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Imagem 30 Cartão postal – Dia do Maracatu, 25 de março de 2014

Imagem 31 - Cartão postal – Dia do Maracatu, 25 de junho de 2013. Maracatu Vozes da África. Reprodução: Marcelo Renan75 . Imagem 32 - Cartão postal – Dia do Maracatu, 25 de setembro de 2013. Maracatu Axé de Oxóssi. Reprodução: Marcelo Renan.
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A proposta do projeto Dia 25 é dia de Maracatu, portanto, tem conseguido atingir todas as Regionais do município, se instalando, principalmente, nos equipamentos culturais da Prefeitura de Fortaleza. Nessas localidades, é pretenso apresentar ao público o maracatu do Ceará através dos detalhes que o compõe, havendo a descrição dos seus personagens centrais, da trajetória, da história do grupo convidado e de seus presidentes ou brincantes de destaque. No cenário atual, este projeto se destaca como ferramenta de visibilização dos maracatus fortalezenses, constituindo-se como ação de salvaguarda institucionalizada pela Prefeitura de Fortaleza. Outrossim, a ação carece da sensibilização do público, de forma que a fruição dos maracatus na cidade seja compreendida não como um implante de um espetáculo artístico, mas sim como a manutenção da memória e da sustentabilidade dos maracatus participantes do projeto.
2.4 O Registro do Maracatu como instrumento de preservação
Diante do que apontamos até o momento, é conveniente afirmar que os maracatus do Ceará representam, em síntese, uma manifestação cultural que já se define como pertencente ao estado do Ceará, através das vinculações sociais desses maracatus com a população da cidade de Fortaleza, por meio dos elementos que hoje estão contidos no conjunto de saberes que forma esta expressão cultural. Entretanto, as discussões tautológicas sobre as origens
75 Consta no verso dos cartões postais, breve descrição do grupo participante na edição mensal do projeto.
desse brinquedo, em certa medida, se resignam a situar quaisquer pesquisadores, leitores ou brincante ao que se faz no presente, a fim de possibilitar que estes entendam os porquês das configurações atuais do cortejo dos maracatus no carnaval, do uso de certas indumentárias e elementos coreográficos e musicais, bem como da relação com as diferentes religiões, especialmente as afro-brasileiras. São apenas alguns dos fatores que provocam sua distinção com os maracatus pernambucanos. A partir das indagações iniciais que motivaram essa investigação, percebemos a relação íntima que o maracatu do Ceará mantém com a história do estado, especialmente no que se refere à configuração do carnaval de rua de Fortaleza e ainda nos episódios políticos e sociais referentes ao universo cultural da cidade. Esta relação também se evidencia nos temas dos desfiles dos maracatus a cada ano de desfile.
Assim, para cada justificativa sobre o surgimento dos maracatus no Ceará, nos deparamos com composições que acrescentam novos elementos orais e documentais para comprovar versões distintas ou complementares. Outros elementos afetivos também se fazem notar nas falas dos maracatuqueiros e se tornam importantes para compreender as relações desses cidadãos fortalezenses com os maracatus nesse estado. Esse movimento de
significação próprio ao cearense nos permite dizer que os maracatus se mantêm através de suas relações afetivas entre a população e esse festejo, permitindo que haja, no conjunto dos maracatus de Fortaleza, certa diversidade na forma como estes se expressam, seja no carnaval ou em outros momentos. É possível verificar essa diversidade através das etnografias sobre alguns grupos –como o Vozes da África, Nação Solar, Az de Ouro e Rei de Paus – dando conta de situações onde se valorizam as identidades e tradições, assim como debatendo, por exemplo, a relação de oposição entre grupos dissidentes ou os novos incrementos performáticos dos grupos mais recentes em detrimento dos tradicionalismos nos grupos mais antigos. Porém, observamos que são escassos os casos em que os trabalhos acadêmicos abordam esses maracatus como contribuintes para a configuração de políticas públicas de cultura e de preservação do patrimônio cultural. Com isso, promovemos aqui essa junção das visões sobre as identidades, tradições e estratégias de preservação cultural dos maracatus cearenses e indivíduos ligados a este universo, destacando suas contribuições para a categorização dos maracatus do Ceará como patrimônio cultural. Portanto, discutimos os argumentos que justificam a sua patrimonialização a partir do acionamento das leis – federal e municipal – voltadas ao Registro do Patrimônio Cultural Imaterial. Com isso, nos argumentos apresentados até aqui, defendemos que a pluralidade expressa nas particularidades dos maracatus cearenses – como a pintura facial, a musicalidade
cadenciada ou acelerada e a predominância dos homens nos papéis femininos – faz parte dos mecanismos de manutenção das singularidades dos maracatus cearenses, ampliando as possibilidades de diferenciação dos demais maracatus no Nordeste e a sua necessidade de preservação e salvaguarda. Portanto, na conjuntura que se apresentam os maracatus cearenses, além de reconhecêlos como um patrimônio cultural já existente e aceito pelo povo do Ceará, indicamos a necessidade de adensar os estudos em prol do registro para promover a estruturação de sua patrimonialização através dos instrumentos legais, viabilizando maior assimilação e aceitação da transformação dos maracatus cearenses, de objeto folclórico representante de uma camada minoritária dos negros e pobres do Ceará a um patrimônio cultural que represente uma identidade mais complexa, por vezes tratada pelo estado como produto. Com o Registro do Bem Cultural de Natureza Imaterial, os maracatus passariam a ser objeto da visibilidade nacional e, naturalmente, quando comparados aos maracatus pernambucanos76 , precisariam a enfatizar esses elementos que os tornam tão únicos. Com isso se fortaleceria a imagem dos maracatus cearenses, contribuindo para a ampliação de sua participação em novos contextos, seja no carnaval ou em outras épocas do ano. A visibilidade com o Registro também permitiria retirar da invisibilidade os maracatus do interior cearense, que se mantêm ainda mais afastados da ótica acadêmica e da imprensa local, permitindo maiores diálogos entre os grupos da capital e do interior. Diante do contexto conclui-se que ser registrado em um dos livros de registro do Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil proporcionará aos maracatus a ampliação das políticas pra a salvaguarda desse bem cultural, atraindo a participação de diferentes atores sociais para definição das estratégias de preservação cultural, pautado em temas transversais, integrando agendas das políticas públicas e reivindicações da sociedade civil. Mediante a titulação dos maracatus do Ceará como Patrimônio Cultural Imaterial, caberá ao Iphan e à Prefeitura de Fortaleza viabilizarem estratégias de proteção, mediante os fóruns e organização de grupos de trabalho e comitês, para efetivar a gestão das ações de salvaguarda para os maracatus, contando, horizontalmente, com a participação de maracatuqueiros. Com isso, reiteramos a importância do protagonismo dos maracatus na procura e acionamento das leis que regem o Registro do Patrimônio Cultural Imaterial, a nível federal e municipal, para defender as bases culturais dessa expressão cultural.
76 Maracatus de Baque Solto e Maracatus Nação, Registrados no livro das Formas de Expressão em dezembro de 2014.