as raízes da nossa identidade e o posterior e complexo processo de transição para a era da colonização.

A Luta de Libertação e a Edificação da Paz: Analisaremos o período subsequente à ocupação, marcado pela determinação do povo angolano em recuperar a sua soberania através da Luta de Libertação Nacional. Este ponto culmina no difícil, mas vitorioso, percurso de construção da paz, um pilar fundamental da nação moderna.

A Era da Paz e da Reconstrução Nacional: Por fim, dedicaremos atenção especial ao presente de Angola. Descreveremos o período de estabilidade e reconstrução que se seguiu à paz definitiva, salientando o actual foco no desenvolvimento económico, na diversificação e na contínua afirmação do país no cenário internacional.

Estes três aspectos — as origens soberanas, a conquista da liberdade e a actual fase de desenvolvimento — constituem a matriz da Angola contemporânea e o substrato sólido sobre o qual desejamos edificar uma parceria mais robusta e mutuamente vantajosa com a República do Peru.

a) Dos reinos africanos à colonização

A formação de Angola assenta sobre civilizações africanas pré-coloniais dotadas de estruturas políticas próprias.

O Reino do Kongo, entre os séculos XIV e XV, possuía um governo centralizado e relações diplomáticas avançadas. O Manicongo, título dado ao governante máximo ou rei do Reino do Congo, administrava províncias subordinadas a uma complexa hierarquia. A correspondência do rei Afonso I (Mvemba-a-

Nzinga) com D. Manuel I e mais tarde com o filho deste, D. João III (1526), denuncia o tráfico de escravos e expressa a consciência africana da injustiça colonial (Thornton, 1983). Convém ressaltar que O Reino do Congo era uma monarquia poderosa na África Central, abrangendo partes dos actuais territórios de Angola, República Democrática do Congo, Congo-Brazzaville e Gabão.

O Reino do Congo e Portugal estabeleceram relações diplomáticas e comerciais (incluindo o comércio inicial de escravos sob controle congolês) a partir de finais do século XV. As cartas de D. Afonso I a D. Manuel I (e, posteriormente, a D. João III), nomeadamente a famosa carta de 1526, referem-se ao Reino do Congo e à desorganização e abuso do tráfico de escravos por parte dos comerciantes portugueses.

O Reino do Ndongo, de base matrilinear, deu origem ao nome “Angola” e destacou-se pela liderança de Njinga Mbande, soberana e estratega que utilizou a diplomacia como arma de soberania. O célebre episódio em que se recusa a ajoelhar perante o governador português simboliza a exigência africana de igualdade (Pepetela, 2008).

Os reinos do planalto — Bailundo, Huambo, Caconda — consolidaram redes de comércio que integravam o interior e o litoral, revelando uma economia africana dinâmica antes da penetração europeia (Mesquitela Lima, 1981). É importante salientar aqui que o litoral atlântico desde muito cedo serviu como via de interligação do interior africano com as americas, tal como hoje temos o caso do corredor do Lobito.

Reino do Ndongo
Fonte: Mais Geografia

A colonização portuguesa em Angola, como já referimos, formalizou-se em 1575 com a fundação de Luanda por Paulo Dias de Novais. Nos séculos XVII e XVIII, o território tornou-se o principal eixo do tráfico atlântico de escravos, fornecendo mão de obra para o Brasil e consolidando Angola como peça central da economia colonial.

A exploração intensificou-se após 1885, com a ocupação efetiva, que visava destruir as estruturas tradicionais e impor uma economia extravertida baseada em trabalho forçado e companhias concessionárias. Apesar da dominação e da assimilação, línguas e tradições africanas funcionaram como um refúgio de identidade.

Em suma, a história de Angola é marcada pela tensão criativa (Conceição Neto, 2012) entre a opressão colonial, que deixou profundas marcas de desigualdade, e a persistência de antigas culturas.

b) A luta pela libertação e a construção da nação (1945–1975)

O processo que levou à independência de Angola em 1975 é um capítulo central na história africana, marcado pela eclosão do nacionalismo e por uma intensa luta armada, consolidando-se em três fases principais: o despertar ideológico, a guerra de libertação e a proclamação da soberania.

O fim da Segunda Guerra Mundial (1945) catalisou o despertar político em Angola. O colapso das potências coloniais europeias e a ascensão de ideias globais de autodeterminação inspiraram a emergência do nacionalismo angolano, movimento influênciado profundamente pelo panafricanismo, uma doutrina que clamava pela solidariedade e união de todos os povos africanos e da Diáspora. Essa ideologia forneceu o quadro moral e político para questionar a dominação europeia.

