O Paráclito Fevereiro de 2018

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Edição:

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O Paráclito

“Feliz é quem atende a pessoa pobre; o Senhor lhe dará libertação no dia da dificuldade (Salmo 41,1)

ANO 1 | FEVEREIRO DE 2018 | EDIÇÃO ECUMÊNICA.

Significado e importância da Quaresma A CERIMÔNIA DE IMPOSIÇÃO das cinzas dá início a um período espiritual singularmente importante para todo cristão que busca se preparar para viver melhor e mais profundamente o Mistério Pascal, que se reflete na Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Este especial tempo litúrgicobuscaocumprimento da exortação evangélica essencial: “Convertei-vos”, imperativo que é proposto a todos os fiéis mediante as palavras do rito da Quartafeira de Cinzas: “Converteivos e crede no Evangelho” e na expressão “Lembra-te de que és pó e ao pó voltarás”. Recorda a inexorável finitude e a efêmera fragilidade da vida humana neste mundo, sujeita à morte. A cerimônia das cinzas eleva o pensamento à Realidade eterna, Deus; Princípio e Fim, Alfa e Ômega de toda existência. A conversão não é, com efeito, nada mais que um voltar a Deus, valorizando as realidades terrenas sob a luz indefectível de sua verdade. Valorização esta que implica uma consciência cada vez mais clara do fato de que estamos de passagem neste fadigoso itinerário sobre a Terra, e que nos impulsiona e estimula a trabalhar até o final, a fim de que o Reino de Deus se instaure dentro de nós e triunfe em sua justiça. Sinônimo de “conversão”, é também a palavra “penitência”, como mudança de mentalidade; penitência como expressão de livre e positivo esforço no seguimento de Cristo.

eventualmente começava seis semanas (42 dias) antes da Páscoa. Isto só dava por resultado 36 dias de jejum (já que se excluem os domingos). No século VII foram acrescentados quatro dias antes do primeiro domingo da Quaresma, estabelecendose os quarenta dias de jejum (afora os domingos), para imitar o jejum do Cristo no deserto. Era prática comum em Roma que os penitentes começassem sua penitência pública no primeiro dia de Quaresma. Eles eram salpicados de cinzas, vestidos com saial e obrigados a manter-se longe até que se reconciliassem com a Igreja na Quinta-feira Santa ou na Quintafeira antes da Páscoa. Quando estas práticas caíram Tradição Na Igreja primitiva, variava em desuso (séc. VIII ao a duração da Quaresma, mas X), o início da temporada

como a anglicana e a luterana. A Igreja Ortodoxa começa a Quaresma a partir da segunda-feira anterior e não celebra a Quarta-feira de Cinzas.

Preparação

penitencial da Quaresma foi simbolizada com a imposição do cinzas nas cabeças de todos os membros da congregação. Hoje, na Quarta-feira de Cinzas o cristão recebe uma cruz na fronte com as cinzas obtidas da queima das palmas usadas no Domingo de Ramos do ano anterior. Esta tradição da Igreja ficou como simples serviço em algumas igrejas protestantes,

O Tempo Quaresmal é, então, principalmente o tempo de preparação para a Páscoa. – Um período privilegiado que leva o cristão a penetrar fundo no sentido de sua condição de filho de Deus, destinado a uma eternidade repleta de felicidade na Casa do Pai, pois foi resgatado pelo Sangue de Cristo. A Quaresma começa na quarta-feira de cinzas e termina no Sábado Santo ou de Aleluia, anterior ao Domingo de Páscoa: ao total são 46 dias, da quarta feira de cinzas ao sábado. Durante esses dias que precedem a Semana Santa e a Páscoa, os cristãos dedicam-se à reflexão e à conversão espiritual, e se recolhem em oração e penitência, para lembrar não só os 40 dias no deserto como também os sofrimentos que Deus feito homem suportou por cada um de nós na cruz. Quaresma é o tempo propício e oportuno para o cristão buscar a imersão na Misericórdia divina e se tornar, de fato, discípulo de Jesus. Para lembrar que temos obrigação, enquanto cristãos,

