DEDICADO AO LAZER – CULTURA & ESPORTES - LUDOVICENSE//MARANHENSE
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE
LUDOVICUS
MAGAZINE EDITADO POR
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
DEDICADO AO LAZER – CULTURA + ESPORTES
MARANHENSE
Revista eletrônica
EDITOR
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com
Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem livros e capítulos de livros publicados, e mais de 500 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor das “Revista do Léo”, “Maranha-y”, e agora, LUDOVICUS; Condutor da Tocha Olímpica –Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.
NOSSA CAPA - Claudio Ptolomeu viveu entre os séculos I e II da EC. Os trabalhos que temos dele são a partir de traduções medievais. Este mapa, de 1561, após as navegações europeias, é de uma tradução/ampliação da Geographia de Ptolomeu por Girolamo Ruscelli, Cartógrafo veneziano.
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
‘Ad fontes!’
Esta é uma Revista Eletrônica, dedicada à Literatura Ludovicense/Maranhense. Com a decisão de não mais publicar uma revista dedicada aos esportes no/do Maranhão, devido ao fato de os podres poderes públicos deste Bananão não se importarem com essa atividade rica, de Lazer = esportes + cultura -, passo a utilizar este espaço, dedicado ao Lazer intelectual = leitura, para me manifestar sobre os esportes
Devido à falta de espaço – muitas atividades no trimestre passado – temos este número em duas partes. A partir de 2025 número, a periodicidade passa a ser bimestral...
Uma questão fica a martela meu cérebro. Ano passado – 2023 – não fui à FELIS. Não senti falta de nada. Apenas aconteceu “sem eu”; este ano, - 2024 – repetiu-se: não consegui ir! Das vezes em que me programei, não deu certo. Mas não senti falta. Nada de novo, os mesmos de sempre, a falta de planejamento, tudo feito de última hora, e dedicação aos livros de autoajuda e infantis, sem que os autores locais tivessem algum destaque. A ALL não teve seu estande, ficando juntada com a FALMA, assim como o IHGM. Não vi nada de interessante da AML: ela participou?
Fica uma grande dúvida: quantas academias de letras temos com sede em São Luís? Além da FALMA, que já congrega 33 academias interioranas. Ainda temos os municípios que integram a Grande São Luís, como Raposa, São José de Ribamar, Paço do Lumiar... quantas são? E a AMEI, com quantos associados, já?
Como perguntouo Marechal daALL,nosso PresidenteSanatiel: aindatemos literaturanaAtenas maranhense? E agora um maluco qualquer -não conseguimos ainda identificar o propositor desse revisionismo histórico –vem querer defenestrar Nina Rodrigues!!! Sem se aperceber que ‘outros tempos, outra moral’. Além do manifesto contra essa sandice, buscamos uma série de artigos em que a obra de Nina Rodrigues é analisada, inclusive sobre o seu suposto racismo... se é para se revisar as posições dentro de um determinado período de tempo, correspondentes às ideias então vigentes, e que não se coadunam com o ‘politicamente correto’ de hoje em dia, então... muita gente vai dançar!!!
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR
Expediente
Editorial Sumário
MANIFESTO DE MEMBROS DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACERCA DA DEMANDA JUDICIAL EM DETRIMENTO DA MEMÓRIA DE NINA RODRIGUES
CIENTIFICISMO E FICÇÃO DE NINA RODRIGUES
CLÁUDIO ANTÔNIO DE FREITAS BANDEIRA AS IDEIAS DE RAIMUNDO NINA RODRIGUES, E SUA INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE ATUAL
O “RACIALISTA VACILANTE”: NINA RODRIGUES E SEUS ESTUDOS SOBRE ANTROPOLOGIA CULTURAL E PSICOLOGIA DAS MULTIDÕES (1880-1906)
NINA RODRIGUES E A PATOLOGIZAÇÃO DO CRIME NO BRASIL
FILIPE PINTO MONTEIRO
CRISTIANE BRANDÃO AUGUSTO
RAÇA E CRIMINALIDADE NA OBRA DE NINA RODRIGUES: UMA HISTÓRIA PSICOSSOCIAL DOS ESTUDOS RACIAIS NO BRASIL DO FINAL DO SÉCULO XIX
MARCELA FRANZEN RODRIGUES
NINA RODRIGUES: SUA INTERPRETAÇÃO DO EVOLUCIONISMO SOCIAL E DA PSICOLOGIA DAS MASSAS NOS PRIMÓRDIOS
DA PSICOLOGIA SOCIAL BRASILEIRA
NINA RODRIGUES: UM PERFIL
NINA RODRIGUES – REVISÃO DE UMA ACUSAÇÃO
EVENICE SANTOS CHAVES
PEDRO HENRIQUE MIRANDA FONSECA
PEDRO HENRIQUE MIRANDA FONSECA “INDEX LIBRORUM PROIHBITORUM”
JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA
RESCALDO DE 2024 – 2ª QUINZENA DE NOVEMNRO e DEZEMBRO
JORNAL PEQUENO – EDIÇÕES AOS DOMINGOS - EDITOR:
VINÍCIUS BOGÉA
Editor: ANTONIO AÍLTON SILVANA MENESES
BIBLIOTERAPIA: A ARTE DE CURAR PELA LEITURA
ANTONIO AÍLTON ENTREVISTADO POR PAULO RODRIGUES
PAULO RODRIGUES ENTREVISTA O POETA ANTONIO AÍLTON
PALAVRAS DO MESTRE JORGE
ASSIM FALOU MEU PRIMO OZINIL ACONTECEU
ARTIGOS & CONTOS & CRÔNICAS & POESIAS
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS O BRADO DE UMA MULHER PARA A LIBERDADE
RAFAEL OLIVEIRA
ASSIR ALVES DA SILVA EM DEFESA DA ”HONRA”
CERES COSTA FERNANDES A TRAIÇÃO DE FILIPE CAMARÃO PARA COM SEU POVO (OU) O FIM DA REPÚBLICA PROTESTANTE DE COMBRESSIVE
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
NINA RODRIGUES – CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA
ARQUIMEDES VIEGAS VALE EU DISSE ISSO? MESMO? UAU...
OS SONHOS VENCERAM
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
OSMAR GOMES
JOÃO COELHO
A PALAVRA PAZ
EM QUE NATAL?
UMA CEIA POLITICAMENTE CORRETA
(JOÃOZINHO RIBEIRO)
JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA
CERES COSTA FERNANDES A ARTE DE ESCREVER
OSMAR GOMES
ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA
CARTA A BETTO PEREIRA,
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ESCREVER NÃO É SÓ A ARTE DE ESCREVER; É A ARTE DE ESCREVER COM ARTE
*MHARIO LINCOLN
EDMILSON SANCHES O SERMÃO DA RUA DO GIZ
EUGES LIMA O BABAÇU É O BOI DAS MATAS. O BOI É O BABAÇU DOS PASTOS
EDMILSON SANCHES
OUTRAS INSTITUIÇÕES LITERÁRIAS/CULTURAIS
Zeca tocantins
A ARTE E A MÚSICA DE ZECA TOCANTINS O MAESTRO SABIÁ O EMBLEMÁTICO SETE
DOS ESPORTES & LAZERES
MARIZA GARCIA
FADINHA CAMPEÃ!!! RAYSSA LEAL VENCE A ETAPA DE TÓQUIO DA STREET LEAGUE SKATEBOARDING
FMF PARABENIZA O ESPORTE CLUBE VIANA PELO TÍTULO DE CAMPEÃO MARANHENSE DA SÉRIE B.
MIRANDA DO NORTE E A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZERES
SOBRE O CORONEL EURÍPEDES BEZERRA
CORONEL PMMA EURÍPEDES BERNARDINO BEZERRA
MÉTODO “CAGADO” DE ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA – GENUINAMENTE MARANHENSE
COMO FAZER SEU TIPE CAMPEÃO – LANÇAMENTO – DICO BARROSO LEMBRANÇAS PEDREIRENSES
JOGOS ESCOLARES MARANHENSES - JEM'S
TERCEIRA EDIÇÃO DA COPA SADAMU URIU DE KARATÊ SHOTOKAN
FUTEBOL EM MIRADOR
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
LEONARDO DELGADO
MEMBROS DA FAMÍLIA DO PROFESSOR APOSENTADO DA UFMA DIMAS, OU ANTÔNIO ZACHARIAS BEZERRA DE ARAÚJO COM OURO NOS JOGOS DA JUVENTUDE E MUITO POTENCIAL NAS PISCINAS, MARANHENSE STEFANY AMORIM É DESTAQUE NA COMPETIÇÃO
RAYSSA LEAL TIRA 9.1 NA ÚLTIMA NOTA, LEVANTA A TORCIDA EM SP E É TRICAMPEÃ DE LIGA MUNDIAL DE SKATE
Tarcisio Selektah
CARTA ABERTA, que deveria ser fechada. NÃO É NADA SOBRE BASQUETE, É SOBRE A VIDA
VAMOS CELEBRAR O DIA MUNDIAL DO BASQUETE REVERENCIANDO AUGUSTO SHAW, RESPONSÁVEL POR TRAZER O ESPORTE PARA O BRASIL!
SÃO LUÍS DA TÁBUA DE CAL CARCOMIDA EM BUSCA DO TETRA EM 1974.
ZEZE CAVEIRA E AS LANCEADAS DO MÊS DE JULHO
ADOECEU TEM QUE SE TRATAR, UM PASSEIO PELA DÉCADA DE 1960-1970.
QUERIDO SENSEI!
HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO
HAMILTON RAPOSO MIRANDA FILHO
MELHORES DO ANO BGH 2024
DÁ PRA ENTENDER?
ÁUREO MENDONÇA
AUREO MENDONÇA
ACERCA DA DEMANDA JUDICIAL EM DETRIMENTO DA MEMÓRIA DE NINA RODRIGUES
“Nina Rodrigues lançou os fundamentos da antropologia e etnologia do negro brasileiro. Neste campo de pesquisas tudo o que se tem feito e poderá realizar não prescindiu, não prescinde, nem prescindirá dos trabalhos do insigne maranhense como ponto de partida ou de referência.”
(Antônio Lopes em texto de 1946, intitulado “Instituto Histórico”)
Os membros do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão abaixo assinados, cientes da existência de processo judicial/ação popular movida por um advogado com o propósito de retirar, da denominação do famoso hospital psiquiátrico do Estado do Maranhão mantido na Capital, o nome do grande maranhense Nina Rodrigues, porentendero referidocausídicoquea homenagem, mantidahá mais de80anos, feririao princípio da moralidade administrativa, qualificando aquele cientista do passado como apologista de teorias eugenistas;
Considerando que existe, no bojo do processo, audiência pública convocada para o dia 18 de fevereiro de 2025;
Considerando a contribuição de Raimundo Nina Rodrigues para a antropologia, a psiquiatria, a medicina legal e a cultura brasileira, enfim, destacando-se ele em estudos seminais sobre alimentação, sexologia, epidemiologia etc.;
Considerando ser ele reconhecido como fundador da antropologia criminal brasileira e pioneiro nos estudos sobre a importância do negro na formação do Brasil;
Considerando que Raimundo Nina Rodrigues viveu de 1862 a 1906, sendo, pois, a sua atuação científica informada, como não poderia deixar de ser, pelas teorias do seu tempo, algumas reconhecidas hoje como racistas, mas que então eram predominantes no mundo científico;
Considerando que o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, segunda instituição cultural mais antiga do Maranhão, fundada em 1925, tem por missões estatutárias (art. 1º): I – estudar, debater e divulgar questões sobre História, Geografia e ciências afins, referentes ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão; II – cooperar com os poderes públicos que visem ao engrandecimento científico e cultural do Estado, colocando-se à disposição das autoridades para responder a consultas e emitir pareceres sobre assuntos pertinentes às suas finalidades; III – defender e velar o patrimônio histórico do Maranhão;
Considerando a lição legada pelo principal fundador do IHGM, o erudito Antônio Lopes (1889–1950) –“Cultuar a tradição, venerar o passado, estudar o Maranhão, eis para que foi criado o Instituto. Bendito culto, que evoca o passado para o brilho do presente e torna cada vez mais entranhado o amor à terra maranhense e suas glórias”;
Considerando a obrigação, que temos, como membros do IHGM, de defender esse patrimônio imaterial, no qual o nome de Nina Rodrigues, patrono de uma de suas cadeiras, assim como de cadeiras de outras entidades respeitáveis do Estado, a exemplo da Academia Maranhense de Letras, figura como uma das mais notáveis figuras do nosso passado cultural;
Considerando que cada personagem histórico deve ser estudado e entendido no contexto da época em que viveu, sem lhe negar os méritos que tenha eventualmente demonstrado, embora refutando a reprodução de suas condutas que hoje se choquem com os mais elevados ideais consagrados pela marcha da civilização; e
Considerando que a iconoclastia irresponsável, representada pela injustificada demolição de estátuas e monumentos, pela supressão de símbolos e homenagens, é a tradução de um ingênuo desejo de modificar o passado, e não a expressão do maduro desejo de discuti-lo e entendê-lo, visando à sua superação, pelo aproveitamento do que resultou de positivo e pela refutação do que se revelou nefasto para o mundo hodierno,
CONCLAMAM OS INTELECTUAIS E ESTUDIOSOS MARANHENSES E BRASILEIROS A CERRAR FILEIRAS CONTRA A PUERIL TENTATIVA, porém, potencialmente danosa para a memória nacional, de suprimir o nome do médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues do homônimo Hospital Psiquiátrico Estadual, por considerarem que será perigoso precedente, apto a gerar o fortalecimento do desiderato de reescrever a história a partir da destruição do patrimônio cultural e da supressão da memória hoje consolidados.
SANATIEL
Caríssimos confrades e confreiras, a cidade de São Luis, como tudo na natureza, está passando pela sua estação de outono, onde a predominância do silêncio dos casarões, revestidos de azulejos, murmuram, tristes, uns para os outros, por terem sido abandonados pelos que hoje vivem do outro lado do rio Anil. Estes provavelmente nada falaram de Ana Jansen para seus filhos, e muito menos de Nina Rodrigues, João Lisboa ou Gonçalves Dias. A névoa em que a cidade e a cultura estão envolvidas, medra pelos homens que hoje habitam está sociedade sem memória. Ninguém quer sentir, na livraria, o cheiro do livro que quer lhe contar as histórias daqueles que fizeram a herança cultural desta terra onde jorrava ouro e diamantes sob a forma de crônicas, poesias, novelas e romances. Não ouvimos mais o estampido musical das rodas dos bondes sobre os trilhos de metal, nem os sons transcendentais dos sinos nas torres das igrejas chamando o buscador para as missas dominicais. Necessário se faz meditarmos urgentemente sobre o que devemos fazer para acordar São Luis.
CIENTIFICISMO E
DE NINA RODRIGUES
CLÁUDIO ANTÔNIO DE FREITAS BANDEIRA
CIENTIFICISMO E FICÇÃO DE NINA RODRIGUES | CIÊNCIA E CULTURA
Nina Rodrigues é considerado o fundador da antropologia criminal brasileira e pioneiro nos estudos sobre a cultura negra no país. Iniciou seus estudos de medicina na Bahia, mas concluiu no Rio de Janeiro, RJ (1888).
Nina Rodrigues nasceu em Vargem Grande, MA e é hoje considerado o fundador da antropologia criminal brasileira e pioneiro nos estudos sobre a cultura negra no país. Iniciou seus estudos de medicina na Bahia, mas concluiu no Rio de Janeiro, RJ (1888). Voltou à Bahia para assumir a cátedra na Faculdade de Medicina em 1891, quando promoveu a nacionalização da medicina legal brasileira, até então fiel seguidora dos padrões europeus.
Desenvolveu profundas pesquisas sobre origens étnicas da população e a influência das condições sociais e psicológicas sobre a conduta do indivíduo. Com os resultados de seus estudos propôs uma reformulação no conceito de responsabilidade penal, sugeriu a reforma dos exames médico-legais e foi pioneiro da assistência médico-legal a doentes mentais, além de defender a aplicação da perícia psiquiátrica não apenas nos manicômios, mas também nos tribunais.
Analisou pioneiramente os problemas do negro no Brasil. Morreu em Paris, França. Entre seus livros destacaram-se: As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil (1894), O animismo fetichista dos negros da Bahia (1900) e Os africanos no Brasil (1932).
O Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues (IMLNR), o mais antigo dos quatro órgãos do Departamento de Polícia Técnica da Bahia, foi criado (1906) pelo professor Oscar Freire e intitulado Nina Rodrigues pela Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia, em homenagem ao famoso professor catedrático de Medicina-Legal, falecido naquele mesmo ano, aos 44 anos de idade.
Raimundo Nina Rodrigues (1862- 1906) foi o primeiro estudioso brasileiro da virada do século XIX para o XX a colocar o negro brasileiro enquanto um problema social, como uma questão de importância para a compreensão da formação racial da população brasileira; ainda que pese a perspectiva racista, nacionalista e cientificistaemqueconstróiapráticadiscursiva. Asíntesedistoestánolivro“OsAfricanosnoBrasil”(18901905).
Nina Rodrigues
Segundo estudiosos, sua obra, vista no conjunto, afigura-se como um clássico da literatura afro-brasileira. Trata-se de uma vasta e rica coletânea de informações e dados a respeito do universo cultural das comunidades negras no Brasil. Esforço etnográfico que nenhuma outra obra antes dela realizara. A obra também é avaliada como um imenso esforço intelectual de mais de uma década (1890-1905), no intuito de reunir registros e
evidências (escritas e orais), no dizer do próprio autor, dos “últimos africanos no Brasil”. O que faz dela um ponto de referência bibliográfico obrigatório para todos os estudiosos da problemática do negro na sociedade brasileira.
Contudo a análise crítica literária e historiográfica do discurso racista de Nina Rodrigues em “Os Africanos no Brasil” mapeia as condições de sua existência, para entendê-lo. O contexto histórico, cultural, literário e institucional contribui, em grande parte, para a formação do pensamento do escritor e estudioso, segundo pesquisadores de sua obra. Ele é que permite entender a mentalidade racista, nacionalista e cientificista veiculada pela sua obra, afirma o estudo Os Africanos no Brasil: Raça, Cientificismo e Ficção: Nina Rodrigues.
Como médico legista e professor de medicina legal na Universidade da Bahia, no fim do século XIX e início do século XX, dificilmente escaparia de um pensamento deste tipo; pois, encontrava-se atuando – e por ele foi formado – dentro de um ambiente institucional, acadêmico e intelectual recortado, basicamente, pelas teorias e ideias racistas, nacionalistas, evolutivo positivistas, de sabor oitocentista. Darwin, Augusto Comte, Heckel, Cesari Lombroso, Enrico Ferri e R. Garofollo e Alexandre Lacassagne foram seus mestres, para os quais, numa atitude de discípulo, dedicou o volume de “As Raças Humanas e Responsabilidade Penal no Brasil”.
Desta forma, Nina Rodrigues assume e comunica na sua obra, um discurso sobre o negro pautado no paradigma da determinação biológica e cultural da superioridade ariana, na medida em que ele recebe influências dos ideólogos e teóricos do mesmo (NETO, 2008).
A descoberta do Schistosoma mansoni – Em 2008, o país comemorou discretamente o bicentenário da primeira instituição de Ensino Superior do País, a Faculdade de Medicina da Bahia; e o centenário da descoberta do Schistosoma mansoni pelo professor Manuel Augusto Pirajá da Silva (1873 – 1961). Médico e cientista brasileiro nasceu em Camumu, Bahia. Sua descoberta implicou em grande avanço no tratamento das doenças tropicais, como por exemplo, a identificação do verme causador da esquistossomose.
Pirajá da Silva formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia (1896), defendendo uma tese sobre meningite cerebroespiral epidêmica, exerceu a clínica antes de iniciar a carreira de pesquisador e professor como assistente da cátedra de Clínica Médica (1902) Seus primeiros estudos sobre a esquistossomose tiveram início em 1904. Observou que os ovos do parasita, eliminados por um doente em Salvador quando descobriu e fez completa descrição do Schistosoma mansoni (1908), parasita que provoca no homem a esquistossomose chamada intestinal, explica Tavares-Neto.
Foi em seguida para a Europa (1909), onde estudou microbiologia no Instituto Pasteur de Paris e no Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo, Alemanha. Diplomou-se como médico colonial pela universidade da capital francesa (1911) e frequentou o laboratório de parasitologia (1911-1912) da Faculdade de Medicina de Paris. Estudou ainda doenças tropicais no Tropeninstitut de Hamburgo e publicou um notável trabalho descrevendo a cercária da esquistossomose (1912).
Volta ao Brasil e passa a ocupar o cargo de professor de história natural médica e de Parasitologia, na Faculdade de Medicina da Bahia e o de história natural no Ginásio Baiano (1914), ficando nesta disciplina até a aposentadoria (1935). Foi nomeado, inspetor sanitário rural (1921) e recebeu a medalha Bernhard Nocht, do Instituto Alemão de Doenças Tropicais, de Hamburgo (1954), e dois anos depois a grã-cruz da Ordem do Mérito Médico, que lhe conferiu o presidente Juscelino Kubitschek, por destacados serviços prestados à ciência e à cultura médica do Brasil.
Morreu em Salvador e entre outros feitos científicos realizados por esse cientista ao longo da sua vida, destacaram-se, além da identificação do Schistosoma mansoni ou Schistosoma americanum, realizou outras descobertas, como a concentração da solução de tártaro emético para o tratamento da leishmaniose e do granuloma venéreo, registrou os dois primeiros casos de blastomicose na Bahia e descobriu o Triatoma megista, um dos transmissores da doença de Chagas. Faleceu em Salvador, no ano de1961.
“Analisando a documentação desse período (1905-1908), disponível no Acervo Geral da Fameb (1808-2007), fica patente a obstinação do doutor Pirajá da Silva, à época professor-assistente da 1ª Cadeira de Clínica Médica da Fameb, porque as condições disponíveis à pesquisa e ao ensino prático eram bastante precárias”, afirma o professor Tavares-Neto segundo o qual antes de “antes de Pirajá da Silva, o maior expoente científico
foi o professor Raymundo Nina Rodrigues, nas áreas da Medicina Legal e Antropologia, também o introdutor do método científico no ensino médico da Fameb e um dos precursores brasileiros”.
O ex-diretor da Faculdade de Medicina acrescenta que, no tempo de Pirajá da Silva, as condições locais em nada favoreciam a descoberta que realizou. “Não obstante, isso é ainda mais inimaginável se o examinador estiver impregnado dos atuais valores impostos pelo mercado da tecnociência. Mais ainda porque Pirajá da Silva estudava um espécime biológico ainda hoje pouco valorizado, as fezes humanas, e tinha como equipamento mais sofisticado um microscópio do tipo mono ocular; no entanto, era sólida a formação de Pirajá da Silva em Microbiologia e Parasitologia, inclusive considerando os seus relatórios de pesquisa e suas publicações”.
As ideias de Raimundo Nina Rodrigues, e sua influência na sociedade atual
João Coelho
As ideias de Nina Rodrigues e sua influência na sociedade atual
João Pedro Coelho Silva
Este trabalho tem como objetivo além de informar, conscientizar a população contra todo e qualquer ato de preconceito e racismo. Atualmente leis e propagandas estão sendo criadas para tentar combatê-las, mostrando que somos todos iguais. O artigo 3º da Constituição Federal é um exemplo, onde no seu inciso IV diz: “constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Nesse artigo, a principal forma de discriminação abordada é em relação à cor, mostrando os fundamentos das ideias do Médico Raimundo Ninas Rodrigues em relação aos negros, associando os mesmos a maior aptidão ao cometimento de crimes, e tentando o contrapor.
Este trabajotiene como objetivo además de informar, educar a lapoblación contra todos y cualquieracto de prejuicio y racismo. Actitudes como estas son ridículas, y es triste qué passa em el mundo en que vivimoshoy em día com tantos avances, todavia hay. Actualmente se estáncreandoleyes y anúncios para tratar de combatirlas, mostrando que somos todos iguales. Artículo 3 de nuestraconstitución es um ejemplo, donde em su articulo IV disse: “Constituyen objetivos fundamentales de la República Federativa de Brasil promover elderecho de todos, sinprejuicios de origen, raza, sexo, color, edad, y otras formas de discriminación”. En este artículo, la principal forma de discriminación que vamos a comentar se relaciona com color, mostrando los fundamentos de las ideias médicas Raimundo Nina Rodrigues enlo referente a los negros, associando lamismalamayoraptitudlacomisión de tales delitos y tratando de contrarrestar.
Preconceito em geral é visto de forma comum na nossa sociedade, ainda mais com a facilidade de acesso a internet, onde pessoas usam do anonimato para desferir palavras ofensivas e altamente preconceituosas contra outras, achando que nunca será descoberto só pelo fato de estarem atrás de uma tela de computador.
Dentre essas ofensas, não só pela internet, mas também na vida real, todos correm o risco de sofrê-las, mas na maioria das vezes por conta de uma péssima herança na educação, os negros são as maiores vítimas.
Péssima herança, pois não é de hoje que os negros são vítimas de preconceito. No Brasil, desde a época que os trouxeram da África para trabalhar como escravos, sendo tratados como animais, onde o “homem branco” era melhor e livre só pela cor, que já existia isso.
É triste ver que barbáries como essas permanecem até hoje, onde nossa sociedade séculos depois ainda permanece com isso, prejudicando o convívio de todos. A constituição da república federativa do Brasil, o código Penal, e a Lei caó (Lei 7726), são exemplos de defesa dessas igualdades, protegendo as vítimas que sofrem essas ofensas.
O Brasil já tem uma punição bastante severa para quem comete esse tipo de crime, mas o que precisa ser feito junto a isso são campanhas de conscientização, mostrando para a população que além do negro ser igual à todos, o Brasil é um país de enorme miscigenação e que tem uma influência dos costumes, da cultura, e do viver muito grande desse povo.
Por esses motivos, levando em conta a igualdade de todos independente de qualquer coisa, e também que pensamentos ruins como essejávem de anos atrás, tendocomo exemplooMédicoNinaRodrigues, quevamos abordar a influencia dessas idéias até hoje, e que elas devem ser combatidas.
Em um primeiro momento mostraremos quem foi Nina Rodrigues, médico conhecido nacionalmente por suas pesquisas e seu trabalho, principalmente na Bahia, suas principais obras, e seu legado para o inicio de um estudo que vem crescendo cada vez mais no Brasil e no mundo, que é a Antropologia Criminal. Depois vamos mostrar a ligação do Brasil com o negro, a forma que vieram de seus países para ca, e suas heranças de cultura e estilo de vida que permanecem vivas até hoje.
Em um terceiro momento, vamos abordar o perfil da população carcerária brasileira, mostrando quem são essas pessoas que estão atrás das grades, sua idade, o estudo que possuem, e principalmente a cor. Esse último aspecto que está relacionado com as idéias desse grande médico, será o principal tema para esse artigo. Em seguida vamos tratar do crime de injúria racial, que foi criada para diminuir o preconceito, e garantir a igualdade de todos.
Olhando os dados apresentados pelo INFOPEN, superficialmente Nina Rodrigues teria razão em suas teorias, pois os negros ocupam a maior parte da população carcerária brasileira, mas isso é que vamos procurar contrapor.
Em um momento seguinte, na conclusão, trataremos de possíveis soluções para diminuir esse quadro, onde o negro, pobre e o baixo escolarizado é a maior vitima da política criminal brasileira.
Com isso, este estudo pretende fazer uma reflexão, querendo mostrar que pensamentos racistas e radicais não levam a nada, e o passado é um exemplo disso, com o nazismo.
Se hoje, depois de muita luta, a Constituição brasileira dá garantias aos cidadãos, visando sempre à dignidade da pessoa humana, devemos valorizar isso, procurando soluções realmente inteligentes.
Raimundo Nina Rodrigues
Raimundo Nina Rodrigues, Médico e Antropólogo Brasileiro, nasceu em Vargem Grande, Maranhão. Filho de Coronel Francisco Solano Rodrigues, proprietário de terras, e de Luiza Rosa Nina Rodrigues, descendente de uma das cinco famílias de judeus sefarditas que chegaram às terras maranhenses, fugidas de perseguições político-religiosas da Península Ibérica (Corrêa, 1998, p. 319).
Em 1882, Nina Rodrigues ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia. Em 1885, transferiu-se para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e cursou o quarto ano. No ano seguinte retornou à Bahia e estagiou na Santa Casa de Misericórdia. Em 1886, concluiu o curso de graduação no Rio de Janeiro e elaborou sua tese de doutorado cujo titulo era Das Amiotrofias de Origem Periférica, defendida no final de 1887 (Corrêa, 1998, p. 321)
Fundador da Antropologia criminal Brasileira, seguindo ideias de Lambroso, e pioneiro nos estudos sobre a cultura negra no País, escreveu diversas obras, dentre elas: As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil, O animismo fetichista dos negros da Bahia e Os africanos no brasil.
A antropologia criminal, hoje também denominada biologia criminal, é ciência criminológica que deve seu aparecimento, como conjunto de princípios sistematizados, a Cesare Lombroso. Segundo o famoso médico italiano, há um tipo humano especial, devidamente caracterizado por uma série de traços somato-psíquicos, e
que é o “delinqüente nato”. Existem, assim, certos homens naturalmente criminosos, perfeitamente identificáveis por características particulares, a maioria das quais externamente visíveis. (LUNA, Jessica). Hoje, a antropologia criminal (ou biologia criminal, como falam os alemães) é definida como a ciência que pesquisa “os fatores individuais do crime”, nele compreendendo os coeficientes “endógenos, somáticos e psíquicos, inerentes à vida do homem”. A psicologia criminal se insere, assim, nos domínios da biologia criminal, como parte integrante desta. Assim, a biologia criminal, compreendendo o estudo “morfopsicomoral do delinqüente, absorve em si a anatomia, a psicologia e a psicopatologia do criminoso”. (LUNA, Jessica).
Como Médico,deixou um enorme legado, principalmentena Bahiaondeo InstitutoMédico Legal de Salvador leva seu nome. Em compensação foi bastante polemico em outro ponto, no qual tentava entender a influencia da raça para cometimentos de crimes. Entre suas idéias, deixou frases como: “O negro é rixoso, violento nas impulsões sexuais, muito dado à embriaguez, e nesse fundo de caráter imprime na criminalidade colonial atual”(NINA RODRIGUES, Raimundo).
Com isso, percebe-se a postura altamente preconceituosa desse ilustre Médico, que para ele, o negro tinha uma aptidão maior para o crime, devido sua genética. Pena que pensamentos como esse permanecem até hoje, pois em pleno século XXI muitas pessoas pensam dessa forma, vendo que por ser negro, irá ser criminoso. Negros e o Brasil
Com o açúcar em alta no Brasil colonial, muitos proprietários de terras visando maior lucro recorreram para uma mão de obra mais barata, trazendo para ca muitos negros que eram traficados pelos portugueses para trabalhar como escravos nos canaviais. Durante o transporte, nos chamados navios negreiros, eles eram trazidos de forma desumana, sem comida nem banheiro, precisando fazer as necessidades no mesmo local onde viajavam.
Assim que chegaram nas fazendas, para trabalhar, eram tratados iguais à animais, dormindo nas senzalas, forçados a cumprir suas obrigações em troca de uma simples comida. Não tinham salários, férias, entre outros direitos, e quando não cumpriam essas obrigações apanhavam de forma cruel, que em alguns casos chegava até a morte.
Com essa forma desumana pela qual eram submetidos, muitos deles acabaram se revoltando, fugindo das fazendas e se refugiando nos quilombos. “As pequenas aldeias abrigavam os negros fugitivos e, unidos, formavam uma comunidade econômica, política, social, religiosa e militar, de acordo com os costumes de seus países de origem. Assim se tinha a sociedade livre”. (Negros no Brasil. Info).
“Os quilombos se localizavam em áreas de difícil acesso. O Brasil era dividido em 15 capitanias – no século XVI – e havia alguns quilombos espalhados. Onde hoje se situa o município de União dos Palmares, Alagoas, existia um dos mais importantes vilarejos clandestinos: o Quilombo dos Palmares. Comercializados nas capitanias de Pernambuco e Bahia, eles corriam para os quilombos. Havia um poderoso homem, líder de Palmares, que recebia os recém-chegados, Ganga Zumba. Ele pertencia a um reino tribal da Angola e veio escravizado para o Brasil. No entanto, constituiu seu quilombo, que chegou a marca dos 35 mil habitantes e era fortemente armado”. (Negros no Brasil. Info).
Essas comunidades mesmo sendo fortemente armadas, ainda deixavam os negros inseguros, pois há qualquer momento poderiam ser surpreendidos e capturados. De pouco a pouco, a liberdade foi chegando através dos movimentos abolicionistas, até chegar definitivo em 1888.
Depois do século XIX, a Inglaterra questionou a escravidão brasileira. Com isso foi publicado a lei Bill Aberdeen, em 1845, que proibia o tráfico negreiro. Com toda essa pressão, foi aprovada no Brasil a Lei Eusébio de Queiróz, que acabou com o tráfico negreiro. Em um momento depois, já no ano de 1871, foi aprovada a Lei do Ventre livre, dando a liberdade aos filhos de escravos que nasceriam após a aprovação da lei. Já em 1885, foi aceita a Lei dos Sexagenários para libertar os escravos maiores de 60 anos. (Negros no Brasil. Info).
Finalmente em 13 de maio de 1888, através da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, os negros tiverem a liberdade em todo o mundo. Mesmo com a liberdade, muitos deles se submeterem a trabalhos ruins, pois tiveram dificuldade para se inserir no mercado de trabalho após a abolição da escravatura, e essa era a única forma de sobreviverem. Os que não arrumavam empregos, mesmo ruins, ficaram sem ter moradia, comida, vivendo com muitas necessidades em locais precários.
O perfil da população carcerária no Brasil
Este artigo tem como base para pesquisa, dados obtidos através do INFOPEN, onde mostra detalhadamente a real situação do perfil da população carcerária Brasileira, trazendo características sobre faixa etária, raça, grau de escolaridade, sexo, classe social, dentre outras informações sobre os detentos.
Com uma frase do próprio levantamento, é possível perceber de como está a situação dos jovens brasileiros, onde 56% da população prisional são de pessoas entre 18 e 29 ano, 57% solteiros e 53% não concluíram nem o ensino fundamental:
“Nota-se que a maior parte população prisional é formada por jovens”. (INFOPEN, 2014)
Aeducação éaprincipal baseparaum país sedesenvolver.Além degeraroportunidades dojovemse capacitar einserir-semais facilmentenomercado de trabalho, ajudando a ele etoda economiadopaís, a educaçãoforma um cidadão de bem, refletindo em toda sociedade.
Infelizmenteisso nãoocorrenoBrasil.Opaís possui a3ª pioreducação doranking, em umapesquisa realizada em 2014, pela Economist Intelligence Unit. E os resultados disso não poderiam ser outros. Jovens com pouco auxilio e incentivo do governo para estudar, geralmente entram com mais facilidades no mundo do crime, pois além de não ocupar a mente e ter planos de vida, acabam ficando sem oportunidades e a margem da sociedade em geral, e isso é o que ocorre atualmente, pois 53% dos presos não chegaram nem a concluir o ensino fundamental.
A Finlândia é um grande exemplo a ser seguido, pois o país é o numero 1 no ranking de educação da mesma pesquisa, e o resultado disso é que uma de suas cidades foi eleita a 7ª melhor para se viver, possuindo estabilidade, saúde, cultura, meio ambiente, educação e infraestrutura.
Outros programas de incentivo, como a prática de atividades esportivas também são importantes, pois além da disciplina que o esporte proporciona, também ocupa o tempo do jovem com coisas saudáveis, preenchendo seu dia-dia em conjunto com a escola.
Já em relação a raça, cor ou etnia, os negros ocupam 67% do sistema prisional brasileiro. Olhando esse perfil, pode-se até pensar que Nina Rodrigues teria alguma razão, e é o que acaba acontecendo hoje com muitas pessoas, onde trazem consigo esse pensamento preconceituoso e racista.
Nossa finalidade é tentar mostrar que a cor do individuo não influencia em nada para o cometimento de um crime, e sim mostrar alguns dos possíveis fatores disso, para assim diminuir o preconceito que abala e prejudica nossa “sociedade moderna”.
O trafico de escravos através de navios trouxe para o Brasil milhares de negros para trabalharem forçadamente durante o período colonial, fazendo com que a população negra no Brasil crescesse muito.
Com a lei Áurea assinada em 1888, na qual os escravos estavam livres, quase todos eles ficaram desempregados e foram para as cidades, sem terem moradias, empregos, comidas etc.
Atualmente, segundo o IBGE, 51% da população brasileira é negra, e cerca de 39,2% dos brasileiros ganham até um salário mínimo. Mas por essas questões históricas que acabaram refletindo nos dias de hoje, a maioria dessa população de baixa renda é negra.
Com isso, sem oportunidades, e com uma enorme deficiência do Estado em suprir necessidades das famílias de baixa renda, proporcionando escolas boas, um curso superior, oportunidade de emprego, e outras chances de melhorarem de vida, esses jovens entram no mundo do crime com mais facilidade, gerando consequentemente dados como esses.
Por esses motivos, a população prisional do Brasil é feita da maioria de negros, onde acaba despertando um pensamento preconceituoso nas pessoas que não tem um olhar critico sobre esse tema, chegando a ter opiniões parecidas com as de Nina Rodrigues. Mas esses dados nada se relacionam a raça do individuo, e sim com esses fatores onde o Estado tem que se fazer mais presente.
Sobre esse tema, vale ressaltar uma frase de Martin Luther King Jr. Que diz “Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pelé.”
Crime de injúria racial
A nossa legislação, visando proteger as pessoas que sofrem ou sofreram algum tipo de ofensa, criou punições para junto com campanhas de conscientização, tentar diminuir esse quadro que infelizmente ainda permanece em nosso meio, deondedeveriaterdesaparecido hámuito tempo. Dentreessas punições, mostraremos ocrime de injuria racial, sua pena, e diferença com o racismo.
O crime de injúria se encontra no código penal, dentro dos crimes contra a honra. O código, em seu artigo 140, caput, diz: “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: pena- detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa”. No parágrafo terceiro do mesmo artigo, encontramos uma causa de majoração de pena relacionada à injúria racial, sendo ela: “Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: pena- reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa”.
É possível perceber a preocupação e o cuidado que o legislador está tendo com esses indivíduos vitimas desse tipo de crime, pois no § 3º do artigo 140, algumas mudanças ocorrem, sendo elas: passa de detenção para reclusão, a quantidade da pena aumenta, e agora vai ser cumulado com multa, diferente de antes.
A população em geral confunde ou acha que é a mesma coisa injúria racial e racismo, mas cada uma delas possui características peculiares e diferenças. O primeiro está contido no Código Penal brasileiro e o segundo, previsto na lei n. 7.716/1989. Enquanto a injúria racial consiste em ofender a honra de alguém, valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem, o crime de racismo atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda integralidade de uma raça. Ao contrário da injúria racial, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível. (CNL, Agência de Noticias).
Em geral, o crime de injúria está associado ao uso de palavras depreciativas referentes à raça ou cor com intenção de ofender a honra da vítima. Já o crime de racismo, previsto na lei n. 7.716/1989, implica conduta discriminatória dirigida a determinado grupo ou coletividade e, geralmente, refere-se a crimes mais amplos. Nesses casos, cabe ao Ministério Público a legitimidade para processar o ofensor. A lei enquadra uma série de situações como crime de racismo, por exemplo, recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impediro acesso às entradas sociais em edifícios públicos ouresidenciais eelevadores ouàs escadas deacesso, negar ou obstar emprego em empresa privada, entre outros. (CNJ, Agência de Noticias).
Conclusão
Esse trabalho teve como principal objetivo, conscientizar a população de forma geral, mostrando a igualdade e a importância dos negros em nosso país, onde temos uma influencia muito forte deles em muitos aspectos. Também foram abordados alguns fatores que geram dados como os que vimos acima, dados esses que não possuem nenhuma ligação com raça ou cor, e sim com fatores históricos, em um momento onde o Estado deveria ter atuado ajudando os negros que tinham sido libertos, e nada fez, deixando-os a mingua. Hoje em dia, o governo tem tentado suprir essa desigualdade que se fez presente por muito tempo, e isso é de extrema importância.
Outro tema abordado foi em relação à faixa etária da população prisional no Brasil, que é composta de maior parte por jovens. Algumas soluções foram propostas para tentar diminuir esse quadro, mostrando algumas maneiras do Estado cuidar das nossas crianças e adolescente, dando oportunidades para um futuro melhor, e consequentemente afastando-os do caminho ruim.
Essas ideias abordadas no trabalho, para dar certo, não é só o Estado que tem que cumprir seu papel, e sim toda sociedade. Com os dois, cada qual cumprindo sua função de forma consciente e exemplar, o nosso país se tonará um lugar bem melhor para se viver.
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ANTROPOLOGIA CULTURAL E PSICOLOGIA DAS MULTIDÕES (1880-1906)
A obra do médico e antropólogo Raimundo Nina Rodrigues é tradicionalmente enquadrada nos moldes de um discursocientificista,típicodofinaldoséculoXIX,marcadopelo racialismodogmático,importadoeadaptado ao cenário nacional. Este artigo problematiza tal panorama, comum aos estudos do pensamento social brasileiro,edeslocaaherançaintelectualrodrigueanadaesferadeumdarwinismo-socialexacerbado, dotípico determinismo racial, para áreas de estudos antagônicas. Tomando como eixo de reflexão textos seus sobre antropologia cultural e psicologia gregária, o objetivo é abrir caminhos pouco explorados pela historiografia, a partir da adoção, pelo médico maranhense, de leituras da chamada escola evolucionista-social e também da sociologia tardiana. O contato e o acomodamento de propostas que divergiam do conteúdo oitocentista paradigmático fizeram do conjunto da obra de Nina Rodrigues - em especial o recorte da problemática racial - um objeto intrincado, arquétipo do momento tensionado em que viviam as ciências de seu tempo.
Ao debruçar-se sobre o conjunto de obras do médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), tem-se a sensação de que ele escrevera de tudo um pouco. Controverso e polêmico, Rodrigues foi um personagem de destaque na sociedade brasileira em fins do século XIX e início do XX. Na esfera de atuação científica e acadêmica, tratou de temas inéditos e adotou teorias estrangeiras, acomodando-as, ao seu modo, à realidade brasileira. Deixou uma herança que suscita discussões até os dias atuais e é revisitada por muitos dedicados à história intelectual.
No universo da prática medicinal ele se dedicou intensamente à saúde pública, denunciando situações graves que comprometiam os serviços sanitários/higiênicos estaduais e federais, exigindo a ampliação do controle das epidemias de influenza, febre amarela, beribéri e lepra, o combate à liberdade profissional, a atenção especializada aos alienados e aos criminosos, e a reformulação do ensino de medicina em geral - só para citar algumas das questões que mais o afligiam. Não fugia às contendas para as quais era arrastado (ou para as quais se arrastava), defendendo teses francamente discriminatórias, em especial em relação ao negro, ao indígena e ao mestiço.
Rodrigues viveu o momento caótico dos primeiros anos da República e procurou, na medida do possível, intervir na realidade cotidiana do novo país. Demandou, em diversas oportunidades, a valorização do perito médico-legal, como profissional indispensável à atuação conjunta com a justiça e lutou pela centralização federal e estadual de diversos serviços de saúde, entregues aos poderes locais. Insurgiu-se, quando da promulgação do Código Penal (1894) e da formulação do Código Civil (1901), contra os legisladores por não aprovarem responsabilidades distintas para brancos e “homens de cor”, tese que estava muito longe de ser unanimidade entre médicos e juristas.
Rodrigues, como é sabido, alimentou uma afeição objetiva e científica pelas religiões de matriz africana. Num tempo marcado pela intolerância racial, pelas recorrentes incursões policiais nos terreiros, manteve suas pesquisas de campo na capital e no recôncavo baianos. Sem nunca rejeitar a ideia-síntese de inferioridade do negro, ele deixou aos seus sucessores uma “etnografia detalhada e verossímil da religião afro-brasileira”, sendo mencionado, anos depois de sua morte, não apenas como o fundador da antropologia brasileira, mas também como o “primeiro etnógrafo do Brasil urbano” (MAGGIE e FRY, 2006, p. 10).
As obras de Rodrigues, dispersas e inacessíveis, ao longo do século XX - à exceção, talvez, daquelas ligadas ao tema das religiões afro-brasileiras - foram pouco exploradas. A evidência, denunciada, entre outros, por Mariza Corrêa e Lilia Schwarcz, e da qual também compartilhamos, nos sugere que no momento atual, no alvorecer do século XXI, ainda há muito a se escrever em torno de suas contribuições médico-científicas. No ano do centenário de sua morte, em 2006, em texto intitulado Os livros esquecidos de Nina Rodrigues, Corrêa
alertou seus leitores sobre a importância de se renovar o olhar sobre algumas de suas obras mais conhecidas, entre elas aquelas ligadas à abordagem sobre as raças e jogar luz sobre seus escritos vinculados ao tema da Psicologia das Multidões (CORRÊA, 2006, p. 60-62).
Ao avançar sobre o universo específico das coletividades, seu funcionamento no meio social brasileiro e sua relação com o debate racial, Rodrigues teve contato com autores capitais, entre os quais destacamos neste artigo Edward B. Tylor (1832-1917) e Gabriel Tarde (1843-1904), que o fizeram reexaminar algumas das premissas do racialismo. Embora a inferioridade do negro, do índio ou do mestiço frente ao ariano se mantivesse como o pilar de suas reflexões, Rodrigues tensionou alguns dos pressupostos mais caros a si e aos teóricos racialistas. Ainda que nunca tenha chegado a negar o racismo científico, inspirado pelas sugestões de Corrêa, argumento que aquelas leituras, gradativamente, abriram fissuras nos próprios ideais de Nina Rodrigues, cedendo espaço e criando um quadro teórico distinto e intrincado que pretendemos explicitar a seguir.
Cabesinalizar ainda aimportância paraesteartigo da retomada, em décadas recentes, por estudiosos nacionais e estrangeiros, dos clássicos de Tarde e Tylor, algo que permitiu-nos estabelecer uma interlocução efetiva entre estes últimos e Nina Rodrigues. Ambos, considerados durante longo período pela academia como “autores menores”, o primeiro no campo da sociologia e o segundo da antropologia e etnografia, permaneceram, durante a maior parte do século XX, desmerecidos, preteridos, por razões diversas, frente a outros grandes nomes de suas áreas, como Émile Durkheim, Bronisław Malinowski, Alfred Radcliffe-Brown, entre outros.
Nossa proposta é também, de alguma forma, fruto do resgate atual desses escritores que tiveram papel fundamental no momento de gestação das disciplinas às quais tantos se dedicam atualmente. E se, como lembra Marilyn Strathern (1987), casos como o de Malinowski, que conspirou para derrubar Tylor e Frazer e suas ideias, tiveram sucesso em seu tempo, os destronados ou “assassinados intelectualmente”, renascem agora em pleno século XXI, trazendo consigo ideias, conceitos, recursos, significados, que tornaram possível, nesta ocasião, em especial, uma releitura da obra de Nina Rodrigues.
Nina Rodrigues e sua obra: interpretações
Desde a morte precoce de Rodrigues, em 1906, na França, vários foram os textos, em tom enaltecedor, publicados por médicos, folcloristas, escritores e memorialistas em torno de seu legado. No entanto, apenas a partir da segunda metade do século XX, uma produção efetivamente acadêmica passou a ganhar musculatura. Dentre os intelectuais comprometidos com a temática rodrigueana, o escritor Edison Carneiro e a antropóloga
Mariza Corrêa foram pioneiros. Carneiro, em Ladinos e crioulos, de 1964, foi um dos primeiros a questionar a então “Escola Baiana” ou “Escola Nina Rodrigues”, formada por profissionais que, segundo ele, de dez em dez anos apareciam com o intuito de exultar os méritos científicos do médico maranhense (CARNEIRO, 1964).
MarizaCorrêa,no clássico Ilusõesdaliberdade (defendidocomotesededoutoradoem1982epublicadocomo livro apenas em 1998), retoma a questão levantada por Carneiro e a aprofunda1. Devido ao seu trabalho, sabese hoje que a Escola não foi criada no tempo de vida de seu patrono, surgindo posteriormente pelas mãos de nomes como Afrânio Peixoto, Arthur Ramos, Oscar Freire, Homero Pires e até Gilberto Freyre, que se diziam teoricamente próximos ao “mestre”. Como bem demonstra a autora, no entanto, se, no geral, seus “seguidores espirituais” pretendiam criar uma genealogia mítica a partir de sua atuação, no particular, eles se distanciaram de suas teses e as negavam inteiramente.
Embora o livro de Corrêa se concentre nos autoproclamados discípulos de Rodrigues e na emergência da antropologia no Brasil, muito de sua atenção volta-se ao personagem-chave deste artigo. Ao dissertar sobre os fundamentos do pensamento rodrigueano, a autora afirma que o critério racial como parâmetro biológico perpassa grande parte de sua obra, ainda que não fosse seu foco principal. Em meio ao debate sobre a abolição da escravidão e após esta, ele colocou o negro como “objeto de ciência”. Corrêa nos apresenta um estudioso (e entusiasta) da desigualdade das raças humanas que, fosse na prática clínica diária, fosse na atuação política e institucional, tentava convencer seus pares da inferioridade dos não-arianos no Brasil e as consequências nefastas da predominância destes para o destino da nação.
Poucos anos antes, em 1974, o norte-americano Thomas Skidmore publicava Black into white (Preto no branco), livro que só viria a ganhar sua primeira edição brasileira em 1989 2 Por aqui, a obra teve uma recepção à altura de sua importância, muito embora o autor incorresse em assertivas controversas como, por
exemplo, ao afirmar que a questão racial não foi relevante na intensa luta antiescravista de meados do século, reiterando certa visão de “harmonia social”, propagada por intelectuais e abolicionistas de renome como Joaquim Nabuco (1849-1910).
Skidmore também afirma que Rodrigues foi o mais “prestigiado doutrinador racista brasileiro de sua época” (2012, p. 103). Militante da causa médica e científica, em especial da médico-legal, como aponta de forma apropriada Schwarcz, “Nina procurou fazer de suas teses não uma questão pessoal, mas uma matéria de ciência, fartamente amparada na bibliografia da época” (SCHWARCZ, 2012, p. 15). Nada indica que Rodrigues fizesse proselitismo, mantendo, inclusive, debates públicos, na imprensa e em periódicos especializados, com os que discordavam dele. Posto isto, Skidmore procura entender o significado do sentimento de nacionalidade e abrir uma interlocução com Silvio Romero (1851-1914), Euclides da Cunha (1866-1909), o próprio Nina Rodrigues, entre tantos outros que procuravam decifrar os enigmas deste “laboratório racial” dos trópicos 3
As doutrinas raciais estrangeiras que aportaram no Brasil por volta da segunda metade do século XIX foram acolhidas e rearranjadas, a partir da realidade nativa, por intelectuais como os citados acima. Lilia Schwarcz tratou da temática e de como essas teorias foram adaptadas, ensinadas e difundidas em diferentes instituições brasileiras no clássico O espetáculo das raças, publicado em 1993. Sua obra trata de muitos personagens, entre eles, Nina Rodrigues, que se figura nesse livro como um disseminador das teorias deterministas e um crítico da mestiçagem, processo este que poderia levar à degeneração física, moral e psíquica da população.
Ademarcação deumadiferençaontológicaentreas raças existentesem nossoterritóriofezdeNinaRodrigues, segundo Schwarcz, seu porta-voz mais extremado, um verdadeiro “arauto da diferença” (2006, p. 52). Essa imagem, resumida como Nina Rodrigues: um radical do pessimismo (SCHWARCZ, 2009, p. 90-103), título de um importante trabalho de sua autoria, revela um adepto inconteste do darwinismo-social e da antropologia criminal. Tal assertiva a levará a afirmar que, assim se posicionando, tornou-se um dos intelectuais mais coerentes de seu tempo “negando o modelo evolucionista social” (2009, p. 92).
Marcos Chor Maio, em artigo de 1995, intitulado “A medicina de Nina Rodrigues: análise de uma trajetória científica”, ecoa sobre um hiato na historiografia brasileira, a falta de uma biografia sobre o médico maranhense - estranhamento também compartilhado por Corrêa e Schwarcz, únicas autoras que, em sua opinião, investigaram os vínculos entre Rodrigues e a medicina do final do século XIX (MAIO, 1995, p. 226237). Maio, entretanto, se concentra no papel do personagem-título de seu artigo na institucionalização da medicina no final dos oitocentos e no fortalecimento da medicina-legal enquanto especialização da área.
O retrato composto segue os anteriores, isto é, o de um racialista que não acreditava na possibilidade de os negros serem tratados em pé de igualdade com os brancos, “já que seriam inferiores biologicamente e, portanto, incapazes de se conduzirem como cidadãos em seus plenos direitos” (p. 232). Se de um lado Schwarcz afirma, de forma precisa, que ele se tornou, com esse tipo de especulação, um “autor maldito”, Maio recorda que essa maldição impossibilitaria Rodrigues de se tornar um “mito” da medicina, um dos grandes nomes na galeria dos esculápios da pátria, tal como se tornara Oswaldo Cruz (1872-1917).
Dentre os trabalhos mais recentes, o de Ana Maria Galdini Raimundo Oda, historiadora da medicina e da psiquiatria, tenta relacionar os conceitos de raça, mestiçagem, degenerescência e alienação mental a partir da obra do médico maranhense. Em sua tese de doutorado intitulada Alienação mental e raça: a psicopatologia comparada dos negros e mestiços brasileiros na obra de Raimundo Nina Rodrigues, de 2003, Rodrigues é apresentado como um cientista defensor da existência de uma psicopatologia inerente à raça negra, devido ao seu funcionamento mental primitivo.
A investigadora, porém, com uma leitura acurada dos trabalhos de Rodrigues, relativiza seu radicalismo fatalista. A inferioridade do negro, na ótica proposta pelo médico, não deveria soar como um insulto à raça, mas um fenômeno de ordem natural, pelo qual outros grupos raciais teriam passado. Os negros não seriam nem piores, nem melhores que os brancos, estariam apenas em outra fase de desenvolvimento civilizacionalum pressuposto caro ao evolucionismo social, como veremos.
Oda irá explorar, em outros trabalhos, como as observações clínicas e etnográficas rodrigueanas lhe deram subsídios para questionar ideias correntes entre alienistas europeus e americanos, e o permitiu matizar noções sobre a inferioridade dos negros, sem que jamais negasse sua veracidade científica (ODA, 2004, p. 133144; ODA, 2009, p. 759-765). Nossa hipótese segue caminho semelhante, dado que ao longo de nossa
pesquisa nos deparamos com um escritor e acadêmico que nos pareceu hesitante frente a teorias que se excluíam mutuamente,mas quenapontadesuapenapareciamsecomplementardeum modo muito particular. Edward Burnett Tylor e o evolucionismo cultural
As tentativas de Nina Rodrigues de classificação racial, inicialmente na sua província natal, Maranhão, depois voltadasparatodoopaíssãoreveladorasdesuaadesãoaospressupostosmaisarraigadosdoracismocientífico. O termo raça, entendido como um conceito morfobiológico - isto é, aplicado a povos distintos para explicar ou explicitar diferenças fenotípicas e caracteres somáticos - emergiu com força em meados do século XIX como parte de um discurso cientificista construído pela classe letrada ocidental, sobretudo europeia (MUNANGA, 2004, p. 22).
Os ensaios rodrigueanos colocaram-no face a essa “esfinge” do nosso futuro, “o problema ‘do Negro’ no Brasil” (RODRIGUES, 2010, p. 9). Sobre o assunto ele publicou, em 1896, na Revista Brazileira, em forma de “capítulos”, O animismo fetichista dos negros baianos, que irá resultar no segundo livro de sua autoria, de mesmo nome. 4 Nesse estudo, o autor traça um panorama da regularidade das práticas que ele classifica como “animistas” e “fetichistas” em Salvador (RODRIGUES, 2006b).
O “animismo fetichista” é um conceito típico da etnologia dos oitocentos, que agrega, em nível teórico e descritivo, duas características das populações “primitivas” da África, Ásia e Américas. A primeira delas é a noção de que minerais, vegetais e animais possuem uma espécie de energia intangível, uma alma, uma personalidade, um espírito animado, o animismo 5 A segunda característica traz o aspecto da adoração, por parte dos africanos, de coisas, amuletos, talismãs, objetos mágicos, eventos naturais, enfim, fetiches de toda sorte 6.
