MARANHAY - Revista Lazeirenta - 63: JULHO 2021

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MARANHÃO: TERRA DE ACOLHIDA CLAUBER LIMA

Stay with us, Mr Ataíde do Rosário

Conto – Short story

Enquanto escrevia esta crônica, tocava o sino da Sé - 2 da manhã Sr Ataíde do Rosário, o avô do Pecuapá veio para o Maranhão como imigrante nos idos de 1940 mas seu coração sempre permaneceu no vale Benfeito em Portugal, no lugarejo de Vinhas, município de Macedo de Cavaleiros. Tendo sempre vivido dos seus rendimentos e, portanto não precisando buscar emprego para sobreviver no Brasil, ele se comportou de forma arrogante com todos os que encontrou pelo seu caminho. A húbris grega o acompanhou sempre. Vive de renda, apesar do seu neto Pecuapá ter morado debaixo da ponte de Pedreiras por muitos anos. Definir o que o Sr Ataíde do Rosário pensa e sente e como se dá sua relação com a cidade e o povo de Pedreiras e de São Luís do Maranhão não é tarefa fácil. Convém ponderar cada detalhe, cada expressão, cada afinidade, buscar o belo naquilo que cria harmonia e coloca a sociedade no seu bom funcionamento. Vemos que em poucos momentos ele se identifica com a terra e, na maior parte do tempo vive com o pensamento longe deste lugar. Que esforço fez o Sr Ataíde para ter e manter amizades com o povo e com a sociedade em geral? Que trabalho executou Sr Ataíde para melhorar a economia e o bem-estar do Estado do Maranhão entre os idos de 1979-1990? Será que Sr Ataíde leu a teoria mimética de René Girard que fala da violência e do sagrado e se deixou por ela atrair? Terá vendido algum patrimônio do Maranhão nestes anos? O que ficará como pensamento produzido por ele, que fará com que os historiadores e pensadores se debrucem ao longo dos anos em busca de material de pesquisa? Onde estão os livros que ele nos deixou em sua biblioteca como foi o caso de Manuel J. Firmo que deixou uma Biblioteca imensa e que infelizmente foi vilipendiada por alguém sem coração e, por isso, até na cidade de Rosário voaram e voam ainda hoje papéis desta biblioteca clássica e contemporânea que poucos conseguiram formar ao longo da vida? A biblioteca de Manuel J. Firmo foi totalmente abandonada e solapada e até hoje os peixes do rio Itapecurú-mirim se alimentam de uma cultura milenar. Alguns dizem sem provas que foi o Sr Ataíde quem abandonou a biblioteca de Manuel J. Firmo, que continua a brilhar, apesar disso... e o que ficará do legado do Sr Ataíde, além das façanhas do seu neto Pecuapá na cidade de Pedreiras? Muitas destas perguntas ficarão sem respostas, mas é preciso que aqueles que não dispõem de uma grande intuição, se debrucem sobre a literatura para traçar um perfil de quem trabalhou e fez caridade entre nós, apesar de uma aversão à vida em sociedade. Numa tentativa de compreender o homem como produto do seu meio como tão bem o fez Visconde de Taunay, iremos fazer uma análise filosófico-literária do Sr Ataíde do Rosário. Tendo nascido no lugar chamado Vinhas, na cidade de Macedo de Cavaleiros este aventureiro português veio para o Maranhão mas, o seu coração, pensamento e alma permaneceram em Trás-os-Montes, norte de Portugal. Veio para o norte do Brasil mas é no norte de Portugal que seu coração encontra alívio para as tensões da vida. Prova disso é que ele passou o tempo todo de sua vida a meditar no poema do poeta italiano Petrarca que depois Fernando Pessoa assimilou de forma tão lusitana: “Navegar é preciso, viver não é preciso” e, sendo assim, deixou um pouco de lado o visível da vida, a crueza dos fatos que a todos assolam sem meiostermos e passou a viver com o foco neste navegar constante entre o velho mundo e o novo. Penso que ele deve ter sido formado ainda nos moldes dos latinistas antigos e, por isso viveu apenas entre o quarto de dormir e a biblioteca do seu pai, passando algum tempo na sala de refeições e na porta de casa com alguns amigos de infância. Se tivesse ficado dentro dessa estrutura político-social portuguesa poderia ter uma grande produção literária mas não haveria uma grande repercussão da sua fala, dos seus gestos e atitudes. Como ele resolveu


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