Mensageiro da Poesia

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Mensageiro da Poesia - 1 Setembro/Outubro 2015

O nosso patrono Mensageiro da Poesia Associação Cultural Poética Bimestral - n.º 130 Setembro/Outubro 2015 Anuidade 20€

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Poeta do mês Arménio Correia

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Tertúlia Poética

de Homenagem a Sérgio Gomes


Nota de Abertura

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Ser Poeta é ser mais alto

Este verso de Florbela Espanca ilustra o lugar dos poetas na humanidade, digamos que, sem vaidade ou pretenciosismo, a visão do poeta é tendencialmente mais elevada. Acima dos outros e do seu tempo. Não porque se arrogue superior, mas porque a sua sensibilidade lhe permite sentir o que escapa à maioria, ou que vai para além da indiferença da maioria. São normalmente seres especiais, de uma especialidade que por vezes os torna introvertidos, isolados, ou simplesmente desalinhados. Mas transportam consigo um conjunto de valores que se consubstanciam numa só palavra POESIA. Porque POESIA é sentir e fazer transbordar sentimentos como a solidariedade, a fraternidade e

o amor. É jogar com as palavras no sentido aproximar os homens, esbater as desigualdades e respeitar as diferenças, nessa capacidade de “condensar o mundo num só grito”. Não pode por isso, nestas páginas de “Mensageiro da Poesia”, haver lugar para a vaidade, a inveja, ódio ou vingança. Pese o facto de como em todos os grupos, associações e colectivos humanos, estarmos sujeitos aos mesmos constrangimentos... jorge henriques santos jornalista

Nas Asas do Tempo, de Damásia Pestana

Tem lugar no próximo dia 7 de Novembro, o lançamento do livro de poesia e prosa, da nossa associada Damásia Pestana que dá por titulo “Nas Asas do Tempo”. O evento realiza-se a partir das 14h30m na Sociedade filarmónica Operária Amorense, pelo que são convidados todos os nossos associados.

Ficha Técnica: Tipo de publicação Bimestral - Propriedade: Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética Rua dos Vidreiros, Loja 5 Antigo Mercado de Amora - 2845-456 Amora - Portugal • E-mail: mensageiropoesia@gmail.com • Director: Jorge Henriques dos Santos • Director Adjunto: Luís Fernandes - Sócio Fundador • Colaboram nesta edição: Donzília Fernandes, Manuela Lourenço, Preciosa Gamito, Lurdes Emídio, Adelaide Palmela, Luís F. N. Fernandes, Manoel Beirão, Maria de Lurdes, Maria Pestana, Arménio Correia, Emília Mezia, Nelson Carvalho, Laura Santos, João Ferreira, Piedade Vaz, Maria Catarina Silva, Francisca São Bento, Telmo Montenegro, Lúcia Pereira, Lúcia de Jesus Pereira, Bia do Táxi, Armada Rosa, Chico Bento, Dolores Magalhães, Ana Santos, Manuel Sapateiro, Damásia Pestana, Manuel Sapateiro, Maria de Lurdes Brás, Hermilo Grave, Berta Rodrigues, António Bicho, Helena Moleiro, Margarida Moreira, Joana Mendes, José Manuel Jacinto e João Ricardo, Ana Catarina Mateus, Danny Fernandes Freitas, Noam Sambou, Maria Catarina Silva • Isenta de Registo na ERC ao abrigo do disposto no Decreto Regulamentar n.º 8/99 de 9/06, art.º 12.º, n.º 1 a) • Depósito Legal: 3240411/06 • Tiragem: 300 exemplares Paginação / Impressão / Acabamento: Tipografia Rápida de Setúbal, Lda. • Travessa Gaspar Agostinho, N.º 1 -2.º 2900-389 Setúbal Telef.: 265 539 690 Fax: 265 539 698 • e-mail: trapida@bpl.pt


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Parabéns a você! Mensageiro da Poesia congratula-se pela passagem de mais um aniversário dos sócios que abaixo se descrevem. Deseja-se, para os que já completaram mais uma primavera, que tenham passado um excelente dia e que venham muitos mais, mas sobretudo felizes. Para aqueles que estão prestes a concluir mais um ano de vida, que tenham um dia híper feliz, com muita saúde, paz e amor. Parabéns a todos!

Setembro 01-9-51 Maria José Portugal 04-9-36 Dolores Guerreiro da Costa 07-9-51 Maria Francisca Viegas São Bento 10-9-45 Domingos Manuel Fernandes Pereira 10-9-42 António Luís Marques 11-9-71 Maria de Lurdes Jesus E. Cardoso 12-9-65 Ana Cristina Videira 16-9-44 Teresa Gomes dos Santos Simões 16-9-46 Luís Filipe Fernandes 16-9-54 Maria de Lurdes Silva Brás

Outubro 20-10-88 Fábio Filipe Martins Oliveira 23-10-47 Maria Josefina Lemos Pinheiro 26-10-49 Otávia Alexandre Correia 27-10-19 Adelaide Rodrigues 28-10-56 Maria Estrela Pereira 30-10-45 Carlos Alberto Simões da Cruz

Convite

O XVII Aniversário da fundação do Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética, vai realizar-se pelas 15 horas na sala do R/c do Clube Recreativo da Cruz de Pau. Será animado com fado e poesia e haverá um lanche ajantarado. Para mais informações, ligue: 212 246 702 ou 938484 312.

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Vida Associativa

Destaques nesta edição: • Tetúlia do Dia dos Avós - Pág. 9 • Tertúlia do Dia de Bocage - Pág. 23 • Cantinho do Escritor - Pág. 13 • Entrevista com Lina Almeida - Pág. 11 • Lançamento do livro de Damásia Pestana - Pág. 2 • EROTISMUS com poemas de Margarida Moreira - Pág. 26

Próximas actividades Dia 25 de Outubro (Almoço de aniversário) – O Mensageiro da Poesia vai festejar o seu XVII aniversário no dia 25 de Outubro em local e hora a definir, até lá todos os associados serão contatados afim de, poderem participar neste nosso tão importante evento. Como vem sendo hábito haverá poesia, fado, e muita animação, contamos com vossa presença. Dia 29 de Novembro – É a data que temos prevista para o lançamento da nossa XIII Antologia Poética, este ano referenciando a Freguesia de Arrentela, em local e hora a definir, mas em que todos os associados serão atempadamente contatados. Informamos os nossos associados que a Tertúlia do mês de Outubro tem lugar no dia 25 deste mês com a celebração do 17º Aniversário do “Mensageiro da Poesia - Associação Poética” a qual decorrerá em hora e local a anunciar brevemente.


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Apoios: UNIÃO DAS FREGUESIAS DE SEIXAL, ARRENTELA E ALDEIA DE PAIO PIRES

CLUBE RECREATIVO DA CRUZ DE PAU

Terra eterna Estivemos, estamos e estaremos sempre junto Dela. E o seu olhar se ilumina quando nos vê, mesmo de longe. Ela não nos esqueceu, Ela não nos perdeu, Ela sempre nos tocou quando estendemos a mão. A sensação pode não se ter traduzida nos dedos apertados, o efeito foi sempre direto ao coração. Por isso continuámos sempre por geografias diferentes espalhando a sua originalidade. Hoje, Ela brilha mais quando se vê de perto, porque espalhámos um verniz de lágrima da nossa saudade, cá de longe. E Ela sabe disso. Por isso, às vezes sai e vem ter connosco Ao cair da tarde.. José Jacinto

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Concurso de Quadras Populares de Almada 2015 O Mensageiro da Poesia, A.C.P. participou no Concurso de Quadras Populares de Almada 2015, tendo sido premiado com a 1ª Menção Honrosa com a seguinte quadra. Para rimar eu usei Nestes versos São João. Cacilhas com Cristo-Rei, Almada revolução! Mensageiro da poesia Pseudónimo: Margarida

Crónica Literária de Maria Vitória Afonso sobre Miraldino Carvalho Foi com muita satisfação, e com uma pontinha da vaidade que o Mensageiro da Poesia A. C. P. leu no Diário do Sul na sua edição de 6 de julho de 2015, uma crónica literária de Maria Vitória Afonso, sobre o poeta popular Miraldino Carvalho, nosso associado, tal como Vitória Afonso poetisa de reconhecidos méritos, e também ela nossa associada. O Mensageiro da Poesia sente-se grato, por ter estes dois grandes poetas como seus associados, sempre disponíveis a colaborar nos nossos eventos, quer sejam tertúlias, concursos, ou simples convívios. Felicitamos os dois pelo trabalho desenvolvido em prol da poesia, e deixamos aqui o nosso muito obrigado.

