OsmusikéCadernos 4 - PARTE II

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OsmusikéCadernos

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4 2.ª PARTE

FICHA TÉCNICA

Título: OsmusikéCadernos4

Diretor: Jorge Nascimento

Equipa redatorial: Jorge Nascimento, Agostinho Ferreira, Álvaro Nunes, JoãoS. Pereira, J. Salgado Almeida

Conceção gráfica: João Silva Pereira, J. Salgado Almeida, Jorge Nascimento, Agostinho Ferreira, Álvaro Nunes

Capa: J. Salgado Almeida

Revisão: Agostinho Ferreira, Álvaro Nunes, Jorge Nascimento, João Silva Pereira

Ilustrações: J. Salgado Almeida, Local de edição: Guimarães

Propriedade e edição: Osmusiké, osmusike@gmail.com - www.osmusike.pt Escola Secundária Francisco de Holanda, Alameda Dr. Alfredo Pimenta, 4814 528 Guimarães

Ano e mês: 2022, dezembro Páginas: 742

ISSN: 2975-8041

Coprodução: Município de Guimarães

Notas: 1 - Todos os artigos que integram OsmusikéCadernos4 são da responsabilidade dos autores;

2 - Respeitando a opção individual de cada um, apresenta-se a ortografia portuguesa com ou sem o acordo ortográfico;

3 - Quando os textos estão assinados com afiliação profissional, os cargos referem-se à data em que os mesmos textos foram escritos.

Notas para a versão e-book - Por razões técnicas, a revista será dividida em 3 partes.

A 1.ª parte, com 316 páginas, além dos textos de abertura, trata das efemérides da CEC 2012, dos 30 anos da biblioteca Raul Brandão e dos 20 anos da associação Osmusiké;

A 2.ª parte, é integralmente dedicada ao centenário do Vitória Sport Clube;

Na 3.ª parte, com a participação de dezenas de autores e colaboradores, são abordados, de uma forma plural, outras temáticas que têm Guimarães como centro

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ÍNDICE

I. VITÓRIA SPORT CLUBE, 100 ANOS DE PAIXÃO 317

Desporto em Guimarães, da pré-história até ao Vitória 319

António Amaro das Neves

Futebol: um ritual catártico 329 Agostinho Ferreira

Futebol em Guimarães 335 Equipa redatorial

O Emblema do VSC ao longo de cem anos 337 Equipa redatorial

O Hino do Vitória Sport Clube 340 Equipa redatorial

O Vitória ao longo de cem anos 346 Vasco André Rodrigues

Casas do Vitória Sport Clube 364 Equipa redatorial

Galeria dos Presidentes do Vitória Sport Clube 372 Equipa redatorial

Galeria dos Treinadores do Vitória Sport Clube 376 Diogo Freitas / Joaquim Azevedo

Vitória Sport Clube: caricaturas 381 João Soares

Velhas Glórias Vitorianas 387 Joaquim Azevedo

O meu bisavô Bravo 412 José Pedro Carvalho

Outras Glórias Vitorianas 415 Joaquim Azevedo

Grupos de apoio: Uma viagem pela história 426 João Lobo

Sou do Vitória desde pequenino.... 433 Andrea Ribeiro

Vitória Sport Clube no feminino 434 Andrea Ribeiro

Pela mão de meu pai -437 José Torrinha

VitóriaSempre uma paixão sem limites pelo Vitória Sport Clube 439

Paulo Roberto Oliveira Peixoto

O Vitória por si mesmo 444 Equipa redatorial

A História Económica do Vitória 450

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Raul Rocha

Vitória: 100 anos a formar 458 Luís Cirilo

Vitória Sport Clube - 100 anos de modalidades 463 Aníbal Rocha

Os Embaixadores atuais do Vitória Sport Clube 476 Equipa redatorial

Vitória Sport Clube - Um centenário de memórias 477 F. Capela Miguel

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Vitória Sport Clube, 100 anos de paixão

Cem anos é uma vida, quiçá vivências de várias gerações, memoriadas, contadas ou vividas.

Percorremos assim sinteticamente, sob a égide de Kronos, uma centena de anos de vitórias (à Vitória) e derrotas, que cabem a todos os grandes e conquistadores.

Com efeito, desde a génese até à atualidade, evocamos e historiamos 100 anos de paixões, desde o futebol em Guimarães até à fundação do Vitória, recordamos hinos, emblemas, presidentes, treinadores e cromos das velhas glórias que buscamos no baú dos tempos, mas outrossim, relembramos as velhas arenas de disputas, as claques e os embaixadores vitorianos, por essas terras fora.

Memórias impressivas que passam também pelas modalidades amadoras e visões pessoais avalizadas, como a dos cartoonistas e/ou os depoimentos de gente vitoriana, testemunhos que nos narram apaixonadamente essas vivências e experiências de rei ao peito.

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Desporto em Guimarães, da pré-história até ao Vitória

António Amaro das Neves

Se os homens da antiga Grécia praticavam a cultura física como exercício estético, com o propósito de moldarem os seus corpos à imagem idealizada dos seus deuses e heróis, a Idade Média valorizava a alma e desprezava o corpo, fonte de vergonha e objeto de penitência e flagelação. Não faltam, na literatura anterior ao século XIX, referências depreciativas do corpo, muitas vezes estabelecendo a afinidade entre o corpo e porco, cujos nomes se escrevem, em diferentes línguas europeias, com as mesmas letras. Este antagonismo foi assumido por Descartes, que postulava a dualidade do ser humano, que seria constituído por uma substância material, o corpo, e uma substância incorpórea, a alma. A partir do século XIX, com a evolução do conhecimento científico, nomeadamente da medicina, foi-se afirmando o monismo de Espinosa, que estabelece a unicidade do corpo e da mente como duas substâncias do mesmo ser. O culto do corpo ressurgiu, em grande parte impulsionado pela ideia da associação da fragilidade física à degenerescência da raça humana, que seria acelerada pela progressão dos males do século, como o alcoolismo, as doenças venéreas ou a tuberculose. A decadência moral e fisiológica passou a ser encarada como uma ameaça para a preservação da espécie— ou, como então se dizia, da raça. O revigoramento e a salvação estariam na higiene e na prática de atividade física. Em finais do século XIX, em Portugal, a tese da decadência da raça é apresentada como consequência da decadência do regime monárquico.

“Num contexto de crise nacional e política despoletada pelo Ultimatum britânico, em 1890, a tese da ‘decadência fisiológica da raça portuguesa’ assume uma dimensão quase trágica e converte-se numa ‘arma ideológica’ que se esgrime contra a situação política vigente.”1

O rejuvenescimento fisiológico da raça viria da aposta no exercício físico. Ou seja, da prática do desporto. A elite culta vimaranense, que estabeleceu a Sociedade Martins Sarmento como promotora da instrução popular no concelho Guimarães, estava ciente da importância do exercício físico quando, em abril de 1889, confiou a três dos seus sócios mais destacados, Teixeira de Meneses, José Martins Minotes, António Augusto da Silva Caldas, a missão de elaborarem um parecer acerca da introdução do ensino de elementos

1 Vaquinhas, Irene Maria, O conceito de “decadência fisiológica da raça” e o desenvolvimento do desporto em Portugal (Finais do século XIX/Princípios do século XX), Revista de História das Ideias, Vol. 14 (1992), p. 370

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de exercício e ginástica militar nos projetos da instituição para o desenvolvimento da instrução popular. Tratava-se de uma iniciativa que antecipava em muitos anos a introdução da disciplina de Educação Física no currículo dos liceus, decretada em 1905, mas que demorou a ser concretizada e que seria ministrada, preferencialmente, por militares (em setembro de 1908, os alferes do Regimento de Infantaria 20 Duarte Fraga e Sena Lopes foram autorizados a “ensinar ginástica e esgrima nos colégios desta cidade e nas escolas do concelho de Guimarães”).

Mas era mais fácil afirmar do que fazer, nomeadamente em Guimarães, como o mostra um artigo assinado por um cá do burgo, publicado na edição de 25 de fevereiro de 1911 do jornal republicano Alvorada, onde se lê:

“Depois, há uma atmosfera bisonha nesta terra requintadamente burguesa; nós chegamos a ter receio, desconfiança em nos reunirmos, em sermos sociáveis! Noutros meios, mais pequenos ainda que o nosso, os homens, os novos, a par do trabalho, cultivam o espírito e cultivam o corpo, pelo sport, pela vida franca, ao ar livre, à luz, ao sol. Em Guimarães cultiva-se o botequim, de dia, e o tasco, de noite. Por sua vez, as senhoras passam os anos em casa, numa vida enclausurada, quase conventual encolhidas na cela, no gineceu, costurando e arquitetando rendas.”

Entre as últimas décadas do século XIX e os primeiros anos do século XX, o desporto continuava a ser geralmente olhado com indisfarçado desdém. No discurso quotidiano, o sport era uma ocupação própria de quem não tinha nada de útil para fazer, um entretimento, um devaneio, uma diversão para recreio de desocupados. No entanto, iam surgindo sinais de que algo estava a mudar e a prática desportiva ia entrando no quotidiano nacional, quer como manifestação de cultura física, quer como espetáculo. Assim também sucedia em Guimarães, embora de um modo ainda incipiente e limitado a desportos de prática individual (hipismo, tiro, esgrima, ginástica, ciclismo).

Talvez surpreendentemente para o nosso olhar, o ciclismo era, desde a década de 1890, a modalidade desportiva mais popular entre nós. Nessa altura, destacava-se, em Guimarães, uma troupe de velocipedistas de que faziam parte jovens da burguesia endinheirada local, como Simão da Costa Guimarães, Emiliano Abreu, Álvaro Costa, João Pinto e Francisco Costa, que se terão iniciado na prática do ciclismo com propósitos lúdicos, fazendo excursões velocipédicas à Póvoa de Lanhoso, a Barcelos, a Vila do Conde, à Póvoa de Varzim, a Braga. A primeira competição desportiva organizada de que temos notícia em Guimarães, realizada no dia 29 de outubro de 1893, foi organizada pelo Club Velocipedista do Porto, para assinalar o seu 10.º aniversário com uma corrida entre Guimarães e o Porto, com paragens em Famalicão e na Maia.

A grande romaria de S. Torcato de 1894 teve no seu programa duas corridas de bicicletas, com partida do convento de Santo António dos Capuchos, em Guimarães, e meta no largo de S. Torcato. A iniciativa foi

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da Irmandade de S. Torcato, tendo como principal animador o seu secretário, o industrial Eduardo de Almeida. A primeira prova, em que participaram os membros mais destacados da célebre troupe vimaranense, foi ganha por João Pinto, correndo numa bicicleta da marca James, e a segunda por Alberto Margaride, filho do conde de Margaride, numa máquina Quadrant. No final do dia, houve ainda tempo para uma terceira prova, uma corrida negativa, com os ciclistas a darem voltas às arrecuas ao largo de S. Torcato. O vencedor deste divertimento foi o velocipedista Costa Sampaio.

Nas primeiras décadas do século XX, as corridas de bicicletas eram manifestações muito populares e passaram a integrar, com regularidade, os programas das principais festas locais, processo que se acentuou após a implantação da república. Entre os principais patrocinadores de provas de ciclismo em Guimarães contavase o proprietário da Loja do Benjamim, aberta no n.º 105 da praça do Toural, concessionário de diversas marcas de bicicletas, com relevo para as máquinas Derby, com grande sucesso em corridas de competição. Em abril de 1912, a passagem por Guimarães do Grande Circuito do Minho, promovido pelo Jornal de Notícias, do Porto, constituiu uma demonstração eloquente da popularidade do ciclismo. As Gualterianas daquele ano também incluíram provas velocipédicas, com uma prova de resistência de 70 quilómetros, e uma corrida negativa, no Toural. O vencedor da prova de fundo seria António Ribeiro Júnior, ciclista vimaranense que alcançou projeção nacional. A prova negativa foi ganha por Alberto Costa.

O ano de 1913 será marcado pelo aparecimento de um dos primeiros clubes desportivos de que há registo em Guimarães, o Sport Club Vimaranense, que, “querendo contribuir para o luzimento da grande Festa da Cidade”, promoveu uma corrida de bicicletas, realizada no dia 3 de agosto. Foi a primeira de uma série de corridas organizadas por aquele clube, nos meses que se seguiram.

Mais elitista do que o ciclismo, o hipismo era uma modalidade com fortes tradições em Guimarães. Nela se destacou, na segunda metade do século XIX, o cavaleiro José Joaquim de Queirós Minotes. A par do

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2 - Outra imagem do mesmo jogo. 1 - Jogo entre os dois teams do Foot-ball Grupo Vimaranense (1913).

ciclismo, foi uma modalidade praticada por Alberto Margaride que, com o seu corcel Morgado, era um distintíssimo calção, vencedor crónico de concursos hípicos realizados dentro e fora de Guimarães.

Nas primeiras décadas do século XX, o tiro, e em particular o tiro aos pombos, era a modalidade melhor organizada e com maior frequência de torneios em Guimarães. O seu principal dinamizador era o Club dos Caçadores e Atiradores Civis de Guimarães, que possuía uma carreira de tiro. Se hoje temos dificuldade em considerar esta atividade uma modalidade desportiva, percebemos bem o repúdio da Sociedade Protetora dos Animais de Guimarães, que em 25 de Maio de 1913, perante o anúncio de dois torneios aos pombos, emitiu um comunicado, assinado pelo seu presidente, o militar António Emílio de Quadro Flores, em que protestava contra “a forma de execução de tais jogos que sacrificam cruelmente pobres avezinhas inofensivas, constituindo um prazer matá-las quando se livram, no espaço, em busca da apetecida liberdade”. Em alternativa, propunha que se substituíssem “as pobres voláteis por objetos materiais, com trajetórias várias”. Sem sucesso. Por muitos anos, os torneios de tiro aos pombos ainda serão as provas mais frequentes, melhor regulamentadas e mais eficazmente organizadas.

As exibições atléticas, assim como os concursos de jogos tradicionais, também costumavam fazer parte dos programas das festas públicas.

Em abril de 1912, para o mesmo dia em que passou pela primeira vez por Guimarães o Circuito do Minho em ciclismo, anunciou-se uma exibição pública desportiva, para acompanhar o cerimonial de juramento de bandeira do Regimento de Infantaria 20, aquartelado em Guimarães. O seu programa seria composto por exibições exercícios de ginástica (movimentos livres, suspensão inclinada, saltos em altura e largura, corridas, luta de tração, jogo de pau e assalto a florete), mas não se chegou a realizar, porque os membros daquela força militar receberam ordem de marcha para exercícios na carreira de tiro.

Por força da chuva impiedosa que perturbou as Festas Gualterianas do mesmo ano, também não chegou a acontecer a festa desportiva que seria oferecida à cidade de Guimarães pelo Colégio dos Órfãos de S. Caetano, de Braga, de cujo programa constavam evoluções táticas, luta de tração, corrida de três pernas, saltos à corda e ginástica sueca. Para animar os intervalos entre as exibições, estavam previstas corridas de bicicletas, “negativas” e “fitas”.

Se fosse possível imaginar a relevância que o futebol viria a ter na sociedade contemporânea, quando em Guimarães se começaram a dar os primeiros pontapés na bola, os pioneiros teriam tratado de preservar as memórias desses dias. Mas não houve tal premonição, de onde resulta que os primórdios do futebol numa terra como Guimarães mergulhassem na obscuridade. Hélder Rocha, primeiro, e Santos Simões, depois,

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escreveram que a introdução do futebol em Guimarães teria sido obra dos técnicos ingleses que se instalaram em Guimarães, aquando do arranque da indústria a vapor vimaranense, no do final do século XIX. Esta afirmação faz todo o sentido, coincidindo com o que se sabe ter acontecido noutros lugares. Porém, até hoje, ainda não conseguimos encontrar documentos que nos conduzam até esses tempos iniciais. As mais antigas referências documentadas ao futebol em Guimarães que se conhecem são já da segunda década do século XX.

Por aqueles tempos, o futebol andava longe de ser um desporto popular entre os vimaranenses. Como vimos, essa condição estava então reservada para modalidades como o tiro aos pombos, as corridas de cavalos e, em primeiro lugar, o ciclismo. O foot-ball association, pela sua dimensão coletiva, era considerado demasiado complexo (no primeiro número da revista Os Sports Ilustrados, de junho de 1910, avisava-se que o foot-ball era jogo dificílimo). A década de 1910 constituirá um período de aprendizagem em que as regras do jogo do pontapé na bola vão sendo descodificadas e o futebol se vai afirmando como uma modalidade desportiva que mobiliza estratégia, técnica, arte e manha. Este processo de aprendizagem e de maturação estendeu-se até ao início da década de 1920, tempo em que os clubes de futebol começaram a brotar por todo o lado, como cogumelos. Assim foi também em Guimarães.

Naqueles dias, o futebol estava ainda em fase de enraizamento em Portugal. À luz da mentalidade conservadora da época, era coisa de rapazes, que melhor se ocupariam se se dedicassem a atividades mais úteis. Uma prática não muito recomendável a gente séria, portanto. Nos jornais, as notícias sobre jogos de futebol ocupavam, quando ocupavam, escassas linhas. A terminologia específica do jogo ainda não encontrara tradução em português: team, corner, penalty, shoot (de onde se aportuguesou o verbo shootar) eram expressões correntes. O objetivo era marcar goals, o resultado era o score.

Em tempos em que prevaleciam as modalidades individuais, eram patentes as dificuldades na compreensão das regras e da dinâmica do foot-ball association. Os princípios básicos do jogo eram fáceis de entender: era jogado por duas equipas de onze jogadores cada, repartidos por dois campos, cada qual com sua baliza, com o objetivo de introduzir uma bola redonda na baliza colocada no limite do campo adversário. Estando interdito o uso das mãos ou dos braços (exceto aos jogadores que defendem as balizas, os guardaredes), o jogo pratica-se essencialmente com os pés, como o seu nome o indica. Com raízes na Inglaterra medieval, o seu nome original é foot-ball (ou seja, jogo de bola praticado com os pés). Esta designação foi apropriada pelas diferentes línguas, com exceção do italiano, que o designa por gioco del calcio (em tradução literal, jogo do coice). Em Portugal, começou por se empregar o anglicismo foot-ball. Com a crescente popularidade deste jogo, procurou-se um vocábulo mais adequado à língua portuguesa. Várias possibilidades

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foram sendo avançadas, como bolapé, ludopédio, pedibola ou o mais erudito balípodo, sugerido por um gramático brasileiro. Nenhuma vingaria. Aportuguesando-se a grafia inglesa, ficou futebol, palavra definitivamente consagrada na língua portuguesa a partir da década de 1930.

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4 - O 2.º

As equipas organizavam-se num sistema rígido: um keeper, dois backs, três halfs e cinco forwards. Jogavam em 2-3-5, diríamos hoje. Ainda não existia a figura do entraineur: as funções de treinador eram desempenhadas dentro do campo pelo captain, por vezes com uma exuberância para lá do recomendável. Os jogos eram arbitrados por referees que, regra geral, eram afetos a uma das equipas em confronto. Não havia bandeirinhas, mas havia liners e não faltavam acusações de parcialidade dos juízes. Não havia lugar a substituições durante jogo, que tinha muito de confronto físico. A força física era mais importante do que a habilidade com os pés — por regra, eram tidas por mais eficazes as equipas constituídas por jogadores fortes. Muitas vezes, os jogos não terminavam sem desacatos. Outras, nem sequer terminavam. E o público não regateava o seu contributo. Conhecem-se mal os primórdios da prática do futebol em Guimarães. Num texto de controvérsia jornalística a propósito de incidentes relacionados com o futebol, publicado na edição de 25 de setembro de 1926 do jornal Ecos de Guimarães, o jornalista e dirigente desportivo Bernardino Faria Martins, que assinava com o pseudónimo de Sérgio Vidal, afirma com veemência que em 1912 “existiam, já dois teams de foot-ball, compostos de alguns dos rapazes mais estimados desta terra”. No entanto, folheando a imprensa da época, a primeira referência documentada à prática de futebol em Guimarães apenas aparece num anúncio datado de 12 de março de 1913, mandado publicar nos jornais da terra pelo capitão do 2.º team do Foot-ball Grupo Vimaranense, com a convocatória para um jogo com o 1.º team, marcado para o dia 16 daquele mês. Pouco sabemos sobre a atividade daquele clube que, para além

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- O 1.º team team

destes anúncios e de quatro fotografias de Luís do Souto publicadas no n.º 13, de 27 de setembro de 1913, da Ilustração Católica, que então se publicava em Braga. Aparecem desgarradas no meio de um texto meloso da escritora espanhola Concha Espina de Serna que nada tem a ver com futebol, nem com Guimarães. São as fotografias mais antigas conhecidas de um jogo de futebol em terras de Guimarães, de que desconhecemos a data em que aconteceu. Foi disputado entre duas equipas com camisolas às riscas, simplesmente designadas por 1.º team e 2.º team. Duas imagens são instantâneos do jogo, as outras duas representam as equipas que o disputaram, em formação. Ambas tinham o mesmo “técnico”, Henri Platano, que foi apresentado como um instrutor inglês e que, provavelmente, tinha a função de instruir os jogadores com os rudimentos do jogo. As equipas eram assim constituídas:

1.º team — Manuel Mendes (guarda-redes); José Augusto e Manuel Pires (defesas); António Dantas, António Guimarães e Joaquim Pinto (médios); António Pinto, José Fernandes, Gualdino Pereira, Antonio Jordão e Casimiro Fernandes (avançados).

2.º team Edmundo Clegg (guarda-redes); António Melo e António Miranda (defesas); Eduardo Costa, Manuel Guise e Arlindo Souto (médios); Abílio de Freitas, Joaquim Alves, Avelino Ferreira, António Ferreira e Jaime Gervásio (avançados).

No mesmo ano, temos registo de uma outra agremiação desportiva em Guimarães, o Sport Club Vimaranense, que organizava provas de ciclismo. Não sabemos até que ponto se confunde com a equipa que praticava futebol. Se não considerarmos o Clube de Caçadores e Atiradores Civis de Guimarães, estes serão os primeiros clubes desportivos vimaranenses de que há notícia.

No início de 1916, foi fundado o Foot-Ball Club Vimaranense, dirigido por Luís Teixeira Jacinto, funcionário da estação de telégrafo postal de Guimarães, poeta mimoso, autor teatral, cujas peças eram representadas pela Companhia Dramática Portuguesa e que, nesse mesmo ano, lançaria o jornal satírico O Pardal. A inscrição de sócios era feita na Chapelaria Freitas, no Toural. Jogava no court da Atouguia, em frente ao cemitério, onde também treinava. Tinha três teams: 1.º, 2.º e infantis. O primeiro jogo de que temos conhecimento foi disputado no dia 27 de fevereiro de 1916,

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contra o 5 - Membros do Grupo de Foot-Ball Vimaranense, fotografados na Penha em finais de 1913. De pé José Ribeiro, Gualdino Pereira, Pereira Mendes. Alberto Castro, José Fernandes, Manuel Pires e Belmiro de Oliveira Sentados Arlindo Souto, Casimiro Fernandes, António Pereira, António Abreu, Alberto Vieira Braga e Francisco Mendes.

Foot-Ball Club de Braga, mas não sabemos o resultado. No dia 21 de maio, novo jogo com uma equipa bracarense, o Grupo Desportivo da Juventude Católica de Braga, que terminou com 0-6. Voltámos a ter notícia de um jogo realizado no dia 22 de maio de 1916, contra uma equipa do Grupo Sportivo da Juventude Católica Bracarense, que veio em passeio a Guimarães.

A partir de meados da segunda década do século XX, os domingos eram dias de futebol no campo da Atouguia. Eram frequentes os desafios entre equipas de alunos do Internato Municipal, que funcionava no convento de Santa Clara, e da Escola Académica, do padre José Maria da Silva, que funcionava na rua de Valdonas. Ambos os estabelecimentos de ensino tinham várias equipas de futebol.

No final da década, existia em Guimarães o Sporting (ou Sport) Club Académico que, apesar da escassez de informação disponível, se presume formado por alunos do Liceu, da Escola Industrial e do Internato Municipal, que então funcionavam no mesmo edifício, o extinto convento das clarissas de Guimarães. No dia 25 de janeiro de 1920, jogou no campo da Atouguia com Vilanovense Foot-Ball Club, de Vila Nova de Gaia, perante assistência numerosa e interessada, com vitória dos forasteiros por 4-1.

No dia 16 de outubro de 1921, entre as notícias locais do jornal Voz de Guimarães, constava a informação de que estava aberta na sede da Associação dos Empregados do Comércio a recolha de inscrições de sócios para a fundação de uma agremiação que se iria chamar Sport Club Vimaranense, da qual não temos mais notícias.

No dia 9 de julho de 1922, no âmbito de um passeio recreativo a Guimarães, realizou-se na Atouguia um jogo de futebol entre o Estrela Sport Club Braga e um clube designado Vimaranense Sporting, sobre o qual também nada mais sabemos.

Em junho de 1922, começou a publicar-se o jornal Pro Vimarane, com um projeto de abrir “cerrada fogo contra a apatia e a inércia” e contra a “criminosa indolência” a que os vimaranenses se teriam entregado, publicado no seu primeiro número, da primeira quinzena daquele mês:

“Guimarães vai sempre na retaguarda triste é dizê-lo dos grandes movimentos.

Não há por esse país fora cidade nem vila, que não tenha o seu Grupo Sportivo.

Porque o não temos nós?

Porque ao ar puro e saudável dum campo de foot-ball preferimos o ar enfezada e doentio dum café.

Porque em vez do exercício do ténis, do box ou da esgrima, desejamos entregar-nos à mandriice, nas horas que o trabalho nos facultaria empregá-las em coisas que o nosso físico e o nosso espírito mais aproveitariam.”

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A criação de um clube desportivo seria um dos desígnios a que o grupo de dinamizadores do Pro Vimarane se propôs dar impulso. Na edição da primeira quinzena de agosto, introduziu uma novidade na tradição da imprensa vimaranense, que já levava mais de um século, iniciando uma secção de desporto, que era apresentado como o “único remédio para o revigoramento da raça depauperada”. E logo ali dava notícia de que “um pequeno grupo de vontades da nossa terra, trabalha afincadamente na organização de um Club Desportivo, que abranja todos os possíveis ramos de Sport, para o que procura já um campo apropriado”.

Por aqueles dias, o futebol ia-se tornando num desporto eminentemente popular, como se depreende da ironia publicada na secção Em poucas palavras..., do jornal Voz de Guimarães, de 28 de agosto de 1922: “Está fazendo verdadeiro furor o foot-ball. Até as criancinhas o jogam, por estas ruas!

Em verdade lhes digo, meus senhores: o português tem uma decidida vocação para o pontapé...”

E Sérgio Vidal prosseguia com a sua campanha a favor da causa da prática desportiva. Na edição da Segunda quinzena de setembro de 1922 do Pro Vimarane, reafirmava o programa regenerador do grupo de rapazes de que fazia parte: “Por isso, esse Grupo vem hoje lançar a ideia da criação aqui, na nossa terra, nesta terra tão refratária a modernismos, de um bem organizado Club, que, a par da cultura física, se dedique à tão altruísta como necessária cultura intelectual.”

No dia 4 de dezembro de 1922, constituiu-se a Associação de Futebol de Braga. Entre os fundadores, não havia vimaranenses. Guimarães ainda não tinha um clube de futebol, mas já estava em marcha a sua constituição. No dia 17 daquele mês, o jornal Ecos de Guimarães, anunciava:

“Realiza-se hoje, pelas 14 horas, no Campo da Atouguia, um ‘match’ entre o ‘Victoria Sport Club de Guimarães’ e o ‘Maçarico Sport Club da Póvoa de Varzim’ que, segundo se diz, promete ser interessante.”

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Os primeiros corpos gerentes do Vitória Sport Club. Mariano Fernandes da Rocha Felgueiras, primeiro presidente do Vitória (fotografia de passaporte, 1924).

O Maçarico não compareceu, tendo-se feito substituir por uma seleção de jogadores dos clubes poveiros. O resultado pouco importa (os da Póvoa ganharam por 4 a 1). Aquela data ficou para a posteridade como o dia em que aconteceu a primeira aparição pública do Vitória Sport Clube de Guimarães, clube fundado por um grupo de jovens vimaranenses, saídos da Escola Industrial Francisco de Holanda e do Liceu Martins Sarmento. A sua primeira direção, presidida por Mariano Fernandes da Rocha Felgueiras, filho do político republicano e democrático Mariano da Rocha Felgueiras, tinha uma média de idades pouco superior a 18 anos, e era assim composta:

Assembleia Geral: José Ribeiro Jorge (presidente); Luís Gonzaga Leite (1.º secretário); Arlindo Leite Ribeiro (2.º secretário).

Direção Mariano Fernandes da Rocha Felgueiras (presidente); Avelino Augusto de Araújo Dantas (secretário); António Antunes de Castro Júnior (tesoureiro); Joaquim António Antunes de Castro e Afonso Pires (vogais).

Conselho Fiscal Emílio Ferreira de Macedo, Luís Rodrigo Graça e José de Freitas Neves.

Capitão Geral Avelino Augusto de Araújo Dantas

Estes são os inventores do Vitória Sport Clube. Já vai sendo tempo de honrar as suas memórias e colocar os seus nomes no lugar que lhes pertence, não por atribuição arbitrária, mas por inquestionável direito histórico.

Créditos das fotografias

1, 2, 3 e 4 - Illustração Catholica, n.º 13, ano 1, 27 de setembro de 1913, Braga, pp. 198-199. Clichés de Luís do Souto.

5 - Illustração Catholica, n.º 21, ano 1, 22 de novembro de 1913, Braga, p. 325. Cliché de Luís do Souto.

6 - O Ferrão, Braga, edição de 11 de março de 1923 (cortesia de João Lopes).

7 - Passaporte de Mariano Fernandes da Rocha Felgueiras, Arquivo distrital de Braga (cortesia de Abel Cardoso).

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Futebol: um ritual catártico Agostinho Ferreira

Seria demasiada ingenuidade admitir que o futebol se reduz a um grupo de vinte e dois atletas a correr atrás de uma bola com o intuito de a fazer chegar a uma baliza. Não seria menor superficialidade acreditar que todas aquelas pessoas que vão assistir aos combates de futebol o fazem por mero passatempo. E também não se explica com o puro bairrismo toda aquela gritaria de aplausos e insultos a que frequentemente se assiste nos campos da bola. E nem os negócios mais ou menos obscuros explicam o interesse que as coletividades depositam neste desporto.

Os estádios são os espaços onde impera a emoção, onde a irracionalidade assume a preponderância e onde as pessoas deixam extravasar anseios e recalcamentos. O futebol é uma espécie de ritual catártico onde as pessoas libertam recalcamentos, onde se sentem vencedoras ou derrotadas, onde as vitórias ou derrotas dos jogadores são interiorizadas como delas próprias. Daí as grandes manifestações perante as vitórias das equipas vencedoras. Quando uma seleção de um país vence um jogo, ou um torneio, ou um campeonato, todo o país se sente vitorioso. A vitória de Portugal sobre a seleção francesa representa, para a maioria dos portugueses, mais do que a vitória de Portugal nas invasões napoleónicas.

De facto, os espetáculos desportivos, como os espetáculos musicais ou outros, comportam em si uma forte componente mítica, em que o público venera os intervenientes. Ninguém vê um atleta como uma pessoa com sentimentos, qualidades e defeitos, que sofre ou que se entusiasma. No íntimo das pessoas há a imagem de seres superiores, de heróis, de seres com capacidades excecionais. E é nesses heróis que depositam a sua incapacidade de autossuperação. Tudo funciona a um nível subliminar em que os acontecimentos desportivos e, por razões culturais, sobretudo o futebol, são, inconscientemente, elevados ou transpostos para uma espécie de ritual em que os jogadores são os heróis que movem as multidões, como nos antigos rituais religiosos. O futebol é um ritual em que os jogadores “repetem” os atos heroicos dos combatentes. É uma representação de um combate.

Quando se empresta alguma racionalidade à análise do combate desportivo, verifica-se que tanto a vitória, que corresponde à glória, como a derrota, que corresponde à desgraça, têm seu prolongamento

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naquilo a que C. G. Yung chamava de inconsciente coletivo. O jogo não termina no campo.

A situação ideal, por exemplo, referida no célebre poema de Ricardo Reis que defende que o jogo prende a “alma toda”, mas a derrota nada representa, não se verifica na realidade. O epicurismo presente nesse poema dos jogadores de xadrez corresponde a uma análise racional do desporto. Mas não analisa a vertente da irracionalidade, que é a que mais se destaca nos desafios desportivos.

“O jogo do xadrez Prende a alma toda, mas, perdido, pouco Pesa, pois não é nada.”

Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa

O futebol e os mitos modernos

O futebol, como a maioria dos espetáculos, tem várias funções na vida das sociedades. Funciona um pouco como as tragédias clássicas na antiga Grécia. Em primeiro lugar, traz unidade ao grupo social, à coletividade. Os indivíduos ao reverem-se no mesmo anseio, no mesmo objetivo, na mesma ânsia de vitória, sentem-se mais unidos, sentem que partilham os mesmos desejos. Mesmo quando arrancam cadeiras dos estádios e as lançam de forma eufórica, estão a agir de modo irracional, mas numa união subconsciente e num ritual de expressão de revoltas íntimas. Os comportamentos que se verificam nos estádios radicam numa mitologia específica do desporto. A propósito da influência dos mitos (ou das imagens de origem mítica), no comportamento dos indivíduos, salientava Pierre Guiraud2: “Assim parece que a maior parte das nossas escolhas na aparência as mais livres ou, em todo o caso, as mais racionais estão condicionadas por representações inconscientes de origem mítica”.

E acrescentava:

“A ideia da imagem, de mensagem e de manipulação do público por um conhecimento das suas mutilações profundas, é atualmente uma das chaves da nossa cultura (...). As vedetas, os políticos e, pouco a pouco, cada um de nós, possui uma «imagem» pacientemente construída e cuidadosamente conservada. (...) O «ópio do povo», hoje, é a propaganda política, cultural, económica, cuja arma mais eficaz e ilusão mais insidiosa estão no persuadir-nos de que os signos são as coisas”3 .

Mircea Eliade, por seu lado, salienta com excecional pertinência que o grande cantor, ou político, ou

2

Cf. A Semiologia, Lisboa, Ed. Presença, 41993, p. 92.

3 Ibidem, p. 95.

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desportista exerce sobre os ‘crentes’, através das suas ‘capacidades sobre-humanas’, um forte poder de alienação. Os grandes espetáculos das multidões mais não são que um ritual em que os indivíduos se reveem ou se projetam e abdicam da sua personalidade para honrar esses “pequenos deuses caseiros”4 .

O mesmo Mircea Eliade, referindo-se aos “mitos do mundo moderno”5, salienta o papel dos media na criação de imagens míticas que se impõem à sociedade. Refere mitos como o do bem e do mal, da nobreza, da técnica (o automóvel), da arte das elites6, etc.

“… o mito do super-homem satisfaz as nostalgias secretas do homem moderno que, sabendo-se condenado e limitado, sonha revelar-se um dia como uma «personagem excecional», um herói”7

Roland Barthes, por seu lado, defende que a significação do mito corresponde a uma deformação8 . “A relação que une o conceito do mito ao sentido é essencialmente uma relação de deformação (...) Naturalmente, esta deformação não é possível senão porque a forma do mito é já constituída por um sentido linguístico”9 .

A formação do sentido mítico constitui-se a partir do significado primeiro e baseia-se, fundamentalmente, no facto de a comunicação nunca ser unissignificativa. As mensagens são sempre passíveis de sugerir novos significados.

O domínio da linguagem e o conhecimento da sua componente mítica pode levar (e leva com frequência) à manipulação do recetor. Pierre Guiraud, na linha de pensamento de Barthes, refere exemplos, como os da publicidade, da linguagem fílmica, que jogam com uma linguagem intencionalmente permeável à associação a imagens míticas. Também políticos e pessoas públicas constroem intencionalmente uma imagem que comporta uma vertente mítica deturpadora da realidade: “A conclusão dos técnicos é formal: «Não fumamos cigarros, mas sim imagens de cigarros». Não é menos claro que as mulheres compram, não cremes «emolientes», «adstringentes», «rejuvenescedores», mas sim imagens da juventude, do sucesso, do amor. (...) O comércio vende símbolos. E esses símbolos funcionam a níveis subconscientes e inconscientes completamente irracionais”10

4

Esta expressão é tirada de uma canção de Manuel Freire.

5

Cf. Perspectivas do Mito (op. cit.), p. 152.

6

M. Eliade parece partilhar a Ideia de que se tornou comum o mito da “dificuldade”. A obra que não seja inacessível está condenada: “o prestígio da dificuldade e da inacessibilidade é tal que, muito rapidamente, o «público» é por seu turno conquistado e proclama a sua adesão total às descobertas da elite.” (op. cit. p. 158).

7 Op. cit. p. 155.

8 “A sua função é a de deformar, não a de esconder”. Cf. BARTHES, Roland - Mitologias, Lisboa, Ed 70, 1988, p. 192.

9 Op. Cit. p. 192.

10

Cf. GUIRAUD, Pierre - A Semiologia, Lisboa, Ed. Presença, 41993, p. 94.

331

Em última análise, diremos que a componente mítica das mensagens é a grande responsável pela alienação do mundo atual. E, como adianta P. Guiraud, a consciência desta realidade poderá ser “a principal garantia da nossa independência e liberdade”11 .

De modo mais ou menos evidente, conforme a perspetiva de análise, os mitos apontam para várias componentes, das quais destacamos: a componente psicológica, a componente sociológica, a componente religiosa e a componente semiológica.

A componente sociológica é a que aparece de modo mais evidente nas análises funcionalistas. Os mitos apresentam-se como algo unificador do grupo ou da coletividade. Garantem a coesão e apresentam-se como estruturadores profundos do comportamento do homem na coletividade. Os mitos, chamados tradicionais, eram disso exemplo.

A componente psicológica transparece do facto de o indivíduo se projetar nos mitos. As vedetas dos dias de hoje, como os heróis dos tempos remotos ou os deuses das mitologias antigas, têm como função preencher uma necessidade psicológica humana. Eles correspondem àquilo que o homem gostaria de ser, ou de ver, ou de ter, ou ainda a uma explicação que justifica a sua existência, a sua luta, os seus ideais. Os mitos comportam sempre uma componente de irracionalidade. Na linha de Friedrich Nietzsche, os mitos preenchem o espaço irracional12 que a racionalidade científica fez submergir.

A componente religiosa aponta para o facto de os mitos se imporem como crenças. Os indivíduos acreditam nos seus heróis, sem uma explicação racional, à maneira religiosa. A crença, porque baseada em critérios não racionais, impõe-se como algo absoluto e, por isso, com grande poder de alienação. Há sempre aquela fé nos jogadores. E os próprios jogadores acreditam que alguém de uma esfera superior os vai ajudar no seu desempenho. Acreditam que Deus, ou a sorte, ou o poder astral os vai inspirar no momento exato, no toque certo, no remate definitivo.

O político, ou o cantor, ou o futebolista, etc. impõem-se como mitos, porque os indivíduos veem neles capacidades sobre-humanas. E são essas crenças profundas, associadas a outras vertentes culturais, como a noção de justiça, que promovem determinados comportamentos. Erros dos árbitros, por vezes mal compreendidos, têm levado a situações de perseguição e violência. E, mais uma vez, o futebol prolonga-se muito apara além do jogo, da felicidade ou infelicidade dos intervenientes.

A componente semiológica aponta para a faceta discursiva que suporta a mensagem mítica. Esta tem,

11 Ibidem, p. 95.

12 Esta é uma faceta fundamental do ser humano. É o fundo a partir do qual a racionalidade configura a realidade.

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na sua base, códigos. Os discursos verbais, como outros discursos (pictóricos, fílmicos, os objetos, etc.), criam atmosferas de comunicação que deturpam a realidade. Os relatadores, sobretudo da rádio, através da linguagem metafórica e emotiva que utilizam, dão ao ouvinte a ideia de um espetáculo superior. Incentivam a imaginação dos ouvintes. Proporcionam uma leitura deturpadora da realidade. E é essa linguagem, na linha de Roland Barthes, que vai criando imagens mitificadas do desporto e dos seus intervenientes. O jogo deixa de ser jogo e passa a ser espetáculo. E os seus atores deixam de ser os jogadores e passam a ser as vedetas dos nossos dias. Na terminologia de R. Barthes, os significados transcendem a sua forma. O filtro dos espectadores, dos ouvintes, dos comentadores, está, ele mesmo, condicionado por imagens anteriores, por narrativas pré-concebidas que condicionam a sua interpretação e análise. As televisões, a internet e os meios de comunicação em geral criam factos a partir de factos. Por outras palavras, os factos acontecidos são o ponto de partida para a criação de narrativas propiciadoras de uma adulteração da realidade. De tal modo que os jogadores, como os cantores, os políticos, etc. transpõem a linha da verdade humana, de seres humanos com aptidões específicas, para vedetas. No íntimo, as pessoas conseguem ver nos atletas de eleição, a imagem dos seus heróis. A realidade é factual, mas a narrativa sobre a realidade é sempre uma transformação e uma transposição discursiva. É esse o caminho para a criação dos mitos modernos.

Os media, de modo por vezes superficial, transformam as realidades. Salientam as facetas convenientes e relevam os aspetos menos interessantes. A principal caraterística do mito está exatamente na adulteração da realidade. Todo o mundo se espantou com as mortes de Elvis Presley, de Marilyn Monroe ou, mais recentemente, Amy Winehouse, porque a imagem que se fazia passar, de heróis, de seres superiormente felizes, não correspondia de todo à realidade de vida dessas pessoas. Também os futebolistas são, no imaginário das pessoas, esses seres com excecionais capacidades, que vivem num mundo sonhado, onde tudo é perfeito, onde só existe a riqueza e a felicidade. Daí, o esforço de muitos jovens para chegarem a esse patamar. Há uma motivação interior que os leva a esforços sobre-humanos, porque acreditam que atingirão a notoriedade e o estatuto mítico de “ser jogador”.

