E&M_Edição 02_Maio 2018 • Made in Moçambique

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maio 2018 • ano 01 • no 2 Preço 200 mZn made in moçambique OrgulhO Ou precOnceitO? moçambique o olhar do Fmi “ApOiO nãO será retOmAdO sem esclArecimentOs” niaSSa um lOngO cAminhO que tem de ser cOnstruídO Crédito mAlpArAdO duplicOu nO últimO AnO e AgOrA? aS ContaS do moçambola O que fAltA AO nOssO futebOl pArA ser umA indústriA

6 Observação

Trânsito

Uma imagem que relembra a importância dos planos para acabar com o tráfego em Maputo 8 Radar

Panorama economia, banca, Finanças, Infraestruturas, Investimento, País, agenda 14 Macro

ENQUADRAMENTO

14 FMI Uma análise macro do representante do FMI em Moçambique, ari aisen

18 Moçambola as contas difíceis do campeonato, que se joga sem facturar 24 Nação

MADE IN MOçAMbIQUE

24 Orgulho ou preconceito? o que é preciso para a produção nacional poder fazer reerguer a economia e o orgulho da nação.

34 Na voz de... Lourenço sambo, director-geral do aPIeX fala da necessidade “de estratégia”

rovÍncIa

Niassa

Há planos para que, a província mais esquecida do país, se torne uma das mais lembradas 42 Mercado e FInanças

banca

o crédito malparado duplicou no último ano. e agora, o que se segue? 46 EMPresas

PME Print4You Uma empresa líder do segmento dos serviços de outsourcing de impressão, que trabalha com as maiores empresas nacionais

48 MegaFone

Marketing o que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora

65 ócio

66 Escape O encanto do silêncio, do Diamonds Mequifi beach, em Cabo Delgado 68 Gourmet Uma visita do Marketn on Main, em Joburg 69 Adega a arte da refinada bolha portuguesa 70 Agenda Música,livros, filmes 71 Arte Homenagem a um mestre da fotografia 72 Ao volante Koleos da Renault chega a Moçambique

50 FIgUra do MÊs

Liderança alexandra Machado, general manager da girl Move Foundation

52 SocIedade

Urbanismo a transformação da baixa está no papel, mas falta dinheiro para implementar o projecto

58 LÁ Fora África do Sul cyril ramaphosa sucedeu ao ‘odiado’ Zuma. agora, reformas económicas precisam-se

Maio 2018 3 Sumário
38 P

Made in…

estimado leitor. Esta é a segunda edição da Economia & Mercado (E&M), uma nova revista no mercado moçambicano, de publicação mensal orientada para a informação económica, empresarial e financeira, de pulicidade e lazer, pro curando também olhar e reflectir sobre a generalidade dos acontecimentos com impacto na economia e na sociedade moçambicana em geral, tal como nos referimos no editorial da primeira edição. Dedicamos nesta edição especial atenção aos produtos ‘made in Moçambique’ onde abordamos a forma como os empreendedores encaram as adversidades da actual conjuntura económica do país. Estes têm o desafio de, nos dias que cor rem e mais do que nunca, continuarem a produzir com a qualidade que faz jus ao selo que ostentam - ‘Made in Mozambique, orgulhosamente moçambicano’. Desenvolvemos outros temas com destaque para a grande entrevista com o representante do FMI em Moçambique em que analisa o panorama económico do país e olhamos ainda para as recentes mudanças políticas na África do Sul, e os enormes desafios que esse país nosso vizinho tem pela frente. A difícil situação económica em que vivemos desafia a nossa capacidade de inovar, criar e buscar soluções alternativas para a continuidade dos negócios, dos processos e serviços, ainda que a níveis modestos, bem como para a susten tabilidade das nossas famílias. Entretanto, importa mencionar as medidas que vêm sendo tomadas pelo Banco de Moçambique. Muito recentemente, considerando as perspectivas de infla ção de curto e médio prazo, e ponderados os riscos associados, o Comité de Po lítica Monetária (CPMO) decidiu reduzir a taxa de juro de política monetária, taxa MIMO, em 150 pontos base, para 16,5%; reduzir a taxa da Facilidade Per manente de Cedência (FPC) em 100 pontos base, para 18%; manter a taxa da Facilidade Permanente de Depósitos (FPD) em 12,5% e o coeficiente de Reservas Obrigatórias (RO) para os passivos em moeda nacional em 14,0%, e em moeda estrangeira em 22%.

Estas medidas denotam optimismo quanto às perspectivas do comportamen to da economia moçambicana, com base na avaliação dos indicadores econó mico-financeiros e ponderados os factores de risco por um lado, do outro esti mula os bancos comerciais a reverem em baixa as taxas de juro praticadas no mercado para tornar o custo do dinheiro mais acessível. É com este tipo de informação e abordagem que disponibilizamos a E&M, aos estimados lei tores, como um instrumento de tomada de decisão pois ‘quem lê sabe mais’.

MAIO 2018 • Nº 02

PROPRIEDADE Executive Moçambique

DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba

COnsElhO EDITORIAl

Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo

DIRECTORA EDITORIAl

GRUPO EXECUTIVE Ana Filipa Amaro

EDITOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

JORnAlIsTAs Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Elmano Madaíl; Rui Trindade; Bruno Faria Lopes

PAGInAÇÃO José Mundundo

FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio PRODUÇÃO Iona - Comunicação e Marketing, Lda (Grupo Executive)

PUBlICIDADE DEPARTAmEnTO COmERCIAl Ana Antunes (Moçambique) ana.antunes@executive-mozambique. com; iona@iona.pt/contacto@iona.pt (Portugal)

ADmInIsTRAÇÃO, REDACÇÃO

E PUBlICIDADE Executive Moçambique; Rua do Telégrafo, nº 109 – Sala 6, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com

DElEGAÇÃO Em lIsBOA Rua Filipe Folque, nº 10 J – 2º drtº,1050-113 Lisboa; Tel.:+351 213 813 566; Fax: +351 213 813 569; iona@iona.pt ImPREssÃO E ACABAmEnTO Minerva Print - Maputo - Moçambique TIRAGEm 4 500 exemplares númERO DE REGIsTO 01/GABINFO-DEPC/2018

5 Editorial Maio 2018
Iacumba Ali Aiuba Director
da revista Economia & Mercado
Maio 2018 6
observação

TrânsiTo A horA do corre-corre continuA pArAdA

As horas de ponta desenham a ponte necessária para um futuro diferente.

Ou, pelo menos, é pelo que desesperam as largas centenas de milhares de pessoas que, diariamente, sobrevivem a este cenário com um pé no acelerador, e dois no travão. Afinal, o número de automóveis está a aumentar (estima-se que existam 500 mil viaturas só em Maputo) e o crescimento populacional (dos actuais 2,2 milhões de habitantes para 3,7 milhões, em 2035) na área metropolitana não deixa via aberta à fluidez da circulação.

Nesse sentido, foi apresentado em Fevereiro, o estudo de viabilidade do projecto Automated Guideway Transit (AGT), um sistema de transporte não pilotado, cuja operação é feita com recurso a sistemas informáticos, e que se projecta que possa ser implementado em Maputo, a partir de 2023.

Ele irá abranger uma extensão de 18 quilómetros, terá capacidade prevista para transportar 112 mil passageiros por dia, e deverá ser implementado no corredor Baixa-Zimpeto em duas fases, (Baixa-Missão Roque e Missão Roque-Zimpeto).

A sua concretização final resulta de um acordo assinado em Abril de 2017, entre os governos de Moçambique e do Japão.

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MoÇAMBiQUE, ArrEdorEs dE MAPUTo, ABril dE 2018 FOTOGRAFiA Istock Photo

BANCA

sitivo na ordem de 5,5 mil mi lhões de meticais em 2017, um crescimento de 23,6%, face ao período homólogo.

dívida nacional no ano pas sado, situava-se nos 2,02 mil milhões de dólares.

Academia PME+. O universo das MPME nacionais já tem uma academia própria de formação em vários domínios da gestão de negócios.

Lançado a 19 de Abril pelo Banco Único, em parceria com a Financial Sector Deepe ning (FDS Moçambique – vol tada para a promoção da in clusão financeira), a Academia PME+ apresenta-se como um primeiro passo da solução de alguns dos principais obstácu los aos negócios deste seg mento empresarial, nomea damente o fraco domínio das técnicas de gestão e a conse quente dificuldade de acesso ao financiamento e ao melhor capital humano.

Por isso, espera-se que, atra vés de mais esta ferramen ta, as MPME possam ampliar significativamente o seu efei to multiplicador na economia, visto tratar-se do segmento com maior potencial de gera ção de postos de trabalho e por representar cerca de 98% do tecido empresarial do país.

A Academia PME+ será minis trada pela portuguesa Nova School of Business & Econo mics (Nova SBE), a mais impor tante escola de negócios em Portugal.

Direccionada a clientes (e tam bém não clientes do Banco Único), a academia é dirigida a gestores de topo das PME, quadros superiores e jovens empreendedores

Relatório e contas. O Millennium bim, anunciou, em Relatório e Contas, um resultado líquido po

O Millenium bim reconhece que “os efeitos dos choques eco nómicos” que o banco enfrentou desde 2016 “implicaram a adop ção de uma postura creditícia conservadora do sistema, com reflexos “no arrefecimento do crédito à economia ao longo de 2017”. Após anos de crescimen to, o crédito a clientes caiu assim 21,6% no ano passado, fixando-se em 61 mil milhões de meticais.

A percentagem de crédito em incumprimento sofreu com isso, e subiu de 4,04% para 5,55% em 2017, sendo que o custo de risco escalou de 188 pontos base para 262.

Distinção. O Standard Bank foi, pela terceira vez consecutiva, distinguido pela Autoridade Tri butária de Moçambique (AT) como o 2º maior contribuinte fiscal moçambicano, em 2017, na categoria do “Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Co lectivas Liquidado sobre o Lu cro”. A instituição recebeu da AT uma menção honrosa pelas suas contribuições fiscais.

FINANÇAS

Dívida externa. A China e a Ín dia alargaram de 2028 para 2033 o período de graça con cedido a Moçambique para pagar a dívida bilateral que supera os 2,2 mil milhões de dólares.

Segundo a directora-adjunta de Coordenação Institucional e Imagem do Ministério da Economia e Finanças, Stélia Neta, os períodos de amorti zação foram mantidos, bem como as taxas de juro, que são de 1,75% no caso da Chi na e de 2% no caso da Índia. A dívida de Moçambique para com a Índia era de mais de 177,3 milhões de dólares no final de 2017. Com a China, país que perdoou 34 milhões da

Negócios. As consultoras Mer germarket e Control Risks assi nalam que o risco político e as preocupações com a transpa rência são os “principais obstá culos aos negócios em África,” continente onde as fusões e aquisições desceram 26% na primeira metade de 2017, pe ríodo em que foram registadas 101 transacções que valeram 13 mil milhões de dólares, o que representa uma queda de 25% em volume comparativa mente com a segunda metade de 2016.

O maior negócio em África no ano passado foi feito precisa mente em Moçambique, com uma operação financeira no valor de 2,8 mil milhões de dólares, representada pela entrada da Exxon Mobil no capital do consórcio de explo ração de gás natural liderado pela ENI na Área 4 da Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado.

INDÚStrIA

nhecido internacionalmente e tem rendido várias dezenas de milhões de dólares em lei lões, sobretudo nos mercados orientais, sendo que o depósi to de Cabo Delgado é um dos maiores do mundo.

Concessões. A empresa aus traliana MRG Metals anunciou a aquisição de três concessões de exploração de areias pe sadas, depois de assinar um acordo com a também austra liana Sofala Resources Pty Ltd. O presidente da empresa aus traliana, Andrew Van Der Zwan afirma, em comunicado, que a empresa analisou mais de 70 possíveis negócios “tendo esta aquisição potencial para respon der aos objectivos estabelecidos.”

Rubis. A empresa australiana Mustang Resources anunciou a descoberta de um novo depósi to de rubis localizado a apenas 3 500 metros da sua unidade de processamento do projecto de Montepuez, província de Cabo Delgado, informou a empresa em comunicado. A descoberta ocorreu no decurso de uma campanha alargada de escava ção de 196 poços de exploração, efectuada na região durante o passado mês de Março . O rubi de Moçambique é reco

Linha férrea. Botsuana e Zim babué movimentaram-se nas últimas semanas para avan çar com o projecto do porto de Techobanine, Maputo.

A notícia surge na sequência de conversações inter-governamentais que, parecem dar sequên cia ao ambicioso projecto ferro viário de 1 500 quilómetros (cus to anunciado de 600 milhões de dólares), que vai ligar Francis town, no Botswana, Bulawayo, no Zimbabué, e o porto moçam bicano de Techobanine (Maputo), para promover o reforço do co mércio inter-regional.

De acordo com o memorando assi nado pelos três países, espera -se que cada um invista 200 milhões de dólares no custo do projecto.

Após a conclusão, o empreendimento facilitará o comércio através do movimento do tráfego ferroviário de passageiros e até 12 milhões de toneladas de mercadorias por ano através dos três países. “Este é um projeto que ainda está na fase inicial mas o encon tro mantido serve como uma forma de aferir como as dis cussões podem ser levadas ao próximo nível para que o

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INFrA-eStruturAS

projecto possa efectivamente iniciar-se”, disse à imprensa Gaeimelwe Goitsemang, secre tário permanente do ministro dos negócios estrangeiros do Botsuana.

Solar. Arrancam já este mês as obras de instalação da pri meira central solar em Mo çambique, na província da Zambézia, zona Centro do país. O projecto conta com financia mento garantido, no valor de 76 milhões de dólares e deve rá estar operacional no início de 2019, scontribuindo para a minimização do défice ener gético do país, actualmente estimado em 74%. A central vai ser instalada numa área total de 126 hectares, no dis trito de Mocuba.

Espera-se que a obra empre gue 200 pessoas ao longo da fase de construção.

Hidroeléctrica. A Hidroeléctri ca de Cahora Bassa anunciou um prejuízo avaliado em 1 milhão de dólares causado pela interrupção do forneci mento de energia nas regiões Centro e Norte do país e em alguns países vizinhos (Áfri ca do Sul e Zimbabué), ocorri da ao longo de alguns dias de Abril último.

O corte foi causado por uma perturbação no processo de modernização dos servido res do sistema de controlo dos grupos geradores da empresa.

Nos últimos meses, a HCB vem desenvolvendo um programa de investimentos denominado Capex Vital, que visa restabe lecer a vitalidade do sistema electroprodutor que está no limite de vida útil, adverten do, no entanto, para “even tuais falhas” que o processo possa causar aos utentes.

Porto de Maputo. A portuguesa Mota-Engil garantiu a reali zação da obra de reabilitação de um quilómetro de cais de acostagem (orçada em cerca de 60 milhões de dólares) no Porto de Maputo.

A Sociedade de Desenvolvi mento do Porto de Maputo (MPDC, sigla em inglês) anun ciou que estes trabalhos per mitirão um aumento de 40% da capacidade de carga em Maputo e de 55% da capa cidade de carga na Matola.

A sociedade que gere a in fra-estrutura registou em 2017 um aumento de 22% dos volumes manuseados, com 18,2 milhões de tonela das de carga face aos 14,9 milhões do ano anterior. Este ano, prevêm-se 22 mi lhões de toneladas de carga.

Sector privado. O Reino Unido vai disponibilizar cerca de 2 mil milhões de libras esterli nas (cerca de 171 mil milhões de meticais) para um pacote de investimento no sector privado em Moçambique, anunciou o Secretário de Es tado britânico para o Comér cio Internacional, Liam Fox. Durante um encontro das delegações de Moçambique (chefiadas pelo Presidente Fi lipe Nyusi) e da Grã Bretanha, ficou expressa a intenção de multiplicar os investimentos britânicos nas áreas do turis mo, agro-negócio, educação, gás e petróleo.

PerSPeCtIVAS De PrODuÇãO

e

PreÇO De MIlhO NA ZAMBéZIA

A BMM realizou, entre Março e Abril de 2018, um Inquérito aos pro dutores dos distritos de Alto Molócué, Gurué, Mocuba e Milange na Província da Zambézia.

O objectivo do inquérito era colher as expectativas dos produtores sobre a colheita e a sua comercialização face ao ataque da praga de funil.

Usando uma metodologia de baixo custo (convenience sampling), foi possível apurar que a praga de funil é uma praga migratória e, que deu os primeiros sinais da sua presença em Moçambique na época passada nos distritos fronteiriços (com Malawi).

Ficou evidente o alto nível de danos na região de Milange onde se espera uma queda na produção de milho. Para os restantes dis tritos visitados, a praga chegou mais tarde tendo afectado apenas o milho semeado tardiamente (princípios de Janeiro), onde pode considerar-se baixo o nível de danos e consequentemente a queda poderá não ser significativa.

No que tange aos preços, estes poderão ser afectados principal mente pelo facto da comercialização de produtos agrícolas em Milange (onde o ataque foi elevado), ser na sua maioria suportada pelos malawianos que oferecem preços ligeiramente mais altos. Este cenário pode fazer com que a preferência dos produtores para venda ao exterior aumente (quer directamente, quer por via de intermediários nacionais).

O outro factor que poderá afectar o nível de preços deste cereal é a especulação. Foi comum ouvir no seio dos comerciantes locais a ascensão no preço de milho como resultado do ataque da praga de funil mesmo não sabendo a total dimensão dos estragos.

Stock de mercadoria S exi Stente no S c omplexo S de Silo S

SofalaNhamataNda 579.397,01 15.879,39 - -

SofalaGoroNGoSa 16.546,84 - - -ZambéZiamuGema - 45.426,81 -Nampulamalema 221.222,53 82.460,82 - 160,02 -

Cabo delGadoNaNjua 1.012.573,76 7.997,60 - 45.135,24teteÚloNGuè 281.325,64 - - - 8.961,89

total/produto 1.531.668,77 715.282,24 15.879,39 45.295,26 8.961,89

Maputo, Bairro da Coop - Rua E, Nº 13

Telefone: + (258) 21902503 - (258) 843203371

Email: info@bmm.co.mz

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Complexo de SiloS prinCipaiS produtoS em (Kg) milho Feijão Boer gergelim Feijão nhemBa Soja
Fonte
BMM
Direcção de operações da
INVeStIMeNtO

Agricultura. O Banco Mundial anunciou o desembolso de 80 milhões de dólares direccio nados para o Projecto de Ir rigação e Acesso a Mercados para Agricultores, a partir de Julho deste ano, no Centro e Norte do país.

Com o desenvolvimento da irrigação, espera-se que os produtores deixem de depen der apenas da estação das chuvas para a sua actividade, passando a produzir durante todo o ano, (o que tem sido de safiador devido às mudanças climáticas). O incentivo será desembolsado ao longo de um período de seis anos e o pro jecto vai abranger uma área decerca de sete mil hectares em benefício de aproximada mente 14 mil agricultores e respectivas famílias.

Turismo. A VI edição da Feira Internacional de Turismo de Moçambique ainda não tem data marcada mas, tem já um lema definitivo: “Reflec tir sobre as tendências do mercado de viagens assim como impulsionar a criação de novos pólos turísticos, bem como o desenvolvimento dos já existentes no país”. Assim, promete-se a reflexão sobre a maximização do potencial do sector por parte da entida de organizadora do evento - o Ministério da Cultura e Turis mo através do INATUR.

Para o presente ano, o even to, que se realiza desde 2013, promete, “inovar adicionan do criatividade na maneira como os agentes turísticos ex põem os seus produtos”.

Ambiente. A Universidade Eduardo Mondlane (UEM) lançou em Abril o curso online de Adaptação às Mudanças Cli máticas, anunciado como ten do “o abjectivo de promover e facilitar o acesso ao conhe cimento sobre as medidas de adaptação a esta situação.” Esta área de conhecimento, será financiada pelo governo dos Estados Unidos de Améri ca através da USAID.

PAÍS

Salário mínimo. O rendimento mínimo nacional aumentou entre 6% e 18% na sequên cia dos acordos dos principais sindicatos com o Governo. De acordo com o secretário -geral da Confederação dos Sindicatos Independentes e Livres de Moçambique (CON SILMO), Jeremias Timana, os números acordados entre Go verno, empregadores e sindi catos em sede da Comissão Con sultiva de Trabalho, tomaram em conta a situação pouco fa vorável da economia nacional. Ainda assim, as negociações dos sindicatos para os aumen tos salariais vão continuar ao nível dos oito sectores exis tentes no país .

Actualmente, o salário míni mo mais baixo no país está fixado em 4 142 meticais para os sectores da agricultura, pecuária, caça e silvicultura e o mais elevado é de 11 897 meticais para o sector dos serviços financeiros.

Emprego. O Instituto Nacional de Emprego anunciou a cria ção de 957 mil postos de tra balho nos últimos três anos, um volume aquém do pre visto, que seriam 1,4 milhões de novos postos de trabalho para o quinquénio 2015-2019. Do total dos postos de empre go já criados, 9 mil foram re sultado da alocação de 3 200 kits de auto-emprego, iniciati va que está a ser desenvolvi da através de Parceria Públi co-Privada à escala nacional. Estes dados foram tornados públicos a 9 de Abril passado,

em Maputo, durante a reali zação da primeira reunião entre o INEP e os seus par ceiros, evento que decorreu sob o lema “Criando Sinergias para a Promoção do Emprego em Moçambique”.

Combustíveis. A Importado ra Moçambicana de Petró leos (IMOPETRO) anunciou o lançamento de um concurso público internacional para a contratação de um fornece dor de produtos petrolíferos refinados.

A previsão é de que o país importe 912 mil toneladas métricas de produtos petrolí feros, a serem descarregados nos portos de Maputo, Beira, Nacala e Pemba.

Em Moçambique, o concurso internacional para seleccio nar o fornecedor de petróleos tem lugar duas vezes por ano. Em 2017, o país importou com bustíveis líquidos no valor de 794 milhões de dólares norte -americanos, contra os 584 milhões de dólares em 2016.

Segurança alimentar. Um estu do recente (de 2017) intitulado “O custo da fome em África”, concluiu que Moçambique perde mais de 10,9% do Pro duto Interno Bruto (PIB) anual devido à desnutrição crónica. Para ajudar a superar esta realidade, o Secretariado Téc nico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN) e o Programa Mundial da Ali mentação apresentaram os resultados da análise “Preen cher a lacuna de nutrientes” que fornece recomendações do caminho a seguir.

Empreendedorismo. A segura dora Fidelidade Moçambique está a promover um concur so nacional para incentivar o empreendedorismo na área das tecnologias, através de um programa denominado “Prote chting”, que será apresentado na MozTech.

O “Protechting” é uma inicia tiva conjunta da Fidelidade Portugal e da Fosun.

EMATUM. Os 24 barcos da fro ta adquirida pela Empresa Moçambicana de Atum (EMA TUM) ancorados no Porto de Maputo, poderão operar a partir deste ano, através da Tunamar, uma empresa criada pela EMATUM e pela Frontier Services Group, empresa do norte-ameri cano Erik Prince (fundador da Blackwater, empresa de segurança privada norte -americana). Ao avançar com esta informação, em Abril passado, o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário não especificou para que fim serão utilizadas as embar cações, nem os pormenores financeiros da operação.

