Uma história dos trabalhadores nos frigoríficos: regimes fabris e vilas operárias

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2. Antecedentes históricos da industrialização da carne no Brasil Embora os frigoríficos norte-americanos prosperassem rapidamente, empresas britânicas foram as primeiras a exportar capital constante (capital financeiro, meios de produção etc.) e, desse modo, desenvolver práticas imperialistas, abrindo plantas produtivas na Argentina e no Uruguai devido ao baixo preço da matéria prima e à facilidade de introduzir seu capital. Além dos mercados locais, os frigoríficos recém implantados na região do Prata exportavam carne para países europeus e para o próprio Reino Unido. Nesse caso, cabe ressaltar que o mercado de consumo britânico foi estimulado pela expropriação de trabalhadores do campo e pelo aumento de trabalhadores urbanos empregados durante a revolução industrial. Esse processo produziu uma população cuja tendência foi a de comprar carne ao invés de criar animais para o abate ou negociá-la de pequenos açougueiros. Os números relativamente ao período de 1831 a 1914 (que dizem respeito ao amadurecimento da revolução industrial e início da primeira guerra respectivamente) apontam para um crescimento sólido da quantidade de carne consumida no Reino Unido. Em 1831 consumiu-se 900 mil toneladas. Dez anos depois este número aumentou para 1 milhão de toneladas. Em 1870 os britânicos consumiram 1,3 milhões de toneladas. Em 1890 o consumo subiu para 2,1 milhões de toneladas, e em 1914 o consumido atingiu 2,6 milhões de toneladas. Acrescente-se a isso que, a partir de 1890, metade dessa carne consumida veio de outros países, principalmente da Argentina. (GEBHARDT, 2000, p.105-107) Os frigoríficos norte-americanos se favoreceram do mercado britânico, sobretudo durante a primeira grande guerra. Eles exportaram 5 mil toneladas de carne bovina em 1914 e alcançaram 129 mil toneladas em 1918. Ficaram atrás dos frigoríficos Argentinos e Australianos, controlados por capital inglês. (PERREN, 2005) Ao mesmo tempo, frigoríficos norte-americanos buscaram dividir espaço na Argentina, Uruguai e Brasil, instalando plantas produtivas em matadouros, charqueadas e frigoríficos falidos ou em vias de falir. Tratou-se de uma disputa inteiramente imperialista. Cada máquina importada e cada empresa aberta em terreno estrangeiro representaram o enraizamento e a expansão do domínio político norteamericano sobre a América do Sul. A relação inversa também é verdadeira. A posição das empresas norte-americanas melhorou bastante ao longo da primeira grande guerra. A Swift chegou na Argentina pouco tempo depois dos frigoríficos britânicos. A principal preocupação dos norte-americanos residiu em contornar ou quebrar a organização oligopólica dos criadores de bois na Argentina. Esta foi uma questão tanto econômica quanto política. A Swift enfrentou, com pouco ou nenhum sucesso, os preços dos bois cobrados pelos estancieiros, que subiram ininterruptamente durante a grande guerra. Mesmo assim, seu crescimento frente aos frigoríficos britânicos e argentinos foi destacado. Em 1911 os norteamericanos já totalizavam 41% das exportações de carne congelada, contra 40% e 19% do Reino Unido e da Argentina, respectivamente. Em 1914 os frigoríficos estadunidenses registraram 58%, contra 30% dos britânicos e 12% dos argentinos. (GEBHARDT, 2000, p.155) De qualquer modo, qualquer que fosse a nacionalidade dos frigoríficos na Argentina, Uruguai, Brasil, África do Sul, Austrália etc., geralmente descendiam de matrizes britânicas e norte-americanas e sua natureza era imperialista. Como observou Lenin em 1916, desde os últimos trinta anos do século XIX as principais economias capitalistas exportavam indústrias

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