Uma linguagem bélica

Os desafios de futebol são encarados como um combate. Também aqui, os atletas são, no “inconsciente coletivo”, os guerreiros que suportam os embates. Os jogos, sobretudo se de instituições com larga adesão social (seleção nacional ou clubes com larga implantação nacional ou internacional), são encarados como uma luta de heróis que representam um povo, uma coletividade, uma região, uma cidade, etc. Num sentido lato, o jogo de futebol não se disputa entre os vinte e dois jogadores, mas antes entre as coletividades que eles representam. Os jogadores são os eleitos que combatem pelo povo. E o próprio vocabulário, ainda que

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metafórico, é manifestador desse belicismo. Um remate é um tiro lançado à baliza adversária. As equipas são as hostes que se digladiam. O jogo é um combate que tem que ser estrategicamente preparado, tendo em conta o poderio e a estratégia previsível do adversário. Os remates são disparos. As balizas são o último reduto do combate. As linhas defensivas são as trincheiras dificilmente ultrapassáveis. Os avançados são normalmente os artilheiros que disparam contra a baliza adversária. E, quando a diferença de golos é significativa, mata-se o jogo e desmoraliza-se o adversário. E os próprios jogadores têm que cumprir as ordens do treinador como se de um general se tratasse.

As equipas são vitoriosas ou perdedoras. Ganham ou perdem os combates.

Do ponto de vista da análise das reações dos espectadores, a realidade futebolística não está muito longe da realidade das touradas, ou das lutas de gladiadores romanos. Os próprios jogadores encaram os oponentes como o exército que é absolutamente necessário derrotar. E todo o desafio é uma luta que simbolicamente significa a glória ou a desgraça dos heróis e das pessoas que com eles se identificam.

A conceção de jogo como brincadeira ou passatempo é transposta para a ideia de luta até ao limite, de combate sem tréguas, de defesa e ataque, de linhas da frente e de linhas de defesa. Como na guerra…

O sentido de luta está nos genes dos seres humanos. E manifesta-se das mais variadas formas: na concorrência, nas lutas diárias, na agressividade, na lei do mais forte, etc. Com a evolução das sociedades, a racionalidade foi trazendo aquele equilíbrio necessário para que a vida em coletividade fosse possível. Há um guerreiro em cada ser humano. E isso ajuda a compreender a linguagem bélica e agressiva que, ainda que metaforicamente, se associa ao desporto. O desporto, e particularmente o futebol, tem esse condão, de capital importância para as sociedades, que é exatamente a capacidade de transpor para o desporto essa agressividade e esse sentido de luta. Mas tudo decorre a um nível mimético. Tudo decorre dentro de regras pré-definidas. No futebol, como na maioria dos desportos, as lutas têm regras. Valorizam-se as aptidões e, saudavelmente, salienta-se o convívio humano e respeita-se o adversário. Na linha de pensamento de Friedrich Nietzsche, derrotar o adversário é respeitar o adversário. Nenhuma equipa quer a humilhação de perceber que o adversário reduziu a intensidade de jogo porque tem pena.

As grandes manifestações dos adeptos, o bairrismo, a alegria das vitórias que são dos jogadores, mas que são entendidas pelas pessoas como suas, comportam essa vertente catártica, que, na linha da filosofia de Aristóteles, referindo-se às tragédias, deve conduzir à libertação das mentes e à purificação dos sentimentos. E será essa a catarse do futebol.

334

Futebol em Guimarães Equipa redatorial

Segundo rezam as crónicas do burgo, teria sido por volta de 1913 que se teria pontapeado futebolisticamente a bola do desporto-rei, na altura ainda imberbe e sem pretensões a realeza.

Efetivamente e ao que consta, esta nova modalidade desportiva teria sido introduzida por cidadãos ingleses que por cá prestavam serviços técnicos, provavelmente na Companhia de Fiação de Tecidos de Guimarães ou da central elétrica da United Light and Power Cª Ldª. Datam também dos tempos de 1913 e 1914 os primeiros jogos informais de futebol entre estudantes, como o Internato Municipal e a Escola Académica e outros grupos como o Sport Clube Vimaranense, o Foot-Ball Grupo Vimaranense, cujos encontros se disputavam nos largos e praças da cidade.

De facto, como posteriormente relata o periódico “A Sentinela” de 26 de novembro de 1916, havia “grande entusiasmo para assistir aos desafios de futebol, que brevemente se vai travar entre os alunos do Internato Municipal e da Escola Académica”. Estes encontros futebolísticos, geralmente vencidos pela equipa do Internato, eram então disputados por grupos efémeros sem estruturas organizativas, aos quais o Regimento de Infantaria n.º 20 se ajuntaria, dado a preparação física que do desporto proviria.

Com efeito, ainda que na época não existisse um clube “a sério”, pairava no ar a vontade da sua criação, como o jornal “Gil Vicente” de 6 de abril de 1919, documenta: “Dizem que um grupo esperançoso de rapazes trabalham com afincado ardor e grande entusiasmo para a fundação d’um Club n’esta cidade, que proporcione aos seus associados horas de agradável e divertido passatempo.

Desde há muito que se nota a falta d’um club em Guimarães, onde possam reunir-se algumas famílias em recreios decorosos e civilizadores, como sejam saraus, conferências, espectáculos, etc (…)”.

Seria também o periódico “Gil Vicente” de 1 de fevereiro de 1920 que noticiaria a visita do Vilanovense Futebol Clube, de Vila Nova de Gaia, para defrontar o Sporting Club Académico, de Guimarães, perante numerosa assistência. Porém, o tempo ia passando e não havia maneira de nascer a sério o tão almejado clube, como o quinzenário “Pró Vimaranes”, de junho de 1922, lamenta e critica:

“Guimarães vai sempre na retaguarda – triste é dizê-lo – dos grandes movimentos. Não há por esse país fora cidade nem vila que não tenha o seu Grupo desportivo. Porque o não temos nós?

Porque ao ar puro e saudável de um campo de football preferimos o ar enfezado e doentio dum café (…)”.

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Ora, o apelo da imprensa parece que não caiu em saco roto. Assim, em 1922, a 17 de dezembro, o jornal “Ecos de Guimarães” noticia o primeiro “match” em que teria sido usado o nome “Victoria Sport Clube de Guimarães”, que nasceria “sem data marcada, nem certidão de nascimento”: “Realiza-se hoje, pelas 14 horas, no Campo da Atouguia, um “match” entre o “Victoria Sport Club de Guimarães e o Maçarico Sport Club da Póvoa de Varzim que, segundo se diz, promete ser interessante”. Deste modo, a partir de 1923, e após a disputa dos primeiros jogos, o entusiasmo foi aumentando. De tal forma que, em 1 de fevereiro, o jornal “Voz de Guimarães” publicaria os nomes da suposta direção provisória do Vitória, presidido por Mariano Fernandes da Rocha Felgueiras.

Iniciar-se-ia, de seguida, a luta por um campo de jogos. Para o efeito seria nomeada uma comissão, em Assembleia Geral de 12 de julho de 1923, constituída por Avelino Meireles, Alberto de Souza Pinto, António Macedo Guimarães e José Campos de Carvalho.

Pouco tempo depois, o campo de José Minotes seria então inaugurado em 27 de janeiro de 1924, abrilhantado pela Banda Regimental de Infantaria 20, como o jornal “Ecos de Guimarães”, de 3 de fevereiro, reporta: “Realizou-se no domingo a inauguração do campo “José Minotes” com um match de foot-ball entre o Sporting de Braga e o Vitória Sport Club, vencendo o primeiro por 4-0.

O árbitro, Sr. Alfredo Malheiro, deu sinal para alinhar os grupos, dando em seguida o shoot de saída a Sr.ª. D. Júlia Jordão (…)”.

Quanto ao campo de jogos, situava-se para os lados da Quintã, nos terrenos que hoje são ocupados pelo Centro Comercial Castelo e pela sede da Associação de Municípios do Vale do Ave, sendo implantado sobre um hipódromo aí existente. Mas ficava relativamente próximo do Chafariz do Carmo, onde os jogadores costumeiramente se iam banhar!

Um empreendimento que o citado jornal, datado de 25 de maio de 1924, assim refere: “O Hipódromo José Minotes, hoje transformado em campo de foot-ball, ficou deveras encantador nas suas linhas gerais.

Deve a cidade de Guimarães este grande melhoramento à Direção do VSC e muito especialmente ao seu presidente António de Macedo e ao Capitão Geral do Club, Tenente José Vieira Campos de Carvalho, que foram incansáveis na sua adaptação”.

Por conseguinte, havia campo de jogos e, em finais de novembro de 1923, “entre aplausos e vivas, seriam aprovados os corpos gerentes para guiar os destinos do clube no ano de 1924”. Iniciava-se o futebol organizado em Guimarães sob a égide do Vitória Sport Club e presidência de António Macedo Guimarães. Começava uma nova etapa no futebol vimaranense da qual o Vitória seria autor, de forma estruturada e

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legalizada, como o seguinte aviso, publicado no Jornal “Gil Vicente”, de 9 de março de 1924, deixa transparecer:

“São avisados os sócios que ainda têm bilhete de identidade a entregarem duas fotografias na Chapelaria Macedo até ao dia 31 do corrente. Os que já têm bilhete de identidade entregarão também uma fotografia para o livro de registo dos sócios. Findo este prazo os sócios que não apresentarem o respetivo bilhete de identidade não terão entrada no campo”.

Outros colaboradores e articulistas contarão o resto da História e outras estórias sobre o futebol em Guimarães e sobre o Vitória em particular, neste momento de passagem do seu centenário.

1 – Do início ...

O Emblema do VSC ao longo de cem anos Equipa redatorial

Os primórdios da centenária história vitoriana foram vividos com a existência de emblemas diversos daquele que conhecemos, hoje.

Bastará, pois, percorrer a memorabilia do clube, para entendermos que os momentos posteriores ao nascimento do Vitória ocorreram sem qualquer símbolo que o acompanhasse, mas sim com um monograma. A confirmar esta nossa afirmação, atentemos às primeiras fotografias existentes, em que as camisolas dos primeiros jogadores ostentavam o acrónimo estilizado de VSC, ou seja, as iniciais de Vitória Sport Clube13 .

Porém, nem sempre era usada essa iconografia nas camisolas do clube, ocorrendo que, em determinados momentos, inclusivamente marcantes, como sucedeu com o primeiro título regional de infantis,

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13
Consultada Sónia Sousa
1922

inexistisse qualquer logotipo distintivo do clube.

2 – O surgimento do emblema

Com o clube a sedimentar-se no âmago vimaranense, os anos entre 1928 e 1930 trariam uma importante novidade: o emblema do clube que, apesar de não ser igual ao que hoje conhecemos, sofreu pequenas alterações.

Assim, desenhado pelo Capitão Mário Cardoso, este surgiria, inspirado em D. Afonso Henriques, o maior símbolo da cidade e, provavelmente, do país. Inicialmente com o “V” a entrecruzar-se com o “S” e o “C”, algo que seria alterado na remodelação que o emblema sofreria na década de 50 do século passado.

1927

Apesar disso, a equipa ainda entrava em campo, unicamente, com o V estampado na camisola...o V de vitória!

1941/42 1950/51

Citemos o autor do nosso símbolo, que explicava no jornal A Bola, em 19 de outubro de 1972, ter sido fácil desenhá-lo, pois “com a sugestão das palavras Vitória e Guimarães, vinha logo ao pensamento o Herói máximo e guerreiro, fundador da nacionalidade – Afonso Henriques – ex-libris de Guimarães, na interpretação, em atitude serena, mas destemida, da imagem que o grande estatuário Soares dos Reis inspiradamente modelou. Acerca das cores – preta e branca – parece que os fundadores do clube já pressentiam o que essas cores simbólicas viriam a significar, talvez a admissão no clube, franca e acolhedora, de todos os portugueses sem distinção, que nele se quisessem associar – tanto africanos de cor, como os brancos europeus da Metrópole.”

338

Contudo, percorrendo o arquivo fotográfico que enriquece o património do clube, atentaremos que, apesar do símbolo já fazer parte da realidade vitoriana, a equipa, durante muitos anos, apresentou-se com um simples “V” cozido no local onde este deveria constar, sendo que seria com essa representação gráfica que a equipa sénior haveria de viver a sua primeira grande coroa de glória: o triunfo no campeonato distrital de 1934 frente ao seu eterno e figadal rival.

3 – A evolução

A primeira alteração ou aperfeiçoamento do emblema ocorreu nos anos 50 do século passado com uma coroa real formada por panos de muralha e torres ameadas a encabeçar a representação gráfica vitoriana.

Mais ou menos por essa altura, a equipa vitoriana passaria a usar o Rei no peito em todos os desafios, tornando-se uma marca indissociável da camisola branca.

A derradeira alteração seria conducente ao símbolo que hoje conhecemos. Um logotipo sem a coroa e com o desaparecimento da letra V que, até então, fazia parte do símbolo.

Jornal A BOLA, 19/10/1972

O Rei encontrava a sua derradeira formulação... até aos dias de hoje!

1955/56

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O Hino do Vitória Sport Clube

Equipa redatorial

Diz Vasco Rodrigues que o “Vitória, estatutariamente, não tem qualquer hino. Bastará analisar o artigo 3º das Leis Fundamentais do Clube, para aferir da inexistência de qualquer menção a um hino oficial. Por essa razão, seremos remetidos para algumas canções que se tornaram traço identitário e de maior união dos adeptos em torno da equipa”.14

Pensa-se que a primeira música cantada pelos aficionados do Vitória data de 1932 e é referente ao velhinho Campo de Benlhevai, inaugurado nesse mesmo ano.15

A segunda música foi criada na altura da disputa da Taça de Portugal de 1941/42 que levou o Vitória à final da competição.

“Em 1946/47 surge uma simples quadra popular dedicada aos campeões distritais dessa época que conquistavam o seu 11º título consecutivo, competição em que demonstravam não ter rival, tal era o seu domínio na região do Minho, do qual era também campeão”16

A terceira música, chamemos-lhe assim, surge por volta dos anos 50/60 e era “tocado nas aulas de ginástica do Vitória Sport Clube, no antigo recinto dos Bombeiros Voluntários de Guimarães.”17

O vitoriano João Xavier de Carvalho, em 1953, escreveu um poema de incentivo aos vitorianos, num tempo em que a descida de divisão do Clube estava, então, eminente, aliás como esteve 69 anos depois, em 2006. Deixamos, aqui, antes do surgimento dos “Hinos”, esse grito de incentivo, que não deixa esmorecer os verdadeiros vitorianos: Podem estar sossegados, Para a Segunda não vai… O Vitória, apaixonados, Balança, balança, balança E não cai!

Se ele apanha uma tareia E a tristeza roe, roe, roe, É bem certo que a candeia Apaga-se, acende-se, queima E não doe.

14

In, O Sagrado Vimaranense, Osmusikécadernos3, p 415 Vasco Rodrigues

15 Wikipédia, 06-06-2022

16 In página do VSC

17 In Página do VSC

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Coro (Bis)

Ai, ai, Guimarães, ai, ai, Ai, ai, podes crer, não rebenta!

O Vitória tem baixos e altos, Cai ao chão, dá saltos, Mas lá se aguenta!...

Se é triste ver perder Esse antigo Campeão, Ele é rijo e podem crer Que balança, balança, Mas não cai ao Chão!

Basta de rasgar cartões

E de dizer ai, ai, ai, Que o Vitória, aos trambolhões, Balança, balança, balança, E não cai.

Coro (Bis)

Ai, ai, Guimarães, ai, ai, Ai, ai, podes crer, não rebenta!

O Vitória tem baixos e altos, Cai ao chão, dá saltos, Mas lá se aguenta!...

Mas o 1º Hino do Vitória Sport Clube surge apenas no final da década de 70.

Segundo Armindo Novais, foi oferecida ao Coral de Azurém a partitura deste hino, talvez o 1º a ser entoado no Estádio do Vitória, hoje D. Afonso Henriques.

O Cónego Manuel Faria era, ao tempo, o diretor Artístico e foi-lhe lançado o desafio de fazer um arranjo e harmonização a 4 vozes mistas.

O desafio foi aceite e passado pouco tempo iniciaram os ensaios e, depois, a gravação com a proposta de ser apresentado no início dos jogos do Vitória, no seu Estádio.

Gil Mesquita era o Presidente do Clube e aceitou com muito agrado a proposta, tal como aconteceu com o seu sucessor, Pimenta Machado. Por isso, nos finais dos anos 70 e início da década de 80, era este o Hino de abertura dos jogos. Com Letra e melodia de António Ribeiro de Castro (Diretor Artístico da Banda de Pevidém entre 1949 e 1959) e com arranjo e harmonização a 4 vozes mistas do Cónego Manuel Faria, aqui registamos a letra:

Vitória de Guimarães

No desporto tens valor Tens as virtudes das mães Que te dão vida e vigor

Os atletas do Vitória Fazem do desporto lei Que dá prestígio e glória À Terra e à sua Grei

Viva o Vitória de Guimarães Honra e glória, pois valor tens Trabalha e luta com muito amor A voz escuta do teu Senhor Terra bendita d’Afonso Henriques Teu povo grita: Pra trás não fiques.

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Em 1986, surge um novo Hino da autoria de Dino Freitas (letra e música), conhecido por “Vamos Gritar, Vitória, Vitória!” que, segundo o autor, terá sido o 2º Hino do Vitória Sport Clube. Mais propriamente nasceu em 1985, mas ganhou mais notoriedade na época 1986/1987, altura em que Paulinho Cascavel, Ademir e Roldão, entre outros, espalhavam magia nos relvados.

Segundo ele, "Nasceu numa brincadeira de rádio18, mas o povo gostou. E, como o tema surgiu num ano em que dava gosto ver o Vitória jogar, a divulgação através da venda de cassetes às portas do estádio foi um êxito.” E entoou no estádio durante três décadas, dando, agora, lugar a outros temas, que Dino Freitas aceita com naturalidade. "Não tenho mágoas. São ciclos". Mas o Dino ficará sempre ligado ao Vitória através da música. Para muitos vitorianos este é o verdadeiro HINO do Vitória, o mais clássico.

Vamos gritar Vitória, Vitória

(Letra e música de Dino Freitas)

Vamos gritar Vitória, Vitória

Sempre e mais alto não será de mais

Vamos gritar Vitória, Vitória Força branquinhos, Vitória de Guimarães

Vamos gritar Vitória, Vitória Sempre e mais alto não será de mais Vamos gritar Vitória, Vitória Força branquinhos, Vitória de Guimarães Ó Vitória, meu Vitória

Vai em frente e atrás não fiques Tens o emblema da glória A espada de Afonso Henriques Tua bandeira é verdade

Inconfundível na cor A cor preta é da unidade A cor branca é do amor

Refrão

Tuas tradições tão grandes No desporto nacional És Vitória, és Guimarães O berço de Portugal Sejas último ou primeiro Na derrota ou na glória Terás Guimarães inteiro A puxar por ti Vitória

Quase em paralelo com “Vamos gritar Vitória, Vitória!” surge um Hino /Canção para as Modalidades Amadoras, interpretado pela Banda do Zé, de Eduardo Ferreira, cantado por Paquito C. Braziel. 18 Era o tempo das Rádios Locais

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Canção para as Modalidades amadoras

(de Eduardo Ferreira, interpretado pela banda do Zé e cantado por Paquito c. Brasiel)

Oé, oé, Vitória, oé, oá, vitória Oé, oé, Vitória, oé, oá Vitória

Formamos homens pr’a vencer Homens pr’a ganhar Do nome do Vitória Pelo mundo vão levar

De escolinhas a juniores Sonham com a bola E dão tudo, tudo, tudo Pela mão do Mestre Rola.

Os miúdos são o futuro Vitória Nossos miúdos vão fazer história

Refrão

Oé, oé, Vitória, oé, oá Campeões como nós não há Oé, oé, Vitória, oé, oá Campeões como nós não há Oé, oé, Vitória, oé, oá

Campeões como nós não há

São tantos os seus ídolos Os miúdos têm amor O Vitória tudo faz Para incutir o seu valor

De escolinhas a Juniores Sonham com a bola E dão tudo, tudo, tudo Pela mão do Mestre Rola

Os miúdos são o futuro Vitória Nossos miúdos vão fazer história

Refrão

Oé, oé, Vitória, oé, oá Campeões como nós não há Oé, oé, Vitória, oé, oá Campeões como nós não há Oé, oé, Vitória, oé, oá Campeões como nós não há

Em 1990, surge uma Canção, intitulada à conquista da europa, com Música e Letra de Dino Freitas e interpretada por Zé Perdigão, com acompanhamento dos Bombos Nicolinos e dos sinos do Toural, que também fazem parte da música. Uma homenagem ao Vitória europeu.

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À conquista da europa

(Letra e música de Dino Freitas)

Vitória, Vitória, Vitória Contigo Guimarães galopa, No cavalo de Afonso Henriques À conquista da Europa. (bis)

São milhares de Bandeiras Agitadas bem no alto, Vitória pra além-fronteiras Guimarães vai dar um salto.

Desta vez é que é de vez Ó Vitória da nova era!

Sai do Berço português Tens a Europa à tua espera.

Vitória, Vitória, Vitória Contigo Guimarães galopa, No cavalo de Afonso Henriques À conquista da Europa. (bis)

Vais conquistar a Europa De Afonso Henriques ao peito No país ou no estrangeiro És equipa de respeito.

Guimarães nobre cidade No mundo não há igual És orgulho, referência És berço de Portugal

Refrão

Guimarães o mundo encanta Tens a beleza e a História Teu povo afina a garganta Pra puxar por ti vitória.

As claques a cantar Com os bombos a bater Todos juntos a apoiar Vitória tu vais vencer.

Em 2007, foi a vez de José Alberto Reis compor e interpretar uma canção que seria o Hino do Vitória até ao atual, surgido em 2016.

Foi um povo sonhador Com garra e determinado Que fez nascer um país Desta terra começado E o mesmo povo com esperança Alguns séculos após Fez nascer o nosso clube Orgulho de todos nós

Vitória, Vitória! Vamos todos festejar Toda a alma e toda a glória Deste clube a triunfar Vitória, Vitória! De Guimarães afinal O Berço do meu clube e também de Portugal Das bancadas do estádio

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Cantemos com vivacidade

Encorajando os atletas Do clube desta cidade Sonhemos a preto e branco Com o almejar da vitória Hasteemos a bandeira Símbolo da nossa história Vitória, Vitória!

Vamos todos festejar Toda a alma e toda a glória Deste clube a triunfar Vitória, Vitória!

De Guimarães afinal

O Berço do meu clube e também de Portugal Vitória, Vitória!

Vamos todos festejar Toda a alma e toda a glória Deste clube a triunfar Vitória, Vitória!

De Guimarães afinal

O Berço do meu clube e também de Portugal Vitória, Vitória!

Vamos todos festejar Toda a alma e toda a glória Deste clube a triunfar!

O hino mais recente foi criado em 2016. "Sou Vitória", uma melodia que é entoada no estádio minutos antes das partidas começarem, ganhou sucesso entre os adeptos pelo clube e é entoado até aos dias de hoje, com letra de Miguel Bastos, arranjo de Tiago Simães e cantado por Zé Miguel: “Ó Vitória, Ó Vitória, Rasga o tempo, segue em frente, Peito em riste, Ó Vitória, Quem resiste, sempre vence, Ouve o grito, ouve o grito, Ouve a voz da tua gente, Está escrito, peito dentro, À vitória, sempre, sempre, Sou Vitória, Sou Vitória, Sou a força, o querer, Sou futuro, sou memória, Tenho sede de vencer, É a hora, é a hora, Ergue as armas, sol à vista, Segue Afonso, campo fora, À vitória, à conquista, Sou Vitória, Sou Vitória, Sou a força, o querer, Sou futuro, sou memória, Tenho sede de vencer, (Vamos lá, Vitória até morrer) ...”

Ademais, poderíamos continuar a transcrever Canções, Slogans de incitamento que as claques e os vitorianos em geral ecoam pelos estádios por onde passam a apoiar o Vitória. É o caso de: “Aconteça o que acontecer; desde cedo te acompanho; Vitória allez; Força Vitória; Orgulho; vamos contigo para todo o lado; Força Branquinhos; We are the Champions…”

Um clube com uma mística, com uma identidade sem igual…

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1 - Os pioneiros

Falar do centenário do Vitória é falar de uma existência sempre pautada pelo amor, pela dedicação das suas gentes e pelo espírito de entrega. O dar sem esperar receber nada em troca. Um começo que terá ocorrido em 1922, quando alguns jovens vimaranenses, entusiasmados pelo que se falava do football entrecortado com os contactos com ingleses que visitavam as indústrias têxteis do Vale do Ave, resolveram avançar para a constituição de um clube.

Não terá sido tarefa fácil. Aliás, diversos arquivos demonstram que, apesar da fundação do Vitória datar de 1922, a verdade é que, até finais de 1923, terá funcionado sob a dinamização de uma espécie de Comissão Instaladora destinada a colocar a máquina em funcionamento. Surge aqui o nome de Mariano Felgueiras como a figura maior desse momento e que conduziria o clube até à Assembleia-Geral de finais do ano seguinte, onde somos confrontados com o nome de António Macedo Guimarães, dono da Chapelaria Macedo, no Toural. Este, pelo seu carácter mundano e cosmopolita, que o fazia conhecedor das regras e dos artefactos necessários ao jogo seria nomeado o primeiro presidente dos órgãos sociais do Vitória Sport Clube.

Era o início de uma aventura que teria como

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O Vitória ao longo de cem anos Vasco André Rodrigues

primeiras estrelas nomes como o fafense Armando Freitas (que houvera estado no Brasil e que, por isso, tinha uma capacidade técnica superior aos demais), Constantino Lameiras ou José Campos de Carvalho, todos eles integrantes da equipa que inauguraria o Campo Zé Minotes.

2 - Dos campeonatos distritais à primeira divisão e à primeira final da Taça de Portugal

Apesar disso, demoraria cerca de dez anos a que o Vitória integrasse os campeonatos distritais, o máximo a que, na década de 30, uma equipa da província poderia aspirar.

Tal levaria a que a primeira grande glória do futebol vitoriano surgisse em 1934, quando a equipa orientada pelo húngaro Istvan Puskas logrou vencer na final da prova o eterno rival, numa decisão a duas mãos, em que, depois de triunfar por uma bola a zero no Benlhevai, com um golo de Paredes, saberia sofrer no Campo dos Peões, recinto do rival, para obter a sua primeira grande glória futebolística. Para além de Paredes, na equipa destacavam-se nomes como o guarda-redes Ricoca, Virgílio ou Bravo.

Este momento, que foi vivido com grande entusiasmo por todos os vimaranenses, suscitou uma apoteótica receção no Toural à equipa e aos adeptos que se deslocaram à cidade vizinha. Este seria o início de um período de hegemonia da equipa no panorama do futebol regional. Tal deveu-se, também, à contratação de um homem que terá sido o primeiro grande ideólogo do futebol vitoriano: Alberto Augusto. Na verdade, o antigo internacional português, conseguiria numa primeira fase, como jogador-treinador e, depois, apenas como treinador, catapultar os níveis de excelência vitorianos aos píncaros, fazendo com que o clube assumisse, inicialmente, o papel de máxima potência do Distrito e depois do Minho, quando se começou a disputar o Campeonato do Minho, em que também participavam os melhores conjuntos do distrito de Viana do Castelo.

Porém, para tal ser conseguido, o Vitória teria que lutar muito contra os poderes instalados na Associação de Futebol de Braga que, em diversas jogadas de secretaria, procuraram que a força do SC Braga não

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Campo do Benlhevai

fosse perdida. Como sinónimo dessa predominância minhota, e fruto dos títulos regionais obtidos, o Vitória conseguiria em 1936 participar pela primeira vez na II Liga Nacional, ainda que, num dos poucos anos, em que a equipa tinha sido incapaz de vencer a prova regional.

A II Liga Nacional seria a primeira prova de dimensão nacional que a equipa disputaria, tendo o Vitória, na primeira vez que nela participou, integrado um dos quatro grupos constituídos, encontrando o Atlético de Coimbra, Leixões e Oliveirense. Para a história, ficaria o primeiro desafio disputado nesta prova, frente ao conjunto conimbricense, em casa deste, com o Vitória a triunfar por oito bolas a uma, ainda que, posteriormente, tivesse perdido a possibilidade de prosseguir na prova ao ser derrotado em Matosinhos.

Esta seria a realidade vitoriana nos anos seguintes, mesmo com o treinador Alberto Augusto a abandonar o leme, para na época de 1940/41 regressar. Aliás, o regresso do conceituado técnico, além de permitir a continuidade dos triunfos nas provas regionais, levaria o Vitória a conseguir os seus dois primeiros feitos a nível nacional: o apuramento para a final da Taça de Portugal de 1942 e o apuramento para disputar, pela primeira vez, a Primeira Divisão Nacional.

Relativamente a esta última façanha, tal sucederia devido à Federação Portuguesa de Futebol ter resolvido atribuir uma vaga a cada um dos vencedores dos Distritais de Braga e de Aveiro, respectivamente. Porém, por pressões externas, decidiria que só um desses triunfantes poderia ascender ao principal escalão do futebol português. Tal levou a que se tivesse de ser realizado um jogo entre o campeão do distrito de Braga (o Vitória) e o de vencedor do distrito de Aveiro (o União de Lamas).

Com o desafio a disputar-se no Campo da Constituição, no Porto, o Vitória alinharia com um onze histórico: Machado, Lino, João Bom, Castelo, Zeferino, José Maria, Laureta, Miguel, Alexandre, Ferraz e Bravo, que conseguiria bater o oponente por seis bolas a quatro. O sonho de estar na maior competição portuguesa estava alcançado e tal seria o habitat vitoriano nos próximos 13 anos. Esta iniciar-se-ia quase de imediato, a 18 de Janeiro de 1942, com o Vitória no seu primeiro desafio no escalão principal a encontrar a Olhanense. Venceria por quatro bolas a zero, cabendo ao avançado Miguel a honra de ter sido o primeiro jogador do Vitória a apontar um golo nesta divisão.

Quanto à Taça de Portugal, depois de um percurso irrepreensível, o Vitória, nas meias finais da prova, surpreenderia o país ao bater o Sporting. Por essa razão, jogaria a final da prova rainha do futebol português frente ao Belenenses, no Lumiar. Porém, como bem sabemos, o Vitória teria de esperar 71 anos para erguer o troféu da prova mais democrática do futebol nacional, pelo que, nesse dia, seria derrotado por duas bolas a zero, com alguma influência do vento que terá ajudado a equipa da Cruz de Cristo.

Pese embora a desilusão da derrota, os jogadores vitorianos seriam recebidos em apoteose. Era uma

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cidade que começava a fundir-se com o clube!

3 - A Amorosa, verdadeira universidade de vitorianismo

Os títulos regionais, esses, continuavam a suceder-se, ajudando a que o clube mantivesse o seu estatuto de primodivisionário, visto só o vencedor do Distrital poder aceder ao Nacional. Tal seria a realidade que os vitorianos experimentariam até 1946, momento em que existiram grandes alterações no panorama competitivo português. Assim, existiria a mudança de campo, abandonando o clube a “caixinha de fósforos” do Benlhevai, passando a jogar na Amorosa, muito por pressão das instâncias do futebol que consideravam que a selecção nacional nos seus confrontos obtinha maus resultados pelas diminutas dimensões dos recintos do país.

No tempo record de um mês, mudou o clube para o novo campo, estreando-se nele a 13 de Janeiro de 1946, perante o Boavista, cabendo ao avançado Alexandre a honra de ser o marcador do primeiro golo vitoriano no novo espaço. O Vitória tinha nova casa e, nesse ano, haveria de perder uma das suas máximas referências dos seus primeiros tempos: Zeferino Duarte abandonava o futebol, tornando-se numa das primeiras lendas do clube.

Essa seria, também, a derradeira temporada em que se disputariam os campeonatos distritais.

Por fim, esse exercício seria o primeiro depois da partida de Alberto Augusto, um dos primeiros grandes treinadores da história da equipa, que seria substituído pelo húngaro Alexandre Peics, que, por não acabar a temporada, daria lugar a Virgílio Freitas, uma das maiores referências vitorianas das décadas de 30 e de 40 do século passado.

1º golo do Vitória, no Campo da Amorosa

Fruto de uma alteração do modelo competitivo existente, estas provas seriam abolidas passando a existir um arquétipo mais aproximado ao de hoje. Deste modo, a primeira divisão nacional passaria a ser composta por 14 equipas, conseguindo o Vitória, sob o comando de Artur Baeta, um meritório oitavo posto na primeira vez que esse arquétipo foi utilizado.

Tal seria o início de um ciclo de nove anos com o Vitória a competir na Primeira Divisão, sendo que as

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suas classificações oscilaram de um sexto lugar à quase descida de divisão na época de 1949/50, sob o comando do treinador Janos Biri.

São, também, os anos do dealbar do profissionalismo, com a equipa a fortalecer-se com atletas que não eram de Guimarães e que, inicialmente, seriam olhados com desconfiança pelos adeptos vitorianos, cada vez em maior número. Mas, todavia, nomes como o coimbrão Curado, ou Franklim, adquirido ao Belenenses, ou o açoriano Silveira seriam, indiscutivelmente, mais valias da equipa e entrariam nos seus melhores momentos.

4 - Os anos da segunda divisão

Apesar da aparente estabilidade do clube, que lhe permitiria em 1954 ver aprovado pela Câmara Municipal o projecto do Estádio Municipal, que constituiu as raízes do Estádio D. Afonso Henriques, como hoje o conhecemos, a verdade é que a temporada de 1954/55 seria das mais difíceis da centenária história do clube. Assim, apesar da equipa ter apostado num treinador de nomeada, o inglês Galloaway, que houvera sido campeão nacional pelo Sporting, na temporada anterior, de ter estreado uma das maiores referências da história do clube, o jovem Daniel, a verdade é que a temporada correria pessimamente e os Conquistadores, após empatarem a zero, na Tapadinha, casa do Atlético, veriam consumada a sua despromoção ao segundo escalão.

Equipa do VSC, 1957, Subida de divisão, época 1957/58 (Subiu de divisão) -DE PÉ Silveira, João da Costa, Daniel, Sebastião, Barros e Virgílio-DE JOELHOS Bártolo, Romeu, Ernesto, Cívico e Rola

Enquanto o futebol lambia as feridas da desilusão, uma nova modalidade ia prendendo as atenções dos associados. O hóquei em patins, que veria a luz do dia em 1950, geraria grande entusiasmo nas hostes vitorianas, durando 8 anos até acabar fruto de um litígio com a Sanjoanense derivado ao modo como a equipa foi recebida em S. João da Madeira e como os vitorianos vingaram essa recepção. Mas, isso será para outros textos e outros autores.

Quanto à equipa de futebol, entretanto despromovida, viveria três épocas a tentar voltar ao habitat natural do clube, disputando, entretanto, a Zona Norte da II Divisão. Logo na primeira temporada, sucederia um facto que ficaria na história do clube. Recomendado por António Pimenta Machado, um vimaranense radicado no Brasil, chegaria ao clube o avançado Ernesto Paraíso, o primeiro de muitos brasileiros a envergar

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o Rei ao peito.

Contudo, apesar da equipa ter estado sempre perto da subida, só em 1958, um empate a dois com o Salgueiros selaria o desejado regresso ao escalão principal, para aí permanecer durante 48 anos.

Nesse dia, a equipa composta por Sebastião, Virgílio, Silveira, Abel, Cesário, João da Costa, Bártolo, Romeu, Ernesto, Cívico e Rola entraria na história e faria desencadear a festa na Cidade Berço.

1958/59

5 - A expansão da década de 60... O Vitória, uma força nacional, a chegar à Europa

Quase imediatamente começaria um percurso de expansão e afirmação vitoriana, também, para lá do nosso rectângulo à beira-mar plantado. O Vitória, agora orientado por Mariano Amaro, daria os primeiros passos na Primeira Divisão com uma pesada derrota por sete bolas a zero frente ao Benfica. Porém, recompor-se-ia conseguindo um meritório quinto posto, graças à contratação do mágico brasileiro Carlos Alberto e do terrível goleador Edmur, ambos recomendados pelo tradicional olheiro de jogadores em terras de Vera Cruz.

O final desta temporada haveria de ficar marcado pela primeira digressão vitoriana. Em terras de África, o Vitória deixaria cartel ao triunfar em todos os jogos, enquanto dava a conhecer ao mundo outro brasileiro que entraria na memória colectiva: Caiçara, que, apesar de defesa tinha instinto goleador e um pontapé capaz de fazer tremer qualquer guarda-redes.

O clube do Rei, paulatinamente, ia evoluindo, aproximando-se dos clubes mais fortes, ainda que, num ou noutro ano as classificações regredissem, num processo de avanços e recuos que, ainda hoje, tão bem conhecemos. Na verdade, o sétimo posto da temporada seguinte comprovava isso mesmo, sendo que, imediatamente, seria rebatido por um extraordinário quarto posto, o melhor até então. O Vitória estava no topo do futebol português, continuava a ter cotação

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DE PÉ: Sebastião; Virgílio; Silveira; Daniel; João da Costa; Augusto da Silva e Silva. DE JOELHOS: Bartolo; Romeu; Ernesto; Carlos Alberto e Rola EDMUR "Bola de Prata" 1959/60 Azevedo; Virgílio; Caiçara; Ferreirinha; Daniel (encoberto); João da Costa; Trenque; Ernesto; Romeu e Silva (1960/61)

internacional fazendo digressões, ainda que o ano seguinte fosse de dificuldade. Na verdade, a dispensa de Ernesto, a venda de Edmur e as debilitadas finanças fariam da temporada um atroz sacrifício, cuja despromoção foi evitada com um golo de Augusto Silva a garantir uma saborosa vitória frente ao FC Porto. Aliás, seria Augusto Silva, mas também o primeiro internacional da história do clube, Pedras (que vestira a camisola das Quinas numa espécie de campeonato europeu de juniores) a resolverem esses problemas ao serem vendidos para o Benfica. Como resultado deste negócio, para além dos 1250 contos pagos pelo Benfica, seriam cedidos como moedas de troca Pedras, Mendes, Fonseca, Manuel Pinto, Teodoro, Zeca Santos e Testas. Uma fortuna monetária, mas também um conjunto de jogadores que permitiram que o Vitória adquirisse uma base que seria relevante até à difícil temporada de 1970/71, ano em que a descida esteve por um fio, salva por um miraculoso empate na casa do FC Porto.

Mas antes disso, o processo de afirmação vitoriana continuou. Como resultado disso, na temporada de 1962/63 calcaria pela primeira vez a relva do Jamor, para discutir a final da Taça de Portugal com o Sporting, para logo de seguida conquistar um excelente quarto posto na temporada de 1963/64, graças aos golos de Rodrigo, um brasileiro conhecido por El Cid, ou de Mendes, que haveria de ficar na eternidade com a alcunha de Pé Canhão. De enfiada, a equipa viajaria para os Estados Unidos pela primeira vez, onde teria uma receção inesquecível por parte da comunidade portuguesa. O Vitória crescia e haveria de, quase de seguida, dar a conhecer ao mundo Djalma, um brasileiro goleador, pleno de malícia e de rebeldia que, por isso, seria vendido ao FC Porto e José Morais, um talentoso atleta, que seria surripiado pelo Sporting, fazendo com que um clérigo vimaranense excomungasse o presidente dos Leões, Abraham Sorin, em assembleia-geral. Seria por essa altura, em janeiro de 1965, que, na sequência de uma emanação da Direcção-Geral dos Desportos que o Vitória jogaria pela primeira vez no Estádio Municipal. Com o recinto ainda por findar, com os jogadores a equiparem-se na velhinha Amorosa e a descerem para o novo estádio, a estreia dar-se-ia perante o Belenenses, cabendo ao vimaranense Castro a honra de ter sido o primeiro autor de um golo no novo e inacabado recinto.

O Vitória crescia, desenvolvia-se, tinha em Mendes o primeiro internacional AA da sua história e quase haveria de tocar o céu na inesquecível temporada de 1968/69, onde, sob o comando de Jorge Vieira, só

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alguns momentos de pouca sorte, alguns pontos perdidos com adversários de menor dimensão (como o União de Tomar) e algumas infelizes decisões arbitrais (nomeadamente com o Belenenses) impediriam que o sonho do título se tornasse realidade. Não obstante isso, o terceiro lugar final (o primeiro dos quatro conquistados na sua história), a melhor defesa do campeonato, o prémio Somelos-Helanca, destinado ao melhor jogador do campeonato, e atribuído ao defesa Joaquim Jorge e o primeiro apuramento europeu fariam deste exercício o mais memorável até então.

Seria, pois, em 10 de setembro de 1969 que os Conquistadores entrariam em campo para defrontar os checoslovacos do Banik Ostrava no seu baptismo europeu. Um jogo em que o Vitória alinharia com Roldão; Costeado, Manuel Pinto, Joaquim Jorge, Silva; Artur da Rocha, Peres, Augusto; Zézinho, Manuel e Carlos Manuel e cujo golo deste último entraria na história e seria suficiente para a primeira vitória na, então, Taça das Cidades com Feira. O Vitória haveria de empatar a segunda mão em Ostrava, graças a um tento de Artur da Rocha, o que significaria a passagem da eliminatória. Posteriormente, seria eliminado pelos ingleses do Southampton.

Apesar da temporada ter sido marcada pelo abandono prematuro do treinador Giba que, fruto de doença, seria substituído por Fernando Caiado, os atletas vitorianos haveriam de conquistar um meritório quinto posto, o que significava um novo apuramento europeu.

6 - Década de 1970

Contudo, o início da década de 70 não começaria da melhor maneira. Ainda que Jorge Vieira, o técnico do terceiro posto, tivesse regressado, a verdade é que a equipa, a qual não fora renovada conforme era exigido, apesar de ter conseguido eliminar os franceses do Angoulême na Taça das Cidades com Feira, não

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Capitão Peres, na estreia europeia, no final da década de 60

conseguiria ter êxito. Por isso, o brasileiro que, até então, era visto como um D. Sebastião seria despedido, sendo substituído por Peres que depois de várias temporadas de Rei ao peito, sendo, inclusivamente, o primeiro capitão de equipa num jogo europeu, assumiria a liderança técnica do clube. Apesar das dificuldades, Peres conseguiria vencer os dois últimos jogos em casa, para empatar, com um sofrimento atroz, no FC Porto no derradeiro, garantindo uma manutenção que, a dado momento, parecera impossível.