AgeNDA

CE-CPLP. Realiza-se a 9 e 10 de Maio, em Maputo, a “1ª Confe rência Económica do Merca do CPLP”. A Confederação Em presarial da CPLP (CE-CPLP) organiza esta conferência para abordar “a caracteri zação do mercado e a criação de grupos de trabalho para as áreas do reconhecimen to e mobilidade profissional, harmonização das relações fiscais; e a constituição de um Centro de Arbitragem.”

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Quem põe o guizo ao gato

numa das suas fábulas o escritor francês Jean de La Fontaine (1621-1695) conta que os ratos decidiram em assembleia pôr um guizo no pescoço do gato, o eterno inimigo. Assim, quando o gato se aproximasse, eles fugiriam a tempo de não serem apanhados. Um rato velho, calado durante toda discussão, endossou o pla no, mas fez uma pergunta que tornou-se famosa: quem vai pôr o guizo no pescoço do gato? Assim a expressão “quem vai pôr o guizo no gato?” ficou consa grada como aquele que em prol do bem comum, mesmo diante de um risco pessoal, procura evitar que este continue a apanhar todos de surpresa.

O mercado Moçambicano é constituído por vários circuitos económicos e também por vários intervenientes, o Estado como regulador, os grandes investimentos em recursos natu rais, e por fim a economia doméstica, maioritariamente domi nada pelas Micro Pequenas e Médias Empresas, portanto cada segmento constitui um circuito com interesses próprios e com enorme potencial na contribuição para o crescimento do mer cado nacional. E é assim, no contexto da economia Moçambica na que a analogia com o Gato representa o risco do mercado. A frustração nestes circuitos económicos em fóruns de discus são sobre os desafios do mercado são evidentes, e a pergunta que não quer calar é quem vai pôr o Guizo no Gato. Sob o ponto de vista estrutural, quem tem poder e instrumen tos para estruturar o mercado é o regulador, através de re formas contínuas de políticas pro desenvolvimento, incluindo as que estimulam o Financiamento Directo Estrangeiro e o de senvolvimento de infraestruturas através de PPP’s. Com mais de 40 anos de independência, a economia Moçam bicana foi mais uma vez posta à prova através do contexto das dívidas ocultas e ficou claro que a contribuição externa de mais de 50% sobre o Orçamento do Estado não só é críti ca, bem como foi o factor determinante para a tornar frágil. A falta da resiliência da economia, expõe também a fragilida de institucional, o que claramente leva a concluir que a con tribuição do Estado na resolução dos problemas do mercado ainda está longe de ser alcançada.

Por outro lado temos os grandes investimentos de exploração de recursos naturais, que identificam Moçambique como um dos seus mercados para operar, onde esperam que os custos dos factores de produção (e de fazer negócio) sejam mais com petitivos, como os custos de distribuição, de matéria-prima, de energia eléctrica, de mão-de-obra local, de água, etc.

O Mercado Moçambicano, compete com mais 53 países africa nos para atrair estes investimentos, onde na maioria destes os problemas encontrados são similares, sendo a diferença, na forma como cada Estado lida com os problemas, o que constitui uma vantagem comparativa na atracção destes investimentos. No caso de Moçambique, o acesso à matéria-prima e a sua po sição geográfica face aos principais mercados internacionais é uma vantagem comparativa, o que tem atraído diversos investimentos.

Portanto os problemas do mercado podem encontrar solução se estes investimentos comprarem os seus bens e serviços lo calmente, onde a consolidação do volume de compras locais, é suficiente para criar uma massa critica que vai viabilizar a cadeia de valor na economia Moçambicana.

Por fim, temos a economia doméstica, dominada pelas MPME’s, com vários desafios em como sair da sua extrema dependên cia, tendo como único cliente o Estado, que no contexto actual em que está, não consegue cumprir com os seus deveres con tratuais, no pagamento de bens e serviços fornecidos, uma das razões para a situação de falência em que a maioria das empresas se encontra.

As MPME’S são hoje, factores incontornavelmente determi nantes para as economias de todo o mundo em desenvolvi mento, e no caso de Moçambique, as ligações entre estes e os grandes investimentos, representarão um enorme potencial de desenvolvimento do mercado, o que possibilitará a que os grandes investimentos através das compras locais possam servir de factor catalisador, na criação da cadeia de valores de processamento de matéria-prima (industrialização), so bretudo no sector de agro-processamento que estimula o crescimento da MPME’s moçambicanas.

Os problemas do mercado podem encontrar solução se estes investimentos comprarem os seus bens e serviços localmente, onde a consolidação do volume de compras locais é suficiente para criar uma massa crítica que vai viabilizar a cadeia de valor na economia Moçambicana

OPINIÃO Maio 2018 12

Macro

O FMI reitera que só voltará a prestar apoio financeiro após “o devido esclarecimento do processo das dívidas ocultas”. No entanto, deixa um elogio ao “esforço” do Governo na realização de reformas importantes para a consolidação orçamental e melhoria do ambiente de negócios

cumprem-se neste mês de maio, dois anos sobre a suspensão do financiamen to a Moçambique do Fundo Monetário Internacional (FMI). Consequência desse facto, o Banco Mundial, o G-14, (grupo dos países que financiavam o Orçamento do Estado, à época liderado por Portugal), e o Reino Unido suspenderam a ajuda a Moçambique. De lá para cá, é o que sabe mos, o país tornou-se no mais endividado em África (122% do PIB) e classificado pe las agências de rating como estando “em incumprimento restrito”. Recentemente, a missão anual do FMI em Moçambique apresentou a sua análise sobre estágio actual da economia mo çambicana – “fortemente ‘sacudida’ pela crise nos últimos anos, mas já demons trando sinais de alguma recuperação.” . O relatório lembra que tudo terá co meçado com “a queda nos preços das commodities e as condições climáticas adversas”, situação que “piorou após a divulgação de empréstimos ocultos na primavera de 2016 e o consequente con gelamento do apoio dos doadores e do FMI”, pode ler-se. Depois, reconhece-se que a políti ca monetária ajudou “a estabilizar a taxa de câmbio e a reduzir a inflação”, mas ainda assim, entende o FMI, a po lítica fiscal ainda é “muito frouxa”, e prejudicial ao pleno desenvolvimento de um sector privado, necessário ao crescimento económico como porven tura nunca antes, na história do país. Assim, o momento parece ideal para um ponto da situação, em que para lá de um balanço dos avanços entretanto alcan çados, não se esquecem os obstáculos ainda por ultrapassar na busca pela es tabilização económica. Numa entrevista exclusiva à E&M, Ari Aisen, represen tante-residente do FMI em Moçambique, analisa o estado da arte da economia na cional e releva a “importância de uma cooperação estreita e saudável com o Governo”, com a intenção comum de aju dar a promover a estabilidade macroe conómica “o mais brevemente possível”.

A retoma macroeconómica divide opiniões: o Banco Central é mais opti mista, a Economist Intelligence Unit, por exemplo, não. Qual a visão do FMI considerando todos os pressupostos actuais de recuperação e os riscos conjunturais ainda prevalecentes? Há dois ingredientes fundamentais nes sa questão: estabilidade interna e ex terna. De ponto de vista da balança de pagamentos (todas as relações económi cas do país com o exterior) e de contas externas, houve estabilização, daí que o ajustamento foi importante para restau rar as contas externas. As exportações também cresceram, influenciadas pelo aumento da produção e preço do carvão. Na parte doméstica, a política monetária e fiscal um pouco mais fortes também promoveram o ajustamento macroeco nómico. Houve redução da inflação e o nível actual tenderá a estar em torno dos 5% em termos anuais. E o país está a crescer na casa dos 3,5% a 4%. Para uma economia que tem crescido em torno de 7%, o nível actual é muito modesto, mes mo em função do crescimento demográ

13,4

mil milhões de dÓlARes

É o valor todal da dívida pública de MoçaMbique. avaliada actualMente eM 124%, É uMa dez Mais elevadas do Mundo, eM percentageM do pib portugal, são toMÉ e cabo verde estão taMbÉM nesta lista

fico que se antevê para os próximos anos Então, não dá para dizer que o país está completamente estável no sentido amplo, quando não está a crescer muito, tem riscos fiscais ainda elevados (o Governo continua a cumular défices que têm de ser financiados) e numa situação em que o stock da dívida é insustentável. O país ainda tem indicadores importantes que não estão estabilizados e que não per mitem concluir de maneira inequívoca que a estabilidade voltou.

Ao nível da concessão de crédito, como observa as medidas que têm vindo a ser tomadas pelo Banco Central?

Achamos importante que a política mo netária tenha sido muito agressiva e haja espaço para reduzir as taxas de juro porque o crédito privado está a re duzir (10% ao ano). Para que isso aconte ça, sugerimos uma mudança na combi nação entre política fiscal e monetária. Assim, a monetária poderia tornar-se um pouco mais branda com redução de juros e a política fiscal deveria também consolidar-se, no sentido de que a despe sa corrente reduza para apoiar a redu ção de juros pelo Banco Central. O alar gamento da base tributária é condição indispensável para a retoma.

A Autoridade Tributária tem levado a cabo esforços para cobrir o défice orçamental que se agudizou com a suspensão do apoio externo, como a fiscalização das unidades económicas porta-a-porta, a selagem de bebidas e tabaco, ou um aperto à fiscalização nas empresas. Na percepção do FMI, até que ponto estas medidas são de facto eficazes?

O ajuste fiscal tem dois lados: o da receita e o da despesa. Do lado da despesa (mas sa salarial, compra de bens e serviços diversos) ainda existe pressão sobre a área fiscal. Algum esforço foi feito com a eliminação de benefícios para funcio nários públicos; eliminação de subsídios gerais (não específicos para os que mais

Maio 2018 14
“É difícil prever quando retomaremos o programa de apoio financeiro a moçambique”

precisam, que são as classes mais po bres); e estas decisões foram corajosas. Mas, infelizmente, muita despesa públi ca ainda poderia, e deveria ser reduzi da porque talvez não esteja a contribuir tanto para a economia nacional sobretu do porque acaba por resultar em taxas de juro muito elevadas que limitam o acesso ao crédito para a iniciativa priva da, que precisa de estímulos para poder expandir os seus negócios.

Quando fala em isenções refere-se a subsídios?

Há diversas fórmulas para estabelecer isenções ao Imposto sobre o Valor Acres centado (IVA) e outros impostos, algumas mais justificadas do que outras. E o argu mento que, em geral, se coloca para as estabelecer é que as isenções promo vem investimento. Na nossa opinião, é questionável este argumento, até pelo que vemos em outros países. Os inves tidores, em geral, têm muitos elementos que ponderam para fazer investimentos e contribuir para a actividade económi ca, como as perspectivas a médio-prazo, a estabilidade macroeconómica, ou o bom ambiente de negócios.

Há ainda muitas dúvidas sobre o pa pel do FMI em Moçambique. A insti tuição deve ser entendida como par ceira do Governo ou um conselheiro em determinadas reformas?

Até ao final de 2015 e início de 2016, quando foi suspenso o programa de financiamen to devido à situação das dívidas ocultas, o nosso papel era um pouco mais claro e óbvio porque tínhamos metas acordadas. Houve financiamento externo que o FMI concedeu ao país (direccionado às re servas internacionais em moeda exter na, geralmente em dólares que serve para realizar transacções com o resto do mundo através do Banco Central) que deixou de ser concedido. Esse desembol so financeiro decorria à luz do chamado Standby Credit Facility (SCF). Mas havia outro programa que não era financeiro, denominado Policy Support Instrument (PSI). Agora não temos nenhum progra ma conjunto nem financeiro nem não financeiro. Então a relação que temos é igual à que existe com todos os 189 paí ses membros do FMI – que é o direito de uma consulta de Artigo 4, que acontece a cada dois anos e que de agora em diante será anual. Na missão de Artigo 4, o FMI

A taxa de câmbio desvalorizou de forma acentuada ao longo de 2016, elevando os custos de importação e conduzindo a um aumento geral de preços. Com a estabilização cambial, a tendência inflacionária abrandou

Maio 2018 15
Set
Abr 2017 Set
Abr
Abr 2016
2016
2017
2018 (1) 65,40 80,32 52,26 61,87 59,74 7,33 15,29 22,13 19,78 10,56
câmbios ajudaram inflação a acalmar
(1) Previsão fonte Ine , Banco de Moçambique
FMI mantém estatudo de observador da economia nacional: “Continuamos a cooperar com o Governo de Moçambique”, diz Ari Aisen Câmbio Mt/USD taxa de inflação

Macro

analisaa economia, discute com o Governo, e divulga um relatório em que deixa re comendações. Neste tipo de relação nós somos parceiros, mas não há quaisquer compromissos do Governo acordados com o FMI.

Quando prevê que o FMI volte a apoiar o crescimento e o desenvolvi mento económico do país?

Creio que é importante esclarecer que, apesar de tudo, o FMI nunca parou de trabalhar com Moçambique. Como disse, temos um relacionamento de Artigo 4. Mas além disso, temos um vasto progra ma de assistência técnica para a Autori dade Tributária, o Instituto Nacional de Estatística, o Ministério da Economia e Fi nanças e o Banco Central. Temos consul tores-residentes nestas instituições que contribuem para que elas se fortaleçam. Porque o nosso compromisso com o país é de muito longo prazo.

Com a Procuradoria Geral da Repú blica (PGR) a investigar o processo das dívidas ocultas, pergunto-lhe se está dependente da conclusão do processo a retoma do programa de apoio à eco nomia nacional?

O processo judicial é uma decisão sobe rana do país e nós não podemos condi cionar um programa à finalização desse processo. Por outro lado, em termos de transparência, é importante entender onde os recursos oriundos desses em préstimos foram utilizados. Isso dá-me a oportunidade de notar que o Gover no já está a implantar um plano de ac ções com diversas medidas positivas em vários aspectos. Por exemplo: novos decretos que foram emitidos no fim do ano passado sobre como garantias de dí vidas podem ou deveriam ser emitidas, ou a lei do sector empresarial do Estado. Isso vai definir o novo marco legal para operações de empresas do sector público e talvez impedir a ocorrência de novos escândalos como este.

Na sua opinião, essas mudanças são suficientes para o FMI e outros par ceiros voltarem aos programas de apoio financeiro? E isso poderá acon tecer, mesmo que não sejam aponta dos culpados no processo de contrata ção das dívidas?

Como disse, a responsabilização de indi víduos particulares é uma decisão sobe rana de uma instituição soberana que é a PGR. O mais importante de tudo é a apropriação, por parte de Moçambique

Os INdICAdOres dA eCONOMIA NACIONAl

Se, por um lado, a boa notícia é que o défice da conta corrente externa continuou a diminuir em 2017, influenciada pelo boom nas exportações mineiras, pela tendência de contração nas importações de serviços de megaprojectos, e igualmente pelo influxo pontual de renda associado ao imposto extraordinário sobre ganhos de capital proveniente da venda da participação da ENI no campo de gás natural de Coral South para a Exxon Mobil; já do lado da dívida a situação permanece “perigosa” pois o stock da dívida do sector público em relação ao PIB mantém-se na casa dos 120% do PIB real. Assim, escreve a equipa de análise

do FMI, “as perspectiva continuam desafiadoras”, deixando um alerta para “a urgência de novas ações políticas, porque se espera que o crescimento do PIB real diminua ainda mais nos próximos anos, enquanto a inflação permanecerá nos níveis actuais. O déficit fiscal irá expandir-se (devido aos pagamentos da obrigação da dívida), levando a uma maior acumulação de dívida pública e a uma crescente exposição do sector privado, especialmente dos bancos ao governo que, combinada com altas taxas de juros, cria potenciais vulnerabilidades macrofinanceiras”, pode ler-se no relatório emitido em Março deste ano.

CresCIMeNtO reAl dO PIB CONtINuA leNtO (1) 2018 2016

O FMI prevê que o crescimento real do PIB não vá além dos 3%, dando sequência à tendência de abrandamento sentida desde 2016. A equipa de analistas do FMI atribui a quebra “ao aumento do défice público” e às medidas para fortalecimento do sector privado “não estarem ainda a produzir os devidos efeitos na economia.”

ÍNdICe de PreçOs dO CONsuMIdOr 2016 2017 (1) 2018

desPesA PúBlICA 2016 2017 (1) 2018

3

2017 3,7 3,8

dÍvIdA PúBlICA exterNA

em % do PIB em % do PIB em % do PIB

PIB (NOMINAl)

2016 2017 (1) 2018

21,1 7,2 6,5

32,4 32,1 30,9

689 802 875

em milhares de milhões de dólares em milhares de milhões de dólares em milhares de milhões de dólares em milhares de milhões de meticais

CONtA COrreNte exterNA

2016

2017

2016 2016

2017 2017

(1) 2018 (1) 2018

(1) 2018

reservAs lÍquIdAs INterNACIONAIs

10 065 1 753

11 395 2 297

-4 424

-2 039

13 413 2 573

-2 424 (1) Previsão Para o Ano Corrente fonte: fMI

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“O FMI entende que, se as lacunas de informação ainda não forem transparentes, é difícil retomar o apoio financeiro no quadro de um programa, porque há uma grande quantidade de dinheiro cujo destino é desconhecido”

das políticas que quer adoptar. Portugal, por exemplo, fez demonstração de gran des apropriações no programa com o FMI. Parece que quanto maior a apropriação das medidas, maior a facilidade com que os governos podem implementá-las por que reconhecem a necessidade de as fa zer, não para agradar qualquer agente interno ou externo, mas às expectativas de médio-prazdo de toda a sua popula ção. Digo isso porque quando se coloca a pergunta sobre “se é suficiente ou não”, essa apropriação está questionada. O FMI entende que, se as lacunas de infor mação não forem ultrapassadas, é difícil retomar o apoio financeiro no quadro de um programa como o que foi interrom pido porque há uma grande quantidade de dinheiro cujo destino é desconhecido. E seria importante um compromisso para que a transparência na utilização de recursos públicos se manifeste para toda a população, algo até muito mais im portante do que para o FMI. Mas, para responder directamente, é difícil saber quando é que o programa de apoio, finan ceiro ou não, poderá ser implementado. Vai depender do desenvolvimento dos acontecimentos. Particularmente gosto de Moçambique, e torço para que as coi sas sigam para uma direcção favorável. É um desejo pessoal e institucional.

Olhando a essa tal perspectiva mais institucional, Moçambique terá feito, porventura mais, em termos da sua estrutura administrativa e legal nos últimos dois anos graças a uma série de medidas que nunca tinha tomado antes, e que teve de assumir quando deixou de ter apoio dos parceiros ex ternos. O que nos leva a questionar sobre como poderão evoluir as formas de apoio ao desenvolvimento econó mico: irão, um dia, continuar a entrar nas contas do Orçamento do Estado ou destinar-se-ão cada vez mais a insti tuições de promoção do desenvolvi mento, e projectos específicos?

Há muitos trabalhos de economia políti ca que oferecem uma visão bastante cla ra de que as crises são bem-vindas, no sentido de que oferecem oportunidades de reformas que, em tempos normais de mudança, não têm incentivos para se realizarem. Ou seja, se está tudo bem, ninguém ‘mexe no jogo’. Assim, e de for ma muito clara, o nosso desejo é que a crise que Moçambique enfrenta ofere ça uma oportunidade única para o país, independentemente da intervenção dos doadores e do próprio FMI. É nosso desejo que, por si próprio, o país possa apren der com o que ocorreu e, obviamente, tomar uma nova direcção. O abranda

mento económico ofereceu, creio que isso é um facto, uma oportunidade real de Moçambique definir até, qual deverá ser o papel dos parceiros e agentes ex ternos do país daqui para frente.

Fica a ideia de que o FMI não quer “deixar cair” Moçambique. Porquê? Terá isso a ver com o que está em jogo no futuro do país?

O FMI não quer que nenhum país mem bro “caia” e faz grande esforço para que as relações se mantenham boas e as possibilidades de assistência, sejam de que formato forem, continuem sempre a existir.

O FMI tem ‘má fama’ em muitos paí ses e por vezes nota-se a politização da forma como se olha para a institui ção: quem é de direita gosta e quem é de esquerda não. Porque é que isso acontece? Terá a ver com o timing em que por norma surge, no contexto da vida económica dos países em que intervém?

É uma pergunta interessante essa (sor ri). Bem, quando o bombeiro chega para apagar as chamas, o que acontece em muitas situações, é que logo após as cha mas baixarem ele é confundido com o próprio fogo e as suas consequências nefastas. Esta metáfora serve para ex plicar exactamente a questão que me coloca. Quando a situação é de facto mui to negativa e os governos requisitam a nossa presença, obviamente que é fácil estabelecer-se uma ligação entre esse apoio que concedemos, as medidas que propomos, e as consequências ou resul tados desse processo que, infelizmente, provoca efeitos indesejáveis. Na maio ria das vezes, directamente relaciona das com a vida diária das pessoas que são quem mais sofre durante as crises. Sabemos que isso acontece, e posso dizer que tem sido feito um grande esfoço in terno de repensar o engajamento, e fo car muito a questão nos efeitos destas políticas. Acredito que evoluímos em relação ao que éramos no passado, e parece-me que esse é um processo na tural. Porque no fundo, queremos conti nuar a melhorar a nossa imagem para que os países membros do FMI se sintam orgulhosos do papel que a instituição lhes pode prestar.

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&
FOtOgrAFIA
tExtO pedro cativelos
celso chambisso
Jay garrido

O futebol é hoje uma indústria de biliões, a nível global. De espectadores, dólares e euros. Em Moçambique, a escala é diferente e o Moçambola tem-se visto assolado por problemas financeiros que afectam clubes, Federação e patrocinadores. A E&M foi tentar perceber o que falta ao futebol nacional para ser uma força produtiva na economia

seria bom que fosse possível revelar quanto dinheiro movimenta o futebol em Moçambique. De forma cabal e explí cita. Como acontece no mundo empresa rial, com um balanço de investimentos, receitas, despesas, e eventuais lucros. Mas, esse exercício ou, porque falamos de futebol, concretizar esta jogada em golo, é bem mais complicado do que o que parece.

À semelhança do que acontece no con texto onde o futebol é rei, e movimen ta milhares de milhões de dólares. Como em Inglaterra, onde se disputa o campeonato mais valioso do mundo, a Premier League que vale (para a Sky e a BT Sport que garantiram três anos de direitos exclusivos de transmissão dos jogos, entre 2019 e 2022) cerca de 6,3 mil milhões de dólares, uma soma a que se chega com base no valor de merca

do dos futebolistas que participam no campeonato, nas audiências globais ge radas, e na competitividade da própria Liga, conhecida pela imprevisibilidade dos resultados em cada jornada (uma das excepções aconteceu este ano, com a vitória do City de Guardiola, detido pelo sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan dos Emiratos Árabes Unidos que já investiu 1200 milhões de dólares desde que com prou o clube, em 2008). Ali, este exemplo, é a excepção que confirma a regra. O fu tebol é um manjar apetecível, a grandes investidores externos, e os principais clubes (e nao só), são detidos por grandes empresas multinacionais. Porquê? Bem. Porque o palco mediático é glo bal, e a competição tem um modelo bem definido de partilha das tais re ceitas televisivas por todos os com petidores do campeonato, que rece

1,2

milhões de dólares

É o orçamento para organizar a temporada do moçambola. mas o que se conseguiu para a presente temporada está em torno dos 500 mil dólares. o resto fica por mobilizar atravÉs da consecução de novas parcerias

Maio 2018 18
MACRO
Crise, desordem e oportunidades perdidas. eis a eConomia do futebol naCional

bem a sua fatia anual, de acordo com a posição alcançada no ano anterior. Depois, as contas são claras e ajudam, elas próprias, a gerar interesse em torno da grandeza do campeonato. E do futebol. Visibilidade é o que se procura, e quanto maior presença nos media, melhor para a competição, e seus participantes. Já em Moçambique, os clubes fecham-se. Não revelam os valores que movimen tam, o que porventura tem a ver com a falta de um trabalho de base que per mita levantar dados económicos sobre o Moçambola e os seus intervenientes. É o próprio presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF), Alberto Simango Júnior quem alerta para esta realidade.