Temas para o próximo Boletim:

• Poeta Manuel da Fonseca • São Martinho • Natal e Ano Novo • Declaração Universal dos Direitos Humanos


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Poeta do Mês

Arménio Lopes Fernandes Correia Arménio Lopes Fernandes Correia nasceu na Moita do Ribatejo, a 10-04-1943, onde fez a 4º classe e se tornou carpinteiro de profissão. O gosto pela escrita poética vem-lhe de muito novo, pois seu pai embora analfabeto fazia pequenas peças de teatro, as quais ele tinha como missão passar para o papel. Após cumprir o serviço militar, casou no Seixal e aqui se fixou ingressando na Siderurgia Nacional como carpinteiro. Aqui conheceu o poeta popular Passos Leitão, que nesta área muito o incentivou. Passos Leitão, na altura funcionário do Clube do Pessoal da Siderurgia Nacional, foi impulsionador de vários concursos de poesia, onde participava Arménio Correia e muitos outros funcionários da empresa. Mas foi a partir de 1998, já na pré-reforma, que este poeta popular se dedicou mais à escrita. Tomou conhecimento do Mensageiro da Poesia através da poetisa setubalense Glória Zorro, de uma prima da sua mulher, que o inscreveu na nossa associação, onde continua e de modo muito activo fazendo parte da direção, e colaborando no Boletim.

Frequenta ainda as aulas da Unisseixal, nas disciplinas de português, Inglês, Poesia e Informática, tendo poemas premiados em concursos de Jogos Florais de várias Universidades Seniores, assim como no Mensageiro da Poesia. Define-se como um homem simples, amigo do seu amigo, com grande gosto pela leitura poética, onde destaca, Manuel da Fonseca,

António Gedeão e Ary dos Santos, entre muitos outros, na prosa José Saramago... Diz ter quase todos os sonhos realizados, uma vez que tem uma família feliz, um casamento de quase cinquenta anos, com dois filhos, duas netas e que na juventude plantou várias árvores. Faltar-lhe-á apenas, para cumprir a tradição, escrever o livro, ou melhor neste caso faltará apenas editar, porque segundo garantiu já está escrito e apenas aguarda oportunidade. O Mensageiro da Poesia deseja as maiores felicidades a este nosso poeta, e a concretização deste seu último sonho, para breve.

A vida A vida passa a correr Como há muito se não via, Entre sonhos e ilusões, Por vezes aos tropeções Numa louca correria. Cavalga o seu saber Como corcel de combate Pelos confins infinitos, Onde o sonho ganha asas Tal como o pensamento, Corre nas asas do vento Sem ter hora de chegada Nem ter hora de partida. Segue a agulha do desnorte Num vai vem de pouco tento Viaja sem passaporte Em correria, ora lento Como barco sem ter leme, Anda sem rumo traçado, Vagueia sem ter patrono, Num corrupio apressado Como cão que não tem dono.


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A beleza que se está perdendo Eu estou muito muito triste Com toda esta situação Os animais a morrer Com falta de alimentação A situação assim o permite De não haver solução São as florestas a arder Com esta destruição Malditos dos criminosos Deviam ser bem castigados Mas todo o mal de quem fica Com os seus bens estragados Há quem se lembre só dos bombeiros Quando vêem tudo a arder Mas coitados dos que perdem Suas vidas para defender Por vezes sem descansar Lá vão eles na sua missão Ajudando em qualquer lugar Na sua grande aflição Preciosa Maria Gamito

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Outono Outono. As folhas vão partindo Num bailado alado e leve… São meus sonhos que me vão fugindo Fremindo em espasmos d’aurora breve. Outono. Lágrimas, pétalas do coração Numa voragem imensa arrastadas Em farrapos _ Misérias duma ilusão Fogo morto sob águas douradas. Outono. Que amargura infinita… Minha alma por amor grita Voa em estilhaços p’lo caminho. Há! Minha ternura ilimitada Perdida numa agonia estonteada… Ruiva de ânsia do teu carinho! Lurdes Emídio

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As minhas homenagens Aos poetas por também saberem declamar Não sei se a sua imaginação Vem do céu ou vem do mar Ou será que vem do coração É que o poeta é solitário Só a natureza o entende Porque o seu coração é diferente Do sentir de toda a gente Declamam maravilhas Á humanidade á pátria e ao amor No tempo suas obras ficam Deixando perfume de rara flor Quem me dera declamar como voz Ser grande no sentir e no saber Ser vossa irmã no entender Juntar a vossa á minha voz. Adelaide Palmela

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Patriotismo do pensamento Não tem conta, as vezes que penso Em mim, em si e na gente Do nosso pais distante Pensando… não sei… Alcançar o que pretende! Só sei, que em mim habita; Saudade em terra alheia. Como quem anda à roda E me prende o sangue de cada veia… No silêncio da noite, Vagueia, a minha mente… Para encontrar na distância, O que tanto nos falta! Quem me dera poder voar, Na imensidão divina do Céu! E na recepção encontrar. Alívio de nós… Porque sei que a nossa vós É a força útil, que avança: Na emigração! Para alcançar afecto Entre Belém e São Bento, Pouco temos!... mas queremos Que o braço da união Apenas seja diferente! Luís F. N. Fernandes


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Mensageiro da Poesia

Baía d’Amora

Gosto muito de participar Em tudo que é passatempos Porque me dá distração E é sempre uns bons momentos

A Baía de Amora é pequena Vamos lá abrir caminho Vamos pôr a pequenada Navegar no seu barquinho

Preciosa Gamito

Vento que sopra nas velas Dos barcos a navegar Em constantes caravelas Que descobriram o mar

Azedas

Mote

Com o avançar da idade A pessoa vai mudando, E a sua mentalidade Vai-se aos poucos degradando.

Os versos que aqui mando São feitos com alegria É com muito amor que o faço Para o Mensageiro da Poesia

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Como eu reparo nos outros Os outros reparam em mim Mas a vida é mesmo assim O fim vai chegando aos poucos, Até chegarmos a mortos Não tivemos oportunidade De acabar com a vaidade Que em muitos há com fartura, A vida torna-se mais dura Com o avançar da idade.

Devia ser ao contrário A velhice devia ser melhor, Isto assim não tem jeito Ó vento que sopras forte Mas foi e é sempre pior O mundo tem de mudar Isto está no calendário, Fazendo as nuvens correr Aqui imperam as castas, Pequeno e temporário És chamado vento norte As mães fazem de madrastas Fazes a natureza sofrer Que assinamos no papel Pois não têm nada pra dar. Onde um fulano qualquer Devia meditar nisto Vento que levas as aves Não sei se parto se fico Na primavera aos seus ninhos Sem ter que assinar o visto Até já esqueci o nome, A pessoa vai mudando. Tu conheces, tu bem sabes Sei que a vida que pratico Do outro lado o caminho Não tenho medo da morte Faz de mim parente rico Mas o sofrimento assusta-me Da criança que tem fome. Noites em luar de prata Quando penso nele custa-me Ouve-se o vento encantado Ter um dia essa má sorte. Tenho-me gasto na procura Que descobre a negra capa E o sofrimento não suporte De entender o vagabundo Do amante envergonhado Digo isto com lealdade Que vive sem luz nem lei, Nessa altura a nessecidade Ela não sabe, e eu não sei Num coração magoado É de abalar de repente Que espera ele do mundo. O companheiro é o tempo Ficando assim mais contente Cartas de amor a seu lado A sua mentalidade. É que alguns ainda esperam A esvoaçar com o vento O seu dia de bonança, Por isso só peço a Deus Mas há no circo da vida Piedade Vaz Que me poupe a essa tortura Tanta criança perdida Que só nos traz amargura Sem pão, sem amor nem esperança. A mim e a todos os meus. Que o meu último adeus E para maior ironia Fosse dormindo ou cantando Lembro-me disto amiúde, E que ninguém ficasse chorando Não me basta recordar Quando for para o cemitério Tenho de me perguntar Por a vida ser um mistério Será que fiz quanto pude? Vai-se aos poucos degradando. João Ferreira

Maria Catarina Silva


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Prece astral Foi grande glória Olho… e não quero ver, Estes senhores perversos Energúmenos, do poder Já era de prever Como iria ser!... O descontrolo é de temer O incrível padecer, Deste povo sem merecer Só por querer viver. Trabalhando sem comer Retiram também seu prazer, Um viver a sofrer… Que destino incerto, Olhem as ondas do mar Com o teto repleto De estrelas e de luar. Olham ao longe as ondas Querendo um outro lugar, Que não este… Que só é: Pontas esfarrapadas ao pegar. Com lágrimas de sabor a sal Perderam-se também os sonhos, Sabendo, donde vem o mal! Os seus pesadelos são medonhos… Pátria que se espalhou pelo mundo Com muitos séculos de Vitória!... Tristeza, como se perde num segundo O que um dia foi grande Glória?! Damásia Pestana

