LifeSaving n20

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9ª SEPARATA CIENTÍFICA

REVISTA DAS VMER DE FARO E ALBUFEIRA NÚMERO 20 / MAIO 2021 [TRIMESTRAL]

NESTA EDIÇÃO: "A IMPORTÂNCIA DE COZINHAR CONVENIENTEMENTE A COMIDA... OU COMO UM MORCEGO MAL PASSADO PODE TRANSFORMAR A VIDA DO PACO, DO ZÉ, DA ISA E DE MAIS DE 6 MIL MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO ..." Daniel Nunez

LINHA DO TEMPO NA RESPOSTA À PANDEMIA COVID-19 - HOSPITAL DE PORTIMÃO Amélia Gracias, José Sousa, Monique Cabrita

COVID-19 ARENA PORTIMÃO: “UM AMOR EM TEMPOS DE GUERRA” Maria Inês Simões

OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE E A SUA CONTÍNUA INTERVENÇÃO EM CONTEXTO DE PANDEMIA: IMPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS Gonçalo Castanho

A PANDEMIA NA ILHA DO PRÍNCIPE: ENTREVISTA

1

Indice

João Fernandes


EDITORIAL

FICHA TÉCNICA EDITOR-CHEFE Bruno Santos COMISSÃO CIENTÍFICA Daniel Nunez – Presidente, Ana Rita Clara, Carlos Raposo, Cristina Granja, Eunice Capela, Gonçalo Castanho, José A. Neutel, Miguel Jacob, Miguel Varela, Nuno Mourão, Rui Ferreira de Almeida, Sérgio Menezes Pina, Stéfanie Pereira, Vera Santos. CO-EDITORES André Abílio Rodrigues, Ana Agostinho, Ana Isabel Rodrigues, Ana Rita Clara, Dénis Pizhin, Guilherme Henriques, Isabel Rodrigues, João Paiva, Miguel Jacob, Pedro Lopes Silva, Pedro Miguel Silva, Pedro Rodrigues Silva, Sérgio Menezes Pina. EDITORES ASSOCIADOS Alírio Gouveia, Ana Agostinho, Ana Raquel Ramalho, Ana Rodrigues, André Abílio Rodrigues, André Villarreal, Antonino Costa, Catarina Monteiro, Catarina Tavares, Christian Chauvin, Cláudia Calado, Eva Motero, Isa Orge, João Cláudio Guiomar, João Horta, José Sousa, Luísa Gaspar, Marta Soares, Monique Cabrita, Noélia Alfonso, Nuno Ribeiro, Pedro Lopes Silva, Pedro Miguel Silva, Rita Penisga, Rúben Santos, Sílvia Labiza, Solange Mega, Teresa Castro, Teresa Salero, Vasco Monteiro. COLABORADORES CONVIDADOS (LIFESAVING Nº 20) Amélia Grácias, Ana Raquel Ramalho, Ana Rita Arez, Andreia Fernandes, Daniel Nunez, Daniel Tiago, Diana Castro, Djamila Neves, Fátima Azevedo, Frederico Magalhães, Gonçalo Castanho, Helena Pissarra, Inês Simões, Inês Sousa, Íris Oliveira, João Coucelo, José Neutel, José Sousa, Luís Pereira, Luísa Gaspar, Mafalda Pereira, Márcio Silva, Maria Albertino Farinho, Marisa Madeira, Marlene Pereira, Miguel Jacob, Mónica Bota, Monique Cabrita, Nuno Ferreira, Nuno Marques, Nuno Mourão, Patrícia Guerreiro, Rita Marcelino, Tânia Sales, Vera Cartaxo. ILUSTRAÇÕES João Paiva FOTOGRAFIA Pedro Rodrigues Silva Maria Luísa Melão

Caríssimos leitores, Finalmente respiramos de algum alívio, já em fase avançada de desconfinamento, com o menor número de casos de infeção a SARS CoV2, e com a redução expressiva do número de internamentos e fatalidades. Com a campanha de vacinação em marcha, e a massificar-se, a tão esperada imunização de grupo está cada vez mais perto. A sociedade retoma com cautela muitas das atividades até aqui suspensas, vislumbrando-se assim uma verdadeira "luz ao fundo do túnel". É este sentimento de esperança para o futuro e entusiasmo com o presente que transmitimos na capa desta 20ª Edição da LIFESAVING. A revista LIFESAVING destacou-se pela assiduidade e pontualidade nestes 14 meses de pandemia, fruto da resiliência de uma Equipa Editorial, envolvida na construção de cada edição, sempre em nome da partilha de conhecimento e da atualização científica. Esta Equipa foi ainda mais longe promovendo a publicação Highlights COVID-19, partilhando ideias-chave de artigos científicos de reconhecido impacto e relevância na área da COVID-19, e que avança já com o 2º volume de publicações. A Separata Científica desta edição, a 9ª desde a sua estreia, conta com vários artigos de leitura imperdível, de qualidade garantida pela revisão de pares. Destacam-se, na sua abertura, dois artigos de atualização das guidelines de 2020 da American Heart Association (AHA), sobre a reanimação cardio-respiratória pediátrica e neonatal. São revistos nesta Edição os temas da ventilação não invasiva (VNI) em tempos de pandemia, da doença COVID-19 em profissionais de saúde, e da atividade da Comissão de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (CPCIRA) do INEM, em contexto COVID-19, no ano 2020. Incluem-se ainda 2 artigos de âmbito pediátrico e neonatal, designadamente: a abordagem do estado de mal convulsivo e um caso clínico de cardiopatia congénita. A temática da COVID-19 continua a marcar presença forte na várias rubricas da publicação LIFESAVING. Nesta edição destacam-se os três artigos da rubrica Nós por Cá, que descrevem a resposta arquitetada no Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) face à 3ª vaga da pandemia, respeitantes às Unidades hospitalares de Faro e Portimão, e também ao Internamento Covid-Arena (Hospital de Campanha de Portimão). Destacamos ainda o artigo da rubrica Cuidar de Nós sobre as implicações psicológicas da contínua intervenção dos profissionais de saúde, em contexto de pandemia, e ainda a rubrica "O que fazer em caso de", que estreia nesta edição um novo formato - "A LIFESAVING esclarece...", divulgando as respostas às questões colocadas pelos Alunos da Universidade Sénior de Loulé. Na rubrica "Emergência Internacional” é dado destaque a mais uma diferente realidade na resposta à COVID-19, desta vez na Ilha do Príncipe, através da entrevista ao Enfº João Fernandes. Muitos outros excelentes artigos poderão ser encontrados nesta edição, nas habituais rubricas de divulgação, e que constituem mais ingredientes para uma leitura irresistível, que apelam para uma degustação atenta e detalhada da Revista LIFESAVING. Não posso terminar sem agradecer todo o esforço de Revisores, Editores e Colaboradores desta Edição, bem como todo o apoio e reconhecimento demonstrado pelos leitores e seguidores deste projeto Editorial LIFESAVING Com elevada estima e consideração,

Bruno Santos

EDITOR-CHEFE COORDENADOR MÉDICO das VMER de Faro e Albufeira

AUDIOVISUAL Pedro Lopes Silva DESIGN Luis Gonçalves

bsantos@chalgarve.min-saude.pt

Momentos de inspiração

PARCERIAS

"A vitória não pertence aos mais fortes, mas sim aos que a perseguem por mais tempo." Napoleão Bonaparte (1769-1821) Líder Político, Militar

Periodicidade: Trimestral Linguagem: Português

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ISSN 2184-1411 2

Propriedade: CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DO ALGARVE Morada da Sede: Rua Leão Penedo. 8000-386 Faro Telefone: 289 891 100 | NIPC 510 745 997


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11 ARTIGO EM DESTAQUE I Análise da atualização das Guidelines da American Heart Association (AHA) de 2020, para a reanimação cardiopulmonar neonatal 19 ARTIGO EM DESTAQUE II Atualizações das Guidelines da American Heart Association (AHA) em reanimação pediátrica 25 ARTIGO DE REVISÃO I Atividade da Comissão de Prevenção e Controlo da Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (CPCIRA) do INEM, em contexto COVID-19, no ano de 2020 35 ARTIGO DE REVISÃO II Ventilação Não Invasiva (VNI) no pré-hospitalar em tempos de COVID-19 45 ARTIGO DE REVISÃO III Gestão da dor em situações de exceção 51 HOT TOPIC COVID-19 no grupo de Profissionais de Saúde 63 RUBRICA PEDIÁTRICA Abordagem do estado de mal convulsivo em emergência pediátrica 71 CASO CLÍNICO NEONATAL/TIP Cardiopatias congénitas: a propósito de um caso clínico 79 NÓS POR CÁ "A importância de cozinhar convenientemente a comida... ou como um morcego mal passado pode transformar a vida do paco, do Zé, da Isa e de mais de 6 mil milhões de pessoas em todo o mundo ...” 83 NÓS POR CÁ Linha do tempo na resposta à pandemia COVID-19 - Hospital de Portimão 87 NÓS POR CÁ COVID-19 Arena Portimão: “Um amor em tempos de guerra”

91 EMERGÊNCIA INTERNACIONAL A pandemia na Ilha do Príncipe. Entrevista ao Enfermeiro João Fernandes 98 NÓS POR CÁ Revisão estatística de 1 ano de COVID-19 102 FÁRMACO REVISITADO Rocurónio 107 JOURNAL CLUB Characteristics of patients who had a stroke not initially identified during emergency prehospital assessment: a systematic review 111 VOZES DA EMERGÊNCIA VMER de Portimão 116 A LIFESAVING ESCLARECE… Alunos das Universidade Sénior de Loulé / Associação Amigos do Alentejo 121 CUIDAR DE NÓS Os profissionais de saúde e a sua contínua intervenção em contexto de pandemia: implicações psicológicas 125 NÓS E OS OUTROS Programa de desfibrilhação automática externa (DAE) comunitário da cidade de Albufeira: Autarquia+segura 128 UM PEDACINHO DE NÓS Enfª Rita Arez 132 TERTÚLIA VMERISTA "Analgesia no extra hospitalar, a minha atitude é ..." 134 PÁGINAS ABC

138 PÁGINAS APEMERG

140 TESOURINHOS VMERISTAS 140 CONGRESSOS DIGITAIS

142 BEST SITES

143 BEST APPS

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9ª SEPARATA CIENTÍFICA

ÍNDICE


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6


"TODOS JUNTOS NO COMBATE À COVID-19 "

"OS OLHARES DA LINHA DA FRENTE DO COMBATE À COVID-19"

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Profissionais do Centro Hospitalar Universitário do Algarve


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ARTIGO EM DESTAQUE I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

ARTIGO EM DESTAQUE I

ANÁLISE DA ATUALIZAÇÃO DAS GUIDELINES DA AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA) DE 2020 PARA A REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR NEONATAL Mónica Bota1,2, Marisa Madeira1,2, Rita Marcelino1,2

2

Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, Faro; Serviço de Medicina Intensiva Pediátrica e Neonatal

RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃO

Uma reanimação eficaz e atempada ao

Effective and timely resuscitation at

Com base na evidência científica

nascimento pode melhorar o prognóstico

birth may improve the neonatal

obtida em estudos realizados a nível

neonatal. Esta depende de ações críticas

prognosis. This depends on critical

mundial sobre reanimação e aborda-

que devem ocorrer numa sucessão rápida

actions that must take place in rapid

gem em emergência cardiovascular,

para assim maximizar as oportunidades

succession to maximize the opportu-

em conjunto com o International

de sobrevivência do recém-nascido. Para

nities for a newborn survival. The

Liaison Committee on Resucitation, a

tal contribui a constante atualização dos

constant updating of knowledge in

American Heart Association (AHA)

conhecimentos na área e a respetiva

the area and its practical application

publica a cada 5 anos as diretrizes ou

aplicação prática dos mesmos. Segundo

contributes for a good practice.

guidelines que servirão de guia

a Internacional Liasion Commitee on

According to the Liasion Commitee

orientador na execução de protocolos

Resuscitation (ILCOR) Formula for Survival

on Resuscitation (ILCOR) Formula for

e desempenho de profissionais em

existem alguns componentes essenciais

Survival there are some essential

muitos hospitais e serviços de

para uma reanimação eficaz nomeada-

components for effective resuscita-

atendimento de emergência a nível

mente: guidelines baseadas na ciência da

tion, namely: guidelines based on the

global. Após a última atualização

reanimação e uma educação eficaz de

science of resuscitation and an

destas diretrizes em outubro de 2020,

quem providencia a reanimação.

effective education of those who

o presente artigo visa dar destaque

Em 2020 foram publicadas as atualiza-

provide resuscitation.

às atualizações referentes à Reani-

ções das guidelines da American Heart

In 2020, updates to the American

mação Neonatal.

Association referentes à reanimação

Heart Association guidelines on

Segundo AHA (2020), estima-se que

cardiopulmonar neonatal que contêm

neonatal cardiopulmonary resuscita-

aproximadamente 10% dos recém-

recomendações baseadas na melhor

tion were published, which contain

-nascidos necessitam de ajuda para

evidência científica de reanimação

recommendations based on the best

respirar no nascimento e 1% necessi-

disponível. Estas guidelines são baseadas

available scientific evidence of

ta de manobras de reanimação

numa ampla avaliação das evidências

resuscitation. These guidelines are

intensivas para restabelecer a função

existentes em conjunto com o ILCOR.

based on a broad assessment of

cardiorrespiratória.

Pretende-se assim com o presente artigo

existing evidence with ILCOR.

O algoritmo de reanimação neonatal

a análise das respetivas atualizações

Thus, this article aims to analyze

de 2015 e a maioria dos conceitos

com o objetivo de divulgação das

their updates to outreach the health

baseados nas secções do algoritmo

mesmas aos profissionais de saúde.

professionals.

continuam relevantes em 2020.

Palavras-Chave: Reanimação Cardiopulmonar neonatal; Guidelines 2020; American Heart Association

Keywords: Neonatal Cardiopulmonary Resuscitation; Guidelines 2020; American Heart Association;

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ARTIGO EM DESTAQUE I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

O uso da estratificação do risco foi

ção necessários associados a

outro aspeto com importante

intervenções de controlo da tempera-

1. PREVISÃO DA NECESSIDADE

evidência. Nos casos em que a

tura, como já referenciadas em 2015,

DE REANIMAÇÃO

gestação e o trabalho de parto

tais como: o aumento da temperatura

A Reanimação cardiopulmonar

identifiquem recém-nascidos com

ambiente; a utilização de radiadores

neonatal requer treino, preparação e

elevada probabilidade de necessitar

(incubadoras com aquecimento) e

trabalho em equipa. Estima-se que

de reanimação, deve estar presente

colchões térmicos; gases respirató-

aproximadamente 10% dos recém-

uma equipa devidamente qualificada.

rios aquecidos e humidificados.

-nascidos requerem assistência

Na Reanimação Neonatal, o briefing e

O foco na prevenção da hipotermia

respiratória após o nascimento e

uma lista de verificação de equipa-

com o objetivo de manutenção da

como tal, quando a necessidade de

mento, demonstraram significante

temperatura corporal, que deve ser

reanimação não é antecipada

evidência, sendo dois aspetos já

mantida entre 36,5-37,5ºC, deve-se ao

qualquer atraso na assistência ao

destacados nas guidelines de 2015,

facto da hipotermia estar associada

recém-nascido que não respira pode

ambos se mantêm na atualização de

ao aumento da mortalidade e

aumentar o risco de morte. É assim

2020, sendo também corroborado

morbilidade neonatal, especialmente

recomendado nas guidelines de 2020

com evidência científica.

em recém-nascidos pré-termo com

que todo o nascimento deva ser

menos de 33 semanas de idade

assistido e suportado por pelo menos

2. CONTROLO DA TEMPERATURA

gestacional e recém-nascidos com

1 pessoa cuja responsabilidade

CORPORAL DO RECÉM-NASCIDO

muito baixo peso ao nascimento

primária é o recém-nascido e que

Uma das atualizações efetuadas nas

(menos de 1500g).

tenha competências para iniciar os

guidelines de 2020 refere-se à

passos inicias da reanimação

utilização do contacto pele-a-pele

3. LIMPEZA DA VIA AÉREA

cardiopulmonar iniciando ventilação

como medida de intervenção e

No que concerne à limpeza da via

por pressão positiva. Deste modo é

estratégia para manutenção da

aérea, quando existe líquido amnióti-

garantida uma transição tranquila e

temperatura corporal do recém-nasci-

co meconial, descrevem-se duas

segura do recém-nascido do útero

do e prevenção da hipotermia. A

atitudes possíveis. Deste modo em

para o ambiente extra-uterino.

recomendação adicional consiste na

recém-nascidos que nasçam hipotó-

É sugerido ainda um briefing prévio

colocação dos recém-nascidos que

nicos (apneia ou com esforço

ao nascimento, entre equipa, onde

não requeiram reanimação, em

respiratório ineficaz) a laringoscopia

seja identificado o líder, atribuídos

contacto pele-a-pele após o nasci-

de rotina com ou sem aspiração não

papéis e responsabilidades e

mento uma vez que pode ser eficaz

é recomendada.

elaborado um possível plano de

em promover a amamentação,

Contudo, caso durante a VPP for

reanimação.

controlo da temperatura corporal e a

confirmada obstrução da via aérea, a

A formação prática em Reanimação

estabilidade glicémica. Nas guideli-

entubação endotraqueal e a aspira-

neonatal, revelou-se de grande

nes de 2015 já existia referência ao

ção podem ser benéficas. A evidência

importância: uma revisão sistemática

método contacto pele-a-pele porém

científica obtida através de estudos

e meta-análise, demonstraram que o

apenas num contexto de recursos

realizados sugerem que estes

treino em reanimação neonatal

limitados e perante a inexistência de

recém-nascidos têm o mesmo

reduziu o número de nados-mortos e

outros adjuvantes do aquecimento

resultado (sobrevivência e necessida-

melhorou a sobrevivência em 7 dias,

que fossem passíveis de serem

de de suporte ventilatório) quer

em países de baixos recursos. Um

utilizados.

sejam aspirados antes ou depois da

estudo retrospetivo de coorte

Já no que se refere aos recém-nasci-

VPP.

demonstrou melhores scores de

dos que necessitem de reanimação,

Em 2015 a entubação endotraqueal

APGAR entre recém-nascidos de alto

está preconizado a realização de

de rotina para aspiração nestas

risco.

todos os procedimentos de reanima-

situações não era recomendada por

13

Indice

ATUALIZAÇÕES


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Esquema 1 – Resumo da análise comparativa das guidelines da American Heart Association de 2015 e 2020

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ARTIGO EM DESTAQUE I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

não existir evidências científicas

de forma individualizada, em cada

suficientes que justificassem a

caso; esta sugestão mantém-se das

E DO SISTEMA

recomendação desta prática.

guidelines de 2015. No entanto, em

Como recomendação classe 1, para

2020, sugere-se que a decisão de

os participantes que foram treinados

4. ACESSO VASCULAR

descontinuar a reanimação deverá

em reanimação cardiopulmonar

Quando no nascimento o recém-nasci-

será considerada após 20 min de

neonatal, o treino de reforço indivi-

do necessita de reanimação, o acesso

reanimação pós-nascimento,

dual ou de equipa deve ocorrer mais

vascular recomendado é o umbilical

contrapondo os 10 min anteriormen-

frequentemente do que a cada 2

para a eventual administração de

te sugeridos, devendo, no entanto, a

anos, como sugerido anteriormente.

adrenalina e/ou expansores de volume

decisão ser sempre discutida em

Este treino deve ter uma frequência

caso os recém-nascidos não respon-

conjunto com a equipa e a família.

que suporte a retenção dos conheci-

dam à VPP e às compressões. Caso

As variáveis a serem consideradas

mentos, habilidades e comportamen-

não seja possível obter um acesso

podem incluir: um suporte avançado

tos uma vez que estudos sugerem

venoso, pode-se considerar a via

de vida neonatal adequado (tendo em

que sem prática, o conhecimento e

intraóssea (IO), no entanto, existem

conta a disponibilidade de tratamen-

as habilidades em reanimação

relatos de casos com complicações na

to específico, como hipotermia), as

cardiopulmonar apresentam um

localização da agulha IO.

circunstâncias especificas peri-parto,

declínio nos 3 a 12 meses após a

Em 2015 o acesso vascular não

o risco de lesões neurológicas

realização do mesmo. Assim sendo, a

possui destaque.

severas, a presença de malformações

prática (treino de reforço) frequente

congénitas graves previamente

foi demonstrada melhorar os

5.TÉRMINO DA REANIMAÇÃO

identificadas, e a vontade expressa

resultados da reanimação neonatal.

Em 2015, o índice de APGAR era um

pela família. Apesar dos dados serem

Programas educacionais e as

fator previsível determinante na

escassos, existe evidência de

instituições devem desenvolver estra-

decisão de manutenção da reanima-

recém-nascidos que receberam 20 ou

tégias que garantam que o treino

ção em recém-nascidos de termo e

mais minutos de RCP após o nasci-

individual ou em equipa seja suficien-

pré-termo tardio. No entanto, eram

mento. Seis estudos incluídos numa

temente frequente para sustentar a

também tidos em conta, outras

revisão sistemática relataram resulta-

retenção dos conhecimentos e das

considerações, como a possibilidade

dos para 39 recém-nascidos em que

habilidades necessárias para garantir

de tratamento diferenciado em casos

a primeira frequência cardíaca

a sua aplicação de forma eficaz e

específicos, como a hipotermia, e a

detetável ou frequência cardíaca>

eficiente com vista a ganhos em

vontade expressa da família. Ambos

100/min ocorreu em 20 min ou mais

saúde.

foram considerados na atualização

após o nascimento. Destes, 38%

das guidelines.

(15/39) sobreviveram até o último

A inclusão da família na discussão

seguimento e 40% (6/15) dos

para a tomada de decisão sobre o

sobreviventes não apresentaram

término da reanimação, é tida como a

lesão neurológica moderada ou

maior alteração neste campo.

grave.4

Se a frequência cardíaca se mantém

Nas guidelines de 2020, é consensual

indetetável e todos os passos da

entre peritos em Neonatologia e

reanimação tiverem sido adequada-

comissões de ética, que o apoio ao

mente seguidos de forma eficaz, será

bebé e família continua a ser provi-

razoável redirecionar os objetivos

denciado pela equipa, mesmo após a

dos cuidados ao recém-nascido. A

decisão de descontinuar (ou não

decisão de descontinuar a reanima-

iniciar) esforços e atitudes para o

ção deverá ser sempre considerada

suporte de vida.

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6. DESEMPENHO HUMANO


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ARTIGO EM DESTAQUE I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

BIBLIOGRAFIA 1.

Aziz K, Lee HC, Escobendo MB, et al. Part 5: Neonatal Resuscitation: 2020 American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation. 2020;142 (suppl 2), S524-S550. https:// www.ahajournals.org/doi/10.1161/ CIR.0000000000000902

2.

Wyckoff MH, Weiner GM, et al. Neonatal Life Support: 2020 International Consensus on Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science With Treatment Recommendations. Circulation. 2020;142 (suppl 1). https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/ CIR.0000000000000895

3.

Wyckoff MH, Aziz K, Escobendo MB, et al. Part 13: Neonatal Resuscitation: 2015 American Heart Association Guidelines Uptade for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation. 2015;132 (suppl 2), S543-S560. https:// www.cercp.org/images/stories/recursos/Guias%20 2015/Guidelines-RCP-AHA-2015-Full.pdf

4.

Wickoff MH, Weiner GM, et al Neontal Life support 2020 International Consensus on Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science With Treatment Recommendations. Pediatrics. www.aappublications.org/news Lanonas, E. J., Magid, D.J, et al Highlights of the 2020 American Heart Association Guidlines for CPR and ECC.2020;23-25. https://cpr.heart.org/-/media/ cpr-files/cpr-guidelines-files/highlights/

EDITORA

hghlghts_2020_ecc_guidelines_english (cieusa.org)

ISABEL RODRIGUES Médica VMER CODU

REVISÃO

COMISSÃO CIENTÍFICA

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5.


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ARTIGO EM DESTAQUE II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

ARTIGO EM DESTAQUE II

ATUALIZAÇÕES DAS GUIDELINES DA AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA) EM REANIMAÇÃO PEDIÁTRICA Luísa Gaspar1, Patrícia Guerreiro1, José Neutel2

2

Serviço Medicina Intensiva Pediátrica e Neonatal; Serviço de Pediatria – Centro Hospitalar Universitário do Algarve – Unidade de Faro, Portugal

RESUMO

INTRODUÇÃO

2. Alterações na frequência da ven-

Abordam-se as principais mudanças

Em 2020, a AHA publicou a atualiza-

tilação assistida

nas diretrizes de 2020 da AHA para a

ção das guidelines para RCP, com base

ressuscitação cardiopulmonar (RCP),

na mais recente evidência científica.

esforço ventilatório inadequa-

relativas à atuação em lactentes e

São focados vários aspetos: otimiza-

do ou ausente, mas com pulso,

crianças.

ção da sobrevivência pediátrica em

pode ser benéfica a realização

caso de paragem cardio-respiratória

de 1 ventilação a cada 2-3

(PCR), melhoria do outcome após

segundos (20 a 30 ciclos por

retorno de circulação espontânea

minuto);

Palavras-Chave: Recomendações de ressuscitação, AHA, Doente pediátrico

No doente pediátrico com

No doente pediátrico em PCR,

ABSTRACT

(RCE) a curto e médio prazo, ciência

The main changes in the 2020

de educação em ressuscitação e

com via aérea segura, pode-se

guidelines of the AHA for cardiopul-

sistemas de tratamento.

considerar a realização de 1

monary resuscitation (CPR) in infants

No presente artigo, apresenta-se um

ventilação a cada 2-3 segundos

and children are addressed.

resumo dos principais tópicos e

(20 a 30 ciclos por minuto).

Keywords: Resuscitation recommendations, AHA, Pediatric patient

mudanças, não se fazendo referência a

Porquê? Associação de taxas de

classes de recomendações, nem níveis

sobrevivência mais elevadas a

de evidência, que podem ser consulta-

frequências mais altas de ventilação.

dos nas diretrizes da AHA de 2020. No entanto, a nomenclatura utilizada na

3. Tubo endotraqueal (TET) com

redação, reflete a classe de intensida-

cuff versus TET sem cuff

de de cada recomendação.

É aconselhável o uso de TET com cuff, prestando atenção

ATUALIZAÇÕES

ao tamanho, posição e pressão de insuflação (< 20-25 cm

1. Modificação das cadeias de

H 2O).

sobrevivência pediátricas

Porquê? Foi demonstrada menor

Criada cadeia de sobrevivência

necessidade de troca de tubos,

para contexto intra-hospitalar (IH)

reintubações e baixo risco de

Acrescentado sexto elo a ambas

aspiração. A estenose subglótica é

as cadeias (intra e extra-hospita-

rara quando respeitadas as

lar), relativo às necessidades dos

recomendações.

sobreviventes pós PCR.

19

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1


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20


ARTIGO EM DESTAQUE II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

4. Pressão na cricóide para entuba-

8. Choque séptico

administração de naloxona, se

ção endotraqueal (EET)

É aconselhável a administração de

não existir benefício comprovado

Não está indicado o seu uso

fluidos em bólus, de 10 a 20 ml/

do seu uso.

rotineiro.

Kg, com reavaliação frequente.

Porquê? Dado o número de mortes

Porquê? Comprovado que a Mano-

Em caso de ser refratário a fluidos,

em crianças e jovens adultos,

bra de Sellick reduz a taxa de

pode ser benéfico o uso de

associados a overdose de opióides, a

sucesso de intubação e não reduz a

adrenalina ou noradrenalina como

AHA redigiu uma declaração científi-

taxa de regurgitação.

vasopressor inicial. Se estas

ca específica.

aminas estiverem indisponíveis, 5. Administração precoce da adrenalina •

É aconselhável a administração

deve-se considerar a dopamina.

11. Miocardite

Pode-se considerar o uso de

Está indicado o internamento,

de adrenalina em até 5 minutos

corticóide quando o choque

em unidade de cuidados

após início de compressões

séptico é refratário a fluidos e

intensivos, do doente com

cardíacas.

necessita de vasopressores.

miocardite aguda com arritmia,

Porquê? Cada minuto de atraso

Porquê? A sobrecarga de fluidos pode

bloqueio cardíaco, alterações do

implica redução significativa nos

aumentar a morbilidade. Ensaios

segmento ST e/ou baixo débito

seguintes parâmetros: RCE, resultado

clínicos randomizados controlados

cardíaco.

neurológico favorável, sobrevivência

sugerem superioridade da adrenalina

às 24 horas e após a alta.

relativamente à dopamina.

Nos casos de miocardite ou cardiomiopatia com débito cardíaco baixo refratário, é

6. Monitorização invasiva de tensão

9. Choque hemorrágico

aconselhável o uso pré-PCR de

arterial diastólica (TAD)

Em situação de trauma é

assistência ventricular externa

Pode ser benéfica a monitoriza-

aconselhável o uso de derivados

(AVE) ou de suporte circulatório

ção invasiva contínua de TAD

de sangue em vez de cristaloi-

mecânico, a fim de evitar PCR.

durante a RCP.

des, assim que disponíveis.

Pode ser benéfico o uso precoce

Porquê? Forma eficaz de avaliar a

Porquê? Alguns dados pediátricos

de AVE ou suporte circulatório

qualidade das compressões cardía-

sugerem benefício da ressuscitação

mecânico, após PCR;

cas. Valores alvo: ≥25 mmHg em

precoce equilibrada, com concentra-

Porquê? A AHA emite pela primeira

lactentes e ≥30 mmHg em crianças.

do eritrocitário, plasma e plaquetas.

vez recomendações específicas relativas a este tema.

10. Overdose de opióides

sões pós RCE

É indicado o suporte ventilatório

12. Hipertensão pulmonar

É indicada a monitorização

na paragem respiratória, até

contínua de electroencefalogra-

retorno de respiração espontâ-

de óxido nítrico inalado ou

fia para deteção precoce de

nea.

prostaciclina, como terapêutica

convulsões, em pacientes com • •

Pode ser benéfica a administra-

inicial de hipertensão pulmonar

encefalopatia persistente.

ção de naloxona intramuscular

ou insuficiência cardíaca direita

É recomendado tratar as crises

ou intranasal, em caso de

secundária a aumento da

convulsivas clínicas pós RCE.

paragem respiratória com pulso

resistência vascular pulmonar.

É aconselhável o tratamento do

presente, mantendo suporte

estado epiléptico não convulsivo

básico de vida (SBV) de alta

(pós-RCE) em consulta com

qualidade.

especialista.

É recomendada a administração

Monitorização cardio-respiratória para antecipar hipóxia e acidose.

Se alto risco de crise de hiperten-

Em doentes em PCR, deve ter

são pulmonar, está indicada a

Porquê? Dificuldade de detecção de

prioridade a realização de SBV

administração de sedoanalgesia

crises não convulsivas em pediatria.

de alta qualidade em relação à

e curarização.

21

Indice

7. Deteção e tratamento de convul-


Indice

22


ARTIGO EM DESTAQUE II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

Pode ser benéfica, no tratamento

NOTAS FINAIS

BIBLIOGRAFIA

inicial de hipertensão pulmonar,

A procura da melhor qualidade de

1.

a administração de oxigénio e a

resposta com os melhores resultados

das diretrizes de RCP e ACE de 2020 da American

indução de alcalémia, através da

possíveis é incessante, pelo que

Heart Association. JN-1088. in: https://ebooks.

hiperventilação ou administra-

novos dados científicos sustentam

heart.org./pt

ção de solução alcalina em

as atualizações das guidelines.

simultâneo com os vasodilatado-

Espera-se assim o aumento da taxa

2020 International Consensus on Cardiopulmo-

res pulmonares específicos.

de sobrevivência em PCREH e

nary Resuscitation and Emergency Cardiovascu-

No caso de ser refratária, pode

otimização do outcome da PCRIH

lar Care Science With Treatment Recommenda-

ser aconselhável a AVE.

pediátrica.

tions. Circulation 2020 Out;142(suppl 1). DOI:

Porquê? A hipertensão pulmonar está

Terminamos acreditando que

10.1161/CIR.0000000000000894.

associada a morbilidade e mortalida-

atualizar, educar e treinar são as

de significativas, requerendo cuida-

chaves para reanimar com sucesso.

