Edição 150 do Boletim Mensageiro da Poesia

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Mensageiro da Poesia - 1 Julho/Agosto/Setembro 2019

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Bocage O nosso patrono Mensageiro da Poesia Associação Cultural Poética Trimestral - n.º 150 Julho/Agosto/Setembro 2019

Poeta do Mês

Arménio Correia Pág. 14 e 15

Homenagem a Arménio Correia


Nota de Abertura

Julho/Agosto/Setembro 2019

2 - Mensageiro da Poesia

silly season É uma expressão inglesa que designa o período do ano de menor intensidade informativa nos media, ou “estação boba” que é o período dos meses de verão, tipificado pelo surgimento de notícias frívolas… Uma época em que tudo parece mais ocupado com o acessório do que com o essencial. Não sei se o “Silly Season” tem alguma coisa a ver com a produção poética, mas é com alguma angústia que terei de partilhar a mágoa que me desconsola no fecho desta edição do nosso boletim. O apelo que fiz aos poetas e sócios do Mensageiro, para que os poemas deste boletim fossem dedicados a Arménio Correia, só nalguns

teve eco… O critério poderia ser só publicar esses, mas não se pode obrigar ninguém a criar o que a sua vontade não queira, ou que a sua capacidade, engenho ou espírito criador não permita… Incomoda-me porque acredito se poder encontrar na Poesia um reduto que não seja dominado pela competição, pela sobreposição ou pela vaidade. Utopias igualmente próprias da Poesia, desde Homero a Camões, a Voltaire ou a Bocage, mas talvez descavalgadas quando aferidas com a realidade… Era um sonho que neste baluarte de Poetas, pelo menos à partida de um de nós, todos nos juntássemos num coro de

homenagem, anulando (mesmo que fosse só dessa vez) o Ego da manifestação pessoal… Um sonho que gostava se repetisse em cada um que parte para aquela Galáxia da Utopia que não sabemos onde fica, mas sabemos que lá nos iremos todos encontrar...

Jorge Henriques Santos Jornalista

Donativos Associados que comparticipam o livro de Arménio Correia Manuel Martins Nobre 10€; Jorge Santos 20€; António Mestre 10€; Maria José Portugal 20€; Hermilo Grande 20€; Maria de Jesus Procópio 20€; Joel Lira 20€; Luis Fernandes 20€; Damásia Pestana 20€; José Gonçalves Caldeira 20€, Maria Vitória Afonso 20€; Julio Marques 20€; Margarida Moreira 15€; Cidália Isidoro 10€; José Frias 5€; Américo Grácio 5€; António Dias 5€; Jorge Costa 5€; Lina Almeida 5€. Outros Donativos: Natércia Silva; Café Casa Nova da Cruz Stº Teotónio Odemira 25€; Emídia Salvador 10€; Cidália Isidoro 5€; Manuela Amaro 10€

Ficha Técnica: Tipo de publicação Trimestral - Propriedade: Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética Rua dos Vidreiros, Loja 5 Espaço Associativo de Amora - 2845-456 Amora - Portugal • E-mail: mensageiropoesia@gmail.com • Director: Jorge Henriques dos Santos Director Adjunto: Luís Fernandes - Sócio Fundador • Colaboram nesta edição: Donzília Fernandes, Luís Fernandes, Emídia Salvador, Maria Vitória Afonso, Lúcia de Carvalho, Berta Rodrigues, Bia do Táxi, Miraldino de Carvalho, Chico Bento, Magui, Damásia Pestana, António Bicho, Nelson Carvalho, Isidoro Cavaco, Ana Santos, Hermilo Grave, Manuel Martins Nobre, Preciosa Gamito, Laura Santos, Francisca São Bento, Mário Pão-Mole, Lurdes Emidio Cardoso, Dolores Carvalho, Manuela Lourenço, Maria de Jesus Procópio, Armanda Rosa, José Camacho, Euclides Cavaco, Rosélia Martins, Maria João Cristino Lopes, Carmindo Carvalho, José de Frias, Domingos Pereira, Dolores da Costa, Fanny, José Caldeira Gonçalves, Arménio Correia, Ivone Mendes, Pinhal Dias, Emília Mezia, António Mestre, Manuel Sapateiro, Maria Catarina Silva, José Jacinto, João Ferreira, Amadeu Santos, Cláudia Carola • Isenta de Registo na ERC ao abrigo do disposto no Decreto Regulamentar n.º 8/99 de 9/06, art.º 12.º, n.º 1 a) • Depósito Legal: 3240411/06 • Tiragem: 300 exemplares Paginação / Impressão / Acabamento: Tipografia Rápida de Setúbal, Lda. • Travessa Gaspar Agostinho, N.º 1 -2.º 2900-389 Setúbal Telef.: 265 539 690 Fax: 265 539 698 • e-mail: trapida@bpl.pt


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Próximas actividades - No dia 29 de setembro, domingo teremos uma tertúlia Poética na nossa sede. - No dia 20 de outubro de 2019, domingo, às 15 horas comemoramos o 21º Aniversário no Salão do Clube Recreativo da Cruz de Pau. Todos os sócios, familiares e amigos da nossa Associação estão convidados. - 24 de Novembro Domingo pelas 15 horas se realiza mais uma tertúlia poética na nossa sede .

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Mensageiro da Poesia - 3

Vida Associativa

Destaques nesta edição: • Associação nas Festas da Amora - Pág. 11 • Cantinho do Escritor - Págs. 09 • Homenagem a Arménio Correia - Págs. 14 e 15 • Poeta em Destaque: Roberto das Neves - Pág. 27 e 28 • Poeta do Mês: Arménio Correia - Pág. 05

Consulte a nossa página no Facebook e deixe os seus comentários:

http://.facebook.com/mensageirodapoesia.com

Apelo aos Sócios Alguns dos nossos associados têm deixado atrasar as suas quotas no Mensageiro da Poesia-Associação Cultural Poética. É do nosso conhecimento geral que é com o conjunto destes pequenos contribuintes que é possível continuar a editar este boletim trimestral e cuja regularidade queríamos manter. Por uma questão de justiça também não é aceitável que o Mensageiro continue a publicar poemas de quem para ele não contribua. Pelo que apelamos aos sócios nesta situação que actualizem a sua contribuição, anunciando que o boletim deixará de publicar textos e poemas de quem não tenha a sua situação regularizada. A quota anual é de 20 euros para Portugal, 25 euros estrangeiro e 15 euros para os juniores. Por isso, agradecemos que procedam ao seu pagamento, por depósito Bancário na conta do Mensageiro da Poesia no Banco Montepio Geral – NIB 0036 0022 99100077597 96, por cheque ou Vale Postal para: Mensageiro da Poesia – Associação Cultural Poética Rua dos Vidreiros, Loja 5 (antigo mercado de Amora) - 2845-456 Amora – Portugal Envie o seu comprovativo por carta ou e-mail Caso não regularize as suas quotas, deixará de ter direito a publicar os seus trabalhos e de receber o Boletim. Obrigado A Direcção


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Homenagem

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a Arménio Correia

Um desejo

Meu amigo

Partiste meu amigo, poeta de valor! Eras palavra que jorrava poesia, Alma livre e nobre transmitindo calor! Tudo em ti era simples e sem fantasia.