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Ler Ler… é crescer Sonhar, viver e amar! Ler é criar outra Forma de viver a vida! Ler é a coisa mais Bela que o ser humano Tem na sua existência! Manuel Sapateiro

Que o silêncio seja quebrado Por milhares de raios… Que o terror seja banido Das mentes subjugadas!... Manuel Sapateiro

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Partilhar tristeza De neblina era seu manto cobria seu corpo curvado de pranto uma tristeza pálida sobre seu rosto uma silenciosa lágrima salgada de mar deslizava perdida brilhando de desgosto. Fiquei por perto, quando senti seu olhar de um verde acinzentado quase sem pestanejar, eu indecisa sem saber que fazer para suavizar aquele sofrer. Do mar vinha o cântico dos desaparecidos ela à espera ali, no silêncio provando que não estavam esquecidos. Quase sem dar por isso, entendi-lhe a mão ela desesperada agarrou-a colocando-a junto ao coração. Disse baixinho, estou cansada, perdida, fui abandonada por Deus… faz tempo que me sinto uma morta, viva porque o mar levou os filhos meus. E agora o que será de mim?... como encontrá-los neste mar sem fim? Partiram daqui, a procurar o sustento, nunca mais voltaram, já faz tanto tempo o mar sem dó, ficou com eles… deixou-me somente um louco tormento. Agora a vida tem amargo sabor todos os dias meu alimento é a dor venho para aqui à espera que o mar um dia também me queira levar. Fiquei ali sem saber que dizer, minha mão, na sua mão, com mágoa na alma e no coração, apenas partilhando a tristeza daquela tão triste mulher. Manuela Lourenço


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Vida Associativa

Tertúlia Poética: Dia dos avós Realizou-se no passado dia 26 de julho, a tertúlia poética mensal do Mensageiro da Poesia Associação Cultural Poética, tendo como tema o “Dia dos Avós” que precisamente coincidiu com este dia. Numa tarde quente de verão, e com uma elevada participação de associados, o espaço da nossa sede tornou-se insuficiente para acolher todos os participantes, uma vez que o café estava encerrado e não havia actividades das outras associações aproveitámos o espaço do átrio, para o efeito. Aderindo ao tema apresentado “Dia dos avós” os poetas presentes apresentaram poemas de sua autoria, abrindo a sessão Arménio Correia que declamou “A casa dos avós” e “Desinformação”, seguindo-se Manuel M. Nobre com “O nosso cante Alentejano” e “O maior conselho é Odemira”; Manuela Lourenço com “Este mundo em que vivemos” e “Tão distante”; Francisca São Bento com “Às minhas netas” e “Sentido”; Laura Santos com “Minha mãe” e “Cem anos”; Maria Damásia com “Navegar é preciso” de Fernando Pessoa; Vitória Afonso com “Dia dos avós” e “Tocando um rebanho de palavras”; Miraldino de Carvalho com “O dia dos avós” e “Nesta vila alentejana”; Lúcia de Carvalho com “Família” e “Naquele banco de jardim”; Helena Moleiro com “O maravilhoso mundo da fantasia” e “Eu quero fazer um poema”; Telmo

Montenegro com “A minha avó Isa” e “Anda”. O fadista António Dias cantou “à capela” dois fados e o poeta e Hermilo Grave declamou outros dois. Em conversa informal sobre o “Dia dos avós”, ficámos a saber que esta data comemorativa foi discutida e aprovada na Assembleia da Republica no dia 4 de junho de 2003, sendo promulgado o dia 26 de julho como “O dia dos avós”. Tratando-se de uma data comemorativa muito recente no nosso país, a sua história é pouco conhecida, assim como varia o dia do ano dedicado aos avós: Em Portugal, Espanha e Brasil, é a 26 de julho, porém a Itália comemora-o a 2 de outubro, no Paraguai a 5 de maio, no México a 28 de agosto, etc. Realçando que independentemente do dia em que se comemora é indiscutível o papel e a importância que os avós sempre tiveram, na nossa formação e educação, tanto familiar como de cidadania, assim como continuam a ter de forma crescente nos dias de hoje, com os efeitos da crise económica em simultâneo com o envelhecimento da população. Com saudações poéticas, os convivas despediram-se até à próxima tertúlia, que tem lugar no último domingo de cada mês.


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Saudades do mar Tenho tantas saudades do meu imenso mar, Dos mistérios, dos segredos que me contou, Aqui, já não posso as saudades suportar, Mar generoso, longe de ti não sei quem sou. O piar das gaivotas está em meus ouvidos, Melodia que me embala e me desperta, Se acordo de noite ao som dos teus gemidos, Fico o resto da noite acordado, alerta. Mar agitado, feroz, impiedoso, Mar salgado, onde outro mundo vive e se esconde, Mar fonte de vida, fiel e generoso, Mar minha vida, diz-me se eu existo e onde. Quantos segredos te contei, meu confidente! Sentado nas dunas à tua cabeceira, Tão distante do mundo, sobre a areia quente, Quando entre nós surgia amena cavaqueira.

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A guerra Porque razão a humanidade Vive com ódio e rancor Porque não há liberdade, Porque não há paz e amor? Se todos os países se unissem Para acabar com a guerra E a riqueza dividissem Não havia fome na terra. Poderosos a enriquecer Por causa dessa malvada E tanta gente a morrer, Tanta lágrima derramada. Não têm valores morais Só ás armas dedicados Pra matar cada vez mais Estão sempre preparados. No Mundo em qualquer Nação, Deviam pensar na paz Porque desgraça, e destruição É tudo o que a guerra traz. Francisca São Bento

Mar do meu eterno amor, do meu coração, Eterna canção embalando os meus sentidos, Flocos de espuma se levantam em cachão, Ao céu se vão erguendo, por entre gemidos.

Olhos nos olhos

Foi no mar que um dia tudo começou, Ali se fez vida pela primeira vez, A vida na terra que então desabrochou, Foi o mar que a deu, foi no mar que se fez.

Nada me digas... Nada me escondas, Que é o mesmo... Saber e não saber... Tudo vai rolando como as ondas Que na areia, acabam sempre por morrer.

De olhos fechados estou eu sobre um rochedo, Lá no fundo, contra a rocha, batem as águas, Sozinho na noite escura, calado e quedo, E os salpicos do mar sentem minhas mágoas.

No silêncio é que as palavras são redondas Que é o mesmo... Dizer e não dizer... Nada me digas... Nada me escondas... No silêncio é que as palavras vão doer.

Quando despertar do imenso sonho mágico, Eu terei partido para junto do mar, O piar das gaivotas é o bom presságio, Então, dar-me-ei conta de estar a voar.

Os olhos nos olhos, nunca mentem. As palavras não são ditas, Eles falam e dizem o que sentem.

Telmo Montenegro In: À Esquina do Tempo Edição: Chiado Editora

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Não se deve falar só por falar, As palavras ficam sempre mais bonitas, Quando ditas, num encontro do olhar. Lúcia Pereira


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com a nossa associada, a fadista Lina de Almeida Mensageiro da Poesia: Numa breve biografia, fale-nos um pouco de si. Idalina Teixeira Lima de Almeida (Lina de Almeida): nasci em Trás-os-Montes, casada, tenho uma filha e um neto, filha de uma família de poucos recursos económicos eramos treze irmãos, aos três anos comecei por influência de meu pai que tocava concertina, aos catorze anos um meu irmão mais velho trouxe-me de Favaios onde vivia, vindo para Lisboa, onde comecei a trabalhar, depois de várias profissões, acabei como gerente na indústria hoteleira onde estive quarenta anos, até que fui reformada. Entretanto o fado foi fazendo sempre parte da minha vida, conseguindo quase sempre concilia-lo com o trabalho, tendo atuado em diversos sítios por todo o país, em diversos espetáculos. Recordo a primeira vez que cantei acompanhada à guitarra, tinha eu vinte anos, gosto do fado que canto, e ao qual procuro dar sempre um estilo muito próprio, já ajudei a lançar novos fadistas. Tenho dois C.D. gravados, tendo o último sido “Sinto o fado em mim” cuja apresentação foi em Julho, no restaurante “A Moagem” na Torre da Marinha. M. P.: Como se define como mulher e fadista. L.A.: Como mulher sou lutadora, perfecionista, primo pela lealdade e honestidade, gosto de ajudar os meus amigos, sou feliz como fadista, tenho um marido que me apoia e acompanha. Com a voz que Deus me deu, fui-a aperfeiçoando ao longo da vida, preocupo-me em cantar bem, cuidar da minha imagem, de ver espelhado nos rostos dos que me ouvem expressões a palavras de agradecimento, que me sabe bem ouvir. M. P.: Sendo a Lina de Almeida uma fadista qual a importância que a poesia tem para si? L.A.: Sem poesia jamais seria fadista, para haver fado tem de existir a poesia. M. P.: Desde quando, e como é que o gosto pelo fado nasceu?

