E&M_Edição 85_Junho 2025 • 50 Anos de Independência - De Onde Vimos... E Onde Queremos Chegar
UMA MUDANÇA DE PARADIGMA
AQUECIMENTO GLOBAL
JOVENS DO MUNDO EXIGEM ACÇÃO CLIMÁTICA JUSTA, FINANCIAMENTO DIGNO E VOZ NAS DECISÕES GLOBAIS
QUINQUÉNIO 2025-29
ECONOMIA, SUSTENTABILIDADE, DESENVOLVIMENTO E PROMESSAS NO AR: QUE PAÍS TEREMOS ATÉ 2029?
PROJECÇÕES
ÁFRICA SUBSAARIANA CRESCE 3,5% EM 2025, MAS MOÇAMBIQUE AFUNDA PARA 2,5%, ALERTA O FMI E BM
DE ONDE VIMOS... E ONDE QUEREMOS CHEGAR
Dos alicerces da independência aos desafios da globalização, Moçambique percorreu um longo caminho. Hoje, enfrenta dilemas cruciais do desenvolvimento: inclusão, sustentabilidade e soberania. O futuro será definido pelas escolhas que fizermos agora
24 ESG
NAÇÃO
24 50 anos de independência. Especialistas em economia, educação e governação apontam falhas estruturais e defendem um novo pacto para um desenvolvimento justo e sustentável nos próximos 50 anos
36 Os desafios da Educação. Jorge Ferrão defende reformas estruturais e um Ministério exclusivo para o ensino fundamental como base para um sistema educativo forte e adaptado ao futuro
38 Sustentabilidade e meio ambiente. O ambientalista Rui Silva propõe transformar o ambiente em motor de desenvolvimento, com reciclagem local e créditos de carbono como pilares da sustentabilidade
40 Entrevista. “Há Uma Mudança de Paradigma na Ajuda a Moçambique”, afirma Elsbeth Akkerman, embaixadora dos Países Baixos, um dos mais antigos parceiros económicos do País
14
Acção climática. Jovens de 39 países apelam a mudanças concretas e imediatas, justiça no financiamento e voz nas políticas, rumo à COP30, na Declaração da Juventude pelo Clima de Belo Horizonte
18 CONTEÚDO LOCAL
Transparência. Empresários moçambicanos exigem integridade nas compras públicas e defendem medidas concretas para que o conteúdo local deixe de ser mera retórica e passe a realidade
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46 SHAPERS
Samir Amin. Economista franco-egípcio explica porque é que a independência dos países africanos foi incompleta, sem soberania económica, e defende uma desconexão estratégica do sistema capitalista
MERCADO & FINANÇAS
Promessas a médio prazo. Programa Quinquenal do Governo 2025-29 promete progresso inclusivo, mas faltam clareza financeira e metas concretas, gerando cepticismo sobre a sua viabilidade
50 MACRO
Contas públicas 2025. Orçamento do Estado estreia ‘Era Chapo’ com contas frágeis, foco social e cortes polémicos no sector da Defesa, desafiando-se a transformar metas em melhorias reais
58 RADAR ÁFRICA
Perspectivas económicas. Fundo Monetário Internacional revê em baixa o crescimento de Moçambique, aponta desafios fiscais e relança programa - após dívida ultrapassar 100% do PIB e agitação social
POWERED BY
34 Absa
62 Hollard
52 FNB
60 Tempus Global Group
64 Galp
67 MOÇAMBIQUE DIGITAL
68 Inteligência Artificial ChatGPT lidera entre ferramentas de Inteligência Artificial, apesar da subida de rivais como o DeepSeek
SECÇÕES
3 Sumário
4 Editorial
6 Observação
8 Radar
10 Números em Conta
56 Radar África Breves
70 Panorama
ÓCIO
74 Escape Sabia que está quase a começar mais uma época de esqui e ‘snowboard’ em África? 76 Carros Nova Mazda BT-50 “Bate Tudo”: robusta, tecnológica e pronta para dominar qualquer estrada de Moçambique.
77 Adega Da Kanonkop Wine Estate chega uma proposta exótica da casta Pinotage
78 Moçambicanos na diáspora Sirilo Lourenço viu na distância entre Brasil e Moçambique uma oportunidade de negócio
80 Agenda Tudo o que não pode perder em Junho 82 Fecho de Contas Conferência da ONU pode ajudar Moçambique e África a salvar oceanos
12 BIG, Allan Mate, Global Markets Trader, Banco BIG Moçambique
20 CTJ, Marcelo Tertuliano & Bruno Chicalia, Partners da CTJ
54 João Gomes, Partner @ BlueBiz OPINIÃO
Celso Chambisso Editor Executivo da Economia & Mercado
Meio Século Depois, o Que Virá?
Junho de 2025 marca os 50 anos da independência nacional. Meio século depois do grito de liberdade, Moçambique encontra-se novamente perante uma encruzilhada histórica. O sonho de 1975, de um país livre, próspero e justo, permanece, em muitos aspectos, por cumprir. A travessia foi longa, marcada por conflitos, catástrofes naturais, reformas económicas, crescimento intermitente e promessas sucessivamente adiadas. Mas este marco simbólico dos 50 anos convida a uma reflexão mais profunda: que país queremos ser nos próximos 50? Nesta edição, recorremos a vozes autorizadas — académicos, economistas, diplomatas e representantes de parceiros multilaterais — para tentar desenhar a fotografia do futuro. O que nos espera? Prosperidade ou desgraça? A resposta está nas decisões que tomarmos hoje. Moçambique tem recursos abundantes: energia, minerais estratégicos, terras férteis, mar e juventude. É também um País com potencial geoestratégico, capaz de se tornar um elo vital entre o interior do continente e o Índico. No entanto, riqueza potencial não é desenvolvimento garantido. Ao longo dos últimos 50 anos, o crescimento económico não se traduziu na melhoria dos indicadores de pobreza ou na equidade social. A economia, que deveria servir as pessoas, raramente se orientou para esse fim. Em vez disso, as desigualdades agravaram-se e a exclusão social alimentou ciclos de violência, cor-
A juventude que agora entra na escola será a liderança de 2075. Será ela a colher os frutos ou a pagar o preço das escolhas de hoje
rupção e desconfiança institucional. O risco de repetirmos os erros do passado é real. Um futuro de desgraça caracterizado por crises sucessivas, governação frágil e tensões sociais latentes permanece no horizonte, se não forem feitas reformas profundas. Por outro lado, também é real a oportunidade de reinventar o nosso percurso. A prosperidade sustentável é possível, mas requer coragem política, compromisso com a justiça social, investimento em educação e inovação e uma nova ética de responsabilidade pública e privada.
A juventude que hoje entra na escola primária será a liderança de 2075. Será ela a colher os frutos ou a pagar o preço das escolhas feitas neste momento decisivo. É por isso que este debate é urgente. Precisamos de políticas públicas que olhem além dos ciclos eleitorais e extractivistas, que valorizem o capital humano e promovam um crescimento inclusivo, resiliente e sustentável.
A independência não é apenas um facto histórico. É uma tarefa contínua. É a liberdade de escolher um futuro diferente, mais justo e promissor. Que os próximos 50 anos não sejam uma repetição dos erros do passado, mas sim o tempo em que Moçambique cumpriu a promessa feita em 1975: ser uma nação para todos.
Nesta edição, convidamo-lo a reflectir, debater e sonhar connosco. Porque o futuro começa hoje, e a escolha entre a desgraça e a prosperidade ainda está nas nossas mãos.
EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE Media4Development
NÚMERO DE REGISTO
01/GABINFO-DEPC/2018
Presidential Golf Day 2025
Golfe Marca Nova Era de Promoção do Turismo em Moçambique
Moçambique quer apostar no poder do desporto como motor para o desenvolvimento turístico, com a realização do Presidential Golf Day 2025, um evento que marca as celebrações dos 50 anos da independência nacional. Durante quatro dias, de 21 a 24 de Junho, o País acolherá personalidades do mundo empresarial, diplomático e desportivo, transformando o golfe numa montra estratégica do potencial turístico nacional.
Mais do que uma competição de elite, o torneio servirá de vitrina das paisagens, da hospitalidade e da capacidade de Moçambique em acolher eventos de
classe mundial, integrando o desporto na agenda económica. Ao unir golfe, turismo e investimento, o País pretende posicionar-se como destino privilegiado, em África, para o turismo desportivo de alto nível. Através deste evento, Moçambique procura projectar uma imagem moderna, acolhedora e com infra-estrutura capaz de receber turismo de negócios e lazer em simultâneo. É também um gesto de diplomacia, que convida o mundo a descobrir o País, não apenas como palco de oportunidades económicas, mas como espaço de convivência, excelência e beleza natural.
Industrialização
Moçambique entre os novos protagonistas do crescimento africano
Moçambique é destacado entre os países africanos que lideram uma nova vaga de industrialização, segundo a plataforma Industrial Analytics. O estudo analisou tendências em 51 países e aponta sinais claros de recuperação industrial na África Subsaariana, após décadas de estagnação. Entre 1990 e 2010, o emprego industrial manteve-se nos 7,2%, mas subiu para 8,3% em 2018, com Moçambique, Quénia e Senegal entre os que mais avançaram. O crescimento tem sido impulsionado por mão-de-obra jovem e integração crescen-
te em cadeias de valor globais. O relatório recomenda o foco em sectores intensivos em trabalho para garantir inclusão económica. Sublinha também a necessidade de acelerar a digitalização e reforçar os ecossistemas tecnológicos.
Apesar dos inúmeros desafios, Moçambique mostra, mais uma vez, potencial para alinhar a industrialização e inovação no longo prazo. Este tema será aprofundado na Manufacturing Indaba Conference, a ter lugar em Julho de 2025, em Joanesburgo, África do Sul.
A companhia estatal Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) volta a ser alvo de reestruturação, num ritual cíclico de promessas, planos e rupturas que têm marcado a história recente da companhia de bandeira. Depois de décadas a operar com dificuldades crónicas – desde aviões obsoletos e endividamento insustentável até má gestão e intervenções estatais –, a empresa confronta-se com mais uma tentativa de renascimento. A pergunta impõe-se: será esta mais uma operação de cosmética institucional ou um verdadeiro virar de página para uma companhia que, por muito tempo, voou à beira do colapso? Entre intenções re-
formistas e pressões económicas, o discurso oficial volta a insistir na “modernização”, na “eficiência operacional” e no “reposicionamento estratégico”. Mas quantas vezes já se ouviu isto antes? A LAM é, ao mesmo tempo, símbolo de ambição nacional e espelho de fragilidades do Estado na gestão de activos. Desta vez, fala-se de parcerias internacionais, profissionalização da gestão e cortes na gordura institucional. Resta saber se o plano vai além do papel, se haverá coragem para enfrentar os vícios acumulados e se, de facto, a companhia poderá voar com as suas próprias asas. O tempo, como sempre, há-de dizer. Aviação
Energia
Sasol revê investimento climático e prioridades com impacto em Moçambique
A petrolífera sul-africana Sasol anunciou um corte de 70% no orçamento do seu plano climático até 2030, reduzindo o investimento previsto para a transição energética (até 25 mil milhões de rands, cerca de 88 mil milhões de meticais) para rondar entre 4 e 7 mil milhões de rands (14 e 24,5 mil milhões de meticais). Apesar da redução, a empresa afirma manter o compromisso de reduzir 30% as emissões de gases com efeito de estufa. A medida responde a pressões de investidores insatisfeitos com os resultados financeiros da empresa e inclui a rejeição oficial do uso de gás natural liquefeito (GNL) como alternativa ao gás moçambicano, cuja produção es-
tá em queda. Embora reconheça o papel estratégico do GNL para as províncias sul-africanas de Gauteng e KwaZulu-Natal, a Sasol considera os custos de importação ainda inviáveis, o que lança incertezas sobre futuras receitas e projectos conjuntos com Moçambique no sector energético.
A empresa pretende usar gás rico em metano proveniente do carvão para colmatar a escassez prevista entre 2028 –quando termina o actual contrato de fornecimento com Moçambique – e 2030, enquanto decorrem estudos e negociações para soluções de médio prazo, como projectos “gas-to-power” em parceria com a Eskom.
Branqueamento de capitais Moçambique cumpre requisitos e aguarda saída da lista cinzenta em Setembro
Moçambique concluiu com sucesso todas as 26 exigências impostas pelo Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI) para reforçar o combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo. A confirmação foi feita pelo comité executivo de coordenação para a retirada de Moçambique da “lista cinzenta”, que apresentou os resultados do sétimo relatório de avaliação. O anúncio oficial da saída do País da lista poderá ser feito em Setembro, durante uma reunião de alto nível do GAFI, que terá lugar em Maputo.
Luís Cezerilo, coordenador do comité executivo, destacou que o País está agora à espera de procedimentos formais. Segundo referiu, a expectativa é que Moçambique volte a ser visto como um destino financeiro confiável. No entanto, Cezerilo sublinhou que ainda há etapas a cumprir, incluindo a preparação de uma visita de avaliação do GAFI e a apresentação de dados sobre organizações sem fins lucrativos que movimentam grandes somas, com foco especial na província de Cabo Delgado.
Moçambique no Top-10
Das Economias Mais Informais
A economia paralela ou informal representa, em média, 11,8% do PIB mundial. Nos países de baixo rendimento, como é o caso de Moçambique, essa fatia é muito mais expressiva e chega mesmo (em média) aos 42,4% de toda a riqueza nacional. Já nas economias mais ricas, esse peso desce para apenas 5,9%. Países como Serra Leoa, Níger e Nepal apresentam uma economia paralela superior a 50% do PIB. Em Moçambique, em 2023, os números oficiais indicam que a economia informal representou 39,1%, ascendendo a um valor de 8,4 mil milhões de dólares que passam “à mar-
gem” das contas oficiais da economia nacional – mas é provável que os números estejam subestimados, devido às fragilidades do sistema de recolha estatística. Do outro lado da tabela, nos Estados Unidos, a “economia sombra” equivale a cerca de 5% do PIB, num valor estimado de 1,4 bilião de dólares, e o país em que há um menor peso da economia informal são os Emirados Árabes Unidos.
O que é a economia informal?
Estima-se que a economia paralela global mova biliões de dólares por ano num vasto leque de transacções não declara-
ECONOMIA SOMBRA (OU INFORMAL): PERCENTAGEM POR PAÍS
Valor da economia sombra como percentagem do PIB de cada país
das, que vão desde as mais legítimas rotinas diárias até às mais graves actividades criminosas. Isto inclui transacções tão diversas como as compras junto de vendedores informais até ao tráfico de armas ou drogas. O denominador comum é a circulação de numerário “por fora” dos sistemas de registo, tributários ou fiscais. Apesar da dificuldade em medir esta realidade com precisão, os dados do Global Shadow Economy Report 2025, elaborado pela consultora Ernst & Young, apontam para uma tendência de redução: de 17,7% do PIB global em 2000 para 11,8% em 2023.
Allan Mate • Global Markets Trader, Banco BIG Moçambique
‘Swaps’ Cambiais: Uma Janela de Oportunidade Para Moçambique?
Desde Bretton Woods, em 1944, o dólar norte-americano consolidou-se como espinha dorsal do sistema financeiro global. Ao longo das décadas, tornou-se na principal moeda de reserva internacional, mas também num instrumento dominante nas transacções comerciais e financeiras entre países. Isso trouxe benefícios inegáveis, como liquidez e previsibilidade, mas também gerou dependência. Em momentos de tensão nos mercados, a escassez de dólares pode transformar-se num obstáculo sério, afectando a capacidade de importação, o serviço da dívida externa e, em última instância, a estabilidade económica de muitos países.
A crise financeira de 2008 trouxe esse risco à tona. Em resposta à seca de liquidez global, a Reserva Federal dos EUA (Fed) criou linhas de ‘swap’ [troca] cambial com os principais bancos centrais do mundo, entre eles o Banco Central Europeu, o Banco do Japão e o Banco de Inglaterra. O objectivo era claro: garantir o fornecimento de dólares às economias parceiras e travar a propagação do pânico nos mercados.
vo ao estabelecer acordos bilaterais de ‘swap’ com dezenas de países, frequentemente utilizando o renminbi (CNY). Mais do que uma resposta à escassez de divisas, esses acordos revelam uma disputa por influência monetária e geopolítica.
Entretanto, o sucesso e a eficácia de tais mecanismos dependem de um factor essencial: confiança. A credibilidade das instituições financeiras de cada país é determinante para que um banco central estrangeiro aceite comercializar uma linha de ‘swap’. Nesse contexto, países como Moçambique enfrentam um desafio particular.
Embora Moçambique tenha boas perspectivas de entrada de divisas nos próximos anos, especialmente com os megaprojectos de Gás Natural Liquefeito (GNL) em curso, o país continua exposto a riscos cambiais consideráveis. A economia permanece fortemente dependente de importações, e as fontes alternativas de captação de moeda estrangeira são ainda limitadas. Uma eventual escassez de dólares poderia comprometer não só o abastecimento de bens essenciais, como também os compromissos externos do Estado e do sector privado.
“A credibilidade das instituições financeiras de cada país é determinante para que um banco central estrangeiro aceite comercializar uma linha de ‘swap’. Nesse contexto, países como Moçambique enfrentam um desafio particular”
Mas o que são exactamente estas linhas de ‘swap’? Em termos simples, tratam-se de acordos entre bancos centrais para a troca temporária de moedas. Um banco central cede a sua moeda nacional em troca de uma moeda estrangeira, geralmente o dólar, com a obrigação de reversão da operação no futuro, acrescida de juros. Embora, tecnicamente, se assemelhem a empréstimos garantidos, as linhas de ‘swap’ têm uma função muito mais ampla: actuam como uma rede de segurança que dá confiança aos mercados e estabilidade às reservas internacionais.
Com o tempo, estas linhas deixaram de ser exclusividade de economias desenvolvidas. Nos últimos anos, países emergentes também passaram a beneficiar dessa ferramenta, reflectindo a crescente complexidade e interconexão da economia mundial. A China, por exemplo, tem desempenhado um papel acti-
As linhas de ‘swap’, nesse cenário, poderiam representar uma alternativa estratégica. Ao assegurar acesso a divisas em momentos críticos, esses acordos permitiriam ao Banco de Moçambique gerir melhor as flutuações cambiais e garantir a liquidez do sistema financeiro. No entanto, a implementação dessas soluções exige mais do que vontade política: requer o fortalecimento institucional, a melhoria da transparência fiscal e a construção de uma reputação de estabilidade macroeconómica.
Neste contexto, a inclusão de países africanos em redes globais de swap não é apenas uma questão técnica; é também um reconhecimento da sua relevância no cenário económico mundial. Para Moçambique, trata-se de uma oportunidade para preparar o terreno rumo a uma economia mais resiliente e integrada, reduzindo a vulnerabilidade às oscilações do mercado internacional de divisas.
Jovens Pedem Acção Climática e Políticas Públicas
Jovens de 39 países, reunidos no Brasil, lançaram uma declaração ousada a poucos meses da COP30: apelam à acção climática imediata e exigem justiça no financiamento climático.
Texto Nário Sixpene • Fotografia D.R.
Duzentos jovens delegados de 39 países reunidos presencialmente em Belo Horizonte, no Brasil, e outros 300 participantes ligados via Internet aprovaram, no dia 4 de Abril, a Declaração da Juventude pelo Clima de Belo Horizonte, um apelo ousado e global que exige mudanças concretas e imediatas na agenda climática internacional. O documento é considerado o ponto alto da Cimeira Global da Juventude pelo Clima 2025, que contou com a participação da E&M, e que se realizou na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil.
A declaração, redigida de forma colaborativa durante os quatro dias da cimeira, reivindica acções urgentes e compromissos firmes dos líderes globais em cinco áreas prioritárias: financiamento climático e prestação de contas, liderança e participação juvenil, justiça climática e equidade, conhecimento tradicional e soluções baseadas na natureza, cidades sustentáveis e transição justa.
“Nós, os jovens reunidos em Belo Horizonte, reafirmamos o nosso compromisso com um futuro guiado pela educação, biodiversidade e justiça”, lê-se no preâmbulo da declaração. O documento apela ainda à inclusão efectiva dos jovens nos processos de decisão política sobre o clima, à valorização dos saberes tradicionais e ao financiamento climático justo e acessível às comunidades mais vulneráveis.
Moçambique a caminho da COP30 O conteúdo da declaração foi apresentado na cerimónia de encerramento da cimeira, no qual a ministra brasileira do Meio Ambiente e Alterações Climáticas,
Marina Silva, se comprometeu a levar o documento à COP30, que terá lugar em Novembro, na cidade de Belém, no estado do Pará, Brasil. “Sinto-me profundamente inspirada pelo que ouvi e testemunhei aqui. Esta declaração representa a coragem e a visão de uma geração que já lidera”, afirmou a governante.
Moçambique, como país que tem enfrentado fenómenos climáticos cada vez mais extremos – como os ciclones Idai, Kenneth, Freddy e Gombe –, que deixaram milhares de desalojados, destruíram infra-estruturas e agravaram a pobreza, também participou no evento de forma virtual. Apesar de quase não contribuir para as emissões de gases com efeito de estufa, o País continua entre os países com menor capacidade de adaptação, o que o torna num símbolo das injustiças discutidas na cimeira.
Em painéis como “Juventude e Justiça Climática”, “Perdas e Danos”, “Segurança Hídrica” e “Adaptação Liderada Localmente”, os participantes trouxeram à tona realidades de comunidades do Sul Global que, como as moçambicanas, enfrentam múltiplas vulnerabilidades socioeconómicas e ambientais. Foi unânime, entre os jovens, a exigência de financiamento climático justo, reconhecimento dos saberes tradicionais e maior envolvimento da juventude na elaboração de políticas públicas globais.
Organizada pelo Global Youth Leadership Center (GYLC), em parceria com a UFMG, a Cimeira contou com a participação de especialistas como o ex-cientista da NASA Peter Fiekowsky e o professor Geraldo Fernandes, da UFMG. Foram promovidos debates sobre ciência do clima, restauração da biodiversidade, inteligência artificial e soluções comunitárias para adaptação às altera-
Moçambique, tem enfrentado fenómenos climáticos cada vez mais graves e tem menor capacidade de adaptação, o que o torna num símbolo das injustiças discutidas na cimeira
A Declaração de Belo Horizonte é considerada um marco no movimento juvenil global
ções climáticas. A presença de representantes indígenas e de comunidades na linha da frente dos impactos climáticos deu uma dimensão profundamente humana à cimeira. Rayane Xipaya, activista indígena do Pará, fez um apelo emocionado pela protecção das florestas e pela preservação dos modos de vida tradicionais: “O futuro da Amazónia está nas nossas mãos, e os nossos direitos devem ser respeitados.”
Além das sessões plenárias, os participantes visitaram o museu-jardim Inhotim, trocaram experiências culturais e fortaleceram laços internacionais. O evento terminou com a nomeação dos
A iniciativa concretizou uma maratona de encontros presenciais
dez Campeões Climáticos da Juventude 2025, provenientes de países como Bolívia, Gana, Etiópia e Indonésia, pelos seus projectos comunitários de acção climática. Os laureados receberam apoio financeiro para implementarem projectos de acção climática nas suas comunidades.
Marco de integridade e coragem Para os organizadores, a Declaração de Belo Horizonte é um marco na construção de um movimento juvenil global mais forte e estruturado rumo à COP30. “A integridade e a coragem demonstradas por estes jovens são o que pode mu-
dar o mundo”, afirmou Ejaj Ahmad, fundador do GYLC.
No fim da cimeira, ficou evidente que territórios como Moçambique não podem continuar a ser marginalizados na resposta à crise climática. A juventude que participou da Cimeira Global da Juventude pelo Clima 2025 deixou uma mensagem clara: é preciso garantir que os países mais afectados também liderem os caminhos para a transição justa e sustentável que o planeta exige.
Com vozes firmes e propostas claras, os jovens deixaram em Belo Horizonte uma mensagem inequívoca: o tempo de esperar acabou, é tempo de agir.
Catarina Anjo Balona • EY Senior Manager | Indirect Tax
Energia e Futuro: A Justa Estratégia de Transição Energética
Com condições extraordinárias face a recursos endógenos quase inigualáveis, incluindo alguns dos maiores recursos hidroeléctricos do sudeste do continente africano, o potencial de Moçambique para a implementação e aproveitamento bem-sucedido de energias de fonte renovável (solar e eólica) é massivo. É um potencial que pode e deve ser incentivado.