7- Uma necessária renovação...

Finalmente percebia-se a necessidade de proceder à renovação da equipa de futebol, num momento em que o andebol parecia querer assumir o papel de segunda modalidade do clube e o ténis de mesa já ocupava o seu lugar.

Essa renovação traria ao Vitória Mário Wilson como treinador. Terá sido, provavelmente, o técnico mais marcante de uma década em que a equipa conseguiria chegar por uma vez à final da Taça de Portugal em 1976, perdida para o Boavista, graças a uma atroz e parcial arbitragem de António Garrido. Além do treinador, realce para a aquisição do goleador Tito, ao União de Tomar, que haveria de se tornar o jogador vitoriano com mais golos apontados na primeira divisão. Seria a base de uma nova equipa que em diversos períodos roçaria o objectivo europeu sem nunca o conseguir conquistar. Fosse por momentos de azar, fosse fruto de arbitragens tendenciosas, como a que o malfadado António Garrido protagonizou no decisivo jogo contra o Boavista na temporada de 1974/75 e que lhe custou ver o seu carro incendiado, a verdade é que os Conquistadores jamais conseguiriam regressar à alta-roda do futebol europeu durante esta década.

Não obstante estes constantes malogros, seria durante estes anos que alguns vitorianos se destacariam a título individual. Mencionamos, aqui, os nomes de Osvaldinho, Rui Rodrigues, internacionais AA portugueses, o jovem Abreu, a estrear-se para um longo percurso na equipa com diversas internacionalizações, ou os brasileiros Jeremias (uma máquina goleadora), Mundinho, Pedrinho e Almiro verdadeiros ídolos da nação vitoriana.

Porém, o regresso à Europa não aconteceria, ficando a década marcada pelo imbróglio causado por Mário Wilson que, depois de ter orientado o Vitória no início da década, regressaria para a treinar na temporada de 1977/78. Assim continuaria até 1978/79, quando, pelo facto de acumular tais funções com as de seleccionador nacional, desencadearia inúmeras críticas que levariam ao seu despedimento e à deliberação em Assembleia-Geral de jamais poder orientar o Vitória.

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8 – Os anos de Pimenta Machado

8.1 - A ascensão

Estávamos a entrar nos anos 80 e com eles viria a chegada do homem que mais tempo lideraria a armada vitoriana: António Pimenta Machado. De personalidade carismática, jamais recusando um bom confronto, seria uma das figuras mais marcantes da centenária história do clube.

Começaria o seu reinado a chamar a atenção do país futebolístico ao conseguir juntar em Guimarães uma improvável Santíssima Trindade de treinadores, composta por José Maria Pedroto, Artur Jorge e António Morais, bem como a contratar uma das maiores esperanças do futebol europeu ao Ajax, o jovem Blanker.

Melhor do que isso, seria o presidente que daria estatuto europeu ao Vitória. Com ele, a equipa, passados 13 anos, voltaria aos confrontos nas competições do Velho Continente, numa inesquecível eliminatória frente ao Aston Villa.

Além disso, terão sido com ele os melhores anos do Vitória. Quem poderá olvidar aquela temporada de 1986/87, em que sob o comando de Marinho Peres e em que Paulinho Cascavel igualou o feito de Edmur, ao vencer a Bola de Prata, o prémio referente ao melhor marcador do campeonato, e onde a equipa andou perto de tocar o céu com o terceiro posto conquistado e a melhor carreira de sempre numa competição europeia, ao chegar aos quartos de final da Taça UEFA, tendo eliminado o Sparta de Praga, o Atlético de Madrid e Groningen para cair na neve alemã do Monchengladbach?

Vencedor da Bola de Prata, na época de 1986/87

Mas, essa epopeia terá sido, apenas, um belo episódio num período frenético que teria continuidade na época seguinte. Apesar do sofrível percurso no campeonato, com o Vitória a salvar-se da despromoção por quatro golos, em prejuízo do Elvas, chegaria aos oitavos de final da Taça UEFA, eliminando os húngaros do Tatabanya e os belgas do Beveren, para ser eliminado no desempate por pontapés de penalty pelos, então, checoslovacos do Viktovice. Além disso, tal seria o ano em que a equipa chegaria pela quarta vez à final da Taça de Portugal, para a perder, novamente, para o FC Porto.

Fruto disso, caberia aos Conquistadores disputarem a Supertaça Cândido Oliveira. Em Setembro de 1988, a alinhar com Neno; Nando, Nené, Germano, Basílio; Soeiro, Carvalho, N’Dinga; Chiquinho Carlos,

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Décio António e Roldão, o Vitória venceria a primeira mão da decisão com um golo de Décio e outro de N’Dinga. Com um resultado a permitir sonhar, a equipa vitoriana, apoiada por muitos milhares de adeptos, conseguiria empatar nas Antas, garantindo, assim, o primeiro título nacional da equipa de futebol.

Era o sinal claro do crescimento de um clube que, por esses dias, aliava os resultados desportivos ao desenvolvimento do seu Complexo Desportivo, conhecido por A Unidade.

Fruto disso, em 1991, os juniores vitorianos sagrar-se-iam campeões nacionais, em Mira d’Aire, numa final imprópria para cardíacos, decidida no desempate pela marcação de grandes penalidades. Para a eternidade, ficaria uma equipa capaz de um feito que fez com que os jovens fossem merecedores de uma recepção digna de heróis e na qual se destacava o playmaker Geani. Apesar de se lhe augurarem grandes feitos, passaria ao lado dessa extraordinária carreira que lhe vaticinavam.

Este seria o ano em que o estádio, já portador de iluminação artificial, sofreria obras de fundo para receber o Campeonato Mundial sub-20. Guimarães receberia, inclusivamente, a meia final da competição disputada entre o Brasil e a Rússia.

A década de 90, essa, havia sido encetada com uma grande desilusão. Como esquecer a meia final da Taça de Portugal, perdida no jogo de desempate, frente ao Estrela da Amadora, depois de estar em vantagem nos dois jogos e quando, na final, o adversário era o Farense, na altura na segunda divisão? Um rude golpe que fazia pensar numa maldição na prova rainha do futebol português.

Mas este seria o período em que o Vitória assumirse-ia como um emblema de inelutável estatuto europeu. Com efeito, as quatro classificações consecutivas para a Taça UEFA seriam a pedra de toque de um período em que a equipa vitoriana eliminaria emblemas como o Parma, ou Standard de Liège e, ainda, teria tempo para discutir uma eliminatória frente ao Barcelona, em que, durante 45 minutos, tudo pareceu possível.

do encontro entre o Vitória e o Atlético de Madrid, na época de 1986/87

Foi um tempo em que o Vitória assumiu a sua função de clube vendedor. Assim, nomes como Nuno, Paulo Bento, Dimas, Quim Berto, Pedro Barbosa, Pedro Martins, Capucho, entre mais alguns, partiriam a

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troco de bom dinheiro para outros clubes. Porém, além destes nomes como Neno, José Carlos, Tanta, Fredrik, Vítor Paneira, Zahovic, Gilmar, Edinho preencheram os sonhos dos vitorianos, atento à qualidade das equipas apresentadas e permitiriam que em 1997/98 fosse conquistado mais um terceiro lugar, numa época em que o sonho de uma presença na Liga dos Campeões pareceu viável.

Além da equipa sénior, a década de 90 traria o segundo título nacional de futebol ao Vitória. Sucederia no campeonato nacional de iniciados, numa final disputada frente ao Benfica, graças a um golo solitário de Kipulo.

8.2 – A queda

Estávamos a chegar a um novo milénio e com ele viria a contestação ao presidente, até então, o indiscutível António Pimenta Machado. Tal começaria com declarações bombásticas da antiga glória N’Dinga, entretanto reconvertido em olheiro em África, continuaria com acesa oposição nas Assembleias-Gerais com o presidente cada vez mais acossado, tendo o seu apogeu na reprovação das contas de 2001 e na subsequente e famigerada “assembleia dos capangas” em que um conjunto de elementos musculados e desconhecidos dos vitorianos aprovariam as contas e ameaçariam Domingos Miranda, o maior crítico do presidente.

Tal seria o dínamo que levaria Pimenta Machado a ser detido, numa altura em que a equipa a jogar em Felgueiras, fruto das obras de remodelação no Estádio D. Afonso Henriques, por causa do Campeonato Europeu 2004, encantava o país com um ousado modelo táctico de 3-5-2 gizado pela mão de Augusto Inácio, que houvera chegado à equipa, no ano 2000, para a salvar de uma despromoção que se começava a antever.

Depois da sua detenção, o presidente afastar-se-ia ainda mais do clube, demitindo-se em Junho de 2004, depois de sentir que não tinha condições para continuar à frente do clube e com os sócios a pressionarem a sua saída em diversas assembleias-gerais. Jorge Jesus seria o seu último treinador, em mais um ano em que a manutenção foi conquistada no último sopro.

Antes disso, ainda seria inaugurado, numa inesquecível noite de Verão, o estádio pronto para o Campeonato Europeu 2004, para passados uns meses, todos chorarmos a morte de Miki Fehér, jogador do Benfica, que caiu, para não mais se levantar, perante os nossos olhos.

Contudo, como dissemos, Pimenta Machado, passados 24 anos, deixaria de ser líder máximo do Vitória, dando lugar a Vítor Magalhães, até então presidente do Moreirense. Com este Presidente, chegaria o treinador Manuel Machado e a dupla, ainda com a base da estrutura anterior, haveria de conseguir com que a equipa conquistasse um apuramento europeu, cinco anos depois do derradeiro.

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9 – Um novo ciclo, marcado por uma dolorosa descida de divisão...

O Vitória entraria num novo ciclo. Com um novo presidente, um novo treinador, tudo parecia a postos para o clube entrar na senda de novos sucessos. Pura ilusão!

Depois de um ano em que, efectivamente, seria capaz de regressar às competições europeias, o ano seguinte, já com Jaime Pacheco e depois Vítor Pontes ao leme, seria dos mais infelizes da longa história do clube do Rei. Assim, apesar de alguns jogos europeus que dignificaram o clube – em especial perante o Wisla Cracóvia – o Vitória passados 51 anos voltava a cair no segundo escalão do futebol nacional. Um triste desenlace que seria sentenciado num jogo cinzento perante o Estrela da Amadora e que levaria a uma completa reformulação no plantel.

Seria Norton de Matos o técnico mandatado para fazer o clube regressar ao escalão principal do futebol português. Com ele traria uma série de jogadores relacionados com o futebol francês que, apesar de no início terem sido olhados de soslaio, seriam importantes num regresso que seria conquistado pelo substituto de Norton, que, após uma derrota caseira perante o Gondomar, foi despedido.

Falamos de Manuel Cajuda, o homem que resgatou a paixão e a crença dos vitorianos e que entrou ao mesmo tempo que Vítor Magalhães abandonava a liderança da presidência dando lugar a Emílio Macedo da Silva.

10 – O regresso do Rei

Seria, pois, em Gondomar que, depois de uma extraordinária recuperação, que seria festejado o Regresso do Rei à liga principal, para, imediatamente, Cajuda guindar a equipa ao quarto terceiro lugar da sua história, sinónimo de apuramento para a pré-eliminatória da Liga dos Campeões, num ano em que o Vitória foi, também, campeão nacional de Voleibol em Espinho e venceu a Taça de Portugal de basquetebol, em Elvas.

Contudo, esses momentos de inigualável felicidade, começariam logo a decair no início da temporada seguinte, a de 2008/09.

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Na verdade, depois de ter tentado nas instâncias do futebol ficar com o apuramento directo para a Liga dos Campeões, em virtude de considerar que o FC Porto deveria ser punido como consequência do caso Apito Dourado, o Vitória teria de tentar chegar à máxima prova do futebol europeu através de um playoff frente aos suíços do Basileia. Terá sido, provavelmente, uma das maiores dores desta longa história, pois essa passagem não sucederia graças a um grave erro de arbitragem que invalidou, nos últimos minutos da partida disputada na Suíça, um golo legal a Roberto. Seria um duro rombo que influiria na época, não mais Manuel Cajuda encontrando o caminho da felicidade. Esta era descoberta através dos bons resultados das modalidades (a vitória na Taça de Portugal e participação na Liga dos Campeões de Voleibol e vários títulos a nível individual nas artes da luta) e só voltaria a ter alguma continuação no futebol, quando sob o leme do regressado Manuel Machado, na temporada de 2010/11, a equipa vitoriana, depois de eliminar a Académica, com uma grande enchente em Coimbra, ter regressado pela quinta vez ao Jamor. Ainda não seria desta que triunfaria na prova rainha do futebol português, deixando a maior alegria desses anos para a conquista do Campeonato Nacional de Futebol de Praia em Vila do Conde.

11 – Derrocada financeira e Júlio Mendes ascende ao poder

Após esses momentos, a situação financeira vitoriana deteriorar-se-ia de modo preocupante. O investimento para levar o clube a patamares superiores, ainda que sem retorno, bem como a ilusão da existência de investidores capazes de suportarem as muitas despesas e, simultaneamente, continuando a investir no desenvolvimento do clube, faria com que o Vitória acumulasse um passivo que parecia fazer perigar o seu futuro. Tal levaria a uma Assembleia-Geral, que durou até às 04h30 da manhã e em que as contas apresentadas pela direcção de Emílio Macedo da Silva foram reprovadas, levando a que, passado pouco tempo, este apresentasse a sua demissão.

Como resultado deste facto, reabria-se um período eleitoral, em que Júlio Mendes e Manuel Pinto Brasil seriam os candidatos. A campanha basear-se-ia numa discussão centrada no modelo económico que o Vitória devia prosseguir para obter a sua sustentabilidade financeira. Deste modo, se o primeiro defendia a criação

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de uma SAD, o segundo apostava numa SDUQ (sociedade desportiva unipessoal por quotas). Os sócios prefeririam dar confiança a Mendes, que, mal-assumiu o comando, tomou a medida mais necessária: apertar o cinto.

Deste modo, nomes relevantes da equipa como Nilson, João Paulo, Nuno Assis, Pedro Mendes ou Edgar Silva abandonariam a equipa, para dar lugar a jovens como Ricardo Pereira, Paulo Oliveira, Tiago Rodrigues, Marco Matias ou Amidó Baldé.

12 – A taça e a SAD

Os que temiam que a juventude fosse um obstáculo ao bom desempenho da equipa enganar-se-iam. Na verdade, esta jovem equipa conseguiria dar boa conta de si, mantendo-se a lutar por um lugar europeu no campeonato nacional até ao final da prova e, simultaneamente, levando a cabo uma epopeia que a levaria à final da Taça de Portugal, frente ao Benfica, no dia 26 de Maio de 2013. Essa tarde terá sido, provavelmente, a mais bela de todas as que os vitorianos terão vivido em cem anos de história. A alinhar com Douglas; Kanu, Paulo Oliveira, El Adoua, Addy; Leonel Olímpio, André André, Tiago Rodrigues; Ricardo Pereira, Amidó Baldé e Soudani, o Vitória entraria a perder com um golo feliz de Gaitán. Porém, na segunda parte, já com Crivellaro e Marco Matias em campo, o Vitória, em dois minutos, daria a volta ao desafio, com tentos de Soudani e de Ricardo... À sexta tentativa, os Conquistadores logravam a glória na máxima prova nacional e desencadeavam uma inesquecível festa que se estendeu do Jamor até ao Berço Pátrio até à manhã seguinte. O sonho era realidade e o momento em que o capitão Alex ergueu a Taça aos céus será dos mais belos quadros que, alguma vez, terá sido pintado na história vitoriana. Num ano que tinha tudo para correr mal o melhor sucedia... e a que acrescia a extraordinária vitória na Taça de Portugal de basquetebol, frente ao Benfica, numa tarde em que Ivan Almeida roçou a excelência.

Quase logo de seguida, mas já na época de 2013/14, seria constituída a SAD vitoriana, em que o luso sul-africano, Mário Ferreira, assumiria o papel de accionista maioritário. Seria, esse, o ano em que o Vitória integraria a fase de grupos da Liga Europa frente ao Rijeka, Lyon e Bétis, tendo obtido alguns resultados de realce, como o empate em França, perante muitos vitorianos.

Todavia, em termos desportivos seria uma época plena de instabilidade, com o desejo falhado de Júlio

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Mendes candidatar-se a presidente da Liga de clubes. Não obstante isso, o trabalho sapiente de Rui Vitória continuaria a fazer milagres, como sucedeu na época seguinte em que com um conjunto constituído por novas pérolas como Josué, Hernâni, Bernard, Tomané, entre outros, seria capaz de voltar a apurar a equipa para as competições europeias, graças a um quinto posto no campeonato, mas onde durante muito tempo pareceu ser possível alcançar melhor.

Acabava neste momento o ciclo de Rui Vitória, contratado pelo Benfica. Para o seu lugar viria Armando Evangelista, que começaria a ser humilhado na pré-eliminatória da Liga Europa perante o Altach, para não mais recuperar os créditos perante os adeptos. Seria rapidamente substituído por Sérgio Conceição, um malamado em Guimarães, e que foi incapaz de, desportivamente, repetir o resultado da transacta temporada.

O Vitória tinha necessidade de se reinventar e a aposta, para isso suceder, haveria de recair no treinador Pedro Martins, um antigo jogador do clube, com uma mentalidade ambiciosa e ofensiva. Para que tal se pudesse efectivar, foram postos jogadores de bom nível, como Soares, Raphinha, Rafael Miranda, Marega e os regressados Hernâni do FC Porto e Bernard do Atletico Madrid.

Em muitos desafios, o Vitória foi frenético, imparável, o que levou a que conquistasse um quarto posto, o melhor lugar desde o terceiro alcançado por Cajuda na já longínqua temporada de 2007/08. Além disso, depois de uma meia final de muito sofrimento em Chaves, o Vitória apurar-se-ia pela sétima vez para a final da Taça de Portugal. Aí, num Domingo diluviano, em que os vitorianos nas bancadas deram espectáculo, o Vitória seria derrotado pelo Benfica por duas bolas a uma, de pouco valendo o golo do sul-africano Bongani Zungu.

13 – Umas eleições históricas e o adeus de Júlio Mendes

Seria esse o derradeiro momento de idílio na relação entre o treinador e o presidente. Com efeito, a má reformulação de um conjunto que perdera a maioria das pedras essenciais e um treinador contrariado a desejar abandonar o Vitória, faria com que uma temporada, em que o Vitória voltou a integrar a fase de grupos da Liga Europa, num grupo que, também, continha o Marselha, o Red Bull Salzburg e o Konyaspor, fosse uma verdadeira desilusão. Desilusão essa, consubstanciada pela atroz goleada sofrida em casa, frente ao eterno rival, o que custaria o lugar ao treinador Pedro Martins, substituído por José Peseiro. Quase logo de seguida disputar-se-iam umas eleições que haveriam de ficar na história do clube por terem sido as mais participadas de sempre. Um acto eleitoral que desencadearia paixões, discussões e uma troca acesa de argumentos entre o líder no poder, Júlio Mendes, e o candidato, Júlio Vieira de Castro. O primeiro venceria por margem mínima, mantendo-se no poder, ainda que fosse claro que o seu estado de

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graça houvera chegado ao fim.

Apesar disso, a temporada de 2018/19 traria a aposta num novo treinador que, na altura, estava na moda no futebol português. Luís Castro, proveniente do Chaves, era o escolhido e, com ele, trazia o extremo Davidson, um talentoso brasileiro. Além deste, nomes como André André (de regresso, após ter sido vendido ao FC Porto) João Carlos Teixeira, Osório ou Alexandre Guedes, entre outros, seriam a base de uma equipa que alternaria momentos de exaltação, como no desafio frente ao Sporting, com outros medianos, mas que seria capaz de carimbar o quinto posto da tabela, no derradeiro desafio da época, frente ao concorrente directo Moreirense, orientado por Ivo Vieira.

Ivo Vieira que seria o escolhido para substituir Castro, de malas aviadas para os ucranianos do Shakhtar Donetsk, naquele que foi o último acto de Júlio Mendes enquanto presidente do clube, pois demitir-se-ia das suas funções, abrindo, por isso, um novo período eleitoral. A este, concorreriam três listas encabeçadas por Daniel Rodrigues, António Miguel Cardoso e Miguel Pinto Lisboa. Seria este último a vencer, tendo como promessa essencial a aquisição da posição societária de Mário Ferreira, fazendo do Vitória o dono da sua sociedade desportiva.

Contudo, antes disso, e, ainda durante o período eleitoral, o Vitória conquistaria mais um título nacional sénior, graças à sua equipa de polo-aquático. Era o início da hegemonia na modalidade e que levaria a equipa a disputar a fase de grupos da Liga dos Campeões em 2021 e a conquistar muitas outras competições.

14 – Miguel Pinto Lisboa, compra da SAD, pandemia e desilusões

Com Ivo Vieira a equipa de futebol começaria por ser imperial nas pré-eliminatórias de apuramento para a Liga Europa, em que fez cair a Jeuness d’Esch do Luxemburgo, o Venstpils da Letónia e o FCSB de Bucareste da Roménia, numa eliminatória em que o presidente adversário prometeu cortar a cabeça se o Vitória vencesse. De seguida, na fase de grupos, haveria de calhar em sorte aos Conquistadores o Arsenal, o Eintracht Frankfurt e o Standard Liége, conseguindo o Vitória prestações meritórias, tornando-se inesquecível a deslocação a Londres, ao Emirates Stadium, onde 3500 adeptos silenciaram os ingleses.

Porém, o campeonato não correria como desejado, ainda que o primeiro apuramento para a final four da Taça da Liga servisse como panaceia, praticamente em vésperas do maior negócio realizado pelo clube. O mesmo sucederia com a venda do burquinês Tapsoba ao Bayer Leverkusen por 13 milhões de euros, depois de, apenas, ter actuado na equipa A por 6 meses.

Logo de seguida, aconteceria ainda o famigerado Caso Marega, em que o jogador do FC Porto alegou ter sido alvo de comportamentos racistas dos vitorianos. Sem contraditório, sem direito de defesa, sem

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atenuantes e com um forte empolamento do sucedido, ao contrário de todos os casos que ocorreram e continuaram a ocorrer no futebol, quiseram colocar um rótulo a uma cidade e a um clube. Destaque como meio de reacção, a inolvidável Marcha Branca em que, apesar da chuva, milhares de vimaranenses saíram à rua para demonstrarem o seu repúdio como o clube fora tratado.

Estávamos a uma semana do mundo parar... a pandemia já espreitava, e, após um triunfo por duas bolas a uma, em Paços de Ferreira, com um bis de João Carlos Teixeira, tudo ficaria em suspenso. O mundo uniase contra um inimigo comum que impedia que vibrássemos nos estádios, ou que, sequer, saíssemos à rua.

Tal situação duraria três meses, até que o campeonato se reiniciou. O Vitória fracassaria, acabando a temporada no sétimo posto e que desencadearia a enésima revolução no plantel.

Com o auxílio do director-geral Carlos Freitas, os responsáveis pelo Conselho de Administração da SAD tentariam constituir uma nova equipa, que seria orientada pelo inexperiente e estreante Tiago Mendes. Como esperança para enquadrar os novos talentos, a aposta recairia num dos mais mediáticos jogadores do futebol português, Ricardo Quaresma, cuja apresentação seria falado por todo o mundo.

Porém, Tiago duraria, apenas, três jogos, sendo substituído por João Henriques. Tal sucederia numa altura em que Miguel Pinto Lisboa anunciou um acordo com a MAF, a sociedade comercial propriedade de Mário Ferreira, para a aquisição do seu pacote accionário.

Entretanto, em campo tudo se ia degradando. Depois do bom arranque de Henriques, o Vitória faria uma segunda volta abaixo do esperado, o que levou a que o técnico fosse despedido, sendo substituído pelo técnico que orientava a equipa B, Bino.

Não teria sucesso, abandonando a equipa, ainda antes do final de um campeonato em que as bancadas estiveram sempre vazias, após uma altercação com o presidente. Seria Moreno, que começara a época a treinar os sub-23, ascendendo, posteriormente, à segunda equipa, a acabar a época. Quanto a resultados, a qualificação europeia seria perdida no derradeiro desafio frente ao Benfica.

No fim da temporada, destaque para o regresso dos adeptos aos estádios, quando uma AssembleiaGeral extraordinária foi marcada para o D. Afonso Henriques.

Quanto à equipa de futebol era, pois, urgente apresentar um novo treinador. O escolhido seria Pepa, em estado de graça após um ano em que houvera qualificado o Paços de Ferreira para as competições europeias.

15 – Presente e futuro

A temporada 2021/22, a última disputada, teve muito que contar. Desde logo, a reprovação das contas

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do clube, em virtude do passivo apresentado. Depois o acto eleitoral levado a cabo e em que António Miguel Cardoso venceria os restantes candidatos, Miguel Pinto Lisboa e Alex Costa, por larga margem.

Com o novo presidente já ao leme a equipa de futebol haveria de conquistar o sexto posto na tabela classificativa, que, graças ao triunfo do FC Porto na Taça de Portugal frente ao Tondela, significaria o regresso às competições europeias, neste caso à fase das eliminatórias da Liga das Conferências.

Mas, além disso, a última temporada ficaria marcada por outros momentos inesquecíveis.

Desde logo, no pólo aquático com a equipa vitoriana a sagrar-se tricampeã nacional, numa disputadíssima final frente ao Fluvial.

Mas, destaque também para o voleibol feminino, onde a equipa atingiria duas finais num ano. Ainda que perdendo a final da Taça de Portugal para o Leixões e a final da Taça Federação para o Sporting, as suas prestações encheram de orgulho todos os adeptos.

Por fim, o andebol que roçou a promoção ao escalão principal e o basquetebol masculino capaz de se apurar para as meias-finais da Taça de Portugal.

O Vitória olha para o futuro, mostrando todo o seu ecletismo...

O campo da Atouguia (1922–1923)

Este campo, entendido no sentido de um espaço, um sítio onde se jogava futebol, embora improvisado e sem condições para a sua prática, pois não tinha vedações, nem bancadas, nem balizas, era mal localizado, isto é, era fronteiro ao cemitério. Mas foi aqui que o VSC realizou o seu 1.º desafio contra o Maçarico da Póvoa, que venceria por 4-1, e teve lugar no dia 17 de dezembro de 1922, como se constata pela pequena notícia extraída de memórias de Araduca. Tais condições impunham a necessidade urgente de encontrar um novo espaço.

Casas do Vitória Sport Clube Equipa redatorial

In, Memórias de Araduca

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O campo José Minotes (1924-1925)

O Campo José Minotes, situava-se para os lados da Quintã, nos atuais terrenos do Centro Comercial Castelo e da sede da Comunidade Intermunicipal do Ave. Foi construído no local onde existia um hipódromo no qual, em 1923, se realizou o concurso hípico das Festas Gualterianas.

O jornal “Ecos de Guimarães”, datado de 3 de fevereiro de 1924, dá conta do jogo inaugural, realizado em 27 de janeiro: “Realizou-se no domingo a inauguração do campo José Minotes com um match de futebol entre o Sporting de Braga e o Vitória Sport Club, vencendo o primeiro por 4-0.

O árbitro, sr. Alfredo Malheiro, deu sinal para alinhar os grupos, dando em seguida o shoot de saída a srª. D. Júlia Jordão.

O jogo começou com o domínio do Sporting de Braga devido ao grupo Vimaranense abusar do jogo individual.

No segundo tempo, notou-se um ligeiro domínio do Vitória não conseguindo marcar devido à falta de remate.

Alguns rapazes de Braga perguntaram o que tinha sido feito do guarda-redes que jogou na 1ª. volta do campeonato do Minho, visto o seu lugar estar ocupado por um jogador desconhecido.”

Porém, o terreno onde estava instalado o campo era propriedade de Alberto Teixeira Carneiro que resolveu demolir as vedações e construir uma vivenda, pelo que Guimarães ficava, de novo, sem campo de jogos.

O Campo da Perdiz (1925

–1928)

O Campo da Perdiz, localizado para os lados do cemitério da Atouguia, onde existiu a Praça de Touros e mais tarde foi lugar de sucata, hoje zona habitacional, foi a terceira “casa” do Vitória, cuja inauguração, após obras de monta, o periódico “Ecos de Guimarães”, de 6 de junho de 1925, assim noticia: “Depois do trabalho insano que os dirigentes deste Clube despenderam com a sua realização, é justo que o público vimaranense saiba compensar esse trabalho e acorra ao campo a animar com a sua presença os que Local onde foi construída a tourada em 1947, in Memórias de Araduca - 16-06-2022

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não se pouparam a sacrifícios e trabalhos para dar vitalidade a uma terra e a criar-lhes um nome dentro do mundo desportivo. A sua inauguração deve ser brilhante pois os grupos que se batem são grupos de conhecido valor e estamos certos, o público de Guimarães vai ter ensejo de assistir a um desafio emocionante…”

Quanto ao programa inaugurativo, abrilhantado com a banda de música do Regimento de Infantaria n.º 20, aquartelada em Guimarães, que teria lugar no dia 7 de junho de 1925, iniciar-se-ia às duas horas, com o jogo de futebol Vitória-Fafe (2.ªs categorias), que resultou num empate 3-3 e prosseguiria com o encontro entre o Vitória e o Grupo Desportivo Famalicense com um triunfo vitoriano por 2-1.

Campo da Perdiz, in Memórias de Araduca - 16-06-2022

Sabia-se muito pouco sobre o Campo da Perdiz. Amaro das Neves (Memórias de Araduca, de 16/06/2022), entre outras coisas, diz que quando da preparação e montagem da exposição centenário do Vitória “os organizadores olharam com atenção para uma fotografia já conhecida, com um campo de futebol, e ficaram com dúvidas quanto à sua localização (estava registada como sendo do Benlhevai).” Compararam as duas fotos e verificaram que o enquadramento era muito semelhante tendo como marcos fundamentais o Castelo, o Mosteiro da Costa e o Santuário das Penha. E conclui: “E assim ficamos a conhecer, para lá de qualquer dúvida, o Campo da Perdiz. Que tinha bancada, camarotes, vedação, marcações e…balizas que já não andavam às costas.”

O campo do Benlhevai

(1932–1945)

Em março de 1928, após um período doentio a que

Campo do Benlhevai

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chegara o desporto em Guimarães e algumas desinteligências entre associados, bem como a falta de pagamento do aluguer do Campo da Perdiz, a cidade ficou novamente privada de campo de jogos, obrigando os jogadores a fazer jogos fora e a viajar em camionetas, que alguns carolas ajudavam a pagar.

Porém, consegue-se o arrendamento do campo (do Benlhevai), que ficava situado entre a Casa dos Cajatos (oficina de ferradores), a atual Escola Secundária Francisco de Holanda e a Casa do Proposto, na avenida S. Gonçalo.

Era um campo pequeno, “com medidas mínimas, que à esquerda da entrada, junto à parada do antigo quartel dos Bombeiros (hoje Centro Comercial Triângulo) se situava o peão, debaixo de uma ramada de videiras, além dos balneários, e que do lado direito possuía bancadas de madeira. Deste modo, implantado num espaço limitado, era frequente os apanha-bolas irem buscar bolas à estrada …” (Ficheiros desportivos)

Porém, no jogo inaugural com o Comércio e Salgueiros, em 24 de janeiro de 1932, assistiriam ao encontro cerca de 3 mil pessoas, cujo resultado desportivo se saldaria numa pesada derrota do Vitória por 6-1.

Ao logo dos anos, sofreu melhorias, nomeadamente em 1933, tendo sido vedado completamente e construída uma bancada.

Neste recinto, exíguo para a prática do futebol, o Vitória conquistaria o primeiro Campeonato Distrital, façanha que se repetiria nas épocas de 1936/1937 e 1937/1938 e iniciaria a sua afirmação na época de 1941/1942, subindo pela primeira vez ao escalão máximo do futebol português e marcando presença na final da Taça de Portugal, que perderia por 2-0 frente ao Belenenses.

Campo do Benlhevai-Vitoria - Barreirense Taça, in Glórias do Passado, 06-06-2022

Por esses tempos, concretamente em 1933, é também inaugurada a primeira sede do clube no Toural, por cima do Ex Café Oriental.

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Na época de 1945/46, o Vitória Sport Clube foi campeão do Minho e a Federação Portuguesa de Futebol não permitiu a utilização do recinto devido às suas dimensões, o que levou o VSC a deslocar-se ao Campo da Ponte, em Braga, para realizar os jogos. Tornou-se, assim, muito urgente construir um novo campo com medidas apropriadas.

O Campo da Amorosa (1946–1965)

A 13 de Janeiro de 1946 realizou-se o primeiro jogo no “Campo da Amorosa”, com o Vitória SC a vencer o Boavista por 3-1. O primeiro golo foi marcado por Alexandre. Foi a casa do VSC durante quase 20 anos.

O campo da Amorosa data de janeiro de 1946 e situava-se na zona hoje compreendida entre o Centro de Saúde da Amorosa e os Bairros Sociais.

Com efeito, nessa época de 1945/1946, por imposição da Federação, o Vitória seria obrigado a construir o Campo da Amorosa, que durante cerca de 20 anos serviu de palco aos jogos do Vitória.

Neste período, o Vitória desceria à II Divisão, na época de 1954/1955, situação que se prolongaria por três temporadas, até à festa do regresso ao futebol maior, em 1958.

Curiosamente, seria também nesta década, em 1948, que o Vitória inauguraria a sua nova sede social, na Rua D. João I.

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Inauguração do “Campo da Amorosa”, 13 janeiro 1946

Estádio Municipal de Guimarães (1965/1991) - Estádio D. Afonso Henriques (2004)

O estádio municipal de Guimarães viria a ser inaugurado em 3 de janeiro de 1965, com o jogo VitóriaBelenenses, que terminaria favorável às cores vitorianas por 2-1, cujo primeiro golo seria assinado por um homem da casa e das escolas do clube: o jogador vimaranense Castro.

Neste espaço, o Vitória conquistaria por três vezes consecutivas o terceiro lugar do escalão superior do futebol português (1968/1969; 1986/1987; 1997/1998) e seria apurado, por três vezes, para disputar a Taça de Portugal: 1962/1963; 1975/1976; e 1987/1988.

Igualmente venceria a Supertaça na época de 1987/1988, marcaria presença contínua nas competições europeias e, em 1959/1960, conquistaria, por intermédio do seu avançado brasileiro Edmur, a Bola de Prata,

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troféu atribuído pelos seus 25 golos faturados no campeonato nacional, proeza que seria repetida por Paulinho Cascavel, em 1986/1987.

Mas, para além das alegrias, um estádio que testemunharia também a tristeza da descida de divisão em 2005/2006, que logo no ano seguinte seria revertida com “O Regresso do Rei” à primeira Liga.

Um estádio que seria ainda palco de várias competições internacionais, a saber: o Mundial de Futebol Sub 20, em 1991; o Europeu de Futebol, 2004, que após obras de beneficiação, realizadas em 2003, a cargo do arquiteto Eduardo Guimarães, aumentaria a sua lotação para cerca de 30 mil espectadores, e ainda alguns jogos da Liga das Nações da UEFA, em 2018/2019 e na época seguinte.

Um estádio que seria inicialmente propriedade camarária, mas que, em 25 de julho de 2003, seria entregue pela Câmara Municipal de Guimarães ao Vitória Sport Club que, por aprovação dos sócios, o denominariam “Estádio D. Afonso Henriques”.

p. 33

Um estádio que, de facto, no seu aspeto, assume uma imagética de torneio medieval, como é evidente no layout das cadeiras, de autoria do pintor vimaranense Victor Costa, e que hoje é arena de competição que o tornam como o quarto estádio nacional a nível de assistências.

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Vista aérea do estádio D: Afonso Henriques, in Desporto em Guimarães -Dos primórdios à atualidade, TL, 2013, Vista aérea do Campo da Amorosa e Estádio Municipal de Guimarães

O Complexo Desportivo do Vitória

O Complexo Desportivo do Vitória, denominado Dr. Alberto Pimenta Machado, presidente do clube na altura, foi o primeiro do género a nível nacional, inaugurado em 1997, e terá partido de uma ideia do presidente, aquando da sua visita a Milanello, o complexo desportivo do AC Milan.

O complexo desportivo, além dos serviços administrativos do clube, compreende um pavilhão gimnodesportivo e vários campos relvados dedicados aos trabalhos de preparação da equipa profissional e da formação vitoriana.

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Complexo desportivo do Vitória Sport Clube – Fonte: Mais Guimarães

Galeria dos Presidentes do Vitória Sport Clube

Equipa redatorial

1919 Em períodos de vazios diretivos houve sócios que lideraram o Vitória, à procura de soluções diretivas, como Heitor Campos (1932) e Américo Durão (1939), entre outros. Notamos divergências nas datas finais de mandato. Tal parece dever-se ao critério de referência temporal. Nalguns casos, a segunda data é a do final do mandato. Noutros, é a data de início do mandato seguinte.

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António Macedo Guimarães (1922-1924) Afonso Costa Guimarães (1924-1927) Amadeu Costa Carvalho (1935-1937) José Acácio Pinto Rodrigues (1933-1934) e 1938 António Faria Martins (1941-1947) e 1958-1960 Antero Henriques da Silva (1947-1953)
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Jorge da Costa Antunes (1953) António Urgezes dos Santos Simões (1954) João Alberto Mota Prego de Faria (19551957) Hélder Raul de Lemos Rocha (1962-1963) Alberto Ribeiro da Costa Guimarães (1957-1958) Casimiro Coelho Lima (1961-1962)
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António Manuel Rodrigues Guimarães (1974-1976) Gil Mesquita Vieira De Andrade (19761980) Fernando José Sequeira Roriz (19691970) Antero Henriques Da Silva Júnior (19701974) Manuel Cardoso do Vale (1963-1966) Egídio Álvaro Da Costa Pinheiro (19661968)

FONTES:

Sousa, Sónia (2007). Vitória Sport Clube - Uma fotobiografia. Guimarães: Opera Omnia; Site oficial do Vitória Sport Clube

Rocha, Raul (1997) Vitória, 75 anos de história (1922 - 1997), edição do Vitória Sport Clube

Emílio

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Luís Miguel Vinagreiro Pinto Lisboa (2019-2022) Miguel António Cardoso (2022- ?) Macedo Da Silva (2007-2012) Júlio Martins Faria Mendes (2012-2019) António Alberto Coimbra Pimenta Machado (1980-2004) Domingos Vítor Abreu De Magalhães (2004-2007)

Galeria dos Treinadores do Vitória Sport Clube

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Diogo Freitas / Joaquim Azevedo Joaquim Couteiro - 1925 Genecy (treinador hungaro) - 19321933 e 1939-1940) Estêvão Puskas (Istvan Lajos Puskas) - 1934-1935 Alberto Augusto - 1935 a 1939 e 1940 a 1945 Virgílio Freitas (antigo jogador) - 19451946 Artur Baeta - 1946-1947 Alfredo Valadas – 1947-1948 e 19481949 Janos Biri (Húngaro) - 1949-1950 e 1950-1951 Alexandre Peics (Húngaro) -1951-1952 e 1952-1953 Cândido Tavares – 1953 (substitui Peics) e 1953-1954 Randolph Galloway (Inglaterra)1954-1955 Fernando Vaz - 1955-1956 e 19571958
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Óscar Tellechea (Argentino) - 1956-1957 Mariano Amaro - 1958-1959 Humberto Buchelli (Uruguaio) –1959-1960 Artur Quaresma - 1960-1961 e 19611962 (substituído por Rola) José Valle (Argentino) – 1962-1963 a 1964-1965 Jean Luciano (França) – 1965-1966 e 1966-1967 Juca - 1967-1968 Jorge Vieira (Brasil) – 1968-1969 e 1970- 1971 (substituído por António Peres – antigo jogador) Giba - 1969-70 (por razões de saúde foi prematuramente substituído por Fernando Caiado) Fernando Caiado - 1969-1970, 19751976 e 1976-1977 Mário Wilson - 1971-1972 a 19741975, 1977-1978 e 1978-1979 (substituído por Daniel Barretoantigo jogador) 1979-1980 – Mário Imbelloniargentino (substituído por Cassiano Gouveia – preparador físico)
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1980-1981 – Fernando Peres (substituído por José Maria Pedroto) José Maria Pedroto - 1981-1982 Manuel José - 1982/1983 Herman Stessl (Áustria) – 1983-1984 (substituído por Alfredo Murça - jogador) Raymond Goethals (Belga) - 1984/1985 António Morais - 1985/1986 Marinho Peres (Brasil) - 1986/1987 e 1992-1993) René Simões (Brasil) - 1987/1988 (substituído por António Oliveira e, depois, por José Alberto Torres Geninho – 1988-1989 (substituído por Nené - jogador) Paulo Autuori (brasileiro) – 19891990 e 1990-1991 – substituído por Pedro Rocha, depois por João Alves João Alves – 1991-1992 Bernardino Pedroto – 1993-1994
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Quinito - 1994-1995. Em 1999-2000 (substituído por António Ribeiro – seu adjunto) Vítor Oliveira - 1995-1996 (substituído por Manuel Machado) Jaime Pacheco – 1996-1997 e 19971998 (substituído por Quinito) e 2005-2006 Zoran Filipovic (Servia) – 1998-1999 (substituído por Quinito António Ribeiro (seu adjunto substitui Quinito) - 1999-2000 Paulo Autuori (substituído por Álvaro Magalhães e, depois por Augusto Inácio - 2000-2001 Augusto Inácio – 2001-2002 a 20032004 (substituído por Jorge Jesus) Manuel Machado - 2004/2005; 20102011; 2011-2012 Luís Norton de Matos (substituído por Manuel Cajuda) - 2006-2007 Manuel Cajuda – 2007-2008 e 20082009 2009-2010 – Nelo Vingada (substituído por Paulo Sérgio) Rui Vitória – 2012-2013 a 2014-2015

à 3ª jornada)

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Armando Evangelista (substituído por Sérgio Conceição) - 2015-2016 Sérgio Conceição – 2015/2016 Pedro Martins - 2016-2017 e 20172018 Luís Castro - 2018/2019 Ivo Vieira - 2019/2020 2020-2021 - João Henriques, substituído por Bino, substituído depois por Moreno. No início da época Tiago Mendes (saiu Pepa – 2020-2021 e 2021-2022 Moreno – 2022-2023

Vitória Sport Clube: caricaturas João Soares

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Autocarro sonho da Champions Super Afonso enfrenta e derrota Dragão no recinto do Dragão
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Paulinho Cascavel "A BOMBA" (2-0) (VITÓRIA SC Sparta de Praga) GEROMEL - Um dos melhores centrais de sempre do Vitória GUEDES - Marcou o golo nº 100 do Vitória em competições europeias
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O tunisino ZIAD, sempre letal para os guardas redes adversários N'DINGA - para muitos o melhor jogador de sempre do Vitória Marco Matias - Irreverente e raçudo, ajudou a conquistar a Taça em 2013 Palatsi - O guarda-redes que marcou um golo ao Moreirense

Roberto - Ponta de lança com a bravura dos melhores. Em 2009, em Basieia, marcou o golo que dava acesso à Champions, mas uma decisão errada do árbitro fez cair o sonho milionário e de prestígio.