Estão sempre, os teus amigos primeiro. O teu livro jamais irá perecer!...

Amigo! Foste e serás sempre, Um pedaço da alma Do Mensageiro da Poesia. Aconteceu cedo de mais O que nenhum dos teus amigos Queria. Partiste, Deus chamou-te, Mas levaste no coração A nossa amizade Porque ela de ti Não se afastou. Deixaste a tua poesia Que todos continuaremos a ler, E através dela, Nunca te iremos Esquecer, Meu amigo,

Damásia Pestana

Para o meu amigo Arménio Correia

Teus poemas eram grande desabafo, Com muito calor, angústia e mestria! Quem conviveu e sentiu esse nobre bafo… Lutas-te! Porém a saúde te traía. Sobre sonhos ficou o livro plantado, Pronto para edição esse filho amado!... Não tiveste tempo de o ver nascer! Nas asas da pomba do mensageiro,

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Tristeza O Seixal está de luto Morreu Poeta da Magia Por ser um ser impoluto Tira-nos ,de vez a alegria Grande poeta do Seixal Poeta de todo o mundo Seu verso, nada trivial Encantador e profundo. Mas o poeta morreu Tendo ido encantar os Anjos Que pelo estro muito seu Tocam em louvor os banjos. Não morreste para nós Ficam connosco teus poemas Ninguém esquece a tua voz E a verve dos teus temas. Paz à tua alma ,amigo Tens lugarzinho no céu Enquanto triste mitigo A saudade do verso teu. Maria Vitória Afonso

Francisca São Bento

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Ao Arménio Correia Poeta invulgar o Arménio, Popular ou erudito... Bradou o seu nobre génio, No que nos deixou escrito! Simples!... O Arménio Correia Poeta da Baía de Amora, Um sonhador de alma cheia Que hoje se foi embora!.. Esteja ele onde estiver... Se lá sonhar ou escrever Sei que o fará com fervor! E como sempre, em poesia!... Na tristeza ou na alegria, Cantou nobremente o amor! José Maria Gonçalves Caldeira

Dedicado ao saudoso amigo Arménio Um poeta culto Poeta Com letra grande, escrevo, A baixa que deixou completa, Entre os poetas é de relevo! Arménio! Quem foi Arménio? Poeta, com rara sabedoria, Mas Deus levou mais um génio, Do Mensageiro da Poesia! Que tanta falta faz, Na nossa Associação Agora descansa em paz Amigo do meu coração. Luís F. N. Fernandes


dPoeta do Mês

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Homenagem póstuma a

Arménio Correia

Arménio Lopes Fernandes Correia nasceu a 10-04-1943, na Moita do Ribatejo, onde fez o curso de instrução primária e se tornou carpinteiro de profissão. Bem cedo começou a escrever poesia e o gosto pela escrita, pode dizer-se, era hereditário, pois o seu pai, apesar de analfabeto, fazia pequenas peças de teatro, que eram passadas para o papel pela mão de Arménio. Após ter feito o serviço militar, casou no Seixal e, nesta cidade, se fixou, tendo aí arranjado emprego, como carpinteiro, na Siderurgia Nacional. Aqui conheceu o poeta Passos Leitão, que o incentivou a prosseguir na arte de versejar. Passos Leitão, que era, por essa época, funcionário do Clube do Pessoal da Siderurgia Nacional, foi o impulsionador de vários concursos de poesia, onde Arménio Correia participou, juntamente com muitos funcionários e operários da empresa. Mas foi na pré-reforma e a partir de 1998 que o poeta Arménio mais se dedicou Intensamente à escrita. Entretanto, tendo tomado conhecimento da existência do Mensageiro da Poesia, aí se inscreveu como sócio, por intermédio da poetisa setubalense Glória Zorro e, além de colaborar no Boletim desta Associação, mais de uma vez fez parte da Direção do Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética. Frequentou as aulas da Unisseixal, nas disciplinas de Português, Inglês, Poesia e Informática, tendo sido muitos dos seus poemas premiados em concursos de Poesia e em Jogos Florais de várias Universidades Seniores, assim como em concursos de poesia Organizados pelo Mensageiro da Poesia. Poeta de fina sensibilidade, preocupava-se muito com as agruras do nosso povo e batia-se, corajosamente, contra os opressores, corruptos e parasitas do nosso planeta. Sonhava com um mundo melhor e mais justo, que ele, infelizmente nunca chegou a ver. A sua escrita, embora simples, denotava o grande amor que ele tinha aos outros. Recentemente, juntamente com o seu amigo e poeta Hermilo Grave, publicou o livro “Poesia

Compartilhada”, composto por quadras Glosadas e, no prelo, já se encontra um segundo livro de sua autoria e da autoria do poeta Hermilo Grave. Bem brevemente será publicado. Lamentavelmente, Arménio já não está no nosso convívio. Faleceu recentemente, deixando muito pesar no coração dos seus entes queridos e dos seus numerosos amigos. Mas a sua poesia e a sua forma de ser ficarão para sempre na memória de todos nós.

Inspiração Neste mundo onde habito A muito me sinto exposto. Por vezes fico aflito Com coisas, de que não gosto. Esta tentação me leva, A que fique descontente. Mas paro, e vou em frente Pintando a vida com cores, Como se fossem amores Vermelhos como papoilas, Que nossos campos matizam, E que a ninguém pertencem. É fruto de inspiração Este dom misterioso, Que nem a mim enaltece. Onde apenas só metade Da amizade é amor Nestes poemas que eu Teço, Com um sorriso gostoso, De fazer inveja às Ninfas Que se banham no Rio Tejo. Arménio correia


Os Nossos Poetas

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Bendito nosso amor! Conheci-te e o meu corpo nada disse Mas a minha essência sentiu-se em casa Como se a tua alma profunda me despisse Deixando meu ser queimar em brasa Na troca de olhares demos um abraço E o beijo que a minha alma viveu Foi o que desapertou nosso laço O que as nossas muralhas removeu Foi um reencontro de outras Eras Foi uma conexão intensa, divina O alinhamento de Altas Esferas A magia com que a vida nos fascina Somos amigos, companheiros e amantes Porque o destino cruzou nossos caminhos Aproveitamos da vida todos os instantes Vencemos as adversidades com carinho Não é fácil e está longe de ser perfeito Mas faz-nos bem é o que interessa Curtimos o passar da vida ao nosso jeito Vivemos o passar dos dias sem pressa Cláudia Carola

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Onda nostálgica

À Dolores (e a todos que amam sua esposa) O amor, o demasiado ainda é pouco. O amor e a escarlatina são mais perigoso À medida que se envelhece O amor é a origem, a causa e o fim de tudo Quanto existe de grande, de belo e de nobre Alphonse Karr Pelo imenso amor que vem de ti, Mulher qu’eu amo com amor grado, Pelo ideal descoberto entre nós passado, - Bendita seja a hora que te descobri! Pelas horas e cenas d’aventuras por aí, Na mira d’aparecer um amor rosado; Pelas horas boas vividas a teu lado, - Bendita seja a hora em que um dia nasci! Pelo grande triunfo d’alma e encanto, Que me trouxeste, e que eu bendigo tanto E hora que tua mãe teve no teu nascer… Amor do meu amor! Amor, grande, forte, Se naquele um dia sentir a tua morte, Será bendita a hora em que eu morrer! Nelson Carvalho

