
2 minute read
LITTERA -O VENDEDOR DE GOMA DE MASCAR
from LITTERA 1
O VENDEDOR DE GOMA DE MASCAR
João José esperava...
Advertisement
esperava a kombi passar...
Não estava só!
Eram mais seis crianças,
O mais novo tinha sete;
João José, dez; e mais velho, .doze
Iam para o centro... vender goma... goma de mascar!
A kombi chegou... a porta se abriu... e o chato falou
. “ É duas caixa para cada! Um é dois! Três é cinco!”
“As três horas vou passar para pegar”
Lembrou de sua mãe que ainda não acordou,
Pensou no seu pai que nunca viu.
E em cada esquina uma criança foi ficando,
João José desceu perto da estação da Sé,
Duas caixas de goma de mascar,
Dois pães com mortadela para o dia passar,
Ele gritava “Um é dois! Três é cinco!”
Pobre criança sem fé!
João José era esperto...
ia nos carros com vidro aberto...
“Um é dois! Três é cinco!
Compra para as crianças linda, madame”,
“Um é dois! Três é cinco! Compra para as crianças bonita, senhor”,
Cantava o pobre menino na esquina da Sé!
Vendeu uma caixa em um instante!
Alguns pagavam, mas não levavam,
Outros davam uns trocados,
Outra caixa se foi, E
ainda faltavam duas horas para o horário marcado.
Em um canto da Sé!
João José parou pra comer pão com mortadela;
contou seu dinheiro,
Apareceu um bandoleiro,
Espancou e levou o dinheiro de João José,
E ficou caído e desacordado em um canto da Sé!
Como tinha muitos caídos,
Ninguém reparou em João José,
Uma fina chuva de julho caiu,
Sua roupa molhou, A kombi passou ...
e muito depois o menino acordou!
Estava com o rosto machucado!
Estava sujo! As roupas rasgadas!
Pediu uns trocados! Já não era abençoado!
A noite caiu!
Fria! Como as noites de julho!
Queria ter fósforos para uma fogueira,
Em cada rosto o olhar de seu opressor,
Imaginou o que era uma lareira,
Os olhos se fecharam,
Não sonhou com a mãe,
nem com pai.
No outro dia ... Da noite mais fria,
Nada mudou... João José... bem ao lado...
Da catedral da Sé!
Ele, que não sabia rezar...
Não acordou...
Pedro Paiva:
Contista, Cronista e Poeta