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O Paráclito de sermos misericordiosos com o nosso próximo. Oração, penitência, jejum e esmola são meios para se alcançar os objetivos da Quaresma. Não precisamos necessariamente multiplicar as nossas orações, mas sim rezar apaixonadamente a cada dia, participar nas Missas dominicais com especial atenção e dedicação, e coroar essas práticas com a Comunhão no Corpo e Sangue do Senhor. Temos agora a maravilhosa oportunidade de participar das orações da Via Sacra, que nos ajudam a aguçar a consciência da Presença do Deus Conosco, todos os dias, a todo momento, este Deus Uno “no qual existimos, nos movemos e somos” (At 17,28). Viver a quaresma também é buscar a oração em família e a leitura diária da Bíblia, ainda que de pequenos trechos. É fazer uma tranquila caminhada num parque, contemplando as maravilhas que Deus espalhou por toda parte, percebendo a beleza das árvores, o perfume das flores, o cântico dos pássaros, o que nos possibilita experimentar um notável bem-estar psicossomático: viver a Quaresma é estar atento às inspirações do Espírito Santo, que vem a cada um “com gemidos inexplicáveis” (Rm 8,26). O jejum é prescrito para a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira da Paixão, no espírito de penitência próprio da Quaresma: fome e sede do Deus Vivo. Ainda mais interessante é jejuar dos programas

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Tempo Litúrgico de TV que promovem a prostituição, o adultério e o homossexualismo. Muitos, depois, nem regressam mais às famigeradas novelas e reality shows que promovem a vulgarização da mulher, o sentimento de rivalidade entre os semelhantes, a falsidade, a mesquinharia, a egolatria. Jejum do medo, da ansiedade e do pânico característicos da falta de confiança no Ser Supremo, nosso Pai do Céu, que é maior do que tudo. Jejum da violência, seja nas palavras, nos gestos e atitudes, no cultivo da paciência e da mansidão, frutos do Amor divino. A ascese, bem direcionada e com o propósito correto, é válida e útil: muitos aproveitam esta temporada de graças especiais para acertar o peso e entrar no ritmo de uma dieta saudável para o corpo e para a alma; – o que não é o fim nem a razão dessas práticas espirituais, mas sim uma consequência, um resultado secundário de se viver bem a vida cristã. – Alguns escolhem, como penitência, se privar das guloseimas, que só servem para satisfazer a gula, prejudicando a saúde e a boa forma. Os que abusam do álcool também podem se libertar do vício ou do consumo exagerado. O mesmo se diga do cigarro. Uma resolução firme, nesta caminhada quaresmal, já significou para inúmeras pessoas o renascer para a perfeita liberdade. Quaresma é época de uma maior fraternidade, na ajuda concreta aos pobres. É uma abertura para a vida dos semelhantes que passam

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privações; é tempo para lutar com mais força contra o aborto; época de conceder o perdão aos que nos ofenderam ou magoaram; de fazer o bem a todos sem “trombetear”. É tempo também de fazer uma boa confissão, de fazer um “pacto” com a própria língua, para não ferir a honra alheia, evitando críticas destrutivas; e para se resolver consigo mesmo, aumentar a autoestima e valorizar as próprias qualidades. Quaresma é tempo de partilhar a fé com os que se

acham perdidos em dúvidas que martirizam e confundem. Quaresma é tempo de rezar com amor e fé pela paz neste mundo conturbado, pelos que sofrem, pelos que ainda não encontraram o Caminho da Vida. Para cumprir o propósito da Quaresma, uma boa dica: examine a sua consciência ao final de cada dia. Coloque-se diante de Deus e diga: “Nisto eu errei; aquilo poderia ter feito diferente, melhor. Amanhã vou melhorar, com a vossa Graça”.