Já estamos num ano (2025) de investimentos e a transição energética de base renovável está em curso, assente na Resolução do Conselho de Ministros n.º 61/2023 (vigente desde 1 de Janeiro de 2024). E devemos citar a Estratégia de Transição Energética Justa da República de Moçambique, focada no Acordo de Paris de 2015, visando “direccionar de forma clara o desenvolvimento do sector energético do país e garantir uma transição justa e equitativa.”
do que a mesma deverá ser enquadrada e prosseguida tendo em vista a “utilização racional de todos os recursos naturais” (artigo 90.º da CRM). Mas transição exige investimento, condições económicas estáveis e uma fiscalidade direccionada (ainda que faseada).
Na óptica de uma fiscalidade cada vez mais verde, o estímulo à inovação, com vista ao desenvolvimento sustentável, passa por conciliar a utilização e protecção dos recursos endógenos (e meio ambiente), a par do crescimento económico indispensável aos estados, aos quais competirá favorecer e induzir comportamentos mais consentâneos com os seus desideratos.
Proporcionando incentivos à eficiência na gestão dos recursos, uma “fiscalidade verde” contribui para rentabilizar e preservar o capital natural e para uma utilização proporcional e sustentável do solo e território, facilitando a transição energética para uma economia de baixo carbono
Vulgarmente denominada como ETS (sem a referência à designação oficial “justa”, cujo desígnio se perspectiva alcançável), a estratégia inclui o imenso potencial de recursos endógenos do País, procurando responder a uma necessidade crescente de satisfação do consumo interno de energia, num enquadramento macroeconómico que se pretende ambiental e economicamente viável.
Moçambique quer ter um futuro com auto-sustentabilidade e crescimento. Dispõe de extensas terras aráveis e fontes abundantes de água, com três portos marítimos profundos (Maputo, Nacala e Beira), profícuos depósitos de gás natural liquefeito (GNL), biomassa e minérios (sendo os mais exportados pelo país o titânio, vanádio, nióbio, alumínio, grafite e o carvão, com aplicações nas indústrias de aviação, aeroespacial, electrónica, metalúrgica, energia, transporte e construção, entre outras).
É incumbência do Estado, nos termos da alínea e) do artigo 203.º da Constituição da República de Moçambique (CRM) “estimular e apoiar o exercício da actividade empresarial e da iniciativa privada e proteger os interesses do consumidor e do público em geral”, sen-
No horizonte 2023-2050, a ETS identificou três objectivos estratégicos para o país: (i) desenvolvimento nacional (promover o acesso universal à energia, através de fontes limpas de energia doméstica e acelerar a competitividade dos sectores produtivos); (ii) ser um pólo regional de energia (fornecendo energia de baixo carbono aos países da SADC - Comunidade de Desenvolvimento da África Austral); (iii) e fomentar a transição energética global (exportando produtos verdes para descarbonizar as cadeias de fornecimento globais). Esta estratégia será assente em 14 programas de desenvolvimento organizados em quatro pilares (“Sistema energético moderno baseado em fontes de energia renováveis”, “Industrialização verde”, “Acesso universal às energias modernas”, “Adopção de energias limpas para veículos”).
Afigura-se, assim, que a ETS estará alinhada com a tríplice função que se pode identificar em políticas energéticas (verdes) modernizadas: (i) protecção do ambiente e redução da dependência energética do exterior; (ii) fomento do crescimento e do emprego e (iii) contribuição para a redução dos desequilíbrios externos, sempre dependentes do contexto de inserção geográfica, económica e política de um dado país.
Proporcionando incentivos à eficiência na gestão dos recursos, uma “fiscalidade verde” contribui para rentabilizar e preservar o capital natural e para uma utilização proporcional e sustentável do solo e território, facilitando a tran-
Há um imenso potencial de recursos endógenos para responder a uma necessidade crescente de energia
sição energética para uma economia de baixo carbono. Essa transição terá mais relevância face às necessidades das populações inseridas em comunidades ou territórios mais vulneráveis, em que a aposta em infra-estruturas e investimento é determinante face a recursos endógenos finitos ou cuja utilização depende da capacidade de adaptação.
Olhemos ao exemplo da biomassa (justificada pela extensa cobertura florestal do país): além de representar a base dos sectores tradicionais de carvão e madeira, representa também os sectores emergentes de produção moderna (briquetes, pastilhas energéticas, álcool combustível, etanol, entre outros). O desmatamento decorrente da extracção de madeira e da conversão de áreas florestais para a agricultura deverá ser equilibrado e o investimento em fundos
climáticos para projectos de captura de carbono deve ser uma aposta associada aos projectos de exportação de combustíveis verdes.
As políticas de crescimento ganham, assim, novo cunho ambiental, paulatinamente ajustando Moçambique como interveniente mais competitivo, inovador e inclusivo (e tendencialmente de baixo carbono), favorecendo o acesso global interno a mais e diversificadas fontes de energia e um contributo relevante para uma balança comercial positiva.
Pode fazer sentido accionar mecanismos fiscais ao nível de incentivos, reduções ou isenções de taxas de impostos ou direitos em determinados fluxos de abastecimento quanto a equipamentos, aparelhos, máquinas e outros equipamentos – desde que sejam destinados à captação e aproveitamento de ener-
gia solar, eólica, geotérmica ou de outras formas alternativas de energia. Incluem-se aqui “pelets” e briquetes produzidos a partir de biomassa.
A plena adopção das medidas do ETS reforçarão o caminho que Moçambique tem vindo a percorrer, paulatinamente: melhorar a classificação no “Índice Global de Risco Climático” (GermanWatch, online, Fevereiro de 2025), o qual analisa e classifica em que medida 171 países e regiões têm sido afectados pelos impactos (custos humanos e económicos) de fenómenos meteorológicos extremos. Moçambique situou-se em redor da 39.ª posição entre 1993 e 2011 até chegar à 66.ª em 2022. Propósitos ambiciosos, estabilidade e previsibilidade nos investimentos podem tornar Moçambique numa potência renovável. A transição apenas agora começou.
Empresários Pedem Transparência Nas Aquisições Públicas
Um estudo apresentado pelos empresários moçambicanos aponta o dedo à corrupção e sugere um conjunto de medidas para melhorar a transparência nos processos de aquisição pública. Caso contrário, o conteúdo local continuará a ser “conversa fiada”
Um estudo realizado pela Confederação das Associações Económicas (CTA), principal associação empresarial do País, analisa a despesa pública nacional e destaca a importância da incorporação do conteúdo local nas compras do Estado. Denominado “Estudo e Advocacia Sobre o Conteúdo Local na Despesa Pública”, o principal objectivo do documento é avaliar até que ponto o Governo consome bens e serviços nacionais e identifica oportunidades para as empresas locais fornecerem o Estado. Além disso, a pesquisa identifica os principais constrangimentos que as empresas enfrentam. Falta de transparência e corrupção encabeçam as queixas. Mas há recomendações para mudar o cenário.
O estudo refere que, entre 2018 e 2023, a despesa pública nacional apresentou uma tendência de crescimento – sendo a maior parte dos gastos (67%) direccionada para despesas de funcionamento, das quais 57% correspondem ao pagamento de salários. No resto, há oportunidades para fornecedores. Entre os itens mais adquiridos pelo Estado estão géneros alimentícios, material de escritório, mobiliário, produtos de higiene e material de tecnologias de informação e comunicação.
Outros países garantem fornecedores nacionais
O estudo comparou Moçambique com outros países. A África do Sul não possui uma política específica de conteúdo local, mas aplica margens de preferência de 20% a 25% para empresas nacionais. Angola tem uma política formal de conteúdo local, com directrizes para
Texto Nário Sixpene • Fotografia D.R
monitorizar a participação de empresas locais no fornecimento ao Estado, garantindo uma margem de preferência de 10% a 15%. No Brasil, apesar da ausência de uma legislação específica sobre conteúdo local, existem políticas sectoriais que exigem a incorporação de fornecedores nacionais na cadeia produtiva. A Nigéria, por sua vez, possui uma política específica para a indústria de petróleo e gás, com uma margem de preferência de 40%.
Em Moçambique, apesar de já ter havido discussões sobre legislação para o conteúdo local ligado à cadeia de produção dos hidrocarbonetos, a proposta não avançou para o Parlamento.
Percepções do sector público e privado sobre a implementação do conteúdo local
A consultora que liderou o estudo, Iara Silva Melo, explicou que, do lado do sector público, há um reconhecimento de que o conteúdo local é uma prioridade, mas falta implementá-la. A ausência de um plano de “procurement” (aquisições) do Estado “impede que empresas nacionais se preparem para concorrer a contratos públicos”, referiu.
“Muitos processos de contratação ocorrem de forma reactiva, sem previsibilidade. Além disso, há críticas quanto à fraca aplicação de boas práticas, tanto pelo Estado, quanto pelo sector privado.
Bens e Serviços (Milhões de Meticais)
A contratação especializada requer novas abordagens
Algumas instituições públicas apontam que, apesar de favorecerem empresas moçambicanas, muitos fornecedores acabam por importar produtos ou prestar serviços de baixa qualidade, comprometendo os objectivos do conteúdo local”, indicou.
No topo dos problemas, surge um velho conhecido. “É um desafio importante: a falta de transparência nos processos de contratação pública”. A consultora revelou que, do lado do sector privado, há uma percepção generalizada de que o Estado não garante transparência e equidade nos processos de aquisição. “Os empresários apontam a corrupção como um dos principais obstáculos para a participação de empresas nacionais nas compras públicas. Além disso, há um apelo para que o Governo descentralize essas oportunidades para pequenas empresas locais”, sublinhou.
A lista de queixas continua: faltam políticas sectoriais específicas, há taxas aduaneiras muito elevadas, o acesso à informação é limitado e falta clareza nas especificações técnicas dos concursos. No final, quem passa a ser fornecedor,
depara-se com outro problema: a demora nos pagamentos do Estado.
Sugestões para promoção do conteúdo local
Para ajudar as empresas, o estudo identificou alguns sectores prioritários para a promoção do conteúdo local na despesa pública: construção, saúde, tipografia e impressão, equipamentos e produtos alimentares. Estes sectores foram escolhidos com base na alta procura por parte do Estado, no potencial de crescimento da produção nacional, pois já há investimentos no País, acabando com a actual dependência de importações.
“No sector de materiais de construção, a produção nacional ainda é insuficiente para atender a toda a procura do Estado, sendo necessário reduzir taxas para importação de equipamentos industriais, oferecer incentivos fiscais para o uso de matérias-primas locais e criar linhas de crédito específicas. A meta é aumentar a participação dos materiais de construção nacionais em obras públicas de 8% para 25% em cinco anos”, explicou Iara Silva Melo.
A consultora revelou ainda que o sector de materiais médico-hospitalares ainda depende fortemente de importações, apesar de haver produção local de alguns itens como álcool desinfectante e máscaras médicas. O estudo recomenda estímulos à produção nacional de itens como luvas, algodão hospitalar e soro fisiológico, além da isenção de impostos para importação de equipamentos de produção. A meta é aumentar a participação de materiais médico-hospitalares nacionais para 15%, no sector público, em cinco anos.
“A indústria gráfica nacional tem capacidade instalada para impressão de manuais escolares”, mas depende da importação de papel, aponta o estudo, que recomenda planeamento a longo prazo para aquisição de papel e impressão de manuais no País, além de incentivos para fortalecer o sector gráfico nacional.
O sector de equipamentos enfrenta barreiras tecnológicas e financeiras que dificultam a participação de empresas locais nos contratos públicos. Para colmatar o problema, o estudo sugere a criação de linhas de crédito acessíveis para modernização de equipamentos e incentivos para o desenvolvimento de pequenas indústrias de bens de capital.
Para a área de produtos alimentares, o estudo revela que a importação ainda domina o abastecimento de alimentos para hospitais, forças de segurança e escolas públicas, recomendando a promoção da agricultura nacional.
Reformas nas compras públicas e formação de empresas
Para dar mais hipóteses às empresas moçambicanas que forem escolhidas em concursos estatais, o estudo propõe “critérios claros para a selecção de júris em contratos públicos, a actualização de contratos para incluir cláusulas sobre conteúdo local e condições laborais, a criação de incentivos fiscais para empresas que cumprem normas de segurança e qualidade e a implementação de um portal electrónico centralizado para a gestão de compras públicas.”
Além disso, recomenda-se a publicação de relatórios “sobre o impacto das compras públicas na economia nacional”, sugere Iara Silva Melo.
O estudo também destaca a necessidade de programas de capacitação para fortalecer a gestão nas pequenas empresas, que formam a maioria do tecido empresarial, além da criação de certificações de qualidade para tornar produtos nacionais mais competitivos. O acesso ao financiamento deve ser facilitado e os requisitos ajustados para permitir que mais empresas locais participem nas licitações.
Marcelo Tertuliano & Bruno
Chicalia • Partners da CTJ marcelo.tertuliano@ctjconsultoria.com bruno.chicalia@ctjconsultoria.com
A electricidade, sendo um factor essencial para a industrialização e o agro-processamento, precisa de estar no centro de uma política de democratização energética
50 Anos de Potencial. E os Próximos 50?
Para quem vive na era digital, 25 de Junho de 1975 pode parecer uma data longínqua — e para um povo em que 90% nasceu depois da Independência, de facto, é. Felizmente, muitos de nós ainda podemos contar com os 10% que viveram aquele momento e que, com emoção intacta, continuam a partilhar as histórias dos sonhos, das aspirações e do imenso potencial de um futuro que, finalmente, estava nas nossas mãos.
Mas a tarefa era hercúlea, quase sem quadros técnicos, sem experiência administrativa, sem uma economia estruturada. Saímos de quase 500 anos de ocupação sem uma identidade colectiva, sem qualquer tecido nacional que nos unisse e com uma taxa de alfabetização de apenas 7%.
Mal sabiam eles que esse destino recém-conquistado estava prestes a ser adiado — que mergulharíamos, cedo demais, noutra tragédia. Dezasseis anos de conflito interno infligido entre irmãos. Sim, tínhamos uma moeda própria, um hino e uma bandeira, podíamos contar a nossa história. Mas ainda nos faltava o mais essencial: a paz.
Tal como em quase todos os temas que temos abordado nesta coluna, procuramos contextualizar sem politizar. É simples — até cómodo — falar em termos macroeconómicos e considerar os 16 anos de guerra como “perdidos”. Mais difícil é lembrar as vidas humanas, os sonhos interrompidos e os lares destruídos.
A guerra civil, entre 1977 e 1992, não só retardou profundamente o crescimento económico, como fragmentou o tecido social, criou desconfiança entre regiões e comprometeu a maturação institucional. Encurtou drasticamente a janela de oportunidade para consolidar o Estado e preparar o País para um desenvolvimento sustentável.
Entretanto, o mundo mudava. A queda do Muro de Berlim, em 1989, punha fim à Guerra Fria e inaugurava uma nova ordem global, com exigências económicas e políticas para as quais não estávamos preparados. Seguiram-se crises financeiras globais, para as quais as nossas frágeis instituições eram terreno fértil
As fragilidades estruturais
Diferente de países menores ou mais homogéneos, Moçambique — vasto, diverso e jovem — enfrenta desafios únicos. A fragilidade das instituições, a incerteza na protecção da propriedade privada, a morosidade da justiça, a corrupção sistémica e a falta de responsabilização minam qualquer tentativa de crescimento estruturado.
A baixa produtividade agrícola continua a ser um dos principais entraves ao desenvolvimento rural e à segurança alimentar. Embora o País tenha registado crescimento na produção de cereais e raízes, de acordo com o último relatório do Desempenho Económico e Social de 2024 do Ministério da Planificação, os níveis de consumo per capita de alimentos básicos como leite e carne permanecem muito abaixo da média regional.
Com apenas 11 litros de leite por pessoa, por ano, muitas crianças moçambicanas crescem sem acesso a uma nutrição básica, o que afecta o seu desenvolvimento. A produção de milho e arroz, com 2,8 milhões de toneladas e 181 mil toneladas, apresentam uma produtividade por hectare de 1 tonelada e 0,6 toneladas, respectivamente — muito aquém do que se observa em países com agricultura mais estruturada, onde as produtividades médias rondam entre 6 a 10 toneladas por hectare para o arroz, e entre 8 a 12 para o milho. A continuar neste ritmo, mesmo com toda a terra do mundo, não conseguiremos alimentar a nossa população nem gerar excedentes para o desenvolvimento. Adicionalmente, o acesso à energia eléctrica — condição básica para o progresso — é ainda limitado e caro quando comparado com países vizinhos. Embora a taxa de acesso tenha aumentado para 60,1% em 2024, os custos de ligação, a tarifa por kWh e a qualidade do fornecimento continuam entre os mais altos e menos fiáveis da região. Países como a Zâmbia e o Maláui, com menor capacidade instalada, conseguem garantir tarifas mais competitivas para uso doméstico e produtivo. A electricidade, sendo um factor essencial para a industrialização e o agro-processamento, precisa de estar no centro de uma política de democratização energética.
O capital humano não se constrói apenas com escolas. Constrói-se também com dignidade
Desde as primeiras eleições multipartidárias, em 1994, o País registou um crescimento médio anual de 7% até 2015 — um feito notável, tendo em conta o ponto de partida. Mas o crescimento, por si só, não garante transformação. Ruanda, após o genocídio de 1994, apostou na reconciliação, na tecnologia e na reforma institucional, crescendo a 8% ao ano. A Etiópia focou-se em infra-estruturas e agro-indústria e ultrapassou os 10%. O Vietname, com guerra recente e recursos limitados, transformou-se numa potência industrial leve. O que os distingue de nós não é o passado — é o que fizeram com o futuro.
O que distingue estes países do nosso não é apenas a taxa de crescimento, mas a profundidade das reformas institucionais, a aposta clara no capital humano e a
capacidade de gerar ganhos sustentáveis a partir do seu território. É este o desafio que temos pela frente: fazer mais com o que já temos e fazê-lo melhor.
O novo mundo que não espera
Atravessamos agora uma era de aceleração tecnológica sem precedentes. A automação, a inteligência artificial e novas formas de produção estão a redefinir o mundo do trabalho. Muitos dos empregos do futuro — ou mesmo do presente — simplesmente não existem ainda em Moçambique. E quando surgem, é frequente não termos mão-de-obra qualificada para os ocupar.
É urgente reconhecer este descompasso. Se continuarmos a formar jovens para um mundo que já não existe, esta-
remos não apenas a desperdiçar talentos, mas a condenar gerações inteiras à irrelevância económica. Isso é uma falha moral e estratégica. A cada revolução tecnológica que o mundo atravessa sem nós, o fosso entre o nosso potencial e a realidade aprofunda-se. Precisamos de uma transformação radical no sistema educativo, que vá além da mera instrução formal e promova competências críticas, criatividade, domínio digital e capacidade de adaptação. Precisamos de redesenhar o ensino técnico-profissional, valorizando o trabalho digno e útil à sociedade e criar pontes reais entre educação e indústria.
Mas o capital humano não se constrói apenas com escolas. Constrói-se também com dignidade. Com saúde básica assegurada, com nutrição, com habitação digna e com segurança. E constrói-se, acima de tudo, com exemplos — com líderes que inspirem, professores que eduquem com vocação, e pais que tenham esperança para transmitir aos seus filhos.
Moçambique que pode ser
O tempo de ensaiar acabou. Com uma população projectada para 89 milhões até 2075, Moçambique tornar-se-á a 25.ª maior população do mundo. Seremos um dos países mais jovens e populosos de África — e teremos um milhão de novas crianças por ano para alimentar, vacinar e educar. Hoje, o PIB per capita ronda os 600 USD. Para atingir o patamar de rendimento médio, precisamos de crescer 7% ao ano nas próximas décadas — e garantir que esse crescimento se traduz em melhoria efectiva da qualidade de vida.
Preço de Electricidade (US$c/KWh)
FONTE Autoridade Reguladora de Energia do Malawi (MERA), Novembro 2023
donésia transformou um sector extractivo de garimpo e exportação de matéria-prima bruta, num monopólio global de cobre. Moçambique pode — e deve — seguir a sua própria rota, mas não tem o luxo de ignorar o que funciona noutros contextos.
Precisamos também de rever os nossos modelos de cooperação e de diversificar os nossos parceiros estratégicos. Em artigos anteriores, já destacámos os exemplos de parcerias não convencionais como as implementadas pelo Vietname com Japão e Coreia do Sul, e pela Etiópia com a Turquia e a China. O momento é de fazer da cooperação internacional uma alavanca de transformação — não um prolongamento da dependência.
O desafio da liderança
Tudo isto começa com liderança. Com uma liderança que reconheça a gravidade dos desafios actuais — disfuncionalidade institucional, corrupção sistémica, juventude sem perspectivas — e que tenha a ousadia de romper com o ciclo de promessas não cumpridas, da mediocridade sistémica instalada e que priorize o bem comum. Com visão para planear a longo prazo, mas humildade e pragmatismo para servir no imediato. Não há transformação sem rupturas, mas as rupturas precisam de ser guiadas por propósito e não por ressentimento. É preciso romper com as lógicas de captura do Estado, de clientelismo e de desresponsabilização.
A indústria transformadora continua a representar uma fatia ínfima do PIB. Exportamos matéria-prima e importamos valor acrescentado. Esta lógica precisa de ser invertida. O gás natural e os minerais estratégicos devem ser catalisadores de industrialização local — não apenas fontes de receita fiscal volátil. As nossas redes de comunicação, ferrovias, estradas e pontes, ainda viradas para os interesses de Lisboa da era colonial, têm de ser redesenhadas para Chicualacuala, Guruè, Machipanda, Zâmbia, RDC e além-mar. Precisamos de virar o foco para dentro e para os países vizinhos que tanto dependem da nossa costa para serem competitivos nos mercados mundiais. Precisamos de zonas económicas especiais que funcionem, de parcerias com investidores estratégicos que partilhem risco e valor e de infra-estruturas que sirvam a produção, não apenas a extracção.
Parafraseando um velho estadista, “o mundo não come minério ou gás; o
mundo come comida”, e o agro-negócio deve assumir o papel central na criação de empregos. Com terras férteis, água e clima favorável, Moçambique pode tornar-se no celeiro da região. Mas isso exige acesso ao crédito, extensão rural, silos, armazenamento frio, logística e mercados. Pequenos produtores precisam de ser organizados em cooperativas modernas e conectados a cadeias regionais e globais.
No turismo, a costa e os parques nacionais continuam sub-explorados. Falta-nos uma política coordenada, formação de qualidade e promoção internacional eficaz. Países como a Tanzânia mostraram que é possível criar indústrias turísticas dinâmicas com impacto real no emprego e na balança de pagamentos.
Há exemplos que inspiram: o Vietname transformou-se num centro global de “manufactura leve”. A Etiópia tornou-se referência na produção têxtil para exportação. O Uruguai apostou na agro-indústria e no turismo ecológico, e a In-
As instituições existem para servir e o Estado só é legítimo se for justo. A política só se justifica se gerar esperança. E num mundo onde o eleitorado é cada vez mais exigente, a liderança tem de inspirar, unir e proteger.
Conclusão: progresso com coragem
O desafio para os próximos 50 anos é este: transformar potencial em progresso tangível. Fazer de Moçambique uma referência em África. E fazer isso com a força dos nossos próprios passos. Temos hoje um Presidente que viveu plenamente a moçambicanidade — que sentiu a guerra, sobreviveu ao cativeiro e conhece o peso da liberdade. Isso importa. A cada dia que passa, os 10% que viveram o 25 de Junho vão partindo. E como os israelitas que vaguearam por 40 anos, após 400 de cativeiro, nós também já caminhámos o suficiente. Está na hora de entrar — com coragem — na nossa Terra Prometida.
Não esperemos pelo dia 26 para começar.