Ainda assim, assegura que “o futebol tem evoluído muito na componente económica e é hoje uma indústria aqui tal como em vários países no mundo”. Para argumentar o poder que o futebol tem de gerar riqueza, o presidente da FMF refere que, de há alguns anos a esta parte, “o campeonato nacional tem es tado a atrair futebolistas e treinadores estrangeiros e a colocar jogadores na cionais em mercados mais competitivos, o que não se consegue sem que se tenha visibilidade.“

Para Alberto Simango Júnior, “o cresci mento do interesse dos empresários em agenciar futebolistas e de firmar con tratos com clubes de campeonatos como o da África do Sul, Portugal, França, re sulta do desenvolvimento da consciên cia de que o futebol dá dinheiro”. E dá de diversas formas, prossegue. “Directa e indirectamente, o futebol emprega e põe pão à mesa de muitas famílias. É hoje praticamente impossível imaginar a vida sem o futebol (joga-se durante 10 meses no ano e nenhuma outra modali dade faz isso)”, justifica.

as contas do moçambola Já o presidente da Liga Moçambicana de Futebol (LMF) apresenta duas faces contrárias da realidade, em relação à economia que é gerada e circula pelo fu tebol: “Sabemos que há realidades muito díspares. Tenho informações de que há clubes que pagam aos treinadores até 800 mil meticais por mês, e jogadores que auferem 60 a 70 mil meticais men salmente. Mas a realidade do nosso fu tebol também indica que há outros trei nadores que ganham 60 mil meticais e jogadores que ganham entre 5 e 10 mil meticais” revelou, reconhecendo que não há informação transparente sobre o

O DEsEnhO DO FinAnciAMEntO DO MOçAMbOlA

Passe

Existem duas fontes de receita para a Liga Moçambicana de Futebol (LMF) entidade responsável pela organização do campeonato nacional – o Moçambola

cruzamento

Se os patrocinadores detêm a maior comparticipação no orçamento do Moçambola, já os clubes pagam a chamada jóia de participação e a inspecção para participarem no campeonato

Remate

Na época em curso, houve sete empresas que não entraram com patrocínios ou apoios ao campeonato nacional, o que dificultou as contas da organização e dos clubes.O problema vem na sequência do que se passou na época anterior, em que existiam compromissos de 158 milhões de meticais, dos quais apenas 44 milhões entraram nos confres da organização da prova

Goloooo

Mas nem todos os patrocínios são pecuniários. Se a ZAP, por exemplo, paga o direito das transmissões televisivas, (120 milhões de meticais no ano passado) entidades como a Aeroportos de Moçambique, por exemplo, realizam descontos nas taxas de embarque.

Já a companhia Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) também oferece descontos nas passagens aéreas dos clubes

valor que é movimentado, porque os clu bes não partilham a informação. Por se tratar de uma actividade que so brevive, em mais de 80%, dos fundos de patrocínios, drenados para as entidades organizadoras dos campeonatos e para os clubes, é por aqui que iremos centrar a abordagem da economia do futebol nas suas diversas vertentes.

Uma pesquisa da E&M junto de vários actores importantes da “família futebol”, concluiu que a acção empresarial é mui to fraca e isso traduz-se no fluxo limita do de recursos que a modalidade gera e faz circular em relação ao potencial que pode ser produzido, tendo-se tornado unânime a ideia de que o investimento das empresas no futebol em Moçambi que não gera retorno. Ele existe apenas por “boa vontade” das empresas.

O jornalista desportivo Sérgio Marcos, membro da Comissão de Imprensa da Confederação Africana de Futebol (CAF) e com larga experiência no acompa nhamento de campeonatos de futebol a nível interno, em África e no mundo, con firma esta ideia.

Ele revela que “nunca houve acção em presarial no desporto, no sentido de or ganizar espectáculos desportivos para que as empresas anunciantes vejam interesse em associar as suas marcas a esses espectáculos, buscando espa ço para que possam valorizar as suas marcas e acções de marketing”, explica.

E prossegue: “Os dirigentes desportivos limitam-se a organizar as competições, gerem os calendários e aguardam que o público compareça, que os patrocinado res adiram e que haja alguma cobertu ra pela comunicação social”.

E para o jornalista, isto não chega, por que o que deveria acontecer, “seria uma acção organizada seguindo passos e pa drões que vão ao encontro da estratégia de comunicação e visão de mercado de determinada empresa anunciante.”

Nada do que aqui se fala, se trata de “inventar a roda”, ou a bola no caso. Sérgio Marcos dá o exemplo da África do Sul, onde os maiores patrocinadores (Gru po ABSA, Vodacom, Sasol) se envolvem no futebol pelo facto de o espectáculo ser organizado para acomodar a expo sição e criar a apetência dessas marcas. Mas porque em Moçambique não é as sim, “as empresas não veem valor ne nhum em se associarem a estas compe tições, logo, o patrocínio que aparece não é empresarial, mas sim de apoio. Ou seja, as empresas que apoiam o desporto não estão à espera de retornos dessa inter

Maio 2018 19

venção. É o papel do gestor desportivo orientar a organização do espectáculo para a satisfação do anunciante, e esse deve ser um contínuo exercício de cria tividade e de estudo do mercado.” O especialista lamenta ainda a ausência dos requisitos na construção da atmosfe ra apropriada de ponto de vista empre sarial em Moçambique, nomeadamente estádios cheios, posição das câmaras em pontos tecnicamente apropriados para dar o melhor panorama do jogo e da dis posição dos patrocínios nos estádios e a consciência de que o principal aliado de um espectáculo de futebol, hoje em dia, é a televisão. “Em Moçambique ainda não percebemos isso e continuamos a cons truir estádios sem posição para câmaras e com poucas condições para os parcei ros de media, e para os adeptos”, critica.

investimento precisa-se No entanto, o problema é mais compli cado do que parece. Para haver inves timento, tem de melhorar a organização, que irá permitir mais público e acima de tudo mais patrocinadores. Mas para que isso aconteça, é preciso mais inves timento. Ananias Couana, presidente da Liga Moçambicana de Futebol (LMF), a entidade organizadora do Moçambola tem noção das limitações do campeona to nacional. E atribui o facto de a orga nização não ser feita de modo adequado a exponenciar a atenção dos potenciais patrocinadores “às limitações financei ras existentes. As condições que se nos oferecem não dão a possibilidade de fa zer além do que se consegue realizar. Por exemplo, os clubes ou a LMF pode riam ter um spot publicitário na comu nicação social que diz que há um derby neste sábado, mas não temos condições para isso. Não há uma linha no orçamen to que esteja direcionada às despesas com marketing”, explica Ananias Couana. Para este dirigente, “se o futebol pode ser considerado um veículo catalisador da economia, mesmo que não esteja em igualdade de circunstâncias com as ou tras actividades, precisa de uma políti ca clara em termos de investimentos, à semelhança do que sucede no futebol da África do Sul, Quénia, entre outros países africanos.

Em Moçambique não temos essa política e vamos funcionando graças à boa von tade das empresas, particularmente do gestor de topo dessas empresas, porque se este não gosta de futebol, é livre de retirar o apoio da sua matriz de priori dades. Para mim não faz sentido que em

PAtROcíniOs cAíRAM...

Abrandamento económico teve impacto na estratégia dos patrocinadores, que deixaram de financiar o Moçambola. Outros reduziram significativamente as injecções financeiras para o futebol

presas como a Mozal, a Sasol, Anadarko e outras de grande dimensão não apoia rem o futebol, que é uma actividade que cria emprego formal e informal, e dina miza a economia”, critica o presidente da LMF.

Crise reduziu patrocínios

A falta de retorno do futebol nacio nal (patrocínios reduziram seis vezes nos últimos dois anos) tem abalado o Moçambola.

Clubes sobrevivem das contribuições dos sponsors. O Moçambola tem 500 mil dólares dos 2 milhões de que precisa, e os patrocinadores não se chegam à frente

Porque a economia abrandou, e as em presas patrocinadoras tiveram de re dimensionar as suas prioridades, sendo que as regras de austeridade (e da boa gestão) mandam cortar onde não haja retorno evidente. No contacto com os clubes, torna-se evidente a falta de nú meros concretos, mas generaliza-se o discurso das dificuldades de tesouraria. “Estamos numa fase má da economia. Tínhamos quatro principais patrocina dores e ficamos com a penas um, o BCI, que patrocina a equipa sénior feminina de basquetebol. Tínhamos a Mcel, MPDC, Petromoc, que deixaram de patrocinar o clube”, lamenta o presidente do Ferro viário de Maputo, Sancho Quipiço. “Sentimos a crise. Até 2014, o Costa do Sol tinha quatro parceiros fortes, dos quais dois saíram (um dos quais a Mcel) um re duziu o apoio financeiro em 40% (o BCI), o que levou a que o apoio global caísse na ordem de quase 50%”, revelou Amosse Chicualacuala, presidente do Costa do Sol. Actuamente, é a Electricidade de Mo çambique o patrocinador principal, que mantém o apoio que cobre 75% das ne cessidades do clube.

E porque é preciso levar avante as com petições, os clubes desdobram-se na busca de alternativas. O Ferroviário de Maputo, por exemplo, anda em busca de parceiros para investir e rentabilizar o espaço exterior do estádio da Machava, na província de Maputo.

Já o Costa do Sol viu-se obrigado a iden tificar novos patrocinadores que entra ram com apoio directo ao futebol. Casos da Matola Gas Company ou da Gigawatt. Graças a estes apoios, o clube conse gue pagar salários aos profissionais e subsídios aos atletas não profissionais, além de contratar jogadores estran geiros (da Nigéria, Libéria ou Malawi). Uma outra importante fonte de receita, é a bilheteira.

Ou deveria ser. Grosso modo, e de acor do com o que apurámos junto dos clubes, tem gerado prejuízos, porque a adesão de espectadores é fraca e não cobre

Maio 2018 20
500 mil dólares
80% 20% Patrocínios
2016 158,2 2017 107,5 2018 26,9 em milhões de meticais fonte Liga Moçambicana de futebol
...E As FOntEs nãO DivERsiFicARAM fonte Liga Moçambicana de futebol outras receitas
M
ACRO

os custos com a organização dos jogos. Segundo o presidente da LMF, a Empre sa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), Electricidade de Moçambique (EDM) e Mcel estão entre as empresas que dei xaram de patrocinar a prova.

O resultado é que dos 1,2 milhões de dólares necessários para a realização de um campeonato, a LMF arrancou a nova época dispondo de apenas 500 mil dólares.

O mais grave é que esta situação gera incumprimento de pagamentos, sobre tudo com passagens aéreas na deslo cação das equipas. Grave, ao ponto de a continuidade da competição na presen te época, à semelhança das três edições anteriores, estar fortemente ameaçada. O campeonato acabou por ser interrom pido nas primeiras semanas do mês pas sado, por tempo indeterminado, por cau sa da dívida que a LMF contraiu junto à LAM com passagens aéreas das equipas. agenciamento de jogadores ainda não é devidamente aproveitado No entanto, dentro do negócio futebol há segmentos que até nem precisam de muito para serem lucrativos. Quem não ouviu falar de Jorge Mendes, super -agente que apostou, no início do século num jovem de 17 anos chamado Cristiano Ronaldo e o levou ao topo do mundo. E há muitos outros que fazem do agenciamen to de jogadores um negócio extrema mente rentável, até em países africanos com tradição na ‘produção’ de craques da bola, casos da Nigéria, Gana ou a Costa do Marfim, mercados que alimentam as ligas francesa, belga, e holandesa, como porta de entrada europeia nas maiores ligas como a Premier Inglesa, ou a La Liga, de Espanha.

E se, atentos ao potencial do mercado nacional, já existem em Moçambique as escolas de formação do Benfica, (abriu em 2017 e já conta com 200 jovens) e até uma Academia do Real Madrid, no sentido inverso, de Moçambique para o mundo, são ainda poucos os empresá rios nacionais a apostarem nesta ver tente da formação e ‘exportação’ de ta lentos’ nacionais. E até podiam fazê-lo, utilizando a Liga Portuguesa para tal. Um dos poucos que seguiu esse caminho

é Jonas Nhaca, director da Futesportmoz, uma empresa de prospecção de talentos no futebol moçambicano, quer nos clubes quer no futebol dos bairros. A ideia é sim ples de explicar. Detectar talento, e levá -los ao profissionalismo, primeiro a nível interno, e depois internacionalmente. Nhaca considera que há uma certa “ce gueira da classe empresarial em olhar para o futebol como oportunidade de negócio, porque não há muita expectati va em termos do retorno que isso possa geral, visto que uma aposta feste género não dá resultados imediatos.”

Pela qualidade dos recursos, não será. Moçambique “produziu” talentos que fi caram na história do futebol, como Eusé bio, ou Coluna.

Mais recentemente, exemplos de mo Dívida com a lAM provocou a interrupção do Moçambola na sétima jornada. Depois de uma semana de paragem, a liga decidiu que as equipas passam a viajar de autocarro, solução de recurso que permitiu que a competição retomasse

çambicanos que renderam fortunas a empresários com a sua venda para o exterior incluem Mexer (França), Zaina dine Júnior (Portugal), Dominguês (Áfri ca do Sul). Mas têm sido as excepções. As tais que confirmam uma regra difícil de aceitar. Até porque, para o empresá rio, jovens de qualidade e talento para o futebol é algo que não falta um pouco por todo o Moçambique.

Isto, assinala, “a avaliar pelo potencial individual de jogadores que vemos nos bairros periféricos de todo o país, e que observamos no próprio Moçambola. Só que esta teria de ser uma aposta feita a pensar no longo prazo. Se olharmos para tudo isto com responsabilidade, podemos ter bom retorno num horizonte de cinco a dez anos e entendo que isso para mui tos, pode ser tempo demasiado”, sublinha o empresário. “Mas, compensa.”

Maio 2018 21
Alberto simango Júnior: “Apesar das dificuldades, o futebol é o pão de muitas famílias”
tExtO Celso Chambisso FOtOgrAFiA Jay Garrido

Números em conta

EUA-MoçAMbiqUE , o coMércio vAi dE vEnto EM popA

as trocas comerciais entre Moçam bique e os Estados Unidos cresceram para 325,5 milhões de dólares em 2017, de acordo com os últimos dados do Census Bureau dos EUA, que recolhe a informação de todos os parceiros co merciais norte-americanos. Assim, o volume de trocas comerciais apresenta um percentual de 26,24 aci ma do total do comércio no ano anterior. Se olharmos ao desempenho das im portações oriundas dos Estados Unidos, verificamos um aumento de 22,45%. Já do lado das exportações nacionais com destino ao mercado norte-americano, elas cresceram 31,26%, sendo que Mo çambique ficou no 126º lugar entre o

total dos parceiros comerciais dos Estados Unidos durante o período actual (no mesmo período há um ano, ficou em 139º).

No entanto, a balança comercial entre am bos os mercados é deficitária em 34,39 mi lhões de dólares, uma tendência que, nos últimos anos tem estado a inverter-se, fruto do aumento de saídas de metais e pedras preciosas.

Analisando os produtos do trade Moçambi que-EUA, as cinco principais importações em valor até Dezembro passado (50,8 % do total) aconteceram nas categorias de produtos petrolíferos e hidrocarbonetos ga sosos; compressores e bombas; trigo; e ae ronaves civis (nomeadamente peças), e ti veram como principais destinos, portos (na

sua maioria) e alguns aeroportos dos EUA (ver infografia).

Do lado dos produtos exportados, pedras preciosas (nomeadamente rúbis de Mon tepuez), titânio, castanha de caju, coco, tabaco, frutas e nozes, minérios (areias pe sadas), e até artesanato, constam da lista dos produtos mais vendidos por Moçam bique aos Estados Unidos. Na sua maio ria (os produzidos ou manufacturados em território nacional) eles saíram do país ao abrigo do AGOA, que permite o acesso de aproximadamente 7 000 posições pautais de produtos diversos, originários de países da África Subsariana dos quais se destacam produtos agrícolas, pesqueiros, químicos e equipamento de transporte.

2

novA iorqUE

Trade: 51 milhões de dólares

Variação: +65,78%

Importações: 6 milhões de dólares

MiAMi

Trade: 28 milhões de dólares

Variação: +346,2%

5

wyomiNg idaho oregaN

Importações: 15 milhões de dólares Exportações: 13 milhões de dólares Variação: + 8 794,3%

caliForNia

Exportações: 45 milhões de dólares

Variação: +93,98

Nevada utah colorado kaNsas oklahoma

New mexico arizoNa

4

MobilE

Trade: 30 milhões de dólares

Variação: +3,15%

Importações: N/A

Exportações: 30 milhões Variação: + 3,71%

HoUston

Trade: 66 milhões de dólares

Variação: -3,3%

Importações: 58milhões de dólares

Exportações: 8 milhões de dólares

Variação: - 56,24%

wiscoNsiN iNdiaNa ohio

illiNois

washiNgtoN moNtaNa missouri arkaNsas mississipi georgia

Newyork

peNNsylvaNia New jersey delaware marylaNd virgiNia west virgiNia

North caroliNa teNNessee

south caroliNa

Florida

3

novA orlEãEs

Trade: 39 milhões de dólares

Variação: + 5,57%,

Importações: 37 milhões

Exportações: 2 milhões de dólares

Variação: + 303,2%

Maio 2018 22
maiNe keNtucky alabama michigaN texas lousiaNa
3 1 4 2
1
5

179 000 000 dE dólArEs

Valor das importações provenientes dos Estados Unidos aumentou 22,45%

325 000 000

dE dólArEs

moçambique

O deficit da balança comercial entre Moçambique e Estados Unidos

Foi o valor final das trocas comerciais entre Moçambique e Estados Unidos, em 2017 maputo

O lugar de Moçambique entre os parceiros comerciais dos Estados Unidos

As exportações de Moçambique aumentaram 31,26% ao longo de 2017

O quE VEndEmOs…

Pedras preciosas, minérios de titânio coco, castanha do Brasil e de caju, cana, açúcar de beterraba, e derivados de petróleo respondem por 92,16% de todas as exportações para os EUA 64,8 30,2 22.3 9,17 7,61

em milhões de dólares

… E O quE ImpOrTámOs

145 600 000 dE dólArEs 34 390 000 dE dólArEs 126º

Para lá do petróleo e derivados, que lideram a lista das compras, óleo de soja, cacau e motores, são alguns dos itens que pesam nesta lista

em milhões de dólares

pedras preciosas minérios de titânio coco, castanha do brasil, castanha de caju cana, açúcar de beterraba óleos 37,7

produtos de petróleo gases de pretróleo, outros hidrocarbonetos gasosos compressores e bombas aviões civis (peças)

trigo

20,1 13,5 10,1 9,93

VAriAções fAce A 2016 foNte: census Bureau dos eUA, UstDA - U.s trade and Development Agency

Maio 2018 23
gaza iNhambaNe ma N ica soFala tete zambézia Nampula Niassa cabo delgado

Made in MoçaMbique orgulho ou preconceito?

O que falta para que hajam mais produtos nacionais, em quantidade e qualidade, e como é que o conteúdo local pode ser efectivo nos grandes projectos. Ou como colocar as PME a subirem de patamar, melhorando o ambiente de negócios para então, voltar ao começo e fazer aumentar a captação de investimento reinvestindo na economia nacional. É este o caminho para fazer crescer o orgulho e a confiança de que o que é nacional, pode ser mesmo bom

o que é feito em moçambique padece de um mal comum, noutros países. Luciano Pavarotti, um dos maiores teno res de todos os tempos, costumava dizer que “só havia um sítio no mundo inteiro”, onde ele não era considerado o melhor: em Modena, Itália, a sua terra natal. Por aqui se vê que, gostar mais do que vem de longe, do que aquilo que temos perto todos os dias, é um comportamento humano, e não apenas um mal nacional. E os divórcios estão aí para o provar. Ao nível dos países, também é assim. Nos últimos anos, o branding de uma nação tornou-se um negócio bilionário mas nem sempre ele foi feito por agências. Exemplos, mais ou menos famosos não faltam ao longo da história: desde a pri meira pessoa que chamou a Israel de ‘a terra prometida’; ou aos Estados Unidos de ‘a terra da oportunidade’, passan do pelo viking ‘Erik, o vermelho’, que nomeou um grande bloco de gelo como

‘Greeneland’ (a terra verde). na esperan ça de atrair mais colonos para lá. Sem querer, Milton Glaser inventou o fa moso “I love NY’ impresso num bilião de t’shirts; e mais de propósito uma agência de publicidade de Las Vegas ‘determi nou’ que o que ‘acontece em Vegas”, fica mesmo em Vegas.

O mundo foi sempre mudando, mas a nossa percepção dele, ainda mais. Hoje, na era globalizada onde todos querem conquistar o seu lugar, pequenas al deias, vilas, cidades, regiões e até países estão cada vez mais ávidos pela respos ta à questão: o que faz uma nação ser uma nação?

Sabendo que todos os países foram cons truídos em torno de algum tipo de ideia ou ideal, mas olhando para eles como se de marcas (que precisam de interagir com outras, atrair visitantes, investido res, ou mediatismo) se tratassem, eles precisam de uma forma de identidade

considerada única, mesmo que tenha apenas alguns salpicos de verdade e outros tantos de muito exagero. E é cla ro que é por isso que quem está perto, e conhece a realidade por inteiro, não se deixa, na maior parte das vezes, seduzir por esta ideia.

Claro que, pelo meio, há a economia. Se na América, o que é americano é o melhor, na China acontece o contrário. Mas ambos têm na indústria (e nos seus vários segmentos) o motivo de serem as duas maiores economias do mundo.