Hoje, reparei que outrora fui mais teso que hoje! ... Numa onda nostálgica lembrei-me dos bailaricos de salões e de garagens. Duas almas sincronizadas, na mesma onda sintonizadas! ... De quatros pés a dançarem em cima de um tijolo! ... E dos calores crescentes que arrebitavam grelos, em pleno inverno! ... Eram tempos em que comprar um Single, uma simples mas mágica rodela negra que ainda se chama Vinil era um luxo! ... Hoje em dia compra-se de tudo. O que precisamos e o que nos vai sobejar porque nem sequer vamos usar. Temos as mãos recheadas, temos os bolsos cheios. Temos o coração vazio e o cérebro enferrujado. Vamos andando, apáticos, sozinhos, errantes neste mundo, sem uma palavra aconchegante, reconfortante de uma voz amiga. Vamos andando com a ilusão de ter por companhia os milhares de adicionados no Facebook. Carmindo de Carvalho


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Dúvida Se a tristeza me acompanha Se é grande o meu pesar Não poderá ser pequena A tristeza em meu olhar Quem me dera ser alegre De alegria cantar Viver, viver de alegria Só assim eu posso amar A tristeza em minha alma Poderei eu afastá-la Quantos mais anos se passam Quanto mais viver eu vivo Alegro-me, pois e contigo Tantos anos em comum Não apareça nenhum Que a separação consiga Pois eu quero viver a vida Com alegria incontida. Amadeu Almeida Santos

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Aventureiro

O coração e a alma, Um conjunto bem perfeito. Quando a paixão não acalma, O coração salta no peito. Bate bate coração, Com teu bater baralhado Concedo-te o meu perdão, para ficares descansado. Não te falta o bem querer, Não te falta sedução. Pedes aos olhos para ver, E arranjas solução. O que estou a imaginar, São pensares de poeta. Que tenta não baralhar, Mais pensa menos acerta. Mário Pão-Mole

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Os Nossos Poetas

Mulher A rosa que tu foste colher Não era uma rosa, era uma flor Tu és uma grande mulher Onde eu deposito o meu amor Nós os dois temos de falar Nos bons nos maus momentos Tu não queiras arrecadar O total de todos os sofrimentos Tu és uma linda rosa O teu olhar são os botões Tua acção é linda e formosa Alimenta as minhas paixões Tu és um lindo malmequer Criado no meu jardim Ao desabrochar, vais dizer Que te lembras sempre de mim Como se escreve amor Com uma caneta e papel Teu nome é uma grande flor A que eu sou sempre fiel António Mestre

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É bom viver Que tarde cinzenta, Cinzenta e fria… Um frio intenso inunda a minha alma… Que coisa estranha a monotonia, Que esconde a agonia com imensa calma… Eu não quero chorar, nem quero lembrar… Quero prosseguir e finjo não sentir… É preciso pôr no ar uma nova visão, A paixão de existir… Eu preciso deitar, dormir e sonhar Com o que já passou; Viver e aceitar e não mais pensar. João Ferreira


Os Nossos Poetas

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Apoios:

Estas lembranças da vida Junta de Freguesia de Amora UNIÃO DAS FREGUESIAS DE SEIXAL, ARRENTELA E ALDEIA DE PAIO PIRES

CLUBE RECREATIVO DA CRUZ DE PAU

Estas lembranças da vida Parece que estou a ver Quarenta anos passados Eu não consigo esquecer

I É sempre de recordar Um dia de aventura Naquela noite escura Tivemos de caminhar Depressa e devagar A viagem foi cumprida Assim fizemos a despedida Sem ter dito o adeus Estes sonhos eram os meus Estas lembranças da vida

III Com dificuldades se vivia Nós soubemos enfrentar Sem nunca desanimar Era assim o dia a dia A tristeza e a alegria São momentos recordados Passamos maus bocados Nunca serão esquecidos Sempre tivemos unidos Quarenta anos passados

II Em Alcácer embarcamos No comboio da madrugada Chegamos à minha morada Foi quando nós descansamos Assim nós começamos Um para o outro a viver Ao fim de um ano veio a nascer O nosso filho o desejado No dia do baptizado Parece que estou a ver

IV No mesmo dia se festeja Doze de Março de calendário Do filho o aniversário Este dia se deseja É bom que assim seja Nunca se deve perder É chama para aquecer Que nunca se vai apagar O tempo é que faz mudar Eu nunca vou esquecer

Miraldino Carvalho


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Cantinho do Escritor

Quando o meu toque suave chorou

O vento I Perguntei um dia ao vento De que lado ele estava Ele apontou para a árvore Para ver como abanava II Perguntei ainda ao vento A força com que soprava Obtive como resposta Algo que me encalhava III A sua batida foi forte De nada não esperava Agarrei-me ao que pude Jurei que não perguntava IV Nunca desafies o vento Não te ponhas a brincar Muitas vezes ele é fero E consegue-nos assustar V Não peças nada ao vento Sabemos do que ele é capaz Tenta sempre te proteger Ele não sabe o que faz VI O vento nunca se vê Nunca se sabe o que faz Leva tudo pela frente E deixa o rasto para traz António Marques

O Verão tinha acabado… A folhagem das árvores não podia ser tocada com o prazer pretendido das tuas mãos. O ciclo da vida começara e com ele uma lágrima despontou da tua porta enfraquecida, para um desamparo lúgubre do acontecimento vivido… Sempre absorto, nos afazeres de uma vida complexa, deixavas-te envolver no silêncio eloquente de uma floresta sem forças mas resignado às suas tendências… A tua “escapadela”, deixara de ter sentido, mas era sempre apreciada nessa planície de relíquias onde se vincaram audazes sentimentos… Tentaras desviar os olhares penetrantes, embora a tua oriunda personalidade ficasse presa, no silêncio do grito ousado de um arvoredo irrequieto no seu comentário… Não esquecias o manjar dos sonhos e sempre no teu jeito, desarticulado, procuravas aquela saída, banhada pelo teu azul sobressaído do infinito e um ouvido de mar que espraiando seus braços, brindavam a este acolhimento… António Bicho

Corações de pedra Os seres humanos constroem hoje altos muros Para uns dos outros sem amor se dividirem Utilizando seus corações de pedra... “duros“ Para não se verem não falarem nem se ouvirem. Perderam o sentido da amizade Ofendem-se uns aos outros sem razão E depois nunca lhes nasce a vontade De se unirem em reconciliação!... Os dias belos deste tempo em que vivemos São frustrações pois vivê-los não sabemos Só construímos entre nós separação!... E cada dia está mais presente este drama O ser humano hoje odeia mais do que ama Petrificando lentamente o coração!... Euclides Cavaco


Vida Associativa

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Amora em festa Amora

Flui Agosto em Amora Os barcos remam no rio Mil Foguetes, sem demora Que nos causam arrepio

Nunca antes como agora Poesia tinha escutado Foi na Freguesia de Amora Onde também se canta o fado

Festividades Amora Na tua frente ribeirinha Bem o povo comemora Vinho com pão e sardinha Das tendas aos carrocéis Sardinhas e choco frito Com preços acessíveis Deixa povo divertido Gastronomia? Guloseima! Satisfazem amoados Ele aposta, ela ateima Por um, dois ou três couratos Amora se manifesta Promovendo a cultura E faz dela uma festa Com a banda de postura A Princesa e o Infante Pernoitavam em Amora Seu sossego de garante Até o romper d’aurora Pinhal Dias (Lahnip) PT (In: “Escreve enquanto vive”)

Andam os dois lado a lado Sempre assim ouvi dizer Quem gosta de ouvir fado Acaba por o escrever L. N.