População
88,965,292
A indústria transformadora continua a representar uma fatia ínfima do PIB
50 ANOS DE INDEPENDÊNCIA
Da Construção da Nação à Edificação do Futuro
Cinco décadas depois de hastear a bandeira e entoar o hino da liberdade, Moçambique enfrenta a mais complexa das independências: a económica. Para compreender os caminhos possíveis nos próximos 50 anos, ouvimos estrategas de áreas-chave — de instituições multilaterais a diplomatas e de ambientalistas a académicos e economistas —, e mergulhámos em estudos recentes que ajudam a perspectivar o que falta para transformar potencial em prosperidade partilhada
Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva e Istockphoto
Ao cabo de 50 anos de independência, Moçambique é um país com cicatrizes profundas e conquistas marcantes. Passou por guerras, transições políticas, crises económicas e sociais, mas também conheceu momentos de esperança, crescimento e afirmação no concerto das nações. Os primeiros 50 anos foram, essencialmente, sobre a tentativa de edificar uma nação — criar instituições, definir identidade, curar feridas vindas de tempos coloniais e resistir às tempestades da instabilidade interna e externa.
Apesar das inúmeras fragilidades, Moçambique é visto como um país de imenso potencial — abundância de recursos naturais, uma localização geoestratégica invejável, uma população jovem e dinâmica. Mas há um hiato persistente entre potencial e realidade. E o grande desafio nacional já não é apenas o de crescer, mas o de crescer com equidade, com base em compromissos concretos e, acima de tudo, com um propósito partilhado.
Se o passado recente foi dominado por lutas pela consolidação nacional, os próximos 50 anos exigem uma nova batalha: a construção de um projecto económico comum, robusto, inclusivo e comprometido com a criação de valor partilhado. A edificação de um modelo que deixe para trás a lógica da dependência, do extractivismo estéril e da promessa adiada, e abrace uma visão de desenvolvimento baseada na transformação estrutural, na justiça social e na responsabilização política e económica. Enquanto o século passado evocou libertação e sobrevivência, este terá de ser sobre visão, ambição e execução.
O que falhou e como corrigir
De um modo geral, ao longo dos anos, Moçambique não conseguiu consolidar um modelo económico coerente. Isto reflectiu-se no fracasso das políticas agrícolas, na estagnação industrial e na ausência de infra-estruturas de mobilidade integradas. A economia permaneceu dependente e vulnerável e o desenvolvimento nacional continua marcado por profundas assimetrias regionais. Então, que caminho trilhar?
Reanimar a indústria para garantir o futuro
A E&M ouviu o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), entidade reconhecida pela sua leitura apurada da realidade nacional traduzida em análises reunidas anualmente em brochuras sob o tema “Desafios para Moçam-
(DE)MÉRITOS DA ENDE 2025-2044, SEGUNDO O CIP
Enquanto o Executivo e outras vozes depositam na ENDE 2025-2044 alguma esperança de viragem para a conquista da independência económica, o Centro de Integridade Pública (CIP) não está convencido. A ONG moçambicana, que se dedica à promoção da transparência, boa governação e integridade na gestão pública, defende que este instrumento repete erros de estratégias anteriores. Entre outros, não oferece garantias reais de redução da
pobreza e carece de mecanismos eficazes de inclusão social, transparência e sustentabilidade. A organização destaca que, nos últimos 10 anos, a pobreza aumentou cerca de 87%, atingindo 65% da população em 2022, o que levanta dúvidas sobre a capacidade do novo plano em reverter esta tendência. Aponta também que não há clareza sobre como o País está a projectar a luta contra a corrupção e a promoção da prestação de contas.
42,8
mil milhões de dólares
Segundo o Instituto de Estudos de Segurança (ISS Africa), o PIB de Moçambique poderá aumentar para mais do dobro do actual, considerando um cenário de crescimento médio anual de 6% e a exploração de gás natural liquefeito (GNL).
bique”, que abordam os problemas estruturais do País de forma transversal e sistemática.
O pesquisador Michael Sambo, do IESE, traça um diagnóstico sobre os caminhos e prioridades para o desenvolvimento nos próximos 50 anos, com destaque para a necessidade urgente de corrigir os erros históricos da política industrial e de revitalizar o sector produtivo nacional. Começando pelo que correu mal, desde 1975, destaca o facto de o País enfrentar uma desindustrialização contínua desde a independência, agravada pela excessiva dependência da agricultura de baixa produtividade e pe-
la aposta prematura no sector extractivo como alavanca do desenvolvimento. Segundo o economista, o País cometeu o erro de ignorar a criação de uma base industrial robusta, confiando em receitas futuras do gás e carvão que ainda não chegaram com a força prometida e que, mesmo quando chegarem, estarão comprometidas com o serviço da dívida pública — em particular, a dívida interna comercial, que continua a crescer vertiginosamente.
Além disso, a falta de uma estratégia industrial coerente e de longo prazo contribuiu para o fraco desempenho da manufactura nacional, que hoje
OS GRANDES MARCOS DA CONSTRUÇÃO DO ESTADO
Os primeiros 50 anos da independência de Moçambique foram marcados por três momentos-chave:
1975-86 –
Adopta-se um modelo socialista: nacionalizações, empresas estatais e planificação quinquenal; Guerra civil, isolamento internacional e má gestão comprometem os resultados; A produção entra em declínio e cresce a dependência da ajuda externa.
Início do Programa de Ajustamento Estrutural (PAE) com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial; Liberalização económica através de privatizações. Reforma do sistema financeiro; A paz de 1992 relança a economia, mas as desigualdades aumentam.
2000-2020 –CRESCIMENTO BASEADO EM RECURSOS NATURAIS
Exploração de carvão, novas descobertas de gás natural e megaprojectos industriais; Moçambique ganha estatuto de economia emergente em África; A crise das dívidas ocultas (2016) revela fragilidades institucionais graves.
de aumento do PIB até 2050
Relatório do Banco Mundial sugere que a redução rápida dos níveis de fecundidade poderia aumentar o PIB real per capita em 31% até 2050, transformando o desafio demográfico numa oportunidade económica
EXPLOSÃO POPULACIONAL É A GRANDE QUESTÃO
Só até 2050, a população representará o quíntuplo do que era há 50 anos, o que reflecte altas taxas de natalidade e desafios na transição demográfica. Isto pressiona os serviços básicos, mas se bem gerido vai representar um potencial económico
19,4 milhões
45,3 milhões 65 milhões
Projecção
10,3 milhões
13,2 milhões
DE ONDE VIEMOS... E PARA ONDE VAMOS
Moçambique enfrentou crises sucessivas, mas também momentos de recuperação. O propalado crescimento acelerado com recursos naturais continua a tardar.
RENDIMENTO EM CRESCIMENTO LENTO
O PIB per capita de Moçambique cresceu de forma lenta e desigual desde 1975, reflectindo oscilação entre crises e recuperação. Devemos confiar nas projecções até 2044?
cação), sugere a necessidade de “romper com a visão assistencialista da agricultura e transformá-la numa actividade moderna, rentável e desejável para a nova geração, através de investimentos em escolas agrícolas de excelência, incubadoras rurais para jovens empreendedores e acesso a crédito orientado para o agro-negócio tecnológico”.
É preciso definir um novo pacto nacional
Michael Sambo, do IESE, alerta também para o risco de se perpetuar a “maldição dos recursos” caso não sejam criadas condições institucionais para usar as receitas extractivas de forma estratégica e transparente. A aposta, de acordo com o pesquisador, deve recair na “reindustrialização inteligente”, focada em sectores transformadores (agricultura, turismo, indústria e serviços), na promoção de políticas de conteúdo local viáveis e no fortalecimento das capacidades técnicas da administração pública.
representa menos de 15% do PIB. O País falhou ao não desenvolver cadeias produtivas integradas, não promover a manufactura intensiva em mão-de-obra e negligenciou sectores como o agro processamento, que poderiam dinamizar o campo, gerar empregos urbanos e rurais e garantir auto-suficiência em vários ramos alimentares.
Face a tal situação, Sambo defende a reorientação do Programa Nacional para Industrializar Moçambique (PRONAI), para que este vá além de intenções e se traduza em medidas eficazes de estímulo à produção local, ao desenvolvimento tecnológico e à formação de clusters industriais com base nos recursos disponíveis no território.
Priorizar o emprego e a agricultura
O investigador enfatiza, ainda, a urgência em promover uma transformação rural com enfoque produtivo (no lugar da subsistência) e que integre os pequenos produtores em cadeias de valor, reduzindo a pobreza.
Neste aspecto, Jorge Ferrão, reitor da Universidade Pedagógica de Maputo (e que nesta edição apresenta a sua visão sobre o futuro do País no campo da Edu-
O desenvolvimento de Moçambique deve assentar num novo pacto nacional de longo prazo, capaz de resistir às mudanças políticas cíclicas e de garantir coerência, estabilidade e continuidade das políticas
Em jeito de conclusão, defende que o desenvolvimento de Moçambique deve assentar num novo pacto nacional de longo prazo, capaz de resistir às mudanças políticas cíclicas e de garantir coerência, estabilidade e continuidade das políticas públicas, especialmente daquelas que dizem respeito à industrialização e ao papel do Estado como indutor do crescimento económico sustentado.
A recém-aprovada Estratégia Nacional de Desenvolvimento (ENDE 20252044) é o mais importante instrumento que pode corporizar o “pacto” referido pelo pesquisador do IESE. Mas só a real implementação no terreno se encarregará de o testemunhar.
Em meio século, não temos uma ‘espinha dorsal’
Já Edson Cortez, director-executivo da organização não-governamental (ONG) independente Centro de Integridade Pública (CIP), critica o facto de, passados 50 anos de independência, Moçambique continuar sem uma estrada fiável que ligue o Norte ao Sul, sem concretizar a prometida ferrovia de integração nacional e sem desenvolver o transporte marítimo costeiro (cabotagem). Para este activista social, sem uma rede de mobilidade funcional, não há coesão económica possível. Defende, por isso, um plano de investimentos públicos transparente, com concursos competitivos, contratos fiscalizados e prioridade para as obras de ligação regional, bem como o combate efectivo ao desvio de fundos que, segundo ele, tem minado, historicamente, a realização de grandes infra-estruturas.
FONTE Banco Mundial, Estratégia Nacional de Desenvolvimento 2025-2044, Trading Economics e Instituto de Estudos de Segurança (ISS Africa)
O Que Falta Para Mudar o País?
Persistem desafios estruturais (da má gestão fiscal à frágil governação), mas o caminho para a transformação já foi debatido e é consensual: digitalização do Estado, investimento no capital humano e transparência na gestão dos recursos
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
Apesar de surgir agora como novo rosto do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Moçambique, Harrison Olamide não está alheio ao percurso histórico do País. A sua perspectiva para os próximos 50 anos revela uma visão alinhada com os diagnósticos já traçados pela instituição. O tom sereno da entrevista não esconde o essencial: o FMI conhece bem os bloqueios ao crescimento e insiste, mais uma vez, na urgência de reformas estruturais há muito identificadas.
Crescer com recursos internos
A discussão é levantada numa altura em que o Estado enfrenta, este ano, um défice orçamental significativo de 126,8 mil milhões de meticais, representando aproximadamente 8% do Produto Interno Bruto (PIB). E é esta condição de elevada dependência externa que deve ser resolvida para traçar o caminho da prosperidade. “O principal instrumento de financiamento deveria ser a mobilização de recursos domésticos, através do alargamento da base tributária, o que se consegue através da eliminação das isenções fiscais e melhoria dos meca-
DIVERSIFICAÇÃO
nismos de administração tributária. Ao mesmo tempo, é necessário recalibrar o Orçamento do Estado para criar maior espaço de gastos em investimentos que têm potencial para gerar crescimento económico, nomeadamente transportes e logística, energia, infra-estruturas digitais, agricultura e cadeias de valor rural, mas também capital humano (educação, saúde e nutrição) e industrialização, entre outras.”
Harrison Olamide explica que os países menos desenvolvidos e com desafios particulares, como Moçambique, deveriam recorrer a financiamentos concessionais, isto é, com condições mais favoráveis. No entanto, o contexto internacional tem-se alterado significativamente e há registos de redução da ajuda pública ao desenvolvimento nos últimos anos. Recentemente, foram anunciados cortes de ajuda externa pelo Governo norte-americano, incluindo para Moçambique, o que reforça a pressão sobre os orçamentos. O recurso ao financiamento doméstico também acaba por ser um caminho perigoso, dadas as elevadas taxas de juro do mercado e o tempo de maturidade curto, aumentando o risco de refinanciamento, sem falar no facto de concorrer com a carteira de finan-
Reduzir a dependência da exportação de matérias-primas, apostando em cadeias de valor internas assentes em quatro sectores-chave: agricultura, indústria transformadora, indústria extractiva e energética e turismo de alto valor, tudo para gerar empregos e tornar a economia resistente a choques externos.
GESTÃO PÚBLICA
A ENDE também consagra o reforço do Cenário Fiscal de Médio Prazo, uma ferramenta essencial para melhorar a planificação estratégica da despesa pública, permitindo uma utilização mais eficiente dos recursos disponíveis e criando espaço para investimentos com impacto estrutural.
ciamento que devia servir o sector privado. “Além de ser uma dívida dispendiosa, estes recursos tem sido utilizados para financiar gastos correntes que não têm nenhum retorno económico, aumentando ainda mais as vulnerabilidades para as finanças públicas”, criticou.
Promover as FinTech e a transparência
As fórmulas, segundo Olamide, residem na digitalização e combate à corrupção. Refere que é com a digitalização dos processos, em particular na administração pública, que se consegue dar um passo importante para aumentar a eficiência e transparência. Isto contribui para a redução da burocracia e combate à corrupção, que são os alicerces fundamentais para a melhoria da prestação dos serviços públicos aos cidadãos e na relação entre o Estado e o sector privado, acabando por contribuir para melhorar o ambiente de negócios. “Moçambique é um país em que, depois da agricultura, o sector de serviços é o que tem absorvido boa parte do emprego formal e informal, segundo reportam as estatísticas e os vários estudos. Com a digitalização, o sector de serviços pode modernizar-se, tornando os produtos mais sofis-
INCLUSÃO SOCIAL
A Estratégia reflecte uma forte orientação para a inclusão, priorizando os pequenos agricultores como agentes fundamentais na luta contra a pobreza e no fortalecimento da segurança alimentar. Enfatiza que políticas baseadas em dados concretos são essenciais para apoiar o sector agrário.
COMPROMISSO
A decisão de transformar a ENDE em lei traduz o compromisso do Governo com a estabilidade e previsibilidade das políticas públicas, o que confere legitimidade institucional à Estratégia, além de assegurar que seja respeitada como um instrumento de planificação de longo prazo.
A verdadeira transformação passa por tornar a agricultura mais produtiva
ticados e contribuir para o crescimento económico. A título de exemplo, a digitalização do sector financeiro e a emergência das ‘fintech’ abre muitas oportunidades para impulsionar as economias e acelerar o processo de inclusão financeira, quebrando barreiras e trazendo mais flexibilidade para o financiamento às actividades produtivas, ao mesmo tempo que gera empregos directos e indirectos”, explicou.
Reformas com prioridade e calendário
Moçambique precisa de melhorar o equilíbrio entre fontes de crescimento e catapultar o desenvolvimento dos sectores tradicionais (agricultura, pesca, turismo). O novo representante do FMI recorda que o Parlamento aprovou, recentemente, a Estratégia Nacional de De-
“Num país com enormes desafios, praticamente em todas as áreas, é fundamental não se focar em resolver todos os problemas de uma só vez, principalmente tendo em conta a limitação de recursos internos”, Harrison Olamide, FMI
senvolvimento (ENDE 2025-2044), um passo importante para orientar as políticas públicas das próximas décadas. Sugere que “num país com enormes desafios, praticamente em todas as áreas, é fundamental não se focar em resolver todos os problemas de uma só vez, principalmente tendo em conta a limitação de recursos internos e o contexto actual de redução dos fluxos de ajuda ao desenvolvimento a nível global.” Defende ainda que é importante a priorização e o sequenciamento das reformas a serem implementadas, tomando sempre em consideração as dinâmicas conjunturais. Explica que o crescimento mais inclusivo vai requer diversificação da base de crescimento e o alargamento das oportunidades de participação dos cidadãos no processo de crescimento. “A curto prazo, vislumbra-se a necessida-
CINCO ALICERCES PARA A PROSPERIDADE
Para o FMI, o futuro de Moçambique depende de escolhas claras e acções firmes, nos seguintes aspectos:
POLÍTICA FISCAL
Alargar a base tributária e reduzir isenções fiscais ineficientes; ;Mais investimento público produtivo no lugar de gastos correntes ; Alinhar a dívida pública com as prioridades de desenvolvimento.
BOA GOVERNAÇÃO
Aumentar a transparência na contratação pública; Reforçar os mecanismos de prestação de contas; Combater a corrupção de forma sistemática.
CAPITAL HUMANO
Expandir o acesso à educação; Melhorar os serviços de saúde e nutrição; Incentivar a retenção de talento e formação contínua.
ATRACÇÃO DE INVESTIMENTOS
Criar uma política fiscal e monetária credível e previsível; Menos burocracia, regras claras e protecção jurídica eficaz; Compromisso com reformas estruturais e combate à corrupção.
PROTECÇÃO SOCIAL
Ampliar as transferências monetárias para as comunidades; Aumentar a eficácia e o financiamento dos sistemas de protecção; Proteger os grupos mais vulneráveis nas reformas económicas.
de urgente de correcção fiscal para uma trajectória de sustentabilidade e que reduza as elevadas vulnerabilidades de dívida pública. Esta acção irá permitir melhorar o equilíbrio das contas públicas e libertar espaço fiscal para fazer face às despesas de investimento – falo de construção de infra-estruturas resilientes, escolas, hospitais”, afirmou.
E, por fim, aprender com os erros Para o FMI não há um “trilho dourado” para desenvolver um país. Mais do que procurar um caminho fácil, o mais importante é a capacidade de aprender com os erros passados e adoptar medidas correctivas sempre que haja um desvio em relação aos objectivos de longo prazo. Por outro lado, “é importante aprender com as experiências de países com características similares às de Moçambique que conseguiram fazer a transição (Ruanda, Quénia, Botsuana, Gana, entre outros), até para não repetir os mesmos erros, tendo sempre em mente que as escolhas de po-
FONTE Fundo Monetário Internacional
O novo Governo assume, agora, o papel de perseguir a agenda de desenvolvimento de longo prazo
Salim Valá dá a entender que muitos dos princípios que promovem a prosperidade – como a diversificação económica, a eficiência na gestão pública, o investimento no capital humano e a inclusão social –estão devidamente consagrados na ENDE 2025-2044
lítica de hoje irão ditar o Moçambique de amanhã”.
Outro grande risco a ter em conta é a desigualdade e exclusão social aliados a elevados níveis de pobreza e vulnerabilidade, gerando frustração e reduzindo a coesão social, aumentando o risco de convulsões sociais. Isto corrige-se com a já referida adopção de políticas macroeconómicas que impulsionem um crescimento mais inclusivo e os investimentos em programas de protecção social que incidam, de facto, sobre as camadas mais vulneráveis.
Lição bem estudada?
Antes de ingressar no Governo, Salim Valá já se dedicava à análise de estratégias de desenvolvimento de longo prazo, acumulando conhecimento técnico e visão estratégica sobre os caminhos para o progresso económico de Moçambique. Depois de dirigir a Bolsa de Valores de Moçambique, assumiu, este ano, a pasta de ministro da Planificação e Desenvolvimento, depositando plena confiança na
capacidade da ENDE 2025–2044 de impulsionar transformações estruturais decisivas para o futuro do País. Valá dá a entender que muitos dos princípios defendidos pelo FMI para promover uma prosperidade sustentável – como a diversificação económica, a eficiência na gestão pública, o investimento no capital humano e a inclusão social – estão devidamente consagrados neste instrumento estratégico que passa agora a ter força de lei.
O que diz o ministro Valá sobre o futuro?
O ministro da Planificação e Desenvolvimento entende que os pilares estratégicos da ENDE respondem de forma clara e estruturada às necessidades mais urgentes do País e projectam uma visão de desenvolvimento sustentável para as próximas duas décadas. Resta saber se o que foi pensado se traduzirá, de facto, em acções concretas ou se a estratégia seguirá o mesmo destino da anterior ENDE 2015–2035, cujos resultados ficaram aquém do previsto.
Juntos Pela Mudança: O Que as Empresas Podem Fazer Pelas Comunidades do PNAM
Asul da província de Maputo está localizado o Parque Nacional de Maputo (PNAM), um dos mais preciosos ecossistemas do País, com uma área de 1728 km2 e uma biodiversidade rica e fascinante. Junto ao Parque cresce a esperança na transformação da vida das comunidades, galvanizada pela parceria com o Absa Bank Moçambique, que apoia o desenvolvimento do “Projecto de coexistência Homem-Fauna-Bravia”.
Alinhado com a sua missão, o Absa olha para a promoção do desenvolvimento comunitário como um alicerce para a construção de uma sociedade economicamente activa, inclusiva e auto-suficiente. Mais do que uma instituição financeira, o Absa tem procurado posicionar-se como um verdadeiro catalisador de mudanças positivas. Guiado por uma visão orientada para um futuro sustentável, o banco tem investido com propósito no fortalecimento das comunidades que habitam a zona tampão do PNAM, promovendo a inclusão, autonomia e esperança.
“Somos um banco de Pessoas para Pessoas, e tudo o que concebemos e concretizamos procura criar valor em toda a cadeia, impulsionando histórias de superação nas comunidades. O nosso pro-
pósito é também reforçar a nossa posição como parceiro estratégico do PNAM, sempre empenhado em oferecer soluções que realmente contribuam para a transformação económica de Moçambique e dos moçambicanos. Através dos nossos projectos, geramos empregos, melhoramos a qualidade de vida e fomentamos competências que impulsionam activamente o progresso socioeconómico do País”, salienta Tânia Oliveira, Directora de Marketing e Relações Corporativas do Absa Bank Moçambique.
Sempre com o objectivo de contribuir para a construção de histórias inspiradoras na vida das pessoas, o Absa aderiu ao Clube de Amigos do Parque Nacional de Maputo (PNAM), reafirmando o seu compromisso com a conservação ambiental
A parceria do Absa com o Parque
Nacional de Maputo tem gerado resultados muito satisfatórios e tangíveis
e o desenvolvimento das comunidades. Criado em 2022 para incentivar o envolvimento do sector privado e diversificar os fluxos de financiamento, o Clube promove um modelo de turismo sustentável que valoriza as comunidades locais. Em Abril de 2024, o Absa deu um passo marcante ao tornar-se o primeiro membro institucional Platina do Clube de Amigos. Com a assinatura de um Memorando de Entendimento com o Parque, o Banco assumiu um compromisso que vai além do apoio financeiro, procurando chegar ao coração das comunidades e estar próximo das suas histórias, lutas e sonhos.
Este é apenas o início de uma parceria focada na promoção da coexistência harmoniosa entre as comunidades e a fauna bravia, na educação ambiental, no turismo regenerativo e no fortalecimento da inclusão financeira. O objectivo é melhorar os meios de subsistência locais, promover a autonomia, a dignidade e o progresso.
A parceria do Absa com o Parque Nacional de Maputo tem gerado resultados muito satisfatórios e tangíveis. Até ao momento, cerca de 180 mil famílias estão a beneficiar das acções conjuntas entre o Banco e o Parque, desde iniciativas de capacitação e criação de oportunidades de emprego até ao acesso a serviços financeiros e de educação ambiental, sempre com um impacto transformador.
“Esta decisão não decorre de uma mera directiva institucional; nasce da convicção profunda de que o progresso deve ser partilhado e construído com todos. A nossa abordagem centra-se na flexibilidade, na inclusão e no crescimento socioeconómico, o que nos tem permitido promover iniciativas que respondem às reais necessidades das comunidades. Acreditamos que o crescimento económico sustentável só é possível quando caminhamos todos juntos, lado a lado”, descreve Tânia Oliveira.
Ao alinhar objectivos económicos com responsabilidade social, o Absa Bank Moçambique demonstra que o sector financeiro, quando movido por propósito, pode liderar a mudança. E continuará, lado a lado com as comunidades, a escrever novas histórias de progresso.”
O objectivo é melhorar os meios de subsistência locais
Endireitar o Ensino Fundamental Para Pensar no Resto
Num
momento em que o mundo enfrenta mudanças aceleradas e complexas, pensar a educação a longo prazo é uma questão de sobrevivência.