L.A.: Desde criança. Meu pai tocava concertina, ia para as tavernas, e eu com três anos cantava acompanhada por ele. M. P.: Que género de fado mais gosta de cantar? L.A.: Gosto de cantar fado tradicional, fado sentido, e também fado corrido. M. P.: Como teve conhecimento do Mensageiro da Poesia? L.A.: Conheci o Mensageiro através da minha amiga, a grande fadista Manuela Amaro. M. P.: Qual a opinião que tem do nosso Boletim? L.A.: Está bem estruturado, quer a nível gráfico, descritivo, e mesmo poético. M. P.: Dê-nos uma sugestão para que possamos melhorar o nosso Boletim, e expandir a nossa associação? L.A.: Sou defensora de que quando houver mudança, exista progresso, quer a nível cultural quer poético, e que todos os associados tenham livre acesso a expressar-se culturalmente. M. P.: Para terminar quer deixar a sua mensagem ao Mensageiro da Poesia, e aos seus associados. L.A.: Continuem sempre persistentes como até aqui, porque unidos, trabalhando e colaborando em conjunto e com vontade, vamos longe. Deixo aqui um apelo ao novo diretor do nosso Boletim, Sr. Jorge Henrique Santos, seja bem-vindo, e um muito obrigado por fazer parte do Mensageiro da Poesia, podem contar sempre com a minha presença como fadista ou colaboradora, em todos os eventos desde que me seja possível.


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Quarenta graus... Grande é o calor que me derrete, O sonho, a esperança e a vida. A vida já nada me promete, E a esperança, essa, está perdida. O sonho que se desfaz como um sorvete, Quando acordo, ou ainda adormecida. Tantas, tantas vezes se repete Que dele fico, cada vez mais esquecida. O calor de Julho, acesas brasas, Quarenta graus, passando sobre as casas. Pede muita água à sede intensa. Vagos são os sonhos e diversos, Tristes uns, risonhos outros mas dispersos, Fica apenas, esta mágoa que é imensa. Lúcia de Jesus Pereira

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Devemos amar todas as cores A quem gosta do verde e detesta o vermelho (Vice-versa É a mesma conversa) Eu dou aqui um conselho: Olha bem como as duas cores, em união, Fazem tão linda a bandeira da nossa Nação! Tu já reparaste No contraste, Duma beleza sem fim, Da erva verdejante e vivaz do jardim Com o vermelho das rosas Tão belas e viçosas? O ódio só prejudica Quem ao ódio se dedica! Pelo contrário, o amor não dói, Só ele constrói, Enaltece, Alonga a vida, Com saúde e de modo que a vida merece Ser vivida! Armada Rosa

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Rosinhas perfumadas Rosas branquinhas singelas Muito pequeninas e perfumadas Vão trepando pelas janelas Assim formando bonitas latadas Conta a história que Jesus Á sua mãe quis ofertar Um raminho de rosas de luz Daquelas rosinhas de toucar Maria muito reconhecida Por receber um regalo tão divino Aperta junto ao peito; sua vida O seu divino, tão querido menino Assim mãe e filho abraçados Formando um quadro tão lindo Por Deus foram abençoados Jorrando ternura e amor infindo Bia do Táxi

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O amor que tu me davas Foi na praia, num dia de verão Que por acaso nos conhecemos E a partir desse dia pois então A ninguém digo os beijos que demos Todos os beijos que nós trocámos Ficam sempre em nossas lembranças A brincar tantas vezes falámos Que mais parecíamos duas crianças O verão acabou, tu foste embora O teu telefone ou a direção Nada me deste nessa mesma hora Ao recordar-te vou dizendo então Se por acaso me ouvires cantar Podes crer que nunca te esqueci Vem ter comigo ao mesmo lugar Neste verão lá esperarei por ti Refrão Saudades desses teus beijos Tenho eu tantas e digo aqui Aumentam os meus desejos Cada vez que eu penso em ti Como me lembro, é verdade Do teu sim, como me olhavas Ai como eu sinto saudade Do amor que tu me davas. Chico Bento


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O mar e nossos heróis Foi lá no indico mar Com ondas em furor Camões a naufragar Viu o monstro Adamastor! A lenda escreve, assim; Camões em grande alvoroço, Aflito, sabe-se por fim Atou os LUSIADAS ao pescoço! Só um milagre de Jesus, Só um acto de heroísmo, Chegou, sabe-se a Ormuz, Salvou o livro do abismo! Foi um mar cruel gigante Camões! Infante! Cabral! Espírito luso, a navegar, Glorificou tanto Portugal! Mar entre p’rigosos vagalhões, Em imprevisíveis dificuldades, Foi mar que baleou Camões, Livrou Lusíadas das tempestades! Mar! Heroísmo! Caravelas! Que dia partiram de Sagres, Criaram lendas singelas, Epopeias! Mesmo milagres! O mar sempre foi nossa chama, Infante D. Henrique! Colossal, Magalhães! Vasco da Gama, Zarco! Cão! Alvares Cabral! Foi este misterioso mar, Que nos cobriu de glória, Homem de heroísmo impar, Hoje presentes na memória Dolores Magalhães

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Mensageiro da Poesia - 13

Cantinho do Escritor

O sonho comanda a vida Eu chamo-me Ana Santos, nasci numa freguesia da cidade de Vila Nova de Gaia, em Vilar de Andorinho, e desde menina que fazia uma brincadeira que adorava olhava para o céu e achava que se colocasse uma grande escada eu conseguia chegar até ele, mas como era impossível realizar esse desejo imaginava lindas histórias com os desenhos das nuvens e quando aprendi a escrever gostava de passar para o papel as minhas fantasias do Céu. Um dia na terceira classe a professora pediu para a turma fazer umas quadras sobre a primavera e a Mãe e os meus versos foram os melhores, e a professora disse que tinha muito jeito. Os anos foram passando e eu continuei a escrever poesia e contos, mas por vergonha rasgava a minha escrita, mas um dia levantei-me muito cedo para passar uma roupa a ferro antes de ir trabalhar e ouvi na rádio renascença uma entrevista do Sr. José Candeias, ao nosso Presidente do Mensageiro da Poesia; Sr. Luís Fernandes sobre a motivação, para criar esta Associação que iria dar oportunidade a pessoas como eu que escreviam para a gaveta, a possibilidade de publicar. O Mensageiro da Poesia nasceu há 17 anos para incentivar poetas, e escritores, que se tornaram Sócios de uma grande Coletividade Cultural que tem ultrapassado dificuldades, mas que mantém o seu objetivo principal dar continuidade à inspiração, da alma e do coração, com a força e coragem, para acreditar que o sonho comanda a vida. Ana Santos


Vida Associativa

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Mensageiro nas Festas da Amora Decorreram de 12 a 16 de Agosto na zona Ribeirinha da Amora as tradicionais festas desta cidade e freguesia, em louvor de Nª Srª do Monte Sião, com um programa cultural vasto e milhares de pessoas a encheram todos os dias a área onde decorrem os festejos. Como já se vem tornando tradição o “Mensageiro da Poesia- Associação Cultural Poética”, fez também parte do certame com um stand, onde divulgamos as nossas edições e as obras dos nossos poetas, assim como uma pequena quermesse que ajuda a fazer face às despesas de montagem e organização. Acima de tudo a presença do “Mensageiro” na festa torna-se num espaço de encontro e reencontro entre os nossos poetas, dirigentes, associados e amigos. De um desses momentos dão conta as fotos que ilustram a presente notícia. Passando por aqui também individualidades como o Presidente da Junta de Freguesia Manuel Araújo, a Secretária da

Junta de Freguesia de Amora Helena Quinta, o Presidente da Câmara Municipal do Seixal Joaquim Santos, assim como os vereadores municipais Vanessa Silva e Sr. Jorge Gonçalves, entre outros, autarcas e dirigentes associativos que nos honraram com a sua saudação. Expressando-se também da parte da direcção, a gratidão a todos os que asseguram presença, bem como os que tomaram parte neste espaço de vivência cultural e convívio, como José Frias, Maria Francisco São Bento e seu marido António São Bento, Arménio Correia, Luís Fernandes e sua esposa Donzília Fernandes. As festas decorreram num ambiente alegre e de saudável convívio e o Executivo da Junta de Freguesia de Amora está de parabéns, pela boa organização do evento, que proporcionou ao público, em geral, dias muito agradáveis.