Filocalia

Você sabe quem se difunde no coração dos fiéis e qual é o signo desta efusão? É acima de tudo o Espírito Santo quer procede do Pai pelo Filho, e que preenche o mundo. Ele está inteiro em tudo, e se 87 Mais alto do que o mundo, acima do mundo, além do mundo (ou do que o ser, do que a natureza): traduz o grego hyperousious, supraessencial. difunde inteiro em cada um dos fiéis. Ele se distribui impassivelmente e se dá numa comunhão irresistível. O sinal de sua comunhão, ou de sua efusão em nós, é o desejo pela humildade, o amor verdadeiro, o amor total por Deus e o próximo, a alegria do coração, o regozijo em Deus, a paciência nos deveres, a mansidão para com todos, e simplesmente a bondade, a união do intelecto, acontemplação, a luz, o ardente poder da prece contínua. (CALIXTO O PATRIARCA)


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Estilo de Vida

As dificuldades de ser pai na adolescência

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Por: Diácono João Carlos e Maria Luiza (via Aletheia)

Quando se falava em gravidez inesperada na adolescência, as reflexões estavam muito voltadas para a questão da maternidade. Hoje, percebemos que, as dificuldades não são experienciadas somente pela mulher, mas também, pelos homens, que se veem diante da adolescência, com suas questões específicas da idade, e da nova situação – ser pai na adolescência, a qual, muitas vezes, é indesejada e repleta de problemas, aparentemente, sem soluções. A adolescência é um período que compreende, aproximadamente, a faixa etária que vai dos 12 aos 20 anos. Contudo, na verdade, não há uma definição clara para seu ponto de início e fim; geralmente, considera-se que ela tem início na puberdade, ou seja, no processo que leva à maturidade sexual ou fertilidade. Essa fase também caracteriza-se por ser um período de descoberta do mundo, no qual o jovem olha ao seu redor diante da sua vivência familiar e, ao mesmo tempo, com todas as outras experiências de convívio social, de maneira que sua personalidade vai sendo estruturada de uma forma mais madura. Ser pai na adolescência causa instabilidades e crises É um momento de transição, pela qual passam todos os homens, carregada de transformações físicas, psicológicas e existenciais. Esse período traz diversas instabilidades e crises, pois é um tempo no qual está ocorrendo a construção de nossa identidade, pois, deixamos de ser aquela criança que tudo podia, que tudo lhe era permitido, quando tudo era uma “festa”,

assim, como sempre, era ajudada em suas dificuldades, para não ser ainda um adulto formado, mas já ter todas as responsabilidades acarretadas pela sociedade. Diante de todas essas características envolvidas nesse contexto, tão específico no processo de sua humanização, podemos dizer que, biologicamente falando, o adolescente já tem condições físicas para ser pai, porque, é nesse período que ocorre o início da produção de espermatozoides, proporcionando assim, a vida fértil. Contudo, no que diz respeito ao aspecto psicológico, podemos pensar: se essa fase de desenvolvimento do ser humano é um momento tão especial da vida – a qual requer cuidado, atenção e reflexão, quando o adolescente se encontra mergulhado em si mesmo, na construção de sua identidade, considerando-se seu aspecto psíquico e emocional, assim, como também, toda sua experiência de vida , como ele poderia oferecer suporte, apoio, presença paterna a um filho, que também necessita se estruturar e, portanto, precisa de cuidado? A presença paterna é essencial Ser pai não é apenas ser uma pessoa do sexo masculino, que possua órgãos masculinos ou que possua um “cromossomo Y”. Ser pai é, sobretudo, ser uma pessoa que tem um lugar definido na família, principalmente na vida do filho e na construção da personalidade dele. Essa presença paterna não é dispensável ou menos importante, é essencial. O pai evidencia para o filho um mundo maior de

relações que não somente o materno, ele alarga a visão do filho, com sua presença amorosa e participante. Ele também lhe traz os limites, a socialização, assim, o filho, percebe que esse não é uma extensão da mãe, ele é uma pessoa distinta, de relação e que também tem seu lugar. Se o pai não perceber sua função e não tiver condições para se responsabilizar por ela, poderá viver afastado, fisicamente distante, emocionalmente ausente, indiferente, autoritário, egoísta, indeciso, fechado para a vida do filho. Tudo isso trará sérias consequências!