A E&M conversou com Jorge Ferrão, ex-ministro da Educação e reitor da Universidade Pedagógica de Maputo
Opapel da educação como pilar para o desenvolvimento sustentável torna-se ainda mais determinante ao projectarmos as próximas cinco décadas. Com os avanços tecnológicos a transformar as economias e sociedades, torna-se imperativo repensar o sistema educativo de forma estrutural. Jorge Ferrão, antigo ministro da área e líder de uma das maiores universidades do País, é uma das vozes com autoridade na matéria e lança uma alerta: sem um “ensino fundamental” sólido, será impossível construir um sistema educativo competitivo e eficaz. Ferrão defende reformas profundas, realistas e consistentes para garantir que, daqui a 50 anos, Moçambique tenha um sistema capaz de formar cidadãos preparados para os desafios do mundo moderno.
“O País precisa de um Ministério que cuide apenas do ensino fundamental, sem o misturar com nada mais da área da educação, e assegurar que este Ministério tenha muito mais recursos do que qualquer outro”, afirma o académico. “Se tiver de defender este argumento em qualquer situação, eu tenho as provas de que um Ministério do ensino fundamental seria como o oxigénio de que precisamos para respirar. Tão importante como isso”, reiterou, apresentando alguns países vizinhos como exemplo. O Zimbabué e a Tanzânia instituíram esta ideia e, por isso, têm sistemas de educação que funcionam melhor.
Na base do sistema estão os professores. “É preciso assegurar uma valorização, uma carreira para cada professor do ensino fundamental e assegurar que estes professores são bem pagos.” O ex-ministro diz que nunca houve a preocupação de “olhar para o salário de um professor primário e tentar valorizar este profissional, tal como o era no período colonial. É por aqui que temos de come-
çar a mudar para termos um País próspero nos próximos 50 anos”, destacou.
Prioridade: estudar novas tecnologias
Jorge Ferrão entende que toda a atenção deve estar centrada no facto de o ensino básico em Moçambique não estar bem. Esse deve ser o foco, em vez de haver uma dispersão, esperando resolver lacunas no ensino secundário e no superior sem começar pela base. Se o ensino fundamental não for a prioridade, nunca conseguiremos um sistema verdadeiramente competitivo e forte.
Definida a prioridade, o académico defende uma reforma curricular orientada para a área tecnológica. É que, no seu entender, o desenvolvimento das últimas décadas “tem trazido mudanças muito rápidas e efectivas, e nós temos muita dificuldade para nos ajustarmos. Continuamos a fazer um currículo completamente entulhado de aspectos teóricos, que serve de pouco, e deixamos de lado algo que seria mais pragmático e oportuno e que deve estar voltado para a área das tecnologias e ciências exactas”.
Precisamos de planos e programas consistentes
“O sistema de educação não pode ter planos curriculares interrompidos a cada cinco anos de governação. Precisamos de elaborar um plano consistente, que se assuma a nível nacional e em que não se mexa a cada mudança de Governo”, defende o académico. Moçambique tem passado por várias reformas curriculares nos últimos anos, com o objectivo de melhorar a qualidade e a relevância do ensino.
Uma das mudanças mais evidentes foi a revisão do currículo do ensino primário, implementada em 2017, que apostou numa abordagem centrada no aluno e introduziu o ensino em línguas moçambicanas, nos primeiros anos, com o intuito de melhorar a compreensão e os resultados escolares. Houve também reformulações no ensino secundário, com a introdução de conteúdos mais orientados para a ciência, tecnologia e competências práticas, numa tentativa de aproximar as escolas das exigências do mercado de trabalho. Contudo, estas mudanças têm sido feitas num contexto de incerteza e incon-
NOVAS FERRAMENTAS NO CURRÍCULO
Dotar os alunos de competências digitais, desde os primeiros níveis de ensino, deve ser uma prioridade, diz Jorge Ferrão. Será a forma de garantir que estejam preparados para construir Moçambique nos próximos 50 anos, num mundo cada vez mais automatizado e interconectado: Ferrão defende que a integração das novas ferramentas no currículo não se deve limitar ao uso de computadores, mas aprofundar áreas como:
• programação;
• robótica;
• pensamento computacional;
• resolução de problemas com recurso a ferramentas digitais; Segundo Ferrão, uma abordagem pragmática e actualizada permitirá apostar em elementos-chave para o progresso económico e social do País:
• melhorar a empregabilidade dos jovens;
• estimular a criatividade;
• promover a inovação;
• alargar a capacidade de adaptação profissional.
JORGE FERRÃO
Reitor da Universidade
Pedagógica de Maputo
sistência quanto às regras do sistema e à vida dos professores. Um exemplo disso é a frequente alteração das classes com exames finais — ora o exame é exigido em determinadas anos lectivos, ora noutros —, o que tem causado confusão entre alunos, pais e docentes. São decisões nem sempre bem comunicadas ou fundamentadas, o que compromete a previsibilidade e a estabilidade do sistema educativo.
Além disso, a implementação de reformas continua a enfrentar obstáculos estruturais como a escassez de professores qualificados, materiais didácticos apropriados e uma desigualdade regional muito vincada no acesso a uma educação de qualidade.
Jorge Ferrão alerta: “Não é possível continuar a cometer erros sem se aprender com eles. Se assim for, para onde vamos? Que país é que se espera ter nos próximos 50 anos”, questionou.
O que falhou e o que deve mudar Logo após a independência, o País enveredou pelo espírito de não deixar ne-
REINTRODUZIR O CONSELHO DE PAIS
Jorge Ferrão considera que um dos erros no sistema de ensino foi a extinção do Conselho de Pais, um órgão que permitia a participação directa das famílias dos alunos no processo educativo e de aprendizagem. “Em todas as sociedades, a família será sempre superior à escola e a qualquer outro instrumento que pretenda dar uma educação fundamental às crianças”, defende.
Jorge
Ferrão alerta para eventuais cenários: “Não é possível continuar a cometer erros sem se aprender com eles. Se assim for, para onde vamos? Que país é que se espera ter nos próximos 50 anos?”
nhuma criança sem educação. Mais tarde, no ano 2000, ratificou o Plano de Acção de Dacar – um compromisso colectivo assumido durante o Fórum Mundial da Educação para atingir os objectivos da “Educação para Todos” (EFA, sigla inglesa). Mas esta abordagem dividiu a sociedade, recorda Jorge Ferrão. E as questões eram: para quê estarmos a pôr toda a gente no sistema de ensi-
no, quando não temos condições para tal? Em alternativa, porque não colocamos um grupo menor de alunos nas escolas, com melhor qualidade de ensino, enquanto o outro grupo ganha competências sociais para ingressar mais tarde? Jorge Ferrão revela que o princípio EFA falhou devido a uma combinação de factores. “Não tivemos nem estratégia nem recursos, e muito menos políticas para fazer bem este trabalho.”
Quando ascendeu ao cargo de ministro da Educação, em 2015, Jorge Ferrão propôs que se fizesse uma diferenciação de escolas, entre A, B e C, das melhores às piores, respectivamente. A ideia era promover a competitividade entre si, esperando que as mais fracas se esforçassem para melhorar de categoria. Mas esta ideia também falhou. “Não tivemos tempo para implementar esta estratégia e o apoio ao sector da educação foi descontinuando.” Uma aposta contínua, que ofereça previsibilidade a toda a comunidade educativa, afigura-se como essencial para os próximos 50 anos.
“Temos de Instalar Uma Indústria de Reciclagem”
Analisar o futuro de Moçambique nos próximos 50 anos implica repensar a forma como o País lida com as questões ambientais. A E&M ouviu o ambientalista
Rui Silva para perceber como o dossiê pode ser parte central da estratégia de desenvolvimento
Texto Celso Chambisso• Fotografia Mariano Silva
Num contexto de crescente pressão ambiental e social, Rui Silva chama a atenção para a urgência de se investir em indústrias de transformação, valorizar o papel dos “catadores” – recolectores por entre as lixeiras –, intensificar campanhas de educação ambiental e assegurar maior justiça climática através da compensação internacional. Para Silva, activista pelas causas ambientais, proteger o ambiente não é um entrave ao progresso, mas sim uma alavanca essencial para o desenvolvimento de Moçambique para os próximos 50 anos.
Há que investir na indústria de reciclagem
O ambientalista alerta para a urgência de revitalizar a indústria de reciclagem, principalmente do vidro, destacando os riscos ambientais e de saúde associados ao descarte inadequado de garrafas nas praias, especialmente após noites movimentadas. Enquanto resíduos como plástico e metal são rapidamente recolhidos por catadores devido ao seu valor comercial, o vidro permanece esquecido, apesar de ser 100% reciclável. “O vidro não tem valor, neste momento, e isso é um problema grave”, assinala, defendendo o regresso de uma vidreira nacional como prioridade.
Além do impacto ambiental, Rui Silva alerta para a vulnerabilidade do actual modelo de reciclagem, altamente dependente da exportação de resíduos para a África do Sul. “Se esse mercado fechar, como já aconteceu com Angola, enfrentamos um problema ambiental — com a acumulação de resíduos —, mas também uma crise social, com milhares de catadores a perderem a principal fonte de rendimento.” Torna-se imperativo que Moçambique atraia investimentos para criar uma indústria robusta de reciclagem, capaz de responder aos desafios locais e garantir sustentabilidade a longo prazo.
Será preciso apostar nos créditos de carbono
Rui Silva defende, igualmente, a continuidade e o reforço da aposta nos créditos de carbono como instrumento estratégico para o desenvolvimento sustentável do País. São certificados emitidos a partir da redução de emissões de gases com efeito de estufa, permitindo que países ou empresas poluidoras compensem as suas emissões ao financiar projectos ambientais noutros territórios. Moçambique tornou-se, em 2021, um dos primeiros países do mundo a beneficiar financeiramente deste mecanismo, através de um programa do Banco Mundial, em que recebeu 6,4 milhões de dólares pelo sequestro de carbono re-
“Devemos abandonar essa visão de conflito entre protecção ambiental e crescimento económico. É possível construir um modelo em que a conservação impulsione a economia”
sultante da gestão sustentável da floresta na província da Zambézia. Pode parecer pouco (olhando aos montantes que o Estado gere), mas é um princípio. O montante integra um pacote que pode ascender a 50 milhões de dólares ao longo do projecto. Este exemplo, segundo o ambientalista, deve servir de motivação para o País consolidar e expandir a sua presença no mercado global de carbono, transformando as florestas e áreas de conservação num activo estratégico. “Os créditos de carbono não são apenas uma fonte de financiamento, mas uma via concreta para mitigar os efeitos negativos das alterações climáticas, sobretudo em comunidades vulneráveis”, sublinha o ambientalista, apontando que estes recursos podem ser aplicados em iniciativas locais de conservação, reflorestamento e adaptação climática. Rui Silva contesta a ideia de que ambiente e economia caminhem em direcções opostas: “Devemos abandonar essa visão de conflito entre protecção ambiental e crescimento económico. É possível (e necessário) construir um modelo em que a conservação impulsione a economia”, sugere.
RUI SILVA
sobre os desafios ambientais para as próximas décadas
O ACTIVISMO DE RUI SILVA
O ambientalista Rui Silva tem estado envolvido em diversos projectos sociais e ambientais. Um deles juntou crianças para pintarem animais, agora expostos no Jardim Nangade (também conhecido como Jardim Dona Berta, em Maputo), onde decorrem actividades de sensibilização sobre fauna e caça furtiva. Participa nas actividades do Centro de Interpretação Ambiental de Moçambique, onde foi responsável pela sala de educação ambiental, além de dar contribuições para o desenho do espaço. Assinou o Muro da Biodiversidade, no Aeroporto de Maputo, que celebra a fauna e flora nacionais, além dos painéis de plástico reciclado instalados junto à rotunda do hotel Radisson, também na capital.
O (importante) papel dos catadores e da comunicação social O primeiro grande desafio de Moçambique consiste em mudar comportamentos. Neste aspecto, Rui Silva revela não ser a favor do que muitos ambientalistas aconselham, que é a separação selectiva dos resíduos (vidro para um lado, papel para o outro, metal para o outro, etc.).
Entende que os municípios ainda não têm as condições necessárias para fazerem este trabalho com eficiência, já que tal exigiria contentores específicos para cada resíduo. “Sou a favor de uma separação básica: lixo húmido de um lado e lixo seco do outro. O que é que nós ganhamos com isto? Desde logo, quando passamos nos contentores, vemos muito lixo à sua volta. Normalmente, é lixo orgânico deixado pelos catadores, por quem eu tenho um profundo respeito. Isto é, eles retiram os sacos, no sentido de procurar a matéria-prima que precisam de recolher”, esclareceu.
A separação básica entre lixo húmido e seco serve de preparação “para o futuro, porque não somos diferentes dos
outros: vai chegar a altura em que seremos também obrigados a fazer a separação selectiva do lixo a partir de casa.” Ao mesmo tempo, Silva atribui um papel relevante à comunicação social. “Felizmente, tenho visto cada vez mais a comunicação social a ajudar a formar os próprios cidadãos”, frisou, acrescentando a necessidade de se intensificarem campanhas de plantio de árvores.
Problemas de saneamento poderão prevalecer
Logo após a independência, as cidades de Maputo e Matola tinham cerca de 450 mil pessoas. Este número triplicou, fruto de migrações oriundas das várias províncias, em busca de trabalho ou em fuga da guerra civil (de 1976 a 1992). A sobrepopulação acarretou problemas ambientais que persistem até hoje. Os bairros da periferia, designados de bairros de expansão, nasceram de forma desorganizada, sem infra-estruturas básicas (saneamento, água canalizada, ruas pavimentadas ou electricidade), sem que os municípios tivessem controlo sobre as novas construções. Por isso vemos, hoje, bairros que ficam completamente alagados quando chove, porque as águas pluviais deixaram de seguir o seu curso normal (devido às construções desordenadas). Olhando para o futuro, é possível planear soluções para estes problemas. Mas são muito caras e vão exigir mobilização de financiamentos.
A este respeito, o ambientalista defende que as compensações dos países desenvolvidos e que mais poluem devem ser mais significativas a favor dos países pobres e menos poluentes, como Moçambique. “Embora sejamos um país dos que menos poluem, somos dos mais vulneráveis às consequências das mudanças climáticas. E, ainda assim, o País recebe uma indemnização muito baixa”, criticou.
O tempo é de acção, refere. Em vários pontos de Moçambique, há sinais de que o mar está a invadir o continente, numa época em que os cientistas alertam para o aumento do nível dos oceanos. “Este é um problema com que vamos sofrer muito, se não mudarmos de comportamento, individualmente ou como país. Costumo dizer sempre que a economia e o ambiente não têm de ter uma relação conflituosa, mas, sim, andar de mãos dadas. Estamos num país em desenvolvimento, com muitos recursos naturais que nós, enquanto activistas ambientais, não devemos bloquear, para o bem das comunidades e da própria nação”, defendeu.
“Há Uma Mudança de Paradigma na Ajuda a Moçambique”
Elsbeth Akkerman, embaixadora do Reino dos Países Baixos em Moçambique, revê cinco décadas de cooperação entre os dois países e fala de desafios antigos, estratégias desenvolvidas e uma renovada aposta num futuro mais sustentável com o envolvimento de parceiros internacionais, Estado e sector privado
Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva & D.R.
Ao longo dos últimos 50 anos, que são também os primeiros da história de um ‘novo’ País, os Países Baixos têm sido um dos parceiros internacionais mais consistentes de Moçambique. A relação bilateral, formalmente estabelecida logo em 1975, evoluiu de uma abordagem centrada na ajuda ao desenvolvimento para aquela que é hoje: uma cooperação mais orientada para o crescimento económico sustentável e a inclusão social.
Em entrevista à E&M, a embaixadora Elsbeth Akkerman reflecte sobre os principais eixos desta cooperação — agricultura, água, saúde e direitos humanos —, destacando o novo papel do sector privado no tradicional processo da cooperação entre Estados, e destaca a importância do capital humano moçambicano. A diplomata partilha também lições recolhidas de contextos como o Vietname e reitera “a confiança num futuro inclusivo e sustentável para Moçambique.”
Ao longo destes 50 anos, qual tem sido a essência da cooperação entre os Países Baixos e Moçambique?
Temos vindo a cooperar em muitas áreas diferentes, mas creio que, no cerne da nossa cooperação, residem verdadeiramente a solidariedade, a compaixão e o desejo de que ambos os países e am-
bos os povos prosperem. As pessoas estão no centro de tudo aquilo que temos feito, do que fazemos actualmente e daquilo que continuaremos a fazer no futuro. No centro de tudo estão as pessoas — no Governo, no sector privado, na sociedade civil, nas universidades. Mas, em última instância, são os Moçambicanos a razão central pela qual, em 1975, começámos a trabalhar em conjunto.
É uma cooperação que se tem distinguido, essencialmente, pela dimensão humana?
Sem dúvida. Foi verdadeiramente um esforço conjunto. O que caracteriza a nossa relação bilateral é o facto de ter sido uma parceria, não apenas entre governos, mas também entre indivíduos que vieram para Moçambique contribuir para a construção de um novo país. Uma nova sociedade edificada sobre a riqueza natural, a beleza e, sobretudo, o povo moçambicano.
Quais os sectores prioritários da cooperação com Moçambique?
Existe um fio condutor: cooperámos, e continuamos a cooperar, em áreas que representam desafios para Moçambique, mas que também são oportunidades agricultura, água, saúde e direitos. São sectores nos quais os Países Baixos têm uma experiência relevante e que estão alinhados com os nossos princípios: direitos humanos, liberdades fun-
“Com uma economia aberta e oportunidades inclusivas, Moçambique pode desbloquear todo o seu potencial que sabemos que está cá. Mas é fundamental que os recursos naturais sejam geridos com responsabilidade”
damentais, boa governação, responsabilidade e transparência. É isso que procuramos representar.
Pode especificar essas áreas?
Trabalhamos, por exemplo, na agricultura, segurança alimentar e nutrição, sectores nos quais temos experiência internacional. Desde a ciência agrícola aos sistemas alimentares, conseguimos “casar” o nosso conhecimento com as necessidades locais. Na agricultura, temos mais de 15 anos de cooperação. Se, no início, o enfoque era mais voltado para o desenvolvimento, hoje, a nossa acção está cada vez mais orientada para o envolvimento do sector privado.
Isso representa uma mudança na abordagem?
Sim. No passado, a ajuda era mais centrada na ajuda ao desenvolvimento. Actualmente, e no futuro, queremos envolver mais o sector privado — PME, empreendedores, jovens. E, a esse nível, programas como o Orange Corners reflectem isso. Esta mudança está alinhada com a visão do Governo moçambicano que aposta numa transformação agrícola liderada pelo sector privado. Trata-se de passar de uma lógica de subsistência para uma lógica de mercado, cadeias de valor, indústria e exportação, com empresas moçambicanas e holandesas envolvidas.
O que é necessário para tornar o sector agrícola atractivo para os jovens moçambicanos?
A agricultura precisa de se tornar numa oportunidade económica. Isto passa por integrá-la em áreas como a da banca, do comércio e do marketing. A agricultura está no centro da economia de ambos os países, mas, para que os jovens se envolvam, é fundamental que a actividade seja profissionalizada e modernizada.
ELSBETH AKKERMAN
Embaixadora do Reino dos Países Baixos em Moçambique
Tal deve incluir formação técnica, acesso a financiamento e ferramentas, que tornem a carreira agrícola viável.
Pode dar um exemplo concreto que espelhe essa visão?
Sim, o programa Mangwana, que significa “amanhã” em shona, uma língua local. É um programa plurianual implementado no Corredor da Beira, província de Sofala, financiado pelos Países Baixos e gerido por um consórcio. Decorre em parceria com a Agência de Desenvolvimento Regional do Zambeze e o Ministério dos Negócios Estrangeiros. O programa junta o Governo, sector privado, academia e sociedade civil. É um bom exemplo da nova abordagem de apoio à transformação agrícola liderada pelo sector privado.
A gestão da água é também uma área importante da cooperação bilateral, em que medida?
Sem dúvida. Moçambique é atravessado por nove rios que desaguam no oceano Índico, o que cria oportunidades, mas também desafios, semelhantes aos dos Países Baixos. Cooperamos em zonas fronteiriças com a África do Sul e
Essuatíni, e vamos começar um trabalho semelhante com o Zimbabué. Na Beira, apoiámos o sistema de drenagem urbana e agora trabalhamos numa estratégia de protecção costeira baseada na Natureza, com dunas e participação comunitária.
E, nesse âmbito, as alterações climáticas continuam a ser um eixo transversal à vossa estratégia?
Absolutamente. A luta contra o aquecimento global está presente em tudo o que fazemos. Na agricultura, por exemplo, integrámos práticas inteligentes do ponto de vista climático: sementes resilientes, técnicas de irrigação e conservação de solo. A sustentabilidade está sempre presente.
Como olham para as áreas da saúde e dos direitos humanos?
Continuamos a apostar fortemente na saúde e nos direitos sexuais e reprodutivos. Uma população saudável é fundamental para uma economia funcional. Focamo-nos na juventude, nas mulheres e raparigas, bem como em populações-chave, como a comunidade LGBTIQ+ e trabalhadoras do sexo.
É a embaixadora do Reino dos Países Baixos em Moçambique desde 2022, após ter servido como embaixadora no Vietname. Com formação em Economia e experiência nos Ministérios dos Assuntos Económicos e da Agricultura, nos Países Baixos, a diplomata traz uma abordagem estratégica para a cooperação internacional, com ênfase no desenvolvimento sustentável, comércio, inclusão social e direitos humanos. Em Moçambique, tem reforçado a cooperação bilateral em sectores-chave, como agricultura, água, saúde e direitos, promovendo iniciativas como o programa “Embaixadora Por Um Dia”. Destacase também pelo apoio a programas de desenvolvimento comunitário e conservação ambiental, como acontece na Gorongosa, consolidando o compromisso holandês com um futuro mais inclusivo e resiliente.
ELSBETH AKKERMAN
Uma das acções do Programa Orange Corners, financiado pelos Países Baixos
“No passado, a ajuda era mais centrada na ajuda ao desenvolvimento. Actualmente, e no futuro, queremos envolver mais o sector privado — PME, empreendedores, jovens, e programas como o Orange Corners reflectem isso mesmo”
É uma questão de dignidade, mas também de desenvolvimento económico.
Sendo um dos parceiros históricos de cooperação, para onde vê o evoluir esta relação com Moçambique?
As prioridades mudam. Há décadas, as alterações climáticas não estavam no centro do debate; hoje são incontornáveis. Usamos planos plurianuais de cinco anos que apontam numa direcção. No início, o foco era mais assistencial. Hoje, queremos criar oportunidades económicas e fortalecer capacidades mútuas.
Trata-se então de uma mudança de paradigma, de ajuda para cooperação económica?
Exactamente. Procuramos desenvolvimento sustentável e isso exige envolvimento do sector privado. O comércio e o investimento são motores fundamentais do crescimento económico. A orientação do Governo moçambicano para
um modelo liderado pelo sector privado está em sintonia com esta visão.
Como referiu, a vossa estratégia está permanentemente alinhada com a do Governo moçambicano. De que forma?
Nem sempre de forma total, mas tudo é feito em coordenação com o Governo. Actualmente, com novos governos em ambos os países, há uma feliz coincidência de prioridades. Em Outubro, lançaremos a nova estratégia plurianual, que será mais focada no comércio e no sector privado.Focamo-nos na empregabilidade e no empreendedorismo jovem. Mas é preciso mais do que formação, é necessário que os currículos estejam alinhados com as exigências do mercado. O sector privado tem de estar muito envolvido nesse processo.
O contexto nacional tem imensos desafios. Como os encaram?
A experiência em Moçambique ensina-nos
muito sobre resiliência e adaptação às alterações climáticas. Aprendemos com os Moçambicanos. Fortalecemos redes e alargamos o nosso próprio conhecimento. É uma parceria que funciona em ambos os sentidos.
Foi diplomata no Vietname antes de chegar a Moçambique. Encontra similitudes entre ambos os países?
O Vietname teve um ponto de viragem em 1975, tal como Moçambique. Após conflitos internos, nos anos de 1980, abriu-se ao investimento estrangeiro, com uma estratégia clara: canalizar esses recursos para a educação, saúde e infra-estruturas, criando assim condições para mais investimento. Moçambique pode trilhar esse caminho, mas é necessário uma visão de longo prazo, como a do Vietname, que projecta o impacto das alterações climáticas a cem anos.
Moçambique tem o capital humano necessário para avançar?