António Carvalho- jogador vimaranense que, com raça, suor e sangue levantou a Supertaça no estádio das Antas, em 1988

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Hillal Soudani e Ricardo Pereira, autores dos disparos certeiros, numa tarde de sonhos no estádio do Jamor, 2011 Tapsoba, internacional do Burkina Faso, fez-se jogador no VITÓRIA

Alan, médio ofensivo de grande valor que ajudou na obtenção do 3º lugar, na época de 2007/2008

Bruno Duarte é aquele ponta de lança que aparece no momento de magia. O golo é a sua arte.Marcou aos 7 minutos no Emirates, em Londres, e foi a loucura dos milhares de vitorianos presentes

Estupinan - esforçado e com qualidade tratando a bola por "tu", no momento de fuzilar, vai deixar saudades.

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Marcus Edwards - fez acontecer magia no D. Afonso Henriques (2021/2022), numa época de fraco futebol.
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Rui Vitória – Treinador nas épocas 2012-2013 a 2014-2015 Moreno – Treinador a partir da época 2022-2023

Velhas Glórias Vitorianas Joaquim Azevedo

As Velhas Glórias Vitorianas são também alinhadas em vários onzes, ao longo destes cem anos, de forma que, estamos convictos, poucos terão sido omitidos.

Com efeito, desde os jogadores nascidos na cidade-berço que marcaram com sangue, suor e lágrimas presença nas hostes vitorianas, em especial na fase inicial em que imperava o amadorismo e o amor à camisola, até aos plantéis formados por atletas provenientes doutros clubes portugueses, que cá chegaram fruto de negociações e transferências, já na fase de crescente profissionalismo, as listas sumárias e enumerações individuais aqui e agora apresentadas, trazem certamente à memória de muitos adeptos e simpatizantes recordações sui generis e saudosas, que queremos partilhar.

Porém, a completar, retiramos ainda do baú das memórias os nomes de vários jogadores estrangeiros que honraram a camisola dos branquinhos e a pele dos conquistadores. Uma terceira lista que enumera muitos dos que vieram de todas as partes do mundo: da América, em especial os talentosos brasileiros, da Europa Ocidental e de Leste, tecnicistas e de forte poder atlético, e de África, como puros diamantes ou pedras preciosas a lapidar.

Três listas com muitos nomes, mas acima de tudo sugestões de inúmeras imagens inesquecíveis em vários campos e estádios, numa catadupa de emoções impressivas, de que este espetáculo vivo e ao vivo chamado futebol é fértil e especial …

Virgílio Freitas

Virgílio Freitas, sapateiro de profissão, nasceu em Guimarães, no dia 11 de novembro de 1907, embora tenha sido registado a 17 de novembro, vindo a falecer em 9 de fevereiro de 2002, após mais de 94 anos de longevidade.

Virgílio Freitas foi acima de tudo uma personalidade bem marcante na história do "Vitória Sport Clube", sobretudo nos primórdios da existência do nosso clube, pelo que o seu nome se encontra intimamente ligado aos momentos mais marcantes do nosso "Vitória". Efetivamente, trata-se de um atleta que faz parte da história do Vitória, quer como jogador e capitão, quer como massagista e treinador (adjunto e principal) ou

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simplesmente enquanto sócio e colaborador, que sempre responderia à chamada, quando solicitado.

Virgílio começou a jogar em 1927, inicialmente como interior direito e mais tarde como defesa, com apenas 20 anos, quando ainda se jogava em campos emprestados e, portanto, não havia registos de jogos oficiais e dos jovens jogadores.

Eram os tempos do amor à camisola em que se jogava sem vencimentos e em campos pelados, geralmente com banho de água fria!...

No entanto, o jovem futebolista marca presença no primeiro jogo no campo "Benlhevai", inaugurado a 24 de janeiro de 1932, (re)começando a jogar nos Campeonatos da "Associação de Futebol de Braga".

Deste modo, faz parte da equipa do Vitória que venceu o campeonato 1933/34, o primeiro de muitos outros ganhos pelo Vitória na década de 30.

Efetivamente, na década de 30 do século XX, Virgílio ia-se progressivamente impondo no panorama futebolístico do seu tempo. Com efeito, em maio de 1934, faz dois jogos pela seleção A. F. Braga, com as seleções de Viana do Castelo e Lisboa. Depois, em 1936, afirmase na equipa e joga pela primeira vez na 2.ª Liga, merecendo, em junho, uma festa de homenagem num jogo entre o Vitória e o Vianense, com goleada dos vimaranenses por expressivo 8-2.

Seguem-se sucessivos triunfos. Deste modo, em 1936/37, 1937/38, 1938/39 e 1939/40 é campeão do "Minho", pois, na altura, o vencedor da A.F. Braga defrontava o campeão da A.F. de Viana do Castelo. Como tal, jogaria no Campeonato Nacional da 2ª Liga e nas primeiras presenças da Taça de Portugal.

Exemplo reconhecido de mérito desportivo, seria, a 31 de maio de 1939, homenageado pela direção do Vitória que lhe prestaria preito como desportista e Vimaranense, nomeando-o como Sócio Honorário. Com efeito, como escreveria e corroboraria o jornal Notícias de Guimarães de 4 de junho desse ano, "atingiu foros de consagração a justa homenagem da actual direção do Vitória Sport Clube, que marcou os anais do desporto vimaranense e acolhe-se como um belo exemplo de gratidão.

Na verdade o jogador do "Vitória", Virgílio Freitas, foi tão acarinhado pelas entidades oficiais, desportivas e público em geral, que estamos certos disso raramente tornar-se a gozar o prazer espiritual das horas

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Vergílio Freitas, imagem retirada de http://gloriasdopassado.blogspot.com/2008

que foram vividas na última quarta-feira".

Jogador muito voluntarioso e de inquestionável técnica, sobretudo com um excelente domínio de bola e reconhecida polivalência, Virgílio aliava a estas características preciosas virtudes pessoais de desportivismo sadio, qualidades muito apreciadas nos jogadores daquele tempo, particularmente pelo seu exemplo de correção e postura que, ao longo de toda a sua carreira, o orgulhariam de nunca ter sido castigado.

Ademais, sempre disponível para colaborar com o seu Vitória, Virgílio de Freitas serviria ainda o clube vitoriano como massagista na primeira presença na 1.ª Divisão e na Final da Taça de Portugal, em 1942.

Entretanto, em 1945/46, entre dezembro e maio, treinaria a equipa principal, substituindo Alberto Augusto e, na qualidade de treinador interino, cometeria a proeza de vencer o Sporting pela primeira vez, pelo score de 2-3, em jogo realizado em 31 de março de 1946.

Seria ainda treinador-adjunto durante alguns anos e em 1953/54 ganharia o primeiro campeonato de Juniores com Cândido Tavares.

In, O Clube do Rei -100 anos, 100 Cartoons, Miguel Salazar

Silveira, " capitão-mor do Vitória"

E, como filho de peixe sabe nadar, foi pai do antigo jogador António Freitas que jogou 7 épocas na primeira equipa, entre 1958/59 e 1965/66.

José Silveira Júnior, nasceu a 26 de setembro de 1926, em Angústias, nos Açores. Obviamente, como muitos dos jovens da sua idade começou a jogar futebol na adolescência e, com 16 anos (1942), na circunstância, nos juniores do Sport Clube da Horta, equipa onde se manteve dois anos, ascendendo posteriormente aos seniores, em 1944. Deste modo, manteve-se na sua ilha natal até 1952/53, ao serviço do clube açoriano, sagrando-se campeão da A. F. da Horta, nas épocas de 1949/50 e 1951/52. Na altura, curiosamente, era um extremo esquerdo com muita qualidade e foi recomendado ao Vitória por dois antigos jogadores açorianos que jogaram em Guimarães: Garcia (1944/45 a 1949/50); e o internacional português Joaquim Teixeira, que veio do Benfica (1946/47 a 1948/49).

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Silveira chega, portanto, a Guimarães com 26 anos para jogar no Vitória, com a incumbência do clube ter de lhe arranjar emprego.

Como tal, foi trabalhar para a Câmara Municipal de Guimarães, quando já tinha começado a época de 1952/53, mantendo-se em funções cerca de 10 anos até 1963. Estreia-se, porém, nessa mesma época, num jogo contra o Belenenses, a 28 de dezembro de 1952, no Restelo, quando Cândido Tavares era treinador do Vitória. Nessa fase inicial da sua carreira vitoriana, alinharia ainda em 13 jogos e marcaria dois golos, o primeiro dos quais a 8 de março de 1953, num jogo com a Académica, que terminaria com o resultado final de 6-1 e acabaria com o Vitória como 8.º classificado.

Na época seguinte de 1953/54, continua Cândido Tavares como treinador e Silveira realiza 16 jogos e marca 1 golo, terminando o Vitória como 8.º classificado.

Entretanto, em 1954/55, o Vitória contrataria o treinador Inglês Randolph Galloaway, que tinha sido tricampeão nacional ao serviço do Sporting. Nessa temporada, Silveira participaria em 24 jogos e marcaria 5 golos. Seria a única vez que marcaria 2 golos num só jogo, como aconteceria no encontro disputado a 13 de fevereiro de 1955 com o Sporting da Covilhã. Infelizmente, nessa época o Vitória seria o último classificado e desceria de divisão

Entrementes, na época de 1955/56, já na 2.ª divisão, o Vitória contratou o conceituado treinador Fernando Vaz, que fez Silveira recuar para defesa central e o promoveu-o a capitão da equipa. Porém, nessa época, o Vitória ainda não conseguiria a almejada subida ao escalão superior.

Na época seguinte, em 1956/57, um novo treinador vem orientar a equipa vitoriana: o argentino Óscar Tellechea. Todavia, no último jogo, que o Vitória tinha de ganhar, em Faro, o “team” vitoriano acabaria por empatar 2-2, com Barros a falhar um penalty nos instantes finais, gorando-se uma vez mais a subida ao convívio do escalão maior.

Entretanto, em 1957/58, o Vitória contratou, novamente, Fernando Vaz para treinador da equipa e a desejada subida ao convívio dos grandes consumar-se-ia, nos dois jogos de passagem ocorridos: o primeiro, no campo do Salgueiros, que o Vitória venceria por 2-1; depois, no segundo jogo, na Amorosa, com um empate a duas bolas.

Na época seguinte, em 1958/59, já com o novo treinador Mariano Amaro, o Vitória faria uma grande época e ficaria em 5.º lugar, com Silveira a disputar 24 jogos e o Vitória a ser convidado a apresentar-se na

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Silveira, na época de 1954/1955

África Austral (Angola, Moçambique e África do Sul).

Deste modo, no início da época de 1959/60, o Vitória faria uma nova digressão a África, desta feita com o treinador uruguaio, Umberto Buchelli, tendo realizado 17 jogos e vencido todos os encontros realizados em Angola e Moçambique e apenas empatado a partida realizada na África do Sul.

Um bom começo de temporada, que no Campeonato Nacional se saldaria pela conquista do 7.º lugar, com Silveira a realizar 28 jogos e a ser convocado para a Seleção Portuguesa, num jogo realizado, em Paris, a 11 de novembro de 1959. Contudo, Silveira não sairia do banco e a nossa seleção seria derrotada pela França por 3-0.

Em 1960/61, com o novo treinador Artur Quaresma, o Vitória posicionar-se-ia pela primeira vez em 4.º lugar e Silveira alinharia em 26 jogos.

Por seu turno, na época de 1961/62 o Vitória apostaria no mesmo treinador, que seria substituído por Rola, em março de 1962, e Silveira marcaria presença em campo em 27 jogos. Lamentavelmente, porém, após a euforia do ano anterior, saldar-se-ia por uma época abaixo das perspetivas, embora a equipa acabasse em 9º lugar.

Por sua vez, na época de 1962/63, o argentino José Valle é contratado para orientar tecnicamente o Vitória e reforça a equipa com muitos novos jogadores, especialmente os que vieram do Benfica, no negócio decorrente da venda de Pedras e Augusto Silva. Nessa altura, o Vitória assumiria o 6º lugar, com Silveira a disputar 22 jogos e o Vitória a ser finalista da Taça de Portugal, ainda que não tenha alinhado na final, devido a lesão.

Em 1963/64, com José Valle ao leme da nau da cidade-berço, o Vitória classificou-se novamente em 4º lugar e Silveira fez 13 jogos e realizou a última época ao serviço do Vitória, já com 38 anos.

Silveira, pela sua bonomia, ficaria ainda conhecido em Guimarães pela alcunha de "Chinchinha". Igualmente, pela sua postura afável e protetora como capitão da equipa, era considerado o patrono dos jovens

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jogadores, que ajudava a integrar. Conta-se até que, quando estes eram multados, Silveira intercedia por eles e ia falar com o tesoureiro do Vitória, o senhor Dias, no sentido de anular as multas.

Mas, no início da década de 60, Silveira não abandona totalmente o futebol. Com efeito, nas épocas seguintes, a partir de 1964/65, ingressa no F.C. de Vizela como treinador-jogador, mantendo-se até 1966/67, tendo ganho, nesse período, o Campeonato Nacional da 3.ª Divisão.

No fim dessa época vai viver e trabalhar para a Califórnia, nos Estados Unidos da América, onde a esposa foi professora, tendo aí falecido a 7 de fevereiro de 2008.

"O

vitoriano de Ponte da Barca"

Daniel Coutinho Barreto nasceu em S. Bartolomeu, Ponte da Barca, a 18 de junho de 1936 e foi uma das mais marcantes figuras da história do clube vitoriano e atleta que, ao longo da sua longa carreira, mais jogos participou ao serviço do Vitória.

De facto, Daniel cedo começou a dar nas vistas pela qualidade do seu futebol e a ser desejado por clubes locais. De tal forma que quase esteve prestes a meter os pés na bola no rival Sporting de Braga.

Daniel contaria: “Trabalhava de serralheiro com o meu avô, em Ponte da Barca (...) Um dia apareceu em Ponte da Barca um senhor que era empregado bancário e me levou ao Sporting de Braga. Meu pai, quando soube, não gostou porque era grande simpatizante do Vitória de Guimarães. Não me deixou continuar em Braga e trouxe-me para aqui, oferecendo-me de graça. E em boa hora o fez porque Guimarães é uma cidade acolhedora, de gente boa – é uma terra que tem um clube maravilhoso, um clube que ampara todos aqueles que vêm para cá (...)”

Daniel chegaria a Guimarães em 1953. Na altura foi trabalhar

in, o clube do rei, 100 anos 100 cartoons, de Miguel Salazar

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Silveira, na época de 1961/1962

na fábrica de toalhas na Cruz de Pedra, cujo dono era o presidente do Vitória, Antero Henriques da Silva, cujo salário era complementado pelo alojamento pago pelo Vitória na “Pensão Portugal”. Nesse mesmo ano, iniciar-se-ia na equipa de juniores, que na época de 1953/1954 venceria o Campeonato de Juniores do Minho.

Porém, Daniel só começou a ter salário do Vitória depois de estar cá há 6 temporadas. Eram outros tempos, que assim evocaria e contaria: “Estavam alguns jogadores a beber um fino no Júlio Martins e eu também queria beber e não tinha dinheiro. Comecei e a chorar e então os jogadores perguntaram-me porque estava eu a chorar. Eu disselhes que que não tinha dinheiro porque não ganhava nada no Vitória”.

Foi nessa altura que Fernando Vaz (treinador) chamou a direção e disse que eu deveria ganhar algum. A direção aceitou a sugestão e comecei a ganhar tanto como todos os outros jogadores, ou seja, 1.500$00 por mês (300 euros). Mas nas épocas finais já se faziam contratos de 5.000$00 por ano de luvas (750 euros).

Tínhamos também direito a prémios de jogo, que começavam nos 50$00 acabar nos 300$00”.

E recordaria ainda:

“No Campo da Amorosa, em 1961, a lotação esgotou e o prémio do jogo era 400$00 para os jogadores e isso rendeu ao Vitória cerca de 200 contos, o que era muito dinheiro.

Lembro-me que nesse jogo vencemos o Benfica por 2-1. Contra o Benfica os prémios eram mais altos, sem contar com o Sporting que queria que ganhássemos o que dava para ganhar mais uns tostõezitos, que tanto jeito faziam naquela época”.

Recorde-se que, nesse tempo, o Vitória venceu durante nove anos consecutivos ao Benfica, campeão Europeu...

No entanto, logo após a sua chegada, Daniel alternaria a sua presença assídua nos jogos, quer nos juniores quer na equipa principal, estreando-se com apenas 17 anos, a 19 de setembro de 1954, contra o Benfica, cujo resultado seria favorável às cores vitorianas por 2-1. Um jogador que começaria a jogar como interior esquerdo, mas que pela sua polivalência jogaria ainda como médio e

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Daniel e Peres

posteriormente defesa lateral esquerdo. De facto, num jogo em Santo Tirso, após João da Costa ter partido uma perna, Daniel recuaria para defesa esquerdo e aí se fixaria até ao fim da carreira.

Bons e maus momentos seriam então passados por Daniel nas sucessivas épocas ao serviço do Vitória. Por exemplo, na época de 1955/56, o Vitória passou a disputar a 2ª. divisão, Zona Norte, onde se manteria até a época de 1957/58, altura em que voltaria ao convívio dos “grandes”.

Posteriormente, sempre presente, na época de 1958/59, Daniel faria 18 jogos no Campeonato Nacional e 3 na Taça de Portugal, enquanto na época de 1959/60 realizaria 19 jogos, marcando 4 golos no campeonato nacional e outros 5 para a Taça.

Igualmente, no final desta época o Vitória deslocar-se-ia a África no início do mês de julho para realizar a primeira e grande digressão atlântica, que teve Luanda, em Angola, como destino. Uma digressão de vários jogos por todo o território angolano, que passaria também por um jogo em Moçambique e o último na África do Sul, que se saldaria por 16 jogos favoráveis ao Vitória e um empate no último encontro, sendo o único clube que não perdeu um jogo em África.

Por seu turno, na época seguinte 1960/61, Daniel alinharia em 23 jogos do campeonato nacional e 7 para a Taça de Portugal. É também nesta época que é convocado, conjuntamente com o João da Costa, para os treinos da seleção de esperanças e ambos desconvocados quando estavam a entrar no comboio: “fomos avisados que já não éramos precisos porque ia o Hernâni e outro jogador do Porto”.

Na época de 1961/62, apareceram as lesões e só faria 9 jogos para o campeonato e 2 apenas para a Taça.

Todavia, na época de 1962/63, Daniel fez uma grande época, tendo realizado 20 jogos para o campeonato e 10 para a Taça, tendo inclusive marcado um golo. Nessa altura, o Vitória estaria presente pela 2.ª vez na final da Taça de Portugal, realizada a 30 de junho de 1963, após ter sucessivamente eliminado o Sporting da Covilhã, Académica, Marítimo e o Belenenses, embora haja sido derrotado pelo Sporting pelo score de 4-0, na final disputada no Estádio Nacional. Uma equipa na qual alinharam Roldão, Caiçara e Daniel; João da Costa, Manuel Pinto e Virgílio Gomes; Paulino, Peres, Lua, António Mendes e Armando Silva.

Daniel continuaria firme na equipa vitoriana ao longo das épocas seguintes. Assim, nos anos de 1963/64

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realizaria 26 jogos, 6 dos quais para a Taça de Portugal e no fim da época faria com o Vitória uma digressão aos Estados Unidos da América, deslocação que acompanha também no final da época 1965/1966, desta feita rumo à Venezuela.

Daniel seria ainda um jogador da primeira linha vitoriana nas épocas seguintes, nomeadamente naquela época áurea de 1968/1969 em que o título nacional esteve à vista! De facto, sob a orientação do brasileiro Jorge Vieira, que montaria uma equipa de forte coesão defensiva com os laterias Gualter e Daniel e os centrais Manuel Pinto e Joaquim Jorge, com Rodrigues na baliza, o Vitória seria a melhor defesa da prova com apenas 17 golos sofridos e o 2º. melhor ataque com 46 golos marcados, entre os quais se contava o artilheiro Manoel, o 2º melhor marcador do campeonato com 18 golos. Nessa época, o Vitória conquistaria o 3º lugar no campeonato nacional e o acesso às competições europeias, cuja estreia se efetuaria com a equipa checa do Banik de Ostrava. Daniel continuaria no Vitória até 1969/70, terminando a sua carreira após uma expulsão no Funchal que lhe valera 6 jogos de castigo. Nessa ocasião, a direção do Vitória prestar-lhe-ia uma digna e merecida Festa de Homenagem, realizada 21 de novembro de 1969.

Daniel passaria ainda como jogador-treinador pelo Fafe, Desportivo de Aves e técnico de clubes como o Paços de Ferreira, Penafiel, Tirsense e S. Martinho do Campo.

Todavia, regressaria ao ativo vitoriano na segunda metade dos anos 70 como treinador adjunto de Fernando Caiado e posteriormente com Mário Wilson, anos após os quais se dedicaria ao treino das Velhas Guardas do Clube e ao seu estabelecimento comercial, com uma “boutique” e um armazém de malhas, até ao seu falecimento em 10 de novembro de 2018.

Ernesto

Paraíso - O

primeiro jogador brasileiro a vestir a camisola do Vitória

Ernesto Paraíso nasceu a 5 de julho de 1932, em Ilhéus, São Salvador da Baía e foi o primeiro jogador brasileiro a vestir a camisola vitoriana. Ernesto chegou a Portugal a 29 de agosto de 1955, e foi o pioneiro de muitos excelentes jogadores que passaram por Guimarães, entre os quais Edmur, Carlos Alberto, Caiçara, Rodrigo, Djalma, Morais, Manuel e Jeremias, entre muitos outros que recordamos, como Paulinho Cascavel, ou Ademir Roldão.

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Recorde-se que o Vitória tinha descido de divisão na época de 1954/55 e desejava constituir uma equipa forte para subir de divisão quanto antes. Porém, tudo começaria mal na primeira fase, com quatro resultados negativos (3 derrotas e um empate), pelo que a direção em exercício tinha de fazer alguma coisa para inverter a situação. Ora, nessa altura, fazia parte da direção do Vitória o Sr. Alberto Pimenta Machado Júnior, que entrou em contacto com o primo António Pimenta Machado, que residia no Brasil. A ideia era contratar um avançado que pudesse alterar o rumo dos acontecimentos. Ernesto seria, assim, convidado a vir para Guimarães, cujo passe custaria aos cofres do Vitória 35.000$00, acrescido de luvas ao jogador de 20.000$00 e um salário de 1.800$00 mensais, complementado pelo alojamento.

Consumada a transferência, Ernesto estrear-se-ia na 5.ª jornada, no Campo da Amorosa, num jogo com o Leixões, no qual o Vitória venceria por 5-2. Na estreia, Ernesto faria 3 golos, iniciando-se uma recuperação notável do Vitória, com 5 vitórias seguidas, o que levou as cores vitorianas a ascender ao 1.º lugar da Zona Norte! Deste modo, o Vitória recuperaria e acabaria a fase final em 2.º lugar e como tal, teve de fazer os jogos de passagem com a Académica, penúltimo classificado da I Divisão. No entanto, no primeiro jogo de passagem, Ernesto fraturou o perónio que o impediu de dar o seu contributo à equipa. Deste modo, gorara-se a hipótese de subida face aos resultados verificados (1-1 em Guimarães e derrota por 1-0 em Coimbra).

Na época seguinte, em 1956/57, o Vitória começaria o campeonato com a clara intenção de subir de divisão e ficaria em 1.º lugar na Zona Norte. Todavia, na fase final e no jogo decisivo em Faro, face a um triunfo necessário e imperiosidade de vencer, o Vitória não foi além de um empate 2-2, com Barros a falhar uma grande penalidade nos instantes finais do encontro. E mais uma vez, infelizmente, não conseguimos subir.

Contudo, na época de 1957/58 tudo correria melhor para o Vitória e para Ernesto que fez 33 jogos e marcou 45 golos. Uma marca importante que se saldaria ainda pela façanha de 6 “tripletes” ou “hat-tricks” em 6 jogos diferenciados, bem como 8 jogos em que bisaria as redes adversárias. Ernesto consagrar-se-ia como o melhor marcador de todos os campeonatos nacionais a nível individual e contribuiria de sobremaneira para a equipa do Vitória ter vencido a Zona Norte do campeonato da II Divisão. Desta feita, porém, e

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na fase seguinte, o Vitória terminaria em 2.º lugar, após os jogos de passagem com o Salgueiros, nos quais se registaria um triunfo no Porto por 2-1 e um empate em Guimarães, por 2-2, que novamente nos guindou à I Divisão.

Assim, na época de 1958/59, já na I Divisão, o Vitória seria reforçado por mais 2 brasileiros: Edmur e Carlos Alberto. Faria então um bom campeonato, ficando em 5.º lugar, com Ernesto a faturar 15 golos em 18 jogos, logo atrás de Edmur que marcaria 17 golos.

Na época de 1959/60, o Vitória começaria com uma digressão a África, na qual efetuaria diversos jogos e Ernesto marcaria alguns golos. Nesta época, vem também para o Vitória mais um brasileiro: Caiçara. Porém, como nessa altura só podiam jogar 3 estrangeiros, o treinador Humberto Buchelli, optou preferencialmente por Edmur, Carlos Alberto e Caiçara, pelo que Ernesto só fez 6 jogos e marcou apenas um golo.

Iniciar-se-ia, em 1960/1961, um processo de menorização de Ernesto, apesar da sua adquisição da nacionalidade portuguesa, que permitiria a sua manutenção na equipa. Com efeito, não obstante o desbloqueamento legal, Ernesto só alinharia em 11 jogos e marcaria tão-somente 3 golos, embora o Vitória acabasse por se posicionar num honroso 4.º lugar.

Cartoon de João Soares

Na época seguinte, em 1960/61, o treinador Artur Quaresma renovou com o Vitória e dispensou diversos jogadores, entre os quais Ernesto, a despeito da massa associativa vitoriana ter manifestado o seu desagrado pela dispensa e decisão tomada.

A partir daqui, Ernesto representaria diversos clubes como o Leixões, Braga, Famalicão, Vizela e Riopele, treinando ainda diversas equipas da região.

Ernesto Paraíso faria ainda parte da direção do Vitória nas épocas de 1978/79 e 1979/80, sob a presidência de Gil Mesquita e por cá ficaria até ao fim dos seus dias, reconhecidamente distinguido como uma velha glória das hostes vitorianas.

Edmur- o primeiro internacional brasileiro a jogar em Portugal

Edmur Pinto Ribeiro, nasceu a 29 de Setembro de 1929, em Saquarema-RJ, Brasil, e começou a jogar futebol na formação, no Juventude CR, em Fonseca, na época de 1948/49. Posteriormente, já com 18 anos,

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ingressa no Clube de Regatas do Flamengo RJ e, de seguida, em 1949/50, transfere-se para novo clube, concretamente para o Canto do Rio F.C., onde se manteve durante duas épocas.

Entretanto, na época de 1951/52, Edmur entra no Clube de Regatas Vasco da Gama, pela mão do treinador Otto Glória, mantendo-se mais uma época e consagrando-se "Campeão Carioca", com 8 golos marcados à sua conta. Entrementes, na época de 1953/54, mudase para para São Paulo para jogar na Associação Portuguesa dos Desportos, onde se manteve até 1958. Nesse período, especificamente em 1955, Edmur é o melhor marcador do torneio Rio - São Paulo, com 11 golos apontados, e é convocado para a seleção brasileira. Deste modo, alinha no jogo contra o Paraguai, a 17 de Novembro de 1955, vencendo a Copa Oswaldo Cruz.

Porém, o ano de 1958 torna-se uma época de viragem. Com efeito, o futebolista vai jogar para o Clube Náutico Capibaribe, no Recife, onde seria companheiro de Caiçara, que, mais tarde, também rumaria ao Vitória.

Edmur chegou a Guimarães para jogar no Vitória em Agosto de 1958, após o regresso do clube vitoriano à 1.ª Divisão. Era então um jogador muito consagrado no Brasil, que viria até nós na companhia de Carlos Alberto e do luso-brasileiro Celú, filho de pai português , enquanto atletas recomendados por Pimenta Machado, vimaranense radicado em terras brasileiras. Na altura, Edmur tinha já 29 anos, mas ainda veio a tempo de mostrar a sua mais-valia e a veia goleadora.

Assim, na circunstância, graças a luvas no montante de 100.000$00 e o ordenado de 3.500$00, transfere-se para terras vimaranenses e impõe-se entre nós, iniciando um percurso no Vitória que começa de uma forma admirável. Com efeito, na época de 1958/59,

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com o treinador Mariano

Amaro, Edmur brilha logo na estreia, a 21 de Setembro de 1958, no jogo com o Belenenses, que o Vitória venceu por 3-0, com 2 golos faturados à sua conta. De facto, logo nessa temporada, somaria 23 jogos ao serviço da equipa e marcaria 19 golos, contribuindo para o Vitória alcançar, pela primeira vez, o 5º. lugar da classificação geral. Data também dessa época a deslocação do Vitória a África, na qual Edmur mostrou mais uma vez as suas qualidades goleadoras.

Na época seguinte, em 1959/60, com o novo treinador Umberto Buchelli, o Vitória alcançaria o 7.º lugar da classificação geral. É também a temporada do primeiro hat-trick de Edmur, obtido num jogo disputado em 21 de Setembro de 1959, no qual o Vitória venceu o Lusitano de Évora por 7-0. Esta seria de facto a época de "OURO" de Edmur, pois venceria a Bola de Prata, por ser o melhor marcador do Campeonato Nacional - 25 golos em 25 jogos, à média de um golo por jogo. Edmur foi o primeiro jogador a vencer o troféu, de Lisboa para cima, e o primeiro estrangeiro a ganhar o mesmo.

A época de 1960/61 é a última que realiza com a camisola do Vitória, com novo treinador, Artur Quaresma, na liderança. Nesta temporada, Edmur assina um poker a 11 de Dezembro de 1960, num jogo em que o Vitória venceu o Sporting de Braga por 4-0 e atinge a marca de 50 golos ao serviço do clube. O Vitória fez uma excelente época, neste ano, e terminaria num honroso 4.º lugar da tabela classificativa. Na altura, Edmur realizou 23 jogos e marcou 15 golos, acabando no fim da época por ser transferido para o Real Clube Celta de Vigo, de Espanha, que militava na 2.ª divisão. Ali, na Galiza, alinharia em 14 jogos e marcaria 2 golos, ajudando a equipa a vencer o troféu "Emma Cuervo".

Mas, na época de de 1962/63, o futebolista regressa a Portugal, já com 33 anos, e vai jogar para o Leixões, onde faz 26 jogos e marca 7 golos. Regressa, então, ao Brasil, em 1963, à Portuguesa de SP, e neste mesmo ano vai jogar para a Venezuela, no Desportivo de Itália e Deportivo de Petare, alinhando na Copa Libertadores da América com a bonita idade de 36 anos. Inicia,

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depois, a carreira de treinador, no Brasil, ao serviço do Náutico, regressando pouco depois a Portugal, fixando residência em Guimarães. Deste modo, passa a orientar tecnicamente equipas várias da zona, como os Aliados F. C. de Lordelo, a A. D. de Fafe, o Gil Vicente F.C., a União S.C. de Paredes e o A.R. São Martinho.

Depois de alguns anos a residir em Guimarães resolve regressar ao Brasil, onde veio a falecer a 25 de Setembro de 2007.

Entretanto, a 15 de Dezembro de 2007, aquando das comemorações do 85º aniversário do Vitória, seria inaugurada a "Sala dos Troféus", denominada de "EDMUR", tendo a sua família oferecido ao Vitória a "Bola de Prata" ganha em 1959/60, pelo que o jogador fica indelevelmente ligado ao clube e à cidade.

Peres - o "grande capitão”

António Francisco Jesus Moreira, "Peres" por alcunha da família, por ser descente da Galiza, nasceu na freguesia de Candal, Vila Nova de Gaia, a 3 de fevereiro de 1939.

Peres começou a sua carreira futebolística a jogar nos juniores do Clube Desportivo de Candal, em 1954, alternando, no decurso da temporada de 1957/58, o alinhamento nos juniores e na equipa sénior. Nessa altura, começaria a mostrar as suas qualidades técnicas, em especial no que concerne ao seu passe e remate com a parte exterior do pé esquerdo, que lhe valeu o epíteto de "Puskas de Candal".

Ora, como é óbvio, as suas capacidades futebolísticas deram nas vistas e atraíram a cobiça dos chamados grandes, particularmente por parte do F.C. do Porto e do Benfica. Como tal, assinaria contrato com o clube de Lisboa, a 1 de outubro de 1958, recebendo do Benfica a quantia de 150.000$00 e mais um jogo de futebol no seu campo, ao passo que Peres receberia o mesmo valor de luvas.

No Benfica, Peres fez 3 épocas, duas das quais nas reservas, ainda que, na última, tivesse alinhado dois jogos na primeira equipa: a 30 de abril de 1961, no F.C. Porto, 3 - Benfica, 2; e a 7 de maio, no jogo da Taça de Portugal (Benfica, 3 - Vitória de Setúbal, 1), marcando um dos golos. Recorde-se que, nos anos em que esteve no Benfica, Peres estava tapado por grandes jogadores como Santana, Coluna e Mendes entre outros. Em 1961/62, o futebolista é emprestado ao Atlético, onde fez 27 jogos e marcou 5 golos, enquanto a equipa ficaria classificada em 6º. lugar no Campeonato da 1.ª Divisão. Na altura, Peres faria ainda um jogo pela Seleção Militar.

Na época seguinte, 1962/63, o Benfica mostrou interesse na contratação de Augusto Silva e Pedras, ambos jogadores do Vitória. O negócio consumar-se-ia pelo montante de 1.200.000$00 e a cedência dos jogadores Peres (que regressaria ao norte do país), Manuel Pinto, Mendes, conhecido por "Pé-Canhão", e Teodoro; deste negócio ainda fazia parte o empréstimo de Zeca Santos, Fonseca e Testas. Nessa temporada,

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o Vitória iria buscar para treinador José Valle e remodelaria completamente a equipa. Uma época em que o Vitória faria uma grande época, firmando-se na sexta posição da classificação geral, e, simultaneamente, apurando-se para a final da Taça de Portugal, ainda que tenha sido derrotado pelo Sporting por 4-0. Porém, foi um apuramento épico, que ocorreria depois de eliminar o Belenenses no 3.º jogo, em Coimbra, com o resultado final de 3-1, pois a 6 minutos do final da partida o Vitória perdia por 1-0, com menos um jogador, devido a lesão do capitão Silveira, num jogo realizado quatro dias antes da final.

Na época de 1963/64, Peres foi promovido a capitão, a substituir Silveira que deixou o Vitória. Na altura, fez 27 jogos e marcou 9 golos, ao passo que o Vitória conseguiria, pela segunda vez, um 4.º lugar, no campeonato.

Por seu turno, em 1964/65, o Vitória fez a primeira digressão aos Estados Unidos da América, deixando uma boa imagem. Uma época coincidente com a última de José Valle, na qual o Vitória fez o primeiro jogo no Estádio Municipal, a 3 de janeiro de 1965, que se saldaria pelo triunfo do Vitória por 2-1, perante o Belenenses. Nessa época, Peres faria 23 jogos e marcaria 10 golos, enquanto o Vitória se classificaria em 7.º lugar. Época de 1965/66

Na época de 1965/66, chegou a Guimarães um novo treinador, de nome Jean Luciano, de nacionalidade francesa, tendo-se o Vitória classificado, novamente, em 4º. Lugar e Peres fez 26 jogos e marcou 14 golos. Na temporada seguinte, o Vitória manteve o treinador e fez a primeira deslocação à Venezuela, tendo participando num torneio denominado "Taça do Mundo". Nessa competição, o Vitória ganharia ao Lázio de Roma por 3-1, mas perderia a final com o Valência de Espanha por 3-0. Todavia, no campeonato nacional, o Vitória terminaria em 6.º lugar e Peres faria 20 jogos, marcando 4 golos.

Na época de 1967/68, veio para o Vitória um novo treinador, "Juca", ou seja, Júlio Pereira, que manteve Peres entre os escolhidos. Deste modo, o jogador fez 27 jogos e marcou 3 golos, enquanto o Vitória

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alcançaria o 6.º lugar, no Campeonato nacional.

Época de 1967/68

Contudo, a primeira grande época do Vitória foi a de 1968/69, quando chegou um novo treinador que revolucionou por completo o futebol vimaranense: foi o brasileiro Jorge Vieira. O novo técnico alcançaria, pela primeira vez, o 3º lugar e poderia ter atingido outra classificação, se não fossem as arbitragens tendenciosas, especialmente no Restelo e nas Antas. Na circunstância, Joaquim Jorge seria considerado o melhor jogador do campeonato e o clube teria a melhor defesa, com apenas 17 golos sofridos, numa época em que Peres marcaria presença em 23 jogos, nos quais marcaria 4 golos.

Entrementes, na época de 1969/70, Peres manteve-se presente entre os escolhidos e o Vitória fez a estreia nas competições europeias, realizando o primeiro jogo em Guimarães, a 10 de setembro de 1969, perante o Banik d’Ostrava, que venceria por 1-0, não obstante ter sido eliminado na 2.ª eliminatória pelos ingleses do Southampton. Foi uma época que começaria com o brasileiro "Giba" Cardoso, que adoeceria, e teve de regressar ao Brasil, falecendo pouco tempo depois. Foi substituído por Fernando Caiado e o Vitória acabaria em 5.º lugar e Peres faria 28 jogos e marcaria um golo, continuando o Vitória a marcar presença nas provas europeias.

Na época seguinte, em 1970/71, a última em que Peres representou o Vitória no terreno de jogo, já com 32 anos, regressou ao clube Jorge Vieira. Porém, a época correu muito mal, devido a lesões em jogadores chave, castigos, e à interdição do estádio. Perante tal cenário, o treinador seria substituído por Peres (lesionado) e, nos últimos 9 jogos, acabaríamos por nos salvar da descida de divisão no último jogo, nas Antas, com um empate 0-0, perante o Porto.

Na época de 1971/72, Peres passou a desempenhar as funções de secretário-técnico e dedicou-se a tempo inteiro à firma comercial Damião & Peres, em sociedade com o dirigente do Vitória, Damião. Anos depois, concretamente em 1974/75, Peres foi treinar o F. C. de Famalicão e mais tarde regressou ao Vitória para ser diretor do futebol juvenil, na direção de Pimenta Machado.

Hoje, já reformado, continua a viver na nossa cidade.

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Gualter - alma até almeida

Manuel Gualter Martins da Costa nasceu a 6 de agosto de 1945, na segunda-feira das Festas Gualtarianas, situação que motivou o nome Gualter, o patrono das festas da cidade.

Gualter nasceu paredes-meias com o Castelo de Guimarães e, como todos os rapazes da sua idade, logo que cresceu começou a jogar a bola nos campos improvisados das redondezas.

Como é óbvio, os estádios da altura eram no campo de S. Mamede, o Largo de S. Francisco ou Largo de S. Gualter e os terrenos aonde seria construído o estádio municipal, atual D. Afonso Henriques.

De facto, com 14 anos, Gualter foi trabalhar para uma oficina de automóveis ali para os lados do Estádio, pelo que, ocasionalmente, quando podia escapar ao trabalho, ia assistir aos treinos na Amorosa. Ora, quando chegou aos dezassete anos, perto de completar os dezoito, Gualter faltaria um dia ao trabalho, sob o pretexto de uma consulta médica.

A doença era, contudo, a bola e como tal foi treinar ao Campo da Amorosa, no escalão dos juniores do VSC, sob a orientação do senhor Augusto Barreira, que viu nele aptidões para alinhar na equipa do Vitória. Assim, como trabalhava, treinava às 6 da manhã, uma vez que entrava na oficina às 8,30 horas, auferindo, na altura, 40$00

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1960 Equipa Rua D. João I DE PÉ: Eduardo “Diabo”; Gualter; Tónio Lopes e Toneca. EM BAIXO: Carlos “Carica”; Sabú; João “Mateu” e Moura. 1962/63 JUNIORES DE PÉ: Gualter; Fareja; Portas; Augusto Barreira (Treinador); Martinho; Manuel Freitas e Freitas. EM BAIXO: Marau; Zé Maria; Carlos Alberto; Castro e Araújo

por cada treino e jogos, enquanto na oficina mecânica ganhava 10$00 por dia...