Esses atributos de grupos humanos considerados inferiores, das “tribos” mais baixas na escala de desenvolvimento humano, foram explorados por Edward Burnett Tylor, tendo este, de acordo com estudiosos (CASTRO, 2005; STOCKING JR., 1963), entre suas publicações, duas obras de grande impacto: Researches into the early history of mankind and the development of civilization (TYLOR, 2005), de 1865, e sua obraprima Primitive culture, de 1871, divido em dois volumes, o primeiro The origins of culture e o segundo Religion in primitive culture.7
Tylor, ao lado de Lewis Henry Morgan (1818-1881) e Sir James George Frazer (1854-1941) são os pais do pensamento evolucionista na antropologia, também entendido como “antropologia cultural”. Cabe recordar que Mariza Corrêa já dizia ser importante para um antropólogo ter uma vaga noção de quem foi Morgan ou Tylor, de sua importância na constituição da disciplina e da crítica que se pode fazer aos parâmetros teóricos e políticos de ambos. Contudo [...] embora reconheçamos como quase banal a afirmação desta dupla pertinência do campo antropológico - a um contexto do saber e a uma história política -, quando visto de longe e em termos gerais, esse reconhecimento poucas vezes se estende ao estudo da história da antropologia no Brasil (CORRÊA, 2013, p. 19).
O pesquisador português Frederico Delgado Rosa chama atenção para outra problemática. Presença obrigatória em qualquer manual ou coletânea de textos de história da antropologia, a obra principal de Tylor, no entanto, tem sido objeto de leituras parciais e apressadas, quando muito. Regra geral, afirma, estudantes e docentes do século XXI conhecem uns poucos parágrafos do primeiro e do segundo capítulos, os mais recorrentes nas compilações e justamente aqueles que podem, inapropriadamente, induzir ao erro quando separados do resto. Afirma Rosa:
Por que perder tempo com dois pesados volumes de 1871, num total de cerca de mil páginas de teoria obsoleta e de etnografia pré-moderna em segunda mão? Para tentar responder a essa pergunta é necessário antes de mais devolver a Tylor o seu próprio pensamento, passando por cima de algumas ideias feitas (ROSA, 2010, p. 297).
Portanto, se Tylor já circulava de forma muito restrita à época de Nina Rodrigues, assim permaneceu ao longo do século XX. Continua atualmentesem traduçãopara oportuguês e apesar doesforçode alguns autores como Celso Castro e Vanda Serafim, a retomada em torno de sua obra teve mais fôlego no exterior com o já citado Frederico Delgado Rosa, além de Robert Lowie, Laavanyan Ratnapalan, e, especialmente, George Stocking Jr.
Otriunvirato -Tylor,Morgan eFrazer -defendia, grossomodo, que,porbaixoda“finacamada”decivilização erigida pelas elites brancas, havia um vasto sedimento de selvageria e barbarismo capaz de interferir no desenvolvimento natural e racional da humanidade. Ao descer na escala social, era possível encontrar esses “espécimes”, camponeses e trabalhadores incultos europeus que mais se assemelhavam aos selvagens africanos e americanos.
Se os registros europeus em torno do animismo e do fetichismo remontam aos séculos XVIIe XVIII, no Brasil é apenas no XIX e, em especial, em jornais baianos da segunda metade da centúria, que esses termos passam a ser utilizados de forma pejorativa em referência à população afro-brasileira 8. No meio acadêmico, os conceitos também aparecem para descrever a “mitologia áfrico-baiana” e, sobretudo, reforçar a preponderância negativa do negro, tal como faz Rodrigues: “Para nos servir da expressão de Tylor ou melhor da expressão consagrada na Costa D`Africa, pode-se affirmar que na Bahia todas as classes, mesmo a dita superior, estão aptas a se tornarem negras” (RODRIGUES, 2006b, p. 116).
Quando morreu, Rodrigues já estava em tempo de finalizar o quarto livro de sua autoria, intitulado Os africanos no Brasil9 A obra, publicada postumamente, reunia uma série de textos inéditos (RODRIGUES, 2010). A sua opção pelo estudo do negro como um elemento diferencial impôs certa cautela na abordagem do tema. O médico afirma que o “critério científico da inferioridade da raça negra” nada tem em comum com a “exploração revoltante” a que foram submetidos. Do ponto de vista “neutro” da ciência, diz, esta “inferioridade”, assim como o próprio cativeiro, nada mais é do que “um fenômeno de ordem perfeitamente natural, produto da marcha desigual do desenvolvimento filogenético da humanidade nas suas diversas divisões ou seções” (2010, p. 12).
Consideramos queessainterpretação éapoiadanas leituras queRodrigues fezdos livrosdeTylor.No primeiro volume de Primitive culture, o autor apresenta, em diversos momentos, seu interesse e afeição pelas tribos selvagens modernas. Tal como o médico maranhense, denuncia a ignorância em relação a essas populações, resultado de antropólogos que têm procurado converter “la moderada diferencia intelectual existente entre un inglés y un negro, en algo equivalente a la inmensa distancia que separa a um negro de un Gorila.” 10 Assim, diz, não há porque se surpreender que alguns selvagens pareçam “macacos” aos olhos de “homens ilustrados” que os caçam como bestas ferozes nas selvas e que “no alcanzan a apreciar, en absoluto, la verdadera cultura que un mejor conocimiento descubre siempre entre las tribos más primitivas de la humanidade” 11 (TYLOR, 1977a, p. 355-356).
Tendo a leitura completa da obra-prima de Tylor em perspectiva, talvez seja possível afirmar que, ao depararse com povos então considerados primitivos e incultos dos territórios bravios, o autor identificou semelhanças evidentes que estes exibiam ao serem comparados com as populações ditas “civilizadas”. O desafio então era encontrar uma fórmula para interligar em um único e complexo processo de evolução social sociedades que se encontravam em etapas distintas de desenvolvimento.
Segundo o historiador Laavanyan Ratnapalan (2008, p. 131-142), Tylor toma emprestado do arqueólogo John Lubbock (1834-1913) a identificação de estágios, comuns a todas as raças no planeta: o selvagerismo, nível mais baixo de desenvolvimento humano; o barbarismo, um degrau intermediário; e por fim o civilizatório, o mais avançado, representado sobretudo pela Inglaterra vitoriana, da qual Tylor é representante autodeclarado. 12 Para o antropólogo Roque de Barros Laraia:
Mais do que preocupado com a diversidade cultural, Tylor a seu modo preocupa-se com a igualdade existente na humanidade. A diversidade é explicada por ele como o resultado da desigualdade de estágios existentes no processodeevolução.Assim,umadastarefasdaantropologiaseriaade“estabelecer,grossomodo,umaescala decivilização”, simplesmentecolocando as nações europeiasem um dos extremos dasérieeem outro as tribos selvagens, dispondo o resto da humanidade entre dois limites (LARAIA, 2014, p. 32-33).
A tese que possibilita Tylor estudar minuciosamente os níveis primitivos do que ele chama globalmente de “cultura” e “civilização” da humanidade é o paralelo que ele constrói entre as “tribos” selvagens de seu tempo, descritas por viajantes, naturalistas e cientistas em geral, com aquelas que viveram em eras passadas; e o estudo comparativo entre as primeiras e os povos civilizados. Ao utilizar os termos “cultura” e “civilização” como sinônimos, Tylor tem por objetivo, segundo o historiador George Stocking Jr., salientar a existência de uma “hierarquia de valores”, já que as civilizações espalhadas pelo mundo se encontravam, cada qual, em graus distintos de uma sequência única de desenvolvimento humano progressiva (STOCKING JR., 1963, p. 784).
Em O animismo, Nina Rodrigues cita Tylor em diversos momentos, trazendo para o debate sobre a raça negra no Brasil conclusões muito semelhantes às que o pensador inglês imputava às “raças primitivas modernas” e às “raças incultas europeias” de uma forma geral. Os fatos coletados por Tylor, por intermédio dos relatos de cronistas coloniais e neocoloniais, “seem to favour the view that the wide diferences in the civilization and mental state of the various races of mankind are rather diferences of development than of origin, rather of degree than of kind” 13 (STOCKING JR., 1963, p. 361).
Segundo Rodrigues, apesar do processo de mestiçagem tão característico do Brasil e que ele via como uma via de degradação da sociedade em um futuro distante, ainda era perfeitamente possível encontrar na Bahia uma espécie de “estratificação das sobrevivências morais africanas” em estado de “admirável pureza” (RODRIGUES, 2010, p. 272). Preservar essas “sobrevivências” para análises antropológicas e sociológicas eraimperioso. Afinal, Rodrigues demonstraumapreocupaçãomaiorcom onegroesublinhaqueoqueimporta ao Brasil é “o quanto de inferioridade lhe advém da dificuldade de civilizar-se” (p. 291).
A concepção de “sobrevivência” de costumes primitivos pode ser exemplificada, por exemplo, na prática da “mutilação cadavérica” ou dépeçage discutida por Rodrigues na 5ª Memória História apresentada à Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB). A redução do corpo humano à condição de provisão alimentar, segundo ele, era uma questão psicológica de épocas remotas das quais só resta na “estractificação psychica do homem moderno, a recordação organica da impulsividade sanguinaria, toda animalesca, felizmente dominada hoje, mas ainda assim capaz de reviver nos desvios morbidos da mentalidade” (RODRIGUES, 1904, p. 161).
A teoria das sobrevivências, no entanto, não era uma hipótese nova no campo da etnologia e da antropologia comparada. Quem a formulou sistematicamente foi, novamente, Tylor, que se utilizou desse método como única forma de ter acesso à “cultura” de raças ancestrais já capituladas pelas sociedades modernas. Como afirma o antropólogo Celso Castro: Passava-se a dispor de uma espécie de “máquina do tempo” que permitia, observando o mundo dos “selvagens” de hoje, ter uma idéia de como se vivia em épocas passadas. Assim, as informações sobre a sociedade antiga esobre amente dohomemprimitivo,até entãodependentes dos relatos da antigüidadegrecoromana - Heródoto, Tucídides, Tácito etc. - poderiam ser complementadas por novos relatos (CASTRO, 2005, p. 14).
As sobrevivências é que permitiram a Tylor aprofundar a sua metodologia comparada ao colocar no mesmo patamar o que ele classifica como o “negro da África Central” e o “camponês inglês” de seu tempo: “Si elegimos, de este modo, cosas que hayan cambiado poco en el largo curso de los siglos, podemos trazar um cuadro en el que apenas habrá um palmo de diferencia entre un labrador inglés y um negro del Africa Central” 14 (TYLOR, 1977a, p. 24).
Nina Rodrigues endossa a visão particular de Tylor ao tratar do esquartejamento de cadáveres, já citado anteriormente. Se entre os homens “civilizados”, tal prática é repugnante e imoral, o mesmo não ocorre entre algumas populações selvagens modernas. Estas possuem o hábito de ingerir determinadas partes do corpo humano ou empregá-las em rituais religiosos, algo que repousa “em crenças de caráter animistas das mais primitivas”.
A ingestão ou utilização de pedaços do corpo humano seria um exemplo extremo do absoluto desapego desses povos com limites éticos e morais, sobretudo no que toca aos ditames cristãos. Diz Rodrigues que “são pela maior parte casos de parada do desenvolvimento psyquico em phases remotas da evolução do sentimento e da concepção religiosa” (RODRIGUES, 1904, p. 186). O médico maranhense faz coro às premissas de Tylor de que, seja nas tribos selvagens modernas, seja nas comunidades rurais das sociedades europeias, observam-se costumes que só são explicáveis “en gran medida, como un producto desarrollado del sistema más antiguo y más primitivo” 15 (TYLOR, 1977a, p. 92).
Estaríamos diante, portanto, de fenômenos que, apesar de ocorrerem contemporaneamente ao momento em que Rodrigues ou Tylor escrevem, encontram-se, do ponto de vista científico desses autores, em etapas rudimentares do desenvolvimento intelectual humano, comum a todas as culturas e civilizações. Os dados reunidos por Rodrigues pelos recantos de Salvador e seu diálogo com Tylor podem sugerir uma leitura distinta daquela desenvolvida por Lilia Schwarcz quando afirma que o médico maranhense “(...) opôs-se ao suposto do evolucionismo social de que a ‘perfectibilidade’ era possível para todos os grupos humanos. Ou seja, não acreditava que todos os grupos humanos fossem capazes de evoluir igualmente e chegar ao progresso e à civilização” (SCHWARCZ, 2012, p. 14).
Muito embora seu pessimismo fosse irrefutável, Rodrigues deixa escapar, em determinados trechos de seus trabalhos, que todas as raças possuíam capacidade, propriedade e alcance parauma evolução, fosse estamoral, psíquica ou religiosa. Fechamos este item com um desses recortes, no qual Rodrigues compara a “tendencia manifesta e incoercivel” que o crioulo e o mulato possuíam para fundir o ensino católico e as crenças fetichistas, com os primórdios do cristianismo e sua homogeneização sobre as crenças “politeístas”: Como que para demonstrar que as leis da evolução psycologica são fundamentalmente as mesmas em todas as raças, esta fusão que tende a adaptar a comprehensão das concepções monotheistas catholicas á fraca capacidade mental do negro que se esta fazendo na Bahia exatamente segundo o mesmo processo porque, nos começos do cristhianismo, se fez a conversão da Europa polytheista ao monotheismo cristão então nascente (RODRIGUES, 2006b, p. 109).
A sociologia tardiana e as coletividades anormais
Outro contraponto efetivo às premissas raciais tão bem cristalizadas pela historiografia contemporânea em torno da obra de Nina Rodrigues são seus trabalhos na esfera da chamada Psicologia das multidões ou Psicologia das massas. Nesse campo do saber, o sociólogo francês Gabriel Tarde é a referência principal para o médico maranhense e um autor que irá relativizar de forma contundente os usos e abusos da raça no seu domínio de conhecimento.
Tarde pode ser apontado como um dos marcos da sociologia francesa do século XIX. Tornou-se presidente da Société de Sociologie de Paris e professor do Collège de France, firmando-se em seu tempo e publicando obras em toda a Europa. Após sua morte, porém, seu legado permaneceu à sombra de Émile Durkheim (18581917) e apenas muito recentemente, nas quatro últimas décadas do século XX, surgiu um renovado interesse em seus trabalhos, que ganharam novas edições e reimpressões. No Brasil, recebeu atenção significativa, não só com suas publicações traduzidas e comentadas por especialistas, assim como estudos acadêmicos, com destaque para os sociólogos Eduardo Viana Vargas (2001) e Tiago Seixas Themudo (2002). Segundo interpretações recentes, o autor elabora uma espécie de microssociologia da existência de crenças e desejos. Ele procura entender como se dá a sua perpetuação e/ou desaparecimento no meio social. Tal explicação ocorre, grosso modo, pela analogia que é estabelecida entre a repetição de fenômenos em áreas como, por exemplo, a física e suas ondas vibratórias continuadas, com aqueles da transformação social que, por sua vez, funcionariam pela sugestão, imitação e repetição (VARGAS, 2001).
Tarde também cita a biologia, a astrologia, a química e a geologia como fontes das partículas elementares que apresentam comportamentos de agrupamento e reprodução que se assemelham ao mundo social (TARDE, 2007). Essa tendência, em última instância, aplicaria o termo “social” a qualquer tipo de associação. Segundo Vargas, para Tarde, indivíduos e sociedades são “como células e átomos, são todos compostos e, como tais, imediatamente relacionais” (VARGAS, 2004, p. 175).
Tarde afirma que o que determina para qual lado inclina-se uma coletividade é um conjunto de causas psicológicas e sociais. Entre estas, ele cita: as vicissitudes da história, seus avanços e reveses, como a formulação de leis, a criação de instituições nacionais, a religião, o nível de riqueza ou pobreza de uma civilização; as paixões cultivadas mais ou menos abertamente na sociedade; os vícios tradicionais que reinam livres; os preconceitos e o ceticismo; os relaxamentos de conduta, as imoralidades, certos desregramentos da palavra escrita e falada; as complacências covardes pelo sucesso, dinheiro e poder (TARDE, 2005, p. 180181).
Tarde é categórico: nada “brota do chão por geração espontânea” (p. 181). Para que uma multidão seja capaz de pôr em prática uma ideia considerada imprópria e indesejada, que em outros tempos muito bem poderia ter recrutado não mais que dez adeptos, as “influências sociais” prevalecem sobre o que classifica de “predisposições naturais”. Notemos que estas últimas não são descartadas, mas são requeridas apenas “numa certa medida”. Por exemplo, em texto de 1898, ao diferenciar “multidão” de “público” (discussão que não nos interessa diretamente), Tarde afirma: [...] na composição de uma multidão, os indivíduos só entram por suas similitudes étnicas, que se adicionam e se reforçam, e não por suas diferenças próprias, que se neutralizam, e também que, no movimento de uma multidão, os ângulos de individualidade se atenuam mutuamente em proveito do tipo nacional que sobressai. Isso acontece apesar da ação individual do líder ou dos líderes que sempre se faz sentir, mas que é contrabalançada pela ação recíproca de seus comandados (TARDE, 2005, p. 16).
Porém, o que conta de forma determinante, isto sim, é um estímulo por meio das conversações, das festas, das leituras, da presença nos cafés e nos clubes, dos encontros nas ruas, nas praças e nos pátios das fábricas. É daí que se forma um “alinhamento” entre os desiguais, capaz de lançar nessas almas, “num longo contágio de imitação lenta, a semente de ideias anteriores capazes de favorecer a acolhida de uma ideia nova”. Seja ela uma proposta criminosa, seja revolucionária, penetra fundo suas raízes e “do primeiro que a concebeu, ela transmite-se, por impressionabilidade imitativa ainda, a um único catecúmeno inicialmente, depois a dois, três, dez, cem, mil” (TARDE, 2005, p. 185).
Constatamos que, em Tarde, a evidente multiplicação das causas que levam as multidões aos excessos mais escandalosos não contempla os fatores “patológico”, “doentio”, “mórbido”, que para Rodrigues são essenciais - ainda que a figura do “louco”, como produto dos laços sociais, esteja contemplada em seu quadro teórico. Para Tarde, ao contrário, fatores estes identificados por ele como “naturais”, “etnológicos” ou “antropológicos” - sobretudo aqueles ligados à “antropologia física” -, vinculados ao fundo hereditário dos participantes das coletividades, existem e são parte de um todo, mas não se evidenciam como fatores de primeira grandeza:
Esses desvarios são de todas as épocas: multidões de qualquer raça e clima, multidões romanas acusando os cristãos pelo incêndio de Roma ou por uma derrota da legião e lançando-os às feras, multidões da Idade Média acolhendo contra albigenses, contra os judeus, contra um herético qualquer as suspeitas mais absurdas, cuja propagação faz, para elas, as vezes de demonstração, multidões alemães de Munzer sob a Reforma, multidões francesas de Jourdan sob o terror, é sempre o mesmo espetáculo. Todas “terroristas por medo” como Madame Rland dizia de Robespierre (TARDE, 2005, p. 166-167).
Tarde é bastante preciso nesse ponto ao comentar que o “fator hereditário” tem uma importância menor nos ajuntamentos formados sob a influência de um sentimento forte e intenso. Perceberíamos facilmente, diz ele, “que a influência do clima, da estação, da raça, das causas fisiológicas, é pertinente, mas foi bastante exagerada” (p. 178). Não somente não há clima ou estação que predestinem uma multidão à perversidade, como também “não há uma raça que seja viciosa ou virtuosa por natureza” (p. 179). Cada raça é capaz de produzir indivíduos que, em um coletivo, se voltam ora para o mal, ora para a mais pura benevolência.
Sendo Nina Rodrigues leitor assumido de Tarde, é possível imaginar o impacto que um discurso antideterminista como este teve em suas reflexões. Não é possível negar que, no que toca ao caráter mórbido e doentio do estudo das multidões, esses autores nem sempre estavam em acordo. Mas também é verdade que, de um ponto de vista geral sobre a gestação das coletividades, ambos estavam muito mais em sintonia do que em desarmonia.
O médico maranhense não só concorda sobre a facilidade com que as paixões se transmutam em estados de excitação e violência a partir de múltiplos fatores, mas, para nossa surpresa, aponta para elementos além da predisposição e da hereditariedade para explicar a existência desses mesmos estados. Sobre os indivíduos envolvidos em acessos coletivos, Rodrigues chega ao ponto de afirmar: “Não a trouxeram do berço” (2006a, p. 99). Esse curto trecho - deveras impactante, na medida em que é uma antítese do determinismo científicoé algo pontual e, não obstante, raro em seu texto. A raça, de fato, está presente em Rodrigues, é sem dúvida um dos pilares de seu pensamento, porém não é tomada literalmente como o único fator de explicação.
Gabriel Tarde vai encaminhar o debate sobre as multidões, no sentido de entender como as leis da sugestão e, sobretudo, da imitação são capazes de entusiasmar e alarmar uma coletividade sob a iniciativa de um sujeito, apto a manifestar suas intenções com habilidade e despotismo. Essa característica aglutinadora de certas personalidades é algo essencial na formação das duplas, trios e demais ajuntamentos, que podem vira alcançar dezenas de milhares de pessoas.
Tarde torna-se o mais notório teórico deste que é um fenômeno regulador das iniciativas renovadoras e repetitivas. Estas ocorrem pelas mãos do homem, entendido enquanto “ser social”, um “imitador por esencia”. Tarde, no estudo clássico As leis da imitação, faz uma comparação destas com as leis da física e da biologia para reforçar a sua hipótese: “la imitación desempenã em las sociedades um papel análogo al de la herencia en los organismos ó al de la ondulación em los cuerpos brutos” 16 (TARDE, 1907, p. 32).
Mas para que a imitação ocorra é necessário entender como se dá o vínculo entre aquele que sugere e aquele que imita. Daí que Tarde muda de estratégia: “Aqui el sociologo debe ceder la palavra al psicólogo” 17 (p. 100). Tarde antecede Nina Rodrigues, tendo este último, segundo Corrêa, também deslocado “sua atenção dos aspectos fisiológicos para os aspectos psíquicos do comportamento humano”. Rodrigues, portanto, segue uma
trilha semelhante, mas o fez, note-se, sem abrir mão do conhecimento pretérito adquirido, a única solução que encontrou para explicar a organização e o funcionamento das multidões (CORRÊA, 2013, p. 113).
Tarde - em consonância com a sua microssociologia voltada para pensar detalhes e acontecimentos infinitesimais - procura definir “la substancia” que o ato de imitar comporta. Essencialmente, trata-se de uma “ideia”, um “querer”, um “juízo” ou um “propósito”, em que se expressa certa dose “de creencia y de deseo, quees, enefecto,todael almadelaspalavrasdeunalengua,delasoraciones deumareligión(...) 18;(TARDE, 1907, p. 175). Os sentidos transmitidos pelas palavras, isto é, as crenças e os desejos são a matriz comportamental das associações progressivas que resultam nas multidões.
Este é um dos caminhos utilizados por Rodrigues para analisar Canudos e Antônio Conselheiro, seu líder máximo, em A loucura epidêmica de Canudos: Antônio Conselheiro e os jagunços, de 1897 (2006a), e em Epidemia de loucura religiosa em Canudos; história médica do alienado meneur, de 1901 (1939). Foi em um meio sociologicamente instável, ou melhor, em uma fase sociológica marcada por uma crise social e religiosa que “Antônio Maciel cavou os fundos alicerces do seu poderio material e espiritual quase indestrutível” (RODRIGUES, 2006a, p. 41). Era preciso, portanto, desnudar
[...] o segredo dessa crença inabalável, dessa fé de eras priscas em que a preocupação mística da salvação da alma torna suportáveis todas as privações, deleitáveis todos os sacrifícios, gloriosos todos os sofrimentos, ambicionáveis todos os martírios (p. 41).
Tal como Tarde, Rodrigues entende que o elemento passivo dessa equação, embora aceitando inquestionavelmenteas ideiasdelirantes, “reage porseuturnosobreo elemento ativo,retificando,emendando, coordenando o delírio que só então se torna comum” (p. 41). O sociólogo francês afirma que o insuflador é responsável pelos efeitos diretos, ainda que o motivo principal, ao se expandir, possa mudar de feição, intensificando-se “por uma espécie de progressão matemática” e o que era desejo moderado, torna-se paixão e fanatismo (TARDE, 1907, p. 143-147). A convivência prolongada e os modos de existência semelhantes reforçam o bloqueio contra ingerências exteriores ao universo criado em coletividade e fortalecem o delírio.
Para Nina, Antônio Conselheiro “é seguramente um simples louco” (RODRIGUES, 2006a, p. 48). Porém, nota o médico
[...]alguma coisamais do queasimplesloucurade um homemeranecessária para esteresultadoeessa alguma coisa é a psicologia da época e do meio em que a loucura de Antônio Conselheiro achou combustível para atear o incêndio de uma verdadeira epidemia vesânica (p. 48).
Segundo Rodrigues, a associação e a comunicabilidade de pessoas enfermas e predispostas que levam ao compartilhamento da loucura são “o reflexo senão de uma época pelo menos do meio” de que fazem parte (p. 42). Os predispostos já estão, em muitas ocasiões, presos a uma vesânia oculta e implícita. Bastaria uma causa próxima e imediata para desencadear uma explosão de “histeria” coletiva. No caso de Canudos, com a derrota da comunidade e após o exame do crânio de Antônio Conselheiro, o médico não encontrou as respostas que esperava. Sua conclusão foi inequívoca: “É pois um crânio normal” (p. 90). Algo que contrariava as premissas das escolas criminalistas das quais era um entusiasta, nomeadamente a italiana, encabeçada por Cesare Lombroso (1835-1909), Enrico Ferri (1856-1929) e Raffaele Garofalo (1851-1934) e a francesa, liderada por Alexandre Lacassagne (1843-1924) e Paul Broca (1824-1880).
Era preciso, portanto, ir além da taxonomia dos traços faciais e corporais, isto é, da cor da pele, do tipo de cabelo, dos índices radial e tibial, do pé chato ou da saliência posterior do calcanhar - sinais ou “estigmas” típicos de degenerescência racial, possíveis de serem atestados por um médico-forense. O que Rodrigues tentava incorporar à sua análise eram as contingências eventuais e as influências sociais para o entendimento mais adequado de casos como o de Canudos, o que poderia ser fornecido pela leitura tardiana. Esta, aliás, é tão marcante em Rodrigues que este chama para si e para a sociedade à sua volta a parte devida de responsabilidade pelos fracassos ou sucessos do passado e, sobretudo, aqueles que se avizinham no horizonte republicano pós-abolição. Algo impensável na ótica de muitos autores que interpretam a imagem de Rodrigues como alguém que transfere a grupos específicos, racialmente identificados, os destinos da nação. São suas as palavras: “Antes de exultar pelo castigo, que em breve fulminará os culpados, façamos, pois, rigoroso exame de consciência e confessemos com Tarde que ‘é um pouco culpa de todos nós, governo, oposição, opinião pública, que certas organizações poderosas tenham, como se diz, desgarrado para o mal’” (RODRIGUES, 2006a, p. 126).
RodriguesserefereaotextoemqueTardeafirmaqueacadabombaqueexplode,acadaescândaloparlamentar que abala a opinião pública, “cada um de nós, mais ou menos, deve rezar a meaculpa; temos todos a nossa pequena parte nas causas do nosso alarme”. Rodrigues, entretanto, deixa claro que isso deve ser feito “sem prejuízo do valor sempre incontestável do fator antropológico na determinação criminosa” (p. 127). É um claro esforço de acrescentar aos “fatores naturais” de cada população, - entendidos aqui como predisposição e hereditariedade, isto é, raça em seu sentido biologizante - a influência do “ambiente social” e das “circunstâncias políticas e culturais” como uma chave importante de entendimento das convulsões coletivas (p. 126).
Como bem recordam Yvonne Maggie e Peter Fry, os dados etnográficos reunidos por Nina Rodrigues contradizem a teoria do determinismo biológico. Porém, que ele “não tenha chegado a questionar o paradigma no qual tinha construído sua carreira não deve nos surpreender” (MAGGIE e FRY, 2006, p. 9). É nesse domínio tensionado e conflituoso do conhecimento que o médico racialista, comumente retratado nos estudos acadêmicos, encontra-se com outro incomum, aberto às novas teorizações, como as da sociologia tardiana aqui retratada.
O racialista vacilante
A tentativa de Nina Rodrigues de conciliar visões distintas sobre as idiossincrasias raciais impressiona pela complexidade e oferece elementos para uma discussão aprofundada sobre o tema. Ao contrário do que é comumente admitido, acreditamos que Rodrigues não foi, indiscutivelmente, o maior e mais notório divulgador brasileiro do racialismo.
Pode-se argumentar que tais assertivas não são uma novidade, na medida em que já se sabe, pelos trabalhos de autores como Corrêa e Schwarcz, que o médico maranhense assimilou e “abrasileirou” as teorias que colhia no exterior. Suspeitamos, no entanto, que os desdobramentos de seus estudos não só erigiram uma interpretação particular, própria, “rodrigueana”, da realidade brasileira, mas refletiram, também, uma reorientação teórica do conceito de raça em sua obra - algo que Corrêa já apontava em suas investigações originais, mas não levou adiante.
Rodrigues adotou, como mostramos anteriormente, parte do aparato intelectual proposto por Edward B. Tylor. A rigor, Tylor propõe um prospecto escalonado da evolução da humanidade. Dito de outra forma: sua visão está assentada nos “estágios”, “níveis” ou “escalas” em que o homem dá seus primeiros passos como um selvagem, progride para o barbarismo e evolui rumo à civilização. Pouco importa se são negros da África ou camponeses da Grã-Bretanha, para ele toda e qualquer raça pode vir a passar pelas etapas descritas.
Há embutida nessa proposta uma homogeneização das culturas e civilizações que contradiz frontalmente os princípios do racismo científico. Se negros, índios e brancos possuem a mesma possibilidade de prosperar material e intelectualmente, a única característica que os distingue é, efetivamente, em qual estágio se encontram. Tratar as diferentes raças em um mesmo tronco evolucionário tem, portanto, implicações diretas no significado do termo: “raça” deixa de ser sinônimo de diferenças inatas entre os homens e passa a configurar-se como um artificio ilustrativo das analogias e equivalências entre povos que se encontram em fases iguais ou distintas da evolução social.
Levando-se em conta a afirmação de Rodrigues de que as “leis da evolução psycologica” são rigorosamente as mesmas para todas as raças, não faz sentido imputarmos a ele um fixismo racial tão rigoroso que impedisse, efetivamente, a ideia de mobilidade das raças pelos níveis hierárquicos graduados relatados por Tylor.
Com essa perspectiva, no Brasil, povos em diferentes níveis de desenvolvimento convivem na mesma linha de tempo e, no caso da Bahia, no mesmo espaço. Sendo assim, no que toca, por exemplo, ao esquartejamento, estão, cada qual, ligados a estágios distintos do aprimoramento mental da humanidade, dado que o “dépècage vae desaparecendo com o aperfeiçoamento e a cultura dos povos” (RODRIGUES, 1904, p. 166).
Ao evocar o evolucionismo-social/cultural na tentativa de explicar o comportamento primitivo da população afro-brasileira, Rodrigues acaba por incorporar uma fissura no molde racialista ao qual se vinculou em outros estudos. Contudo, não podemos afirmar que ele se tornara irremediavelmente um membro da escola evolucionista-cultural. Seu pensamento, tensionado entre duas das principais vertentes do cientificismo do século XIX, não primou exatamente pela coerência.
ParaTylor, por exemplo, oprogresso eraum movimentocontínuodas raças em evolução.Suapostura otimista contrasta com o pessimismo sobre o futuro do Brasil que Nina Rodrigues nunca escondeu - muito embora essa
assertiva também possa ser questionada, dado que ele continuamente procurava por soluções para o problema das raças “atrasadas”, como seu esforço, em diferentes estâncias do poder estatal, para criar medidas concretas em áreas de higiene e sanitarismo públicos.
Também é verdade que para Rodrigues, seguindo as orientações teóricas de Tarde, não seria possível entender o processo de gestação de uma multidão sem levar em conta “a comparticipação indireta do meio social e do momento político” - o que não significa - sublinha, com convicção - em diminuir a “responsabilidade direta e imediata dos criminosos” (RODRIGUES, 2006a, p. 126). Há, parece-nos, um esforço contundente do médico na tentativa de mobilizar dois argumentos excludentes entre si.
Todavia, talvez o que a nós pareça hoje uma discrepância, não o tenha sido para Nina Rodrigues. Pessimista convicto em relação aos negros e mestiços, suas certezas lentamente foram relativizadas. Se, por um lado, seus diagnósticos estavam fundamentados em determinismos de raça, por outro, não ignoravam o agenciamento político, as identidades negociadas, ou, como queria Tylor, as mobilidades sociais pontuadas na escala de evolução.
Não fosse assim, Rodrigues não teria dividido os mestiços em superiores, degenerados e instáveis, tendo os primeiros uma educação mental feliz, organização hereditária adequada à civilização e plenamente capazes de responder por seus atos perante a justiça (p. 152). Não haveria também de separar os negros em inferiores e superiores - tal era o caso da primazia das lideranças sudanesas sobre os bantos no Brasil.
Dificilmente afirmaria, em estudo detalhado, a superioridade mental de Lucas da Feira, bandido enforcado em 1849 em Feira de Santana (Bahia), cujo crânio, analisado por Rodrigues - assim como o de Conselheiro - não apresentava nada de anormal. Não defenderia, igualmente, que a “paranoia” se manifestava tanto em brancos, como em negros, e que estes últimos tinham a capacidade para alcançar um nível intelectual elevado que fornecia os elementos para um delírio “superior”. O perito explica que
A escala vai aqui do produto inteiramente inaproveitavel e degenerado ao producto valido e capaz de superior manifestação da actividade mental. A mesma escala deverá percorrer a responsabilidade moral e penal, desde a sua negação em um extremo, até a afirmação plena no extremo oposto (RODRIGUES, 1894, p. 141).
A raça e o clima de um lado, as tradições, os hábitos, os valores, entre outros elementos, de outro, são dados importantes em sua equação - ainda que, do ponto de vista atual, mostrem-se incompatíveis - e possuíam, cada qual, seu devido lugar no plano de teorização que propunha. Em algum ponto de sua trajetória, Rodrigues se dá conta de que “raça”, tal como usado no século XIX, não era o único conceito a oferecer subsídios capazes de explicar o funcionamento da sociedade brasileira (ou de partes desta).
Se por um lado a miscigenação e o papel do negro no Brasil são temas centrais em seu pensamento, o médico, como um racialista vacilante, remou no sentido contrário e foi capaz de dar um peso significativo a hipóteses quecontemplavam outros aspectos dos agrupamentos humanos.Entendemos isso como umafórmulaoportuna que ele encontrou para compatibilizar um “racismo científico dogmático” com as novas perspectivas sociais, psicológicas e antropológicas que emergiram com força no século XIX. Nesse esforço, Rodrigues fez de seus trabalhos um retrato fiel do momento de tensão, transição e inquietude por qual passavam intelectuais de sua geração.
Considerações finais
Conforme aprofundava-se nas temáticas brasileiras, tornava-se cada vez mais nítido para Nina Rodrigues a dificuldade de se aplicarem rígidos determinismos biológicos a uma população tão diversificada. Surgiam evidências de que as identidades sociais não eram, afinal, realidades fixas e permanentes, mas ao contrário podiam domesticar “realidades biológicas e até tradições” (RODRIGUES, 1894, p. 101) - ainda que tudo o que aprendera durante sua formação como médico apontasse para o inverso. Corrêa lembra que o autor maranhense chegou a um “beco sem saída”, depois de uma expedição pelos desvios mórbidos da mentalidade, “em que o reconhecimento da intromissão do social na natureza lhe criara novos problemas e lhe abria novas perspectivas (...)” (CORRÊA, 2013, p. 157). Sua solução foi tratar raça e o que chamaríamos hoje de “cultura” como dois aspectos de um mesmo problema, duas faces de uma mesma moeda (p. 175).
Diante de fenômenos supostamente ligados ao fundo degenerativo das raças inferiores, a sociedade dos homens, com suas instituições e modos de viver, suas formas de sociabilidade e conduta, também influenciavam os destinos individuais e coletivos. É preciso apontar que a ambiguidade e a incongruência de seu pensamento se deram no contexto de um esforço pessoal e público, ainda que interpretado hoje como
fracassado e mal direcionado, de formular um corpo teórico coerente e verossímil que, podemos afirmar, reflete um encontro tensionado entre teorias divergentes. Referências
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1 Aqui utilizamos a última edição: CORRÊA, 2013.
2 Aqui utilizamos a versão mais recente: SKIDMORE, 2012
3 Já em 1969, Skidmore utiliza a expressão “laboratório racial” para definir como o Brasil era visto pelos estrangeiros, abordagem que será incorporada pela historiografia brasileira. Cf.SKIDMORE, 1969.
4 O primeiro livro de sua autoria intitula-se As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil, publicado em 1894.
5 Segundo Tylor, o termo “animismo” não foi uma invenção sua, mas pensado pelo médico e químico Georg Ernst Stahl (1659-1734), autor, entre outros de Theoria medica vera. Physiologiam & pathologiam, tanquam doctrinæ medicæ partes vere contemplativas, e naturæ & artis veris fundamentis, intaminata ratione, & inconcussa experientia sistens de 1708. Cf.BIRD‐DAVID, 1999, p. 67-91.
6 O fetisso aparece inicialmente nas crônicas do viajante holandês Pieter de Marees nas costas do golfo de Guinénoséculo XVII; é apropriadopelotambémholandêsWillemBosman(1672-1703),quetomou oCastelo de São Jorge de Mina dos portugueses; e, enfim, foi incorporado aos escritos do naturalista francês Charles De Brosses (1709-1777) que pensava estar definindo a forma mais elementar de uma religião: o fétichisme. Cf. SANSI, 2008, p. 123-153, e LATOUR, 2002.
7 Aqui utilizaremos as edições em espanhol de ambos os livros: TYLOR, 1977a; TYLOR, 1977b
8 Aocontráriodo quesepoderiapensar,nãohárelaçãodofetichecom ofeitiço,como queriam seus detratores. Enquanto este último é o objeto da feitiçaria, o primeiro é entendido pelos intelectuais da época como uma das características das religiões primitivas. Cf. BLUTEAU, Raphael apud SANSI, 2008.
9 O terceiro livro de sua autoria intitula-se O alienado no direito civil brasileiro e foi publicado em 1901.
10 “(...) a moderada diferença intelectual entre um inglês e um negro, em algo equivalente à imensa distância que separa um negro de um gorila”. Tradução minha.
11 “(...) não conseguem apreciar, em absoluto, a verdadeira cultura que um conhecimento melhor sempre descobre entre as tribos mais primitivas da humanidade”. Tradução minha.
12 Para um panorama mais detalhado sobre as vertentes e os personagens que moldaram a antropologia vitoriana, em especial Edward B. Tylor, ver: LORIMER, 1988, p. 405-430.
13 “(...) parecem favorecer a visão de que as grandes diferenças na civilização e no estado mental das várias raças da humanidade são mais diferenças de desenvolvimento do que de origem, antes de grau do que de tipo”. Tradução minha.
14 “Se escolhermos, dessa maneira, coisas que mudaram pouco ao longo dos séculos, podemos desenhar uma imagem na qual haverá apenas um palmo de diferença entre um labrador inglês e um negro da África Central”. Tradução minha.
15 “em grande medida, como um produto desenvolvido de um sistema mais antigo e primitivo”. Tradução minha.
16 “(...) a imitação desempenha nas sociedades um papel análogo ao da herança nos organismos ou da ondulação nos corpos brutos”. Tradução minha.
17 “Aqui o sociólogo deve ceder a palavra ao psicólogo”. Tradução minha.
18 “[...] de crença e desejo, que é, com efeito, toda a alma das palavras de uma língua, das orações de uma religião”. Tradução minha.
MISBA – Museu Interativo da Bahia RODRIGUES, Nina.pdf
Resumos
NINA RODRIGUES E A PATOLOGIZAÇÃO DO CRIME NO BRASIL
CRISTIANE BRANDÃO AUGUSTO
Rev. direito GV 7 (1) • Jun 2011 • https://doi.org/10.1590/S1808-24322011000100011
Este artigo se dedica à análise do movimento de "patologização" do criminoso por uma leitura histórica do impacto do "cientificismo cerebral" na esfera criminal. mais particularmente, atenta-se para a recepção das teorias de matriz lombrosiana pela criminologIa brasileira do século XIX, na qual se vê o microcosmo do conflito de interesses de classes e raças mediado pela autoridade médica que, na sua crença científica (ou na sua filiação ideológica), procurava esclarecer os limites entre a falta moral e a loucura - ou os dois (loucura moral) como doença ou como pura perversidade - e procurava apontar para os juízes a forma correta (científica) de se sancionar ou de se tratar a loucura.
Este artigo se dedica à análise do movimento de "patologização" do criminoso por uma leitura histórica do impacto do "cientificismo cerebral" na esfera criminal. mais particularmente, atenta-se para a recepção das teorias de matriz lombrosiana pela criminologIa brasileira do século XIX, na qual se vê o microcosmo do conflito de interesses de classes e raças mediado pela autoridade médica que, na sua crença científica (ou na sua filiação ideológica), procurava esclarecer os limites entre a falta moral e a loucura - ou os dois (loucura moral) como doença ou como pura perversidade - e procurava apontar para os juízes a forma correta (científica) de se sancionar ou de se tratar a loucura.
The current work aims at performing an analysis of the criminals "pathologization" movement by means of a historical reading of the impact of ''brain scientificism" in the criminal sphere. more particularly, there is an emphasis on the reception of the lombrosionism matrix theories in 1 9th-century brazilian criminology, in which we can see the microcosms of classes and races conflicts of interests, mediated by the medical authority who, in his scientific beliefs ¡or in his ideological filiations), looked for illuminate the limits between the moral fault and the madness - or the both (moral madness) as pathology or as pure perversity -and tried to show the correct form ¡scientific} of punishing or treating.
O paradigma naturalista da medicina ocidental do século XIX impactou as explicações sobre a conduta humana, alcançando também a conduta delituosa. Ao se desmistificar a igualdade de todos por meio da naturalização das diferenças, reforçaram-se os componentes biológicos causais e, por conseguinte, uma visão mais fisicalista, menos abstrata, foi incorporada nas explicações da ação criminosa, suscitando revisões dos parâmetros da teoria clássica. Leituras médicas sobre o fenômeno do crime, focado na etiologia a partir de dados eminentementebiólogos,formamoconjuntodarededesaber-poder1 edificadanas instituições médicojurídicas e multiplicada pelos "cientistas" do Iluminismo e a qual podemos denominar "medicalização do crime"ou,maisespecificamentepelasmatrizesteóricasdarelaçãocrime-doença,denominarde"patologização do crime".
Por toda a trajetória da cientificidade da medicina e a autoridade atribuída aos médicos na produção de verdades, o paradigma da racionalidade biológica ocupou, historicamente, um espaço privilegiado na fabricação de certezas não limitadas a esfera médica. Uma medicalização da sociedade, então, não se encontra nessa posição privilegiada somente nos dias de hoje e sua estreita relação com a criminología também não é recente (Serpa Jr., 1998; Rousseau, 1993; Darmon, 1991).
Não se pretende, todavia, afirmar que a medicina é uma entidade dotada de urna essência e de uma essência negativa , cuja razão de existir estaria reduzida às conspirações políticas de controle e de poder. E por isso que, apesar do termo "medicalização" ter sido utilizado amplamente pelas ciências sociais com uma conotação
crítica a patologização da sociedade e seus desdobramentos, implicando uma censura ao reducionismo, há outras questões envolventes que merecem ser destacadas dessa análise. Melhor explicando, em que pesem as tradicionais leituras sobre "medicalização/patologização" das últimas décadas, alguns autores vêm alertando para uma utilização desmedida e pouco precisa do termo, bem como para a relevância de se perceber uma relação bidirecional entre a medicina e a sociedade, que aponta para novas valorações nos dias de hoje (Rosenberg, 2006; Rose, 2007). Não se trataria de uma via de mão única, como a manifestação de um saber-poder soberano que submeteria seus súditos e nenhum impacto sofreria. Trata-se, em verdade, de um movimento de ida e volta, que gera ações e que também é gerado por ações dos indivíduos e dos grupos (Rosenberg, 2006). Por exemplo, o processo de incursão da medicina na sociedade, fortemente estabelecido a partir do século XIX, nos permitiu ser o que atualmente somos, e agir, individual ou coletivamente, como agimos: as práticas cotidianas de higiene, dieta, vacinação; metáforas médicas e formas de compreensão dos problemas sociais a partir do organismo; a introdução de terapêuticas para controle e estabilização dos humores, emoções, desejos, etc. (Rose, 2007).
Ademais, é de se convir que o projeto médico de alcançar autoridade para além dos limites de sua competência talvez não integrasse as aspirações de todos os médicos, nem, realmente, tenha se concretizado por completo. Assim, se é possível admitir não ter havido uma patologização de todas as esferas da sociedade, é necessário checar quais categorias médico-positivistas de fato foram incorporadas ao nosso cotidiano e á legislação brasileira.
I O CIENTIFICISMO E A ANTROPOLOGIA CRIMINAL BRASILEIRA
No Brasil o movimento da medicalização se manifestou fortemente no final dos anos 1800. Roque Spencer Maciel de Barros, em seus estudos sobre a "ilustração brasileira", considera que a partir de 18702 tivemos anos bastante representativos em função de acontecimentos externos (a terceira República francesa e a Guerra Franco-alemã) e internos (fim da Guerra com o Paraguai e fundação do Partido Republicano). Sem deixar de reconhecer as "raízes em passado pouco longínquo", as duas últimas décadas do Império corresponderam ao momento em que "ganham corpo as novas ideias do século Positivismo, Darwinismo, Materialismo etc. , a 'reação científica", enfim, para usar de uma expressão empregada por Clóvis Bevilaqua" (Barros, 1986). O clima de um iluminismo atrasado absorve boa parte de nossos estudiosos que passam a focar na ciência para responder às questões sobre os caminhos a serem trilhados pela literatura, pela política, pelo direito, pela educação e pelo aprimoramento moral. No processo de adequação da mentalidade brasileira ao Positivismo, era preciso, agora, resgatar o "tempo perdido" através da formação intelectual e da cultura. O propósito era atingir os níveis de aprimoramento da " civilização", atingir o "nível do século", desembocando, inevitavelmente, na forma republicana de governo para superar o "atraso cultural" e fazer-nos acompanhar o progresso mais evoluído das sociedades. A consequência inarredável era a laicização do Estado, do Direito, da Medicina, da Educação, enfim, da vida.
Em sentidomacro,portanto, acivilizaçãoobedeceriaaum processo históricoúnicodeevolução,mas o estágio de desenvolvimento de cada sociedade corresponderia a sua fase evolutiva neste processo.
Significava um alto grau evolutivo-social o reconhecimento concreto das liberdades e das igualdades. No caso brasileiro, pleiteava-se ainda a efetivação de direitos básicos através da remodelação ou eliminação de instituições inconciliáveis com as novas pretensões liberais, como era o caso, por exemplo, da escravidão e da vinculação entre Igreja e Estado.
Ao lado do Liberalismo, o Cientificismo angariou seus representantes brasileiros. Mais uma vez, Barros distingueumdooutropelopontodepartida,sebemque,emgeral,oponto dechegadaeraomesmo: oprimeiro partia do valor para implementar ações ("a legislação adequada pode transformar o povo"), enquanto o segundo partia do ser, do conhecimento do real, para o dever-ser ("o povo adequado pode transformar a legislação").
De acordo com os valores cientificistas, a "marcha fatal" do universo físico também se verifica no universo humano, pois este pertence ao mesmo mundo daquele, porém em nível mais complexo. Daí porque Barros entende ter o novo cientificismo, o do final do século XIX, uma perspectiva dinâmica, histórica, de desenvolvimento, de evolução, ou seja, "o mundo humano, como objeto de conhecimento, não é mais dado como algo que é, mas como algo que vem a ser" (Barros, 1986). O objeto dinâmico de conhecimento integra a sociologia, a biologia, a psicologia, a criminología, etc.
A conduta humana passa a ser apreciada de forma individualizada, contudo, em relação a etapa do progresso da humanidade. Em outras palavras, o comportamento do indivíduo deve ser avaliado na conformidade de suas particularidades biopsicológicas, mas, ao mesmo tempo, os "biologismos" e os "psicologismos" estavam imersos na dinâmica universal da evolução, pelo contributo do Materialismo, Positivismo,3Darwinismo, Spencerismo e Haeckelianismo.
Com efeito, se o Brasil da primeira metade do século XIX estava começando a receber os informes de um cientificismo, na segunda metade daquele mesmo século, o pais estava começando a se inscrever num cientificismo positivista e darwinista, pelo qual se proporcionou ultrapassar eficazmente os umbrais da Faculdade de Medicina para se estender a outros campos, como a política, a educação, o direito.
Ao associar o estado individual do nacional com o estágio de desenvolvimento universal, a intelectualidade permitiu a visualização de um papel maior da ciência médica, não circunscrito ao organismo pessoal, mas prescrevendo a terapêutica ao organismo social. Esse movimento de ampliação da intervenção médica é também um registro indireto do objetivo de se elevar a nação brasileira a mesma fase de algumas nações europeias, notadamente a França ou a Alemanha.
De qualquer modo, aqui, a tutela do criminoso também passou a ser disputada pela Justiça e pela Medicina. Os chamados crimes sem razão abriram grandemente a porta para a entrada da psiquiatria na esfera criminal e, a medida que ela foi adentrando, foi diminuindo a importância das medições e da antropometría: "uma das consequências da psiquiatrização crescente do exame médico-legal foi o recuo da antropometría. Dos tempos gloriosos de fins do XIX, quando Lombroso era vivo e a superfície do corpo, sua aparência e suas medidas podiam representar as janelas da alma, quase nada sobrevivia nos anos 1830 e 1840 "(Feria, 2005). Não que elas tenham deixado de perfazer o conteúdo dos exames médico-legais, mas a relevância de outrora não mais se punha.
Antes de 1870, portanto, a intervenção médica no campo criminológico era bem tímida, resguardada aos casos em que era necessário a constatação de que o agente era um louco de todo gênero para efeitos de desculpabilização constatação reclamada como questão de fato (a evidência da alienação pelo senso comum),poralguns,equestãodedireito,poroutros(aavaliaçãotécnico-científicanãocondicionaria adecisão judicial).
A partir da generalização das patologias mentais, com um certo número de "doenças" comportamentais principalmente, a partir das teorias do atavismo e da degeneração , a figura do médico-perito se tornou indispensável tanto para proceder ao diagnóstico do louco (fosse o louco moral, o degenerado, o alienado, etc), como para o tratamento mais humanizado e mais adequado no que tange à resposta penal correta e suficiente para quem realizou o fato definido em lei como crime.
Ademais, com o programa higienista, a medicina social construiu planos de ação preventiva, unindo a "limpeza" dos focos de doença a padrões de comportamento moral, que exigiam a adequação da população ao que teria sido rotulado como puro, sadio, saudável. Fugir desses padrões caracterizava infração penal e, no fundo,representavaumacertaformadeloucura:oquepodialevaralguémanãoaderiràsnormasdasociedade, as quais pretendiam, no final, a sua própria proteção e bem-estar? A classe intelectual dominante tinha dificuldades de compreender a "renúncia racional" aos códigos vigentes por certas camadas sociais e, por conseguinte, as tentativas de responder a tais inquietantes perguntas vinham, geralmente, pela desvinculação dos comportamentos aos valores morais.
Nesse ponto, o Judiciário e a Medicina se aproximavam. As explicações por certa amoralidade comportamental agradavam aos parâmetros com que o Judiciário estava habituado a lidar e, por outro lado, possibilitavam os médicos a definir a (ir)responsabilidade do agente com base em sua "vida pregressa", o histórico de sua existência e ainda de seus parentes. Ao mesmo tempo, a confusa relação entre medicina e direito penal, que tanto favoreceu as publicações da Criminologia Cientifica ou Positiva, ao ser transplantada para os Asilos de Alienados ou para, depois, os Manicômios Judiciários, transpareceu o obscuro limite entre otratamentopsicopatológicoeotratamento moral ouaambiguidadeentreainstituiçãodaprisãoeainstituição do asilo.
Se no texto legal parecia clara a diferença entre os imputáveis e os inimputáveis e, consequentemente, o tipo de reclusão/internação que deveriam receber, bem como o cuidado técnico a ser-lhes dirigido, se médico ou jurídico, no plano concreto, todavia, as práticas institucionais eram dúbias e pouco definidas. Primeiramente, não havia consenso sobre a elasticidade da interpretação da legislação, pois, afinal, qual é o alcance da
expressão "louco de todo gênero"? Ou com o Código de 1890, o alcance da expressão "completa privação de sentidos e de inteligência"? Em segundo lugar, exigia-se adequação "moral" ao louco, bem como superação da "patologia" do criminoso. Falava-se em Manicômio ou em seção especial no Hospício para os "loucoscriminosos" e presídios específicos para "reincidentes incorrigíveis", ou seja, de certo modo, a prisão se fez asilo e o asilo se fez prisão, guardando entre si a característica das instituições totais (Goffman, 2008).
Com efeito, a progressiva intervenção da medicina psiquiátrica na justiça vai, aos poucos, incorporando outros comportamentos delituosos em que se põe a questão da culpabilidade. Tradicionalmente, não praticava crime aquele que sofria de delírio e que possuía distúrbios, mas, diante das monomanias, degenerações, atavismos e outras complexidades mentais, o médico se vê na legitimidade de questionar o funcionamento do direito de punir, quando aplicado a situações onde os motivos desaparecem e o fato parece sem explicação plausível, racional.4 Vê-se também perante o desafio de averiguar a responsabilidade ou não do agente, de evitar o erro de se condenar um louco ou de se inocentar um criminoso que pudesse estar tentando se passar por louco.
Por seu turno, a "interferência" do saber-poder médico e a "pretensão" de ampliar os casos de desculpabilização incomodaram muitos juristas. Questionável, por si só, a competência da Medicina e questionável também sua legitimidade para decidir o destino de alguém que está submetido á Justiça. Os conflitos de atribuição entre os médicos e os juristas foram, então, inevitáveis, quando os exames passaram a constituir um instrumento de poder sobre o destino das pessoas; e como instrumento de poder se tornaram alvo de disputa e de conflituosidade tanto internamente, pelas divergências teóricas entre os próprios médicos, como externamente, no embate com a policia e com o judiciário.
Pondera Feria (2005) que os principais "adversários" da produção médico-científica, em que o laudo se concretizava como diagnóstico da verdade, se personificavam no material policial produzido, muitas vezes por meio de tortura; nos veredictos leigos do júri; nas provas atécnicas, como a testemunhai.
De fato, além das veementes opiniões contrárias ao Tribunal do Júri, os cientistas da época também se voltaram contra os testemunhos, a ponto de propor a realização dos exames de sanidade mental também nas testemunhas, conforme propunham Ferreira Antunes e Juliano Moreira.
A crença na certeza da perícia motivou o projeto de estender os exames médico-legais para outros indivíduos relacionados ao processo, bem como instigou médicos influentes a propor a obrigatoriedade de alguns exames a todos os delinquentes e não só quando houvesse requisição judicial.
A medicalização do criminoso brasileiro eclodiu no fim do século XIX, portanto, por uma série de fatores presentes nesse momento histórico de profusão científica, que permitiria a "elevação" do país á categoria de nação civilizada. Seriam necessárias várias medidas não só no campo do Direito e da Política, mas também da Literatura, da Economia, da Filosofia e da Educação.5
Acontece que, enquanto na Europa, a Escola Positiva da Criminología veio cem anos depois da conquista de direitos civis pelo reconhecimento das liberdades e igualdades, no Brasil, a reivindicação pela Escola Científica-Liberal veio simultânea ás reivindicações pela efetivação das garantias básicas, como a liberdade de consciência. Não é de se estranhar, pois, que o primeiro Código Criminal da República, apesar de datar de 1890, tenha incorporado pouco da doutrina Positiva, sendo mais fiel á Escola Clássica. Era necessário, primeiro, implementar o novo Estado e, paulatinamente, aprender a lidar com a nova estrutura para, depois, avaliar aconveniência da adoçãodas teorias de Lombroso,Ferri e Garófalo, cujaresistênciajáeramanifestada por muitos. Esse trio italiano, entretanto, teve a capacidade de estimular novas reflexões e de avançar na medicalização do criminoso, garantindo o espaço do saber médico no Judiciário.
2 O CRIMINÓLOGO NINA RODRIGUES
Um dos grandes responsáveis pela consolidação desse saber-poder no Brasil foi Raimundo Nina Rodrigues. Omédico eprofessorera consideradoporLombrosoo"Apóstolo daAntropologiaCriminal noNovo-Mundo". Uma de suas obras de maior relevância foi As raças humanas e a responsabilidade penal no Brazil, de 1894, cujo titulo jádemonstrasuapreocupação recorrentecom as possíveis inter-relações entrecaracterísticas físicoraciais e criminalidade.