Mas, há outros exemplos: como a Co reia do Sul onde estão as mundial mente reconhecidas (porventura até mais que o país) Samsung e Hyundai. E até Espanha, um país fortemente in dustrializado, onde o orgulho nacio nal (numa nação fortemente dividida pelo regionalismo) foi construído em torno dos produtos ‘made in España’, e em que, até certos aspectos culturais,

Maio 2018 24
Nação
Made in MoçaMbique
Maio 2018 25

PrOduçãO cOncEntrada

indústria MExE POucO

o ano passado mostrou as exportações a crescer mais que as importações. no entanto, a tendência é alavancada pelos mega projectos e não por melhor desempenho da manufactura

em % de crescimento face ao ano anterior em % de crescimento face ao ano anterior

alumínio e o carvão tiveram um grande ano e são responsávels por quase 70% das exportações. Madeira, camarão, lagosta, banana, algodão e coco (outros) não chegam aos 200 milhões carvão mineral barras e perfis de alumínio

4,1 mil milhões de dólares

Volume total de exportações em 2017 cresceu 27% devido ao carvão

de tão fortes que eram, como o flamenco ou as touradas foram exportados para o mundo, como símbolos mais visíveis de uma determinada identidade. Ninguém melhor que a economia para saber cavalgar estas ondas, e muitas vezes até é ela própria, a sua causadora. Até porque tudo é, afinal, economia. Olhando a Moçambique, o saldo entre o orgulho e o preconceito do que é feito em território nacional, é ainda diminuto. Acima de tudo, porque o que se faz, é ain da muito pouco.

iMPOrtaçõEs (totais)

-2,5 -37,5

27,9

18,1

ExPOrtaçõEs (totais) 13,7 2,9

Nas economias em desenvolvimento e emergentes, (incluindo a China), o va lor médio adicionado pela indústria de transformação ao PIB tem aumentado consistentemente na última década, atingindo em média os 21% (de acordo com um relatório da Unido. das Nações Unidas de 2017).

-32,5 -7,9 -40,5

iMPOrtaçõEs (excluindo mega-projectos)

ExPOrtaçõEs (excluindo mega-projectos) 7,5 3,3 7,3

2016 2017 2018 (1)

idE dOs grandEs PrOjEctOs dá frutOs

Gráfico mostra que o ide injectado nos grandes projectos começa a dar frutos, mas expõe a fragilidade do sector transformador à falta de investimento

Por cá, a indústria transformadora (aquela que pode colocar a tal etiqueta que quase nunca vemos, com a inscri ção ‘made in Moçambique’) representa apenas 8,6% do PIB nacional, e até caiu no ano passado.

Para além disso, a quase totalidade desse valor, advém dos chamados mega-projec tos (com a Mozal e HCB à cabeça, sem es quecer os cimentos, ou as petroquímicas). Sobram os tais produtos de consumo ‘made in Moçambique’ que, todos jun tos, não valerão hoje de acordo com as nossas contas, mais do que 1,5% a 2% do PIB (qualquer coisa como 250 milhões de dólares).

o que falta ao conteúdo local Com a difusão das grandes empresas multinacionais por todo o globo, tornouse evidente a necessidade de reduzir custos em importações, o que impulsionou o desenvolvimento industrial, e mudou a direcção dos investimentos para produção local, de modo a abastecer o próprio mercado. Em Moçambique, o modelo de desenvolvimento económico seguido foi impulsionado por fluxos de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) direccionados aos megaprojectos de indústria (alumínio, energia) e do sector extractivo (carvão, gás e areias pesadas).

São várias, as vozes que já alertaram para este problema que, se por um lado fez entrar grandes volumes de capital na economia fazendo-a crescer, por outro, não é de todo o mais indicado para a motivar a desenvolver-se. Se projectos como estes podem promover o intercâmbio com o estrangeiro, e o aumento do número de postos de emprego

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MoçaMbique
Nação Made in
energia eléctrica gás natural tabaco areias pesadas outros 1 377 1 250 402,3 369,3 200,3 196,5 222,5
(1) previsão para o ano de 2018 FONTE APIEX; Banco de Moçambique, FMI 2000 2010 2005 2013 2016 2018 (1) 139,2 107,9 1017 6 175 3 100 1 000 1 200 1 300
indústria Transformadora indústria extractiva
em milhares de milhões de dólares

imagem ainda pouco vista: a integração de quadros nacionais nos grandes projectos será, em breve, transposta para lei

e do volume de receitas em impostos, assim como a possibilidade de promoção de firmas locais, nomeadamente as PME. no mercado, muito há ainda por fazer a este respeito.

A começar pela tão propalada questão do conteúdo local, ao qual falta “capacidade técnica, humana, financeira, e algum desconhecimento (em muitos casos) dos requisitos de qualidade e calendarização.”

São os próprios agentes quem assume serem estes, os principais factores que reprimem a participação das empresas nacionais nos mega-projectos. “Não basta que as empresas nacionais demostrem a ambição de prestar serviços às multinacionais. É preciso que, numa primeira fase, sejam dotadas de uma boa estrutura

técnica e capacidade de produzir em grande escala para além de previamente se prestarem a satisfazer o consumo doméstico, antes do industrial”, aponta o economista Thomas Selemane, à E&M. Há também estudos desenvolvidos ao longo dos últimos anos, que comprovam esta ideia, multiplicada por inúmeros documentos publicados pelo Instituto dos Estudos Sociais e Económicos (IESE) e até pelo Mozambique Support Program for Economic and Enterprise Development (programa SPEED) e que falam “das poucas oportunidades que são concedidas às empresas nacionais nos mega-projectos devido às fragilidades que elas apresentam.”

Na proposta de lei do conteúdo local que

deficiências na gestão de grande parte das PME nacionais impedem-nas de trabalhar com as multinacionais. É por isso que muitas delas estão a optar pela certificação

vem, de há muito, a ser discutida, pode ler-se que “nos termos contratuais, as empresas multinacionais que operam na área mineira e de hidrocarbonetos têm a obrigação de privilegiar a con tratação da mão-de-obra moçambica na. Sendo que o recurso à mão-de-obra estrangeira só deve acontecer depois de esgotada a busca de trabalhadores nacionais qualificados. Para o efeito, as empresas devem comunicar com o Governo através do Ministério que su perintende a sua área. Na fase de pros pecção e pesquisa, as empresas podem contratar até 40% de trabalhadores estrangeiros do número total da força de trabalho necessária. Nas fases de desenvolvimento e exploração os limi tes vão de 30% a 20%, respectivamente, nos primeiros cinco anos. Depois de cinco anos, a quota é fixada em 10%.” E para lá da mão-de-obra, há também quotas indicadoras para o que deverá ser produzido e utilizado em Moçambique.

Maio 2018 28
Made
MoçaMbique
Nação
in

No entanto, a estratégia peca pelo lado da oferta, como confirma um estudo do ano passado, da Fundação Friedrich -Ebert, sobre “Indústria Extractiva em Moçambique - Perspectivas para o de senvolvimento do país”, que revelava que “continua a prevalecer a escassez de mão-de-obra altamente qualifica da para a indústria extractiva assim como para outras áreas que exijam uma tecnologia de ponta”. Nas suas conclusões, pode ainda ler -se que “a baixa qualificação é um dos grandes factores que contribui para a fraca competitividade das empresas nacionais”.

Assim, com ou sem lei, a participação das PME nacionais é vista como “um enorme desafio, na medida em que ainda não existem claramente ligações empresa riais entre os mega-projectos e as PME”. Porém, o estudo justifica que, “as empre sas nacionais, carecem de incentivos tais como de crédito barato, isenções fiscais, e redução de impostos para poderem responder com qualidade às exigências que os grandes projectos da indústria extractiva lhes impõem.”

Voltando a Selemane, o economista deixa uma pergunta comum a muitos dos que pensam Moçambique de forma integra da: “porque temos tanta terra arável, um enorme potencial hidrográfico, mas não conseguimos produzir a nossa pró pria comida? E como é que as empresas vão conseguir produzir alface e tomate para fornecer os mega-projectos quando nem conseguem satisfazer o consumo in terno”, questiona. Recorrendo a um estu do feito em 2013, ele explica que olhando às multinacionais que operam na explo ração de carvão na província de Tete, “das 17 empresas que prestavam servi ços e bens para elas, apenas duas eram nacionais, sendo uma de escavação e ou tra de transporte.”

Para a Câmara de Comércio de Moçam bique (CCM), que serve de elo de ligação do empresariado nacional com as em presas estrangeiras, o problema está na “falta de políticas de incentivo e de protecção das empresas nacionais para que estas possam trabalhar com as mul tinacionais”. E é por isso que, de acordo com o consultor da CCM, Salimo Hanifo, as empresas “partem sempre em des vantagem para poder participar nos mega-projectos, dada a falta de prepa ração para lidarem com as exigências das multinacionais. Não existe no país essa política efectiva que possa a ser im plementada de forma a que o conteúdo

Os sEctOrEs na EcOnOMia…

local seja efectivamente levado a sério”, defende o consultor, à E&M.

8,3

indústria transfOrMadOra OutrOs

8,6 62,5

agricultura

Extractivas 20,9

… E cOMO cOntribuiraM Para O crEsciMEntO

Performance das extractivas foi decisivo para o crescimento do Pib

em % de contribuição para o PIB de 2017 em % do crescimento do PIB

-0,8 4,2 32,4

agricultura continua a ser maior contribuinte do Pib nacional Transformadora agricultura extractivas

a importância da certificação No entanto, esta tendência apresenta al guns traços de mudança nos últimos dois anos, em que já existem mais PME que estão a trabalhar com multinacionais, em áreas como a consultoria, ou o for necimento de bens e serviços, casos da First Metical, da MB Consulting, da GMSC, ou da Transcrane, Mas há mais a chegar. Nesse sentido, há um ramo de negócio que tem vindo a crescer: a certificação. Só nos últimos 18 meses, o número de empresas certificadas quase que duplicou, em Moçambique, especial mente através da norma ‘ISO 9001’ que certifica os sistemas de gestão de qualidade. Através do INNOQ, institu to estatal que regulamenta o sector, percebemos que “a certificação de pro dutos e serviços agrega valor às marcas e facilita a introdução de novos produ tos no mercado. Tecnicamente, garante a conformidade, qualidade e segurança, elevando o nível de produtos e serviços, reduzindo perdas e melhorando a ges tão de todo o processo produtivo.”

0,8%

Foi quanto caiu o sector da indústria transFormadora em 2018. com um peso de 8,6% na criação de riqueza nacional, tem perdido terreno para a indústria extractiva que, alavancada pelo aumento da exportação de carvão, Foi a a que mais cresceu ao longo do ano passado

Célia Vieira, executive-manager da Si gwise - soluções integradas de gestão, é uma das pessoas que melhor conhece os mecanismos da certificação no mercado nacional. Para ela “é absolutamente deci siva a necessidade de aumentar os níveis e qualidade de procedimentos de gestão das empresas nacionais. Isso tem vindo a ser feito por muitas das empresas que têm maior capacidade para implemen tar sistemas de gestão certificados em áreas como a construção, a indústira das águas, ou a logística por exemplo”, assinala. No entanto, diz, “há ainda mui tas dificuldades, que passam pela pre paração dos quadros ao nível da gestão, do enquadramento da actividade, e dos objectivos das empresas”, complementa. No entanto, não deixa de assinalar que “se cada vez mais PME querem de facto entrar nos grandes projectos que estão por vir, nomeadamente na área de ‘oil and gas’, necessitarão cada vez mais de estar certificados, pois é isso que vai ser exigido pelas grandes multinacionais e, de forma geral, ainda há um longo cami nho pela frente a este respeito.”

Selemane, vai mais longe, e diz mes mo que “seria um verdadeiro milagre se as empresas nacionais o conseguis sem, uma vez que a distância ainda é muita, entre o que é nacional, e o que não é. Não basta demostrarem vontade

Maio 2018 29
FONTE Banco de Moçambique

Nação

fraco, situando-o abaixo dos 10%, percen tagem considerada “insuficiente” para a Confederação das Associações Econó micas de Moçambique (CTA), “tomando em consideração que qualquer contrato, subcontrato ou licença de prestação de bens e serviços na indústria nacional deveria incluir uma percentagem mí nima de participação nacional de 25%”, defende Florival Mucave, Presidente da Comissão de Conteúdo Nacional e Liga ções Empresariais e também Vice-presi dente do Pelouro dos Recursos Minerais, Hidrocarbonetos e Energia na CTA.

Perde-se assim a hipótese de limar as arestasqueferem acapacidadedeatingir um efeito multiplicador que faça crescer a tão falada cadeia de valores da indústria extractiva com o impacto de sejado ao nível dos mercados locais. Contactadas pela E&M, Andarko, Vale, e Sasol entenderam não ser o momento adequado para dar a conhecer as suas posições sobre o tema.

contexto difícil

de cooperar com as multinacionais, é preciso que haja competências e capa cidade produtiva para lidarem com os projectos de grande envergadura”, diz. No entanto, e de acordo com um relatório do SPEED sobre políticas do desenvolvi mento do conteúdo local, “essas razões são várias e muitas vezes, também não dependem só das empresas nacionais: “até ao momento, as empresas estrangei ras que operam no país, não partilham de forma sistemática os seus planos de aquisição e estimativas de compras de bens e serviços, requisitos e necessida des de emprego, normas e classes de bens e serviços a adquirir, bem como anúncios de concursos. Esta informação assimétrica resulta na incapacidade das empresas locais em competir de forma justa, devido à ausência de um conjunto de informações que lhes permita ajustar o seu comportamento empresarial face ao mercado”, justifica o SPEED. E há ou tros estudos que apontam a ligação en tre o sector empresarial nacional com as multinacionais como sendo “considerada

Salimo Hanifo ,ConS

Como vemos, a vida não é fácil para as empresas nacionais. Especialmente as que pretendem ser produtivas. Num pa norama composto principalmente por micro-empresas, na sua maioria com pouco desenvolvimento tecnológico (in dústria metálica, química, construção, produtos e serviços industriais, silvicul tura, sectores de produção de papel e embalagens, têxtil e alimentar). A indús tria encara inúmeros desafios que vão da concorrência com a importação da África do Sul, à deficiente rede de distri buição de energia. Depois, há a questão do financiamento, e das taxas de juro de masiadamente elevadas, mesmo quando os produtos financeiros são desenhados para o efeito. Resta-lhes o capital priva do, uma solução que, com o reordena mento do apoio à economia, destinado a projectos (em vez de para o Orçamento de Estado) está a ganhar espaço.

A Global Impact Investing Network (GIIN) descreve Moçambique relativamente ao investimento de impacto, como “uma área de pouca actividade mas de abun dante potencial”, nomeadamente na agricultura, e na pequena indústria. E depois, é claro, que todo o ecossistema empresarial não tem sido favorável para as empresas que operam na economia nacional. O tão falado ambiente de negó cios, que é “dispendioso e bastante buro crático”. É o que se lê no relatório “Doing Business” do Banco Mundial, ano após ano. Dos dez indicadores analisados sobre a

Maio 2018 30
Made in MoçaMbique
u l t ro
mCCad
“aS empreSaS naCionaiS partem Sempre em deSvantagem para poder participar nos megaprojectos, dada a falta de preparação para lidarem com as exigências das multinacionais”
Empresas nacionais ainda só participam em cerca de 10% de todos os grandes projectos

actividade económica, Moçambique tem perdido posições praticamente em todos eles, estando agora em número 138, de entre 190 economias avaliadas.

E com a quebra do apoio por parte dos doadores, e a redução do IDE dos últimos anos, esta surge como uma das questões mais importantes para serem resolvidas.

É por isso que existe um Conselho de Mo nitoria do Ambiente de Negócios (CMAN), dirigido pelo primeiro-ministro e par ticipado por representantes do sector privado, que já levaram a cabo algumas medidas, no sentido da redução dos pro cedimentos de abertura de empresas, clarificação da exigência do depósito do capital social e protecção de sócios mino ritários ou até, noutro contexto, a apro vação da medida de concessão dos vistos de fronteira.

Mas, as mudanças não ficam por aqui, como explica à E&M o director-nacional de Apoio ao Desenvolvimento do Sector Privado, Nicolau Sululo, um dos responsá veis pela coordenação da EMAN III (20182023), a estratégia nacional de melhoria

É a posição da economia moçambicana no ranking doing business que avalia a Facilidade de Fazer negócios. o governo já começou a implementar medidas para a simpliFicação de procedimentos de atribuição de licenças para o exercício da actividade económica, e a revisão do código comercial, e do registo predial. mas ainda Faltam muito para chegar aos 100 primeiros

138do ambiente de negócios e do diálogo com o sector privado. “Estamos a prepa rar um conjunto de medidas que vão da revisão do Còdigo Comercial aos registos prediais, passando pela criação de uma central de garantias mobiliárias, e a in trodução de serviços de mediação no Tri bunal de Maputo, como forma de reduzir o tempo de resolução dos litígios comer ciais. Olhamos cada vez com mais aten ção para o ranking do Doing Business e estamos apostados em melhorar os prin cipais indicadores de desempenho do país. Devo também dizer que nesta es tratégia que entrará em vigor, quando aprovada, no segundo semestre do ano, também está contida a proposta de lei do conteúdo nacional, como um instru mento legal para equilibrar as empre sas nacionais e as estrangeiras naquilo que devem ser os seus espaços de co laboração dentro de um quadro de de veres e direitos”, explica o responsável. Até lá, as empresas vão fazendo o seu trabalho. E se olharmos à conjuntura actual, a verdade é que há algumas que

ação

parecem sobrepor-se a tudo, e apre sentar bons produtos, e excelentes resultados.

Made in... aqui mesmo

Em meados da década passada, foi lan çado o selo ‘Orgulho Moçambicano - Made in Mozambique’. No início, a ex pectativa era grande, mas com o pas sar dos anos, perdeu o embalo inicial. No entanto, para Ivone Macuácua, coor denadora do departamento para promo ção dos produtos nacionais, inserido na Direcção Nacional de Indústria, “há uma vontade renovada de avivar este pro jecto”, diz à E&M. “Já com o cumprimen to dos novos requisitos de acordo com a legislação em vigor, posso dizer que há de novo um crescente interesse das em presas em aderirem.”

Da listagem das empresas que usam o selo ‘Made in Mozambique’, as mais recentes são a Coca-Cola, a EnviroServ Wast Management e a Limak Cimentos. Juntam-se assim às quase 400 que já os tentam o selo nas suas embalagens ou portfolios de apresentações ao mercado. E há outros bons exemplos que podem ajudar a levantar o orgulho no que é nacional. A Bongani Cigars é um deles. Quando ouvimos falar de charutos, pensamos em cubanos ou dominicanos. Mas, e moçambicanos?! Seria algo que daria, há dois anos, para uma boa gar galhada, pensar que este produto de luxo habitualmente enrolado à mão (en tre as coxas de uma cubana) começou a passar pelas mãos de uma equipa de mulheres moçambicanas, em plena bai xa da capital, perto da 25 de Setembro. É ali a unidade de produção dos Bongani Cigars, um produto premium moçambi cano, actualmente vendido em vários pontos da SADC (de Nairobi a Joanesbur go, até Luanda).

O homem por detrás do fumo é Kamal Moukheiber, um antigo banqueiro de investimentos há já alguns anos em Mo çambique. “Bongani é uma palavra que significa gratidão, em zulu. E é isso que sinto em relação a Moçambique”, expli ca, sem esconder o orgulho por conse guir colocar como moçambicano, “o pri meiro charuto de luxo em toda a África.” Kamal agradece os elogios públicos feitos pelo próprio presidente, Filipe Nyusi. Mas a inspiração inicial, foi outra: “África não tem a tradição de se apresen tar ao mundo com produtos transforma dos, ainda por cima premium, direcciona dos aos mercados ricos. Estamos sempre nesta visão das matérias-primas como

Havendo ainda poucos produtos nacionais, alguns deles são marcantes e já contribuem para a diversificação económica. dos charutos à cerveja, passando pelo piri-piri e pelos crocodilos

identificadoras de todo um continente. É preciso mudar esse paradigma”,assinala. Assim, aquela que seria uma desvanta gem, foi transformada precisamente no oposto. “Li um dia a biografia de Robert Mondavi, o homem que estabeleceu as primeiras vinhas de alta qualidade nos Estados Unidos. Ele levou sementes dos melhores vinhedos franceses e semeou -as em Napa Valley, na Califórnia”. Isso aconteceu numa altura em que os vinhos franceses eram considerados os únicos que valiam a pena beber. Só que depois de Mondavi, tudo mudou, e o ve lho mundo, teve de prestar homenagem aos vinhos do novo mundo, da Califórnia, à África do Sul, ou à Nova Zelândia. E é esse o paradigma que este empresário nascido no líbano está a implementar, aqui mesmo em Moçambique. “O país já é um forte produtor de tabaco, mes mo a nível da região. Limitei-me a aproveitar um bom produto que já existe, contratei pessoas das maiores marcas de charutos no mundo para virem dar formação durante vários meses, e acrescentei à qualidade do produto aquilo que tinha,da minha ex

periência profissional de muitos anos: a gestão, o criação de uma marca com conteúdo e uma imagem de referência, e a identificação de mercados alvo com crescimento económico e target especí fico para este produto que está feito de acordo com os padrões de qualidade do que há de melhor em todo o mundo”, conta. A receita, parece simples mas requer tempo para se apurar. No entanto outras marcas, produtos e empresas há no mercado que já o fazem, e que são, claramente diferenciadoras. Ou quem não tem orgulho na 2M ou na Laurentina Preta, no Café do Niassa, no Frango Nacional ou no Piri-Piri semeado em Marracuene que abastece a cadeia multinacional Nando’s. Ou até na criação de crocodilos de Manuel Guimarães, que a partir da Beira, serve algumas das maiores marcas da moda internacional. São tudo modas, é preciso é criar a nossa, e ter orgulho nela.

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N
Made in MoçaMbique
TexTo Pedro Cativelos & Hermenegildo langa foToGrafia istoCk PHoto fábrica de capulana na nigéria: um dos grandes símbolos nacionais, não tem ainda uma indústria nacional

“É preciso uma estratÉgia”

Lourenço sambo Director-geral da APIEX Agência para a Promoção de Investimento e Exportações

Um caminho claro e de finido, para fazer aumentar a produção interna. Ou a estratégia que muitos pedem, para actuar sobre o conteúdo local, en quanto forma de estimu lar o empresariado nacional, salvaguardando toda a cadeia de valores e respectivos be nefícios económicos que daí advirão.

Criado em 2016, fruto da extin ção de três instituições (Cen tro de Promoção de Inves timentos-CPI, Gabinete das Zonas Económicas de Desen volvimento Acelerado - GAZE DA e Instituto para a Promo ção de Exportações - IPEX), o APIEX tem duas grandes mis sões: a fazer aumentar as ex portações, e abrir a porta ao Investimento Directo Estran geiro (IDE) fundamental para a transferência de tecnologia e instalação de uma verdadei ra rede transformadora no país. E não apenas de grandes indústrias ou mega-projectos. Em entrevista exclusiva à E&M, Lourenço Sambo fala da importância de criar uma verdadeira lógica de produ ção ‘made in Moçambique’.

Qual é, para si, a importân cia de fazer aumentar as exportações, num quadro em que o investimento ex terno reduziu sobremanei ra nos últimos três anos?

É fundamental! E é por isso que estamos a construir uma estratégia de promoção de in vestimentos que vai determi nar os próximos anos, a esse nível.

Promover exportações de ve, necessariamente, im plicar níveis elevados de produção interna com stan dard de qualidade competi tivos. Moçambique apresen ta algum défice a este nível. Será que existe uma matriz de produtos de exportação satisfatórios para as neces sidades da economia?