2.

American Heart Association. 2020. Destaques

Maconochie IK, et al. 2020. Pediatric Life Support:

dos especializados. The search for the best performance 13. Avaliação e suporte para sobrevi-

with the best possible results is

ventes de PCR

incessant, so new scientific data

É recomendada a sua avaliação,

supports the guidelines updates.

quanto à necessidade de

Thus, it is expected an increase of the

reabilitação.

survival rate in the out-off-hospital

É aconselhável a avaliação

cardiac arrest and the optimization of

neurológica contínua, por pelo

the outcome of in-hospital cardiac

menos um ano.

arrest. We conclude believing that

Porquê? A recuperação pós PCR

updating, educating and training are

pode manter-se por meses ou anos,

the keys to a successful resuscita-

pelo que os doentes e famílias

tion.

necessitam de acompanhamento multidisciplinar.

EDITORA

ISABEL RODRIGUES Médica VMER CODU

Nota: As diretrizes da AHA de 2020,

REVISÃO

emitiram novas recomendações relativamente aos cuidados em doentes com ventrículo único. Dada a raridade e especificidade desta patologia, o tema não foi abordado

COMISSÃO CIENTÍFICA

23

Indice

pelos autores.


Indice

24


ARTIGO DE REVISÃO I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

ARTIGO DE REVISÃO I

ATIVIDADE DA COMISSÃO DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE INFEÇÃO E RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS (CPCIRA) DO INEM, EM CONTEXTO COVID-19, NO ANO 2020 ACTIVITY OF THE COMMISSION FOR THE PREVENTION AND CONTROL OF ANTIMICROBIAL INFECTION AND RESISTANCE (CPCIRA), IN THE CONTEXT OF COVID-19, IN 2020 Marlene Pereira1, Márcio Silva1, Susana Pereira1, Helena Pissarra2, Maria Joaquina Ramos2

2

Enfermeiro, INEM TEPH, INEM

RESUMO

identificadas, foram propostos mais 8

the implementation of measures aimed

Tendo em consideração o diagnóstico

objetivos fora do plano inicial, com

the needs of the Instituto Nacional de

base da taxa de cumprimento das

elevadas taxas de concretização.

Emergência Médica (INEM). The

Precauções Básicas de Controlo da

Consideramos que os objetivos

purpose of this article is to disseminate

Infeção (PBCI) efetuado e de forma a

propostos inicialmente e os que foram

the characterization of the

contribuir para o cumprimento da

identificados posteriormente

commission's activity, developed over a

Norma das PBCI da Direção Geral da

demonstraram-se pertinentes e

year, with the need to adapt to a new

Saúde (DGS), bem como as

adequados a este contexto e a sua

reality. A descriptive, observational,

recomendações de boas práticas

realização exequível. As atividades

retrospective study was carried out,

nacionais e internacionais, a Comissão

desenvolvidas potenciaram a

based on data taken from CPCIRA

de Prevenção e Controlo da Infeção e

implementação de uma estratégia de

database during the year 2020. From

Resistência aos Antimicrobianos

identificação e resolução de problemas

the action plan developed at the

(CPCIRA) teve como foco a

em tempo real, promovendo ambientes

beginning of the year 2020, 7 out of the

implementação de medidas que

de trabalho seguros e responsáveis.

8 objectives were achieved. In response

visassem ir ao encontro das necessidades do Instituto Nacional de

Palavras-Chave: Ambulância; Extra-hospitalar; Relatório Anual; Prevenção & Controle Infeção; Objetivos.

Emergência Médica (INEM). O objetivo

to the identified needs, 8 more objectives were proposed outside the initial plan, with high rates of

deste artigo é divulgar a caraterização

ABSTRACT

achievement. We believe that the

da atividade da comissão, desenvolvida

Taking into account the base diagnosis

objectives initially proposed and those

ao longo de um ano, com adaptação a

of the Precauções Básicas de Controlo

that were subsequently identified

uma nova realidade. Foi realizado um

da Infeção (PBCI)’s compliance carried

proved to be relevant and appropriate to

estudo descritivo, observacional,

out and in order to contribute to the

this context and their achievable

retrospetivo, com base nos dados

compliance of Direcção Geral da Saúde

realization. The activities developed

retirados da base de dados da CPCIRA

(DGS) PBCI’s guidelines, as well as the

enabled the implementation of a

durante o ano de 2020.

recommendations of national and

strategy to identify and solve problems

Do plano de ação desenvolvido no início

international good practices, the

in real time, promoting safe and

do ano 2020 foram atingidos 7 dos 8

Comissão de Prevenção e Controlo da

responsible work environments

objetivos a que a comissão se propôs.

Infeção e Resistência aos

Como resposta às necessidades

Antimicrobianos (CPCIRA) focused on

Keywords: Ambulance; Extra-hospital; Annual Report; Infection Prevention & Control; Goals

25

Indice

1


INTRODUÇÃO

invasivos em ambiente extra-

Por outro lado, o ano 2020 trouxe

As infeções associadas aos cuidados

hospitalar (rua, domicílios, lares, …);

oportunidade de incremento do

Exposição dos profissionais a

conhecimento e cumprimento das

resistência aos antibióticos,

fluidos orgânicos durante

PBCI, num processo de melhoria

representam um dos problemas mais

procedimentos e incapacidade

contínua da qualidade dos cuidados

desafiantes para as instituições de

de realizar de imediato a sua

em emergência, ao nível da

saúde em todo o mundo1. O Controlo

remoção limpeza e desinfeção;

prevenção da infeção associada aos

Transporte de doentes em

cuidados de saúde, também no

de saúde em Portugal, sendo

espaços de pequena dimensão

contexto extra-hospitalar.

necessário definir estratégia de ação

com inadequada ventilação.

No Plano de Ação para o ano 2020,

de saúde (IACS) e o aumento da

de Infeção é um assunto prioritário

no combate ao que hoje está definido pela World Health Organization (WHO)

Estes aspetos potenciam/promovem

objetivos:

como uma epidemia silenciosa .

o aumento de risco infecioso para as

1. Avaliar necessidades em

Por inerência das suas funções, na

vítimas e profissionais.

materiais e equipamentos, nos

prestação direta de cuidados, os

Partindo do princípio de que todos os

meios de socorro do INEM.

profissionais de saúde têm uma

doentes são potencialmente

responsabilidade acrescida na

contagiosos, os profissionais de

equipamento a adquirir e

prevenção e controlo de infeções e

saúde devem adotar sempre as

respetivas quantidades.

na capacitação dos restantes

Precauções Básicas de Controlo de

intervenientes no seio da equipa

Infeção (PBCI) como prioridade na

sobre PBCI de acordo com as

multidisciplinar . Por esse motivo,

abordagem dos doentes. A

recomendações da DGS,

tornou-se pertinente a criação da

identificação e a implementação de

adaptadas à realidade do INEM.

CPCIRA no INEM com a finalidade de

medidas preventivas face ao risco

dar resposta às necessidades

infecioso garantem ao doente a

interna, acerca da Norma da DGS

identificadas.

qualidade e a segurança dos

(Norma 29/2012 de 29/12/2012,

A prestação de cuidados de saúde

cuidados .

atualizada em 31-12-2012), sobre

em contexto extra-hospitalar reveste-

A Comissão de Prevenção e Controlo da

as PBCI às Coordenações

se de um conjunto de

Infeção e Resistência aos

Regionais, coordenadores de

particularidades ainda pouco

Antimicrobianos (CPCIRA) do INEM

meio e operacionais.

exploradas do ponto de vista

iniciou funções em janeiro de 2020 e

5. Realizar formação sobre a

científico, havendo necessidade de

propôs o plano de ação, assumindo

Norma de PBCI, a 90% das

implementar nos contextos da

nesta fase inicial um contexto de

Coordenações Regionais e

prática de cuidados projetos de

normal atividade para o Instituto.

coordenadores de meio e a 25%

investigação direcionados. A gestão

A pandemia por coronavírus (COVID-19)

dos operacionais.

do risco infecioso é distinta da

obrigou o INEM a reorganizar-se,

vivenciada dentro das instituições de

alterando prioridades e adaptando a

saúde, nomeadamente:

atividade à nova realidade. A CPCIRA

7. Produzir e divulgar informações

Incapacidade de controlar o

identificou a necessidade de redefinir

sobre PBCI, de acordo com a

ambiente no local das

prioridades, tendo aumentado o volume

Norma da DGS adaptada à

ocorrências (condições

de atividades e contribuído para uma

realidade do INEM.

ambientais e meteorológicas,

comunicação mais efetiva, quer com a

superfícies,…);

gestão de topo, quer com os

Ausência de informação sobre o

profissionais, aceitando desafios que

Perante o surgimento da pandemia,

estado infecioso do doente.

não estavam previstos no plano de

ao longo do ano, houve necessidade

Realização de procedimentos

ação inicial.

de desenvolver e assegurar resposta

2

3

• •

Indice

foram definidos os seguintes

26

4

2. Efetuar proposta de material e

3. Elaborar o Produto Pedagógico

4. Elaborar o plano de formação

6. Definir o Plano de Comunicação institucional da CPCIRA.

8. Responder às solicitações/ questões dos profissionais.


ARTIGO DE REVISÃO I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

Tabela n.º 1 – Resultados obtidos segundo os objetivos propostos

1. Realizar formação sobre

previstas no Plano de Ação.

Equipamento de Proteção

Seguem-se os objetivos que não se

Individual (EPI).

encontravam inicialmente previstos,

2. Efetuar vigilância epidemiológica

3. Desenvolver Webinars e sessões de esclarecimento. 4. Acompanhar a higienização dos meios in loco.

mas que foram projetados de acordo

dos profissionais do INEM, em

com as solicitações e necessidades

contexto da pandemia por

e acompanhamento a edifícios e

identificadas:

COVID-19.

bases.

5. Efetuar visitas de monitorização

27

Indice

a outras solicitações, para além das


Tabela n.º 2 - Atividades de formação e divulgação

6. Auditar EPI.

RESULTADOS

de contato telefónico (tabela n.º3).

7. Identificar constrangimentos

Pode-se verificar que se obteve 100%

Pela leitura da tabela podemos

existentes relativamente à

em quase todos os objetivos. Na

constatar que durante o ano 2020

higienização do fardamento.

tabela n.º 1 apresentam-se os

foram acompanhados 665

resultados obtidos, segundo os

profissionais e efetuados 7448

respetivos indicadores.

contactos telefónicos. Devido ao

8. Colaborar na colheita de amostras biológicas para teste COVID-19. 9. Realização de visitas

excesso de trabalho em todos os Para dar cumprimento aos objetivos

setores da sociedade,

domiciliárias a profissionais

não previstos face às necessidades

nomeadamente da saúde e

infetados.

identificadas, foram desenvolvidas

segurança social, as equipas de

outras atividades de formação ao

acompanhamento promoviam o

Com este artigo pretende-se divulgar

nível institucional, nomeadamente

agendamento das consultas de

a caraterização da atividade da

formação sobre EPI (tabela n.º2), de

medicina do trabalho de acordo

comissão, desenvolvida ao longo de

acordo com a estratégia definida em

com as recomendações da DGS e o

um ano, com adaptação a uma nova

cada Delegação Regional: do Norte

registo e posterior articulação com

realidade.

(DRN), do Centro (DRC), do Sul-Lisboa

o departamento de recursos

(DRS-L) e Sul-Algarve (DRS-A). A nível

humanos relativamente ao

MÉTODOS

nacional foi possível ministrar

absentismo dos trabalhadores em

Trata-se de um estudo descritivo,

formação sobre colocação e retirada

isolamento profilático.

observacional, retrospetivo realizado

de EPI a 729 profissionais do INEM e

pela CPCIRA. Os dados foram

parceiros do SIEM.

Indice

introduzidos numa base de dados em

No decurso do ano de 2020, a CPCIRA desenvolveu um conjunto significativo

Microsoft Office Excel, onde foram

No que concerne à vigilância

de outras atividades em resposta às

também tratados estatisticamente.

epidemiológica dos profissionais do

diversas solicitações e necessidades

Os dados deste estudo reportam-se

INEM, em contexto da pandemia por

que se impuseram (tabela n.º4), entre

ao período entre 03 de janeiro a 31 de

COVID-19, os elementos da CPCIRA

as quais destaca-se o

dezembro de 2020.

integraram as Equipas de Vigilância

acompanhamento da higienização

Epidemiológica Regionais, fazendo

dos meios em contexto de trabalho e

o seu acompanhamento e

as visitas de monitorização e

aconselhamentos diários, através

acompanhamento a edifícios e bases.

28


ARTIGO DE REVISÃO I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

29

Indice

Tabela n.º 3 - Vigilância Epidemiológica em 2020


Indice

Tabela n.º 4 – Outras atividades desenvolvidas pela CPCIRA

30


Além destas atividades, os membros

desenvolvidas outras atividades

realizada aos profissionais do

desta comissão colaboraram na

como a emissão de pareceres,

INEM permitiu a identificação de

colheita de amostras biológicas para

revisão de documentos internos,

necessidades formativas e

teste COVID-19 e visitas domiciliárias

elaboração de documentos

psicoafectivas, a sua referenciação

a profissionais infetados.

(Regulamento Interno CPCIRA,

e acompanhamento. Esta atividade

Manual de Controlo de Infeção,

levou à implementação de uma

DISCUSSÃO

Plano Higienização da Ambulância,

estratégia de identificação e

Do plano de ação desenvolvido no

bem como o seu resumo, Plano

resolução de problemas em tempo

início do ano 2020 foram atingidos

Ação, Plano de Comunicação,

real.

7 dos 8 objetivos a que a comissão

Orientações sobre vacinação para

Através desta vigilância e pela

se propôs. Dois dos objetivos

COVID-19), participação em

aproximação da CPCIRA aos

atingidos, não cumpriram o timing

Webinars e sessões de

profissionais denotamos que

definido previamente, mas foram

esclarecimento, auditoria a EPI,

muitas dúvidas foram colocadas,

posteriormente realizados.

alternativas para a higienização do

havendo necessidade de esclarecer

O objetivo não atingido, referente

fardamento dos profissionais,

e desmistificar receios, de acordo

ao número de profissionais

visitas de monitorização e

com as boas práticas de prevenção

previstos para frequentar a

acompanhamento a edifícios e

de infeção, mais vincadas em

formação em PBCI, pode ser

bases e vigilância epidemiológica

contexto de pandemia. Por outro

explicado pelas limitações que a

dos profissionais em contexto

lado, verificou-se que na

pandemia colocou no processo

COVID-19. Estas atividades

plataforma de notificação de

formativo, tais como: a

permitiram identificar e resolver

incidentes (HER+) houve 23

impossibilidade da forma

problemas, no mais curto espaço

notificações que foram

presencial, a limitação dos

de tempo possível, promovendo

respondidas, quer na plataforma,

recursos que as coordenações

ambientes de trabalho seguros e

quer através de contato direto com

puderam ceder devido à

responsáveis.

o profissional notificador. A grande

necessidade de resposta

Podem-se verificar que algumas

maioria foi relacionada com EPI

operacional e a reduzida

destas atividades não foram

inadequados ou com defeitos.

disponibilidade de formadores que

possíveis de desenvolver na

A junção de diferentes

se encontravam a dar outras

Delegação Regional do Norte, que

pensamentos críticos, diferentes

respostas, sobretudo no que

se justificam com o número

capacidades e competências,

concerne à vigilância

significativo de profissionais em

traduzem-se em resultados muito

epidemiológica dos profissionais.

seguimento no âmbito da vigilância

mais eficientes5. Para a rápida

Esta evidência revela que os

epidemiológica (tabela n.º 3),

resolução dos problemas

objetivos propostos inicialmente

número esse francamente maior

encontrados houve a união e a

eram pertinentes e adequados à

relativamente às restantes

articulação da uma equipa

realidade do extra-hospitalar e a

Delegações.

multidisciplinar. Foram definidas

sua realização exequível.

De salientar que a maioria dos

estratégias e atitudes adequadas

Para além dos objetivos propostos

elementos integrantes da CPCIRA

face aos desafios propostos como

inicialmente, e pela análise dos

mantiveram a sua atividade nos

demonstrado no relatório anual,

dados, é percetível a necessidade

departamentos e meios a que

pelo que consideramos que o

que houve de redefinição do plano

pertencem, garantindo a

trabalho em equipa e a envolvência

de ação imposta pela pandemia.

coordenação de equipas, resposta

de outros departamentos e das

Dando uma resposta adequada e

aos meios de socorro e de

chefias permitiram que todas as

célere às necessidades

colheitas de amostra biológica.

dificuldades fossem

identificadas, foram ainda

A vigilância epidemiológica

ultrapassadas.

31

Indice

ARTIGO DE REVISÃO I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9


Indice

32


ARTIGO DE REVISÃO I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

CONCLUSÃO

problemas encontrados, foi

BIBLIOGRAFIA

Um ano, após o início da atividade

considerada por todos de

1.

CPCIRA, parece pertinente

fundamental importância.

Missão, Visão e Valores. Recuperado de https://

partilhar a informação recolhida

A prevenção de infeção, em

www.inem.pt/2017/05/22/missao-visao-e-

ao longo do ano de 2020 e

conjunto com boas práticas

valores/

concluir que o planeamento em

profissionais, nomeadamente a

saúde é imprescindível e estará

promoção da saúde, a prevenção

Leotsakos A., et al. (2008). Infection control as a

sempre aliado à qualidade dos

da doença e prestação de

major World Health Organizacion priority for

resultados alcançados.

cuidados de saúde diferenciados,

developing countries. Journal of Hospital

Foi dado início a um processo de

de forma abrangente,

Infection. 68:4, pp.285-92

melhoria contínua da qualidade,

personalizada e integrada, em

que constitui um desafio a tempo

tempo útil, com qualidade e

Resistência Antimicrobiana, Federação Europeia

inteiro, para o cumprimento das

equidade, facilita alcançar taxas

das Associações de Enfermeiros. Recuperado de

PBCI e permite, também, aferir as

de infeções associadas aos

https://www.ordemenfermeiros.pt/media/8124/

principais dificuldades e

cuidados de saúde de

tradu%C3%A7%C3%A3opt_-efn-amr-report-nurses-

condicionantes, para se poderem

microrganismos resistentes aos

are-frontline-combating-amr_vf.pdf

ajustar as estratégias no sentido

antimicrobianos tão baixas

de as mitigar, implicando todas as

quanto o conhecimento científico

de resistência aos antimicrobianos 2017, Lisboa,

partes interessadas.

atual o permita.

dezembro 2017

Na situação pandémica que

2.

3.

4.

5.

Instituto Nacional de Emergência Médica (2021).

Pittet B., Storr J., Bagheri Nejad S., Dziekan G.,

Os Enfermeiros na Linha da Frente no Combate à

Programa de prevenção e controlo de infeções e

de Pinho, M. C. G. (2006). Trabalho em equipe de

vivenciamos, a estratégia, mais do

AGRADECIMENTOS

saúde: limites e possibilidades de atuação eficaz.

que nacional, deverá ser universal,

O alcançar desta etapa não teria

Ciências & Cognição. 8:1, pp.68-87. Recuperado

transversal e adaptada aos mais

sido possível sem a colaboração,

de http://www.cienciasecognicao.org/revista/

diversos contextos. A pandemia

saber e dedicação por parte da

index.php/cec/article/view/582

veio melhorar o conhecimento e a

coordenadora da comissão

literacia em saúde de toda a

CPCIRA. Um muito obrigado à Dr.ª

população no respeitante às PBCI.

Manuela Lucas, que em muito tem

Esta base tem de ser partilhada,

incentivado a equipa a

desenvolvida e consolidada em

desenvolver um trabalho de

todos os profissionais de

excelência, bem como aos

emergência extra-hospitalar.

restantes elementos da CPCIRA,

Não havendo soluções estanques,

cujos nomes não surgem vertidos

podemos afirmar que a certeza do

neste artigo, mas pela prontidão,

sucesso se baseia na

disponibilidade, entrega e espírito

implementação de medidas

de equipa merecem o devido

definidas, em conjunto com todos

reconhecimento e agradecimento.

os profissionais, a serem

E um muito obrigado aos

avaliadas e redesenhadas com a

restantes profissionais de outros

frequência revelada necessária e

Departamentos que deram o seu

reajustada, sempre que

precioso contributo para a

necessário.

concretização dos objetivos

O apoio das estruturas de

da comissão.

EDITOR

VASCO MONTEIRO Enfermeiro VMER, Gabinete de Coordenação SIEM - DRSul INEM REVISÃO

coordenação e direção, que facilitaram a comunicação entre si

COMISSÃO CIENTÍFICA

33

Indice

no sentido da resolução dos


Indice

34


ARTIGO DE REVISÃO II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

ARTIGO DE REVISÃO II

VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA (VNI) NO PRÉ-HOSPITALAR EM TEMPOS DE COVID-19

NONINVASIVE VENTILATION (NIV) IN PREHOSPITAL CARE IN THE COVID ERA Tânia Sales Marques1, Djamila Neves1 Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA) – Unidade de Faro

RESUMO

manipular e obter uma boa sincronia

mortality rates3. When treating acute

Nos últimos anos a ventilação

entre doente e ventilador são os

respiratory failure, healthcare

mecânica não invasiva (VMNI) têm

principais aspetos para aumentar a

professionals should ask themselves

sido imprescindível no tratamento da

eficácia terapêutica, maximizando o

what form of ventilation will provide

insuficiência respiratória aguda (IRA),

conforto e a estabilidade do doente.

the most benefits with the lowest

em particular no edema agudo do

Para além disso, na Era atual da

possible risk for the patient. There is

pulmão (EAP) e na doença pulmonar

pandemia COVID-19, é imprescindível

no doubt that invasive mechanical

obstrutiva crónica (DPOC) . Mais

saber adaptar toda a prática clínica

ventilation is often an indispensable

recentemente, estas técnicas têm

para garantir a segurança dos

measure to save lives, but it is also

ganho especial relevo no tratamento

profissionais de saúde sem colocar

associated with important risks of

dos doentes com manifestações mais

em causa a saúde dos doentes. A

infection and other complications that

graves da infeção por SARS-COV-2. O

VMNI é uma técnica que leva à

increase mortality. NIV also has its

recurso a este tipo de ventilação em

dispersão de aerossóis, pelo que a

risks, so knowing when and in whom

contexto pré-hospitalar está a

sua instituição deverá ser reajustada

to apply, selecting devices and

aumentar, levando a uma diminuição

para minimizar o risco

interfaces, knowing how to

2,3

da taxa de intubação e a uma redução da taxa de mortalidade . Ao tratar a IRA 3

.

12,13

Palavras-Chave: Ventilação mecânica não invasiva, pré-hospitalar, insuficiência respiratória, dispneia, SARS-COV-2

os profissionais de saúde devem questionar-se sobre qual a forma de ventilação que irá proporcionar mais benefícios e, simultaneamente, menor risco para o doente. Não há dúvida de que a ventilação mecânica invasiva é frequentemente uma medida indispensável para salvar vidas, mas está também associada a riscos importantes de infeção e outras complicações que aumentam a mortalidade. A VMNI também acarreta riscos, sendo necessário saber quando e a quem instituir. Selecionar os dispositivos e interfaces, saber

manipulate and obtaining a good synchrony between patient and ventilator, are the main aspects to

ABSTRACT For the last several years, noninvasive ventilation (NIV) has become essential in the treatment of acute respiratory failure, particularly in the setting of acute cardiogenic pulmonary oedema and chronic obstructive pulmonary disease2,3. More recently, these techniques have been essential in the in the treatment of patients with severe manifestations of SARS-COV-2 infection. This type of ventilation is increasing in prehospital care setting with a reduction in intubation and

increase therapeutic efficacy while maximizing comfort and stability for the patient. Furthermore, in the current Era of the COVID-19 pandemic, it is essential to know how to adapt all clinical practice to ensure the safety of health professionals without jeopardizing the patients’ health. VMNI is a technique that leads to the dispersion of aerosols, so its appliance should be readjusted to minimize the risk12,13. Keywords: Noninvasive mecha nical ventilation, , prehospital, respiratory failure, dyspnoea, SARS-COV-2

35

Indice

1


INTRODUÇÃO

ventilatório de doentes com DPOC e

prestação de cuidados. As máscaras

A dispneia é um dos tipos de

EAP. Ao reduzir o esforço respiratório

nasais ao deixarem a via oral livre

ocorrências mais comuns em

a VMNI poderá evitar a necessidade

permitem que o doente possa

contexto pré-hospitalar . Em 2020 foi

de VMI e poderá ainda reverter a

comunicar verbalmente e expetorar,

a segunda ocorrência mais comum

causa subjacente da dispneia .

reduzindo o risco de aspiração e a

em Portugal Continental, apenas

Apesar dos resultados inconsistentes

sensação de claustrofobia, no

precedida pelas alterações do estado

vários estudos mostraram benefício

entanto, não permitem a

de consciência . O diagnóstico

na utilização de VMNI em contexto

monitorização de fugas e dos

diferencial da dificuldade respiratória

pré-hospitalar com redução das taxas

volumes administrados, não sendo

aguda inclui as alterações das vias

de intubação, da mortalidade e do

adequadas em situações de IRA3,4.

aéreas superiores (ex. edema,

tempo de internamento1,11,14-27.

Não se recomenda o uso deste tipo

obstrução por corpo estranho,

Atualmente preconiza-se ainda a

de máscaras na suspeita de infeção

trauma), alterações das vias áreas

possível utilização de VMNI em

por SARS-COV-2 pelo aumento do

inferiores (ex. asma, DPOC, EAP,

doentes com suspeita ou infeção por

risco de dispersão de gotículas10. Os

pneumonia, tromboembolismo

SARS-COV-2, levantando-se questões

capacetes ou Helmets, com circuito

pulmonar) e as alterações

relativas ao risco de propagação do

fechado com válvula ou circuito

neurológicas (ex. traumatismo

vírus entre os profissionais de saúde

duplo, apesar de diminuir

crânio-encefálico, intoxicação,

durante o tratamento .

significativamente a dispersão de

1

28

2

12

acidente vascular cerebral) . A

gotículas, estão associados a uma

1,2

falência respiratória ocorre quando

Fisiopatologia

maior assincronia paciente ventilador

os pulmões não conseguem fornecer

A VMNI melhora a função pulmonar

e a uma maior dificuldade na

oxigenação adequada, resultando

através de vários mecanismos.

monitorização dos parâmetros

geralmente em taquipneia,

Reduz o esforço respiratório e

ventilatórios4,10. As máscaras

hipoxemia, hipercapnia e dispneia. A

melhora a compliance pulmonar.

oro-nasais permitem monitorizar os

gravidade da dispneia e do grau de

Recruta alvéolos atelectasiados,

volumes e pressões administradas e

insuficiência respiratória é variável

aumentando a área disponível para a

controlar as fugas não intencionais.

consoante a situação. Doentes com

ocorrência de trocas gasosas

As máscaras faciais não ventiladas

dispneia leve, com fraca

melhorando a relação de ventilação-

em circuito fechado (único com

sintomatologia, habitualmente

perfusão. Aumenta as pressões

válvula exalatória ou duplo) permitem

respondem a terapêutica médica e a

hidrostáticas, desviando o edema

eliminar as fugas intencionais não

oxigenoterapia suplementar. A

para o sistema vascular. Por estes

filtradas, otimizando-se assim as

entubação orotraqueal e a ventilação

motivos e dado que este tipo de

condições de segurança dos

mecânica invasiva (VMI) encontram-

ventilação mecânica aumenta o

profissionais de saúde na suspeita de

se reservadas para os doentes com

impulso respiratório espontâneo do

infeção por SARS-COV-2.

gravidade clínica e insuficiência

doente a VMNI poderá ser mais

respiratória grave. No entanto os

benéfica que a VMI em casos

Na VMNI existem dois tipos de

doentes com insuficiência

selecionados .

circuitos: único ou duplo. O circuito

2

respiratória moderada a grave sem depressão do estado consciência e

Instituição de VMNI: interfaces,

simples, pode ser usado com

com os reflexos da via aérea

circuitos e modalidades ventilatórias

máscara ventilada (com válvula

preservados poderão beneficiar de

A escolha da interface dependerá de

anti-asfixia) ou com máscara não

VMNI em ambiente pré-hospitalar .

vários fatores. A condição clínica do

ventilada (sem válvula anti-asfixia),

Estudos recentes sugeriram que a

doente, a sua tolerância, o tipo de

passando a ser, neste último caso,

VMNI seja considerada como a

circuito disponível e a segurança dos

um circuito único fechado (figura 1).

primeira opção no suporte

profissionais de saúde envolvidos na

A este circuito único fechado tem de

2,3

Indice

único, também denominado circuito

36


ARTIGO DE REVISÃO II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

Figura 1. a) Circuito simples, composto por ventilador, filtro bacteriano, tubo único e máscara oro-nasal ventilada. b) Circuito simples fechado, composto por ventilador, filtro bacteriano, tubo único, válvula exalatória, filtro bacteriano e máscara oro-nasal não ventilada.

estar associada uma válvula

uniforme durante a inspiração e a

pré-hospitalar mantém a drive

exalatória para que o ar inalado

expiração. A pressão inicial típica é

respiratória pelo que raramente

possa sair. A ausência desta válvula

de 5-6 cmH2O, com aumento gradual

devem ser tratados em modo

pode levar ao fenómeno de

de pressão nos primeiros minutos em

controlado. O modo de ventilação

rebreathing e ao risco de asfixia do

reposta à dispneia subjetiva do

preferido nestes casos é o

doente. A válvula exalatória pode ser

doente e ao esforço respiratório

espontâneo-temporizado, onde o

ativa (vem já incorporada ao circuito

objetivado. As pressões podem variar

esforço inspiratório do doente ativa o

e contém uma linha de pressão e

entre os 5-20 cmH2O, mas

ventilador e a duração do ciclo é

linha de fluxo) ou pode ser passiva

habitualmente não se deve

controlado pelo aparelho. Define-se

(sendo adicionada entre a máscara e

ultrapassar os 10-12cmH2O. A

assim à partida as pressões de EPAP

o circuito, ex: Whisper-Swivel ou

pressão positiva a dois níveis

e IPAP e o tempo de inspiração (I) e

válvula Plateau). O circuito único

(BiPAP), é um mecanismo que

de expiração (E). Habitualmente, em

deve conter um filtro anti-bacteriano

permite aplicar pressões diferentes

condições normais a relação I:E deve

permutador de calor e humidade

que alternam com a fase inspiratória

ser de 1:2, na patologia obstrutiva de

(HMEF) à saída do ventilador. Na

e a fase expiratória. A pressão

1:3 e na patologia restritiva de 1:1. A

suspeita de SARS-COV-2 é

expiratória (EPAP) ou pressão

frequência respiratória deve ser

fundamental a colocação de um filtro

expiratória final positiva (PEEP)

ajustada para proteger o doente da

adicional entre a máscara e a válvula

inicial típica é de 4-5 cmH2O, com um

apneia e o oxigénio deve ser

exalatória (figura 1, imagem b). A

máximo habitual de 8-10 cmH2O e a

administrado na quantidade

introdução de dois filtros aumenta a

pressão inspiratória (IPAP) é de 10-12

necessária para garantir uma

resistência das pressões, pelo que se

cmH2O, com um máximo de

saturação de 90 a 94% ou de 88% a

devem incrementar 1 a 2cmH2O. O

10-20cmH2O, dependendo da

92% na suspeita/identificação de

circuito duplo, como o nome indica,

patologia subjacente . Algumas

retenção de CO2.

tem dois ramos: o ramo inspiratório e

ventiladores/modalidades

o ramo expiratório. Este circuito é

apresentam pressão de suporte (PS)

Depois de ligar o ventilador, a ação

utilizado com uma máscara não

em vez de IPAP. A PS corresponde à

inicial passa por aplicar a interface

ventilada e deve conter um HMEF à

diferença do gradiente de pressão

ao doente explicando o procedimento

saída do ventilador e um filtro

entre a IPAP e EPAP. Nestes casos

e incentivando a respiração calma e

bacteriano à entrada.

deve-se iniciar com uma PS de

profunda. Quando o doente mostrar

Existem dois tipos de VMNI. A

6-8cmH2O.

sinais de estar a tolerar, a interface

2

funciona através da aplicação de

Habitualmente os doentes

respetivo arnês tentando-se

uma pressão positiva contínua

candidatos a VMNI em contexto

minimizar adequadamente as

37

Indice

poderá ser fixada através do

pressão contínua na via aérea (CPAP)


Indice

38


ARTIGO DE REVISÃO II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

fugas2,3. A presença de barba,

no final da expiração (ETCO2). Após a

deformidades faciais e a edentulação

aplicação inicial da VMNI, o ETCO2

podem dificultar a adaptação à

pode aumentar inicialmente devido à

interface. Por vezes poderá ser útil

melhoria da ventilação-perfusão. A

tricotomizar os pelos faciais e/ou

redução do ETCO2 deverá refletir-se

pedir ao doente, para colocar a sua

em melhoria clínica1.

prótese dentária, caso a tenha. A

Alguns dos efeitos adversos mais

escolha da modalidade ventilatória

comuns passam pela secura das

Tabela 1.

depende do sistema disponível e da

mucosas, a irritação ocular, a

dos profissionais. Ao aplicar a VMNI

clínica do doente.

distensão gástrica (IPAP ≥ 25

deve-se optar sempre por um circuito

Em contexto pré-hospitalar é crucial

cmH2O), a retenção de secreções, o

fechado, com máscara oro-nasal ou

vigiar o doente e verificar se a

pneumotórax e as alterações

em alternativa o helmet, e evitar a

ventilação fornecida está a ser

hemodinâmicas.

fuga excessiva pela máscara. Os

benéfica. Os sinais vitais devem ser

Os doentes tratados com sucesso

sistemas de humidificação estão

avaliados e registados em curtos

devem continuar a fazer VMNI até

contraindicados, sendo

espaços de tempo para auxiliar a

chegarem ao hospital. O tratamento

incompatíveis com os filtros,

avaliação da resposta do doente à

deve ser coordenado com o hospital

podendo ainda causar condensação

VMNI . Valores de pH baixos estáveis

recetor para que não seja

nas interfaces com o risco dispersão

e uma PaCO2 elevada estável podem

interrompido. A deterioração

de patógenos. Deve-se ainda desligar

ser tolerados por mais de 2 horas

progressiva, a intolerância à

o equipamento antes de remover a

durante a fase de adaptação da VMNI,

ventilação ou o desenvolvimento de

máscara para minimizar dispersão de

desde que a situação clínica do

complicações relacionadas ao

gotículas. Note-se que o sistema

4

doente esteja a melhorar (tabela 1) .

tratamento exigem uma estratégia

CPAP-Boussignac poderá ser

Os parâmetros mais importantes a

alternativa . Manter a VMNI nestes

aplicado em doentes com suspeita

monitorizar durante a fase de

casos, atrasando a instituição da

ou confirmação de COVID-19,

adaptação ao VMNI são os gases

VMI, está associada ao aumento da

devendo-se introduzir um filtro HMEF

arteriais, a frequência respiratória, a

mortalidade .

ou um filtro de partículas de alta

1

6

experiência subjetiva de dispneia do

eficiência (HEPA) entre a máscara e o

doente e o seu nível de vigília . A

Na suspeita ou confirmação de

melhora da ventilação e perfusão

infeção pelo vírus SARS-COV-2

pode reduzir a frequência cardíaca.