Com o mesmo modelo evolucionista, Nina Rodrigues parte do princípio de que foi com o aperfeiçoamento da série animal que se deu a crescente complicação do sistema nervoso, cuja composição histológica ou bioquímica da massa cerebral dependia de muitas décadas de adaptação e de transmissão hereditária por muitas gerações. Nisso se incluíam os graus sucessivos do desenvolvimento mental dos povos, os quais,
dependendo de seu estágio evolutivo, não estariam aptos a receber, de uma hora para outra, a civilidade de uma cultura muito diferente. Assim como cada indivíduo tem seu ritmo de evolução, os povos têm seus graus de evolução mental, daí "a impossibilidade de supprimir a intervenção do tempo nas suas adaptações e a impossibilidade, portanto, de impor-se, de momento, a um povo, uma civilisação incompatível com o gráo de seu desenvolvimento intellectual" (Rodrigues, 1894).
Para exemplificar o atropelo do tempo e o insucesso de adaptação social, esse autor se refere aos aborígenes dizendo estarem eles incapacitados organicamente para atender ao que exigia a civilização. Tratava-se, portanto, de uma realidade material a que o estudo das "raças inferiores" poderia contribuir, fornecendo á ciência os casos em que as observações positivas constatariam tal incapacidade orgânica, cerebral, afastando as especulações metafísicas da filosofia espiritualista:
Applicado á genese das idéas do bem e do mal, do justo e do injusto, do direito e do dever base moral e supposto fundamento do direito de punir da escola criminalista classica , o methodo comparativo, que vimos operar tão grande revolução na psychologia, demonstra que, longe de uma procedencia sobrenatural ou suprasensivel, essasidéas não sãomais doque oresultado ideal da elaboraçãopsychicaporquepassou osentimento instinctivo de defeza fatal e mesmo inconsciente nas suas manifestações reflexas primordiais. A inneidade dellas, verificada pela analyse subjectiva nas raças superiores e que pareceu justificar a crença na sua proveniência extra-natural, se explica ao contrario muito naturalmente pela procedencia hereditaria, legado quefoidemuitosseculos derepetiçãoeaperfeiçoamento,oqueacabouporidentifical-asetornal-asinherentes ao aperfeiçoamento psychico da humanidade (Rodrigues, 1894).
Argumentando a favor da relativização das idéias tidas como universais do bem e do mal, do justo e do injusto de acordo com o país e a raça, contrapõe-se ao ensino oficial e clássico do qual ainda estava impregnada a legislação brasileira. A antropologia, dizia Rodrigues, seria a ciência capaz de desmentir essa universalidade através da comparação entre os povos dos sentimentos de reprovação ou louvor, de criminalidade ou permissão, de punição ou de prêmio, presentes em uma mesma época ou os sentimentos que um mesmo povo teve ao longo de diversas épocas.
Assim é que a ideia de justiça, por exemplo, se apresenta hoje para nós diferentemente de como se apresentava em momentos mais remotos e também se apresentava hoje para nós diferentemente de como se apresenta ainda hoje para outros povos que tenham graus diferenciados de evolução mental. Disso dependeria um aperfeiçoamento social que paulatinamente, ao longo de gerações, vai inculcando no cérebro humano uma determinada noção compartilhada entre aqueles que se encontrem no mesmo nível evolutivo. O mesmo se daria com a noção de crime e de pena. Segundo Nina Rodrigues:
... para que se possa exigir de um povo que todos os seus representantes tenham o mesmo modo de sentir em relação ao crime, que formem todos da acção delictuosa e punivel o mesmo conceito, para que a pena, aferida pela imputabilidade, não se torne um absurdo, um contrasenso, indispensavel se faz que esse povo tenha chegado ao gráo de homogeneidade que Tarde, inspirando-se nas suas theorias sobre a imitação, descreveu magistralmente como o elemento social da identidade em que, em sua teoria, faz elle consistir o criterio da responsabilidade penal (Rodrigues, 1894).
Ao se contrapor a uniformidade universal da legislação, o autor defende um conjunto específico de leis para determinadas regiões. Um Código Penal nacional e isonômico ofenderia um postulado médico básico, o de que as pessoas são biologicamente distintas e, por isso, também o são os sistemas culturais.
As premissas do estudo de Nina Rodrigues (1894) foram resumidas por ele da seguinte forma: (1) a cada fase daevolução da humanidade,se comparam raças antropologicamentedistintas, correspondeuma criminalidade própria, compatível com o grau do seu desenvolvimento intelectual e moral; (2) existe uma impossibilidade material, orgânica, deos representantesdas fases inferiores daevoluçãosocialpassarem bruscamente, em uma só geração, sem transição lenta e gradual, ao grau de cultura mental e social das fases superiores; (3) perante as conclusões tanto da sociologia como da psicologia moderna o postulado da vontade livre como base da responsabilidade penal só se pode discutir, sem flagrante absurdo, quando for aplicável a uma agremiação social muito homogênea, que esteja num mesmo grau de cultura mental média.
Ao considerar o acentuado desnível em que vivem as raças inferiores, o médico sustentou que a organização fisiopsicológica desses indivíduos não comporta uma mesma consciência do direito e do dever de que seriam possuidores os povos cultos em razão do acúmulo de aperfeiçoamento transmitido hereditariamente durante a sua passagem da selvageria ou da barbárie a civilização. Por isso, nada justifica responsabilizar os selvagens
e os bárbaros pela falta dessa consciência, do mesmo modo que não justificaria punir os menores por não serem adultos ou os loucos por não serem sãos. Nina Rodrigues, nesse sentido, se mostra em sintonia com a teoria do atavismo empregada por Lombroso, não se fazendo de rogado ao declarar que constitui fonte dos atos violentos e antissociais a impulsividade primitiva típica das raças inferiores; típica, pois coerente com os atos reflexos e automáticos das espécies menos evoluídas. Ao contrário, quanto mais subirmos na escala evolutiva, mais se esperam ações refletidas, amparadas em arranjos psíquicos de ordem mais elevada. Dentre os elementos antropológicos puros da população brasileira, o desafio residia na averiguação da responsabilidade criminal do negro (representado pelos povos africanos e pelos negros crioulos não mesclados) e do índio (ou raça vermelha representada pelo brasileiro guarani e por seus descendentes civilizados) incorporados á nossa sociedade. A raça branca (representada pelos brancos crioulos não mesclados e pelos europeus, ou de raça latina, principalmente os portugueses e os italianos, ou de raça germânica, os teuto-brasileiros do sul da República) era o exemplar dos povos superiores. Os mestiços,6 também, por carecerem de unidade antropológica, reforçavam a prova da necessidade de que a questão da responsabilidade fosse solucionada sempre no nível individual. Senão, vejamos, diante da perpetração de um crime por um negro ou por um índio excepcionalmente evoluído:
Para logo surgirá a duvida muito bem fundada, o problema imperioso de saber: se o conflito, que a imposição, mais ou menos violenta, de uma civilisação superior, creou entre os sentimentos moraes novos, superficiaes e ainda não completamente radicados de um lado, e os instinctos antigos, cimentados e estratificados pela herança de uma longa cadeia de antepassados, de outro lado, é ou não de ordem a perturbar tão profundamente o mecanismo da determinação voluntaria, de modo a dar ganho de causa e predominio ás impulsões instinctivas e indomaveis, criminosas no novo meio , mas completamente inimputaveis" (Rodrigues, 1894).
Se, á primeira vista, negros e índios merecem, por sua inferioridade a priori, uma responsabilidade atenuada, certoéqueoutros negros eíndios em estadoselvagem sãototalmenteirresponsáveis, segundoNinaRodrigues. Quanto aos mestiços, dependendo do estágio em que o indivíduo se encontrasse na escala evolutiva que vai do produto "inteiramente inaproveitável e degenerado" ao produto "válido e capaz de superior manifestação da atividade mental" igual correspondência terá a responsabilidade moral e penal, desde a sua completa negação em um extremo, até a sua afirmação no lado oposto. A intuição, todavia, é que, por ser o mestiço um "híbrido social", ele conta com um "defeito de organização", uma "insuficiência" ou "desarmonia do desenvolvimento fisiopsicológico", devendo ser menos responsável do que os brancos civilizados. Às raças inferiores
... falta-lhes a consciencia plena do direito de propriedade. E a consciencia do direito é momento capital, elemento constitutivo da qualificação de criminalidade (Berner, Tobias Barreto).
Domina-os a impulsividade. E a impulsividade, seja pathologica por destruição morbida do freio superior dos motivos psychicos de ordem mais elevada, das emoções nobres, seja congenital ou constitucional por falta ou por insufficiencia do desenvolvimento desse freio , é sempre a mesma e tem o mesmo alcance. Em ambos os casos ella mantem dominada a livre determinação voluntaria e destroe pela base toda e qualquer responsabilidade que se funde na liberdade do querer" (Rodrigues, 1894).
Tendo a inferioridade de certas raças como forte convicção, Nina Rodrigues se entusiasmou com a história de Antônio Conselheiro. Apesar de defender a análise individualizada, o médico tomou todo o grupo de jagunços como objeto e generalizou o diagnóstico ao intitular o episódio "a loucura epidêmica de Canudos". Em primeiro plano, põe a "vesania" que aflige a personagem principal e o meio propenso á sua proliferação: "é examinada por este prisma que a cristalização do delírio de Antonio Conselheiro no terceiro período da sua psychose progressiva reflete as condições sociologicas do meio em que se organizou" (Rodrigues, 1897). A saga de Antonio Maciel é, então, estudada com detalhes.
Sua história de missionário delirante pelos sertões da Bahia parece consubstanciar a fase megalomaníaca do final de sua vida, após alguns meses de propaganda religiosa no Ceará, de prisão por suspeição de crime com posterior absolvição, e de descontentamento com as mudanças políticas de secularização do fim da década de 1880. A instituição do governo Republicano provocou sua insubordinação ao governo civil e o reconhecimento deste governo pelo clero incitou a revolta contra os poderes eclesiásticos. A luta armada começou.
Quando Nina Rodrigues escreveu esse relato, o exército já se encontrava há três meses em Canudos sem conseguirdar cabo da revolta. Intrigava-lhe,portanto, como um louco como Conselheiroconseguira mobilizar tantas pessoas com sua palavra. A resposta, ele encontrou nas características raciais dos jagunços, o qual ... é um producto tão mestiço no physico que reproduz os caracteres anthropologicos combinados das raças de que provém, quanto hybrido nas suas manifestações sociaes que representam a fusão quasi inviavel de civilizações muito desiguaes (...) revelam-se inteiriços o carater indomavel do indio selvagem, o gosto pela vidaerrante enomade, aresistencia aos soffrimentos physicos, á fome, ásede,ás intemperies, decididopendor pelas aventuras da guerra cuja improvização elles descobrem no menor pretexto, sempre promptos e decididos para as razzias das villas e povoados, para as depredações a mão armada, para as correrias de todo o genero que os interesses do mando, as exigencias da politicagem e as ambições de aventureiros fazem succeder-se de continuo por toda a vasta estensão das zonas pouco habitadas do paiz (Rodrigues, 1897).
O ambiente era ideal para estimular os instintos guerreiros desses mestiços. Faziam o que determinavam suas peculiaridades atávicas sem possuírem a capacidade mental por desenvolvimento intelectual, ético e religiosoinsuficienteouincompleto ,paracompreenderasmudançaspolíticasquesofisticaram aencarnação do poder na lei republicana. A dependência de uma voz de comando, da figura tradicional do monarca, foi, nas explicações de Nina Rodrigues, a origem da força sugestiva de Conselheiro.
Em outro trabalho, o autor, além de aprofundar o estudo sobre as " collectividades anormaes", examinou os casos de loucura a dois e, especialmente, o atentado da Praça Mauá. Aos 5 de novembro de 1897, Marcellino Bispo tentou assassinar o então presidente Prudente de Morais, a mando de Deocleciano Martyr. Nina Rodrigues estuda o perfil do executor e o classifica como um "regicida", pois
Aos regicidas pertence elle [Marcellino] pela idade, pois contava apenas 22 annos e os regicidas raramente têm mais de 30, oscillando de ordinario entre 20 e 25. Entre os regicidas celebres tinham (...) Guiteau, 40, etc. E esta precocidade é a melhor prova de que as solicitações psychicas que conduzem ao regicidio se encontram especialmente nos jovens, exactamente como as demais manifestações da degenerescencia. Pelos laços hereditarios, Bispo pertence tambem aos regicidas. É elle mestiço em sangue muito proximo dos indios brasileiros, pois seus pais descendiam de indios do extincto aldeiamento do Urúcú, em Alagôas. Já desta circumstancia se pode induzir o grau da sua impulsividade hereditaria. Mas a autoridade que, por ordem do governo, abriu inquerito sobre a familia de Bispo, informa que si os pais do assassino eram honestos, pacificos e laboriosos, 'houve outros parentes do criminoso, caboclos perversos e assassinos e dentre estes um que ha tempos assassinou o proprio irmão'. Aos regicidas pertence principalmente Marcellino Bispo por sua natureza, pois como todos os regicidas é evidentemente um degenerado (Rodrigues, 1939).
Esse regicida, que possuía inteligência "acanhada" e instrução "rudimentar", deixava morbidamente se sugestionar, e seus impulsos naturalmente selvagens e violentos, eram perfeitos para transformá-lo em prisioneiro moral de quem o explorasse nessas tendências inatas. Nisso residia o fundamento do crime a dois e não muito longe estava o crime das multidões.
Voltando, assim, às coletividades anormais e ao livro que recebeu esse titulo, Nina Rodrigues complementou as anotações sobre Canudos. Seguindo a crença nas explicações comportamentais por meio da conformação do cérebro, ele acrescentouàs conclusõesanteriores sobre os jagunços o estadode exaltaçãopassional coletiva em quese encontrava aquelamultidão,desaparecendo"o controledavida cerebral, e com elle, apersonalidade consciente e o discernimento" (Rodrigues, 1939). Nesse sentido, a sugestão de Antônio Conselheiro não teria provocado simplesmente uma adesão consciente, mas sim "um estado delirante collectivo, de carater politicoreligioso, dotado de uma tal intensidade que poude impellir os sectarios a todos os sacrificios. Foi um verdadeiro estado de multidão vesanico que se formou nesta seita de predispostos, de desequilibrados e loucos" (Rodrigues, 1939).
A excitação causada por Conselheiro se faria cessar por ele próprio ou com sua morte, o que acabou por acontecer em 1897. A cabeça foi separada do corpo e seu crânio foi oferecido a Nina Rodrigues. Nos parâmetros das pesquisas craniométricas, registrou-se: ... nenhuma anomalia que denunciasse traços de degenerescencia: é um craneo de mestiço onde se associam caracteres anthropogicos de raças differentes. Só relataremos aqui, pois, as indicações mais importantes. E um craneo dolichocephalo e mesorrhyno, quasi sem dentes, e com notavel atrophia das arcadas alveolares. Tem uma capacidade de 1670 cc. (...) E pois um craneo normal. Esta conclusão, que está de accordo com as
informações recolhidas sobre a historia do alienado, confirma o diagnostico de delirio chronico de evolução systematica" (Rodrigues, 1939).
Por mais que Conselheiro fosse o comandante, não seria afastada, classica-mente, a responsabilidade dos jagunços. Nossa legislação adotava o principio do livre-arbitrio, logo os mestiços maiores e não doentes mentais seriam considerados imputáveis. As concepções de Nina Rodrigues, todavia amparadas nas teorias do atavismo, da hereditariedade, da degenerescência, da inferioridade, enfim, na escola italiana de Lombroso , firmavam uma nova doutrina e intentavam transformações nas instituições penais que levassem em consideração a ausência ou diminuição da culpabilidade de determinados indivíduos por força de sua raça, de sua mestiçagem não evoluída ou de seu "estado de multidão", como no exemplo de Canudos.
No Brasil, a teoria da degenerescência se destinou fortemente aos índios, aos negros e aos mestiços, na tentativa da explicação da inferioridade e suas consequentes manifestações, adaptando o princípio da igualdade para a realidade biológica: é preciso tratar desigualmente os desiguais (Alvarez, 2002).
Como podemos perceber com Nina Rodrigues, o contexto sociopolítico de fins do século XIX e início do XX favoreceu a consolidação da Antropologia [criminal] brasileira e sua atualização pelas mãos de Afranio Peixoto, Juliano Moreira, Arthur Ramos e outros, bem como a adoção de medidas públicas que consideravam as teses raciais em voga no pensamento social leigo e culto.
É impossível, portanto, falar do Brasil daquela época e não fazer referências ao tema racial.
3 CONCLUSÃO
As expectativas quanto aos resultados que as pesquisas da Antropologia Criminal poderiam fornecer cruzaram continentes, oceanos e desembarcaram no Brasil. O papel que a medicina desempenhou no estudo da Criminología científica, fortemente, no final do século XIX, impactou a literatura médico-jurídica brasileira e, aqui, fez escolas. Nomes como Raimundo Nina Rodrigues, Teixeira Brandão, Heitor Carrilho, Juliano Moreira, aplicavam suas premissas no campo criminológico, e renomados juristas e advogados também se deixaram seduzir por tais ideias. Entre eles, a título de exemplificação, João Vieira de Araújo, Augusto Olympio Viveiros de Castro, Cândido Mota, Esmeraldino Olympio Torres Bandeira, Antônio Moniz Sodré de Aragão e Pedro Lessa (Tórtima, 2002).
No Brasil, assim, também presenciamos a proximidade entre a Medicina e o Poder Judiciário, onde médicos reclamam o posto de peritos, cientistas imparciais não subordinados ao chefe de polícia e não desacreditados em sua isenção e competência. Na visão médica, o homem do direito era como um "assessor que colocaria sob a forma da lei o que o perito médico já diagnosticara e com o tempo trataria de sanar"(Schwarcz, 2008). Na visão jurídica, a questão se inverte, pois o homem da medicina era como "um técnico que auxiliaria no bom desempenho desses profissionais das leis" (Schwarcz, 2008).
Vê-se claramente um campo de disputas entre médicos e juristas que, todavia, mais se complementam no projeto de construção da nação do que se excluem. A "dialética" de convergência e divergência entre esses saberes aproximou-os em certos pontos e distanciou-os em outros, contudo, isso só revela um fluxo e contrafluxo normal no plano intelectual, registrado na história da intelectualidade brasileira.
Considerando que a racionalidade dos doutores poderia estar atrelada a uma mentalidade elitista, a uma opção políticado tipo monarquia versus repúblicaou escravidão versus abolicionismo, nãose podemesmo descartar a hipótese de essa construção teórica do século XIX ter referendado uma dominação social e uma garantia de ordem higienista que levava para fora da normalidade os mestiços, os capoeiras, os degenerados, os vadios, os inertes, os malandros e os criminosos.
Naépocanãohaviaaespecificidadedeumaintelectualidademédicavoltadaparaaadequaçãodeum programa de inclusão do Brasil no mundo "evoluído" com o perfil de uma população miscigenada e tropical. Nesse ambiente, fica claro que negros ocupavam um espaço de inferioridade, os porões das classes sociais. Muitas vezes ainda vistos como "coisa", serviam a seus senhores na medida das necessidades destes.
A partir da década de 1870, todavia, o cenário começou a mudar. Os contextos externo e interno, bem como o fortalecimento do movimento abolicionista, favorecerem o surgimento de novas reivindicações e de novas orientações políticas, literárias, artísticas, econômicas, etc.
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1 Sugerem-se leituras da tradição foucaultiana de abordagem arqueológica e genealógica nas ciências humanas. Ver, por exemplo, Michel Foucault, As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas (4. ed., Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1987).
2 Schwarcz compartilha esse entendimento, mencionando a Lei do Ventre Livre, de 1871, o fortalecimento de centros de ensino que ocorreu naquela década, além de representar um marco na história das ideias brasileiras, pois sintetiza o "momento de entrada de todo um novo ideário positivo-evolucionista em que os modelos raciais de análise cumprem um papel fundamental" (2008, p. 14).
3 Barros reduz o termo "Positivismo" à doutrina de Comte, mas concorda que, em termos mais gerais, poderíamos substituir "cientificismo" por aquele.
4 Trata-se de casos como o de Henriette Cornier e Pierre Rivière, estudados por Foucault (2002). Para Robert Castel: "Essas exceções literalmente transtornantes questionam o direito de punir ao nível de seu funcionamento. Atos tão deslocados que não podem mais ser recodificados em termos de motivos. Eles desconcertam toda e qualquer justificativa racional da sanção, pois não podem ser referidos a nenhum cálculo. Que o aparelho da gestão da loucura o assuma, portanto" (1978, p. 169).
5 Para Barros "é preciso substituir o romantismo pelo naturalismo, em literatura; o direito natural pelo direito positivo, na jurisprudência; o espiritualismo pelo monismo, positivista ou materialista, em filosofia; a monarquia pela república, em política; o privilégio pela livre concorrência, em economia, em educação; é preciso libertar a consciência do artificialismo das imposições constitucionais, para submetê-la apenas ao seu determinismo natural e às legítimas injunções coletivas; é preciso tornar livre o trabalho, rever a situação da mulher, reexaminar a concepção do Estado" (1986, p. 172).
6 Segundo Nina Rodrigues "O conflicto, que se estabelece no seio do organismo social pela tendencia a fazer, á força, iguaes perante a lei e seus effeitos, raças realmente tão distinctas e desiguaes , tem o seu simile e se deve realisar no seio do organismo individual, nos casos de mestiçamento, que combina e funde de momento em um mesmo individuo qualidades physicas, physicologicas e psychicas, não só distinctas, mas aindadevalormuitodifferentenopontodevistadoconceitoevolutivodoaperfeiçoamentohumano.Éverdade biologica bem conhecida que nos cruzamentos de especies differentes o exito é tanto menos favoravel quanto mais afastadas na hierarquia zoologica estão entre si as especies que se cruzam" (1986, p. 91).
RAÇA E CRIMINALIDADE NA OBRA DE NINA RODRIGUES: UMA HISTÓRIA
PSICOSSOCIAL DOS ESTUDOS RACIAIS NO BRASIL DO FINAL DO SÉCULO XIX
MARCELA FRANZEN RODRIGUES
RESUMO - Este artigo tem por intuito rever e analisar algumas obras de Nina Rodrigues (1862-1906) que tratam, sobretudo, de seus trabalhos acerca da inferioridade física e mental dos negros e mestiços no Brasil, baseando-se mormente no saber produzido por criminalistas italianos como Lombroso, Garófalo e Ferri. Raimundo Nina Rodrigues foi um médico maranhense, radicado na Bahia, que no final do século XIX interessou-sepelosestudosraciaisapartirdaMedicinaLegal.Produziudiversasobrasnasquaisbuscaexplicar e analisar o que ele considerava provas irrefutáveis da inferioridade da raça negra. Assim, Nina Rodrigues se debruçava sobre casos de crimes, de loucura, de crenças religiosas, sempre na busca de pistas que pudessem comprovar suas teorias sobre a inferioridade racial. Neste trabalho procura-se analisar tais obras, a fim de apreender as motivações do autor assim como compreender o contexto científico da época, buscando-se, assim, alguma contribuição para a história da psicologia no Brasil.
Palavras-Chave: Nina Rodrigues, raça, crime, medicina legal, história da psicologia.
1 Introdução
Raimundo Nina Rodrigues foi um médico brasileiro que no final do século XIX buscou, entre outras coisas, desvendar os mistérios da mente e do espírito dos negros brasileiros. Racista, eugenista, conservador, foi um intelectual rejeitado apartirdasegunda metadedo século XXpor contadestas características que, se não eram, à época, exclusivas dele, tornaram-se malditas: hoje em dia seu nome quase não é citado, a não ser em revisões críticas da história dos estudos raciais. Sua produção não foi muito extensa temporalmente – cerca de vinte anos – mas foi intensa, no sentido de que escreveu muito sobre temas diversos, apesar de ter se mantido fiel aos chamados estudos do negro.
Nina Rodrigues nasceu em Vargem Grande, município do Maranhão, em 1862. Aos 20 anos de idade mudouse para a Bahia, a fim de cursar a Faculdade de Medicina. Já com o título de doutor 1, Nina Rodrigues, em 1888, foi para a cidade de São Luís do Maranhão, onde clinicou durante algum tempo, tendo, neste período escrito artigos sobre higiene pública e também um trabalho sobre a lepra, no qual se encontra a sua primeira tentativa de um quadro classificatório das raças no Maranhão. Em 1889 voltou para a Salvador a fim de assumir a Cadeira de Clínica Médica na Faculdade de Medicina da Bahia e no mesmo ano passou a fazer parte da redação da Gazeta Médica da Bahia, uma das mais importantes publicações médicas do País (Oda, 2003; Schwarcz, 1993). Em 1891, foi transferido para a disciplina de Medicina Legal, primeiramente como substituto, sendo oficializado no cargo quatro anos depois. Até sua morte, em 1906, Nina Rodrigues permaneceu neste cargo, desempenhando importante papel na institucionalização da Medicina Legal no país. A produção de Nina Rodrigues foi ampla, abarcando diversas áreas da medicina – sendo mais efetiva na medicina legal, mas não restrita a ela. Entre os anos de 1890 e 1892, escreveu sobre as epidemias de abasia astasia ocorridas no Maranhão e na Bahia, além de textos voltados à discussão da mestiçagem, como "Mestiçagem, Degenerescência e Crime".
Publicou o seu primeiro livro - "As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil" – em 1894, hoje consideradaumadesuas mais importantesobras. Estelivroera,segundoo autor,um "estudo das modificações que as condições de raça imprimem à responsabilidade penal" (Rodrigues, 1957, p.27), com o objetivo de sistematizar as suas lições na disciplina de Medicina Legal (Oda, 2003).
Em 1895, já como titular na cátedra de Medicina Legal, ajudou a fundar, juntamente com Juliano Moreira e Alfredo Britto, a Sociedade de Medicina Legal da Bahia, sendo eleito presidente. Ainda neste ano foi aceito como membro da Médico-Legal Society de Nova Iorque (Corrêa, 2001; Oda, 2003).
Nos primeiros anos da década de 1900, Nina Rodrigues se dedicou a uma série de escritos sobre Medicina Legal voltados à perícia médica, e outros de especial interesse para a psicologia, tais como "Atavisme psychique et paranóia", publicado nos Archives de Anthropologie Criminel de Lion em 1902 e "La paranóia chez les nègres", do ano seguinte, publicado na mesma revista. Raimundo Nina Rodrigues faleceu precocementeemjulhode1906,deixandoumaobradeimportânciaímparparaos estudossobreraçanoBrasil.
De acordo com Ana Maria Oda (2003), pode-se classificar a produção de Nina Rodrigues em quatro pontos, são eles: os estudos de organização sanitária pública; medicina legal, psiquiatria forense e antropologia física; os estudos de psicopatologia comparada e, finalmente, a etnografia dos povos africanos da Bahia. Exceto o primeiro item, que apresenta um limite temporal específico – o início da carreira de Nina Rodrigues –, todos os outros temas estão presentes ao longo dos seus vinte anos de produção, sendo que o tema da criminalidade entre negros e mestiços perpassa boa parte de sua obra.
A atuação de Nina Rodrigues dentro da Medicina Legal foi muito ampla, podendo ser localizada em diversos âmbitos que vão desde a organização sanitária até a psiquiatria forense. Aqui interessam, principalmente, seus trabalhos sobre antropologia física e criminal e psiquiatria forense, dentro dos quais o estudo do corpo e da mentedo negrosesobrepõe.Voltadoprincipalmenteaotemadacriminalidaderacial, NinaRodrigues analisou diversos casos de delitos envolvendo negros e mestiços, nos quais os corpos, cabeças, mentes e história de vida dos sujeitos eram avaliados no intuito de desvendar as motivações de seus crimes.
2 Raça, crime e punição
A conversão absoluta de Nina Rodrigues ao campo da Medicina Legal pode ser datada na publicação de"As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil", de 1894. O livro é dedicado aos consagrados médicos e juristas da área, como Lombroso, Ferri, Garófalo e Lacassagne 2, "em homenagem aos relevantes serviços que os seus trabalhos estão destinados a prestar a medicina legal brasileira, atualmente simples aspiração ainda" (Rodrigues, 1957, p.21). De acordo com Maio (1995), além disso, percebe-se também uma identificação do autor com as teorias eugênicas de Galton e com o darwinismo social de Spencer. Mas, foi principalmente baseado nas teorias lombrosianas que Nina Rodrigues desenvolveu as ideias apresentadas em "As Raças Humanas", no qual o autor considerava um "simples ensaio de psicologia criminal brasileira" (Rodrigues, 1957, p.24). Fundamentado, sobretudo, nas aulas que vinha ministrando na disciplina de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia, o livro tinha como propósito apresentar as modificações que as condições de raça imprimiriam à responsabilidade penal, assim como criticar o Código Penal Brasileiro de 1890.
Neste livro, considerado por Leite (1992) a exposição explícita de preconceito contra índios e negros, Nina Rodrigues defendeu um tratamento diferenciado para negros, índios e mestiços – produtos das chamadas raças inferiores – no Código Penal Brasileiro. Seu argumento partia do pressuposto de que haveria uma diferença fundamental entre as raças no que se referia à sua constituição mental:
A concepção espiritualista de uma alma da mesma natureza em todos os povos, tendo como conseqüência uma inteligência da mesma capacidade em todas as raças, apenas variável no grau de cultura e passível, portanto, de atingir mesmo num representante das raças inferiores, o elevado grau a que chegaram as raças superiores, é uma concepção irremessivelmente condenada em face dos conhecimentos científicos modernos (Rodrigues, 1957, p.28).
Para embasar sua proposta de um código diferenciado, Nina Rodrigues utilizou longas citações de autores como Tarde 3 eGarófalo parasustentarqueapróprianoçãode crimese alteraconformeotempoeasociedade. Assim, lembra que o grande crime na Grécia Antiga era deixar os pais sem sepultura, na Idade Média era o sacrilégio, tendo o homicídio pena muito mais leve. Se a ideia de crime se alterou ao longo do tempo, nada mais natural que a ideia de justiça se modificasse também. Para que todos tivessem a mesma noção de justiça e responsabilidade, era necessário, segundo o autor, que houvesse uma homogeneidade populacional, o que era impensável, uma vez que as populações se encontravam em níveis distintos de evolução mental. Assim, Nina Rodrigues concordou com Tarde quando este afirmou que para se chegar a homogeneidade populacional era preciso que:
As inclinações naturais, quaisquer que sejam, tenham recebido, em larga escala, do exemplo ambiente, da educação comum, do costume reinante, uma direção particular que as tenha especificado [...]. Quando a sociedade tem fundido assim à sua imagem todas as funções e todas as tendências orgânicas do indivíduo, o indivíduo não faz um movimento, um gesto, que não seja orientado para um fim designado pela sociedade. Além disso, é preciso que, em larga escala também, as sensações brutas fornecidas pelo corpo e a natureza exterior em face um do outro, tenham sido profundamente elaboradas pelas convenções, pela instrução, pela tradição, e convertidas deste modo em um conjunto de ideias precisas, de juízos e de prejuízos, conformes em maioria às crenças dos outros, ao gênio da língua, ao espírito da religião ou da filosofia dominante, à
autoridade dos avós ou dos grandes contemporâneos. Depois disso, pense o que pensar o indivíduo, ele há de pensar com o cérebro social" (Tarde apud Rodrigues, 1957, p.45).
Uma vez que a cada fase da evolução social de um povo corresponderia um tipo específico de criminalidade (de acordo com o desenvolvimento intelectual e moral) e que a análise científica mostrava a impossibilidade de uma homogeneidade populacional, o pressuposto da vontade livre, ou livre arbítrio – doutrina que estaria, segundo Oda (2003), de acordo com a Escola Clássica de Direito, na qual se baseava o sistema penal brasileiro à época –, não ofereceria a mínima consistência porque não escaparia, segundo Nina Rodrigues, às contingências do desenvolvimento evolutivo. Seguindo a teoria spenceriana 4, o autor acreditava que toda e qualquer ação seriadeterminadapelas conexões psíquicas geradas pela experiência – que poderiam sermesmo anterior à existência do indivíduo – e que estavam acumuladas na sua constituição. Assim, o autor concluiu que, a cada fase da evolução da humanidade, se se comparassem raças distintas, corresponderia uma criminalidade própria em harmonia e em acordo com o grau do desenvolvimento. De forma que a noção de vontade só poderia ser aplicada a um grupo social homogêneo, o que não era, nem de longe, o caso da sociedade brasileira.
Aplicando tais conceitos à realidade do Brasil, Nina Rodrigues sustentou que os crimes cometidos por indígenas, negros ou mestiços só poderiam ser analisados a partir de um ponto de vista racial que levasse em conta os valores morais e as noções de justiça vigentes nos seus respectivos grupos, ao que Oda dá o nome de "ética étnica" (2003, p.215). Afirma Nina Rodrigues:
Ora, desde que a consciência do direito e do dever, correlativos de cada civilização, não é o fruto do esforço individual e independente de cada representante seu; desde que eles [índios, negros e mestiços] não são livres de tê-la ou não tê-la assim, pois que essa consciência é, de fato, o produto de uma organização psíquica que se formou lentamente sob a influência dos esforços acumulados e da cultura de muitas gerações; tão absurdo e iníquo, do ponto de vista da vontade livre, é tornar os bárbaros e selvagens responsáveis por não possuir ainda essa consciência, como seria iníquo e pueril punir os menores antes da maturidade mental por já não serem adultos, ou os loucos por não serem sãos de espírito (Rodrigues, 1957, p.79).
Os selvagens – negros e índios – teriam, de acordo com Nina Rodrigues, um código de conduta próprio, estabelecido nos seus locais de origem e que difeririam muito dos códigos de conduta dos povos ditos civilizados.
Os negros africanos são o que são: nem melhores nem piores que os brancos: simplesmente eles pertencem a uma outra fase do desenvolvimento intelectual e moral. Essas populações infantis não puderam chegar a uma mentalidade muito adiantada e para esta lentidão de evolução tem havido causas complexas. Entre essas causas, umas podem ser procuradas na organização mesma das raças negríticas, as outras podem sê-lo na natureza do habitat onde essas raças estão confinadas. Entretanto, o que se pode garantir com experiência adquirida, é que pretender impor a um povo negro a civilização européia é uma pura aberração (Rodrigues, 1957, p.114).
Como exigir, questiona o autor, que todas as diferentes raças encontradas no Brasil respondam por seus atos perante a lei com igual plenitude de responsabilidade penal? É possível admitir que os índios e negros, bem como seus mestiços, tenham discernimento para decidir entre cometer ou não um crime? Seria correto, pergunta ainda Nina, conceber que a consciência do dever e do direito destas raças seja a mesma da dos brancos? Nina Rodrigues não pôde responder a estas questões.
Assim, para o autor, um negro que cometesse um crime de honra, por exemplo, não poderia ser julgado da mesma maneira que um branco que tivesse cometido o mesmo crime. Suas aptidões mentais, suas formas de ver o crime e seus códigos de conduta eram outros. O branco deveria ser punido mais severamente que o negro, pois ele teria domínio sobre o código da civilização. Sua superioridade mental o obrigaria a ter consciência e pensar racionalmente sobre o crime que porventura viesse a cometer, diferentemente do negro, queseria acometido porsuas emoções, quedominariam suaconsciência,incapacitando-oparaaracionalidade. O caso do indígena (puro) era o mesmo que o do negro.
Basta refletir um instante em que só os africanos e os índios conservam, mais ou menos alterados, do novo meio social, os seus usos e costumes, como ainda em que fazem deles com os novos um amalgama indissolúvel, para se prever que nas suas ações hão de influir poderosamente as reminiscências, conscientes ou inconscientes da vida selvagem de ontem, muito mal contrabalançadas ainda pelas novas aquisições emocionais da civilização que lhes foi imposta (Rodrigues, 1957, p.79).
Desta forma, não havia duvidas de que negros e índios necessitavam de um código que previsse sua incapacidade e atenuasse sua responsabilidade. No caso dos mestiços, a situação se complicaria mais.
Para Nina Rodrigues, a escala da mestiçagem poderia ir desde o "produto inteiramente inaproveitável e degenerado aoproduto válidoecapazdesuperior manifestaçãodaatividademental"(Rodrigues,1957,p.134).
A mesma escala deveria percorrer a responsabilidade moral e penal, uma vez que o autor não considerava que todos fossem irresponsáveis. Nina Rodrigues acreditava que os mestiços poderiam ser distribuídos em três grupos distintos: o primeiro corresponderia aos mestiços superiores que, ou pela predominância da raça civilizada em sua constituição, ou por uma feliz combinação mental, poderiam ser considerados perfeitamente equilibrados e plenamente responsáveis; ao segundo grupo pertenciam os mestiços evidentemente degenerados, os quais devem ser considerados parcial ou totalmente irresponsáveis; por fim, no último grupo estariam os mestiços comuns, que mesmo superiores às raças selvagens das quais descendiam, traziam o desequilíbrio causado pelo cruzamento, não podendo ser equiparados àquelas raças, de forma que se encontravam em constante iminência de cometer ações anti-sociais e não deveriam, por isso, ser plenamente responsáveis.
A sugestão proposta por Nina Rodrigues foi de que cada região do país possuísse seu próprio código, adaptado às condições raciais e climáticas de cada uma delas, abandonando a unidade legal que era defendida pelo direito clássico. Mas, como bem lembra Oda, é claro que a distinção no código proposta pelo autor implicaria não apenas na imputabilidade penal, mas, também, na "relativização da capacidade civil, isto é, da cidadania no sentido amplo" (2003, p.217).
Após "As Raças Humanas", Nina Rodrigues passou a escrever frequentemente sobre a relação entre raça e crime.Nesses textos, sempredefendeu aresponsabilidadediferenciada comoamelhorformadetratar os casos criminais, para comprovar suas teorias, utilizava-se, sobretudo, de observações empíricas. Encontram-se exemplos desse método em textos como "Depeçage Criminel", "Lucas da Feira", aqueles sobre o conflito de Canudos, como "Antônio Conselheiro e os Jagunços", entre outros.
3 O caso de Lucas da feira
Seguindo o método de Nina, vamos aqui nos detalhar na apresentação de seu ensaio sobre Lucas da Feira, publicado em 1985. É comum que, à primeira leitura deste texto, não lhe seja dada muita relevância: parece ser apenas mais um dos textos racistas de Nina Rodrigues, no qual o corpo do negro fora medido, analisado e profanado. Uma segunda leitura, mais aprofundada, nos mostra que o texto ultrapassa esta primeira visão e pode ser localizado entre as obras chave do que, penso, ser a transição de um Nina Rodrigues simplesmente cientificista e médico para um Nina Rodrigues afetado pela importância dos indicadores sociais.
Adepto da teoria lombrosiana do criminoso nato, logo no início o autor afirma crer que "poucas populações estarão, como a do Brasil, em condições de oferecer à escola criminalística italiana uma confirmação mais brilhante às doutrinas que ela defende" (Rodrigues, 2006, p.104). Ironicamente, ao longo do texto percebe-se que ele mais se afastou do que aproximou das doutrinas que tanto elogiava. Vejamos o caso de Lucas. Lucas da Feira foi um negro escravo fugido que, em 1828, juntou um bando de negros – escravos como ele –cometendo diversos crimes ao longo de vinte anos. Em 1848, Lucas foi preso, negando seus crimes de início, mas, após intenso interrogatório, acabou por admitir ter matado mais de vinte pessoas, roubado e raptado, além de ter violado seis moças (Rodrigues, 2006). Ainda assim, e mesmo sabendo que seus dias estavam contados, afirmou que não entregaria nenhum de seus comparsas por ser este um ato de traição para com aqueles que tanto o ajudaram. Não era este o comportamento previsto por Lombroso para os criminosos: estes sempre buscariam atenuar seus atos acusando outros e reclamando terem cometido seus crimes sob influência edomínio dos cúmplices. Contudo, nãofoisomenteo comportamento deLucas depois depreso quenão estava de acordo com a teoria italiana; seu comportamento durante a vida e seu corpo após a morte não se pareciam em quase nada com a descrição do criminoso nato.
Durante a vida de crimes, Lucas evitou, sempre que pôde, assaltar e assassinar pessoas da vila, porque os conhecia: "Assim, pois, como verdadeiro selvagem, a vila e seus habitantes representavam para ele sua pátria, sua tribo, seu clã: os outros não eram mais do que estrangeiros em face dos quais ele não se julgava obrigado a ter considerações" (Rodrigues, 2006, p.108).
Este comportamento de Lucas – que, mesmo fugindo, também respeitou seus senhores e nunca os machucou, além de só ter matado quem ele entendia tê-lo traído de alguma forma, certo que com requintes de grande
crueldade – demonstrava para Nina Rodrigues que Lucas era sim um verdadeiro criminoso, porque tinha instintos sanguinários, mas não era um criminoso nato.
Por fim, o estudo de seu crânio demonstrou que, ao contrário do que o médico esperava, Lucas da Feira não possuía nenhum traço étnico marcante; à primeira vista parecia um crânio perfeitamente normal, com caracteres próprios aos crânios dos negros,mastambém àqueles"pertencentesaos crânios superiores,medidas excelentes, iguais às da raça branca" (Rodrigues, 2006, p.106). Lucas era filho de negros africanos e sua negritude era comprovada por todos os que o conheceram, de forma que a ideia de que ele tivesse um mínimo de sangue branco era muito pouco provável. As medidas do crânio de Lucas, somadas ao seu comportamento em vida,mostravam aNinaRodrigues queele era um criminoso paraos brasileiros,queviviam sob civilização europeia, porque provavelmente na África ele teria sido um rei, um guerreiro, um herói.
E assim, Nina Rodrigues chegou à conclusão que o verdadeiro estudo da criminalidade não poderia se firmar somente na craniometria:
Compreende-se assim o valor que se deve dar à ausência de caracteres criminais no crânio de Lucas e vê-se como não podemos criticar os dados da antropologia criminal, prendendo-nos preconcebidamente aos caracteres físicos com a exclusão de uma sábia análise psicológica. É preciso, antes de tudo, fazer dos criminosos um estudo completo (Rodrigues, 2006, p.164).
Essa análise completa compreendia, além dos exames osseométricos, um estudo detalhado da vida psicológica da pessoa e o conhecimento do meio social e climático no qual a pessoa vivia, tal como feito pelo autor no ensaio sobre Antônio Conselheiro.
Pode-se analisar o caso de Lucas da Feira por diferentes prismas. Entretanto, para este trabalho, sua relevância encontra-se, sobretudo, no fato de Nina Rodrigues não haver encontrado no corpo de Lucas importantes marcas, traços e características físicas, materiais, de sua degenerescência ou de seu atavismo psíquico. Sim, sabia-se que o ex-escravo era um criminoso, assim como constatava-se que era negro. Sabia-se também que era canhoto –marcaindiscutível dedegenerescência –,quetinha um "olharpeculiar" (Rodrigues, 2006, p.105) e que possuía uma leve anormalidade no formato do crânio. Anomalias estas, aliás, que poderiam também ser encontradas em um indivíduo branco. Ou melhor, que poderiam ser encontradas em qualquer pessoa. Mas Lucas não era qualquer pessoa. Lucas tinha atacado e saqueado diversos vilarejos durante vinte anos. Tinha violado e assassinado, muitas vezes com requintes de crueldades, podendo seus atos serem comparados aos dos assassinos mais bárbaros. Mas, diferentemente dos casos analisados pelo autor em "As Raças Humanas", Lucas possuía um rígido código de conduta: ele só matava quando, em sua avaliação, isto era necessário; não matava conhecidos – mas matava conhecidos traidores, caso em que usava da Lei de Talião além de outros castigos.
Assim, Nina Rodrigues perguntou-se como poderia um negro supostamente degenerado em função de sua raça, cuja mentalidade inferior se comprovaria por seus crimes, possuir um código de conduta tão elaborado? Lucas era, antes de mais nada, um produto de seu meio. Hoje poder-se-ia dizer, inclusive, que Lucas era o que a sociedade e a cultura fizeram dele. Resposta não muito distante da dada pelo médico maranhense em finais do século XIX.
4 Mestiços e crimes
Em 1899, Nina Rodrigues escreveu um artigo intitulado "Mestiçagem, Degenerescência e Crime", no qual dava exemplos de crimes cometidos por mestiços. Em sua análise, buscava distinguir a influência da degeneração nos criminosos. Para tanto, contemplou o estudo craniométrico e fisiognômico do criminoso, de acordo com os parâmetros da criminologia. Assim, conduziu a análise dos casos de forma a confirmar sua tese de que os crimes são mais fruto da degenerescência recorrente pelo cruzamento de raças distintas, do que de responsabilidade individual, e por isso deveriam ser atenuados.
No início deste artigo, Nina Rodrigues discorreu sobre os discursos científicos que, no final do século XIX, debatiam a questão da mestiçagem. Os primeiros referiam-se à discussão entre poligenistas e monogenistas. A visão monogenista congregou a maior parte dos intelectuais que, de acordo com a Bíblia, acreditavam que a humanidade vinha de uma fonte comum, sendo as diferenças entre os homens vistas como um gradiente, que iria do mais ao menos perfeito (mas sem supor uma noção de evolução). Já a visão poligenista provinha de uma interpretação biologicista, baseada na análise dos comportamentos humanos, que passaram a ser crescentemente vistos como resultados imediatos das leis biológicas e naturais e implicando, portanto,
diferentes origens humanas (Schwarcz, 1993). Assim, enquanto os primeiros buscavam mostrar o hibridismo dos cruzamentos humanos, os segundos buscavam comprovar a viabilidade de tais cruzamentos. "Assim, o critério de viabilidade e de capacidade dos mestiços foi posto no terreno das ciências naturais. Tanto como para os animais, esse critério deveria ser a perfeita eugenesia dos mestiços humanos, que uns apoiavam e outros negavam" (Rodrigues, 2008, p.1151). No entanto, o debate entre os poligenistas e os monogenistas acabou atenuado com a publicação e divulgação da teoria evolucionista de Darwin, que passou a constituir, segundo Schwarcz (1993), uma espécie de paradigma da época, amenizando antigas disputas.
Deste modo, segundo Nina Rodrigues, a psicologia mórbida entrou em ação e colocou de lado a questão de saber se o mestiço era ou não eugenésico – ou seja, capazes de melhorar a sua descendência –, para debater se os mestiços eram um produto normal, socialmente viável ou se, ao contrário, constituiriam "raças abastardas inferiores, uma descendência incapaz e degenerada" (Rodrigues, 2008, p. 1152). Neste sentido, a psicologia coletiva – a partir de nomes como Gobineau 5, Spencer, Keane e Le Bon – ocupou-se da questão. Já o estudo médico da influência degenerativa da mestiçagem era mais recente. Nina Rodrigues lembra que o próprio Morel, "criador da noção clínica de degenerescência" (Rodrigues, 2008, p. 1152) a desconhecia. Foi, portanto, a psicologia criminal que acabou por acentuar, ou afirmar, a possibilidade desta consequência do cruzamento. Mas, ainda assim, poucas ou nulas eram as documentações que apoiassem esta teoria:
A razão principal para essa ausência de documentação é a dificuldade de separar de maneira segura a influência do cruzamento da de muitas outras causas, de ordem biológica e social que pode ter simultaneamente exercido influência na degenerescência ou na decadência precoce desses povos mestiços e que são dadas ou invocadas como provas da ação degenerativa da mestiçagem (Rodrigues, 2008, p. 1152).
Foi justamente por conta desta ausência de documentação que o autor se propôs a resolver o problema através da observação direta e imediata:
A observação, tal como feita até hoje, voltando-se para todo um povo ou para casos muito limitados e muito específicos, não pode trazer senão provas muito discutíveis e não pode iluminar a questão com as luzes soberanas da verdade. Num país inteiro e sem o recurso a estatísticas no caso dos povos que se prestam a essa discussão, é quase impossível distinguir a influência da mestiçagem entre as mil outras causas complexas, suscetíveis de produzir sua decadência. Em alguns casos muito especiais é sempre justo suspeitar de uma exceção ou de uma influência degenerativa local, responsável pela ação imputável ao cruzamento (Rodrigues, 2008, p.1153).
Assim, Nina Rodrigues afirma que tais análises seriam melhor realizadas em cidades pequenas, "nas quais é mais fácil distinguir as diferentes causas degenerativas, dado que a população local não se distingue em nada do tipo médio geral da província ou estado" (Rodrigues, 2008, p.1153) buscando, também, o histórico médico destas populações. A localidade escolhida, Serrinha – no interior do estado da Bahia –, era composta por mestiços, principalmente pardos, além de possuir uma quantidade significativa de negros. Serrinha também gozava da reputação de abrigar uma população séria e trabalhadora. No entanto, Nina Rodrigues fez questão de mostrar que, apesar da fama, a população local estava longe de ser um exemplo, já que se utilizava de métodos atrasados de produção agrícola, além de não possuir espírito empreendedor, dificultando o progresso da região.
Ao longo do texto, o autor apresentou diversos casos de degenerescência entre a população de Serrinha no intuito de comprovar a sua frequência entre os mestiços, assim como justificar sua tese sobre o fundo degenerativo dos criminosos mestiços:
A degenerescência dos mestiços devia ter uma influência decisiva e predominante sobre sua criminalidade, o que era de prever, mas não seria justo inferir daí que essa criminalidade deva ser forçosamente muito elevada, pois compreendemos perfeitamente que a degenerescência, sob a influência de causas múltiplas e difíceis de precisar, difíceis mesmo de conhecer, pode tomar formas variadas: mais criminosas aqui, mais vesânicas lá, e assim por diante (Rodrigues, 2008, p.1166).
Vê-se, pois, que Nina Rodrigues acreditava que se a violência e a impulsividade das raças inferiores afetavam a qualidade dos crimes, não necessariamente influenciava na quantidade. O caso de Serrinha era um exemplo de localidade com baixa criminalidade, mas na falta de estatísticas confiáveis, era impossível realizar um estudo comparativo com outras localidades do estado e outras regiões do país, mas, com base em estudos realizados em outros países, o autor acreditava ser possível afirmar que o tipo violento predominava na criminalidade da população de cor. Assim, no intuito de comprovar que a criminalidade é fruto da
degenerescência causada pela mestiçagem, o autor acreditou ser suficiente a análise da história de duas famílias, cujos casos de criminalidade associavam-se intimamente com as manifestações da degenerescência, de forma a demonstrar que a tendência ao crime era hereditária.
5 Desmembramento criminal
Em 1898, no artigo "Des Conditions Psychologiques du Depeçage Criminel", NinaRodrigues tratou dos casos de mutilação criminosa. Iniciou o texto citando Lacassagne, que diz que o desmembramento seria um fenômeno presente desde sempre nas culturas primitivas, merecendo, portanto, um estudo mais detalhado, pois seria uma das características mais marcantes do instinto destruidor. Em seus dias, ainda segundo Lacassagne, não havia mais tantos casos como antigamente, não porque os primitivos tivessem aceitado as leis e os costumes da civilização – como pensariam os antropólogos – mas por serem ainda caracterizados por seus instintos atávicos. Assim, para Lacassagne, os primitivos do final do século XIX ainda eram condenados à imitação, tal como seus antecedentes.
Umavezqueo Brasil era, segundoNinaRodrigues,um país com grandenúmerodepessoasde raças inferiores e, pior, com grande número de produtos do cruzamento entre raças, tinha uma boa parte da população com instintos atávicos e logo o estudo do desmembramento poderia ser muito bem aplicado em nossa terra. Assim, Nina Rodrigues resolveu debruçar-se sob o assunto e estudar o fenômeno do desmembramento no Brasil a partir dos três tipos propostos por Lacassagne – a saber, o desmembramento "religioso" ou "sacrificial"; o "judicial" e o "criminoso", além de um último tipo proposto pelo próprio Nina Rodrigues, o desmembramento "guerreiro" ou "ornamental".
O desmembramento guerreiro – ou de guerra – era comum entre as tribos indígenas que aqui estavam antes da chegada de Portugal. Segundo o autor, era comum que os índios usassem como troféus crânios e membros de seus inimigos, cujos ossos serviam, igualmente, como decoração de corpos e casas.
Esta prática existe ainda hoje e com a mesma finalidade entre as tribos selvagens que ocupam as extensas zonas desertas do país. Ela existe igualmente entre os descendentes semi-civilizados, puros ou mestiços, do índio e do negro, ainda que atenuada, porque transformada em crime, mas o caráter e os instintos guerreiros ainda são facilmente percebidos nestes povos. Nos pontos distantes do litoral, onde pouco se sente a influência da civilização, estes povos nômades vivem em incursões, exatamente como viviam seus antepassados selvagens aqui, na América, ou na África. Estas pessoas estão constantemente envolvidas com assaltos à mão armada onde se revela todos os sentimentos e instintos bárbaros ainda mal contidos de seus ancestrais (Rodrigues, 1898, p.7 [tradução livre]).
A título de exemplo, o autor descreve – com riqueza de detalhes – um caso onde um fazendeiro foi morto a tiros por um bando de capangas enquanto dormia, produto de uma vingança dos filhos de um fazendeiro vizinho. Não satisfeitos com o assassinato, o grupo de homens – mestiços – arrastou o corpo até a frente da casa, onde o espancaram e esquartejaram, largando-o no meio do pasto dos animais, ato após o qual atearam fogo nas cabanas dos trabalhadores da fazenda.
Amutilação eaantropofagiareligiosa – segundotipo – também eram comuns entreos índios eentreos negros, tendo sido encontrado não somente na América Central, mas também no Brasil:
Nas minhas pesquisas para um trabalho no qual me ocupo atualmente, sobre a criminalidade entre os negros brasileiros, cheguei a descobrir traços desta abominável prática no Brasil. Pude constatar em uma antiga provínciadoatual Estado doMaranhão,aexistênciadecasos deexumação clandestinadecadáveres derecémnascidos para a confecção de feitiços (fetiches) ou sortilégios de negras feiticeiras. É quase certo que esta prática tem sido amplamente empregada nos cultos de feitiçaria africana que ainda desfrutam de grande prestígio hoje em dia no Brasil (Rodrigues, 1898, p.7; [tradução livre]).
Oterceirotipo analisado pelo autor éodesmembramentojudiciário, feitoem nomedalei. O exemplo utilizado pelo autor – o esquartejamento de Tiradentes em 1796 – demonstra bem a importância do ato como, além de punição, exemplo para aqueles que poderiam pensar em se rebelar.
O quarto – e último – tipo analisado foi o criminal, no qual se encontrava o maior interesse do autor. E, uma vez que não era fácil fazer, através das antigas observações, uma análise sobre o estado mental dos esquartejadores, "porque, (...) mesmo tendo observações deveras interessantes, as doutrinas oficiais –dedicadas ao exame meticuloso dos crimes – mostravam desprezo pelo estudo do criminoso" (Rodrigues, 1898, p.10 [tradução livre]), era importante, portanto, realizar um novo estudo.
O autor descreveu alguns casos de mutilações e passou à análise dos criminosos. No entanto, antes de passar à sua análise é importante abrir um parêntesis: no primeiro caso, um juiz havia esquartejado a amante, ambos brancos. Este, apesar de ser um caso de mutilação, não representava um bom exemplo para o autor, uma vez que o juiz "só" havia esquartejado a amante para que o corpo coubesse na caixa em que seria enterrado, de forma que não houve a intenção do desmembramento. Por coincidência, os casos considerados pelo autor como típicos de desmembramento criminal, foram cometidos por negros/mestiços. E também, por coincidência, são os rostos dos criminosos negros e mestiços que ilustram o artigo.
A seu ver era lamentável que os criminosos não tivessem sido submetidos a exames cuidadosos, porque poderiam seus casos ajudar a melhor compreender o desmembramento criminal. No entanto, o autor pôde perceber que os motivos psicológicos que levariam ao desmembramento de cadáveres seriam múltiplos e variados. A prática obedeceria aos sentimentos mais diversos e conflitantes, não sendo um simples ato, uma vezqueseriacapazdeinfluenciardiretaeimediatamenteatransmissãohereditáriaouatávicaaosdescendentes dos mutiladores.
Nina Rodrigues, assim, considerou que as formas religiosas, guerreiras e judiciárias do desmembramento possuíam uma função social que as explicariam por si mesmas. Era uma prática condenável, sem dúvida, praticada principalmente por povos primitivos, mas que continha na sua função social (e cultural) um atenuante. No entanto, o desmembramento criminal, por sua vez, provinha de um ato criminoso, individual, causado por um retorno atávico. E assim sendo, a degenerescência explicaria – e justificaria – a frequência de criminosos negros e mestiços entre os mutiladores. E o que a degenerescência explicava, a justiça deveria atenuar.
Mas, para Nina Rodrigues, não era somente nos crimes que se percebia o quanto os negros eram degenerados. A degenerescência explicava a alienação entre os negros e mestiços, e que muitas vezes, o crime e a alienação andavam de mãos dadas. De modo que seria difícil dizer, a partir dos casos analisados pelo autor, o que vinha antes: o louco ou o criminoso. A única certeza do autor era a de que os negros e mestiços estavam, por suas condições raciais, mais propensos a uma vida criminosa do que os brancos.