Setembro/Outubro 2015

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Mensageiro da Poesia - 15

Vida Associativa

Mensageiro da Poesia rende homenagem a Sérgio Gomes Falecido em março passado, Sérgio Gomes, um grande poeta e com caraterísticas muito próprias, usou grande parte da sua vida como voluntário em várias entidades na Quinta do Conde. Sócio do “Mensageiro da Poesia – Associação Cultural Poética”, quis esta associação

A tarde porém foi sublime, porque para além do merecido reconhecimento à obra do grande poeta Sérgio Gomes, exaltaram-se os valores da Poesia, como a solidariedade, a fraternidade e o amor. Na prova aqui confirmada que “os poetas não morrem”, após a passagem pela vida terrena a sua obra perdura entre os homens e é por isso que continuamos ainda hoje a evocar Virgilio, Camões, Neruda, Bocage, Florbela... Leram-se poemas do homenageado e de outros autores, para além de dedicatórias dos presentes e testemunhos de alguns amigos que partilharam caminhos e ideias com o Sérgio Gomes.

render-lhe homenagem e fazê-lo na Quinta do Conde, terra onde o poeta mais partilhou a sua vida em dedicação a várias causas A sessão teve lugar no domingo dia 6 de setembro no Grupo Desportivo e Cultural do Conde 2 e na moldura humana e solidária, digamos que apenas terão faltado muitos dos supostos amigos e beneficiários da dedicação voluntária do poeta cidadão. As declamações foram acompanhados à viola por José Taveira, outro amigo do poeta que desta forma quis dar o seu contributo na sua homenagem e que resultou de modo brilhante. A conclusão foi uma bonita tarde, alegre, emotiva, solidária e utópica, no mais perfeito espírito de tertúlia, que seria o preferido de Sérgio Gomes, apesar de incompreendido e ignorado por muitos como lhe aconteceu em vida.


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Em casa de Ferreira…

Homenagem a Sérgio Gomes

Em casa de Ferreira, espectro de pau! O verso é paulada que se atira, à monotonia; É desancar com a colher de pau da benfeitoria, Os versificadores, que atravessam a escrita, a vau!

O poeta ao nascer… traz na alma nostalgia mas nem todos sabem entender, esse dom essa magia. O poeta ao nascer… traz escrito no coração, a vontade de oferecer toda a sua emoção. A vida de um Poeta para muitos não tem valor mas com uma simples caneta ele exprime, tanta sensibilidade e amor. Nem sempre é entendido por muitos tipos de gente pode parecer um mendigo… mas tem uma visão diferente. Morre o Poeta fica a obra que perfumou sua vida, poesia sempre se renova quer na chegada, ou partida. Mais pobre fica o Mundo quando a derradeira viagem, deixa o Poeta em sono profundo… e ter honras de homenagem.

(ao poeta independente João Ferreira)

Em casa de Ferreira, se constrói a Nau Das descobertas, das rotas da lusofonia; Nau grande, com guarnição de bonomia, Apta à dobradura de poema tormentoso, mau… Em casa de Ferreira, se malha o ferro quente Moldando a arcaria poética para tanta gente Expectante da filigrana assim fundida… Dos restos mornos, de versos pelo chão, Se moldam poemetos que aquecem o coração Do peregrino austero, ansiando a rota perdida… Sérgio Gomes

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Finito

A mão Agora inerte Já não castiga… Como se sempre, fora assim!... Olhar Agora atormentado Vítreo, só fita… Como, se assim, sempre fora!... O coração Agora esparso, Pulsa a descompasso… Como se, sempre, assim fora!... A vida Agora esventrada, Esvai-se num estertor… Como se, assim, tivera de ser!... O fim Agora irreversível. Voga insidioso, concupiscente, Como se, tivera de ser assim, Como se fora sempre o princípio!... Sérgio Gomes

Paz à sua alma. 06-09-2015

Manuela Lourenço

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Portugal de marilheiros Nesta Pátria, Portugal Um país de marinheiros Terra de homens sem igual Com sangue de aventureiros Olhos postos no infinito Navegando em mar profundo Soltamos o nosso grito Demos Portugal ao mundo Desbravamos Oceanos Nesses mares sem ter memória E muito nos orgulhamos Termos feito a nossa história Com olhos da cor do mar Meu filho, amor derradeiro Para seu país honrar Fez-se bravo marinheiro Nesses mares em que te enleias Ao navegar no convés Certo estás que em tuas veias Corre sangue Português... Maria de Lurdes Brás

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Os Nossos Poetas

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Justa homenagem Eu juro, por minha fé, O Luís Fernandes é Valente como ninguém. Um pouco por todo o lado, Ele é bem considerado, Todo o mundo lhe quer bem. Já foi caminheiro errante, Valoroso emigrante Na linda e fria Suíça. Há tempos já reformado, Não fica nunca parado E não sabe o que é preguiça! É poeta popular E gosta bem de rimar, Seja de noite ou de dia. Homem de grande valor, Ele foi o fundador Do Mensageiro da Poesia. Em franca camaradagem, Prestemos, pois, homenagem A este rei dos decanos. Ergamos todos a taça, Pedindo a Deus que ele faça Muitos, muitos, muitos anos!

As minhas rosas Duas rosas tão lindas Florescem no meu jardim São as minhas duas filhas Quando sorriem para mim. Rosas lindas tão belas Deus me deu essa alegria De cuidar dessas flores De noite e de dia. Com cuidados e carinho Com sofrimento e dor Duas rosas que nasceram Deste nosso grande amor Que sejam felizes Sem muitos espinhos Que Deus as proteja Pelos bons caminhos. Que o Sol brilhe Sempre em vossas vidas Com Paz e Amor Minhas filhas queridas. Berta Rodrigues

Hermilo Grave

Mais um ano que se aproxima “Sangue, suor e lágrimas” que máxima tão poderosa mas assenta que nem uma luva no nosso Mensageiro da Poesia. Por caminhos tortuosos, lamacentos, águas encrespadas, oscilações, não deveriam ser apanágio desta família de poetas amadores. Sejamos eloquentes, sejamos amigos desta associação poética, que no seio das dificuldades tem conseguido sobreviver. Ajudemo-nos uns aos outros, ajudemo-nos culturalmente, ajudemo-nos… pelo convívio, pela amizade, pelo respeito que nos une.

Há dificuldades, há espinhos, mas sabemos rir, sabemos aplaudir, sabemos estar aonde é preciso e seguiremos em frente, de cabeça bem erguida, venceremos esta batalha com a nossa poesia, sobressaída de gargantas afinadas nesse caminho sem fim. Mudemos essas nuvens que correm, esse cenário escuro como breu para uma riqueza primaveril. António Bicho Beja 04 de Julho de 2012


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Maravilhoso mundo da fantasia Descalça, vestido roto, fugia de casa a correr, só parava no nateiro, de encantos e fantasias. Era o seu paradeiro! Brincava e imaginava, tinha flores no cabelo, e logo me via uma princesa dum palácio encantado, com sapatos de cetim e o vestido bordado a renda. Era pastora na serra, era veado num parque, via-me uma guerreira, já era Joana D’arc! Dançava, em pontas, na relva, até cair ou voar! Apanhava malmequeres, para com eles se enfeitar! Namorava laranjas de ouro, não as podia alcançar! Comia grandes banquetes de azedas e amoras silvestres, fingindo não ter fome, enganando, assim, as horas. Arrepiava-me o medo, quando ouvia os gritos aflitos de afogados no rio e não os podia salvar! Tinha remédio para as feridas, que da terra tirava, e que eu sabia curar! Curiosa espreitava (supremo encanto!), as mouras sentadas à beira dos poços, que, em pentes de ouro, os cabelos lindos penteavam, enfeitados de belos mantos e colares de grossas pérolas! Só estas coisas eu sabia e conhecia e a ninguém eu dizia!