Sim. O País tem recursos naturais, uma localização estratégica e, acima de tudo, o seu povo. O capital humano é o maior activo. Vejo isso no programa “Embaixadora Por Um Dia” que apoiamos em conjunto com o Canadá, Finlândia, Suécia, Reino Unido e Espanha, e onde jovens mulheres aperfeiçoam os seus skills de liderança. Por outro lado, vemos sinais positivos de compromisso político e a promessa de reformas estruturais. São estes os alicerces para um Moçambique mais estável, inclusivo e sustentável.
Como antevê, vendo de fora mas tendo já um conhecimento profundo da realidade, o futuro do País?
Vejo sempre o copo meio cheio. Com uma economia aberta e oportunidades inclusivas, Moçambique pode desbloquear todo o seu potencial que sabemos que está cá. Mas é fundamental que os recursos naturais sejam geridos com responsabilidade, com foco nas pessoas e no meio ambiente. E que haja planeamento a longo prazo.
Qual é a percepção das empresas holandesas sobre Moçambique?
Temos aqui algumas empresas de referência, como a Heineken, a Cornelder e outras com bastante relevância. Mas Moçambique continua a ser um dos segredos mais bem guardados de África, e foi por isso que organizámos, ainda recentemente (em Março), uma missão empresarial na área agrícola. Estamos a tentar posicionar o País como um destino de oportunidades de negócio, com vista ao lucro, sim, mas também com negócios que fomentem impacto social e ambiental.
África: Independências Sem Emancipação Económica
Nos 50 anos de independência de Moçambique, exploramos o pensamento de Samir Amin, autor que analisou o destino dos países africanos após a descolonização. Na maioria dos casos, a soberania não se traduziu em autonomia económica
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R
Em obras como "Accumulation on a World Scale" (Acumulação à escala mundial), de 1970, "Imperialism and Unequal Development" (Imperialismo e desenvolvimento desigual), de 1977, e "Maldevelopment: Anatomy of a Global Failure" (Subdesenvolvimento: anatomia de um fracasso global), de 1990, Samir Amin afirma que a independência dos países africanos foi largamente "formal". O que quer isto dizer? Significa que a transferência da administração política não foi acompanha por uma transformação das estruturas económicas coloniais. Para Amin (falecido em 2018, aos 86 anos), a África pós-independência foi incorporada de forma subordinada no sistema capitalista global, através de um modelo de acumulação dependente.
O autor chamava a este sistema "capitalismo periférico", no qual as economias africanas permaneceram especializadas na exportação de matérias-primas e produtos agrícolas de baixo valor agregado. Considerava que a industrialização, essencial para qualquer projecto de desenvolvimento autónomo, foi marginalizada.
“A independência política sem desconexão económica é ilusão”, alertava Amin na sua obra Maldevelopment. Esta tese ajuda a entender porque é que muitos Estados africanos, incluindo Moçambique, apesar das independências, se viram rapidamente confrontados com crises de crescimento, dependência externa e vulnerabilidade às flutuações dos preços internacionais.
"Desconexão", via para a soberania Samir Amin propôs uma ideia-chave para inverter este ciclo: a desconexão (delinking). Ao contrário do isolamento, a desconexão significava uma reorientação estratégica das economias nacionais, priorizando o mercado interno, a industrialização endógena e o controlo sobre os principais sectores produtivos, em vez de uma submissão aos interesses e lógicas do mercado mundial.
Amin não pregava o isolamento, mas sim o desenvolvimento de uma base produtiva autónoma como condição para que a integração internacional fosse feita em termos mais equilibrados. Estas ideias não escaparam a críticas. Alguns economistas consideraram-nas impraticáveis. Muitos críticos argumentaram que, num mundo globalizado e interdependente, seria extremamente difícil (ou mesmo impossível) países em desenvolvimento, como os africanos, desvincularem-se completamente das forças económicas globais, dominadas por países do Ocidente.
Por exemplo, Joseph Stiglitz, prémio Nobel de Economia (2001), na obra "Globalization and Its Discontents" (A Globalização e os seus malefícios), de 2002, reconhece que a globalização tem falhas, mas a resposta não é a “desconexão” total. Sugere, antes, uma reforma do sistema económico global.
Moçambique e o encontro com as teorias de Amin Quando olhamos para o percurso de Moçambique, vemos como as ideias de Samir Amin dialogam com a rea-
Nascido em 1931, no Egipto, de mãe francesa, estudou no Liceu Francês do Cairo e prosseguiu os estudos superiores em Paris, onde, em 1957, se doutorou em Economia Política. Trabalhou para a administração pública do seu país natal, de onde foi afastado, partindo para o Mali, onde trabalhou no Ministério do Planeamento. Regressou à academia, em França, onde deu aulas. Faleceu a 12 de Agosto de 2018, em Paris.
lidade. A independência conquistada em 1975, sob liderança da Frelimo, foi acompanhada por um projecto inicial de transformação estrutural: nacionalização das principais indústrias, reforma agrária e prioridade à educação e saúde. Em teoria, Moçambique queria, nos seus primeiros anos, seguir uma linha semelhante à proposta de "desconexão" de Amin.
Mas a escassez de quadros qualificados, a guerra civil (1977-1992) e outros factores de turbulência interna e externa, as políticas de ajustamento estrutural impostas pelos credores internacionais na década de 1980 (como o FMI e Banco Mundial) e a globalização neoliberal fragmentaram esse projecto.
SAMIR AMIN
A reorientação para um modelo de liberalização económica, privatizações e dependência da ajuda externa, a partir dos anos 1990, reforçou, segundo a leitura das ideias de Amin, o padrão de integração subordinada no sistema mundial. E há alguns exemplo disso:
1. A economia moçambicana tornou-se altamente dependente de megaprojectos de recursos naturais (gás, carvão, alumínio, etc.) com pouca ligação ao resto da economia nacional;
2. A agricultura (área em que Moçambique colonial foi uma força exportadora) tem potencial para o país ser auto-suficiente, mas permanece marginalizada no modelo de crescimento e reduzida ao cultivo de subsistência.
Samir Amin teria visto neste cenário a confirmação do risco de "recolonização económica", sob novas formas, algo que descreveu em obras posteriores como "The Liberal Virus" (O Vírus Liberal), 2003.
Que soluções propõe Samir Amin? Para o economista, o futuro de África, e de Moçambique em particular, dependeria de:
• uma reindustrialização soberana, ancorada nas necessidades do mercado interno e não na exportação primária;
• políticas de mobilização popular, onde o Estado desempenharia um papel activo na planificação económica, sem se submeter às lógicas do mercado livre de forma cega;
• uma integração regional africana, para fortalecer as capacidades colectivas e reduzir a vulnerabilidade externa;
• uma reforma agrária e valorização da produção alimentar, como bases para a soberania económica.
A independência dos países africanos foi largamente "formal", ou seja, significou a transferência da administração política, mas não a transformação das estruturas económicas coloniais
Cinquenta anos depois da conquista da liberdade formal, Moçambique, como grande parte de África, enfrenta o desafio de completar a sua independência no domínio económico. A mensagem de Samir Amin é clara: “Sem desconexão estratégica e sem um projecto de desenvolvimento centrado nas próprias forças, a independência permanece incompleta."
Retomar este debate, à luz das condições actuais, é um dos tributos mais necessários que se pode prestar à luta pela autodeterminação e ao sonho de África controlar o seu destino.
Ao reflectir sobre os seus 50 anos de independência, Moçambique pode encontrar nas ideias de Amin uma crítica vigorosa às trajectórias passadas, mas também pistas para a construção de alternativas mais sólidas e autónomas.
Samir Amin & Thomas Sankara
Afinal, Que País Teremos no Próximo Quinquénio?
O recém-aprovado Programa Quinquenal do Governo (PQG 2025-29) promete progressos assinaláveis. Contudo, a sociedade civil mostra-se céptica e pede mais transparência
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
OPrograma Quinquenal do Governo (PQG) 20252029 apresenta uma visão progressista para Moçambique, ancorada no crescimento inclusivo, na justiça social e na modernização económica. Repetem-se promessas falhadas há décadas, transfiguradas como ambições claras em áreas como a estabilização macroeconómica, diversificação produtiva e protecção social: o plano reafirma o papel do Estado como motor de desenvolvimento. Mas esta visão confronta-se com uma realidade diferente: uma pobreza crescente, maior pressão populacional, um mercado de trabalho frágil e infra-estruturas limitadas ou inexistentes.
Além disso, a elevada dependência de recursos externos – com o défice orçamental global estimado em 8,4% do PIB em 2025 – levanta preocupações quanto à viabilidade da implementação do plano.
Vários analistas criticam a ausência de detalhes sobre os mecanismos de execução e financiamento dos programas propostos. A falta de metas claras para reformas estruturais e a dependência de doadores externos alimentam a desconfiança sobre a real capacidade do Governo em cumprir o plano. O PQG, embora ambicioso, terá de provar que consegue
ir além das intenções. Eis as linhas orientadoras de alguns dos indicadores socieconómicos de peso.
Estabilidade macroeconómica como pilar estruturante
No domínio da estabilidade macroeconómica, o Governo estabelece metas claras para o controlo da inflação, o equilíbrio fiscal e a gestão sustentável da dívida pública. Pretende-se reduzir a taxa de inflação de uma média de 9,5% em 2025 para 6,5% até 2029, com uma política monetária mais restritiva e uma gestão prudente da base monetária.
A dívida pública, que se situa em cerca de 100% do PIB em 2025, deverá ser reduzida para 82% até 2029, através de uma combinação entre maior eficiência da despesa, aumento da arrecadação de receitas internas e limitação ao endividamento externo não concessionado. A previsão choca com as que o FMI apresenta (a rondar 96% em 2029).
O crescimento económico médio anual projectado para o quinquénio é de 5,5%, com o Produto Interno Bruto (PIB) a subir de cerca de USD 19,8 mil milhões em 2025 para USD 26,7 mil milhões até 2029. Já o PIB per capita deverá aumentar de USD 590 para cerca de USD 710, o que indicaria uma recuperação moderada, mas constante, após anos de estagnação económica e crises sucessivas.
A falta de metas claras para reformas estruturais e a dependência de doadores externos alimentam a desconfiança sobre a real capacidade do Governo em cumprir as metas do plano
Transformação alicerçada na produção e diversificação
O PQG propõe-se dinamizar os sectores produtivos nacionais, particularmente a agricultura, que emprega mais de 70% da população activa. A meta é aumentar a produção agrícola em pelo menos 20% até 2029, com ênfase na mecanização, extensão rural, acesso a sementes melhoradas e irrigação. Na indústria transformadora, o Governo espera elevar a sua contribuição para o PIB de 9% em 2025 para 12% em 2029, com a criação de zonas económicas especiais, incentivos fiscais e parcerias público-privadas que dinamizem o processamento local de matérias-primas, particularmente nos sectores agro-industrial, mineiro e energético. Espera-se, também, um aumento da participação das exportações não tradicionais na balança comercial de 18% para 28% até ao final do quinquénio, reforçando a competitividade externa da economia moçambicana.
Ambiente de negócios atractivo O Governo compromete-se, igualmente, a melhorar substancialmente o ambiente de negócios, reduzindo a morosidade administrativa e os custos para o sector privado. A meta é posicionar Moçambique entre os 80 países com melhor ambiente de negócios até 2029, face à actual posição superior a 130 no ranking global, através de acções que incluem a re-
dução do tempo médio para a abertura de empresas de 17 para 5 dias úteis, redução do número de procedimentos para obtenção de licenças de construção e operação industrial, modernização de todos os serviços notariais e de registo comercial até 2029 e expansão dos balcões únicos para investimento em todas as capitais provinciais.
Mais 2 milhões de empregos
O emprego é também um desafio central no PQG. O objectivo é criar cerca de 2 milhões de novos postos de trabalho formais e informais até 2029, com ênfase para o emprego jovem. Segundo o documento, será reforçado o ensino técnico-profissional, com a meta de aumentar o número de formandos de 130 mil em 2025 para 300 mil até 2029, enquanto o acesso ao financiamento para jovens e mulheres empreendedoras será alargado através do Fundo de Fomento ao Emprego e Empreendedorismo.
Paralelamente, a taxa de informalidade laboral, que ronda 85%, deverá ser reduzida para 75% até 2029, através de reformas legais, protecção laboral e incentivos à formalização.
Um Estado mais presente e justo No capítulo social, o PQG assume uma orientação fortemente inclusiva. O Governo prevê expandir os programas de protecção social básica de 2,2 mi-
O LEQUE DE AMBIÇÕES QUE COMPÕEM O PLANO QUINQUENAL DO GOVERNO (PQG 2025-29)
Tal como noutras ocasiões, há metas ousadas para transformar a realidade do País, se forem cumpridas
SALTO NO PRODUTO INTERNO BRUTO
Espera-se que este aumento seja estimulado por uma diversificação da economia há muito esperada
AUMENTO NO PIB PER CAPITA
A estabilidade social é pressionada pelo crescimento populacional.
Em USD
MENOS TRABALHO INFORMAL
Incluir o informal é uma meta antiga e ainda longe de se cumprir
Em
PREÇOS MAIS BAIXOS
O Executivo promete tudo fazer para que a inflação média anual seja mais reduzida
Em %
Novos programas prometem cobrir deficientes, idodos e crianças
Milhões de pessoas
REDUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA
Menos dívida, mais espaço fiscal e confiança dos mercados
Em % do PIB
MENOS POBREZA
Um indicador historicamente difícil de corrigir poderá conhecer uma evolução
Em %
A economia informal é um dos reflexos da desigualdade social
A pobreza extrema, a elevada informalidade laboral, o rápido crescimento demográfico, a crise climática e a fragilidade institucional coexistem, reforçando-se mutuamente num ciclo de exclusão
lhões de beneficiários em 2025 para 3,5 milhões até 2029, com maior cobertura nas zonas rurais, em especial para crianças, idosos e pessoas com deficiência.
Outro compromisso relevante é a redução da taxa de incidência da pobreza absoluta de 63% para 55% no final do período, com intervenções integradas em segurança alimentar, acesso a água potável, habitação e apoio à economia familiar.
Será igualmente reforçada a rede de instituições de acolhimento e reintegração social, com acções dirigidas às vítimas de violência doméstica, órfãos e outros grupos em situação de risco.
Vulnerabilidades agravam ciclo de exclusão
Estará o Estado à altura destas metas? O sociedade civil entende que não. Numa publicação recente, intitulada “Uma análise crítica do PQG 2025–2029 à luz dos alertas do World Social Report 2025” (este último publicado pelas Nações Unidas), o Centro de Integridade Pública (CIP) arrola uma série de argumentos que tentam provar que as metas propostas carecem de fundamentação, quer de ponto de vista de suporte financeiro, quer de acções concretas, para se tornarem reais. Vamos por partes.
O CIP afirma que Moçambique reúne todas as vulnerabilidades descritas no World Social Report 2025: a pobreza extrema, a elevada informalidade laboral, o rápido crescimento demográfico, a crise climática e a fragilidade ins-
titucional coexistem, reforçando-se mutuamente num ciclo de exclusão. Reforça, citando dados oficiais, que 53,1% da população vive em situação de pobreza multidimensional, um dos níveis mais elevados da África Austral. A insegurança alimentar afecta mais de 33% da população e os níveis de desnutrição crónica entre crianças menores de 5 anos permanecem acima dos 37%.
“Diagnóstico sem rumo estratégico”
A ONG refere, no entanto, que “o PQG reconhece, pelo menos no papel, os desafios estruturais do País: pobreza, desemprego, informalidade, exclusão social e degradação ambiental. Todavia, as respostas propostas continuam genéricas, com pouca quantificação de metas e sem clareza sobre fontes de financiamento.” O CIP avança que, no PQG, o Governo promete transformar a economia, acelerar a industrialização e criar empregos decentes. No entanto, ignora o histórico de fracasso na execução de políticas estruturantes e na inclusão de grupos vulneráveis. “Exemplo concreto: o relatório global recomenda sistemas universais de protecção social, com o objectivo de abranger todas as camadas sociais, enquanto Moçambique insiste em programas fragmentados e altamente dependentes de financiamento externo”, lê-se na publicação.
O CIP aponta cinco aspectos nos quais Moçambique está a falhar:
Protecção social fragmentada 1 2 3 4 5
Embora o PQG fale em inclusão social, continua a apostar em transferências condicionadas e programas-piloto. Os subsídios muitas vezes chegam tarde (outros são desviados por esquemas de corrupção), não cobrem os grupos mais vulneráveis e são financiados por fundos externos. Falta uma estratégia clara e sustentável.
Emprego e informalidade
O sector informal representa mais de 80% dos empregos e, apesar de prometer criar empregos decentes, o PQG não apresenta uma política coerente para a formalização laboral. Continua-se a incentivar o empreendedorismo informal como se fosse uma solução sustentável, quando na verdade é apenas uma medida paliativa.
Crise climática e resiliência
O PQG trata a mudança climática como questão ambiental e não uma crise socioeconómica. O World Social Report denuncia que uma em cada cinco pessoas vive sob risco climático. A retórica sobre a resiliência climática está no PQG, mas onde estão os fundos para reconstrução resiliente? Onde está o plano para adaptar as zonas costeiras mais pobres?
Fragilidade institucional
O PQG reconhece a importância da boa governação, mas não enfrenta os problemas centrais, designadamente a fraca prestação de contas, a baixa confiança nas instituições públicas e a falta de participação significativa dos cidadãos.
Métodos ultrapassados na educação
O PQG fala em melhorar o acesso e a qualidade do ensino, mas mantém uma abordagem desfasada das exigências contemporâneas. As salas continuam sobrelotadas, com um rácio aluno-professor situado em 68,1 alunos por professor. A formação de docentes é precária.
O Governo sonha com um Moçambique mais estável, produtivo e justo. O CIP, porém, vê promessas sem chão. Entre o sonho e a execução, fica o País à espera.
“Aperto”
no Arranque da Era Chapo
Aprovado por entre fragilidade económica e tensões, o Orçamento do Estado de 2025 esforça-se para manter o funcionamento das instituições e responder às pressões externas
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
OPlano Económico e Social e Orçamento de Estado (PESOE) para 2025 foi, finalmente, aprovado e promulgado, após mais de cinco meses de atraso, resultado das manifestações pós-eleitorais e da transição para um novo Governo, liderado por Daniel Chapo. O documento estima um crescimento económico de 2,9% (superior a 1,9% de 2024), uma inflação média de 7% e um défice de cerca de 126 mil milhões de meticais (8,2% do PIB), com receitas previstas de 385,8 mil milhões de meticais e despesas totais de 512,7 mil milhões. Este desequilíbrio fiscal revela a fragilidade das contas públicas, agravada por uma dívida pública que atingiu o marco histórico de 1 trilião de meticais.
A pressão dos credores internacionais (FMI, Banco Mundial, União Europeia e EUA) influenciou fortemente a priorização de áreas como saúde, educação e infra-estruturas, forçando cortes em sectores tradicionalmente protegidos, como a defesa.
Saúde, educação e infra-estruturas no centro O PESOE aposta fortemente nos sectores sociais como pilares do desenvolvimento e recuperação nacional. O Governo planeia canalizar uma parte significativa dos recursos para áreas como saúde, educação, abastecimento de água, habitação e protecção social, embora os va-
lores orçamentais desagregados ainda não tenham sido detalhados e o histórico mostre uma capacidade de execução limitada.
No papel, prevê-se a formação e contratação de cerca de 2500 novos profissionais para o sistema nacional de saúde, incluindo médicos, enfermeiros e técnicos de medicina preventiva. Está igualmente orçamentada a construção e reabilitação de mais de 150 unidades sanitárias, com destaque para centros de saúde em distritos rurais e hospitais em regiões mais populosas. A expansão do acesso inclui, também, o reforço do abastecimento de medicamentos essenciais e a digitalização de registos clínicos em unidades seleccionadas como parte da modernização do sector.
Na educação, o Governo prevê a contratação de cerca de 8000 novos professores, com prioridade para o ensino primário nas zonas rurais e periféricas. O plano inclui ainda a construção de mais de 500 salas de aula, bem como a reabilitação de infra-estruturas escolares degradadas, para reduzir a sobrelotação e melhorar as condições de aprendizagem. Também se prevê a expansão do ensino técnico-profissional, com a implementação de dez novos institutos de ensino médio e técnico em províncias com altos índices de desemprego juvenil, alinhando a formação às necessidades do mercado de trabalho.
Tanto na educação como na saúde, as acções previstas estão ainda longe
Na educação, o Governo prevê a contratação de cerca de 8000 novos professores, com prioridade para o ensino primário nas zonas rurais e periféricas
mil milhões de meticais
É o défice das contas públicas para este ano e que se espera seja coberto por recursos externos
de satisfazer os problemas que se verificam. Talvez por isso a primeira-ministra, Benvida Levi, tenha reconhecido que o plano não é o ideal, mas “o possível”, dada a conjuntura difícil com que o País se depara.
No que respeita às infra-estruturas, o documento dá prioridade à reabilitação de vias de acesso e sistemas de abastecimento de água, embora tenha sido alvo de críticas pela falta de verbas específicas para a reabilitação da Estrada Nacional Número 1 (N1).
Preocupações com a Segurança Nacional Uma das medidas mais controversas do PESOE 2025 é a redução em cerca de
35% do orçamento das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), passando de 31,7 mil milhões para 20,6 mil milhões de meticais. Esta decisão ocorre num contexto de persistência do terrorismo em Cabo Delgado. Especialistas como João Feijó e Firmino Chirrime alertam que essa redução pode enfraquecer a capacidade operacional das FADM, prejudicando a rotação, formação e moral das tropas. Embora se veja espaço para reformas internas num sector associado à corrupção, há o risco de um aumento da dependência de forças estrangeiras, como do Ruanda e da Tanzânia, o que pode comprometer a soberania nacional.
NÚMEROS DO ORÇAMENTO E METAS MACROECONÓMICAS
Recursos previstos para sustentar a máquina do Estado moçambicano em 2025
Recursos internos
(32,8%)
Receitas do Estado
(25%)
Crédito interno
(2,8%)
TOTAL DE RECURSOS
(33,2%)
Recursos externos
(4,3%)
(3%)
(0,7%)
Principais metas macroeconómicas
4,7
Meses de cobertura das importações pelas reservas externas (3,4 mil milhões USD)
DE ONDE VÊM
7,0%
Taxa média de inflação prevista
2,9%
Crescimento do PIB para mais de 1,5 biliões de meticais
AS RECEITAS... ... E PARA ONDE
O retrato do esforço fiscal e das apostas do Governo para equilibrar as contas públicas
VAI O DINHEIRO?
As menores despesas de investimento revelam dificuldade em impulsionar o crescimento a longo prazo
Subsídios 2 (0,1%)
(2,4%)
Despesas com pessoal
Correntes
Carla Muchanga •
de Bancassurance, FNB Moçambique
Sentir-se em Segurança: Uma Necessidade Humana
ANão se trata apenas de proteger bens — trata-se de proteger vidas, rotinas e sonhos
sensação de segurança é uma das necessidades mais profundas e antigas do ser humano. Desde que começámos a viver em comunidade, procuramos formas de nos proteger — inicialmente com alianças entre vizinhos, depois com sistemas rudimentares de apoio mútuo, até à criação dos primeiros seguros, na Idade Média, em que mercadores partilhavam os riscos das suas viagens marítimas. Foi aí que nasceu o embrião do conceito moderno de seguros: uma forma prática de gerir o imprevisível. Hoje, os seguros evoluíram muito além de uma simples resposta financeira a imprevistos. Tornaram-se parte integrante do nosso bem-estar psicológico. Sentir-se em segurança é ter a liberdade de viver sem o constante peso do “e se…?”. É poder fazer planos, arriscar, cuidar da família e investir no futuro com mais confiança. Na actualidade, esta segurança traduz-se em diversas áreas: ter um seguro de saúde que garanta um tra-
O FNB Moçambique reconhece o valor profundo dos seguros no quadro das aspirações humanas
tamento digno, em momentos críticos; um seguro automóvel que evite dores de cabeça em caso de acidente; um seguro de vida que garanta estabilidade aos que mais amamos, mesmo na nossa ausência.
Não se trata apenas de proteger bens — trata-se de proteger vidas, rotinas e sonhos.
Para as pequenas e médias empresas, a questão é ainda mais estratégica. Um seguro adequado permite que o empreendedor se concentre no crescimento do negócio, sabendo que terá suporte em tempos de crise, desde interrupções imprevistas até danos materiais. Segurança, aqui, é sinónimo de resiliência.