Com o fervor nacionalista influenciado pelo panafricanismo, um núcleo de intelectuais consolidado em 1956 funda o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), destacando-se as figuras de Viriato da Cruz, Agostinho Neto e Mário Pinto de Andrade como fundadores desse Movimento. O Movimento em referência não concebia a luta apenas em termos políticos ou militares. A sua linha programática, expressa na célebre frase "a libertação política sem libertação cultural é incompleta" (MPLA, 1956), sublinhava que a valorização da cultura angolana e o resgate da identidade eram passos essenciais para a soberania. A poesia, nesse contexto, foi uma

arma moral, com obras como Sagrada Esperança (Neto, 1980) e Poemas/Monangamba (Jacinto, 1961) transformando a palavra em instrumento de luta e consciência. Este princípio era corroborado pelo líder guineense Amílcar Cabral, que afirmava que "a libertação de um povo é um acto de cultura" (Cabral, 1979).

Apesar da proeminência inicial do MPLA, a luta pela independência foi marcada pela actuação de três movimentos. A FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) surgiu da antiga UPA, em 1962, sob a liderança de Holden Roberto, e tinha a sua principal base de apoio no Norte, entre o povo Congo. Mais tarde, em 1966, surgiu a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), liderada por Jonas Savimbi, cuja base social se encontrava entre os Ovimbundu do Planalto Central e do Leste. Esta multiplicidade de frentes traduziu-se numa insurreição que se iniciou em 1961, marcada por eventos cruciais como a revolta camponesa na Baixa de Cassange, os ataques do MPLA em Luanda (4 de Fevereiro) e o levante da UPA no Norte (15 de Março), consolidando o início da longa Guerra de Libertação.

Independência de Angola
Fonte: Roots to fruits

No século XX, com o despertar dos movimentos nacionalistas em África e a recusa do regime colonial português em promover reformas substanciais, estes três movimentos de libertação — MPLA, FNLA e UNITA — disputaram território, apoio internacional e legitimidade, num conflito que se prolongou por 14 anos. A guerra foi intensificada pela dinâmica da Guerra Fria, com a União Soviética e Cuba apoiando o MPLA, e os EUA e a África do Sul apoiando a FNLA e a UNITA (Birmingham, 2015). Contudo, a luta consolidou a consciência nacional e permitiu a criação de “zonas libertadas”, onde se ensaiavam estruturas de Estado (Péclard, 2008).

A Revolução dos Cravos em Portugal, em 1974, alterou o quadro político, permitindo negociações que culminaram na declaração de independência a 11 de novembro de 1975. Agostinho Neto, ao proclamar a soberania, declarou: “A independência é o começo da luta pela dignidade do nosso povo.” Embora este momento tenha concretizado a aspiração profunda de autodeterminação, a herança colonial e as tensões internas resultantes das divisões entre os movimentos dificultaram a unidade. No entanto, a cultura — com a literatura e a memória de resistência, nomeadamente a rainha Njinga Mbande — tornouse o cimento simbólico indispensável à consolidação da nação.

c) A era da paz e da reconstrução (2002–presente)

Kilamba e a Hidroelétrica de Laúca simbolizam o renascimento nacional. Contudo, a desigualdade social persistiu. Conceição Neto (2012) adverte que “as estradas foram erguidas, mas a coesão e a justiça continuaram frágeis.”

A Constituição de 2010 consolidou um presidencialismo forte. A estabilidade veio acompanhada de centralização e dependência das rendas petrolíferas (Soares de Oliveira, 2015). Ainda assim, Angola tornou-se protagonista na Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) e intensificou laços com a China, o Brasil e os EUA — uma “petro-diplomacia” que projetou o país internacionalmente.

A paz também se refletiu na arte. Etona (2012) propôs uma “estética da reconciliação”, enquanto autores como Pepetela e Agualusa retrataram, em literatura, as contradições do pós-guerra. O governo Lourenço (desde 2017) iniciou uma política de reformas e combate à corrupção, reafirmando o papel de Angola como mediadora africana e promotora de boa governança.

CULTURA ANGOLANA: IDENTIDADE, LÍNGUA E CRIAÇÃO

A cultura é o coração da angolanidade. Desde os cânticos comunitários até à literatura e à música urbana, constitui a matriz de resistência simbólica. Mário Pinto de Andrade (1997) resume: “A cultura foi a primeira trincheira da libertação.”