Os principais aspectos que in fluenciam a competitivida de das exportações no país incluem falta de capital, li mitada capacidade de adi cionar valor aos produtos; fraca modernização das téc nicas e práticas agrícolas, in suficiente desenvolvimento do capital humano ou má or ganização e coordenação das

EXPOrTAr TODA A GrAFITE, TODO O GáS, E TODOS OS OuTrOS rECurSOS MINErAIS Ou AGríCOLAS DE QuE DISPOMOS SEM TEr CAPACIDADE DE TrANSFOrMAçãO DE Sub-PrODuTOS QuE DEPOIS, AINDA POr CIMA VAMOS TEr DE IMPOrTAr, É uM CrIME ECONóMICO A LONGO PrAZO

cadeias de valor, o que resul ta numa insuficiente diversifi cação das nossas exportações. Primeiro, o país precisa en tão de aumentar o valor dos seus produtos para poder au mentar a competitividade das exportações.

E como se chega aí?

Vamos falar em dois níveis: o macro e micro. No primeiro, estamos a falar de projectos públicos, e aí é nossa tarefa (do APIEX) promover investimen tos que o Orçamento do Esta do não financia e que entram por via de parcerias público -privadas. Nesse sentido te mos um Programa Integrado de Investimento Público que actualizamos de três em três meses. Quanto ao nível mi cro, recebemos mensalmente empresários que têm projec tos de investimento. Fazemos o mapeamento, trabalhamos com a própria CTA, com as Câ maras do Comércio e com todo sector privado. E também re cebemos intenções de inves timento vindas do exterior. Ainda agora estamos a ir para a China com um mapa de pro jectos concretos identificados,

Na voz de... Maio 2018 34
MADE IN MoçAMbIquE
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A LOGíSTICA É uMA DAS GrANDES NECESSIDADES DE uMA ECONOMIA QuE SE QuEr EXPANDIr, MAS AO QuAL FALTAM INFrA ESTruTurAS DE bASE

A China, que é um crónico investidor em África, tem alterado a sua lógica de in vestimentos. Como é que isso se pode reflectir em Moçambique, em que tradi cionalmente apostam mais na área da construção, por exemplo?

É verdade. Comecemos por olhar para a última cimeira China-áfrica, em que a China deixou claro que o objectivo é aumentar a capacidade pro dutiva dos países africanos. É onde aparece o programa PIGA, uma ramificação de par cerias de negócios e investi mentos entre empresas afri canas e investidores chineses, que dá origem a um conjunto de projectos concretos a nível bilateral. No caso de Moçambi que, há hoje investimentos chi neses nas areias pesadas, na indústria do cimento (Niassa) na agricultura, mas tam bém estão a desenhar aqui lo que eles chamam de par

ques industriais. A China está numa velocidade mui to acelerado naquilo que po demos chamar de quarta re volução industrial. E quem descobriu grande parte das reservas que estão em Nias sa foi a China, por exemplo.

O nível do IDE, que foi sem pre direccionado para os grandes projectos tem caí do, e isso tem efeitos sobre a agricultura e a manufatu ra. Como é que se contorna este facto?

O gráfico começou a descer em 2015, e continua a descer. Antes, tínhamos em média, 3,5 mil milhões de dólares de IDE, e em 2017 só tivemos mil mi lhões. A verdade é que a oferta está extremamente pobre, es tamos a exportar muito pouco. Tirando naturalmente a Mo zal, a EDM e o carvão, olhando aquilo que se chama diversi ficação económica de um país rico em recursos naturais,

1 000

MILHÕES DE DóLARES

O InvestImentO DIrectO estrangeIrO ‘InjectaDO’ na ecOnOmIa nacIOnal chegOu a ser DOs maIOres em áfrIca em 2014, e rOnDava Os 8 mIl mIlhões De Dólares, em granDe parte DIreccIOnaDOs a granDes prOjectOs. hOje, nãO passa DOs mIl mIlhões

que devia exportar produ tos processados, não o esta mos a fazer porque não temos indústria ligeira, nem pesa da fora dos grandes projectos. O IDE serve para fechar os es paços vazios em termos de co nhecimento e capital finan ceiro. E é por isso um desafio enorme que o APIEX tem pe la frente de olhar para a ne cessidade de termos mais investimentos para promo ver a transferência de tec nologia e o saber. Para isso, é também necessária uma es tratégia forte ao nível do tão falado conteúdo local, porque não podemos ter grandes re cursos naturais, agricultura e indústria, se não houver um programa muito bem estru turado. E não falo da lei, por que a lei é muito complicada.

Então, o que é preciso se não for a lei, uma estratégia? Tem de haver um programa do conteúdo local, para o caso

Na voz de... Maio 2018 36
MADE IN MoçAMbIquE

de Moçambique. O que está a acontecer, se for a reparar, é que a estratégia existe, mas não está globalizada por todos os sectores de actividade. Fala mos da incorporação daquilo que pode ser feito ao nível na cional, através dos produtos, do conhecimento, da participa ção empresarial, até que pon to as empresas podem fazer. Há regiões que já o fizeram, o Qatar, ou o Vietname que há 50 anos, estava bem atrás de Moçambique e hoje, já estão a investir no nosso país. Porque polarizaram todo o país, em zonas económicas especiais e favoreceram a produçao na cional, com base na agro-in dústria. É um modelo extre mamente interessante, É um pouco para tudo isto que é preciso olhar, porque não te mos, de facto, de inventar ou tros modelos porque já exis tem, mas apenas ir buscar a experiência, e por em prática.

Porque não foi ainda? É preciso entender que o nos so modelo é o de uma econo mia sectorizada, em que cada ministério tinham a sua políti ca e estratégia. Felizmente o governo já está a trazer uma lógica de integração de uma mesma estratégia nos vários organismos. O APIEX surge aliás, nessa sequência. O de safio é grande. Precisamos de preparar todo um sector agrí cola familiar, para os desafios do mercado, de erguer toda uma base logística de estra das, telecomunicações, entre postos comerciais. E os finan ciadores acreditam em nós. Agora falta que também nós confiemos em nós próprios. E que por exemplo 25% do gás extraído no rovuma seja pro cessado, e direccionado para o desenvolvimento do país.

O que é que entusiasma mais os investidores sobre Moçambique, digamos assim? Promovemos quatro grandes áreas: agricultura e agro-pro cessamento, infra-estruturas, energia (hídrica, eólica, solar e

biomassa), e turismo. Moçam bique tem tudo para dar cer to, e nós, APIEX existimos para mostrar aos mercados exter nos este potencial. Sabemos que, começando a explora ção de alguns recursos funda mentais como a grafite, areias pesadas, carvão e o gás a eco nomia vai mudar radicalmen te em quatro e cinco anos, mas é necessário, repito, um ali nhamento macro-económico em termos de estratégias pa ra utilizar os recursos de uma forma eficiente.

É a falta desse alinhamento, na sua opinião, o grande obstáculo ao crescimento económico, mas também ao desenvolvimento do país? Neste momento sim. Temos a exportação bruta de matéria -prima principal, aquela que se pode transformar no país. Exportar toda a grafite, todo o gás, e todos os outros recursos minerais ou agrícolas de que dispomos sem ter a capacida de de transformação de sub -produtos que depois, ain da por cima vamos ter de importar é um crime econó mico a longo prazo. A indus trialização tem que passar necessariamente, pela trans formação dos produtos estra tégicos. É aí que poremos mu dar a economia moçambicana. Temos de determinar uma percentagem obrigatória pa ra ser transformada cá. Em áfrica, o conteúdo local não passa 30%, e isso está errado. Há países em áfrica, que fa zem diferença, temos os ca sos do ruanda e Congo que fo ram a Singapura em busca de um modelo de gestão dos seus recursos minerais. Temos o conhecimento e a visão. E há vontade de ir por aí. O nos so trabalho como APIEX pas sa também por aí, pela divul gação do que há, porque com o potencial que temos, haverá sempre empresas estrangei ras a quererem investir.

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tExto Pedro Cativelos fotogrAfIA Jay Garrido

O futurO ainda é lOnge. Mas já se pOde Olhar

Niassa é uma província que tem tudo para dar certo, mas onde quase tudo está errado. Pelo menos se olharmos para o estado das infra-estruturas básicas, que acabam por condicionar o crescimento

como o nome indica, infra-estruturas são a base indispensável ao desenvol vimento, e um pré-requisito inquestio nável para o crescimento acelerado de qualquer ambiente económico, seja ele local, ou nacional.

Muito se tem falado de vias de acesso ao longo dos últimos anos, como o caminho que irá levar Moçambique a tornar-se um verdadeiro player competitivo a nível regional em diversos sectores de actividade. Para isso, são necessárias ca deias de valor produtivo que dependem de uma base de sustentação. E se há lu gar, onde essa falha se torna demasiado evidente é na Província do Niassa, que enfrenta problemas graves ao nível da diminuta (e muito degradada) rede de estradas, considerada como “o principal problema que enferma o sector empre

sarial, assim como toda a população da quela província.

Há quem diga que o Niassa é a Provín cia onde se podem encontrar “todos os problemas do país”, conta Fanequisso Maurício, empresário local no ramo de prestação de serviços à E&M.

a província que está lá longe “É preciso ter muita coragem para in vestir nesta província”. É uma frase, que poderia ser dita (e é) por muitos empre sários que nunca colocam o Niassa, no seu plano de investimentos.

A começar pela tal falta de infra-esturu tras em que deveria assentar o desen volvimento de uma região que tem 460 quilómetros de vias, mas em que apenas 6% estão asfaltadas, de acordo com o Pla no Estratégico do Niassa (PEN) 2018/2029.

província niassa

capital Lichinga área 122 827 km² população 1,1 miLhões região nORTe

Estas fragilidades têm colocado a Pro víncia lá de longe, também distante dos investidores.

Celso Aleixo, Assessor do Governador do Niassa garante, sem adiantar muitos de talhes, que “num período de cinco anos a rede viária será melhorada de forma a

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Niassa
rovíncia

motivar a entrada de novos investidores”. E para isso, diz estar em curso “uma bus ca de financiamentos para o arranque das obras de melhoramento de algumas vias de acesso essenciais à Província.” Mas, não são só as vias de acesso o pro blema. A burocracia, é outra das ques que tem motivado queixas, de muitos empresários. Para Inocêncio Sotomane, presidente do Conselho Empresarial Provincial (CEP) do Niassa, são ainda mui tas as barreiras que “afugentam” os in vestidores, uma vez que “o Governo não facilita para que haja um bom ambiente de negócios. As questões burocráticas para a implementação de unidades in dustriais, por exemplo, indústrias, não têm a mesma flexibilidade que noutras províncias” salienta Sotomane. Foi, de resto, uma das grandes questões debatidas na Conferência de Investido res (realizada em Abril), que reuniu re presentantes do governo, parceiros de cooperação, e dezenas de empresários nacionais, que foram unânimes em afir mar a intenção de assistir “à melhoria do ambiente de negócios, removendo as barreiras aos investimentos.”

Os grandes desafios

Dessa reunião magna, que colocou o Niassa “mais perto” de todos nós, por as sim dizer, as metas de desenvolvimento debatidas passam pelo desenvolvimento da agricultura (sector que mais contri bui para o PIB da região, com 80%) e agro -negócio, turismo e conservação natural, e concessão de licenças de exploração de recursos minerais. São estas, de resto, as prioridades que encabeçam o Plano Es tratégico do Niassa para os próximos dez anos e que constituem o pano de fundo dos 104 milhões de dólares anunciados para nove projectos, que irão arrancar a breve prazo, anunciados durante a Conferência de Investidores.

Lourenco Sambo, líder APIEX diz mesmo que estes projectos estão a suscitar um forte apetite de investidores externos que vêm naquela província “um lugar de grandes oportunidades logísticas, especialmente pela sua localização es tratégica, concretamente na área da construção de ‘portos secos’, e centros logísticos que poderão funcionar em conjugação com o sector da extracção mineral, que está a crescer exponencial mente, bem como com a agro-indústria.” No entanto, quando a tarefa é promover o desenvolvimento de uma das provín cias mais subdesenvolvidas do país, é le gítima a questão: mas por onde começar?

3%

É o peso da província do niassa no piB nacional. a riqueza total ali gerada no ano passado É de 21,6 mil milhões de meticais, sendo que a agricultura É responsável por 80% desse volume

O desafiO das iNfra-estruturas

actualmente, a área pavimentada da província do Niassa é uma das mais baixas de todo o país

em quilómetros

dos países com quem fazemos fronteira”. Nesse sentido, estão planeados até 2024, 584 quilómetros de novas estradas asfal tadas, sendo que a intenção é chegar ao ano de 2029 com uma cobertura de 1 222 de rodovia em condições. É, pelo menos, o que consta dos planos de desenvolvi mento da província. .

2024-2029

em 2018 460 584 1 222 2019-2024

fonte Plano estratégico de niassa (Pen 2018/2029)

Para Rodrigues Ussene, a região “só es tará na rota do desenvolvimento se exis tir um investimento forte em infra-es truturas como estradas, ferrovia, rede eléctrica para poder acolher projectos de exploração industrial ou mineira, e olhar para os recursos naturais de for ma sustentável. E, para aumentar a taxa de emprego há que trabalhar bem a questão dos recursos humanos”, assinala. Entre 2010 e 2015, o PIB da região aumen tou 71,3% (sendo agora de cerca de 21 mil milhões de meticais).

Ainda assim, o salto não chega para dei xar o último lugar de todas as províncias do país, no que concerce à contribuição para o total da riqueza nacional (3%). Os desafios continuam. “Temos de assegu rar a melhoria das infra-estruturas que há e a abertura de novas vias incluindo pontes e outras infra-estruturas simila res. Com sistema de transporte integra do, acessível, seguro e com vias de acesso transitáveis permanentemente teremos a possibilidade de fazer a ligação com os principais pontos estratégicos de desen volvimento das províncias vizinhas e

agricultura e agro-negócios Com cerca de 12,9 milhões de hectares de área potencialmente agrícola e uma mancha florestal de 26,9 milhões de hec tares, em que apenas 6 milhões corres pondem a uma área de floresta produ tiva, o Niassa é, na essência a província com maior capacidade de produção agrí cola e florestal país. Olhando, essencial mente ao desenvolvimento da tal cadeia de valor, assente nessas características. Contactado pela E&M, o governo provin cial advoga que a solução para este pro blema “é atrair investidores que pre tendam promover o sector comercial agrário e agro-industrial por meio da im plantação de sistemas de irrigação, uso de técnicas, equipamentos e maquina rias adequados às características do teri tório; o reforço da assistência técnica aos produtores, controlo de pestes e doenças, tendo em conta as condições agro-eco lógicas e gestão sustentável da terra.” De acordo com o INE, a província do Nias sa é considerada grande produtora das culturas do milho, algodão, feijão, soja e batata-reno mas a maior parte da pro dução não é comercializada, e é dada como perdida devido à falta de infra-es truturas para armazenar os excedentes. A produção actual, segundo o empre sariado, “nem sempre tem chegado ao consumo final devido a dificuldades de acesso aos locais de produção”.

turismo tem potencial. Mas onde é que já se ouviu isto?

O Niassa é a maior província do país e é uma das menos povoadas. Faz fronteira, a Norte, com a Tanzânia, a Oeste, com a República do Malawi, a Leste, com a pro víncia de Cabo Delgado, e a Sul com as províncias de Nampula e Zambézia.

O que faz dela, um ponto nevrálgico para a circulação de bens, e pessoas.

E o turismo, claro, entra nestas contas como um factor extra de potencialização económica.

É também ali que fica o grande Lago Niassa, (terceiro maior de África e nono a nível do Mundo) ou a reserva com o nome da província, chamarizes a que se juntam a beleza natural de uma provín

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província

cia que é, para quem a visita, das mais belas do país. A este respeito, o governo provincial assume um objectivo audacio so de “fazer aumentar o fluxo anual de turistas dos actuais 60 mil por ano para mais de 200 mil até ao ano de 2029.”

recursos minerais precisam de energia A expansão da rede eléctrica é um dos pontos fulcrais da estatégia de desenvol vimento de qualquer região. No Niassa, ela é ainda mais fundamental.

Para já, iniciaram-se recentemente as obras de construção de uma linha de Alta Tensão de 110 KVAs para Marrupa, a partir da Subestação de Cuamba. “Esta infra-estrutura não só vai melhorar a qualidade da energia eléctrica forneci da a Marrupa e depois ao distrito vizi nho de Balama (zona mineira), em Cabo Delgado, assim como irá permitir a ex pansão do acesso a muitas zonas rurais”, explica fonte do governo provincial. Essa expansão energética será funda mental para ‘amparar’ o crescimen to que já se está a notar da indústria extractiva.

Com um subsolo rico em ouro, granito vermelho, amazonite, fosfato, sienitos, pedras preciosas, diamantes e grana das, é o calcário que dará azo ao maior investimento de sempre na província, com a unidade de produção de cimento em larga escala prevista para arrancar em Novembro próximo, em Chimbunila (200 milhões de dólares).

Mas a província é também rica em gra fite, um dos metais da moda e carvão. Segundo resultados das pesquisas e prospecção financiados pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), “existem na Bacia de Lunho, posto admi nistrativo de Maniamba, distrito do Lago, quantidades estimadas em 839 milhões de toneladas de carvão mineral prontas a serem exploradas.”

O Governo provincial deposita quase tudo, nestas descobertas. “Aguardamos pela decisão da empresa sobre o avanço da exploração comercial do carvão mi neral, facto que vai reforçar as receitas do Estado e promover emprego no seio da população local e seu consequente de senvolvimento no contexto social”. E com todo este manancial, diga-se em abono da verdade, Niassa é uma provín cia esquecida no país, mas com recursos suficientes, para se tornar lembrada.

O PlaNO Para deseNvOlver O Niassa

o plano de desenvolvimento 2018-2029 desenhado pelo governo provincial prevê que na próxima década o desenvolvimento da província assente em três áreas fundamentais, para as quais é essencial, no entanto, a melhoria da rede rodoviária; o aumento no abastecimento de água e energia; a redução do índice do analfabetismo principalmente nas zonas rurais; e uma maior abrangência dos serviços de saúde, bem como a expansão dos serviços financeiros.

É a principal prioridade da província, e refere-se à produção, processamento, conservação e comercialização de diferentes culturas. a ideia é abraçar a produção em grande escala por meio de uso de tecnologias apropriadas, numa base sustentável e integrada, orientada para mercados estratégicos tornando a província competitiva a nível gerional e nacional, “alimentando” outros sectores e garantindo a melhoria de vida das populações.

agricultura e agro-negócios recursos Minerais

sendo que hoje apenas conta 2% para a conta total da riqueza produzida na província, a exploração de recursos minerais está prestes a “explodir”. Neste momento há uma reorientação estratégica virada para a exploração efectiva do enorme potencial geomineiro (53 concessões para atribuir), destacando-se as pedras preciosas e semi-preciosas, ouro, carvão mineral, calcário, grafite, granada e granito vermelho.

turismo e conservação

o objectivo passa por aumentar o fluxo anual de turistas dos actuais 60 mil (registados em 2017), para mais de 200 mil em 2029, criando uma oferta turística virada para promoção do turismo cinegético, contemplativo, safaris, ornitofilia ecoturismo nos distritos com áreas de conservação, com destaque para a reserva Nacional. a ideia é tornar Niassa num “destino turístico preferencial de nível internacional alavancado pelas suas maravilhas atrações e belezas únicas.”

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Niassa
texto Hermenegildo langa fotografia Vasco célio,isTocK PHoTos fonte Plano estratégico da Província do niassa

mercado e finanças

Malparado duplicou no últiMo ano E agora, o quE fazEr?

Num passado recente, o crédito em incumprimento no sistema financeiro estava sob controlo. Com a crise, começou a “tirar sono” aos bancos. Hoje está pior e com perspectivas desanimadoras para os próximos meses

longe vão os tempos em que só (muito) poucos não honravam as prestações de dívidas contratadas à banca. Só que essa tendência tem vindo a acentuar-se na exacta medida do desgaste da poupança das famílias nacionais.

De acordo com o Banco de Moçambique, em apenas 12 meses, o crédito malpa rado duplicou: de Dezembro de 2016 ao mês homólogo do ano passado o crédito em incumprimento saltou dos 16,6 mil milhões de meticais para os 33,9 mil mi lhões, uma evolução de mais de 104 pon tos percentuais. E em Janeiro deste ano, o incumprimento já ascendia a mais de 34,2 mil milhões de meticais.

Contactado pela E&M, o Banco de Moçambi que demonstra “preocupação” pela preva-

lência deste fenómeno, e por constituir “um perigo para os esforços de estabili zação macroeconómica actualmente em curso.”

cadeia de desvalor

O regulador sublinha que a cadeia de efeitos negativos para a economia, ocasionados pelo crescimento do crédito malparado: “partindo do pressuposto que, quanto maior for o crédito em incumprimento, maior será a necessidade de criação de provisões para fazer face a perdas prováveis tem um impacto natural nos resultados gerados pelos bancos.”

Isso irá contribuir para que os capitais próprios sejam também inferiores, o que levará os bancos “a uma diminuição da sua

capacidade de financiamento à economia nacional.” O que só irá agravar o cenário de “abrandamento económico em que Moçambique se encontra”.

Mas, os resultados do aumento do crédito malparado podem ser ter outros efeitos perniciosos para a economia. O Banco de Moçambique alerta que, “partindo do prin cípio de que a qualidade da carteira de crédito afecta os capitais próprios das insti tuições, o crescimento do crédito malpara do no sistema pode afectar o capital que os bancos têm para fazer face a perdas, colo cando em causa a sua continuidade, o que por sua vez pode contribuir para a instabi lidade do sistema bancário como um todo.”

Trata-se de um risco que, a ocorrer, põe em causa “os esforços que o Banco Cen

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tral vem efectuando para conferir esta bilidade ao sector financeiro.“

Para perceber o quanto a nova admi nistração do Banco de Moçambique está preocupada com a estabilidade dos in dicadores prudenciais dos bancos co merciais, basta atentar em algumas medidas que o BM tem vindo a imple mentar e que alteram o modo de funcio namento e de reporte dos indicadores de estabilidade dos bancos, por exemplo. Um desses exemplos foi o aumento obri gatório do capital social mínimo dos ban cos de 70 milhões de meticais para 1700 milhões de meticais, o que deverá acon tecer no prazo máximo de três anos (a contar desde o ano passado). Ou a subida dos rácios de solvabilidade – indicador financeiro que revela a proporção rela tiva dos activos financiados por capitais próprios e os financiados por capitais alheios – de um mínimo de 8% para 12%.

O Banco Central assume ser sua “respon sabilidade”, o reforço medidas de conces são de crédito mais prudentes para “evi tar o crescimento do malparado.”