Desde o início da pandemia SARS-

Equipamento para a VMNI em

No entanto, pode também haver um

COV-2, algumas questões foram

contexto pré-hospitalar

aumento em resposta ao aumento da

levantadas sobre os benefícios da

Os ventiladores selecionados no

pressão intratorácica e diminuição do

VMNI comparativamente ao risco da

transporte de doentes devem ter a

retorno venoso . O aumento da

aerossolização e consequente

possibilidade de fornecer terapêutica

pressão intratorácica pode diminuir o

aumento de infeções entre os

por CPAP e BiPAP e a equipa de

retorno venoso ao coração, levando a

profissionais de saúde.

profissionais de saúde que os

uma diminuição da pressão arterial.

Recentemente, várias publicações

manuseia deve ter um amplo

O desenvolvimento de hipotensão

relatam que a VMNI não é geradora

conhecimento sobre a fisiologia e

(pressão arterial sistólica <100

de aerossóis, mas sim dispersora

mmHg) ou hipoperfusão pode indicar

Assim, com o equipamento de

dispositivos mais antigos

a necessidade da redução das

proteção individual (EPI) adequado, e

apresentam muitas limitações no que

pressões administradas . Alguns

nas mãos de equipas experientes, é

diz respeito à duração da bateria,

aparelhos permitem a realização de

possível reduzir a taxa de intubação

ausência de modos ventilatórios

capnografia, com medições do CO2

sem aumentar o risco de infeções

4

1

1

sistema Boussignac.

12,13

.

mecânica da aplicação de VMNI. Os

39

Indice

2


adequados, ausência de precisão do oxigénio e pressões administradas, entre outras características. Os equipamentos mais sofisticados, de última geração, têm a capacidade de compensar fugas não intencionais, melhorando a sensibilidade de trigger, ou seja, a capacidade do ventilador em reconhecer o esforço inspiratório do doente, que por sua vez ajuda a eliminar a assincronia doente-ventilador. Estes equipamentos incluem ainda a possibilidade de mudar os doentes de VMNI para VMI sem alterar o

Figura 2. Ventilador Oxylog 3000® da Dräger

dispositivo e as conexões. A

atingindo uma FiO2 máximo de 80%.

saturação de oxigénio e o nível de

disponibilidade de uma bateria

Pesa 2,1Kg e tem uma bateria interna

dispneia2. O melhor candidato a

intercambiável permite prolongar o

com uma duração de cerca de 2

VMNI é o doente acordado, com

uso da ventilação mecânica sem

horas. O ventilador Oxylog 3000®

dispneia, que consegue colaborar

complicações.

permite administrar ventilação

(tabela 2).

Em ambiente de transporte pré-

invasiva e não invasiva de alto

hospitalar, as máquinas de VMNI

desempenho mesmo durante o

Insuficiência respiratória aguda

precisam de ser protegidas para

helitransporte, atingindo um FiO2

hipoxémica: A evidência de sucesso

evitar problemas associados a

máximo de 100%. Tem capnografia

da aplicação de VMNI neste tipo de

movimentos repentinos, como a

integrada, pesa 5,8Kg e tem bateria

situações é menos clara. No entanto

desconexão do circuito ou quedas

interna com uma duração de cerca de

existem estudos que demostram que

inadvertidas. Um perfil de alarme

5 horas.

a aplicação de VMNI em doentes puramente hipoxémicos reduz

altamente visível e audível com feedback rápido ajuda o médico a

Indicações e contraindicações

significativamente a frequência de

diagnosticar e tratar eventos

de VMNI no pré-hospitalar

intubação, a taxa de choque séptico e

adversos, como desconexões, fugas

A IRA é uma condição complexa, que

melhora a taxa de sobrevivência em

excessivas e apneias com risco de

pode resultar de alterações

comparação com a administração de

vida .

pulmonares ou não pulmonares. A

oxigenoterapia em altas

Atualmente, a título exemplificativo, a

insuficiência respiratória pode ser

concentrações5. É apropriado

equipa médica de emergência

parcial ou global. Pode resultar em

considerar VMNI em doentes com

pré-hospitalar do Algarve dispõe de

acidose respiratória aguda ou da

insuficiência respiratória, com SpO2 <

um ventilador Stellar 150® da

agudização de uma acidose

ResMed (representado na figura 1) e

respiratória crónica pré-estabelecida .

FiO2 a 60%1. Também se pode

de um ventilador Oxylog 3000® da

É fundamental recolher a informação

considerar a VMNI em doentes com

Dräger (figura 2). O ventilador Stellar

clínica que determinará a segurança

indicação para não intubar. Em caso

150® destina-se à utilização não

e o uso apropriado de VMNI. Os

de pneumotórax, tal como é prática

invasiva, permitindo a ventilação

elementos básicos incluem a idade

com a intubação oro-traqueal (IOT),

invasiva mediante a utilização de

do doente, antecedentes pessoais, as

este deve ser tratado antes de se

uma válvula de fuga. Permite a

queixas atuais, os sinais vitais, a

iniciar VMNI1. Existem situações,

3

Indice

administração de oxigénio a 30L/min,

40

90% apesar de uma administração de 3


ARTIGO DE REVISÃO II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

estas duas últimas opções seriam menos eficazes. No entanto, tem-se verificado que os doentes sob VMI têm períodos de intubação muito prolongados, com elevado insucesso na extubação e uma elevada mortalidade, particularmente em doentes com mais de 65 anos29. Assim sendo, tem sido recomendada uma abordagem de suporte respiratório escalonado por meio de estratégias não invasivas. Em contexto pré-hospitalar o objetivo é corrigir a insuficiência respiratória (SpO2 ≥ 92%) e estabilizar o doente.

Tabela 2.

Dada a escassez de estudos sobre

como a ARDS, em que o benefício da

apoiam o uso de VNI na asma são

COVID e VMNI em cuidados pré-

VMNI não foi estabelecido . Nestes

limitadas, a não ser que haja uma

hospitalares sugere-se adaptar as

casos o pulmão pode colapsar se a

sobreposição de asma e DPOC .

diretrizes aplicadas ao doente COVID

3

1

com falência respiratória aguda em

pressão positiva administrada for interrompida mesmo que por um

Edema agudo do pulmão

contexto hospitalar. Em primeiro

curto período de tempo. Uma das

cardiogénico: Atualmente existem

lugar deve-se tentar determinar a

vantagens da aplicação de VMI neste

claras evidências que demonstram a

gravidade clínica com base no grau

tipo de falência respiratória prende-

utilidade do CPAP, juntamente com a

de dispneia, SpO2, frequência

terapêutica médica padrão, no

respiratória e restantes sinais vitais.

tratamento de edema agudo do

Note-se que os doentes nem sempre

pulmão cardiogénico . O CPAP reduz

exibem um grau de dispneia

Insuficiência respiratória aguda

a pré e a pós-carga cardíaca, reduz o

compatível com a gravidade da

hipercápnica: A causa mais comum

esforço respiratório, melhora a

hipoxemia que apresentam. Caso o

de hipercapnia na IRA é a DPOC. Em

perfusão coronária e normaliza a

doente não responda à

contexto pré-hospitalar nem sempre

relação ventilação-perfusão. Se

oxigenoterapia convencional, está

é possível determinar os valores de

houver motivos para se suspeitar de

preconizada a instituição de

pH e PaCO2 pelo que a colheita dos

hipercapnia ou se se comprovar a

oxigenoterapia por cânula de alto

elementos da história clínica são

retenção de CO2 então deverá ser

fluxo, no entanto esta modalidade

fundamentais. A resistência elevada

favorecida a instituição de BiPAP.

não está disponível na maioria dos

administrar uma pressão constante . 4

4

equipamentos dos transportes de

das vias aéreas, a expansão dinâmica Infeção por SARS-COV-2: A

emergência pré-hospitalares. Assim

achatamento do diafragma podem

ventilação não invasiva tem sido

sendo, deve-se equacionar a

levar à rápida exaustão do doente .

fundamental no tratamento da

instituição de VMNI por CPAP com

Quando usada em combinação com

falência respiratória induzida pela

uma elevada concentração de FiO2.

a terapêutica médica, a VMNI por

COVID-19. No início da pandemia, era

Os doentes com patologias

BiPAP reduz a PaCO2, melhora o pH e

defendida a abordagem de intubação

hipercápnicas concomitantes

diminui a frequência respiratória na

precoce, em detrimento da CNAF e da

poderão beneficiar de BiPAP. Realça-

primeira hora após o início do

VMNI numa tentativa de minimizar o

se a importância de não atrasar a IOT

tratamento. As evidências que

risco de contágio e pela crença que

nos casos de falência terapêutica por

dos pulmões e o consequente 4

41

Indice

se com a possibilidade de


CNAF e/ou VMNI.

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COMISSÃO CIENTÍFICA

Meta-analysis’, Annals of Emergency Medicine,

43

Indice

25.


Indice

44


ARTIGO DE REVISÃO III | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

ARTIGO DE REVISÃO III

GESTÃO DA DOR EM SITUAÇÕES DE EXCEÇÃO Ana Aranha1,2; André Nogueira1,3; Isabel Pires1,4; Jorge Marques5; Mariana Pereira6 Estudante do Mestrado em Enfermagem área de Especialização Médico-Cirúrgica: A Pessoa em Situação Crítica; Hospital do Espirito Santo de Évora (HESE), EPE; 3 Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM); 4 Hospital Particular do Algarve (HPA), Alvor; 5 Professor na Escola Superior de Saúde – Instituto Politécnico de Portalegre; 6 Professora Adjunta na Escola Superior de Saúde – Instituto Politécnico de Setúbal 1 2

RESUMO

reconhecimento crescente que a dor é

measures, the options varied

Objetivo: Identificar as estratégias a

um fator que afeta negativamente o

according on the knowledge and

utilizar na gestão da dor aguda nas

prognóstico e aumenta o stress nas

skills of the teams, being described

vítimas em contexto de situações de

equipas. Dos diferentes métodos de

the use of nitrous oxide/oxygen,

exceção (SE). Metodologia: Revisão

gestão da dor, as medidas

methoxyflurane, morphine, fentanyl

da literatura através de pesquisa

farmacológicas foram as mais

and ketamine, through the different

realizada em base de dados

utilizadas.

routes of administration.2,6,7,8,9

EBSCOhost e PubMed e recurso a

nas SE permanece uma área de

Conclusions: Pain management in ES

guidelines de referência. Pretende-se

atenção devido à influência relevante

presents additional challenges which

responder à questão: Quais as

na promoção da saúde e bem-estar

require prior planning of resources

estratégias a utilizar na gestão da dor

futuro. Descritores: incidentes com

and interventions.2,8 There is growing

aguda em SE? Resultados: Aplicados

feridos em massa; dor.

recognition that pain is a factor that

3

7

2,6,7,8

2

critérios previamente definidos foram

negatively affects the prognosis3 and

selecionados cinco artigos.2,3,6,7,8

ABSTRACT

increases team stress.7 Of the

Discussão: Após o controlo da

Objective: To identify the strategies

different pain management methods,

hemorragia, a intervenção mais

to be used in acute pain management

pharmacological measures were the

comum nas SE foi o controlo

in victims of exceptional situations

most used.2,6,7,8 Acute pain

farmacológico da dor (15,2%),

(ES). Methodology: Literature review

management in ES remains an area

havendo referencia também a

through research on EBSCOhost and

of attention due to the relevant

medidas não farmacológicas.

PubMed databases, using reference

influence on health promotion and

Relativamente às medidas

guidelines. It is intended to answer

future well being.2 Descriptors: mass

farmacológicas, as opções variaram

the question: What are the strategies

casualty incidents; pain.

de acordo com o conhecimento e

to be used in the management of

competência das equipas , sendo

acute pain in ES? Results: Through

INTRODUÇÃO

descrito o recurso a óxido nitroso/

previously defined criteria five articles

No contexto dos cuidados de

oxigénio, metoxiflurano, morfina,

were selected.

emergência médica, SE é definida,

fentanil e cetamina, nas diferentes

hemorrhage control, the most

quando de forma pontual ou sustentada,

vias de administração.

common intervention in ES was

existe um desequilíbrio entre as

Conclusões: A gestão da dor em SE

pharmacological pain control (15,2%),

necessidades e os recursos disponíveis,

apresenta desafios adicionais pelo

there also was reference to non-

condicionando a atuação das equipas e

que requer planeamento prévio de

pharmacological measures.

determinando uma criteriosa

recursos e intervenções. Há um

Regarding pharmacological

coordenação e gestão de recursos.1

3,6

8

2,6,7,8,9

2,8

2,3,6,7,8

Discussion: After

3,6

45

Indice

9

A gestão da dor aguda


Indice

46


ARTIGO DE REVISÃO III | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

A dor é um sintoma complexo e

RESULTADOS

comum presente nas vítimas em SE, que requere tratamento em ambiente extra-hospitalar e/ou intra-hospitalar, de modo a prevenir sequelas adversas e melhorar o prognóstico.2 No entanto, a dor aguda, principalmente em contexto extrahospitalar, é frequentemente desvalorizada, existindo relatos de vítimas com dor sem intervenções para o efeito.3 Em Portugal, a gestão da dor nas SE impõe desafios adicionais a médicos e enfermeiros que, pela natureza da prática e competências inerentes, possuem um papel fulcral com vista a uma resposta eficaz e eficiente.4,5 METODOLOGIA Pergunta de investigação: Quais as estratégias a utilizar na gestão da dor

Esquema 1 – Estratégias de gestão da dor aguda

aguda em SE? Objetivo: Identificar as estratégias a

DISCUSSÃO

utilizar na gestão da dor aguda nas

Após o controlo da hemorragia, a

historicamente aos fármacos com

vítimas em contexto de SE.

intervenção mais comum nas SE

efeito analgésico mais usados;

Pesquisa: Com recurso aos

foi o controlo farmacológico da

existem outros fármacos

descritores em ciências da saúde

dor (15,2%), havendo referencia

disponíveis como a cetamina que

“mass casualty incidents” e “pain”,

também a medidas não

demonstrou conferir a analgesia

realizou-se pesquisa no mês de

farmacológicas.

pretendida com reduzido potencial

setembro de 2020 em motor de

As medidas farmacológicas

de risco associado, fazendo mesmo

busca EBSCOhost e PubMed, tendo

descritas variaram de acordo com

referencia à inexistência de outros

sido selecionados cinco artigos,

o conhecimento e competência

fármacos que detenham margem

após leitura do resumo, com

das equipas.

terapêutica igual ou superior.2,10

referência a intervenções de gestão

Os estímulos nociceptivos ativam a

Embora as equipas continuem a

da dor extra e/ou intra-hospitalar em

transmissão neuronal por múltiplas

recorrer com frequência às

artigos publicados de 2008 a outubro

vias, o que resulta em diversos

administrações intramusculares,

de 2020, redigidos em português e/

tipos de dor que respondem de

deve ter-se em conta que a

ou inglês. Foi ainda realizada, uma

forma diferente a várias estratégias

instabilidade hemodinâmica diminui

pesquisa alargada sobre o tema onde

terapêuticas, dependendo não só da

o fluxo sanguíneo periférico,

foi contemplado para este trabalho

seleção do medicamento, mas

levando ao início retardado de

as mais recentes guidelines sobre

também da via de administração.

esta matéria.9

Os opiáceos correspondem

7,8

2

absorção e ação.2

47

Indice

2,3,6,7,8

3,6


CONCLUSÃO

MENSAGENS A RETER

A gestão da dor em SE apresenta

• A dor aguda é frequentemente

desafios adicionais pela

desvalorizada, principalmente em

desproporcionalidade de recursos

contexto extra-hospitalar.3

humanos e materiais, extremos

• A gestão da dor em SE apresenta

ambientais, necessidade de

desafios adicionais pela

evacuações e limitações/ameaças

desproporcionalidade de recursos,

inerentes ao cenário, pelo que

extremos ambientais, necessidade de

requer planeamento prévio de

evacuações e limitações/ameaças.2,8

recursos e intervenções.

• As medidas farmacológicas foram

2,8

Há um reconhecimento crescente

amplamente utilizadas através da

que a dor é um fator que afeta

administração de fentanil, morfina e

negativamente o prognóstico, com

cetamina, diferenciando a seleção

especial enfoque nas vítimas com

com base no conhecimento e

trauma crítico. 3 Desvalorizar o

competência das equipas.2,6,7,8

tratamento da dor aguda nas SE aumenta o risco de incidência de

TAKE-HOME MESSAGES

dor crónica e perturbação de

• Acute pain is often undervalued,

stress pós-traumático 2,

especially in an out-of-hospital setting.3

contribuindo também para pior

• Pain management in ES presents

prognóstico das vítimas e

additional challenges due to the

aumento do stress nas equipas. 7

disproportionality of resources,

Dos diferentes métodos de gestão

environmental extremes, the need for

da dor, as medidas farmacológicas

evacuations and limitations/threats.2,8

foram as mais utilizadas, através

• Pharmacological measures were the

do recurso à administração de

most used, through the administration

fentanil, morfina e cetamina,

of fentanyl, morphine and ketamine. The

diferenciando-se a sua seleção

selection was based on the knowledge

com base no conhecimento e

and skills of the teams.2,6,7,8

competência das equipas.

2,6,7,8

A intervenção de médicos e enfermeiros nas SE são de extrema relevância, na medida em que as competências especificas e a experiência da prática clínica conferem uma excelente capacidade de avaliação e implementação.4,5 A gestão da dor aguda nas SE permanece uma área de atenção, uma vez que representa não só a resposta a uma necessidade imediata como também demonstra minimizar futuras complicações na

Indice

saúde e bem-estar.2

48


ARTIGO DE REVISÃO III | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

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EDITOR

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REVISÃO

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COMISSÃO CIENTÍFICA

49

Indice

1.


Indice

50


HOT TOPIC | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

HOT TOPIC

DOENÇA COVID-19 NO GRUPO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE Diana Castro1, Nuno Ferreira1, Luís Pereira1 1

Serviço de Medicina Intensiva do Centro Hospitalar de Leiria

RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃO

Na linha da frente da pandemia

On the frontline of the COVID-19

Em dezembro de 2019 surgiu, em

COVID-19 estão os profissionais de

pandemic are healthcare workers

Wuhan, a doença COVID-19

saúde com a tarefa de diagnosticar e

with the substantial task of

provocada pela infeção pelo vírus

tratar um número exponencial de

diagnosing and treating an

SARs-CoV 2. Rapidamente o vírus

doentes tendo, frequentemente, de

exponential number of patients, often

atingiu vários países, sendo a

tomar decisões difíceis e estar

having to make difficult decisions

COVID-19 declarada pela

expostos a um risco infecioso

and being exposed to an increased

Organização Mundial de Saúde

acrescido. De uma forma geral os

infectious risk. In general, the

(OMS) como pandemia a 11 de março

profissionais de saúde infetados são

infected healthcare workers are

de 2020 e provocando, nos meses

mais jovens, têm menos

younger, have less comorbidities and

consecutivos, pressão em todos os

comorbilidades e melhores

better outcomes. However, it’s

sistemas de saúde a nível mundial.

outcomes. Contudo, é essencial

essential to assess and ensure their

Desde o inico da pandemia que os

avaliar e assegurar o seu bem-estar

physical and psychological well-being

profissionais de saúde têm mostrado

físico e psicológico para que estes se

so that they remain at the frontline in

uma grande dedicação apesar do

mantenham na linha da frente no

combating the pandemic. The aim of

medo de se infetarem ou infetarem

combate à pandemia. O objetivo

this article is to review SARs-CoV 2

outras pessoas mais próximas. Estes

deste artigo é fazer uma revisão das

infections among the group of

são frequentemente expostos a um

infeções por SARs-CoV 2 entre o

healthcare workers, focusing on the

risco acrescido de contrair doenças

grupo de profissionais de saúde,

number of infections, which

infeciosas em comparação com a

focando o número de infeções, quais

professionals are at greatest risk and

população geral, ganhando este

os profissionais com maior risco e

which circumstances contribute to

assunto particular importância

quais as circunstâncias que

the increase in infection’s numbers

aquando do início desta pandemia.

contribuem para o aumento do

among this specific group.

Perante a sobrelotação dos hospitais

número de casos entre este grupo

tanto em termos de capacidade de

específico.

assistência e défice de recursos humanos em vários países, os profissionais de saúde são um grupo de alto risco pela tarefa de diagnosticar e tratar um número exponencial de doentes agudos infectados e pela escassez de equipamento de proteção individual Keywords: Pandemic; Health professionals; Health system;

(EPI). Esta particular preocupação

51

Indice

Palavras-Chave: COVID-19; Pandemia; Profissionais de Saúde; Sistema de Saúde;


Indice

52


com a infeção entre os profissionais

Individual (EPI’s), a maior

maioritariamente em mulheres e

de saúde deve-se ao facto de, se

acessibilidade a testes e capacidade

pessoal de enfermagem embora as

infetados, estes profissionais

de testagem, a otimização dos

mortes sejam mais no sexo

transmitem o vírus aos seus colegas

sistemas de triagem e a

masculino e na comunidade médica.

de trabalho e aos doentes internados.

implementação de novas medidas de

O grupo de profissionais de

A prevenção das infeções nos

controlo de infeção como o uso

enfermagem são o grupo com mais

profissionais de saúde é assim de

contínuo de máscara e rápida

infeções possivelmente devido aos

extrema importância para reduzir a

resposta em caso de surtos fez com

cuidados prestados aos doentes, a

morbilidade ou potencial mortalidade,

que a incidência entre profissionais

grande proximidade e intervenção

reduzindo a transmissão secundária

de saúde fosse maior nos três

longa com cada um dos doentes. Por

e mantendo a capacidade do sistema

primeiros meses, diminuindo após

outro lado, os enfermeiros são o

de saúde, evitando o colapso.

esse período e assemelhando-se ao

grupo de profissionais de saúde mais

O objetivo deste artigo é fazer uma

da população geral .

numeroso e quem faz uma grande

revisão das infeções por SARs-CoV 2

A primeira revisão sistemática de

parte dos procedimentos técnicos,

entre o grupo de profissionais de

Junho de 2020, quando a Europa e os

mantendo um grande contacto direto

saúde em todo o mundo, focando o

Estados Unidos da América estavam

com os doentes infetados. Dos dados

número de infeções, quais os

no epicentro da pandemia, teve como

analisados, a especialidade médica

profissionais com maior risco e quais

objetivo dar uma perspetiva global

com maior risco é Clinica Geral,

as circunstâncias que contribuem

das infeções e mortes por COVID-19

enquanto a especialidade de

para o aumento do número de casos

e demonstrou que o maior número de

enfermagem com maior risco é a

entre este grupo específico.

infeções e mortes por COVID-19 em

Saúde Mental, uma vez que em

Durante o confinamento, os

profissionais de saúde ocorreram na

muitos países estas especialidades

trabalhadores essenciais como é o

Europa enquanto o menor foi

têm um contato direto com os

caso dos profissionais de saúde, têm

verificado em Africa. O facto de,

doentes em visitas ao seu domicílio e

de manter a sua atividade

neste estudo, o continente Africano

ações na comunidade. Estes

profissional, não se podendo

registar de menor número de

números podem dever-se à menor

resguardar ou trabalhar a partir de

infeções e mortes deve-se,

disponibilidade, no início da

casa. Por este motivo, o

principalmente à falta de dados de

pandemia, de EPI’s sendo estes

distanciamento social inadequado

muitos destes países assim como o

destinados principalmente a

associado a uma maior exposição a

facto de estes não serem reportados,

enfermarias hospitalares com casos

doentes infetados é o grande

pelo que se devem interpretar estas

confirmados ou suspeitos de infeção

contribuidor para este problema .

estatísticas com as suas limitações.

por COVID-19, pela proximidade ao

Os estudos apontam um aumento do

Apesar do maior número de mortes

doente destas especialidades ou pelo

risco para os profissionais de saúde

ser reportado à Europa, o número de

grande fluxo de doentes nos serviços

que tratam doentes COVID-19

infeções na Europa foi tão alto que

de clinica geral. Assim, embora

verificando-se principalmente nos

foi a região com o menor case fatality

certas especialidades possam ser

primeiros três meses da pandemia.

rate. A 8 de Maio de 2020, Espanha

consideradas de alto risco devido à

Em termos absolutos o risco é

reportava o maior número cumulativo

exposição a secreções ou outros

relativamente baixo, sendo cerca de

de infeções COVID-19 nos

produtos altamente contagiosos

três vezes o risco de infeção por

profissionais, sendo seguida pela

(como a anestesiologia ou a

COVID-19 nestes profissionais em

Itália e pela Holanda, enquanto que

otorrinolaringologia) o risco de

comparação com a população geral e

Itália reportou o maior número

outras especialidades como a

duas vezes maior entre os familiares

cumulativo de mortes em

clinica geral e a saúde mental não

dos profissionais de saúde. O melhor

profissionais de saúde. Esta revisão

deve ser subestimado4.

acesso a Equipamentos de Proteção

aponta que estas infeções são

1,2

1,3

53

Indice

HOT TOPIC | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9


Indice

54


HOT TOPIC | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

Vários estudos demonstraram que os profissionais de saúde infetados são geralmente mais jovens e com menos comorbilidades relativamente à população geral, não estando associados a piores outcomes. Estes casos de infeção estão associados a doença menos grave e menor probabilidade de admissão em ambiente hospitalar, necessitar de cuidados intensivos, necessitar de ventilação mecânica invasiva ou de

Tabela 1 - Equipamento de Proteção Individual Respiratório (Adaptado da Norma 007/2020 - Prevenção e Controlo de Infeção por SARS-CoV-2 (COVID-19): Equipamentos de Proteção Individual)

morte. Um estudo levado a cabo no Reino Unido demonstrou que apesar da incidência de infeção ser superior à da população geral, o maior risco relacionou-se com contatos familiares desses profissionais no domicílio. Este estudo demonstrou ainda que existe um maior risco entre as auxiliares, terapeutas (fisioterapeutas, terapeutas da fala, etc) e jovens proximidade com os doentes4,5,6. Alajmi et al analisaram a experiência

Tabela 2 - Recomendações atuais para o uso de Equipamento de Proteção Individual em meio hospitalar (Adaptado da Norma 007/2020 - Prevenção e Controlo de Infeção por SARS-CoV-2 (COVID-19): Equipamentos de Proteção Individual).

na Mamad Medical Corporation, no

Relativamente ao nosso país, o

serviços da linha da frente foram

Quatar, entre Março e Junho de 2020

primeiro estudo português e um dos

organizados com prioridade

encontrando cerca de 4% do total de

poucos estudos internacionais sobre

relativamente aos restantes e, como

profissionais testados infetados com

a infeção COVID-19 entre os

tal, tiveram uma melhor performance,

o novo coronavírus. A conclusão

profissionais de saúde, realizado no

circuitos e protocolos de treino e

mais importante deste estudo é que

final de Julho do ano passado,

atuação melhor definidos assim

apenas 5% dos profissionais

aponta para um total de 2,63% de

como acesso ao EPI completo desde

referiram ter adquirido o vírus em

profissionais de saúde infetados,

a fase inicial da pandemia. Por outro

enfermarias dedicadas ao tratamento

sendo que estes apresentavam maior

lado, no início da pandemia, os

de doentes COVID-19, enquanto os

suscetibilidade nos estadios iniciais

doentes admitidos no hospital sem

95% restantes trabalhavam em

do surto COVID-19 (Março a Abril).