Língua e diversidade. O português, outrora instrumento de dominação, tornou- se língua de unificação, sem eliminar o valor das línguas nacionais — Kimbundu, Umbundu, Kikongo, Tchokwe, Nyaneka. Para Feijó (2005, p. 27), “cada língua é um corpo, um tambor, um ritmo de pensamento.” O bilinguismo angolano traduz a convivência entre tradição e modernidade.

Com o Acordo de Luena (2002), Angola encerrou 27 anos de guerra civil. Segundo Péclard (2008, p. 46), “a paz constituiu menos um evento do que uma transição.” Sob José Eduardo dos Santos, o país investiu na reconstrução física e institucional, apoiado pela alta do petróleo.

Entre 2004 e 2014, Angola conheceu um crescimento sem precedentes. Projetos como a Centralidade do

Literatura. A poesia de Neto e Jacinto transformou a luta em epopeia moral; Pepetela e Agualusa deramlhe dimensão crítica e introspectiva. Pires Laranjeira (2010) observa que a literatura pós-independência “substitui a retórica heroica pela melancolia crítica”. Escritoras como Ana Paula Tavares e Yara Monteiro incorporam a memória feminina, ampliando o cânone nacional.

José Eduardo Dos Santos Fuente: The Economist

Música e dança. O Semba, o Kizomba e o Kuduro narram a alma do povo. A música é, sem dúvida, o idioma mais falado de Angola. O Semba representa a tradição, a Kizomba a ternura da paz e o Kuduro a energia juvenil das periferias (Kia Henda, 2016).

Artes e cinema. O movimento Etonista (Etona, 2012) defende a arte como cura moral. Artistas como António Ole e Délio Jasse internacionalizam a estética angolana. O cinema, com O Herói (Gamboa, 2004) e Independência (Bastos, 2015), reconta a história sob olhar africano.

Gastronomia. O funge e a moamba simbolizam a comunhão. Pepetela (2018, p. 71) poeticamente define: “O funge é o pão e o hino de Angola: o que se come e o que se é.”

A cultura, em suma, é o território da paz — o espaço onde o povo reconstrói a sua dignidade. Ela actua como memória colectiva e como linguagem simbólica capaz de cicatrizar feridas históricas, transformando o sofrimento em criação. Nas canções, na literatura e nas danças, a nação reencontra a sua voz e reafirma o sentido de pertença. A cultura angolana não é apenas expressão estética, mas um instrumento de reconciliação, educação e resistência ética. Por meio dela, Angola projecta uma paz que não é apenas política, mas também espiritual e humana — a paz que nasce da consciência de si.

A DIPLOMACIA ANGOLANA E O MUNDO

A diplomacia de Angola evoluiu paralelamente à sua história política em clamente, subdivide-se em três momentos que passo a citar:

1. Diplomacia de resistência (1975–1991). Após a independência, o MPLA alinhou-se com o bloco socialista para garantir a sobrevivência do Estado. A presença cubana foi decisiva na defesa da soberania. A vitória de Cuito Cuanavale (1988) simbolizou a força da solidariedade africana (Heywood, 2017).

2. Diplomacia de reconstrução (1991–2017). O fim da Guerra Fria impôs uma reorientação. Angola aderiu à CPLP (1996) e aproximou-se de instituições financeiras internacionais. A partir de 2002, o país utilizou o petróleo como instrumento de inserção global, sobretudo na parceria estratégica com a China — o “modelo angolano” (Soares de Oliveira, 2015). Essa fase reforçou a imagem de Angola como potência emergente africana.

3. Diplomacia reformista (2017–presente). Com

João Lourenço, a política externa assumiu tom ético e multilateral. Angola atua como mediadora em crises regionais, destacando-se no diálogo entre Congo e Ruanda (Péclard, 2022). A diplomacia cultural tornouse instrumento de projeção: feiras, exposições e festivais divulgam a arte angolana no mundo.

A representação diplomática de Angola no mundo é vasta e estratégica, refletindo a sua crescente projeção como actor relevante no continente africano e no cenário global. Actulamente, a rede diplomática angolana é composta por mais de 80 missões, incluindo Embaixadas, Consulados Gerais e Missões Permanentes junto a organismos internacionais.

No que tange às Américas, as relações são prioritárias e de grande importância histórica, política e económica. Angola mantém uma presença diplomática significativa na região, contando com embaixadas e consulados em países-chave:

Cuito Cuanavale Fonte: Mercadolibre

1. Relações Históricas e Culturais: O Brasil destaca-se como o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, em 1975. As relações bilaterais foram elevadas ao patamar de Parceria Estratégica, marcadas pela língua, história e forte cooperação em áreas como educação, saúde e defesa. Angola possui uma Embaixada em Brasília e Consulados-Gerais no Rio de Janeiro e São Paulo.