O fado já é velhinho E a canção do povo Trinado ou choradinho Cantado será sempre novo Os poetas a escrever Os fadistas a cantar Onde dá gosto viver Na cidade à beira mar As raízes me chamaram Havia uma explicação Fado e poesia andaram Sempre no meu coração Só compreendo agora Seixal que beleza tem Na freguesia de Amora Onde nasceu minha mãe Berta Rodrigues


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Vida Associativa

A nossa Associação nas Festas da Amora tos outros cedidos pelos seus autores, que fazem parte da nossa camada associativa. Tivemos a honra de receber, no nosso espaço, a visita do Sr. Manuel Araújo, Presidente da Junta de Freguesia de Amora, a Srª. D. Helena Quinta, Secretária da mesma Junta, o Sr. Joaquim Santos, Presidente da Câmara Municipal do Seixal, além de outras ilustres individualidades, autarcas e dirigentes associativos. As festas decorreram num ambiente alegre e saudável convívio e, uma vez mais (nunca é demais realçar), o Executivo da Junta de Freguesia de Amora está de parabéns, pelo boa organização do evento.

Pelo 13.º ano consecutivo, em que a nossa Associação esteve presente nas festas da cidade de Amora, na zona ribeirinha, com um programa cultural vasto e milhares de pessoas a encherem, todos os dias, a área onde decorreram os festejos. O “Mensageiro da Poesia – Associação Cultural Poética” participou nas festas com um stand gentilmente cedido pelo executivo da Junta de Freguesia da Cidade de Amora, com exposição e venda de livros de poesia e outros, pertencentes à nossa Associação e mui-


Os Nossos Poetas

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O mar me acalma Fui p’ro alto dum rochedo Para o mar observar, Mas fiquei cheia de medo Que ele fosse desabar

A provincia alentejana

O mar muito me acalma Nos meus dias de amargura Sinto paz na minha alma Acordar da noite escura

Toda a província Alentejana É terra de grande produção Esta província não engana Produtores de boa intenção I Produz óleo e bom azeite Tem os campos de girassol Produz arroz em terra mole Tem boa produção de leite Não falta quem aproveite Uma terra calma e humana Para passear de caravana Ou ir para lá morar e viver Dá muita alegria e prazer Toda a província alentejana

III Tem rebanhos e manadas Produz carne do seu gado Produz queijo bem afamado Das suas ovelhas lá criadas Em pastagens bem regadas Com a água do rio guadiana Naquela dimensão plana Produz amêndoas de valor Dá boa riqueza ao produtor Esta província não engana

II Tem os seus grandes olivais Fás das uvas um bom vinho Vai andando esse caminho Com bons campos de vinhais Cria os rebanhos de animais Na antiga terra de bom pão Também cria o bom melão Hoje os campos são regados Tem água por vários lados É terra de grande produção

IV Tem bom peixe no seu mar E produz peixe num viveiro Milfontes tem um canteiro Vê-se lá muito peixe a criar E os pescadores vão pescar Seja de inverno ou de verão Pescam de tróia ao brejão Na grande costa vicentina Em todo o lado têm a mina Produtores de boa intenção

Manuel Martins Nobre

É como um tranquilizante Quando estou junto ao mar Tudo o que era desgastante Ali se vai afundar Parece que tanta mágoa Que tenho dentro do peito Desaparece na água Só ficando amor perfeito Dá-me grande inspiração Ouvir as ondas bater É de grande reflexão P’ros poemas escrever À beira do mar sentada Fico de boa vontade Faça sol ou trovoada Calmaria ou tempestade Maria João Cristino Lopes


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Meu Neto

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Mensageiro da Poesia - 13

Os Nossos Poetas

Meu neto ver-te nascer Foi para mim uma emoção Faço tudo por viver Pra sentir teu coração Cada dia cada hora Vejo em ti esperança Pensar em ir embora Levar-te na lembrança Criança feliz e forte Te vejo jogar a bola Para ti muita sorte E futuro na escola Agora pra terminar Quero em ti união Para sempre te amar Minha eterna oração José Frias

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Os netos são tesouros no coração Os Avós são seres Humanos maravilhosos São tolerantes, pacientes com os seus netinhos Tudo o que eles fazem e dizem os deixam orgulhosos E, a melhor recompensa são os seus doces beijinhos.

É bom ser avó Eu cheguei meus avozinhos Vim para lhes dar alegrias E vós a mim muitos beijinhos Se possível todos os dias. Chegou a minha netinha Tanta alegria a todos nos deu É a coisa mais fofinha Vem com a bênção de Deus. Minha querida, meu Amor Não há palavras para mais dizer Vou dar-te sempre o meu Amor Sempre que possa ser. Essa carinha tão fofinha Que de noite sonho com ela Sonho com a minha netinha Que é a coisa mais bela. Como é bom sermos filhinhos Também é bom sermos pais E termos de todos muitos carinhos Mas sermos avós é muito mais. Emídia Salvador

Os Avós São os melhores conselheiros do Mundo A própria vida foi o melhor ensinamento em sabedoria Uma má palavra dita por um filho, neto é desgosto profundo Mas, valorizam toda atenção e carinhos com alegria. Os Avós são Pais a dobrar com o coração Ajudam os filhos como podem na educação E colocam toda a disponibilidade sem contrariar. Os Avós sentem pelos netos uma grande cumplicidade Perdoam traquinices, birras e mau feitio com serenidade Adoram ensinar que brincar é sinónimo de viver e Amar. Os Netos são tesouros no coração! Ana Santos

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Vida Associativa

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Homenagem a Arménio Correia

Violência e terror com que um famigerado cancro se apossou da vida de um dos nossos mais vivos obreiros dos bastidores deste Mensageiro da Poesia. Testemunhámos também o que foi a sua intensa luta, na sua altivez, coragem, abnegação, e até ironia com que o enfrentou e como se bateu guerreiramente até ao fim, sem nunca mostrar intenção de vencido… Sobretudo para todos aqueles que às vezes por tão pouco estamos prestes a deixar ir a toalha ao chão. Foi um grande exemplo de valentia e coragem, o nosso amigo Arménio Correia. Por tudo isso os órgãos sociais do Mensageiro lhe queriam fazer uma homenagem ainda em vida. Ele rejeitava essa hipótese, mas quando em abril p.p. soubemos do seu estado tão frágil, apontámos que até contra o seu desejo, faríamos no dia 16 de junho uma “festa surpresa” e o lá levaríamos. Fintou-nos o maroto e não quis esperar, ou a “fera maligna” com que se batia se tornou cada vez mais feroz e o levou de vencida no dia. Não sabemos nunca porque isto acontece, sobretudo quando é arrancada a vida, desta forma tão violenta, a pessoas que tanto a valorizam, tanta utilidade lhe dão e tão bem a empregam no seu serviço e aos outros…


