OsmusikéCadernos 3 – PARTE II

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Tortas… um pouco de história! Manuela Dias

Guimarães, cidade detentora inquestionável de um património cultural vastíssimo, é também berço de riquíssima gastronomia, nomeadamente em doçaria conventual, que tem sabido resistir aos ritmos apressados da realidade atual. É o caso das TORTAS DE GUIMARÃES! A história da doçaria de Guimarães mergulha nos longínquos anos de mil e quinhentos/ mil e seiscentos. É no ano de 1517 que surge o primeiro registo com referência à venda de biscoitos, queijadas e conservas de açúcar e mel. Mais tarde, no século XVII, aparece a primeira referência ao pão-de-ló em Guimarães. Da doçaria confecionada no convento de Santa Clara, fala-nos o Abade de Tagilde, cujos textos são documentados por João Guimarães (cit. por FERNANDES, Isabel - Doçaria Tradicional Vimaranense, p.15). Segundo o autor, as clarissas vimaranenses eram exímias na arte da doçaria, dado que confecionavam uma enorme variedade de doces. A partir de meados do século XIX, quando foi decretada a extinção das ordens religiosas em Portugal, as freiras que, outrora, se comprometeram a não divulgar os seus saberes, foram confrontadas com a necessidade de transmitir os segredos dos receituários e respetivos métodos de confeção aos membros mais próximos da família. Os cadernos de receitas manuscritas, que se encontram nas mãos de antigas famílias, revelam muitas das receitas que foram sendo perpetuadas, quer nos conventos femininos, quer nas mãos de várias gerações de mulheres para quem o fabrico de doces era, para além de um modo de sustento, uma forma de preservar os vínculos familiares. A doçaria conventual constitui, portanto, um modelo único e exclusivamente português, merecedor de ser reconhecido, preservado e divulgado pelos saberes e sabores locais.

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