6 Considerações finais
Nos anos que trabalhou no Laboratório de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia, Nina Rodrigues deve ter visto muitos casos de crimes cometidos por negros e mestiços, mais do que por brancos, com certeza. Neste artigo, teve-se por intuito mostrar as formas pelas quais o médico procurou explicar tais índices de criminalidade de acordo com as teorias que estavam em voga na época. Raimundo Nina Rodrigues foi, neste sentido, um intelectual que dialogou com diversos saberes, principalmente europeus, e buscou adaptá-los à realidade brasileira. Pode-se perceber através das suas obras que há um leve progresso, na falta de palavra melhor, que vai de uma dureza teórica baseada na antropologia criminal até um início de uma percepção do relativismo cultural. No entanto, com a precocidade da morte de Nina Rodrigues jamais saberemos que rumo seus estudos teriam tomado no século XX. Hoje, após anos de luta da população negra contra o preconceito racial (luta esta que ainda perdura dia após dia), sabemos que as teorias que Nina Rodrigues tanto acreditava, já não são mais passíveis de serem levadas a sério. No entanto, rever sua obra nos mostra um pouco do quanto os negros foram tratados como objetos pela ciência no Brasil também, e pode deixar a dúvida do quanto tais estudos contribuíram e contribuem para a compreensão da visão que se tem desta parte da população hoje em dia, não só no senso comum, mas pela própria ciência.
Referências
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Notas
1 A obtenção do título de doutor era dada ao aluno que, depois de cursada a faculdade de medicina, sustentava em público uma "tese, escrita no idioma nacional ou em latim, e impressa à própria custa. A tese compreendia uma "dissertação" e a enumeração de "proposições" que se traduziam, muitas vezes, na transcrição ipsis verbis de aforismos de Hipócrates" (Jacó-Vilela, Espírito Santo, & Pereira, 2005, s/p).
2 Cesare Lombroso (1835-1909), Enrico Ferri (1856-1929) e Rafaelle Garófalo (1851-1934) são considerados os fundadores da Escola Italiana de Criminologia, que tinha por objetivo estudar os aspectos físicos, sociais e psíquicos dos criminosos. Alexandre Lacassagne (1843-1924) foi um criminalista francês, ligado à escola lombrosiana.
O artigo aborda a influência de idéias advindas do Evolucionismo Biológico, Social e da Psicologia das Massas nos primórdios da Psicologia Social brasileira. No final do século XIX, formulações de Spencer e Darwin sobre as culturas e raças influenciaram na estruturação do paradigma do evolucionismo social, o qual foi impulsionado na Bahia por Nina Rodrigues. Ele elaborou descrições de aspectos culturais brasileiros e de tipos humanos e teorizou sobre o movimento social de Canudos. O racismo científico manteve-se hegemônico até a década de 1930. Perdeu terreno; entretanto, o racismo permaneceu como uma categoria ideológica. Na Psicologia Social contemporânea são escassos os estudos sobre o tema. psicologia social; evolucionismo; psicologia das massas
RESUMO OartigoabordaainfluênciadeidéiasadvindasdoEvolucionismoBiológico,SocialedaPsicologia das Massas nos primórdios da Psicologia Social brasileira. No final do século XIX, formulações de Spencer e Darwin sobre as culturas e raças influenciaram na estruturação do paradigma do evolucionismo social, o qual foi impulsionado na Bahia por Nina Rodrigues. Ele elaborou descrições de aspectos culturais brasileiros e de tipos humanos e teorizou sobre o movimento social de Canudos. O racismo científico manteve-se hegemônico até a década de 1930. Perdeu terreno; entretanto, o racismo permaneceu como uma categoria ideológica. Na Psicologia Social contemporânea são escassos os estudos sobre o tema.
Palavras-chave: psicologia social, evolucionismo, psicologia das massas.
A descrição e a análise das primeiras construções científicas na Psicologia Social brasileira demandam uma abordagem histórica, e tal reconstrução necessita considerar o imbricamento entre contexto e atividade humana que ocorre no tempo, sempre ancorado no processo de desenvolvimento sociopsicológico.
Harris (1997), ao abordar a contextualização na história da Psicologia, afirma que sua reconstrução tem largamente ignorado a influência de fatores políticos e ideológicos na trajetória da disciplina, salientando que isto obscurece o modo através do qual o contexto influencia os temas orientadores de pesquisa e os conteúdos dos conhecimentos científicos produzidos.
Buscando compatibilizar tais considerações com a emergência da Psicologia Social brasileira, o presente artigo procura descrever a influência do colonialismo europeu na configuração do paradigma do Evolucionismo Social ou racismo científico, assim como situar o momento de emergência da Psicologia das Massas naquele continente, para que se possa compreender o papel do colonialismo científico, ou seja, a subjugação da primeira articulação brasileira em Psicologia Social às teorias estrangeiras que desqualificavam povos de outros continentes.
Rodrigues (1939)1 aplicou o paradigma ao contexto social baiano no final do século XIX, produzindo conhecimentos sobre aspectos do ambiente cultural, de tipos humanos, do comportamento de grupos e de pessoas envolvidas no movimento social de Canudos. Salientamos que não temos a pretensão de esgotar o assunto, porém oferecer uma contribuição à compreensão da emergência da Psicologia Social brasileira. Os conteúdos sobre os temas acima abordados serão apresentados na seguinte seqüência: do evolucionismo biológico ao evolucionismo social; Nina Rodrigues e o evolucionismo social; Nina Rodrigues e a Psicologia das Massas; Considerações finais.
DO EVOLUCIONISMO BIOLÓGICO
AO EVOLUCIONISMO SOCIAL
Enfocando a questão do paradigma científico, Montero (2001) o conceituou como um modelo científico que incorpora tanto a concepção do sujeito construtor do conhecimento sobre o fenômeno em estudo, quanto uma visão do mundo em que as pessoas vivem e das relações sociais decorrentes. A pesquisadora salientou, então,
Herbert Spencer (1820-1903) pode ser considerado o fundador do racismo científico, a partir de suas elaborações sobre o que denominou de evolucionismo social, quando transplantou, do mundo biológico ao mundo cultural, o modelo das tipologias e dos sistemas classificatórios, implementando a noção de diferenças entre os povos e as sociedades.
Discorrendo sobre o evolucionismo, Spencer (1862/1904) afirmou que os elementos constitutivos da vida passam por modificações, propiciadas pela redistribuição da matéria e do movimento, gerando mudanças que operavam em um continuum do menos ao mais complexo, através de diferentes estágios. Ressaltou que este processo era universal, englobando os organismos e as sociedades.
Spencer (1862/1904) categorizou os povos como superiores e inferiores: os primeiros eram constituídos pelos europeus e os segundos, por indianos e indígenas. Classificou as sociedades, considerando a industrial como civilizada e mais evoluída, devido às suas formas de organização e divisão do trabalho. Nomeou as demais de primitivas, especificando-as como homogêneas, graças à incapacidade dos seus membros de alterar artificialmente as condições de existência e desse modo promover diferenciações econômicas.
Spencer (1862/1904), ao defender a existência de transformações em todas as sociedades e em todas as espécies, assegurou que, nas raças humanas, nem todas as mudanças implicavam em progresso.
Além disso, o autor afirmou que, no processo de evolução social, existia uma luta pela supremacia entre os povos ou entre as pessoas, a qual estabelecia, de forma natural, a superioridade, a persistência do mais forte e a subordinação do mais fraco.
Darwin (1871-1974), influenciado por aspectos da obra de Spencer, elaborou teorizações evolucionistas que demarcavam, naquela época, as noções de superioridade cultural e racial, constitutivas do paradigma vigente. Ressalta-se que a ciência contemporânea se contrapõe às diferenciações calcadas nessa perspectiva, privilegiando a concepção de realidade múltipla e do respeito à diversidade. Ferreira, Calvoso e Gonzalez (2002) acentuam que, na atualidade, o conhecimento, o seu objeto e o sujeito que o formula são concebidos como construções sócio-históricas, que, por isto mesmas, modificam-se no tempo e no espaço.
Não obstante, Santos (1996) assegura que, na atualidade, tanto na antropologia física norte-americana como na brasileira, há uma vertente de investigações cujo enfoque metodológico privilegia marcadores de “ raça” , como, por exemplo, grupos sangüíneos, que em muito se aproximam do enfoque tipológico classificatório do paradigma racista do século XIX.
Retomando Darwin, Blanc (1990/1994) discorreu sobre o caráter racista do livro “ A Origem do Homem e a Seleção Sexual” , de 1871: nesta obra o autor considerou a existência de raças humana divididas em duas categorias. A primeira, composta pelos europeus, conformava a raça dos civilizados e dos povos superiores, enquanto os negros, indianos e indígenas, considerados como selvagens, compunham as raças inferiores. Alémdisso,Darwin(1871/1974)salientouqueaanálisecomparativaentreasraçaseraindicativadediferenças entre as mesmas na constituição, na aclimatação, na suscetibilidade a determinadas doenças, na capacidade mental e no plano emocional. Enfim, o pano de fundo racista, biologizado, foi bem explicitado pelo autor: Por conseguinte, quando os selvagens de qualquer raça foram constrangidos inesperadamente a mudar de modo de vida, tornaram-se mais ou menos estéreis e a saúde de seus filhos ficou afetada da mesma maneira e pelas mesmas causas que a dos elefantes e do leopardo da Índia, de muitos símios americanos e de uma quantidade de animais de todos os tipos, arrancados de suas condições naturais... Seguramente as raças civilizadas podem suportarmudanças detodos os gênerosmuito melhor do queos selvagens e sob este aspecto fazem lembrar os animais domésticos, pois embora estes últimos às vezes sejam prejudicados em seu estado físico (ex. o cão europeu na Índia), só raramente se tornam estéreis. (Darwin,1871/ 1974, p. 226-227).
Darwin, na sua teorização sobre povos e cultura, ignorou totalmente o papel do processo colonizador a que os povos africanos, indianos e indígenas foram submetidos e sua influência nos modos de vida das populações colonizadas.
A noção de superioridade cultural perpassou a Antropologia, uma ciência em via de estruturação: o antropólogo inglês Tylor (citado por Thompson, 1990/1998), professor da Universidade de Oxford, publicou, em 1871, a obra Primitive Culture, com características oriundas do evolucionismo, afirmando que o confronto
entre os elementos de diferentes culturas, a partir da metodologia empregada na biologia, fornece o caráter científico ao estudo antropológico da cultura. Possibilita, também, a reconstrução do processo de desenvolvimento das espécies humanas, com o objetivo de desvendar os elos que as fizeram evoluir da selvageria à vida civilizada.
Segundo Schwarcz (2000), como um desdobramento das idéias iniciais, a Antropologia estabeleceu o princípio de que o desenvolvimento humano processava-se em etapas, as quais obedeciam a uma rígida seqüência, da mesma forma que os elementos constituintes da cultura e da tecnologia. Construiu também a noção de estágios de desenvolvimento tecnológico, empregando-a como critério para a comparação entre diferentes sociedades.
Tais realizações científicas permitiram dividir a humanidade em graus de maior ou menor desenvolvimento e rotulá-la com uma “ base científica” , haja vista o paradigma eurocêntrico dominante naquela época. Desse modo, naquele período, a justificativa científica para a dominação e a imposição de padrões europeus estava garantida.
A Sociologia também tomou o evolucionismo como fundamento. Schwarcz (2000) sublinhou que, na França, este campo científico destacou a noção de que a evolução da humanidade ocorria nos diferentes estágios de modos de pensar, todos pré-determinados.
Em suma, o cientificismo racista do século XIX não contemplou o processo de opressão e de exploração, nem as implicações sociopsicológicas do colonialismo. A divisão ideológica da humanidade foi ignorada em favor de uma explanação biológica dos fenômenos sociais. Isto mascarou os condicionantes sócio– históricos enquanto fatores responsáveis por diferenças entre culturas, pessoas, inserções e participação humana na vida social.
Conforme Blanc (1990/1994), o pressuposto básico do evolucionismo social, ou darwinismo social, é o de que os sujeitos humanos são desiguais por natureza, dadas as diferentes aptidões inatas que fazem de alguns superiores e de outros inferiores.
Schwarcz (2000) afirmou que o referido paradigma produziu a qualificação das diferenças e a emergência do tema raça como objeto de investigação científica, com os partidários do enfoque classificados em dois grupos: os deterministas raciais, orientados pela suposição de que um grupo racial, e cada indivíduo que dele fazia parte, constituía um agregado de elementos, tanto morais quanto físicos, inerentes à raça da qual faziam parte; os deterministas geográficos, cuja sustentação básica relacionava o futuro de uma civilização a fatores geográficos como o solo, a vegetação e o clima.
Notamos que a concepção de raça subsidiou as formulações científicas, entretanto nenhum dos autores acima citados conceituou o termo. Contudo, podemos inferir que raça significava um grupo humano enquanto variação dentro da espécie, cujas diferenciações denotavam superioridade ou inferioridade em diversos atributos.
Conforme Schwarcz (2000), no final do século XIX, grande parte da intelectualidade brasileira discutia e compreendia questões nacionais a partir do ponto de vista racial e individual.
Ressaltamos que naquele momento da história brasileira ocorriam embates abolicionistas (Mendonça, 1996), bem como a implantação da República e a efetivação de aspectos legais de construção da cidadania (Menezes, 1997), acontecimentos que envolviam os negros e a sua exclusão social.
Podemos citar a própria condição de escravo desde os primórdios do Brasil até o final do século XIX, quando o negro foi incluído na nossa sociedade como mercadoria (Mattoso,1982/1990) e excluído como cidadão. Menezes (1997) aponta a unidade exclusão/inclusão como fenômeno contraditório, na medida em que a inclusão do negro deu-se através de legislações que os excluíam de processos de participação social e expressão de aspectos constitutivos da sua cultura. Cita como exemplo a proibição do direito de votar, só contemplado em 1985, e a do culto religioso e do toque de tambores durante as cerimônias, oficialmente permitidos apenas em 1976, graças à organização dos negros e suas reivindicações (Menezes, 1997). As privações geraram movimentos sociais que visavam àinserção: obtençãode direitos e o exercíciodacidadania (Machado, 1994; Mendonça, 1996).
No contexto do final do século XIX, segundo Schwarcz (2000), as escolas de medicina2 ganharam destaque, no que concerne à produção, difusão e aplicação dos conhecimentos científicos em diferentes instituições
brasileiras, cada qual desempenhando papel relevante na abordagem de diferentes questões, de modos diversos, porém entrelaçados. Schwarcz relatou que coube ao Rio de Janeiro uma atuação centrada na doença, ou seja, em sua erradicação e promoção da saúde (Reis, 2000) e, à Bahia, a atuação centrada no doente, que, segundo Corrêa (1998/2001), significava um enfoque circunscrito ao indivíduo, a partir do qual generalizavase para o grupo social e se inferia sobre a contaminação social.
Conforme Schwarcz (2000), a Escola de Medicina do Rio de Janeiro, partindo das questões de saúde que incomodavam as elites brasileiras, realizou pesquisas vinculadas à higiene pública. Ainda mencionou o combate à miscigenação, sustentado na afirmação de que o adoecimento tinha origem na África e o processo de enfraquecimento da população brasileira era de cunho biológico, decorrente da mestiçagem.
Constatamos que, na Bahia, a Escola de Medicina, a partir da liderança de Nina Rodrigues, teve como um de seus objetos de investigação os movimentos de massa e a figura do seu condutor. Rodrigues (1939), tomando por base os pressupostos do evolucionismo social e a Escola de Criminologia Italiana representada por Scipio Sighele (1868-1913), bem como a Psicologia das Massas, sistematizada pelo francês Gustave Le Bon (1841-1931), produziu estudos relacionando idéias do racismo científico, tipologias, patologias e sistemas classificatórios, para descrever o perfil da população mestiça brasileira, especificar características culturais e raciais dos mestiços e explicar, cientificamente, movimentos de massa a partir do seu condutor, o “ doente”
NINA RODRIGUES E O EVOLUCIONISMO SOCIAL
Em 1890, a partir do olhar antropológico evolucionista social, Nina Rodrigues3, no Terceiro Congresso Médico Brasileiro, realizado em Salvador (Rodrigues, 1939), descreveu os motivos pelos quais a sociedade baiana estava decadente e reinava uma epidemia de beribéri, denominada na época de abasia choreiforme. A mudança da capital para o Rio de Janeiro em 1763, e, posteriormente, a proibição do tráfico atlântico, a configuração do tráfico interno e os ciclos econômicos que tomaram lugar em outras regiões do país, propiciando a emigração de escravos e o enfraquecimento da economia baiana (Mattoso,1982/1990), foram desconsiderados por Rodrigues (1939), quando delegou o retrocesso econômico da Bahia à predominância da raça negra e aos mestiços, que, com suas doenças, costumes e religião, influenciavam a população. Rodrigues (1939) assegurou que os intitulados de mestiços ou pardos não conformavam uma raça, porém produto da fusão das raças negra, indígena e branca, ao tempo em que os classificou como um grupo composto de mulatos, decorrente da miscigenação entre o branco e o negro; mamelucos, descendentes dos mestiços do branco com o índio ou do branco com o mulato portador de mais características do negro. Os concebeu, do ponto de vista do racismo científico, como seres inferiores, dada a influência de seus ancestrais selvagens: os negros e os povos indígenas.
Concluiu que tanto a decadência do Estado quanto o caráter epidêmico da doença conformavam uma enfermidade, decorrente de uma predisposição vesânica ou neuropata, transmitida pelo contágio por imitação, a qual operava em um meio caracterizado por circunstâncias múltiplas: meteorológicas, étnicas, políticosociais e patológicas.
Ainda referenciando-se no Evolucionismo Social, Rodrigues (1939) abordou a diversidade religiosa dos negros e mestiços, qualificando-a como inferior e contaminadora da população branca.
Citou que o monoteísmo, característico do europeu, socialmente mais evoluído, entrava em conflito com o feitiço dos africanos e com a astrolatria dos indígenas. Rodrigues (1939) afirmou que a própria catequese, cujo interesse era a conversão religiosa dos povos ditos inferiores, apenas gerava conflitos perenes entre a necessidade de manifestação de sentimentos religiosos inferiores e o constrangimento decorrente de uma perspectiva educativa assentada em idéias abstratas, muito superiores ao alcance da capacidade mental dos denominados de inferiores.
Em artigo originalmente publicado no ano de 1897, na Revista Brasileira, Rodrigues (1939) voltou a fazer alusão aos mestiços brasileiros, desta vez especificando um tipo, os jagunços. Conceituando-os como todos os guerrilheiros habitantes dos sertões do Brasil, aquele pesquisador desenvolveu um sistema classificatório que diferenciava os mestiços habitantes das zonas rurais dos mestiços residentes no litoral.
Aos primeiros qualificou como guerreiros e incultos, dado o ambiente em que residiam, a herança cultural e a herança biológica. Os litorâneos, apesar de viverem em ambientes mais intelectualizados das cidades, também
foram considerados como inferiores: conformavam um tipo não viril e imprestável, que abarcava os patológicos, os degenerados inferiores, assim como os talentos superficiais e retóricos, dotados de uma fácil e transitória inteligência. Após realizar tal classificação, Rodrigues (1939) estudou o mestiço sertanejo. Retomando os sertões, Rodrigues (1939) descreveu o espaço rural onde a população interiorana residia como aquele que prescindia da civilização européia e se encontrava em estágio mais atrasado de evolução cultural. Quanto à população, classificou-a como composta pela burguesia, comprometida com tendências ao feudalismo e pela massa popular, empenhada nas lutas de represálias selvagens, oriundas das tribos bárbaras. Adicionou que neste contexto surgiu um mestiço, o jagunço, reprodutor, em sua compleição física, de características antropológicas combinadas das raças que o originaram. Enfim, Rodrigues (1939) caracterizou o jagunço como produto do hibridismo, que articulava as qualidades viris de antepassados selvagens às características de uma civilização rudimentar, simplificando, de forma racista, a caracterização psicossocial de tal grupo humano.
Estava delineada a descrição antropológica que daria sustentação à sua análise de movimentos sociais.
NINA RODRIGUES E A PSICOLOGIA DAS MASSAS
Matamala (1980) explicita que na Europa o interesse pelo estudo das massas contextualizava-se nas conseqüências das transformações políticas e tecnológicas decorrentes da Revolução Francesa e da Revolução Industrial. Como desdobramento surgiram as aglomerações urbanas, as fábricas, os movimentos operários e um novo tipo de comportamento: o coletivo.
Rodrigues (1939), inspirando-se na produção científica de europeus que tornava patológicos os conflitos da vida cotidiana, situou os seus estudos sobre movimentos de massa como constitutivo da Psicologia Social. DaEscoladeCriminologiaItalianaelegeuScipioSighele,considerando-oprecursordaPsicologiadas Massas. Construindo suas teorias a partir dos conflitos decorrentes da Revolução Francesa, Sighele (citado por Rodrigues, 1939) abordou o fenômeno das multidões como produtor de um estado psicológico coletivo, o qual despersonalizava cada um dos seus constituintes.
Matamala(1980)mencionaqueaEscoladeCriminologiaItaliana,aoestudarareatividadedas pessoas quando faziam parte das massas, e afirmar que elas se transformavam coletivamente em violentas, atacando, matando ou saqueando, qualificou o termo massa de forma pejorativa, sempre ligando-o à patologia.
Para Sighele (citado por Rodrigues, 1939), a multidão resultava da aglomeração de pessoas, de onde emergia o contágio coletivo da cólera, transformador dos sentimentos: da irritação ao estado de furor, com a emoção da cólera irradiando-se para todos, através do contato face a face. A multidão, considerada como sensível à emoção comunicada por seu chefe, através da gesticulação, da palavra ou das atitudes, transformava-se em passional. Todavia, Sighele (citado por Rodrigues, 1939), não situou a passionalidade como um estado de loucura inerente à multidão ou ao seu condutor.
Neste ponto, Nina Rodrigues discordou do autor italiano e incorporou aos seus estudos tanto o trabalho publicado por Le Bon sobre a Psicologia das Massas, quanto os sistemas classificatórios da loucura característicos da psiquiatria francesa da época.
Gustave Le Bon (citado por Matamala, 1980) enfocou o tema das massas numa perspectiva psicossociológica, fundamentando-o a partir do comportamento das pessoas em determinadas circunstâncias. Acrescentou que na produção de Le Bon o conceito central era a “ alma da massa” , significativo da despersonalização das pessoas que a constituíam.
Para Le Bon (citado por Matamala, 1980), “ a alma da massa” era o espírito coletivo, onde as mentes pessoais davam lugar à mente coletiva, retirando de cada um a individualidade. Em decorrência, as pessoas transformavam-se em sujeitos sem vontade própria, sendo portadores das mesmas intenções e emoções do seu condutor. No processo, os seres humanos perdiam o controle sobre os instintos mais primários e passavam a reagir irracionalmente, emotivamente, de modo extremo, irresponsável e irritável.
De acordo com Le Bon (citado por Matamala, 1980), devido a tais características as massas tinham natureza feminina. Não é demais acrescentarmos que Darwin (1871/1974) defendeu a superioridade racional e intelectual masculina, qualificando a mulher como ser portador de mais emocionalidade e irracionalidade e menor inteligência.
Fundamentado em tais ingredientes, NinaRodrigues, em 1897, elaborou sua interpretação sobre os fenômenos de massa.
Segundo Rodrigues (1939), existe uma loucura que raciocina, e, na loucura das multidões, existe um louco que a conduz, cuja lucidez, convicção e semelhança em seus delírios faz com que as pessoas normais a ele se associem. A loucura, então, é um estado psicológico característico da multidão e esta, mais que uma reunião de pessoas, é uma associação psicológica.
Outra especificidade da multidão que Rodrigues (1939) delimitou foi a sua individualidade, decorrente da coletividade: esta difere da constituição mental de cada pessoa em separado, permitindo que, no coletivo, além da dissolução da pessoalidade, desapareçam também as desigualdades, as diferenças, e se forme uma unidade psicológica, caracterizada pela impulsividade primitiva e pela inconstância.
Para além da multidão, Rodrigues (1939) formulou o conceito de estado da multidão como o estado passional de exaltação coletiva, cuja especificidade era a de fazer submergir o controle cerebral, a personalidade e o discernimento. Tal estado, deflagrado pelo contágio mental e pela excitação de um dado momento, requeria uma causa próxima para eclodir: “ o meneur” , chefe, diretor da multidão. Também ressaltou que na multidão existiam os mais exaltados e sensíveis às sugestões que, inconscientemente, ajudavam a conduzi-la. O estado seria transmissível com facilidade às pessoas predispostas, pois estas não eram capazes, naquela situação, de avaliar as conseqüências dos seus atos.
Acerca da dinâmica das multidões, Rodrigues (1939) enfatizou que a violência poderia produzir um estado delirante transitório e, como conseqüência, as emoções violentas modificavam-se, dando lugar a estados mórbidos. O crescimento das aglomerações, a intensidade das emoções e a repercussão da sugestão dos sentimentos propiciavam a transformação da cólera dos “ meneurs” em um estado patológico. Na dinâmica, os chefes transmitiam à multidão, por contágio, a loucura e os sentimentos decorrentes.
A partir do exposto, perguntamos: qual a relevância deste aporte teórico para a sociedade brasileira do final do século XIX?
NINA RODRIGUES E O ESTUDO DO MOVIMENTO SOCIAL DE CANUDOS
Na história brasileira, o advento da República instaurou a separação entre a Igreja e o Estado e a secularização dos cemitérios e instituiu o casamento civil, com o clero postando-se contra as reformas (Rodrigues, 1939).
Rodrigues (1939) relatou que as instituições edificadas pelo governo do final do século XIX, como o governo municipal autônomo e o funcionamento dos tribunais, foram ignoradas nas regiões sertanejas. O compromisso da burguesia continuou a ser com a organização feudal e o da massa popular com as lutas selvagens.
Neste panorama político, tomou lugar, nos sertões da Bahia, a luta de Canudos, dirigida por Antônio Conselheiro. Rodrigues (1939) observou que foi a primeira realizada no Brasil contra a proclamação da República e, conseqüentemente, a favor da monarquia.
Nina Rodrigues estudou o fenômeno, classificando sua produção como inerente à Psicologia Social, o que era compatível com o enfoque psicossocial da Psicologia das Massas européia. Incorporou suas idéias evolucionistas sociais sobre a cultura e os mestiços dos sertões, além da sua versão sobre a Psicologia das Massas.
Orientado por uma perspectiva que deveria explicar o movimento social através da figura do seu condutor, dadas as suas próprias características evolutivas, assim como as dos seus seguidores, Rodrigues (1939) atribuiu a Antônio Conselheiro a condição de louco, justificando-a a partir do que ouvira falar sobre ele e a sua família.
Apoiando-se nisto, ressaltou que, apesar de ter informações confusas, o estado de loucura que atribuiu a Conselheiro era plenamente diagnosticável enquanto psicose primitiva, identificada em três estágios –período de organização do delírio crônico de perseguição; período de delírio religioso e período de delírio político – e em três fases de sua vida – do nascimento à separação conjugal; a fase de missionário e da fase de postar-se contra os maçons e a igreja, que havia reatado com a República.
Após a morte de Conselheiro, juntamente com um colega, Rodrigues (1939) realizou sua craniometria4, concluindo que, apesar de os índices craniométricos serem normais, o crânio denotava a sua condição de mestiço.
Em sua explanação científica, Rodrigues (1939) perpassou o contexto do campo, a loucura de Antônio Conselheiro e a contaminação das massas, na explicação do movimento social, sempre fundamentando-se no evolucionismo social, como se segue:
Nocampo, aselitesburguesasestãolongedoestágiodecivilizaçãoededesenvolvimentomentalcaracterístico da raça européia, o mesmo ocorrendo com as massas mestiças de onde emerge o jagunço, intelectualmente inferior e movido por instintos primitivos herdados de seus antepassados. Esta era a etapa evolutiva por que passavam as populações sertanejas, guerreiras e nômades.
Nossertões travava-seumalutaentreosquedetinhamopodereaquelesqueoalmejavam.Pelopróprioestágio evolutivo em que se encontravam, os jagunços eram, religiosamente falando-se, politeístas. Tais especificidades caracterizavam a crise social e religiosa que atravessavam.
Em ambiente propício, surgiu a loucura de Antônio Conselheiro, decorrente de uma predisposição hereditária, pois descendia de uma família com recursos, porém belicosa.
Sua loucura provocou a contaminação das massas, geradora de condições para a emergência das qualidades atávicas dos jagunços, ou seja, o espaço para a satisfação dos instintos guerreiros. Rodrigues (1939) destacou a presença de Conselheiro como um sujeito ativo, criador de delírio, que impunha à multidão, representante do fator passivo do contágio. Porém, tal multidão, inicialmente passiva, reagia ao elemento ativo, graças à passionalidade e às emoções irracionais, numa coordenação com o delírio, compartilhado por todos.
O estudo realizado por Nina Rodrigues, apesar de levar em conta algumas questões político-sociais inerentes à vida no campo, as ignorou na análise da vida de Conselheiro e na explicação da luta de Canudos. Ignorou, dentre outras coisas, o provável abalo na reputação social de Conselheiro, ao ter a mulher fugindo com outro e prováveis chacotas decorrentes. Será que esta não foi a condição que o levou a brigar com o cunhado e feri-lo, após a sua separação, e não a loucura, como explicou Rodrigues (1939)?
Ainda ignorou o uso que a Igreja fez de Conselheiro, quando lhe convinha, e o seu abandono por aquela instituição, a partir do momento em que não lhe era mais útil: o momento da sua reconciliação com o Estado, ao reconhecer a República.
A análise é reduzida à figura de Antônio Conselheiro, o que evidencia a concepção de ser humano como entidade, a desqualificação dos povos não-europeus, característica do Evolucionismo Social, bem como a desconsideração dos movimentos sociais, característica da Psicologia das Massas.
Galvão (2001) traça o panorama político-social da época e afirma que o massacre em Canudos foi apenas um caso de manipulação política.
O trabalho científico de Rodrigues (1939), aqui abordado, denuncia a sua posição ideológica compatível com a das elites políticas. Montero (1994) conceituou a ideologia como um modo de ocultar e distorcer questões da vida cotidiana, pela mediação da linguagem tanto científica quanto do senso comum. A autora sublinhou que a linguagem é a via de apoio dos argumentos que sustentam a ideologia, difundidas, mantidas, reformuladas ou transformadas nas práticas sociais.
Retomando Harris (1997), pode-se concluir que o enfoque elaborado por Rodrigues (1939), já descrito, demonstra, mais uma vez, o comprometimento contextual e ideológico das teorias. No presente caso o compromisso foi com as elites repressoras e opressoras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Corrêa (1998/2001) realizou um estudo sobre a trajetória e a obra de Nina Rodrigues, no qual aponta a amplitude dos temas que foram pesquisados pelo investigador na Bahia, como, por exemplo: as doenças que afetavam os baianos, notadamente o beribéri; os estudos de cunho psicopatológico sobre segmentos da população epropensões àsdoenças; aquelesrelativosàscaracterísticasdasdenominadasraçasqueconstituíam a população; o trabalho sobre Canudos; as investigações sobre os africanos no Brasil; a pesquisa sobre a religião dos africanos, sua influência na população branca e o sincretismo religioso.
Habilidoso em construir referenciais teóricos que possibilitassem a análise e a interpretação de fenômenos psicossociais, Rodrigues (1939)soube, muito bem, classificaro seu trabalho referente à Psicologiadas Massas no campo da Psicologia Social.
Ramos (1936) oferece uma pista para a compreensão de tal pertinência: declarou que, ainda em 1936, era difícil definir o que seria Psicologia Social. Cita como uma das conceituações empregadas “ um campo de estudos aplicados” (p.11).
Rodrigues (1939) provavelmente assim a concebia, pois, incorporando conteúdos europeus, realizou interpretações fundamentadas no evolucionismo social, acrescentando conteúdos da Escola de Criminologia Italiana, representada por Scipio Sighele, e da escola francesa, representada por Gustave Le Bon, para caracterizar os mestiços brasileiros, analisar e explicar o movimento social de Canudos. Corrêa (1998/2001) aponta que a interpretação de Canudos por Nina Rodrigues não foi a única em sua época, citando a de Euclides da Cunha. Apesar das diferenças, ambas compartilham do determinismo geográfico, característico do evolucionismo social, identificável em Nina Rodrigues no trabalho realizado por Corrêa (1998/2001) e, em Euclides da Cunha naqueles de Lima (1998), Venâncio Filho (1998) e Santos (1998). Rodrigues (1939) também adicionou a concepção de que a personalidade era objeto de estudo da Psicologia
Social das Massas, enfocando a do seu condutor na luta de Canudos e a intitulada despersonalização da multidão que o acompanhava. Atribuiu a responsabilidade do movimento à loucura de Antônio Conselheiro, vitimizando a coletividade que o construiu, o que, do ponto de vista político e ideológico, redundou em uma concepção mascaradora de conflitos sociais brasileiros.
O paradigma do racismo científico manteve-se hegemônico até a década de 1930. Galvão (2001) esclarece que, a partir de 1950, novas pesquisas foram realizadas, as quais desacreditaram a interpretação de Nina Rodrigues. Oacontecimento foiressignificado comoumaexperiência que buscou implantaroutraorganização social. Compatível com esta afirmação, a autora observa que Monte Belo constituiu-se de uma comunidade administradaporAntonioConselheiro,compostapordiferentespessoas:negros,índios,pequenos fazendeiros, comerciantes, curandeiros, artesãos e professora, as quais ocupavam diferentes postos, inclusive havendo os de chefe civil e militar.
Segundo Corrêa (1998/2001), Nina Rodrigues tomou o negro como objeto de estudo e suas pesquisas sobre este foram as mais bem-sucedidas na sua trajetória profissional.
Ribeiro (1995), por exemplo, demonstra que a concepção construída por Nina Rodrigues foi incorporada nas representações sociais de funcionários da justiça no Rio de Janeiro, entre os anos de 1900 a 1930, ao transformarem os atos em autos. Um dos resultados do seu estudo explicita que os homens pretos denunciados pela prática do assassinato contra brancos apresentavam maior probabilidade de serem condenados.
Ribeiro (1995) esclarece que as representações sociais dos funcionários eram compatíveis com afirmações de Nina Rodrigues sobre os negros: devido ao seu atraso cultural, tinham a tendência biológica para o crime. Acrescenta que o enfoque da Escola Positiva do Direito Penal, influenciada por Nina Rodrigues, ainda opera no cotidiano brasileiro.
A Psicologia brasileira não ficou imune às influências do evolucionismo social. O legado foi a produção de uma Psicologia branca. Bento (2002) relata que o embranquecimento colocou o branco como o sujeito representativo da humanidade e modelo universal da espécie humana. Assegura que este processo foi criado e é mantido pela elite branca brasileira, mas, contraditoriamente, a mesma afirma que o branqueamento é uma questão do negro.
A história da Psicologia nacional indica a ausência da realização de pesquisas sobre o racismo na primeira metadedo século XX.Penna(1992) descreve um conjuntodetrabalhos realizados naqueleperíodo,nomeando pioneiros que contribuíram para a consolidação da disciplina no nosso país. Discorre sobre o emprego de teorias psicológicas, sobre a elaboração de pesquisas orientadas pelo método experimental, sobre atividades práticas vinculadas às áreas da educação e do trabalho, porém seu estudo é indicativo de que a questão racial não foi contemplada.
Hasenbalg (1996) esclarece que, no Brasil, o período entre 1965 e o final da década de 1970 não foi propício para as investigações sobre relações raciais, porque a ditadura militar considerou a questão como de “ segurança nacional” (p.239).
Ferreira (1999), já no final do século XX, analisou 4909 publicações que faziam parte dos acervos das bibliotecas de Psicologia da Universidade de São Paulo e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, as quais cobriam o período de 1987 a 1998. O resultado do trabalho indicou a existência de apenas doze publicações “ que incluíam a temática dos afro-descendentes” (p.73).
Jodelet (1999) argumentou que os psicólogos sociais necessitam se engajar em pesquisas sobre o racismo. Por que, no final do século XX, emerge um convite à realização de investigações sobre o tema na Psicologia Social? Certamente, devido à hegemonia da Psicologia branca, o problema ainda não faz parte da agenda de pesquisa privilegiada pela Psicologia Social. Necessário se faz incluí-lo.
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1 Na verdade, a maioria dos trabalhos realizados por Rodrigues, que constituem o livro publicado em 1939, foram realizados e socializados, respectivamente, nos anos de 1890, 1897 e 1898. Apenas no último capítulo da obra, "os mestiços brasileiros", não há alusão ao ano em que foi redigido ou publicado. Nina Rodrigues faleceu no ano de 1906.
2 Schwarcz (1993) informa que as Faculdades de Medicina na Bahia e no Rio de Janeiro foram criadas em 1808. Weber (1998) relata que a Faculdade Livre de Medicina e Farmácia de Porto Alegre foi fundada em 1898, mas sua equiparação às duas anteriormente citadas só foi efetivada pelo governo federal em 1900.
3 Corrêa (1998/2001) reconstrói aspectos da biografia de Nina Rodrigues (1862-1906), ressaltando as dificuldades para a realização da mesma. Informa que era maranhense, de família abastada, médico diplomado pela Escola de Medicina do Rio de Janeiro, cidade onde iniciou a sua vida profissional. Todavia, fixou residência em Salvador, onde foi professor e pesquisador da Faculdade de Medicina, exercendo uma grande influência, que culminou com a articulação da denominada Escola de Nina Rodrigues.
4 Corrêa (1998/2001) conceitua a craniometria como a utilização de mensurações cefálicas para a análise antropométrica. Expõe que a interpretação de índices cranianos obtidos através do emprego desta técnica fundamenta-se na concepção de evolução mental, propiciadora do translado de dados morfológicos para a dimensão psicológica do ser humano.
Pedro Henrique Miranda Fonseca
Membro fundador da Sociedade Brasileira de História da Medicina
Oriundo de uma região canavieira, Vargem Grande onde nasceu a 4 de dezembro de 1862, mais precisamente na fazenda Mangalarga, sendo que posteriormente sua família se mudou para Anajatuba, cedo teve contato com aescravidão,o quecertamenteimpressionou e marcouoseu espírito.Eraum moçodeolhos melancólicos e de estatura pouco vigorosa e aparência hipoteticamente lívida, sendo batizado com o nome de Raymundo Nina Rodrigues. (BRITO, Antonio Carlos Nogueira – Editorial. Gazeta Médica da Bahia vol. 76 suplemento 2, 2006, página 1). Desconfio que não gostava do seu prenome, pois sempre se assinava simplesmente Nina Rodrigues.
Vindo para São Luís fez o curso fundamental no Seminário das Mercês e o preparatório no Colégio São Paulo, de propriedade do Professor José Ribeiro do Amaral, um dos maiores conhecedores da língua de Camões e Fernando Pessoa no Maranhão. Neste colégio era professor de línguas (francês e inglês) o português Eduardo Costa, irritadiço e intolerante com o menor erro dos alunos. Nina Rodrigues era para esse professor aluno dileto pelo interesse e desenvoltura na matéria. No entanto, certo dia, por desatenção aquele aluno predileto falhou! A reação desabrida do professor (pedagogia do medo impondo terror) feriu os brios do aluno exemplar até então para o referido professor. Profundamente chateado procurou a direção do colégio e solicitou uma reparação moral do professor, sem a qual não retornaria às aulas daquele docente. E este topou fazer a reparação. E a fez em plena sala de aula na presença de toda a classe. Este episódio ocorrido na sua mocidade já denota o espírito sensível e intolerante com as injustiças.
Segundo depoimento de Justo Jansen (Notas intimas. Revista do Norte, São Luís, volume 5, número 12, 1906, página 185) quando estudante de preparatório (hoje ensino médio) no Seminário das Mercês recebeu uma pancada no tórax, que foi seguida de hemoptise e, a partir de então, começou a recear ficar tuberculoso. E esse receio o acompanhou até depois de formado. Deixou de cursar o quinto ano médico no Rio de Janeiro por causa deste receio.
O curso médico foi iniciado na Bahia, onde fez o primeiro e o segundo ano; o terceiro e quarto ano foram feitos no Rio de Janeiro; enquanto o quinto foi novamente em Salvador e o último voltou a ser no Rio de Janeiro, quando defendeu a tese de doutoramento “Das amiotrofias de origem periféricas.” Nesta cidade
trabalhou como auxiliar do Professor Agostinho José de Souza Lima, luminar da Medicina Legal e com quem aprendeu a importância prática das necrópsias.
Ainda segundo Justo Jansen seu amigo desde os tempos de preparatórios para ingresso na Faculdade de Medicina em 1885, quando se mudaram para o Rio de Janeiro foram morar na rua dos Arcos. Nesta residência, confessa Justo Jansen “... tive ocasião de deleitar-me ouvindo a prosa inteligente e animada entre Nina Rodrigues, Luna Freire e Rodolpho Galvão...” (Op. Cit., página 184). Adolpho Frederico Luna Freire (1864 – 1953) professor de Clínica Médica da Faculdade de medicina do Rio de Janeiro foi secretário de redação do Brasil Médico e membro titular da Academia Nacional de Medicina. Rodolpho Galvão (1860 – 1906) foi membro da Academia Nacional de Medicina e dedicou-se à Saúde Pública.
No ano seguinte, por motivo de saúde, preferiu Nina Rodrigues ficar na Bahia por achar que o clima do Rio de Janeiro lhe fosse nocivo. Voltou, porém, em 1887 para concluir o curso na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, indo morar desta vez na Travessa do Desterro (atual Moraes e Vale) e posteriormente na rua do Riachuelo e por fim numa casa de pensão na ladeira de Santa Teresa (Op. Cit., páginas 184, 185). Na Travessa do Desterro morou com José Octávio de Freitas (1871 – 1949) que deixou registrado em sua memória (Minhas memórias de médico, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1940, página 45) os vários moradores dessa república “... que depois foram vultos dos mais eminentes em nosso país.”
Uma vez formado voltou para São Luís, onde envolveu-se em uma polêmica após publicar no jornal “A Pacotilha” o “Estudo sobre o regime alimentar do norte” onde demonstra o valor nutricional nulo da farinha de mandioca, o que fez com que a sociedade maranhense o apelidasse de “Dr. Farinha Seca”, fato que o magoou profundamente, conforme confessou no mesmo jornal de 1 de agosto de 1888: “grande mágoa que me havia causado o procedimento injusto, desleal e pouco digno do colega que, em porta de botica, procurava em termos quenão comentarei, chamaroridículo sobremim eaminhainteressantepropaganda.”(FONSECA, Pedro Henrique Miranda – Nina Rodrigues e o regime alimentar no Maranhão. Jornal O Imparcial, 18 e 19 de julho de 2020, página 3). Mágoa que motivou sua ida para Salvador, onde, por concurso, c conquistou o lugar de Professor Adjunto da 2ª cadeira de Clínica Médica em 1889.
Aindacursando o quinto anopublicouseuprimeirotrabalho “Amorpheaem Anajatuba” folheto de 16páginas publicado em Salvador pela Lith-Typ Liquori & Comp. Em 1886. Este mereceu observações de Júlio Moura que assim comentou: “É raro hoje, em nosso país, aparecer no meio da mocidade acadêmica, alguém que se ocupe em escrever para a imprensa aquilo que se adquiriu o fruto embora limitado do estudo de observação. Neste particular os nossos futuros médicos seguem o triste exemplo de seus preceptores, que quase nada produzem...” (COSTA, Carlos – Anuário Médico Brasileiro, Rio de Janeiro, Serafim José Alves LivreiroEditor,1887, páginas43 – 46).Aíjá despontavao futuropesquisador preocupado em observarin loco,inquirir e daí então tirar as suas próprias conclusões. O estudo, segundo Júlio Moura “... revela da parte do autor... critério de observação não muito comum entre os alunos que hoje frequentam as nossas Escolas Médicas.” Tal publicação teve a finalidade de chamar a atenção para a frequência do mal de Hansen (na época chamada de morphea ou lepra em Anajatuba – Maranhão que o autor credita, erroneamente, ao consumo exclusivo de peixe e de farinha de mandioca de má qualidade. Além disso ressalta também as condições topográficas da localidade – clima frio e úmido. Fala também da transmissão por herança da moléstia. Outro engano. A notícia da descoberta da bactéria causadora da doença realizada por Gerhard Armauer Hansen em 1874 ainda não havia chegado por aqui. Mas não nos esqueçamos que se tratava de um jovem estreante no mundo da pesquisa científica.
Continua Júlio de Moura “Há, entretanto, da parte do jovem acadêmico o desejo louvável de estudar e de contribuir na medida das suas forças para a elucidação das causas ainda duvidosas do desenvolvimento da morphea. Tudo serve quando o assunto apresenta as dificuldades deste: fatos reunidos e escrupulosamente observados, assim como discussão sobre o modo de interpretá-los.”
Conclui assim o crítico: “A medicina é infelizmente pobre de trabalhadores, quase que vivemos do reflexo do alheio viver: pois bem, que os moços aplicados e observadores, como ele, consigam emancipar-se no futuro da tutela estrangeira a que admitido mesmo o cosmopolitismo da ciência humana, façamos também por nós alguma coisa de útil para ela.” (Op. Cit., página 46).
Pois bem Nina Rodrigues estava apenas começando!
Uma vez chegado à Bahia iniciando sua carreira de professor dá continuidade a de pesquisador. Para o professorAluízio deCastroelefoiaprimeira cabeçadeseutempo.(AMARAL,JoséRibeirodo –OMaranhão no centenário da independência 1822 – 1922, São Luís, sem edição, 1921, página 264).
Em 1889 conquistou a cátedra de Medicina Legal onde pontificou até sua morte em 1906. Conviveu com membros da Escola Tropicalista Bahiana e foi redator-chefe da Gazeta Médica da Bahia de 1890 a 1893. Apesar de médico lombrosiano apontou limites na teoria do médico italiano do criminoso nato ao constatar, após estudo do cérebro de Antônio Conselheiro, que era normal, numa demonstração de honestidade intelectual.
Seu discípulo Afrânio Peixoto, assim descreve o mestre: “... dava-se, na sua especialidade, à pesquisa dos assuntos nacionais ou do modo de se comportar entre nosso meio, raça e momentos diferentes de civilização, os conhecidos fatores biológicos e os sociológicos que determinam os fenômenos da vid.” (PEIXOTO –Afrânio – A vida e a obra de Nina Rodrigues (Prefácio) – As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1938, páginas 11 – 33). E continua Afrânio Peixoto: “Pôsse, pois, a estudar o Brasil e as coisas nacionais. Nina Rodrigues foi ao seu modo um dos nossos descobridores... um bandeirante pelas regiões inexploradas dos assuntos nacionais... estudou, observou e experimentou no Brasil coisas brasileiras; eis a sua originalidade... conseguiu sobre muitos desses assuntos, noções claras e indagações perfeitas; eis o seu mérito.” (Op. cit. Página 17). Ainda segundo Afrânio Peixoto como professor tratava com polidez qualquer estudante, com bondade do trato, o conselho generoso, o ensino atraente e afetuoso, o estímulo pronto e o exemplo eficaz para adquirir e disseminar conhecimentos. Inovador incansável, audaz e inesgotável (Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1957). Domingos Vieira Filho o caracteriza como “... um desses espíritos fontes, uma dessas celebrações que tempos em tempos projetam o nome de um país, uma projeção que não tem instantaneidade, o brilho fugaz de um meteoro. Viveu ... num mundo científico acanhado e num país que se afundava em lamentável atraso material e intelectual. Como homem de ciência, no mais puro sentido da palavra... não podia encontrar no Brasil, nem tampouconoMaranhão, ondesócolheudissabores,oambienteparaareceptividadedeseusestudos científicos sobreonegro....coragem eraatributoquesobrejavaem NinaRodrigues,homemdevidapura,quase deasceta, escrupuloso a mais não poder... intuitivo como todo homem de gênio... sábio e equilibrado, arguto, coração sensível.”(VIEIRAFILHO,Domingos –Mestre NinaRodrigues, Jornal doBrasil, Rio deJaneiro,23 dejunho de 1957). Para este autor Nina Rodrigues foi individualidade possante, sábio e bom.
Em relação à acusação de racismo que lhe foi imputada por seu estudo “Os mestiços brasileiros” (Brasil Médico ano IV números 7, 8, 9, 10, 1890), defende-o Vieira Filho: “É que na época de Nina Rodrigues vigiam esses preconceitos com foros científicos... não pode fugir inteiramente à influência dessa ordem de ideias divulgadas e aceitas em respeitados centros culturais da Europa.” (Ibidem). Enganou-se quanto à inferioridade racial dos negros ao apegar-se à caracteres somáticos, como massa encefálica e aparelho mastigatório. Foi englobado pelas teorias racistas de sua época. Foi também chefe de Escola, espírito combativo, mestre sem dúvida, transmitindo não só experiência dos outros, mas também a sua própria adquirida através das pesquisas que realizou. (SANTOS, Itazil Benício dos – Nina Rodrigues, criador e chefe de Escola. Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 24 de junho de 1962). Pesquisador infatigável, segundo Nelson Costa (Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 04/12/1962, página 2). Para Flaminio Fávero “Nina Rodrigues demonstrou a vantagem de se fazer em nosso próprio país a colheita de elementos de laboratório e de clínica para a solução dos nossos problemas de Medicina Legal e Criminologia...” (Centenário de Nina Rodrigues. Folha de São Paulo 04/12/1962). Duilio Crispim Farina o caracteriza como historiador atilado, filósofo e pensador profundo (Nina Rodrigues. Revista Paulista de Medicina 99 Suplemento Cultural, 1982, páginas 4,5). Segundo depoimento dos professores José Ribeiro do Amaral, Tasso Fragoso e Abreu Fialho era estudioso e de bom comportamento. Em termos de saúde era astênico, franzino, frágil, mas possuía talento marcadamente assimilador, espírito criador, trabalhador incansável e muito produtivo. (Professor Dr. Nina Rodrigues (Editorial). Gazeta Médica da Bahia 38, 1906, página 59). Era também original e elegeu os problemas brasileiros da sua especialidade para estudo. (RIBEIRO, Leonídio – Um século de ensino de Medicina Legal, A Folha Médica, Rio de Janeiro, 05/04/1933, página 3). Ambicioso de conhecimento segundo Newton Bethlem que também o defende da acusação de racista “Bastaria apreciar a contextura de espírito de Nina Rodrigues, seu caráter e observar com pureza tudo o que fez em sua curta vida, para desprezar a acusação que desencadearam contra o mestre, acusando-o de racista; só podiam estar movidos por cegueira intelectual, ódio ou inveja.” (Nina rodrigues. Boletim da
Academia Nacional de Medicina, 1967, páginas 138, 141). Para Franco da Rocha “Inteligência robusta de um cuidado aprimorado e fecundo... é um operário indefesso (incansável) da ciência. ... muito simpático, lhano (sincero, franco), afável, intensamente despreocupado de assumir importância. Sente-se a gente bem junto dele, e a palestra corre gostosa, sem a opressão torturante que se costuma sentir frente das notabilidades convencionais. Eis aí o segredo desta atração irresistível do simpático mestre, que ora segue a sua lida científica, deixando-nos saudade e uma impressão indelével de sua passagem por São Paulo.” (O Professor Nina Rodrigues. Revista Médica de São Paulo 6(20), 1903, página 141).
Sofreu também preconceito e boicote por parte de alguns professores da Faculdade da Bahia, chegando até a ter o abastecimento de água do seu gabinete interrompido, o que o obrigava a buscá-la no chafariz do Terreiro de Jesus. Ele era chamado à boca pequena de negreiro por estudar os africanos. (LIMA, Lamartine de Andrade – Roteiro de Nina Rodrigues, Salvador, Centro de Estudos Afro-orientais da UFBA, 1980, página 5).
Era um apaixonado pelo ensino e manifestou-se sobre o projeto de Antônio Augusto de Azevedo Lima de criação de uma Universidade em carta publicada no Brasil Médico 17, 1903 “... mantenho minha opinião já externada à favor da criação da Universidade como sendo o único meio de garantir-se a autonomia econômica e docente do ensino superior no país... onde de quatro em quatro anos, em cada renovamento presidencial, se há de ensaiar fatalmente uma nova reforma de instrução pública (ainda atual!) é a adição do regime das Universidades, conferindo aos Conselhos Universitários o direito de superintender a organização e duração do ensino.”
Segundo Augusto Lins e Silva “Nina Rodrigues costumava chamar os calouros de doutor. Já eu era doutor, portanto, aos meus dezoitos anos, diplomado pela irreverente ironia do sábio. ... Não havia maior amigo do estudante do que esse mestre de sabedoria e bondade... Muito considerado na classe acadêmica, Nina Rodrigues, se bem que moço de cabelos brancos, figurava entre os estudantes, como o colega mais velho.” (SILVA, Augusto Lins e – Atualidade de Nina Rodrigues: estudo biobibliográfico e crítico, Rio de Janeiro, Companhia Editora Leitura, 1945, páginas 32, 33). Ainda segundo este biógrafo, vivia na sua casa à sombra de sus livros que eram parte de sua família completando a sua felicidade doméstica, podendo-se afirmar que ele vivia para a sua família e para a ciência, sendo que a sua principal tendência era para os estudos sociológicos, com predominante enfoque brasileiro. Como um verdadeiro sábio apresentava sempre um semblante sereno e modesto. (Op. cit., página 38).
Nos seus estudos condenava a fórmula única, o absoluto preceito e estudou a natureza humana levando em consideração as diferenciações étnicas no Brasil em seus múltiplos aspectos. Nesses estudos concordou com Silvio Romero: “Todo brasileiro é mestiço, se não no sangue, pelo menos nas ideias.” (Op. cit., página 40). Não nega a irresponsabilidade dos mestiços e afirma que a criminalidade é de fundo degenerativo. (Op. cit., página 52). Escreveu “Os mestiços brasileiros” inaugurando seus estudos antropológicos que, segundo seu biografo Augusto Lins e Silva é “Obra de pensador fecundo ao mesmo tempo um culto ao determinismo antropológico.” (OP. cit., página 85). Foi como médico legista o mais original e mais nacionalista entre nós. (Ibidem página 87). Fez escola e libertou a nossa medicina legal da tutela estrangeira. Foi empático quanto ao elemento negro na cultura brasileira. (ALVES, Henrique L. – Nina Rodrigues e o negro brasileiro, São Paulo, Associação Cultural do Negro, 1956, página 16). Esse mesmo autor afirma “Foi nesse ambiente de descrença do africano na luta titânica dos grupos escravocratas procurando obstruir os trabalhos dos abolicionistas que o mestre Nina Rodrigues viveu e sentiu o problema.” (Op. cit., página 17).
Para Euclides da Cunha, Nina Rodrigues foi um investigador tenaz que subordinou a uma cuidadosa análise a religiosidade original e interessante dos negros. (CUNHA, Euclides da – Os sertões, São Paulo, Círculo do Livro, 1988, página 60).
Nina Rodrigues publicou “A loucura epidêmica de Canudos” em novembro de 1897, logo após a destruição do arraial pelas tropas republicanas. Neste estudo destaca “Antônio Conselheiro é seguramente um simples louco. Mas a sua loucura é daquelas em que a fatalidade inconsciente da moléstia registra com precisão instrumental de reflexo senão de uma época pelo menos do meio em que elas se geraram.” Para Henrique L. Alves “A contribuição de Nina Rodrigues foi, sem dúvida, um dos pontos altos do prestígio de Euclides da Cunha...” (Op. cit., página 25). E diz mais “Nina Rodrigues contribuiu com o autor de “Os sertões” em conhecimentos científicos, etnológicos, médico-legais e antropológicos.” (Ibidem, página 37).
