O Paráclito Março de 2018

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Edição:

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O Paráclito

ANO 1 | MARÇO DE 2018 | EDIÇÃO ECUMÊNICA.

“Se morrer de fome é a maior miséria humana, deixar alguém morrer de fome, é a maior miséria espiritual”. (Pe. Luiz Facchini)

Luiz Facchini uma vida dedicada aos pobres

Padre Luiz Facchini nasceu em 24 de junho de 1943 em Merim Docê, Santa Catarina. Com 10 anos de idade entrou no seminário dos Freis Capuchinhos em Irati, no Paraná. Fez o Ensino Fundamental no Seminário Diocesano de Taió (SC), o ensino médio no Seminário de Azambuja em Brusque (SC). Concluiu a filosofia em Curitiba em 1966 e foi cursar teologia em Friburgo, na Suíça. Foi ordenado presbítero pela Igreja Católica na Suíça no dia 5 de outubro de 1969. Luiz Facchini construiu ao longo da vida uma rica história de dedicação ao lado dos pobres. Grande adepto da Teologia da Libertação, foi o precursor das Comunidades Eclesiais de Base (Cebs) e dos Círculos Bíblicos. Fez história à frente da Paróquia Cristo Ressuscitada, no bairro Floresta, onde atuou por 25 anos. “Era comum ouvilo dizer: Se a teologia não te libertar ela te aprisiona.” Padre Luiz foi um grande exemplo para todos nós sacerdotes, independente da denominação, ele estava acima de todo essa política denominacional das Igrejas, seu desejo era fazer o bem e viver profundamente o evangelho e isso ele viveu muito bem, somos testemunhas do seu amor e dedicação pela causa dos pobres e oprimidos” disse em entrevista o padre Nilo Junior, da Igreja Ortodoxa Grega, amigo pessoal. Luiz Facchini foi estimulador da criação do Centro de Direitos Humanos de Joinville em 1978. Em 1979 foi criado o primeiro posto de saúde e também a Associação de Moradores, ambos como

instrumentos de defesa do povo simples e da mística que une fé e vida. Foi grande defensor dos operários e dos trabalhadores rurais na década de 80 e por isso muitas vezes foi criticado e perseguido. Nem por isso teve medo ou abandonou sua missão de dar continuidade a vida e prática de Jesus Cristo, de estar ao lado dos menos favorecidos da sociedade. Sempre denunciou a injustiça e a exploração sofrida pelo povo de Deus, mas não ficou só na denúncia. Sua grande sensibilidade e seu olhar atento às periferias inspirou um dos maiores projetos de solidariedade de Santa Catarina. Seus recursos pessoais foram investidos na criação da Fundação Pauli-Madi que mais tarde mudou o nome para FUNDAÇÃO PADRE LUIZ FACCHINI PRO SOLIDARIEDADE E VIDA. A instituição gerou uma grande rede de solidariedade para manter mais de 30 cozinhas comunitárias para alimentar os filhos de muitos dos operários empobrecidos de Joinville e também de uma tribo indígena em Araquari. No auge do trabalho nas cozinhas eram servidas 4 mil refeições diariamente.

A estimativa é que em 20 anos da Fundação foram oferecidas aproximadamente 16 milhões de refeições. Seu lema era: “É proibido passar fome”, e sua filosofia de vida: “Se morrer de fome é a maior miséria humana, deixar alguém morrer de fome, é a maior miséria espiritual”. Não se calava ante as injustiças e a opressão, em 2012 sentiu um dos mais terríveis golpes de sua vida, devido a divergências o então bispo diocesano Irineu Roque Scherer o afastou da vida paroquial, sem paróquia e sem salário por alguns meses, Luiz Facchini não se deixou abater, continuou rezando missas, fazendo batizados e atendendo na Fundação, após seis anos teve reconhecido novamente seu trabalho pelo novo bispo Dom Francisco