2. Relações Estratégicas e Económicas: Os Estados Unidos da América são um parceiro de relevo, com relações diplomáticas normalizadas há mais de 30 anos. A cooperação é marcada pelo comércio, investimentos (especialmente no setor petrolífero), e diálogo político. Angola possui uma Embaixada em Washington, D.C., uma Missão Permanente junto à ONU em Nova Iorque e Consulados-Gerais em Houston e Nova Iorque.

3. Outras Relações na América: Angola mantém ainda relações com outras nações importantes do continente, com representação diplomática em países como a Argentina (Embaixada em Buenos Aires), Cuba (Embaixada em Havana), e postos consulares no Canadá, Uruguai e Venezuela, sublinhando o interesse de Angola em diversificar as suas parcerias e reforçar a cooperação Sul-Sul.

Em suma, a presença diplomática angolana nas Américas visa consolidar as parcerias tradicionais, atrair investimento estrangeiro, promover o comércio e defender os interesses nacionais no contexto multilateral e regional.

Cooperação Sul-Sul

No contexto da diplomacia Sul–Sul, Angola tem desenvolvido parcerias estratégicas com países da América Latina, da Ásia e do mundo árabe.

Entre essas, destaca-se a cooperação com o Peru. As relações diplomáticas foram formalmente estabelecidas em 6 de setembro de 1985.

Durante as décadas seguintes, as relações mantiveram-se relativamente discretas, mas em 10 julho de 2025 realizaram-se, aqui em Lima, as Primeiras Consultas Políticas Angola–Peru. Este encontro, que marcou o 40.º aniversário das relações bilaterais, simbolizou o relançamento e a intensificação da agenda bilateral.

Nessa ocasião, foram identificadas oportunidades e acordadas iniciativas para aprofundar a cooperação em cinco eixos principais:

1. Supressão de vistos para portadores de passaportes diplomáticos e de serviço.

2. Intercâmbio técnico-diplomático entre academias de formação.

3. Parcerias logísticas entre as infraestruturas portuárias e aeroportuárias angolanas (incluindo o Porto do Lobito) e as peruanas (incluindo o Porto de Chancay).

4. Projetos de cooperação no âmbito da FAO, nomeadamente nas áreas de pesca e alimentação escolar.

5. Plataforma cultural Peru–África, destinada à promoção de intercâmbios artísticos e linguísticos.

Essa parceria reflete o espírito da diplomacia angolana contemporânea: uma diplomacia de solidariedade e complementaridade. Segundo Alves (2014, p. 32), “a política externa angolana vem consolidando a sua identidade africana sem renunciar à universalidade lusófona e latino-americana.”

Peru e Angola estreitam relações bilaterais com a primeira Reunião de Consultas Políticas
Fonte: Andina

CONCLUSÃO:

A história de Angola é uma travessia da dor à esperança. Dos reinos africanos à guerra, da independência à paz, o país reinventou-se continuamente. Como resume Conceição Neto (2012, p. 201), “Angola é uma síntese viva entre o passado e o futuro.”

A cultura surge como a alma da nação: nela se preserva o fio da memória e se renova o sentido de pertença. Pepetela (2008, p. 66) recorda que “a cultura angolana é a memória viva do país; é nela que o povo se reconhece, mesmo quando tudo o mais se desmorona.”

Na política externa, Angola passou de objeto a sujeito das relações internacionais. Hoje, é mediadora reconhecida na África Austral, exemplo de estabilidade e diálogo. Péclard (2022) observa que “Angola é mediadora porque conhece o preço da guerra e o valor da paz.”

Os desafios persistem — diversificação económica, combate à desigualdade e consolidação democrática —, mas o horizonte mantém-se claro: construir uma nação justa e solidária.

Como ensinou Agostinho Neto (1980, p. 15): “O mais importante é resolver os problemas do povo.”

Essa frase resume a ética de Angola — um país que transformou resistência em sabedoria e que hoje se ergue como voz africana de esperança e reconciliação.