Todo o mundo belo e puro encerrava aquele campo. e, de contente, sorria, quando extasiada ouvia dos grilos e pássaros seu canto, que me ensinaram a cantar e a conhecer seu encanto! Quando o nevoeiro do rio saía como fumo gelado, era hora de partir. Guardava os sonhos nos olhos e corria para casa. amanhã voltaria, saltitando de alegria, e levando, nos braços, a fantasia~ com malmequeres aos molhos! Helena Moleiro

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Uma música um recordar Às Voltas com a musica... De novo sempre a mesma... De novo um Outono... Quando nós precisamos ... De uma eterna PRIMAVERA... Quando o Sol nos beija... Quando o Coração ... Salteia... Quando o pulsar urge... Quando o beijo .... O Abraço... A ternura do teu olhar... Quando o Segredo paira no ar... E quando tudo morre... Sem ter nascido... Sem que tenhas chegado... E apenas o SONHO... Esse será eternizado... E assim guardo... Todos os momentos... Com eterna saudade... Magui


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Homenagem ao

Nosso Patrono Manuel Maria Barbosa Du Bocage Manuel Maria Barbosa du Bocage, o insigne poeta Setubalense, nasceu a 15 de Setembro de 1765, na Rua Bartissol, nº10 1º andar, pelas 15 horas, tendo-se baptizado na igreja de S. Domingos (hoje, de S. Sebastião), a 29 do mesmo mês. Foram seus padrinhos Heitor Mendes Botelho Moraes Sarmento e sua tia materna, Soror Luísa Matilde. A escritora setubalense, D. Olga de Moraes Sarmento, descendia desta nobre família. Este vate sadino foi bem nascido e mal fadado, segundo a voz do povo. Também Almeida Garret, analisando Manuel Maria, dizia: “- o vate Elmano é muito diferente coisa do poeta Bocage. O excêntrico, ininteligível, estapafúrdico Elmano, dos botequins e dos outeiros, não pode ser o mesmo que o nobre poeta Bocage, o tradutor de Ovídio, o autor de Leandro e Hero, de tanta coisa boa e bela.” Realmente, em Bocage existiam duas personagens distintas, filhas do seu carácter irregular, que, positivamente, ainda não foi estudado, segundo a minha óptica, pois este excelso versejador poético e sentimentalista actuou, alternadamente, como devoto e como incrédulo, assim como moralista ou impúdico. Orgulhoso e adulador, este vate sofreu imenso com a falta de sua excelsa mãe, que cedo partiu a caminho da eternidade, chamada assim à corte de Deus. Embora Luís Rebelo da Silva tivesse sido um dos seus mais notáveis biógrafos, algo ficou ainda por estudar sobre o princípio do pensamento e da actividade reflectida deste ser, ou seja, do seu espírito. Assim, não há dúvidas, existiram duas personalidades dentro deste ente, banhadas pelo mesmo Sol, ou seja, dois Bocages inteiramento distintos. Embora descendestes de famílias modestas mas integradas no mundo das letras, este poeta mostrou o seu desinteresse pelo estudo, mas revelando muito precocemente as suas excepcionais capacidades poéticas. Com o seu espírito imprudente de aventureiro, depressa passou pelo Exército e pela Marinha, viajando, em 1785, até à Índia e Macau (1788); já livre da vida militar, sem meios de subsistência, sem emprego, completamente desamparado, regressa a Lisboa, em Agosto de 1790, mercê do Governador daquela praça, que lhe acudiu, assim como outros portugueses ali residentes. Tinha então 24 anos. Estatura média e magro, aparência tímida, melancólico, triste, concentrado, amando a solidão e fugindo ao convívio das outras pessoas. Isto no seu estado normal. Nas suas orgias, espicaçado pelas libações alcoólicas, das quais muito abusava, pela corte de admiradores que tanto o aplaudiam, transformava-se em alegria esfuziante, dando aso a que dos seus lábios saíssem versos cheios de maravilhosa fecundidade, tocados pelo bastão enfeitado com heras e pâmpanos, rematado em pinha, que era a insígnia de Baco. Assim foi queimando as energias do seu fraco organismo, especialmente na frequência dos lupanares, afundando-se no lodo destes prostíbulos. E é ele que o confirma, na sua obra “O Desengano”, inserida no segundo tomo das suas Obras. Uma Academia das Belas Letras foi formada na capital, a que deram o nome de Nova Arcádia, isto em 1790. Mais tarde, numa das sessões desta congregação, e de maneira tempestuosa, houve, a certa altura, um desen-

tendimento entre Bocage e o padre Macedo. Isto, porque, em 1792, apareceu um soneto, de mão em mão, onde se achincalhavam vários sócios deste Academia, e, segundo constava, Bocage era o seu autor. Depois de uma reunião na casa do conde de Pombeiro, onde estiveram presentes o Abade de Almoster, Curvo Semedo, o Dr. França e o padre Macedo, e mercê das suas instigações, foi acordada a expulsão de Manuel Maria. Foi o desencadeamento de uma guerra cultural, cheia de paixões e de elevadas críticas ofensivas. Bocage, furioso, investe com o padre Macedo, com o poema “ Os Burros”. Bocage ia vivendo das migalhas que auferia das suas obras. Escreveu elogios à Rainha D. Maria I, ao príncipe regente, D. João, à princesa Maria Teresa e a D. Carlota, princesa do Brasil. Igualmente outros elogios feitos a actrizes do Teatro do Salitre, para cómicos ambulantes e para pessoas amigas e bem instaladas politicamente. Outros poemas escreveu, talvez um pouco desonestos, mas, assim, ele vingava-se da sociedade torpe e maldizente, que existia no meio de uma Corte hipócrita e imoral. Convém não esquecer que Elmano repudiou a autoria de muitos sonetos, que ainda hoje dizem ter saído da sua imortal pena. Na sua luta pela Liberdade, contra uma sociedade corrompida, por concessões e regalias odiosas, e com desigualdades incomodativas, julgou-se destinado à realização de grandes missões, como se fosse um apóstolo de uma nova doutrina, no seu País, por tal, escreveu a célebre “Epístola a Marília”, um poema de tema filosófico-sentimental, sublime, desventurado, anti-católico e imoral, que lhe valeu muitos aplausos e maldições. Esta obra continha 212 versos. Como resultado, o Governo de D. Maria I, resolveu castiga-lo severamente, ordenando ao intendente Pina Manique que procedesse á sua prisão, o que sucedeu a 10 de Agosto de 1797. Privado da sua Liberdade e acusado pela igreja, Elmano escreve a história da sua prisão. A partir desta data, Manuel Maria começa a retratar-se, apregoando o seu arrependimento por tudo o que tinha escrito, curvando-se perante um crucifixo, trocando a loja maçónica pela igreja, e o avental, seu símbolo, pela batina clerical. Suplicou poeticamente a sua Liberdade, a vários amigos e conhecidos, chegando mesmo a esmolar, em cartas enviadas por si. O grande Bocage limitava-se a receber o pão amargo, cedido pela generosidade dos seus amigos, até que, solto, continuou a deliciar toda a área cultural do seu País, nos seus epigramas, epístolas, odes, etc., que saíam continuamente da sua pena de ave, que transmitia toda a poesia. Deste desventurado poeta, tão longe da deusa da fortuna, As melhores cantatas que escreveu foram as que consagrou a Medêa, à morte de Inês de Castro, a Leandro e a Hero, assim como a Conceição da Virgem. Principiou várias tragédias: Vasco da Gama, Afonso Henriques, Viriato e Eulália ou a Vingança do Amor. Pena foi, estas não terem sido concluídas: mas o retrato de Felisa foi, como se nela se sentisse vibrar as cordas melodiosas de uma lira. Escritor Setubalense: Escrito por: João Francisco Envia


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Bocage estátua Nem pensavas, Manuel Maria, Que um dia ias ficar colocado, Em cima de um pilar, entre a serra e o mar, Onde te vejo hoje, Que estou aqui sentado Ao luar na tua Cidade, que sempre te soube amar. ar. Mas agora que me aproximo, mo, o E de perto, olho para o cimo, mo, tenho já que me emendar,r, Pois não sei por que desatino tino Chamei à tua estátua, um p pilar. ilar. s, É uma coluna com pregas, De que o vento foge a assoprar, Venha da Arrábida Ou do mar, Do Sado Ou de outro lugar. Venha depressa Ou devagar. Mas não é uma coluna qualquer, É das antigas, coríntia, Com pedestal e capitel E em cada uma das 4 faces, Distinta, entre as volutas E as folhas de acanto, Está a lira, que acompanha o teu canto Coroada de rosas, Manel, Que na mão direita tens a pena E na esquerda, folhas de papel. Elmano Sadino, anagrama De Manoel do Sado, que Setúbal ama E fez ficar eternizado, neste monumento sagrado, em Praça Bocageana. Vejo-te ali em cima, imortalizado, tu que desde o Sec. XVIII, Vate, por todos venerado. Devias-te rir um bom bocado Se soubesses Que ficavas nesse estado,