Carlos Back que o trouxe a vida paroquial, algo que o religioso sonhava voltar. Para Fábio Luiz Marcelino, que acompanha desde novo o trabalho do padre, ele era amado por sua fé e perseverança. “Padre Luiz deixou um legado impossível de ser perdido ou apagado com o tempo, seus ensinamentos são o DNA da caminhada de uma comunidade que nunca o deixou sozinho e em troca, temos agora ao lado de Deus um forte advogado” Com o passar do tempo os focos de fome foram diminuindo e a atuação da Fundação Padre Luiz Facchinni passou a se dedicar mais ativamente para o Projeto Cidadão do Futuro, que oferece atividades artísticas e esportivas para crianças e adolescentes, mas sem deixar de atender os necessitados. Na segunda-feira (5 de março), aos 76 anos, um possível AVC levou o Padre Luiz para junto do Pai. Milhares de pessoas passaram pelo seu velório. Na Missa de corpo presente compareceram amigos, familiares, religiosos e as crianças do projeto realizado pelo Padre Luiz Facchini, o Cidadão do Futuro.

Inagurada nova loja de artigos religiosos em Joinville/SC.

Adoremus Arte Sacra

Rua: Jaguaruna, 60 - Centro Fone: (47) 3013-0604


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A palavra do Bispo Dr. Humberto Maiztegui Gonçalves Bispo da Diocese Meridional Igreja Episcopal Anglicana do Brasil

OTúmuloVazio Estimados leitores e leitoras de “O Paráclito” é um prazer abrir este espaço que nosso irmão Nilo Junior está me oferecendo para chegar até vocês com uma mensagem de fé e esperança, a partir da revelação de Nosso Senhor Jesus Cristo, Palavra Encarnada e Presença Redentora, na humanidade. Desde já lhes desejo uma Páscoa Abençoada, e que o Senhor Ressuscitado seja a Luz dos seus caminhos, dando sentido e profundidade a suas vidas, assim como tem feito com a minha. Há aproximadamente 10 anos estava assistindo eu um programa de TV onde um conhecido Padre da Igreja Católica Apostólica Romana falava dos sermões cantados que fazia. Eu aprendi a tocar violão no Seminário, e sempre usei este instrumento como forma de Missão e Evangelização, assim me perguntei: “Por quê não faço um sermão cantado?”. Logo veio a Páscoa e fizemos uma celebração toda cantada, inclusive o sermão. Então, tomei uma decisão que mantenho até agora, fazer sermões cantados toda Páscoa e todo Natal. Este ano o título do meu Sermão, ou Mensagem Pascal, é “O Túmulo Vazio”. Não poderão ouvir-me cantar, então o resumi para compartilha-lo em poesia com vocês: Ressuscitou, ressuscitou, o túmulo esta vazio, vazio, vazio Ao amanhecer, com perfumes na bagagem, Carregadas de coragem, as mulheres foram ver, Apóstolas de Jesus, foram levar a noticia, De seres angelicais, o Senhor Res-

Espediente:

O Paráclito Tel: (47) 3467 - 2430 Uma publicação:

suscitou. As mulheres anunciaram os homens não acreditaram, e assim foi registrada essa discriminação.. Mas, a histórica aqui chegou, foram quase 2000 anos, e as mulheres ainda gritam contra a morte e a exclusão. Outras pessoas também, pelas ruas e as igrejas, Diante de tanta morte, clamam por ressurreição. Será que estamos ouvindo? Será que estamos lembrando? Que o túmulo está vazio, o Senhor Ressuscitou. Jesus marcou um encontro, onde tudo começou, Com uma mesa inclusiva, onde partiria o pão. Ainda hoje na mesa, está o Ressuscitado, Partilha aberta inclusiva, verdadeira comunhão. Entre nós sempre aparece o Senhor Ressuscitado, Quando estamos lado a lado partilhando da Missão. E esse túmulo vazio, será sempre essa lembrança, de vitória sobre a morte, que o Senhor Ressuscitou. Vamos viver a alegria, vamos espalhar a vida, Seguindo-lhe cada dia, amando como ele amou. Sejamos Círios de Paz, notícia desta vitória, Prenúncio de Sua Glória, o Senhor Ressuscitou. Não poderão assustar-nos, mesmo que possam matar-nos, Somos povos que caminham para a Ressurreição.