Angola fala hoje ao mundo com a serenidade de quem conhece o preço da guerra e o valor da paz. Somos herdeiros de uma história de dor, mas também de uma cultura que transformou cada cicatriz em sabedoria. O nosso maior legado é esta capacidade de reconstruir — não apenas cidades, mas consciências; não apenas o Estado, mas a alma. Neste espírito, Angola reforça a sua presença solidária no mundo, e é com profundo orgulho que celebramos a cooperação entre Angola e o Peru, dois países irmãos que, embora separados por oceanos, se unem pela história da lusofonia, pela vocação atlântica e pacífica e pelo compromisso comum com a cultura e o desenvolvimento sustentável. Que esta amizade afro-latino-americana continue a florescer como exemplo de diálogo, respeito e esperança. Porque, como ensinou Agostinho Neto, “o mais importante é resolver os problemas do povo” — e é isso que dá sentido à nossa ação, dentro e fora das fronteiras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Carlos A. J. Política Exterior Angoleña. Coimbra: Universidad de Coimbra, 2014. ANDRADE, Mário Pinto de. Orígenes del nacionalismo africano: continuidad y ruptura en los movimientos unitarios emergentes de la lucha contra la dominación colonial portuguesa: 19111961. Lisboa: Dom Quixote, 1997.

BIRMINGHAM, David. Breve historia de la Angola moderna. Londres: Hurst & Company, 2015. CABRAL, Amílcar. Unidad y lucha: discursos y escritos. Nueva York: Monthly Review Press, 1979.

CONCEIÇÃO NETO, Maria da. Historia de Angola: de la prehistoria al siglo XXI. Luanda: Kilombelombe, 2012.

ETONA, António Tomás Ana. Manifiesto Etonista. Luanda: Ukuma, 2012.

FEIJÓ, Lopito. El viento que sopló en mis entrañas. Luanda: Chá de Caxinde, 2005.

HEYWOOD, Linda. Njinga de Angola: La reina guerrera de África. Cambridge: Harvard University Press, 2017.

JACINTO, António. Poemas. Lisboa: Minerva, 1961. LIMA, Mesquitela. Etnias e Culturas de Angola. Luanda: Instituto de Investigación Científica de Angola, 1981. 12 MPLA. Manifiesto del MPLA. Luanda: Ediciones del Partido, 1956.

NETO, Agostinho. Sagrada Esperança. Lisboa: Sá da Costa, 1980.

OLIVEIRA, Ricardo Soares de. Magnificent and Beggar Land: Angola Since the Civil War. Londres: Hurst & Company, 2015.

PÉCLARD, Didier. Les incertitudes de la nation en Angola. París: Karthala, 2008.

PÉCLARD, Didier. Angola: Paz y Gobernanza. Ginebra: Instituto Universitario, 2022.

PEPETELA. El casi fin del mundo. Lisboa: Dom Quixote, 2008.

PIRES LARANJEIRA, Manuel. La literatura africana de expresión portuguesa. Lisboa: Caminho, 2010.

REDINHA, José. Etnias e Culturas de Angola. Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1962.

THORNTON, John. The Kingdom of Kongo. Madison: University of Wisconsin Press, 1983.

MABOKÉ DE CAPITAINE

INGREDIENTES:

- 4 filés de perca-do-Nilo ou equivalente (peixe branco; pode ser substituído por tilápia)

- 8 folhas de bananeira (ou papel-alumínio de cozinha)

- 1 cebola grande

- 1 dente de alho

PREPARACIÓN:

- 3 tomates pequenos

- 1 pimenta picante

- 2 raminhos de salsa

- Sal a gosto

Disponha as folhas de bananeira em pares; caso utilize papel-alumínio, corte quadrados de aproximadamente 30 centímetros. Pique finamente o alho, a cebola, a salsa e a pimenta, e misture tudo.

Lave os tomates, retire as sementes e corte-os em fatias finas.

Coloque uma colher da mistura de cebola no centro de cada folha ou quadrado de papel. Sobre ela, disponha um filé de peixe e adicione outra colher da mesma mistura.

Distribua as fatias de tomate sobre o peixe. Feche os pacotes e amarre com barbante de cozinha.

Coloque uma grade sobre uma assadeira e despeje água fervente até cobrir a base.

Disponha os pacotes sobre a grade e leve ao forno pré-aquecido a 400 °F (aprox. 200 °C).

Asse por 25 minutos, ou até que o peixe esteja cozido e se solte com facilidade.

Sirva o maboké quente, diretamente no pacote, acompanhado de bananas fritas e arroz branco.

MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

DIRETORIA-GERAL PARA A ÁFRICA, O ORIENTE MÉDIO E OS PAÍSES DO GOLFO

CUMANANA 51 – NOVEMBRO– 2025

Conselho Editorial

Em. Jorge A. Raffo Carbajal

Min. Marco Antonio Santiváñez Pimentel

Min. Cons. Eduardo F. Castañeda Garaycochea

Equipe Editorial

Em. Jorge A. Raffo Carbajal, Diretor-Geral e Editor-Chefe

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Gerardo Ponce del Mar, Responsável pela diagramação

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ISSN: 3084-7699 (en línea)

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