Entretanto, na época seguinte, em 1963/64, o moço da oficina sobe a sénior e começa a jogar nas reservas. Porém, em Janeiro de 1965, surgiria o ensejo de dar um salto em frente, quando o brasileiro Caiçara se lesionou. Era a oportunidade esperada para o jovem talentoso e cheio de ambições que, desde o ínicio, não se fez rogado em seguir e imitar abnegadamente os passos do seu antecessor. Com efeito, dotado de uma vontade indómita, Gualter tudo fez para que não mais se lembrasse Caiçara! E a primeira chamada seria de fogo, em 10 de janeiro, no Estádio da Luz, logo com o Benfica! Um jogo no qual o onze da Luz venceria o Vitória por um expressivo 4-0, com 3 golos à conta de Eusébio.

Época de 1967/68 1965/66 - Artur e Gualter, jogadores de Guimarães, formados no Vitória

Entrementes, no primeiro jogo em Guimarães, disputado em 31 do mesmo mês, no qual o Vitória golearia o Varzim por 7-1, Gualter agarra a titularidade e acaba a época participando em 11 jogos, mantendo-se como titular indiscutivel até a época de 1968/69. Data desta mesma época o único golo apontado como profissional, em jogo ocorrido em Guimarães, a 24 de novembro de 1968, no qual o Vitória triunfaria contra

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o Belenenses por 2-0. Nesta última época, o jogador vimaranense ajuda o seu Vitória a conquistar, pela primeira vez, o 3.º lugar na classificação geral. Ademais, seria ainda convocado para a seleção militar, no ano de 1964, disputando 5 jogos , enquanto ao serviço do Vitória, no decurso de 5 épocas, realizaria 116 jogos: 100 no campeonato nacional e 16 na Taça de Portugal.

Em 1969/70 ingressa no F. C. do Porto, com alguma polémica à mistura, porquanto haveria outros clubes interessados nos seus serviços, como o Benfica e o Belenenses. Deste modo, contratado pelos azuis e brancos, alinharia nas Antas durante 5 épocas, onde permaneceria até 1973/74.

Doravante e a partir da aventura portista, depois de 1974/75 e até à época de 1976/77, transfere-se para o F. C. de Famalicão e, posteriormente, jogaria no F.C. da Lixa, Vizela e outros clubes da região norte.

MILITAR”

Gualter era um lateral direito moderno, que corria todo o corredor direito, defendendo e atacando sempre com muita qualidade. Um jogador que se caracterizava sobretudo pela sua valentia, voluntariedade, velocidade e reflexos nas desmarcações, que o tornaram um elemento preponderante no sistema tático das

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1964 – “SELEÇÃO EM PÉ: Malta da Silva; Alexandre Baptista; Melo; Gualter; Gonçalves e Celestino EM BAIXO: Guerreiro; José Maria; Nelson; Carriço e Castro

equipas onde jogou, dons individuais aos quais ajuntaria um extraordinário poder de recuperação.

"Neca" Gualter, assim era conhecido pelos amigos de infância, deixou-nos a 29 de Julho de 2015 poucos dias antes de completar 80 anos.

Torres - o capitão esquecido

José Alberto Martins da Siva Torres nasceu a 19 de abril de 1949, na Rua D. João I, a escassos metros de uma das casas que serviu de sede ao Vitória, tendo-se iniciado futebolisticamente nas Escolas de Futebol, em 1960, sob a orientação do treinador vitoriano Artur Quaresma.

Em 1964/65, começou a jogar nos principiantes/juvenis do Vitória, sagrando-se campeão da A.F. de Braga, bem como na época seguinte. Ascendeu, então, à equipa dos juniores, na época de 1966/67, ajudando igualmente a conquistar o Campeonato Regional de Braga, por vezes alternando com jogos da equipa de reservas, também campeã regional. Na época seguinte, continuou a jogar nos juniores e nas reservas, sendo campeão regional nesta categoria e começou a treinar com a equipa principal. Porém, na época de 1968/69, continuaria a jogar nas reservas, participando no Campeonato Regional de Braga e no Campeonato de Reservas do Norte.

No entanto, na temporada de 1969/70, embora se tivesse mantido a jogar nas reservas, fez um jogo na equipa principal, cuja estreia ocorreria em Guimarães, a 26 de outubro de 1969, numa partida em que o Vitória venceu a CUF por 4-0 e que seria disputado às 11 horas da manhã, tendo em vista a transmissão televisiva, na RTP.

Torres, Época de 1964/65

Contudo, a despeito da estreia no escalão maior, na época de 1970/71, Torres continuou a jogar nas reservas, mas fez um jogo na equipa principal, no Restelo, a substituir Manuel Pinto, que saiu lesionado, num jogo realizado a 13 de setembro de 1970. Todavia, nesta mesma época, o jovem Torres “assenta praça” para cumprir o serviço militar e é emprestado ao Vizela que, na altura, jogava uma liguilha de subida à 2.ª divisão. Aí, em Vizela, continuou a jogar na 3.ª divisão até embarcar para Moçambique, a 6 de novembro de 1971, território em que esteve sem competir durante 18 meses e permaneceu em zona operacional até abril de 1973. Porém, colocado posteriormente em Mocuba, passaria a jogar, na Associação Recreativa de Mocuba, até ao fim da comissão, regressando seguidamente a Portugal e ao Vitória, alinhando ainda em dois jogos.

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Torres - época de 1976/77, imagem de um Poster da época

Na época de 1974/75, firmou-se como titular e fez 26 Jogos com Rui Rodrigues como companheiro do eixo defensivo, sendo Mário Wilson o treinador. A titularidade prosseguiu na época seguinte com o novo treinador, Fernando Caiado, e o central realizou 32 jogos, no campeonato e Taça de Portugal, sendo finalista da competição que o Vitoria perderia com o Boavista por 2-1, nas Antas, naquela competição que ficaria pejorativamente conhecida como a "TAÇA GARRIDO", nome do árbitro do encontro.

Na época de 1976/77, continuou Fernando Caiado como treinador e ingressou no Vitória o brasileiro Celton que veio substituir Rui Rodrigues. Todavia, Torres mantém a sua posição de central e reforça o seu estatuto, na equipa, passando a assumir as honrosas funções de capitão da equipa e alinhando em 33 jogos.

Em 1977/78, regressa Mário Wilson como treinador vitoriano e o capitão Torres marca presença em 29 jogos, a que se segue, no ano seguinte, a despedida ao serviço do Vitória, com 17 jogos realizados.

Deste modo, ainda sem arrumar as chuteiras, nas épocas de 1979/80 até 1983/84, Torres ingressou no Varzim Sport Clube, efetuando 112 jogos. Começou, depois, na Póvoa de Varzim, em 1984/1985, na I Divisão Nacional, a sua carreira de treinador, ao serviço da equipa poveira, embora no ano seguinte, tenha mudado de ares para as margens do Cávado e Gil Vicente, novamente como orientador técnico.

Torres, na época de 1978/79 In Coleção de Cromos do Jornal A BOLA

O regresso ao Vitória consumou-se na época seguinte, em 1986/87, para integrar a equipa técnica de Marinho Peres e Paulo Autuori, numa temporada memorável para o clube vitoriano que fez talvez a melhor época de sempre: o 3.º lugar da classificação geral. Uma temporada na qual a equipa do Vitória alcançaria ainda aos quartos de final da Taça da UEFA, eliminando sucessivamente o Sparta de Praga, o Atlético de Madrid e F C. Groningen, acabando eliminado pelo Borussia de M´gladbach.

Na época de 1987/88, Torres mantém-se no Vitória como adjunto da equipa técnica, primeiro com René Simões e depois com António Oliveira, acabando a época como treinador principal, orientando a equipa, nos

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últimos jogos e na final da Taça de Portugal, que perderia com o F.C. do Porto por 1-0. Na época de 1988/89, Torres segue o rumo insular e desloca-se para o Nacional da Madeira como adjunto de Paulo Autuori. Porém, na época seguinte regressa ao Vitória liderado por Paulo Autuori, mantendo-se entre nós até 1990/91, a despeito de não ter acabado a época. Assim, a dupla voltaria às ilhas, desta feita ao serviço do Marítimo, onde se mantiveram até 1994/95.

Na época de 1995/96, recomeçou a sua carreira futebolística, como treinador principal no Penafiel, durante 2 épocas, e, posteriormente, no Nacional, Paços de Ferreira, Varzim e Paredes. Depois, nos anos de 2002 a 2004, dá um salto até Angola e vai treinar o Progresso de Sambizanda e em 2005 o Petro de Huambo, onde põe terminus à sua carreira de treinador.

Passa, posteriormente, uns tempos na função de comentador desportivo da SportTV, até à sua retirada para a Póvoa de Varzim onde reside ...

Neno - o vimaranense

de Cabo Verde

Adelino Augusto Graça Barbosa Barros, mais conhecido por "NENO", nasceu em 27 de janeiro de 1962, na linda cidade da Praia, Ilha de Santiago, em Cabo Verde.

Neno veio para Portugal europeu com a família, em 1975, ficando a viver na margem sul do Tejo a partir desse ano, mais concretamente, no Barreiro. Aí, a sua apetência pelo futebol começaria a despontar, situação que o levaria a alinhar no Santoantonense, Vila de Santo António da Charneca, inicialmente nos Sub - 15, em 1975/76, e, posteriormente, nos Sub -17, na época de 1977/78.

Porém, nessa mesma temporada de 1978/79 ingressaria ao Barreirense, ainda nos Sub - 19, onde faria duas épocas, subindo à equipa principal em 1980/81, em cuja equipa se manteria até 1983/84, na altura na 2.ª Divisão Nacional. Entrementes, as suas atuações não escapam aos olheiros e Neno passa a ser cobiçado por diversos clubes, acabando por ingressar no Benfica, que o emprestaria ao Vitória, em substituição de Silvino, que regressaria ao clube de Lisboa.

Destarte, a estreia de Neno com a camisola do Vitória aconteceria tão-somente na 11 ª jornada do Campeonato Nacional, cujo resultado final se cifraria por um triunfo (2-1) do Vitória, frente à Académica. Deste modo, após este jogo, Neno agarraria a titularidade da baliza vitoriana até ao final da época.

Na época seguinte, em 1986/87, Neno regressa ao sul e vai jogar para o Benfica, onde permanece duas

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Neno,

épocas, até 1987/88, ainda que apenas tenha alinhado em escassos dois jogos, um em cada temporada. Tal facto, impele-o, então, a ser novamente emprestado, desta feita a outro Vitória, o de Setúbal. Todavia, perante a exígua utilização na defesa da sua baliza, pois alinharia somente em oito jogos, mostra-se descontente com a situação e, determinado e audaz como era, pede o regresso às redes do Vitória de Guimarães, a cujo serviço faria duas épocas, a primeira das quais em 1988/89, que coincide com a conquista da Supertaça Cândido Oliveira. De facto, nessa altura, o Vitória derrotaria, em casa, o F.C. Porto por 2-0 e empataria, nas Antas, 0-0 e Neno deslumbraria os adeptos e desportistas com grandes exibições, obtendo, nessa época, o prémio "SOPROL", atribuído ao jogador mais pontuado do Jornal “A Bola”. Nessa temporada, alinha também nos primeiros jogos das competições europeias, na Taça das Taças, enfrentando o clube holandês do Roda, não obstante a eliminação do Vitória nesta primeira eliminatória: derrota 2-0, na Holanda, e vitória (insuficiente), em Guimarães, por 1-0. Ademais, este período da sua carreira coincidiria também com a sua convocação para a seleção Nacional A, malgrado Portugal, sob a alçada de Juca, ter sido goleado pelo Brasil, no Maracanã, por um expressivo 4-0, em 8 de junho de 1989. Entretanto, em 1989/90, Neno faz uma grande época e o Vitória fica em 4.º lugar, regressando às provas da UEFA. Consequentemente, em 1990/91, Neno regressa ao Benfica e seria Campeão Nacional, alternando a baliza com Silvino, situação que se manteria em 1991/1992, numa época em que o Benfica terminaria em 2.º lugar. Conquistaria, porém, a Taça de Portugal, em 1992/1993, na defesa da baliza do Benfica. Assim, na época seguinte, reconquista a titularidade da baliza encarnada e é Campeão Nacional, realizando 33 jogos em 34 jornadas. Perderia, porém, a titularidade das redes benfiquistas em 1994/1995, perante um dos melhores guarda-redes europeus, chamado Preud’Homme. Regressa, então, a Guimarães, na época de 1995/96, na companhia de Vítor Paneira. Todavia, na primeira volta, sob a batuta do treinador

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Neno com a Taça de Portugal cantor romântico

Vítor Oliveira, os resultados acabam por não correr bem ao Vitória. Obviamente, dá-se a famigerada “chicotada psicológica” e o Vitória teve de mudar de treinador, contratando Jaime Pacheco, que consegue conduzir o Vitória a uma grande reviravolta e a transformar-se na equipa nacional que mais pontos somaria nessa segunda volta. Porém e como no melhor pano cai a nódoa, nesta mesma época, ocorreria também o pior jogo de toda a sua carreira. Foi num jogo contra o Benfica, em que o Vitória vencia ao intervalo por 2-0. Contudo, nos primeiros 15 minutos da segunda parte, Neno e os seus companheiros sofrem 3 golos quase de rajada, acabando o resultado final em 2-4, favorável às águias. Quiçá por isso, na jornada seguinte, Nuno substituiria Neno até ao final da temporada. Recorde-se que, nesses tempos, Neno era já suplente de Vítor Baía na seleção nacional, onde faria alguns jogos, não obstante não ter sido convocado para a fase final do EURO96, realizado na Inglaterra.

A reconquista da baliza do Vitória acabaria por acontecer na época seguinte. Deste modo, realizaria 32 jogos e já com 34 anos conquistaria o prémio "Nova Rede" do jornal A Bola, atribuído ao jogador mais regular do Campeonato Nacional. Nesta mesma época, Neno faria uma grande exibição em Itália, no jogo com o Parma, no qual o Vitória perdeu por 2-1, depois de ter ganho, em Guimarães, por 2-0.

Na época seguinte, em 1997/98, ingressa no Vitória o guarda-rede Pedro Espinha, que relegaria Neno para o banco dos suplentes, lugar em que se manteria mais uma época, deixando de jogar futebol aos 37 anos, na época de 1998/99.

Porém, após arrumar as chuteiras, Neno manter-se-ia ligado ao Vitória em diversos cargos: Diretor Desportivo, Secretário Técnico, Relações Públicas, Treinador de Guarda-Redes. Acrescente-se que, em 2013, o Vitória conquistaria a Taça de Portugal, altura em que Neno exercia as funções de Diretor Desportivo. Posteriormente assumiria funções de Diretor de Marketing e outros cargos, que exerceria até à data do seu falecimento, em 10 de Junho de 2021, com 59 anos.

Outrossim, além de jogador de futebol, Neno possuía também o dom de cantar canções românticas, sendo conhecido como o Júlio Iglésias português, com o qual chegaria aliás a cantar em dueto, em diversas ocasiões. Dotes musicais que o levariam também a gravar o álbum "NENO, NENO, NENO" e a granjear muitas

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amizades.

Em síntese, um homem que no percurso desportivo venceu 3 Campeonatos Nacionais, 3 Taças de Portugal ao serviço do Benfica e 1 Supertaça Cândido Oliveira representando as cores do Vitória. E seria ainda internacional na Seleção Nacional por 9 vezes, num currículo profissional invejável, que fala por si.

Vida profissional que, no Vitória e em Guimarães, saldou por 29 anos de dedicação: 7 como jogador e 22 em outros cargos e funções, números que também falam por si.

Mas Neno era sobretudo querido pela sua índole de empática bonomia, enquanto pessoa sempre alegre, que transmitia felicidade e estava sempre disponível para colaborar em eventos sociais, recreativos, culturais e solidários, nas mais diversas instituições vimaranenses.

Por isso, será recordado eternamente com saudade ...

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Neno em comunhão com os vimaranenses Guimarães homenageia Neno na hora do seu desaparecimento

O meu bisavô Bravo

Afinal já descobri a origem desta costela Vitoriana e veia futebolística! Está no meu ADN e genes, herdados do meu bisavô Bravo …

Com efeito, o meu bisavó Bravo, alcunha de António Pádua Magalhães Ribeiro, nascido no ano de 1915, aqui na freguesia citadina da Oliveira, foi jogador de futebol do Vitória Sport Clube até 1943 e um grande extremo esquerdo, que fez furor nesses tempos antigos.

Ora, rezam as crónicas futebolísticas desses tempos que o meu bisavô tinha “estatura baixa, fintava em corrida e fugia como um rato nas direções mais imprevistas, deixando os olhos trocados e os rins partidos” aos seus adversários. E que jogava bem como os dois pés, embora mais canhoto do que destro! Ora, como eu sou defesa, ainda bem que não o enfrentei!...

Porém, vários desafios enfrentaria o meu bisavô ao longo da sua carreira futebolística, cheia de gostosas vitórias. Com sabor especial, recorde-se o primeiro título regional em 1933/1934, conquistado contra o Braga, e o jogo de apuramento antecedente, frente ao Fafe. Neste encontro, o meu bisavô Bravo marcaria um golo de antologia, daqueles de levantar as bancadas, que aqui se relata: “Bravo apodera-se da bola, progride em linha reta, apesar dos ziguezagues que tem de fazer, finta um, dribla outro, troca os olhos ao terceiro, fura, sabe-se lá com o corpanzil de um quarto, voa para cima de um quinto mesmo sem ter asas, tudo isto com a bola dominada, de tal maneira que a mesma parecia colada aos seus pés e, com uma sorte de magia, afasta o guarda-redes fafense e entra como um rato feliz e travesso na baliza adversária, fazendo um golo raro, belo e inesquecível”.

GOOOLO! GOOLO! GOLO!

Quem não gostaria de marcar e/ou gritar um golo destes!

Um feito e uma equipa especial que o próprio Pregão Nicolino de 1936 (recitado por outro grande vitoriano de nome Hélder Rocha) recorda saudosamente:

“Alberto Augusto, um xi! Ricoca, um grande abraço!

A ti, ó Zé Maria, um perfumado cravo!

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Ao Zeferino a mão, em amistoso laço!

Um beijo ao pequerrucho e azougado Bravo!

Ao “Onze” do Vitória, alfim, nosso querer!

Hurrah! Por Guimarães! Vencer! Vencer! Vencer!”.

No entanto, o meu bisavô Bravo foi sobretudo um vencedor pelas suas assistências e um dos muitos jogadores da terra que, entre outros, o treinador Alberto Augusto fazia questão em ter no seu plantel, em vez de profissionais vindos de fora. Eram os tempos do amor à camisola, jogados no campo de Benlhevai (situado ali defronte à Escola Secundária Francisco de Holanda), dos tempos difíceis em que os carolas pagavam a camioneta para jogar fora e dos tempos das palestras na Adega do “Príncipe” – imaginem lá esta, com doping de vinho verde.

Enfim, tempos doutros tempos … Mas, como não bastasse (vejam lá!), conta-se até que no próprio dia do casamento o meu bisavô foi jogar a Braga!

Ele mesmo o confirma, numa entrevista concedida no ano 2000 (ainda eu não era nascido): “É verdade esta história. Eu não deixei o casamento! O que se passou é que depois do casamento peguei na minha esposa e fui de carro de aluguer para Braga. Mas o Vitória pagou-me o carro de aluguer”.

Do mal o menos, diremos nós, pois se não houvesse casamento se calhar não existiria este bisneto! Mas para além de outros títulos de campeão regional, em especial entre 1936 e 1938, o momento mais alto (Bravíssimo!) aconteceu na época de 1941/1942, após um jogo contra o União de Lamas, numa finalíssima disputada no campo da Constituição, no Porto e que garantiria a subida do Vitória à 1ª. divisão. Um jogo com o desfecho 6-4 (já não se usam tantos golos!) no qual, rezam as crónicas, meu bisavô Bravo se destacaria com uma excelente exibição e brilhantes assistências; e o Toural encher-se-ia de adeptos vitorianos, cheios de orgulho e euforia!

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Aliás, nessa mesma época de ouro, o Vitória também havia sido finalista da Taça de Portugal, tendo perdido 2-0 perante o Belenenses.

Todavia, duas épocas depois da subida à 1ª. divisão, seria a hora de arrumar as chuteiras. No entanto, o meu bisavô Bravo continuaria ainda por vários anos ao serviço do seu Vitória, orientando as camadas jovens, em colaboração com Artur Baeta.

O Vitória agradecer-lhe-ia os seus préstimos, nomeando-o honrosamente como sócio honorário do clube e o povo vitoriano dedicou-lhe um merecido respeito e singular simpatia.

Reconhecimento e gratidão por um bom jogador, mas também por um homem popular e honesto, que profissionalmente viveria recatadamente do comércio de móveis.

Deste seu bisneto o orgulho de ser meu bisavô e a esperança de poder chegar ao seu nível, quer no desporto quer na vida.

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Outras Glórias Vitorianas Joaquim

Quando um grupo de "Moços" de Guimarães resolveram fazer uma equipa de " foot-ball", começaria com jovens de Guimarães e oficiais que prestavam serviço no Regimento de Infantaria nº. 20, que eram naturais de Fafe. Por dificuldades em arranjar campo para a prática de futebol, seriam muito dificeis os primeiros tempos, bastante intermitentes.

Recordamos, aqui, os primeiros heróis que vestiram a camisola preta do Vitória, em 1924: Sousa,Evaristo, António Mendes Augusto Pereira Mendes, Aires "Cabo Porto", Adriano Mendes, Tenente José Campos Carvalho (de Fafe), Artur Mendes, Motinha, Armando Freitas e Mário Ferreira.

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Mais tarde, em 1927, aparecem Teles, Clâvo, Firmino, Almeida, A.Freitas e Sousa, Branco, Virgílio, Ribeiro, Adelino e Ferreira.

Ora, como o Vitória não tinha campo, um grupo formado pelos jogadores Virgílio Freitas , Bravo, Secândido, Benjamim, Mateiro, Camilo, Ricoca, Mário, Albano, o Pafúncio, entre outros, uma vez que não podiam atuar em Guimarães, procuravam jogar fora de Guimarães com ajuda de uns carolas que ajudavam a pagar as camionetas. Deste modo, assim se ia mantendo e a chama do Vitória, que não deitaria a tolha ao chão. No entanto, este grupo pressionaria no sentido da obtenção de um campo de jogos e consequentemente nasceria o campo de Benlhevai , no ano de 1932 . Assim, com estes bravos atletas e outros como Constantino Lameiras, Rita, Cunha, Chico (Mãe-olhe-ela), Martinho Moura e, mais tarde, António Fonseca, António Faria, Paredes, Oliveira Pina, António Freitas e Manecas, o Vitória firmar-se-ia na modalidade com prata da casa. De tal modo que, em Março de 1934, o Vitória venceria o Campeonato da A.F. Braga com todos os jogadores naturais de Guimarães. Uma equipa em que alinhariam Constantino, António Freitas, Mário, António Faria, Paredes, Ricoca, Manecas, Laureta, Virgílio, António Fonseca e Bravo. Um conjunto de jovens que se manteriam na ribalta por mais alguns anos, que seria reforçado por outros, como o Clemente, Lima, João da Costa, Alexandre Rodrigues, João "Bom", Lino Miguel, Arlindo, Zé Maria.

Em 1941/42 o Vitória sobe à 1.ª Divisão e fazem parte da equipa os seguintes vimaranenses: Ricoca, Machado, Alexande, Arlindo, Bravo, Dias, João “Bom", José Maria, Laureta, Lino, que se mantêm mais uns anos a competir.

Em 1950, começam a aparecer novos jogadores da terra. Recordamos desses tempos Matias, António Ferreira, Cardoso e Carlos Mendes. Todavia, em meados dos anos 50, começam a aparecer outros como o João da Costa, que começou a jogar no D.F.H., António Freitas (filho de Virgílio Freitas), e Mário "Corta".

Entretanto, no ano de 1960, aparece o jovem José Maria "Pedras", que foi o primeiro internacional ao serviço do Vitória, na camada dos júniores, que, para muitos, seria o melhor jogador nascido aqui no burgo. Depois começa a aparecer Castro, Artur, o vimaranense que mais anos serviu o Vitória (14 épocas seguidas), seguindo-se Gualter, em 1964, e, dois anos mais tarde, em 1966, Bomba e Costeado, que também começou a jogar no D.F.H.

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Em 1969, sobe à primeira equipa o central Torres e na época de 1970/71 Cartucho. Seguidamente, na época de 1972/73, ascendem à equipa sénior os Jovens Abreu e Alfredo, depois vão aparcendo Zequinha, Sousa Pinto, Gomes, Carvalho, Salvador, Laureta (Neto), Dimas, Jorge Machado, Neca, Sérgio, Soeiro, Miguel, Costeado (irmão mais novo), Horácio, Lopes, Basílio e Artur Jorge.

Na década de 90, aparecem Geani, Quim Berto, Armando Silva, Fernando Meira, Nuno Mendes, Tito. Na década de 2000 a 2010, aparecem Carlos Lima, Kipulo, Pedro Mendes, Alex , Moreno, César Peixoto, Zezinho, Raviola, Dinis e Custódio Castro.

De 2010 a 2022, revelam-se João Pedro, Cafú, Miguel Silva, André Almeida, Tomas Handel.

Aliás, alguns destes jogadores de Guimarães e/ou que jogaram no Vitória, serim ainda internacionais "A", quer ao serviço do Vitória quer de outros clubes. São exemplos Pedras, Abreu, Costeado, Miguel, Carvalho, Laureta, César Peixoto, Fernando Meira e Pedro Mendes.

Porém, outros Jogadores que não nasceram em Guimarães, começaram a jogar no Vitória. Recordo Daniel (Ponte da Barca), Augusto Silva (Barcelos), Ribeiro (Lixa), Ibraim (Vila Praia Âncora), Paulo Viana (Meadela), Nuno Espirito Santo (S.Tomé e Principe), Rêgo (Mujães,Viana do Castelo), Flávio Meireles (Ribeira de Pena), Targino (Beja), João Amorim e Paulo Oliveira de (V.N.Famalicão), Josué (Lisboa), Tiago Rodrigues (Vila Real), Luís Rocha (V.N.Famalicão), Tomané e Hélder Ferreira (Fafe), João Vigário (Gondomar), Xande Silva (Lisboa), Maga (Penafiel), André Amaro (Coimbra), Gui (Stª Marta de Penaguião), Herculano (Guiné Bissau). Todos eles, a seu modo e nos seus tempos, deixaram marcas ...

Alguns jogadores nacionais que alinharam entre nós

Em 100 anos da vida do Vitória, muitos jogadores que não nasceram em Guimarães mostraram, para além da sua qualidade futebolista, um carinho especial pelo Vitória e pela cidade. Vamos, aqui e agora,

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recordar alguns desses jogadores.

Em 1935/36, vem até nós Alberto Augusto, marcador do primeiro golo da Seleção Portuguesa, a 18 de dezembro de 1921, no jogo Espanha – Portugal (3-1). Com 37 anos, foi treinador-jogador, com 37 anos (faria 2 épocas nessa condição), e manteve-se, posteriormente, ainda ao serviço do Vitória, apenas como treinador, até 1944/45. Na altura, venceria 9 campeonatos distritais da A.F. de Braga, pelo que, em 1936/37, o Vitória seria indigitado como representante da A.F. Braga para jogar no Campeonato Nacional da 2.ª divisão. Depois, Aberto Augusto seria o treinador na estreia do Vitória no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, em 1941/42, e finalista da Taça de Portugal, realizada a 12 de julho de 1942, na qual o Belenenses derrotaria o Vitória por 2-0. Em 1935/36, registamos também o ingresso de Zeferino Duarte, nas hostes vitorianas, vindo do F.C. do Porto. O jogador seria o primeiro profissional ao serviço do Vitória, exercendo funções de taxista na praça. Aqui, entre nós, jogaria 10 anos, ficando a residir em Guimarães e a assumir funções de treinador, nos escalões juniores.

Por sua vez, no ano de 1943, chegam de Vila Real os irmãos Brioso (Zé e Alcino), que foram recoveiros entre Guimarães e Braga. Depois, em 1945/46, ingressa no Vitória Franklin, vindo do Belenenses, que ficou a viver na cidade até ao fim dos seus dias. Seguem-se Rebelo, em 1947/48, proveniente da Cuf do Barreiro, que também fixou residência na nossa cidade, bem como Francisco Costa, ex-Gil Vicente, em 1950/1951, que jogou até 1958/59. Também oriundo do Gil Vicente, na época de 1951/52, alinharia entre nós o guardaredes Silva, que jogaria até 1962/63 e por cá também ficaria. Ainda na década 50, em 1952/53, veio até nós o açoriano Silveira e no ano seguinte vem do Sporting o extremo-esquerdo Rola, que deixou a sua marca de futebolista e vitoriano, jogando até 1961/62. Outrossim, fixaria morada em Guimarães, treinando alguns clubes da zona e tornando-se, mais tarde, no impulsionador das Escolas do Vitória.

Na época de 1954/55 vem do Beira-Mar o veloz Bártolo, com alcunha de ratinho, que jogaria no Vitória até 1960/61 e por cá fixaria residência.

Por seu turno, na época de 1955/56, chega do Tirsense o defesa Virgílio, que foi titular indiscutível durante 10 épocas, vivenciando alguns dos bons momentos do Vitória, como a subida de divisão, a digressão a África e a final da Taça de Portugal de 1962/63, impondo-se ainda como capitão de equipa.

Na época de 1956/57, por sua vez, ruma até nós o fafense Armando Barros, que chegou do Sporting e que realizaria 3 épocas como titular ao serviço do Vitória, participando também na subida de divisão e na deslocação a África.

Outros nomes se registam, na época seguinte, 1957/58, ainda na 2.ª divisão. É o caso do médio Romeu, campeão nacional pelo F.C. Porto, que jogaria no Vitória até 1962/63.

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Entretanto, já nos finais da década, na época de 1959/60, chega do Vilafranquense o guarda-redes Dionísio, que jogou até à época de 1965/66, ainda que, em 1962/1964, tenha prestado serviço militar obrigatório, em Angola.

Na década seguinte, em concreto na temporada de 1962/63, o negócio com o Benfica na transferência de Pedras e Augusto Silva, permite a entrada no Vitória do central Pinto, que jogou nos branquinhos até 1974/75. O jogador realizaria 332 jogos com a camisola do Vitória e marcaria 18 golos, sendo internacional "A" por 2 vezes, pelas cores nacionais.

Nomes como Peres, capitão de equipa durante oito épocas, que jogou até 1970/71, alinhando em 260 jogos e faturando 65 golos, ou atletas como Mendes, o "pé-de-canhão", são outros jogadores e trunfos relembrados. De facto, o “pé-de-canhão” faria jus à sua fama e alcunha, alinhando pela equipa vitoriana em 255 jogos, durante as nove épocas que se manteve entre nós (201 jogos no campeonato nacional, 47 na Taça de Portugal e 7 na Taça UEFA). Ao longo de cerca de 9 anos ao serviço do Vitória marcou 112 golos: 77 no campeonato nacional, 33 na Taça de Portugal e 2 na Taça UEFA. Além disso, Mendes seria o primeiro jogador do Vitória internacional "A", em 13/11/1966. A este propósito, esclarece-se que Tito foi o melhor marcador do Vitória no Campeonato nacional com 82 golos marcados, mas se tivermos em conta todas as provas em que o Vitória participou o maior goleador foi o “Pé-de-canhão”.

Nesta mesma época proviria do Leixões o guarda-redes Mário Roldão, que realizou 147 jogos durante as 8 épocas que esteve ao serviço do Vitória, bem como chega também o extremo-direito Paulino, proveniente do Beira-Mar, que jogaria até 1965/66.

Na época de 1964/65, advém do Despertar de Beja o jovem Osvaldinho, que jogou no Vitória até 1977/78, apesar da sua carreira profissional haver sido interrompida até 1968, para cumprir o serviço militar. O lateral esquerdo, que esteve emprestado ao Boavista até ir para S. Tomé e Príncipe, seria internacional "A" por 2 vezes, a 13 e 20 de novembro de 1974 e por cá ficaria gerindo uma pastelaria em zona central da cidade.

Entrementes, na época de 1965/66 chega a Guimarães, vindo do F.C. Porto, o moçambicano Joaquim Jorge (JJ), um dos melhores centrais que jogaram no Vitória. JJ permaneceu na “muralha” vitoriana até 1971/72, realizando 176 jogos e marcando 4 golos. Com Pinto formou a melhor dupla de centrais do Vitória, ajudando a equipa a alcançar, pela primeira vez, um 3º. lugar na época de 1968/69. JJ seria ainda distinguido como o jogador mais regular do campeonato, que lhe valeu a atribuição do troféu "Somelos-Helanca", que premiava a regularidade dos atletas. Igualmente, seria internacional "A”, fazendo dupla com Manuel Pinto por 2 vezes, respetivamente a 6 de abril e a 4 de maio de 1969.

Na mesma época, ingressa no Vitória o jovem José Carlos, vindo de Vila Praia de Âncora, que esteve ao

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serviço do Vitória até à época de 1975/76, não obstante ter interrompido a carreira futebolística entre 1968 e 1971, devido ao Serviço Militar, em Moçambique. Ao serviço do Vitória participaria, porém, em 124 jogos e marcaria 3 golos.

Na época de 1966/67, chega do Leverense o esquerdino polivalente Silva, que marcaria presença em 8 épocas, realizando 169 jogos e marcando 9 golos. Ingressa também nas hostes vitorianas o jovem alentejano e guarda-redes Rodrigues, que ficaria no Vitória durante 13 épocas, até 1978/79. Um guardião que, na época de 1968/69, se distinguiria como o guarda-redes menos batido no Campeonato Nacional. A época de 1967/68 traz-nos da Guiné o polivalente Manafá, que jogou no Vitória até 1973, a despeito de ter interrompido a sua carreira entre 1970 e 1972, para cumprir o Serviço Militar em Moçambique. Mais tarde, viria a trabalhar no Vitória como técnico de equipamentos.

Na época de 1970/71, chega de Vila Praia de Âncora e ingressa no Vitória, ainda com a idade de júnior, escalão pelo qual seria internacional, o jovem avançado Ibraim, irmão de José Carlos, que jogaria na equipa vitoriana até 1973/74.

Por seu turno, na temporada de 1971/72, dá entrada no “team” vitoriano, procedente do F.C. do Porto, o internacional Custódio Pinto, que jogou no Vitória durante 4 épocas, mostrando toda a sua qualidade técnica, na altura, ao serviço de um dos melhores planteis que o clube teve. Nessas 4 temporadas alinharia em 123 jogos e apontaria 31 golos.

Entrementes, em 1972/73, o Vitória acolhe no seu plantel o jovem e talentoso Romeu, transferido do Sporting da Beira (Moçambique), plausivelmente um dos melhores jogadores que jogaram na equipa vitoriana. Romeu jogou entre nós até 1974/75, regressando mais tarde em 1977/78. Um jogador que realizaria 121 jogos com as cores e emblema vitorianos e marcaria 23 golos, conquistando a internacionalização no escalão de esperanças e na seleção “A", consumada pela primeira vez em 3 de Abril de 1974.

Jogadores estrangeiros que jogaram no Vitória Sport Clube

No Vitória, nos 100 anos de existência do clube, muitos estrangeiros de todos os cantos do mundo passaram por Guimarães e deixaram o seu contributo, com mais ou menos notoriedade.

Os primeiros jogadores estrangeiros que representaram o Vitória foram os nossos vizinhos espanhóis. O primeiro foi o avançado "Lara", que chegou ao Vitória na época de 1951/52 e fez 2 épocas. Seguiu-se o guarda-redes Meca (1 época) e o avançado Juanin (2 épocas), na época de 1953/54. Nesta sequência, ainda na década de 50, concretamente em 1954/55, ingressa no Vitória, Lobato, que fez 3 épocas.

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Entretanto, em 1961/62, chegam o médio Arcangel e o avançado Amaro tendo este, em 23 jogos, na única época em que alinharia entre nós, marcado 17 golos. Os espanhóis voltariam apenas em 1996/97 com Toniño, proveniente do Chaves, que só fez uma época. Também vindo do desportivo de Chaves, chega, na época 1999/00, Carlos Alvarez que realizaria duas épocas em Guimarães.

Outra vaga de estrangeiros transferidos para as forças vitorianas chegaria da América do Sul. Assim, em 1955/56, aportariam os primeiros argentinos, como Rosato, vindo do Sporting da Covilhã, e Rinaldi, do Atlético, que permaneceriam cá 2 épocas. Igualmente, na época de 1956/57, vem o médio Auleta, oriundo diretamente da Argentina, assim como Mário Civíco, na temporada da subida à primeira Liga, em 1957/58, tendo sido um jogador muito importante nessa promoção à 1.ª divisão.

Já no decurso de 1960/61, provem do Sporting de Braga e ingressa no Vitória o médio Trenque, que faria uma época.

Depois dos argentinos, viajam até Guimarães os brasileiros. Deste modo, na época de 1955/56, alinha entre nós o avançado Ernesto, que se manteve até 1960/61. Depois, vencido o Atlântico, cruzam o mar o avançado Edmur, em 1958/59, que por cá ficou até 1960/61), seguindo-se Carlos Alberto e Celú, durante 2 épocas, e, posterirmente, em 1959/60, o defesa Caiçara, que jogou no Vitória por 6 épocas.

Nos anos 60, por seu turno, concretamente em 1962/63, entra nos quadros vitorianos o atacante "Lua" que, no fim da época, seria transferido para clube belga KAA Gent. Na época seguinte, em 1963/64, um novo avançado , de nome Rodrigo "El-Cid", provem de Terras de Vera Cruz, jogando no Vitória durante 2 épocas. Porém, no fim desta época, chegam ao Vitória dois novos brasileiros: Djalma, talvez o melhor jogador que vestiu a camisola do Vitória, e José Morais que despertariam a cobiça dos ditos grandes e como tal apenas jogariam uma época em Guimarães. Com efeito, Djalma seria negociado com o F. C. do Porto e Morais com o Sporting, numa transferência muito controversa.

Entrementes, na época de 1967/68, ingressa no Vitória o avançado Manuel, que jogou até à época de 1969/70 e vem do Vitória de Setúbal o médio Augusto, que alinharia até à época de 1970/71. Posteriormente, na temporada de 1968/69, reforça o Vitória o extremo luso-brasileiro Zezinho, que jogou no Vitória 3 épocas, bem como o avançado Ademir Belo, entre nós durante 2 épocas.

Ademais, na época de 1970/71, está entre nós um dos melhores avançados brasileiros que “militou” no Vitória: Jorge Gonçalves. O atacante, que fez história no Vitória, ficou por cá até 1972/73 e regressaria, mais tarde, até 1978/79, após três temporadas ao serviço do Espanhol de Barcelona. Por esta altura, provem também do Gil Vicente o extremo Pedrinho, que ficou até à época de 1977/78.

Ainda na época de 1975/76, ingressam no Vitória o defesa Celton, ex-Gil Vicente, que jogou 3 épocas,

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e no ano seguinte o avançado Dinho, que ficou por Guimarães até 1979/80. São também contratados, na época de 1977/78, o avançado Mané, oriundo do Boavista, que esteve cá 2 anos e, na temporada seguinte, ingressa o avançado Mundinho, que jogou durante 3 épocas na nossa cidade.

Posteriormente, entre 1980/81 a 1983/84, alinharia no Vitória o médio Nivaldo, que seria negociado e transferido para o Benfica e, de seguida, três novos brasileiros, recomendados pelo antigo jogador Caiçara: Lúcio Santarém, Jeovah e Ivanir, que pouco jogariam. Seguem-se, na época de 1982/83, Paulo Ricardo, que fez 3 boas épocas no Vitória e seria, depois, negociado com o F.C. do Porto, Da Silva, na época 1983/84, provindo do Vitória de Setúbal, que ficou 2 épocas no Vitória e, vindo da Académica, o atacante Eldon, que efetuaria uma boa época e seria “vendido” ao Sporting.

Com efeito, os brasileiros passam a ser uma constante no plantel vitoriano. Deste modo, na época de 1984/85, chega ao Vitória o extremo Roldão, que jogou no Vitória até à época de 1989/90, ainda que na época de 1987/88 tenha alinhado no Nacional da Madeira. O jogador seria um dos atletas que fez parte da excelente equipa que conquistou a Europa em 1986/87. Entretanto, na época de 1985/86 chega ao Vitória, vindo do F.C. do Porto, Paulinho Cascacavel, que fez duas extraordinárias épocas entre nós, conquistando a Bola de Prata, na última temporada, altura em que seria “vendido” ao Sporting.

Logo de seguida, em 1986/87, ingressa nos quadros vitorianos o talentoso médio Ademir Alcântara que fez duas épocas e seria “vendido” ao Benfica, bem como o defesa Nené que fez 3 temporadas.

O carrossel do Brasil não pararia em Guimarães. Como tal, na época de 1987/88 , provem o defesa Bené que jogou até 1990/91, e os avançados Caio Júnior, que alinhou até à época de 1991/92, bem como Décio António, presente em duas épocas. Alinharam ainda no plantel dos branquinhos o médio René Weber, que jogou no Vitória até 1990/91, e, neste mesmo período, o extremo direito Chiquinho, que fez 3 épocas. Vem também do Sporting o extremo esquerdo Silvinho que faz 2 temporadas e o médio João Batista que jogou até à época 1991/92.

A enumeração chega quase a ser exaustiva. De facto, na época de 1989/90, chega até nós, vindo do Nacional da Madeira, o central William, que, no fim da mesma época, foi cedido ao Benfica e regressaria em 2000/01 para fazer mais 2 épocas e, na temporada de 1992/93, o atacante Alexandro que fez 3 temporadas. Entrementes, para o centro da defesa, transfere-se do Famalicão Tanta , que no Vitória jogou até 1995/96, chega também Emerson que fez 2 épocas e o avançado Gilmar que ficou em Guimarães 5 temporadas. Além disso, para a muralha defensiva, em 1995/96, firma-se o central Arley que jogou até 1998/99 e avança Edinho, avançado que fez 2 temporadas, posteriormente cedido ao clube inglês Bradford City. Ainda em 1996/97, vem o central Alexandre, que fica em Guimarães 4 temporadas e o extremo Riva que jogaria até

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1999/00. Neste período, instala-se também no plantel o jogador Auri que fica ligado ao Vitória até à época de 2000/01, sendo depois cedido por empréstimo ao Chaves (97/98) e Gil Vicente (99/00).