Mas, não deixa de atribuir aos bancos co merciais a “tarefa de cumprir com todas as recomendações emitidas” pelo regu lador, uma vez que o Banco de Moçambi que não tem uma intervenção comercial directa.

crédito ao descrédito

Os primeiros sinais sobre o aumento do incumprimento no pagamento das dívi das com os bancos soou já no ano passado, com os relatórios e contas dos principais bancos do mercado a reflectirem (todos eles) essa realidade. Mas, no final de 2017, aquando da divulgação dos resultados da Pesquisa Sobre o Sector Bancário, (es tudo da consultora KPMG e da Associa ção Moçambicana de Bancos (AMB) – foi reportado um crescimento histórico de 66% do crédito malparado, que passou de 10,6 mil milhões de meticais em De zembro de 2015 para 17,6 mil milhões em Dezembro de 2016. Ainda assim, e como nota, a informação do Banco de Moçam bique e da pesquisa conjunta da KPMG e AMB apresentam uma diferença de mais de mil milhões de meticais relativos a imparidades face ao mesmo período. Ou seja, enquanto o estudo conjunto da KPMG e AMB revela aumento do crédito malparado em 66% em 2016, o Banco de Moçambique reporta um crescimento de 53,16%, no mesmo período. Ainda que diferentes, ambos os resulta dos não deixam dúvidas relativamente a um aumento preocupante do crédito

Crédito em iNCumprimeNto tripliCou em dois aNos

O crédito em malparado foi crescendo consideravelmente desde 2014 tanto em meticais como em moeda externa, chegando a ultrapassar o rácio mínimo de estabilidade de 5% em relação ao crédito total, em 2016. Hoje, esse rácio é superior a 12% e o Banco Central teme que cresça ainda mais nos próximos tempos

% do crédito malparado e valores do incumprimento em milhares de milhões de meticais

em incumprimento, mesmo porque, pela primeira vez, este ultrapassou larga mente a barreira dos 5% - o mínimo exi gido para se classificar a situação como estável. Está nos 12,64% e parece não dar sinais de abrandar.

A situação económica e a erosão do ren dimento familiar, bem como a situação difícil porque muitas empresas têm pa sado nos últimos dois anos é a principal causa de tudo isto. “Podemos afirmar que o aumento do crédito em incumprimen to tem como razão a recessão económica onde várias empresas foram obrigadas a encerrar actividades.

Partindo do pressuposto de que o Estado moçambicano é o maior cliente e deve dor das empresas em questão, e não está em condições financeiras de fazer face às suas obrigações, as empresas não têm como pagar os seus créditos por falta de facturação das suas vendas”, argumenta o Banco de Moçambique, ao responder a questões da E&M.

FonTE Banco de Moçambique

taxas de juro fizeram

aumeNtar

malparado

Há uma relação directa entre o aumento das taxas de juro e o incumprimento no pagamento de dívidas à banca, o que se notou ainda mais a partir de 2016. Ou seja, particulares e empresas tiveram maiores dificuldades em amortizar a dívida à medida que as taxas de juro foram aumentando

12,64

Metical Moeda estrangeira Total 32 29 19 18 19 2014 2015 2016 2017 2018 (1)

Taxa de Juro Malparado

(1) Janeiro Evolução das taxas de juro de operações face ao volume de crédito malparado FonTE Banco de Moçambique

altas taxas de juro também complicaram Mas, não foi só a economia a produzir efeitos sobre as imparidades. Ela só deu o tiro de partida. No período coberto pelo estudo da KPMG e AMB, a forte desaceleração da economia terá assim ateado um rastilho que apenas terá iniciado o processo de deterioração da qualidade de crédito da banca. Antes, a retirada do apoio ao Orçamento do Estado pela maioria da comunidade de doadores terá desenhado o cenário a que hoje assistimos, e que teve como consequência, um aumento do custo do dinheiro, através do aumento das taxas de juro de referência. Uma tendência que o Banco de Moçambique já começou a tentar modificar, sem no entanto mexer ainda na Prime Rate, algo que Rogério Zandamela justifica, dizendo que “baixar as taxas de juros não é só uma decisão do Banco Central que se toma no vazio, ele reflecte uma análise das condições em todo o momento e na sociedade”, Se for interesse dos bancos encontrar solução para o incumprimento no paga mento de dívidas, terá de ser igualmente seu o interesse em ver as taxas de juro do mercado mais comportáveis para os tomadores de crédito. Porquê? Há, como seria de esperar, uma correlação di recta entre a subida das taxas de juro e o rácio do crédito em incumprimen to que se nota desde 2016 (ver gráfico). Isto é, parte do aumento do crédito malparado deve ser directamente im putada ao elevado preço do dinheiro no mercado.

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Dezembro 2015 Dezembro 2016 Dezembro 2017 10,9 4,31 5,73 12,64 14,4 2,2 16,6 23,8 10,2 33,9 2,8 8,1

mercado e finanças

a partir dE quE prazo o crédito SE torna Malparado?

O conceito de crédito em incumprimento como sendo o crédito vencido refere-se a um período de pelo menos 90 dias, e foi adoptado a 01 de Janeiro de 2014, com a entrada em vigor do aviso n.º 16/gBM/2013. a adopção deste conceito – em oposição ao anterior, que considerava o crédito vencido há pelo menos 30 dias – criou uma alteração estrutural na série temporal deste indicador prudencial. Com efeito, os dados sobre o crédito malparado são assumidos a partir de Janeiro de 2014.

Mas, porque é o dinheiro tão caro, em Moçambique? Porque as taxas de juro reflectem o risco do mercado.

Para a economista Fernanda Massa rongo Chivulele, que estuda o compor tamento das taxas de juros em Moçam bique, “a política monetária protege os lucros dos bancos nos momentos em que a economia de entra em crise devido a algum choque.

Ou seja, o enfoque no controlo da inflação e as consequentes medidas monetárias restritivas, que incluem aumentos das taxas de juros de referência ou aumento de emissões de bilhetes do Tesouro, têm efeito positivo sobre os resultados dos bancos comerciais, com custos acresci dos para o sector privado e famílias”, es creve num artigo inserido numa publi cação IESE “Desafios para Moçambique”, do ano passado.

concessão de crédito caiu

Do lado da banca comercial, e olhando apenas aos dois maiores bancos do mercado, a concessão de crédito caiu em torno dos 10% pela primeira vez em alguns anos. No Millennium bim, e apesar dos bons resultados financeiros do banco no exer cício passado (resultado líquido de 5,5 mil milhões de meticais) registou no ano pas sado uma quebra de 21,6% na concessão de crédito face aoperíodo homólogo (de

acordo com o relatório e contas recen temente divulgado). No mesmo período, registou-se o nível mais elevado de cré dito mal parado desde 2010, com o rácio a situar-se nos 5,5%, sendo que o custo de risco saltou de 188 pontos base, para 262. As armas do bim para lidar com o pro blema incluem “uma política de crédito rigorosa assente no binómio clientes-ne gócios de melhor perfil de risco, com cash flows sustentados em planos de negócio credíveis e adequada cobertura do risco de crédito com colaterais elegíveis”.

O Banco afirma actuar de forma preven tiva com o objectivo de antecipar planos alternativos de pagamento do serviço da dívida que permitem melhorar “a capacidade creditícia dos mutuários e, consequentemente mitigar o efeito do aumento do custo de provisionamento.

Um outro grande player da banca nacio nal, o Banco Comercial e de Investimentos (BCI), também registou um disparar do in cumprimento de 1,21% em 2015 para 3,38& em 2016 e depois 6,69% no ano passado.

A instituição revela que, “perante o au mento das dificuldades dos clientes no cumprimento dos serviços de dívida, o BCI viu-se obrigado a empreender um es forço de gestão do risco através de maior abertura para analisar a possibilidade de ajustar os planos de pagamento de for ma a apoiar a absorção desses impactos.”

a banca nacional apresenta, na generalidade, bons desempenhos, apesar do aumento da exposição às imparidades. parece que todos aguardam que a economia faça o seu trabalho

Soluções? Há que esperar Actualmente, a taxa média de juros de um empréstimo bancário com maturi dade (prazo) mínima de um ano, está em torno dos 30% nos cinco maiores bancos. É uma das mais elevadas da África Austral e um claro obstáculo ao desenvolvi mento das empresas, principalmente as Pequenas e Médias Empresas. Mas, também é lícito entender que terá de haver da parte dos gestores nacio nais, uma reforma na maneira de olhar para a banca.

Não apenas como fundo... sem fundo a quem recorrer nas dificuldades, mas como uma verdadeira alavanca de cres cimento sustentado, a quem, mais tarde ou mais cedo, tem de se prestar contas. Algumas soluções têm sido propostas pelo BM. Uma das mais impactantes foi a introdução da taxa de juro (MIMO), um indexante único de todos os bancos para as operações de crédito em meticais e que actualmente está fixada em 18%. Mas, não é ainda a que todos gostariam: a descida das taxas de juro.

Porque, como diz Zandamela, essa “não é uma decisão do BM apenas, mas sim um reflexo da nálise das condições em todo o momento e da própria sociedade.”

E essas condições ainda não são as ideais, da macro, à micro-economia. Assim, o que todos esperam mesmo, é que a economia de todos os dias recupe re as forças. E que o faça o quanto antes.

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empresas Maio 2018 46

Print4You: uma emPresa que causa semPre

boa imPressão

Em actividade desde 2012, a empresa conquistou notoriedade no mercado devido à gama de soluções para impressão nas vertentes de outsourcing, assistência técnica e venda de todo o tipo de consumíveis

É um negócio que vence e convence, a Print4You. No mercado desde 2012. a empresa disponibiliza uma gama de ser viços direccionados para a impressão. Fundada no mercado português, em meados da década passada, foi no entanto em Moçambique que encontrou o ecos sistema de mercado ideal para desen volver o conceito inicial do seu negócio. Patrícia Teles, CEO da empresa, come ça por identificar a impressão digital que está patente na identidade desta PME nacional, espelhada em três con ceitos que são a base do crescimen to que a empresa vem conhecendo: “excelência, rapidez e resiliência. São es tas as bases da Print4You.”

Com um portfolio de parceiros e clientes que abrange algumas das maiores empre sas em solo nacional, conta actualmente com um parque de cerca de mil impres soras multifuncionais instaladas em diversas instituições. “Disponibilizamos todo o tipo de soluções de impressão, mas o principal segmento da nossa ac tividade é o outsourcing de impressão, um serviço em que disponibilizamos os equipamentos, e fornecemos assistência técnica, toners, peças, configuração de equipamentos e formação dos utilizado res, para além de um acompanhamento constante, sempre que o cliente assim o solicite”, enumera.

Naturalmente, com a evolução que mui tas destas empresas conheceram nos últimos anos, a Print4You, cresceu na medida das necessidades específicas de cada uma delas. “Temos clientes que vão de pequenos escritórios de contabilidade até grandes multinacionais como a Uni cef, a Vodacom, Mozal, HCB, bim, Moza, ÚNICO ou o Banco Mais, o que também acaba por exigir que tenhamos uma gama de soluções direccionadas às neces sidades de funcionamento de cada um.” Caso para dizer que, papel é coisa que

não falta por ali, mesmo em tempo de retracção económica. “Não nos podemos queixar, de facto. Porque este tipo de ne gócio acaba por funcionar melhor em contra-ciclo, porque em tempos de aus teridade, as empresas preocupam-se ainda mais em economizar despesas, re correndo mais ao outsorcing, por exem plo. E é precisamente isso que fazemos.” Depois, há a questão da eficiência, um ponto-chave, para a jovem gestora. “Sem dúvida. Uma resposta pronta, e dentro de um período que não leva, na maioria dos casos ocorridos na cidade de Maputo, mais de 30 minutos, é essencial. E se até uma hora não conseguirmos resolver o problema, substituímos o equipamento num prazo de 24 horas”, garante. Sendo que o mundo dos negócios é, como sabemos, dominado por homens, justifi ca-se a questão, passado que foi o mês da Mulher Moçambicana. A gestora refuta, ainda assim a perspectiva da questão: ”Nunca encaro os negócios pela perspec tiva do género. Sou empreendedora, fo cada e resiliente e são essas as caracte rísticas que procuro ver espelhadas na nossa acção junto dos clientes e parceiros”. Também a questão da responsabilidade social (a empresa está associada ao pro jecto Escola do Agricultor - Eu sou por Moçambique) e a formação de quadros têm sido fundamental no crescimento e no desenvolvimento corporativo da Prin t4You. “Creio que essas devem ser preo cupações evidentes de todas as empre sas. Envolvermo-nos com a sociedade a vários níveis, procurando retribuir, com acções externas. E a nível interno, pro mover uma boa gestão que nos permita assegurar a qualidade do serviço atra vés de acções de formação contínua aos nossos colaboradores.”

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Imprimircrescimento
texto HErmEnEgildo langa fotografia
BEmprEsa Print4You FundaÇÃo 2012 Fundador Patrícia teles Funcionários 70 númEro dE imprEssoras 1 000 númEro dE imprEssõEs mEnsais 2,9 milhões
Vasco célio

Bni e eMose criaM facilidades de acesso ao crédito para as pMe

A “criação e introdução de no vos produtos financeiros que possam proporcionar o apoio e facilidades do acesso ao fi nanciamento para PME” é um dos objectivos da assinatura do acordo comercial e de par ceria estratégica entre o Ban co Nacional de Investimentos (BNI) e a Empresa Moçam bicana de Seguros (EMOSE). A parceria visa ainda, o “provimento de serviços de seguros que permitam cele ridade, flexibilidade no paga mento de prémios, para além da cobertura e pagamentos de benefícios diversos e po derá influenciar também na redução das taxas de juro.”

Marcas

de excelência

conhecidas

eM Junho

iphone 8 red liga-se a uMa Boa causa

Angariar fundos para o com bate ao vírus do VIH-SIDA em África, é um dos objectivos sociais revelados aquando do lançamento dos novos mo delos Apple iPhone 8 Red e Plus Red.

Nos últimos anos, as iniciati vas da Apple e RED (parceria já leva oito anos) “já contri buíram para a angariação de cerca de 160 milhões de dólares, que têm sido inves tidos em campanhas de pre venção e testes gratuitos, as sim como em medicamentos que evitam a transmissão do vírus VIH de mãe para filhos recém-nascidos”, pode ler-se em comunicado emiti do à imprensa pela empresa norte-americana.

VodacoM cria proMoção para as redes sociais

é já no próximo mês de junho que serão anunciadas as marcas de excelência do mercado nacional para 2018.

A divulgação será revelada durante a 5ª Edição da Super brands Moçambique, uma plataforma que premeia e divulga anualmente as melhores marcas no mercado nacional.

Para além da divulgação, a cerimónia consiste ainda na en trega dos prémios e a revelação do guia Superbrands aos respectivos representantes das marcas. A gala de premiação vai agregar diversas personalidades do mundo empresarial e do marketing nacional, entre empresários e representantes das marcas homenageadas.

A distinção é feita através de um estudo das marcas dos mais variados sectores de actividade. Nos sete anos em que a Superbrands já está representada em Maputo pela Playground, perto de 50 marcas moçambicanas já foram dis tinguidas com o selo Superbrands, entre as quais o Banco Único, CDM, Mcel, KPMG, Miramar, BCI, Flor Real, South Áfri ca Airways, Motorcare, Revista Capital, Barclays, Bom Garfo, CDN, Polana Serena Hotel, Moreira Chonguiça, Motorcare, LM Radio e a Vodacom.

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Fazer aumentar a conec tividade dos seus seis mi lhões de clientes nas redes sociais é o objectivo do novo serviço criado pela Voda com Moçambique. O ‘WFT’ é uma oferta que, por 11 me ticais, dá acesso ilimitado, por um período de 24 horas às plataformas Whatsapp, Facebook e Twitter.

O serviço estará disponível através do prefixo *162#.

A Superbrands é uma organização internacional que se dedica à promoção da politica do branding e ao reconhecimento das marcas de excelência. Está presente em 89 mercados deste 1995.

Em cada edição (também acontece assim em Moçambique), um grupo de especialistas do mercado, o Conselho Superbrands, avalia as marcas que mais se destacaram no ano anterior.

Chama-se “Conta Poupa Tako”. Através deste serviço, lançado recentemente pelo Banco Co mercial de Investimento (BCI), os clientes passam a ter a possibilidade de fazer depósi tos a prazo que vão permitir rentabilizar as suas poupan ças por um período de 90 dias. Segundo o BCI, o serviço “for nece aos clientes taxas de re muneração atractivas e pos sibilidade de subscrição pelo ‘Daki Internet-eBanking’”. De entre várias vantagens, o serviço oferece também a possibilidade de poder, em qualquer momento, solici tar a transferência do valor para a conta à ordem.

megafone
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superbrands existe no país desde 2011
Bci introduz serViço que rentaBiliza poupanças

igura do mês

É fundAMentAl A Mulher AssuMir A liderAnçA”

a fundação ‘girl move’ é uma ONG que trabalha com jovens mulheres moçambi canas licenciadas, propor cionando-lhes um ano de transição entre os estudos aca démicos, e a vida profissional. Ao longo desses meses, algo se passa na vida destas me ninas, jovens mulheres. E que é tão simples que até parece complicado, se olharmos à prática comum que faz a rea lidade díária de milhões de mulheres, em Moçambique, e por toda a África: “Fazê-las acreditar que é possível se rem líderes, seja qual for o papel que escolham para o seu futuro, e dar-lhes as fer ramentas de conhecimento para que isso seja possível”.

Alexandra Machado, gesto ra com uma longa carreira associada a marcas de refe rência, escolheu esta como a etapa decisiva para deixar marca, através da “criação de uma academia onde mu lheres de todo o país podem cultivar a liderança inata que possuem.”

A funcionar em Nampula, acolhe este ano cerca de 30 mulheres de todo o país, que no final do ano seguirão to das para Portugal, para um estágio de várias semanas em algumas das maiores em presas portuguesas. Depois, regressam, e “seguirão o seu caminho. Mas, vamos acom panhá-las, até à conquista dos seus objectivos”.

Qual é o objectivo deste ‘Girl Move Academy’?

O objectivo é promover uma nova geração de mulheres líderes. Acreditamos que Mo çambique tem imensos re cursos naturais mas também humanos. Só que, para po tenciar o crescimento, é fun damental uma participação mais activa das mulheres a vários níveis. Há indicadores gerais que nos preocupam, e o tema da participação das raparigas na educação, em que há taxas baixíssimas de transição do ensino primário para o secundário, ou a ma ternidade infantil levam a um ciclo de pobreza. Estudos feitos, mostram que o impac to do crescimento económico de um ano a mais na educa ção de uma rapariga, pode representar um incremento de 25% do seu salário futuro. Sabendo que, estatisticamen te, cerca de 90% desse salário é investido nas suas famílias, podemos ter uma ideia do impacto de tudo isto. Acredi tamos que há uma nova ge ração de mulheres que, cada vez mais, está a ir para as universidades mas sabemos que há ainda um défice entre o mercado e as universida des e é aqui que entra a Girl Move.

Como é que a Academia preenche esse défice?

Trabalhamos com as várias universidades. Estamos foca

dos em recrutar miúdas com elevado potencial de lideran ça (o processo de recruta mento leva cerca de três me ses). No ano passado, tivemos cerca de 700 candidaturas, num universo de seis mil uni versitárias. No processo de recrutamento, procuramos que haja uma diversidade a nível dos conhecimentos e de etnia. Durante o ano, há três etapas de passagem, há uma formação de 900 horas, em várias disciplinas com o objectivo de estimular a consciência de liderança em que há todo um foco de auto -desenvolvimento para po der conhecer o seu potencial, e de trabalhar no seu próprio plano de carreira. Passamos por uma segunda etapa de 600 horas, em que elas têm de

desenvolver os seus skills de mentoria de jovens meninas da região (Projecto Mwaruzi), criando com isso a ideia de serem exemplos para outras mais novas. Depois, no final da formação, são convidadas a ir a Portugal, para estagiar em algumas grandes empresas durante um mês, sendo que uma segunda vertente do programa será passada na Universidade Católica, com um programa da Executivos. Todo este projecto é financia do pelo sector privado portu guês, mas faz sentido ter cada vez mais parceiros do sector privado moçambicano a in vestir porque estamos a criar talento para as empresas

E depois do estágio, o que acontece?

O fundamental é interrom per este ciclo de modelo de referência do papel social da mulher, introduzindo um ou tro modelo. Acreditamos que esta nova geração, dentro de dez anos, pode efectivamente estar no mercado de traba lho, em posições de liderança, Notamos que o nível de em pregabilidade das ‘Girl Mo vers’ é muito alto, e começam a ter 80% de empregabilidade nos seus projectos de futuro.

cv

curriculim vitae

formada em gestão pela Universidade Católica, alexandra Machado foi gestora de produto no sector automóvel (grupo entreposto), directora de marketing e comercial do feira Nova e mais tarde do Pingo Doce; esteve ainda na Nike Portugal, durante 10 anos, como directora-geral. em 2012, o apelo do empreendedorismo social levou-a a contruir um projecto para aplicar os conhecimentos que adquiriu na área da gestão

acreditalideratransforma

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texto PEdro CativElos fotografia Jay Garrido

causas que valem a pena “Tenho uma carreira longa na área da gestão, mas sempre fui movida por causas”

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Transformar a Baixa em zona alTa… num processo cheio de alTos e Baixos

O município de Maputo quis criar uma revolução para devolver o brilho de outrora à Pérola do Índico, que tão baça anda. Principalmente na zona histórica da baixa, a mais cobiçada pelos turistas que Maputo pretende seduzir. Mas, o sonho é caro, e custa cerca de 500 milhões de dólares e por isso, parece cada vez mais impossível de realizar

o plano parcial de urbanização (ppu), já delineado desde 2015, pretende injectar uma nova vitalidade, conver tendo a urbe seminal, hoje em lenta agonia, num pólo de atracção também económico e residencial. Para viver, tra balhar e fruir. Agora, só falta a boa vontade dos políticos e a generosidade dos investido res – porque são precisos 500 milhões de dólares. Pelo me nos. E para começar. “A Baixa será um destino multi-funcional, inclusivo e vibrante, limpo e verde, onde visitantes e residentes des frutam do património históri co-cultural, do mar e do espa ço público”, lê-se no intróito do PPU da Baixa, elaborado por técnicos do Conselho Munici pal de Maputo e da Faculdade de Arquitectura da Univer sidade Eduardo Mondlane (UEM) com auxílio de coope rantes. O documento, enqua drado no PROMAPUTO II, colheu ainda subsídios resul tantes de consultas e debates públicos ocorridos entretanto. Desse esforço nasceu a visão algo onírica de uma realida

de que deveria materializar -se até 2025 e abarcando uma área quase tão grande como o sonho que o PPU enuncia e a verba que reclama: “Pro põe-se a reordenar cerca de 650 quilómetros quadrados, entre parte do Bairro da Ma langa, passando por parte do Alto Maé B e a totalidade do Bairro Central C”, enumera Elónio Cossa.

Arquitecto do Departamen to de Planeamento Urbano municipal, Cossa traduz a no menclatura administrativa: “Estamos a falar da zona que parte da nova ponte para a Catembe (Rotunda da Toyota) até à Praça Robert Mugabe, fronteira à sede do BCI e, de pois, mais ou menos até ao edi fício do Conselho Municípal”. Uma vastidão cujo panorama actual implica, no Centro His tórico, um trânsito infernal nas ruas prenhes de lixo; pas seios irregulares saturados de carros e colonizados pelo comércio ambulante de bens e prazeres (a Rua de Baga moio é, agora como dantes, um lupanar, mas mais decrépito); edifícios alardeando outras

MILHões de dóLares é o custo do projecto de reabILItação da baIxa de Maputo Lançado eM 2015 peLo MunIcípIo de Maputo. será que aLguM dIa o projecto saIrá do papeL?