Apaixonado pelo ensino não poupou críticas quando foi escolhido para redigir a Memória Histórica de 1896, lida em 29 de março de 1897 na tribuna da sala das Congregações da Faculdade de Medicina da Bahia no
Terreiro de Jesus. A plateia era constituída somente por colegas do relator, a maioria de professores de idade avançada, na qual ele denuncia todas as deficiências do ensino, principalmente a parte prática. A verdade doeu. Um reagiu assim: “O professor Nina Rodrigues abriu o sarcófago sagrado da nossa Faculdade, escarrou e cuspiu dentro.” Já na introdução diz corajosamente o relator: “... eu estive resolvido a desistir de emitir juízo meu sobre os fatos e ocorrências acadêmicas de 1896, limitando-me a trazer ao conhecimento da Congregação a verdade histórica que nos houvesse por bem transmitir a palavra oficial das atas e das informações da secretaria. Valha a verdade de que em tais conjecturas a tantos reduzidas, a Memória Histórica passaria a marcar mais a experiência de qualquer amanuense ou contínuo de secretaria, do que das meditações de um professor.” (Op. cit., página 13). E determinado se propõe a prestar o tributo da verdade. Sua grande preocupação foi com o ensino prático. Diz ele “A criação do ensino prático efetivo e eficaz, tal o desideratum supremo da atualidade médica do país.” (Ibidem, página 14). E continua “O ensino teórico em todo o seu aparato espetaculoso de sucessos oratórios, e que na avidez dos aplausos sacrifica, sem pejo, a liberdade do ensino, por mais de meio século de esterilidade banal, esse pendor invencível, fruto de uma importação estrangeira sem critério, no termo de sua lenta agonia, já nem mais implora a caridade de um tiro de misericórdia. Ilustres observadores bem sabem que a dicção palavrosa, o estilo guindado e elegante não tem mais lugar num curso de ciência onde o que vale é o conteúdo... Este estertor de aparentar de um lado culto estético e do outro duvidosa ciência é uma associação abominável. ... A taça de prata não transforma em vinho puro, o vinho falsificado. Fraseado pomposo não encobre a ignorância.” (Ibidem, página 14). Procura analisar na Memória Histórica o que foi o ensino prático, isto é, o funcionamento dos laboratórios e gabinetes da Faculdade. Culpa a Congregação pelas deficiências do ensino prático por não fiscalizar, como é o seu dever. Diz “Todos nós sabemos que neste país a intolerância e rebeldia são a regra e que não se pode falar em fiscalizar serviço público sem que surjam, para logo, melindres e pontos de honra, tão intempestivos quanto de significação pouco edificante.” (Ibidem, página 15). Isto foi escrito em 1896. A atualidade é indiscutível. Reporta-se à sua própria cadeira, a Medicina Legal “Já não é sem constrangimento que eu ocupo a atenção da Congregação com as deficiênciasdetodasorteque encontronaexecuçãodo cursopráticodeMedicinaLegal.” Reclamaqueo laboratóriodessamatéria éo menos afortunado da Faculdade.CitaVirgílioDamásio “Oensino é tanto mais profícuo quanto mais econômico em palavras e mais pródigo em fatos.”
Estácio de Lima assim o descreve “Desde estudante, era grave e austero. Jamais agressivo se algo está certo ou errado, eo dever lheimpunhafalar,não fugiaàs responsabilidades.” (LIMA,Estácio de – Parecer èEgrégia Congregação da Faculdade de Medicina da UFBA em 23/04/1975 referente à Memória Histórica do Professor Nina Rodrigues sobre o ano letivo de 1896. Gazeta Médica da Bahia ano 111 volume 73, 1976, página 7). E foi o que fez denunciando, como vimos, corajosamente, todas as deficiências do ensino.
A sua morte precoce ocorrida a 17 de julho de 1906 repercutiu em todo o mundo científico brasileiro. O Jornal do Comércio de 18 de julho de 1906 noticiou a sua morte referindo-se a ele como “Uma das cerebrações mais possantes do Brasil contemporâneo.” No maranhão o jornal “A Pacotilha” e a Revista do Norte registraram e lamentaram a sua morte. Em São Paulo a RevistaMédica através de Ulisses Paranhos lhe prestou homenagem. No Rio de Janeiro foram suspensas as aulas com a notícia de sua morte e foi mandada celebrar missa de exéquias na Igreja de São Francisco de Paula. Na Bahia a Revista dos Cursos da Faculdade de Medicina fez a sua necrologia e a Gazeta Médica lhe prestou homenagem.
Podemos sintetizar o perfil de Nina Rodrigues com as seguintes características: espírito fonte; homem de ciência; individualidade possante de vida pura, quase asceta; escrupuloso; intuitivo; sábio; equilibrado; arguto; coração sensível; chefe de Escola; espírito combativo e criador; mestre; pesquisador infatigável; historiador atilado; filósofo; pensador profundo e fecundo; bondoso; estudioso; bom comportamento como aluno; talento fortemente assimilador e fartamente produtivo; espírito criador e original; trabalhador incansável; ambicioso de conhecimentos; inovador audaz; inteligência robusta; muito simpático; franco; afável; humilde; ávido de saber; profissionalmente leal; probo; amante da verdade; constante preocupação com o estudo e o ensino; figura nobre; entusiasta; erudito; dotado de notável descortino intelectual; professor de largas asas; magro; anguloso; não gostava de perder tempo como se fosse um homem de negócio norte americano cioso dos segundos e minutos que ele julgava preciosos; beneditino; afetuoso e bom na intimidade familiar; sentimental; semblante sereno e modesto de sábio; intervencionista corajoso; possuidor de interesse particular pelas coisas brasileiras; irreverente; irônico; amigo dos estudantes; polemista; espírito de grande independência nas investigações científicas; alma nacionalista; analista sagaz; talento proteiforme; dotado de raciocínio experimental sempre buscando a verdade; psicólogo emérito; investigador tenaz; grave; austero; jamais agressivo.
PEDRO HENRIQUE MIRANDA FONSECA
Membro fundador da Sociedade Brasileira de História da Medicina
No século XX Nina Rodrigues foi acusado de racista. É necessário, no entanto, contextualizar o momento em que ele trabalhou e concluiu pela inferioridade do negro, do índio e do mestiço. No final do século XIX era isso que a ciência dizia. E ele, como discípulo da escola Italiana de Cesare Lombroso, procurava correlacionar os achados das autópsias com as teorias de degenerescência do mestiço e da inferioridade dos negros vigentes na época. (ARAUJO, Telmo Renato da Silva – Raimundo Nina Rodrigues e a questão racial brasileira no século XIX. Disponível em www.ufpa.br/nupe/artigo 9. htm). Seus trabalhos e suas reflexões, conforme frisou ARAUJO, eram “culminações das teorias europeias na América, nos finais do século XIX e representavam as principais propostas para o processo de consolidação e estrutura do Estado, no que se refere à participação da grande massa étnica na sociedade” (Op. cit.)
Segundo Arthur Ramos, que não o conheceu pessoalmente, “O seu espírito, de uma permanente insatisfação científica, dilatou-se em pesquisas e observações de um enorme raio de ação.” (Prefácio. In: RODRIGUES, Nina – As collectividades anormais, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira S. A. Editora, 1939. Biblioteca de Divulgação Científica volume XIX, página 5). Para RAMOS ele é “iniciador dos estudos de etnografia e psicologia social do negro no Brasil...” (Op. cit., página 6). E faz a ressalva sobre “... o capítulo, infelizmente, inaceitável hoje, sobre a degenerescência da mestiçagem.” (Op. cit., página 9) que era um slogan da época. Mas o mesmo RAMOS faz a seguinte observação: “É curioso observar como Nina Rodrigues, preso embora às concepções da época, da Escola francesa de degenerescência e das teorias italianas sobre o atavismo no crime e na loucura, reagia, às vezes, com certa violência, contra essas concepções demasiado estreitas.” (Op. cit., página 13). O seu pensamento, fruto das suas pesquisas, não se conciliava com alguns postulados da Escola de Lombroso. Exemplar o caso de Antonio Conselheiro. Senão vejamos “Antonio Conselheiro é seguramente um simples louco. Mas sua loucura é daquelas em que a fatalidade inconsciente da moléstia registra com precisão instrumental o reflexo senão de uma época pelo menos do meio em que elas se generaram.” (Op. cit., página 52). E continua “Alguma coisa mais do que a simples loucura de um homem era necessária para este resultado e essa alguma coisa é a psicologia da época e do meio em que a loucura de Antonio Conselheiro achou combustível para atear o incêndio de uma verdadeira epidemia de vesania (alucinação).”
Referindo-se `a mestiçagem diz “... uma rega geralmente conhece muitas exceções...” (Op. cit., página 65). E aos sertões “O que ali impera é um compromisso entre as tendências para uma organização feudal por parte da burguesia abastada e a luta das represálias de tribos bárbaras ou selvagens por parte da massa popular.” (Op. cit., página 66). Ressalta que o mestiço tem qualidades atávicas. Afirma “... do cérebro mais normal se pode passar ao estado de insanidade mental bem confirmada...” (Ibidem, página 79)
Exumado o cadáver de Antonio Conselheiro, a cabeça foi separada e enviada pelo Dr. José Miranda Curió, major- médico chefe da expedição, para Nina Rodrigues proceder o exame. Ajudado pelo Dr. Sá Oliveira, preparador de Medicina Legal, fez o exame do crânio de Antonio Conselheiro. E concluiu: “O crânio de Antonio Conselheiro não apresenta nenhuma anomalia que denunciasse traços de degenerescência: é um crânio de mestiço onde se associam caracteres antropológicos de raças diferentes.” E afirma: “É, pois, um crânio normal.” (Ibidem, páginas 131, 133). E ele dá o diagnóstico de delírio crônico de evolução sistemática, atual transtorno delirante.
Supunha erroneamente Nina Rodrigues que a população brasileira, por ser altamente miscigenada, ofereceria uma confirmação das doutrinas da Escola lombrosiana. (Ibidem, página 154).
Além do caso de Antonio Conselheiro, o de Lucas da Feira também mostrava fissuras nas doutrinas da Escola italiana. Lucas da Feira foi enforcado em 25 de setembro de 1849 em Feira de Santana. O seu crânio foi examinado por Nina Rodrigues, que não diz o ano: “O crânio de Lucas parece à primeira vista, perfeitamente normal. Tem certamente caracteres próprios dos crânios negros, mas também caracteres pertencentes aos crânios superiores, medidas excelentes, iguais da raça branca. Aliás suas anomalias não são chocantes.SeráporqueLucaseramestiço?Poder-se-iaexplicarpelamestiçagemestaassociaçãodecaracteres
tão diferentes?” (Ibidem, página 157). Diante desses questionamentos, ele sugere: “Na minha opinião, é preciso somente completar, em Lucas, o estudo físico do criminoso com seu estudo psicológico.” (Ibidem, página 158).
Aqui vemos que somente o estudo dos caracteres físicos do criminoso não era suficiente. Ele recomendava estudar também os psicológicos. E segue “Vê-se também que, se Lucas fosse um criminoso nato, os caracteres vantajosos do seu crânio não seriam feitos para dar razão à observação seguinte de Lombroso, que há “nos criminosos uma tendência ao exagero dos índices étnicos” porque os seus não são verdadeiramente índices de raças inferiores.” E continua: “Mas Lucas era realmente um negro superior: tinha qualidades de chefe; na África talvez tivesse sido um monarca.” (Ibidem, páginas 159, 160). Ainda sobre Lucas da Feira “Premido ao extremo, acabou por declarar que não denunciaria jamais seus amigos, sabia que seus dias estavam contados, mas jamais trairia aqueles que outrora o haviam ajudado.
Não é esta, na verdade, a conduta dos criminosos sobre os quais Lombroso escreveu...” (Ibidem, página 160). Mais uma fissura nas doutrinas da Escola.
Relativiza o conceito de criminoso levando em consideração aspectos culturais: “Logo Lucas é bem um criminoso para nós outros brasileiros, que vivemos sob a civilização europeia. Na África, ele teria sido, ao contrário, um valente guerreiro, um rei afamado. Lucas era um verdadeiro criminoso, porque tinha instintos sanguinários,masnãoeraumcriminosonato;nomáximo,umcriminosodehábito,cujascausaspsicológicas não seriam difícil traçar. Compreende-se assim o valor que se deve dar à ausência de caracteres criminosos no crânio de Lucas e vê-se como não podemos criticar os dados da antropologia criminal, prendendo-nos, preconcebidamente aos caracteres físicos com a exclusão de uma sábia análise psicológica. É preciso, antes de tudo, fazer dos criminosos um estudo completo” (Ibidem, páginas 162, 163, 164).
Outro caso emblemático é o do regicida Marcelino Bispo, mestiço com forte traço índio “... fraco de espírito em que a mais exagerada energia e a firmeza de execução voluntária se combina com a mais ingênua boa fé. Pela instabilidade doentia que o leva a não se fixar em parte alguma, adotando uma vida errante e mutadiça.” (Ibidem, páginas 173, 174). Ressalta também o misticismo exagerado, não só religioso, como político. Responsabiliza o fanatismo do Marcelino Bispo, que se aproxima e se afasta dos verdadeiros regicidas: “Desequilibrado e desarmônico na sua associação de tendências violentas com aspirações e entusiasmos de ingenuidade infantil a que davam muita força a sua ignorância e educação incompleta; místico e sonhador por natureza, Marcelino Bispo tinha no temperamento de degenerado a constituição psíquica dos regicidas. Faltou-lhe, porém, a espontaneidade na transformação mórbida das suas tendências impulsivas no verdadeiro delírio místico dos regicidas. Nele esta transformação não foi obra de uma elaboração patológica, operou-se artificialmente, criou-se a sugestão do crime a dois.” (Ibidem, página 188). No regicida Marcelino Bispo “... a sugestão não faz mais do que provocar um estado mental mórbido a que o pressupunha fortemente a sua constituição de degenerado místico.” (Página 191). Destaca a coparticipação do meio social e o momento político. Encerra o estudo do regicida com a citação de Lacassagne: “a sociedade é o caldo de cultura dos seus micróbios criminosos.” (Página 194). E sobre a sociedade faz uma observação sempre atual: “... sacrificando a lei aos interesses partidários, combalindo a fé no direito e na justiça; são as transações pouco decorosas dos partidos, imolando tudo, coerência, dignidade, honra dos chefes, à ambição do mando, aos arranjos que levam ao poder, procurando aliciar o apoio da força armada, exaltando a sua missão, lisonjeando o seu amor-próprio, excitando os seus ódios.” (Página 193).
Ao se propor estudar os mestiços, reconheceu a dificuldade do assunto. E conclui que “... os caracteres patológicos das três raças não se transmitirão com intensidade proporcional aos seus mestiços.” (Página 202). Explicita o seu objetivo: “Mas o que nos preocupa sobretudo foi tornar inteligíveis as referências a todos os elementos antropológicos que concorrem na nossa população mestiça. E só nos parece exequível esse intento, desprezando pontos de vista secundários para reunir num mesmo grupo todos os indivíduos que oferecem a máxima dos caracteres morfológicos dos produtos tomados para tipos. Estes fomos busca-los, não entre as prováveis combinações teóricas, mas ao que oferece a uma observação desprevenida o estado atual da população mestiça.” (Página 214).
Para Gilberto Freyre, Nina Rodrigues quis realizar no Brasil “obra corajosa de antropologia aplicada. E sob este aspecto é que sua figura adquire seus traços mais vivos de pioneiro; é que sua atualidade se afirmar mais luminosamente. Como investigador científico de problemas de raça e de cultura, em geral, e de crime, em
particular.” (FREYRE, Gilberto – Perfil de Euclides e outros perfis, 2ª edição, Rio de Janeiro, Editora Record, 1987, página 195).
Somente na década de vinte do século XX, com a Antropologia Cultural que operou-se uma mudança no discurso racial. Passou-se a valorizar peculiaridades culturais e não mais premissas biológicas. Falecido em 1906, Nina Rodrigues não alcançou estas mudanças, mas resta-lhe a honestidade intelectual de reconhecer fissuras no que dizia a ciência do seu tempo, exemplificado nos três casos citados – Antonio Conselheiro, Lucas da Feira e Marcelino Bispo.
Um ponto importante, realçado por FREYRE, foi que “... as chamadas religiões africanas não constituíam problema de polícia. Opõe-se sempre à intervenção policial na solução de problema tão delicado...” (Op. cit., página 195).
Na obra “O animismo fetichista dos negros baianos”, escrita originalmente em francês, Nina Rodrigues destaca a importância das sobrevivências africanas de crença na população da Bahia. Tão fortes eram estas sobrevivências que o autor acusa a ciência oficial de “dogmática e superficial” por afirmar que a população baiana era “monoteísta cristã.” Para ele, grande parte dos habitantes da Bahia eram fetichistas. E dizia que isso não seria mudado com simples ações policiais. Só o tempo acomodaria essas sobrevivências. É por isso que FREYRE o chama de moderno sociólogo, moderno antropólogo, moderno psiquiatra social. (Op. cit., página 196).
Para concluir quero destacar três caos que julgo emblemáticos da honestidade intelectual do Nina Rodrigues, ao perceber que haviam falhas na doutrina da Antropologia Criminal e seu criminoso nato:
- Antonio Conselheiro – crânio normal. Diagnóstico – transtorno delirante.
- Lucas da Feira - crânio normal. Recomenda estudo psicológico.
- Marcelino Bispo – constituição psíquica e exacerbado misticismo. Portanto, como disse ARTHUR RAMOS: “Se, nos trabalhos de Nina Rodrigues, substituirmos os termos raça por cultura, e mestiçamento por aculturação, por exemplo, as suas concepções adquirem completa e perfeita atualidade.” (RAMOS, Arthur – Prefácio. In: Op. cit., páginas 12, 13).
É ainda ARTHUR RAMOS que assim se refere ao mestre: “A grande sombra de Nina Rodrigues desce sobre o Congresso Afro-brasileiro da Bahia. O negro brasileiro vê hoje, na figura do grande mestre, o seu primeiro Ogan, o seu reivindicador e o seu advogado.
Nina Rodrigues pesquisou com as “hipóteses de trabalho” da sua época. A sua simpatia humana pelo negro, que o fez derramar-se em excessos comoventes pelos Candomblés baianos, à cata de material, ou a receber em seu consultório particular os mais célebres “pais de santo” e “mães de santo” dos terreiros da Bahia, a dedicação de uma vida consagrada à decifração dos mistérios da vida dos negros – tudo isso corrigira, já em seu tempo, as falhas metodológicas que os pósteros haviam de denunciar. Mas o que os seus críticos não atacarão jamais, é a seriedade, o entusiasmo, o imenso impulso de simpatia, com que suas pesquisas e seus estudos foram conduzidos.” (Boletim de Ariel, Rio de Janeiro, ano VI número 4, janeiro de 1937, página 111).
E na segunda metade do século XX, assim se referiu a ele Pierre Verger em carta a a Roger Bastide, datada de 26 de junho de 1958: “Nina Rodrigues é um grande sujeito; sua explanação é de uma clareza e de uma penetração extraordinárias. Que pena que não tenha tido bons seguidores.” Infelizmente, aquele que foi o seu seguidor mais distinto – Arthur Ramos – faleceu também precocemente aos quarenta e nove anos.
“INDEX LIBRORUM PROIHBITORUM”
dezembro 13, 2022 por A PENA DO PAVÃO, publicado em Jurídico, Opinião, Política
Ano 10 – n. 81/2022 – https://doi.org/10.5281/zenodo.10014293
Prof. Dr. José Cláudio Pavão Santana*
O assunto que abordo é um extrato de uma reflexão que faço já há algum tempo.
Aextensão com quetrato, emboratransponhaabrevidadeusual desteespaço,nãoodesqualifica.Aocontrário. Esclarece (sim, torna claro, visível e evidente) as coisas, bem ao contrário do que alguns artífices da inovação pretendem.
Por isso, fontes e conceitos precisam ser abreviados. Não omitidos, mas sintetizados, o que reclama um artigo acadêmico, quem sabe.
Pois bem. Através da Comissão de Promoção de Igualdade Racial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), instituída pela Portaria-TSE n° 230, de 8 de março de 2022, foi veiculado nas redes sociais uma espécie de breviário intitulado EXPRESSÕES
RACISTAS: POR QUE EVITÁ-LAS.
Nele é relacionada uma série de palavras e expressões, que, como pretende revelar a obra, sinalizam racismo. E só para não perder o fio da meada, o “racismo estrutural” tão mencionado. Basta examinar a bibliografia.
Claro que a obra não se anuncia como definitiva, tanto que estimula a que pessoas possam remeter via e-mail expressões ou palavras de cunho racista.
Definido está, portanto, pela comissão, o que é racismo.
Não me oponho ao propósito, mas não me seduz concordar com a inclusão do verbo esclarecer na relação elaborada porque ele (o verbo) nada tem a ver com etnia ou cor de pele ou raça. Tornar claro algo é não deixar dúvidas. Por isso, também, estes esclarecimentos que antes de quaisquer condenações prévias, desejam expressar a raspa do tacho de liberdade de manifestação que ainda há e, pelo visto, em poucos dias será impossível exercer.
Com acuidade Alexandre Costa[1] pontua sobre a linguagem:
“Se Aldous Huxley acertou na mosca quando previu a promiscuidade como regra e o Estado como babá, o maior acerto de George Orwell em suas distopias diz respeito ao uso da linguagem como ferramenta de manipulação. Seja com a Novilíngua (newspeak) de 1984 ou com os porcos mudando as interpretações das leis em A Revolução dos Bichos, a distorção dos sentidos das palavras mostra-se um eficiente meio de conduzir e doutrinar uma massa de idiotas que sustenta um grupo de hipócritas poderosos.”.
Tendo a concordar, inclusive, com a afirmação de que “Dentre todos os sintomas de falência mental de uma sociedade, a teoria do preconceito linguistico, sem dúvida, está entre os mais destacados.”[2].
A mim parece que inclusão social de minorias e respeito ao ser humano, além das políticas públicas indispensáveis, exigem o cumprimento de normas legais contratadas, aquelas que algumas instituições do próprio estado costumam afastar pela idiossincrasia de suas autoridades. A Constituição tem sido a maior vítima.
Suprimir liberdades públicas por circunstâncias inafastáveis é uma coisa. Suprimir liberdades individuais passa pelo tamgenciamento de assistencialismos que desviam a atenção, subvertem o foco da causa, e persistem conduzindo as pessoas como se elas atendessem ao “bom senhor” sem se dar conta disso. É obvio que a publicação contém boas práticas, porque não se está a defender um pseudodireito de seguir usando expressõesquedesqualifiquem seres humanos.Seriaum absurdo.Mas háumalongaedesproporcional trajetória entre conter e contemplar palavras.
Ainclusãodoverbo esclarecer passa,emtese,asinalizarquenãopossamoscontemplaropôrdosol, enquanto o dia vai escurecendo, porque aí estaria embutido um potencial preconceito ou uma sinalização de racismo. O que dizer, então, da vasta literatura nacional? Valha-me Machado de Assis! Acudi-me, Castro Alves! O que dizerdafilmoteca? Eda música?E doesporte? Enfim, oquedizer detudo issoporqueumacomissão entendeu que existem palavras que a língua dos homens não deve usar porque só a capacidade intelectual de definir o que pode ou não ser usado a língua deles tem?
Educar pessoas não é sinônimo de ressignificar vocábulos. A isto eu chamo de destruir o idioma. E, no caso, como símbolo nacional (art. 13 da CRFB de 5.10.1988).
Os acordos internacionais, as reformas ortográficas e as leis são as fontes formais de mudanças, por certo. Mas é no quotidiano que as coisas funcionam onde só o esclarecimento (uma vez mais a palavra com sentido próprio) através da educação será capaz de reconstruir práticas viciadas e formar pessoas mais comprometidas com o respeito à dignidade da pessoa humana.
Lembro que a entonação de voz é uma das maiores fontes de discriminação. Não importa sobre que assunto ela seja enunciada. O autoritarismo pode estar nela determinado exatamente por sua frequência sonora.
Uma vez mais invoco o autor aqui citado:
“Utilizar a linguagem como arma psicológica de dominação não é uma ideia nova. Paul Joseph Goebbls substituiu algumas palavras e eliminou outras que incomodavam o projeto nazista. Antes, na União Soviética, quando Hitler ainda sonhava ser artista, Lênin transformou o significado de algumas palavras e proibiu outras tantas. Anotonio Gramisci – que aprendeu com Marx – também ensinou a destruir a linguagem como forma de implantação de ‘uma nova ordem’ social e cultural. E Maquiavel ensinou que o Príncipe deve, mais do que utilizar as palavras de maneira conveniente, convencer seu povo a usá-las conforme a sua conveniência.”[3]
É fato que a sociedade precisa se comprometer com o respeito à dignidade da pessoa humana. Mas não se traduz evolução apenas trocando o ferro de mãos. É necessário o comprometimento consciente de todos a partir do infante.
Lembro que o “Index Prohibitorum” foi uma lista de obras criada pela Igreja Católica pelo papa Paulo IV. Existiu durante quatro séculos (1559-1948). Mas só veio a ser abolida no ano de 1966 pelo pala Paulo VI. De tudo continha um pouco. Literatura, artes, filosofia, ciência, tendo como finalidade, como é obvio, estabelecer um sistema de censura e vigilância que preservasse o poder e disciplinasse o que poderia ser permitido aos cristãos. O conhecimento controlado, para ser mais claro.
No século XX, já sob a mão de ferro de Hitler foi feita uma espécie de “limpeza da literatura”, simbolizada pela grande queima de livros (1933), desde que desviassem dos padrões instituídos pelo regime nazista. Para o acontecimento, como não poderia deixar de ser, Joseph Goebbels desempenhou papel fundamental.
Ahistóriaérepletadessa libido pelacensura.Haveráprovamais contundentedoqueairadeLênin, Mussolini, HitlereTrosky contraCurzio Malapartepelo livro“Técnicas degolpesdeestado”[4] –utilizadas porfascistas, comunistas e nazistas? Pode ser que sim. Mas há história e há estória.
Nocaso específico háfatos quesemodificam trajandoindumentáriadisformenanarrativa,às vezes adornados por maquiagens que não resistem ao espetáculo mais duradouro, mas que, pela intensidade das cores, passa a impressão de que homenageie o belo.
Fico com a tentativa da boa intenção. Que a obra sirva como indicativo, não como “librorum prohibitorum”, porque não compete ao poder judiciário (sobretudo por órgãos seus) definir o que é racismo. Primeiro porque quem pretende combate-lo com espírito de tutor já se faz senhor; segundo, porque como função típica não lhe compete; terceiro, e mais importante, razões terá de sobra para alcançar a vitória cumprindo a Constituição da República. Nela existem respostas que só dependem da boa fé do intérprete.
*Pós-Doutor no “Ius Gentium Conimbrigae” – Centro de Direitos Humanos da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Doutor em Direito pela PUCSP. Mestre em Direito pela FDR-UFPE. Sócio do ABDPC. Membro efetivo do IBEC. Membro da ALL. Membro efetivo da AMLJ. Professor Associado do Curso de Direito da UFMA. Professor Fundador do Curso de Mestrado em Direito e do Sistema de Justiça da UFMA.
[1] Bem-vindo ao hospício. Campinas, SP: Vide Editorial, 2016, p. 86.
[2] COSTA, Alexandre, ob. Cit., p. 88.
[3] Autor e obra citados, p. 111.
[4] MALAPARTE, Curzio. Técnicas de golpes de estado. São Paulo: Avis Rara, 2022.
LANÇAMENTOS
Maria Firmina dos Reis | Úrsula Gupeva A
Escrava Contos a Beira Mar | São Luís - MA, Brasil
Maria Firmina dos Reis nasceu na Ilha de São Luís, no Maranhão, em 11 de março de 1822, sendo batizada somente a 21 de dezembro de 1825, em virtude de uma enfermidade que a acometeu nos primeiros anos de vida. Segundo o registro, Maria Firmina foi batizada na freguesia de Nossa Senhora da Vitória, em São Luís do Maranhão, sendo padrinhos o capitão de milícias João Nogueira de Souza, e Nossa Senhora dos Remédios, não sendo informada nem sua paternidade nem a data do nascimento.
LANÇAMENTO NO ANIVERSÁRIO DE VIANA - 8 de julho 2025
Meu terceiro romance A Menina e o Sol Poente chegará às mãos do leitor com, pelo menos, um ano de atraso. Era para ter sido lançado em julho passado, para coincidir com o aniversário de Viana, 08/07. Porém, nesse meio tempo, fui surpreendido com a morte prematura do querido Djalma Rodrigues, que, antes de partir para o plano celeste, me pediu para terminar o seu livro de memória O Órfão e o Jornalista, que lancei em setembro, no auditório da AMEI. Assim, reprogramei a publicação da obra para dezembro, e mais uma vez tive que adiar, em razão do projeto "VIDA DE OFICIAL, Era só uma intimação...", com lançamento programado para 28 de março de 2025, em Cuiabá/MT. De tal forma que me vi obrigado a remarcar a data de lançamento de A Menina e o Sol poente para julho, em Viana, duarante as comemorações de aniversário da cidade.
Informo também que os leitores interessados no livro já podem solicitar inclusão em lista de reserva.
ZEMA RIBEIRO
5 DE DEZEMBRO DE 2024
Com calma de bordadeira, alma de flâneuse, olhar aguçado e muita sensibilidade Lúcia Santos vem tecendo uma das obras mais originais da poesia brasileira, dona de uma voz muito particular, seja nas páginas de um livro ou nas vozes de diversos intérpretes que já gravaram letras suas.
A maranhense exercita os ofícios de poeta e letrista com igual desenvoltura. Não se trata aqui, da pergunta surrada sobre uma coisa ser a outra, letra de música e poesia. Ela explora ambos os universos com interesse e dedicação.
“Macabéa Desvairada” – capa/ reprodução Macabéa Desvairada (Ponto de Bala, 2024, 72 p.) revela-nos sua produção poética mais recente e o livro funciona como uma espécie de encarte (incluindo a ficha técnica com crédito para os músicos) para o álbum Eu Não Quero Prosa Se Não For Pra Tanto (Saravá Discos, 2024), disponível nas plataformas de streaming (ouça ao fim do texto) – o livro traz um QR Code que direciona para o álbum.
“Eu Não Quero Prosa Se Não For Pra Tanto” – capa/ reprodução
O título do livro surgiu por acaso, algo meio intuitivo, revela a poeta. “Macabéa, personagem de Clarice Lispector (1920-1977), do livro A Hora da Estrela (1977), uma nordestina que vai para o Rio de Janeiro, cheia de sonhos, então eu fiz um paralelo comigo, que sou nordestina, que fui para São Paulo, e daí veio também o desvairada como uma referência a Pauliceia Desvairada (1922), do Mário de Andrade (1893-1945). Gostei da sonoridade, mas no momento que o título veio eu não havia pensado em todas essas coisas. O título veio antes da explicação do título”, conta.
Transcrevo o poema que intitula o livro: “as cordas do violino diziam você é linda/ em frente ao conjunto nacional./ a moça feia passou e sorriu discreta./ atravessou a paulista toda tão certa/ daquele sonho de padaria da augusta.”.
“Alguns poemas do livro eu já venho divulgando há algum tempo, mas eu não havia publicado porque alguns poemas se perderam nos vãos da internet, outros poemas que eu gostaria que estivessem no livro. Mas surgiu a oportunidade, porque o Zeca Baleiro, meu irmão, resolveu produzir esse álbum, com minhas parcerias musicais, e achou que seria legal fazer um livro junto, incluindo as letras das músicas”, continua.
Baleiro relembra o compartilhamento de sua iniciação literária com Lúcia Santos, “numa cumplicidade adolescente, bonita e desinteressada, uma partilha pra lá de genuína”, como anota na quarta capa.
Macabéa Desvairada é o sexto volume de poemas de Lúcia Santos e sucede Quinta Sinfonia (2019, lançado pela Sangre Editorial num projeto Brasil-Argentina), Nu Frontal Com Tarja (2016), Uma Gueixa Pra Bashô (2006), Batom Vermelho (1997) e Quase Azul Quanto Blue (1992). O livro tem capa, ilustrações e diagramação de Andrea Pedro e fotos de Lúcia Santos.
Serviço – A noite de autógrafos de Macabéa Desvairada acontece hoje (5), a partir das 18h, no Chico Discos (esquina de Afogados com São João, Centro).
Zema Ribeiro é jornalista. Homem de vícios antigos, apresenta o programa Balaio Cultural (aos sábados, das 14h às 16h), na Rádio Timbira FM (95,5MHz). É coautor do livro "Chorografia do Maranhão" (Pitomba!, 2018, com Ricarte Almeida Santos e Rivânio Almeida Santos) e autor de "Penúltima Página: Cultura no Vias de Fato" (Passagens, 2020). Pai do José Antonio, nasceu e vive em São Luís do Maranhão. Antifascista.
NESTE SÁBADO, O PROGRAMA “HISTÓRIA EM DEBATE”, DA RÁDIO TIMBIRA, FOI PALCO DE UMA EMOCIONANTE HOMENAGEM À MARIANA LUZ. O JORNALISTA MARCUS SALDANHA RECEBEU OS IMORTAIS INALDO LISBOA E JUCEY SANTANA, ALÉM DA ESCRITORA GABRIELA SANTANA, PARA CELEBRAR A TRAJETÓRIA E O LEGADO DESSA GRANDE POETISA.
JORNAL PEQUENO –
EDIÇÕES AOS DOMINGOS
- EDITOR: VINÍCIUS BOGÉA
MURAL DA
ACADEMIA
LUDOVICENSE DE LETRAS - JORNAL PEQUENO
FIM DE UM MITO
Por Leopoldo Gil Dulcio Vaz
Academia Ludovicense de Letras
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Academia Poética Brasileira
Centro Esportivo Virtual
Vieira afirmou queos Tupinambáe Tabajara contaram-lhequeos povos Tupi migraram para oNorte doBrasil pelo mar, vindos de um país que não mais existia, e que o país Caraíba teria desaparecido progressivamente, afundando no mar. Os tupis salvaram-se, rumando para o continente.
Os tabajaras diziam-se o povo mais antigo do Brasil e se chamavam de “tupinambás”, (homens da legítima raça tupi), desprezando parte dos outros tupis, com o insulto “tupiniquim” e “tupinambarana”, (tupis de segunda classe), e sempre conservaram a tradição de que os tupis eram originados de sete tribos; e que o povo tapuia, do povo tupi, eram os verdadeiros indígenas brasileiros (RAHME, 2013).
O arqueólogo maranhense Arkley Bandeira (2013) traz que a ocupação do Vinhais Velho – na Ilha de UpaonAçú, ou de São Luis – é datada de pelo menos 3.000 anos. As datações obtidas, para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho, possibilitaram construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luis, que data desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (15901612?).
Essas datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos préhistóricos: ocupação sambaqueira/conchífera – durou até 1.950 atrás, com uma permanência de 650 anos. (p. 76); ocupação ceramista com traços amazônicos – em torno de 1840 anos atrás foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmicamuito semelhanteàs encontradas em regiões amazônicas, sendoprováveis cultivadores demandioca. (p. 76). Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente, totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76).
Por último, a ocupação Tupinambá (p. 75) ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII. Trata-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará. A ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos (p. 76).
Nos anos 1970, outro pesquisador deu visibilidade à ocupação humana pré-histórica da Ilha de São Luís –Mário Ferreira Simões, ligado ao Museu Paraense Emílio Goeldi que realizou o Projeto São Luís. A pesquisa inspecionou oito sambaquis com o objetivo de comparar os sítios residuais de São Luís com os do litoral leste e litoral paraense. Essas pesquisas resultaram nas primeiras datações para os assentamentos humanos préhistóricos do Estado do Maranhão, em torno de 2.686 anos antes do presente. Ludwig Schwennhagen (1924) afirma que a migração dos povos Tupi ao Norte do Brasil pode ser calculada para a data de 3000 a 2000 a.C. As ultimas levas entraram quando se quebraram as terras do golfo do México e do mar Caraibico. Assim se pode colocar a ocupação e cultivação da ilha do Maranhão na época de 2000 anos a.C., ou 3500 anos antes da chegada dos europeus.
Para esse pesquisador, todos os momentos geográficos e etnográficos indicam que a ilha do Maranhão constituía, na primeira época das grandes navegações, isto é, entre 3500 a 1000 anos antes da era cristã, um empório marítimo e comercial. Essa época começou naquele momento em que se completou o
desmoronamento do antigo continente Atlantis e que os povos que lá se refugiaram no ocidente, quer dizer na America Central, ou no oriente, nos países ao redor do mar Mediterrâneo.
Enéas Barros (s.d.), ao analisar a obra de Ludwig Schwennhagen, considera que “Tupi” significa “Filho de Tupã”, e foi dado aos povos indígena que habitavam a antiga Atlântida. Eram sete tribos, que fugiram para outra grande ilha, a Caraíba (situada no Mar das Antilhas), em função do desmoronamento da Atlântida. Essa outra ilha teve o mesmo fim, fazendo com que os indígenas fugissem para a região da Venezuela. O país Caraíba todos os anos desligava-se em pedaços até que desapareceu inteiramente afundado no mar. Contam que os tupis salvaram-se em pequenos botes, rumando para o continente onde já está a República da Venezuela… Quando chegaram os primeiros padres espanhóis na Venezuela, contaram-lhes os piegas aqueles acontecimentos do passado. Disseram que a metade da população das ilhas, ameaçadas pelo mar, retirou-se em pequenos navios para a Venezuela, mas que morreram milhares na travessia. A outra metade foi levada em grandes navios para o Sul onde encontraram terras novas e firmes.
Ao tomarem conhecimento da existência desses povos na Venezuela, os fenícios conseguiram levá-los em seus navios para o nortedoBrasil.Olocal para a ordem eCongresso dos povos Tupis foibatizadopelos piagas (pagés) de Piagui, de onde originou-se Piauhy. Geograficamente, o lugar era Sete Cidades. Para Ludwig, a palavra Piauí significa terra dos piagas, condenando a interpretação de que o nome provém do peixe piau, abundante nas águas do Rio Parnaíba.
Varnhagem, Visconde de Porto Seguro, confirma na sua História Brasileira, que essa tradição a respeito da emigração dos Caris-tupis, da Caraíba para o Norte do continente sul-americano, vive ainda entre o povo indígena da Venezuela.
Para Ludwig Schwennhagen os fenícios transportaram os tupis, palavra que significa filho de Tupan, de lugar onde está hoje o Mar das Caribas onde havia”um grande pedaço de terra firme, chamado Caraíba (isto é, terra dos caras ou caris). Nessa Caraíba e nas ilhas em redor viviam naquela época as sete tribos da nação tupi que foram refugiados da desmoronada Atlântida, chamaram-se Caris, e eram ligados aos povos cários, do Mar Mediterrâneo…
Justifica-se a origem do nome Tupi pela língua dos Cários, Fenícios e Pelasgos, onde o substantivo Thus, Thur, Tus, Tur e Tu significa sacrifícios de devoção. O infinitivo do verbo sacrificar é, no fenício, tu-na, originando tupã. “A origem de Tupã, como nome de Deus onipotente, recua à religião monoteísta de Car”, afirma Ludwig.
Por volta do ano 1.000, os territórios amazônicos haviam sido conquistados pelos movimentos de expansão dos povos tupi-guaranis, aruaques e caribes, principalmente. É por essa época que a Amazônia provavelmente atingiu uma das maiores densidades demográfica. (MIRANDA, 2007, p. 15).
Luciara Silveira de Aragão e Frota (2014) afirma que a dispersão da grande família Tupi-guarani parece ter sido das mais remotas. Bem mais remotaqueaverificadacom os Aruaques. Suaorigem seriados protomalaios que, em várias correntes, acostaram no istmo do Panamá.
Os tabajaras diziam-se os povos mais antigos do Brasil, isso quer dizer que eles foram aquela tribo dos tupis que primeiro chegou ao Brasil , e que conservou sempre as suas primeiras sedes entre o rio Parnaíba e a serra da Ibiapaba. Desse relato é, pois de se encaminhar para a conclusão de que os tabajaras foram precedidos pelos cariris no povoamento do Ceará, e antecederam aos potiguares dentro da divisão denominada de grupo Brasília (POMPEU SOBRINHO1955).
Repetindo, o padre Antonio Vieira, o grande apóstolo dos indígenas brasileiros, assevera em diversos pontos de seus livros, que os Tupinambás, como os Tabajaras, contaram-lhe que os povos tupis imigraram para o Nortedo Brasil pelo mar, vindos dum país que nãoexistiamais”,com os primeiros emigrantesteriam aportado em Tutóia e daí se dividiram em três povos: Tabajaras, entre o rio Parnaíba e a serra da Ibiapaba; os Potiguares além do rio Poti, e Cariris que tomaram as terra da Ibiapaba para o nascente. A segunda leva de emigrantes veio dar a um segundo ponto – escolhido pelos fenícios- a ilha do Maranhão que denominaram Tupaon (burgo de Tupan).
Os Tabajaras duvidaram da legitimidade de tupi de tais emigrantes, pois eles trouxeram antigos indígenas Caraíbas que para eles trabalhavam. Adotaram eles então o nome referencial de Tupinambás […].
Pois bem, esse o mito da primeira ocupação da Ilha do Maranhão – a terra sem males… Mito que começa a ser desvendado pela recente divulgação (2013; 2016) de uma descoberta do ano de 2000 ocorrida a noroeste da costa de Cuba – um grupo de cientistas canadenses descobriu uma cidade perdida a 700 metros de profundidade https://www.youtube.com/watch?v=-gKEU3kkeMQ., quando um robô submarino tirou as fotografias das ruínas de edifícios, quatro pirâmides gigantes e um objeto parecido com uma esfinge. Especialistas sugerem que os edifícios pertencem ao período pré-clássico do Caribe e da história da América Central. A antiga cidade podia ser habitada por uma civilização semelhante aos habitantes de Teotihuacán (cidade fantasma de cerca de 2000 anos, localizada a 50 km da cidade do México). Já pesquisadores independentes afirmam que as ruínas provavelmente são de Atlântida, o lendário continente desaparecido mencionado pela primeira vez pelo filósofo Platão.
https://piramidal.net/2013/03/13/antiga-cidade-submersa-e-encontrada-no-triangulo-das-bermudas-seria-atlantida/; http://paralelosexperimentais-rubensurue.blogspot.com.br/2013/05/gigantesca-cidade-submersa-descoberta.html; http://descobertasarqueologicas.blogspot.com.br/2016/03/antiga-cidade-submersa-encontrada-no.html; http://thoth3126.com.br/atlantida-restos-de-uma-imensa-cidade-encontrada-na-costa-de-cuba/ BANDEIRA, Arkley Marques. VINHAIS VELHO: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E MEMÓRIA. São Luis: Edgar Rocha, 2013. BANDEIRA, Arkley Marques. Os registros rupestres no Estado do Maranhão, Brasil, uma abordagem bibliográfica. In http://www.naya.org.ar/congreso2002/ponencias/arkley_marques_bandeira.htm BANDEIRA, Arkley Marques. POVOAMENTO PRÉ-HISTÓRICO DA ILHA DE SÃO LUÍS-MARANHÃO: SÍNTESE DOS DADOS ARQUEOLÓGICOS E HIPÓTESES PARA COMPREENSÃO DESSA PROBLEMÁTICA. Anais do V encontro do Núcleo Regional Sulda Sociedade deArqueologiaBrasileira – SAB/Sul. De 20a23de novembrode2006,na cidadedeRio Grande, RS. http://www.anchietano.unisinos.br/sabsul/V%20-%20SABSul/comunicacoes/59.pdf
BANDEIRA, Arkley Marques. A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM ARQUEOLOGIA: hipóteses sobre o povoamento précolonial na Ilha de São Luís a partir das campanhas arqueológicas de Mário Ferreira Simões. Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, ISSN 1808-8031, volume 03, p. 18-36 25 BANDEIRA, Arkley M. Um panorama sobre os registros rupestres no Estado do Maranhão. Monografia apresentada ao Curso de História como requisito para conclusão do mesmo. Universidade Estadual do Maranhão. Campus Paulo VI, São Luís, 2003. BANDEIRA, Arkley M..O Sambaquido Bacanga na Ilha de São Luís-Maranhão: um estudo sobre a ocorrência cerâmica no registro arqueológico. Pré-projeto de dissertação de mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em arqueologia do MAE-USP como requisito obrigatório para seleção dos ingressantes no segundo semestre de 2005, São Paulo, 2005; BANDEIRA, Arkley Marques. Ocupaçõeshumanas pré-históricas no litoral maranhense: um estudo arqueológico sobre o sambaqui do Bacanga na ilha de São Luís – Maranhão. Dissertação de Mestrado, 2008. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-26092008-145347/pt-br.php BARROS, Eneas. A tese de Ludwig Schwennhagen. (s.d.), acessado em 25 de fevereiro de 2016. Disponível em http://www.piaui.com.br/turismo_txt.asp?ID=339, BlogPiauí.
FROTA, Luciara Silveira de Aragão e. Os Tabajaras e a Localização de Tribos Circunvizinhas. Os%20Tabajaras%20e%20a%20Localização%20de%20Tribos%20Circunvizinhas.html GASPAR, PEDRO. In Canalverde.tv/arqueologia, Pedro Gaspar –ArqPi, Pesquisa de Sambaquis revela Pré-história do Maranhão in http://www.arqueologiapiaui.com.br/noticias/brasil/133-pesquisa-de-sambaquis-revela-pre-historia-do-maranhao; http://arqueologiadigital.com/profiles/blogs/pesquisa-arqueologica-de POMPEU SOBRINHO, Thomas. HISTÓRIA DO CEARÁ PRÉ-HISTÓRIA CEARENSE.Fortaleza: Editora Instituto do Ceará, 1955.
RAHME, Claudinha. Fenícios descobriram o Brasil antes de Cabral? IN Gazeta de Beirute, Edição 57, disponível em http://www.gazetadebeirute.com/2013/05/fenicios-descobriram-o-brasil-antes-de.htmlSchwennhagen, Ludovico. “São Luis na Antiguidade”.APacotilha, 4 de setembro de 1924.
MIRANDA, Evaristo Eduardo de. QUANDO O AMAZONAS CORRIA PARA O PACÍFICO. 2 Ed. Petrópolis: Vozes, 2007. SCHEWENNHAGEN, Ludwig . ANTIGA HISTÓRIA DO BRASIL DE 1.100 A.C a 1.500 D.C., apresentação de Moacir L. Lopes, 2ª edição: Rio de Janeiro. Livraria e Editora Cátedra. 1970.
STUDART FILHO, Carlos. O ANTIGO ESTADO DO MARANHÃO E SUAS CAPITANIAS FEUDAIS, Biblioteca da Cultura, série b – Estudos Pesquisas – vol. I. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1960.
VIEIRA, Antonio. Relação da missão da serra de Ibiapaba pelo padre Antonio Vieira da Companhia de Jesus, REVISTA DO INSTITUTO DO CEARÁ. Tomo XVIII (1904) VIEIRA, Antonio; Cópia de uma carta a El-rey sobre as Missões do Ceará, do Maranhão, do Pará e das Amazonas, REVISTA DO INSTITUTO DO CEARÁ, Tomo X (1896).
Mural da Academia Ludovicense de Letras - Jornal Pequeno
MEMÓRIAS
POR ROBERTO FRANKLIN - CADEIRA 40 ALL
Saudades de épocas vividas na minha São Luís, cidade em que nasci e morei, da Praça da Alegria, da Rua das Cajazeiras, da Praça João Lisboa, onde aos sábados junto com meu pai, tomávamos um refresco chamado PEGA-PINTO, que ardia tanto que chegava às lágrimas. Saudades das vesperais e matinais no Éden e Roxy, do Moto e Sampaio ao lado do meu pai no Santa Isabel nas tardes de domingo, quando assistíamos ao jogo e no intervalo comíamos um beiju envolto em folha de bananeira, recoberto de raspas de coco e tomávamos uma raspadinha também de coco.
Saudades do meu Dom Bosco, lugar que aprendi e que tive e tenho grandes amizades, onde sonhei, onde amadureci e conquistei o meu lugar, saudades dos amores que tive e que por eles vivi.
Saudades do cachorro-quente do companheiro, do lanche no abrigo, seu sanduíche de pernil após as festas de carnaval, do caldo de cana gelado com pão massa fina, saudades também do sorvete de ameixa do Hotel Central, dos lanches da Acácia e dos hambúrgueres da Ocapana.
Saudades da 28 de julho, lugar onde passei e deixei minha adolescência para viver uma vida adulta, das noites de namoro, das serenatas onde cantávamos o amor pelos amores, das boates da AABB, da Gênese, da URBV onde um dia vivi uma noite linda ao lado de você que nunca mais encontrei.
Saudade da Rua Treze de Maio 340, casa que morei com meus pais e irmãos, onde aos domingos nos reuníamos para o almoço e presenciar a bagunça de uma família homogênea e ao mesmo tempo tão heterogênea.
Saudades da minha infância e adolescência, onde pelas ruas da minha amada São Luís vivi momentos maravilhosos, saudades do banho no Jenipapeiro, da Rua Grande em épocas de Natal quando as famílias passeavam apreciando as vitrines das lojas, no lugar de se sentar à frente de uma televisão.
Saudades do meu primeiro amor conquistado nas festas de carnaval, vesperais do Lítero e dos bailes noturnos do Jaguarema, saudades das tardes de sábado onde íamos todos para paquerar e participar de jogos de futebol.
Saudades de um carnaval de rua, dos corsos e da casinha da roça, das batalhas de confete e serpentina, do rodó com sangue do diabo, do mela-mela das escolas de samba diferentes das escolas do Rio de Janeiro.
Saudades das mãos geladas de emoção, quando do primeiro beijo em sessões de cinema sentados lado a lado de mãos entrelaçadas e sem pronunciar sequer de uma palavra.
Saudades de uma época que me faz sentir saudades, dos meus pais e irmãos, dos amigos perdidos, de lugares desaparecidos dessa amada cidade de São Luís, razão do amor que tenho e que por eles vivo.
Saudade é a perfeita tradução de que um dia vivemos, sorrimos, sofremos e que com certeza essa época não voltará mais. Só sente saudade quando vivemos intensamente momentos, tempos em que as lágrimas cessaram e o sorriso prevaleceu.
Mural da Academia Ludovicense de Letras - Jornal Pequeno
IHGM – 160 ANOS? OU 99? O QUE SE ESTÁ COMEMORANDO?
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - Cadeira 40
Com a criação dos cursos de História, em nossas Instituições de Ensino Superior – IES – começam a aparecer estudos e pesquisas aprofundando nossos conhecimentos sobre o Maranhão. Da recente bibliografia aparecida, destaco “UMA ATHENAS EQUINOCIAL – a literatura e a fundação de um Maranhão no Império Brasileiro” de José Henrique de Paula Borralho, Edfunc 2010. As páginas 149 esse professor-doutor informa:
“Quando ainda morava em São Luis [o Visconde de Vieira da Silva] foi um dos fundadores do Partido Constitucional em 1863 (...) Foi nessa época que, juntamente com João da Matta de Moares Rego, César Augusto Marques, João Vito Vieira da Silva e Torquato Rego, fundou o primeiro Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e, em 1865, dessa vez ao lado de Sotero dos Reis, Francisco Vilhena, Heráclito Graça, Antonio Henriques Leal, Antonio Rego, reunidos no colégio de Humanidades, dirigido por Pedro Nunes Leal, discutiam a formação de agremiações literárias e o futuro da vida cultural da província (...)”. (grifamos).
Pois bem, escrevi ao Prof. Dr. Henrique Borralho, perguntando sobre essa informação: de onde a tirara? Se a fonte era confiável? Ao que me respondeu sim, a ambas as perguntas: a fonte seria Antonio Henriques Leal, na introdução do livro de Vieira da Silva sobre a Independência do Maranhão... Nada encontrei na edição que tenho.
Em resposta a novas inquietações, Dr. Henrique informa que em “Fidalgos e Barões”, de Milson Coutinho, também aparecia a afirmação:
“Vieira da Silva, ao regressar da Europa, encontro na terra natal a efervescência política e jornalística costumeira (...) parece ter dado conta de que a poesia não era seu forte, de modo que mergulhou no jornalismo (...). Em 1863 abriu cisão com seus antigos companheiros de credo político e fundou o Partido Constitucional, que tinha no jornal A Situação o órgão que defendia o programa desse novo grêmio político, integrado por Vieira da Silva, Silva Maia, José Barreto, Colares Moreira e outros mais. Foi por esse tempo que fundou o Instituto Histórico e Geográfico, instituição provincial que pretendia arregimentar a chamada classe literária, a exemplo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, cenáculo-maior das letras imperiais. Revela Dino (1974, p. 55) que o Instituto abrigou, inicialmente, nomes que futuramente ganhariam peso literário, dentre os quais João da Mata Moraes Rego, Cesar Marques, João Vito Vieira da Silva e Torquato Rego.
“Sem maior futuro, o primeiro IHGM naufragou. Em seu lugar nasceu a Academia de Letras do Maranhão, iniciativa de Vieira da Silva, que funcionava numa das salas do Instituto de Humanidades, de Pedro Nunes Leal. Também não foi à frente. (...)” (p. 429-430). (grifamos)
Encontramos, mais uma vez em Milson Coutinho (1986; 2007) mais informações sobre essa fundação, desta vez dando a data em que ocorreu:
"Com amigos literatos da época, Vieira da Silva fundou, em 28.7.1864, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, do qual fizeram parte, como sócios, entre outros luminares de nossas letras, João da Mata de Moraes Rego, Dr. César Marques, Dr. João Vito Vieira da Silva e Dr. Torquato Rego. “ Pertenceu, igualmente, à primeira Academia de Letras do Maranhão, fundada em 1865, em uma das salas do Instituto de Humanidades, colégio dirigido pelo Dr. Pedro Nunes Leal. Daquele silogeu foram sócios homens da estirpe cultural de Sotero dos Reis, Francisco Vilhena, Herácito Graça, Henriques Leal, Antonio Rego e outros" (COUTINHO, 1986: 52; 2007: 277).
Em “Fidalgos e Barões”, Milson Coutinho faz referência a Nicolau Dino, em biografia do Visconde de Vieira da Silva de onde teria obtido as informações sobre a fundação do IHGM naqueles idos de 1863:
"IX - NO SEIO DOS PRIMEIROS IMORTAID DA PROVINCIA "PRESIDENTE DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO - "em 28 de julho de 1864, Luiz Antonio Vieira da Silva era aclamado presidente do Instituto Histórico e Geográfico que se fundava naquele dia, em casa de Augusto Marques e com a colaboração deste, do Tenente Coronel Ferreira, Padre Dr.
Cunha, João da Mata, Dr. Cesar Marques, Dr. Tolentino Machado, Tenente Coronel João Vito, Dr. Torquato Rego, Pedro Guimarães e Frei Caetano. O Dr. Cesar Marques leu um discurso relativo ao ato e o Padre Dr. Cunha apresentou o projeto dos estatutos da nova associação". (p 55-56). (grifamos)
E em Nota de pé-de-página:
“(30) Augusto Cesar Marques - farmacêutico, irmão de Cesar Marques. Tenente Coronel de engenheiros - Fernando Luis Ferreira. Padre Dr. João Pedro da Cunha. João da Mata de Moraes Rego - escrivão, autor de crônicas sobre a imprensa do Maranhão muito apreciadas. Dr. João Vito Vieira da Silva, engenheiro militar. Frei Caetano de Santa Rita Serejo maranhense, Superior do Convento dos Carmelitas” (p. 56)
No Blog “Família Vieira” consta postagem em 1º de agosto de 2010 dados sobre os “VIEIRA DA SILVA E SOUSA –Maranhão” consta os VIEIRA DA SILVA, importante família do Maranhão, com ramificações no Ceará, à qual pertence o Brigadeiro Luiz Antônio Vieira da Silva, com carta de Brasão de Armas passada em 30 de julho de 1804 (Visconde de Sanches de Baena - Arquivo Heráldico Genealógico. Páginas 445, 446. No. 1761 - Lisboa. Typographia Universal, 1872), que deixou numerosa descendência do seu casamento em 1775, com Maria Clara de Souza. Entre os descendentes deste último casal:
I - O filho, Joaquim Vieira da Silva e Souza, nascido em 12 de janeiro de 1800, no Maranhão e falecido em 23 de Junho de 1864, São Luiz, Maranhão;
II - O filho, João Victor Vieira da Silva, Tenente-Coronel Graduado, em 1856. Engenheiro-Militar. Em 1857, servia na Província do Maranhão. Cavaleiro da Imperial Ordem de S. Bento de Aviz. Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa.
III - O neto, Dr. Luiz Antônio Vieira da Silva, nascido em 2 de outubro de 1828, em Fortaleza, Ceará e falecido em 3 de Novembro de 1889, no Rio de Janeiro, Doutor em Leis e Cânones pela Universidade de Heidelberg, no Grão-Ducado de Baden, Alemanha. Literato, dedicado aos estudos da História. Secretário do Governo do Maranhão de 1854 a 1858. Diretor da Repartição de Terras de 1859 a 1860. Procurador Fiscal da Tesouraria da Fazenda em 1859. Deputado Provincial pelo Maranhão de 1860 a 1861. Deputado à Assembléia Geral Legislativa, pelo Maranhão, em 3 Legislaturas, de 1861 a 1863, de 1867 a 1868 e de 1869 a 1871, Senador do Império, pelo Maranhão de 1871 a 1889. 1.º VicePresidente da Província do Maranhão em 1875, tendo exercido a Presidência de 17 de Janeiro a 02 de Fevereiro de 1876. Ministro da Marinha de 1888 a 1889 e Presidente da Província do Piauí de 1869 a 1870. Conselheiro de Estado. Conselheiro de Sua Majestade. Moço Fidalgo da Casa Imperial. Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa. Foi agraciado com o Título de Visconde com Honra de Grandeza de Vieira da Silva por Decreto de 05 de Janeiro de 1889. (...) Com geração do seu casamento com Maria Gertrudes da Mota de Azevedo Correia, nascida em 1836 e falecida em 6 de Novembro de 1911, no Rio de Janeiro, Viscondessa de Vieira da Silva, filha do Conselheiro Joaquim da Mota de Azevedo Correia e de Maria Getrudes de Azevedo Correia.