Ainda no final da época entra no plantel vitoriano o médio Geraldo que jogou até 2000/01, vindo do Marítimo e chegam o central Márcio Theodoro que jogou até 2000/01 e o avançado Edmilson que jogou 3 temporadas. Igualmente, na época de 1998/99, chega o avançado Evando que fez 3 boas épocas.

O período inicial do século XXI prosseguiu com várias contratações do outro lado do mar. Assim, na época de 2000/01, chega o avançado Manoel que após uma época, regressou em 2005/06 e, em 2001/02, o central Cléber, vindo Belenenses, que permaneceria até à época de 2005/06.Provem também do Gil Vicente o avançado Guga que fez 3 temporadas e, em 2002/03, o avançado Rafael vindo F.C. do Porto, que jogaria por 2 épocas.

Já na época de 2005/06, vindo do Desportivo de Chaves, chega com 19 anos o defesa central Geromel que foi um dos melhores centrais brasileiros que jogou no Vitória, e que ficaria até ao fim da época de 2007/08. O central ganharia o prémio do melhor jogador da temporada, acabando por ser negociado para a equipa alemã do Colónia por 4.5 milhões de euros. Este atleta participou ainda na Copa do Mundo 2018, ao serviço da seleção brasileira. Entre as felizes contratações vitorianas, alinharia também com o emblema do rei o excelente guarda-redes Nilson, que fez 7 boas épocas, o médio Otacilio que ficou 2 épocas e, em 2007/08, os laterais Luciano Amaral (2 épocas por cá) e Andrezinho ( 3 temporadas ao serviço vitoriano), posteriormente cedido ao Colónia da Alemanha. No registo vitoriano contam ainda o médio Marquinho que fez 3 temporadas e o excelente avançado Roberto que ficou até à época de 2009/10.

Vários outros nomes de sotaque brasileiro marcariam presença em terras da cidade-berço. Assim, na época de 2008/09 chegou o atacante Douglas que ficou no Vitória 3 temporadas e, no ano seguinte, ingressa nos branquinhos Bruno Teles que ficou 4 épocas . Também desta fase, concretamente em 2010/11, data a chegada do enorme guarda-redes Douglas de Jesus que defendeu a baliza do Vitória 9 temporadas até 2018/19, bem como o defesa Leandro Freire que jogou no Vitória 4 temporadas. Anote-se também a presença do avançado Marcelo Toscano, que jogou 3 temporadas e do médio Crivellaro que jogou até 2014/15 e que seria emprestado ao Trofense na época de 2011/12.

A saga prossegue na temporada de 2011/12, com o defesa Rodrigo Defendi que fez 2 épocas e, vindo do Paços de Ferreira chegaria o médio Leonel Olímpio, que jogou até 2013/14 . No ano seguinte, é a vez de se instalar na muralha defensiva vitoriana o central Pedro Henrique, conhecido por "Pedrão", que ficaria de pedra e cal até 2019/20, e por empréstimo do F.C. do Porto chegaria Otávio, que se naturalizaria português e seria convocado para a seleção nacional.

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Entre nós, alinha também o avançado Henrique Dourado que ficou ligado ao Vitória até à época de 2017/18 e para a equipa "B" chega o jovem extremo Raphinha que, posteriormente, jogaria 3 temporadas na equipa principal, transitando depois para o Sporting.

Já nestes tempos mais próximos, especificamente em 2016/17, chega do Nacional da Madeira o avançado Tiquinho Soares que, depois seria “vendido” ao F. C. do Porto e Rafael Martins que fez 2 épocas no Vitória. Por sua vez, em 2018/19, alinharia entre nós o avançado Davidson, que fez 2 época e após 2019/20 vem o avançado Bruno Duarte.

Todavia, da Europa, em 1980/81, chegaria da Holanda, mais propriamente do Ajax, o avançado Blanker, jogador com muita qualidade que, no fim da época, seria transferido para o Salamanca de Espanha. Também dos Países Baixos ingressaria entre nós, na época de 2018/19, outro holandês vindo do Benfica, de nome Ola John, que cá jogou mais uma época.

Entretanto, da Europa do Leste, mais precisamente da Bósnia Herzegovina, chegaria o talentoso jogador Dane, na época de 1992/93, que por cá jogaria até 1995/96. Chega, depois, da Eslovénia o médio Zahovic, em 1993/1994, que ficou no clube até 1995/96, e, posteriormente, seria transferido para o F.C. do Porto, enquanto da Croácia vem Vorkapic, nos anos 94/95, bem como mais recentemente Toni Borevkovic, ex-Rio Ave. Ademais, provêm ainda da Sérvia, o jogador Branko Milovanovic, em 1996/97, que alinharia por 3 épocas, assim como Ivan Djurdjevic que igualmente fez 3 temporadas, entre 2002/03 e 2004/05, e ainda o avançado Miljan Mrdakovic, que fez uma excelente temporada, em 2007/08.

A fechar as apostas de leste chega de terras da Hungria o defesa Dragoner, em 2004/05, entre nós duas temporadas e ainda o bom atacante Saganowski, proveniente da Polónia, que apenas ficaria no Vitória na temporada de 2005/2006.

Entrementes, da Europa Ocidente, concretamente da Bélgica, romaria até Guimarães o avançado David Paas, em 1996/97, que permaneceu até 1998/99, enquanto da Suécia veio o valoroso Fredrik Soderstrom, em 1996/97, que por cá se manteve até 2000/01.

Imigram ainda da Alemanha o guarda-redes Tomas Tomic que só fez uma época, em 2000/01, e da França chega o guarda-redes Palatsi, em 2001/02 que efetuaria excelentes épocas entre nós, até 2004/05. Mais tarde, na época de 2018/19, provém o seu conterrâneo e defesa esquerdo Florent, médio, ao passo que, em 2019/20, chegou o médio Janvier, que ainda se encontra ao serviço do Vitória. Outrossim, viria da Inglaterra, em 2019/20, o talentoso Marcus Edwards, que foi cedido ao Sporting, a meio da época 2021/22.

Em aditamento, em meados dos anos 80, começaram a chegar ao Vitória vários futebolistas do continente africano. Especificamente, da Nigéria provém o médio Isima, na época de 1984/85, e na temporada

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de 2013/14 o avançado Moussa Maazou que realizou duas boas épocas. Chegariam ainda do Zaire 3 bons jogadores: o médio N´Dinga que levou a cabo 10 épocas (até 1995/96) e que ainda hoje é recordado; o avançado N´Kama, avançado e senhor de um potente remate, que só faria 2 épocas; e também, Basaula , que no fim da primeira época foi emprestado ao Elvas e Estrela da Amadora , regressando, em 1990/91, até 1994/95. Entre os zairenses, conta-se também , na época de 1987/88, o avançado Kipulo que fez uma época, bem como, na época de 1997/98, o defesa Kasongo, que fez mais um ano.

Dos Camarões vestem ainda com a camisola Vitória o avançado Ebongué , em 88/89, durante uma época, e o médio M´Bouh, que atuaria somente na temporada 1990/91. Na época de 2006/07 chegou o defesa Jacques Momha que fez três temporadas.

Entretanto, do norte de África, instala-se em 1990/91, vindo da Tunísia o bom atacante Ziad, que fez 5 excelentes épocas , até 1994/95; e na temporada de 91/92, atravessa o Mediterrâneo o defesa Taoufik ,que jogou até 1993/94. Mais tarde, aportam, em 2005/06, o organizador Benachour, que só fez uma época; e da Argélia, em 2006/07, o médio Kamel Ghilas que fez duas temporadas e, na temporada 2011/12, Saudani, um bom avançado que na sua última época esteve ligado à conquista da Taça de Portugal. Igualmente, em 2012/13, chegaria ainda ao Vitória Tchomogo, que só efetuaria a época de 2006/07. Ainda de África e de terras de Marrocos advêm o extremo Faouzi, em 2010/11, e o defesa El Adoua, em 2011/12, ambos disputando duas épocas. Provem também do Senegal o defesa N’Diaye que alinhou 2 temporadas, nos anos 2011/12 e 2012/13, e do Gana vários futebolistas: David Andy, em 2012/2013, Bernard Mensam, que jogaria entre 2013/14 até 2016/2017, e Wakaso, entre nós durante 4 temporadas (2017 a 2021). Deste país fazem ainda parte do plantel vitoriano Joseph desde 2014/15 e Abdul Mumin, a partir de 2020/21. Entretanto, do Burkina Faso chegam Ni Plage, nas temporadas 2013/14 e 2014/15 e Bouba Saré em 2014/15, por duas temporadas, bem como o excelente central Tapsoba, na época de 2018/19, que, após cerca de uma temporada com o emblema do rei ao peito, mercê das suas boas prestações, seria cobiçado e negociada a sua transferência para o clube almão B. Leverkusen. Nesta onda africana e especificamente da Costa do Marfim arribam ainda Gui em 2014/15 que efetuaria 2 temporadas e Konan em 2015/16, entre nós até 2017/18. Igualmente, das bandas do Mali, chega o defesa direito Falaye Sacko na época de 2015/16, que jogou no Vitória até meio da época de 2021/22 e ainda, na qualidade de emprestado pelo F.C. do Porto , em 2016/17, o avançado Marega.

O plantel africano contaria ainda com Zungu, oriundo da África do Sul, que jogou entre 2016/17 e 2017/18, bem como médio Al Musrati originário da Líbia, que por cá deu o seu contributo futebolístico desde 2016/17 até meio da época de 2019/20.

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Outrossim e igualmente a América daria um caudal imenso de apostas futebolísticas interessantes e ganhas. Asim, para além de brasileiros e argentinos, já abordados, veio da Martinica o central Gregory , na época de 2008/09, e dos Estados Unidos, em 2015/16, Tyler Boyd, na época de 2015/16, que seria posteriormente cedido por empréstimo ao Tondela na temporada de 2017/18. Provem também do Haiti, em 2006/207, o valoroso médio Desmrets que se fincaria no Vitória por 4 temporadas. Ainda do continente americano, do quadrante sul, o Vitória receberia do Chile, o extremo Tincho, em 1984/1985, e do Uruguai o médio ofensivo Barrientos, entre 2011 e 2015. De igual modo, provêm da Colômbia vários futebolistas: o avançado Congo, em 2000/2001; o médio Célis, por intercessão do Benfica, nas épocas entre 2016 a 2019; o avançado Rincon, que alinharia nas temporadas de 2017 a 2019 e ainda o ponta de lança Ócar Estupiñam, presente na cidade-berço desde 2017/18 até tempos recentes. Como referência final dos sul americanos cite-se ainda Paolo Hurtado, entre 2015 e 2018, que procedente do Peru.

Grupos de apoio: Uma viagem pela história

Os grupos organizados de adeptos veem hoje a sua influência espalhada por todo o mundo e a sua denominação varia consoante a área geográfica onde estão inseridos. Se, no México, estes grupos são conhecidos por Porras e, no Brasil, por Torcidas, já na Argentina a sua denominação é a de Barra Bravas. Por outro lado, em Itália, são chamados de Ultras e, em Portugal, embora também seja normal a referência aos Ultras, são popularmente conhecidos como claques. Ao longo dos tempos, estes grupos, independentemente da denominação, apresentaram-se com características próprias, fruto do meio social onde se inseriam, mas também sofreram influências externas que muito contribuíram para a sua evolução.

É nestes grupos de adeptos que irei concentrar as próximas linhas, realizando uma viagem cronológica e espacial, desde o encontro das primeiras manifestações que influenciaram o seu aparecimento, até à realidade do espectro Vitoriano actual. Com a aproximação do centenário do Vitória Sport Clube, torna-se importante trazer à luz um pouco da história que envolve os grupos de adeptos do Vitória Sport Clube, sendo

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este texto também uma homenagem aos mesmos pelo seu papel activo na vida do clube.

Para dar início a esse objectivo, começo com um enquadramento dos adeptos e dos grupos, enumerando alguns dos primeiros passos dados, que me parecem determinantes para perceber a construção desta forma de viver os clubes, um fenómeno que está, hoje, enraizado no seio da nossa comunidade.

Como é sabido, o futebol, na linha que actualmente conhecemos, começou em Inglaterra no século XIX e foi também nesse período, mais precisamente no ano de 1857, que nasceu o Sheffield Football Club. Este é o clube mais antigo do mundo, não associado a uma instituição como uma escola, hospital ou universidade, em que todos podiam jogar. Os primeiros espectadores de futebol foram, provavelmente, os membros dos clubes que não eram jogadores. Os seguintes foram, naturalmente, as famílias e amigos dos membros e, mais tarde, a comunidade local. Se, no início, a assistência primava pela simples observação do jogo, a entrada da comunidade local foi acompanhada de muitas rivalidades, pese embora fossem originadas por situações extrajogo. O tempo passava e a emoção aumentava, a competição a isso ajudava, e os adeptos, que antes se comportavam como simples observadores, começaram, a partir de então, a criar uma ligação muito maior com os clubes e as suas equipas. Este momento parece ser a chave da transição daqueles que eram simples espectadores, para adeptos.

Com o desenrolar do tempo, os adeptos apresentaram um comportamento mais activo e começaram a sentir que, de algum modo, podiam interferir no jogo, fosse com um grito de incentivo a algum jogador ou simplesmente mencionando o nome do clube. Deixo a referência de que, já naqueles tempos, existiam excessos, como quando alguns adeptos esticavam a perna junto às extremidades do campo para fazer os jogadores adversários tropeçarem. Uma interferência que, hoje, é quase inimaginável, mas que naquela época acontecia em consequência de os campos serem apenas o terreno de jogo, muitos dos quais sem qualquer barreira que afastasse os adeptos.

Outro ponto a considerar é que o futebol rapidamente se tornou um desporto popular e começou a ser comum ver multidões a moverem-se atrás dos seus clubes, quer jogassem em casa ou fora. Ainda nesse século, por volta do ano 1880, como reflexo da popularidade do futebol, nasceram na Irlanda os "brakeclubs". Estes clubes eram uma espécie de grupos organizados de adeptos compostos por membros que

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Juventude Vitoriana 1983

pagavam uma quota, a qual lhes conferia a oportunidade de viajar com esse grupo nos jogos disputados fora de casa. Estes grupos deslocavam-se em carroças puxadas a cavalo, envergando o seu estandarte na frente e, só umas décadas mais tarde, acabariam por entrar em declínio devido ao aumento dos transportes ferroviários e dos veículos motorizados.

Com excepção dos clubes de adeptos, que mencionei anteriormente, não havia uma organização para grupos de apoio, na forma tribal que conhecemos e que, durante vários anos predominou. Porém, o futebol estava a expandir-se pelo mundo e, mais tarde ou mais cedo, era natural que as comunidades acrescentassem um toque próprio à forma como viviam o jogo.

Foi ainda por estes anos que os adeptos começaram a entoar os primeiros cânticos. Basicamente eram as músicas populares que a própria comunidade ouvia, mas o rastilho tinha sido aceso e o tempo acabaria por se encarregar de trazer a evolução dos cânticos que saíam da bancada. Um momento fundamental foi quando os adeptos deram uso à sua criatividade e começaram a criar as próprias letras.

Avancemos, agora, para o Brasil, mais concretamente para São Paulo. Viva-se o ano de 1939 e por esta altura aparecia a primeira Torcida Uniformizada a qual, pese embora estar muito distante da imagem de um grupo de apoio actual, me parece ser um dos pontos de partida para o conceito que hoje conhecemos. Estas torcidas eram caracterizadas por os membros, maioritariamente adultos, usarem roupas iguais, por se fazerem acompanhar de bandeiras e por uma animação onde se sentia a influência do samba. No ano de 1944, surge a Torcida Organizada do Vasco, que seria a primeira Torcida Organizada em todo o Brasil, e conferiu aos grupos de adeptos brasileiros o nome pelo qual ainda hoje são conhecidos. Contudo, é em 1969, com o aparecimento dos Gaviões da Fiel, que nasceu uma forma diferenciada de estar na bancada, destacada pela participação mais organizada e activa junto dos clubes.

Regressemos, agora, ao velho continente para dentro do território da antiga Jugoslávia. No ano de 1950 é fundada a Torcida Split, grupo de apoio ao Hadjuk Split na actual Croácia. O seu nascimento dá-se no mês de Outubro, pouco tempo após o Mundial de 1950, que teve lugar no Brasil, e o seu nome foi inspirado na apaixonada torcida brasileira. Pareceu-me relevante referir este momento, pois reflete o início da influência cultural que as torcidas brasileiras tiveram na Europa.

É, agora, tempo de dar um salto até Itália onde, também nos anos 50, apareceram alguns grupos de apoio. Estes grupos uniram pessoas de ambos os sexos e de várias classes sociais para dinamizar um apoio vocal acompanhado por tambores, faixas, bandeiras e estandartes. Estes grupos viviam um forte clima de

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união e amizade entre os seus membros. Anos mais tarde, em 1968, num ano que ficaria marcado por protestos protagonizados pela juventude italiana e a classe trabalhadora, nasceu aquele que seria o primeiro grupo Ultra, a Fossa dei Leoni. A experiência que alguns elementos trouxeram da luta política, acabou por influenciar a forma como os grupos se passaram a organizar. É importante referir que, neste novo movimento, existiram semelhanças com movimentos de apoio de outros países, mas como é natural, também tiveram a sua dose de originalidade, que os diferenciou e lhes conferiu uma marca muito própria.

Os anos 70 e 80 ficaram marcados por um período de expansão dos Ultras, e do seu movimento, por toda a Itália, atraindo principalmente jovens de uma faixa etária compreendida entre os 15 e os 20 anos. É também nestes anos que se dá a internacionalização deste movimento que acabou por seduzir jovens de toda a Europa, do qual Portugal não se excluiu.

No nosso país, tal como noutras partes do globo, também se sentia o efeito do apoio dos adeptos aos seus clubes. Só que esse apoio acontecia de uma forma espontânea. Pelo que me foi possível apurar, a primeira história de um grupo organizado de apoio a um clube, em Portugal, vem dos inícios dos anos 70. Eram conhecidos como Vapores do Rego e compostos por estudantes brasileiros, a viver em Portugal, que apoiavam o Sporting CP ao ritmo das torcidas que existiam no Brasil. Há quem diga que existiu um grupo que antecede os Vapores do Rego; refiro-me ao VIII exército do Vitória Futebol Clube, que supostamente teria nascido em 1943. Porém, não podemos considerar a massa adepta de um clube como um grupo. A proveniência desse nome é atribuída a um jornalista, do jornal o Mundo Desportivo, relativamente a uma falange de adeptos que se mobilizava de forma espontânea atrás do seu clube.

Em 1976, surge a Juventude Leonina, o grupo de adeptos mais antigo em actividade em Portugal, pioneiros num estilo mais aproximado àquilo que hoje conhecemos. Embora algo inspirados nos seus

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White Angels Vitória SC x Eintracht Frankfurt 2019/2020 Insane Guys Vitória SC x Sporting CP 1994/1995

antecessores, e naturalmente nas torcidas brasileiras, tinham como imagem de marca um maior apoio vocal e a utilização de bandeiras. É importante ressalvar que este grupo também influenciou vários jovens adeptos de outros clubes a criar a sua claque. Sustento esta afirmação nos nomes de vários grupos que surgiram nos anos 80. As sementes haviam sido lançadas de tal forma que, durante os anos 80 e 90, deu-se o "boom" deste fenómeno e, quase que por moda, tornou-se comum ver estes grupos de apoio a aparecer nas bancadas de muitos clubes portugueses.

Por fim, chegamos ao nosso destino: Guimarães, mais especificamente ao Vitória Sport Clube. As bancadas do nosso estádio não ficaram à parte e também sentiram a sedução que este movimento provocou nos adeptos mais jovens. Até 1983 o apoio não faltava, mas era gerado de uma forma espontânea, como de resto acontecia em quase todo o lado. Talvez a única organização que se podia ver fossem as excursões, que se realizavam para proporcionar aos adeptos Vitorianos o acompanhamento à sua equipa, nos jogos fora de casa. É então que, nesse ano, se dá o aparecimento do primeiro grupo organizado do Vitória, a Juventude Vitoriana, do qual nos chegam alguns registos até aos dias de hoje. Este grupo de jovens, também conhecido por La Juvi (Labuta Juventude Vitoriana), situado na bancada poente, havia sido influenciado pelo, ainda recente, fenómeno das claques em Portugal, mas, tal como viria a ser comum, também se inspiraram no movimento Ultra italiano.

No ano seguinte, em 1984, surge noutra bancada uma tarja identificando um grupo de adeptos com a mesma denominação do que já existia. Este grupo apresentou-se como Juvi e permaneceram activos até à época 2001/2002. Como consequência desta situação a La Juvi alterou o seu nome para Os Fundadores. Nos tempos que se seguiram, essencialmente em 1986, novos grupos apareceram e, para além dos dois que já existiam, havia agora os Conquistadores, Força Afonsinos, Força Branquinhos, Tempestade Vitoriana e o 7º Exército. Estes grupos, na sua grande maioria, eram compostos por elementos jovens que davam colorido e animação à bancada através das faixas, bandeiras gigantes e tambores, para além dos extintores e, por vezes, pirotecnia que utilizavam na entrada da equipa. Alguns destes grupos chegaram a produzir t-shirts e camisolas nas confecções da cidade.

A 26 de Junho de 1987 é noticiado o aparecimento de “Os Vimaranes”, uma nova claque que nascia com o objectivo de tentar fundir os 6 grupos existentes (Fundadores, Juvi, Conquistadores, Força Afonsinos, Força

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Vários grupos do Vitória x Benfica 2012/ 2013- Final da Taça de Portugal, Jamor, 26 de maio de 2013

Branquinhos e Tempestade Vitoriana). Este será o primeiro grupo do Vitória a produzir um cachecol próprio do grupo que também seria um dos primeiros do país.

Em 1992, num jogo contra a Real Sociedade, apareceu uma tarja na bancada norte onde se podia ler Black N' White Boys. Este nome, ao contrário do que alguns pensam, não representa um novo grupo. É apenas uma tarja que foi pintada por antigos membros dos extintos Fundadores, os quais já apresentavam uma tarja com a mesma inscrição nos seus primeiros anos. Em meados dessa época, de 1992/1993, aparece a Legião Vitoriana, com objectivo de tentar recuperar a actividade dos jovens Vitorianos, e que iria durar até ao final da época 1993/1994.

Na época seguinte, a 25 de Setembro de 1994, três dias após a celebração do 72º aniversário do Vitória Sport Clube, nasceram os Insane Guys. Este grupo veio mudar totalmente o paradigma de apoio nas bancadas vitorianas. Este seria o maior grupo de apoio ao Vitória SC até à data e, ainda hoje, são reconhecidos nacionalmente pela força do seu passado. Importa referir que, aquando da sua fundação, apenas existia a Juvi que se caracterizava pelo toque dos seus bombos e por serem compostos por elementos que já tinham passado a sua juventude, há uns bons anos. Naturalmente, os Insane tornar-se-iam a alternativa que a juventude local procurava e, em pouco tempo, passaram dos 25 elementos fundadores para a campanha de angariação dos 500 sócios, seguida dos 1000, e assim continuou. Estes trouxeram coreografias a todas as bancadas, novos cânticos, inovaram nas tarjas, criaram a sua fanzine, produziram uma série de adereços novos como t-shirts, casacos, chapéus, cachecóis e a lista podia facilmente continuar. Os Insane continuam a existir na bancada onde nasceram, a nascente, e são o grupo mais antigo do Vitória, estando já próximos de completar o seu 27º aniversário.

Mais tarde, no ano de 1999, nasceram os White Angels que são actualmente o maior grupo de apoio ao Vitória Sport Clube. Este grupo, a par do anterior, foi muito importante no desenvolvimento do movimento Ultra na cidade berço e tentaram trazer outra consistência com a sua actividade. Inicialmente começaram na bancada nascente, no lado oposto aos Insane Guys, estando actualmente situados no topo sul.

Poucos anos depois, mais concretamente em 2003, nasce o Gruppo 1922 que continua a praticar a sua actividade de apoio ao Vitória. É ainda na primeira década deste milénio que aparece o Gate12, os Tifosi (2007), a Brigata, os MP52 e os Vimaranes 1128. Também nesta fase, podiam-se ver outras faixas de grupos no estádio D. Afonso Henriques como a dos Ramuf e dos MG, fruto de algumas dissidências que ocorreram ao longo da história.

Em 2008, na dinâmica gerada pela união de alguns grupos na nascente inferior, surgem os Suspeitos do Costume. Este grupo também ficaria marcado pelas suas coreografias e a sua capacidade de mobilização.

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Mais tarde seriam preponderantes, a par dos White Angels, na construção do chamado Sector Ultra, na bancada sul inferior, que procurou reunir os grupos de apoio ao Vitória.

Na segunda década do milénio manteve-se a tendência de aparecimento de pequenos grupos e, assim, continuamos a assistir ao nascimento dos Galáticos do Minho (2010), Exército Branco (2011), King's Crew (2011), Nova Gera (2013), Ragazzi (2013) e Fundadores (2015). Mais recentemente, em 2018, começa a juntar-se um novo grupo de jovens na nascente inferior, os quais não possuem uma denominação assumida, mas que continuam activos a par dos Insane Guys, dos White Angels, do Gruppo 1922 e dos Tifosi.

Como foi possível constatar, a história do movimento organizado de adeptos do Vitória Sport Clube é bastante rica a partir dos anos 80. Os jovens locais foram seduzidos por esta forma organizada de viver a bancada e acabaram por se inserir num grupo ou participar na fundação de outros. Eu próprio, por brincadeira, ajudei a fundar um grupo juntamente com os meus amigos de escola, o qual baptizamos de Black Monsters, mas longe vai esse ano de 1995 e, actualmente, pertenço a outro grupo Ultra há quase 23 anos.

No meio de tanta informação, é possível que me tenha falhado a memória na menção a algum grupo ou, simplesmente, tenha optado por não o colocar por a sua existência ser muito curta e não se justificar. Ainda assim, este texto é o registo mais completo sobre os grupos de apoio ao Vitória e espero que, com isto, tenha atingido o meu objectivo de os homenagear.

Haverá melhor maneira de celebrar a nossa história como quando a recordamos?

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Cartoon alusivo às Claques 2013 - João Soares

Sou do Vitória desde pequenino....

Sou do Vitória desde pequenino! Ouvimos esta frase vezes sem conta e ouvimo-la com um sorriso nos lábios, sentimos o orgulho de quem a profere, o alcance de tamanho feito.

São poucos os clubes que se podem orgulhar de sócios antigos tão novos. Assim, é vulgar encontrarmos miúdos com 25 anos com 25 anos de sócio e jovens de 50 com 50 anos de sócio. O Vitória, sim, consegue orgulhar-se disso, ou pelo menos devia...

Mas como é que isto é possível? Poderá questionar o leitor mais distraído, mais afastado da Cidade Berço e da sua alma só Vitória.

Para nós, que aqui vivemos, parece-nos quase óbvio. Aquando da gravidez, pai e mãe já só pensam no momento em que vão inscrever o novo vitoriano como sócio, de que modo vão anunciar a chegada de mais um vitoriano à cidade.

E a primeira foto do bebé vai para…o cartão de associado, alguns são efetivamente sócios antes de serem cidadãos portugueses, o clube tem sempre prioridade, se não são os pais são os avós ou padrinhos preparados para imediatamente comunicarem ao clube a nova aquisição.

E assim inicia o “catequismo”, com os berços decorados com as insígnias do clube, as roupas com o Super Afonso em destaque, os bebés crescem ladeados pelo símbolo que os ampara e vê crescer.

Quando escutam com atenção as primeiras melodias, pelo meio, lá vem o hino do Vitória, os cânticos que se escutam nas bancadas, que os mais novos, desde bem cedo, tentam cantar.

Surge a primeira bola, e o remate para golo é sempre do Vitória....

E quando nos questionam se não lhes damos outra opção, não entendemos a pergunta. Opção?

Amamos o clube da terra e não outro, apoiamos o clube da terra e não outro, gastamos dinheiro com o clube da terra e nunca com outro.

Somos de Guimarães e o nosso clube é o Vitória, outra coisa é impensável. Por esta razão, colocar a possibilidade de escolher, nem sequer é ponderada, parece-nos a ordem natural das coisas, e não é suposto ser assim?

Na realidade, não ficamos por aqui, não passamos só a alma do Vitória, vamos passando ódios do

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passado, que nem sempre deveríamos, mas alguns fazem parte integrante de nós; “De Braga, nem bom tempo nem bom casamento!”, “marroquinos”, demonstrando a antiga rivalidade com o Braga, muitas vezes associada a questões políticas e não só desportivas. Ouvimos os mais velhos com promessas a santos, algumas por cumprir, desejando a descida de divisão do Braga, juntamos ainda o ódio de estimação ao Boavista, e com tudo isto mostramos que somos maiores, mais fortes....

E de facto, somos maiores, na alma, na paixão, no amor que nos faz sentir parte do clube e que nos leva ao estádio de modo quase religioso, mostrando, desde muito cedo, aos mais pequenos que estar presente no estádio, no pavilhão ou nas piscinas é a nossa obrigação.

Uma obrigação estranha, pois no fundo é um prazer vindo das entranhas estar ali, e é este prazer vindo das entranhas que cultivamos nos mais novos, é este ser do Vitória desde pequenino que queremos ver nos nossos filhos, e não há nada que nos orgulhe mais do que vê-los a apoiar o nosso Vitória; não há nada que nos encha mais de orgulho do que vê-los a sorrir a cada golo, a vibrar a cada passe e a defender perante tudo e todos o Vitória que é de todos nós.

Não conheço mais clube nenhum assim, obviamente que clubes com um poderio económico maior não entram na equação, nem seria lógico fazê-lo.

Mas, de facto, somos únicos pela forma como passamos a paixão pelo clube como se de um código genético se tratasse. Que prazer sentimos quando os mais pequeninos identificam o símbolo, se abraçam a ele, em busca de conforto.

Na realidade, o que queremos é mesmo isso, que sintam conforto e aconchego com o símbolo do Rei, pois não há nada mais importante para o ser humano do que a sua ligação à terra que o viu nascer. E o Vitória para nós é isso, é um aconchego que está na cidade que nos viu nascer e que nos acompanha para todo o lado e durante toda a vida.

O Vitória é o centro do mundo, para qualquer Vitoriano e inclusive para a cidade que o viu nascer, Guimarães.

Muitas vezes referenciado como: “O de Guimarães”, é um clube ímpar, elogiado pela sua massa adepta singular e apaixonada.

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Vitória Sport Clube no feminino Andrea Ribeiro

Em 100 anos de história são inúmeras as imagens que todos guardamos na memória, mas sempre na perspetiva de que Vitória é acima de tudo família.

Todos se sentem Vitória, desde sempre, e comungam da mesma paixão, nunca vergando o amor às circunstâncias porque, acima de tudo, se ama uma cidade e porque se identifica um clube como seu.

Ser Vitória é algo inexplicável, é orgulho, é projeção da cidade e do Rei, na maioria das vezes uma paixão com toda a sua irracionalidade.

Num desporto ainda muito conotado com o género masculino, a massa adepta do Vitória é novamente singular pela presença feminina assídua em estádios, assembleias e, mais recentemente, em cargos diretivos. Já lá vai o tempo em que as mulheres não tinham direito a voto.

Mesmo assim, esta presença feminina nas bancadas remonta ao campo do Benlhevai, cuja inauguração teve a presença de 3000 pessoas. Em 1934, o Vitória conquista o seu primeiro campeonato distrital de Braga e, numa publicação de “O Primeiro de Janeiro”, fazendo referência à grande festa que se instalou na cidade afirma que: “Muitas senhoras que no referido local compareceram saudavam os jogadores e meninas da elite vimaranense mimoseando-os com bouquets de flores naturais”.

Mais tarde, já no campo da Amorosa, era igualmente frequente a presença das mulheres. Importa, no entanto, salientar que estávamos numa fase em que os padres repudiavam a presença das mulheres nos estádios. De acordo com a minha avó Dulce Rodrigues, vitoriana dos sete costados e irmã de um dos maiores craques do Vitória, Alexandre Rodrigues (avançado de centro, desde a época 1938-39 até 1946-47), os padres reclamavam em confessionário que: “as mulheres iam aos estádios só para ver as pernas dos jogadores”, considerando, por isso, pecado merecedor de punição divina. Mas nem isso demoveu a alma feminina vitoriana.

As mulheres vitorianas são, por isso mesmo, únicas, nutrem uma paixão sui generis pelo clube e não se limitam a acompanhar os maridos ao estádio. Dominam o futebol como qualquer elemento masculino, discutem “bola” e Vitória sem qualquer receio, e não se limitam ao futebol, destacam-se pela sua presença nas modalidades, quer como dirigentes, fisioterapeutas ou apenas adeptas, envergando sempre a camisola do Rei.

Esta presença nas modalidades tornou-se mais notória no voleibol, na década de 70, com Fernanda Salgado, indefetível vitoriana ao leme, sendo fundadora da secção e capitã da equipa no ano da sua formação. Para além da presença no dirigismo também em outras áreas as mulheres vitorianas têm tentado ajudar o clube, eu mesma como fisioterapeuta da equipe sénior masculina, de 2001 a 2003. Todavia, diz António Xavier, antigo dirigente e jogador de Hóquei do VSC, que, no seu tempo, as namoradas, irmãs e amigas

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acompanhavam o Hóquei para todo o lado preenchendo os lugares vazios dos autocarros da equipa e tornaram-se fãs do Clube.

Há, no entanto, ainda uma parca presença das mulheres nos quadros diretivos, em posições de relevo, não por falta de paixão, nem mesmo por falta de competência, mas, na minha opinião, por um machismo que ainda envolve o futebol e que teima em não desaparecer. Mas já vencemos algumas batalhas, pelo amor ao futebol e ao clube; já escrevi crónicas em jornais desportivos e textos de opinião e não sou a única, muitas mais se seguiram.

Considero, por isso, que se este amor fosse quantificável, acredito que superaria o dos homens, pois tem que vencer estigmas e dogmas da sociedade, enfrentar receios e títulos de fragilidade.

Ser mulher e ser vitoriana é, nesta cidade, algo intrínseco, faz parte integrante do nosso código genético, passamo-lo aos nossos filhos desde o ventre e não hesitamos em defender o clube.

Dissemos presente em vários momentos, como na última descida de divisão com o estádio cheio, gritamos a plenos pulmões “Vitória até morrer!”. Eramos muitas, com as lágrimas a percorrer-nos o rosto, com a voz embargada e um aperto no peito gritando que jamais abandonaremos o nosso amor ao Clube.

Somos fiéis na derrota e na glória, como quando regressamos à primeira liga e exultamos o com o regresso do Rei ou naquele dia 26 de maio de 2013, no Jamor, em que novamente de lágrimas a banhar-nos o rosto, cantamos, brindamos e sentimos imensa alegria com o feito alcançado.

Dissemos sempre presente, nos bons e nos maus momentos, sempre pela paixão que nos move, a de sermos vitorianas.

Quando começa este amor? Cremos que no ventre das nossas mães, como se fosse uma semente que depois germina e cresce, regada com mais um golo, com uma arbitragem menos bem conseguida, com uma direção fantástica ou uma direção que nos faz suster a respiração. Mas todos os dias pensamos no Vitória,

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Aspeto da bancada central do Campo da Amorosa, em Guimarães, no dia 15 de junho de 1958, dia do jogo decisivo de acesso do Vitória SC à 1ª Divisão Nacional

lemos qualquer coisa sobre o Vitória, revoltamo-nos quando somos esquecidos, ignorados pelos principais órgãos de comunicação social ou então apenas lembrados porque algo correu mal. De facto, só se lembram que somos únicos muito esporadicamente, na maior parte das vezes somos os vândalos que têm de ser punidos exemplarmente.

Por tudo isto, ser mulher vitoriana é ser mais forte, como diria o poeta “é ser maior do que os homens” e quanto ao Vitória “é amar-te assim perdidamente, é seres alma e sangue e vida em mim”.

Pela mão de meu pai

Quando estamos no D. Afonso Henriques e ouvimos os vitorianos cantar “Quando eu era pequenino; já tinha a mentalidade; meu pai dizia-me meu filho; defende o clube da tua cidade”, é inevitável que alguns de nós sintam um arrepio na espinha.

No meu caso, acorrem ao espírito todas as memórias que me fizeram vitoriano e que vêm sempre de mão dada com o meu pai. Foi assim, literalmente pela mão dele, que comecei a entrar naquele estádio, quando ainda se chamava Estádio Municipal de Guimarães.

Íamos para a bancada central, numa altura em que eu ainda não entendia sequer o jogo. Na altura, era tudo só emoção, gritar golo e aprender os nomes dos que vestiam de branco. “Quem marcou, pai? Foi o Abreu, ou o Gregório Freixo ou o Nivaldo ou o Joaquim Rocha.” Quando ainda nem sequer se anda na escola primária, não há lugar para análises técnicas ou táticas. Estes são os nossos e por isso são os melhores.

Ir à bola era um ritual. Sair de casa com uma boa antecedência e atravessar a cidade a pé. Pelo caminho, iam-se encontrando amigos e conhecidos. A aproximação ao estádio a fazer-se sentir, com cada vez mais gente a deslocar-se no mesmo sentido, muitos com cachecóis e bandeiras, outros apenas e só vestidos de vitorianismo. E o coração que ia batendo um pouco mais rápido, quando assomávamos à fila da entrada.

Depois, comprar o bilhete para o sorteio da bola (que nunca saía) e escolher o melhor lugar possível

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para nos sentarmos (às vezes era só eu, pois ele gostava de ver o jogo de pé). Assistir ao aquecimento já era uma espécie de pré-jogo onde se tentava adivinhar quem eram os escolhidos. As equipas recolhiam ao túnel, ainda do lado nascente e depois entravam, mas uma a uma, o que ainda conferia mais emoção à coisa. Primeiro o trio de arbitragem (sob um coro de assobios preventivo), depois o adversário (os assobios redobravam, sobretudo com certos emblemas) e depois a apoteose, com a entrada, em passo de corrida, dos nossos heróis.

No final, os comentários trocados com quem se ia encontrando no trajeto e uma habitual paragem em casa de um amigo. À noite, esperar pelo domingo desportivo para rever os principais lances.

Recordo ainda com saudade as viagens de carro a ouvir o relato (com a espera angustiante quando o relatador gritava interminavelmente goooooooolo, até se perceber se era do Vitória ou não); as deslocações fora de portas (Braga, Póvoa, Coimbra, Lisboa e tantos outras); os jogos de vólei feminino no Inatel, ou os desafios das competições europeias, como o primeiro de que tenho memória, contra os ingleses do Aston Villa.

Com o passar dos anos, o puto já mandava uns bitaites, já gostava de ler o jornal A Bola para ver a pontuação dada aos nossos jogadores, já conhecia os craques todos, dos titulares aos suplentes e já tinha predileções: acima de todos o ídolo Paulinho Cascavel, que na despedida fez rolar umas lágrimas pelo rosto

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In, História do Vitória Sport Clube

do jovem adepto.

Até ao desaparecimento precoce do meu pai, foi sempre assim. E quando assim é, não há volta a darlhe. O bichinho fica cá para sempre e não há nada a fazer. É-se vitoriano e ponto final. É como diz o Dino Freitas: “Sejas último ou primeiro; Na derrota e na glória; Terás Guimarães inteiro; A puxar por ti Vitória”.

E é essa fé fervorosa e incondicional que nos torna diferentes. As memórias que descrevi serão certamente partilhadas por muitos adeptos de outros clubes. Mas este é, efetivamente, um clube diferente. Que se sente de outra maneira.

Não reclamo o nosso excecionalismo por nenhuma tendência bairrista sem conteúdo. Reclamo-o porque é factual. Porque num clube que pouco ganhou em termos de futebol sénior, é ainda mais notável a fidelidade, a dedicação e o fervor que os vitorianos colocam na defesa das suas cores. Um clube que atingiu o maior número de associados quando desceu de divisão. E que o fez depois de uma malfadada época em que os adeptos apoiaram massivamente a equipa pelo país todo e além-fronteiras, até ao último apito que finalmente sentenciou o nosso destino.

Existe efetivamente um ADN vitoriano que é indissociável da cidade onde o clube nasceu. Somos assim porque somos de Guimarães, terra de gente que se orgulha do seu passado e que corporiza um espírito inquebrantável na defesa do que é nosso.

Resta desejar que o futuro venha um dia a oferecer aos vitorianos as alegrias que eles tanto merecem e que justamente reclamam. Como a daquela tarde, há nove anos atrás, em que levantamos uma taça. Um momento que muitos vitorianos já não puderam testemunhar. Como aquele que um dia me pegou pela mão e me fez sentar nas bancadas do velho Municipal.

VitóriaSempre uma paixão sem limites pelo Vitória Sport Clube

Paulo Roberto Oliveira Peixoto Sócio VSC N 3749 | Criador e Fundador da AVS

Foi há 18 anos, em 2003! A Internet, para muitos, ainda era um objeto desconhecido e inacessível. Um instrumento com que muitos ainda não sabiam lidar. Porém, começavam a aparecer apaixonados pelo “novo

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mundo”, o fantástico mundo da rede, que exercia um fascínio irresistível, como foi o caso do Paulo Roberto, que procurou unir duas das suas maiores paixões: a informática e o Vitória Sport Clube.

Por essa razão, resolveu ousar, criar um projeto revolucionário. Um projeto de discussão e de democratização do seu clube: o Vitória Sport Clube. Surgia, assim, o projeto “VitóriaSempre” com o objetivo de promover o debate de ideias e a discussão em volta do clube, mas também ser um complemento do site oficial, que, à data, ainda era bastante desatualizado.

Atento a isso, a 19 de Setembro de 2003, três dias antes do 81.º aniversário do emblema vimaranense, o denominado Fórum VitóriaSempre via a luz do dia. Como o nome indica, desde o primeiro dia da sua existência tornou-se ponto de encontro de muitos vitorianos.