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Empedrado, Alto como um cipreste. Tu que eras baixinho e vaidoso Se advinhasses que ias ficar famoso, Bebias mais do que bebeste, Amavas pior o que amaste E escrevias menos do que escreveste Ninguém te aturava o nervoso. E talvez aí nunca estivesses. Mas, agora, Vem ouvir um Fado Na Rua dos Mareantes, Está aberto para quem quiser, Traz também S. Francisco Xavier É aqui mesmo ao lado, Perpendicular ao Rio Sado. Esteja sol a chover. Vá, Bocage, desce daí, vem até aqui, Não sei se já havia Fado Já no teu tempo, O Fado, o cantado, Pois o teu foi bem sofrido E cumprido.. foi lixado! Este é a canção de sentimento, Logo não é nova para ti, Vem, vem até aqui, Ouvir um Fado Como dantes, Na Rua dos Mareantes. Este fado canta o teu destino, Eternamente recordado, Elmano Sadino! E a tua estátua, perto do Sado, Equipara-se à do outro lado Do Tejo, Onde está uma, de um Senhor de chapéu, sentado, Que vejo, Quando vou ao Chiado, Que depois do incêndio Se viu encharcado, de gente, à beira, E onde gosto de ir ao sábado, E de pé, beber a bica na Brasileira, Ao pé do senhor sentado, Com os óculos guardados, Porque as ópticas davam muito trabalho ao escultor,

continuação da pág. 21


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mas que aparecem nuns quadros pintados, por um pintor…. Que também engrandece a Gente! É uma Pessoa, que não chegaste a conhecer, Mas que também gostava muito de ler, Desasossegado no seu cantinho Depois de ir à “Tabacaria”, E ao “Martinho” Beber uma bica e um bagacinho Para a aquecer A sua noite Antes que chegasse o dia. E depois dizer, que no escrever, não fora só Ele,.. Que tinham sido uns amigos Uns gajos conhecidos… Que lá iam ter O Ricardo, o Álvaro, o Alberto… E mais uns, outros pouco lidos,… Eh pá eram todos diferentes... Mas eram todos a mesma Gente! fácil, de conversar, Difícil de decifrar! Mas Ias gostar deles se os tivesses conhecido. Mas não fiques aborrecido, nunca soubeste, Nunca o conheceste… Claro... também vestia de escuro o Mas, também, Puro, fez algo que preste. No teu Futuro. E como Tu Faz parte, Nesta altura Da História da Literatura. Tejo, Sado, Camões, Pessoa, Bocage, E tantos mais, Que à boleia dos oceanos Aportaram em desconhecidos portos humanos, oferecendo os seus Pequenos portugais. Há mais de 500 anos José Manuel da Cruz Vaz jacinto

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O mar e os segredos Era noite serena e calma E as ondas com mansidão Beijavam a fina areia Em segredo na solidão Desci á praia sozinho Encantado com o que via Pois queria escutar de perto Tudo aquilo que o mar dizia

Mas o mar desconfiado Ao ver que me aproximava Talvez zangado comigo Enormes ondas formava Fiquei triste e pensativo A cismar junto aos rochedos E vi que assim como nós O mar também tem segredos E não os revela a alguém A não ser á fina areia Pois falam bem em segredo Nas noites de maré cheia João Ricardo Pereira

Carlos Pinto Fotógrafo

Largo da Igreja, nº- 1 esq. 2845-421 Amora info@pretoebranco.pt Tlm. 964770924


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Bocage, poeta da liberdade

Foi um poeta brilhante Príncipe, no improviso, Fazia perder o siso A qualquer mulher amante, Na vida foi um gigante Sempre que era preciso.

Poeta insigne e emblema Sadino, Da nova poesia portuguesa; És, Bocage, a candeia de Aladino, No Nicola esbanjada e mal acesa. . . De Guarda – Marinha, a Pina Manique, De Setúbal, Arcádia e Oriente; Sempre controverso, sempre ao despique, Aos baldões, ao acaso, impertinente. Só, pedinte, por caminhos errantes, P’ró Limoeiro atirado, esquecido; Acusado por fariseus farsantes, Mas, porém Bocage, tido e havido.

Manuel du Bocage

Alguém me disse um dia (Era eu uma menina) Gertrúria p’ra ti foi esponja de fel; Que eras poeta brejeiro. Sentença da Inquisição: o abismo; Afinal o que de ti leio Nobres e tua irmã te deram mel, Diz-me seres uma enciclopédia. Arauto e patrono do Romantismo. . . Nada do que escreveste é feio. Passados duzentos anos, “manoel beirão” O teu nome é bem falado. Justiça foi feita  Na tua terra natal, O povo estátua te ergueu Bocage Ficaste bem no pedestal. Foste brilhante na escrita; Ser pré-romântico aberto ao Ideal; Isso não o podem negar, Asas e obstinação de liberdade, És de média estatura, Nele luzia com genial facilidade: Com crânio … fenomenal Tanto sonetos, como sátiras sem igual… Elogias o Camões, Mas não lhe ficas atrás. Febril na sua vida de negrume e mal, Eras um aventureiro! Vida tão magoada p’la adversidade, Sedento de liberdade, Deixou-nos boa poesia de verdade: Poeta repentista Com ordem, rigor e brilho musical. Factos fizeram de ti Uma figura popular. Bocage na obra porque na vida, Aderiste à Nova Arcádia. Experimentou em si sem medida A Lisboa regressaste O recalcamento da pressão social. Espírito inconformista, Sobrevieram acontecimentos O vate Elmano dos cafés e dos outeiros, Culturais revolucionários. Foi na arte do verso um dos pioneiros, Aos quarenta sossegaste Dos maiores poetas natos de Portugal. Mas não morrerás em nós. Maria de Lurdes

Elmano Sadino

Maria Pestana

Repentista, prosador, Por vezes mal comportado, Aos maiores, comparado Ao escrever sobre o amor, Sonetos que deram flor Em jardim achavascado. De figura atarracada E de pouca formosura, Sua vida uma aventura Sua escrita uma espada, Quando por ele usada Feria qualquer candura. Foi soldado, marinheiro, Tenente de infantaria, Pelos versos que fazia Foi preso no limoeiro, Poeta a tempo inteiro Satírico no que dizia. Teve uma vida de cão Nunca ela foi fartura, Era meão de estatura Gigante ao dizer não, Pina Manique d’então Condenou sua lisura. Bocage foi fazedor De versos originais, Que não se esquecem mais Que retratam toda a dor, Satirizando o amor E as vaidades sociais. Por este Elmano Sadino O povo se sente honrado Grato, por nos ter deixado Escritos que são um hino. Que o nobre Vate Latino Seja sempre recordado! Arménio L. F. Correia


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Vida Associativa Tertúlia Poética em homenagem ao grande Poeta Manuel Maria Barbosa Du Bocage

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A Associação Cultural Poética, esta as-sociação realizou no passado dia 27 de e setembro pelas 16 horas a sua habituall Tertúlia Poética, desta vez homenageando o o grande poeta setubalense Bocage, nascido a 15-09-1765 e que após duzentos e cinquenta anos, continua bem vivo em nossa memória, como um dos maiores poeta Portugueses. Fugindo um pouco ao habitual, mas fazendo jus ao poeta, satírico, repentista, contador de histórias, algumas delas transformadas em anedotas, ouve uma breve introdução referente a Bocage, sua vida amorosa, sua figura ra meã, m sua irreverencia, fazendo com que o então Pina Manique, lhe fizesse a vida negra encarcerando-o na prisão do Limoeiro. Foram ainda contadas algumas das suas mais conhecidas anedotas, passando-se de seguida a uma primeira ronda de poemas, quase todos dedicados ao Vate-Sadino, declamados por: Telmo Montenegro, Miraldino de Carvalho, Lúcia de Carvalho, Manuel Martins Nobre, Maria de Lurdes, Damásia Pestana, Maria Fran-cisca São Bento, e Arménio Correia, se-guindo-se a leitura de poesia livre doss mesmos. O nosso associado Telmo Monteenegro informou ainda que irá breevemente participar numa Tertúlia a Poética, acompanhado de poetass e declamadores com grande reco-á nhecimento público, os quais irá convidar para partilhar connosco na próxima Tertúlia. Com elevada satisfação se concluiu mais este momento de partilha e realização cultural que vem caracterizando a nossa associação, na sua missão de elevação da poesia.