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Decidimos por isso manter a festa. Sim festa porque Arménio Correia quereria que nos reuníssemos a propósito dele mas numa festa e foi assim que aconteceu no dia para que estava apontada, 16 de junho, mesmo sem a sua presença, no Centro Cultural e Recreativo da Cruz de Pau. Cerca de 60 pessoas corresponderam à chamada, alguns poetas do Mensageiro dedicaram-lhe poemas, outros evocaram-no lendo poemas do seu livro. Em sua homenagem vários fadistas e jovens da classe Talentos Sem Fronteiras, ergueram a voz aclamaram o fado, a canção e a Poesia, afirmando que “Os poetas não morrem”. Os poetas não morrem porque a sua poesia imortaliza-os. Os que cá ficam, mais jovens e das gerações vindouras, vão repetir e reescrever os seus versos, as rimas e as frases. Fazendo perdurar no tempo a memória dos poetas e o modo como compuseram a magia das palavras. Soubemos também que Arménio Correia tinha o grande desejo de conseguir editar um livro próprio e não o teria apenas feito por falta de oportunidade económica. A quem aliás era reconhecida abundante qualidade e quantidade na criação poética, merecedora de ser editada em livro e a qual pode ser feita por esta associação a quem o autor tanto se dedicou. Foi por isso decidido apelar aos sócios e às autarquias para comparticiparem com o que lhes seja possível, a fim de se editar o merecido livro de Arménio Correia. Nesta mesma tertúlia se fez uma recolha de fundos que está em posse da tesoureira da associação e cuja lista se publica neste boletim, com os nomes e valor dos contribuintes e dos que manifestaram vontade de o fazer. Está a coleta ainda em aberto para os que tomando conhecimento apenas por esta via ainda o possam fazer, bem como foi enviado ofício às autarquias para solicitar apoio para o mesmo fim. Foram já pedidos orçamentos para a impressão e edição, estamos em condições de poder já divulgar que o lançamento do livro de Arménio Correia está previsto para o dia 20 de outubro, no 21º Aniversário do Mensageiro da Poesia.

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Mensageiro da Poesia - 15

Vida Associativa

“Grandes coisas não se fazem por impulso, mas pela junção de uma série de pequenas coisas” Van Gogh Jorge Henriques Santos Agosto 2019


Os Nossos Poetas

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Amor oculto

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Alentejana

Não é fácil de decifrar Este poema cheio de calor Será que alguém vai adivinhar Que me referia ao Amor?

Chamaste-me Alentejana Julgando que me ofendias Tudo bem é uma pena Pensares que me agredias É pura demagogia Essa de querer ofender Pois é com muita alegria Que Alentejana digo ser Sou patriota sem igual Amo o meu Alentejo Pois não perco o ensejo De te dizer com certeza O que a minha alma emana Eu sou uma Portuguesa, Mas muito, muito, Alentejana!...

Domingos Pereira

Bia do Táxi

Sabeis quem sois? Sabeis quem te adora? Sabeis o que vem depois? Sabeis o que o mundo chora? Não é fácil saber tanto No pouco espaço, que a vida nos dá Não é fácil, é um desencanto O que não sabemos se há!

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Eu sou

Amor, por ti vou além do infinito Sobre o negro pano da noite, traço o teu rosto Dou vida ao teu misterioso olhar A tua voz é um murmúrio, no silêncio do meu despertar Amor, por ti vou além do Infinito As palavras, os sons, as imagens se confundem Os sentimentos, as lembranças, O calor de um abraço, uma lágrima que cai, O vento tudo quer afastar Amor, por ti vou além do infinito, uma visão Num impulso, numa sede insaciável, relaxo no teu leito O teu corpo coberto de pétalas de flor, Desperta os sentidos do amor. Por entre os dedos, deixo as pétalas deslizar. Numa suave carícia, rasgo um sonho, Uma fantasia, o teu mundo por desvendar Amor, por ti vou além do infinito Na penumbra do teu misterioso olhar, Descobri a magia, que existe no infinito da minha fantasia.

Eu sou a lágrima Que corre em teu rosto Toda a vez que sintas Tristeza ou desgosto Eu sou o sorriso Que vem a teus lábios Quando sintas carinho Eu sou teu suspiro De paz e de calma Sou a tua sombra Sou o teu caminho Acordo contigo Nas madrugadas de verão Estou nos teus olhos Ao entardecer Sinto o pulsar do teu coração Sofro contigo Se estiveres a sofrer Eu sou aquilo Que Deus me quis dar Coração aberto Para quem precisar.

Fanny - Lisboa

Ivone Mendes

Amor por ti vou além do infinito


Julho/Agosto/Setembro 2019

Ai que saudades… sinto Ai que saudades Eu tenho do meu cantinho E da filha do vizinho Com que eu brincava ás vezes Há tantos meses Que um dia eu abalei Ai que saudades Da bela terra que um dia Eu deixei sem alegria Para ter uma vida melhor Deixei-a cheio de dor Sem saber se voltarei Ai que saudades Daqueles serões à lareira Dos bailes da brincadeira À porta de nossa casa Da carne assada na brasa Quando o porco se matava Ai que saudades Dos tempos que atrás deixei E agora aqui recordei Por deles ter saudade Podem crer que é verdade Que isto assim se passava. Chico Bento

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A noiva do sonho Um corpo gasoso move-se Em lentas correntes de ar Num brilho branco, luminoso Como o espelho do luar. A solidão abre as mãos… É uma silhueta vitoriana O corpo de seda envelhecido Num véu de tule e tristeza. É a sempre –noiva que espera, No nevoeiro de crepúsculos tristonhos A chegada do Noivo dos seus sonhos. Lurdes de Jesus Emídio

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Mensageiro da Poesia - 17

Os Nossos Poetas

E era meio-dia! Tantans de luz e sombras, Brincavam na minha janela Como se fosse batuque Alguns em África distante! Tantans! O jogo de luz e sombra Dançavam alegremente Espreitando na janela Fui ver o que assim batia Era o pinheiro alto e imponente Que brincava com a ramada Com o sol e com o vento E era meio-dia Tantans de luz e sombra Brincavam na minha janela! Foi um momento tão curto Rápido como o pensamento, Mas tão grande como é a poesia Ou quando cheiramos um fruto Tantans de luz e sombra Brincavam na minha janela Trouxeram das distâncias do tempo Mares, desertos, Indias, Àfricas Cheiros e brilhos misturados no vento Nos tantans de luz e sombra E na dança do pinheiro A passarada cantava de poleiro Com cheiros de longe, tão longe Entrei num pequeno instante, Conheci o mundo inteiro! Imaginei em batuques Com tantans de alegria Não quis pensar em tristeza Onde houvesse, pararia! Era um momento supremo, único E era meio-dia! E os tantans de luz e sombra na minha janela batia… Helena Moleiro


Os Nossos Poetas

18 - Mensageiro da Poesia

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Julho/Agosto/Setembro 2019

Alguém jamais se vai esconder! A geração passa, a Terra aguenta-se, o Legislador reforma-se, E depois nos livros da estória, enquanto os houver, consta isso tudo…… e não… nada diz sobre o POVO que passa pela HISTÓRIA, com a mistificação religiosa: de que pobres sempre há- de haver. Era o que faltava! Ninguém, mais... irá prender. Podem crer! Não há volta a dar. E o anti-semitismo se vai completamente, derrotar! irão ver. José Jacinto “Django”