Sentir-se em segurança vai muito além da simples ausência de perigo. Envolve factores emocionais e sociais que nos permitem viver com confiança, reduzir a ansiedade e tomar decisões com a certeza de que temos, à nossa disposição, ferramentas para lidar com o inesperado. Como seres humanos, temos uma necessidade inata de controlar o nosso ambiente. Quando essa segurança falha, surge a ansiedade, que afecta a nossa saúde mental, prejudicando também, inevitavelmente, a qualidade de vida.
O FNB Moçambique reconhece este valor profundo dos seguros. Por isso, lançou a campanha +Seguro nas suas redes sociais — sobretudo para educar e empoderar. A campanha explica, de forma clara e prática, o papel real dos seguros no dia-a-dia, desde o seguro de vida aos patrimoniais, para protecção pessoal e empresarial. O banco pretende, assim, ir além de uma simples oferta de produtos financeiros, focando-se na partilha de informações valiosas e práticas, de modo a orientar clientes e seguidores para tomadas de decisão informadas.
Sentir-se em segurança, afinal, é mais do que estar protegido — é ter a certeza de que, quando a vida foge do nosso controlo, existe algo sólido em que nos podemos apoiar. E isso, por si só, muda tudo.
Responsável
João Gomes • Partner @BlueBiz joaogomes@bluebizconsultoria.co.mz
Introdução: O Silêncio Interrompido da Liderança Africana
Vem este artigo a propósito da observação feita nos MBA - que regularmente facilito na região SADC - onde a liderança é ainda frequentemente analisada sob lentes eurocêntricas, ignorando valores e práticas autênticas do continente africano.
Recentemente, ao encerrar um programa de coaching para as chefias intermédias do Banco de Moçambique, desafiei-as a repensarem a liderança pela perspectiva da AfroLiderança (AL) O interesse e a adesão foram tão marcantes que me motivaram a partilhar, neste artigo, as principais conclusões e a desafiar os meus leitor@s a reflectir sobre: O que é a AfroLiderança e como adaptá-la à modernidade?
2. O Que é AfroLiderança (AL)?
Na minha opinião, AfroLiderança (AL) é:
- Um modelo de liderança;
- Ancorado em valores africanos como i) Ubuntu (“eu sou porque nós somos”); ii) Serviço; iii) Ancestralidade; iv) Colectividade com responsabilidade; v) Resiliência transformadora e vi) Espiritualidade integrada;
- Profundamente relacional, onde o líder é servidor, facilitador e guardião do bem comum;
- Que valoriza vínculos de confiança, escuta genuína, inclusão de vozes diversas e o fortalecimento da comunidade como unidade de desenvolvimento;
- É uma liderança que se exerce com o coração, raízes profundas e consciência do impacto colectivo;
- E que reconhece que o saber é partilhado e que autoridade se constrói eticamente. O progresso real é o que inclui, transforma e gera legado.
3. Princípios e Valores da AfroLiderança
Ubuntu – Promove a empatia e interdependência. Exemplos: escuta colectiva, celebração de vitórias em equipa.
Ditado: “Se queres ir longe, vai em grupo.” Serviço – O líder apoia o crescimento da
AfroLiderança: Liderar com Raízes Africanas, Inspirar com Propósito Global
equipa. Exemplos: liderança no terreno, programas de mentoria.
Ditado: “Um líder sem seguidores é apenas um caminhante.”
Ancestralidade activa – Honra os mais velhos. Exemplos: sessões de partilha de sabedoria, registo de boas práticas.
Ditado: “A sabedoria é como o baobá: nenhum homem a abraça sozinho.”
Colectividade com responsabilidade – Todos participam e são responsáveis. Exemplos: definição colectiva de objectivos, fóruns rotativos de liderança.
Ditado: “O tambor não toca sozinho.”
Resiliência transformadora – Adversidades são oportunidades de inovação. Exemplos: sessões pós-crise, soluções colectivas.
Ditado: “Até o leão precisa da coragem da matilha.”
Espiritualidade integrada – Actua com significado e propósito. Exemplos: momentos de reflexão em reuniões, conexão diária com os valores organizacionais.
Ditado: “O líder que não escuta será abandonado pelo seu povo.”
4. AfroLiderança vs. Liderança Ocidental Tradicional Ao contrário da liderança ocidental tradicional — que privilegia desempenho individual, hierarquia e controlo —, a AL promove colaboração, autonomia partilhada, escuta e pertença.
5. Porque falha a AfroLiderança?
Apesar do seu potencial transformador, a AL também falha quando os princípios são distorcidos ou mal aplicados. Abaixo, apresentam-se exemplos de falhas recorrentes da AL:
- Tradição como desculpa para o imobilismo: bloqueio de inovações ou mudanças urgentes sob o pretexto de preservar a cultura;
- Nepotismo justificado pela comunidade: nomeações com base em vínculos familiares em detrimento de mérito e competência;
- Falta de responsabilização individual: dissolução da responsabilidade pessoal sob a ideia de colectividade;
- Exclusão estrutural de jovens e mulheres: perpetuação de dinâmicas de poder que contradizem os valores da inclusão;
- Liderança reactiva e não estratégica: acção apenas em contextos de crise, sem visão de longo prazo;
- Comunicação indirecta e evasiva: evitar o conflito a todo custo, dificultando a resolução transparente de problemas.
6. Modelos Africanos de Liderança: Tradição e Contemporaneidade
A liderança africana tem expressões milenares e actuais, que se complementam e
Dimensão Liderança Ocidental Tradicional AfroLiderança
Foco
Resultado individual Bem comum e impacto colectivo
Relação líder-equipa Distanciada Próxima e horizontal
Gestão de conflitos
Diversidade e cultura
Papel do líder
Espiritualidade e sentido
Punitiva Mediação e justiça restaurativa
Marginalizadas Valorizadas como força
Director e controlador Facilitador e servidor
Separadas Integradas no propósito Resolução de problemas
Relação com o tempo
Processo de aprendizagem
Técnica e rápida Reflexiva e contextual
Linear e cronológica Circular, ritmada socialmente
Formal e instruído Experiencial, oral e intergeracional
dialogam numa ponte entre o legado e a inovação. A tabela abaixo distingue os elementos estruturantes da tradição e da contemporaneidade que contribuem para reduzir as suas falhas recorrentes :
Elemento
Fonte de autoridade
Forma de transmissão
lação entre a prática do Ubuntu e a coesão das equipas. Estes dados reforçam que a AL não é apenas culturalmente legítima, mas operacionalmente eficaz e mensurável.
Contemporaneidade
Tradição Africana
Afrocentrada (AfroLiderança)
Sabedoria acumulada, idade, ancestralidade Impacto ético e social
Oralidade, observação, convivência
Envolvimento comunitário Participação activa
Temporalidade
Função do líder
Circular, respeitando o ritmo da natureza
Guardião da harmonia e mediador
Educação formal e redes digitais
Co-criação e escuta integradora
Estratégica, orientada por metas e inovação sustentável
Inspirador e mobilizador de recursos e ideias
Decisão Por consenso e conselho Por alinhamento estratégico
Relação com espiritualidade
Exemplos
Totalmente integrada na liderança
Rainhas mães, sobas, líderes espirituais
7. Impactos da AfroLiderança: Catalisador de Performance das Equipas
Para além dos efeitos observados na dinâmica interna, estudos realizados em organizações africanas evidenciam aumentos de até 28% na retenção de talentos, melhoria de 35% no índice de confiança nas chefias e maior inovação processual após a implementação da AL.
Avaliações de clima organizacional também demonstram uma forte corre-
Preservada como fonte de propósito e orientação ética
Mandela, Maathai, Graça Machel
8. Conclusão: Liderar com Alma, Raízes e Visão
Este artigo partiu da necessidade de, como vimos na Introdução, romper o silêncio histórico sobre os modelos de liderança africana e resgatar práticas enraizadas nas realidades do continente. A AfroLiderança (AL), como discutido na secção O Que é AfroLiderança, apresenta-se como uma liderança relacional e ética, fundamentada em valores como Ubuntu, ancestrali-
dade e colectividade. Trata-se de um modelo que valoriza a construção de vínculos de confiança e o fortalecimento da comunidade, colocando o bem comum no centro da acção.
Através da análise dos Princípios e Valores da AfroLiderança, ilustrados com exemplos práticos e provérbios africanos, demonstrámos que liderar com base nesses valores gera equipas mais coesas, resilientes e inovadoras. A comparação feita em AfroLiderança vs.
A liderança é ainda frequentemente analisada sob lentes eurocêntricas, ignorando valores e práticas autênticas
Liderança Ocidental Tradicional destacou a especificidade e a relevância da AL como alternativa estratégica, mais inclusiva e regeneradora em relação aos modelos hierárquicos clássicos.
Os dados apresentados na secção Impactos da AfroLiderança evidenciam que, para além do valor simbólico, a AL traz resultados mensuráveis, como o aumento da retenção de talentos e a melhoria no índice de confiança nas chefias.
Contudo, reconhecemos em Porque falha a AfroLiderança? que existem desafios e riscos de desvirtuamento do modelo, sobretudo quando os princípios são aplicados de forma superficial ou distorcida.
A visão integrada de Modelos Africanos de Liderança: Tradição e Contemporaneidade mostrou que a AL é uma ponte dinâmica entre sabedoria ancestral e inovação sustentável.
Por fim, a força simbólica dos Provérbios Africanos como Metáforas de Liderança reforça que liderar a partir de África é liderar com alma, propósito e visão. A AfroLiderança propõe não apenas uma nova forma de liderar em África, mas uma contribuição autêntica para um novo paradigma de liderança global. Liderar a partir de África não é imitar o mundo: é inspirá-lo.
- South African Board for People Practices (SABPP). (2020). Leadership and Organizational Culture in South Africa. https:// www.sabpp.co.za
- Centre for African Leadership Development (CALD). (2021). Leadership Practices in Ethiopian Organisations https://www. caldafrica.org
Graça Machel pode ser apontada como um exemplo de ‘AfroLiderança’ (AL)
Estado fecha multinacional e assume minas
A multinacional mineira de ouro Barrick Gold disse que as autoridades do Mali fecharam o seu escritório na capital, Bamako, e começaram a assumir as operações que pertenciam à empresa. A junta militar que governa o país da África Ocidental, com dificuldades financeiras, exigiu o pagamento de alegados impostos em atraso e quer que a empresa canadiana cumpra novas leis que da-
Gana
riam ao Estado uma maior participação na mina e “royalties” mais elevados. O caso segue uma tendência com repercussões noutros pontos do continente, à medida que as cotações internacionais do ouro atingem novos recordes. O Governo do Gana assumiu o controlo da mina de Damang da Gold Fields após rejeitar um pedido de extensão da concessão por parte da empresa mineira.
Subida de cotação do ouro traz mais receita
Enquanto a guerra de tarifas comerciais lançada pelo Presidente dos EUA semeia o caos nos mercados financeiros globais, o estatuto do ouro como investimento de refúgio, que oferece segurança em tempos voláteis nos mercados financeiros, faz com que a cotação atinja novos máximos. O preço do ouro, que já estava em níveis recorde, subiu quase um quarto desde a tomada de posse da nova administração, em Janeiro.
Os lucros com a exportação de ouro aumentaram três quintos nos primeiros dois meses do ano, no Gana, que ainda está a lutar para sair de uma crise de dívida. O seu banco central reforçou as reservas do metal, uma medida que já aju-
dou a estabilizar o cedi, notoriamente volátil — é a moeda com melhor desempenho face ao dólar desde o início de Abril. O Gana não é o único país a beneficiar com a subida do ouro: a Namíbia está também a acrescentar mais ouro às suas reservas, enquanto o governo do Zimbabué está a reiniciar a cunhagem de moedas de ouro, por exemplo. Mas nem todos estão a beneficiar: no leste da República Democrática do Congo, devastado por conflitos, grupos armados estão a expandir o seu controlo sobre as minas de ouro e a insegurança está a obrigar os agricultores a abandonar os campos, empurrando-os para o perigoso trabalho de escavação de minas artesanais.
África
Lenacapavir trava o VIH: Quem o vai distribuir?
Está demonstrado que um medicamento injectável é capaz de travar a replicação do VIH com apenas duas doses por ano, reunindo esperanças de que mude o contexto na luta contra a doença. O lenacapavir, que foi sujeito a ensaios clínicos com mulheres sul-africanas, é a ferramenta de prevenção do VIH mais promissora que já existiu em toda uma geração. Mas agora falta perceber algo muito importante: quem pagará pela ampla distribuição das infecções, desenvolvidas pela Gilead Sciences? E quantas pessoas terão acesso nos países que mais precisam delas, após os cortes na ajuda externa anunciados pelo Presidente dos EUA, Donald Trump. Parece que as lacunas deixadas pelo congelamento da ajuda dos EUA abrem oportunidades para o sector privado. África está no centro das atenções. Por exemplo, uma empresa norte-americana de drones médicos está em negociações com a Nigéria para expandir os serviços no país mais populoso de África. O que está em cima da mesa? Uma expansão da infra-estrutura da Zipline International “para garantir a acessibilidade e a entrega rápida de produtos médicos essenciais, como sangue, vacinas e medicamentos”, disse Eniitan Tejuoso, conselheiro do Presidente Bola Tinubu.
Mali
Nigéria Divisões e guerra comercial pressionam economia
O Presidente nigeriano, Bola Tinubu, viu uma parte fundamental da sua agenda de reforma económica ser rejeitada pelo Parlamento, expondo as divisões da política nacional entre o sul cristão (mais rico) e o norte predominantemente muçulmano. A rejeição das alterações fiscais propostas
Somália
RD Congo
Explorar um dos maiores depósitos de lítio do mundo
A KoBold Metals chegou a um acordo para explorar um dos maiores depósitos de lítio do mundo na República Democrática do Congo. A decisão da empresa, suportada por Bill Gates e Jeff Bezos, de comprar a participação da australiana AVZ nas minas de Manono, surgiu depois de o Presidente do Congo, Felix Tshisekedi, se ter reunido com Massad Boulos, conselheiro sénior de Trump para África, para discutir investimentos americanos e assistência em segurança. Separadamente, um bloco regional vai investigar uma alegação formal do Congo de que o Ruanda está a saquear os seus minerais e a alimentar conflitos.
ameaça um orçamento também pressionado pela guerra comercial que fez cair o preço do petróleo — o sustentáculo da economia nigeriana. A receita fiscal do país como parcela do Produto Interno Bruto é uma das mais baixas do mundo, a rondar apenas 11%.
Grupo terrorista Al-Shabaab avança
O grupo terrorista al-Shabaab está a expandir o território que controla na Somália e a trabalhar cada vez mais com militantes Houthi, apoiados pelo Irão, no Iémen, para interromper o comércio no Mar Vermelho. Na prática, trata-se do ressurgimento de uma insurgência con-
tra a qual os EUA gastaram milhares de milhões de dólares. Os avanços do Al-Shabaab ocorreram depois de uma força de manutenção da paz de 13 000 homens da União Africana ter ficado sem financiamento desde Janeiro, colocando o Governo de Mogadíscio em risco.
Quénia Governo renegoceia com FMI, após falhanço
O Quénia quer fixar metas realistas num novo programa de apoio financeiro com o Fundo Monetário Internacional (FMI), de acordo com um alto funcionário do Governo, após protestos mortais contra os impostos (e as taxas comerciais de Trump). O Governo iniciará negociações com o credor, em breve, e provavelmente vai con-
cluir um acordo até Novembro, disse o secretário do primeiro-ministro Musalia Mudavadi. O FMI e o Quénia rescindiram um acordo de quatro anos no mês passado, depois de o Governo não ter atingido os parâmetros, o que significa que o país teve de abdicar de cerca de 850 milhões de dólares em fundos pendentes.
Ruanda Dinheiro pode trazer paz para os Grandes Lagos?
Poderá haver paz duradoura na região dos Grandes Lagos? Os EUA parecem ter dinheiro para investir e juntaram a RDC e Ruanda, em Washington. Como parte de um acordo de paz, espera-se que as autoridades congolesas e ruandesas se comprometam em projectos conjuntos de energia hidroeléctrica, parques nacionais e cadeias de fornecimento de minerais “em parceria com o Governo dos EUA e
investidores americanos”, afirmaram numa declaração de princípios. Se as coisas correrem como planeado (algo que ainda encerra muitas dúvidas), a abordagem dos EUA poderá pôr fim a um conflito regional de mais de 30 anos sobre terras, recursos, etnia e poder político, que começou depois de os autores do genocídio do Ruanda, em 1994, terem fugido através da fronteira para o Congo.
Previsões Reflectem os Desafios de Moçambique
As perspectivas de crescimento económico de Moçambique recuaram, nos últimos Encontros de Primavera, enquanto a dívida pública deverá voltar a ultrapassar os 100% do PIB.
Texto Redacção • Fotografia D.R.
Os encontros de Primavera do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI) acontecem anualmente e, além dos debates, servem para estas duas instituições actualizarem as previsões macroeconómicas a nível global e sub-regional. Os dados foram publicados no final de Abril e apontam para um crescimento da África Subsaariana em 3,5% durante este ano, face a 3,3%, em 2024. O crescimento em 2025 será sustentado no consumo pri-
vado e investimentos. Ao mesmo tempo, prevê-se que a inflação caia na maioria dos países. Nos anos seguintes, prevê-se uma aceleração das economias da região para 4,3%, entre 2026 e 2027. Para Moçambique, os números são mais pessimistas: passaram de uma previsão de crescimento (em 2025) de 4,3% em Outubro de 2024, para 2,5%, agora, no seguimento dos confrontos pós-eleitorais, no final do ano passado. Por outro lado, a dívida pública do País deverá novamente voltar a ultrapassar os 100% do PIB, este ano, chegando a
ECONOMIAS LUSÓFONAS
Abrandamento em Angola
• OPTIMISMO EM CABO VERDE E GUINÉ-BISSAU
• Ao nível dos países que falam português, o FMI está mais optimista sobre o crescimento de Cabo Verde, prevendo que o arquipélago cresça 5% este ano, mais do que os 4,7% previstos em Outubro, e sobre a Guiné-Bissau, que regista uma ligeira subida, de 5% para 5,1%
• RECUOS EM ANGOLA E SÃO TOMÉ
• Em sentido contrário, o FMI prevê que Angola cresça apenas 2,4%, quando em Outubro previa 2,8%, e para São Tomé e Príncipe é feita também uma revisão em baixa, mas ainda assim ligeira, de 3,3% para 3,1%.
O FMI reitera a ideia de que Moçambique necessita de uma “consolidação orçamental”
• RECESSÃO NA GUINÉ EQUATORIAL
• Para a Guiné Equatorial, existe uma melhoria da previsão, mas o mais recente país lusófono continua mergulhado na recessão, embora a previsão melhore de - 4,8% para - 4,2%.
• Angola, a maior economia lusófona em África, deverá registar um significativo abrandamento do crescimento económico, que no ano passado tinha tido uma expansão de 4,5%.
PREVISÕES PARA MOÇAMBIQUE EM 2025
Projecções Out/2024
Projecções Abr/2025
101,1%, aumentando para 104,2% em 2026 e 104,7% em 2027. Perspectiva-se que só volte a baixar dos 100% em 2029, ano em que o rácio deverá diminuir para 95,6%, sensivelmente o mesmo valor do ano passado, quando registou uma dívida de 96,6% do PIB. O FMI prevê que a média da dívida pública [em percentagem do PIB] na África Subsaariana seja de 55,4% este ano e 53,3% em 2026, abaixo dos 56,1% registados no ano passado.
“Resiliência, apesar da incerteza” “O crescimento económico na África Subsaariana está a mostrar alguma resiliência, apesar da incerteza na economia global e do espaço orçamental restrito”, escreveram os economistas do Banco Mundial, crentes na tendência de abrandamento da inflação (e estabilização cambial), com a taxa de subida de preços a cair de 7,1% em 2023 para 4,5% no ano passado.
No entanto, “o crescimento ainda não é suficientemente forte para reduzir de forma significativa a pobreza e cumprir as aspirações das pessoas”, aponta-se no relatório bianual do Banco Mundial sobre África, cuja 31.ª edição tem como tí-
Perspectivas Económicas Regionais, Outubro de 2024 e Abril de 2025
tulo “Melhoria da Governação e Prestação de Serviços às Populações em África”. “Existe um desfasamento crescente entre as aspirações das pessoas a bons empregos e serviços públicos que funcionem e mercados e instituições que frequentemente não funcionam com eficácia”, comentou o economista-chefe do Banco Mundial para África. Andrew Dabalen defendeu que “reformas urgentes, apoiadas por mais concorrência, transparência e responsabilização serão cruciais para atrair investimentos privados, aumentar a receita pública e criar mais oportunidades económicas para milhões de africanos que, todos os anos, entram no mercado de trabalho.” Uma receita que já é sobejamente conhecida.
Com uma “incerteza aumentada devido a mudanças nas dinâmicas comerciais, conflitos regionais e alterações climáticas que afectam pessoas e colheitas”, os países africanos devem aproveitar esta oportunidade e “liberalizar e diversificar os seus mercados” para alargarem a actividade económica e garantirem empregos para os jovens, recomenda ainda o Banco Mundial.
EM BUSCA DE ESTABILIDADE
Programa com FMI interrompido: negociações reabertas
No contexto da nova estratégia de desenvolvimento, as autoridades [moçambicanas] solicitaram um novo programa a 17 de Abril, para alinhar melhor o programa do FMI com as prioridades e a visão do novo Governo”, disse à Lusa, em Washington, Thibault Lemaire, economista que coordenou o relatório das mais recentes previsões macroeconómicas sobre a África Subsaariana. A 18 de Abril, o FMI anunciou que tinha acordado com o Governo interromper a Facilidade de Crédito Alargado (ECF, em inglês), cujas metas já tinham começado a derrapar e que descarrilaram por completo, no último trimestre do ano, assolado por violência pós-eleitoral que paralisou a economia do País. Eis os pontos-chave da relação com o fundo:
• O programa ECF tinha sido aprovado em Maio de 2022 com um financiamento total de 456 milhões de dólares (416,2 milhões de euros) a Moçambique, tendo sido desbloqueadas quatro tranches;
• O FMI defendeu, no início de Março deste ano, que Moçambique necessita de uma “consolidação orçamental” em 2025 para garantir a sustentabilidade das contas públicas, face à derrapagem orçamental no ano anterior;
• “A racionalização da massa salarial e restrições estruturais para assegurar uma consolidação duradoura da dimensão do sector público” são alguns dos desafios do País e dos pontos em negociação entre o Governo moçambicano e o FMI, disse Lemaire;
• “A gestão da dívida, as condições de financiamento restritivas na conjunta actual e um problema estrutural do País, que é a fraca governação”, completam um leque de obstáculos crónicos a transpor;
• O director-geral adjunto do FMI, Bo Li, garantiu, em Maputo, durante uma visita, em meados de Maio, que a instituição vai avançar nos próximos meses com um “novo programa” de apoio – e a Presidência disse que a visita representou “um sinal de confiança da comunidade internacional nos esforços reformistas do Governo moçambicano”, liderado desde Janeiro por Daniel Chapo.
As Vantagens do Novo Fundo de Pensões da Hollard Moçambique
Em Moçambique, muitos trabalhadores e empresas continuam a enfrentar barreiras para garantir segurança financeira a longo prazo. Carecemos de opções que combinem gestão profissional, tecnologia e um olhar atento ao bem-estar dos colaboradores. Foi esta a lacuna que motivou a Hollard a desenvolver o Fundo de Pensões Aberto, com processos automatizados, acesso digital e uma proposta clara de valor para empresas que querem cuidar melhor das suas equipas.
A gestão de Fundos de Pensões complementares da Hollard surge da vontade de responder a uma necessidade real no mercado moçambicano – o acesso a soluções de reforma mais acessíveis, modernas e adaptadas ao contexto local. Esta iniciativa está alinhada com o nosso propósito de construir Futuros Melhores, e com a visão de que o sector privado tem um papel importante na promoção da inclusão financeira.
Para isso, oferecemos uma gama de soluções: a adesão colectiva (Fundo aberto), em que as empresas podem aderir ao fundo aberto já estabelecido, o qual contempla algumas regras comuns, constituindo assim uma forma mais simples de iniciar uma oferta de benefícios de reforma para os seus colaboradores, enquanto beneficiam de economias de escala em termos de custos e na constituição de investimentos.