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Ao mar Mar imenso!... Rei e protector, de unidos marinhos… Das gaivotas Mensageiro do tempo E da revolta Palácios de sereias e segredos… Maravilha serena ou revoltada Traiçoeira Beija enamorados Num sopro de magia Que adormecem embriagados Nos fortes rochedos e nos areais!... No orgulho e no poder da beleza Esconde nos escombros da revolta A canção das lágrimas Dos sonhos Que por ele navegaram Caminhos invisíveis Navegantes Poetas!... Os dias adormecem Num abraço da paz Do sol e do Mar!... Emília Mezia

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Caminhando De todos os caminhos percorridos Nos meus poucos anos já vividos Já muito vi… Muito conheci… E decidi… Mais conhecer Mais poder ver Sozinha ou acompanhada Estará certa ou errada Esta minha decisão? Quanto mais os seres conheço Sinceramente confesso Que antes quero só andar E os caminhos que pisar Me dêem satisfação. Laura Santos (Sely=poemas)

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O mar imortal de Portugal A riqueza influencia-nos como a água do mar. Quanto mais bebemos, mais sede temos. Arthur Schopenhauer Dinheiro é como água do mar: quanto mais você toma, maior é sua sede. O mesmo se aplica à fama. Arthur Schopenhauer Deve existir algo extranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar... Khalil Gibran Mar calmo e doce, ó mar altivo e régio, De tom azul-verde de bonança, Marulhar incessante d’uma esperança. Que vem beijar a praia em sortilégio! Ó mar embravecido, em sacrilégio, Fera bravia que ninguém amansa, Foi-se a pureza do olhar da criança, Tens da ruina a morte o privilegio! Mas quer em ventos calmos, benfazejos, Em ondas tão suaves como os beijos, Quer em vagas de medo, enraivecidas. És a raiz do povo desta heróica nação, Ó mar amigo, que nos dás o pão, Ó mar tirano, que nos roubas vidas! Nelson F. Carvalho


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Vida Associativa

EROTISMUS – Impulsos e Apelos, com poemas de Margarida Moreira Segundo o autor do prefácio, Miguel Almeida: “EROTISMUS – Impulsos e Apelos? Trata-se, e tratar-se-á sempre, de assumir integralmente a escrita, de corpo e alma, escrevendo acerca do corpo e da alma. Trata-se, depois, de escrever sob o pano de fundo da sensualidade e do prazer, assumidos na plenitude da sua natureza mais real e carnal. Hoje como ontem, trata-se, ainda, de lutar contra os tabus, que existem, resistem e persistem em regras demasiado restritas, presentes numa educação preconceituosa”. O livro é uma colectânea de poesias de género erótico, de 21 autores, previamente seleccionados, residentes em vários pontos do País. Para além da grande diversidade geográfica de proveniência dos autores, a diversidade etária e a diversidade de género (11 homens e 10 mulheres) era outra característica. Naturalmente que os autores aqui incluídos não escrevem apenas poesia erótica, porém concorreram a esta coletânea para esta temática precisa e que segundo o coordenador da edição, distingue claramente, sem desprimor para nenhum, entre poemas de amor e poemas pornográficos. A obra surge na sequência do sucesso do

primeiro volume que segundo o seu editor “Esfera do Caos” se afirma por si própria, uma vez que é distribuída nacionalmente pelas livrarias, comprovando a sua viabilidade pela venda generalizada ao público. Na sessão de lançamento que decorreu na livraria Bertrand – Picoas, a assistência era de gente mais nova e mais velha, porém todos bem-dispostos. Enquanto a moldura era uma imensidão de livros em todo o redor, criando um ambiente de cultura, alegria e vida, na melhor expressão Poética. Entre os autores de “Erotismus” figurava também a nossa nova associada, Margarida Moreira que estreando-se na publicação em papel da sua abundante criação poética, viu os seus poemas serem também selecionados para esta edição. O Mensageiro da Poesia esteve presente e registou este momento alto, não apenas da nossa associada, mas de exaltação da poesia, numa vertente que apesar de menos vulgar já o era muito subjacente em muitos dos escritores clássicos.


Os Nossos Poetas

26 - Mensageiro da Poesia

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Setembro/Outubro 2015

Mensagem Poética Começo desta vez por dar as boas vindas aos novos Associado(as), que encontrem aqui um cantinho harmonioso, para partilhar os seus poemas ou prosas, e conhecerem através da escrita e encontros, outros poetas que mais tarde poderá se tornar numa carinhosa Amizade, ou como costumo dizer (Família da Poesia). A minha saudação poética para os que já cá estão, meus Amigos(as) do Mensageiro. Sei que nem sempre sou entendida, por dizer família, mas é como nos consideramos grande parte de nós. Quantas e quantas vezes não conseguimos partilhar, ser apoiados e entendidos por nossa família de sangue e são os da família Amizade que nos apoia e estende a mão. Aproxima-se o Outono, de folhas caídas, mas de cores quentes… nesta altura as cores da natureza, sobretudo o Pôr do Sol, tem cores que nos transmite a magia de nos aquecer a alma, mesmo quando a temperatura vai refrescando o nosso físico. Se por um lado o Outono nos parece triste, por deixar a Natureza mais nua de suas vestes, também nos dá o seu ar nostálgico e quantas vezes nos sabe bem sentirmo-nos livres das nossas vestes e sentir apenas o doce quente de um cobertor macio que nos aconchegue e nos faz lembrar o xaile com que nossa Mãe nos protegia no seu colo nos já longínquos Outonos. Também este mês de Novembro começa com o dia que saudosa e carinhosamente ainda lembramos com mais amargura os nossos entes queridos que partiram, para outra dimensão. Se para as crianças é festejado com brincadeira e diversão alusivo ao dia das bruxas, para maioria dos adultos é uma romaria aos cemitérios onde repousam para sempre os seus familiares e amigos, enchendo por vezes com algum exagero as campas esquecidas, durante o ano inteiro, mas é o critério de cada um, deve ser respeitado e não julgado, eu costumo fazer e aconselhar, que do bouqué de flores que vai levar à campa do seu ente querido, retire uma ou duas flores, coloque em sua casa, talvez junto da fotografia do seu ente

querido, esse será um símbolo, que essa pessoa permanece junto de si partilhando o mesmo espaço no seu coração e Lar. E por fim uma palavrinha ao dia de S. Martinho, já tanta coisa foi dita e falada sobre este dia, que vou limitar-me a desejar que cada um o desfrute à sua maneira, com ou sem castanhas, água pé ou jeropiga, o que importa é que seja desfrutado com Paz, Amor e já agora alguma Poesia. Até ao próximo boletim, um abraço Poético. Manuela Lourenço

O Mar Sou esposa de um marinheiro A falar sobre o mar Passava um dia inteiro E deixava muito por contar. Quando via o meu amor Partir para terras de além mar No coração ficava a dor Até ele regressar. Ficava pensando no dia Do seu regresso ao cais E tudo isto são sinais Do meu amor pela poesia. Passei anos e anos a escrever, Uma carta para mim era um poema E sempre com o mesmo tema O que me ajudou a viver! O tema chamava-se amor Sincero e verdadeiro Aquele a que eu dou valor Bendito seja no mundo inteiro! Joana Mendes


tSer Criança

Mensageiro da Poesia - 27

Setembro/Outubro 2015

Quem sou e o que quero vir a ser Tenho um avô português E outro senegalês; A minha mãe é francesa, De origem portuguesa; Como meu pai, sou francês. Por isso, tenho razões De dizer, com altivez, Que minha família é Sociedade de Nações. Eu sou muito bronzeado, Como da cor do café, Ligeiramente torrado. Já tracei o meu destino: Eu quero ser dançarino. Muitos me dizem até Que prá dança eu sou dotado. Eu quero vir a dar brado, E estou cheio de fé! Noam Sambou

Sensação do Mar Ao mergulhar, Sinto os peixes a nadar, Pelas pernas e braços Ao navegar, Sinto a sensação das ondas, Que vão rebentar longe. Ao ir à praia, Vejo o mar como uma jóia, Com mais valor, que um diamante. Mar, mundo brilhante, Para navegar e nadar, Descobrir e sentir. Para ver animais, Corais, conchas e pedras, É muito importante, sonhar! Com o belo fundo do mar! Ana Catarina Mateus Aos 10 anos de idade

Portugal e o Mar Eu gosto muito de Portugal Aqui vou dizer o que sinto: Para mim, é um pais especial, Podem crer que eu não minto. Eu me perco admirando o mar: Todo imenso sem igual Transforma o meu falar, em amar: Sempre o meu querido Portugal. Danny Fernandes Freitas


Setembro/Outubro 2015

Meu ser evaporei na luta insana

28 - Mensageiro da Poesia

Meu ser evaporei na luta insana Do tropel de paixões que me arrastava: Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava Em mim quasi imortal a essência humana! De que inúmeros sóis a mente ufana Existência falaz me não dourava! Mas eis sucumbe Natureza escrava Ao mal, que a vida em sua origem dana. Prazeres, sócios meus, e meus tiranos! Esta alma, que sedenta em si não coube, No abismo vos sumiu dos desenganos Deus, ó Deus!... quando a morte a luz me roube, Ganhe um momento o que perderam anos, Saiba morrer o que viver não soube. Bocage, in ‘Rimas’

e-mail: mensageiropoesia@gmail.com http://.facebook.com/mensageirodapoesia.com


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