O que é ser pai?

“Ser pai é ser amigo, sustentador nas dificuldades, é ser companheiro, conselheiro, confiável e perdoador, aquele que abençoa a sexualidade do seu filho, é ser aquele a quem o filho pode correr em busca de refúgio e que está disponível a acolhê-lo e ajudá-lo, é ser consciente, responsável,é ser homem” (‘Ser Pai: um apelo à responsabilidade’, de Rasma V.E. Jakob). Se, por acaso, você estiver vivendo a experiência de ser pai na adolescência, transcenda, busque o amadurecimento necessário, não olhe só para o seu limite, olhe para o seu filho. O amor nos faz dar respostas que antes nos pareciam impossíveis.

8 JEITOS DE MUDAR O MUNDO (ONU)


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Histórias Inspiradoras

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A lição de amor do bebê que viveu apenas 45 minutos

Qual o sentido de dar à luz um bebê que morrerá minutos depois? Essa é uma das perguntas mais difíceis para os pais e as mães que enfrentam esta trágica situação durante a gravidez. Uma pergunta que exclui qualquer discussão relacionada ao aborto e nos convida a fazer uma reflexão mais profunda sobre o significado da vida e da morte.

O bebê que viveu 45 minutos

Eis uma daquelas perguntas para as quais não existem respostas fáceis. Às vezes, é a própria vida que oferece uma explicação ou uma lição muito mais valiosa como a que ofereceu o protagonista deste artigo aos seus pais, à sua família e à equipe do hospital onde nasceu, na Polônia. Toda a sua família esperava pelo nascimento. A mãe, o pai, seus dois irmãos, as duas avós, os dois avôs e uma tia. Vieram de longe para conhecer o menino e dizer adeus a este pequeno, que lhes roubaria o coração. Eu estava junto a eles. Também fui testemunha de seus 45 minutos de vida. Foi o tempo de durou sua aula, uma aula não acadêmica, mas que me ensinou que o amor por um bebê é incondicional e que a beleza está nos olhos de quem sabe apreciá-la. O pessoal do hospital ficou comovido: “Estamos agradecidos pelo milagre em que se transformou este dramático momento, uma íntima experiência de adeus”. Adeus

com paz e dignidade A missão da Fundação

Gajusz, que administra o serviço neonatal do hospital polonês onde nasceu este bebê especial, é oferecer uma despedida pacífica aos pequenos seres humanos que estão prestes a morrer. Uma situação tão delicada, que merece ser tratada como tal e requer a atenção de toda a equipe. Queremos “assegurar que a mulher tenha privacidade e que o bebê possa partir com dignidade”, comenta uma ginecologista, que também informou que o Hospital Universitário de Breslavia criou uma ala especial para mulheres que decidem dar à luz bebês em fase terminal. Do que estas mulheres e seus entes queridos precisam? Mais do que tudo, precisam de respeito e privacidade. É fundamental separá-las das mães que dão à luz bebês saudáveis.

“Tratamos o bebê simplesmente como um bebê. Se o pequeno estiver vivo, a mãe poderá abraçálo e amamentá-lo. Se estiver morto, vamos limpá-lo, vesti-lo e entrega-lo à mãe, para que ela e a família possam se despedir dele”, afirmou Nikoleta. A compaixão e o amor pela vida observados diariamente nos hospitais como esse nos fazem lembrar que nossa dignidade não depende de quanto tempo vivemos nem do que conseguimos fazer nesta vida.

A dignidade de nossa vida está fortemente relacionada ao que somos: seres humanos. Ao reconhecermos e amarmos a dignidade dos mais fracos, dos pobres e vulneráveis, mais valor daremos à nossa própria dignidade, que, assim como eles, recebemos simplesmente pelo fato de existirmos. No caso do bebê que viveu 45 minutos, comentase no hospital que “seus pais não puderam lhe dar raízes, por isso lhe deram asas”.


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