500eras e cabedais cobertos pelas marcas indeléveis do tempo e do desleixo; e a po breza esmoler exposta à eventual generosidade dos que passam.

Um postal decadente, enfim, no qual avulta, pela escala inusitada e arquitectura dis sonante, o prédio que alberga o Banco de Moçambique, à face da Avenida 25 de Setem bro. “Com este PPU em vigor e à luz das regras que estabe lece, aquele edifício nunca se ria possível de modo algum”, afirma Cossa. Talvez não.

negócios ajardinados

Mas encaixaria perfeito no PPU tripartido cujo extremo Leste, onde borbulham já os prédios JAT, prevê a constru ção em altura e traça con temporânea, constituindo-se como futuro centro de negó cios da cidade com 1,7 milhões de metros quadrados (m2) de escritórios. Para amenizar o betão instalado, o PPU preco niza converter num imenso jardim “as escadas da Maxa quene, na zona das Barreiras, que saem do Hotel Cardoso e

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Jardim dos Professores até perto das traseiras da TVM”, assinalou Cossa.

A solução “verde” previa um corredor pedonal até ao mar, ladeado pelo Circuito de Ma nutenção António Repinga – pulmão sob assédio dos car ros e amputado por edifícios governamentais (Ministério da Economia e Finanças, Gabi nete do Primeiro-Ministro e Marinha de Guerra) – e pela envolvente ao projecto imobi liário que iria ocupar o ater ro da antiga FACIM, o “Maputo Bay Waterfront”. Corolário do arranjo paisagista, os arqui tectos imaginaram um ele vador panorâmico ligando a zona do Museu de História Natural à Baixa.

O fomento da clorofila é, de resto, um dos princípios ins critos no PPU da Baixa. Entre parques, jardins e reservas, seriam 425 mil m2 de flora para suavizar a atmosfera e a vida urbana. Com a recu peração do Jardim Tunduro (58 mil m2) e do Jardim dos Professores, já não falta tudo – mas quase.

ramblas africanas

Com o propósito de tornar mais humana e turística a Baixa, o PPU visa converter algumas das artérias satu radas do tráfego automóvel,

o qual só abranda quando a noite cai, em zona pedonal. Para privilegiar o passeio a pé dos visitantes, proporcio nando assim, na cadência da passada, o tempo necessário não só à fruição dos 314 imó veis de interesse histórico -cultural alojados no berço da cidade, mas também a fres cura da brisa marítima que a baía exala.

Nesse contexto, estão nos pla nos do Conselho Municipal mais de 100 mil m2 de área exclusiva para peões, prati camente desde a Praça dos Trabalhadores, em frente à estação dos Caminhos de Ferro e com epicentro na granítica estátua evocati va dos mortos da I Grande Guerra, até à antiga FACIM. Vislumbram-se transeuntes circulando pelas ruas de Ba gamoio, Timor-Leste, Fernão de Magalhães e Electricida de, preguiçando junto ao mar pela 10 de Novembro sem carros e rebaptizada de “Wa terfront Promenade”.

O zénite do idílio pedestre ocorre na “Boulevard Samo ra Machel”, descendo sem pressas do edifício do Conse lho Municipal até à Praça 25 de Junho deserta de viaturas e sob o olhar de bronze do fundador da nação. “O modelo adoptado foi o das ‘ramblas’

um projecTo demasiado amBicioso para se Tornar real?

Vivia-se no auge do crescimento económico dos últimos anos quando o projecto foi iniciado, tendo um custo que, para a época parecia reduzido, mas que em 2018, se afigura como quase inalcansável face à conjuntura actual

PoPulação: 44 911 ImóveIs: 314 ImóveIs PatrImónIo: 19 escrItórIos: 1,7 milhões de m² estacIonamento: 7 000

425mil meTros quadrados É a área desTinada, nO PrOjecTO, a esPaçOs verdes

de Barcelona (capital admi nistrativa da Região da Cata lunha, em Espanha)”, diz Cossa. Mas se os carros recuam, onde aparcá-los? Segundo o arquitecto municipal, “o pla no prevê aproveitar alguns

espaços para silos de estacio namento – só pode ser em al tura – distanciados de tal for ma que o peão não tenha de percorrer mais de 15 minutos até alcançar a sua viatura estacionada”.

Cumprido o delineado, a nova Baixa ficará com 7 000 espa ços adicionais de estaciona mento não-permanente.

Lugares para automóveis que sobejariam, deixando a Baixa respirar, caso a su gestão do PPU de criar uma estação multimodal – placa giratória de passageiros arti culando autocarros, comboios e barcos – com ligações de transporte público entre a Baixa e a Maputo Metropoli tana, fosse acolhida pelas au toridades do sector.

sangue novo em casco velho A possibilidade torna-se sus peita, porém, quando vista a partir da caixa aberta de um “my love” apinhado de gente.

sociedade 54 Maio 2018
O plano era (ainda é?) ambicioso. Transformar a Baixa, na zona nobre da cidade. Mas, os custos são demasiado elevados

Gente que falta à Baixa para tornar a zona viva e mais segura após o termo do ex pediente, dirimindo o deserto escuro, entregue a indigentes e meliantes, em que se con verte assim que o sol declina. O objectivo é transformar o extremo Ocidental do PPU, dantes pleno de actividade industrial e comercial, como é notório pela sucessão de grandes armazéns que ali existem, em zona residencial por excelência.

Para o PPU, a revitalização seria induzida através da construção de 15 mil residên cias, com cerca de 1400 uni dades a custos controlados. A correr bem, a densidade populacional, hoje com um rá cio de apenas 40 pessoas por hectare, saltaria para as 206 pessoas. As quais poderiam circular mais seguras com a instalação de “nova ilumina ção pública, de modo a que uma pessoa, com visão nor mal, possa identificar um ros to a cerca de 10 metros”. Não obstante, é para o turis mo e o núcleo histórico que convergem todas as atenções. Ali, fora a Fortaleza, a sede do Standard Bank Moçambi que e a Casa Amarela – que alberga o Museu Nacional da Moeda e é tida como a pimei ra casa em alvenaria de Ma puto – os edifícios que osten tam nas fachadas o desenho colonial do último quartel do século XIX e primeira metade da centúria seguinte perde ram o esplendor de outrora.

parcerias redentoras Baços, ulcerados pela incú ria e o vandalismo, vergados pela idade e maculados por enxertias sem critério que os adaptaram a novos usos, os imóveis reclamam obras. Urgentes, onerosas e incom portáveis para os cofres da Edilidade de Maputo. Até por que parte substantiva do or çamento geral (41%) teria de ser canalizada para a cons trução de infra-estruturas básicas, susceptíveis de su

portar tamanha revolução e evitar, por exemplo, as cheias de Verão. “Na verdade, conta -se com a comparticipação de todos. O Município, por si só, não tem essa capacidade, pelo que vai ter de contar com parcerias, até porque alguns dos edifícios têm proprietá rio”, adianta Cossa, advogando a definição conjunta do devir. Assente, claro, em Parcerias Público-Privadas (PPP).

E todos não serão demais para um investimento que, a preços actuais e para o tanto que há a fazer, precisa de pelo menos 500 milhões de dólares, segundo estimativa de Gaidar Chissane Lovane, especialista em urbanismo e rotinado na elaboração de termos de re ferência para a elaboração de PPU e pareceres.

Lovane inquieta-se não tanto pela verba assustadora mas pela possibilidade de inér cia. que ela equaciona “Falta, para que alguma coisa acon teça, aprovar a Secretaria de Desenvolvimento da Baixa”.

O seu propósito seria coorde nar todas as actividades res peitantes ao PPU da Baixa de Maputo.

Sob alçada directa do Pre sidente do Município, re presentaria o Município em transacções e negociações com as partes interessadas – entidades governamentais, paraestatais, prestadores de serviços, ONGs e Organiza ções Comunitárias, institui ções financeiras ou o sector privado.

Há muito que o projecto está na Assembleia da República para análise e votação. Mas, enquanto que para a Baixa nada bule nem mexe, o mesmo organismo dedi cado ao PPU da Catembe, muito mais recente, que foi já aprovado mas pode vir a conhecer o mesm odestino. Prioridades. Com a especula ção imobiliária à vista.

texto Elmano madaíl fotografia istock

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Desenvolvimento Económico Local e as diferentes abordagens em Moçambique

escrevi, no passado, que não existe um Moçambique Rural, mas distintos Moçambique´s Rurais. Também defendi, que a agricultura se não devidamente conectada com a indústria, comércio, serviços, transportes, comunicações, energia, edu cação, saúde, entre outras áreas, dificilmente pode vingar.

A heterogeneidade do país, das condições agro-climáticas, do solo e do subsolo, da cultura, das pessoas e das instituições, desaconselha uma estratégia de desenvolvimento única. A abordagem de Desenvolvimento Económico Local (DEL) as senta na ideia de que as localidades e territórios dispõem de recursos económicos, humanos, sociais, institucionais, am bientais e culturais, além de economias de escala não devi damente exploradas, o seu potencial de desenvolvimento. As estratégias e as iniciativas de DEL visam estimular a di versificação da base económica local, favorecem o surgimen to e a expansão de empresas, cooperativas e associações e promovem a disseminação e o uso do conhecimento em prol do desenvolvimento económico, permitindo ultrapassar as ar caicas dicotomias urbano-rural e agrícola-não agrícola. Hoje em dia, o rural, está profundamente vinculado com o urbano que lhe é contíguo, ao ponto de já não mais poder falar-se em agricultura moderna sem mencionar máquina, fertilizantes, sistemas de irrigação e todas as actividades não agrícolas que lhe dão suporte. No passado, existiam territó rios do país que eram conhecidos como locais de origem de certos produtos e bens, a tal ponto que quando se falasse de Gurué, logo éramos levados a pensar no chá, da mesma for ma que falar do arroz fazia pensar no Chókwè, Mogovolas e Moma remetia-nos a pensar na castanha de caju e Mon tepuez era, como Namialo, o centro de produção de algodão. Ontem, como hoje, existem territórios que se tornaram co nhecidos em virtude dos bens ou produtos emblemáticos ali produzidos, em que há uma relação directa entre eles. É por isso que hoje se fala do ananás de Muxunguè, cabrito de Tete, arroz e tomate do Chókwè, peixe pende (kapenta e

malambe) do Vale do Zambeze, tabaco de Tsangano, batata -reno de Ulonguè, coco de Inhambane e da Zambézia, cama rão do banco de Sofala, energia de Cahora Bassa, alumínio de Beluluane, areias pesadas de Moma, gás natural de Pande e Temane e da Bacia do Rovuma, bolinhos de sura de Inhamba ne, carvão de Moatize e Benga, piri-piri da Dona Rachida em Nhancoongo, “baby corn” de Vanduzi, entre outros territórios que são conhecidos também pelos produtos típicos. Como é óbvio, não há lugar algum de Moçambique sem poten cial para coisa alguma O importante é que ele seja reconhecido e valorizado e que existam estratégias concretas delineadas para explorar o enorme potencial ainda dormente, e as van tagens competitivas que os territórios possuem, promoven do assim novos “nichos de mercado” e suas cadeias de valor. O DEL tem de estar, necessariamente, conectado com o marke ting territorial, que é muito mais do que uma forma de sentir o mercado e adaptar produtos e serviços. No caso moçambicano, e com a ressalva das especificidades locais, cinco focos são im portantes para o incremento dos territórios, a saber: (i) desen volvimento e melhoria da qualidade de vida das pessoas, atra vés da implantação de infraestruturas e serviços essenciais; (ii) reforço das identidades, no sentido de pertença, crescente auto-estima e liderança local; (iii) planeamento estratégico da economia, ordenamento do território e qualificação da mão -de-obra; (iv) estratégias concretas de DEL baseada no poten cial do território e nas capacidades e necessidades dos actores locais; (v) crescente empoderamento das pessoas e instituições do território combinando o conhecimento local e o científico. A abordagem de DEL, que tem um foco marcante no território, vai quebrar os paradigmas assentes na centralização, no diri gismo, nas posturas assentes em “solução única”, fazendo com que os cidadãos do território, as suas instituições e lideran ças, sonhem com o seu futuro melhor e o implementewm com criatividade e sabedoria, e não fiquem a “espera de orienta ções que venham da Nação”.

Ontem, como hoje, existem territórios que se tornaram conhecidos em virtude dos bens ou produtos emblemáticos produzidos, em que há uma relação directa entre ambos

OPINIÃO Maio 2018 56

Fora

E DEPOIS DA EUFORIA, ACÇÃO PRECISA-SE

A África do Sul procura reequilibrar-se depois do impacto profundo da euforia em torno da nova liderança. Reformas económicas, reduzir a corrupção e provocar um impulso no crescimento são agora o objectivo

a onda de optimismo em torno da mu dança de poder na chefia do Congresso Nacional Áfricano (ANC) e da África do Sul, na pessoa de Cyril Ramaphosa, de veria ser acompanhada por uma acção real para implementar as mudanças po líticas anunciadas.

Como a experiência africana tem de monstrado vezes sem conta, uma mu dança de liderança em si mesma não é suficiente para atrair investidores e fo mentar o crescimento económico.

Konrad Reuss, chefe da agência de ra ting global S&P para a África Subsaa riana, que falava numa reunião de homens de negócios em Joanesburgo, advertiu que “ainda se vivem os primei ros dias… e ao mesmo tempo ocorrerão eleições no próximo ano”, adiantando que o grande vizinho do sul precisava de “desenvolver um equilíbrio entre vencer as eleições do próximo ano e implementar reformas que possam

robustecer o crescimento económico”.

À medida que diminuiu a euforia teve início uma quebra do valor das acções das mais importantes empresas sul-afri canas na bolsa de valores. A ascensão de Ramaphosa à presidência da África do Sul, depois da renúncia de Jacob Zuma, foi enormemente saudada pelos mer cados no meio de um ambiente de fraco crescimento económico e um nível de desemprego muito elevado.

Assim, no mês passado, a Standard & Poors dava uma avaliação do rand a longo prazo de BB+, ou seja, no primeiro nível de lixo. A agência de notação finan ceira levantava então preocupações so bre a situação financeira das empresas públicas (SOE- State Owned Entreprises), incluindo a tristemente famosa Eskom, colosso do sector energético sul-africano que em Fevereiro de 2018 tinha visto a sua classificação baixar para o nível CCC+, o sétimo escalão do grau de não-in

O nível a que a taxa de desempregO chegOu nas últimas décadas na ecOnOmia sul-africana é verdadeiramente assustadOr para qualquer país em desenvOlvimentO é pOr issO cOnsideradO um dOs principais e maiOres ObstáculOs aO gOvernO de de ramaphOsa

Maio 2018 58
27%

vestimento, com um panorama negativo. Quando Ramaphosa ascendeu ao poder estavam, ontem como hoje, identificados os seus principais desafios como novo presidente da África do Sul: primeiro, o combate efectivo à corrupção como um mal endémico no seio do Estado, sorve douro de milhares de milhões de rands.

O grande combate

Essa luta titânica contra as teias da cor rupção, não se resume ao legado do an terior presidente Zuma, de novo a con tas com a Justiça, mas a um conjunto de dirigentes e agentes do estado e do qual o affair de state-capture por via da famí lia Gupta, apenas representou o escalão mais visível e negativo. As mudanças no sistema judiciário ainda não são suficien tes, nem na letra nem na forma. Segundo, eliminar o caos existente nas empresas estatais (SOE,s) tais como a Eskom, que teve de recorrer à banca devido ao enorme buraco financeiro. Mas seguem-se outros gigantes empre sariais públicos em maus lençóis, tais como a companhia aérea de bandeira, SAA (South African Airways) e a Pe troSA, para citar as mais renomadas, entre outras, com sucessivos resultados negativos.

Mudanças que exigem não apenas uma dança de cadeiras nos conselhos de ad ministração, mas gestões mais eficientes. O desenvolvimento económico pode ser elencado em seguida como mais um de safio. As expectativas do plano de desen volvimento nacional, que previa uma taxa de crescimento económico de 5,4% com vista a enfrentar uma taxa de de semprego de 27%, não se confirmam para já.

Mesmo o Banco Central apenas prevê uns meros 1,4% de crescimento para 2018 (adiante veremos outras projecções), se guido de outros escassos 1,6% em 2019.

Um grande desafio Inverter a tendência de descida dos ra tings da economia, será outro grande desafio para a liderança de Ramaphosa. Em 2017, tanto a Fitch como a S&P posicio naram a dívida sul-africana no nível de lixo, mesmo depois de Zuma ter demitido Nhlanhla Nene e depois Pravin Gordhan (este último, entretanto, regressado ao governo de Ramaphosa) como ministros das Finanças.

O desafio da nova equipa económi ca de Ramaphosa configura-se numa tríade gigantesca, envolvendo a luta contra a corrupção, retoma do cresci

OS tRêS (gRAnDES) DESAFIOS DE RAmAPhOSA

Com eleições gerais marcadas para o próximo ano, o novo governo tem várias batalhas duras pela frente para conseguir reabilitar a economia sul-africana

1COmbAtE à CORRUPÇÃO REDUÇÃO DO DéFICE

É, indubitavelmente um dos grandes males da sociedade sul-africana (Estado incluído) e não se resume ao legado do anterior presidente Jacob Zuma, de novo a contas com a Justiça, mas a um conjunto de dirigentes e agentes do estado e do qual o affair de state-capture por via da família Gupta, apenas representou o escalão mais visível e negativo. As mudanças no sistema judiciário ainda não são suficientes, e aguardam-se medidas que façam diminuir o seu impacto na economia.

mento e redução do défice orçamental. O novo inquilino do Union Buildings en frenta ainda o controverso desafio do acesso grátis à educação, anunciado como último sopro de Zuma e retoma do num conceito gradualista que não tem simplesmente suporte orçamen tal, mesmo com votos favoráveis no in terior do ANC e outras forcas políticas. Nem o ensino universal, nem mesmo o ensino superior em si mesmo possuem garantias financeiras de suporte, o que seguramente criará novos pesadelos orçamentais.

O crescimento da economia não se afi gura tão promissor como Ramaphosa alvitrou no seu plano anunciado em No vembro de 2017, anunciando criação de empregos, crescimento e combate às desigualdades.

Como vimos anteriormente, e mais adiante, em pormenor, também não se confirmam as previsões então feitas de 3% em 2018 e duvida-se que possa atin gir os 5% anunciados para 2023.

Fomentar o crescimento da economia e traduzir esse crescimento em criação de emprego – tal é o grande desafio de Ra maphosa e da África do Sul.

2Com um défice orçamental na casa dos 3%, muito há a ainda fazer neste campo. A começar pelo caos instalado em gigantes empresariais públicos como a Eskom, a SAA (South African Airways), ou a PetroSA.

Outra das batalhas que o presidente tem pela frente é o aumento do IVA (medida sempre impopular) em 1%, para os 15% (o que não acontecia há 25 anos) prevendo-se, de acordo com o ministro das Finanças, Malusi Gigaba, um acréscimo de 23 mil milhões de randes na receita fiscal.

3REtOmA DO CRESCImEntO

No ano passado, a economia sul-africana ficou perto do 1% de crescimento, o que ilustra bem que as expectativas do plano de desenvolvimento nacional, que previa 5,4% estão ainda bem longe de serem uma realidade.

Fomentar o crescimento da economia e traduzi-lo em criação de postos de trabalho é agora o grande desafio do novo presidente mas isso exige um aumento do investimento.

Mas como se sabe, isto exige um aumento do investimento doméstico e estrangei ro, algo apenas susceptível de alcançar com estabilidade política e um governo fiável – que não se resuma à repetida acomodação de interesses de facçõessem esquecer a pertinência do papel do sector privado.

Como se vê pelos últimos desenvolvi mentos, a polémica questão da devolu ção da terra sem compensação, que pode solapar um dos maiores fundamentos da economia sul-africana – o sector agro-in dustrial – pode minar quaisquer pers pectivas positivas.

A grande encruzilhada

Praticamente meio mundo concorda que a percepção da economia sul-africana melhorou positivamente depois da elei ção de Cyril Ramaphosa como presiden te, há alguns meses.

A taxa de crescimento da economia já foi revista em alta e pode mesmo atin gir 1,8% em 2018, mesmo segundo a OCDE, com uma previsão de 2,1% em 2019 – al guns percentuais acima do próprio Te souro Nacional.

Mas o Merchant Bank advertiu, num relatório recente, que era necessário verificar nos próximos meses se esta melhoria do ambiente económico tem sustentabilidade e se traduzirá numa

Maio 2018 59

melhoria dos indicadores de consumo e confiança na própria economia ou, fi nalmente, se isso vai reflectir-se na sua performance.Uma tendência que segun do o Banco Mundial vai em contramão em relação ao contexto positivo global, onde se espera que as economias dos países emergentes ou em desenvolvi mento possam crescer a taxas elevadas, suportadas pela alta dos produtos de base no mercado internacional.

Agricultura, indústria e serviços cresceram. A construção caiu

Segundo o referido relatório do Mer chant Bank, a maior parte das indústrias não experimentam um crescimento as sinalável desde 2007, com excepção das indústrias do retalho e serviços. Já os sectores primários têm demonstrado uma recuperação saudável.

A agricultura, por exemplo, conseguiu es capar às consequências da seca de 2016, atingindo níveis só observados em 2014. O sector mineiro, uma das grandes ala

vancas económicas da África do Sul, de pois de anos de fracos índices de cresci mento, exibiu níveis mais positivos em 2017, mas ainda sem conseguir alcançar os níveis anteriores a 2007.

Passando em análise o desempenho da indústria transformadora, os transpor tes e comunicações, assim como a logís tica de equipamentos, todos tiveram um bom desempenho nos últimos trimestres. Contudo, salienta o Merchant Bank, “o sector da construção continua a não crescer e os serviços públicos são bas tante inconsistentes. E acabou mesmo por ser o sector dos serviços que man teve a economia à ‘tona de água’ duran te este período conturbado, e é ele que deve continuar com um bom desempe nho à medida que a confiança e a activi dade económica se expandam”.

Riscos mantém-se elevados Apesar da melhoria em alguns indica dores económicos, a que se pode juntar o optimismo generalizado pela nova li

Euforia deu-se mais pela saída de Zuma, do que pela melhoria do país, que agora se espera. Mas há um longo caminho pela frente

deranlça no país, o Tesouro Nacional da África do Sul avisa que “os riscos para a economia e as finanças sul-africanas permanecem”, o que inclui “as pressões que podem emergir das próximas nego ciações no sector público e as reformas de gestão das empresas estatais ainda pendentes”, pode ler-se.

O banco adianta que as reformas de polí ticas propostas pelo novo governo ainda estão por implementar, sendo igual mente muito cedo para se pronunciar sobre a durabilidade das melhorias no clima político.

O Merchant Bank estima assim que a economia sul-africana deve retornar ao desempenho da primeira década do ano 2000 e, depois, ultrapassá-lo.

