Maracatus de Fortaleza: entre tradições, identidades e a formação de um patrimônio cultural

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É importante apresentar para os grupos de maracatu, sobretudo, os possíveis efeitos e tensionamentos referentes às utilizações da política de Registro do Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Cabe ainda evidenciar para os maracatuqueiros18 esses efeitos frente às suas próprias tradições e demandas atuais emanadas da crescente inserção dos maracatus no mercado cultural, seja assumindo o papel de atração cultural em eventos de diferentes naturezas, ou ainda pela utilização de sua imagem como recurso publicitário – como símbolo cultural da cidade. Possuímos a percepção da relevância desse trabalho como acréscimo aos conhecimentos já produzidos sobre as caracaterísticas artísticas e sobre o desenvolvimento social nos maracatus cearenses. Como diferencial nessa pesquisa, situamos os maracatus no campo das políticas de registro do patrimônio cultural imaterial e no estudo da patrimonialização dessa expressão cultural. Assim, para compreender as questões referentes à construção das identidades culturais, diante dos maracatus fortalezenses, buscamos nos referenciar nas análises de Benedict Anderson (2008), Stuart Hall (2011), José Jorge de Carvalho (2004), Hobsbawm e Ranger (2002), e Paulo Peixoto (2004). Para o estudo dos discursos sobre a diversidade cultural e das referências culturais entendidas como objeto de sentido valorativo e passíveis de patrimonialização, fundamentamos nossas análises em IPHAN (2000), Durval Muniz Albuquerque Júnior (2007; 2011), Maria Cecília Londres Fonsêca (2012), Márcia Sant’Anna (2005), Ricardo Souza (2005), Simoni Toji (2009). Consideramos fundamentais as contribuições desses teóricos para a análise das questões vivenciadas em campo com os maracatus e agentes implementadores de políticas públicas de preservação patrimonial. Não obstante, a fim de investigar e analisar as questões propostas nesse trabalho, recorremos ao uso de fontes e metodologias complementares, na construção de um trabalho

do Patrimônio Cultural, tem-se ainda a dissertação Entre cantos e açoites: memórias, narrativas e políticas públicas que envolvem os penitentes da cidade de Barbalha-CE¸ da historiadora Jana Rafaela Maia Machado, defendida em 2014, resultante da pesquisa com os grupos de penitentes na cidade de Barbalha, no Sertão do Cariri. MACHADO, Jana Rafaela Maia. Entre cantos e açoites: memórias, narrativas e políticas públicas que envolvem os penitentes da cidade de Barbalha-CE. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural. Programa em Especialização do Patrimônio. Rio de Janeiro: 2014. 18 Nome que se dá a quem participa dos maracatus no Ceará. Em outros estados, a exemplo de Pernambuco, é comum chamar o brincante de maracatuzeiro. A personagem ou papel que o brincante exerce no desfile pode também render outras nomenclaturas, como tirador de loa ou macumbeiro (quem canta as loas), e batuqueiro (integrante do batuque).


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