Educação Patrimonial e o sentido de pertença Patrícia Ferreira Psicóloga | Educação Câmara Municipal Guimarães
“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo… Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer Porque sou do tamanho que vejo E não do tamanho da minha altura… Nas cidades a vida é mais pequena Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave, Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu, Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar, E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.”29
Qualquer aldeia, qualquer cidade ou País representa um conjunto infindável de memórias construídas pelas diferentes peças que integram a sua história. São as suas gentes, as suas pedras, as suas edificações e os contos que a compõem, que lhe atribuem sentido. Que (re)contam infinitamente os fragmentos de tudo que somos, de onde viemos. Saber da história não reflete o tanto que esta nos importa ou o que esta nos impacta. Aprendemos nos compêndios da escola as notas de referência da criação de um país e da sua evolução ao longo dos tempos. Aprendemos a reconhecer o território e as suas personagens; a evocar o percurso e as situações que pautam a criação de uma existência e da sua realidade construída, assente no saber de todos os que se dedicam a reunir factos e a traduzir os mesmos numa linguagem que possa ser aprendida e invocada por todos; a recordar e a enumerar os eventos significativos da história coletiva. Concomitantemente, e porque o conhecimento não se faz só através dos livros e aprendizagens formais, vamos aprendendo ao longo da vida partes de uma outra estória e de um outro caminho, pela convivência com os nossos; por ouvir recontar contos e lendas sobre sítios e pessoas em torno de gente mais concreta. Estes pedaços fazem-se de uma descoberta mais individualizada, mais personalizada e a partir de nós e da nossa experiência. 29
Alberto Caeiro | Pessoa, F. “O guardador de rebanhos”, In Poemas de Alberto Caeiro. Lisboa: Ática. 1946 (10ª ed. 1993). P.32.
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