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Amizade “Amizade é um laço que se cria” Disse hoje minha prima Bina Rianço Ela nos impregna de paz e alegria E conduz nosso futuro com avanço. Com pureza de açucena dá descanso Vivemos bons momentos de magia Os amigos fazem da Vida um local manso Para viver a jorros a alegria. E se disse isto com pura emoção Não é para fazer chorar a Josué Romão Mas para lhe afirmar que o mundo é belo. Por ter muitas amigas sou feliz Meu status quo tem esse cariz Da vida a amizade é o próprio selo. Amizade 1º verso citando Bina Rianço Maria Vitória Afonso

O Poeta Oui Madame Esta vida de poeta Sabe-se que é…! Um dos atributos… mais bonitos Que Deus concedeu ao ser humano E, por isso, não me engano De dizer, que o prazer E a forma como se liberta Dos momentos de amargura A revolta criada em si! É… com modos de ternura E por ser método eficaz O poeta ainda é capaz De fazer um poema Por tudo o que ama Mas, como é pacífico De coração e físico Em si habita Os horrores da fome, miséria e da guerra Medita ao céu… e beija a terra Para atravessar o deserto do mundo; E enfrentar o terror da morte Com fé e sem medo Pede…! Aos raios luminosos do sol Para libertar os filhos da má sorte E, sem rumor, nem rancor Dá asas ao seu ego…! E vai até… À mais longínqua galáxia do cosmos E como é tão grande… tão grande Aquele banho de liberdade Que o poeta é… Privilegiado Desse dom abençoado. Oui Madame, c’est lui Le poéte… Luís F. N. Fernandes


Julho/Agosto/Setembro 2019

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Mensageiro da Poesia - 19

Os Nossos Poetas

Selfie – Selfish

(Auto - Retrato / Egoísta) Me pediu pessoa amada Que eu escrevesse um poema Versejando sobre um tema De cariz social. Mas que maçada! Não encontro mesmo nada Que não seja banal. Lembrei-me de selfie! Mas que raio de palavra Que ela não se destrava Nem uma rima se lavra Com tal roseira brava. Associei com selfish Palavra bem mais fixe. Que rima com egoísmo Quadra com narcisismo Talvez egocentrismo Quiçá cabotinismo! E cismo! Que achada a rima Mais abaixo, mais acima Uma selfie vou tirar Com qualquer uma que’ encontrar. Basta só me em - quadrar. E tirei! Tirei comigo! Tirei contigo! Com amigo… Com inimigo Com a vizinha do lado Com peixeira no mercado. E na minha lista Tenho até futebolista E bem afamado artista Até canário… com alpista! Não há quem me resista.

Ao meu apelo, ao meu pedido Nada me é indeferido. E é tal a premência Que… Só com Sua Excelência O Senhor Presidente E por mais que eu tente Ainda não consegui Tirar uma selfie! Francisco Carita Mata

Margem sul fadista Esta margem fadista ao sul do tejo Há muito que o fado enalteceu Esta canção bizarra, meu desejo Um fado popular que é meu Almada onde o fado é tradição Cantado nesta margem bem ao sul Outrora no retiro do Zé Pancão E hoje no retiro do Trapo Azul Doutor Luís Gonçalves na guitarra E outros guitarristas que dão brado São eles nesta arte tão bizarra A alma e o valor do nosso fado Saraiva, Manuel Carlos, César Pinto Cardoso, Emanuel e Bernardino Com eles aprendi e hoje sinto Que o fado afinal é meu destino Fadistas do passado e do presente De todos eu me posso orgulhar No fado que é a honra de quem sente A força de viver para cantar José Camacho


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20 - Mensageiro da Poesia

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Próximos temas: S. Martinho, cia, Dia da Independên Natal, Temas Livres

Julho/Agosto/Setembro 2019

Como é linda a Primavera Que linda é a Primavera Com seus campos a florir Os passarinhos no tempo dela Estão a cantar e sorrir Os passarinhos no campo E o cheiro das florinhas Para mim é um encanto Digo que são minhas vizinhas Eu habito mesmo no campo Tão lindo que é florido Tenho flores em todo o canto Nada aqui é proibido Ponho-me parada a olhar O que a Primavera n os trás Só que o Outono ao chegar Tudo o que é belo leva atrás

Pombinha da paz Vi uma pombinha voando Não querendo voltar atrás Passou por mim, foi cantando Disse-me adeus até quando O mundo estiver em Paz. Voava devagarinho No céu com um sol brilhante Iria fazer seu ninho Para criar seu filhinho Talvez, num país distante. Pois essa pomba branquinha Veio encher meu coração. Foi embora, fiquei sozinha Fiquei sim, mais pobrezinha, Mas deu-me inspiração. A pombinha me deixou Foi o destino que quis, Mas Deus não me abandonou Ele sempre, me amparou Hoje estou com Deus e feliz. Maria Laurinda Pacheco

Enquanto ela cá está Tenho tudo florido Olho para a frente e vejo já Também a crescer o trigo Tenho aqui no meu quintal Muitas flores engraçadas As trepadeiras não tinha visto igual Como ficam enleadas Tenho roseiras, helenas, jarros, malmequeres Sogras, noras, margaridas, chagas de Cristo Catarinas, Bom Dias, Amor de Mulheres Violetas, cravos, estrelas Trevo só visto Glandilos, camélias, afectos, alecrim Malvariscos, Boas Noites, Princesas Tenho muitas mais olhando para mim Tenho aqui uma riqueza São bonitas de natureza Elas a ninguém fazem mal Para mim são uma beleza E o seu perfume natural Isto aqui é uma alegria De manhã ao levantar Eu vou-lhe dar o bom-dia E elas a mim me saudar Maria Catarina da Silva


Julho/Agosto/Setembro 2019

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Mensageiro da Poesia - 21

Os Nossos Poetas

A luta é uma incerteza

Minhas mãos

/// Já estendi a minha mão P'ra segurar um amigo Já fiz do meu coração Um pedacinho de abrigo // E sou uma mão aberta P'ra quem dela precisar Quem sabe na hora certa Minha mão vens agarrar // Imagina a minha mão A afagar o teu rosto Será a consolação Na hora do teu desgosto // Se na palma da minha mão Está o destino marcado E quem sabe a salvação D'um tormento já passado // São duas as minhas mãos Abertas à realidade Unidas elas serão A eterna felicidade // Mas não, que não entenderia Espero que seja verdade Eu estender algum dia Minha mão à caridade. /// Maria de Lurdes Brás

Neste espaço de terreno que existe, Olho o céu e não resisto a perguntar timidamente: - Quem sou eu? Ocupante físico de um espaço limitado, Ou passageiro em trânsito para o outro lado? O que sou? Quem me espera? Perde-se no éter o som da minha voz, O silêncio e eu, estamos sós, Silêncio, silêncio, não quero mais saber quem sou Ou, no depois, para onde vou, Sei que existo, tudo tenho e nada é meu, E luto para não deixar de ser eu. José Almeida

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Vem cantar à beira rio Ouvi uma rola cantar Talvez seja bela e pura Não sei qual o seu lugar, Mas vou à sua procura. Talvez ela tenha fome E eu tenho boa comida Se essa rola se consome Que será da minha vida. Ela poderá ter sede E eu tenho água p’ra lhe dar Não queiras viver na rede Junta-te a mim, vem cantar. Vamos p’rá beira rio Onde há frescura e pureza Dou-te alimento sadio Que é filho da natureza. Dolores Guerreiro Costa

Sempre no meu coração Oh! Doce fermente Ser alegre estar contente Viver a vida sorrindo Sinto amor em meu redor Ternura, carinho, amor Quero viver estar contigo Perto ou longe, o pensamento Não me deixa um só momento Com que ansiedade espero Longos minutos, eu quero Contigo estar toda a vida Toda a vida para amar E conseguir conjugar Tudo o que meu peito sente Quero, pois, estar presente E dizer-te finalmente Que te quero com ternura Com carinho e devoção Sempre no meu coração. Laura Santos


Os Nossos Poetas

22 - Mensageiro da Poesia

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A onda A onda bateu na rocha… Despertou… Um clarão intenso e espuma!... Tão depressa como se esfuma… No manto de segundos que cantou!...