Outra opção é o Fundo fechado, uma solução exclusiva para uma única entidade patronal, tipicamente direccionado para empresas de maior dimensão, com regras de gestão e estratégias de investimento desenhadas à medida.
Existem vários benefícios de adesão a um fundo de pensões complementar; abaixo destacamos alguns.
A adesão a um fundo de pensões permite aos trabalhadores constituir gradualmente uma poupança enquanto se encontram na vida activa, que pode ser usufruída quando o trabalhador atinge a idade de reforma, que é uma altura em que tipicamente cessam os rendimentos do trabalho dependente, constituindo assim uma segurança complementar à reforma atribuída pela Segurança Social.
Para as empresas, trata-se também de uma ferramenta eficaz de atracção e retenção de talento, tornando os pacotes de benefícios mais atractivos para os colaboradores. Esta solução pode ainda ser combinada com outros benefícios complementares como seguros de vida, invalidez e funeral.
Por fim, tanto os pagamentos na reforma como os investimentos efectuados pelo fundo de pensões através das comparticipações dos trabalhadores e/ ou das empresas estão isentos de tributação, permitindo uma maior capitalização dos rendimentos, e constituindo assim um produto de poupança atractivo e fiscalmente eficiente, face a outras alternativas de poupança e investimento.
Acreditamos que o Fundo de Pensões
Aberto da Hollard pode contribuir para uma mudança estrutural na forma como se pensa e se planeia a reforma no País
Existe ainda a possibilidade de adesão individual ao Fundo aberto, ideal para trabalhadores independentes ou colaboradores de empresas que ainda não oferecem este benefício, com contribuições flexíveis, adaptadas à realidade de rendimento de cada trabalhador, em linha com uma estratégia de inclusão financeira, permitindo-lhes construir a sua própria poupança para a reforma.
E quais são os principais benefícios que as empresas e trabalhadores podem obter ao aderir a um fundo de pensões?
Acreditamos que o Fundo de Pensões Aberto da Hollard pode contribuir para uma mudança estrutural na forma como se pensa e se planeia a reforma no País. O fundo aberto adopta uma estratégia de investimento diversificada, orientada para obter retornos de longo prazo, superiores ao benchmark definido, e uma gestão cautelosa do risco. Ele poderá investir em várias classes de activos, incluindo obrigações, acções e outros instrumentos financeiros, tanto no mercado nacional como no estrangeiro. O Fundo detém uma política de investimento clara, que obedece aos critérios e limites definidos na lei, e a actuação do gestor de activos é supervisionada por um Comité de Investimentos.
Garantimos também a supervisão da Comissão de Acompanhamento que conta com membros independentes, com elevada experiência e conhecimento nesta actividade, e que tem como propósito verificar o cumprimento
Um fundo que promete revolucionar a reforma
do regulamento de gestão, e garantir a defesa dos interesses dos participantes. O Fundo está ainda sujeito à supervisão do ISSM-Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique, e as suas contas são auditadas por uma entidade especializada independente.
Como parte do nosso compromisso com a boa governação e a transparência, a Hollard irá disponibilizar extractos regulares, acesso digital contínuo em tempo real e comunicação permanente, incluindo os relatórios financeiros auditados do Fundo.
Através da plataforma digital Everest. NET reforçamos também a transparência e a autonomia. Esta plataforma permite aos participantes acompanhar em tempo real os seus saldos, contribuições, rentabilidade e dados contratuais, através de um portal web e aplicações móveis (iOS e Android). Para os empregadores, disponibiliza funcionalidades como a gestão das folhas de contribuição, relatórios de administração e co-
municação integrada. Neste contexto, o Banco BiG Moçambique assume o papel de gestor de activos do Fundo aberto trazendo uma sólida experiência em gestão de investimentos e uma abordagem prudente e transparente. A sua actuação independente garante uma alocação eficiente dos recursos, com foco na preservação do capital e na obtenção de retornos consistentes, ajustados ao risco, para os participantes.
Continuamos dedicados à nossa missão principal de fornecer segurança financeira e soluções de seguros inovadoras adaptadas às necessidades em evolução das nossas comunidades.
Reconhecemos a importância da literacia financeira para o sucesso de qualquer solução de poupança para a reforma no nosso país. Está em preparação um programa estruturado de educação financeira que incluirá sessões presenciais, conteúdos digitais e materiais de apoio adaptados a diferentes perfis. O objectivo será o de capaci-
tar empresas e trabalhadores, sobretudo aqueles com menor acesso a conhecimento técnico, a compreender o funcionamento dos fundos de pensões, o valor da poupança de longo prazo e de tomarem decisões informadas sobre o seu futuro financeiro.
A estratégia da Hollard Moçambique passa por alargar a oferta a novos segmentos de mercado, como fundos temáticos ou com benefícios combinados com seguros de vida, saúde e acidentes de trabalho.
Prosseguimos com o objectivo de consolidar o nosso papel como parceiro de referência em Benefícios de Colaboradores, criando soluções inovadoras que respondam às necessidades em constante evolução das empresas e dos trabalhadores moçambicanos.
Acima de tudo, reforçar o nosso compromisso de fornecer serviços superiores, soluções inovadoras e segurança financeira para empresas e indivíduos em todo o País.
A Energia ao Serviço da Transformação Social
Com uma visão clara de responsabilidade corporativa, a Galp Moçambique tem vindo a afirmar-se como um actor central na promoção
do desenvolvimento sustentável no País
Texto & Imagem • M4D
Em entrevista à E&M, Marlena Chambule, Directora de Pessoas, Comunicação e Impacto Social da Galp detalha o compromisso da empresa com a educação, o acesso à energia limpa e o apoio às comunidades mais vulneráveis. Dos projectos de electrificação rural à inclusão das raparigas no sistema educativo, passando por iniciativas de saúde, segurança alimentar e capacitação, a estratégia da Galp tem um eixo comum: colocar a energia ao serviço da transformação social em Moçambique.
Através de projectos inovadores e de grande impacto, a Galp Moçambique tem se destacado como um importante agente de transformação social no País promovendo a inclusão, o acesso à educação de qualidade e contribuindo para um futuro mais sustentável.
Nesta entrevista, Marlena Chambule partilha detalhes sobre os projectos e a visão da Galp para o futuro do País.
Quais são as principais iniciativas da Galp Moçambique na área da educação e qual tem sido o impacto dessas acções nas comunidades beneficiadas? Nos últimos 5 anos, no seu todo, as iniciativas de impacto social da Galp já beneficiaram directamente mais de 655 mil pessoas. Através da Fundação Galp temos intensificado esforços para proporcionar uma educação de qualidade
(ODS 4) às crianças e jovens, um pouco por todo o Moçambique. O Projeto Educar para o Futuro é uma das nossas maiores iniciativas e tem como objectivo combater as desigualdades sociais e o abandono escolar. Desde 2019, aproximadamente 14 mil beneficiários em várias regiões de Moçambique beneficiaram directamente. Na escola de Natôa, Distrito de Rapale, província de Nampula, construímos 3 novas salas de aulas, 1 biblioteca equipada, 1 cozinha, 1 instalação de produção de energia solar, entregámos mais de 9000 manuais e 'kits' escolares, entre outros. O impacto tem sido profundo, com uma redução significativa no abandono escolar e um aumento no envolvimento das comunidades no processo educacional.
Como é que a Galp Moçambique tem trabalhado para garantir maior acesso à educação, especialmente para meninas e jovens mulheres?
Em muitas comunidades de Moçambique, as meninas enfrentam desafios sérios para continuar os seus estudos, como a falta de recursos e o estigma relacionado com o seu papel na sociedade. O projecto Educar para o Futuro também olha para as meninas, por isso, implementámos o programa "Maria Menina", que oferece apoio com sessões de saúde sexual e reprodutiva e distribuição de 'kits' de higiene, garantindo que as meninas não abandonem a escola, especialmente
"A certificação “Elite Employer” foi atribuída à Galp Moçambique com base em critérios como compensação e benefícios, oportunidades de crescimento, ambiente de trabalho inovador e cultura inclusiva"
durante o período menstrual. Em Natôa criámos condições para evitar o abandono escolar através de iniciativas como a distribuição de lanche escolar, 2 vezes por semana, nos últimos 6 anos, distribuição de 174 bicicletas para rapazes e raparigas e reabilitação de instalações sanitárias, provendo o acesso a água potável na escola. Na província de Cabo Delgado, em Mahate, entregámos instalações sanitárias “amigas da rapariga” e na Escola Secundária Padre Mwitu, em Mieze, distribuímos bicicletas às raparigas que percorriam a pé mais de 20km para se deslocarem à escola.
O acesso à energia é um grande desafio para o desenvolvimento de Moçambique. A Galp tem iniciativas sociais voltadas para a promoção de energia mais acessível e sustentável no País? Sim, temos, o acesso a energias renováveis e acessíveis é um dos nossos pilares de Impacto Social. Em 2019, implementámos o Projecto Energiza, uma iniciativa estratégica que nos permitiu levar energia solar para comunidades rurais localizadas nas províncias de Cabo Delgado, Manica e Sofala, onde o acesso à electricidade era inexistente. Numa parceria entre a Fundação Galp e o Fundo de Energia (FUNAE), instalámos sistemas fotovoltaicos que permitiram a electrificação de infraestruturas essenciais àquelas comunidades, como bancas de comércio, unidades de saúde e escolas, mudando definitivamente a vida de 600 mil moçambicanos. A energia solar é uma solução alinhada com os princípios de desenvolvimento sustentável da Galp. Outra acção relevante da Galp é a promoção da substituição do uso de carvão e lenha por fontes de energia mais limpas e seguras. Recentemente, a Galp doou gás e fogões a 200 famílias em Maputo, incluindo 100 famílias de catadores de lixo no Bairro de Chamanculo
MARLENA CHAMBULE
Directora de Pessoas, Comunicação e Impacto Social
que, adicionalmente, receberam recargas gratuitas de gás por três meses e mais 100 famílias diversas na localidade de Macaneta. Os beneficiários participaram em treinos sobre o uso seguro dos equipamentos. Com essa iniciativa, cerca de 1000 pessoas foram beneficiadas, 70% das quais são mulheres, o que contribui para a inclusão social e melhoria significativa da qualidade de vida dessas famílias.
Anualmente, a Galp tem promovido, nas geografias onde actua, a iniciativa Todos os Passos Contam. Qual tem sido o impacto desta acção?
A iniciativa Todos os Passos Contam nasceu com a ideia de incentivar os nossos colaboradores, parceiros e amigos a adoptarem um estilo de vida mais saudável e activo, ao mesmo tempo que se envolvem numa causa social relevante.
A cada quilômetro percorrido, seja em actividades físicas, como corridas ou caminhadas, ou até mesmo a dançar, convertemos os movimentos em refeições para as comunidades mais necessitadas. O impacto desta acção vai além da doação de alimentos: com ela promove-se também um profundo senso de comunidade e de compromisso solidário. Cria-se uma ligaçãoAo longo de cinco edições, conseguimos doar mais de 22 toneladas de alimentos. Nesta última edição, com a contribuição de 10 toneladas, conseguimos garantir cerca de 6.500 refeições à Plataforma Makobo. Este apoio tem sido fundamental para alcançar as famílias em situação de vulnerabilidade, garantindo que a ajuda chega de forma eficaz e significativa.
Qual é a visão da Galp Moçambique para o futuro do País, tendo em vista os projectos
de impacto social que estão atualmente em andamento?
A Galp vê o futuro do País com bastante optimismo. Continuamos empenhados em investir continuamente em iniciativas que promovam o desenvolvimento sustentável, com foco na educação, acesso à energia limpa e melhoria da qualidade de vida das comunidades mais vulneráveis, reduzindo as desigualdades.
Temos apostado, cada vez mais, em levar a cabo projectos de impacto social junto das comunidades onde a Galp está presente, onde temos os nossos 78 postos de abastecimento e as nossas estações de serviço e os nossos 4 parques e terminais logísticos.
Acreditamos que, ao apoiar as causas supracitadas, podemos contribuir de maneira significativa para o progresso de Moçambique e para a construção de uma sociedade mais igualitária.
moçambique digital
As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo
Conheça a lista das 15 ferramentas de Inteligência Artificial mais visitadas de acordo com os dados mensais de tráfego na Web.
QUAIS SÃO AS FERRAMENTAS DE IA MAIS POPULARES?
O ChatGPT da OpenAI continua a dominar como ferramenta de inteligência artificial preferida, não apenas entre os modelos generativos de IA, mas entre todas as ferramentas de IA. Isto apesar de um ligeiro decréscimo nas visitas mensais ao site do ChatGPT e de concorrentes como o DeepSeek, da China, estarem a ganhar terreno rapidamente. Esta visualização classifica as ferramentas de IA mais populares com base nas visitas mensais aos sites, utilizando dados do Aitools.xyz. Abaixo, apresentamos, então, as 15 ferramentas de inteligência artificial mais populares, com base nas visitas mensais aos seus sites, bem como a variação, também mensal, desse número de visitas
4,7
mil milhões
Visitas mensais ao site (em Janeiro de 2025)
200 milhões
226 milhões
268 milhões
887 milhões
595 milhões
118 milhões
105 milhões
112 milhões
101 milhões
A empresa chinesa DeepSeek viu as visitas ao seu site crescerem 2026% após a disponibilização do seu modelo de raciocínio em “open source”, em Janeiro. 96 milhões
FERRAMENTAS DE IA MAIS POPULARES
Tecnologias
Huawei Pretende Formar 5000 Jovens em TIC
A Huawei pretende formar 5000 jovens moçambicanos em tecnologias de informação e comunicação (TIC) nos próximos anos, no âmbito da cooperação com a China. A formação vai abranger estudantes universitários, funcionários públicos, membros da Huawei Academy e participantes no programa Sementes do Futuro. O objectivo é partilhar com estes beneficiários um conjunto de conhecimentos sobre a racionalização de plataformas digitais, prevenção de crimes cibernéticos, fraude electrónica, tecnologia 5G, Internet das Coisas
(IoT, na sigla em inglês), armazenamento de dados e desenvolvimento tecnológico, entre outras áreas. Mais de mil funcionários públicos já foram capacitados e há actualmente 937 talentos activos nas academias digitais. A iniciativa, anunciada durante a cerimónia do Ecossistema de Talentos Digitais, premiou estudantes, instrutores e universidades. As instituições envolvidas incluem a Universidade Eduardo Mondlane, a Universidade Pedagógica de Maputo e outras 12 instituições de ensino superior.
Inovação
Fundo africano de 60 mil milhões de dólares propõe nova era de capital inclusivo para o continente
Entidades públicas e privadas africanas estão a estudar a criação de um Fundo Africano de Inteligência Artificial (IA) no valor de 60 mil milhões de dólares. A iniciativa surge como uma resposta estratégica à necessidade de transformar os modelos tradicionais de investimento no continente, com vista a impulsionar um ecossistema de inovação mais inclusivo, ético e sustentável.
Mais do que um instrumento financeiro, o fundo representa uma mudança estrutural na forma como o capital é mobilizado. A proposta visa combinar recursos públicos, privados e filantrópicos para reduzir os riscos associados aos em-
preendimentos em fase inicial, construir infra-estruturas digitais fundamentais e acelerar a jornada africana rumo a um papel central no desenvolvimento global da IA. O fundo também assume um compromisso com o investimento orientado para o impacto social, contrariando os modelos convencionais de private equity, frequentemente centrados em retornos rápidos e alheios às especificidades do contexto africano. A prioridade passa por financiar soluções que respondam a desafios concretos nos sectores da agricultura, educação, cuidados de saúde e serviços públicos, onde a IA pode gerar mudanças estruturantes.
Resíduos IA Multiplica Lixo Electrónico Com Grande Impacto Ambiental
A inteligência artificial tem um elevado impacto ambiental devido ao seu grande consumo de água e energia e à crescente produção de resíduos electrónicos, especialmente ‘chips’ usados para treinar modelos generativos, alerta a ONU. Es-
ses chips, com vida útil de 3 a 5 anos, são frequentemente descartados antes desse prazo e a reciclagem é cara e pouco viável economicamente, o que leva à incineração ou acumulação em aterros.
Segundo as Nações Unidas, em 2022, foram gerados 62 milhões de toneladas de lixo electrónico, mas apenas 22% foram reciclados. A produção desses resíduos cresce cinco vezes mais rápido que a sua reciclagem e pode aumentar mais de 33%, até 2030, se nada for feito.
A reciclagem é essencial para reduzir o impacto ambiental e recuperar metais críticos, cada vez mais importantes geopoliticamente. Além da reciclagem, é fundamental apostar na circularidade, prolongando a vida útil dos chips e valorizando os investimentos de empresas como a Nvidia.
A Starlink, serviço norte-americano de Internet global, via satélite, inaugurou uma estação terrestre na cidade da Matola para melhorar a conectividade e reduzir a latência em toda a África Austral. Esta estação estabelece comunicação directa com satélites, permitindo ligações mais rápidas e estáveis para clientes em circulação pela região. Antes, a única estação em África estava na Nigéria, resultando em latências elevadas (200–300 ms).
A infra-estrutura faz parte do plano da Starlink para reforçar a presença na África Austral. A empresa também lançou um pacote residencial “lite” a partir de 1900 meticais por mês, destinado a famílias com baixo consumo de Internet.
Espera-se que esta estação melhore as ligações à Internet através da rede Starlink em toda a África Subsaariana. A Starlink planeia reabrir inscrições para o seu serviço de “roaming” regional, anteriormente interrompido devido a restrições de capacidade e utilização indevida em países não suportados.
Terrestre na Matola
As pistas de neve são a principal surpresa do Lesoto, mas esta montanha tem atracções em todas as estações do ano
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ESCAPE
Lesoto
Está quase a começar mais uma época de esqui e ‘snowboard’ em África.
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VOLANTE
Mazda BT-50
Conheça a nova versão “Bate Tudo”, já disponível no mercado moçambicano
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ADEGA Kanonkop Da Kanonkop Wine Estate chega uma proposta exótica da casta Pinotage
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DIÁSPORA
Brazil Mz Sirilo Lourenço transformou a distância numa oportunidade de negócio
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AGENDA
Junho
Todos os eventos nacionais e globais que não pode perder, incluindo as artes
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FECHO DE CONTAS UNOC3 em França Realiza-se a 3.ª Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano (UNOC3) em Nice, França
COMO FUNCIONA?
As estâncias de esqui não funcionam se não nevar? Pense melhor. A Afriski está equipada com canhões de neve. Basta haver frio para os colocar a funcionar e começar a cobrir as pistas de branco.
Lesoto: Está a Chegar a Época
QUANDO PENSAMOS EM ÁFRICA, neve e esqui talvez não sejam as primeiras imagens de que nos lembramos. Mas há um lugar que quebra todos os estereótipos: Kapoko Afriski, a única estância de esqui da África Subsaariana, aninhada nas majestosas montanhas Maluti, no Reino do Lesoto. Um destino a cerca de 900 quilómetros a sul de Maputo, numa viagem de carro de 10 a 12 horas que pode feita num ou dois dias – neste caso, com paragens em Durban ou perto de Joanesburgo, por exemplo.
Visitar o Lesoto em Junho — quando o Inverno já se sente na pele, tanto lá, como cá — é como entrar num cenário de filme: paisagens montanhosas cobertas de neve, chalés em estilo alpino, restau-
de Esqui na África Austral
rantes acolhedores, aluguer de equipamento (esquis e pranchas de “snowboard”), pistas preparadas para deslizar e canhões de neve.
No caso de não nevar, estes canhões colocados em fila, ao lado das pistas, são aspersores: disparam pequenas gotículas de água para o ar, que se transformam em flocos de neve, em contacto com o ar frio. É uma experiência de Inverno completa.
Montanhas Cobertas de Branco em África Localizada a cerca de 3000 metros de altitude, a estância Afriski oferece muito mais do que pistas para esquiadores e praticantes de “snowboard”. É um ponto de encontro multicultural
onde austríacos, franceses, espanhóis, italianos, japoneses e, claro, muitos sul-africanos se juntam para deslizar pelas pistas e desfrutar do ambiente único. No caminho para as pistas, somos brindados com imagens pouco comuns: pastores envoltos em mantas de lã grossa a cuidar do gado, pequenas aldeias com casas circulares de colmo e a serenidade intocada das montanhas. O Lesoto mantém viva a sua identidade ancestral e é um dos poucos reinos ainda existentes em África, onde o orgulho pelas tradições se sente em cada sorriso.
Um Tesouro Turístico em Ascensão
Num continente onde o turismo de neve é raro, a estância Afriski destaca-se como um nicho de desenvolvimento económico. Com infra-estruturas modernas semelhantes às que servem os destinos de neve no resto do mundo — teleféricos, bares, restaurantes e alojamento acolhedor —, trata-se de um “resort” preparado para receber turistas de todo o mundo, inclusive aventureiros moçambicanos em busca de novas experiências durante o próprio Inverno. Toda a informação sobre a estância está disponível no endereço https://afriski. africa/, incluindo a possibilidade de fazer reservas para a prática de desportos de Inverno, com compra de pacotes que incluem o “forfait” de acesso às pistas e alojamento.
Há aulas para quem nunca deslizou na neve
A Afriski apresenta-se como um destino para o ano inteiro. Nos meses em que não há neve, são apresentadas outras actividades de montanha, que incluem ciclismo e passeios pedestres.
Programa Diversificado
A savana fica a pouco mais de 200 quilómetros, na África do Sul, o que permite conjugar diferentes elementos num único programa de visita. A Afriski proporciona uma experiência única: ver o sol africano pôr-se sobre campos de neve, numa fusão improvável de calor e frio, natureza e aventura. Uma verdadeira viagem sensorial que nos faz sentir, simultaneamente, em África e na Europa.
A caminho da estância de esqui, aproveite para conhecer o icónico Sani Pass, a única estrada que liga a África do Sul e o Lesoto através do Drakensberg. Esta rota íngreme e sinuosa oferece vistas deslumbrantes e acesso às terras altas do leste do Lesoto. A partir do cume, uma estrada asfaltada leva a Mokhotlong e à rota “tecto de África”.
Pode também visitar as históricas grutas de Kome, no distrito de Berea, um refúgio do século XIX esculpido em penhascos. Originalmente construídas como esconderijo durante uma época de fome, as grutas são agora património nacional.
Lar de descendentes dos construtores originais, o local conta com habitações restauradas, um centro de informação e instalações para visitantes. As taxas cobradas à entrada apoiam o desenvolvimento da comunidade e dos restantes residentes das grutas.
Outro ponto de interesse é o Jardim Botânico de Katse, paraíso para flora alpina e uma prova dos esforços de conservação na região. Os visitantes podem explorar uma colecção exclusiva de plantas medicinais tradicionais Sotho e conhecer o seu significado cultural.
Texto Ana Mangana
Fotografia Istock Photo
Sani Pass, a única estrada que liga a África do Sul e o Lesoto através do Drakensberg.
A savana fica a pouco mais de 200 quilómetros, na África do Sul, o que permite conjugar diferentes elementos num único programa de visita. A Afriski proporciona uma experiência única: ver o sol africano pôr-se sobre campos de neve, numa fusão improvável de calor e frio, natureza e aventura.
UM FESTIVAL DE MÚSICA NA NEVE
No fim-de-semana de 30 de Agosto a 1 de Setembro realiza-se o Afriski WinterFest 2025, para onde está já confirmada a presença dos Goodluck, banda electrónica da Cidade do Cabo. O festival realiza-se anualmente na estância do Lesoto e inclui diferentes pacotes: tanto há programas com alojamento para
famílias como para grupos de mochileiros em quartos partilhados. Os menores de 18 anos não pagam bilhete. A organização deixa o aviso: “Este é um evento de montanha, está sujeito às condições atmosféricas.” Mas a avaliar pelas fotos de anos anteriores disponíveis “online”, não tem faltado animação.
Jardim Botânico de Katse, Lesoto
Grutas de Kome , Lesoto
A Mazda BT-50 Cabine Dupla está disponível em seis versões (Active Manual e Automática), Dynamic (Manual e Automática), Exclusive e Black Edition, ambas automáticas.
Preço da versão base 2.490.000 MZN.
Mazda BT-50: “Bate Tudo” com Nova Versão em
A NOVA MAZDA BT-50 já chegou a Moçambique e promete marcar uma nova era no segmento das pick-ups com um design renovado, melhorias tecnológicas significativas e funcionalidades que elevam a experiência de condução – dentro e fora da estrada.