sintomatologia respiratória não eram

enfermarias não dedicadas à

Este estudo demostra que os

testados, o que originou vários surtos

COVID-19 contraindo a infeção pela

profissionais na linha da frente

e focos de transmissão nosocomial

exposição acidental a colegas ou

(trabalham diretamente com casos

da infeção. Outro estudo levado a

doentes assintomáticos . Daqui se

suspeitos ou confirmados de infeção)

cabo em Portugal teve como objetivo

retira a importância de usar EPI´s

têm um menor risco que os restantes

avaliar a perceção do risco de infeção

básicos e medidas de prevenção de

profissionais. Várias explicações

COVID-19 entre os profissionais de

infeção qualquer que seja o ambiente

podem justificar esta tendência

saúde e a população geral e mostrou

ou doentes a tratar em meio

nacional que se assemelha à

que 24% da população geral e 55%

hospitalar (ver tabela 1 e 2.)

observada nos restantes países – os

dos profissionais de saúde

7

55

Indice

médicos pelo maior contato e


Indice

56


acreditavam que estavam em risco

– Abordagem do doente com

casados, ter crianças com 12 anos

de serem infetados. Isto indica que

suspeita de infeção por SARs-CoV-2,

ou menos, nível de educação, anos

os profissionais de saúde têm a

para proteção dos profissionais do

de experiências profissional, ter

perceção de que estão em alto risco

INEM e tendo em conta a

problemas de saúde e o contato

comparativamente à população geral,

impossibilidade de diagnóstico de

direto com doentes infetados. Alguns

devido ao seu contato próximo com

infeção respiratória aguda grave

estudos identificaram os principais

casos suspeitos ou confirmados de

antes da observação médica,

fatores causais associados a esta

COVID-198,9.

considera-se como caso suspeito

problemática: (1) recursos limitados

Trabalhar numa Unidade de Cuidados

pré-hospitalar a presença de qualquer

nos hospitais; (2) ameaça de

Intensivos não está associado a um

dos sintomas determinados na

exposição ao vírus como um risco

aumento do risco de infeção apesar

definição de caso pela DGS. O

ocupacional adicional; (3) turnos

do volume de doentes que estes

elevado número de casos suspeitos

mais longos; (4) perturbações dos

serviços se depararam em período

de COVID-19 em Portugal traduz-se

padrões de sono; (5) desequilíbrio

pandémico. Tal se deve,

num número acrescido de doentes no

entre a vida social e profissional; (6)

provavelmente, à proteção

pré-hospitalar com potencial de

dilemas que surgem relativamente às

proporcionada pelo EPI completo ou

transmissão de infeção por

obrigações quanto ao doente e o

pela diminuição de contágio que

SARSCoV-2, obrigando à otimização

medo de exposição dos membros da

ocorre em estadios mais tardios da

da abordagem clínica pelos meios

família; (7) negligência das

doença, mesmo nos doentes críticos.

diferenciados. Este pode ser um

necessidades pessoais e familiares

O grande risco para os profissionais

momento potencial de infeção destes

com o aumento da carga de trabalho;

de saúde são os seus colegas de

profissionais, pela intervenção ativa

(8) falta de comunicação e evidência

trabalho ou os doentes nas fases

na comunidade e nos domicílios, quer

cientifica atualizada. É, por isso,

iniciais da infeção nas quais são

pelo elevado volume de doentes que

essencial prestar atenção ao bem-

assintomáticos ou pouco

este período contemplou. O real risco

estar destes profissionais11,12,13.

sintomáticos e, portanto, não se

destes profissionais não é conhecido,

Proteger os profissionais de saúde

levanta a suspeita de infeção, sendo

uma vez que ainda não há estudos

deve ser um elemento chave na

a carga viral elevada. O fato de o uso

que nos facultem dados.

resposta a qualquer situação

de EPI integral (fato de proteção

A preocupação com os casos de

pandémica. É essencial para o

integral ou bata impermeável; touca;

infeção entre os profissionais de

bem-estar dos profissionais de saúde

proteção de calçado; máscara FFP2;

saúde não deve ser o único motivo de

assim como para o sistema de saúde

proteção ocular com proteção lateral;

preocupação, os casos de burnout e

pelo papel fundamental que estes

luvas) ter sido sempre usado nas

ansiedade associadas a esta

desempenham – um aumento das

Unidades de Cuidados Intensivos, as

situação devem ser motivo de

infeções e mortalidade neste grupo

políticas de uso de EPI nas

preocupação, estudo e análise.

põe os doentes em risco e aumenta a

enfermarias sofreram algumas

Durante a pandemia, os profissionais

carga de trabalho nos profissionais

alterações ao longo do tempo. A

de saúde de todo o mundo

não infetados e impede a segurança,

tabela 2 apresenta a recomendações

experienciaram níveis de ansiedade,

eficiência e efetividade dos cuidados

atuais de uso de EPI no cuidado aos

depressão e stress pós-traumático

de saúde.

doentes hospitalares10.

muito superiores aos verificados

Durante a pandemia, houve uma

previamente. Os fatores

continuidade dos cuidados prestados

potencialmente associados a um

na emergência pré-hospitalar, tendo

nível de ansiedade e burnout mais

como objetivo uma assistência

elevado entre estes profissionais são

segura. Segundo a norma 03/2020

o sexo feminino, profissionais

57

Indice

HOT TOPIC | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9


Indice

58


CONCLUSÃO

pandémica, não sendo esta

COVID-19, devendo estes ser

Os profissionais de saúde podem ter

sintomatologia menos importante

priorizados a nível global tal como

uma incidência mais elevada de

que a própria infeção pelo vírus

tem vindo a acontecer desde o início

infeção principalmente por

SARS Cov-2. A falha no

da vacinação1,6,14.

exposições desprotegidas e/ou

reconhecimento da transmissão

São necessários mais estudos para

repetidas, aparentando ter, contudo,

nosocomial do vírus e na

perceber melhor a proporção de

doença menos grave e menor

mortalidade associada aos

profissionais de saúde expostos

mortalidade relacionadas com a

profissionais de saúde pode levar ao

que são infetados e os outcomes

idade mais jovem e menos

aumento da transmissão nos

associados incluindo efeitos

comorbilidades . Por outro lado, e

serviços de saúde e nas suas

económicos, capacidade de

não menos importante, deve-se estar

comunidades mais amplas. A

trabalho, efeitos sociais (como por

atento à situação de burn-out,

vacinação efetiva dos profissionais

exemplo cuidar dos filhos) e

depressão, stress psicológico e

de saúde deve ser uma preocupação

efeitos da transmissão nos

ansiedade que estes profissionais

e uma prioridade de todos os países

membros da família

experienciam durante a fase

que combatem a pandemia

2

59

Indice

HOT TOPIC | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9


Indice

60


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COMISSÃO CIENTÍFICA

61

Indice

BIBLIOGRAFIA


Indice

62


RUBRICA PEDIÁTRICA | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

RUBRICA PEDIÁTRICA

ABORDAGEM DO ESTADO DE MAL CONVULSIVO EM EMERGÊNCIA PEDIÁTRICA APPROACH TO STATUS EPILEPTICUS IN PEDIATRIC EMERGENCY Daniel M. Tiago1 1

Serviço de Pediatria – Centro Hospitalar Universitário do Algarve – Unidade de Faro, Portugal

RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃO E OBJETOS

O estado de mal convulsivo é uma

Convulsive status epilepticus is an

O estado de mal convulsivo (EMC)

situação emergente definida por

urgent medical condition defined by

corresponde a uma situação de

convulsão ou convulsões que se

one or multiple seizures extending

convulsão com duração superior ou

estendem além de 30 minutos, com

beyond 30 minutes that might cause

igual a 30 minutos, ou várias

possível lesão cerebral. O atraso no

brain lesions. The immediate

convulsões seguidas durante esse

tratamento além de 5 minutos

approach using the ABCDE algorithm

intervalo de tempo sem períodos

aumenta a probabilidade de evolução

and seizure treatment is essential to

inter-ictais de recuperação.1 É uma

para um estado refratário, sendo

avoid progression to refractory status

das emergências mais frequentes em

fundamental a abordagem rápida

epilepticus. It is important to identify

pediatria (17-23/100.000 na Europa e

segundo o algoritmo de emergência

and treat potentially reversible

EUA), com uma mortalidade a curto

ABCDE, com particular ênfase na via

causes. The management of

prazo de 3-9%.2 Está associado a

aérea. A anamnese é essencial para

convulsive status epilepticus in

alterações cognitivas e

tratar causas potencialmente

children implies the knowledge of the

desenvolvimento, epilepsia, e estados

reversíveis. A abordagem do mal

most frequent type of seizures

de mal recorrentes.2 Os primeiros 30

convulsivo implica o conhecimento

according to age. The choice of drugs

minutos correspondem ao período a

dos tipos de convulsões mais

depends on many factors, including

partir do qual surgem danos

prevalentes por idade. A escolha dos

available routes of administration,

neurológicos, pelo que o timing de

fármacos depende das vias de

past history of epilepsy, usual

atuação não deve ultrapassar 5-10

administração disponíveis, epilepsia

medication, other known conditions

minutos.3 Em 2015 a Task Force da

conhecida e historial terapêutico,

and history of use of illicit drugs.

International League Against

doenças prévias, consumo de

With this review we aim to highlight

Epylepsy (ILAE) definiu dois pontos

substâncias ilícitas, fármacos etc.

the importance of a rapid and

temporais chave: T1, intervalo de

Com este artigo pretendemos

effective approach when managing a

tempo para iniciar terapêutica; T2,

destacar a importância da abordagem

child with seizures in order to prevent

intervalo de tempo a partir do qual

rápida e eficaz nas crises convulsivas

refractory convulsive status

poderão surgir sequelas. Com base

para prevenir estados de mal

epilepticus and neurologic damage.

nisto, surge a definição de EMC

refratários e sequelas neurológicas.

atual:4 condição que resulta da falha dos mecanismos de interrupção da convulsão(ões), ou condição que resulta na iniciação de mecanismos que conduzem a convulsão(ões)

63

Indice

Palavras-Chave:convulsão, pediátrico, atempado

Keywords: seizure, pediatric, timing


Indice

64


RUBRICA PEDIÁTRICA | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

prolongadas para além de T1, e que,

Quanto à etiologia, as crises podem

crises não-epilépticas de origem

estendendo-se para além de T2,

ser por causas conhecidas

psicogénica, típicas em adolescentes

pode(m) gerar consequências

(estruturais, metabólicas, tóxicas,

com perturbação psiquiátrica. O EEG

neurológicas graves, através de

inflamatórias, infeciosas ou

pode ajudar a diferenciar.3

morte neuronal, lesão neuronal e

genéticas) ou criptogénicas.4 Quanto

alteração de circuitos neuronais. Na

à evolução, podem ser agudas (por

AVALIAÇÃO DO DOENTE

população pediátrica, os tempos T1 e

exemplo, encefalites ou

PEDIÁTRICO EM ESTADO DE MAL

T2 para as crises tónico-clónicas

intoxicações), não agudas (por

No doente pediátrico em EMC a

exemplo, pós-encefalites) ou

avaliação inicial deverá ser feita de

para 5 e 30 minutos, respetivamente.

progressivas (por exemplo, tumores

forma rápida e sequencial através do

Para crises focais com alteração do

cerebrais). A eletroencefalografia

algoritmo ABCDE9:

estado de consciência e ausência, T1

(EEG), se disponível, pode ser útil na

(A) e (B) Via aérea e Respiração:

e T2 não estão bem definidos,

categorização das crises,

podendo estender-se além dos 10 e

classificando-as quanto à localização

de Coma de Glasgow<8 ou

60 minutos, respetivamente.

do foco, atividade, morfologia, etc.

depressão respiratória

5

4

4

Essencialmente, um atraso superior a

Intubação orotraqueal se Escala

avaliar frequência respiratória, SpO2 oxigénio suplementar

10 minutos na terapêutica foi

CONSIDERAÇÕES GERAIS NA

associado a maior probabilidade de

ABORDAGEM DO DOENTE

(C) Circulação:

mortalidade (11 vezes), persistência

PEDIÁTRICO EM ESTADO DE MAL

da convulsão (2,6 vezes) e

Num doente em EMC é importante

hipotensão (2,3 vezes).

perceber rapidamente os seus

Este artigo tem como objetivo alertar

antecedentes: EMC prévias e

capilar, frequência cardíaca,

os profissionais de saúde sobre

fármacos utilizados; epilepsia com

pressão arterial.

EMCs na idade pediátrica, de modo a

má adesão terapêutica; fármacos

identificar e tratar precocemente,

anti-convulsivantes recém-

preenchimento vascular seguido

evitando agravamento do estado e

introduzidos; consumo de

de suporte inorópico/vasoactivo

sequelas neurológicas.

substâncias ilícitas que poderão

(D) Neurológico

interferir com fármacos anti-

caraterização da crise convulsiva

CLASSIFICAÇÃO E PADRÕES

convulsivantes. Por outro lado, a

caraterização das pupilas

ORIENTADORES NO ESTADO DE MAL

decisão sobre as vias de

avaliar glicemia e tratar

A classificação das crises no EMC é

administração nem sempre é

hipoglicemia (Bólus de dextrose

espelho da classificação geral das

simples. A via endovenosa é

a 10%, 5 mL/Kg ev)

crises convulsivas, dividindo-se em:

preferível, mas em alternativa

(E) Exposição

1) crises com sintomas motores e 2)

poderão considerar-se vias rectal

crises sem sintomas motores.

(diazepam), intranasal, bucal

2,6

4,7

As

colher sangue •

3

canalizar um acesso venoso,

avaliar tempo de perfusão

se compromisso hemodinâmico,

avaliar a temperatura – antipiréticos se febre

primeiras subdividem-se em 1a)

(midazolam), intramuscular

tónico-clónicas, 1b) mioclónicas, 1c)

(fosfenitoína, benzodiazepinas). Nas

focais-motoras, 1d) tónicas, 1e)

crises focais ou com preservação do

secundárias a traumatismo

estados hipercinéticos. As segundas

estado de consciência, pode-se

crânio-encefálico

podem ser 2a) com coma e 2b) sem

recorrer a fármacos anti-

A história clínica deve ser tal como

coma (ausências, focais e

convulsivantes orais (fenitoina,

descrito no ponto 3.

desconhecidas). Cada uma destas

levetiracetam, fenobarbital),

Exames complementares de

situações corresponde à forma de

reduzindo o risco de sedação

diagnóstico:

apresentação inicial e cabe ao clínico

excessiva.

glicémia

categorizá-las.

Por fim, é importante estar atento a

pesquisa de tóxicos no

3

8

avaliar semiologia de infeção

avaliar possíveis lesões

65

Indice

generalizadas foram estabelecidos


Indice

66


RUBRICA PEDIÁTRICA | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

sangue e urina •

gasometria

hemograma

ionograma

proteina C reactiva ± procalcitonina

doseamento de fármacos anti-convulsivantes (níveis sub-terapêuticos até 32%)10

punção lombar se suspeita de infeção do sistema nervoso central

EEG - despistar crises nãoepilépticas, atividade epiléptica latente (40% das crianças em estado grave).11

Os exames de imagem deverão protelados para a fase após estabilização10, sendo essenciais no primeiro episódio de mal convulsivo. TRATAMENTO DO DOENTE PEDIÁTRICO MAIS DE 28 DIAS EM ESTADO DE MAL Vários estudos3,12 têm demonstrado que acima dos 28 dias de vida, os fármacos de 1ª linha no EMC são o diazepam, lorazepam ou midazolam (figura 1), sendo vantajosos do ponto administração e estabilidade (tabela 1). Estes fármacos devem ser repetidos ao fim de 5 minutos se a convulsão persistir. Subsequentemente deverão ser usados o levetiracetam e, depois, a fenitoína.3,12 Após 30 minutos de convulsão, com o início dos fármacos de 4ª linha, o risco de depressão respiratória é elevado, devendo estes ser administrados em unidade de cuidados intensivos, eventualmente com recurso a intubação oro-traqueal. É importante referir que alguns

Figura 1 – Fluxograma de abordagem de um doente com mais de 28 dias de vida em EMC. *Fármacos de 3ª linha alternativos (em casos pontuais): valproato de sódio 20-40 mg/kg/dose ev (máximo 1g; pode ser repetido após 15 minutos) ou fenobarbital 20 mg/kg/dose (seguido de incrementos de 8-10 mg/kg a cada 30 minutos). **Os fármacos de 4ª linha deverão ser mantidos até verificação da supressão do padrão epileptiforme no EEG, com redução lenta e sempre sob monitorização da atividade elétrica. (Adaptado de (Wilfong A., 2020)

fármacos como o topiramato e

pelo que a abordagem do EMC requer a

lacosamida têm vindo a ser utilizados

identificação de etiologias

na idade pediátrica e em jovens

potencialmente tratáveis:13

adultos, mas ainda com pouca

encefalopatia hipóxico-isquémica,

evidência científica.3

infeções do sistema nervoso central, alterações metabólicas (hipoglicémia,

PARTICULARIDADES NA

hipocalcémia, hipomagnesémia, erros

ABORDAGEM DO ESTADO DE MAL

no metabolismo da piridoxina ou

NUM RECÉM-NASCIDO

biotina, etc). Relativamente à escolha

No recém-nascido, a crise convulsiva

dos fármacos anti-convulsivantes, não

poderá ser o único sinal clínico de

existe consenso.14,15 O fármaco de

patologia do sistema nervoso central

primeira linha mais usado é o

67

Indice

de vista farmacocinético, vias de


Tabela 1 – Fármacos utilizados na abordagem de um doente com mais de 28 dias de vida em EMC, e características farmacológicas. (Adaptado de (Wilfong A., 2020)

fenobarbital (dose de carga 20 mg/kg

TAKE-HOME MESSAGE:

TAKE-HOME MESSAGE:

ev, repetição em bólus de 10 mg/Kg ev

Early intervention is essential to

até máximo 40 mg/Kg em 24h), com

convulsivas em idade pediátrica

prevent refractory crisis and

uma eficácia de 50%. Este fármaco

é essencial para evitar situações

neurologic damage.

apresenta, no entanto, vários efeitos

refratárias e danos neurológicos.

The most prevalent type of

O tipo de crises mais prevalente

seizures is different according to

respiratória e sedação, e alterações

varia com a idade. Os fármacos e

age. The type of medication and

cognitivas a longo prazo.16 A fenitoína,

respetivas doses podem ser

its dosage can be different in

o midazolam, a lidocaína e o

diferentes na idade pediátrica.

children.

adversos: hipotensão, depressão

levetiracetam são os fármacos de segunda linha mais consensuais 15,17 CONCLUSÃO A abordagem do doente em EMC em idade pediátrica deve ser feita precocemente, através do algoritmo ABCDE, com recurso a fármacos anti-convulsivantes e tratamento de possíveis causas. A escolha dos fármacos anti-convulsivantes depende de múltiplos fatores, incluindo idade pediátrica, acessos e anamnese. A intervenção precoce, geralmente em contexto préhospitalar, é essencial para o controlo da crise e evitar a evolução para um estado refratário com sequelas.

Indice

A Intervenção precoce nas crises

68

É fundamental conhecer a

It is essential to know the

história do doente em convulsão

patient´s past history in order to

de modo a serem tratadas

treat reversible causes

causas reversíveis.


RUBRICA PEDIÁTRICA | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9

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COMISSÃO CIENTÍFICA

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Indice

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Indice

70


CASO CLÍNICO NEONATAL/TIP

CASO CLÍNICO NEONATAL/TIP

CARDIOPATIAS CONGÉNITAS: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Mafalda João Pereira1, Andreia J. Fernandes1, Íris Rocha e Oliveira1. 1

Serviço de Pediatria, Centro Hospitalar Universitário do Algarve – Unidade de Faro.

RESUMO

ABSTRACT

CASO CLÍNICO

Apresentamos o caso clínico de um

We present the clinical case of a

Recém-nascido de 7 dias de vida,

recém-nascido com suspeita de

newborn with suspected congenital

sexo masculino, filho de pais

cardiopatia congénita em que o

heart disease in which the Pediatric

ingleses, sem história familiar de

Transporte Inter-hospitalar Pediátrico

Interhospital Transport team of Faro

relevo, nomeadamente de patologia

(TIP) de Faro teve um papel

played a fundamental role in

cardíaca. Como antecedentes

fundamental na estabilização e

stabilizing and transporting the

pessoais, a salientar gestação mal

transporte do doente para o centro

patient to the referral center, where

vigiada, com ecografias do 1º e 3º

de referência, onde recebeu

he received adequate treatment.

trimestres descritas como normais e

tratamento adequado. As

Congenital heart defects are the most

serologias negativas no 1º trimestre.

cardiopatias congénitas são as

common birth malformations. These

Parto eutócico de termo, no domicílio,

malformações mais comuns. Estas

are divided in acyanotic and cyanotic.

sem intercorrências.

dividem-se em acianóticas e

The acyanotic defects do not present

Recorreu ao Centro de Saúde de

cianóticas. Nas acianóticas, como o

with cyanosis and become clinically

Odemira por sinais de dificuldade

próprio nome indica, não se verifica

evident when there is hemodynamic

respiratória (SDR) e cianose, que

cianose e são clinicamente evidentes

instability. The cyanotic defects

apresentava por períodos desde o

quando existe instabilidade

present with cyanosis due to right-to-

nascimento. Observada saturação

hemodinâmica. Nas cianóticas

left shunt.

periférica de oxigénio (SpO2) de 60%,

constata-se cianose por shunt

tendo sido ativada assistência

direito-esquerdo.

diferenciada, nomeadamente a equipa de viatura médica de emergência e reanimação (VMER) de Beja e TIP de Faro. À chegada da equipa TIP, constatou-se sopro sistólico no bordo esternal esquerdo e bordo hepático palpável 3cm abaixo do rebordo costal direito. Por suspeita de cardiopatia cianótica, iniciou oxigenioterapia, por continuous positive airway pressure Keywords: congenital heart disease; cyanosis; newborn.

(CPAP) e perfusão endovenosa de prostaglandina E1 (PGE1). Verificada

71

Indice

Palavras-Chave: cardiopatia congénita; cianose; recém-nascido.


Indice

72


CASO CLÍNICO NEONATAL/TIP

melhoria de SDR e subida de SpO2

permite a passagem do sangue entre

sistémica1,2. A sintomatologia, muitas

acima de 95%, com estabilização do

a artéria pulmonar e a artéria aorta.

vezes, está presente no período

doente. Transportado para centro de

Após o nascimento, o sangue precisa

neonatal6.

referência de patologia cardíaca, sem

de ser oxigenado através da

As mais comuns são conhecidas

intercorrências.

circulação pulmonar, com

como os “5 T’s”:

Na admissão hospitalar, realizou

encerramento habitual do CA. Se o

ecocardiograma transtorácico que

mesmo permanecer aberto, ou

revelou septo interauricular com

patente, o sangue pode contornar a

foramen oval patente, válvulas

circulação pulmonar .

Tetralogia de Fallot (é a mais frequente, 10% do total),

Transposição das grandes artérias (a mais frequentemente

4

tricúspide e pulmonar atrésicas e

diagnosticada ao nascer),

ventrículo direito hipertrofiado. Foi

Cardiopatias acianóticas:

Atrésia da válvula Tricúspide,

submetido a cateterismo de

Caracterizam-se pela ausência de

Tronco arterial comum,

intervenção [stent no canal arterial

cianose, sendo a manifestação

Retorno venoso pulmonar

(CA)] e posteriormente realizada

clínica mais habitual o sopro

cirurgia de Glenn (anastomose entre

cardíaco. Quando a malformação

Outras cardiopatias cianóticas

a veia cava superior e a artéria

condiciona instabilidade

incluem a síndrome do ventrículo

pulmonar direita). Mantém

hemodinâmica, torna-se evidente

esquerdo hipoplásico, atrésia

seguimento no Centro de Saúde e em

taquicardia, taquipneia,

pulmonar com ou sem defeitos do

Consulta de Cardiologia Pediátrica,

hepatomegália, diaforese, cansaço

septo ventricular e ventrículo direito

encontrando-se bem clinicamente.

com a alimentação, entre outros .

de dupla saída1,2,6.

anómalo Total.

1,3

Estão incluídos nesta classificação o As cardiopatias congénitas são

shunt da esquerda para a direita,

Durante o período neonatal é essencial

anomalias da estrutura ou função do

resultando num aumento do fluxo

corrigir a cianose. Se houver suspeita

sistema cardiovascular, presentes ao

sanguíneo pulmonar (como no canal

de fluxo sanguíneo dependente do CA,

nascimento e divididem-se em

arterial patente, defeito do septo

a infusão intravenosa de PGE1 a

cianóticas e acianóticas .

interventricular, defeito do septo

0,05-0,1 mcg/kg/min deve ser iniciada

São as malformações congénitas

interauricular) e as lesões obstrutivas

para abrir e/ou manter o CA patente

mais comuns, afetando 0.8-1% de

(como na estenose aórtica, estenose

enquanto se aguarda o diagnóstico

todos os nados-vivos, sendo mais

valvular pulmonar, coartação da

confirmatório6. Como evidenciado

prevalentes em filhos de mulheres

aorta), que geralmente têm fluxo

neste caso clínico, em que houve uma

sanguíneo pulmonar normal .

provável diminuição do calibre do CA

com a mesma patologia (4–10%)

1,2,3

.

2,5

A maioria dos casos tem etiologia

ao 7º dia de vida, diminuindo a

multifatorial, apesar de algumas

Cardiopatias cianóticas:

circulação pulmonar, a administração

lesões estarem associadas a

Podem coexistir vários defeitos

de PGE1 permitiu a estabilização

distúrbios cromossómicos, defeitos

estruturais, em que parte do retorno

cardiopulmonar até que fosse possível

de um único gene, teratogenia ou

venoso sistémico passa do lado

tratamento especializado.

doença metabólica materna . Podem

direito do coração para o esquerdo e

A atrésia pulmonar com septo

ser anomalias isoladas ou fazer parte

volta à circulação sistémica sem

interventricular intacto, a cardiopatia

de uma síndrome, como no caso da

passar pela pulmonar (shunt direito-

presente no caso apresentado,

trissomia 21, síndrome de Williams e

esquerdo) .

consiste na atrésia da válvula

síndrome de Turner .

A cianose, o sinal visível deste shunt,

pulmonar, com obstrução completa da

Na circulação fetal, o sangue não

ocorre quando aproximadamente 5g/

via de saída do ventrículo direito

necessita da circulação pulmonar

dL de hemoglobina desoxigenada

(VSVD), com vários graus de hipoplasia

para ser oxigenado. O bypass é feito

estão presentes na circulação

do ventrículo direito e da válvula

2

1

através do CA, uma artéria que

2,6

tricúspide. Tem uma incidência

73

Indice

1,2


Indice

74


CASO CLÍNICO NEONATAL/TIP

estimada de 4-8:100 000 nados-vivos e corresponde a cerca de 1-3% de todas

BIBLIOGRAFIA 1.

Cardíacas Mais Comuns.” Lições De Pediatria, vol.

as cardiopatias congénitas7.

II, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017,

Nesta entidade, durante a gestação, o CA é pequeno pois o fluxo sanguíneo

pp. 283–296. 2.

al., 8th ed., Elsevier, 2019. 3.

Heart Disease in the Adult.” Harrison's Principles

a persistência do CA é crucial para a

of Internal Medicine (19ª edição). McGraw Hill

sobrevivência, pois é a única fonte de

Education, 2015. 4.

heart.org/en/health-topics/congenital-heart-

Se não tratada, o encerramento do CA deterioração clínica, com acidose

defects/about-congenital-heart-defects/ patent-ductus-arteriosus-pda. 5.

cardiorrespiratória e morte7.

Rao PS. Management of Congenital Heart Disease: State of the Art – Part I — Acyanotic

metabólica grave, hipoxémia, convulsões, choque, paragem

American Heart Association. “Patent Ductus Arteriosus (PDA).” www.heart.org, 2021, www.

pulmonar (através da artéria aorta). geralmente resulta em rápida

Kasper, D. L., Fauci, A. S., Hauser, S. L., Longo, D. L. 1., Jameson, J. L., & Loscalzo, J. “Congetinal

VSVD. No entanto, após o nascimento,

suprimento sanguíneo da circulação

“Acyanotic Congenital Heart Disease.” Nelson Essentials of Pediatrics, Karen J. Marcdante et

fetal da artéria pulmonar através deste é limitado pela obstrução da

Pires, António, and Jorge Saraiva. “Doenças

Heart Defects. Children. 2019; 6(3):42. https:// doi.org/10.3390/children6030042 6.

Rao, P.S. Management of Congenital Heart Disease: State of the Art — Part II — Cyanotic Heart Defects. Children 2019, 6, 54. https://doi.

CONCLUSÃO Sublinha-se a importância de uma adequada vigilância durante a gravidez, do diagnóstico pré-natal, e

org/10.3390/children6040054 7.

Fulton, David R, Carrie Armsby. Pulmonary atresia with intact ventricular septum (PA/IVS), por David M Axelrod, and Stephen J Roth. UptoDate. Fevereiro 2021. EDITORA

da deteção precoce neonatal de sinais sugestivos de cardiopatia. A cianose central em recém-nascidos representa um sinal de alarme. É necessária uma intervenção rápida,

LUÍSA GASPAR Médica Pediatria

altamente especializada e, muitas vezes, life-saving. Tendo em conta que este doente se encontrava num

EDITOR

local remoto, distante do meio hospitalar, tornou-se vital a atuação da VMER/TIP, que perante a suspeita de cardiopatia cianótica, atuou em conformidade, com consequente

NUNO RIBEIRO Enfermeiro VMER TIP

estabilização do doente, possibilitando assim o seu transporte e consequente sobrevivência com

REVISÃO

bons resultados

75

Indice

COMISSÃO CIENTÍFICA


Indice

76


Indice

77


Indice

78


NÓS POR CÁ

NÓS POR CÁ

" A IMPORTÂNCIA DE COZINHAR CONVENIENTEMENTE A COMIDA... OU COMO UM MORCEGO MAL PASSADO PODE TRANSFORMAR A VIDA DO PACO, DO ZÉ, DA ISA E DE MAIS DE 6 MIL MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO ..." Daniel Nunez1 Diretor do Departamento de Emergência, Urgência e Cuidados Intensivos (DEUCI) do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA).

Este trabalho pretende apenas relatar

CRONOLOGIA

Dia 13 de março: O Paco reúne as

como foram vivenciados os dias num

DOS ACONTECIMENTOS:

tropas (O Zé, o JM, a Isa, a Mary ...)

Departamento de Emergência,

ainda sem máscaras FFP2 e tentam

Urgência e Cuidados Intensivos após

Timeline

ter sido decretada pela Organização

Dia 11 de março 2020 o que nós

Mundial da Saúde (OMS) a pandemia

considerávamos que poderia ser uma

Os doentes que possam chegar com

pelo Coronavírus (SARS CoV 2).

“gripe chinesa”, na realidade parece

sintomas compatíveis com infeção

Baseado em factos verídicos,

ser mais grave.

por COVID procedentes de áreas com

salienta-se que os nomes das

Aquilo que a DGS vem a público

casos confirmados onde vão ser

personagens tenham sido inventados

transmitir é que estamos seguros e

observados e por quem?

para proteger os intervenientes.

que o vírus nunca iria cá chegar, de

Quais são os critérios de

certa forma tranquilizando-nos.

internamento e alta?

OMS declara pandemia por SARS CoV2.

Se ficam internados aonde e quem

Dia 12 de março 2020: Entrada do

toma conta deles ?

primeiro doente para o quarto 5 da

Quando precisarem de cuidados

UCIP (Único quarto do Serviço de

intensivos onde ficarão alocados ?

Medicina Intensiva 1, nesta data,

Quando precisem de ser ventilados

com capacidade de isolamento

utilizamos o quê ?

respiratório de forma segura).

Quando a equipa dos intensivos

responder algumas questões:

fique doente quem vai manter os Nesta fase inicial apenas temos 14

cuidados ? (...)

camas de medicina intensiva nível III e 10 nível II e só 1 quarto de

Depois de duras negociações foi

isolamento, 16 ventiladores em todo

elaborado o primeiro Plano de

o hospital, monitores multifuncionais

Contingência (PC) delineando-se o

apenas para estas camas de nível III,

seguinte:

seringas e bombas infusoras em número insuficiente...