Destacamos do texto acima o que segue: Grão Mestre da Maçonaria. Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1863. Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa. Membro da Academia Real de Ciências de Lisboa. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco. (grifamos)
NINA RODRIGUES – CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA
ARQUIMEDES VIEGAS VALE
O médico RAYMUNDO NINA RODRIGUES, foi um dos grandes brasileiros da sua época, sendo até hoje um dos cientistas mais presente em estudos acadêmicos e ensaios críticos, pois dedicou-se à busca de benefícios ao ser humano, tanto no seu aspecto biológico como psicofisiológico. Sua vida e sua obra ultrapassam as fronteiras da sua época.
Nasceu no dia 4 de dezembro de 1862, em Vargem Grande, no Estado do Maranhão. Teve origem familiar com mescla genética europeia, filho do fazendeiro Coronel Francisco Solano Rodrigues e de Dona Luiza Rosa Nina Rodrigues, que nos seus domínios mantinham cerca de sessenta escravos. A sua mãe era descendente de uma das cinco famílias de judeus sefarditas que chegaram ao Maranhão fugidas das perseguições políticoreligiosas na Península Ibérica. Na infância foi cuidado por uma escrava, a Madrinha Mulata, que lhe transmitiu conhecimentos históricos sobre sua gente, os cativos trazidos da África.
NINA RODRIGUES foi o fundador da Antropologia brasileira, inclusive a criminal e o primeiro etnógrafo citado pela nossa história . Professor de Medicina, Médico Legista que sistematizou e introduziu a Medicina Legal na Universidade Brasileira e organizou a Perícia Médico-Legal no serviço público. Médico Psiquiatra com inestimável contribuição à Psicologia a o Direito.
Mudou-se para São Luís, capital do Estado, aos dez anos de idade e passou a estudar no Seminário das Mercês (neste local o Padre Jesuíta Antônio Vieira proferiu o Sermão de São Pedro Nolasco, em 1630), em cuja vizinhança havia um mercado de escravos, hoje o Museu do Negro, onde ele passava boa parte das suas folgas em observação ao comportamento dos negros. Entre 1879 e 1881 fez os exames de suficiência que lhe sinalizavam o fim do curso médio. Em fevereiro de 1882 embarcou para Salvador, capital do Estado da Bahia, onde recebeu atenção de um seu parente materno, o Tenente Médico do Exército Dr. Francisco Joaquim Ferreira Nina, que lhe ajudou a requerer, e conseguir, em 1882, matrícula na Faculdade de Medicina da Bahia.
Por questões de saúde, transferiu-se para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro onde fez o terceiro e o quarto anos. Voltou a Salvador para cursar o quinto ano, mas no ano seguinte, 1887, voltou para o Rio de Janeiro para fazer o sexto ano e formou-se médico com a tese “Das Amiotrofias de Origem Periférica” defendida em 10 de fevereiro de 1888.
Concluído o curso de medicina foi para São Luís, onde pretendia radicar-se e clinicar. Estabeleceu-se em um consultório num sobrado de azulejos na Rua do Sol, que hoje chama-se Rua Nina Rodrigues, nº17. Então instalado dedicou-se a estudar a hanseníase, que tinha uma prevalência considerável, pois já o fazia desde 1886, quando publicou, ainda como estudante, o trabalho “A morfeia em Anajatuba”. Passou, também, à análise do regime alimentar do maranhense, cuja base era a farinha de mandioca. Cite-se que havia também grande ocorrência de Beribéri.
Em suas publicações NINA RODRIGUES condena a agricultura de então, cultivando principalmente a mandioca, que não tem nutritivos suficientes para a manutenção da saúde e o vigor físico de seus habitantes e defende a sua mistura com um cereal mais rico como o trigo, e o cultivo de feijão, fava e milho. Essa sua postura provocou desconforto no ciclo produtivo e comercial da região, pois estavam vinculados a grandes interesses econômicos que o legaram ao desprezo e ao isolamento, além de o pressionarem a uma posição contrária. Mas, mantem a luta e justifica que “a Medicina não estaria na altura da sua missão e mentiria ao seu objetivo se se deixasse sucumbir”.
Alguns colegas temiam perda de clientes passaram então a hostilizá-lo e com a tentativa de diminuí-lo até a humilhação, apelidaram-no de Dr. Farinha Seca, em alusão à sua preocupação alimentar com a mandioca.
Foram quase dois anos em São Luís, vivendo as dificuldades de compreensão e a impossibilidade de pesquisar pela inexistência de uma consciência acadêmica na medicina local, então resolve voltar para Salvador onde fixa residência e se instala como Médico Clínico e inicia uma profícua carreira intelectual,
escrevendo, em 17 anos cerca de oitenta trabalhos científicos, entre livros e artigos, no Brasil e no exterior, sobre temas que abrangem diversas especialidades médicas, principalmente a Medicina Legal além de Antropologia, Direito, Psicologia e Sociologia.
Em 1889 assumiu a 2ª Cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Bahia e tornou-se Professor Adjunto . Em 1891 foi transferido para a Cadeira de Medicina Legal com Professor Substituto e em 1895 tornou-se Professor Titular.
Desenvolveu seus estudos em Fisiologia, Doenças Tropicais e em Medicina Legal que tinha como um dos seus suportes científicos a Antropologia Física da época. Vislumbrou na Medicina Legal uma ciência extensa e a sistematizou para ser uma especialidade médica. Preconizou as bases dos exames médicos periciais. Por tudo isto e muito mais na sua extensa folha de prestação de vida à ciência é considerado o pai da Medicina Legal no Brasil.
O grande interesse pela Antropologia e Etnografia levou-o ao pioneirismo dos estudos sobre os povos africanos e afro-brasileiros. Fazia as suas incursões inusitadas pelos templos de religiões de matriz africana como os de Candomblé, de Salvador, cujos terreiros costumava visitar indo a cavalo, à noite, lembrando-se que estes , geralmente, eram mantidos em locais de acesso difícil, para evitar perseguições, e invariavelmente mal iluminados. Mas, lá NINA RODRIGUES colhia a substância combustível da sua mente inquieta em busca do esclarecimento do diferencial no comportamento entre raças humanas.
Dentre os seus livros, nessa temática do negro, destacam-se pela profundidade da abordagem “O Animismo Fetichista dos Negros Bahianos” e “Os Africanos no Brasil”. O primeiro, publicado no Rio de Janeiro em 1896 e depois traduzido para o francês em 1900, é o livro fundador da etnografia do estudo das religiões afrobrasileiras cujo modelo de estudo foi estabelecido por NINA RODRIGUES, pai e fundador desta área, no Brasil. Animismo fetichista é a expressão, hoje preconceituosa, pela qual no século XIX eram conhecidas as religiões dos chamados povos primitivos.
O outro, “Os Africanos no Brasil” é um livro póstumo. Estava pronto para ser impresso, em 1906 quando NINA RODRIGUES faleceu. Este livro só foi publicado trinta anos depois.
Na sua observação dos cultos africanos e afro-brasileiros, detalha uma mistura de dogmas e rituais religiosos, inclusive muçulmano, criando uma manifestação própria recheada de possessões, danças, sons e movimentos incoerentes em um estado mental que transcende a consciência. Como médico, interpreta o transe como um desdobramento da personalidade ou como um delírio hipnótico. Fez experiências com o paciente hipnotizado, fazendo tratamento e cura em vez de feitiçaria. Com finalidades experimentais, hipnotiza, membros do Terreiro de Candomblé e reproduz, durante o transe hipnótico as atitudes físicas e mentais religiosas durante seus cultos. Também usou a hipnose para elucidação de crimes quando era psiquiatra da Penitenciária do Estado da Bahia, assentando-se como pioneiro e fundador da Hipnose Forense.
No pensamento ninarrodriguiano, há um tópico muito friável. É em relação às diferenças cognitivas entre as raças levando o negro à desvantagem, no contexto social da época. Porém, para entender o seu posicionamento considera-se sua situação de premido pelo conhecimento social e comportamento vigente à época, baseado nos extratos populacionais, desde a sua infância, o que formara na sua consciência uma programação nesse sentido, acompanhando um sistema coletivo de aquiescência e passividade. A estagnação intelectual do negro, pela sua situação de escravo, adviria da inatividade e inexistência de aprendizado. A população cativa vivia apenas para o trabalho e procriação, com a obrigação de produzir riquezas para os seus proprietários. Não havia o lúdico nem os exercícios da mente, sendo, então, impossível, fazer um julgamento da capacidade intelectual onde esse parâmetro era zero. Sabe-se que o aprendizado aprimora os sentidos e suporta o pensamento complexo. Então, numa situação após a abolição da escravatura no Brasil que durou quase 400 anos, em que o negro recém liberto estava jogado no mundo capitalista, sem qualquer política pública específica para abrangê-lo; disputando, sem condições, postos de trabalho com os imigrantes; mais propensos ao cometimento de delitos contra o patrimônio, precisava de amparo e proteção da lei no parâmetro que lhe fosse adequado, subtraindo as suas desvantagens. Então, NINA RODRIGUES adotou a teoria da mitigação da responsabilidade
penal para essa gente. Defendia a reforma do Direito Penal, posto que, esse ordenamento jurídico criminal não dava um tratamento diferenciado a crimes e penas em função dos fatores raciológicos. Argumentava que a pena deveria ser abrandada para a população racialmente inferior, negros, índios e, em grau menor, mestiços. Os fatores biológicos e mesológicos isentariam o indivíduo criminoso da acusação de dolo, porque ele não parecia ter a mesma consciência jurídica adquirida por quem pertencesse a povos mais evoluídos como os da civilização europeia. Por sua inquietude também sobre as ciências humanas dedicam-lhe o epíteto de maior pensador social do Brasil.
No início do século XX Nina Rodrigues vive a láurea da sua inteligência, quando no dia 5 de abril de 1906 a Congregação da sua Faculdade o escolhe para participar como delegado ao IV Congresso Internacional de Assistência Pública e Privada, que se realizaria em Milão, na Itália, entre 23 e 27 de maio daquele ano. Viajou para a Europa e chegou a Lisboa em 17 de maio. Chegou doente e enfraquecido pela viagem. Partiu para Paris onde morreu às 7 horas de 17 de julho de 1906 em seu quarto de hotel.
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
ACADEMIA BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES
ACADEMIA MARANHENSE DE MEDICINA
Silvio Max e a valorização da classe artística maranhense
*Antonio Noberto
O último adeus ao cantor maranhense Silvio Max, "L'Amour do Brasil", sepultado no dia 1⁰ de dezembro na sua cidade adotada Maracaçumé, me fez refletir sobre a condição dos artistas maranhenses. Silvio Max sempre foi um grande cantor, um artista popular de mão cheia, humilde e que arrastava multidões. Mesmo assim, não obstante ao grande talento, nunca foi visto pelos governantes e nem alcançado nacionalmente. Na verdade, quase nenhum artista maranhense teve apoio e incentivo público para explodir nacional. Entre os poucos que conseguiram destaque a cantora Alcione, ligada ao grupo Sarney, Zeca Balero e Flavia Bittencourt, que conseguiram "furar a bolha" e despontar para o Brasil. No mais, os grandes cachês vão sempre para os artistas de fora, enquanto a prata e o ouro da casa passam baixo e não recebem incentivos.
Vale lembrar a Bahia cultural, de Antônio Carlos Magalhães, catapultada por uma política forte, pródiga e generosa em divulgação dos talentos daquele estado. O resultado foi a transformação de uma Unidade Federativa em um verdadeiro país cultural. E o retorno ao governante que promoveu a transformação foi imenso, pois de tão poderoso, ACM transformou o presidente da República de plantão, FHC, em uma "Rainha da Inglaterra".
A partida de Silvio Max bem que poderia ser o começo de uma nova política de valorização dos artistas maranhenses, o que contribuiria para a valorização do estado e, quem sabe, poderia ser um primeiro passo da longa jornada que precisamos trilhar rumo ao crescimento e ao desenvolvimento. Uma coisa é certa, a geração de governantes que será o divisor de águas para o nosso estado precisará indubitavelmente investir nos maranhenses, sendo a valorização da classe artística um bom começo.
ADELINO FONTOURA CHAVES
Nasceu em 30 de março de 1855, em Axixá, e faleceu a 02 de maio de 1884, em Lisboa. Era poeta e militante na imprensa carioca nos jornais Folha Nova, Gazetinha, O Combate e Gazeta da tarde, sendo depois correspondente deste último vespertino em Paris. Iniciando a vida como caixeiro e soldado da polícia, conseguiu destaque na literatura e foi escolhido patrono da cadeira no. 1 dos sócios efetivos da Academia Brasileira de Letras, fundada por Luis Murat, e da de no. 38 da Academia Maranhense de Letras, fundada por Franklin de Oliveira. Suas produções poéticas, que nunca enfeixou em livro, acham-se reunidas nos números 93 e 117 da Revista da Academia Brasileira (CARDOSO, 2001)
Fontoura era filho de Antônio Fontoura Chaves e de Francisca Dias Fontoura. É tio-avô do padre, poeta e escritor Fontoura Chaves. Ainda muito pequeno começa a trabalhar e trava contato com Artur de Azevedo –amizade que perduraria.
Mudando-se para o Recife, onde se alista no Exército, colaborando numa publicação chamada “Os Xênios”, de teor satírico. Inicia, também a carreira de ator, voltando ao Maranhão natal para uma apresentação – cujo papel rendeu-lhe a prisão. Após este fato, decide mudar-se para o Rio de Janeiro, para onde se mudara o amigo Artur de Azevedo, anos antes. Pretendia seguir carreira teatral e no jornalismo, falhando na primeira. Colaborou nos periódicos “Folha Nova”e “OCombate”,deLopes Trovão e em “AGazetinha”,onde Azevedo escrevia (1880).
Em 1882, Artur Azevedo fundou o jornal A Gazetinha e chamou o amigo para ser redator. A Gazetinha durou pouco tempo (de 1º de janeiro a 20 de agosto), mas lá Adelino publicou várias poesias e trabalhos em prosa. Pouco antes, Ferreira de Menezes funda o jornal Gazeta da Tarde, cuja propriedade e redação era de José do Patrocínio. Adelino para este jornal foi convidado por José do Patrocínio e nele também publicou numerosos trabalhos de prosa. Informa Múcio Leão que a Gazeta da Tarde "foi um dos jornais mais azarentos que tem havido o mundo." Começou esplendidamente, e tinha como seus diretores e principais redatores Ferreira de Menezes, AugustoRibeiro,HugoLeal,JoãodeAlmeidaeAdelinoFontoura.Trêsanosdepois,nenhumdesses rapazes existia mais.
Adelino Fontoura viveu nessa fase de sua vida uma paixão não correspondida e, mesmo com a saúde precária, ao ser convidado para representar a Gazeta da Tarde na Europa, decidiu viajar. No dia 1º de maio de 1883 partiu no navio Senegal, para Paris. Lá esperava encontrar melhoras para a saúde, mas deparou-se com insuportável inverno. Viajou para Lisboa, para onde seguiu José do Patrocínio, na esperança de convencê-lo a embarcar de volta para o Brasil. Seu estado de saúde era crítico e, por isso, foi internado no Real Hospital São José, onde veio a falecer aos 25 anos de idade, justamente quando poderia produzir toda uma obra poética de mérito literário. Foi sepultado no Cemitério Oriental de Lisboa.
Ao fundar-se a Academia, em 1897, seu amigo Luís Murat escolheu-o como patrono da cadeira por ele criada. É o único caso de um patrono, na Academia, sem livro publicado. Em vida, ou não atribuíra muita importância a seus trabalhos para reuni-los em livro, ou confiara em não morrer tão cedo. Após a morte, várias tentativas foram feitas para reunir a obra dispersa do poeta.
Ao tomar posse na Academia a 29 de agosto de 2003, Ana Maria Machado retratou o desconhecimento que cerca a obra desse poeta, mesmo entre os eruditos:
“Mas como? Não foi Machado de Assis seu primeiro ocupante? Então ele era o patrono? Não. O patrono, escolhido por Murat, foi Adelino Fontoura. Quem? Pois é... Não encontrei quem, ao ouvir essa correção, identificasse o nome. De minha parte, confesso que também mal havia ouvido falar nele, vaga lembrança de algum poema numa antologia. Pois descobri coisas interessantes na magnífica biblioteca desta nossa Academia, aliás aberta ao público para ser utilizada e fruída.”
Sua obra, esparsa, constitui-se em cerca de 40 poesias, reunidas pela primeira vez na Revista da Academia (números 93 e 117). Foi depois reunida em 1943 e em 1955, por Múcio Leão. Fontoura não figura na quase totalidade das antologias e históricos da Poesia brasileira - nem a obra "Apresentação da Poesia Brasileira", de outro Acadêmico, Manuel Bandeira, faz-lhe referência. Seu soneto mais conhecido é "Celeste":
CELESTE / (domínio público) / É tão divina a angélica aparência / e a graça que ilumina o rosto dela, / que eu concebera o tipo de inocência / nessa criança imaculada e bela. / Peregrina do céu, pálida estrela, / exilada na etérea transparência, / sua origem não pode ser aquela / da nossa triste e mísera existência. / Tem a celeste e ingênua formosura / e a luminosa auréola sacrossanta / de uma visão do céu, cândida e pura / E quando os olhos para o céu levanta, / inundados de mística doçura, / nem parece mulher - parece santa. /
Sobre a escolha de Fontoura para o patronato no silogeu por Murat, registrou Afrânio Peixoto: "Novidade de nossa academia foi, em falta de antecedentes, criarem-nos, espiritualmente, nos patronos. Machado de Assis, o primeiro da companhia, por vários títulos, quis dar a José de Alencar a primazia que tem, e deve ter, na literatura nacional. A justiça não guiou a vários dos seus companheiros. Luís Murat, por sentimento exclusivamente, entendeu honrar um amigo morto, infeliz poeta, menos poeta que infeliz, Adelino Fontoura."
Bibliografia - FOUTOURA, Adelino, 1859-1884. Dispersos. Rio de Janeiro (RJ): Academia Brasileira de Letras, 1955. 284 p., il., 21 cm. (Afrânio Peixoto; v. 4. IV - Inédita).[ A Revista da Academia (n. 93 e n. 117) publicou quase todas as suas poesias conhecidas. No suplemento Autores e Livros, em 17 de outubro de 1943 (vol. 5o, n. 13), Múcio Leão apresentou em conjunto a obra do malogrado escritor. Conseguiu reunir perto de quarenta poesias, às quais juntou alguns trabalhos de prosa.
Caro Leopoldo, Adelino Fontoura é um poeta que realmente precisa ser resgatado. A indicação para ser o patrono da cadeira 01 da ABL, que deveria servir como orgulho para o povo maranhense, serve mais como motivo de gracejo do que de desejo de conhecer a vida e a obra desse rapaz que viveu pouco, mas que deixou suas marcas em nossas letras.
Lembro-me que, há um dez anos, juntamente com duas alunas, fiz um estudo sobre ele e resgatei parte de sua produção em verso. O único aceno que tive ao publicar o livro e depois um artigo na Revista Conhecimento Prático foi do Jomar Moraes, que nos parabenizou pela empreitada. O livro está por aí na internet e o artigo jogado nas páginas do esquecimento. José Neres
LÚDICO, JOGO E ESPORTE
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Dentre as atividades de lazer encontradas em nosso meio sociocultural, temos o jogo e o esporte não profissional, havendo dificuldades em diferenciar a atividade lúdica ou jogo, de um esporte: “Partir da premissa de que jogo e esporte são similares, é colocar este último fenômeno dentro de certas restrições pré-determinadas como imposição de regras, modelos, busca de rendimento, recordes, medalhas, juízes, etc., que se por um lado caracterizam o esporte, acabam descaracterizando a atividade lúdica que apresenta componentes como a espontaneidade, a flexibilidade, o descompromisso, a criatividade, a fantasia, a expressividade, etc., com características culturais próprias. A preferência no uso intermitente do termo “atividade lúdica” é justamente para se tentar fugir da confusão estabelecida entre jogo e esporte, cujo primeiro acaba recebendo uma conotação distorcida e incorporando aspectos do esporte, se bem que a palavra jogo pareça estar mais relacionada à ação e atividade lúdica a um ‘espírito’, com um sentido mais geral.
O entendimento do jogo, e do lúdico, são essenciais para a compreensão da separação da educação física do esporte. É preciso primeiro resgatar seu significado histórico, uma vez que o movimento do homem não admite separação em essência. À medida que a cultura humana foi evoluindo, o elemento lúdico foi gradualmente passando para o plano secundário, sendo absorvido pela esfera do sagrado. Essa secundarização do elemento lúdico torna-se mais clara quando se observa que tal como todas as outras formas de jogo, a competição é geralmente desprovida de objetivo. Quer isto dizer que a ação começa e termina em si.
O lúdico aproxima-se da teoria do jogo, de “paedeia” - em um extremo -, correspondendo à improvisação livre ou fantasias sem controle; no outro extremo, tem-se o “ludus”, com regras, necessidades de maior esforço, desempenho, etc., percebendo-se uma relação permanente entre dois polos, o da lei e o da
invenção. Portanto, a recreação (ou atividade de lazer) trabalhada pela educação física aproxima-se do lúdico, como está aqui sendo tratado.
O jogo aparece como um dos componentes pertinentes a essa área específica, pois incorpora, pelo próprio conceito, o lúdico, pois é uma atividade livre (diversão sem caráter de obrigatoriedade), delimitada (espaço e tempo previamente estabelecidos), incerta (sem previsão de resultados), improdutiva (não mantém vínculo com a sociedade de consumo), regulamentada (submissão a regras), fictícia (fundamentada num contexto de irrealidade perante a vida).
Na distinção entre jogo e esporte, o fator tempo entra como determinante, pois o divertimento acaba desaparecendo quando cada minuto é considerado.
Alguns autores consideram difícil precisar quando e como os exercícios corporais utilizados sobre as formas de jogos (tradicionais, populares ou religiosos) tomaram a forma de exercícios corporais de elite (entendidos como esportes). Essa passagem designa um fato novo, identificado como um processo complexo diretamente ligado à utilização do tempo. Até aproximadamente 1650, particularmente na cultural ocidental, a forma de se compreender o tempo estava diretamente ligada aos fenômenos da natureza, o tempo chamado natural determinava o ritmo de vida das pessoas. Nesta sociedade, os exercícios corporais eram utilizados normalmente em ocasiões especiais, com a finalidade de celebrar acontecimentos ou simplesmente lazer. “A partir da metade do século XVII a forma de se compreender o tempo, sofre transformações, o tempo dito natural, gradativamente vai deixando de determinar o ritmo de vida das pessoas, em função de um ritmo autômato, determinado pelo relógio. A mudança do tempo social começa a produzir alterações, significativas na sociedade da época, a principal delas foi a mudança na disciplina do trabalho.
O termo esporte, em seu significado primitivo utilizado no século XIII tanto na França (desport) como na Itália (disporto), e posteriormente (1440) na Inglaterra sob a denominação de “sport”, era empregado para atividades que tinham como característica um sentido de entretenimento, prazer, divertimento (em inglês, amusement, recreation, diversion, pastimes). Na Inglaterra “sport” referia-se, no início de seu uso, ao esporte feudal, o que o diferenciava dos exercícios populares que eram chamados “games” (jogos); esta diferenciação permite que se pense que esporte era essencialmente uma ocupação de tempo livre dos bens aquinhoados. De qualquer forma, o esporte estava relacionado, de certa maneira, com a ocupação lúdica do tempo.
A separação entre jogo e esporte, ocorreu no século XVIII, quando os jogos de bola de equipes numerosas passaram a exigir equipes permanentes. A sistematização, a regulamentação cada vez maior dos esportes, implica na perda de sua característica lúdica mais pura. O movimento humano, sob a forma de jogo, ou esporte sempre estiveram atreladas as formas de relações estabelecidas entre os homens em cada época. Assim como o início da troca de mercadorias significou o fim das comunidades primitivas, a sistematização e a manutenção de equipes, significou o nascimento dos Esportes e o fim do jogo e diminuição cada vez maior do lúdico.
No final do século XIX, o esporte foi formalizado na Inglaterra, que lhe ofereceu o modelo e o vocabulário. No primeiro período de sua existência, os objetivos aos quais o esporte serviu, mostram uma relação profunda com os interesses burgueses que se destacavam por toda a sociedade: “A prática dos esportes foi associada à classe média e à burguesia, que o elegeu como um dos critérios para a distinção de seus membros. Parece indiscutível que a passagem do jogo ao esporte propriamente dito tenha se realizado nas grandes escolas reservadas às elites da sociedade burguesa, nas public Schools inglesas, onde os filhos das famílias da aristocracia ou da grande burguesia retomaram alguns jogos populares, isto é, vulgares, impondo-lhes mudanças de significado e função
Ao se diferenciar o esporte do jogo, diferenciava-se também quem praticava um e outro, bem como seus objetivos sociais. Por exemplo, no período greco-romano, o acesso ao esporte era privilégio de uma minoria, e o que dominava era o culto a força, a virilidade, a ponto de identificarem os campeões aos deuses do Olimpo.
Dando um salto na história, percebe-se que, no período colonial brasileiro, a ginástica era privilégio da classe dominante. O direito ao ócio, ao cultivo do corpo era não extensivo aos escravos e aos párias sociais. A medida em que o modelo econômico foi modificando face as lutas e pressões da sociedade, a forma de tratar o esporte e a educação física, por parte da classe dirigente, também foi modificando-se substancialmente.
Se no período colonial eles eram vistos com certas restrições por parte da elite dominante, na década de 1930, foram objeto de grande valia às pretensões nacionalistas do governo Vargas e dos higienistas da época. Se até a extinção da escravatura negra no Brasil no findar do século XIX, a Educação Física e os Esportes eram privilégio da elite dominante que tinha acesso à educação escolar, funcionando esta como já afirmamos, como complemento à educação intelectual, por outro, com o ‘fim teórico’ do ideário escravocrata em 1888, e o consequente início do processo de industrialização a partir de 1930 da economia nacional, bem como a colocação prática do ideário liberal burguês, que defendia o acesso à educação para todos, estes elementos passam então a assumir papel principal na construção dos novos corpos para esta nova relação entre os homens.
Jogo, de acordo com o dicionário, pode significar festa, brinquedo, brincadeira, exercício, trocadilho, estratégia ou plano. Como pode ter o sentido de ocultamento de intenções ou expressão simbólica, manha ou resistência. Esse jogo de palavras tanto pode centrar-se nos interesses dos jogadores do jogo autêntico, como pode servir aos interesses de quem está fora dele. Nesse caso, o jogo passa a ser um jogo manobrado, servindo não ao lúdico, mas aos objetivos moralistas, utilitários ou político-partidários extremistas. Surge daí outra questão: como se caracteriza o jogo lúdico ?
O jogo lúdico expressa a vivência cultural em que as atitudes dos jogadores demonstram a possibilidade de conquista da liberdade, revelando o sentido da gratuidade e de prazer pela vivência de conteúdos culturais no tempo e lugar de posse dos jogadores.
Procurando, identificar as características básicas da “lógica” lúdica, Huizinga, em seu Homo Ludens, delimita o universo lúdico em alguns pontos básicos, considerando a maneira pelas quais suas características principais se manifestam. A vivência lúdica leva o participante: a) à experiência da liberdade e da gratuidade; b) à construção de uma vivência num espaço e tempo próprio exterior a vida real; c) ao desenvolvimento total e intenso desta atividade; d) à prática da construção da ordem e regras próprias; e) à oportunidade para a formação e convivência com grupos sociais.
As possibilidades de criar e recriar cultura no jogo lúdico permitem a vivência de valores externos a ele. De forma crítica e criativa, o jogo lúdico reproduz papéis sociais vividos no mundo exterior, denunciando, assim, a realidade, da mesma forma que a alimenta. Entendido dessa forma, o jogo lúdico é uma vivência revolucionária.
Falando-se sobre esporte e o tempo livre, considera-se que ambos são fenômenos ou formas de manifestação de nossa vida cotidiana sobre as quais se discute muito, mas que são mal interpretados. Para esclarecer a relação entre o esporte e o tempo livre, analisa-se o que entendemos por esporte: "a palavra provém do verbo latino 'deportare', distrair-se, e logo se substantivou em francês e inglês na forma 'desport' ou 'sport', o que significa diversão"
Apoiando-se neste conceito, o lúdico aparece como sua característica básica, visto que: O termo tinha, então, a conotação de prazer, divertimento, descanso. E, apesar das diversas nuances que o esporte assumiu ao longo de nosso século, as pessoas continuam fieis ao seu sentido original, na medida em que o esporte será sempre um jogo, antes de mais nada.
Difundiu-se, então, o termo "esporte" com o significado de "qualquer modalidade de exercício físico. Hoje, compreendemos por esporte, em geral, uma " atividade motriz espontânea originada em um impulso lúdico, que aspira a um rendimento mensurável, e a uma competição normalizada". Sob o ponto de vista sociológico, pose-se afirmar que o esporte se organiza:
1. Informalmente, como esporte de tempo livre;
2. Formalmente, como esporte de competição;
3. Institucionalmente, como parte de outras instituições sociais cujos valores modificam sua orientação (educação física, esportes escolar, ou militar).
Sob o ponto de vista psicológico, faz referência - após analisar o conceito de Dumazedier -, à função do "desenvolvimento da personalidade" como a que deverá ocupar um papel preponderante na utilização do lazer nas aulas de Educação Física, revertendo as funções de descanso e divertimento "de seu papel educativo-consciente" onde espera, dessa forma, , que "o lazer possa se transformar em aprendizagem voluntária e prática de uma conduta criadora, em se tratando de execução de atividade física".
A palavra esporte será estendida a todas as manifestações praticadas com o espírito lúdico, pois o esporte é uma criação cultural.
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Fiz um comentário no sitio da ONG-CEV – www.cev.org.br -, que acompanho desde seu inicio nos 1980, quando foi pensado pelo Prof. Dr. Laércio Elias Pereira quando ainda estava professor na UFMA. O comentário foi em razão da saída de um dos mais antigos colaboradores, o Carlex: Carlos Alex Soares, lá do RS, tocador do CEV-Basquete... Carlex comunica ao Laércio que está deixando as comunidades do CEV. Ao que escrevi:
O que representa, o CEV, hoje? ou, a quem representa? As manifestações, quando acontecem, são de uns poucos, em especial, aqueles que se engajaram desde o início, ainda lá nos anos 1980... havia uma crise na Educação Física, em especial, de identidade... Educação Física? Motricidade Humana? Ciências do Esporte? o que éramos? o que queríamos ser, quando crescesse... os cursos de pós-graduação começavam a pipocar, cada um com sua orientação, sem se conversarem...
Era o início da era da informatização... a Internet era uma novidade, e a comunicação era aquela pedestre, ainda - Correios... o que mudou? nós mudamos? depois de bater cabeça tantos anos ... nós quem mudamos? a grande maioria encontra-se aposentada, já fora do mundo acadêmico, da responsabilidade de formar as novas gerações... a Educação Física passou por um processo, deixando de ser um curso de formação de professores, e veio a graduação, o bacharelato, com a formação do profissional... mas de que? continuamos sem uma identidade... as brechas na legalização (?) da profissão, com a exigência de formação específica, e o consequente afastamento dos leigos, aprofundou, ainda mais, as diferenças, e as crises de identidade.
Afinal, qual é a nossa função? qual o sentido, de nossa militância? em que campos podemos e devemos atuar? os Fisioterapeutas estão aí, ocupando muitos espaços... os nossos antigos espaços... a graduação em lazer e recreação, tomou outro de nossos espaços... cada vez mais a pulverização, especificidade - lembra o ortopedista que consultei esta semana, ele é especialista em membros inferiores, dedão do pé direito; meu problema era no ombro e quadril, não era com ele... que procurasse outro e me indicou três profissionais, um, para o ombro direito, outro para o esquerdo, e o terceiro, para a coluna... - chegamos à esse ponto? ou chegaremos em breve? que maldita crise é essa...
Antes, pertencíamos à área médica, agora, à área social... antropologia, sociologia, pedagogia, quantas outras 'gias' mais? Ciências dos Esportes? lembro que começamos com algumas poucas, hoje, já somam mais de 90... lembro quando Litto trouxe a novidade das inteligências múltiplas... era 1994... eram cinco... hoje, já passam de 50... pergunto, pois... com a desistência, afastamento dos pioneiros, ainda tem sentido? noto que ninguém mais lê, estuda... e só as panelinhas das universidades funcionam: voce me cita que eu te cito... vive-se de citações, esta a situação... CEV para quê?
Darwin, sócio-atleta da comunidade de Atletismo, submeteu o texto à apreciação da nova Cominidade - a de IA!!! E a análise feita pela IA sobre meu comentário, foi essa:
O texto reflete uma análise crítica e reflexiva sobre a trajetória histórica e os desafios contemporâneos enfrentados pela Educação Física e, em particular, pelo Centro Esportivo Virtual (CEV). É evidente que o autor, ao questionar a relevância e representatividade do CEV, busca problematizar questões estruturais, epistemológicas e identitárias que envolvem a área da Educação Física, considerando os impactos de transformações ocorridas ao longo das décadas. Abaixo, destaco os principais pontos de análise:
1. Crise de Identidade da Educação Física
O texto remonta à década de 1980, quando a Educação Física vivenciava uma crise de identidade. A multiplicidade de denominações como “Motricidade Humana” e “Ciências do Esporte” revela a busca por legitimidade e reconhecimento no campo acadêmico e profissional. Essa crise é contextualizada no início da era da informatização, que, embora tenha ampliado os horizontes da comunicação, também fragmentou os discursos e práticas da área.
A criação de cursos de bacharelado e a separação da formação de professores acentuaram essa falta de identidade. Essafragmentaçãoécomparadacom aespecialização extremaem outras áreas, como na Medicina, destacando o risco de pulverização e perda de uma visão holística da atuação do profissional de Educação Física.
2. Transformações na Profissão
O autor aponta para uma transição significativa na profissão, marcada pela regulamentação e a exigência de formação específica. Embora isso tenha afastado os leigos, também aprofundou as diferenças internas na área, evidenciando uma fragmentação de interesses e campos de atuação. A entrada de outras profissões, como a Fisioterapia, em espaços antes ocupados pela Educação Física, é mencionada como um desafio à identidade e relevância da área.
3. Relevância Acadêmica e Científica
Uma crítica contundente é direcionada ao campo acadêmico, especialmente à prática de “citações de panelinhas”, onde o mérito científico é substituído por relações de troca entre pesquisadores. Essa prática sugere um distanciamento do propósito original do CEV como espaço de troca de conhecimento genuíno e plural, reforçando a percepção de estagnação e perda de sentido.
4. O Papel do CEV
O questionamento sobre a relevância atual do CEV está intrinsecamente ligado à mudança de perfil dos seus participantes. Os “pioneiros”, que eram responsáveis pela inovação e reflexão crítica na área, já se afastaram ou aposentaram. Isso, combinado com a falta de engajamento e leitura por parte das novas gerações, coloca em xeque a utilidade e o futuro do CEV enquanto espaço de diálogo e construção coletiva.
5. Perspectiva Crítica
O texto não apenas relata a crise da Educação Física e do CEV, mas também reflete uma visão pessimista sobre o futuro. A especialização excessiva, a fragmentação do campo, a perda de espaços para outras profissões e o afastamento de seus membros mais críticos são apresentados como sintomas de uma crise mais profunda de propósito e relevância.
6. Questões Centrais e Provocações
• “CEV para quê?”: Essa pergunta reflete o cerne do texto, provocando uma reflexão coletiva sobre a necessidade de ressignificar o espaço do CEV.
• “Qual é a nossa função?”: A dúvida sobre o papel da Educação Física no contexto contemporâneo aponta para a urgência de redefinir objetivos e áreas de atuação.
• “Nós mudamos ou apenas nos fragmentamos?”: Essa provocação sugere que, apesar das transformações, a área não conseguiu consolidar uma identidade forte e coesa.
Considerações Finais
O texto é uma crítica contundente e nostálgica que reflete a desilusão com os rumos da Educação Física e do CEV. No entanto, também oferece uma oportunidade para reavaliar as práticas acadêmicas, repensar as prioridades profissionais e reconstruir a identidade coletiva da área. O desafio reside em transformar a fragmentação eespecialização em forças complementares, capazes deampliararelevânciada Educação Física e do CEV em um contexto interdisciplinar.
Escrevi ideias germinais(ixi!)
Editor: ANTONIO AÍLTON
SILVANA MENESES
“Escrever é o meu voo interno”
1. Paulo Rodrigues – Poeta Silvana Meneses, fale um pouco sobre a sua carreira literária. Silvana Meneses – Desde que me dei conta da minha existência gonçalvina, parida em um balaio cheia de dias passarinhos, já na adolescência, em que meus olhos, ainda são poços desol de pai, em que por eleinventei o mundo, e acendeu o cheiro da poesia, em que o alinhavo de muitas sílabas já me cortavam a carne num chamamento para o esplendor da composição das coisas, para o brilho dos fios da caligrafia, rascunhos de um pedaço do mundo, e até hoje, continuo na saga de catar e moer palavras, essas marginais que amparam o sol para cair na minha mão, as com curvas, com meandros, de rio, as que são salto no escuro, risco, salvação, o silêncio de Deus para parir a vida cotidianamente, “ávida/dívida/de vida”.
O incentivo veio também do meu irmão poeta Renato Meneses, que já estava nessa parceria entre vida e poesia, a garimpar a palavra, nela me achar como metal puro, brilhante, que na bigorna se molda, fundindose em poesia, “a palavra é lápis/lápide/lapidação”.
Em 1988 publiquei meu primeiro livro, Embarcação, e o mais recente, em 2023, Haicais – Bashô me basta 2. Paulo Rodrigues – Como você conciliou a carreira entre a professora universitária e a poeta Silvana Meneses?
Silvana Meneses – Arte e ciência pertencem à mesma busca imaginativa humana, embora ligadas a domínios diferentes de conhecimento e valor, mas que estabelecem um diálogo entre verso e universo, “apenas verso/se vira universo/controvérsia”. Foi uma caminhada em conjunto, à proporção que me afirmava e amadurecia como professora, também como poeta. Os conhecimentos que chegavam não foram só científicos, mas nos âmbitos pessoal, afetivo e poético. Ser professora e poeta me permite ressignificar a realidade e me refinar como pessoa na mais bela de todas as aventuras, a vida. Encontrei poesia nesse contexto durante os meus 33 anos de docência universitária, e, em 2014, publiquei o livro Reação, fruto da minha vivência e experiência profissional, em que é uma mistura da minha profissão de química com a poesia, “na química me encontrei/na poesia me dissolvi/em tanta reação aconteci”, “eu e a poesia/sólida liga de palavras/que se con/fundem”.
3. Paulo Rodrigues – Poeta, você poderia comentar sobre os livros e os autores que influenciaram a sua poesia?
Silvana Meneses – Os autores que mais me identifico são Adélia Prado, Hilda Hilst, Laura Amélia, Lúcia Santos, Elisa Lucinda, Viviane Mosé, Alice Ruiz, Leminski, Manoel de Barros, José Chagas, Mário Quintana,
Celso Borges, Bashô, Salgado Maranhão, Cecília Meireles, Sophia de Mello, todos esses de uma forma ou de outra me alimentam poética e espiritualmente, despertam e expandem a minha consciência porque trazem no seu fazer poético versos fortes, paixão voraz pela vida, espiritualidade, questionamento sobre a existência, tratam da condição da mulher, da simplicidade, da transformação do cotidiano, da irreverência, humor, natureza, desconstrução da linguagem, em que algumas dessas características fazem parte da minha poesia, em que venho aprendendo a atravessar as dores, mas também, ser “um copo de mar/ser sol e maresia/em demasia”, “ser/ser a palavra livre/livre arbítrio/eu e deus no abismo”.
4. Paulo Rodrigues – Como surgiu sua relação com os haicais? O livro Haicais lançado em 2023 foi bem recepcionado. Como você o avalia?
Silvana Meneses – A minha interação com os poemas curtos começou lendo Laura Amélia, a quem admiro por demais, a sua poesia, surgindo interesse em ler autores haicaístas, onde me encontrei e me encantei por essa forma poética singularmente japonesa, repleta de subjetivismo com rica mensagem e reflexão, “falo daquela/folha caída que me/acolheu no chão”. Essa busca do instante poético que Bashô transformou em exercício espiritual, mododevida e arte, venho buscandoestasimplicidade edespojamento noque eu escrevo, porque é de uma grandeza imensurável quando se consegue dizer muito com tão pouco, como também enxergar a capacidade da poesia de constituir sentido ao mundo, “se a vida/for do outro lado/o que faço aqui?” E hoje, considero como minha identidade literária esta concisão e simplicidade presentes no haicai.
Em 2023, publiquei o livro Coletânea de haicais – Bashô me basta, com 276 poeminhas, um sonho realizado, e as pessoas que o leram, delas tenho recebido um retorno positivo, o que me incentiva a ler e estudar mais sobre esta forma poética, “na luz do haicai/meus olhos vaga-lumes/piscam o poema”.
5. Paulo Rodrigues – Silvana, você diz em um poema: “as cinzas ainda/ mornas deste poema/meu calor o aquece”. A vida dialoga com a poesia?
Silvana Meneses – Sim, acredito no poder da linguagem, um poema não é só questão de estrutura, estética, mas principalmente da experiência de vida do autor e da extensão do seu olhar, e isso se traduz num mundo depossibilidadeserealidades,“escrevo/porqueestoupertodo fogo/quemecuraeflora”.Paramim,aliteratura tem função rica e humanizadora. Eu concordo com Mia Couto quando ele diz que “não há outra maneira de reconquistar um sentido de felicidade que não seja pelo caminho de nos restituir um olhar poético que é humanizador e compreende a condição humana”, às vezes, basta esse olhar poético para nos tornar mais compreensivos e tolerantes, “e os olhos/iluminaram a vida/uma estrela”, “meus olhos cegos/no acendimento/do mundo”. A poesia também é esperança no conceito do educador Paulo Freire, de esperançar, ou seja, maneiras de ser, estar e agir no mundo, “o mundo/besuntado de esperança/tem outra tessitura/a fúria da beleza”.
A poesia não tem limites, tem mais de um horizonte, e é um dos modos de ver e questionar o mundo.
6. Paulo Rodrigues – Quais são os novos projetos literários da poeta Silvana Meneses?
Silvana Meneses – Para 2025, tenho dois projetos encaminhados, um, com uma poeta que admiro muito, a Anna Liz, de Santa Luzia, um livro em parceria, um diálogo entre nossos poeminhas, e o outro, é com o cantor e compositor Sérgio Habibe, que me deu a grande satisfação de musicar alguns dos meus poemas e que logo mais estarão disponíveis nas plataformas de músicas, e, também, continuar fazendo minhas performances poéticas prestigiando autores que eu gosto muito.
7. Paulo Rodrigues – Como funciona o processo criativo da poeta Silvana Meneses? Escreve com frequência? Ou precisa ser provocada?
Silvana Meneses – Escrever é o meu voo interno, faz parte do meu autoconhecimento, “viver/ver-me/nu verso”, esse é o verdadeiro sentimento, “me ser visível/nessa noite mirante/de olhos arregalados/que parecem candeeiro/depois dopôrdosol”. Emboraexistam períodos em quemeencontro,“mais secaqueodeserto/nem a areia me arranha/com suas mãos de poeta”.
Mas também entendo esses momentos e os respeito, no entanto, também chega a necessidade de provocar o olhar poético para sentir o que o sol da palavra e eu temos para nos dizer, “palavra não dita/lateja como ferida/inflama a dor”, leio, observo a natureza, “chove/as horas gotejam/impaciência”, ouço o silêncio, “só lembro do silêncio/e da sua lucidez/mas não enlouqueci”. Este olhar vem também da dureza e beleza do cotidiano “tecer a vida/é tarefa das mais caras/mais cara que o diamante”, que a duras pena, ou não, vamos
nos reelaborando “não é deserto/entre as folhas secas/poema pétala”, da minha percepção de mundo “trago os mesmos olhos/do nascer do dia/cheios de susto e vazio”.
Escrever é de uma responsabilidade muito grande, requer honestidade, estudo, cuidado. O poeta Torquato disse, “toda palavra guarda uma cilada”, e eu digo, “escrever é sangrar/é consagrar no real/toda dor de ser”.
8. Paulo Rodrigues – Deixe uma mensagem para os nossos leitores.
Silvana Meneses – Um poeminha que diz, “a vida é luz/mas às vezes brinca-se/de cabra cega”, então é imprescindível esta vigília sobre o nosso olhar, “cai uma estrela/na boca da noite/vaga-lumes no ar”, “instante, relâmpago/existem num piscar de olhos/a vida também”.
Como disse tão bem Antônio Cícero, “guardar uma coisa é iluminá-la ou estar por ela iluminada”. Guardemos nossa vida e nossa poesia.
Poemas
migrou para o meu olhar toda poesia que há procuro o som arrebata(dor).
o amor me perdeu de vista meu olho tende a vagar nessa falta de vida.
mesmo quando a última pétala cair ainda assim abrirei mão do martelo.
já estava esquecendo a vida a vida toda já se passou mas sigo com brilho nos olhos.
lavrador da palavra cava o poema o fundo da vida.
arrematei a vida mas é cartão postal ledo engano, quem sabe no próximo ano.
dias outonais de intenso calor a vida morna.
minha solidão tem asas, mas não sai do meu pé.
Minibio:
Silvana Lourença de Meneses, caxiense, formação em Química Industrial pela UFC, doutorado em Zootecnia pela UNESP, profa. da Universidade Estadual do Maranhão em São Luís, membro da ACL –Academia Caxiense de Letras e da AJEB – Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil, com 8 livros de poesia publicados.
RAFAEL OLIVEIRA*
A biblioterapia, termo criado pelo norteamericano Samuel McChord Crothers em 1 91 6 no artigo A Literary Clinic, combina os vocábulos gregos biblion (livro) e therapeia (cura), significando literalmente “cura por meio dos livros”. Desde então, essa prática tem sido consolidada como uma ferramenta valiosa para promover bem-estar emocional, mental e social.
Na Idade Média, os livros já eram considerados instrumentos capazes de aliviar as inquietações do mundo exterior e favorecer a reconexão com o mundo íntimo. Nos mosteiros, monges copistas e iluminadores trabalhavam em silêncio reflexivo, reforçando o papel transformador dos livros. Esse mesmo papel revelouse essencial em períodos de instabilidade social, como as guerras, conforme ilustrado na obra A Menina que Roubava Livros, de Markus Zusak.
Ao longo da história, a leitura demonstrou impactos positivos na saúde física e mental. Além de transmitir conhecimento, os livros entretêm, provocam reflexões, despertam emoções, promovem interações sociais e estimulam a criatividade. Aristóteles já defendia que a leitura de uma obra poderia gerar uma catarse, contribuindo para o equilíbrio psíquico e para a harmonia social, evitando, com isso, a repetição de comportamentos inadequados ou mesmo danosos para a sociedade. Contudo, os efeitos da literatura nem sempre foram vistos como benéficos. No século XIX, o chamado “Efeito Werther”, cunhado pelo sociólogo David Phillips, evidencia o potencial de certas obras literárias para influenciar negativamente seus leitores.
Inspirado pelo romance Os Sofrimentos do Jovem Werther (1 774), de Johann Wolfgang von Goethe, o termo refere-se a uma onda de suicídios entre jovens leitores europeus que se identificavam com o destino trágico do protagonista. Ademais, especialistas sugerem que Goethe escreveu a obra como uma forma de expurgar a paixão (secreta) que nutria pela esposa de um amigo, conduzindo a personagem à morte como um desfecho cartático.
A biblioterapia consolidou-se como ciência no século XX, com a tese de doutorado de Caroline Shrodes, que estabeleceu suas bases teóricas. Shrodes definiu a prática como “um processo dinâmico de interação entre a personalidade do leitor e a literatura, visando liberar emoções e promover o crescimento pessoal de forma consciente e produtiva”. Com isso, a biblioterapia ganhou espaço na Biblioteconomia, Medicina e Psicologia, sendo aplicada no tratamento de ansiedade, depressão, solidão e diversas outras condições.
Mais do que entretenimento, a leitura regular estimula a criatividade, enriquece o vocabulário e fortalece a expressão pessoal. Estudos indicam que o risco de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, pode ser reduzido ao manter o cérebro ativo. De acordo com a neurocientista Maryanne Wolf, a leitura integra funções visuais, auditivas e motoras, ativando áreas corticais ligadas à produção e liberação de neurotransmissores. Além do diálogo interno, essa atividade cerebral potencializa também a interação social e emocional.
A psicanalista Clarissa Pinkola Estés reforça essa visão, ao afirmar que “as histórias podem ensinar, corrigir erros, aliviar o coração, oferecer abrigo psíquico, auxiliar na transformação e curar feridas”. Assim, a leitura transforma-se em uma jornada emocional e terapêutica, capaz de acolher, curar e inspirar.
Em síntese, a biblioterapia surge como uma disciplina transformadora e multifacetada. Desde tempos imemoriais, os livros acompanham a humanidade, oferecendo refúgio, aprendizado e inspiração.
Reconhecero poderterapêuticoda leitura évalorizaruma ferramentapoderosaparanutrir não apenas amente, mas também a alma.
Poetas maranhenses participando de exposição na UFMA, nov/2023, organizada por Antonio Aílton e Bioque Mesito. Presentes (a partir da 3a, em pé, atrás): Ana Liz, César William, Paulo Rodrigues, Bioque Mesito, Cláudio Terças, Ana Luiza Ferro, Maruschka Mello, Hagamenon de Jesus, Sebastião Ribeiro. (Em pé, à frente, centro) Luiza Cantanhede , Wanda Cunha, Antonio Aílton, Profa. Marisa Aranha, Dilercy Acler. (Sentada, 5ª): Lindevania Martins e (7º) Irandi Leite, e estudantes.
Paulo Rodrigues – Poeta Antonio Aílton, você é um estudioso da poesia. Como você avalia a poesia brasileira contemporânea?
Antonio Aílton – Olá, Paulo, e cada leitor, leitora, que a poesia e a literatura tocam.
A poesia nunca esteve tão bem.
Háalguns anos sefalava numaespéciederetração, de“crise”.Oprofessore poetaMarcos Siscar,da Unicamp, havia até escrito um livro, “Poesia e crise”. E situa essa crise dentro de um discurso da crise que acompanha a poesia há muito tempo, inclusive para dizerem que “não existem mais poetas como antigamente” (o que, obviamente, é verdade, no sentido de que cada tempo tem uma repetição, mas tem uma “ranhura”, uma diferença do outro). O fato é que a poesia tem que se situar exatamente no meio da crise, porque, se não, ela deixará de ser crítica, cairá no conforto. Pois bem, em crise a literatura vem caindo desde o século XIX, na medida em que continuamente adentramos numa sociedade da imagem e do espetáculo, que não combinam com a literatura, no sentido da cultura posta, plastificada. Mas, para espanto dos pessimistas, a literatura se utiliza bem de todos os meios, a poesia talvez mais ainda, porque é um “vazar” do espírito, um “fluir da alma”, pelas frestas dos papéis, pelas brechas tecnológicas, pelas brechas até dos pastiches, como há muitos por aí, mas a alta poesia, a de qualidade, consciente, inventiva, e que move existência e permanência, acha seu lugar e acontece também.
Sobre isso, há muitas coisas relevantes, mas gostaria de comentar pelo menos duas. A primeira é que, a rigor, talvez não possamos tratar de uma “poesia contemporânea”, mas das “poesias contemporâneas”. Inclusive quase-poesias, não-poesias, post-poesias, relatos-poesias, escritos vitalísticos tocantes, simulacros, pastiches fora dos parâmetros de bom e ruim (porque o tempo não terá mais condições de dizer se são bons ou ruins), novos lirismos e “escrituras poéticas”, enfim, algo que se faz exatamente dentro do que é híbrido e heterogêneo. A segunda observação é que essas novas experiências se deslocam em várias direções, sociais, vozes, editoras (alternativas, mais acessíveis) e suportes de publicação. O marco é, sem dúvida, a presença das vozes femininas cada vez maior, ainda não em igualdade com as masculinas, porém com força explosiva, acho que esse equilíbrio é iminente, fora as reivindicações mais expressas e mais vigorosas, como a da literatura preta, a gay etc. Veja só, isso não nasce hoje, mas o momento tornou mais claro e oportuno, pelas
próprias políticas sociais. Desloca-se, portanto, da ideia de uma da exaltação da linguagem, do “belo” estético, e até de uma ideia de “inutilidade da poesia” justamente em favor da utilização desta em termos de questões coletivas, da reinvindicação e das pautas emergentes etc. Esse papo de inutilidade é um discurso, ou, pelo menos, parece tornar-se uma afirmação de fundo mais teórico que prático.
Porém uma coisa não anula a outra, e ninguém deve ser barrado, democracia é isso, é tolerância e respeito. Ainda penso, contudo, que quem sabe fazer a coisa se dará melhor. Que cada um busque o seu melhor, deixar a poesia maturar, sem pressa ou afobação. A poesia não está subordinada à pressa das redes sociais e das “curtições”. O poeta Celso Borges dizia que “a posição da poesia é oposição”, inclusive disso tudo que está posto aí.
Paulo Rodrigues – Quais são as poéticas de referência na poesia contemporânea do Maranhão?
Antonio Aílton – Talvez seja mais fácil pensarmos nessas “referências” em termos de direcionamento e preocupação dessa poesia, e em termos geográficos, mas isso também está interconectado. Penso que o grande destaque hoje é a força de união, de projetos e construção do pessoal, que podemos considerar já o coletivo Vale do Pindaré, com uma poesia reconhecidamente socialmente forte e arrebatadora, dos quais penso que você (Paulo Rodrigues) e Luiza são os maiores representantes. Mesmo já morando em Teresina, mas Luiza está junto com vocês, estão aí arrebatando prêmios e mais prêmios para o Maranhão. Mas aí está também o fenômeno Evilásio Júnior, a Ana Liz, o Carlos Vinhort, entre outros. O trabalho de vocês hoje se assemelha muito ao papel incomensurável do nosso querido poeta Carvalho Júnior, que foi um agregador dessa poesia contemporânea do Maranhão para a cidade de Caxias, lá mesmo um centro de referência, com Wybson Carvalho, Isaac Sousa, Renato Menezes. Claro, todos com suas individualidades, mas queria chamar a atenção para as poéticas da terra, aí advindas, de uma restauração da natureza comunitária e “originária”, do pertencimento ligados às questões existenciais e sociais. Há algumas poéticas já consolidadas, no sentido urbano-social-existencial, umaturmacujo centroirradiadorou agregador(porqueos poetasestãoem trânsito!) não deixará de ser São Luís, a eterna cidade de poetas que transitam entre o casario colonial e as conexões contemporâneas. Poderia citar, certamente, bem mais de 50 nomes, todos bons, numa lista muito arriscada, porque ainda deixaria gente boa de fora, mas vou ficar com pelo menos alguns: Bioque Mesito, Fernando Abreu, Eduardo Júlio, Felix Alberto, Alex Brasil, Adriana Gama, Lindevania Martins (que é, por enquanto, mais da prosa que da poesia; disparada nossa melhor contista), Tânia Rego, Hagamenon de Jesus, Claúdio Terças, Daniel Blume,Neurivansousa,Rafael Oliveira…Essapoesiajánãoémais aqueladeNauroMachado, José Chagas ou Ferreira Gullar, é um sopro novo, dos bairros, condomínios, regiões metropolitanas, do planeta; vozes feministas, inclusive. Há a representatividade de uma poesia mais intimista, memorial e minimalista, com a primorosa Laura Amélia Damous (São Luís), à qual se junta a escritura do haicai, ou nele inspirada, com Silvana Menezes (Caxias/São Luís), Benedita Azevedo (Itapecuru/Rio de Janeiro) e Lúcia Santos (São Luís/São Paulo). E não poderia deixar de citar os nossos “diaspóricos” extraordinários, como é, principalmente, o caso de Salgado Maranhão, que é o nosso Prêmio Jabuti, com uma poética sem dúvida arrebatadora, unindo a força do dizer ao alumbramento do dizer, e bastante influenciadora da escrita de poesia por aqui; o Viriato Gaspar, um senhor de poética inigualável, representante do grupo Antroponautas, que, de Brasília, se liga umbilicalmente ao Maranhão; o Luís Augusto Cassas, que vive em São Paulo, além de mais novos, como Dyl Pires (Eldimir), Ricardo Leão, Josualdo Rego, os irmãos Samarone e Samuel Marinho… Enfim, são poéticas e espaços que se sobrepõem, convergindo e divergindo, de temporalidades também que setocam. Edespontam novas possibilidades: JúlioCésar,com personalidadeforte epoesiainventiva, Gabriela Lages, Débora Reis…
Hoje precisaríamos de um estudo mais sério e mais com/vivencial dessas poéticas, inclusive conhecendo aqueles lugares não citados, mas representativos, como é o caso de Imperatriz, o sul e o leste do Maranhão. Para dar conta disso de forma mais real e aprofundada, só com projetos sérios, com recursos suficientes inclusive para uma “etnografia poética”, digamos assim, com real interesse, sem paixões pessoais. Por enquanto, parto de algumas leituras e a partir dos materiais que tenho.