Tal seria a indicação para o aparecimento do site que, desde logo, tornar-se-ia um ponto de referência marcante para os adeptos do Rei, que passaram a assumir como obrigatória a visita ao longo do dia a um local onde as novidades surgiam, quase, em primeira mão.

Esse ano, o do nascimento, mas também de afirmação, ficaria, ainda, marcado pelo fim do legado de António Pimenta Machado no Vitória SC. Fruto da instabilidade que o clube ia vivendo, o Fórum tornou-se o local preferencial de discussão daquele momento, de sugestões para o clube continuar a evoluir e de muitas hipóteses para o futuro.

O site foi evoluindo, abraçando as modalidades do clube, dando destaque a quem realizava valorosas obras em nome do clube. Atento a isso, surgiram as primeiras entrevistas: a atletas, a diretores e elementos do clube. Com o estreitar dessas relações, quer o clube, quer os integrantes do projeto, que já contavam com mais elementos para além do Paulo, perceberam que a criação de parcerias para divulgação das diversas modalidades do Clube seria um caminho proveitoso para ambos. Seria uma das jóias da coroa do VitóriaSempre, ainda sem o estatuto de associação, mas já no quotidiano de muitos vitorianos.

Com a saída de Pimenta Machado e a entrada de Vítor Magalhães para a liderança do clube, muitos vitorianos descobriram o Fórum. Ora, se eram muitos passaram a ser mais. O incremento de foristas e o debate de ideias em torno do clube tornaram-se mais apaixonadas e, verdade seja dita, por vezes acirradas.

Até que… em 2005, no seguimento desse caminhar ao lado do clube, numa reunião com o então

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Imagem com algumas das iniciativas mais emblemáticas da AVS

secretário geral e antigo presidente, Fernando Roriz, este lançou a ideia: por que não constituir uma associação? Uma associação de e para vitorianos, que agregasse os que estão próximos, mas, também, para que os que se encontram longe pudessem sentir aquele espaço como um ponto de encontro onde pudessem saciar a sede de discussão do seu amor clubístico.

Assim, no dia 01 de Abril de 2005, o “Grupos dos 5”, constituído pelo Paulo Roberto Peixoto, José Carlos Oliveira, Agostinho Marques, Luís Paulo Carvalho e Carla Alexandra constituíram a “Associação VitóriaSempre” e entraram na história como os 5 fundadores da já famosa AVS, como carinhosamente é chamada por quem não sabe viver sem ela.

Associação VitóriaSempre

Vitória Sport Clube

– 18 anos ao lado do

Mantendo o espírito do projeto inicial, o site da AVS foi-se adaptando ao longo dos tempos, procurando sempre que o empreendedorismo fosse a sua bandeira, avançando com projetos que orgulhassem os Vitorianos. Para isso, nada melhor do que, até dado momento da sua existência, ter existido uma rádio, onde era narrada a atualidade noticiosa do clube.

Iniciativa solidária promovida pela Associação VitóriaSempre e com o apoio do clube, dia 26/03/2022

Porém o passar dos anos levaria a uma adaptação do posicionamento da AVS ao mundo digital. Com o clube a apostar (finalmente!) no digital, a entrada em força das redes sociais, o lugar noticioso estava ocupado. A aposta passaria a recair, exclusivamente, no fórum. Esse teve o seu crescimento natural, mantendo-se sempre como um local de visitas com um número bastante acima da média… principalmente quando existem novidades, ou se anteveem factos relevantes para a atualidade vitoriana.

Aliás, poderemos dizer que o crescimento deste espaço levou a que muitos foristas se tornassem sócios da AVS, o que lhes trouxe vantagens em vários parceiros. Parcerias essas, encetadas no ano de 2007, num momento em que tal era pouco habitual, sendo mais uma inovação no mundo associativo vitoriano.

Associação VitóriaSempre em comunhão com o Vitória Sport Clube

O trabalho da AVS não se cinge à informação e às redes digitais. Desde o primeiro jantar de foristas, em 2004, que tudo tem sido feito para trazer mais e mais adeptos vitorianos. Além disso, a estes encontros é

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tradicional aparecerem figuras do clube, como presidentes, diretores, treinadores, num evento que começava com a mítica “futebolada” acabando em acesos duelos à mesa.

Jantares esses que serviram, também, para homenagear atletas marcantes na história do clube. Assim, foi nesses momentos que lembramos a memória do inesquecível guarda-redes Jesus, mas também o antigo atleta Allan Cocato.

Mas, a AVS procurou sempre estar ao lado da comunidade. Por isso, foram atribuídos os “Prémios AVS Conquistador” para distinguir os que mais se notabilizaram no clube, sem, porém, esquecer os adeptos, mas, também premiar o atleta de futebol profissional mais valioso em cada jornada, após voto dos integrantes do fórum.

A iniciativa de convocar uma AGE para votar e discutir a retirada do número 12 das camisolas do Vitória em homenagem aos adeptos foi talvez a iniciativa associativa mais marcante da AVS. Era a homenagem derradeira aos vitorianos! Tal seria aprovado por unanimidade em sede de assembleia-geral, passando esse mítico número, a partir de 29 de Outubro de 2010, a ser património de todos os que, nas bancadas, apoiam o clube.

O Cordão Humano que antecedeu a partida com o Benfica, e que percorreu a cidade, em tarde diluviana de chuva, mas de amor a um símbolo?

Mas, a associação sempre quis ter papel ativo na vida do clube. Por essa razão, foram, também, realizados debates entre candidatos a eleições, mais especificamente nos atos de 2007 e de 2012, procurando sempre que os nossos adeptos estivessem o mais preparados possível para ajudarem o clube.

Momentos únicos do Vitória Sport Clube

Algumas das mais memoráveis iniciativas que os adeptos do Vitória viram à luz do dia foram da responsabilidade da Associação VitóriaSempre.

Assim, quem poderá esquecer, no famigerado ano da descida, o treino que teve uma assistência de 4000 vitorianos? Mais do que na maioria dos jogos da Liga Nacional.

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Ou, como esquecer, o pano de 100 metros em toda a bancada, a manifestar apoio ao Vitória?

E ainda a “Marcha Branca”, na Póvoa de Varzim, já na segunda liga. Ninguém duvide: um grande clube só existe com quem é capaz de tudo fazer pelas suas cores. A Associação VitóriaSempre e o Vitória Sport Clube são a prova disso!

Associação VitóriaSempre e o legado digital do Vitória Sport Clube 2020, ano em que o mundo quase parou, em que os adeptos deixaram de poder ir aos estádios, fruto da pandemia que assolou o mundo. Por esta razão, em Outubro de 2020, começou a germinar uma ideia, nos integrantes da AVS: criar programas em direto, onde as pessoas pudessem conversar e manter acesa a Paixão e o “Sentir Vitória”. Foi a base para o que surgiria em Abril de 2021, que, também, serviu para comemorar o XVI aniversário da Associação VitóriaSempre: o projeto #AVSLIVE.

Tendo como objetivo primordial debater o Vitória Sport Clube de uma forma estruturante e dando voz a todos os Vitorianos, a Associação VitóriaSempre já teve nos seus programas elementos da direção, sócios mais ou menos conhecidos, antigos jogadores, diretores das modalidades. Ficará na história o programa de homenagem ao saudoso Neno, em que a AVS convidou um

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conjunto de figuras vimaranenses e vitorianas, mas também nacionais, para lembrarem um homem que a todos marcou.

Por isso, tal como o Fórum, ganhou o seu espaço no Universo do clube, sendo já vista como um “local de referência”.

Mas, imediatamente, ousamos embarcar em novos projetos. Por isso, surgiu a ideia dos Podcasts. Denominados de #SENTIRVITÓRIA procuram proporcionar ao Universo Vitoriano conteúdos que visam reforçar ainda mais o "Sentir Vitória" e um complemento ao projeto #AVSLIVE dando voz a quem fez parte da história do Vitória Sport Clube.

Para o legado digital estar completo a Associação VitóriaSempre começou a desenvolver uma Enciclopédia digital do Vitória Sport Clube denominada WikiVitória. Este projeto será a principal contribuição da AVS para o Centenário do Vitória Sport Clube.

O nosso objetivo é claro. Pretendemos deixar um legado digital do Vitória Sport Clube para que as futuras gerações possam desfrutar desta paixão sem limites.

O Vitória por si mesmo Equipa redatorial

Em julho de 1946, publicava-se o número especial do “Boletim do Vitória”, cujo diretor era Luís Filipe Gonçalves Coelho, que assinaria o editorial “Duas Palavras”, que assim termina e explica as suas motivações: “…Ao Boletim não só interessará a divulgação e o aperfeiçoamento técnicos das modalidades desportivas que se praticam neste rincão nortenho, tais como, futebol, pesca, caça e tiro, ciclismo, etc., mas também todas as especializações que conduzem à realização da unidade desportiva, de modo a fazer da nossa querida terra uma Vimaranas civilitas”

De facto, neste boletim, que ao que nos contam terá sido exemplar único, publicado na Direção desse ano de 1946, entre os quais constam nomes como o presidente António Faria Martins e o vice-presidente Antero Henriques da Silva, sobressai, sobretudo, nas suas páginas centrais, sob o título “Vitória Sport Club –

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Resenha da sua História”, o historial do clube:

“De começo, a prática do futebol em Guimarães limitou-se ao culto que lhe foi prestado pelas gerações académicas e por um grupo constituído por alguns filhos de distintas famílias vimaranenses (…)

Foi somente no ano de 1923 que a tertúlia Chapelaria Macedo pensou a sério na organização dum club desportivo e se obstinou em dar-lhe possibilidades de existência.

Animada, talvez, pelo sopro alentador vindo das bandas de Braga e orientada pelos ensinamentos difundidos através da “Desportiva” de Celestino Lobo, os seus primeiros passos foram ensaiados e, a breve trecho, fundava-se o Vitória Sport Club.

António de Macedo, Emílio Pereira de Macedo, Alferes José Campos de Carvalho, Tenente Gervásio Martins Campos de Carvalho, Luís Filipe Coelho, Eduardo Pereira dos Santos e Sargento Dóri foram os mais dedicados impulsionadores do desenvolvimento do primeiro clube desportivo de Guimarães, com a boa colaboração dos irmãos Mendes e Armando Freitas, da vizinha vila de Fafe. (…)

Conseguido este, ali, na Quintã, a atividade dos orientadores do club não se limitaria exclusivamente à prática do futebol …

Interessava-lhes outras modalidades desportivas e, assim, se registam brilhantes provas de ciclismo e pedestrianismo, em que o moço Luís Carlos Marques, por alcunha “o Melro”, muito se evidenciou em devoção estoica e amor bairrista.

Em janeiro de 1925, existindo já um outro club – o “Atlético” -, o entusiasmo da população vimaranense cresceu de vibratilidade (…) (…)

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Por necessidade imperiosa de bem firmar o futuro do Vitória, procedeu-se à sua filiação na Associação de Foot-ball de Braga, elaborados os seus primeiros Estatutos, promoveu-se à eleição de novos corpos gerentes, que ficaram assim constituídos:

Direcção: Presidente, Afonso da Costa Guimarães; Vice-Presidente, Gualdino Pereira; 1º. Secretário, Luís Filipe Coelho; 2º. Secretário, Eduardo Passos; Tesoureiro, Eduardo Pereira dos Santos; Vogais, António Macedo Guimarães e António da Costa Guimarães.

Conselho Fiscal: Joaquim Marques Mendes, António Lage Jordão e Emílio Pereira de Macedo.

Assembleia Geral: Presidente, António Faria Martins; Vice-Presidente, Avelino Ferreira Meireles; 1º. Secretário, Benjamim de Vasconcelos; 2º Secretário, Manuel Cosme. Recebida com prazer a indicação destes nomes, um dos trabalhos que mais preocuparia os recém-eleitos, seria, sem dúvida, o da construção de um campo de jogos (…) Após vários estudos, diligenciaram aproveitar o campo denominado da Perdiz, junto da Atouguia, cuja inauguração foi revestida de grande luzimento”.

Seguir-se-ia posteriormente um período de alguma decadência, particularmente após a fusão do Vitória com o Atlético, que culminaria com a perda do único campo de jogos existentes. Mas, o ressurgimento iniciase, como se prossegue no aludido artigo:

“Em 1930, Carlos Machado, Manuel Silva, António Ribeiro e outros moços vimaranenses Iniciaram um movimento de ressurgimento pró-Vitória e, constituindo-se em comissão, fizeram-no ressurgir com a aquisição do campo de jogos de Benlhevai, que tantas tardes de glória proporcionaria a Guimarães. No ano de 1932, efectuaram-se eleições e, por aclamação, foi indicado o nome do distinto advogado Dr. José Pinto Rodrigues, para assumir a presidência da Direcção do Club. Mercê da sua capacidade orientadora e da devotada dedicação de alguns dos seus mais íntimos colaboradores, pôde o Vitória caminhar avante e iniciar a sua mais brilhante carreira.

Vemo-lo entrar em competições oficiais e conquistar o título de Campeão Distrital, na categoria de Honra no ano de 1933 – título esse que vem sendo regularmente mantido até à presente época, exceptuando um só ano (…)

Com a administração do sr. Amadeu da Costa Carvalho, quer como presidente de direções quer como presidente de comissões administrativas, o Vitória continuou a traçar a sua carreira ascensional e a imporse como um dos melhores clubs nortenhos, alargando as suas boas perspetivas e marcando a sua notável presença na II Divisão.

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Em 1941-42, e graças ao forte impulso dado pelo actual Presidente da Direcção, sr. António Faria Martins, o Vitória atingiu o máximo da sua carreira com o asseguramento do seu lugar e, na I Divisão e na Taça de Portugal vemo-lo como finalista com o Belenenses.

Nas épocas de 1943 a 1946 (…) condenado o Benlhevai (…) e devido à perseverança directiva, muito especialmente à do digno Vice-Presidente sr. Antero Henriques da Silva, disfruta Guimarães dum novo campo de jogos – o da Amorosa – que, tornado praticável em pouco mais de um mês´, ver-se-á transformado, muito brevemente, num dos melhores stadiuns do nosso País”.

O Boletim do Vitória de julho de 1946 aborda ainda outras modalidades emblemáticas, como o ciclismo “uma das práticas desportivas que mais entusiasmam a população vimaranense”, a columbofilia e a pesca, dando conta dos concursos realizados pela “Sociedade columbófila de Guimarães” durante a época de 1946, bem como a caça e tiro, para “fazer gosto ao dedo” perante as codornizes, coelhos e perdizes. Ressaltam ainda artigos de incitamento à prática do atletismo e basquetebol e textos “doutrinários” sobre o “Desporto e Educação” e sobre “A função da Crítica”, entre outros.

No futebol, destacam-se também os artigos sobre outros clubes concelhios como o Clube Caçadores das Taipas, fundado em Novembro de 1923, o Moreirense Futebol Clube, instituído em 1938 e o Futebol Club de Vizela, criado a 1 de Janeiro de 1929, bem como uma alusão à homenagem ao médio-centro e capitão Vitoriano Zeferino Duarte e uma “Justa Homenagem” ao desporto e desportistas que, “sem distinção, revelaram ser verdadeiros desportistas ou souberam honrar galhardamente as cores do nosso Vitória”, que em longa lista são enumerados e elencados individualmente.

Outrossim, digna de menção, uma entrevista sob o título “Ouvindo o Sr. Alexandre Peics – Treinador do Vitória de Guimarães”. Na circunstância o treinador húngaro pronuncia-se esclarecidamente sobre o futebol português e o futuro do Vitória, com sentido de atualidade:

“Em Portugal, joga-se bem o futebol. Espero que, de futuro, esta prática desportiva se evidencie mais e se atinja o grau de desenvolvimento a que tem jus.

O que se torna necessário é acabar com os campeonatos regionais e aproveitar as variantes do vosso clima para a realização de provas da Divisão de Honra e da II Divisão, como também fomentar o arrelvamento dos campos e criar aos praticantes do futebol condições de vida que lhe evite o excesso de trabalho.” (…)

No entretanto, continuarei a trabalhar os juniores de modo a criar o chamado viveiro que a qualquer club se torna indispensável.

Nesses é que deve residir a esperança do dia de amanhã.” (…)

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Portanto, uma visão do passado que bem poderia ser um caminho de futuro …

E a história continua …

Mais tarde, em 1957/58, sairia o número único intitulado Vitória Sport Clube – Subcampeão Nacional da II Divisão, que, após “três anos de luta ardente e vigorosa (…) de incerteza e esperança, (…) de sacrifícios para todos”, traria o regresso à I Divisão.

Um boletim que marca o regresso do clube ao convívio dos grandes e que abre com um texto intitulado Vitória Sport Clube – do seu passado ao ressente, assinado por José Abílio Gouveia.

Um artigo que conta “uma breve história, da história da nossa principal associação desportiva”, que, “ tal como hoje, por volta de 1923, existiu em Guimarães, numa tertúlia – Chapelaria Macedo – que pensou a sério na criação de uma equipa de futebol! Isso passou-se nos “Bons Tempos” em que a palavra desporto mantinha o seu significado real e o puro amadorismo era expressão do sentir do desportista. (…)

Foi, portanto, nessa remota era, chamemos-lhe assim, que nasceu o Vitória de Guimarães, fruto de muitos sacrifícios e dedicações, onde o espírito bairrista de alguns vimaranenses mais uma vez se evidenciou e, cujos nomes, aqui deixaremos registados: António Macedo, Emílio Pereira de Macedo, Aferes José Campos de Carvalho, Luís Filipe Coelho, Tenente Gervásio Campos, Eduardo Pereira dos Santos e Sargento Dória.

O entusiasmo pelo jovem clube foi crescendo rapidamente e, desde logo, ensaiando o que vulgarmente se chama ecletismo, começou também, a praticar outras modalidades, entre as quais, o pedestrianismo e ciclismo, tendo-se evidenciado através de alguns atletas, com destaque para o saudoso Luís Carlos Marques.

E o tempo foi-o amadurecendo e, com ele aumentando o entusiasmo vitoriano, tornando-se imperiosa a necessidade de proceder à sua filiação na Associação de Braga, elaborar o Estatuto e eleger a Direção que, em 1925, ficou assim constituída: Presidente, Afonso da Costa Guimarães; Vice-Presidente Gualdino Pereira; 1º. Secretário, Luís Filipe Coelho; 2º. Secretário, Eduardo Passos; Tesoureiro, Eduardo Pereira dos Santos; Vogais, António Macedo Guimarães e António da Costa Guimarães, sendo Presidentes da Assembleia Geral

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e Conselho Fiscal, respetivamente, António Faria Martins e Joaquim Marques Mendes.

Foi, portanto, a partir dessa data, que o Vitória criou a sua personalidade legal (…)

Por ação da nova Direção, em breve com grande júbilo, inaugurou-se o campo da Perdiz (…) pois foi aí que pela primeira vez o Vitória se tornou Campeão Distrital.

Havia, então, um outro agrupamento congénere, o Atlético, que se fundiu com o Vitória. Mas, apesar disso, a coletividade combalida por divergências internas, entrou por volta de 1930 num período difícil da sua vida, prestes a extinguir-se chegando a perder a posse do seu próprio campo. Tal não aconteceu, porém, porque mais uma vez a abnegação e o bairrismo de alguns vimaranenses, entre os quais recordamos Carlos Machado, Manuel Silva e António Ribeiro, iniciaram um movimento de ressurgimento vitoriano e através de mil sacrifícios construíram o Campo do Benlhevai, onde o Vitória viria a colher tantos louros em tardes gloriosas e inesquecíveis.

Foi esse um dos períodos áureos do Clube, tendo tido a dirigi-lo homens de ação e espírito de sacrifício, tais como o saudosíssimo Dr. José Pinto Rodrigues, Amadeu da Costa Carvalho e depois António Faria Martins, que teve a glória inolvidável de conduzir a sua equipa ao plano da I Divisão. (…)

E, mais uma vez, surgiu outro nome na honrosa lista das dedicações Vitorianas, Antero Henriques da Silva, que tendo apenas em mente o alto interesse da Coletividade, conseguiu dotar o Clube com um novo parque de jogos: o Campo da Amorosa, obra que, à época, satisfazia plenamente os anseios dos vimaranenses. A sua permanência na Direção foi altamente benéfica para o prestígio do desporto local e o Vitória manteve-se sempre em lugares destacados da Divisão Maior.

Mas, os Clubes como os homens, têm os seus períodos de depressão. (…)

E foi isso que aconteceu ao Vitória em 1955. A sua caminhada triunfante teve inesperadamente um corte cerce e abrupto, fazendo-o baixar de Divisão. (…) Mas, passados os primeiros momentos da triste surpresa, de novo se ergueu o velho espírito bairrista. As Direções sucederam-se. A luta pela recuperação iniciou-se com ardor e, por fim, uma nova Direção, tendo como Presidente, o Eng.º. Alberto Costa e como VicePresidente Alberto Pimenta Machado Júnior, lança-se ao trabalho sem descanso. Novas aquisições, novo orientador técnico, o conhecido Fernando Vaz, novos sócios de todas as categorias. Tal como outrora, em 1923, nasce uma tertúlia - Cervejaria Martins – onde é gerada a valiosa Comissão de Auxílio, que se ramifica por todo o concelho de Guimarães e com ela surge um precioso contributo moral e material para a equipa vitoriana (…)

O Boletim de 1957/58 apresenta ainda um texto assinado pelo orientador técnico Fernando Vaz sobre

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os “Aspetos técnicos e psicológicos da equipa do Vitória”, uma entrevista com o Presidente da Câmara Municipal de Guimarães, o distinto médico Dr. J.M. Castro Ferreira, focada no andamento da obra do estádio de Guimarães, um artigo de Júlio Martins acerca do “Campo da Amorosa e as suas necessidades”, uma página dedicada às velhas glórias dessa época: Silveira, Ernesto e Costa, a reportagem da “Apoteose” e da festa da tarde de 1 de julho de 1958, artigos alusivos à história sobre a secção de Hóquei Patinado e os timoneiros e sócios honorários e beneméritos do Vitória, e, ainda, entre outros textos, um intitulado “Comissão Auxiliar –um exemplo de dedicação clubista – sobre um grupo de homens corajosos que produziu prodígios e que foram, a saber:

Augusto Monteiro, Damião Silva, Francisco José Ribeiro Jordão, João Ferreira da Cunha, João Luciano da Costa, Jorge Vilaça de Freitas Neves, Júlio Silva e Óscar Menezes Areias.”

Assim já era o Vitória nesses tempos …

A História Económica do Vitória

Em ano de centenário, que se discute se deve ser comemorado entre 22 de setembro de 2021 e 22 de setembro de 2022 ou entre esse dia em que se completam cem anos e 22 de setembro de 2023, ninguém discute ou investiga o 22 de setembro de 1922; é interessante refletir sobre a história vitoriana fora da “espuma” dos dias, da bola que entrou e não entrou, da classificação “europeia” desta ou daquela época.

Como em cem anos se construiu uma marca tão identitária de uma comunidade, que razões diferentes ao longo dos séculos XX e XXI mobilizaram tão conjuntamente forças populares, económicas, políticas, numa aliança tão forte que quase sempre se foi reforçando e ainda não teve o seu momento de viragem, de queda para a perda? Sim, porque o Vitória representa, hoje, mais para a força da nossa comunidade que representou em algum momento da sua história. Teve momentos mais altos em resultados desportivos (décadas 1960 e 1980 do século passado), mas a sua ligação ao comum dos vimaranenses nunca foi tão forte. Dois exemplos:

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a participação feminina na paixão vitoriana e a identidade de sócio que as crianças adquirem logo à nascença. Nunca tinha sido assim. Esta incidência do Vitória na nossa vida comum leva a que, mesmo quem nunca tenha tido o Vitória nas suas emoções de vida, não resista a tentar reescrever a história vitoriana ou todos os titulares dos diferentes poderes se acotovelem nas suas posses e galas. São exemplos da força vitoriana, mas que eram dispensáveis. O Vitória começou há cem anos porque um grupo de jovens queria jogar à bola. Jovens estudantes, filhos da sociedade industrial, proprietária e política, que dirigia a terra. Não tinham um líder. Não sabiam muito bem as leis do jogo. As notícias de que, em Lisboa e no Porto, já havia campeonatos, entusiasmou-os. Jogaram vários anos sem um nome, o jogo era denominado de “Foot – Ball” (em inglês). Conheci, nos anos 1960, Alberto Carlos Abreu e é ele apontado como o autor da ideia de se formar um clube: “Numa tarde do mês de julho de 1918, depois do regresso do liceu, onde tinham acabado uma partida com outros estudantes, reuniram-se em casa do António Pires, ali na Rua de Vila Verde, o Alberto Carlos Abreu e o António Antunes de Castro. Comentou-se largamente o jogo e a conversa estendeu-se à fundação de um clube por proposta do Alberto Abreu. A ideia foi aceite e, imediatamente, se pensou no nome do novo clube. Existia já nessa ocasião o Vitória de Setúbal que nesse ano se encontrava em grande forma e, por conseguinte, o nome foi resolvido ser o mesmo com a modificação nas finais: Vitória Sport Clube”. 20

Alberto Abreu foi, no início dos anos 1960, funcionário da sede do Vitória e deliciou-me, contando essas histórias da fundação vitoriana. Nunca as esqueci.

Os jovens que sonharam fundar o Vitória precisavam, porém, de alguém mais experiente, conhecedor das leis do jogo, que os ajudasse. As lojas comerciais no centro da cidade eram à época ponto de encontro de tertúlias. A “Chapelaria Macedo”, numa das portas onde hoje está estabelecido o “Café Milenário”, era uma delas frequentada pelos comerciantes vizinhos e seus clientes. Durante toda a primeira metade do século XX, os homens da classe média e superior usavam chapéu, pelo que uma “chapelaria” era um importante local de comércio.

António Macedo Guimarães, o proprietário da “Chapelaria Macedo”, vivera vários anos em Lisboa, e aí jogara futebol, tinha sido treinador e árbitro. O mais indicado para ajudar os jovens liceais. O Vitória começa assim numa aliança entre jovens liceais e comerciantes.

“Mariano Felgueiras (filho), Zeca Neves, Avelino Dantas, José Jorge, Arlindo Ribeiro, Rodrigo Graça, os já citados: Abreu, Pires, Castro, terão sido os jovens, entre outros, e nos mais velhos Emílio Pereira de 20 ” Norte Desportivo”, 6.2.1938

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Conheci muito bem este último, comerciante de fazendas com loja aberta na confluência Toural/Camões, sempre um ativo democrata, e dele recolhi muitos testemunhos que aqui recordo.

Há, porém, outro grupo social fundamental na formação do Vitória: os militares. Em Guimarães estava instalado o RI 20 (Infantaria) no hoje Paços de Duques de Bragança, e os jovens militares gostavam do jogo e tinham particulares aptidões físicas. Os irmãos Gervásio e José Campos de Carvalho, de Fafe, foram fundamentais, o segundo foi designado capitão-geral do Vitória e colocou os recursos militares ao serviço das obras nos campos de jogos, particularmente no Campo Zé Minotes, às Quintãs.

Não demorou muito, tudo isto decorre antes do golpe militar de 28 de maio de 1926 que derruba a primeira República, para a presença no clube de alguns dos industriais da terra, a principal força económica: Afonso Costa Guimarães (Fábrica do Castanheiro) assume a presidência da Direção e António Faria Martins, ainda com menos de 30 anos, mas já um destacado “comercial” da indústria de Pevidém, a presidência da assembleia geral. Luís Filipe Coelho escreveu: “Rejubilo por ver na direção do Vitória um António Faria Martins, um Afonso da Costa Guimarães e vários outros que de rapazes não podem ser alcunhados” 22 .

Outra presença, embora ainda minoritária, é a banca. Em Guimarães, à época, os principais bancos ainda não tinham agências locais sedeadas. Havia apenas representantes, normalmente industriais ou comerciantes da terra. Mas a história vitoriana regista a presença de Heitor Campos, gerente bancário, presidente do Atlético Clube de Guimarães, clube mais eclético, dedicava-se à prática de outras modalidades, mais elitista ainda do ponto de vista social, que se funde com o Vitória, em 1925. Muitos anos mais tarde, a presença de gerentes bancários na gestão vitoriana vai tornar-se fundamental. O golpe militar de 1926 paralisa Guimarães e o Vitória. A perda da Unidade Militar, que ocorre um ano 21 “Notícias de Guimarães”, 1934 22 “Notícias de Guimarães”, 1934

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Macedo, Luís Gonzaga Leite, Domingos André de Magalhães, Eduardo Pereira dos Santos (Parrameco)” . O Vitória Sport Club e as claques

depois, face à resistência à “Ditadura” estabelecida, retira da cidade muito do comércio que vivia dos militares e famílias. A prisão do Tenente José Campos de Carvalho, capitão-geral do Vitória, é um rude golpe na incipiente organização do clube. O Vitória já não concorrera ao Distrital de 1924-25 por não ter campo, e paralisa praticamente até 1931.

Quem reconstrói o Vitória não são as principais forças económicas, nem jovens estudantes. É o Povo. Os populares operários das fábricas, se bem que liderados por quem na época se designava por um operário especializado: Carlos Machado. É ele que se lança na construção do “Benlhevai”, na hoje Alameda Alfredo Pimenta, no centro da cidade. É inaugurado em 1932, é uma refundação do Vitória.

A epopeia da construção do campo foi grandiosa, mas deixou exaustos quem a dirigiu e executou.

As lideranças sociais responderam aos apelos para regressarem ao clube. Uma nova equipa com indiscutíveis líderes económicos e intelectuais da terra, assume o clube: Heitor Campos (bancário), Isaías Vieira de Castro (médico), Francisco Pinto Rodrigues (advogado), Amadeu Costa Carvalho (industrial do Castanheiro), Eduardo “Parrameco” (comerciante).

Inicia-se o tempo da hegemonia no futebol distrital e regional. Nos campeonatos da AF Braga, que o Vitória sempre ganhou, e nos jogos particulares em todo o Norte onde o Vitória levava o nome de Guimarães, sempre acompanhado por excursionistas vimaranenses.

Quem ainda não aparece no Vitória nos anos 1930 é o poder político. Talvez por não haver identificação das elites vitorianas, republicanas e democratas, estas apelavam aos apoios financeiros dos vimaranenses, salientando que o clube não recebia qualquer “apoio oficial”. Era a indústria e o comércio local que sustentavam os encargos de um futebol, ainda muito pouco semiprofissional, onde os jogadores trabalhavam com horários facilitados nas empresas dos industriais amigos do clube, ou em postos de trabalho conseguidos por influências. Foi o caso de Zeferino Duarte que se transferiu do FC Porto para o Vitória porque lhe foi arranjado um emprego na Garagem Avenida, pagou-lhe a carta de condução e, mais tarde, uma licença de exploração de um táxi no centro da cidade.

É só no final da década de 1930 que um Secretário da Câmara Municipal, Américo Durão, funcionário público colocado por Lisboa, mas que casara em Guimarães com uma senhora da família Pereira Mendes,

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Campo do Benlhevai

aparece pela primeira vez nos órgãos do Vitória: primeiro como presidente da assembleia geral e depois até como presidente de uma comissão administrativa. As portas da Câmara Municipal começaram aí a abrir-se ao Vitória.

Guimarães, no seu conjunto de comunidade, apercebe-se que o Vitória podia ser o seu melhor embaixador em todo Portugal.

Para tal era necessário que o Vitória tivesse acesso ao Campeonato Nacional de Futebol, até aí restrito aos distritos de Porto, Coimbra, Lisboa, Setúbal e Algarve. É António Faria Martins, muito presente fora de Guimarães, na capital e Angola, que desenvolve as principais diligências para o conseguir. Aliava o seu bairrismo, o gosto pelo futebol, as relações comerciais e outras que ia desenvolvendo. Conheci-o até aos anos 1980.

A “Taça de Portugal”, competição mais aberta que o Campeonato Nacional, onde o Vitória participava, também ajudou. Em 1940/41, o Vitória elimina o Barreirense, campeão da AF Setúbal e que disputava a I Divisão. Num jantar, no Hotel do Toural, comemorativo da época, são convidados Ribeiro dos Reis e Raúl de Oliveira, jornalistas e dirigentes da FPF. O advogado José Pinto Rodrigues, orador por excelência, enfatizou a justiça do alargamento do Campeonato Nacional ao campeão da AF Braga, o Vitória há várias épocas consecutivas.

Em 11 de janeiro de 1942, o campeão da AF Braga – o Vitória – disputava, no Campo da Constituição no Porto, um jogo com o União de Lamas – campeão da AF Aveiro, para apuramento para a I Divisão. 6-4 a favor do Vitória. Guimarães, através do Vitória, ia ser conhecida em todo o país, e consequentemente os seus têxteis, as suas cutelarias e a sua história de cidade fundadora da nação.

Não admira, assim, que os principais industriais da terra passassem a ser os primeiros sustentáculos do clube. Assim vai suceder nas décadas de 1940, 1950, 1960, 1970. Quem aceitasse presidir ao Vitória sabia que teria de avançar com um investimento pessoal. Em muitos casos repartido com uma equipa de vicepresidentes ou membros de outros órgãos ou ainda apoios de amigos que só compartilhavam sem o exercício de funções.

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Foto de Presidentes do Vitória

Houve, naturalmente, situações diversas. Houve presidentes que suportaram mais sozinhos, gerindo em presidencialismo, houve outros que funcionaram sempre em equipa. Mas normalmente um presidente constituía uma equipa preparando logo a sucessão com um vice-presidente. O esforço de trabalho e de financiamento pessoal nunca permitiu que qualquer presidente se eternizasse no cargo para além de três/quatro anos.

Houve, mais como exceção que como regra, presidentes que pouco investiram da sua fortuna pessoal. Mas tinham uma capacidade superior de angariação de fundos junto de outros e conseguiam soluções. De uma forma ou de outra, durante cerca de 40 anos, o Vitória foi um projeto coletivo da sociedade empresarial da terra e por ela suportado financeiramente.

É nesse período que aparecem no Vitória os gerentes bancários que também geriam as fortunas pessoais dos industriais. Houve vários que foram vice-presidentes, presidentes do conselho fiscal. Particularmente na década 1970 até ao 25 de abril.

Duas notas ainda relevantes deste período.

Primeira nota: A Câmara Municipal colaborou, depois dos anos 1940, sempre com o Vitória. Atribuíalhe um subsídio mensal fixo e houve jogadores, embora poucos, com emprego municipal. A principal exigência do clube era a construção do Estádio Municipal. Desde a promessa ao primeiro jogo vai demorar quase vinte anos. O Presidente da assembleia geral, a partir da década de 1950 passou a ser o presidente da câmara. Vereadores exerceram cargos no clube em função da representação política.

Segunda nota: No início dos anos 1960, o Vitória atinge um patamar classificativo importante. Começa a ser apontado como o “4º grande” face à queda do Belenenses. Potencializa jogadores e começa a suportar o seu orçamento com transferências. O primeiro terá sido Edmur para o Celta de Vigo, mas a mais significativa foi a de Pedras e Augusto Silva para o Benfica. Aqui já é o profissionalismo total e os orçamentos sobem significativamente.

Na angariação de fundos há também na parte final dos anos 1970, já após a “revolução do 25 de abril” uma participação financeira dos sócios importante através das comissões de fundo para um Vitória Maior. João Ferreira da Cunha, Custódio Garcia, e muitos jovens ainda vivos tiveram aí uma presença que hoje é uma das suas maiores recordações de vida. Os sorteios de automóveis permanentes permitiram contributos consideráveis.

A partir de 1980 começa a presidência de António Pimenta Machado, que engloba diferentes fases. Ao longo dos seus vinte e quatro anos de presidência, o Vitória passa de um clube deficitário, suportado pelos

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seus dirigentes, sem património, para um clube que entra no futebol – negócio, constrói património, profissionaliza a gestão, passa a ser um alvo de um novo empresariado desportivo.

Tudo isto sem mudar estatutos, sem mudar a sua forma societária, acentuando é certo um total presidencialismo, que se tornou muito difícil de viver com aceitação do poder dos sócios que formalmente sempre o detiveram.

António Pimenta Machado chegou ao Vitória para Presidente com menos de 30 anos, escolhido pelas tradicionais elites vitorianas, para gerir o clube como sempre tinha sucedido desde 40 anos antes. Era um menino rico, mas mesmo assim não desprezou, na sua primeira direção, uma sociedade familiar com os seus primos Armindo e Carlos, porque os encargos a assumir seriam elevados.

Inteligente e ambicioso, compreendeu cedo o novo mundo do futebol, dispensou a família e passou a presidente único. Construiu património, porque percebeu que “fabricar” talentos era o futuro. Ligou-se profundamente às grandes elites do dirigismo federativo, dos principais clubes, e da comunicação, apostando significativamente no poder da mensagem televisiva. Desprezou o local, os colaboradores, os poderes económicos e políticos da terra, porque o seu mundo era Lisboa e o Porto onde se começava a concentrar o poder do futebol com a transferência da FPF para a Liga Portugal.

Negociou transferências, profissionalizou o funcionamento do clube com funcionários fiéis, dispensando dirigentes voluntários e destruindo completamente as elites vitorianas do passado. Com os sócios populares teve sempre relações ambíguas. Tanto se ausentou do seu seio nos momentos de contestação, como os tentou conquistar nos tempos de vitória para reforçar o seu poder. Mudou completamente o Vitória por dentro, chegou a métodos graves como a reconhecida “assembleia dos capangas”, a que presidi, mas sempre se sujeitou a eleições democráticas, que ganhou sempre, e quando percebeu que não iria ganhar, exausto, saiu.

O Vitória pós Pimenta Machado, o Vitória do século XXI é um Vitória completamente diferente. Certamente porque o futebol mudou e se tornou num dos negócios com maior taxa de valorização no curto prazo de todas as atividades económicas. Rentabilizar 25 milhões, mesmo descontando comissões, por um jogador que 18 meses antes se tinha realizado um investimento de 50 000 euros, não é repetível em qualquer outra atividade económica. Sucedeu com Tapsoba.

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O Vitória de 2004 (ano de saída de Pimenta Machado) até 2012 (ano de constituição da SAD) é já um Vitória gerido pelo negócio, mas com pouco sucesso desportivo e financeiro. Os presidentes não chegaram lá para ganhar dinheiro, não eram sequer remunerados, tiveram apenas a ambição de presidir a um clube de uma dimensão superior às comunidades de onde eram oriundos, Moreira de Cónegos e Sande S. Martinho, onde eram prestigiados líderes locais. Na última destas presidências, o Vitória quase colapsava por incompetência de gestão.

Nas crises, fica aberto o caminho para as revoluções. Com o Vitória, em riscos de fechar, “ligado às máquinas”, na imagem do discurso de posse do presidente Júlio Mendes que ousou arriscar tudo que fosse proposto era aprovado pelo comum dos adeptos. Foi assim que a assembleia geral aprovou uma SAD com capital minoritário do clube, sujeito por isso aos interesses do acionista maioritário. Hoje sabe-se que esse acionista apareceu e celebrou um contrato que garantia margens lucrativas aos dirigentes do clube. Na época, nada se soube, a Vitória SAD continuou a ser gerida por uma direção eleita e parecia que nada tinha mudado. Só que tinha mudado tudo. A administração trabalhava, em nome desse acionista maioritário, para lhe garantir lucro para si e para os seus dirigentes.

Enquanto a ambição foi controlada, tudo correu bem. Quando ela cresceu e esbarrou com as novas gerações de elites vitorianas que se recompuseram nos pós Pimenta Machado, tudo abateu. A Direção autora desse projeto minoritário caiu.

Nas eleições seguintes, o lema da maioria do Vitória na SAD foi vencedor. Tinha de ser. O Vitória não abdicava de ser um clube de uma comunidade. Era o seu reencontro com a história. Foi cumprido.

Hoje, a Vitória SAD é dos sócios. Mas vive, no futebol negócio, um mundo desregulado, onde práticas de ganância são constantes. Tem de jogar as regras do jogo. Onde já ninguém é benemérito e todos querem ganhar muito mais que um jogo da bola. Onde uma nova classe – a dos empresários agentes de jogadores, treinadores, investidores no capital dos clubes – é dominante. Como nos primeiros cem anos (1922 – 2022) tudo mudou, também nos próximos tudo voltará a mudar…

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Vitória: 100 anos a formar Luís Cirilo

O Vitória Sport Clube, a maior instituição associativa do concelho de Guimarães, completa em Setembro deste ano a bonita idade de cem anos pelo que se encontra em pleno curso o programa de comemorações do seu Centenário.

É nesse contexto que, e correspondendo a amável convite de Osmusiké, alinhavarei algumas ideias sobre estes cem anos do clube, abordando essencialmente a sua vocação formadora que me parece ser aquela em que é mais forte e mais significativa a sua ligação à comunidade vimaranense.

E fá-lo-ei em três vertentes: a formação de atletas, a formação de adeptos e a formação de mentalidades.

Fundado em 22 de Setembro de 1922, pelos frequentadores tertulianos da Chapelaria Macedo (situada onde hoje está o Café Milenário, na Praça do Toural), o Vitória iniciou, então, um percurso desportivo assaz atribulado dado o facto de, nos seus primeiros anos, o clube não dispor de instalações próprias para a prática do futebol, que era, então, a sua única modalidade, pelo que teve de andar com as balizas às costas por vários pontos da cidade desde o campo da Perdiz ao campo Zé Minotes até que, nos anos quarenta do século passado, se fixou no campo do Bem-Lhe-Vai ali em frente à antiga Escola Comercial e Industrial de Guimarães (hoje Esc. Sec. Francisco de Holanda), onde permaneceu por alguns anos.

E, embora nesse tempo já se começasse a sentir uma forma muito própria de se ser adepto do Vitória, consubstanciada no apoio que era dado à equipa e que transformava as visitas a Guimarães em algo de muito difícil para os adversários face ao fervor do apoio dos vitorianos à sua equipa, era ainda cedo para esse apoio ter a expressão que ganharia no futuro.

Não se podia também falar, ainda, de formação de atletas porque o clube, fruto das dificuldades atrás referidas em termos de instalações, tinha apenas a equipa sénior, não possuindo escalões de formação e muito menos outras modalidades.