Por seu lado, o Banco Africano de Desen volvimento (BAD) prevê uma “acelera ção do crescimento” na África do Sul, com um crescimento de 3,5% per capita daqui a oito anos, algo muito necessário para obstar os altos níveis de desemprego e proporcionar a elevação da qualidade de vida dos sul-africanos.

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Fora
texto Mário Paiva fotografia istock Mina de ouro na África do Sul: melhoria no desempenho do sector é fundamental para o economia sul-africana

Onde estamos e onde queremos chegar?

Celso Chambisso • Jornalista da Revista Economia & Mercado

quando se fala no futuro de moçambique, há sempre uma preocupação que me salta à vista: maior parte das projecções, estudos económicos e evidências arrastam a opinião pública para a prosperidade. E quando se é pessimista, poucas vezes se estabelece relação com o que devia ser, quanto a mim, a maior preocupação do país: a fraca qualidade de ensino e de formação de capital humano. Uma boa compreensão da questão impõe a necessidade de uma breve visita ao conceito de Capital Humano: “É o conjun to de conhecimentos, habilidades e atitudes que favorecem a realização de trabalho de modo a produzir valor económico. São os atributos adquiridos por um trabalhador por meio da educação, perícia e experiência”. Projecções para daqui a 10 anos, por exemplo, indicam que a produção de riqueza no país pode crescer dos cerca de 15 mil milhões de dólares que se esperam para este ano, para 30 mil milhões, impulsionada pela exploração dos diferentes recursos naturais. Uma preocupação importante, neste qua dro, é que existe a noção da “maldição dos recursos”, cujo foco é reunir esforços para evitar que estas metas falhem ou que o crescimento não seja inclusivo. Consensual é que tudo depen de da forma como os recursos vierem a ser geridos, mas a mim parece fraca a consciência de que a gestão é feita por pessoas. Por instituições que são feitas de pessoas. Que prospe ridade se pode esperar se estas instituições estão com pessoas mal instruídas, mal preparadas? Que sociedade teremos se a transformação não acontece e não parece haver pespectivas de mudança?

Duvido que estejamos a rumar para a prosperidade, e o ar gumento é óbvio: o sistema de ensino apresenta lacunas que precisam de uma intervenção estrutural. Não se trata de as sunto novo e nem é preciso ir ao detalhe para explicar os pro blemas existentes a todos os níveis: é comum o aluno da sexta classe, 12 anos de idade, não saber ler nem escrever. Aqui co meça o problema. No ensino secundário, o mais comum é ler e não perceber o que se lê, o estudante não tem cultura de pes quisa. E porque não é no ensino superior que se resolvem os

problemas do ensino básico, há lá também problemas graves. Prova disso é o total despreparo que estudantes revelam ao intervir em debates sobre variados temas da vida do país em grandes conferências, por exemplo.

A falta de leitura e de informação declinam a qualidade dos debates quando se lhes passa o microfone. O mesmo acontece nas redes sociais: jovens banalizam e transformam em piadas assuntos importantes para a vida da nação, denunciando com pleta falta de consciência das mudanças que é preciso encetar para corrigir erros e tomar o rumo do desenvolvimento. E é pela má qualidade dos graduados nacionais que, em No vembro do ano passado, Tomaz Salomão, antigo secretário ge ral da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) e antigo ministro dos Transportes e Comunicações, de fendeu o encerramento das instituições que não reúnem con dições para formar quadros competitivos.

Melhorar a qualidade de formação de capital humano, na minha óptica, é uma questão de soberania que vale todos os sacrifícios, inclusive os orçamentais. O estágio actual da edu cação exige que se desmonte toda a estrutura instalada e se redesenhe uma estratégia semelhante à que se instalou nos anos que se seguiram à independência nacional (1975). Naque la altura, o professor assumia papel central. Era distribuidor de competências académicas aos alunos e as habilidades lin guísticas na leitura, interpretação de textos e contagem e do mínio da tabuada eram maiores. E apesar do pouco material didáctico, o cometimento do professor conferia maiores habi lidades aos alunos, em todas essas dimensões. Se retomarmos este ponto de partida, dificilmente teremos estudantes de ensino médio ou superior medíocres, como acontece nos dias de hoje. Mas isto exige incentivos: mais e melhores meios de trabalho e melhor remuneração para o professor (o salário do professor de nível básico varia entre 8 e 12 mil meticais). Evidências já provaram que o petróleo, o gás, carvão, areias pesadas e pedras, por si, não trazem riqueza e estabilidade. Mas o investimento na formação de pessoas faz toda a dife rença. Que o diga o Japão.

Melhorar a qualidade de formação de capital humano é uma questão de soberania que vale todos os sacrifícios, inclusive os orçamentais. O estágio actual da educação exige que se desmonte toda a estrutura instalada

OPINIÃO Maio 2018 62

ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

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O encanto do silêncio do Diamonds Mequfi Beach Resort, em Cabo Delgado 68

Market On Main, uma lufada de arte fresca, e muito sabor

A escolha do mês recai nos espumantes portugueses

g
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diamOnds mequfi Beach ResORt

*Preço Por Pessoa, Por noite, em quartos deluxe, all inclusive, Para residentes em moçambique Noites sugeridas: 4 Preço Médio: 190 usd*

+258 848 484

e-mail info@ diamondsresorts. com ou no site www. diamonds resorts.com

diamOnds mequfi Beach ResORt

O encantO dO silênciO

é ele, o silêncio, a mais marcante banda sonora des te lado do Índico.

Um silêncio feito de azuis, sempre diferentes, que as marés constroem com a ajuda das águas-marinhas e do céu. Estamos em Mecúfi, distrito da província de Cabo Delgado. O silêncio do luar acompanha as noites no novo resort que surgiu nesta praia.

Chama-se Diamonds Mequfi Beach Resort: 40 quartos de luxe e 10 suites e tem o selo da Small Luxury Hotels of the World. Requinte na de coração e nos materiais. Cá dentro, cortinas de linho, cremes de banho com óleos essenciais, lençóis imacula dos, com umas conchas e uma folha de buganvília a saudar o hóspede. Lá fora, as dunas protegidas com entrelaçados

de cana. Tudo debruçando-se para o mar turquesa. Do aeroporto de Pemba, per corre-se uma picada de cer ca de 40 quilómetros para chegar ao resort. A entrada é caracterizada por bugan vílias de variadas cores, por um embondeiro majestoso e um edifício branco, feito de brise-soleil, o dispositivo ar quitectónico utilizado em todo o complexo.

As casas surgem como pe queno pontos nessa grande superfície, com os seus telha dos de capim acinzentados pelo sol, pela chuva e pela maresia que se espalha no ar. São pintadas de branco, com elementos cruzados de madei ra escura na parte superior. Lembram as casas da terra de Shakespeare. Ao longe, vê -se a lagoa feita de mangal,

essa vegetação tão importan te para o ecossistema, abrigo dos peixes mais jovens, de ca marões e caranguejos.

No estaleiro do Diamonds Mequfi Beach Resort há sete cavalos que todos os dias são levados até à praia por Sue -Mari, a jovem cavaleira que dá aulas de hipismo e acom panha os hóspedes numa das experiências mais encanta doras: nadar com os cavalos nas ondas do mar.

Claro, não é para qualquer um, é preciso ter quase tanta vontade de viver uma expe riência única, como alguma experiência neste tipo de aventura.

Para quem nenhuma tem, as aulas à beira-mar até ao fundo da baía são um must. Quanto ao conforto, é a outra nota dominante, juntamen

eMaio 2018 66

te com o serviço. Piscina de água doce com zona para crianças, bar, recepção com pessoal multilíngue, loja, cen tro de desportos náuticos, um spa. E três restaurantes. E aqui, mais uma experiência requintada. O chef e a sua equipa tudo fazem para garantir quali dade e delicadeza nos pratos que servem. pão fabricado diariamente, peixes e maris cos, carnes, massas frescas, frutas, compotas, gelados, ve getais locais. Cozinha indiana, italiana e moçambicana nos três restaurantes, cada um decorado com elegância e bom gosto. Paisagem e silên cio, um poema para os cinco sentidos.

onde comer Os restaurantes Brisa do Mar, Sea You Restaurant, Bela Baia Bar e Beach Bar servem especialidades gastronómicas da Índia, da itália e de Moçambique, com produtos locais.

o que fazer Passear de catamarã, fazer windsurf, kitesurf, canoagem no mangal, hipismo à beira-mar ou snorkeling. Ver as baleias de Agosto a Outubro. fazer as excursões de avioneta na ilha do ibo. Para relaxar, pode optar por uma massagem tailandesa e holística, ou então por aulas de ioga e pilates. Para as crianças, há cursos de cozinha.

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textO Paola rolletta fOtOgRAfiA mauro Pinto a entRada é caRacteRizada pOR Buganvílias de vaRiadas cORes, um emBOndeiRO majestOsO e um edifíciO BRancO, feitO de BRise-sOleil. tudO feitO paRa inundaR Os sentidOs

maRket On main

g

a baixa de Joanesburgo ga nhou nos últimos tempos uma nova vida que se alimenta de arte e comida fresca. Ora pensemos no Mercado de San Miguel em Madrid, em Co vent Garden em Londres, ou no Time Out Market em Lis boa. O Market On Main é uma mistura de tudo isso, mas com a devida pitada de piri-piri africano.

m a R ket On m ain,

uma lufada de aRte fResca

Com um conceito criado pe los empreendedores de de sign Jacques van der Watt da marca Black Coffee e Bradley Kirshenbaum com o objectivo de aliar gastronomia e de sign num espaço diferente e com uma frequência sema nal nascia em 2011, o Market on Main.

Com ele, a baixa da cidade ganhou vitalidade, e a comu nidade artística mais um lu gar para fazer sobressair os traços de uma nova intercul turalidade latente na maior cidade sul-africana.

Caminhar pelo Mercado, afi gura-se como uma viagem. Ao nível de sabores (e aqui, a música ao vivo, tocada por artistas locais, propicia a banda sonora ideal para um roteiro sem lugar de chega da), eles existem para todos os gostos, independentemen te da geografia: do Extremo Oriente em que a Li Kitchen encanta cada visitante com os ‘dumplings’ mais delicio sos do quarteirão, passando pelas raízes indianas que crescem na cultura sul-afri cana, onde o butter chicken da cozinheira do Durban Deli é inescapável. Num pequeno salto de poucos passos, somos transportados até ao outro lado do globo. Não, não se as cOm

suste com o tamanho da pae lla que nos dá as boas-vindas. Ela é, ainda assim, menor do que o prazer de a degustar. Para quem gosta de doces (quem não gosta?) a referên cia devida para os gelados ar tesanais, e para o magnífico ‘Coffee on cone’, uma sobreme sa em que o seu café expresso é servido num cone de bola cha juntamente com gelado. E se para si, ‘é mais é bolos’, então terá a árdua tarefa de escolher entre um arrojado ‘red velvet’, ou o bom velho amigo ‘bolo de chocolate’, nes te caso ‘sprinkled’, com nozes macadamia. Mas, se é mais sisudo, e só quer um café simples, procure o ‘lounge’, onde a ‘bica’ é etíope, e ser

vida em pequenas chávenas sem asas. A diversidade é a marca distintiva do Mercado e isso nota-se nas frutas da época que se transformam, em passes de mágica, numa mistura de sumos carrega dos de vitaminas com aroma de mirtilos, beterraba ou menta. Mas há, claro, outras opções para acabar com a sede. Especialmente se gos tar de ousar na escolha da cerveja, já que existe um bar totalmente dedicado às arte sanais, em receitas que pe dem uma prova múltipla, es pecialmente se estiver calor. Quando atravessar a zona de restauração vai encontrar um arejado pátio onde irá perder-se nos livros sobre arte, gastronomia ou histó ria, divertir-se com as ilus trações que vai encontrar nas paredes do atelier de cerâmica que existe mesmo ao lado ou então repousar, na esplanada e aproveitar um belo gin tónico. É só uma ideia. E também pode continuar na cerveja, porque aqui anda-se a pé e o balão não sobe.

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textO eliana silva fOtOgRAfiA d.r.
Joburg Horário todos os domingos, a partir das 10 horas
O maRket On main, Os dOmingOs de jOanesBuRgO fORam RevitalizadOs cOm a mistuRa de nOvOs talentOs e um melting pOt gastROnómicO

aplausO cOlheita selecciOnada BaiRRada dOc BRutO 2012

País Portugal

região Bairrada castas Maria Gomes, Bical e Baga cor Ligeiro amarelado com alguns toques de laivos dourados aroma Frutos de polpa branca, maçãs verdes, algumas notas de tosta com final ligeiramente limonado Paladar Boa estrutura de boca, equilibrado, excelente mousse fina, bolha fina e persistente final Intenso, longo, cremoso e envolvente temPeratura a que deve ser servido: 6º

apesaR da sua pequena dimensãO teRRitORial, pORtugal está entRe Os 10 maiORes pROdutORes de vinhO a nível mundial

a aRte da Refinada

BOlha p ORtuguesa

RegateiRO dOc BaiRRada BRancO BRutO 2013

palavRaR vinhO espumante BRutO

País Portugal

região Bairrada castas Maria Gomes e Bical cor Ligeiro amarelo com laivos dourados, bolha fina e persistente aroma Frutos de polpa branca (maçãs brancas), algumas citinas e tropicais Paladar Bom volume de boca, equilibrado, com excelente mousse final Intenso, cremoso e envolvente temPeratura a que deve ser servido: 6º

aplausO ROsé

BaiRRada dOc BRutO

País Portugal

região Bairrada castas Baga e Touriga Nacional cor Rosa Salmão aroma Muito frutado, lembrando frutos silvestres e morangos frescos Paladar Espumante de bolha muito fina, leve, com bela vivacidade e harmonia. Acidez que lhe confere grande frescura e equilíbrio final Intenso, cremoso e envolvente temPeratura a que deve ser servido: 6º

não se pode mencionar a Bairrada sem falar da produção de espumantes pois ela é a região mais antiga e importante de Portugal na elaboração deste tipo de vinho – os espu mante são ali produzidos desde 1890, e pelo método clássico, o que dá muito mais sofisti cação e fineza aos vinhos. Apesar de ser uma das mais pequenas re giões vitivinícolas, a Bairrada representa cerca de 65% da produção oficial de vinhos espumantes em Portugal. Uma das razões que contribui grandemente para a qualida de diferenciadora que os distingue tem a ver com as características desta região. A acidez é fundamental e mais do que em qualquer outro lugar pode-se aqui obter vinhos de ele vada acidez mesmo com boas maturações. O resultado são espumantes com maior estru tura e envolvência de boca.

A principal uva da Bairrada é a Baga, que corresponde a pelo menos 50% das uvas plantadas na região. Trata-se de uma va riedade tinta cujos taninos são muito ricos e presentes, garantindo aos seus vinhos uma longevidade elevada.

O Regateiro Doc Bairrada Branco Bruto 2013, elaborado a partir da casta Baga, foi distin guido pela “Revista de Vinhos” (publicação de referência do sector) como um dos melhores de 2015 merecendo-lhe a seguinte aprecia ção: “Branco feito de uvas tintas, tem uma leve tonalidade rosada e aroma bastante fino, com leves tostados a amparar a fruta fresca. Na boca surgem notas de maçã verde, num conjunto que prima pela harmonia, com final fresco, muito elegante e suave”.

A sua excelente mousse, a bolha fina e persis tente e a excelente acidez são alguns dos atri butos que fazem dele uma boa escolha para acompanhar, por exemplo, assados no forno.

País Portugal região Bairrada castas Baga cor Ligeiros reflexos rosa, característicos de um vinho branco feito de uvas tintas aroma frutos vermelhos, complexo Paladar excelente mousse, bolha fina e persistente, estruturado, fresco com uma excelente acidez final intenso, longo, cremoso e persistente temPeratura a que deve ser servido: 6º - 8º

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textO
rui trindade fOtOgRAfiA d.r.

•em destaque

“MoçaMbiQue – José Cabral”

O livro que acompanha a exposição com o mesmo título, patente no Camões – Centro Cultural Portu guês e galeria Kulungwana, é uma obra indispen sável para conhecer e compreender a obra do fo tógrafo moçambicano José Cabral. trata-se de uma edição bilingue (português/in glês) da KYZ Books e da Associação Kulungwana, coordenada por Alexandre Pomar. O livro reúne mais de 100 fotografias de José Cabral e inclui textos do coordenador e de Drew thompson (es tados Unidos da América).

Para Alexandre Pomar, José Cabral “é um artista fotógrafo de grande cultura visual e literária (…) que defendeu através da independência da res pectiva obra e das várias exposições pessoais (…) a liberdade estética e o intimismo autoral”.

edição KYz booKs e associação Kulungwana

eXpOsiÇÕes

exposição De pintura

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala de exposições inauguração: 02/05 às 18h30 Patente até 15/05 entrada gratuita

João de azevedo exposição De esCultura “QuanDo olho para MiM não Me reConheço”

Fundação Fernando Leite Couto galeria inauguração: 09/05 às 18H00 Patente até 02/06 entrada gratuita sara carneiro e luís santos exposição De FotoGraFia “Capas aFriCanas”

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala de exposições inauguração: 18/05 às 18h Patente até 02/06 entrada gratuita

Youri lenquette

mÚsica

Joel Karabo elliott & roots GrowinG Deep

música filmes livros

Fundação Fernando Leite Couto 03/05 às 18H00

Moreira ChonGuissa

Fundação Fernando Leite Couto 04/05 às 18H00

Deltino Guerreiro/ KonGoloti sessions

Fundação Fernando Leite Couto 11/05 às 18H00

evento De abertura Do Festival aZGo natalie natieMbé, Flávia Coelho, Gran’Mah e KoMManDa obZ

Centro Cultural Franco-Moçambicano Jardim e sala grande 18/05 às 20h30 Bilhetes: 500Mt/400Mt

cinema

17º CiClo de CiNeMa euroPeu

Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório De 04/05 a 13/05 Sessões às 17h e 19h30 entrada gratuita as prinCesinhas enCenação - GuilherMe roDa

teatRO

Fundação Fernando Leite Couto teatro para os mais pequenos 12/05 às 10H00

livROs

MunDo Grave

Pedro Pereira Lopes

Mundo grave, “um policial negro e arredio a exotismos, localizado num país que luta ainda pelas suas catarses” foi a obra vencedora da 1ª edição do Prémio iNCM/eugénio Lisboa 2017.

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José Cabral exposição de fotografia Camões – Centro Cultural Português (até 1 de Junho) de Segunda a Sexta das 11h às 18h Galeria Kulungwana – (até 25 de Maio) de Terça a Sexta das 10h às 17h e Sábado das 10h às 15h

hOmenagem a um mestRe da fOtOgRafia

em mOÇamBique

com curadoria de Filipe Branquinho e Alexandre Po mar, a exposição é uma apre sentação antológica inédita do trabalho do fotógrafo mo çambicano José Cabral, uma das referências maiores da fotografia em Moçambique. Reunindo um conjunto alar gado de fotografias, entre provas de autor e novas im pressões, a exposição estará patente ao público no Camões – Centro Cultural Português até ao dia 1 de Junho.

A exposição é acompanhada, em paralelo, pelo lançamento do livro “Moçambique – José Cabral”, uma edição bilingue (português/inglês) da KYZ Books e da Associação Kulun gwana, coordenada por Ale xandre Pomar. O livro reúne mais de 100 fotografias de José Cabral e inclui textos do coor denador e de Drew Thomp

son (Estados Unidos da Amé rica). No seu texto, intitulado “Documentário Emocional”, Alexandre Pomar, um estu dioso e profundo conhecedor da história da fotografia em Moçambique, escreve: “«José Cabral é o outro mestre da fo tografia moçambicana (…) Um mestre original, irreverente, individualista, indisciplinado. Por vezes revoltado e irascí vel, o que as suas fotografias

jOsé caBRal

não deixam adivinhar, na se renidade dos seus itinerários e na ternura com que olha as pessoas, todas elas, nos seus inúmeros retratos.

Fotógrafo culto, informado pela literatura e o convívio literário, viajado, Cabral tem um perfil de excepção e de ruptura original e crítico”.

José Cabral nasceu em 1952, em Maputo. Aprendeu fotografia com o pai, técnico dos caminhos de ferro de Moçambique. A partir de 1975, trabalhou como fotógrafo no instituto Nacional de Cinema, na Agência de informação de Moçambique (AiM) e nos jornais “Notícias” e “Domingo”. De 1986 a 1990 leccionou no Centro de formação fotográfica. Conta já com dezenas de exposições em vários países, das quais se destacam: Planalto Maconde, 1998, Nas Linhas da Mão, 2006, Urban Angels/Anjos Urbanos, 2009, espelhos Quebrados, 2013.

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mOÇamBique

modelo Koleos tecnologia

4x4-i, presente em todos os modos de condução com sistema de tracção às quatro rodas que facilita a alternância entre os modos 2WD, 4WD AUtO e 4WD LOCK stand Caetano Fórmula Moçambique

nOvO Renault

aO meRcadO naciOnal kOleOs chega

num evento realizado no passado mês de Abril, a Cae tano Fórmula Moçambique, afiliada do grupo português Salvador Caetano e distribui dora oficial da marca Renault em Moçambique, anunciou o lançamento do novo modelo Renault KOLEOS, um SUV to talmente redesenhado e tec nologicamente sofisticado. Apresentado na Exposição Internacional de Automóveis de Pequim, o Renault KOLEOS chega com um novo design, uma nova plataforma, novas dimensões e novos motores. Entre as várias caracterís ticas que sobressaem neste novo KOLEOS, destaca-se, em particular, a sua componen te tecnológica. A tecnologia 4x4, de fácil utilização, é a

tecnologia 4x4-i, presente em todos os modos de condução com um sistema de tracção nas quatro rodas que facilita a alternância entre os modos 2WD, 4WD AUTO e 4WD LOCK. A nova transmissão KOLEOS 4x4 também garante uma maior segurança e estabili dade, neutralizando a sub viragem e sobreviragem e optimizando a aderência em condições difíceis. O novo KOLEOS está apto para todos os terrenos, com uma distân cia do solo de 213 mm. Outro aspecto a destacar tem a ver com os sistemas avançados de assistência ao condutor. Na versão para Moçambique o KOLEOS vem equipado com um sistema de travagem de emergência activa, vários ti

pos de alertas (aviso de afas tamento da faixa, aviso de distância segura, reconheci mento de sinais de trânsito com aviso de excesso de velo cidade, aviso de ‘ponto cego’, detecção de cansaço) e de sis temas auxiliares (câmara de visão traseira, faróis automá ticos, faróis dianteiros, senso res de estacionamento dian teiros, traseiros e laterais, e auxiliar de estacionamento). A conectividade do KOLEOS é outro dos pontos altos des te modelo, nomeadamente o ecrã táctil R-Link 2 com 8,7” (22 cm), com um sistema de controlo conectado, que lhe permite coordenar funciona lidades como o sistema de áudio BOSE Surround, info tainment, e navegação, tele fone mãos-livres através da conectividade Bluetooth.

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textO rui trindade fOtOgRAfiA d r
va tecnOlOgia 4X4-i, de fácil utilizaÇãO está pResente em tOdOs Os mOdOs de cOnduÇãO cOm um sistema de tRacÇãO às quatRO ROdas que facilita a alteRnância
Renault

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