Paulo Rodrigues – O que é ser poeta?
Antonio Aílton – Ezra Pound, provavelmente pensando no poeta que ele mesmo era, disse: “as antenas da raça”, meio que unindo o ser poeta ao ser profeta, que capta os movimentos do tempo e os antecipa. Manuel de Barros disse: “o poeta um ente que lambe as palavras e depois se alucina”, revelando esse poder encantatório, quase alucinógeno, porque o poeta é aquele que volta à palavra para realimentar sua veia, que se entrega a elas, mas de modo que possa “transver o mundo”, ou seja, ver o mundo de forma diferente, suas camadas e espessuras, mas sem sair da vida que é ofertada, em suas minimalidades, seus tropeços ou sua sublimidade, atravessando-o, vivendo seus cruzamentos e encruzilhadas. Isto pode se aproximar do discurso do louco ou da criança, que vê pela primeira vez o mundo. O poeta precisa ter esse olhar capaz de ver a própria alucinação, mas também os entraves do mundo, as inocências, porém ele não é um alienado, é uma forma de denunciar a violência contra a alma e contra o ser, de forma independente. O poeta se dá mal às vezes, porque ele é esse portador da palavra acesa, que queima línguas e ouvidos. Precisa ser independente, de igreja, de política, dos próprios grupos, da própria mãe, se necessário. Nesse sentido, é um ser condenado, conforme expôs Nauro Machado. Claro que ele também pode estar nos salões, cheirar e tomar whisky. Em suma, não há uma essência definitiva do poeta, o que precisa haver é uma autenticidade, no reconhecimento de sua condição, com consciência e ultrapassamento do imediato. Transgredir, sim e sempre, mas não achar que acabou de inventar a roda, que este é único mundo possível. Há um legado ao qual o poeta se liga, e esse legado é o da coragem de ser quem é, de iluminar a beleza e remover o desespero. O poeta é um ser que se constitui entre a palavra e o silêncio, transgressor de si mesmo e do mundo por meio das palavras que descobriu, e que tem a opção de guardar para si ou de compartilhar. Como um Hermes, ele é um mediador de reentrâncias e mistérios, o que não pode ser dito de outro modo, senão dentro desse enigma deslizante da palavra, de modo precário: “O poeta é um ser desamparado/ mas dispensa a minha ajuda e a tua/ Quer ele seja ríspido ou calado/ uma alegria estranha lhe excetua/ Desamparado e manco por seu fado/ não pelo bolso ou palidez da lua/ mas porque, ao alimentar o dado,/ uma outra voz faminta continua” (Camiseta de Atlas). Ele já não separa seu corpo histórico de sua persona, construída também como palavra re/veladora de mundos. Assim, lança seus lampejos sobre as coisas, ou é por elas iluminado: os rumores, os gestos, as penugens, tocaias e escutas. A vida, enfim, que se manifesta de modo único. Num sentido mais particular, em minha poética, o poeta tem sido um ser em trânsito, que, em caminhos precários e com linguagem tortuosa, dá voz aos vislumbres possíveis, às memórias mínimas, aos rebaixados, extraindo do mundo o seu “apesar de tudo”. Isso talvez apareça mais nitidamente em Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis e Cerzir. Já em A camiseta de Atlas, tudo se torna ainda mais claro: “o poeta é este – ou um trabalhador como eu/ que não desiste de cantar/ com o mundo nas costas”. Em síntese, o poeta múltiplo, é uma sala de espelhos.
Paulo Rodrigues – O poeta Antonio Cicero afirmava: “O desejo é constitutivo da vida humana. Só a morte faz com que ele passe”. Quais são os desejos do poeta Antonio Aílton?
Antonio Aílton – Desejo muita coisa. Meus olhos são tão curtos, não consigo vislumbrar todos. Os desejos também mudam com o passar do tempo. Hoje eu ficaria com o desejo de escrever tranquilamente, com condições razoáveis para isso, com dignidade, o que está cada vez mais difícil para um poetaprofessor/professor-poeta. Sinto obras-primas perdidas no Alzheimer das necessidades comezinhas (risos).
Quem sabe eu possa, entre as frestas, recuperar uma ou outra. O fato é que não sou homem de abandonar as responsabilidades diuturnas. Socialmente, penso que não há maior desejo do que a justiça, a igualdade e o fim da violência. Que não morramos de infelicidade e nos digladiando, nossa sociedade está brutal, dividida e violenta.
Paulo Rodrigues – Sobre o livro Cerzir, o jornalista Daniel Zanella afirmou: “um livro sobre a presença resoluta do tempo”. Como você trabalha a questão do tempo na sua poética?
Antonio Aílton – “[…] O caos nos estende/ seu velho tapete esfarrapado/ é preciso que ainda hoje costuremos mais um pedaço/ desta nossa/ rap/ só/ dia”, escrevi esse vislumbre em certa prosa poética no Cerzir. E ainda: “a linha do tempo sonha a máquina do tempo/ para a colagem impossível de uma desconjunção/ […] a partilha do tempo é ainda mais injusta/ que a partilha da economia”. Utilizei este mote no Compulsão agridoce, noutro rumo, lembrando os cancioneiros nordestinos: “o tempo que sobre e desce/ carrega o homem no meio”; “o tempo não é o que segue/ junto com a gente afobada/ mas é o que, contra a gente/ anda de trás para a frente/ com a perna sempre arrastada”. Pois bem, além dessas menções claras, tenho abraçado a ideia do tempo em doissentidos.Primeirocomoideiadastemporalidadesdispersasquecarregamos,eemquecadaumamergulha de maneira mais íntima. A minha, como coloquei principalmente no Cerzir, está mais para uma costura de presentes, memórias, inadequações, frangalhos. Isto tem a ver, penso também, com um espaço representado do já-não-lugar. Onde fica a minha casa? Onde ficam os terreiros vendidos e perdidos? Estou hoje, estarei? Há algum tempo, tinha certo acanhamento em falar que sou um homem nascido no século XX, mas hoje sou muito feliz por isso, porque vivi a longa história no corpo dos meus pais, dos meus avós, da literatura de cordel, do interior, de comunidades sertanejas que guardaram tudo aquilo, e hoje vivo o urbano, o celular, a tecnologia. Então minha experiência é um tesouro, minha experiência está enlarguecida, e conheço vários tempos, vários corpos, várias temporalidades. Os campos semânticos, lexicais, imaginários se ampliam. Isto é espaço, mas é tempo também. Não sou uniforme, sou um ser desencaixado, desengonçado, e isso é maravilhoso! Esta é também uma temporalidade, uma experiência íntima, intransferível. Minha poesia está entre esses mundos, contém esses tempos, essas mediações.
A outra questão do tempo, é a da linguagem, que precisa estabelecer um elo com o tempo presente. Isso, lá pelosanos1990,erauma pautadediscussãodealgunspoetas,deumgrupoqueparticipávamos.OHagamenon de Jesus batia muito nessa tecla, tanto que o primeiro livro dele retrata bem isso, The Problem e/ou os poemas da transição. Nos perguntávamos que corpo metafórico poderia se comunicar com as pessoas do presente. Fazíamos aquilo que Gullar também fez, só que ele se perguntava se a linguagem erudita era capaz de chegar ao povo, aliás, já sabendo que é difícil chegar, e escreveu cordéis, nessa tentativa, de comunicar. Nós não. A questão era mais para sabermos com que tipo de corpo imagético e metafórico representaria, concretizaria esse “contemporâneo” de maneira significativa, porém de modo a potencializar a poesia, e não o pitoresco. Houve alguns excessos, mas isso nos tornou mais maduros e conscientes, também. Então essa ideia das temporalidades que se insurgem dentro do tempo presente, do dizer o/ao presente, com certeza é outra preocupação sobre a questão do tempo (e da linguagem) em minha poética, mas esse germe reconheço que foi coletivo, e nasceu nas discussões do grupo Curare, entre copos e encontros poético-afetivos.
Paulo Rodrigues – Aílton, comente um pouco sobre o livro A Camiseta de Atlas.
Antonio Aílton – Esse livro é o grito implodido do trabalhador, dos encargos diários, do sufoco, das obrigações, do peso que o poeta carrega e ainda assim, sente a necessidade de ser poeta, de levantar a cabeça e dizer “não”, de ofertar sua palavra livre. Claro que ele tem outras coisas, mas no geral é esse contraste de peso e leveza, porque nós carregamos o acúmulo dos dias, “os molambos que tombam sobre meus ombros”, como disse lá.
O Camiseta de Atlas foi escrito na saída da pandemia. Eu estava atolado em obrigações professorais, na sobrevivência diuturna, escrevendo um texto acadêmico, mas algo aconteceu, a inquietação poética, e eu praticamente largava o que estava fazendo e o escrevia entre uma instância e outra. Interessante que costumo dar título aos livros depois de considerá-los mais ou menos acabados, mas não foi este o caso. Pensei no título bem cedo, a caminho da escola, por uma rua de subida, no Maiobão, onde também ia um grupo de trabalhadores, e pensei: somos todos Atlas, carregando o mundo nas costas, mas com os bolsos esvaziados, esses homens rebaixados. No entanto, eles iam rindo na conversa, naquela molecagem. A gente tem que aprender aviver.Pensei nessaideia de que otrabalhadorveste camiseta, a camisetasuada, a camiseta deAtlas. Éramos, ali, uma atualização do mito grego, e eu sabia que tinha achado o título do que estava se formando. Eu já tinha o norte do livro.
Por sorte, a FAPEMA (Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão) abriu um edital de publicação de obras literárias, em 2022, o Edital Graça Aranha. Veja que isso é algo literalmente extraordinário, porque a FAPEMA só abria editais para livros resultantes de pesquisas, teses e dissertações, projetos etc. Mas isso realmente foi uma iluminação deles, de alguém lá, em parceria com a Academia Maranhense de Letras. Dava a chance também de pessoas ligados a instituições literárias publicarem, como é o meu caso, que sou da [Academia] Ludovicense. Então tudo confluiu, e Atlas recebeu o apoio financeiro de que precisava para publicar.
Talvez tenha sido um dos meus livros mais bem recebidos. O Bioque Mesito disse que eu faço, nesse livro, uma volta ao Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis, com aquela linguagem mais social, mas muito humanizada, mundanamente humanizada. Há aquele tom irônico, de quem pode rir do mundo e de si mesmo, e essa consciência da opressão, das vozes sufocadas, de todo aquele que carrega os pesos. Mas é amplo. E tem, em alguns momentos, aquele tom mais carregado da pandemia, em poemas como O Casulo. Mas ali tem muita coisa. Poemas de que me orgulho muito ter feito são, por exemplo, Poema para as unhas da quebradeira de castanhas; 20 cofres vazios para carregadores indispostos, Nariz de hilux, Elegia… E há outros, que as pessoas chegam e dizem, “ah, gostei tanto do poema tal, por exemplo, de O servente, de Cirrosas e até de um poema chamado Utensílios, que achei que ninguém iria enxergar. Poesia tem isso, é um comunicado inesperado e insuspeito às mais variadas almas. Eu me orgulho muito de ter escrito A camiseta de Atlas, e sou muito grato à FAPEMA, que me fez publicar. Obrigado por me perguntar por ele.
Paulo Rodrigues – Como funciona o processo criativo do poeta Antonio Aílton?
Antonio Aílton – Não tenho um método rígido, nem uma disciplina. Percebo que há momento mais propícios à criação, e mesmo momentos do ano. Apesar de meus últimos livros serem meio solares, penso que as temporadas do inverno me mobilizam mais, fico mais sensível, talvez tocado por um “estado de infância”. Outra coisa que devo dizer é que não sou profícuo, não escrevo copiosamente. Pode ver que meus livros tem tempos longos entre eles, às vezes por dúvida mesmo, de se devo voltar a publicar, principalmente voltar a publicar poesia, mas acaba acontecendo, porque o poeta apenas está sufocado por dentro. É a falta de tempo para dedicação, pois você sabe que a poesia não nos sustenta materialmente; é a pergunta de se devo gastar madeira com o que escrevi (livro, para mim, ainda é impresso), é a pergunta de se vai fazer diferença ou apenas mais uma coisa que se escreve para enfastiar e “encher papel”, como sinto muita coisa que tem sido publicada, quero que valha a pena…
Mas essa pergunta é uma oportunidade para explicar um dado também, nesse processo. Eu penso muito na linguagem e na forma, em meus poemas, e em geral não quero que um livro pareça continuidade do outro, quero mesmo que, na medida do que me é possível, sejam completamente diferentes. Já me acusaram de “não ter um ‘estilo’”, por conta disso. Também já fui acusado (principalmente n’A camiseta de Atlas) de não dar uma “unidade” ao livro, que dizer, fazer tudo poemas estreitinhos, ou poemas larguinhos, ou a mesma dicção de cabo a rabo etc. Isso agrada as pessoas, e mesmo a editoras, que precisam se deter no acerto comercial, mas para mim, agrada a quem quer ver a coisa regular, a quem gosta, quem precisa, ou que em tudo querem ver simetria – e isso também é normal, óbvio! Porém, gosto da assimetria, gosto de ser diverso. Os intelectuais vivem dizendo que o contemporâneo é diverso, é heterogêneo, é híbrido, falam do respeito à diferença, mas não conseguem ver que estou buscando fazer é isso, é “desenfastiar”, é tentar mostrar faces diversas, inclusive das formas possíveis e sensíveis do dizer. Um crítico chegou a falar de “compêndio de variedades” sobre minha poesia, que depois chama de bela, mas ele quis chamar a atenção para isso como ponto negativo. Não, não é falta de consciência poética, já que mesmo não tendo escrito o bastante, já li muitos grandes poetas. Sinceramente, a “unidadezinha”, o “perfeitinho” no sentido do “mesmo”, como há muitos autores que se autorrepetem porque um livro ou um poema fez sucesso, não faz parte da minha concepção criativa. Sou meio que dado aos recomeços, e isso pode ter consequências, mas terei que pagar o preço.
Paulo Rodrigues – Antonio Aílton, você e Ricardo Nonato organizaram a antologia Clarão de Muitos que está circulando na universidade. A academia precisa trabalhar os autores contemporâneos?
Antonio Aílton – Tradicionalmente, Paulo, sabemos que a universidade sempre preferiu trabalhar com o passado, porque seu alvo é o cânone, são os “clássicos”, são autores que já têm um reconhecimento público consolidado, para poder se valorizar em cima do próprio “objeto de estudo”, digamos assim. Na afirmação do senso douto de que se trata de um “objeto [de estudo] digno”. Isso não é colocado de maneira clara, mas faz parte do discurso, principalmente do discurso da tradição acadêmica. No entanto, vamos lembrar que a universidade institucionalizou a própria transgressão, por exemplo, vanguardas e modernismo, concretismo…
No Brasil, isso aconteceu com universidades de ponta, como USP, Campinas, UnB, UFRJ, UFMG, que uma referência hoje nos estudos decoloniais, abraçando e traduzindo círculos intelectuais da América Latina. Leminski e Chacal, Ana Cristina César e tantos outros considerados “marginais” passaram a ser estudados em grandes universidades, aliás, houve um momento em que virou moda. Então, o próprio discurso universitário os canonizou, institucionalizou, porque ele tem esse poder também, daí passando aos livros didáticos, por exemplo. Isso não foi um caso só do Brasil, aconteceu também com a arte urbana, com os beatniks, com Bukowski, e já havia acontecido na França. Então essa foi uma abertura, uma porta de entrada para convidar esse autor contemporâneo que tem algo a dizer.
A universidade não pode mais se prender a um discurso canônico, já que ela também é detentora de um discurso crítico, de uma crítica literária acadêmica, que pode discutir a poesia, a literatura contemporânea, pode inclusive “institucionalizar”, já que seu ato de linguagem é performativo, porém deve ter responsabilidade. Por exemplo, não se deixar ser levada pelas mídias e curtições de redes sociais, mas pela leitura responsável. Então sim, ela precisa fazer essa conexão para isolar-se, para discutir este tempo, e não apenas o passado. Claro que ninguém vai jogar Cervantes, Shakespeare, Drummond, João Cabral, nem Gonçalves Dias fora, mas é preciso dinamizar o próprio entendimento, o próprio conhecimento, e isso se dá com bate-papos, conversas, palestras, presença do autor! O autor maduro e consciente, convidado para uma sala de aula, para um projeto, contribui com a abertura do conhecimento acadêmico para novas possibilidades e propostas, novas interações, em saber que literatura, a poesia está viva e pulsante.
Há um movimento maravilhoso e reparador, sobretudo em relação aos autores africanos de língua portuguesa, mas é preciso valorizar e discutir o que é local, também, com suas potencialidades, e não deixar para quando o cara morrer, quando a onda passar, ou sei lá o quê, abafar os já periféricos e excluídos. É preciso lembrar que já somos periféricos, anônimos mesmo com várias publicações, às vezes até com premiações nacionais importantes. Porque não estamos nos grandes centros de divulgação, edição e distribuição, não teremos o privilégio da badalação, para que a universidade (Letras, Humanas etc.) venha a dar importância. Veja só, recentemente uma professora do curso de Física me contatou para fazermos uma exposição de autores e autoras contemporâneas num encontrodeprofessores de Física, em São Luís, efizemos, eu eo BioqueMesito, que preparou os cartazes, foi lindo! Vocês de Santa Inês também gentilmente vieram, recitaram… Veja aí o inesperado, esse é o caminho! Então, o sujeito está aí, agora, com algo a dizer sobre sua própria arte, sobre sua relação com o entorno, com o mundo e com a sociedade. A poeta, a poesia, não pode ser tida como algo que não tem nada a dizer sobre o real e a imaginação criadora que permeia e lastreia a realidade, ela é a hiperconexão.
Por outro lado, há grupos fazendo isso. Há grupos com a preocupação primordial de dialogar com o (discurso) outro, com a comunidade dos poetas, ativistas, fazedores de cultura. O projeto Clarão, que foi uma série de entrevistas feitas via Instagram, fez parte dessa proposta, no período pandêmico, e juntamos poemas de todos os onze entrevistados (eu inclusive, como poeta também desse cenário, o Ricardo mediando) para essa antologia, que se chamou Clarão de Muitos. E agora gerou uma nova proposta, de encontros da poesia e da literatura contemporânea, na UFMA/Campus de Bacabal, que é o Maranhão em Cena, cuja primeira edição já
ocorreu, e haverá outra ainda mais ampliada. Também já está no gatilho a próxima edição do Clarão/2025. Ricardo Nonato, que é professor naquele Campus, e eu, com um vínculo temporário com a UEMA, mas participando do projeto mais como o poeta que sou, mais integrado ao território do Maranhão, aos grupos etc., fazendo essa ponte com a comunidade de poetas e escritores/as. Tem sido uma parceria extremamente produtiva e uma experiência enriquecedora, a gente tem posto a roda para a andar e tenho certeza de que estamos inspirando outros espaços institucionais a fazerem o mesmo.
Paulo Rodrigues – Deixe uma mensagem para os nossos leitores.
Antonio Aílton – Entre suas leituras, de todos os grandes poetas do passado e do presente mais recente, marque um encontro com o livro de um autor, de uma autora contemporânea, tente mergulhar no seu mundo, descobrir qual é o tom de voz dele, dela. Converse um pouco. Talvez seja alguém que esteja chegando aos poucos, talvez seja alguém que já está na estrada, com roupas quase gastas, mas que você acabou de conhecer. Pergunte sobre suas imagens e suas formas, suas metáforas, participe de sua imaginação criadora, dos seus modos de ver e vislumbrar as coisas, a existência, o ser do mundo. Deixe-se tocar, porque no fundo serão seus olhos que iluminarão outra alma, outra língua, um novo corpo da palavra, e acenderão os lampejos. Talvez isso traga uma felicidade íntima, e espero que haja uma grande descoberta para você. Espero você, leitora, leitor, nesses bancos que a vida constrói e, inusitadamente, compartilha. Construamos um novo olhar, um novo querer.
POEMAS DE ANTONIO AÍLTON*
Hayao Miyazaki
Grande é o mundo, nós o dominaremos com a pequenina flor salpicada de crianças e vendavais um bastão, uma velhinha, um carrinho quebrado que sobrou da última guerra Mas o espírito é como uma fagulha, um vento singelo que sopra ainda tenro dos pés de limão de onde nasce a primavera e as gargalhadas da infância Lá vêm elas, as pequeninas correndo pelos campos espalhando novas sementes nos balancinhos novas lentes para cegueira desentranhando a catarata do meu olho
Agora vejo o que parece Totoro, quase no meio da chuva o mundo é vasto quando estamos dentro nós o dominamos ao nascermos sempre e de novo entre suas viagens e paisagens pântanos e bolinhas de fuligem até completarmos o ciclo de volta para nossa mãe, a casa
Preparação
os homens estão limpando as canaletas caiando o meio-fio dos dois lados da rua
ainda não é novembro, mês em que também se limpam os cemitérios e deixam as tumbas brancas para visitas é agosto, 02 de novembro é o dia de finados 15 de novembro é o dia da república adiantado para outubro agora os homens se alegram e limpam as canaletas e os meios-fios por onde descem os esgotos que sepultavam as ervas das calçadas desde há muito nossos avós limpam os cemitérios para que os defuntos possam respirar e receber flores em novembro
há dias em que se deve estar limpo e colocar roupa de festa, um vestido de cor é como se ressuscitássemos para colocar brilho nos olhos
antes de nos casarmos com a morte.
Nariz de hilux
A maior arte da política é o cinismo travestido de pós-humano
Os que são pobres por natureza não precisam dividir seus bens ou porque não os têm ou porque nunca os tiveram
Mas não é preciso ter bens para dividi-los, quando se quer
O cínico ri dos outros, que para ele ou são cães ou são crédulos
A maior arma do cínico é o nariz É incrível, seu nariz permanece sempre para cima como se tudo mais estivesse ao seu dispor, abaixo dele
Poema para as unhas da quebradeira de castanhas
As quebradeiras de castanha do mercado livre são alicates com garras brilhantes
Mas há a coisa, os metais duros e há o humano
O humano se utiliza das coisas
Humanos sem brilho, de olhar cabisbaixo não pertencem ao mercado livre
As meninas não pertencem ao mercado livre não serão compradas
As meninas quebradeiras de castanha não têm alicate, têm unhas rasgando o leite ácido sobre a pele
Suas pretas unhas são um fato que não se transcende nem se transfigura com meras promessas de um poema sorri/dente
O poema não pode negar a tisna sob as unhas corroídas na quebradeira de castanhas
O poema não pode embelezar certos fatos, sob pena de ser cego, cruel ou fútil. O poema não pode se dar ao luxo de fingir a dor real e conduzir como a um rebanho satisfeito todas as almas à festa sem perceber que alguém carrega sombras nos escuros dedos das mãos
Há ali a velha dor abafada e sem luvas do subjugo humano que a menina gostaria de arrancar do seu corpo ou de impregná-las com o vermelho-brilhante da existência – mas não pode
Cretino destino
Poderia dizer liricamente que suas unhas são belas – mas não são
Eu só posso dizer que a vida é devir
Que o poema que lhes dedico é aquele que há de vir
Embora parcamente dedicado apenas às suas unhas não aos seus corpos não às suas almas
E há coisas que são apenas berros, não poemas
Um poema não nasce do dia para a noite
Um poema cresce como digital até que exploda, fogo brilhando em carmim
Elegia
Dez por cento de inveja e mágoa (bem abaixo do mercado de formas afetivas)
Dez por cento de rancor e vingança (bem abaixo do mercado da superação)
Dez por cento de reciprocidade da disputa por formas linguageiras, territórios (pouco abaixo do mercado de coca e do tráfico de animais)
Dez por cento de roubo de água da vida líquida do poço alheio
Dez por cento daquela reescritura de ferro-velho (bem abaixo do ainda usual mercado de ready-made)
Dez por cento de artefatos armados (bem abaixo das pragmáticas dos eufemismos políticos)
Dez por cento de fatos eventualmente transfigurados pelo pathos
Dez por cento de crença real nas formas afetivas do gênero humano Dez por cento de memória esvaída e rumorejo de sentimentos que perfazem no íntimo o litígio do tempo
Todo o resto, essa pele morta varrida para baixo do silêncio a ser disputada pelos vermes enquanto se brinda, olho a olho a soma dos produtos eternos que circulam entre os imortais [Rapsódia]
Do texto ainda ralo desta manhã [porque cada texto se faz do gozo anterior esporos ou pele morta [porque a cama é o paraíso do dia seguinte [ou o juízo final [porque o reclinar da cabeça é a medida do possível [porque não é preciso ter amor para ter orgasmo [porque os textos se tecem de assombros e facas laminando os excessos do gozo] nasce um outro texto sobre o mundo.
Escova, texto, camisa,texto,espelhos, texto,mesa: semiosefamiliar.Teus seios dormidos, texto: texto, a lembrança de tua peçonha: texto, a lembrança agridoce de tua carapinha: texto texto texto. O dia segue seu rastro arrítmico de leituras e maranhas, mensagens e entrelinhas. O caos nos estende seu velho tapete esfarrapado é preciso que ainda hoje costuremos mais um pedaço desta nossa rap só di a.
O desencantamento da arte, post
Agora pra fazer poesia basta o artifício e um título bacana O resto é cair em campo e postar sua fama
*Poema Hayao Miyazaki e [Rapsódia]: Cerzir, 2018; poemas Nariz de hilux, Poema para as unhas da quebradeira de castanhas, Elegia e O desencantamento da arte, post: A camiseta de Atlas, 2023; poema Preparação: Sacada Literária, 2024, inédito em livro.
Minibio:
Antonio Aílton (1968) époeta, professor, crítico literário. Doutor em Teoria da literatura (UFPE). Publicou: A camiseta de Atlas (EDUFMA/FAPEMA, 2023), Ménage – Antologia trilíngue de poesia (Helvetia, 2020, em parceria com o poeta Sebastião Ribeiro); Cerzir – livro dos 50 (Poesia, Editora Penalux, 2019); Martelo & Flor: Horizontes daformaeda experiêncianapoesiabrasileira contemporânea(EDUFMA,2018); Compulsão agridoce (Poesia, Paco Editorial, 2015); Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis (Prêmio Cidade do Recife. Fundação de Cultura do Recife, poesia, 2008); Humanologia do Eterno Empenho: conflito e movimento trágicos em A Travessia do Ródano de Nauro Machado (FUNC, Prêmio Cidade São Luis, ensaio 2003) e As habitações do Minotauro (FUNC, Prêmio cidade de São Luís, poesia, 2001). É atuante no panorama cultural da cidade de São Luís do Maranhão, membro da Academia Ludovicense de Letras e editor do portal Sacada Literária. e-mail: ailtonpoiesis@gmail.com
*Paulo Rodrigues, entrevistador, é poeta, com diversos livros publicados e premiações.
PALAVRAS DE MEU MESTRE
Professor
Saudades de Maputo
Tenho saudades das aulas na Universidade Pedagógica, do entusiasmo, do bem-querer, das risadas francas, das palavras abertas e flamejantes, da entrega, fervor e paixão, da febre de saber e do alfobre de princípios e valores que nelas havia.
Queria escutar novamente o vento do final das tardes que sopra do Índico e sacode as acácias com a promessa de chuva benfazeja. Sinto nostalgia do céu rasgado por raios e coriscos e do ribombar de trovões que outrora punham os marinheiros a encomendar a alma a Deus. Faltam-me as miríades de estrelas que iluminam a noite e descem mansas e sorrateiras para os olhos das crianças.
Tenho saudades da docilidade, fraternidade, generosidade e ternura dos amigos que por lá abundam. E de ver crescer e florescer a esperança no coração, no rosto, nas mãos e na terra de tão boa gente. Em Maputo estou em casa, possuo lar e pátria.
JORGE OLÍMPIO BENTO
Catedrático Jubilado da Universidade do Porto
Estado da civilidade e gentileza
O filme ‘Sorry’ dura apenas 1 minuto e 57 segundos, o suficiente para retratar o défice do sentido de comunidade e humanidade que carateriza esta era.
O elevador avisa, repetidas vezes, que não sobe, devido ao excesso de carga. Ninguém sai. Cada um dos ocupantes fecha-se no hiperindividualismo e não abre mão do direito, que julga ser exclusivamente seu, de permanecer a bordo. Todos se prejudicam. Falta-lhes a noção basilar de consideração, compromisso, cumplicidade, deferência, gentileza, estima e respeito que deviam vincular uns aos outros. É uma criatura, amparada por muletas, que se sacrifica, sorrindo, pelo bem comum! Está moribunda a civilidade; se não for ensinada na família, não será acrescentada na escola e universidade, nem praticada na cidade.
Diferentes eras e padrões de inteligência
No início da I Guerra Mundial a propaganda de países adversos à Alemanha serviu-se da comunicação social para propalar que os bávaros matavam as crianças e exibiam os corpos na ponta das baionetas. Contava que, assim, inflamaria e manipularia a opinião pública. Mas muita gente exigiu provas e aquela viu-se forçada a seguir outra via.
Hoje os agentes da propaganda têm mais sorte e a tarefa facilitada. O QI está por baixo; a maioria dos cidadãos não questiona nada e aceita tudo o que lhe é impingido.
Ditadura do idêntico
Esta é uma era paradoxal. Enaltece-se o direito à diferença, e vive-se sob a ditadura do idêntico, imposta pela competitividade, pelos rankings, pela volúpia de ser o número um, pelos interesses de dominação e colonização. São idênticos os programas escolares, os cursos e as linhas de investigação nas universidades, os processos e os critérios de avaliação das pessoas e entidades, os modelos de organização e direção das instituições, os concursos das televisões etc. São idênticas as falsidades e as inverdades propaladas pelos órgãos mediáticos, as poucas palavras que constituem a novilíngua corrente, e as ementas dos partidos do arco da governação. Uma coisa é o discurso e outra a prática: apregoa-se a diferenciação e impõe-se a uniformização.
Byung-Chul Han (A Expulsão do Outro, p.17-18, Relógio D’Água Editores, 2018) assinala que andamos a fazer a triste figura de assessores do sistema neoliberal, na implantação das ordens e fins ditados por ele. Apesar de se babarem com o sucesso, os sujeitos afundam-se “numa crise existencial grave”, solitários, desorientados e perdidos “numa sociedade de consumo e de rendimento vazia de sentido, monótona e polida. Nela, todos têm um rosto idêntico e falam uma voz idêntica (…)Os clones povoam um mundo no qual, paradoxalmente, todos pretendem ser diferentes dos restantes.”
Eis o inferno do idêntico, da expulsão do outro e diferente, do avanço da homogeneidade e abolição da heterogeneidade, incluindo a feminilidade e masculinidade! “Em toda a parte (prolifera) o deserto do idêntico.” Os indivíduos são idênticos uns aos outros; “não são mais do que bonecos manobrados à distância (…) com arames movidos por poderes desconhecidos.” Falhos de especificidade e singularidade, não temos identidade, “não somos nós mesmos! Não somos nada!”
De Sócrates e da filosofia
A filosofia é a arte de perguntar e gerar uma perplexidade gratificante com a descoberta das contradições institucionais, pessoais e sociais. O ofício é de simples compreensão e prática; está, pois, franqueado a qualquer um. Ademais é viciante: propicia experiências cognitivas facilmente acessíveis e leva-nos ao âmago de assuntos complexos no dorso das boas perguntas; estas contêm em si as melhores respostas.
Sócrates cultivou e desenvolveu essa arte de modo exímio, formulando interrogações e respondendo de igual jeito, e estimulando a humildade de duvidar e questionar: “Só sei que nada sei”. Estabeleceu assim a
dúvida e o ceticismo como matriz do pensamento. O mestre da maiêutica ganhou com isto inimigos entre os políticos e entre os professores que propagam falsos conhecimentos e meias verdades. Era odiado pelos poderosos de Atenas e visto como uma ameaça que tinha de ser eliminada. Acusado de corromper a juventude, o tribunal condenou-o à morte mediante a ingestão de veneno. No fundo, a inteligência, a razão e lucidez é que foram julgadas, por causar desconforto aos amantes da adulação e lisonja, da arrogância e bazófia, da ilusão e ignorância.
Os pensadores são embaraçosos em todos os tempos: perturbam o sono das multidões, afrontam a ordem vigente e desnudam os enganos das instituições. Não é de estranhar que estejam sujeitos ao castigo da depreciação, do ostracismo e da interdição. Hoje como então, não gozam de apreço os sujeitos inquietos e indagativos que se dirigem a toda a gente, a crianças, jovens e adultos, a aristocratas e a cidadãos comuns, demolem certezas e crenças e expõem a inconsistência de raciocínio dos asnos e dos pobres de espírito.
De Sócrates herdamos a lição da coragem física e intelectual. Diz a tradição que recusou, no julgamento, confessar arrependimento, implorar clemência e ser defendido por um procurador. Assumiu e manteve a dignidade da conduta até ao fim.
Para, escuta e olha!
A velocidade e o ritmo apressado tornaram-se um hábito e tomaram conta do dia-a-dia. Mas de repente, sem saber exatamente porquê, decidimos parar e refletir sobre o rumo que temos seguido. Qualquer coisa nos diz que estamos metidos numa correria tonta, sem sentido e ver aonde conduz. É espantoso que não consigamos lembrar mais o ponto de partida, nem tampouco saibamos formular e justificar as razões de tão duro e intenso correr. Até desconfiamos se há alguma linha de chegada. Sentimo-nos exaustos e descrentes de orientações que tínhamos por boas e fiáveis. Pela primeira vez, em tantos anos de alheamento, voltamo-nos para o entorno e vamos fundo na avaliação do mesmo. E encontramo-nos finalmente diante de nós próprios e ouvimos vozes, vindas da cabeça e do coração, da razão e emoção, a dizer que não desperdicemos nenhum momento, porque é de tempo que a vida se compõe. Que há, debaixo do nariz, coisas mais belas e fantásticas do que as da rotina da profissão e do quotidiano, à espera que as toquemos e nos deixemos contagiar por elas. Que cuidemos de nós, da amizade e do amor. De uma vida nova que pode começar hoje, se a coragem nos assistir.
Para, escuta e olha! Reduz a marcha. Cuida de tornar atraente o ambiente em que vives. Não gastes a vida a correr para fora de ti, atrás do banal e a fugir do essencial. Cria beleza! Deixa que a simplicidade interior se solte das amarras que lhe tolhem os passos no exterior. Vive para dentro de ti e não inventes desculpas para te evadires de quem és.
O ócio criativo, nomeadamente o desporto, pode ajudar a mudar, por ser um provocador que desafia a rever o presente e a participar na criação do futuro, que o mesmo é dizer, a cumprir a obrigação de levar por diante a tarefa de viver. Veste o equipamento apropriado e segue por um carreiro no meio dos campos e montes. Ou então vai até junto de um rio ou do mar. Saboreia a paisagem, faz exercício, dialoga com o corpo e a alma. E deixa que falem alto as emoções e desilusões, as tristezas e contradições. Liberta a capacidade de sublimar e admirar!
Olha quanta maravilha há ao teu lado, sem que antes tenhas dado por isso! Vê quantas plantas e flores nascem, crescem e florescem por toda a parte, realizando o milagre de encher de cor, graça e encanto a natureza. E como os pássaros voam e cantam por sobre as circunstâncias, fazendo dos dias uma melodia!
Descobrirás então que a felicidade não depende das calorias ingeridas, mas do número das consumidas. O sujeito, que caminha e transpira copiosamente, é uma pessoa feliz. Ilusoriamente feliz, obviamente: cada caminhada acrescenta um palmo de ilusão ao tamanho da utopia. Releva, portanto, da sabedoria que convoquemos todos os meios capazes de prestar um contributo, ética e esteticamente edificante, para levar de vencida o desafio. Responde à chamada, não entregues os teus créditos a mãos alheias!
Não somos obrigados a ler, a mudar de opinião, a observar a realidade e o outro. Mas podemos tornar-nos melhores, aprimorar os sentidos, alargar a imaginação, aumentar o número das palavras, aprender a usá-las e a andá-las como pontes para a liberdade, inspirar-nos nas estrelas do céu e na imensidão do mar, entender as ficções, ideias e mensagens vertidas nos livros.
Talvez isso nos convenha; e a leitura se converta em hábito e necessidade. Talvez quem lê aprenda a ver e reparar. Talvez adquira alma, olhos e sensibilidade de poeta, vá além da aparência e descubra, no interior das pedras, ouro, diamantes, rubis, ametistas e águas marinhas. Talvez perceba que, nas coisas e ações simples, há a beleza fulgurante dos vitrais das catedrais góticas. Talvez passe a estranhar a feiura e a maldade, tudo quanto é da ordem do horrendo e perverso. Talvez encontre ou teça o fio indicativo da saída do labirinto que nos aprisiona e consome. Talvez receba no rosto a luz do meio dia e no coração a vontade de a anunciar e compartilhar. Talvez os livros nos descongelem e levem para muitos lugares, próximos e distantes, e em todos estejamos em casa, entre diversos e familiares. Talvez progridam as dúvidas e interpelações e regridam os dogmas e certezas. Talvez...
Gratidão ao pão centeio
Tenho memória de parte da infância, nos anos seguintes ao termo da II Guerra Mundial, e da míngua e até fome que então grassou. À maioria das crianças de Bragada, talvez de todas as aldeias do Nordeste Transmontano, foi o pão centeio que lhe valeu. O pão trigo comia-se nos dias de festa e no do mata-porco; e era só para alguns.
Lembro-me bem de a meio das aulas na escola primária, sair delas a correr para casa, esgalgado de fome, e pedir à minha mãe um cibo de pão. O carolo de centeio vinha parar às mãos e, num rufo, desaparecia na boca. Se uma migalha ou pedacinho da côdea caía no chão, isso pesava como pecado; apressava-me a apanhar, beijar e engolir a partícula sagrada com reverência equivalente à da comunhão na missa.
Ainda ressoa pungente nos meus ouvidos o pedido frequente, escutado na rua e no largo da escola: dá-me um cibinho! Recordo os nomes e vejo diante de mim o rosto faminto dos que tanto careciam de pão. Não esqueço os suplicantes de outrora e os de agora; estou com eles até ao fim. E ergo os olhos ao céu em sinal de gratidão ao trabalho árduo e suado dos nossos pais para colocar na messa o salvífico pão centeio.
Era uma vez...
A história repete-se de modo sempre trágico. Duas serpentes gigantescas transitavam, em sentido oposto, num caminho muito estreito. Quando se abeiraram uma da outra, viram que não cabiam as duas e não conseguiam passar ao mesmo tempo; tinham que acordar a vez de cada uma. Mas não foram capazes de entendimento algum; seguiram em frente e devoraram-se uma a outra. Não sobrou nada.
Da bondade desportiva
O imaginário desportivo está prenhe de projeções idealistas. Não sem razão. Elas são ilustrativas da necessidade que temos de faróis para alumiar os caminhos. Com efeito o desporto encerra uma manancial de possibilidades de cultivar valores com sinal positivo. Além de favorecer a apropriação e o desenvolvimento de habilidades corporais, perfaz um fecundo alfobre de atitudes e virtudes cívicas, éticas e morais. Estas não surgem de modo espontâneo; a sua revelação carece de ações cujo teor corresponda às intenções. Ora a hibridez é constituinte dos humanos; mesmo conhecendo o bem, eles optam pelo mal, um dado frequente e notório nos diversos campos da práxis social. Contrariar tal ambivalência configura um grande feito civilizacional e educativo.
Por exemplo, saber ganhar e perder é uma das supremas aprendizagens oferecidas pelo desporto. Para isso requer-se praticar a disponibilidade de não achincalhar o vencido e de reconhecer o mérito do vencedor. No
mínimo, podemos aprender a perder e ganhar cada vez melhor, até chegar a ser brilhantemente. Isto para mim é o bastante e constitui um guião sublime para a educação atual. Ah, como o mundo seria ridente e luzente, se fosse tingido pela amabilidade de quem ganha e perde! Todos seriam ganhadores. Mas estamos longe de ‘coisas’ aparentemente tão simples e de largo e frutífero alcance. Não há dia em que não comprovemos esta dura realidade.
Educação e cultura para a ‘artetude’
Não é por haver abundância de meios que se deve aumentar, no OE, o investimento na educação, ciência e cultura. É devido à gravidade dos problemas que temos e sempre teremos; e à premência de procurar soluções para eles.
A nossa animalidade não desaparece, por maior que seja a esperteza de a ocultar. Precisa de ser desvendada, para imaginar e propor modos de a transcender e sublimar. Ora as artes são instrumento de revelação do quanto há em nós por fazer. Assumem a tarefa de alargar a imaginação, de a arrancar do chão, expandir e tornar um fulgurante clarão. São uma oração interrogativa: imploram respostas para as perguntas que somos; e obtêm algumas, ao pôr-nos em contacto com o intangível, o invisível e o mistério. Dão forma à insatisfação com o nível alcançado, multiplicam a esperança e aspiração à diminuição da imperfeição e abrem assim vias de redenção e salvação. Carecemos de mais educação e cultura para honrar o distintivo humano de 'ser artístico' e viver em ‘artetude’!
Restauração da soberania
O feriado de hoje celebra a restauração da soberania nacional em 1 de dezembro de 1640, um dia tão importante como o da independência reconhecida pelo Tratado de Zamora de 5 de outubro de 1143. A efeméride deve ser solenemente comemorada, não para acordar a animosidade contra o domínio filipino, mas para escutar a voz do passado e não esquecer a traição cometida em 1580 pela nobreza e o alto clero. A traição não é vicissitude de outrora; é tentação sempre latente.
Longe vai o tempo justificativo da desconfiança em relação aos vizinhos: de Castela nem bom vento nem bom casamento! Outras nações da Ibéria podem proclamar o mesmo. O importante é desconfiar dos ventos e dos Éolos que agora sopram lá fora e cá dentro. Para tanto há que despertar a necessidade de conhecer a história e ter memória. Com elas apagadas também se apaga, pouco a pouco, o espírito da soberania, já dormente nesta era. Urge restaurá-lo, tal como a prontidão para avaliar alinhamentos e emendar o rumo Por este andar vamos acabar na pança dos fascistoides.
Tempo de advento
Quero permanecer espectador da vida, sem me diluir e perder nela. E ser desconhecido, descontente e estrangeiro de mim, como se não existisse na forma atual, procurando sempre fugir dela, iludir o impossível e nascer numa condição nova ou, pelo menos, com mais e edificantes heterónimos acrescentados. Estou ciente da obrigação de buscar o sentido na via do infinito, até ao fim.
Vou escrever ao Menino Jesus e pedir que me conserve na função de almotacé vigilante da lucidez normativa dos pesos carregados nos ombros, dos alimentos levados à boca e à alma e da justa medida dos gestos, das palavras e dos passos.
Neste inverno preciso de doses reforçadas de luz e verdade como aspirina diária contra as constipações, causadas pela fria neblina das manhãs e noites, que me zangam contra a existência e fazem espirrar até à metafísica. Desejo andar com o escutar de braço dado ao ver. Talvez fique calmo e contente, se acumular dúvidas e for cada vez mais auditivo e dialogante.
De Fernando Pessoa e da poesia
Não nos devíamos cansar de evocar Fernando Pessoa, falecido em 30.11 e sepultado em 02.12.1935, com apenas 47 anos. Foi, porventura, o mais genial desenhador da alma portuguesa. Venho evocá-lo.
A substância da vida é feita de malha fina e subtil. Não a tocamos e expressamos com as fórmulas duras e grosseiras dos dados, gráficos e números; somente com as filigranas dos verbos e versos escolhidos pelos poetas.
A poesia é o campo onde o fogo da palavra está sempre aceso e levanta mais alto as labaredas da sensibilidade. Os vates são os melhores edificadores do espírito humano e reveladores do estado de oração permanente que o perfaz. Ademais, são cirurgiões de almas rasgadas e corações enfartados. Não desistem de tentar perceber e preencher, em atitude de humildade e de modo inquieto, as falhas que nos dificultam o andar atinado. Têm as portas abertas, de par em par, aos inocentes e fechadas aos imbecis. Não se fatigam em acompanhar a Humanidade para onde quer que ela vá; e em recriá-la. Tal como os artistas, são meios doidos e projetam o olhar para além da aparência. É por isso que veem a beleza dorida do mundo e fornecem a este o oxigénio para enfrentar a opressão e o sufoco do quotidiano.
Ar civilizado
Civilizar é ensinar a conter os impulsos, as energias e os gestos. É essa uma das funções da educação, de difícil desempenho. A gravata e o laço à roda do pescoço também nos emprestam um ar civilizado. É muito fácil mudar a imagem por fora, sem modificar a animalidade e incivilidade por dentro. A dissimulação, o póde-arroz e o verniz não saem de moda.
Posição de dormir
Durmo melhor deitado sobre o lado direito. Quando me deito sobre o esquerdo, escuto a vida e as circunstâncias no bater do coração; isso dificulta-me a vinda do sono. Não sei se a posição favorável ou desaconselhável para dormir tem algo a ver com a ideologia ou decorre apenas da fisiologia. Fica a dúvida para quem não tiver certezas.
Jogo: acaso e sortilégio
No jogo, como na vida, muitos dados são lançados pela roda da sorte. Nenhuma ciência ou racionalidade conseguirá jamais abolir o acaso. Não sei se vale a pena elaborar tantos estudos e discussões para ordenar logicamente o que decorre ludicamente. A magia, o encanto e o sortilégio do jogo não se deixam reduzir às graves e rudes fórmulas da análise e do comentário; são para saborear como alegrias breves e notas de um canto gregoriano.
Terra de Santa Maria
O feriado de hoje evoca a coroação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira e Rainha de Portugal. Mas a coroação não ocorreu em 8 de dezembro de 1640.
A devoção a Santa Maria surge com o alvor da nação. Todos os reis da primeira dinastia cultuam a Virgem como preito de gratidão pela independência e manutenção do reino de Portugal. O culto espalha-se e é expresso pelas inúmeras igrejas, capelas, ermidas e romarias consagradas à Mãe ide Jesus. A segunda dinastia segue a mesma prática. Nas batalhas dos Atoleiros (6 de abril de 1384), Aljubarrota (14 de agosto de 1385) e Valverde (14 de outubro de 1385), D. Nuno Álvares Pereira, Condestável do Reino, e D. João, Mestre de Avis, incitam o seu exército a combater os castelhanos em nome de Deus e da Virgem Maria. Com a restauração da soberania em 1640, a devoção à Senhora da Conceição ganha um enorme impulso. No dia 8 de dezembro, Frei João de S. Bernardino termina o sermão, pregado na capela real de Lisboa perante
D. João IV, com esta promessa: “Seja assi, Senhora, seja assi; e eu vos prometo, em nome de todo este Reyno, que elle agradecido levante um tropheo a Vossa Immaculada Conceição, que vencendo os seculos, seja eterno monumento da Restauração de Portugal”.
Em 25 de março de 1646, D. João IV organiza uma cerimónia solene para agradecer a Nossa Senhora a reposição da independência. Na igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Viçosa, oferece-Lhe a coroa e proclama-A Padroeira e Rainha de Portugal. O ato alarga-se a todo o País, inclusive às parcelas ultramarinas, com celebrações e procissões populares, inundadas de cânticos de júbilo. Nossa Senhora torna-se então Soberana de Portugal. Desde aquele dia, mais nenhum rei ou rainha usou a coroa na cabeça; esse direito ficou consignado apenas a Nossa Senhora. Nas sessões protocolares, a coroa passou a estar colocada em cima de uma almofada, ao lado do ocupante do trono.
Para aumentar o significado da proclamação, D. João IV mandou cunhar, nesse mesmo ano de 1646, moedas de ouro e prata, tendo no reverso a imagem de Nossa Senhora da Conceição coroada de sete estrelas, aos lados o sol, um espelho, uma casa de ouro, a arca da aliança, um porto, uma fonte e a legenda ‘Tutelaris Regni’. Foi com duas dessas moedas em ouro que pagou o tributo anual, prometido ao Santuário de Nossa Senhora de Vila Viçosa.
Os sucessores de D. João IV continuaram a homenagear Nossa Senhora. D. João V, em 1717, recomenda que todas as igrejas celebrem anualmente, com pompa e solenidade, a Festa da Imaculada Conceição. E D. João VI cria, em 6 de fevereiro de 1818, a Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Enfim, o preito a Nossa Senhora da Conceição é constituinte da matriz nacional. Eis a profunda justificação do feriado e festividade deste dia!
Cruzados salvadores do desporto
É inúmera a legião de cavaleiros imbuídos da missão de salvar o desporto dos males que o acometem. Até aí não vem mal ao mundo. Há muitos movidos por reta intenção. Mas não faltam 'salvadores' que se movem com outro desígnio. Procuram palco para fazer pregações em toda a parte: nas redes sociais, nos púlpitos de academias e grémios afins, de conferências e simpósios. Tudo serve aos cruzados para perorar sobre a ética, sem ter noção do que ela trata e dos imperativos de conduta que implica. O fervor do zelo fecha-lhes a consciência à avaliação da sociedade e das áreas donde provêm: não há nelas circunstância alguma que mereça atenção e tomada de posição; nenhuma precisa de salvação, só o desporto carece de redenção. Exibem assim, nas janelas da incessante propaganda de si mesmos, o perfil de manhosos candidatos à eleição ou nomeação para cargos no setor desportivo.
Cuidado! Jesus está prestes a renascer e pode vir decidido a estragar o festim. Como se sabe, Ele é um transmontano dos antigos, não tem papas na língua nem freios nas mãos. Da outra vez, entrou no templo, pôs ao léu a hipocrisia e podridão dos fariseus e açoitou os vendilhões da falsidade com o azorrague das verdades que cortam e doem.
Advento no Nordeste Transmontano
Nestes dias curtos e noites longas, o ciclo da natureza segue o seu curso. Libertos do fruto, os castinheiros despiram as folhas para estrumar o chão. A apanha da azeitona está em curso; e nos lagares escorre o azeite que irá acrescer o sabor do bacalhau, das batatas e hortaliças na mesa de Natal. Aliviadas da carga, as oliveiras assumem a forma de vestais irradiadoras de sacralidade. Não faltam as tardes soalheiras, os crepúsculos avermelhados, as manhãs escondidas pela bufarra, o solo endurecido pela geada e as árvores,
à beira das ribeiras, cobertas de carambelo. A vida afigura-se parada no alto das Serras de Bornes e Nogueira; e o amanho do campo recolhido nos cabanais. Mas, por detrás da aparência de poisio, as contradições conspiram para enriquecer o húmus das leiras até à próxima sementeira do renovo. Não, o tempo não é de adormecimento ou estagnação, mas de advento ou prenúncio do que virá. Nos céus e na terra há sinais que, como as revoadas de estorninhos, rasgam o silêncio e acordam o espanto. Reina um ambiente de quietude, convidativo a imaginar e viver o mistério. Este senta-se no escano ou numa tripeça, à roda das lareiras acesas para aquecer as pessoas, secar o fumeiro e manter viva a memória dos ancestrais. Benditas as mãos que acendem o lume e fazem as ceias!
O Menino já vem a caminho. Em breve, a esperança abrir-se-á em sorrisos. Conquanto cumpramos a nossa parte e a acalentemos com o calor das palavras e atitudes. Ela não faltará à chamada, porque a sua não vinda nos dói muito.
Dominar o mundo
A apologia da necessidade de ‘mentalidade de guerra’ é crime e falácia. Encobre um fim abjeto, atenta contra a civilização, serve interesses dos agentes da morte, fere o direito sagrado à vida.
Não é através das armas que se domina o mundo. Esse é o método usual da conquista e usurpação. Podemos dominá-lo, sem agressão e violência, com um lápis ou caneta, com a escrita de cartas e textos de magia, de amor e compaixão, e com a composição de canções que arrebatam a alma e enternecem o coração. O outro não se entrega a quem o pisa; só a quem lhe suaviza a dor, adoça a boca, afaga o ouvido e estende a mão.
Da paixão clubista ou outra
Somos ontologicamente carentes de afiliação e agregação; elas servem-nos para edificar e afirmar a identidade pessoal e a sintonia e partilha com outrem. Isso inclui tanto a aproximação como o distanciamento. A identificação com um lado implica o afastamento de outros, sejam pessoas, instituições, organizações e até nações. É neste terreno que nasce e medra a paixão. Esta é marcada pela intensidade da relação, a tal ponto que, não poucas vezes, cai sob a alçada da avaliação do poeta romano Públio Terêncio: "Os apaixonados são desvairados." Ou seja, todas as paixões, a clubista e as demais, contêm algum desvario. Isto não recomenda que as ponhamos de parte; apenas quer dizer que nos convém tentar alumiá-las com a luz da razão. Sendo preferências, não têm que descambar para a inimizade e, muito menos, o ódio a algo ou alguém.
Milagre errante
Aconteceu há muitos anos, lá para as estranhas bandas do médio-oriente. A criança da nova civilização nasceu, entre apertos, injustiças e inquietudes. Como todas as crianças era pequenina e frágil, mas vinha carregada de luz e generosidade, disposta a rasgar as trevas e a estreitar as margens da angústia e do desespero.
A promessa, uma das mais sublimes laborações empreendidas pela imaginação humana, propagou-se e difundiu pela Terra inteira um credo de imperativos universais. Até em paragens assaz recônditas passaram a ressoar apelos à equidade e fraternidade. Tem sido deveras difícil cumprir a mensagem. Todavia o milagre não se cansa e continua a fazer o caminho de peregrino, porfiando em dar a volta ao mundo; avistei-o hoje, com passo estugado, no alto das recordações evocadas pela ida às origens. Desta vez não vai acontecer somente em Belém; é em todos os lugares, onde a angústia clama por Ele e a esperança aguarda a Sua vinda.
Para os crentes em Deus
Não se esqueçam de que os pobres existem e são mesmo muitos. O Pai Natal é que não existe com o sentido imanente à designação. Trata-se de uma invenção que não condiz com o espírito e a letra do Evangelho Cristão. A ilusão requer a supervisão da razão.
Da observação destes dias cresce a convicção de que a maioria dos crentes ainda festeja o nascimento de Jesus, mas não toma a Sua mensagem como padrão de conduta e guia da ação. Aplaude e elege inimigos da Humanidade, que a levam à forca e à crucificação.
Liberdade de imprensa
A informação corre o mundo, difundida pelas principais agências noticiosas. Recentemente um casal de terroristas palestinianos, procurados pela segurança israelita, conseguiu iludir esta e esconder-se num estábulo de animais, perto da cidade de Belém. A mulher, em adiantado estado de gravidez, viu arrebentar a bolsa de água durante a noite; e deu à luz um lindo rapaz em ótimo estado de saúde. Os pais pensaram em fugir com ele para o Egito, mas a fronteira está fortemente controlada por soldados de Israel. Assim, vão tentar dirigir-se clandestinamente para outra localidade. Querem batizar a criança e dar-lhe o nome de Jesus, em homenagem a uma figura extremista e radical que lutou até à morte pela libertação do povo frágil e pobre.
Rituais do sagrado e profano
Na Festa de Santo Estêvão, realizada em Ousilhão, Vinhais, no dia 26 de dezembro, misturam-se o sagrado e o profano. Assim sucede nas outras Festas dos Rapazes que se realizam em várias aldeias da Terra Fria Transmontana no período de 24 de dezembro a 6 de janeiro. Não se conhecem, com inteiro rigor, as origens e as razões de tão antigos rituais. Mas sabe-se que são anteriores à fundação de Portugal, quando as tribos celtas habitavam a Península Ibérica. Talvez sejam até mesmo anteriores a esse tempo.
É incrível a permanência de tais tradições e celebrações da hierofania e cosmogonia na nossa era líquida e volátil. A cultura do povo é resistente. Os idosos, que as frequentam, são sementes do futuro. Estas hão de vingar e seguir em frente!
Antiga Reza Portuguesa
“Quando pedires alguma coisa a dezembro...
Pede-lhe que te traga presentes que não se vendem em lojas: um ‘gosto muito de ti’, um ‘obrigado por existires’, um ‘estou aqui para ti, sempre’.