Mensageiro da Poesia Mensageiro da Poesia Em AMORA, nesta cidade Festeja-se com alegria Vinte e um anos de idade Nasceu em liberdade O Mensageiro está feliz, Por festejar mais um dia, Parabéns ao Senhor LUÍS, Com sua vontade quis Divulgar a poesia!

Rolaram felizes na areia… Que criou… Sonhos de segundos… Gloriosos!... Não pediu mais! Sé esses luminosos!... Desencantam… A morte que abafou!... E tu?... Amor de instantes! Quem te mandou?... Despertar os carinhos… Que alguém levou… Nas asas de um corvo… Em noites perdidas!... São teus!... Doce mensageiro!... Guarda-os bem!... Porque nem sempre… Despertam para alguém!... Suspiros encantados!... Meu amor… Querido!!... Emilia Mezia

A poesia é cultura, O poeta escreve e sente Assim, em qualquer altura, Sentida com alma pura, Escreve pra toda a gente!

“Mar Português“

No símbolo da sua bandeira, Uma pombinha leva e traz, Um raminho D’oliveira Ela é a mensageira Entre a guerra e a Paz!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram!

Ao poeta do passado Deixaram recordações, O Mensageiro está ligado Entre a poesia e o fado, Para as novas gerações! No espaço concedido, Mesmo em frente à baia, Estes momentos são vividos, Os poetas não são esquecidos, Na JUNTA DA FREGUESIA! Lúcia de Carvalho

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Oh Mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal!

Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, oh Mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu Mas é nele que espelhou o céu. Mensagem de Fernando pessoa, 1934. Elmano Amaral


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A minha estrela De tanto admirar as estrelas… Me fixei na mais brilhante. Entre todas… das mais belas, Uma… iluminou meu semblante. Em noite de lua nova… Num crescente de emoção. Do céu, ouvi uma trova… Que encheu… meu coração. Como se o meu pernoite… Entra as estrelas e a lua… Na penumbra da noite… Voltasse amor… a ser tua. Tanto amor… tanta paz ficou, Em meu peito delirante. Depois da voz, que me cantou, Neste sonho… apaixonante. Entra o sol pela janela… A estrela já não ilumina. Vou lembrar sempre dela… Com a voz que me domina. Maria de Jesus Procópio

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Grandiosa é a noite Grandiosa é a noite grandiosa é a Vida grandioso é o Sol grandioso é o Universo. Também a ignorância e grandiosa em todas as suas formas de combate ao Novo e ao Progresso. Grandiosa será a organização que levará de vencida toda esta escalada que nos conduzirá à sociedade desejada a Sociedade Socialista Manuel Sapateiro

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Mensageiro da Poesia - 23

Os Nossos Poetas O refúgio O tempo, esse refúgio de água Em que te espero. Do teu amor que não fujo, Há pântanos onde os animais Em profundo desespero, Procuram matar a sede. Eu neles me revejo. Eu não te espero mais Porque tu desapareceste E não vais voltar. De mim te esqueceste, Mas eu vou voltar a viver, Sem de ti mais saber, Nem te poder mais amar. E minha voz grita ao relento Enquanto caminho, Através da imobilidade, No refúgio de uma gruta Onde fiz o meu ninho. Nele vivo para a eternidade, Tremendo de frio…sozinho. Adelaide Palmela


Os Nossos Poetas

24 - Mensageiro da Poesia

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Emigrante

Saber viver

Partiste um dia meu amigo Deixando a tua terra natal E a saudade ficou contigo Desde que saíste de Portugal…

Não digas o que não pensas, Ou pensa, bem o que vais dizer Por vezes são duplas sentenças Vais ser julgado sem saber!

Dias e noites se seguiram De desespero, solidão e dor Padeceres te desiludiram Mas lutas na vida, com ardor

Por isso toma muito cuidado, Não digas o que não viste Vê bem, vale mais ficar calado De que teres uma hora triste!

Muitas as lágrimas choradas Pelos sonhos criados em vão Assim com forças alquebradas Vais enganando a tua solidão

Quando te derem novidades Ouve, escuta com atenção, Claro,não podem ser verdades E tu ficas assim na confusão!

E aí, nesse país tão distante Terás um amigo doravante Que te encoraje, pois Deus quis Fazer de ti mais um emigrante.

Hoje neste mundo de maldade, Ver, ouvir. Calar… saber viver Nem tudo o que se diz é verdade Só co’o real te faz convencer!

Rosélia M G Martins

Preciosa M. Gamito

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Somos todos ”Pó“ de estrelas Somos todos “Pó” de estrelas A colorir um Mundo belo e sofrido O Homem precisa de uma estrela mais bela A brilhar num bailar cintilante e colorido. O Pó de estrela vermelho, brilha com o coração O Pó de estrela azul céu, brilha com o Luar O Pó de estrela dourado, brilha com a emoção O Pó de estrela multicolor, brilha com o “ caminhar “. A Humanidade precisa urgentemente de Paz Acreditar que o Homem é inteligente e capaz Que as estrelas do universo possam de novo brilhar. Como somos Pó de estrelas, temos de acreditar na mudança Brilhar com a magia e o sonho, pela mão de uma criança A cintilar com Amor, que faz o Homem sonhar, lutar e AMAR. Ana Ferreira

Sábios e pensadores Têm proclamado a mil vozes, Ser a vida sem amores Como a nogueira sem nozes, Ou como o jardim sem flores. Não sei de que serve a força, Que ao homem Deus concedeu; Uma só vez, quis lutar E uma mulher me venceu! Das tarefas desta vida, Uma das tristes é o fado, É amar muito sem medida, Ser bom e, não ser amado! Dizem todos que o amor, É na vida grande prazer Será? Seja lá como for Amo-te, sofro a bom sofrer! Dolores Carvalho


Julho/Agosto/Setembro 2019

O que é a amizade

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Amiúde, a palavra amizade É dita Ou escrita Em vão, Estando em contradição Com a realidade. Amizade Implica sinceridade, Lealdade, Ter vontade De servir, De dar a mão a alguém Da nossa intimidade, Quando este tem Necessidade, Mesmo sem nada ele nos pedir. Aquele que é teu amigo não se zanga, Pela mais pequenina bugiganga. Quanto muito, amua. Mas esse mal-estar, A pouco e pouco, se atenua E não tarda a abalar. Desconfia de todo aquele que te aplaude e apoia, Quando erras ou fazes tramoia. Ele é amigo fingido E está a querer De ti tirar partido! Amigo é aquele que se aflige, Quando o seu amigo vê sofrer, Que o corrige, Não com a intenção de o censurar, Mas no intuito apenas de o ajudar. E este, com boa maneira, Transige, Reconhece, E, com humildade, Agradece. Isto, sim, é amizade, Amizade verdadeira! Hermilo Grave