1. Tem que existir um circuito para

Olhamos para a televisão e aquilo

o doente respiratório (suspeito

que vemos em Itália e Espanha são

COVID) diferente ao circuito do

os doentes em macas espalhados

doente não respiratório, em que

pelos corredores dos hospitais.

este deverá estar no exterior.

79

Indice

1


Indice

80


NÓS POR CÁ

Custou muito no entanto em

E agora o que falta...

Adaptamos áreas do hospital entre

meados de abril foi

Recursos humanos. Poucos.

elas a Decisão Clínica mais 20

operacionalizado. (aldeia

Próximo desafio que se nos coloca;

camas, antiga Unidade de AVC mais

COVID).

formar mais pessoas, criar uma

9 camas, Unidade de Cirurgia de

equipa maior e melhor diferenciada.

Ambulatório mais 8 camas, em

gravidade, de alta e de

Equipas de enfermagem

Portimão abordagem das áreas de

internamento para os doentes

espetaculares, colegas de outros

Cirurgia de Ambulatório no total 18

COVID conforme orientações da

serviços que se voluntariam para

camas para COVID...

DGS. (Realizamos modificações

ajudar de forma desinteressada.

Conseguimos expandir de 23 camas

para adapta-los à nossa

Equipas de assistentes

para 72 camas de medicina intensiva.

realidade)

operacionais que deixam outros

2. São elaborados critérios de

3. Criam-se equipas específicas

serviços ou inclusive outros

Pediram-nos a Expansão da

dedicadas para cuidar estes

trabalhos para nos ajudar.

Medicina Intensiva em dezembro e

doentes.

Médicos internos que desde o

nós “invadimos” outras áreas dentro

primeiro dia se disponibilizam para

e fora do hospital, inclusivamente até

construir, em tempo record, um

fazer o que seja preciso.

foi aberto um polidesportivo (Arena

local onde alocar os doentes

Sem dúvida foi admirável ver como

Portimão) para receber doentes do

infetados COVID de forma segura

este grupo de pessoas trabalharam,

resto do país.

para estes e para os cuidadores.

cresceram e continuam a trabalhar.

4. Elaboramos um projeto para

(Em pouco mais de 4 horas

Agora em março de 2021 estamos

foram colocadas 2 portas e

Os dias passam ... o verão calmo

calmos, cansados, com a satisfação

adaptado o sistema de

com pouca praia ... mas ...

do dever e de missão cumprida...

ventilação da UCIP piso 2

Chegou o Natal e a “variante

Agora no horizonte vislumbra-se

passando a ter uma área para

britânica”.

mais uma onda ... Ok ... se tiver que

receber inicialmente 8 doentes

É nos pedida a “Expansão da

ser ... os surfistas algarvios

COVID e posteriormente até 15

Medicina Intensiva”, o País está à

estaremos prontos e operacionais

doentes).

beira do colapso... situação nunca

para a surfar

5. Foi apresentada uma proposta

antes vivida...

para a construção de uma UCIP

As equipas que combatem a

COVID reaproveitando as

COVID criam uma “irmandade

estruturas previamente

contra o COVID”.

existentes no hospital. (UCIP

“Ninguém vai ficar fora ... quando há

COVID piso 3 inaugurada em

um doente sem vaga na sua região é

agosto de 2020).

transportado para qualquer parte do País para o “acomodar”.

Transposto este problema de onde

É o tempo dos “comboios de

alocar os doentes permanece o

ambulâncias” em direção ao

problema de como garantir o suporte

centro, norte ou sul.

ventilatório.

EDITORA

Agora que temos recursos técnicos

muitas madrugadas a falar chinês,

para tratar os doentes, faltam-nos os

conseguem os recursos técnicos

recursos humanos, os existentes

necessários para dar resposta às

conseguem “aguentar”, contudo,

necessidades da região e de outras

mais uma vez, não temos é espaço

partes do País.

suficiente para os alocar...

CATARINA TAVARES Enfermeira VMER Heli INEM

81

Indice

O Paco, o Dr. ABC e Dra. SUCH, após


Indice

Pedro Rodrigues

82


NÓS POR CÁ

NÓS POR CÁ

LINHA DO TEMPO NA RESPOSTA À PANDEMIA COVID-19 - HOSPITAL DE PORTIMÃO Amélia Gracias1, José Sousa2,4, Monique Cabrita3,4 Enfermeira Supervisora Unidade Hospitalar Portimão; Médico da VMER de Portimão 3 Enfermeira da VMER de Portimão, 4 Elementos integrantes do Grupo Responsável pela Formação das VMER do Algarve 1 2

13.03.2020

abertura do Hospital de Campanha -

Organização Mundial de Saúde como

Esgotada capacidade internamento

COVID ARENA

pandemia internacional, no dia 11 de

Faro. Pedido para abertura de unidade

março de 2020. Desde então, várias

de internamento COVID em Portimão

Estabelecido circuitos elevadores e

13.03.2020

circuitos de circulação internos

medidas têm sido adotadas para conter

18.03.2020

a expansão da doença.

Preparação do Internamento

Neste contexto as organizações

Especialidades médicas para a

Início Reuniões diárias do grupo

adotaram medidas para reorganização

abertura do Internamento COVID A,

operacional

dos recursos humanos e materiais

com a Transferência do Internamento

afetos à prestação de cuidados de saúde

de Gastroenterologia para Cirurgia 2-A

Montagem do contentor 10 (doentes

no sistema de saúde e no Serviço

e transferência do Internamento de

respiratórios) no Serviço de Urgência

Nacional de Saúde para garantir a

Pneumologia para Medicina 3-B.

segurança na abordagem clínica,

avaliação e tratamento dos doentes com suspeita ou infeção confirmada por

18.03.2020

18.03.2020

23.03.2020

13.03.2020

Abertura Sala de Emergência COVID

Abertura do Internamento COVID A

(pressão negativa)

13.03.2020

28.03.2020

SARS-CoV-2.

Preparação abertura do Internamento

A reorganização das unidades de saúde

Covid B, com a transferência dos

veio permitir o bloqueio da cadeia de

Cuidados Paliativos para o serviço de

Montagem de tendas com pressão

transmissão da SARS-CoV-2, a proteção

Ginecologia. Transferência do

negativa: 1 Urgência Geral e 2

dos profissionais de saúde e a redução

Internamento de Ginecologia para a o

Medicina 3-B

do risco de contágio de outros doentes.

Internamento de Obstetrícia •

PREPARAÇÃO DE ESTRUTURA DE RESPOSTA COVID

- CHUA PORTIMÃO •

Unidade Hospitalar de Faro •

21.04.2020

23.04.2020 Reunião planeamento da retoma da

Abertura do Internamento COVID B

atividade assistencial

14.03.2020

11.05.2020

Pré-triagem e Triagem passa a ser

Retoma da atividade cirúrgica Bloco

realizado em tendas no Serviço de

Central •

18.05.2020

17.03.2020

Retoma da atividade cirúrgica Cirurgia

constituída como de Referência

Estabelecimento de circuitos de

do Ambulatório – 1 sala

12.03.2020

urgência na Unidade de Cuidados

Publicado Plano de Contingência

Intensivos (UCI)

Reabertura gradual das Consultas

17.03.2020

Externas

para abordagem à COVID-19 Unidade Hospitalar de Portimão

14.03.2020

Urgência Geral e Urgência Pediátrica

10.03.2020

Abertura UCI COVID

18.05.2020

Reunião Proteção civil preparação da

83

Indice

A COVID-19 foi declarada pela


Indice

Figura 1 – Modulo Funcionamento Posto de Triagem Serviço de Urgência de Adultos

Figura 2 - Circuito COVID Serviço de Urgência Contentor 10 – doentes respiratórios e sentados

Figura 3 - Circuito COVID Serviço de Urgência –doentes respiratórios e acamados

Figura 4 – Circuito COVID Serviço de Urgência Pediátrica - Contentor Serviço de Urgência Pediátrica

Figura 5 - Serviço de Internamento COVID A

84


NÓS POR CÁ

18.05.2020

das colheitas programadas

Encerramento UCI COVID

internamente

Internamento Cirurgia 2-B passa

26.10.2020

novamente a internamento de

Criado Gabinete de Crise

cirurgia

18.05.2020

Encerramento Internamento COVID B •

18.05.2020

Sala de Triagem do Serviço de

necessidade internamento em

Urgência Geral passa a funcionar em

Cuidados Intensivos aguardam

módulo exterior ao hospital, onde

resultado zaragatoa na sala 3 (Quarto

anteriormente funcionava a cafetaria

12.02.2021

23.12.2020

Montagem contentor de doentes

Abriu Internamento COVID B

respiratórios e acamados no Serviço

10.01.2021

de Urgência

no Serviço de Urgência Pediátrica

Encerrou Drive-Thru Arena

08.06.2020 •

12.01.2021

12.02.2021

20.03.2021 Encerramento do Internamento Covid A

para receção de casos suspeitos,

Abriu Internamento COVID C no

doentes positivos são transferidos

serviço de Medicina 3-B

O planeamento estratégico e a

13.01.2021

organizacional revelaram-se

06.07.2020

Abriu UCI NÃO COVID no Serviço de

fundamentais para garantir o sucesso na

Abertura do Drive-Thru na Unidade de

Cirurgia do Ambulatório

resposta à pandemia. Esta constituiu um

13.01.2021

desafio para a instituição e compeliu a

realização das colheitas

UCI COVID estende-se e passar a

um esforço conjunto de todos os

programadas internamente

ocupar também a UIDA

profissionais conduzindo à utilização de

28.01.2021

estratégias adaptativas para o combate

Inicio Preparação 2ª e 3ª Vagas

Abertura Internamento Medicina

à mesma.

09.07.2020

Interna no Hospital S. Gonçalo em

As estratégias adaptativas mostraram-

Internamento COVID B Desativado

Lagos

se efetivas e fundamentais para dar uma

12.01.2021

resposta satisfatória aos utentes que

UCI COVID recebe doentes positivos

Cirurgia 2-B passa a receber doentes

acorrem à nossa unidade hospitalar.

com necessidade de cuidados

de Medicina

O Plano de Contingência para a

05.02.2021

preparação da próxima vaga já foi

necessidade de cuidados

Preparada mais uma UCI COVID

aprovado pelo Conselho

intermédios.

no BO

de Administração

06.07.2020

09.07.2020

09.07.2020

10.02.2021

UCI NÃO COVID entra em

UCI COVID BO desativado e

funcionamento na UIDA (Unidade de

Regresso BO •

15.02.2021

11.10.2020

Encerrou Hospital de Campanha

Internamento COVID A passa a

COVID Arena

receber doentes positivos •

Reabriu Drive-Thru Arena

10.01.2021

Internamento de doentes agudos) •

23.02.2021

Montagem contentor circuito Covid

intensivos e doentes com

ARENA

Portimão para dar resposta à

Encerramento Internamento COVID B

Reabertura capacidade cirúrgica total

para a Unidade Hospitalar de Faro

26.02.2021

Abriu Hospital de Campanha COVID

Internamento Covid A aberto apenas

19.02.2021

08.06.2020 ambulatório

25.05.2020 Abertura Consultas Externas

27.10.2020

Doentes suspeitos COVID com

Isolamento) da UCI Não COVID •

para manter resposta à realização

15.02.2021 Encerrou Internamento COVID UIDA

14.10.2020 Abertura Drive Thru no Pavilhão Arena

EDITORA

19.02.2021 Encerrou Internamento COVID C

CATARINA TAVARES Enfermeira VMER Heli INEM

85

Indice


Indice

86


NÓS POR CÁ

NÓS POR CÁ

COVID-19 ARENA PORTIMÃO: “UM AMOR EM TEMPOS DE GUERRA” Maria Inês Simões1 Assistente Hospitalar em Medicina Interna; CHUA-UHPortimão

Esta história começou no dia 8 de

H), com 8 camas cada (numeradas

tínhamos um Hospital de Campanha

Janeiro de 2021, para outros tinha

de 1 a 8), viria a permanecer a

completamente operativo e no dia

começado quase um ano antes. É a

maioria dos doentes que admitimos.

10 de Janeiro admitimos os

história do Hospital de Campanha de

As restantes camas estavam

primeiros doentes.

Portimão: o Internamento Covid-Arena.

distribuídas por boxes individuais, na

A partir daí, até ao encerramento a 15

O Portimão Arena situa-se no Parque

zona posterior a essa área de

de Fevereiro, foram 35 dias de muita

de Feiras e Exposições de Portimão.

trabalho. Lateralmente, a área de

adrenalina, intensidade e entre-ajuda.

Abertas as portas em Setembro de

doentes agudos, com capacidade

A equipa médica era constituída por

2006, nunca esta estrutura de

para 4 doentes com monitorização

dois especialistas, coordenadores

arquitectura moderna e vanguardista

eletrocardiográfica contínua. Era

(eu, Internista, e a Dra. Ana Ferreira

pensou que a versatilidade que se lhe

dotada de um monitor-

Castro, presidente do CA e

apregoava serviria, também, para ser

desfibrilhador, dois ventiladores

Oncologista), por alguns clínicos

transformada em Hospital de

para ventilação invasiva e dispunha

gerais e internos da formação geral e

Campanha em meados de 2020, para

de 6 ventiladores para ventilação

específica (Psiquiatria, Reumatologia,

fazer frente a uma pandemia.

não invasiva.

Pediatria e, pontualmente, Cirurgia

Não sei precisar, mas penso que terá

No dia 9 de Janeiro de 2021, Sábado,

Geral e Patologia Clínica). Cerca de

sido em Abril de 2020 que a

com o número crescente de casos a

15 dias depois, no âmbito do

Protecção Civil Municipal e a Câmara

nível regional e nacional e atingida

programa de estágios opcionais,

Municipal de Portimão, decidiram

75% da capacidade de internamento

integraram a equipa os alunos de

montar um Hospital de Campanha

no CHUA, houve necessidade de

medicina da UALG. Em termos de

como estrutura de retaguarda para o

activar esta estrutura e montar o que

funcionamento de enfermaria, a parte

que se antevia, com base nos relatos

faltava para que um Hospital de

médica foi organizada de modo a que

de outros países europeus. Foi

Campanha pudesse operar. Nesse

o coordenador tivesse a

utilizado o Portimão Arena e foi

sentido, os consumíveis e fármacos

responsabilidade de discutir os casos

equipada uma estrutura capaz de

foram transportados do Hospital de

com todos os internos e alunos e

alocar 100 doentes, com uma área

Portimão para o Portimão Arena. Em

definir os planos para cada doente.

com capacidade para receber

termos de stocks, foi usado como

Era necessário que o coordenador

também doentes agudos/críticos.

exemplo o internamento COVID-A de

soubesse sempre tudo sobre todos

Esta estrutura, geometricamente

Portimão. Nesse dia e no dia

os doentes. Para mim essa foi a

desenhada, foi pensada de modo a

seguinte, foram colocadas as roupas

parte mais angustiante, tentar aliar o

ter uma zona central – área de

nas camas (provenientes do CHUA e

perfeccionismo e a excelência dos

trabalho – constituída por vários

de doações), foi montado o armazém,

cuidados a um cenário de guerra,

postos de trabalho, farmácia e

os circuitos de sujos e limpos. Foi

com o terror de pensar que pudesse

armazém. Em frente a esta, uma zona

tratado do sistema informático

falhar alguma coisa, privando algum

com 8 divisórias (identificadas de A a

(sistema VPN). Em menos de 24h,

doente dos cuidados adequados.

87

Indice

1


Indice

88


NÓS POR CÁ

A equipa de enfermagem e de

Chegámos, inclusivamente, a receber

o encerramento do Covid Arena. Para

assistentes operacionais foi

doentes a necessitar de VNI na altura

trás deixámos lembranças de

recrutada de vários serviços.

em que houve a rotura do sistema de

doentes, de famílias, deixámos

Chefiada pela Enf. Monique Cabrita,

oxigénio do Hospital Fernando da

muitas vidas que conseguimos

foram organizados à semelhança do

Fonseca e os mesmos acabaram por

devolver às suas casas, ao seu

que acontece noutras enfermarias,

ter alta para o domicílio. Tivemos

aconchego, ao seu lar. E aos que isso

com a diferença de que eram rácios

também aquilo que considero ter sido

não foi possível, conseguimos dar a

muito abaixo do desejável. Destaco

a grande mais valia deste

dignidade que mereciam no final da

ainda o papel essencial do Serviço

internamento, as ‘visitas virtuais’.

sua vida.

Social, principalmente quando a

Através de videochamadas,

Feitas as contas, tivemos 170

maioria dos nossos doentes não era

conseguimos tornar mais pessoal e

admissões, demos 117 altas,

do Algarve.

humanizada, uma experiência que

transferimos 31 doentes (para outras

Os primeiros dias, diria que as

poderia ter sido aterradora.

enfermarias do CHUA por

primeiras duas semanas, foram as

Houve alturas de medo. Lembro-me,

agudização, por intercorrência –

mais complexas. O material inicial

por exemplo, ao início, quando

enfarte, hemorragia digestiva, ...),

fora decidido com base no que a Enf.

fazíamos a contagem do tempo e das

falecerem 22 pessoas. Recebemos

Monique e eu achávamos que

reservas de oxigénio que

40 doentes do HFF, 22 do HGO, e os

poderia vir a ser necessário, com

dispúnhamos, praticamente de hora

restantes de enfermarias COVID do

base na nossa experiência no

a hora, dia e noite. Até ter sido

CHUA, Beja, Santiago do Cacém,

internamento COVID. Com o tempo

instalado o circuito de oxigénio, foi o

Elvas, Portalegre, Barreiro, Setúbal,

fomos percebendo algumas

mais aterrador. Foi assustadora, por

Loures e Vila Franca de Xira.

necessidades acrescidas e

exemplo, a noite em que estava

O Covid Arena foi, em jeito de resumo

dificuldades adicionais. Posso dizer

previsto recebermos 20 doentes da

e para tentar descrever aquilo que se

que no início, valeu-nos muito o

área de Lisboa e não havia reservas

foi sentindo por lá, viver sempre com

exercício que tínhamos feito com o

de oxigénio nem para os que já lá

a emoção à flor da pele. Foi dedicar

INEM sobre intervenção em

estavam internados. A Enf. Monique

tempo, abdicar da vida cá fora, e

catástrofe, no simulacro do

foi, às 2h da manhã, para o Hospital

dedicar-nos e cuidar muito uns dos

aeródromo em Fevereiro de 2020, no

de Portimão, arrecadar todas as

outros e daquelas pessoas. Foi ter a

que toca a gestão de prioridades e

balas de oxigénio disponíveis. No

certeza que fizemos o melhor que

organização de circuitos. O Covid-

fundo estas pessoas vinham para o

sabíamos com o pouco que

Arena foi mesmo isso:

Hospital de Campanha porque

tínhamos. E foi principalmente

essencialmente um exercício de

careciam de internamento, a maioria

agradecer a oportunidade que foi

gestão de prioridades. Tínhamos a

por necessidade de oxigenoterapia, e

poder viver isto tudo desta maneira

ideia, que se revelou errada, que não

estávamos a ficar sem ele. O COVID-

tão especial

conseguiríamos salvar (muitas)

Arena foi muito isto: antecipar

vidas. Por isso urgia definir

problemas e tentar resolvê-los,

estratégias. Com a falta de recursos

porque o que fosse para correr mal,

que tínhamos (principalmente

era certo que ia correr.

humanos) e com o que se adivinhava,

Em termos pessoais, senti que ao

era impossível fazer medicina

início as pessoas estavam

‘normal’. Felizmente, graças ao

contrariadas e com medo. Durou uns

CHUA, à protecção civil, à Câmara

dias. Poucos. Depois da fase de

Municipal de Portimão, à AMAL, a

estranheza inicial, garanto que todos,

voluntários, em termos de recursos

até os menos sentimentais e

materiais não nos faltou nada.

emocionais, ficaram nostálgicos com

EDITORA

89

Indice

CATARINA TAVARES Enfermeira VMER Heli INEM


Indice

90


EMERGÊNCIA INTERNACIONAL

EMERGÊNCIA INTERNACIONAL

A PANDEMIA NA ILHA DO PRÍNCIPE ENTREVISTA AO ENFERMEIRO JOÃO FERNANDES Caros Leitores, Nesta edição da rubrica “Emergência Internacional” iremos viajar até à Ilha do Príncipe e tentar perceber como funciona o sistema de emergência local bem como o plano elaborado para responder à pandemia por COVID-19. Iremos conhecer o Enfermeiro João Fernandes que nos irá partilhar a sua história de vida e o seu percurso profissional, ele que é um dos muitos enfermeiros portugueses pelo mundo. Os Editores.

LIFESAVING (LS) - Boa Tarde João.

António (HGSA) foi na área de

Urgência e Emergência pela

Antes de mais agradeço imenso teres

Neurologia e Unidade de AVC onde

Universidade do ICBAS e

aceitado o nosso convite e poderes

estive quase 5 anos, e onde

Universidade de Barcelona, e onde

responder às nossas questões. Como

regularmente ia fazendo estágios no

tive a oportunidade de tirar formação

pergunta inicial pretendemos que nos

INEM e formações na área da

em resgate na montanha e resgate

explicites o teu percurso profissional,

Emergência. Após várias tentativas

aquático por exemplo. Finalmente em

o teu curriculum, e de que forma é que

de transferência sempre negadas eis

2014 surge a primeira missão em

a área de urgência e emergência

que aparece a oportunidade de partir

Kibera na maior favela do mundo, no

apareceu no teu percurso profissional.

numa primeira missão para São

Kenya, onde fui sozinho como

João Fernandes (JF) - Comecei a

Tomé e Principe e a qual me foi

voluntário colaborar com

trabalhar em 2001 após concluir a

negada pelo diretor do hospital onde

organizações locais na resposta

minha licenciatura em Enfermagem,

trabalhava. Naquele momento

médica a crianças sem acesso a

sendo que no último ano tinha estado

percebi que não teria a liberdade para

cuidados de saúde de qualidade.

em Erasmus em Oviedo, onde tive a

escolher o meu caminho e em

Naquele momento senti que não

minha primeira experiência em

parceria abri o meu próprio negócio

tinha sido eu a escolher o sonho, mas

Urgência, pois realizei estágios

com a minha sócia Elisa Quintela,

o sonho que me escolheu a mim.

profissionais no serviço de Urgência,

uma clínica médica e uma empresa

Seguiram-se 6 meses em Bafáta na

Cuidados Intensivos e SAMU, que é a

de formação para profissionais de

Guiné-Bissau com os Médicos Sem

entidade de emergência pré-

saúde chamada Workapt, onde

Fronteiras, em emergência pediátrica

hospitalar de referência em Espanha,

desenvolvemos formação na área da

que foi a experiência mais

seguindo-se por último o estágio final

emergência essencialmente. Dentro

impactante na minha vida e onde tive

em SU em Portugal. A partir daí sabia

dos projetos que fomos criando

de liderar uma equipa de 23

que a Urgência e Emergência era a

lancei a marca ES24 que tinha como

enfermeiros locais, com os quais

área que mais me identificava e me

uma das suas valências a assistência

aprendi muito também. A partir daí

poderia levar a realizar o meu sonho

médica a eventos e onde a

surge novo convite, desta forma

de fazer missões internacionais de

emergência volta a surgir, muito

através de uma empresa chamada

emergência. No entanto a

também pela influência de um grande

HBD- Her Be Dragons que tem como

oportunidade de trabalho que surgiu

amigo e profissional Ruben Santos,

objetivo fazer da ilha do Principe um

no antigo Hospital Geral de Santo

com quem tirei o Mestrado em

exemplo de eco-sustentabilidade

91

Indice

Eva Motero e Rúben Santos


para o Mundo, e com a qual me

Mundo, pois ainda estive largos

sofria de constantes ataques

identifiquei de imediato. O meu papel

meses em Guadalupe num projeto

terroristas pelo grupo Al-Shabaad, um

era reconhecer os principais riscos

diferente de cuidados primários.

grupo extremista somáli, tendo feito

Indice

que colaboradores e turistas tinham

na altura evacuar todas as

na ilha e criar um espaço para

(LS) - De que forma é que chegas à

embaixadas internacionais pois

estabilização e evacuação de

emergência internacional e como foi

Nairobi essencialmente era uma

pacientes urgentes, assim como dar

a tua primeira missão?

cidade insegura. Quando cheguei foi

assistência médica a todos

(JF) - A minha primeira missão surgiu

quando tudo começou a acontecer,

colaboradores da empresa e suas

por iniciativa própria pois sentia que

mas felizmente eu estava em Kibera,

famílias, assim como apoiar a

não podia esperar mais e tinha de

a maior favela de África onde não há

Hospital Local com formação e

partir. Investiguei, soube de uma

um número exato de pessoas lá a

capacitação e dar assistência a

portuguesa que tinha uma

viver mas que se pensa ser

todas as pessoas que necessitem de

organização de apadrinhamento de

aproximadamente 1 milhão. Kibera é

cuidados de saúde de qualidade.

crianças em Kibera no Kenya

um local impactante, milhares de

Dentro da empresa temos

chamada From Kibera With Love,

pessoas refugiadas de países

desenvolvidos vários projetos

liderado pela corajosa Marta Baeta,

vizinhos, uma favela onde existe

internos e também de cariz social,

com quem falei e percebi que a saúde

muita violência de género, lixo, falta

onde com mais 2 espetaculares

é altamente negligenciada e onde

de condições básicas sanitárias,

colegas, a Mariana Carmo e o Márcio

poderia ser um ponto de partida. Fiz

muito pobre e onde as crianças são

Silva, temos feito períodos de rotação

as malas, carregadas de material de

muito vulneráveis em todos os

ao longo do ano. Desta forma divido

saúde e kits de rastreio de HIV e

aspetos. Em Kibera, deves voltar para

o meu tempo entre Portugal com a

parti. Nesse dia tinha percebido que

casa cedo, a noite é bastante

minha empresa, Principe e pelo

tudo ia mudar. Foi em 2014 e o Kenya

perigosa, há tiros e gritos frequentes

92


EMERGÊNCIA INTERNACIONAL

nas ruas. Na verdade, eu tenho uma

infantil que na altura era de

nós. É evidente que o dia da

imagem um pouco diferente, senti

aproximadamente 20%, sendo a

despedida da nossa família é o que

que fui bem recebido pelas pessoas,

Malária a principal causa de morte.

mais custa, mas quando chegamos

“Karibu, Karibu”, significa bem vindo,

Foi a experiência da minha vida, mas

conhecemos a nova família

diziam-me sempre, a sua simplicidade e

mudou a minha perceção sobre a

temporária e acima de tudo quando

resiliência eram admiráveis e as

morte e fez-me ver o quão

nos entrosamos no sentido da missão

crianças simplesmente enchiam-me o

afortunados somos, pois em

tudo se torna mais leve e fácil de gerir.

coração de amor e coragem. Era por

condições normais, como em

elas que ali estava e deram-me muito

Portugal, tínhamos conseguido salvar

(LS) - Invariavelmente teremos de

mais do que alguma vez lhes poderei

praticamente todas elas. No entanto

falar na Pandemia que nos assombra

dar. Muitas infeções respiratórias,

fez-me desenvolver a aceitação de

e falamos da Ilha do Príncipe. O que

muitas diarreias, muito HIV entre outras,

que fiz tudo o que era possível e

nos podes contar dessa aventura,

fazia o que podia com o que tinha e

impossível para salvar aquelas

como chegaste aí e o que tens

antes de partir estabeleci uma parceria

crianças, e isso preenche-nos o

desenvolvido?

com uma clinica local, onde faria

coração com o sentimento de dever

(JF) - Eu cheguei precisamente no

doações à clinica e esse espaço seria

comprido ainda que doa não termos

momento que tudo começou, em

responsável por dar assistência a todas

salvo mais crianças. Para terem a

Março de 2020. A Pandemia já

as crianças da organização da Marta,

noção, o nosso equipamento de SAV

assustava o Mundo e sabíamos

que peço a todos para visitarem nas

era um insuflador manual, uma

inevitavelmente que ia chegar cá

redes sociais. E foi assim o princípio da

ampola de Adrenalina, um aspirador

também. Desta forma a primeira

minha aventura Humanitária.

de secreções de pedal e um

coisa a fazer foi sensibilizar todos os

concentrador de oxigénio que tinha

hotéis e residenciais locais a

(LS) - Existe algum tipo de

de ser partilhado para mais 6

fecharem, de maneira a diminuir o

preparação que costumas realizar

crianças, mas ainda assim reduzimos

fluxo de passageiros entre as ilhas,

antes de partires para missão?

a taxa de mortalidade de 20% para

São Tomé e Principe, reduzindo assim

(JF) - Bom para além das vacinas e do

2% e isso diz tudo sobre o sucesso

a porta de entrada a potenciais

check up geral, leio bem sobre a missão,

da missão.

infetados que entrassem na ilha. Era

sobre o País a sua cultura e tradições. É

Pelo caminho, já passei por Kibera na

inevitável que isso ia acontecer e foi

importante adaptarmo-nos o mais

maior favela do Mundo no Kenya,

preferível fechar por responsabilidade

depressa possível para podermos

Bafatá na Guiné Bissau e desde 2016

do que por consequência.

rapidamente dar o melhor de nós.

em rotações na ilha do Principe em

Foi então criado o Comité de Crise à

São Tomé e Principe. Pelo meio tive

Resposta ao COVID 19, liderado pelo

(LS) - Qual o momento que mais te

também uma experiência nas

Srº Presidente da Região Autónoma do

marcou em missão, podes

Antilhas Francesas mas fora o

Príncipe (RAP), onde eu e a minha

descrever? Quais foram os países

contexto de missão de emergência.

colega Mariana fizemos parte como conselheiros e membros ativos na

onde já trabalhaste? (JF) - O momento que mais me

(LS) - Quais as dificuldades que

resposta, apoiando diretamente na

marcou foi num só dia ter visto mais

sentes (em missão) e como as

construção do plano de resposta,

crianças a morrer que em toda a

consegues ultrapassar?

formação dos profissionais de saúde,

minha carreira como enfermeiro.

(JF) - As principais dificuldades são

desenho do hospital de campanha, um

Estava em Bafatá na Guiné, onde

sempre os primeiros dias de

centro de operações 116, e

trabalhei com os Médicos Sem

adaptação ao país diferente e com

transformámos um resort num espaço

Fronteiras numa missão de

raízes culturais distintas, mas que

de isolamento de idosos e pessoas

Emergência Pediátrica em que o

depois se torna algo “normal” para

vulneráveis. Tudo isto foi possível

93

Indice

objetivo era diminuir a mortalidade


Indice

94


EMERGÊNCIA INTERNACIONAL

graças ao apoio continuo e

meses aproximadamente,

iniciando pelos profissionais de saúde e

incondicional de Mark Shuttleworth

acompanhados por equipas do staff da

profissionais na 1ª linha, assim como

que para além de ter disponibilizado o

HBD devidamente treinadas e com uma

idosos com comorbidades de risco.

resort, investiu em EPI´s e material

capacidade de encaixe emocional muito

Estes 20% estão já garantidos através

médico para que os profissionais de

grande e que têm muito mérito no

do programa COVAX, restando agora

saúde estivem devidamente equipados

sucesso da resposta na 1ª vaga.

encontrar parceiros para financiar a

e protegidos. A equipa de saúde local

Durante a primeira vaga tivemos 29

compra e implementação das vacinas

liderada pelo Drº Sylvio Vera Cruz, e

casos na ilha, todos provenientes de um

que representam os 50%

com a qual colaborámos sempre

voo de repatriamento entre ilhas e a

remanescentes a serem aplicados em 3

juntos, foi na minha opinião a grande

qual contivemos através do isolamento

fases até ao início de 2022.

responsável pela contenção do vírus

dos passageiros em residenciais

na primeira vaga.

preparadas e vigiadas pelo exército

(LS) - Como funciona a emergência

durante 21 dias. Como não tínhamos na

pré-hospitalar na Ilha do Príncipe?