Diretor: Nilo Junior adm.nilojunior@gmail.com

Diagramação: Christian Pacheco

diagramaçao@folhadearaquari.com.br

Filocalia

Assim, os homens não deixam de ter razão ao buscar a riqueza para seu bem. Mas eles temem a sua falta, por que não creem Naquele que prometeu que as coisas daqui seriam dadas em acréscimo aos que buscam o Reino de Deus e, não tendo mais do que este motivo, mesmo rodeados de tudo, jamais se afastam de seu desejo maligno e mortal. Ajuntando sempre mais, eles se sobrecarregam com um fardo inútil, ou melhor, enquanto ainda estão nesta vida, se cercam de um novo túmulo. Pois os que morrem dentre os homens são enterrados na terra simples, mas a inteligência do avaro é enterrada, ainda em vida, num monturo de poeira de ouro. (São Gregório Palamás)


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Estilo de Vida

A luta para recuperar a unidade do casamento depois de uma traição Por outro lado, consultei um terapeuta matrimonial e familiar, que se propôs a me atender desde que seguíssemos uma premissa: matrimônio e vida matrimonial são duas coisas diferentes. O matrimônio, como pacto de união, pode ter ou não falhas em sua estrutura. Por outro lado, seu desenvolvimento na vida matrimonial estará sempre sujeito aos mais diversos avatares. Quando o início do matrimônio não apresenta vícios, é possível que, mais cedo ou mais tarde, eles se desenvolvam e apareçam. Esse era o nosso caso Certamente, com 20 anos de casados, além de criarmos e educarmos felizmente os nossos filhos, meu esposo e eu nos ajudamos de muitas maneiras, principalmente a nos conhecermos melhor e a nos apoiarmos no desenvolvimento de nossos talentos. Era preciso, então, recuperar tudo o que tinha nos unido, vendo o copo meio cheio e não meio vazio. No entanto, o caminho do perdão estava cheio de dificuldades, já que sua infidelidade tinha atentado direta e gravemente contra o pacto de união que contraímos no matrimônio. Além disso, a ferida no meu interior era profunda e muito grave. Para mim, o dano era atual, apesar de ser proveniente do passado. Porém, eu decidi perdoálo. Mas não seria fácil, já que meu processo de dor poderia levar muito tempo. Embora perdoar seja algo voluntário, esquecer ou deixar de sentir não são. Ele, por outro lado, começou a enfrentar a sua própria dor ao me ouvir. O tempo passou e meu marido soube esperar e conquistar a cada dia o perdão. Um tempo

em que, assustadoramente, a ferida começou a cicatrizar e nós começamos a nos unir novamente. Não se rompe um matrimônio como se quebra um objeto de modo irreparável. Também não se pode destruir um casamento como se faz com um utensílio inútil. UC

Por: Orfa Astorga/Aleteia “O prestígio de meu esposo englobava todos os aspectos de uma rica personalidade: era bom pai, esposo fiel e profissional brilhante. Eu o amava e o admirava. Nós vivíamos sem grandes problemas, pois tudo corria bem. Até que uma nuvem escureceu nossa união. Tudo começou no dia em seu caráter mudou como quem sofre um eclipse de personalidade em meio a um drama. Um drama que me arrebatou quando eu recebi o telefonema de um adolescente que se identificou como filho dele, pedindo para falar com meu marido sobre a grave doença que atingia a mãe do rapaz. Depois de anos escondendo tudo de mim, meu esposo admitiu que tivera uma relação extraconjugal no começo do nosso casamento e que, dessa relação, havia nascido um filho. Ele ficou responsável pelo sustento e pela educação acadêmica do garoto. A mãe, de quem ele se afastou, agora estava com câncer e precisava da ajuda dele. Ele me falou sobre seu mais sincero arrependimento e, pedindo perdão, disse que estava disposto a ajudar a mulher, pois sua consciência exigia isso dele. Eu não quis ouvir mais nada. Senti-me ultrajada e traída, de tal modo que pedi para que nós nos separássemos imediatamente. Deixei de me sentir intimamente unida a ele. Agora eu entendo que a perda do sentido unidade familiar é o que desintegra profunda e rapidamente uma relação. Desconcertada, consultei dois profissionais. O primeiro foi um advogado, já que o que me importava era ganhar um divórcio, como se tratasse de um negócio. Descartei a ideia.

