Em “A Esfinge do Grajaú”, também livro de memórias (ABRANCHES, 1993), deparamo-nos como uma abordagem eminentemente política, tendo como pano de fundo as teses republicanas (GASPAR, 1993). Lembra dos passeios a cavalo que fazia pelas manhãs, acompanhando o Dr. Moreira Alves, então Presidente da Província: "... Adestrado cavaleiro, possuindo um belo exemplar de montaria, incumbira-se ele (Anacleto Tavares) na véspera de conseguir para o ilustre político pernambucano um valente tordilho, pertencente ao solicitador Costa Santos e considerado o mais veloz esquipador da capital. Para fazer frente a esses reputados ginetes, Augusto Porto, meu futuro cunhado e sportman destemido, havia-me cedido o seu Vesúvio... Moreira Alves ganhara logo fama de montador insigne... o novo Presidente da Província conhecia a fundo a equitação... Para o espírito estreito de certa parte da sociedade maranhense, afigurava-se naturalmente estranho que fosse escolhido para ocupar a curul presidencial da Província um homem que se vestia pelos últimos figurinos de Paris, usava roupas claras, gostava de fazer longos passeios a pé pelas ruas comerciais...". (p. 16-17). Aluísio de Azevedo Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em 14 de abril de 1857 em São Luís do Maranhão. Em sua infância e adolescência foi caixeiro e guarda-livros, demonstrando grande interesse pelo desenho. Torna-se caricaturista, colaborando em “O Fígaro”, “O Mequetrefe”, “Zig-Zag” e “A Semana Ilustrada”, jornais do Rio de Janeiro. Obrigado a retornar ao Maranhão, em 1878, pela morte do pai, abandona a carreira de caricaturista e inicia a do escritor. Publica em 1879 “Uma lágrima de mulher”. Com a publicação de “O Mulado”, em 1881, introduz o Naturismo no Brasil. Publica, ainda : Memórias de um condenado (1882); Mistério da Tijuca (1882); Casa de Pensão (1884); Filomena Borges (1884); O Homem (1887); O Coruja (1990); O Cortiço (1890); Demônios (1893); A Mortalha de Alzira (1894); Livro de Uma sogra (1895). Em 1895, abandona a carreira de escritor e torna-se diplomata (AZEVEDO, 1996). Aluísio Azevedo, em conto autobiográfico, afirma que, aos doze anos, estudante do Liceu, havia uma coisa verdadeiramente série para ele: "era brincar, estabelecendo-se entre minha divertida pessoa e a pessoa austera de meus professores a mais completa incompatibilidade". Narra as estripulias da época, em companhia dos amigos de infância: "Criado a beira-mar na minha ilha, eu adorava a água. Aos doze anos já era valente nadador, sabia governar um escaler ou uma canoa, amarrava com destreza a vela num temporal, e meu remo não se deixava bater facilmente pelo remo de pá de qualquer jacumariba pescador de piabas." (citado por MÉRIEN, 1988: 47). Um dos fundadores de “O Pensador” (1879), jornal anticlerical, publica várias crônicas onde traça um perfil da mulher maranhense, e sua condição de mulher em uma sociedade escravocrata, cujo papel reservado era apenas o de mãe. Compara a mulher da burguesia maranhense à lisboeta desocupada, denunciando o ócio em que viviam. Como igualmente denunciava "o ócio dos padres que viviam do trabalho de pessoas honestas e crédulas" (MÉRIEN, 1988:158), sendo estes, os padres, também "culpados pelo atraso da instrução pública" (p. 159). Aluísio considerava que todo o mal vinha do ócio e da preguiça das mulheres e apenas uma mudança na educação e na concepção do casamento poderia permitir a realização da mulher: "Do procedimento da mulher (...) depende o equilíbrio social, depende o equilíbrio político, depende todo o estado patológico e todo o desenvolvimento intelectual da humanidade (...) Para extinguir essa geração danada, para purgar a humanidade desse sífilis terrível, só há um remédio: é dar à mulher uma educação sólida e moderna, é dar à mulher essa bela educação positivista, que se baseia nas ciências naturais e tem por alvo a felicidade comum dos povos. É preciso educála física e moralmente, prepará-la por meios práticos e científicos para ser boa mãe e uma boa cidadã; torná-la consciente de seus deveres domésticos e sociológicos; predispor-lhe o organismo para a procriação, evitar a diásteses nervosa como fonte de mil desgraças, dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente à metiolidade de seus músculos, instruí-la e obrigá-la principalmente a trabalhar... “. (Aluísio AZEVEDO, Crônica, "O Pensador", São Luís, 10.12.1880, citado por MÉRIEN, 1988:166, 167).