(LS) - Podes descrever quais os

altura capacidade de testagem

(JF) - A emergência pré-hospitalar não

recursos de saúde que existem na

tínhamos de colocar toda a gente em

existe. O Hospital tem uma ambulância

ilha e o trabalho que desenvolveste

quarentena, pois os testes PCR eram

tripulada por um motorista e um

na luta contra a COVID-19, descrever

todos enviados para fora. Após esse

maqueiro com formação muito básica

o plano que implementaram?

período o Principe teve 100 dias sem

mas sem competências em emergência

(JF) - O plano consistiu essencialmente

registar nenhum infetado, sendo que

pré-hospitalar. A formação básica que

pressionar ao estado de emergência de

com o desconfinamento e com o Natal,

possuem foi ministrada pelo nosso

modo a fechar os pontos de entrada no

o vírus voltou a chegar à ilha e conta

departamento a nível de trauma e

aeroporto e porto, ativar a linha de apoio

atualmente com um total de 61 casos e

primeiros socorros, no entanto, existe o

e triagem 116 de modo a encaminhar

0 mortes. Atualmente temos uma

sonho de capacitar e melhorar as suas

potenciais suspeitos para os locais de

capacidade de testagem superior, com

competências e recursos num futuro

avaliação, tornar o hospital de

testagem PCR disponível, mas ainda

próximo e iniciar um projeto de

campanha, que era um jardim de

assim limitada, mas acredito que o

qualificação pré-hospitalar na Ilha do

infância, prático e com um circuito

diferencial de casos entre ilhas se

Principe. Recentemente ministramos

seguro e capaz de responder até a um

justifica pela implementação da

em parceria com a Workapt e HBD, uma

número máximo de 30 doentes. Depois

obrigatoriedade de realização de testes

formação certificada em TATU -

foi feito um trabalho de sensibilização

antigénio entre ilhas que ajudou muito

Triagem, Avaliação e Tratamento de

em toda a ilha, sobre higiene

na triagem de infetados a chegaram ao

pessoas Urgentes, a todos os

respiratória, lavagem de mãos,

Principe. Continuamos na luta apesar

profissionais de saúde no Principe. No

reconhecimento de sintomas e uso de

de atualmente existir uma descrença

fundo é uma abordagem ao doente

máscara, que eram produzidas na

perigosa e negligente por parte de toda

urgente e emergente através da

própria ilha, ajudando assim também o

a população que não está a cumprir

sistematização ABCDE.

comércio local. É importante referir que

com o as medidas nem com o uso

o príncipe não dispõe de cuidados

obrigatório da máscara.

intensivos ou ventilador, a capacidade

(LS) - Por último, pedimos que nos

de resposta a situações de urgência e

(LS) - No que respeita à vacinação,

que encontras em cenário de missão,

emergência é limitada por isso

têm algum plano implementado?

qual foi a tua aprendizagem em todos

sabíamos que tínhamos de prevenir

(JF) - O programa de vacinação está já

estes contextos e uma mensagem final

acima de tudo. Em paralelo

definido e tem como target 70% da

que queiras deixar aos nossos leitores.

transformamos um resort num centro

população. Será dividida em 4 fases,

(JF) - Em primeiro lugar partir em

de isolamento de idosos e pessoas

sendo que a primeira fase tem como

missão deve ser uma decisão tomada

vulneráreis onde tiveram durante 4

objetivo vacinar 20 % da população

com o coração e intuição, mas

95

Indice

descrevas quais os pontos positivos


Indice

96


EMERGÊNCIA INTERNACIONAL

também com a consciência clara que

amor que recebemos. Fazemos amigos

é acima de tudo uma aprendizagem

para a vida. É uma experiência que nos

profissional e Humana a um nível

muda para a vida, não pela viagem ao

completamente diferente a que

outro lado do Mundo mas pela viagem

estamos habituados. Temos de estar

que fazemos dentro de nós.

preparados para sair fora da zona de

O meu conselho é vão se isso é um

conforto, mas para mim isso é bom.

sonho para vocês, não fiquem

Somos imersos num ambiente em

eternamente à espera do momento

que as pessoas têm histórias de vida

certo porque a vida é isso mesmo, um

profundas, com tradições antigas,

momento, e a ir vão com quem

onde falam vários idiomas e

realmente faz a diferença e isso sou

vivenciam a morte desde muito novos.

muito claro. Médicos Sem Fronteiras,

Somos imersos num ambiente onde a

estamos onde mais ninguém quer

escassez de recursos, as condições

estar e aproveito para sensibilizar

de vida básicas por vezes não existem

todos os leitores a apoiar esta ONG

e os padrões culturais vão desafiar a

que faz a verdadeira diferença por

nossa capacidade de encaixe,

todo o Mundo

desenrasque e resiliência, mas onde encontramos nos nossos colegas de

EDITORA

EVA MOTERO Médica VMER

EDITOR

Muito obrigado pelo teu contributo.

missão a nossa força e aquele No entanto, o mais positivo são as incríveis pessoas que conhecemos, os laços que criamos com os povos, e o

Um forte abraço, Ruben Santos Eva Motero

RÚBEN SANTOS Enfermeiro VMER

97

Indice

empurrão extra para continuar.


NÓS POR CÁ

REVISÃO ESTATÍSTICA DE 1 ANO DE COVID-19 Ana Isabel Rodrigues1, André Abílio Rodrigues2,3, Solange Mega2,3 Médica VMER1, Enfermeiro VMER2; Enfermeiro SIV3

Passado 1 ano dos primeiros casos de infeção por COVID-19 diagnosticados em Portugal, decidimos realizar a presente revisão estatística, com o objetivo de caracterizar as ocorrências ao longo deste último ano, das VMER`s de Faro e Albufeira. Para o efeito utilizámos o período de tempo compreendido entre 1 de Março de 2020 e 28 de Fevereiro de 2021.

QUESTÃO 1: QUAL O GÉNERO E A FAIXA ETÁRIA MAIS REPRESENTATIVA NESTE PERÍODO DE TEMPO? Tendo como base os gráficos 1 e 2, podemos verificar que o género mais frequente nas ocorrências de ambas as VMER`s foi o masculino, com 56% para a VMER de Faro e 57% para a VMER de Albufeira. O intervalo de idades mais comum, também para ambas as VMER`s, encontra-se compreendido entre os 81 a 90 anos, correspondendo a 21,7% de ativações para a VMER de Faro e 17,6% para a VMER de Albufeira. Pode-se verificar que mais de um terço das ativações

Gráfico 1: Distribuição das ocorrências por género

ocorre nas faixas etárias compreendidas entre 71 a 90 anos, e representam 39% do total de ocorrências para a VMER de Faro e a 33,7% para a VMER de Albufeira.

Indice

Gráfico 2: Distribuição das ocorrências por faixa etária

98


NÓS POR CÁ

QUESTÃO 2: QUAL FOI O TIPO DE OCORRÊNCIA MAIS FREQUENTE? Ao efetuarmos a revisão estatística verificámos que o tipo de ocorrência mais frequente, para ambas as VMER`s, foi a Paragem Cárdio-respiratória (PCR), representado 30% das ocorrências da VMER de Faro e 22% na VMER de Albufeira, seguida da Alteração do estado de consciência (AEC) e da Dor torácica.

Gráfico 3: Tipo de ocorrências mais frequentes, de 1 de Março de 2020 a 28 de Fevereiro de 2021

QUESTÃO 3: QUAL A PERCENTAGEM DE VÍTIMAS TRANSPORTADAS PARA UMA UNIDADE DE SAÚDE? Tendo como base o gráfico 4, podemos verificar que a maioria das vítimas foram transportadas para uma unidade de saúde, correspondendo 66% e 69% para a VMER de Faro e Albufeira respetivamente. Gráfico 4: Percentagem do transporte das vítimas

QUESTÃO 4: QUAL A PRINCIPAL CAUSA DA VÍTIMA NÃO TER SIDO TRANSPORTADA? A principal causa do não transporte em ambas as VMER`s foi a morte, representando 80% para a VMER de Faro e a 75% para a VMER de Albufeira.

99

Indice

Gráfico 5: Percentagem das causas do não transporte das vítimas


QUESTÃO 5: DAS VÍTIMAS TRANSPORTADAS PARA UMA UNIDADE DE SAÚDE QUAL A PERCENTAGEM DAS QUE TIVERAM ACOMPANHAMENTO MÉDICO Avaliando o Gráfico 5 podemos verificar que, das vítimas que foram transportadas a uma unidade de saúde, apenas 42% necessitaram de acompanhamento médico na VMER de Faro, e 28% na VMER de Albufeira.

Gráfico 6: Percentagem das vítimas que foram transportadas e que tiveram acompanhamento médico

QUESTÃO 6: SENDO A PCR A OCORRÊNCIA MAIS FREQUENTE AO LONGO DESTE ANO DE COVID, EXISTIU ALGUMA VARIAÇÃO MENSAL SIGNIFICATIVA AO LONGO DESTE ANO? Tendo por base o gráficos 6, podemos verificar que a VMER de Faro teve a sua maior percentagem de ativações para PCR em janeiro de 2021 (12%). Por outro lado, a VMER de Albufeira teve 3 meses com maior prevalência deste tipo de ocorrência: Abril de 2020 (14%); e agosto de 2020 e janeiro de 2021, ambos com 16%.

Indice

Gráfico 7: Ativações para Paragem Cárdio-respiratória

100


NÓS POR CÁ

das vítimas foram transportadas, e

“Assim, nós por cá… poderemos

destas só 28% tiveram a necessi-

concluir que, neste primeiro ano de

dade de acompanhamento médico.

pandemia COVID-19, as VMER`s de

Verificamos também que o tipo de

Faro e Albufeira foram ativadas

ativação mais frequente para

maioritariamente para vítimas do

ambas as VMER`s foi a Paragem

sexo masculino e com idades

Cárdio-respiratória, representado

compreendidas entre 71 e 90 anos.

30% do total de ocorrências da

Em ambas as VMER, a maioria das

VMER de Faro, e 22% na VMER de

vítimas teve a necessidade de ser

Albufeira. O pico de ativações para

transportada para uma unidade de

este tipo de ocorrência, nas duas

saúde. Na VMER de Faro 66% das

viaturas médicas, ocorreu em

vítimas foram transportadas, das

janeiro de 2021, coincidente com o

quais 42% tiveram a necessidade de

registo de maior número de novos

acompanhamento médico. No que

casos confirmados de infetados

concerne à VMER de Albufeira, 69%

com o SARS-COV-2

EDITOR

ANDRÉ ABÍLIO RODRIGUES Enfermeiro SIV/VMER

EDITORA

SOLANGE MEGA Enfermeira SIV/VMER

EDITORA

ANA ISABEL RODRIGUES Médica VMER CODU

101

Indice

ASSIM, NÓS POR CÁ…


FÁRMACO REVISITADO

ROCURÓNIO

Inês Pires Sousa1,2 Interna de Formação Específica de Anestesiologia do Centro hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) Médica VMER de Vila Nova de Gaia

1 2

O rocurónio é um relaxante

de acção intermédia. O início de ação

FORMAS DE APRESENTAÇÃO

neuromuscular não despolarizante.

está dependente da dose utilizada.

- Ampolas: 50 mg/5 mL (10 mg/mL) e

Estruturalmente é uma amina

Assim, a dose de 0.6 mg/Kg permite

100 mg/ 10 mL (10 mg/mL)

monoquaternária e produz o seu

condições de intubação em 90

efeito clínico antagonizando a

segundos. Por outro lado, uma dose

CONSERVAÇÃO

acetilcolina na placa motora, atuando

de 1.2 mg/Kg permite condições de

- Validade de 3 anos – quando

sobretudo nos receptores nicotínicos

intubação em 60 segundos, podendo

refrigerado - mantido a temperaturas

pós sinápticos e impossibilitando

assim ser utilizado em contextos de

entre os 2 - 8 ºC

assim a contração muscular. O

intubação de sequência rápida.

- Validade de 12 semanas – quando

relaxamento muscular obtido –

A grande vantagem do rocurónio

retirado do frigorífico - mantido a

curarização - proporciona condições

sobre todos os fármacos da mesma

temperaturas 8 – 30ºC

ótimas para abordagem invasiva da

classe é a existência de um

via aérea e para a realização de

composto reversor – sugammadex. A

FARMACOCINÉTICA E

determinadas técnicas cirúrgicas.

administração de 16 mg/kg de

FARMACODINÂMICA:

Pode também ter indicação no

sugammadex permite a reversão

Mecanismo de ação: O rocurónio, bem

contexto de ventilação mecânica

imediata do efeito relaxante,

como os restantes relaxantes

invasiva de curta duração ou como

inclusivamente minutos após a

neuromusculares não

resgate em determinados contextos

administração de bólus de rocurónio.

despolarizantes, é um antagonista da

de ventilação invasiva de longa

Assim, este composto tem utilidade

acetilcolina na placa motora. Atua

duração. No entanto, o relaxamento

em contexto de rotina, em doses

sobretudo nos receptores nicotínicos

muscular tem como consequência

mais baixas, para a retoma de uma

pós sinápticos da placa motora

fisiológica evidente a perda total da

adequada contração muscular e

impedindo a ligação da acetilcolina e

capacidade de ventilação e proteção

possibilidade de extubação

consequente propagação do

de via aérea funções que terão,

controlada e segura dos doentes. Por

potencial de ação, impossibilitando

forçosamente, de ser providenciados

outro lado, em todos os contextos,

assim a contração muscular. Algum

pelo responsável pela administração

caso não seja possível assegurar a

efeito clínico é apreciável quando

do fármaco.

adequada ventilação e proteção de

80% dos recetores estão ocupados e

Em termos práticos e,

via aérea após administração do

o bloqueio completo ocorre quando

comparativamente aos restantes

fármaco, a existência de reversor

pelo menos 92% dos recetores estão

relaxantes neuromusculares não

afigura-se como uma segurança, por

ocupados. Para além disso, atua

despolarizantes, o rocurónio tem um

forma a evitar eventos críticos.

também nos receptores nicotínicos

início de ação rápida e uma duração

pré-sinápticos da placa motora. Estes

Indice

respondem à acetilcolina num

102


FÁRMACO REVISITADO

mecanismo de feedback positivo

INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS

IDADE PEDIÁTRICA

mobilizando mais moléculas de

E POSOLOGIA:

- Estudos nesta população foram

acetilcolina quando estimulados. A

O rocurónio é utilizado em vários

realizados entre os 3 meses e os 14 anos

ligação dos relaxantes musculares

contextos com o objetivo de obter

não despolarizantes inibe este

paralisia muscular – curarização.

Bloqueio neuromuscular para

mecanismo, impedindo a mobilização

Uma vez que este fármaco não tem

intubação endotraqueal, cirurgia ou

de acetilcolina após uma primeira

inerente qualquer efeito em termos

ventilação mecânica

estimulação dos recetores.

de consciência, sedação ou analgesia

Indução de sequência rápida:

deve ser sempre utilizado em Absorção: Após bólus único EV, tem

conjunto com outros fármacos que

início de ação rápido e dependente

atuem nas funções supracitadas.

bólus de 1.2 mg/Kg •

da dose (entre 60 a 90 segundos),

Intubação traqueal: *

Dose inicial: bólus de 0.6 mg/Kg

*

Dose de manutenção (se

com duração de efeito entre 30 e 70

ADULTO

necessidade de manutenção

minutos (dependente da dose).

Bloqueio neuromuscular para

do relaxamento muscular)

intubação endotraqueal, cirurgia ou

Bólus 0.075 to 0.15

Metabolismo: Metabolismo hepático

ventilação mecânica

mg/kg – a repetir

mínimo. O 17-desacetilrocurónio é o

conforme necessidade

Indução de sequência rápida: bólus de 1.2 mg/Kg

principal metabolito ativo e mantém

Intubação endotraqueal:

Perfusão contínua: 7 a 12 mcg/Kg/min

embora esta atividade pareça ser

*

Dose inicial: bólus de 0.6 mg/Kg

clinicamente irrelevante.

*

Dose de manutenção (se

Obesidade

necessidade de manutenção do

- Recomenda-se o cálculo da dose a

relaxamento muscular)

utilizar por Kg de peso ideal

Distribuição/Eliminação: tem uma

ligação às proteínas plasmáticas de

Bólus 0.1 a 0.2 mg/Kg

cerca de 30%. É um fármaco hidrofílico

– a repetir conforme

com baixo volume de distribuição com

necessidade ◊

consequente acumulação no tecido

• *

É eliminado primariamente por

Sexo masculino: Peso ideal= 50 + 0.91(altura-152);

Perfusão contínua: 10 a

*

12 mcg/Kg/min

adiposo pouco significativa.

Peso ideal

Sexo feminino: Peso ideal= 45.5 +0.91 (altura-152)

- No doente extremamente obeso

metabolização hepática. Excreção nas

Curarização/ paralisia

considerar calcular a dose por Kg

fezes (31%) e na urina (26%).Atravessa

em contexto de cuidados intensivos

com base no peso ajustado

a placenta e pequenas doses são

- Indicações: utilizar até 48 horas em

encontradas no sangue umbilical.

doentes com ARDS com ratio <150

Não necessita de ajuste de dose na

ou doentes com shivering (resultante

disfunção renal ou hepática.

de medidas de arrefecimento ativo)

Grávida

No entanto, nestes doentes, a duração

Dose inicial: bólus de 0.6 a 1 mg/Kg

- Estudos nesta população são

de ação do fármaco pode estar

Dose de manutenção: perfusão

limitados: utilizar durante a gestação

contínua 8 a 12 mcg/Kg/min

quando o benefício supera o risco

aumentada e, consequentemente, o

Peso ajustado = [0.4 × (Peso real – Peso ideal) + Peso ideal]

tempo até reversão do bloqueio pode

- Monitorização: inicialmente a cada

- Utilização de dose de indução rápida

ser superior.

2-3 horas até dose de perfusão

na cesariana urgente não está aprovada

estável; a partir daí a cada 8-12 horas - Incrementos: ajustar dose de

Efeitos adversos:

manutenção com incrementos de 10%

Em termos clínicos, apesar de não ter efeito simpaticomimético directo, o rocurónio pode ter algum efeito

103

Indice

5 a 10% da atividade do fármaco,


Indice

104


FÁRMACO REVISITADO

vagolítico, quando usado em altas

Pontos-chave:

doses, provocando taquicardia e

- O rocurónio é um relaxante

hipertensão ligeiras. Também é possível

neuromuscular não despolarizante de

a ocorrência de hipotensão, ainda que

início de ação rápido e tempo de

transitória.

duração de ação intermédio;

Tem potencial de libertação de

- Na dose de 1.2 mg/Kg permite obter

histamina baixo e a ocorrência de

condições de intubação em cerca de

reacções anafilácticas é <1%. No

60 segundos com duração do

entanto, foram descritas algumas

bloqueio de cerca de 60 minutos;

reacções anafilactóides.

- Não necessita de ajuste na doença

Foram descritas, em casos clínicos, as

renal ou hepática. A dose no obeso

seguintes reacções adversas:

deve ser, idealmente, calculada de

broncospasmo; arritmias; alterações

acordo com o peso ideal;

ECG inespecíficas; rash cutâneo; edema

- Tem um reversor – sugammadex

no local de punção; prurido; vómito.

– que, na dose de 16 mg/Kg, permite a reversão imediata do bloqueio

Cuidados especiais:

neuromuscular, mesmo se

- Prevenção ativa de úlcera de córnea

administrado imediatamente após o

– durante todo o período de

rocurónio;

curarização os olhos devem ser

- O doente curarizado perde

adequadamente encerrados com

completamente a capacidade de

adesivo e, eventualmente, utilizado

protecção de via aérea e ventilação,

lubrificante ocular.

funções que devem ser

- Curarização residual – antes da

eficientemente asseguradas, sob

extubação deve garantir-se a reversão

risco de eventos adversos graves.

completa dos efeitos do fármaco. Contra-indicações: - Alergia ou hipersensibilidade ao BIBLIOGRAFIA 1.

Uptodate: Rocuronium: Drug Information. 2021

Particularidades dos doentes:

2.

FDA: Rocuronium bromide. 2008

- Potencia o bloqueio (maior

3.

Prospecto rocurónio Kabi

relaxamento): Miastenia gravis,

4.

Prospecto rocurónio Teva

doenças neuromusculares, caquexia.

5.

Rocuronium in anesthesia uk. Updated in 2019

- Antagoniza o bloqueio (menor

6.

Appiah-Ankam, J. et al Pharmacology of

relaxamento): doentes queimados

neuromuscular blocking drugs. Continuing Education

(>20% da área corporal - podem

in Anaesthesia Critical Care & Pain. 2004

apresentar alguma resistência ao

7.

Barash, P. G. Clinical anesthesia (7th ed.). Philadelphia,

fármaco, habitualmente com início

PA: Wolters Kluwer Health/Lippincott Williams &

dias após a lesão e até meses após a

Wilkins. 2013

cicatrização das lesões); lesões

8.

Morgan. Clinical Anesthesiology 6th ed, Lange 2018

desmielinizantes, neuropatias

9.

Miller, R. D. Miller's anesthesia (7th ed.). Philadelphia,

periféricas; trauma muscular.

PA: Churchill Livingstone/ 10.

EDITORA

CATARINA MONTEIRO Médica VMER

EDITOR

ALÍRIO GOUVEIA Médico VMER

Elsevier 2010

105

Indice

rocurónio ou algum dos excipientes.


Indice

106


JOURNAL CLUB

JOURNAL CLUB

Ana Rita Clara1 Especialista de Medicina Interna do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, E.P.E., Unidade de Faro, Médica VMER Faro e Albufeira, Médica SHEM Algarve

1

INTRODUÇÃO

AVC, como as alterações visuais,

inclusão: estudos incluíndo doentes

Anualmente, a nível mundial,

confusão mental e perda de

com AVC (idade ≥18 anos, qualquer

aproximadamente 20 milhões de

equilíbrio, entre outros, podem tornar

tipo de AVC); estudos incluíndo

pessoas sofrem um AVC, das quais 5

a sua correcta identificação um

doentes avaliados por profissionais

milhões irão morrer e 5 milhões

desafio, sendo que estes AVC

de saúde, incluíndo paramédicos ou

ficarão incapacitadas. O

representam cerca de 25% dos casos.

técnicos em ambiente pré-hospitalar.

reconhecimento precoce é

Até à publicação deste artigo em

necessário para maximizar os

fevereiro de 2021 não existia uma

RESULTADOS

benefícios do tratamento hiperagudo

revisão da literatura sobre quais os

Dos 845 artigos identificados

com trombólise e/ou trombectomia.

sintomas mais comuns entre os

inicialmente, 21 cumpriram os

Cerca de 70% destes doentes recorre

doentes com AVC não identificados

critérios de inclusão, sendo incluídos

aos serviços de emergência médica

pelos profissionais de emergência

um total de 6934 doentes. O número

(SEM) e a eficácia da “Via Verde do

médica, levando a uma inadequada

total de doentes “falsos negativos” foi

AVC” depende fortemente da

abordagem e tratamento, sobretudo

de 1774 (26%). Apenas 10 dos 21

precisão e pontualidade na

para os doentes com AVC da

estudos apresentaram informações

identificação dos sintomas de AVC e

circulação posterior.

mais detalhada sobre os doentes,

da capacidade de distinguir os casos

Os autores estabelecem como

com um total de 3012 doentes com

de AVC e não-AVC.

objectivo desta revisão sistemática a

AVC incluídos, dos quais 868 (29%)

A maioria das ferramentas de triagem

identificação das características de

eram “falsos negativos”. Dos 10

pré-hospitalar apresentam avaliações

apresentação dos AVC agudo não

estudos, 5 estudos apresentaram

para os sintomas mais comuns de AVC,

identificados pelos serviços de

informação demográfica detalhada

como a Cincinnati Prehospital Stroke

emergência médica (SEM),

com idade e sexo, sendo a a idade

Scale (CPSS), também conhecida como

denominados de “falsos negativos”.

média de 74,7 anos e 57% dos doentes do sexo feminino.

entanto, a precisão das ferramentas de

MÉTODOS

Nos estudos que reportaram os

triagem pré-hospitalar é flutuante, com

Revisão sistemática com estratégia

sintomas dos doentes “falsos

sensibilidade compreendida entre 44%

de busca adaptada para MEDLINE,

negativos”, os mais comuns foram:

a 97% e especificidade dentre 13% a

EMBASE, CINAHL e PubMed de 1995

alterações da linguagem (13-28%),

92%. Os sintomas menos “típicos” de

a agosto de 2020. Critérios de

náusea e/ou vómitos (8-38%),

107

Indice

Face Arm Speech Test (FAST). No


Tabela 1. Frequência de todos os sintomas reportados dos doentes “falsos negativos”

tonturas/vertigens (23-27%),

hospital até à requisição da TC e

pré-hospitalar. Os autores salientam

alterações visuais como perda visual,

realização da mesma foi de 39 e 57

que a qualidade e o tamanho das

diplopia ou névoa (13-29%) e alteração

minutos e 26 e 39 minutos,

amostras variaram

do estado de consciência (8-25%).

respectivamente, em comparação

consideravelmente entre estudos,

Dos 21 estudos, apenas 8 (38%)

com medianas de 120 e 155 minutos

mesmo com utilização das mesmas

reportaram a abordagem e

para doentes FAST-negativos e 125 e

ferramentas de triagem.

tratamento; 5 estudos realizados

185min para os doentes que

A identificação pelos SEM dos

entre 1997 e 2009, declararam que os

chegaram ao hospital sem “pré-

doentes com AVC possibilita a

doentes “falsos negativos”

alerta”. Os doentes não identificados

entrada precoce na Via Verde de AVC

apresentavam sintomas mínimos ou

pelos SEM como AVC ou em “pré-

através da notificação ao hospital

atípicos, não sendo candidatos à

alerta”, apresentaram o tempo mais

receptor e encaminhamento

trombólise, com base nos protocolos

longo desde a chamada da

adequado ao centro de referência.

da época; 3 outros estudos entre

ambulância até à primeira avaliação

Estes doentes apresentam redução

2010 e 2019 com AVC reconhecidos

médica no Departamento de

do tempo de abordagem com

pelos SEM tiveram tempos porta-

Emergência (DE) em 87 min (68-147)

recursos mais rápido à trombólise e

Tomografia Computadorizada (TC)

e 52 min (45-73) , respectivamente.

outcomes melhores.

Indice

significativamente mais curtos (34,6

Apesar de terem sido identificados 30

vs 84,7min; p <0,001), mas isso não

DISCUSSÃO

sintomas diferentes nos doentes com

se traduziu numa maior rapidez de

Da revisão sistemática realizada

AVC, os mais comuns nos doentes

trombólise (14,9% vs 4,4%; p =0,074).

pelos autores, 26% dos doentes que

falsos negativos foram as alterações

Quando os doentes eram FAST-

tiveram um AVC não foram

de linguagem e visuais, náusea e/ou

positivos ou era dado o “pré-alerta”

reconhecidos pelo SEM, variando

vómitos e tontura/vertigem. (Tabela 1).

pelo SEM ao hospital receptor, o

entre 2% e 52% das apresentações de

tempo médio desde a chegada ao

AVC não identificadas em ambiente

108


JOURNAL CLUB

Embora algumas apresentações

de “equilíbrio” (definido como

CONCLUSÃO

atípicas de AVC possam ser de difícil

desequilíbrio da marcha ou perda de

Apresentações de AVC que são

diagnóstico, os autores relatam um

força nos membros inferiores) e

habitualmente triadas como “falsos

número elevado de “falsos negativos”

alterações visuais (perda visual e

negativos” pelos SEM geralmente

por parte dos SEM em doentes com

diplopia) aos sintomas FAST teria

incluem: alterações de linguagem ou

alterações da linguagem, sendo que

melhorado o reconhecimento de AVC

visuais, náuseas e/ou vómitos,

a alteração da língua é dos sintomas

de 86% para 96 % (p <0,0001). Da

tonturas/vertigens e alterações do

mais típicos de AVC. Os autores

mesma forma, noutro estudo, a

estado de consciência. No entanto, o

discutem que através das escalas

adição de ataxia ou sintomas visuais

somatório de outros sintomas às

aplicadas no pré-hospitalar poderá

ao FAST aumentaria a sensibilidade

escalas de triagem de AVC pré-

ser desafiante a identificação de AVC

de 61% para 80% (p <0,001) e 82%

existentes exigiria uma avaliação da

quando as alterações linguísticas se

(p <0,001), respectivamente. Num

sua sensibilidade e especificidade,

apresentam de forma meno grave.

estudo mais recente com o objetivo

necessidades de treino adicionais

Para outros doentes, as alterações da

de aumentar a sensibilidade do

para a sua aplicação e o impacto no

linguagem poderiam não estar

diagnóstico do AVC da circulação

uso de recursos de SEM. Apesar da

presentes à data da apresentação.

posterior, foram adicionados ao FAST

inclusão de alterações do discurso

A náusea/vómito ocorreram em cerca

o equilíbrio e a diplopia (BEFAST). O

na maioria das ferramentas de

de 20% dos doentes, sobretudo nos

componente “Equilíbrio” da escala

triagem pré-hospitalar, esse sintoma

doentes com AVC da circulação

BEFAST foi pontuado pela prova

é frequentemente ignorado sendo

vertebrobasilar. Isto fez com que um

dedo-nariz e o componente “Olhos

necessária uma exploração

serviço de pré-hospitalar no Reino

“pela avaliação da diplopia por meio

detalhada do mesmo.

Unido passa-se a integrar a náusea e

do rastreio digital. No entanto, a

vómitos no screening de AVC,

soma desses sintomas não melhorou

juntamente com a vertigem,

a identificação do AVC.

alterações visuais e ataxia.

O estado consciência foi amplamente

A tontura é um dos sintomas mais

mal definido nestes estudos, mas

commumente relatados pelos

incluiu uma variedade de sintomas,

doentes com AVC cerebelar,

tais como: confusão, delírio e

ocorrendo em até três quartos dos

alterações da orientação e memória,

doentes. O termo tontura não é

sendo mais comuns em idosos,

específico, mas pode ser usado para

doentes com alterações cognitivas

descrever vertigem ou pré-síncope.

prévias e doentes com infecções

Embora possa ser acompanhada por

subjacentes. Embora as alterações

outros sintomas neurológicos focais,

do estado de consciência ocorram

apresenta-se de forma isolada em

em até um terço dos doentes com

menos de 1% dos doentes com AVC.

AVC, o AVC é uma causa rara (<3%)

Num estudo retrospectivo recente

de mudanças isoladas no estado de

com dados da National Institutes of

consciência. EDITORA

ANA RITA CLARA Médica VMER

109

Indice

Health Stroke Scale (NIHSS), a junção


Indice

110


VOZES DA EMERGÊNCIA

VOZES DA EMERGÊNCIA

VMER DE PORTIMÃO

A rubrica “Vozes da Emergência” do mês de Maio dá voz à viatura médica de Portimão, existente desde 2001 a assistir a população do Barlavento Algarvio. Representada pela Dra. Inês Simões e pela Enfermeira Monique Cabrita que tão prontamente decidiram partilhar connosco parte das suas experiências e emoções vivenciadas ao longo dos últimos anos…

À esquerda: Enfermeira Monique Cabrita, à direita Dra. Inês Simões

Maria Inês Gonçalves Simões, 34

A Viatura Médica de Emergência e

– “o meu primeiro edema agudo do

anos de idade, natural de Armação de

Reanimação (VMER) de Portimão

pulmão” -, na altura como aluna no

Pêra, mudou-se para Portimão aos 2

comemora o seu aniversário a 1 de

Hospital de Curry Cabral ou pela

anos. Terminou curso de Medicina

Maio, tendo sido fundada pelo Dr.

interna do 1º ano na urgência do

em 2011 tendo-se tornado

José Leite em 2001. O Dr. Leite

Hospital de São José. Não sei sequer

especialista em Medicina Interna em

desempenhava funções como

se faz sentido começar por algum

2018. Exerce funções no Centro

médico na viatura médica de Faro e a

lado. O gosto pela emergência não

Hospitalar Universitário do Algarve

determinada altura entendeu que o

teve um início, como tenho a certeza

– Unidade de Portimão, Coordena a

Barlavento tinha necessidade de uma

que não terá um fim. É um vício, é

Viatura Médica de Portimão e

viatura médica. E assim surgiu o

viver sempre com adrenalina. É lutar

também desempenha funções no

projeto.

pela vida e pelo gosto pela vida.