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O casamento pode perder a intensidade ao longo do tempo. Mas a capacidade criadora do homem sobrevive aos fracassos e tem uma enorme habilidade de restaurar a convivência perdida. Isso acontece graças ao misterioso poder da unidade conjugal um dia instaurada.”


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Artigos

Porque ele vive, posso crer no amanhã

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REVMO. DEÃO JERRYANDREI DOS SANTOS CATEDRAL NACIONAL DA SANTÍSSIMA TRINDADE IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA DO BRASIL

Após várias semanas experimentando o tempo penitencial da Quaresma, culminando com eventos maravilhosos que rememoram através da Semana Santa os últimos momentos da vida e ministério de Jesus, chegamos finalmente ao tempo da Páscoa. Durante estas últimas semanas relembramos os desertos pelos quais passamos. Na maioria das vezes são bastante reais na nossa experiência humana, trazendo assim não somente a noss a, mas também a experiência daquelas pessoas que nos antecederam na fé e que passando pelas mesmas tribulações foram capazes de experimentar a libertação e navegar em águas mais profundas na sua jornada espiritual. Como pessoas cristãs reconhecemos o grande presente de amor concedido por Deus ao tomar a iniciativa de entregar em sacrifício seu único Filho, Jesus Cristo, para que em nosso lugar e por

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nossas vidas tomasse o peso e a culpa que não eram d’Ele e sim nossa. Jesus, em nosso lugar, carregou uma “pesada cruz”, não apenas no sentido literal, mas também no sentido de tudo o que viveu e experimentou ao longo do Seu anúncio profético de vida em abundância que prometia àqueles que tomavam a decisão de com Ele caminhar. Pela Sua morte e ressurreição Ele não apenas nos abriu as portas para a vida eterna, embora essa seja a nossa certeza mais profunda, mas também abriu as portas para uma vida aqui e agora que também pudessem experimentar a libertação e plenitude. Ainda hoje muitas pessoas seguindo ao Mestre carregam suas cruzes e vivem os desertos e provações que testam e provam sua fé. Vivemos tempos em que a falta de solidariedade e amor parecem reinar e nisto vemos sinais das trevas que insistem em se apoderar da harmonia para a qual nossas vidas e

nosso mundo foram criadas. Desertos como a exploração dos recursos n at u r a i s , a v iol aç ão d a integridade da Criação, o p re c o n c e i to , o ó d i o , machismo, homofobia e tantas outras coisas que poderíamos elencar, ainda permanecem em nosso meio, e assim “cruzes” continuam sendo erguidas e levando muitas pessoas à morte física, emocional ou mesmo social. Acompanhamos com tristeza situações como mulheres sendo violentadas, pessoas humildes sendo exploradas, pessoas homossexuais sendo assassinadas ou mesmo se suicidando; isso sem falarmos da situação social e política que nosso país atravessa e que tolhe até mesmo direitos básicos até então conquistados pela nossa população. E a nossa esperança? Se perdeu? Para muitas pessoas nos dias de Jesus, a esperança enfraqueceu, naquela tarde triste e dolorosa da Sexta-feira da Paixão, Cristo foi erguido

na cruz até suas últimas forças físicas se esvaírem e finalmente morrer. Mas a morte não teve a última palavra: Na manhã gloriosa de Domingo, o túmulo foi encontrado aberto, e ao seu lado mensageiros de Deus anunciavam: Ele não está aqui! Ressuscitou! Da mesma forma, neste ano de 2018, mais uma vez celebramos sua vitória sobre a morte; e também nós anunciamos e testemunhamos ao mundo, que Ele está vivo, que está entre nós. Há sim esperança, contra toda a desesperança. Continuemos a crer que a libertação é real, é para todos nós, para todas as pessoas, e que a vida em abundância prometida por Jesus, está a ser anunciada pelo povo cristão. Anunciemos a mensagem de vida para os nossos dias. Afinal, “porque Ele vive, podemos crer no amanhã” Aleluia! Cristo Ressuscitou! Uma feliz e abençoada Páscoa.


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