Mensageiro da Poesia - 25

Os Nossos Poetas

A verdadeira amizade A amizade fugaz, Que não perdura, Célere se desfaz, Por não ser pura. A verdadeira amizade É forte, permanente, E faz frente À maior tempestade E tudo afronta. Não faz fita, Não se irrita, Por coisa de pouca monta. Quanto muito, só amua. Mas, em tempo reduzido, Já tudo está esquecido. E a amizade continua! Armanda Rosa

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Um dia de cada vez Enfeito o meu pensamento Com jardins de primaveras Que ficaram para trás, Em outro tempo Num passado de quimeras. Passaram também Invernos De tempestades e escuridão, Que deixaram suspiros eternos E cicatrizes no coração. Houve Verões de alguma calmaria, Ternos entardecer de Outono Alguns momentos de abandono Breves passagens de alegria. E porque a vida é tão breve, É quase tudo um talvez Vive-se apenas o momento, E um dia de cada vez. Manuela Lourenço


Poeta em Destaque

Um breve olhar sobre a vida e obra de

Roberto das Neves

26 - Mensageiro da Poesia

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Roberto das Neves nasceu em 7 de Setembro de 1907, em Pedrógão Grande, Distrito de Leiria, Portugal. Os seus pais tinham algumas posses, daí que os primeiros anos da sua vida foram vividos em Pedrógão Grande. Neste período da sua infância frequenta a escola primária na sua terra natal. A influência religiosa embora perdurasse com pouca ênfase nas escolas primárias no tempo da 1ª república, no seio da família de Roberto das Neves, a influência da mãe e da avó materna tornaram-se relevantes. Com nove anos Roberto das Neves aprendeu a suportar os castigos da civilização judaico-cristã, mas, por outro lado, aprendeu também a rebelar-se contra as perversões do catolicismo na sua vida quotidiana. Diga-se, em abono da verdade, que essa postura comportamental leva-o a assumir uma posição militante ateísta, sobretudo quando passa a frequentar o liceu de Coimbra após ter atingido quatorze anos. Participações: criação da União Anarquista Portuguesa, em 18 de Março de 1923, em Alenquer, quando tinha quinze anos, cinco meses e

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onze dias. Embora tivesse participado individualmente neste evento, tudo leva a crer que fazia parte do Grupo Libertário “Os Rebeldes” e mais tarde do Grupo Libertário “Os Rebelões”. A sua militância na cidade Coimbra desenvolve-se quando ainda era aluno do 6º ano do liceu, razão pela qual com quinze anos ajudasse a criar e a liderar o grupo estudantil “A Labareda”). Quando faltava cinco dias para fazer dezasseis anos, com o pseudónimo de Pedro das Neves publica um artigo extremamente radical subordinado aos Monumentos aos Mortos da Guerra. É sem dúvida, um manifesto contra a guerra, os exércitos, as bandeiras e as pátrias. Para Roberto das Neves qualquer um destes factores não tinha razão de ser ou de existir. Com A sua visão materialista e ateísta crítica faz com que se aproxime das ideias e práticas do anarquismo, daí que com a idade de quinze anos, dez meses e vinte e nove dias tenha começado a escrever poemas no jornal A Comuna, Semanário Comunista Anarquista. Neste primeiro texto já se denota-se uma postura crítica radical aos pressupostos da religião católica apostólica roma-


Julho/Agosto/Setembro 2019

na, mas também às manifestações perversas do capitalismo nas sociedades de antanho. Por razões que têm que ver com a sua permanência em Coimbra, Roberto das Neves transforma-se num colaborador assíduo do jornal A Comuna. A república implantada em 5 de Outubro de 1910 tinha sido um acontecimento histórico extraordinariamente importante para as aspirações emancipalistas dos trabalhadores portugueses, na medida em que a queda da monarquia e da influência da Igreja Católica Apostólica Romana, potenciavam a probabilidade da realização de um conjunto de reformas do capitalismo no quadro da democracia representativa burguesa. Esta esperança depressa foi desfeita, tanto pelas modalidades alternadas de governo dos republicanos e democratas, como pela prisão e morte de grevistas que lutavam por melhores condições de vida social, económica, política e cultural. Quando em 1924, Roberto das Neves tinha dezasseis anos, seis meses e trinta dias, através dos seus poemas, afirma-se publicamente com anarquista. A solução dos problemas sociais só poderiam ser resolvidos por essa via, e não através dos processos clássicos da burguesia e do Estado. Consequentemente, as formas de representação burguesa, estatal, religiosa ou partidária deveriam ser suprimidos. A revolução social anarquista deveria ser realizada pela força das armas. A insurreição seria o melhor método para alcançar a anarquia (1):

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Mensageiro da Poesia - 27

Poeta em Destaque

Partir Se Eu partisse hoje... Nada ficaria... Um nome que se perderia... Uma face que se esquecia... Se Eu partisse hoje... Nenhuma falta faria... Seria apenas... Vaga lembrança de um dia... Se Eu partisse hoje... Finalmente descansaria... Não mais choraria... E até as lembranças esqueceria Se Eu partisse hoje... Não veria mais o mar... Nem a sombra do teu olhar... E o silêncio esqueceria... E só Eu guardaria... Os sonhos... Os momentos de algum dia... E Tu deixavas de temer... Se me encontravas!... Algum dia... Se Eu partisse hoje... Seria momento de paz... E Alegria... E Tu!... O mar do teu olhar!... Por aí ficaria... Até que desta partida... Somente Eu te Levaria... No coração por mais um dia... MAGUI


Julho/Agosto/Setembro 2019 28 - Mensageiro da Poesia

“Herói plebeu nobre povo, Lião faminto e ululante, vai erguer o Mundo Novo com teu braço fecundante! pelo ceu, na imensidade vagueia, há séc’los, à solta a forte voz da Revolta, a chamar-te à Liberdade. A’s armas! às armas! Contra a cruel Burguesia! A’s armas! às armas! Pelo Amor e a Harmonia! Contra a Opressão! Pela Anarquia! Desfralda a nova bandeira sôbre a grande Pátria – a Terra. Do Universo – a Terra inteira – bane o Crime, o Roubo, a Guerra! E, ridente, o Sol jucundo sorrir-te-hà ó Produtor, que o teu braço vencedor levantou um Novo Mundo. A’s armas! às armas! Contra a cruel Burguesia! A’s armas! às armas! Pelo Amor e a Harmonia! Contra a Opressão! Pela Anarquia! Saudai o sol que desponta num rutilante clarão. Seja o eco duma afronta o sinal da Insurreição! Sirva de morte, de guia a Idea fulgente e bela. Vamos, de olhos fitos nela, à conquista da Anarquia! A’s armas! às armas! etc…” 1924-Fevereiro, 11 Roberto das Neves

e-mail: mensageiropoesia@gmail.com http://.facebook.com/mensageirodapoesia.com


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