1. LIFESAVING (LS): Como surgiu o

Monique Cabrita (MC): A curiosidade

gosto pela emergência?

pela emergência existe desde cedo, o

Heli e CODU Algarve.

idade, natural de África do Sul,

gosto tornou-se mais sério no primeiro

mudou-se para Portimão aos 5 anos

Inês Simões (IS): Não consigo

ano do curso de enfermagem, tinha um

de idade onde reside até hoje. É

encontrar um ponto na minha vida

professor que fazia pré-hospitalar se

Enfermeira desde 2003, Especialista

em que tenha percebido o gosto pela

não estou em erro, Helicóptero em

em Enfermagem Médico-Cirúrgica,

emergência. Não sei se comece pela

Santa Comba Dão e falava das suas

vertente doente Crítico, Pós-

criança que delirava com as sirenes

experiências nas aulas, isto em 1999.

Graduada em Gestão e

dos bombeiros, com as luzes das

No 4º ano fiz o estágio de integração à

Administração em Saúde. Integra a

ambulâncias. Ou comece com a

vida profissional num serviço de

Equipa Responsável pela Formação

adolescente que vibrava ao passar

urgência e depois acabei a trabalhar

das VMER do Algarve.

por um acidente ou pelas

num serviço de urgência e o gosto

ambulâncias amarelas. Não sei se

foi-se intensificando.

comece pelo dia 2 de Junho de 2009

111

Indice

Monique Pais Cabrita, 41 anos de


Indice

112


VOZES DA EMERGÊNCIA

2. LS: O que as levou a enveredar

salvação e que pedem, muitas

principalmente quando esta não é

por esta profissão?

vezes, coragem, me vieram à

expectável. É difícil lidar com a

memória. Talvez seja por isto que

família quando o desfecho é

IS: Desde que me lembro de existir

a emergência médica nos marca

menos favorável. No pré-

que dizia “eu quero ser médica

tanto e de tantas maneiras. Pelos

hospitalar entramos na intimidade

como o meu pai”. Tenho fotos com

olhares e pelos seus significados.

do doente, no seu lar, na sua

dois anos, o meu pai a estudar

esfera mais privada e pessoal, no

para o “Harrison” e eu, do outro

MC: Tenho várias memórias

seio da família e não temos como

lado da secretária, a imitá-lo. A

marcantes, a maioria são boas,

“escapar” a esta realidade que é a

verdade é que desde essa altura

principalmente dos casos em que

da pessoa no seu todo.

passei a dizer que queria ser

o desfecho é positivo. Há uma ou

médica. Mais tarde percebi que o

outra situação que me deixou

que me fez seguir este caminho

recordações menos positivas. As

foi gostar muito de pessoas.

memórias mais marcantes que

IS: Talvez de uma forma muito

5. LS: O que mais as motiva?

tenho são do espírito de equipa e

esquizofrénica, o que mais me

MC: Na realidade e por nenhum

companheirismo que é

motiva é o que é mais difícil de

motivo em particular sempre quis

fundamental nos casos mais

suportar. Motiva-me poder ajudar

algo ligado à área da saúde, não

complexos.

a acabar com o sofrimento de

fazia ideia de quais eram a maioria

alguém, motiva o poder dar

das funções de um enfermeiro, no

4. LS: Na vossa atividade

continuidade à vida que, tantas

12º ano Enfermagem foi o único

profissional o que pensam ser

vezes, está por um fio.

curso que escolhi e acabei por

mais difícil de lidar/suportar?

entrar e gostar (muito).

MC: Maioritariamente fatores IS: Somos seres empáticos, e

intrínsecos como o gosto pelo

3. LS: Quais foram as

por isso o que é mais difícil lidar

inesperado, o espírito de equipa, o

recordações/experiências mais

ou suportar é sempre o

gosto pela emergência, entre

marcantes como Profissionais do

sofrimento de alguém. É sempre

outros fatores.

Pré-hospitalar?

o que me custa mais. Alguém com dor, alguém com dispneia,

6. LS: Mudariam alguma coisa

IS: Passam-se os dias, os turnos,

alguém com consciência que a

relativamente à vossa atividade

e não pensamos muito nisto, no

vida é tão instável.

profissional?

alucinante a que vamos vivendo

MC: Nesta atividade estamos

IS: Certamente mudaria muita

nem nos permite, por vezes,

completamente expostos a tudo, é

coisa na minha profissão. Só não

solidificar as experiências que

um ambiente a maior parte das

mudaria o modo tão romântico

nos vão marcando. Engraçado

vezes não controlado e há uma

como a vejo.

como, ao ler esta pergunta, o que

série de questões que num

me veio à memória foram olhares,

ambiente hospitalar são

MC: Penso que deveria haver

vários. De vítimas, de familiares,

ultrapassáveis e que na rua não é

menos amadorismo e um

de colegas. E de repente, como

possível contornar. É difícil lidar

investimento maior das

num filme, todos estes olhos que

com a dor e o sofrimento humano,

instituições nos profissionais que

imploram ajuda, que pedem

nas suas variadíssimas formas. É

fazem pré-hospitalar no geral.

compaixão, que suplicam

difícil lidar com a morte,

113

Indice

que nos marca. O ritmo


7. LS: Gostariam de deixar alguma

IS: O meu coração vai-me dizendo

11. LS: Existem limitações na

sugestão aos elementos que

várias coisas. Mas aquilo que me

vossa atuação? Se sim quais?

integram as equipas de

diz mais consistentemente é para

emergência pré-hospitalar?

não deixar de acreditar, não

IS: Existirão sempre limitações na

desistir de tentar, e principalmente

nossa actuação. Como meio

IS: A mensagem será para

para continuar no pré-hospitalar

pré-hospitalar que somos, é

qualquer elemento que integre

enquanto continuar a sentir

impossível que tenhamos

qualquer equipa médica. É

borboletas na barriga sempre que

disponíveis todos os meios

importante pôr sempre um

há uma activação. Enquanto for

ideais. Acho, e acredito muito

bocadinho de nós em tudo o que

assim, para confiar. Estou no

nisto, que com o que temos,

fazemos. Importante mantermos

caminho certo.

conseguimos fazer o melhor. E

sempre a busca pela excelência e

isso é importante.

isso só se consegue com

MC: O que o meu coração me diz é

dedicação. Dedicação a causas, a

para ir ficando onde me sinto feliz

MC: Limitações organizacionais

pessoas, a formação.

apesar de muitas vezes a razão

não diria, temos sim alguns

me fazer pensar o oposto. Na

constrangimentos, nenhuma

MC: Que continuem a evoluir

verdade tomo a maioria das

verdadeira limitação. Limitações

positivamente como até aqui, a

decisões com o coração e

Pessoais, atualmente tenho

fazer formação contínua muitas

enquanto fizer sentido irei

alguma dificuldade em gerir a vida

vezes com prejuízo da vida

continuar... assim como nos

profissional e pessoal.

pessoal e também profissional.

casamentos... (rindo-se...)

12. LS: Existe algum evento que as tenha marcado por algum motivo?

8. LS: Como visualizam

10. LS: Há quantos anos

o pré-hospitalar daqui a 10 anos?

colaboram na VMER de Portimão?

IS: Idilicamente, daqui a 10 anos

Poderiam descrevê-lo?

Denota alguma evolução ao longo

IS: A maioria dos eventos que me

dos tempos?

vai marcando tem sempre algo de

gostaria de ver um pré-hospitalar

emotivo à mistura, quase sempre

com mais qualidade. Gostaria de

IS: Colaboro com a VMER de

por qualquer empatia que se

ver harmonização de equipas e

Portimão desde 2018, altura em

desenvolve por me colocar no lugar

uniformização de procedimentos.

que vim trabalhar para o Algarve.

da vítima ou do familiar. Poderia

Infelizmente a pandemia que

ser eu, poderiam ser os meus pais,

MC: Essa questão e visão

atravessamos não permitiu que

avós, sobrinhas? Ou então quando

dependerá naturalmente da

alguns projectos da VMER do

a vítima é alguém ou familiar de

evolução político-económica do

Barlavento pudessem acontecer,

alguém que eu conheça.

país, tendo em conta que vivemos

mas o facto de estarmos

Posso escolher o caso de um

tempos incertos, possivelmente a

integrados na formação conjunta

jovem de 18 anos que caiu de

emergência pré-hospitalar não

das VMER do Algarve penso que é

paraquedas. À nossa chegada,

evoluirá tanto como seria

um passo importante para a

ainda com sinais de vida mas

expectável que evoluísse,

evolução pretendida.

entrou, em poucos minutos, em

viveremos tempos difíceis em

paragem cardio-respiratória. Não

todas áreas e esta não será

MC: Colaboro com a VMER

obstante as manobras de SAV,

certamente excepção.

Portimão desde 2007. Denoto

acabou por falecer no local. A mãe

evolução a alguns níveis. Mais

apareceu minutos depois. Nem

recursos materiais, por exemplo.

preciso descrever a cena, dá para

9. LS: O que diz o vosso coração?

Indice

imaginar. Era amigo da minha irmã.

114


VOZES DA EMERGÊNCIA

MC: Há um que me marcou especialmente, foi quando fui ativada para a PCR da minha avó. Eram 21 horas fomos ativados para o lar onde ela residia, eu comentei com o médico qualquer coisa como “espero que não seja a minha avó” e efetivamente era. 13. LS: Como gerem esses eventos? IS: Na altura sou muito pouco emocional. Invade-me uma racionalidade e frieza que às vezes até me assusta. Quando páro e penso, é impossível ficar indiferente a estes acontecimentos. Somos seres empáticos, por definição. Geralmente nesse dia fico mais introspectiva. Às vezes fico uns dias a pensar nessas pessoas. Mas ao ritmo que a nossa vida avança, essas memórias acabam por se ir dissipando. Penso muito na vida, penso muito na minha vida. É talvez uma maneira muito egoísta de gerir a situação. Mas também acho que é a melhor maneira de seguir em frente e não

O nosso sincero agradecimento

ter medo de encontrar o que ainda

pela colaboração e disponibilidade

está por vir.

das nossas entrevistadas.

EDITORA

MC: Neste caso particular, penso que ainda bem que aconteceu

SOLANGE MEGA Enfermeira SIV/VMER

comigo. Noutros eventos penso que quem lida com situações limite acaba por criar um género

EDITORA

de “impermeabilidade” para que consiga continuar o dia-a-dia com máxima normalidade.

115

Indice

RITA PENISGA Enfermeira SUB/VMER


André Abílio Rodrigues 1 Enfermeiro VMER, SIV

1

A rúbrica “O que fazer em caso de” da revista LIFESAVING dirige-se a toda a Comunidade, e tem como objetivo principal a sensibilização para o reconhecimento e atuação em situações de urgência/emergência. No decorrer das várias edições da publicação, divulgámos, para o efeito, alguns algoritmos de fácil leitura, sobre temáticas diversas da emergência, e obtivemos um feedback francamente positivo, que nos fez apostar em novas formas de promoção da literacia nessa área. Neste âmbito, a Associação Amigos do Alentejo/Universidade Sénior de Loulé, solicitou-nos o esclarecimento de algumas questões dos seus Alunos, sobre a temática da COVID-19, e cujas respostas aqui publicamos, por nos ter sido

Indice

autorizado a partilhar. PREÂMBULO

nova realidade.

apropriada à comunidade. E apesar do

“A Associação Amigos do Alentejo/

De forma a obter uma resposta

inúmero trabalho que têm perante a

Universidade Sénior de Loulé é uma

adequada, científica e realista

nova realidade social, apreciamos e

instituição que visa capacitar os seus

propusemos ao Projecto Lifesaving

ficamos gratos por ainda poderem

alunos e participantes de informação

uma parceria que consistiria em

esclarecer e elucidar as nossas dúvidas

mais atualizada, apropriada e científica

responder às nossas questões.

para uma melhor e adequada

sendo exposta a um conjunto de

Prezamos com muito agrado esta

adaptação a esta nova realidade.”

desafios diários e constantes.

parceria porque sabemos que não

Face aquele que se manifestou num

poderíamos ter respostas mais

dos maiores desafios do ser humano a

científicas, corretas, adequadas e

nível mundial – a pandemia por covid

fidedignas aos nossos alunos.

– que acarretou inúmeras adaptações:

Sabemos que a Lifesaving é constituída

físicas, psicológicas, emocionais,

por profissionais de saúde de elevada

espirituais, familiares – todos os

competência e o quanto valioso é o seu

alunos da Universidade se depararam

trabalho em contexto de emergência,

com inúmeras questões perante a

como de partilha de informação

116

A Presidente da Associação Amigos do Alentejo

Fátima Maria Azevedo A Presidente da Universidade Sénior de Loulé

Maria Albertina Farinho


O QUE FAZER EM CASO DE

1. Qual o perigo do contágio do COVID

2. Podemos ter COVID mais do que

Ainda assim, mesmo depois da

em termos de saúde mental? Quais as

uma vez? Mas com a vacina já não

vacinação, deverão manter-se todas

consequências na saúde mental?

existe a possibilidade de se ter a

as medidas de distanciamento, uso

doença e contagiar outras pessoas?

de máscara e desinfeção frequente

pelo COVID implica ficar em casa em

[LS]: Segundo a Direção Geral de Saúde

aliviadas assim que atingida a

isolamento, o que condiciona toda a

(DGS), até este momento não existe

“imunidade de grupo” (com 70% da

dinâmica familiar, devido a todos os

evidência científica a comprovar que

população vacinada).

cuidados que esta situação acarreta.

as pessoas que estiveram infetadas

Este confinamento leva a um

com o COVID tenham desenvolvido

3. Tenho netos no infantário, a minha

distanciamento físico entre

imunidade protetora permanente. No

mãe é uma pessoa idosa acamada e o

familiares, amigos, colegas de

entanto, o organismo poderá ganhar

meu irmão trabalha no hospital. Como

trabalho e conhecidos, assim como

anticorpos após a infeção e

se devem proceder as visitas? Podem

modificações de comportamentos na

desenvolvimento da doença. A

os meus netos visitar a bisavó ou será

sociedade, em condutas, e formas de

exposição a novas variantes do vírus

mais seguro não contactarem com ela?

vivências sociais, diferentes do

pode reduzir a eficácia desses

habitual, e estas alterações podem

anticorpos, e possilitar re-infeção,

[LS]: Devido aos idosos serem

ter consequências no bem-estar e

ainda que até ao momento seja de

considerados um grupo vulnerável,

saúde mental.

ocorrência rara.

neste momento não se aconselha que

É normal, que durante uma crise

Em relação à vacina proporcionar

as crianças estejam com os seus avós.

como esta, se possam sentir

imunidade, estudos referem que as

No intuito de manter o contato e

sentimentos de tristeza, frustração,

vacinas são eficazes. Isto significa que

atenuar as saudades, aconselha-se

medo, ansiedade, preocupação,

a pessoa vacinada tem um risco

falar através videoconferências,

solidão, aborrecimento entre outros.

claramente muito inferior de contrair a

redes sociais, chats, telefone.

Neste sentido, é necessário estar

doença comparativamente a uma

alerta aos sinais e pedir ajuda caso

pessoa que não seja vacinada. Por

4. Sou uma pessoa com insuficiência

ache necessário.

outro lado, a eficácia das vacinas

cardio-respiratória que tinha uma

Existem sites, e linhas de apoio, que

refere-se também á sua capacidade de

série de atividades, e com o

podem ser utilizadas. Na linha

conferir proteção contra formas graves

aparecimento do vírus respeitei o

telefónica do SNS 24, existe um

da doença. A pessoa vacinada poderá

confinamento. Mas agora já me sinto

serviço de aconselhamento

ter a doença de uma forma ligeira

sem horizonte, o que me aconselha?

psicológico, que está integrado nesta

comparativamente à não vacinada.

linha telefónica, devendo utilizar-se

Portanto, a vacinação será

[LS]: Como é uma pessoa de risco

808 24 24 24 Depois deve selecionar a

preponderante na preservação de

tem de ter cuidados acrescidos e

opção 4 (aconselhamento psicológico).

vidas e na contenção da pandemia.

respeitar os conselhos da DGS. As

117

Indice

das mãos, e que só deverão ser

LIFESAVING [LS]: Estar contagiado


medidas de prevenção são cruciais

[LS]: O manual da DGS intitulado

como meio de proteção, se usados

para minimizar o risco contágio e

“Distanciamento social”, enumera os

de maneira inadequada, podem

transmissão da doença. Neste

seguintes cuidados que devemos ter

tornar-se num meio de transmissão

sentido a DGS destaca no manual

ao entrar em casa:

do COVID. Devemos sim, lavar as mãos frequentemente com água e

“Saúde e Atividades Diárias – Medidas Gerais de Prevenção e Controlo da

COVID-19”, as seguintes 5 medidas 1. Distanciamento entre pessoas;

2. Utilização de equipamentos de proteção;

3. Higiene pessoal, nomeadamente a lavagem das mãos e etiqueta respiratória;

4. Higiene ambiental, como a

Tentar não tocar em nada da

sabão ou com solução de base

casa antes de lavar as mãos

alcoólica a 70% de concentração.

Tire os sapatos e deixe-os na entrada

10. Nas aulas em que mantemos o

Deixe a carteira, as chaves e

distanciamento social basta usarmos

outros objectos dentro de uma

a viseira (visto que temos dificuldade

caixa na entrada

respiratória)? Quais os cuidados a ter

Coloque a roupa exterior dentro

antes e após o uso da viseira?

de um saco, para lavar (de

limpeza e desinfeção:

preferência a mais de 60 graus)

[LS]: O distanciamento social não

Use luvas para limpar os objetos

substitui o uso da máscara. A

com abstenção do trabalho caso

e tire-as cuidadosamente no

máscara é o método que deve ser

surjam sintomas sugestivos de

final, colocando no lixo

sempre utilizado, porque protege as

Se levou o seu animal à rua,

pessoas das gotículas que são

limpe-lhe as patas antes de

expelidas através do espirro, tosse e

entrar em casa.

fala. A viseira por sua vez, não

Limpe o telemóvel com toalhitas

substitui o uso da máscara, logo só

humedecidas em detergente ou

pode ser usada como seu

[LS]: As gotículas que são expelidas

álccol a 70º (ou as usadas para

complemento.

através da fala, tosse ou espirro,

bébes)

Portanto se escolher mascara e a

Tome banho. Se não for possível,

viseira para se proteger deverá ter

barreira, ou seja utilizando a máscara,

lave bem todas as zonas

certos cuidados com a viseira após a

pois é esta a única maneira permite

expostas.

sua utilização, como lavá-la e

5. Auto-monitorização de sintomas,

COVID-19

5. Mantendo o distanciamento social será necessário usar viseira?

apenas são contidas pelo método de

tapar a boca e o nariz eficazmente. A

desinfetá-la com álcool a 70%.

viseira poderá ser utilizada, mas

8. Medir a temperatura com aqueles

sempre conjuntamente com a

termómetros a laser provocam lesões

11. Quando um casal tem filhos que

máscara.

ou são mais prejudiciais que os outros

contactaram com crianças no

termómetros?

infantário com COVID são

6. O uso de máscara pode provocar

encaminhados para casa e o delegado

dores de cabeça, no peito, dificuldade

[LS]: Os métodos de avaliação da

de saúde dá indicação que um

em respirar? A audição também

temperatura através de

progenitor fica em casa com as

poderá ser afetada?

infravermelhos não provocam lesões

crianças, e o outro progenitor faz a

nem têm efeitos secundários.

vida normal. O progenitor que fica

[LS]: A DGS, refere “ausência de

com as crianças pode sair de casa ou

efeitos adversos associados ao uso

9. Devemos usar luvas ou não na rua

deverá cumprir com o isolamento até

de máscara”.

ou quando vamos ao supermercado?

resultado do teste do covid das

Indice

crianças? O outro progenitor, que faz 7. Que cuidados deveremos ter

[LS]: Não é recomendado o uso de

a vida normal, não seria mais correto

quando regressamos a casa para além

luvas no supermercado ou na rua.

não contactar com a família até ao

da desinfeção e lavagem das mãos?

Pois as luvas, em vez de servirem

resultado do teste do covid (porque se

118


O QUE FAZER EM CASO DE

as crianças e o Outro progenitor

BIBLIOGRAFIA

estiverem infetados têm um elemento

1.

https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/

que os pode apoiar e com risco

guia-casa-trabalhar-a-partir-de-casa-e-cuidar-da-

diminuído de contágio, para si e para

saude-mental-pdf.aspx

a comunidade)?

2.

https://www.dgs.pt/normas-orientacoes-einformacoes/informacoes/informacao-n-

[LS]: Em primeiro lugar, se a criança 3.

infantário, deve ficar em vigilância activa, com isolamento profilático,

como-cuidar-de-si/ 4.

bem como o seu cuidador directo (que com ela terá estreito contacto).

https://saudemental.covid19.min-saude.pt/

https://covid19.min-saude.pt/perguntasfrequentes/

5.

https://covid19.min-saude.pt/category/

Em relação ao outro elemento do

perguntas-frequentes/?t=quais-as-medidas-de-

agregado familiar, que pretende

prevencao#quais-as-medidas-de-prevencao/

manter vida activa, deverá manter-se

6.

https://covid19.min-saude.pt/wp-content/

com distanciamento da criança e do

uploads/2020/04/Distanciamento-

outro cuidador direto, e ficará em

social-07-04-2020.pdf

vigilância passiva, fazendo

7.

automonitorização de sintomas, cumprindo rigorosamente as

infecciosas/covid-19/prevencao/#sec-3 8.

medidas de prevenção (distanciamento social, desinfeção

https://www.sns24.gov.pt/tema/doencasinfecciosas/covid-19/prevencao/#sec-3

9.

frequente das mãos, etiqueta respiratória e utilização

https://www.sns24.gov.pt/tema/doencas-

https://www.sns24.gov.pt/tema/doencasinfecciosas/covid-19/transmissao/#sec-8

10.

da máscara)

https://www.sns24.gov.pt/guia/aconselhamentopsicologico-no-sns-24/

11.

Manual DGS 2020, “Saúde e Atividades Diárias – Medidas Gerais de Prevenção e Controlo da COVID-19”, Volume 1, de 14/05/2020: https:// covid19.min-saude.pt/wp-content/ uploads/2020/05/ManualVOLUME1-1.pdf

12.

Manual DGS 2020, “Distanciamento Social”, de 07/04/2020: https://covid19.min-saude.pt/ wp-content/uploads/2020/04/Distanciamentosocial-07-04-2020.pdf

EDITOR

ANDRÉ ABÍLIO RODRIGUES Enfermeiro SIV/VMER

119

Indice

teve uma exposição de alto risco no

0092020-de-13042020-pdf.aspx


Indice

120


CUIDAR DE NÓS

CUIDAR DE NÓS

OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE E A SUA CONTÍNUA INTERVENÇÃO EM CONTEXTO DE PANDEMIA: IMPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS Gonçalo Castanho1,2 1 2

Psicólogo Consultor organizacional e da performance humana

E quando a dois de Março de 2020,

Em termos pessoais, a exposição ao

gestão de tempo incerta e

dá-se a primeira medida formalmente

contexto pandémico, traduziu-se em

condicionada e trabalho de equipa

restritiva face à propagação do vírus

muitos casos, na tomada de

condicionado por equipas em

Covid-19, estávamos longe de

consciência de uma saúde

constante mutação. Para além disso,

imaginar com rigor, as implicações

psicológica já debilitada, por parte do

muitos dos profissionais que

reais para o quotidiano do

sujeito. Quer seja pelas demandas do

musculam as intervenções no

profissional de saúde.

Séc. XXI, do defraudar de

domínio da saúde, fazem-no em

expectativas, do incumprimento de

condições de precaridade e/ou com

Ultrapassado um ano de combate à

necessidades pessoais de bem-estar

falta de reconhecimento económico, o

pandemia, importa considerar o

psicológico, ou défice pessoal em

que degrada ainda mais o bem-estar

impacto psicológico, que a mesma

termos de desenvolvimento pessoal

face à sua atuação.

tem vindo a evidenciar nos

e de competências psicológicas, a

profissionais de saúde, face ao

pandemia, despoletou uma

No que diz respeito às restrições

desgaste acumulado.

necessidade emergente de atuação.

evocadas pelo combate pandémico, o

Como é possível observar na figura 1,

Nos aspetos contextuais, reportamos

profissional de saúde, viu a sua

as especificidades emergentes da

a uma realidade de alto desgaste

atividade requer um acréscimo de

intervenção em contexto pandémico,

psicológico. A saúde é um contexto

cuidados e de ações, aumentando a

tendem a influenciar os fatores

de atuação profissional de elevada

carga psicológica laboral, com mais

individuais e contextuais, podendo

responsabilidade, intervenção face a

protocolos, cuidados, conhecimentos,

maximizar o seu impacto negativo na

situações limite de vida, elevados

materiais e problemáticas de

saúde psicológica do sujeito, para

índices de incerteza preditiva, e, em

atuação. Para além disso, destacam-

além do impacto que o ajuste às

muitos casos, deficientes condições

se ainda:

restrições pandémicas, evoca.

materiais e até infraestruturais,

- A volatilidade das medidas

121

Indice

Figura 1 - Impacto pandémico em termos psicológicos


Indice

122


CUIDAR DE NÓS

Tabela 1 - Sinais de alarme psicológico

restritivas ao longo do tempo,

Face ao exposto, importa considerar

A primeira, procurar ajuda

reforçando a imprevisibilidade do

com a devida seriedade um aumento

especializada, combatendo o vulgar

volume de trabalho, requerendo

da incidência de casos de saúde

estigma generalizado de que os

cíclicas adaptações profissionais.

psicológica afetada, nos profissionais

profissionais de saúde não têm

- A exposição prolongada ao (a)

de saúde, para os quais deixamos,

necessidades desta ordem, tendo por

normal funcionamento profissional,

possíveis sinais de alarme.

base os sinais de alarme enumerados. A segunda, evitar as

originando fenómenos de fadiga e degradação que inibem uma melhor

Sintetizam-se vinte e oito sinais de

generalizações e adotar uma análise

resposta conjetural.

alarme (Tabela 1), que devem

individualizada a cada caso

- E a impedição de contactar

despoletar uma aferição pessoal do

prolongadamente com as suas famílias.

estado de saúde psicológico, assentes em duas notas finais.

EDITORA

123

Indice

SILVIA LABIZA Enfermeira VMER Heli INEM


Cabine DAE em frente ao Município de Albufeira

Indice

Reciclagem de curso SBV-DAE aos agentes da GNR de Albufeira pelo Enfermeiro Frederico Magalhães do Serviço de Saúde Ocupacional do Município de Albufeira e Operacional VMER – CHUA.

124


NÓS E OS OUTROS

NÓS E OS OUTROS

PROGRAMA DE DESFIBRILHAÇÃO AUTOMÁTICA EXTERNA (DAE) COMUNITÁRIO DA CIDADE DE ALBUFEIRA AUTARQUIA + SEGURA Frederico Magalhães1,2 Enfermeiro VMER; Departamento de Gestão e Finanças - Unidade de Saúde e Segurança no Trabalho; Câmara Municipal de Albufeira.

1 2

O Município de Albufeira, no âmbito

entidade que se assume como

retirado de uma das 23 cabines

da sua Responsabilidade Social,

parceira do Programa.

instaladas no concelho, ou na

promoveu a implementação de um

A ativação de qualquer equipamento

condição de dispor dos 10

programa comunitário de

DAE, integrado do PDAE de Albufeira,

equipamentos DAE móveis;

Desfibrilhação Automática Externa

que esteja situado na via pública

(DAE), devidamente licenciado pelo

(localizado de áreas ou edifícios

elementos das forças de

Instituto Nacional de Emergência

âncora), implica a ativação da

segurança e socorro, inclui

Médica (INEM), e de acordo com o

totalidade dos ODAE integrado no

munícipes civis, que

previsto no decreto-lei nº188/2009 de

Programa do Município de Albufeira.

compareceram na ativação das

12 de Agosto e/ou decreto-lei nº

O PDAE de Albufeira integra

cabines quando ativadas;

184/2012 de 8 de Agosto. Foi

operacionais dos Bombeiros de

Quanto à distribuição e localização

designado ao Srº Drº Francisco

Albufeira, assim como os militares da

dos equipamentos DAE, na via

Tavares de Castro da empresa Blue

Guarda Nacional Republicana (GNR),

pública, para um cálculo da cobertura

Ocean Medical, Lda o responsável

afetos ao Destacamento Territorial de

geográfica, apresentamos os

Médico do programa de DAE do

Albufeira, agentes da proteção civil e

seguintes indicadores:

Município de Albufeira.

policias municipais considerados

O Programa designado por

como os elementos-chave da

“Autarquia + Segura” assume-se

resposta atendendo à sua

com o compromisso de contribuir

capacidade de mobilidade, enquanto

aproximadamente do 20% do

para o sucesso da Cadeia de

“first responders”, assim como

total = 28 km² (áreas onde

Sobrevivência em Portugal, nas

munícipes/cidadãos civis,

existem pessoas);

situações de socorro a uma

devidamente formados e certificados,

vítima de paragem cardio-

os quais são ativados de forma

conforme nossos cálculos, cerca

respiratória, preconizando o

expedita (através de chamada

de 1 ODAE por cada 0,119 Km2;

Município de Albufeira uma

telefónica e SMS - SOSCALL).

postura de proatividade face à

Este universo de ODAE, além dos

Área de referência do concelho de Albufeira = 140,7 km²;

Área urbana do concelho, com

Teremos na área urbana,

De igual modo, os elementos das

Existem atualmente 253

forças de socorro e segurança,

defesa da vida humana.

(duzentos e cinquenta e três)

integradas do PDAE de Albufeira,

O PDAE de Albufeira está baseado

Operacionais DAE, afetos ao

recebem também a informação

num sistema automático de

PDAE de Albufeira, com a

sobre a ativação do

notificação dos ODAE, concretizado

certificação em dia, os quais tal

equipamento, sendo que está

através de centro nevrálgico sedeado

como já foi referido, são ativados

protocolada a imediata ativação

na Central de Telecomunicações do

imediatamente por chamada e

dos operacionais do Corpo de

Bombeiros Voluntários de Albufeira,

SMS sempre que o DAE é

Bombeiros, que estejam de

125

Indice


Entregas de DAE móveis à Guarda Nacional Republicana de Albufeira, polícia municipal e proteção civil de Albufeira.