Tal panorama apenas começaria a ser modificado aquando da transferência do Vitória do Bem-Lhe-Vai para a Amorosa onde assentou as bases para um crescimento desportivo e associativo que se tornaria, a partir de então, imparável até aos dias de hoje.

Já na Amorosa, num campo que era seu e que deixou saudosas memórias a todos quantos o

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frequentaram, o Vitória pôde criar escalões de formação no futebol e dar corpo a outras modalidades aproveitando um rinque existente nas instalações e onde as secções de hóquei em patins e andebol deram os seus primeiros passos rumo a um ecletismo que hoje tem muito maior expressão.

E é a partir daí que se pode começar a falar do Vitória como um clube formador em termos desportivos.

Porque, essencialmente no futebol, nesses primeiros anos, o clube, tendo escalões jovens, começou a aproveitar para a sua primeira equipa alguns desses talentos burilados na formação e que, nalguns casos, viriam a ter carreiras de largo sucesso no futebol português.

Depois, no início dos anos 60, surgiu o estádio municipal na sua primeira versão e as oficinas da Amorosa ficaram quase exclusivamente para o futebol de formação dado que a primeira equipa apenas as utilizava para esporádicos treinos quando era necessário poupar o relvado do estádio ou quando o adversário da jornada seguinte jogava em campo pelado.

Simultaneamente, a secção de andebol deixara de utilizar o referido rinque, por manifesta falta de condições para a prática da modalidade (era ao ar livre) e mudara-se para o recém-construído pavilhão da FNAT (hoje INATEL) podendo, assim, ter também os seus escalões de formação enquanto a secção de hóquei em patins era extinta, fruto de acontecimentos que não têm cabimento referir neste texto.

A verdade é que com a demolição do Campo da Amorosa, para construção dos bairros sociais que hoje ocupam o espaço onde se situava, o Vitória viu-se novamente a braços com uma preocupante falta de instalações para a sua principal modalidade, dada a impossibilidade de o estádio albergar todos os jogos e treinos da primeira equipa e dos escalões de formação.

Foi então necessário encontrar soluções para ultrapassar o problema.

E é assim que surge o complexo desportivo António Pimenta Machado.

Originalmente nuns terrenos comprados pelo Vitória à Unidade Vimaranense onde foi construído um rudimentar campo pelado para os escalões de formação, ainda no tempo do presidente Gil Mesquita, e,

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Inauguração do “Campo da Amorosa”, 13 janeiro 1946

depois, com a dimensão que actualmente se conhece, fruto da compra de outros terrenos, já sob a presidência de António Pimenta Machado, nos quais construiu um complexo desportivo pioneiro no país, inspirado no complexo desportivo do A.C. Milan, que, durante alguns anos, colocou o Vitória na vanguarda dos clubes portugueses em termos de instalações para o treino de todas as equipas e para a competição nos escalões jovens.

Vários relvados, naturais e sintéticos, um edifício sede com vários pisos e variadas valências, um pavilhão gimnodesportivo onde, finalmente, as modalidades do Vitória puderam ter a sua casa e criaram condições para a expansão e conquista de títulos e troféus.

Sendo certo que esse complexo desportivo, já não estando, hoje, entre os mais modernos do país, continua a permitir a prática desportiva aos escalões de formação e tem vindo a ser melhorado com obras várias de que merece particular relevo a construção do miniestádio, actualmente em curso.

Pode, pois, dizer-se, sem receio de desmentido, que a vocação do Vitória enquanto clube formador foi fortemente incrementada com a criação do seu complexo desportivo que permite que hoje, nas suas instalações, pratiquem desporto mais de mil crianças e jovens o que é também uma forma de o clube agradecer à comunidade todo o apoio que esta lhe tem prestado.

Reforça também o conceito de o ecletismo ser parte essencial do ADN Vitória já que o clube, para lá do futebol, tem hoje mais quinze modalidades, quase todas com os respectivos escalões de formação masculinos e femininos, tendo nelas obtido títulos e troféus em competições nacionais e internacionais que dão ao clube uma dimensão que vai muito para lá da sua principal modalidade.

Mas, é bom dizê-lo, que já se sagrou campeão nacional nos escalões de iniciados, juvenis e juniores faltando apenas o desejado título de seniores para se poder falar de um Vitória campeão em todos os escalões.

E pode, portanto, dizer-se, hoje, com pleno cabimento, que um clube que começou por ter apenas uma equipa de futebol sénior tem, cem anos depois, ultrapassadas tantas dificuldades e tantos obstáculos, um conjunto de modalidades que, assentes na formação, permitem ao clube um ecletismo que orgulha todos os

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Site do Vitória Sport Clube

vitorianos e lhe permite dizer que é um clube formador.

É e continuará a ser!

Mas é também um clube formador de adeptos.

Porque fruto da forma muito própria de ser dos vimaranenses, mas também de muitos dos que escolheram Guimarães para viver, pode dizer-se que quase desde sempre foi estabelecida uma forte ligação umbilical entre clube e comunidade que levou a que, desde pelo menos o Bem-Lhe-Vai até ao actual D. Afonso Henriques passando pela temida (pelos adversários) Amorosa, o Vitória possa desfrutar de um fortíssimo apoio nos seus jogos em casa onde nunca um adversário teve um apoio sequer comparável ao que os vitorianos dão à sua equipa.

Da mesma forma, nos jogos fora, onde, desde jogos de grande significado, como as finais de Taça de Portugal ou em que estavam em disputa os primeiros lugares, até jogos absolutamente normais, os adeptos do Vitória habituaram o país futebolístico a deslocações massivas que suscitam a admiração (e bastas vezes a inveja) daqueles que não entendem como é possível um clube que nunca foi campeão nacional ter uma massa adepta tão numerosa e tão afirmativa no apoio ao seu clube.

Detentor, desde sempre, da quarta melhor média de assistências nos jogos caseiros, quarto clube em número de associados, quarto clube com mais participações no campeonato nacional da primeira divisão, o Vitória tem como cimento de tudo isso a sua profunda ligação aos adeptos e o orgulho que estes têm em serem-no de um clube completamente diferente de todos os outros, fruto de ser de uma Terra habitada por gente com um forte sentimento bairrista naquilo que este termo tem de melhor.

E, nesse sentido, pode bem dizer-se que o Vitória e Guimarães têm sabido bem formar, desde sempre, os adeptos do seu principal clube, o que corresponde também, nem podia ser de outra forma, a uma formação de mentalidades que leva a que os vimaranenses (com cada vez mais raríssimas excepções) sejam vitorianos convictos.

Este orgulho e esta convicção passam de pais para filhos e levam a que os vitorianos tenham prazer e motivação para, mal nasçam os filhos e filhas, os netos e netas, os sobrinhos e sobrinhas, os afilhados e

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Site do Vitória Sport Clube

afilhadas, etc…, os inscrever, de imediato, como sócios do Vitória para que, desde pequeninos, possam sentirse membros de pleno direito do clube e, habituando-se a sê-lo, o sejam pela vida fora, transmitindo o exemplo de geração em geração.

Criou-se também a mentalidade, quase única no país, e que leva a um legítimo orgulho e a um factor de diferenciação muito positivo, de, em Guimarães, ser-se pelo Vitória recusando qualquer forma de bi-clubismo e rejeitando essa forma de estar no desporto tão useira e vezeira noutras comunidades em que é usual o clube da terra ser a segunda opção atrás dos três clubes que dominam o panorama desportivo nacional desde sempre.

Existe ainda outro factor de orgulho para Guimarães e para os adeptos do Vitória, que assenta no facto de, nesta Terra, não existirem “casas” desses três clubes como acontece em quase todas as cidades deste país e que demonstra bem um atraso cultural que nessa área por cá nunca se verificou.

O Vitória Sport Clube tem sido formador de atletas, formador de adeptos, formador de mentalidades, o que muito tem ajudado à construção dos seus sucessos desportivos. Esta vocação tem sido bem visível ao longo destes primeiros cem anos e tem contribuído para imortalizar esta magnífica e incomparável instituição chamada Vitória Sport Clube.

E o futuro continuará a ser por aí.

Formar cada vez mais atletas para darem sustento desportivo às suas principais equipas, formar cada vez mais adeptos para ajudarem a que o apoio às suas equipas seja cada vez maior, reforçar essa extraordinária mentalidade de, em Guimarães, se ser seguidor apenas e só do Vitória é o caminho para o futuro do clube, potenciador de mais sucessos e factor de cada vez maior orgulho por parte dos vitorianos e da comunidade em que está inserido.

Estes cem anos têm sido fantásticos.

Mas o melhor ainda está para vir!

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Vitória Sport Clube - 100 anos de modalidades

Além do futebol, o Vitória Sport Clube é hoje um verdadeiro Clube eclético com várias modalidades a serem praticadas ao mais alto nível e nas principais divisões nacionais.

A par dos escalões seniores as modalidades também têm na sua génese a formação de jovens que garantem mais de um milhar de praticantes em inúmeras modalidades coletivas e individuais.

O destaque nas modalidades coletivas vai para o Voleibol (campeão nacional em 2007/2008 e vencedor da Taça de Portugal 2008/2009), mas também para o Basquetebol (campeão da ProLiga 2006/2007, vencedor da Taça de Portugal 2007/2008 e 2012/2013 e vencedor do Troféu António Pratas em 2008/2009), Futebol de Praia "masculino" (campeão nacional em 2010/2011), Pólo Aquático (tri-campeão nacional 2018/2019, 2020/2021 e 2021/2022 e vencedor da Taça e Super Taça Nacional em 2019/2020 e 2020/2021).

Nas modalidades individuais são muitos os atletas e títulos no Atletismo, Ténis de Mesa, Natação, Boxe, Kickboxing, Taekwondo, Jiu-jitsu, Judo, Karaté, Automobilismo, entre outras.

Nestes 100 anos de vida do Clube muitas foram as modalidades praticadas sob as cores Vitorianas e muitos os títulos coletivos alcançados para o Clube e de atletas em sua representação.

Hoje, o Vitória Sport Clube orgulha-se de ser um Clube imensurável e eclético fruto do dinamismo que as modalidades vieram trazer engrandecendo ainda mais um Clube por si só já gigante.

Modalidades Coletivas

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Andebol

As referências à modalidade no VSC remontam a 1965, com a participação de uma equipa sénior masculina no 1º Campeonato Distrital organizado pela Associação de Desportos de Braga.

Durante alguns anos, o Vitória repartia o protagonismo com CAR e DFH, tendo surgido mais tarde outros Clubes em Guimarães com participações assíduas quer no escalão sénior masculino quer em escalões de formação masculino. Destaque nesta altura eram as equipas de formação a disputar fases finais dos campeonatos e alguns jovens praticantes Vitorianos a serem chamados às seleções nacionais. Os excelentes atletas formados no Clube viriam a proporcionar a participação, a partir de 1972, na 1ª divisão nacional, com prestações medianas. Sem condições de manter os atletas em Guimarães a secção acabou por perder protagonismo acabando por ser extinta. Não sem antes haver uma tentativa de revigoração nos inícios dos anos 90, destacando-se, nesse período, o título de campeão nacional de juvenis masculinos, na época de 1994/1995.

A modalidade, neste primeiro momento, deixou de se praticar a partir de 1996, tendo ressurgido mais tarde, já na época 2020/2021, com uma equipa sénior masculina a disputar o campeonato nacional da 3ª divisão.

Títulos Andebol

- Campeão Nacional juvenis masculinos (1994/1995);

- Campeão Nacional 3ª divisão seniores masculinos (2020/2021).

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1964: Andebol de 7- início da modalidade 2021: Andebol - reinício da modalidade

2009-11-01

2008/09 – Apresentação

- Taça Nacional de Cadetes Femininos (2006/2007)

Futebol de Praia

Basquetebol

O basquetebol foi praticado em Guimarães em Clubes como a Desportivo Francisco de Holanda, Círculo de Arte e Recreio, Coelima e Basquete Clube de Guimarães (BCG). Só em 2004, fruto do interesse comum, os direitos desportivos do BCG foram transferidos para o Vitória SC, extinguindo-se o clube BCG, passando a modalidade a ter outros argumentos para se impor.

Também o Basquetebol começou apenas pelo masculino e só mais tarde acrescenta o feminino com uma equipa sénior, tendo, neste momento, as duas equipas seniores a disputar os mais altos escalões da modalidade com vários escalões de formação a representar o Clube.

Títulos Basquetebol

- Campeão Nacional da Proliga seniores masculinos (2006/2007)

- Taça de Portugal seniores masculinos (2007/2008)

- Troféu António Pratas seniores masculinos (2008/2009)

- Taça de Portugal seniores masculinos (2012/2013)

O futebol de praia participou em 2 edições do Campeonato Nacional da modalidade e na sua 2ª participação, em 2011, sagrou-se campeão nacional, tendo depois disso deixado de participar.

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Basquetebol - Troféu António Pratas basquetebol femino

Títulos Futebol de Praia

Campeão Nacional seniores masculinos (2011)

-

Futsal

O Futsal na vertente feminina foi praticado, no Vitória, nos anos 2008 a 2010, tendo o Vitória participado na 1ª divisão regional da AF Braga, não chegando a passar às fases nacionais. Destaca-se a prestação de algumas atletas que acabariam por merecer chamadas à Seleção nacional de sub-19 na época de 2008/2009.

Hóquei em patins

Decorria o ano de 1950 quando o VSC cria uma secção de hóquei em patins tendo disputado o seu primeiro campeonato distrital com as equipas do Turismo Hóquei Clube das Taipas, Académico de Braga e SC Braga.

Com as condições melhoradas a partir de 1952 com a inauguração do rinque da Amorosa, os resultados começaram a aparecer e, na região, o Vitória SC era já um clube reconhecido. Em 1957 o VSC disputou a

466
2011 - Futebol Praia - campeões 2008/09 - Futebol Feminino

eliminatória para apuramento para o Campeonato Nacional da 1ª divisão, mas fruto de alguns desacatos o VSC viria a ser castigado, tendo ainda competido em 1958, no entanto, estes incidentes acabariam por desmotivar os praticantes e ditar o fim da modalidade no VSC.

Pólo aquático

Decorria o ano de 2003 quando o Vitória SC cria a Secção pelas mãos do jogador-treinador João Neves que, com um grupo de jovens praticantes de natação nas piscinas Municipais, se sagram, logo no primeiro ano, campeões nacionais da 2ª divisão.

Consolidando o trabalho da formação na época de 2008/2009, a equipa sénior masculina alcançava a 1ª divisão A1 e aí se mantendo até hoje.

Quase 20 anos depois, os títulos alcançados são espelho do muito que a modalidade tem contribuído para o ecletismo do Clube.

Hoje, o Vitória é um dos clubes de referência na modalidade com participações em provas internacionais e com muitos jovens a praticar pólo aquático com o símbolo do Vitória SC.

Títulos Pólo Aquático

- Campeão Nacional 2ª divisão seniores masculinos (2003/2004);

- Campeão Nacional juvenis masculinos (2013/2014);

- Campeão Nacional seniores masculinos (2018/2019);

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Equipa de Hóquei Patins do Vitória, Foto Cine 2018/19 - Polo C.N. b

- Campeão Nacional juvenis masculinos (2018/2019);

- Vencedor da Supertaça seniores masculinos (2019/2020);

- Campeão Nacional seniores masculinos (2020/2021);

- Taça de Portugal seniores masculinos (2020/2021);

- Campeão Nacional 2ª divisão seniores masculinos B (2020/2021);

- Fase de Grupos Liga dos Campeões (2021/2022);

- Campeão Nacional seniores masculinos (2021/2022).

Voleibol

O Voleibol terá tido algumas experiências esporádicas, na década de 60, no Vitória SC, mas é em 1976 que a modalidade é criada com estabilidade no Vitória Sport Clube, apenas no feminino.

Nesse período, o Vitória sagrou-se campeão nacional da 2ª divisão na época de 1980/1981 mantendo a partir daqui um nível competitivo elevado averbando no seu “palmarés” brilhantes participações em provas europeias.

Nessa altura também nas camadas jovens se ganharam títulos e em 1981/1982 as juniores femininas sagram-se campeãs nacionais, seguindo-se, depois, as iniciadas em 1983/1984 e as juvenis em 1985/1986.

No final da época de 1986/87, a secção de voleibol acabaria por ser extinta, no entanto, 10 anos depois, acabaria por ser reativada com estabilidade até aos dias de hoje.

Numa primeira fase, apenas no masculino ao nível do escalão sénior, mas a partir de 2006 também no feminino com uma equipa sénior feminina. Depois de alguns anos a participar em campeonatos inferiores a equipa sénior feminina regressou à 1ª divisão, na época 2018/2019.

O Voleibol é a modalidade que, numa nova vida das modalidades amadoras do clube, alavancou a criação ou a integração de muitas outras, no Vitória. Até por isso, mas não apenas, o Voleibol é a modalidade não profissional que mais marcou as últimas décadas do Vitória.

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1978 - Voleibol feminino

2008/09

Seniores femininos

2

- Campeão Nacional 2ª divisão – época 1980/1981;

- Campeão Nacional 2ª divisão – época 2006/2007

Formação

Títulos Voleibol Seniores masculinos

- Campeão Nacional 2ª divisão – época 1999/2000;

- Campeão Nacional 1ª divisão A2 – época 2000/2001;

- Campeão Nacional 1ª divisão A1 – época 2007/2008;

- 1/8 de final da Liga dos Campeões – 2008/2009;

- Vencedor da Taça de Portugal – época 2008/2009;

- Campeão Nacional 3ª divisão– época 2011/2012 (Equipa B);

- Vencedor da Taça Federação – época 2018/2019.

- Campeão Nacional Juniores Femininos – época 1981/1982;

- Campeão Nacional Iniciados Femininos – época 1983/1984;

- Campeão Nacional Juvenis Femininos – época 1985/1986;

- Campeão Nacional Iniciados Femininos – época 2007/2008;

- Campeão Nacional Infantis Masculinos - época 2007/2008;

- Campeão Nacional Iniciados Femininos – época 2009/2010;

- Taça Federação Juniores Femininos – época 2009/2010.

Modalidades Individuais

Automobilismo

Desde 2012, nos kartódromos, o piloto vitoriano Luís Alves conta já com um vasto currículo onde se destacam quatro títulos de campeão nacional e duas Taças de Portugal para além de várias outras conquistas ao volante e de Rei ao peito. Na época de 2022, Luís Alves está a competir no Campeonato de Espanha de Karting, onde será o protagonista na categoria X-30 sénior, para além de marcar presença na emblemática Taça de Portugal de Karting.

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– Voleibol Vitoria 3-Benfica

Atletismo

Nos anos 80, o atletismo teve destaque no Vitória SC pela mão do treinador Gaspar Gonçalves, que sobretudo nos mais jovens despertava o gosto pela modalidade, conseguindo formar alguns campeões. Destaque para as campeãs nacionais de Corta-Mato no escalão de juvenis, Rosa Dias Mota, em 1989, e Elisabete Lopes, em 1992.

O atletismo perdeu, depois, expressão e voltaria a ter uma nova vida no início dos anos 2000, com Ezequiel Canário e com vários atletas a participar em provas regionais e nacionais. Este período duraria apenas 4 anos.

A Secção de Atletismo voltou a ser reativada em 24 de junho de 2010 com pouco mais de uma dúzia de atletas. Aos poucos a secção foi crescendo e, em 2015, arranca a formação de jovens atletas recrutados noutros clubes da região e também nas escolas.

Nesta altura assiste-se a um crescimento assinalável da secção onde não é alheio o sucesso de Manuel Mendes que, em 2016, alcança algo único na história do clube e da modalidade: a medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro.

Atualmente, o atletismo conta com cerca de 70 atletas e um palmarés assinalável entre competições regionais, nacionais e internacionais.

Também a partir de 2022 a secção de atletismo gere a carreira de 3 atletas inscritos na Federação Portuguesa de Triatlo que competem regularmente nesta modalidade que engloba, além do atletismo, natação e ciclismo.

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Gaspar Gonçalves - Uma vida dedicada ao atletismo 1 de Outubro de 2016 – Homenagem a Manuel Mendes, Medalha de Bronze nos Jogos Paralímpicos

Boxe e Kickboxing

Pela mão de Alberto Costa a modalidade de Kickboxing começa a ter atletas em nome do Clube a partir de 2007, altura em que surgem muitos praticantes novos e com inúmeros títulos nacionais e internacionais conquistados.

Já o boxe apenas é introduzido no Clube em 2010.

Ambas gozaram de muito sucesso desde o início com o invejável palmarés vitoriano a contar já com mais de centena e meia de títulos regionais, nacionais e internacionais.

Dos títulos mais relevantes constam 6 títulos de campeão mundial, 1 de campeão intercontinental e 2 de campeão europeu de kickboxing.

As modalidades contam com cerca de 80 atletas no kickboxing e 20 no boxe.

Ciclismo (Estrada, BTT e Pista)

O ciclismo teve aparições efémeras no Clube, sobretudo fruto de parcerias pontuais na modalidade.

O Vitória teve uma primeira abordagem à modalidade, em 1985, com o apoio da empresa Maria José Abreu, Lda., onde participou em várias provas destacando-se a participação na Volta a Portugal desse ano. Na equipa, destacava-se o malogrado ciclista vimaranense Manuel Abreu que venceu a 11ª etapa Mondim de Basto-Viana do Castelo, em 15 de agosto de 1985. Foi 2º na Volta de 1992 e 3º na de 1996, ano em que brilhou a grande altura, a par de Lelli, Gomes e Gamito, numa das mais memoráveis edições da prova rainha do ciclismo lusitano. Acabou por não resistir a um brutal acidente enquanto treinava no decorrer de 1997.

20 anos depois, o Vitória SC, em parceria com a ASC e a UC Vila do Conde, voltaria a ter ciclismo de estrada e a integrar o pelotão nacional de ciclismo nos anos de 2006 e 2007 participando na Volta a Portugal.

Mais tarde em 2017, na vertente de BTT, o Vitória SC com o apoio da Bike World participou na vertente de montanha com uma equipa em várias provas do calendário nacional.

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Manuel Abreu

Ao longo destes anos, o Vitória SC teve também formação de ciclismo com vários jovens praticantes da modalidade de estrada, BTT e pista.

Títulos Ciclismo

- Taça de Portugal de Pista juvenis masculinos (2012/2013).

eSports

O projeto eSports iniciou-se no Vitória Sport Clube em 2018 e nasce da vontade de levar o clube do Rei para as plataformas competitivas digitais, já muito populares no universo do adepto vitoriano.

Desde o início que o Vitória compete na modalidade 11vs11 e mais recentemente também na modalidade de 1vs1 tendo já alcançado, nas três épocas de atividade, resultados muito meritórios em competições nacionais e internacionais.

Atualmente, o Vitória Sport Clube ocupa o 46º lugar do ranking mundial de Pro Clubs da EA.

JIU-JITSU

A época 2014/2015 marcou o arranque do Jiu-Jitsu no Vitória Sport Clube.

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O sonho de alguns atletas vimaranenses em carregar o Rei ao peito fez nascer uma modalidade que conta já com um palmarés impressionante. São já 148 medalhas conquistadas em provas nacionais com alguns atletas a sagrarem-se campeões nacionais e 37 medalhas em competições internacionais.

A prática de Jiu-Jitsu, mais que um desporto, é incorporar uma filosofia de vida. Autoestima, autocontrole, confiança e respeito são alguns dos valores que estão ligados aos praticantes da modalidade.

Atualmente, a secção conta com cerca de 160 atletas, o mais novo de apenas 4 anos e o mais experiente já com 75 anos de idade.

Judo

A secção de Judo foi fundada em 1986 e é atualmente uma das mais antigas modalidades existentes no clube.

Ao longo destes 35 anos de existência, o Judo do Vitória, sob a orientação dos Mestres Carlos Fontes e Mário Emídio Oliveira, tem sido uma escola de formação de campeões no desporto e na vida.

Foi o caso de Elisa Maio que começou com o cinto branco como todos os atletas que iniciam esta modalidade e foi evoluindo para o amarelo, laranja, verde, azul até alcançar o castanho e, finalmente, o negro, após 9 anos de luta, sendo a primeira mulher a conquistar o cinturão negro no Judo vitoriano.

Elisa Maio é a primeira mulher a conquistar o cinturão negro no judo vitoriano, BIGGERmagazine de janeiro, 2022

É estimado que cerca de um milhar de judocas já tenha praticado judo no Dojo do Vitória Sport Clube que assume ainda o seu contributo para o desenvolvimento educativo, social e desportivo, na cidade, através dos projetos de “Judo para todos” e Judo Adaptado para a Deficiência em parceria com a CERCIGUI.

Em 2012, Rui Ferreira sagrou-se campeão nacional de juniores -50Kg e, no judo adaptado e síndrome de down, somam-se vários títulos de campeão nacional, anualmente.

O Vitória conta atualmente com cerca de 85 judocas nos mais diversos escalões.

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Karaté

O karaté começa a ser praticado no Vitória Sport Clube em 1968 através do mestre Roy Robertson, no entanto, esta primeira abordagem acaba por ser efémera pois só mais tarde, em 1985, a modalidade começa a ser praticada com regularidade no Clube, fruto do esforço de dedicação do Sensei António Silva, e assim continuou até 2020. Modalidade essencialmente de recreação e aprendizagem chegou a ter várias dezenas de praticantes.

MMA

A secção de artes marciais mistas (MMA) foi criada no ano de 2021 com os propósitos de levar o nome do Vitória aos maiores palcos internacionais da modalidade e também a formação de jovens atletas nos valores fundamentais da disciplina, do respeito e da lealdade.

A secção conta com cerca de 40 atletas que são formados nas mais diversas disciplinas que o MMA vitoriano ministra desde o wrestling, a luta greco-romana, o kyokushin karaté, submission ou luta olímpica.

Natação

Fruto do trabalho dedicado de um grupo de pais e treinadores de atletas, até então ligados à A.H. dos Bombeiros Voluntários de Guimarães, criam, em finais de 2001, a Secção de Natação no Vitória SC.

Começando pelas divisões mais baixas e na época de 2002 o VSC viria a sagrar-se campeão nacional e subia de divisão com as irmãs Márcia e Marisa Freitas a serem as grandes embaixadoras da modalidade.

A Secção de Natação mantém-se estável até aos dias de hoje e durante estes 20 anos muitos foram os títulos nacionais alcançados pelos atletas do VSC.

São muitos os títulos nacionais e records nacionais estabelecidos pelos atletas Vitorianos. Títulos Natação

- Campeão Nacional 2ª seniores masculinos (2021).

- Campeão Nacional 3ª seniores masculinos (2002).

- Campeão Nacional 3ª seniores femininos (2002).

Taekwondo

O Taekwondo é uma arte marcial coreana de defesa pessoal que surge no Vitória Sport Clube a 14 de novembro de 2014.

Desde então, o Taekwondo tem alcançado vários sucessos, a nível regional, nacional e internacional

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contando inclusive com uma presença nos Jogos Olímpicos de 2016.

Atualmente, o expoente máximo da modalidade no clube é o atleta Nuno Costa, atleta internacional português com dezenas de medalhas conquistadas nas mais variadas competições nacionais e internacionais.

O Taekwondo vitoriano conta atualmente com mais de 20 atletas entre escalões de formação, seniores e veteranos.

Ténis de mesa

O Ténis de Mesa é uma das mais antigas secções do Vitória tendo nascido no clube entre 1957 e 1960.

Os conquistadores foram um dos clubes que impulsionaram a criação dos campeonatos concelhios de 1959 a 1964, competições que iriam mais tarde dar lugar aos campeonatos regionais.

A secção manteve-se em atividade ao longo do tempo, mas é a partir de 1989/1990 que se estabiliza em termos organizativos e que estabelece a sua formação.

O ténis de mesa conta com vários títulos regionais e, desde 2015/2016, a sua equipa sénior milita na II Divisão Nacional de Honra.

Xadrez

O Xadrez é uma das mais recentes modalidades vitorianas, chegando ao clube no ano de 2021 com o intuito de desenvolver e massificar a prática de uma modalidade, que conta já com uma ligação antiga à cidade de Guimarães.

Desporto com comprovados benefícios para o desenvolvimento académico dos seus atletas, tem já uma implementação escolar na cidade que o Vitória pretende aumentar e consolidar.

O xadrez vitoriano arrancou com uma base de atletas dos 8 aos 15 anos de idade que compete em provas individuais e coletivas frente a adversários de todas as idades.

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2017/18: Equipa de Ténis de Mesa

Os Embaixadores atuais do Vitória Sport Clube Equipa redatorial

Na cerimónia de homenagem a Neno, que decorreu no dia 10 junho de 2022, no Estádio D. Afonso Henriques, a Direção do Vitória Sport Clube apresentou 17 homens ligados ao Clube que, a partir dessa data, foram empossados como Embaixadores do Vitória Sport Clube, em honra do EMBAIXADOR MOR que tinha falecido há precisamente um ano. São eles: Abreu, Allan Cocato, António Pedro Magalhães, Carvalho, Douglas, Flávio Meireles, Laureta, Leonel Olímpio, Manuel Mendes, Miguel, Moreno, Nelson Brízida, Nuno Assis, Paulo Cunha, Rodrigues, Tiago Targino e Quim Berto. Integram, de facto, diversas modalidades, mas não se percebe muito bem qual a razão de as mulheres não fazerem parte deste grupo, tanto mais que, nos tempos recentes, têm sido insuperáveis no apoio ao VSC e tem estado em momento altos do Vitória e ainda têm uma capacidade de influência forte junto da população.

Na cerimónia, estiveram presentes Simone, viúva do Neno, António Miguel Cardoso, Presidente da Direção do VSC, Pedro Proença, Presidente da Liga Portugal, Hélder Postiga, dirigente da FPF, e Mário Machado, Presidente da A F Braga.

No decorrer da sessão, Domingos Bragança, Presidente da Câmara, evocou Neno que, enquanto jogador, "representou de um modo intenso a lealdade e a justiça, deu o seu melhor, respeitou o adversário, e demonstrou um verdadeiro espírito olímpico". Por isso, "Neno é um cidadão vimaranense, de Portugal e do Mundo, afirmou. Estava sempre disposto a colaborar nas causas sociais e abraçava o mundo multicultural, sem barreiras para a fraternidade e para a paz". Que mais dizer de um Homem desta dimensão que também era jogador de futebol?

Cabe aos embaixadores nomeados, ex-atletas de diversas modalidades cuja categoria e compromisso evidenciado ao serviço do Vitória SC asseguram a defesa intransigente dos valores e princípios do Clube, a responsabilidade de transmitir a mística e identidade do Vitória Sport Clube, ensinando os mais novos desde o jardim infantil, partilhando as suas vivências e experienciando o presente, tendo a figura de Neno como um ideal a perseguir.

A sua atuação prevê visitas a escolas, lares e hospitais, utilização de imagem e voz para promoção da marca Vitória, e experiências de jogo no estádio e no Pavilhão Desportivo Unidade Vimaranense.

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Embaixadores presentes na cerimónia de homenagem a NENO

Um

As pessoas dedicadas são a verdadeira alma das instituições. Normalmente acabam anónimas, esquecidas no universo que ajudaram a criar… verdadeira ingratidão.

Neste ano de efeméride centenária, multiplicam-se as festas, anúncios, promessas, acontecimentos que pretendem dar visibilidade ao clube/instituição que rejubila de contentamento e regozija uma avalanche de gente que, sem saber nada dele, faz a festa.

Proponho-me nas próximas linhas mexer no caldeirão das memórias, casos e festas do nosso glorioso VSC e falar de gentes que muito contribuíram para a substância da sua existência enquanto clube e que, normalmente, são menos referidas e quase esquecidos…

Nos primórdios, quase nas origens do Vitória, em que a sala de estar e de convívio era o Toural e em cada esquina havia uma tertúlia, ali às portas da chapelaria Macedo junto à Torre da Muralha velha debatiam a ideia da criação de um clube de football permanente, na Cidade. Não era a primeira vez que se falava destas coisas de andar aos “chutos à coisa” pois desde o princípio do milénio – 1900 – parece que foram os “bifes” ditos ingleses que tinham montado a Eléctrica no Campo da Feira e outros que trabalhavam nas têxteis da região que se entretinham com essa coisa do “football”.

A primeira referência é um tal footgroup6 e logo depois Foot Ball Clube de Guimarães e o Sport Clube de Guimarães e dos confrontos académicos nasceu pelos alunos do Liceu o Vitória Sport Clube.

Entre 1900 e 1922 andaram sobretudo a “dar pontapés na coisa” uns contra os outros e, neste ano, em proposta escrita pelo professor do ensino livre Luís Filipe Coelho, que era também jornalista, surge uma proposta de criação de um clube permanente que terá como primeiro presidente o dono da chapelaria Macedo – o António Macedo.

Havia equipas de “football” de operários, mas as elites vimaranenses queriam a coisa mais refinada e oficializada e assim os estatutos primeiros são desta data.

Luís Filipe Coelho será, digamos, o primeiro “historiador” do clube. O VSC inscreve-se por esta altura na Associação de futebol de Braga, de quem leva várias “capilotas” seguidas…

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Vitória Sport Clube - centenário de memórias F. Capela Miguel

Duas coisas começam a preocupar os vimaranenses depois da adesão massiva ao novel clube: um campo para os jogos e uma sede social.

O primeiro será o Campo da Atouguia e com uma magistral organização de um torneio de tiro aos pombos, jogo de ténis e concurso hípico, conjuntamente com vários e bons donativos, vai nascer o Campo do Zé de Minotes cuja inauguração será a 27 de janeiro de 1924.

Nesta altura havia uma grande promiscuidade entre os jogadores, treinadores, dirigentes e todos podiam ser o que quisessem desde que dessem provas de vontade e dedicação: António Macedo, o primeiro presidente, seria também treinador e árbitro. Amando Freitas veio do Brasil, onde já tinha jogado, para ser o melhor jogador da época e jogava sempre de lenço vermelho ao pescoço.

Mais tarde, irão nascer outros campos de jogos como o Campo da Perdiz, o Bem-lhe-vai, o Minotes, a Amorosa…

Como não tinha sede, as assembleias gerais aconteciam em salas de outras associações e a Artística era aquela que, à época, era utilizada. Há essa referência à data de 9 de dezembro de 1923, onde se terá realizado a primeira Assembleia Geral.

O “football” era, à data, já um desporto de elite social e as primeiras mulheres a dar início a um jogo de bola foram as senhoras Donas Júlia e Luísa Jordão…

A equipa, nesta altura, tinha vários jogadores oriundos de Fafe adeptos ferrenhos dos “pontapés prá frente”!...

Não foi fácil pois nem sempre se entenderam os vimaranenses e aí pelo ano de 1926 um homem vai passar a ser uma referência pois vai semear o bom senso no seio das gentes de Guimarães e dos três grupos da bola se vai finalmente constituir aquele que é hoje o novel clube.

O coronel Mário Cardoso será o autor do tão simbólico emblema que tanto orgulha os “conquistadores”.

Em finais da década de 20 do século passado e na sequência do movimento do dito Estado Novo é deslocado para Tavira o Regimento de Infantaria 20 provocando uma crise de empobrecimento comercial e também afetivo na comunidade vimaranense.

O clube sofre também consequências e quase desaparece até que um tal Carlos Machado, operário têxtil, vai liderar um movimento popular em defesa do clube e com o seu suor e dinheiro e com o apoio de outros companheiros vai construir o Campo do Benlhevai ali junto à escola industrial, quase com 3.000 mil pessoas na inauguração.

Um republicano dos “quatro costados”, o Dr. José Pinto Rodrigues, vai ser o grande estratega e dirigente vitoriano nas duas décadas que se vão seguir (30 e 40) para consolidação do clube.

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Em 1933, inaugura a sua primeira sede no segundo andar da Praça D. Afonso Henriques onde hoje está o Café Oriental e tem nessa altura um famoso treinador europeu – Puskas.

O Toural era agora a sala de estar do burgo onde nas suas esquinas os “doutos” da bola discutiam as estratégias e apreciavam as “lições de kátedra” dos “especialistas” em pontapés na coisa. Havia tertúlias para todos os gostos mas sempre com espírito desportivo. Os jogadores juntavam-se com a multidão para efusivamente participarem nestes “banhos de promoção da imagem”. Nesta época, eram vedetas: Ricoca, guardaredes durante 20 anos, e Laureta. Dois jogadores cuja memória vai perdurar também pelas suas vidas fora dos campos de jogo.

Em junho 1948 é inaugurada a nova sede, na Rua D. João I, para onde irão os serviços de secretaria e administrativos do VSC durante meio século até 1994. Na inauguração, para além das entidades importantes da época, uma novidade o “Ritmo Louco”, agrupamento musical, é convidado para abrilhantar o ato e, a partir deste dia e durante ano e meio ensaia às quintas-feiras no dia de abertura do bar da coletividade pois ao fim de semana abrilhanta as noites no palanque do Café Mourão, a convite de um dirigente do VSC, o Sr. Diamantino Mourão.

Fará parte da segunda geração do “Ritmo Louco” do CAR um vimaranense que será peça fundamental do VSC, mais tarde funcionário da secretaria – Sr. Custódio Garcia – que começará por ser um importante cobrador de quotas e angariador de fundos das comissões “para um Vitória maior”, iniciativa que irá ter visibilidade na cabine sonora do Toural por especial deferência de um cidadão denominado Abílio Gouveia.

A cabine sonora vai ser importante pois além da angariação de fundos, muito importante para a consistência e consolidação do VSC, vai promover e publicitar iniciativas locais e criar em noites de Verão um ambiente familiar e festivo junto dos vimaranenses que com suas famílias vêm passear e conviver para o “Jardim da Independência”, que será a Alameda de S. Dâmaso, alargando as vivências futebolísticas da cidade já que, agora, a “massa associativa” do VSC já dá que falar e já “chama muitos nomes” aos árbitros e aos atletas dos outros clubes…

O primeiro embaixador terá sido o Sr. Agostinho Guimarães, vendedor, um vimaranense residente em Lisboa, que canalizava futeboleiros do Benfica para o VSC. Depois, bom, depois e já mais tarde o vimaranense Bernardino Pina terá representado o VSC em nome de muitas direções junto dos acontecimentos da capital e da Federação Portuguesa de Futebol. Mais tarde e quase recentemente terá sido secundado pelo saudoso Neno.

Mas falando de embaixadores não podemos esquecer o contributo do comendador Alberto Pimenta Machado que indo para o Brasil em negócios e em férias enviou para o VSC os primeiros brasileiros para

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sermos o primeiro clube em Portugal.

Alguns destes jogadores brasileiros foram morar para o Bairro das Hortas, dito do Tarrafal, – Caiçara, Silveira, Edmur e a filha ao lado, ainda Rola que tinha vindo do Sporting e era, agora, um vimaranense residente, que, acabando em Guimarães a sua carreira de jogador, iria treinar vários clubes da região entre eles o Ponte da Barca a convite do Lourenço, um barquense que era apaixonado pelo futebol e que durante anos foi funcionário do Museu de Alberto Sampaio até se reformar e fazia parte das tertúlias da bola na Cervejaria Martins. Este embaixador, quase esquecido, ajudou muitos jogadores do VSC em fim de carreira a ingressar noutros clubes dados os muitos conhecimentos que possuía…

Ora, em finais da década de 50, há uma grande balbúrdia política em Portugal e Guimarães não foge à regra. Nesta data, o VSC sobe à 1.ª Divisão e consta que Humberto Delgado virá à cidade fazer um comício. O Povo saiu à rua como nunca se viu e a festa foi de arromba.

Na sede do “Ritmo Louco”, na rua de Santo António, os brasileiros de Guimarães juntavam-se no quintal que tinha um palco de teatro para ouvir as músicas do país irmão com as vozes de Edmur, Caiçara e a estrelinha Fatinha, filha do Edmur, que seria futura educadora de infância na nossa cidade e que deleitava com a sua voz quem a ouvia…

Mas já na década de 60 um galego que residia em Guimarães, o empresário Besmelho Puga, seria embaixador do VSC ao trazer e levar para Vigo muitos jogadores. Vindo do Celta de Vigo Juanim ainda fez furor umas épocas atrás da bola ao serviço do VSC; curiosamente, já antes dele, um espanhol denominado Lara tinha sido o primeiro estrangeiro do VSC.

Tendo uma tradição eminentemente elitista, carregada de invejas que empulhava as conflitualidades e divergências entre famílias ao longo da sua história, teve na massa associativa, eminentemente popular, o seu empunhado e também desregrado apoio, mas criou uma mística única e que é uma referência no espetro, agora empresarial, dos eventos futebolísticos nacionais.

Neste centenário gostaria de congratular-me com a efeméride mas lembrar alguns cidadãos que marcaram o clube desportivo como o Zé da Boina que marcava os campos a cal, com as mãos, com o seu ajudante, um velho que deixava as socas de madeira no meio do campo da Amorosa antes de ir riscar; ou então mais tarde o pintor das linhas brancas com quem me sentei tantas vezes na relva depois dos treinos de atletismo e que já não me lembro do nome, e que morava para os lados de S. Martinho, donde vinha a pé… Gostava de lembrar os guardadores de equipamentos, massagistas como o Ribeiro e o Macedo cidadãos fundamentais de quem nunca se lembram ou se fala, ou dos médicos que, que são lembrados e bem homenageados; outros houve que quase nunca foram e são lembrados como os anónimos “fazedores” das

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camisolas que os jogadores nem conhecem e nem sequer se lembram dos nomes deles quando vestem a camisola antes dos jogos aos domingos e que trabalham, quantas vezes toda a noite, para eles estarem “bonitos”, de camisolas do nosso muito “nossinho” Vitorinha.

Queria lembrar depois as modalidades amadoras e todos os seus protagonistas e atletas quantas vezes mais importantes que toda a “equipa dos pontapés à bola” e que a maior parte das vezes foram esquecidos e subalternizados – andebóis, polo aquático, atletismo, voleibol, basquetebol, boxing e tantas outras.

Neste centenário espero que saibam ser gratos àqueles que foram a substância discreta do clube fazendo-o existir de facto em vez de darem palanque aos gritadores malcriados e oportunistas que passaram pelo clube.

Será melhor ficar-me por aqui!!!

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