Com uma postura mais robusta e alinhada com a filosofia de design KODO – “A Alma do Movimento” –, a Mazda BT-50 destaca-se pela sua presença marcante. A grelha frontal redesenhada, os faróis LED com novo layout e o para-choques com “cortina de ar” melhorada reforçam a eficiência aerodinâmica e a performance do veículo. As novas jantes com design exclusivo completam a renovação estética, mantendo o perfil de pneu nas diferentes versões disponíveis.
No interior, a experiência é redefinida com a introdução de ecrãs tácteis de 8” e 9” para infoentretenimento, novos comandos tácteis e
físicos de fácil acesso, e um painel de instrumentos digital até 7” que permite personalizações e fornece dados cruciais da condução em tempo real.
A integração de sistemas avançados de assistência à condução (ADAS), funcionalidades como monitorização da pressão dos pneus, modos de condução, ângulos de inclinação e diferencial bloqueável, demonstram o compromisso da Mazda com a inovação tecnológica e a segurança.
Com conectividade reforçada por portas USB-C e Android Auto/Apple CarPlay sem fios, os ocupantes beneficiam de mais conforto e modernidade, reforçados por acabamentos interiores melhorados nos painéis das portas, apoio de braços e tablier.
Disponível em sete cores — Ice White, Geode White, Ingot Silver, Concrete Grey, True Black, Sailing Blue e
Com conectividade reforçada por portas USB-C e Android Auto/Apple CarPlay sem fios, os ocupantes beneficiam de mais conforto
Moçambique
Vermilion Latosol — a nova BT-50 chega ao mercado moçambicano com seis versões de Cabine Dupla: Active (Manual e Automática), Dynamic (Manual e Automática), Exclusive e Black Edition (ambas automáticas).
“Bate Tudo” — Nova Atitude
Segundo Janine Viseu, Gestora de Marketing da Ronil, “a nova Mazda BT-50 não é apenas sobre um automóvel, mas sobre toda uma atitude”. A campanha “Bate Tudo” assenta numa expressão enraizada na cultura moçambicana e transmite, com força e autenticidade, a versatilidade do modelo: “Bate no conforto”, “Bate na inovação”, “Bate na robustez”.
Com esta narrativa, a Mazda reafirma o seu compromisso com a qualidade, a evolução e a ligação emocional com o condutor moçambicano, posicionando a BT-50 como uma pick-up que está pronta para todos os desafios – seja na cidade, em terrenos difíceis ou nas exigências diárias do quotidiano.
O Kanonkop Pinotage liga-se bem com pratos ricos e saborosos, como carnes grelhadas, cordeiro assado, pratos com especiarias e queijos curados.
A sua estrutura complementa sabores intensos
Kanonkop Pinotage,
KANONKOP ESTATE é um vinho tinto produzido a partir da tradicional casta Pinotage da África do Sul, a partir de vinhas com idades compreendidas entre os 32 e os 66 anos, com tendência para um perfil aromático exótico. De acordo com a sua vinificação e estágio de 16 meses, em barricas de carvalho francês, este é um vinho que se apresenta de cor “rubi profundo” com vibrantes aromas a mirtilo, ameixa madura e cereja preta, conjugados com notas de especiarias doces como a canela e a baunilha. Na boca surge elegante, mas denso, carregado de aromas a bagas e notas de especiarias, finalizando longo e persistente. Os taninos maduros conferem um potencial de envelhecimento em garrafa.
A vinha da Kanonkop Wine Estate está situada em Stellenbosch, uma área vitivinícola de qualidade especial da região do Cabo Ocidental da África do Sul. Kanonkop é um lugar de beleza natural onde a hospitalidade, os valores familiares, a tradição, a história e as personagens são ingredientes indispensáveis para a criação de vinhos magníficos, que têm na sua essência os solos de granito, a brisa do oceano Atlântico e a idade avançada das vinhas que os originam.
O Kanonkop Pinotage harmoniza bem com pratos ricos e saborosos, como carnes grelhadas, cordeiro assado, pratos com especiarias e queijos curados. A sua estrutura e complexidade complementam sabores intensos, tornando-o uma excelente escolha para refeições elaboradas.
um Famoso Vinho Africano
Porque é que o Kanonkop Pinotage é tão apreciado?
1 Qualidade Consistente e Envelhecimento Notável
Produzido na região de Stellenbosch desde 1973, o Kanonkop Pinotage é conhecido pela sua capacidade de envelhecimento, desenvolvendo complexidade e nuances ao longo do tempo. A companhia vinícola enfatiza práticas tradicionais e utiliza barris de carvalho francês de alta qualidade, permitindo que o vinho revele características específicas de cada safra mesmo após 10 a 20 anos guardado.
2. Reconhecimento Internacional
O Kanonkop Pinotage tem sido consistentemente elogiado por críticos e publicações especializadas:
• A revista “Wine Enthusiast” atribuiu 92 pontos à safra de 2021, destacando a sua complexidade e equilíbrio;
• O site dedicado à crítica de vinhos e informação sobre o sector enológico Robert Parker’s Wine Advocate concedeu 91 pontos à colheita de 2021, descrevendo-a como um vinho suculento e expressivo, com camadas de frutas negras e especiarias;
• Já o portal Decanter avaliou a colheita de 2014 do Kanonkop Black Label Pinotage com 94 pontos, elogiando a sua riqueza e complexidade.
3. Aliar Tradição
e Inovação Kanonkop foi uma das primeiras companhias a pro-
duzir vinhos de alta qualidade a partir da casta Pinotage. Em 1991, o então enólogo Beyers Truter foi nomeado “International Winemaker of the Year” no International Wine and Spirits Competition, graças ao Kanonkop Pinotage 1989.
4. Características Distintivas da Casta Pinotage A Pinotage, criada em 1925 pelo professor Abraham Izak Perold, é uma casta originária da África do Sul. O Kanonkop Pinotage expressa plenamente o potencial dessa variedade, apresentando sabores intensos de frutas negras, especiarias e, com o envelhecimento, notas terrosas e de tabaco.
Texto Ana Mangana Fotografia D.R
A Pinotage é uma casta originária da África do Sul, embora já seja cultivada noutros países
ADEGA
A primeira encomenda, do Brasil para Moçambique foi um presente de Sirilo para a família: “Pensei na possibilidade de fazer envios, não só para a minha família, mas também para as pessoas que o pediam”
MOÇAMBICANOS
PELO MUNDO
Sirilo Lourenço criou a Brazil
Mz Store em 2022 e hoje tem uma equipa em expansão
NUM MUNDO GLOBALIZADO, a diáspora moçambicana tem sido um pilar na construção de pontes entre diferentes culturas, através das suas actividades profissionais. Muitos moçambicanos que vivem no estrangeiro exploram novas oportunidades de negócio e criam soluções inovadoras, que beneficiam tanto os que partiram, como os que ficaram no País. Um dos exemplos de sucesso é apresentado por Sirilo Lourenço, um jovem empreendedor que saiu de Moçambique, em 2019, para o Brasil e acabou por fundar a Brazil Mz Store, uma empresa que facilita a importação e exportação de bens entre os dois países.
Exemplo da mãe O percurso de Sirilo começou na cidade de Maputo, no sul do País, onde nasceu e cresceu, no seio de uma família numerosa. Desde muito cedo, foi influenciado pelo exemplo da sua mãe, que trabalhava por conta própria: “Sou o filho mais novo de uma família de cinco ir-
SIRILO LOURENÇO
Empreendedor e criador da plataforma Brazil Mz Store
Transformar a Distância
mãos. A minha mãe sempre trabalhou de forma autónoma. Crescemos e aprendemos com isso: ensinou-me muito sobre resiliência e criatividade”, recorda à E&M. Com um forte interesse em aprender mais, Sirilo entrou na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), em 2018, na licenciatura de Ensino de Inglês da Faculdade de Letras e Ciências Sociais. No entanto, sempre teve o desejo de expandir os seus horizontes académicos e explorar novas realidades: “Eu tinha o sonho de estudar no estrangeiro, primeiro num país de língua inglesa, para crescer pessoal e profissionalmente.”
A oportunidade surgiu quando conquistou uma vaga para estudar Administra-
Numa Oportunidade de Negócio
ção Pública numa universidade brasileira. Mas a mudança não foi fácil. Teve de passar por um longo processo de selecção, documentação e enfrentar muita burocracia. “Não havia bolsa de estudos, foi uma vaga a que me candidatei e consegui”, relembra.
Adaptação ao Brasil
O primeiro choque, ao chegar ao Brasil, foi a adaptação à cultura local. Apesar de haver o português como idioma comum, as diferenças linguísticas e culturais eram marcantes. “O português brasileiro tem expressões e significados muito diferentes do português falado em Moçambique. Por is-
so, temos sempre de ter cuidado para não ofender, para não dizer algo sem querer”, exemplifica Sirilo. Apesar dessas dificuldades, o empreendedor apoiou-se nas semelhanças entre os dois países, para tornar o processo de adaptação mais fácil: “O Brasil tem muitas características que são típicas de África, de Moçambique em particular. O clima não nos surpreende, principalmente para quem está nas zonas um pouco mais nordestinas. E a comida brasileira tem muita influência africana.”
A necessidade original Depois de formado, o empresário fez mestrado em
Educação numa universidade federal em São Paulo, uma das maiores cidades da América Latina, onde se instalou, perto da infra-estrutura aeroportuária e de centros logísticos. Ficou igualmente perto do centro comercial Brás, um dos maiores da região. Foi durante esse período que surgiu a sua empresa, Envio Moz-Bra, em 2022.
O negócio nasceu a partir de uma necessidade pessoal e da crescente procura entre amigos e familiares: “Muitas pessoas pediam-me para comprar produtos no Brasil e enviar para Moçambique, mas eu nem sabia como fazer isso de forma eficiente.”
A primeira encomenda, do Brasil para Moçambique, foi um presente de Sirilo para a família: “Pensei na possibilidade de fazer envios, não só para a minha família,
mas também para as pessoas que o pediam.”
Sirilo começou a fazer contas ao tempo que investia nas compras e em toda a logística a seu cargo, até enviar a encomenda. “Pensei em gerar algum rendimento com isso. Depois surgiu a necessidade de trazer produtos de Moçambique para o Brasil, porque estou rodeado de comunidades moçambicanas. E comecei a trabalhar nesse processo de importação e exportação de mercadorias”, explica à E&M.
Sem burocracias
Inicialmente, o negócio tratava apenas de encomendas pontuais de amigos e conhecidos, mas a procura cresceu rapidamente. Alguns clientes referenciavam-no a outros e as encomendas cresceram num curto espaço de tempo. Isso
AFINAL, O QUE ESTÁ NAS ENCOMENDAS?
Vestuário, calçado, cosmética e suplementos alimentares são os produtos mais transportados pela Brazil Mz Store. A empresa oferece também serviços de pagamentos internacionais, ajudando os moçambicanos a realizar transacções financeiras no Brasil. Um dos serviços mais procurados, segundo Sirilo, é o pagamento de procedimentos médicos e cirurgias estéticas: “Muitos moçambicanos viajam para o Brasil para realizar tratamentos médicos e precisam de ajuda para efectuar os pagamentos. Nós facilitamos esse processo, com segurança”, explica. Há três anos que a empresa mantém uma parceria com uma agência de viagens para o transporte dos produtos.
levou-o a formalizar a empresa e a investir numa estrutura profissional.
No Brasil, não há burocracia ou barreiras para abrir uma empresa, diz Sirilo. “Pelo contrário, há políticas públicas” que apoiam empreendedores, nacionais ou estrangeiros. Quanto aos recursos financeiros, não foram uma barreira, porque construiu a actividade com base no que ia acumulando. “Não tive de ir ao banco, pedir um empréstimo. Era possível gerir com as condições que tinha.”
Mas com o crescimento surgiram novos desafios, como a necessidade de registar a empresa por conta dos montantes transaccionados, além de um processo de clarificar fiscalmente o que está a ser produzido e como. Actualmente, a Brazil Mz Store está registada e
possui um código comercial e fiscal.
Expansão e futuro
“Quando alguém pensar em importar do Brasil, queremos ser a primeira opção”, refere, em relação aos planos para o futuro.
Apesar de viver no Brasil, Sirilo mantém uma ligação com seu país de origem, pois visita a sua terra natal pelo menos uma vez por ano. A sua história é um exemplo de como a diáspora moçambicana pode contribuir para o desenvolvimento através do reforço dos laços económicos e culturais. “O sucesso vem para aqueles que persistem. Por mais erros que cometamos, temos sempre de nos manter firmes, aprender com eles e tentar de novo”, concluiu.
Texto Germano Ndlovo
Terra Batida em Paris, Negócios em Angola e... o Fim de Squid Game no Streaming A AGENDA DE JUNHO
PARIS VOLTA A RECEBER
o emblemático Roland-Garros, torneio dos torneios para os melhores tenistas do mundo. Durante três semanas, a “cidade-luz” traz à ribalta os nomes maiores da modalidade para as épicas batalhas na terra batida deste “Grand Slam”.
Em Luanda, Angola, vai realizar-se a Cimeira de Negócios EUA-África, que reunirá líderes governamentais, empresariais e investidores para fortalecer laços económicos e promover investimentos em diversas áreas estratégicas. Igualmente na
TÉNIS
Roland-Garros Paris, França De 25 de Maio a 8 de Junho rolandgarros.com
O Open de França regressa para três semanas de batalhas tenísticas. O torneio mostra os melhores do mundo em acção. Organizado pela Federação Francesa de Ténis, Roland-Garros é um dos quatro torneios do Grand Slam e o segundo do ano, depois do Open da Austrália. A edição de 2025 promete o carisma competitivo de sempre. Mais uma vez, haverá sessões nocturnas, para proporcionar uma experiência ainda mais imersiva.
ECONOMIA
Cimeira de Negócios EUA-África
Luanda, Angola
De 23 a 27 de Junho usafricabizsummit.com
O evento reunirá chefes de Estado e de governos africanos, ministros, altos funcionários do governo dos EUA, PCA e executivos seniores de empresas americanas e africanas, investidores institucionais e representantes de instituições financeiras internacionais. Haverá debates sobre políticas que visam fortalecer as relações económicas. Participam também especialistas de sectores estratégicos das economias dos Estados Unidos e de África, como a agro-indústria, a energia (incluindo renováveis), a saúde, as infra-estruturas, o comércio, as tecnologias de informação e as finanças
O Que Não Pode (Mesmo)
capital angolana, irá decorrer a 5.ª Angotic, o maior evento de tecnologia do país e um dos maiores de África. Este ano, insere-se na celebração dos 50 anos da independência de Angola. Este fórum internacional abordará temas como conectividade, inteligência artificial e cibersegurança.
No streaming, destacamos o final de um dos maiores fenómenos de audiências: “Squid Game”. É a terceira e última temporada da série sul-coreana que se es-
TECH
ANGOTIC 2025
Luanda, Angola
De 12 a 14 de Junho angotic.ao
É a quinta edição do Angotic, o maior evento de tecnologia do país e um dos maiores de África. Este ano, insere-se na celebração dos 50 anos da independência de Angola. A conectividade, inteligência artificial, cibersegurança e o ADN Digital serão os principais temas da edição de 2025, sob o tema “A Comunicar, a Modernizar e a Desenvolver Angola”. É um evento global realizado e promovido pelo Governo angolano.
Perder em Junho
treou em Setembro de 2021 e passou a fenómeno global –é a série mais vista, de sempre, da Netflix.
Nos livros, “A Álgebra da Riqueza”, de Scott Galloway, traz-nos uma visão inovadora, traduzida numa filosofia de vida, dirigida a quem já tem um rendimento fixo, mas pretende ficar independente das amarras do emprego (e da ansiedade económica).
Texto Luís Patraquim
STREAMING
“Squid Game” T3 / Netflix 27 de Junho
É a terceira e última temporada. Repleta de violência, a trama centra-se num macabro jogo de sobrevivência em que 456 pessoas endividadas aspiram a um prémio milionário. No entanto, aqueles que ficam pelo caminho morrem.
Dando continuidade aos eventos da 2.ª temporada, os episódios finais exploram as escolhas que Gi-hun (Lee Jung-jae) faz quando é abalado por um desespero avassalador.
Entretanto, o Front Man (Lee Byung-hun) planeia os seus próximos passos, enquanto os jogadores sobreviventes sofrem as consequências a cada ronda dos jogos mortais.
LITERATURA
“Boi”,
o livro que vale o
prémio
revelação UCCLA ao luso-angolano Cláudio da Silva
O LUSO-ANGOLANO CLÁUDIO da Silva, com o livro “Boi”, foi o vencedor da 10.ª edição do Prémio Revelação Literária atribuído pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) e pela Câmara de Lisboa. “De longe a melhor candidatura. Há muito que faltava uma prosa assim”, disse o júri. Apesar de a escrita fazer parte da sua vida, Cláudio da Silva disse, ao receber a distinção, que foi a primeira vez que a transformou “num objecto literário fechado”, descrevendo o livro como “uma espécie de investigação policial, em busca de um autor-fantasma.”
Natural do Huambo, Angola, nasceu em 1974 e é encenador, dramaturgo e actor de teatro, licenciado em Língua Portuguesa e Línguas Estrangeiras Aplicadas e com um bacharelato em Teatro. Já tinha recebido outros prémios como SP/RTP para Melhor Actor de Cinema, pela interpretação no “Filme do Desassossego”, de João Botelho (2011), e o Globo de Ouro SIC/Caras para melhor actor de teatro, pela interpretação em “Se Isto é Um Homem”, de Rogério de Carvalho (2021).
Moçambique também concorreu
Carla Pereira, escritora nascida em Braga, Portugal, foi contemplada com uma menção honrosa do júri com seu primeiro livro “Depois que Deus morreu”, descrita como uma “narrativa poderosa, intimista e meditativa.”
Paula Leal da Silva, secretária-geral adjunta da UCCLA, realçou uma ideia: este prémio marca a “solenidade da língua portuguesa. O português é uma língua global e cultural”, e o prémio representa “o mais importante em termos de revelação literária, possuindo uma dimensão internacional alargada e deveras representativa.” Concorreram ao prémio 249 obras em língua portuguesa de África (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique), América (Brasil), Ásia (Timor-Leste), Europa (Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Itália, Portugal e Suíça) e Oceânia (Austrália). O Brasil mantém-se como o país com o maior número de candidaturas, seguido por Portugal e Moçambique.
O júri do prémio foi composto por escritores de cada um dos países da lusofonia e do território de Macau, bem como por Rui Laurido, da UCCLA, e por João Pinto de Sousa, representante do Movimento 800 Anos de Língua Portuguesa.
LIVROS
A Álgebra da Riqueza
Autor: Scott Galloway• Editora: Lua de papel • Género: Economia / Finanças
“A Álgebra da Riqueza” não apresenta folhas de Excel para preencher, nem conselhos para poupar na conta da luz. Defende, isso sim, uma filosofia de vida, dirigida a quem já tem um rendimento fixo, mas pretende ficar independente das amarras do emprego (e da ansiedade económica).
É preciso, pois, viver as virtudes estóicas da temperança, paciência e resiliência, aproveitar o tempo de forma produtiva (sendo as redes sociais o maior inimigo) e diversificar os investimentos. E tudo isto começa com a escolha da carreira (esqueça a paixão e aposte antes naquilo em que for bom), com a escolha da pessoa com quem vai viver (ou daqueles que o rodeiam) e, por fim, dos diferentes “cestos” onde coloca o seu dinheiro. Scott Galloway oferece aqui uma poderosa ferramenta para observarmos o mundo e agarrarmos as oportunidades que surgirem pelo caminho.
STREAMING
Outros Lançamentos
Dia 3: Sara: A Mulher na Sombra (Netflix)
Dia 4: Stick (Apple TV+), DNA do Crime T2 (Netflix) e Eva Para Sempre T3 (Netflix)
Dia 5: Ginny & Georgia T3 (Netflix), Tires T2 (Netflix), Matices (SkyShowtime) e Barracuda Queens T2 (Netflix)
Dia 6: BMF T4 (Starz), Resident Alien T4 (Syfy), Sem Piedade (Netflix) e The Survivors (Netflix)
Dia 10: Divorced Sistas (BET+)
Dia 12: Fubar T2 (Netflix) e Revival (Syfy)
Dia 13: Kings of Jo’Burg T3 (Netflix)
Dia 17: Hell Motel (Shudder)
Dia 18: The Buccaneers T2 (Apple TV+), We Were Liars (Prime Video) e Outrageous (BritBox)
Dia 19: The Waterfront (Netflix)
Dia 20: Olympo (Netflix)
Dia 23: The Gilded Age T3 (Max)
Dia 24: Ironheart (Disney+)
Dia 25: Countdown (Prime Video)
Dia 26: The Bear T4 (Disney+)
Dia 27: Smoke (Apple TV+)
Será a Oportunidade Decisiva Para Uma África Azul?
A 3.ª Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano (UNOC3) reúne-se em Nice, para tentar acelerar acções que salvaguardem os oceanos. Para África, e em particular para Moçambique, é uma janela de oportunidade estratégica
Os oceanos enfrentam riscos agravados pelas alterações climáticas que exigem acção global coordenada e urgente
Na Internet https://sdgs.un.org/conferences/ocean2025
AUNOC3, co-organizada por França e Costa Rica, decorre de 9 a 13 de Junho próximo, em Nice, França. Os objectivos estão alinhados com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), ou seja, visam acelerar a conservação e utilização sustentada dos oceanos, mobilizando todos os intervenientes — governos, sociedade civil, cientistas, sector privado e povos indígenas — em linha com o ODS 14. O evento inclui dez sessões plenárias e dez “Ocean Action Panels”, painéis de discussão que se espera que culminem na adopção do “Nice Ocean Action Plan”, uma declaração política concisa acompanhada por compromissos voluntários.
No período preparatório, destacam-se o One Ocean Science Congress (de 4 a 6 de Junho), o Blue Economy and Finance Forum (7-8 de Junho, no Mónaco) e a cimeira sobre resiliência costeira (7 de Junho, Nice), na expectativa de reforçar a base científica, económica e política para decisões concretas durante a conferência.
Relevância para África
Para o continente africano, a conferência oferece uma plataforma para promover a governação dos oceanos, coligações regionais e financiamento. A participação de países africanos — incluindo em painéis presididos por chefes de Es-
tado — pode realçar a voz do continente em negociações internacionais relacionadas com temas como pesca sustentável, protecção de ecossistemas costeiros, combate à poluição marinha e interligação entre clima, biodiversidade e oceano — áreas centrais para os desafios e oportunidades em África. Afinal, boa parte destes temas fazem parte do quotidiano de milhões de pessoas que compõem a população destes países, concentrada nas zonas costeiras.
A UNOC3 representa um momento decisivo para afirmar a agenda azul global e, ao ganhar notoriedade, atrair financiamento. O desafio agora é converter oportunidades em compromissos concretos, colocando países como Moçambique na linha da frente.
Ameaças crescentes
Actualmente, os oceanos enfrentam ameaças crescentes: acidificação resultante do aumento de dióxido de carbono, sobrepesca que compromete ecossistemas, poluição por plásticos e resíduos industriais e subida do nível do mar. Estes riscos, agravados pelas alterações climáticas, exigem acção coordenada e urgente à escala global e regional.
O QUE ESTÁ EM JOGO NOS OCEANOS?
• Fortalecimento da governação costeira e marinha: O UNOC3 pretende promover uma transição para uma gestão integrada dos recursos marítimos, apoiando a futura implementação da convenção BBNJ (Biodiversity Beyond National Jurisdiction).
• Mobilização de financiamento azul: A par das sessões do Blue Economy and Finance Forum estarão em debate instrumentos inovadores para financiar projectos de economia azul, incluindo seguros climáticos, créditos de biodiversidade e iniciativas de resiliência costeira.
• Resiliência costeira e adaptação climática: A integração da “Ocean Rise & Coastal Resilience Coalition” e os eventos paralelos relativos à subida do nível do mar podem ser especialmente úteis a Moçambique, com vista a construir infra-estruturas resilientes face a riscos climáticos crescentes.
• Fortalecimento científico e tecnológico: O One Ocean Science Congress facilita o acesso a dados, tecnologia e cooperação científica, essenciais para monitorização das zonas económicas exclusivas e conservação.