Sinalização de Desfibrilhador

Indice

Panfleto Informativo do PDAE Comunitário da Cidade de Albufeira

126


NÓS E OS OUTROS

serviço, e que se deslocam ao

Existe, ainda intenção do reforço do

local com um meio de socorro;

PDAE de Albufeira com a colocação

Também, os militares da GNR e

de mais equipamentos DAE no

da Polícia Municipal, no âmbito

interior de diversas instalações

das suas atividades de

municipais, pavilhões desportivos de

patrulhamento, encontram-se

todas as escolas do concelho e

com as efetivas condições de

estações rodoviárias.

deslocação imediata, no

âmbito da sua atividade, aos

Devido ao caráter inovador do

locais onde ocorra a ativação

programa, em 2018, o Município

de um equipamento DAE,

recebeu o galardão de “Melhor

integrado no PDAE;

Município para Viver”, na categoria

É de relevar a atividade

Social, uma iniciativa do Instituto de

operacional dos operacionais

Tecnologia Comportamental (INTEC)

dos Bombeiros e dos militares

em parceria com o semanário Sol,

da GNR, com intervenção 24h

que há mais de uma década

sobre 24 horas, 7 dias por

distingue os melhores projetos

semana, e que dispõem de

municipais no âmbito do Ambiente,

veículo motorizado (e equipado

Economia e área Social.

com DAE).

Tal como resulta das conclusões do

Tal como o INEM recomenda, será

relatório do GT–RDAE, criado ao

realizado o incremento de mais

abrigo do Despacho nº 2715/2018,

operacionais que possam dispor de

temos presente que o alargamento

formação em SBV-DAE, pelo que o

do acesso à DAE passa pelo

Município de Albufeira já iniciou a

desenvolvimento de um novo

formação certificada de novos ODAE,

conceito, e que para este objetivo é

incluindo taxistas / motoristas do

crucial o aumento do número de

GIRO e associações desportivas que

locais protegidos por programas de

possibilitará o incremento de cerca

DAE, caminhando para uma

de mais três a quatro centenas de

verdadeira cobertura nacional,

novos operacionais, a afetar ao PDAE

exemplo e desafio que o Município de

de Albufeira (a todas as cabines DAE

Albufeira materializou e corporiza.

já existentes na via pública), em todo o concelho; Entidade formadora

EDITOR

127

Indice

JOÃO CLÁUDIO GUIOMAR Enfermeiro VMER


“UM PEDACINHO DE NÓS”

UM PEDACINHO DE NÓS Ana Rodrigues1, Teresa Castro 2 Enfermeira das VMER de Faro e Albufeira, Enfermeira da VMER de Albufeira

1

Indice

2

Apresentamos a nossa Ana Rita

O irmão é portador de Hemofilia A, e

Inicia o percurso profissional no

Arez, enfermeira, nascida no

desde cedo acompanhou as idas ao

Serviço de urgência do Hospital de

Hospital de Faro, sem nunca

hospital e a angústia dos pais a

Faro, que a marcou pela sua

imaginar que um dia viria a ser o seu

cada queda que tinha, sentindo

inexperiência, pelas vivências em

local de trabalho. Nunca saiu da

desde aí a necessidade de ser a sua

primeira mão e pelos profissionais

terra que a viu crescer, Albufeira,

protectora e cuidadora. Mais tarde o

que encontrou e que a ajudaram a

onde passou a sua infância entre

avô, já com a saúde muito debilitada,

sentir que esta era a escolha certa.

peripécias e brincadeiras de rua, e

começou a recorrer com frequência

Daqui á UCISU (Unidade de Cuidados

hoje recorda esses momentos com

aos serviços hospitalares até ao dia

Intermédios do Serviço de Urgência)

alguma saudade. Casou e vive com

da sua morte. Nesse dia decide que

foi um passo, onde tudo era novo, os

o esposo, que é o seu pilar, e dois

será enfermeira para poder estar

desafios diferentes, um readaptar, e

filhos, no local onde sempre foi feliz.

junto dos seus familiares nesses

aprender. Passou depois pela UCIP

Os pais e o irmão sempre foram

momentos de grande fragilidade

(Unidade de Cuidados Intensivos

muito importantes na sua vida,

emocional e física. Dedica ao avô a

Polivalente), onde experimentou a

devido ao amor incondicional e

sua nobre escolha: “Pois é querido

complexidade da técnica inerente a

apoio que sempre demonstraram.

avô, a ti devo esta minha escolha”

este tipo de serviço e nunca

128


“UM PEDACINHO DE NÓS”

esquecerá a importância de estar ao

desgaste físico e emocional

inexplicavelmente aumentaram a sua

lado dos familiares dos doentes

enorme”. Deste amor nasceram os

incidência desde que integrou a

nestes momentos e os colegas com

seus dois amores incondicionais.

equipa. Recorda momentos de grande

quem trabalhou.

proporcionaram a aquisição de novos

Durante todo este percurso teve

imperativa de ter mais tempo livre para

conhecimentos. A oportunidade de

sempre a seu lado o seu amor,

estar mais próxima deles, e foi nesse

realizar o curso de VMER chegou, e

amigo e companheiro Valter: “A

momento que decidiu mudar de

entre a varicela dos filhos e marido, do

pessoa que se tornou o meu pilar, o

serviço e assim integrou a equipa do

cansaço e do stress, conseguiu assim

meu confidente e o meu principal

Serviço de Urgência Básica de

concretizar mais um dos grandes

apoio emocional nesta profissão que

Albufeira. Aí tem vivido momentos

sonhos profissionais.

nos tira tantas horas de convívio

inesquecíveis e diferentes, como por

Um dos grandes receios ao iniciar

com a família e nos provoca um

exemplo a realização de partos, que

esta nova aventura era o de intervir

129

Indice

stress, medos e dúvidas que Com os meus filhos veio a necessidade


em cenários graves com crianças.

meu diagnóstico o meu filho mais

disponibilizada pelo INEM que me

Rapidamente esse receio se tornou

velho pensou que eu ia morrer como

aturava horas ao telefone enquanto

realidade, dois acidentes de viação e

a professora tinha explicado. Foi

me ajudava naqueles dias mais

um afogamento que resultaram na

horrível ver o medo no seu rosto e

difíceis de isolamento e me tentava

morte de três crianças. Num desses

fiquei muito revoltada com a forma

responder a tantas questões. O ponto

dias, o filho mais velho, que tinha

como se falou deste vírus às

principal, o pilar para conseguir

precisamente a mesma idade,

crianças, provocando até a vergonha

ultrapassar dias de revolta e todo o

precisava de ajuda para estudar pois

por terem familiares infectados.

turbilhão de emoções neste

tinha teste de avaliação no dia

Pediram-me que não disse-se a

isolamento foi toda a minha família

seguinte, e não o conseguiu ajudar:

ninguém, eu e o meu marido tivemos

com o seu apoio incondicional,

“senti uma enorme necessidade de o

que mostrar diariamente que estava

amigos próximos que diariamente

abraçar, de lhe dar todo o meu amor,

tudo bem comigo para que ficassem

me demonstravam todo o seu apoio

de saber se estava feliz, de o deixar

mais tranquilos. Durante dois meses

e dedicação.”

brincar e ser só criança”.

tive que aprender essencialmente a estar comigo, sozinha. Com todas as

Considera-se uma pessoa feliz e

Por outro lado o sentimento de

nossas rotinas diárias muitas vezes

realizada com o seu percurso

orgulho e felicidade de uma vida

esquecemo-nos de nós próprios, dos

familiar e profissional e deseja

salva e esse sentimento espelhado

nossos desejos, das nossas

conseguir realizar muitos dos

no rosto dos familiares leva-a a

emoções, dos nossos prazeres, da

seus sonhos em conjunto com a

acreditar que este é o seu caminho.

nossa saúde entre muitas outras

família e amigos

coisas. Agora tinha tempo para tudo O ano de 2020 foi diferente pois

isto e é engraçado quando nem nos

ficou infetada com COVID 19.

reconhecemos mais, mudamos

Conta-nos na primeira pessoa a

drasticamente e nem nos

sua experiencia:

apercebemos, cada segundo destes

Indice

dias serviu para renascer. Na minha “A minha infecção ocorreu logo no

opinião em todo este tempo de

início da pandemia onde as dúvidas

pandemia ficou muitas vezes

relativas a este vírus eram ainda

esquecida a nossa avaliação

maiores. A minha sintomatologia foi

emocional, durante e após o

ligeira, tive odinofagia, tosse e algum

isolamento, como tivemos que lidar

cansaço. O que mais me afectou foi a

com a forma como as pessoas

distância que tive que manter durante

olhavam para nós infectados e para a

dois meses da minha família. As

nossa família. Para mim perdeu-se

respostas difíceis de dar aos meus

com todo este medo a sensibilidade

filhos de 7 e 5 anos do porquê de não

pelo próximo na ânsia do nosso

os poder abraçar, acarinhar, realizar

próprio bem-estar. Tive sorte porque

as minhas refeições com eles e

felizmente conhecia muitos dos

partilhar todos os espaços da casa. O

colegas que integravam a equipa do

mais grave foi que tudo decorreu no

Hospital de Faro que nos seguia no

primeiro confinamento onde as

domicílio, foram incansáveis e

crianças ouviram na escola que

diariamente demonstravam todo o

existia um vírus que matava muitas

seu apoio. Também foi bastante

pessoas e por isso teríamos que ir

importante para mim o apoio

todos para casa. Quando chegou o

incondicional da psicóloga

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EDITORA

ANA RODRIGUES Enfermeira VMER Heli INEM

EDITORA

TERESA CASTRO Enfermeira VMER


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“UM PEDACINHO DE NÓS”


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TERTÚLIA VMERISTA

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TERTÚLIA VMERISTA

EDITOR

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NUNO RIBEIRO Enfermeiro VMER TIP


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Novos Orgãos Sociais

(2021-2024)

Direção PRESIDENTE: Tiago Carvalho VICE-PRESIDENTE: Tiago Amaral SECRETÁRIO: José Gomes TESOUREIRO: João João Mendes VOGAL: Luis Gonçalves VOGAL: Diogo Machado VOGAL: Joana Fontes SUPLENTE: Vera Mondim

Assembleia Geral PRESIDENTE: Mário Branco VICE-PRESIDENTE: Soraia Oliveira SECRETÁRIO: Jorge Mimoso SUPLENTE: André Pires

Conselho Fiscal

PRESIDENTE: Nelson Coimbra VICE-PRESIDENTE: João Coucelo SECRETÁRIO: Samuel Sousa VOGAL: Emílio Leal VOGAL: Patrícia Fragata SUPLENTE: Diogo Saraiva

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+351 966 226 022 apemerg@gmail.com www.apemerg.pt


TESOURINHO VMERISTA

Pedro Oliveira Silva 1 1

Médico VMER

Num final de tarde de primavera, onde o sol sorri e existe uma leve brisa que transporta um sorriso no rosto de quem a sente, fomos notificados para mais uma saída, desta vez um jovem nos seus 87 anos, que estaria com alteração do estado de consciência. A viagem não foi longa e à nossa chegada, encontramos senhor

sonolento, mas hemodinamicamente estável, sem alterações no ECG e tendo medicação habitual rica em hipnóticos, os quais já teria tomado. Este paciente apesar de uma ativação para paragem cardiorrespiratória queixava-se apenas do tórax, sendo este o momento em que a familiar revela que fez SBV e que ele recuperou - "às primeiras

Congressos Digitais

Curso Arritmologia para Medicina Interna e MGF 15 de maio de 2021 às 09:00 Organizado por Essential Courses. Onlinecourses.pt

compressões acordou logo"! Perfaz a afirmação dizendo que tinha realizado o curso de SBV há pouco tempo e até sabia usar o “DGS”. Com um sorriso na boca, agradecemos a ajuda e encaminhamos o senhor perfeitamente recuperado do seu sono para o hospital.

Jornadas de Urgência / Emergência em Pediatria: Cuidar de excelência 20 - 21 de maio de 2021 Hospital de são Bernardo, Setúbal 2º Seminário de Enfermagem em Emergência Extra-Hospital 18 de junho de 2021 às 08:00 Evento Online organizado por APEMERG e AEEEMC

EDITOR

REBOA e Toracotomia na PCR Traumática 28 de junho de 2021, das 19:00 às 20:30 Evento online, 2º Webinar APEMERG

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PEDRO OLIVEIRA SILVA Médico VMER CODU

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TESOURINHO VMERTISTA

FRASE MEMORÁVEL

“temos de poder contar com cada um de nós, cada português conta porque cada português sabe que é Portugal”. (...) “mesmo sem estado de emergência há que manter ou adotar todas as medidas consideradas indispensáveis para impedir recuos, retrocessos, regressos a um passado que não desejamos..." Marcelo Rebelo de Sousa, Frases proferidas pelo Presidente da República Portuguesa, em discurso de 27 de abril de 2021. Após ter declarado por 15 vezes o estado de emergência, no contexto da pandemia COVID-19, explica no seu discurso ao País, o motivo para não proceder à renovação do estado de emergência pela 16ª vez.

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Fonte: https://expresso.pt/newsletters/expressomatinal/2021-04-28-Como-acabar-com-um-estado-de-emergencia-e-como-ser-salvo-por-um-estado-de-inteligencia-398a0fca


BEST SITES

CIRCULATION A Revista Circulation publica artigos de investigação originais, artigos de revisão e outros conteúdos relacionados com as doenças cardiovasculares. É atualmente a revista com maior fator de impacto e maior número de citações do grupo

de revistas científicas da American Heart Association (AHA). Clique aqui para aceder à atualização de 2020 das Guidelines da ressuscitação cardiopulmonar

https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIR.0000000000000918

RESUS Trata-se de um site de difusão do conhecimento na área de emergência médica, muito completo e organizado,

que possibilita uma pesquisa diversificada de temáticas, com profundidade e proficiência.

EDITOR

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BRUNO SANTOS Médico VMER

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https://www.resus.com.au/


BEST APPS

BEST APPS A Prática, por vezes, revela em nós simples barreias que podem constituir um entrave a um bom desempenho. Estas duas aplicações sõo um bom exemplo disso e uma excelente ajuda na interpretação das necessidades do outro.

PAIN RATING SCALES A quantificação da intensidade da

Esta aplicação fornece algumas das

dor é essencial para alguém sentindo

escalas de avaliação da dor mais

dor. Avaliar o nível de dor ajuda no

utilizadas, em adultos e crianças

tratamento adequado e monitorização da mesma.

https://play.google.com/store/apps/details?id=com.etz.painassessmentadvanced

CARE TO TRANSLATE Entender o outro em contexto de saúde pode ser complicado. Os termos médicos nem sempre são bem traduzidos e por vezes são mal interpretados.

Esta aplicação ajuda profissionais de saúde a comunicar com colegas ou pacientes que falem línguas diferentes, auxiliando a comunicação e real interpretação das frases ou palavras

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EDITOR

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PEDRO LOPES SILVA Enfermeiro VMER Heli INEM


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CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO

CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO - Novembro de 2019

A Revista LIFESAVING (LF) é um órgão de publicação pertencente ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e dedica-se à promoção da ciência médica pré-hospitalar, através de uma edição trimestral. A LF adopta a definição de liberdade editorial descrita pela World Association of Medical Editors, que entrega ao editor-chefe completa autoridade sobre o conteúdo editorial da revista. O CHUA, enquanto proprietário intelectual da LF, não interfere no processo de avaliação, selecção, programação ou edição de qualquer manuscrito, atribuindo ao editor-chefe total independência editorial. A LF rege-se pelas normas de edição biomédica elaboradas pela International Commitee of Medical Journal Editors e do Comittee on Publication Ethics.

2. Informação Geral A LF não considera material que já foi publicado ou que se encontra a aguardar publicação em outras revistas. As opiniões expressas e a exatidão científica dos artigos são da responsabilidade dos respectivos autores.

A LF reserva-se o direito de publicar ou não os artigos submetidos, sem necessidade de justificação adicional. A LF reserva-se o direito de escolher o local de publicação na revista, de acordo com o interesse da mesma, sem necessidade de justificação adicional. A LF é uma revista gratuita, de livre acesso, disponível em https://issuu.com/lifesaving. Não pode ser comercializada, sejam edições impressas ou virtuais, na parte ou no todo, sem autorização prévia do editor-chefe.

3. Direitos Editoriais Os artigos aceites para publicação ficarão propriedade intelectual da LF, que passa a detentora dos direitos, não podendo ser reproduzidos, em parte ou no todo, sem autorização do editor-chefe.

4. Critérios de Publicação 4.1 Critérios de publicação nas rúbricas A LF convida a comunidade científica à publicação de artigos originais em qualquer das categorias em que se desdobra, de acordo com os seguintes critérios de publicação:

Temas em Revisão - Âmbito: Revisão extensa sobre tema pertinente para actuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar. Dimensão: 1500 palavras. Hot Topic - Âmbito: Intrepretação de estudos clínicos, divulgação de inovações na área pré-hospitalar recentes ou contraditórias. Dimensão: 1000 palavras. Nós Por Cá - Âmbito: Dar a conhecer a realidade de actuação das várias equipas de acção pré-hospitalar através de revisões estatísticas da sua casuística. Dimensão: 250 palavras. Tertúlia VMERISTA - Âmbito: Pequenos artigos de opinião sobre um tema fraturante. Dimensão: 250 palavras. Rúbrica Pediátrica - Âmbito: Revisão sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar no contexto pediátrico. Dimensão: 1500 palavras. Minuto VMER - Âmbito: Sintetização para consulta rápida de procedimentos relevantes para a abordagem de doentes críticos. Dimensão: 500 palavras

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1. Objectivo e âmbito


Fármaco Revisitado - Âmbito: Revisão breve de um fármaco usado em emergência pré-hospitalar. Dimensão: 500 palavras Journal Club - Âmbito: Apresentação de artigos científicos pertinentes relacionados com a área da urgência e emergência médica pré-hospitalar e hospitalar. Dimensão: 250 palavras Nós e os Outros - Âmbito: Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre a actuação de equipas de emergência pré-hospitalar não médicas. Dimensão: 1000 palavras Ética e Deontologia - Âmbito: Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre questões éticas desafiantes no ambiente pré-hospitalar. Dimensão: 500 palavras Legislação - Âmbito: Enquadramento jurídico das diversas situações com que se deparam os profissionais de emergência médica. Dimensão: 500 palavras O que fazer em caso de... - Âmbito: Informação resumida mas de elevada qualidade para leigos em questões de emergência. Dimensão: 500 palavras.

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Mitos Urbanos - Âmbito: Investigar, questionar​e esclarecer questões pertinentes, dúvidas e controvérsias na prática diária da emergência médica. Dimensão: 1000 palavras.

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Cuidar de Nós - Âmbito: Diferentes temáticas, desde psicologia, emocional, metabólico, físico, laser, sempre a pensar no auto cuidado e bem estar do profissional. Dimensão: 250 palavras. Caso Clínico - Âmbito: Casos clinicos que tenham interesse científico. .Dimensão: 250 palavras. Pedacinho de Nós - Âmbito: Dar a conhecer os profissionais das equipas de emergência pré-hospitalar. Dimensão: 400 palavras.

O trabalho a publicar deve ser acompanhado de no máximo 10 palavras-chave representativas. No que concerne a tabelas/figuras já publicadas é necessário a autorização de publicação por parte do detentor do copyright (autor ou editor). Os ficheiros deverão ser submetidos em alta resolução, 800 dpi mínimo para gráficos e 300 dpi mínimo para fotografias em formato JPEG (.Jpg), PDF (.pdf). As tabelas/figuras devem ser numeradas na ordem em que ocorrem no texto e enumeradas em numeração árabe e identificação. No que concerne a casos clínicos é

Tesourinhos VMERISTAS - Âmbito: Divulgação de situações caricatas, no sentido positivo e negativo, da nossa experiência enquanto VMERistas. Dimensão: 250 palavras Congressos Nacionais e Internacionais - Âmbito: Divulgação de eventos na área da Emergência Médica. Dimensão: 250 palavras. Eventos de Emergência no Algarve - Âmbito: Divulgação de eventos na área da Emergência Médica no Algarve. Dimensão: 250 palavras. Best Links/ Best Apps de Emergência Pré-hospitalar - Âmbito: Divulgação de aplicações e sítios na internet de emergência médica pré-hospitalar -Dimensão: 250 palavras O trabalho a publicar deverá ter no máximo 120 referências. Deverá ter no máximo 6 tabelas/figuras devidamente legendadas e referenciadas.

necessário fazer acompanhar o material a publicar com o consentimento informado do doente ou representante legal, se tal se aplicar. No que concerne a trabalhos científicos que usem bases de dados de doentes de instituições é necessário fazer acompanhar o material a publicar do consentimento da comissão de ética da respectiva instituição. As submissões deverão ser encaminhadas para o e-mail: newsletterlifesaving@gmail.com

4.2 Critérios de publicação nos cadernos científicos. Nos Cadernos Científicos da Revista LifeSaving podem ser publicados Artigos Científicos, Artigos de Revisão ou Casos Clínicos de acordo com a normas a seguir descritas. Artigos Científicos O texto submetido deverá apresentado com as seguintes secções: Título (português e inglês), Autores (primeiro nome, último nome, título, afiliação), Abstract (português e


CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO

inglês), Palavras-chave (máximo 5), Introdução e Objetivos, Material e Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos, Referências.

de 50 referências.

O texto deve ser submetido com até 3 Take-home Messages que no total devem ter até 50 palavras.

Este tipo de trabalho pode ter no máximo 5 autores.

O resumo dos Artigos de Revisão segue as regras já descritas para os resumos dos Artigos Científicos.

Não poderá exceder as 4.000 palavras, não contando Referências ou legendas de Tabelas e Figuras. Pode-se fazer acompanhar de até 6 Figuras/Tabelas e de até 60 referências bibliográficas.

Caso Clínico O objetivo deste tipo de publicação é o relato de caso clínico que pela sua raridade, inovações diagnósticas ou terapêuticas aplicadas ou resultados clínicos inesperados, seja digno de partilha com a comunidade científica.

O Abstract não deve exceder as 250

O texto não poderá exceder as 1.000

palavras.

palavras e 15 referências bibliográficas. Pode ser acompanhado de até 5 tabelas/figuras.

Se meta-análise de estudo observacionais deverá seguir as MOOSE guidelines e apresentar um protocolo completo do estudo. Se estudo de precisão de diagnóstico, deverá seguir as STARD guidelines. Se estudo observacional, siga as STROBE guidelines. Se se trata da publicação de Guidelines Clínicas, siga GRADE guidelines. Este tipo de trabalhos pode ter no máximo 6 autores. Artigos de Revisão O objetivo deste tipo de trabalhos é rever de forma aprofundada o que é conhecido sobre determinado tema de importância clínica. Poderá contar com, no máximo, 3500 palavras, 4 tabelas/figuras, não mais

Deve inclui resumo que não exceda as 150 palavras organizado em objectivo, caso clínico e conclusões.

A LF segue um processo single-blind de revisão por pares (peer review). Todos os artigos são inicialmente revistos pela equipa editorial nomeada pelo editor-chefe e caso não estejam em conformidade com os critérios de publicação poderão ser rejeitados antes do envio a revisores. A aceitação final é da responsabilidade do editor-chefe. Os revisores são nomeados de acordo com a sua diferenciação em determinada área da ciência médica pelo editor-chefe, sem necessidade de justificação adicional. Na avaliação os artigos poderão ser aceites para publicação sem alterações, aceites após modificações propostas pela equipa editorial ou recusados sem outra justificação.

Este tipo de trabalho pode ter no máximo 4 autores.

7. Erratas e retracções

Cartas ao Editor O objetivo deste tipo de publicação é efetuar um comentário a um artigo da revista.

A LF publica alterações, emendas ou retracções a artigos previamente publicados se, após publicação, forem detectados erros que prejudiquem a interpretação dos dados .

O texto não poderá exceder as 400 palavras e as 5 referências bibliográficas. Pode ser acompanhado de 1 ilustração.

5. Referências Os autores são responsáveis pelo rigor das suas referências bibliográficas e pela sua correta citação no texto. Deverão ser sempre citadas as fontes originais publicadas. A citação deve ser registada empregando Norma de Harvard.

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Se revisão sistemática ou meta-análise deverá seguir as PRISMA guidelines.

6. Revisão por pares


Estatuto Editorial A Revista LIFESAVING é uma publicação científica e técnica, na área da emergência médica, difundida em formato digital, com periodicidade trimestral.

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Trata-se de um projeto inovador empreendido pela Equipa de Médicos e Enfermeiros das Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) de Faro e de Albufeira, pertencentes ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve, e que resultou da intenção estratégica de complementar o Plano de formação contínua da Equipa. A designação “Lifesaving”, que identifica a publicação, é bem conhecida por todos os profissionais que trabalham na área da emergência médica, e literalmente traduz o desígnio da nobre missão que todos desempenham junto de quem precisa de socorro – “salvar vidas”. Esta Publicação inovadora, compromete-se a abraçar um domínio editorial pouco explorado no nosso país, com conteúdos amplamente dirigidos a todos os profissionais que manifestam interesse na área da emergência médica. Através de um verdadeiro trabalho de Equipa dos vários Editores da LIFESAVING, e aproveitando a sua larga experiência em Emergência Médica, foi estabelecido

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o compromisso de apresentar em cada número publicado, conteúdos e rubricas de elevada relevância científica e técnica no domínio da emergência médica. Por outro lado, este valioso instrumento de comunicação promoverá a partilha das ideias e conhecimentos, de forma completa, rigorosa e assertiva. Proprietário: Centro Hospitalar Universitário do Algarve, E.P.E. NIPC: 510 745 997 Morada: Rua Leão Penedo, 8000-386 Faro N.º de registo na ERC: 127037 Diretor: Dr. Bruno Santos Editor-Chefe: Dr. Bruno Santos Morada: Rua Leão Penedo, 8000-386 Faro Sede da redação: Rua Leão Penedo, 8000-386 Faro Periodicidade: trimestral TIPO DE CONTEÚDOS Esta publicação periódica pretende ser uma compilação completa de uma seleção de matérias científicas e técnicas atualizadas, incluídas em grande diversidade de Rubricas, incluindo: – “Temas em Revisão” – Âmbito: Revisão extensa sobre tema pertinente para actuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar. – Dimensão: 1500 palavras; – “Hot Topic” – Âmbito: Intrepretação de estudos clínicos, divulgação de inovações na área pré- hospitalar recentes ou contraditórias. -Dimensão: 1000 palavras; – “Nós Por Cá” – Âmbito: Dar a conhecer a realidade de actuação das várias equipas de acção pré-hospita-

lar através de revisões estatísticas da sua casuística. Poderá incluir também a descrição sumária de atividades, práticas ou procedimentos desenvolvidos localmente, na área da emergência médica – Dimensão: 500 palavras; – “Tertúlia VMERISTA” – Âmbito: Pequenos artigos de opinião sobre um tema fraturante – Dimensão: 250 palavras; – “Rúbrica Pediátrica” – Âmbito: Revisão extensa sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar no contexto pediátrico. – Dimensão: 1500 palavras; – “Minuto VMER” – Âmbito: Sintetização para consulta rápida de procedimentos relevantes para a abordagem de doentes críticos, ou de aspetos práticos relacionados com Equipamentos utilizados no dia-à-dia. – Dimensão: 500 palavras; – “Fármaco Revisitado” – Âmbito: Revisão breve de um fármaco usado em emergência pré-hospitalar. – Dimensão: 500 palavras; – “Journal Club” – Âmbito: Apresentação de artigos científicos pertinentes relacionados com a área da urgência e emergência médica pré-hospitalar e hospitalar. -Dimensão: 500 palavras; – “Nós e os Outros” – Âmbito: Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre a atuação de equipas de emergência pré-hospitalar não médicas. -Dimensão: 1000 palavras; – “Ética e Deontologia” – Âmbito:


ESTATUTO EDITORIAL

– “Legislação” – Âmbito: Enquadramento jurídico das diversas situações com que se deparam os profissionais de emergência médica. – Dimensão: 500 palavras; – “O que fazer em caso de…” – Âmbito: Informação resumida, mas de elevada qualidade, para leitores não ligados à área da saúde, ou da emergência médica -Dimensão: 500 palavras; – “Mitos Urbanos” – Âmbito: Investigar, questionar e esclarecer questões pertinentes, dúvidas e controvérsias na prática diária da emergência médica. -Dimensão: 1000 palavras; – “Cuidar de Nós” – Âmbito: Discussão de diferentes temáticas, de caráter psicológico, emocional, metabólico, físico, recreativo, centradas no auto-cuidado e bem estar do profissional da emergência. -Dimensão: 500 palavras; – “Caso Clínico” – Âmbito: Apresentação de casos clínicos de interesse científico na área da emergência médica. -Dimensão: 500 palavras; – “Pedacinho de Nós” – Âmbito: Dar a conhecer, em modo de entrevista, os profissionais da Equipa das VMER de Faro e Albufeira ou outros Elementos colaboradores editoriais da LIFESAVING. – Dimensão: 500 palavras; – “Vozes da Emergência” – Âmbito: Apresentar as Equipas Nacionais que

desenvolvem trabalho na Emergência Médica, dando relevância a especificidade locais e revelando diferentes realidades. – Dimensão 500 palavras; – “Emergência Global” – Âmbito: publicação de artigos de autores internacionais, que poderão ser artigos científicos originais, artigos de opinião, casos clínicos ou entrevistas, pretendendo-se divulgar experiências enriquecedoras, além fronteiras; – “Tesourinhos VMERISTAS” – Âmbito: Divulgação de situações caricatas, no sentido positivo e negativo, da experiência dos Profissionais da VMER. – Dimensão: 250 palavras; – “Congressos Nacionais e Internacionais” – Âmbito: Divulgação de eventos na área da Emergência Médica – Dimensão: 250 palavras; – “Eventos de Emergência no Algarve” – Âmbito: Divulgação de eventos na área da Emergência Médica no Algarve. – Dimensão: 250 palavras; – “Best Links/ Best Apps de Emergência Pré-hospitalar” – Âmbito: Divulgação de aplicações e sítios na internet de emergência médica préhospitalar -Dimensão: 250 palavras PREVISÃO DO NÚMERO DE PÁGINAS: 50; TIRAGEM: – não aplicável para a publicação eletrónica, não impressa em papel. ONDE PODERÁ SER CONSULTADA:

chualgarve.min-saude.pt/lifesaving/, e adquirida gratuitamente por subscrição nesse mesmo site. Não dispomos ainda de um site oficial para organização dos nossos conteúdos, de modo que atualmente todas as Edições estão a ser arquivadas no Repositório Internacional ISSUU, onde poderão ser consultadas gratuitamente (https://issuu. com/lifesaving). Marcamos presença ainda noutras plataformas de divulgação (Facebook, Instagram, Twitter e Youtube). DIVULGAÇÃO DA LIFESAVING: A LIFESAVING será difundida no site do Centro Hospitalar do Algarve (no setor média e imagem), e sua Intranet, com possibilidade da sua subscrição para receção trimestral via e-mail. Inserida on-line no repositório de publicações ISSUU, adquirindo um aspeto gráfico otimizado para tornar a leitura ainda mais agradável. Será também difundida na página de Facebook da VMER de Faro, página própria com o nome LIFESAVING. n.º 1 do art.º 17.º da Lei de Imprensa: Garantia de liberdade de imprensa: 1 - É garantida a liberdade de imprensa, nos termos da Constituição e da lei. 2 - A liberdade de imprensa abrange o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações. 3 - O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura

Pode ser consultada no site do CHUAlgarve, no setor “Comunicação”, no domínio http://www.

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Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre questões éticas desafiantes no ambiente pré-hospitalar. -Dimensão: 500 palavras;


ERRATA No artigo da rubrica Nós e os Outros sobre o "Novo verbete nacional de socorro" decorreu acidentalmente uma imprecisão na afiliação do Autor João Lourenço, e que aqui se transcreve integralmente na sua versão correta: Filipa Barros1, João Lourenço2,3 João Nunes4 Médica do Departamento de Emergência Médica - INEM, Enfermeiro do Departamento de Emergência Médica - INEM, 3 Enfermeiro ambulância de Suporte Imediato de Vida (SIV), 4 Técnico Superior do Gabinete de Marketing e Comunicação do INEM. 1

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ERRATA


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