Pede-lhe que te traga abraços apertados, gargalhadas sonoras, o colo de quem mais amas, mãos dadas no ano inteiro, ombros que te seguram, corações onde podes morar sem prazo de validade.
Pede-lhe que te traga de presente olhos que brilham por ti e para ti, palavras que te protegem e cuidam como o sol em dias frios, os pequenos-nadas que valem tudo, o essencial que ocupa, sem pesar, o lado esquerdo do peito, e o fermento da alegria que faz a vida valer a pena.
Pede-lhe para te ensinar a viver de mente e coração abertos e a acreditar que há uma luz ao fundo do túnel para cada escuridão que tiveres de enfrentar.”
ASSIM FALOU MEU PRIMO
OZINIL MARTINS DE SOUZA
Possui graduação em Geografia pela Fundação Universitária Regional de Joinville (1971). Atualmente é professor do Colégio São Paulo de Ascurra. Em 2017/18 exerceu o cargo de Secretário de Educação do município de Indaial - SC. De 2015/16 foi professor da Faculdade Metropolitana de Blumenau no curso de Administração. de 2012/13 foi Reitor do Centro Universitário Leonardo da Vinci; também exerceu o cargo de pró-reitor de ensino de graduação presencial do Centro Universitário Leonardo da Vinci e professor licenciado do Centro Universitário Leonardo da Vinci. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Administração, atuando principalmente nos seguintes temas: administração para resultados, avaliação e resultado, planejamento, negociação, competitividade e empreendedorismo.
Meu primo, filho de Tia Negra, irmã de minha avó Alice.
PARA ONDE CAMINHA SUA CIDADE?
O que leva alguém ou um partido qualquer a colocar seus interesses pessoais acima dos interesses comuns?
Penso que as eleições que acabaram de acontecer transformaram-se em um excelente laboratório de pesquisa sobre o comportamento humano e um indicador precioso de ações cometidas em nome das emoções ou de interesses.
O que leva alguém ou um partido qualquer a colocar seus interesses pessoais acima dos interesses comuns? O que nos leva a preterir o país em que vivemos em favorecimento de ideias já ultrapassadas ou de vantagens materiais? O que leva as pessoas a acreditarem em algo que já se mostrou inexequível em passado recente?
Governar parece-me ser a busca do bem comum, da execução de um planejamento pensado e montado visando um país a caminho de um futuro consistente e melhor para sua gente; independente da cor de sua pele, da sua orientação religiosa, de seu nível de escolaridade, da sua opção sexual.
Quando falamos em planejamento de governo falamos em planejamento que ultrapasse a duração de um mandato. Os Estados Unidos da América anteciparam-se a crise da falta de água, garantindo o fornecimento até 2050, buscando soluções com criatividade. A água está sendo captada no Canadá.
Israel, um país territorialmente minúsculo e cercado por países hostis, é o país líder na geração de energia limpa e busca 70% da água que consome do mar, pelo processo de dessalinização. Além disso, tem o melhor sistema de irrigação agrícola do mundo e, tira do deserto, boa parte do que consome e seu excedente é exportado.
O que se discutiu nos debates que antecederam as eleições? Quais os projetos apresentados pelos candidatos a comandar seus municípios? Qual o plano para garantir a mobilidade urbana? Qual o modelo educacional a ser adotado para viver em tempos de mudanças profundas? Como garantir o processo de crescimento econômico para os anos futuros? Como controlar a violência que se abate a cada dia sobre o cidadão comum?
Infelizmente, o que ouvimos e vimos foram ataques a partidos, a políticos, a “desconstrução de imagem” dos adversários, a mentira que campeou livremente entre todos. Até agressões físicas com consequências fatais foram consumadas.
O que percebemos, no Brasil, é que, o que foi iniciado no governo anterior não deve ser continuado. Exemplos? Temos aos montes. Segundo o TCU o número de obras iniciadas e não concluídas, somam 8.603; dinheiro desperdiçado, esforço físico dispendido para nada e máquinas e equipamentos inutilizados. Quem sabe não seria interessante, ao assumir o novo mandatário, pedir uma auditoria sobre obras inconclusas?
Governar visando o bem comum, de cidadãos que trabalham, ganhando pouco e que lutam para sustentar suas famílias, deve ser a preocupação dos mandatários que assumirão a partir de janeiro 2025.
Espero que os governos eleitos no pleito recentemente concluído apresentem um planejamento mínimo de trabalho de forma a garantir às forças produtivas do país, mínima tranquilidade, em respeito aos compromissos assumidos. Apesar de achar que de onde nada se espera, nada sai, credito meu voto de confiança!
BRASILEIRO E O ESTADO PATERNALISTA
Eu, Estado todo poderoso, penso e ajo por você!
A expressão “este país não corre nenhum risco de dar certo” está mais correta do que nunca. O senso comum nunca foi tão agredido pelos poderes da República como só é acontecer nos tempos atuais. Em entrevista à TV JPan o Ministro Carlos Lupi, em busca da salvação do povo, pediu a seu departamento jurídico que encontrasse uma fórmula para impedir que o dinheiro das aposentadorias fosse usado para apostas eletrônicas. Olha o Estado pensando e agindo pelo cidadão. Eu, Estado todo poderoso, penso e ajo por você!
Por outro lado, o governo festeja os números do desemprego no país. Nunca os números estiveram tão baixos como agora. Mas, quando se olha para os indicadores que conduzem a esta euforia, tomamos conhecimento de que, se o indivíduo teve qualquer remuneração na semana que antecedeu a pesquisa, equivalente a duas horas de trabalho, ele é considerado empregado. Que maravilha!
O desemprego está baixo, mas os números de beneficiários do bolsa família chegam a 54 milhões de pessoas (23 milhões de famílias) e como recebem seus auxílios do governo são considerados empregados e não oneram a estatística do desemprego.
Importante ressaltar que, em cidades onde há pleno emprego, os beneficiários do Bolsa Família negam-se a trabalhar com carteira profissional assinada para não perder o benefício. Este , que deveria ser temporário e em caráter emergencial, transforma-se em permanente e sem nenhuma exigência de contrapartida. Se você compreender isto como compra de votos não pensará nenhum absurdo.
Os prefeitos de Bento Gonçalves, na serra gaúcha e de Chapecó, oeste catarinense, iniciaram um corpo a corpo com os beneficiários do Bolsa Família, ofertando auxílio para buscar empregos e zerar em seus municípios os usuários deste benefício. Os dois municípios são muito fortes economicamente e vivem o pleno emprego. Vamos acompanhar atentos os resultados. Aos prefeitos que exercerão os cargos a partir de janeiro/25 que o exemplo frutifique.
Que o cidadão brasileiro comum é viciado em Estado não resta nenhuma dúvida; fazemos muito pouco pelo país e por nós mesmos. Sempre esperamos que a mão do Estado seja estendida para que, com o dinheiro dos impostos arrecadados, ofertem algumas migalhas, hoje, fantasiadas de bolsas. Que o exemplo dos moradores de Nova Roma do Sul, no RS, sirva para o povo que não acredita em “os que dizem que não é possível fazer, saiam da frente dos que estão fazendo!”
Importante que o brasileiro comum entenda que é mantido na ignorância para satisfazer os planos dos donos do poder. A Educação nunca esteve tão fragilizada no Brasil como atualmente. Isto acontece pela negligência dos poderes constituídos e pela omissão dos pais, que sequer vão às escolas nas reuniões em que se discutem as necessidades de seus filhos. Talvez, a ilusão seja de que o Estado resolverá todos os problemas que no futuro surgirem.
O DESASTRE NA EDUCAÇÃO: CAUSA
OU CONSEQUÊNCIA?
Este quadro tende a piorar Mais uma pesquisa divulgada esta semana (04.12) mostra o desastre em que se transformou a Educação no Brasil. O Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (Pesquisa Timms) divulgou o resultado dos testes aplicados em alunos do 4° e 8° ano do Ensino Fundamental. Esta foi a primeira participação do Brasil neste estudo.
Quase 45 mil estudantes foram envolvidos em diversas escolas pelo país; apenas 1% dos estudantes obtiveram desempenho máximo nas duas disciplinas. 51% dos estudantes do 4º ano tiveram desempenho inferior ao nível mais baixo em matemática.
Por outro lado o Relatório da Elsevier-Bori mostra que, em termos de produtividade científica, houve uma acentuada queda de 7,2% na produção de pesquisas acadêmicas entre 2022 e 2023, fazendo o país regredir ao patamar de 2019. Divulgado em 07.2024.
Ao mesmo tempo em que os dados vão sendo divulgados ocorre uma verdadeira diáspora de cientistas brasileiros pelo mundo. Os dados são do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – CGEE- órgão vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e indicam uma saída de quase 7 mil cientistas nos últimos anos com destino a 42 países.
Os motivos, segundo os entrevistados, são a precarização do ambiente de pesquisa no país e as baixas remunerações praticadas. Isto parece explicar os péssimos resultados em relação à pesquisa aplicada que, quase inexiste e, o surgimento de teses e dissertações que beiram ao ridículo como mostra uma simples pesquisa no Google e que nos faz encontrar a tese de doutorado intitulada “A Estética Funk Carioca: Criação e Conectividade de Mr. Catra.” Doutorado em Sociologia e Antropologia na UFRJ.
Se hoje o mercado de trabalho já se queixa da qualificação dos profissionais disponíveis no mercado, este quadro tende a piorar. Pela má formação escolar em disciplinas que são essenciais como matemática, ciências e português e, pela modernização de máquinas e equipamentos que exigem dos profissionais conhecimentos, capacidade para tomar decisões rápidas e correr riscos, iniciativa e assumir responsabilidades, o quadro fica cada vez mais nebuloso. Mais do que nunca as empresas deverão assumir a formação destes profissionais, pois o Estado se mostra ineficiente e incapaz para fazê-lo.
Em relação a pesquisa e inovação quero lembrar de uma reportagem que li, há tempos na revista Veja (Eduardo Oinegues), “para adquirir um, unzinho só, aparelho IPhone é necessária a venda de 8 toneladas de minério de ferro.” Imaginem a estrutura necessária para movimentar 8 toneladas de minério de ferro e toda a logística envolvida.
OexemplodadopelaEmbrapaaotransformaroagronegóciobrasileiroparece nãosensibilizarnossos políticos para a necessidade de inovar e crescer com competência.
Por enquanto continuamos a ser a vanguarda do atraso entre os países desenvolvidos.
X 3
"Os japoneses são obcecados pelo trabalho e, segundo o governo, isto tem afetado a taxa de natalidade"
Começou a circular nos meios de comunicação a informação de que o Japão implantará a jornada de trabalho 4 x 3 a partir de abril de 2025. Ao aprofundar a informação percebe-se que a manchete é tendenciosa. Na verdade, a jornada reduzida será implantada na cidade de Tóquio e atingirá apenas os funcionários públicos daquela cidade.
O motivo principal é a queda da taxa de natalidade e o envelhecimento severo do país. Como a taxa de natalidade ideal, para manutenção da cultura social e econômica de qualquer país, é de 2,1 filhos por casal, o Japão apresenta, no momento, uma taxa de reposição de 1,2 filhos por casal. As consequências são óbvias: envelhecimento populacional e falta de pessoas para garantir a manutenção e o crescimento econômico do país.
Para os que desconhecem é importante salientar que o Japão fez, perfeitamente, a lição de casa em relação ao bônus demográfico. Só relembrando aos leitores da coluna, bônus demográfico só acontece uma vez na vida dos países e está relacionado ao momento em que o país tem o auge de sua população em idade de trabalho. Neste momento o país tem que acumular riquezas e preparar-se para um futuro onde prevalecerão os idosos. O Japão fez tudo certo. Acumulou riquezas (PIB per capita em 2023 foi de U$ 46 mil), é a 4ª economia do mundo, têm indústrias entre as mais produtivas do mundo e na Educação ocupa o 4º lugar no Exame de Pisa.
Verdade que os japoneses são obcecados pelo trabalho e, segundo o governo, isto tem afetado a taxa de natalidade. Este é o motivo fundamental para a implantação da jornada, como experiência, entre os funcionários públicos de Tóquio.
Em certo país, ao sul do Equador, a ilustre deputada federal, Érika Hilton, está propondo a redução de jornada de trabalho. Em entrevista concedida, quando perguntada sobre as consequências econômicas da medida, esclareceu que não havia sido feito nenhum estudo, que a proposta tinha um cunho social pelo desgaste emocional e físico do trabalhador.
Pois bem! Vamos ajudar com alguns pontos que devem enriquecer o debate. A deputada deve saber que o Brasil vive, neste momento, o auge do bônus demográfico. Isto significa, quando se olha para a pirâmide de idade (basta consultar o IBGE), a concentração na faixa etária em idade de trabalho e o emagrecimento da base da pirâmide e, com o consequente inchaço do topo onde estão os chamados idosos.
Este período deve terminar, segundo estudos, em 2034. Este é o período para acumular a poupança que garantirá futuros investimentos, a saúde do sistema previdenciário e a qualidade de vida da população. Fazendo a comparação com o envelhecido Japão, o Brasil teve um PIB per capita de U$ 10 mil em 2023, é a 10ª economia do mundo e situa-se em 65º lugar no Exame de Pisa.
Importantelembrarque53milhõesdepessoasnopaísdependemdobenefíciobolsafamília,queodesemprego atinge6%dapopulaçãoeconomicamenteativaeadeputadapropõe,semnenhumestudotécnico,quesereduza a jornada de trabalho. Como será que os trabalhadores, sem dinheiro e com tempo ocioso, utilizarão o tempo disponível? Com deputados assim e são muitos, não precisamos temer pelo futuro, pois temos certeza de como será.
ACONTECEU
SEJA BEM- VINDO, DEZEMBRO
E chegou dezembro. Quem me conhece não ignora que tem sido uma constante em minha vida, ver a minha alma vestir seu melhor vestido de festa para receber, anualmete, o mês de dezembro!
No Viva Cidadão, dezembro era o mês da realização do grande Projeto: Ser Humano, ser Melhor, um fertilizante para o novo Ano, prestes a nascer.
Dezembro é também, o mês do meu aniversário, fato maravilhoso que implica no impacto da mudança de idade! Raríssimo, quem percebe, mas essa mudança de idade, nunca vem sozinha, ela mexe, traz novidades, nova forma de pensar e agir, muitas vezes, sutilmente, nos modifica e nos amadurece.
Dezembro, é um mês diferente, dizem os espiritualistas que Deus desce do Céu para a terra, uma infinidade de Anjos para a purificação desse tempo chamado Natal!
Dezembro, aniversário de Cristo!
Dezembro, meu aniversário, uma data para reencontro com amigos. Uma parada para reflexão! Um encontro que me dá a forte sensação de ser amada e com essa percepção de amor, respeito e sobretudo, consideração. Eapartirdessesentimento,costumoexpandirtodoesseapreçoem dobro, paraaquelesquelembram, deixando tudo de lado, por alguns instantes, para me colocar na mira de suas felicitações.
Agradecimentos a Deus, pela existência dessas pessoas, pelo seu carinho, delicadeza, generosidade e atenção.
Existe na vida algo maior e melhor que sentir-se amada pela familia e pelos seus amigos? Esse é o meu insubstituível motivo para ser feliz e amar a data do meu aniversário!
E agora é hora para agradecer. Obrigada. Muito obrigada!
Na noite desta quinta, os escritores Mia Couto e Eduardo Agualusa são os convidados da noite de encerramento.
Escritor angolano Ondjaki e Mary Del Priore (Foto: Fernando dos Anjos)
A segundanoite do Encontro Internacional deEscritores da Língua Portuguesa, realizado na Fundação da Memória Republicana Brasileira (FMRB), instalada no Convento das Mercês, em São Luís, foi marcada pelo lançamento de obras da historiadora brasileira Mary Del Priore e do escritor angolano Ondjaki.
Grande público prestigiou o evento na noite dessa quarta (Foto: Fernando dos Anjos)
Lançamentos Literários
Foram lançados os livros "Segredos de uma Família Imperial", de Mary Del Priore, e "Bom Dia, Camaradas", de Ondjaki. Em "Segredos de uma Família Imperial", Priore apresenta detalhes da intimidade da família imperial Orléans e Bragança após a proclamação da República em 1889. Já
Ondjaki,emsuaprimeiravisitaaSãoLuís,destacouaimportânciadoencontroparaaproximarpessoas por meio da língua, cultura e literatura.
Intercâmbio Cultural
Para o presidente da FMRB, Kécio Rabelo, o encontro é uma oportunidade de intercâmbio cultural e de experiências entre escritores de países lusófonos. O escritor maranhense Wilson Marques reforçou a importância da integração cultural entre escritores que utilizam a língua portuguesa.
O evento, que ocorre até esta quinta-feira, 21 de novembro, reúne grandes escritores da língua portuguesa em atividade. A programação é uma realização do Instituto Casa do Autor Maranhense e da FMRB, integrando o projeto Conversações de Além-Mar.
Na noite desta quinta, os escritores Mia Couto e Eduardo Agualusa são os convidados da noite de encerramento do encontro literário, a partir das 19h.
Para quem gosta de literatura e tem interesse especial pela produção de autores de língua portuguesa, aqui vai uma ótima notícia: o projeto Conversações de Além-mar, que tem promovido a visita de escritores lusófonos a Sao Luís, já tem nova edição confirmada: novembro de 2025. Realizado pelo @casadoautormaranhense @fmrb.ma , o Conversações reuniu, nos dias 20 e 21 de novembro, quatro importantes escritores no Convento das Mercês. Foram prestigiados por cerca de 1000 pessoas a historiadora Mary del Priore, os angolanos Agualusa e Ondjaki e o moçambicano Mia Couto. O evento que contou
ainda com lançamentos de livros e sessões de autógrafos, foi sucesso absoluto de público, deixando aquele gostinho de quero mais.
EM GUIMARÃES:
Escolas municipais celebram a literatura durante a Semana Literária
ANIVERSÁRIO DA APLAC.
Academia Pinheirense de Letras Artes e Ciências completa 19 anos e celebra a efeméride com missa em ação de graças na igreja da Conceição. Após a cerimônia religiosa, os acadêmicos se reuniram na Usina de Ideias, sede do sodalício, em assembleia geral. Na ocasião houve a inauguração do presépio da APLAC e o corte do bolo de aniversário, seguido de momento de descontração e convivência fraterna.
A ideia que nasceu em uma roda de conversa de amigos se concretiza: o nascimento e, hoje, a posse dos membros da ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS INFANTOJUVENIL. Parabéns à nossa confreira/guerreira Sharlene Serra como Presidente da AMLIJ, e a nosso confrade César Brito, pelo apoio e incentivo como Presidente da FEDERAÇÃO DAS ACADEMIAS DE LETRAS DO MARANHÃO/FALMA.
Crianças, adolescentes e jovens maranhenses cada vez mais apreciando e produzindo Literatura. É com o coração repleto de gratidão que me dirijo a todos vocês após o momento especial de diplomação dos membros efetivos da Academia Maranhense de Letras Infantojuvenil realizado no dia 25 de novembrode 2024, onde celebramos não apenas a posse de crianças e jovens, mas também o nosso compromisso em incentivar e orientá-las para a continuidade do amor pela literatura.
Agradeço a cada um de vocês por darem as mãos e acreditarem nesta construção, onde sabemos da importância da valorização e do quanto este momento fez e fará diferença na vida destes jovens.
Através da literatura que podemos abrir portas para a imaginação e cultivar sonhos, a Academia Maranhense de Letras Infantojuvenil é esta construção coletiva onde os protagonistas são nossas crianças e jovens.
Aos novos acadêmicos, parabéns! Vocês vão construir uma trajetória incrível, saibam que a Academia Maranhense de Letras Infantojuvenil é de vocêse juntos, Diretoria e Tutores, faremos dela um lugar onde as histórias de vocês ganharão vida.
Agradeço também aos familiares e a todos que contribuíram para que este evento fosse possível. Este apoio é fundamental para o crescimento e fortalecimento da nossa Academia.
Agradecemos também a presença da nossa vice prefeita @esmenia que nos proporcionou um discurso reflexivo e necessário.
Que possamos continuar a inspirar e encantar as gerações no hoje, para nos orgulharmos do que ainda estar por vir. Muito obrigada a todos!
Com carinho,
Sharlene Serra presidente da AMLIJ
II Feira Literária da Escola Raimundo Gomes da Costa - S. Vicente Férrer/MA.
Sala Gracilene Pinto.
(II Seminário de Valorização Histórico-Cultural de Vitória do Mearim):
Residente em Cantanhede, interior do Maranhão, a escritora desde a infância se pronunciou para a literatura, escrevendo poemas apresentados em datas festivas da escola onde estudava
Com dez e-books na Amazon, Val Carvalho faz lançamento em São Luís | O Imparcial
João Francisco Batalha recebendo diplomas na Academia de Paço do Lumiar
Encontro festivo no Largo de Nossa Senhora da Conceição, depois da missa, com o nosso confrade Felipe Camarão.
O PROGRAMA “HISTÓRIA EM DEBATE”, DA RÁDIO TIMBIRA, FOI PALCO DE UMA EMOCIONANTE homenagem à Mariana Luz. O jornalista Marcus Saldanha recebeu os imortais Inaldo Lisboa e Jucey Santana, além da escritora Gabriela Santana, para celebrar a trajetória e o legado dessa grande poetisa.
ACADEMIA LITERÁRIA DO MARANHÃO – ALMA
Aconteceu na UFMA, Campus Bacabal, o 1° Maranhão em cena, que ampliou o debate sobre a literatura contemporânea produzida no Maranhão.
Portanto, neste momento, devo agradecer aos professores (as) que trabalham a poesia contemporânea do nosso estado, especialmente ao @nonato7740 e aos discentes do curso de Letras de Bacabal, agradecemos também à @ufmabacabal.oficial .
Sabemos que a universidade deve pesquisar, refletir, construir teses sobre a produção atual, de maneira, que possa jogar luz sobre os nossos escritos. A produção da literatura maranhense é ampla, rica e muito vasta.
Foi muito bom ouvir Paulo Rodrigues @lindamartins ,Natan Campos e @antonioailton_ que também participaram do evento.
Agradecimento especial à @luanna_fcosta , Raissa, @rafernandes_00 e a todos(as) que nos ouviram e nos deram lições de sensibilidade!
Imagens: UFMA/Bacabal
Confraternização do
ARTIGOS & OPINIÕES & CONTOS & CRÔNICAS
& POESIAS
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
COMPARTILHAMOS
Com os amigos a emoção de participar o meu poema "O BRADO DE UMA MULHER PARA A LIBERDADE" na II Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Brasil: construindo pontes. Em comemoração dos 36 de fundação da SCLAB, é dos 19 anos da SCLAM:
O BRADO DE UMA MULHER PARA A LIBERDADE
ASSIR ALVES DA SILVA
Com sutileza, resignação
E fidelidade aos seus ideais,
A Maria Firmina dos Reis,
Não faltou coragem e determinação
Singeleza e autentidade
Transparência a dignidade humana
Ergueu sua audaz voz
Não importando a idade
Na oportunidade contra seu algoz
Só queria conhecer a liberdade
Sentir-se livre do feitor e sua chibata
Da crueldade dos mandatários
Ardilosa em seu imaginário
Com o brado altaneiro
Rumo a liberdade
Contra a desigualdade social,
Parecia o erguer de um cajado
Um tanto acelerado
Brava gente brasileira !
Acreditar seria asneira
De reverter a situação
Por não haver esperança,
De fazer-se aliança,
E libertar-se da escravidão
Com pensamentos acurado,
Não permitindo expressar
Sentimentos doloridos
Professora das primeiras letras
Vencendo a obscuridade
Novas ideias surgiram
Evitando a fatalidade
O conhecimento perdurou
Com o passar dos tempos
O ressurgir de novos ideais
As aspirações de desejos
Mulher insigne e pioneira
Ao rufar dos tambores imaginários
O burburinho replicou para além fronteira
Ascendendo as aspirações
E assim houve o reconhecimento
Em tempo hábil Maria Firmina dos Reis
Aclamada Patrona*da Educação de São Luís
EM DEFESA DA ”HONRA”
CERES COSTA FERNANDES -
Há alguns anos escrevi esta triste crônica, certa de que seria logo tornada obsoleta, hoje, vejo com tristeza que ela continua atual. Assim a republico...
A honra é pessoal e intransferível. Uma obviedade, sim. Mas, na segunda década do Século XXI, temos notícias que um homem, movido pela sagrada fúria da “legítima defesa da honra”, espancou, torturou, ou pior, matou a companheira que lhe faltou com uma suposta fidelidade. Estes energúmenos, se levados a tribunal. Ainda contam com a simpatia do público (a mulher fez por onde...) e - pasmem! - até a de certos componentes femininos do júri.
Mesmo entre os mais informados e intelectualizados reina o preconceito contra os maridos traídos, os chamados “cornos”, vítimas de críticas e gozações. O epíteto, curiosamente, não se aplica à mulher.
O inverso acontece com o adjetivo adúltera, com a acepção de traição. Certamente, um vocábulo feminino. Li, em algum lugar, que: “adúltera é a mulher que trai o marido e adúltero é o leiteiro que põe água no leite”. Explicando, na relação amorosa entre os dois sexos, não há culpa no homem infiel, nem desonra na mulher traída; mas desonra no homem traído e culpa na mulher infiel. Essa transferência de “honra” entre os dois sexos, incentiva a violência contra a mulher e a valida.
Outromotivo daviolênciacontra amulheréoacirradosentimentodeposse quedominaamaioriados homens. Lembremos a anedota árabe da mulher que se queixa ao pai de ter sido espancada pelo marido, ao que ele, indignado, em resposta, dá-lhe uma bofetada, dizendo: “volta e diz a teu marido que se ele bateu na minha filha, eu, em troca, bati na mulher dele”. Se eu tenho a posse de algo, posso dispor dele como quiser, inclusive destruí-lo.
Esse raciocínio advém do uso da força física masculina na sobrevivência humana ao longo da História. No princípio, esse tipo de força era a garantia do alimento e da segurança; mais tarde, foi indispensável para adquirir e manter propriedades.
O avanço tecnológico, dispensando a força para realização das tarefas nobres, decretou a sua falência. A superioridade física é cada vez mais desnecessária na Era da Informática, em que as guerras são resolvidas no apertar de botões e as maiores remunerações são ganhas, não pelos carregadores de sacas, mas por aqueles que desenvolvem o trabalho intelectual, Logocedo, os homenspressentiram queamulherpodiacompetirintelectualmentecom elesedesafiá-los nesse campo, colocando em perigo a sua (deles) hegemonia. Assim, a primeira providência tomada foi alijá-la do acesso à cultura. Desde a descoberta da palavra escrita, ler e escrever constituíram privilégios do sexo masculino. Na Antiguidade, permitia-se a cultura apenas às mulheres públicas; na Idade Média, elas estudavam enclausuradas nos conventos, único lugar onde isso lhes era permitido; no Romantismo, escreviam romances e poesias sob pseudônimos masculinos.
À falência da supremacia física, juntou-se a falência da dominação econômica. Hoje, cada vez menos, elas dependem economicamente do parceiro. Não são mais sua propriedade. É duro aceitar a nova ordem. Talvez, aí, esteja a causa maior dos homicídios de mulheres. São os casos daquelas que abandonam o parceiro e são mortas. As agressões à mulher são mais numerosas nas classes sociais mais baixas, em que a falta de educação masculina se junta à necessidade feminina, perpetuando a figura do macho provedor - “quem dá o pão, dá o ensino”, diz o ditado. Às dependentes, algumas bordoadas, à guisa de ensino; às rebeldes, metidas a independentes, dispostas a não suportar os sofrimentos, a morte.
O homem tomado pela santa ira contra a rebeldia de seu objeto de posse nãoteme a lei. Nem a Maria da Penha, nem qualquer outra. Muitas vezes o suicídio segue ao feminicídio.
Onde está a saída? Como sempre, na educação. Educar as novas gerações, para entender e absorver o impacto do crescimento feminino. Talvez assim os homens consigam assimilar a mudança sexual, intelectual e econômica da mulher, sem se sentirem tão ameaçados, entendendo que ela é, antes de tudo, uma parceira. Nem melhor, nem pior que eles, apenas diferente, com individualidade própria, e não um mero objeto de posse.
O FIM DA REPÚBLICA PROTESTANTE DE COMBRESSIVE
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Academia Ludovicense de Letras
Academia Poética Brasileira
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Centro Esportivo Virtual
Quando da derrota dos holandeses pelos portugueses na capitania de Pernambuco em janeiro de 1654, os seus aliados indígenas que ficaram no Brasil tiveram que se refugiar na Serra da Ibiapaba para não serem massacrados pelos lusitanos, visto que tinham sido alertados do perigo que corriam por terem se aliado aos batavos.
Sem o apoio e a proteção dos neerlandeses, e na iminência de serem literalmente exterminados pelos portugueses, cerca de quatro mil índios, liderados por Antônio Paraupaba, empreenderam uma marcha sem precedentes na história do Brasil, percorrendo cerca de 750 quilômetros através dos sertões inóspitos do Nordeste, até atingir o planalto da Ibiapaba, onde por certo se davam por seguros:
“(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses, a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”. Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. (Gaspar, 2004).
Os índios protestantes liderados por Antônio Paraupaba, tencionavam criar em solo ibiapabano uma república indígena independente, não de cunho teocrático, mas fundamentada nos princípios da Igreja Reformada da Holanda, da qual eram filiados, como lembra o próprio padre Antônio Vieira: ”muitos deles tão calvinistas e luteranos, como se nasceram em Inglaterra ou Alemanha” (VIEIRA: 1998; p.389).
Segundo Souto Maior (1993):
Firmada a Rendição de Taborda em janeiro de 1654, os índios calvinistas das capitanias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam obstinados em direção aos altiplanos da Ibiapaba. Tencionavam criar em solo ibiapabano um enclave indígena de cunho protestante: "a República de Cambressive". Antônio Paraupaba, seu líder, homem de muita influência junto a Companhia das Índias Ocidentais, viajou duas vezes (1654 e 1656) para a Holanda com o propósito de conseguir dos batavos, apoio financeiro e militar para realizar seu intento. Ao se dirigir aos nobres senhores holandeses, Paraupaba ratifica a crença do seu povo “como suditos bons e firmes na sua fidelidade para com este Estado e a Religião Reformada de Christo, a única verdadeira”, e diz que o auxílio batavo seria de fundamental importância, para que aqueles que, segundo ele, “foram uma vez trazidos ao conhecimento da verdadeira religião”, não fossem privados do “reino de Jesus Christo”. Antônio Paraupaba, como conhecedor das Escritura Sagradas, faz alusão a Parábola dos Talentos (Mateus 25.14-30), insinuando que os batavos receberam de Deus a incumbência de multiplicar em terras brasileiras, as ovelhas do seu rebanho: “Nem deixem que elles recaiam na selvageria entre as feras nos sertões bravios. Pois teriam de prestar contas ao Grande e Todo Poderoso Deus que é contra os que por usura enterram a sua libra com medo de gastar”. Termina Paraupaba implorando socorro imediato aos “pais e defensores dos oprimidos e desamparados”, para que as quatro mil pessoas refugiadas em Cambressive (Ibiapaba),
inclusive mulheres e crianças, pudessem sobreviver naquelas paragens, para o bem delas e “para a conservação da Igreja Christã Reformada, a única verdadeira”. Fonte: Livro “Fastos Pernambucanos” de Pedro Souto Maior, Imprensa Nacional, 1993. Por João Bosco Gaspar. Já o padre Antônio Vieira confirma que:
“(...) Entraram os índios rebeldes nas capitulações da entrega com perdão geral de todas as culpas passadas; mas eles como ignorantes de quão sagrada é a fé publica, temendo que os portugueses, como tão escandalizados, aplicariam as armas vitoriosas a vingança, que tão merecida tinham, e obrigados de certo rumor falso de que os brancos iam levando tudo a espada, lançaram-se cega e arrebatadamente aos bosques, com suas mulheres e filhos, onde muitos pereceram a mão dos tapuios, e os demais se encaminharam as serras de Ibiapaba, como refúgio conhecido, e valhacouto seguro dos malfeitores (...)”. Fonte: Trecho do livro “Cartas Várias” do padre Antônio Vieira, ano de 1885, p. 340. Por João Bosco Gaspar.
A propósito, o próprio nome “Cambressive” seria uma homenagem ao grande líder reformador João Calvino, e fazia referência a cidade de “Cambrai”, localizada no departamento de Nord, no norte da França, a terra natal de Gerard Cauvin e Jeanne Le Franc, os pais de João Calvino.
Antônio Paraubapa faleceu na Holanda no ano de 1657 sem que seus sonhos fossem concretizados, porém, distante do rigoroso frio europeu onde Paraupaba jazia inerte, precisamente no extenso planalto da Ibiapaba nos confins do Ceará, milhares de índios traziam incutidos nas suas mentes os preceitos indeléveis da fé protestante, os quais certamenteforam compartilhados evividos com seus irmãostabajaras do altoda serrania. (Gaspar, 2004).
Em 1660, é decretado o fim da “República protestante de Cambressive”, quando os índios ‘hereges’ de Pernambuco são retirados da Ibiapaba e conduzidos para o Maranhão:
“Ordem de Sua Majestade, que há de vir ao capitão da fortaleza do Ceará. Que por quanto sua Majestade tem ordenado que todos os índios retirados de Pernambuco que se achavam desde o sítio do Ceará até o da Ibiapaba, e suas vizinhanças, e em qualquer lugar daquelas costas ou sertões, se recolham todos ao Maranhão”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, AHU -Ceará, Caixa nº 01, Doc. nº 46.
Pedro Poti - cunhado de Filipe Camarão -, quando caiu prisioneiro dos portugueses na segunda batalha dos Guararapes, e preocupado com os acontecimentos futuros, escreveu o que segue:
“(...) Eu me envergonho da nossa família e nação ao me ver ser induzido por tantas cartas vossas à traição e deslealdade, isto é, a abandonar os meus legítimos chefes, de quem tenho recebido tantos benefícios. Ficae sabendo que serei um soldado fiel aos meus chefes até morrer. Os cuidados que dizeis ter por mim e o favor que os portuguezes nos dispensariam não são mais que histórias contadas para nos iludir. Não acreditais que sejamos cegos e que não possamos reconhecer as vantagens que gozamos com os hollandezes, entre os quais fui educado. Por outro lado, em todo paiz se encontram os nossos, escravizados pelos perversos portuguezes, e muito ainda o estariam si eu não os houvesse libertados. Sou christão e melhor do que vós: creio só em Christo, sem macular a religião com idolatria, como fazeis com a vossa. Abandonai, portanto, primo Camarão, esses perversos e perigosos portuguezes e vinde juntar-vos conosco. No meu acampamento, 31 de outubro de 1645 (assinado) o regedor e comandante do regimento de índios da Parahiba, Pedro Poti (...)”. Fonte:Trechodo livro“Fastos Pernambucanos" doDr.PedroSouto Maior, ano de 1913, p. 156/157. (GASPAR, 2004).
Filipe Camarão, nascido Poti, foi um indígena brasileiro e herói da Insurreição Pernambucana. Ele recebeu o nome cristão de Antônio Filipe Camarão após ser batizado. Em 1614, o índio potiguar acompanhou o capitão Jerônimo de Albuquerque Maranhão na reconquista da capitania do Maranhão, onde os franceses haviam fundado a cidade de São Luís. Lutou contra os invasores holandeses e franceses, sendo reconhecido como "Capitão-Mor de Todos os Índios do Brasil". Ele foi um líder militar e um dos heróis da Batalha dos Guararapes
Para Pedro Poti, Filipe Camarão era traidor de seu povo...
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Fiz um comentário no sitio da ONG-CEV – www.cev.org.br -, que acompanho desde seu início nos 1980, quando foi pensado pelo Prof. Dr. Laércio Elias Pereira quando ainda estava professor na UFMA. O comentário foi em razão da saída de um dos mais antigos colaboradores, o Carlex: Carlos Alex Soares, lá do RS, tocador do CEV-Basquete... Carlex comunica ao Laércio que está deixando as comunidades do CEV. Ao que escrevi:
O que representa, o CEV, hoje? ou, a quem representa? As manifestações, quando acontecem, são de uns poucos, em especial, aqueles que se engajaram desde o início, ainda lá nos anos 1980... havia uma crise na Educação Física, em especial, de identidade... Educação Física? Motricidade Humana? Ciências do Esporte? o que éramos? o que queríamos ser, quando crescesse... os cursos de pós-graduação começavam a pipocar, cada um com sua orientação, sem se conversarem...
Era o início da era da informatização... a Internet era uma novidade, e a comunicação era aquela pedestre, ainda - Correios... o que mudou? nós mudamos? depois de bater cabeça tantos anos ... nós quem mudamos? a grande maioria encontra-se aposentada, já fora do mundo acadêmico, da responsabilidade de formar as novas gerações... a Educação Física passou por um processo, deixando de ser um curso de formação de professores, e veio a graduação, o bacharelato, com a formação do profissional... mas de que? continuamos sem uma identidade... as brechas na legalização (?) da profissão, com a exigência de formação específica, e o consequente afastamento dos leigos, aprofundou, ainda mais, as diferenças, e as crises de identidade.
Afinal, qual é a nossa função? qual o sentido, de nossa militância? em que campos podemos e devemos atuar? os Fisioterapeutas estão aí, ocupando muitos espaços... os nossos antigos espaços... a graduação em lazer e recreação, tomou outro de nossos espaços... cada vez mais a pulverização, especificidade - lembra o ortopedista que consultei esta semana, ele é especialista em membros inferiores, dedão do pé direito; meu problema era no ombro e quadril, não era com ele... que procurasse outro e me indicou três profissionais, um, para o ombro direito, outro para o esquerdo, e o terceiro, para a coluna... - chegamos à esse ponto? ou chegaremos em breve? que maldita crise é essa...
Antes, pertencíamos à área médica, agora, à área social... antropologia, sociologia, pedagogia, quantas outras 'gias' mais? Ciências dos Esportes? lembro que começamos com algumas poucas, hoje, já somam mais de 90... lembro quando Litto trouxe a novidade das inteligências múltiplas... era 1994... eram cinco... hoje, já passam de 50... pergunto, pois... com a desistência, afastamento dos pioneiros, ainda tem sentido? noto que ninguém mais lê, estuda... e só as panelinhas das universidades funcionam: voce me cita que eu te cito... vive-se de citações, esta a situação... CEV para quê?
Darwin, sócio atleta da comunidade de Atletismo, submeteu o texto à apreciação da nova Comunidade - a de IA!!! E a análise feita pela IA sobre meu comentário, foi essa:
O texto reflete uma análise crítica e reflexiva sobre a trajetória histórica e os desafios contemporâneos enfrentados pela Educação Física e, em particular, pelo Centro Esportivo Virtual (CEV). É evidente que o autor, ao questionar a relevância e representatividade do CEV, busca problematizar questões estruturais, epistemológicas e identitárias que envolvem a área da Educação Física, considerando os impactos de transformações ocorridas ao longo das décadas. Abaixo, destaco os principais pontos de análise:
1. Crise de Identidade da Educação Física
O texto remonta à década de 1980, quando a Educação Física vivenciava uma crise de identidade. A multiplicidade de denominações como “Motricidade Humana” e “Ciências do Esporte” revela a busca por legitimidade e reconhecimento no campo acadêmico e profissional. Essa crise é contextualizada no início da era da informatização, que, embora tenha ampliado os horizontes da comunicação, também fragmentou os discursos e práticas da área.
A criação de cursos de bacharelado e a separação da formação de professores acentuaram essa falta de identidade. Essafragmentaçãoécomparadacom aespecialização extremaem outras áreas, como na Medicina, destacando o risco de pulverização e perda de uma visão holística da atuação do profissional de Educação Física.
2. Transformações na Profissão
O autor aponta para uma transição significativa na profissão, marcada pela regulamentação e a exigência de formação específica. Embora isso tenha afastado os leigos, também aprofundou as diferenças internas na área, evidenciando uma fragmentação de interesses e campos de atuação. A entrada de outras profissões, como a Fisioterapia, em espaços antes ocupados pela Educação Física, é mencionada como um desafio à identidade e relevância da área.
3. Relevância Acadêmica e Científica
Uma crítica contundente é direcionada ao campo acadêmico, especialmente à prática de “citações de panelinhas”, onde o mérito científico é substituído por relações de troca entre pesquisadores. Essa prática sugere um distanciamento do propósito original do CEV como espaço de troca de conhecimento genuíno e plural, reforçando a percepção de estagnação e perda de sentido.
4. O Papel do CEV
O questionamento sobre a relevância atual do CEV está intrinsecamente ligado à mudança de perfil dos seus participantes. Os “pioneiros”, que eram responsáveis pela inovação e reflexão crítica na área, já se afastaram ou aposentaram. Isso, combinado com a falta de engajamento e leitura por parte das novas gerações, coloca em xeque a utilidade e o futuro do CEV enquanto espaço de diálogo e construção coletiva.
5. Perspectiva Crítica
O texto não apenas relata a crise da Educação Física e do CEV, mas também reflete uma visão pessimista sobre o futuro. A especialização excessiva, a fragmentação do campo, a perda de espaços para outras profissões e o afastamento de seus membros mais críticos são apresentados como sintomas de uma crise mais profunda de propósito e relevância.
6. Questões Centrais e Provocações
• “CEV para quê?”: Essa pergunta reflete o cerne do texto, provocando uma reflexão coletiva sobre a necessidade de ressignificar o espaço do CEV.
• “Qual é a nossa função?”: A dúvida sobre o papel da Educação Física no contexto contemporâneo aponta para a urgência de redefinir objetivos e áreas de atuação.
• “Nós mudamos ou apenas nos fragmentamos?”: Essa provocação sugere que, apesar das transformações, a área não conseguiu consolidar uma identidade forte e coesa.
Considerações Finais
O texto é uma crítica contundente e nostálgica que reflete a desilusão com os rumos da Educação Física e do CEV. No entanto, também oferece uma oportunidade para reavaliar as práticas acadêmicas, repensar as prioridades profissionais e reconstruir a identidade coletiva da área. O desafio reside em transformar a fragmentação eespecialização em forças complementares, capazes deampliararelevânciada Educação Física e do CEV em um contexto interdisciplinar.
Escrevi ideias germinais(ixi!)
OSMAR GOMES
Enquanto tivermos uma sociedade que insiste em segregar, tratar com preconceito, indiferença e racismo, seja este enrustido ou escancarado, será necessário falar de pessoas como Vinícius Júnior. Enquanto tiver pessoas que “torcem o nariz” diante desta temática; ou que não passarão deste primeiro parágrafo, faz-se urgente, obrigatório e preciso discorrer sobre o assunto.
Há algumas semanas falei da injustiça feita pela revista France Football, que não entregou a merecida bola de ouro para Vini Júnior. Não, necessariamente, a revista, mas aqueles que votaram e deixaram registrado o manifesto de um racismo já enraizado em nossa sociedade, cuja mazela é capaz de enterrar os sonhos e a autoestima de milhões de pessoas.
Hoje, vê Vini levantar o troféu de melhor do mundo entregue pela FIFA é como lavar a alma com o mais puro orgulho. Um brasileiro, preto, favelado, criticado, desacreditado e merecidamente o melhor do mundo no futebol.
O ápice alcançado por Vini, não retrata apenas uma conquista pessoal do atleta; como ele mesmo fez questão de frisar, ao receber o troféu. Carrega consigo o simbolismo e o peso do sonho de milhões de crianças. Os mais íntimos desejos daqueles pequeninos de pés descalços, que aprendem a driblar no asfalto ainda quente, que corre atrás da bola no campo de várzea, no poeirão, onde a ginga se desenvolve e se aprimora.
Sonhos que quando a noite cai adormecem ao som de balas traçantes nas favelas e morros, mas que também estão no castigado sertão, em meio a floresta, nos mais distantes rincões do país e mesmo na zona sul elitizada. Sonhos não têm classe social, não escolhem lugar e não veem fronteiras. No entanto, em se tratando daquelas crianças em posição, digamos, menos favorecidas – ou em nada favorecidas – temos sempre o sentimento de que a vida poderia (ou ainda pode) ganhar contornos outros, não fosse o estudo e o esporte.
Por isso, no lugar em que falta praticamente tudo, muitas vezes a oportunidade de uma vida digna, não podem faltar os sonhos. São eles que permitem esperançar dias melhores. E há quem abdique dos seus próprios sonhos para apostar nos de outrem. Assim, enfatizou Vinícius, ao receber a premiação, pois sua família, seus pais deixaram de viver suas próprias aspirações para acreditar e investir na vontade daquele menino franzino.
A força do esporte é fantástica e dos sonhos também. Eu sou protagonista de um sonho,(vindo da roça, da palafita, machucado pela ditadura), porém tive a ousadia de sonhar …Marta, os Ronaldos, Romário, Adriano, Rebeca, Izaquias, agora Vinícius Júnior é o responsável por incorporar e representar esses sonhos, não mais esquecidos. E jamais adormecidos!
Sonhos que calam o preconceito, o racismo, a intolerância. O sonho da favela, que, agora, permite pensar em uma sociedade melhor, justa e igualitária.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras e Maranhense de Letras Jurídicas; ALMA – Academia Literária do Maranhão e AMCAL- Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
A PALAVRA PAZ
(Joãozinho Ribeiro)
Entre as feridas da bomba
Uma criança sem rosto
Vagueia pelos subúrbios
Da cidade destruída
Catando os cacos de infância
Subtraídos da vida
Sem pátria, sem geografia,
Perdida num continente,
Delinquente, guerrilheira,
Ensaia para o futuro
Uma canção de esperança
Bordada em letras de muro
Dos cacos que vai juntando
Edifica sobre as perdas
Uma palavra sofrida
Que vaza as dores do mundo
Queixando as rosas da vida
Esmagadas num segundo
A palavra peregrina
Imitando o vôo dos pássaros
Sobe os alpes, cordilheiras
Invade vitrines, praças,
Devassa quartéis, igrejas
Pelos países que passa
Assim como quem esvazia
Dos corações, uma culpa
E reconstrói dos escombros
A consciência da história
Que trazia aprisionada
Na gaveta da memória
É uma palavra escrita
Com tinta feita de sonhos
Sonhados na madrugada
Que encharca a Humanidade
Com uma nova primavera
Repleta de liberdade
É uma palavra inquieta
Que se despeja nos campos,
Visita guetos, favelas,
Desarma o estouro da bomba
Cortando o pavio da chama
Da guerra suja que tomba
E da criança sem rosto
Um sorriso de surpresa
Rouba um verso de um poeta
Que vai morar num cartaz
Numa comunhão de letras
Formando a palavra PAZ!
JOSÉ
CLÁUDIO PAVÃO SANTANA
Em que Natal eu perdi meu papai Noel?
Em que momento meu sonho infantil foi interrompido e partiu meu coração?
Quando meu imaginário foi destroçado?
Quando deixei de escrever cartinhas?
Ah! Se eu soubesse que minha despedida seria mais dolorida ao ver meus pais partirem, talvez eu não tivesse reclamado do adeus ao papai Noel.
Se eu soubesse das angústias e dificuldades para me verem sorrir; se acaso supusesse a aflição dos meus pais em não me decepcionar talvez eu tivesse me comportado.
Mas, como? Não poderia. Era a criança que vivia as ilusões com que alguns não ousam sonhar. Não poderia, porque “todo menino é um rei” e eu tinha todo um reino a explorar.
Mas cresci, fui papai Noel, fiz esforços para não decepcionar e, hoje, constato que perdemos o papai Noel que partiu com a meninice, mas aos poucos a dor passou.
Hoje, já na velhice irremediável, assisto os netos e vejo crianças me trazerem o tempo de volta para relembrar Natais, reviver ansiedades embora o despertar seja sem embrulhos ao lado da cama.
A vida adulta me deu presentes, levou meu papai Noel, mas me recompensou ao me deixar memórias, filhos, netos, amigos e glórias.
Já não lembro o Natal exato em que perdi papai Noel. Talvez eu, órfão de mim mesmo, tenha sido a ilusão perdida.
Hoje daria qualquer brinquedo da minha vida para ter um instante que fosse com meu papai Noel e dizerlhe, certamente aos prantos, que sou grato por tudo. Lembraria meu trem amarelo, meu soldadinho de chumbo, minha bola, enfim, lembraria de muita coisa. Mas o presente maior seria reencontrar meus pais para dizer-lhes com gratidão eterna: vocês foram meu maior presente porque até a eternidade eu terei motivos para me orgulhar dos pais que tive no Natal eterno de nossas vidas.
Em que Natal eu perdi papai Noel já não lembro, mas descobri com a vida que ao ler cada texto no Natal, como era missão de filho, eu encontrava no Evangelho a razão única do Natal.
Desbotado pelo tempo já não consigo lembrar quando perdi meu papai Noel, mas minha recompensa permanece viva porque pode haver até Natal sem papai Noel, mas jamais haverá Natal sem Jesus Cristo, nosso Salvador.
Que seja um Natal de paz e bênçãos a todos.
CERES COSTA FERNANDES
Estão reunidas quatro amigas de tipos bem diversos: Joana, estudante de economia, um tanto pão dura; Mary, metida a grã-fina; Lu, mimada e cheia de nojos e Cuca, solteira e ecologista radical. A reunião é para resolver um assunto extremamente complicado: a ceia da passagem do ano. Estão organizando um Reveillon privé, para elas e as respectivas famílias.
Diz Joana, Na crise atual, sugiro substituir o enjoadíssimo peru, caro e sem gosto, por algo mais prático e barato: um bom frango assado com farofa de banana... Lu, a nojentinha, pula em cima, De jeito nenhum como galinha de granja, são cheias de hormônios e a carne é mole! Eu também não como, diz Cuca, desde que vi como os pintinhos são levados a comer dia e noite para engordar e virarem frangos. As luzes ficam acesas a noite inteira e eles pensam que é sempre hora de comer. Uma maldade, sem falar que os frangos não podem quase se mover nos engradados para amaciar a carne! E as chocadeiras? Lembra Lu, os ovos são chocados sem mãe; o pintinho já nasce órfão! Mas, haja dente para as duras galinhas caipiras, diz Joana, e também podem ter vermes, já vi disso, no interior, um nojo!...
E uma vitelinha de forno, que tal? Propõe, já com água na boca, Mary, a grã-fina, É carne nobre. Você come vitela? Grita Cuca, vitela é aborto! Ah, bem, mas um patê de foie gras não dá para recusar, não? Um patezinho é saudável, insiste Mary. Ô filha, desanima Cuca, mas se o ganso leva varadas no fígado para que ele aumente de volume! O pobre é obrigado a comer sem ter vontade. Enfiam comida até por um funil pescoço adentro! Verdade? Diz Mary, vou reconsiderar o patê..
Joana volta à carga, E o Chester do peitão, não dá? Rende bem. Se for para ser contra comer animais criados de forma politicamente incorreta, diz Lu, então vou ser contra: o frangão. É uma anomalia, criado em laboratório, mais peito que frango, não pode nem andar que arrasta o silicone no chão. Proponho um quarto de cordeiro ao vinho, cairia bem, afinal até a Bíblia manda comer cordeiro. Me admiro de você, cara amiga, tão cheia de nojos, rebate Cuca, condena os chineses por comerem cachorro e tem coragem de comer um bichinho de olhos tão ternos que foi companheiro de Jesus e de João Batista, e ainda por cima, estava na estrebaria quando o Cristo nasceu!
E um porquinho novo, à pururuca - arrisca Joana, temerosa -, com uma maçã na boca?
Decididamente, minhas amigas, vocês vivem fora do mundo, pontifica Cuca, por acaso não sabem que os porcos estão acima dos cachorros na escala da inteligência animal? E são torturados nas suas baias de cimento, sem nenhuma lama para refocilar. E o pior, só comem ração, nem uma casquinha de banana ou manga caída do pé. E vou logo adiantando, diz Cuca, já exaltada, também não vou admitir nada com filé, carne obtida com confinamento e sacrifício dos bois com o fito de amaciar-lhes a carne. Não lhes dão nem o direito de todo animal, que é a reprodução com prazer! É vaca prum lado, boi pro outro! E tome inseminação! As vacas ficam na seca e os bois só fornecendo sêmen pra fazendeiro. Além disso, eles soltam muitos gases, aumentando a emissão de carbono. Joana suspira, lembrando que não só as vacas estão na seca. Cadê o seu direito animal?
Mary, louquinha por um peixe cru, intervém: Já vi que nenhum mamífero serve. Do jeito que a coisa vai, vamos encontrar até parentesco deles conosco. Noite dessas, fui a um jantar em que havia uma cutia assada no centro da mesa com um laço vermelho no pescoço e olhos de ervilha, que me pareceu a tia Mundiquinha, e passei um longo tempo sentindo que ela me espiava tristemente. Não tive coragem de comer a falecida tia Mundiquinha. Sendo assim, caras amigas, vamos de frutos do mar. Camarão, siri, bacalhau, lagosta – a conversa estava tomando o rumo que ela queria – desse modo não haverá DNA de parentes envolvidos. Amiga, péssimos exemplos deu você, rebateu Lu, a nojentinha, que havia estado calada, lembrando dos parentes da família do marido – na qual identificou um macaco, um hipopótamo e uma gralha -, esses bichinhos aí, todos de fundo do mar, são comedores de carniça. Os afogados, quando afundam, lhes servem de alimento. Depois, os corpos sobem à superfície e trazem um montão deles agarrados, ainda na refeição. Nunca ouviram falar disso?
Arriscam outros palpites, e uma saladinha? As plantinhas sentem dor, o Roberto Carlos diz que conversa com as couves... E o leite para os cremes é feito do leite negado aos bezerros, separados das mães, que são confinadas, com os úberes imensos arrastando no chão... Já os embutidos – deu na TV – são feitos de carne misturada a cartilagem, sebo, plásticos e outras imundícies... Os peixes crus podem estar contaminados...
Asquatroseentreolham, emdesespero,bomeraotempodaignorância,lautasmesasfestivas,delíciascomidas sem culpa de engordar e sem o remorso do politicamente incorreto. Gente, fala Mary, o mundo não está à beira de uma guerra nuclear, ariscado a acabar em breve? Então, acho melhor aproveitar. Recomeço minha lista com o leitãozinho pururuca.
A ARTE DE ESCREVER
OSMAR GOMES
Finalizo (aqui) mais um ciclo muito importante na minha vida, no qual dividi minhas atribuições de julgar com o compromisso semanal de escrever. Paixão que assumi há alguns anos, após flertadas com as palavras em ensaios esporádicos, quase descompromissados.
Ciclo, cujadedicação é semanal, e afaço há alguns anos, e assim, trago àbailaassuntos que possamter alguma relevância, tais como: trânsito, relacionamento, comportamento, conquistas, problemas sociais. Por vezes, pitadas de um lúdico que foge às aflições cotidianas.
Considero escrever uma arte, não necessariamente no sentido de propor uma perfeição artística como o senso comum parece sempre crer. Mas uma arte de persistir, de errar, de acertar, de propor, fazer algo diferente por meio de provocações que as palavras remetem a cada um.
Escrever é se deleitar sobre o mundo e suas diversas nuances. Não necessariamente sobre uma gramática rebuscada e ortodoxa, mas daquela ao alcance de quem tiver contato com as formações silábicas, que formam palavras e orações em uma semântica que faça algum sentido.
Escritos que, como disse, vejo como arte, mas, sobretudo, quando atende à devoção que se pratica liturgicamente. Basta um noticiário, uma conversa de fila de mercado, um acontecimento no trânsito. Lá vem as ideias a fervilhar na mente, fazendo surgir algo que possa ser dito, que possa ser lido.
Na tela do celular, no teclado do computador ou em alguns papéis de rascunho e um lápis. Tenho até mais apego a este último, sem qualquer necessidade de borracha, bastando traçar uma linha sobre aquela palavra ou expressão que não pretendo mais usar. Isso permite o exercício de, tempos depois, entender o que seria escrito e não foi mais.
Há quem prefira os livros, onde publicam não com tanta frequência, mas que tem o condão de se eternizar. Outros preferem os escritos efêmeros, das questões cotidianas, transcrevendo a realidade tal como ela é a cada dia.
Nessas duas linhas, escolhi por adotar ambas. Além dos escritos semanais, ensaio, obras que juntam um pouco de tudo em um compilado de temas reunidos. Naturalmente quero agradar meu leitor, que ora aprovará um tema, não terá afeto por outro e poderá ter sua atenção atraída para tantos outros.
Esse é o outro lado de onde se encontra o escritor: a livre opção de escolha do leitor. Entretanto, o importante é seguir rascunhando, aprimorando a arte de juntar letras, sílabas, palavras, frases e orações. Acima de tudo, a arte de fazer sentido naquilo que proponho escrever. E o faço com prazer e satisfação, grande parte desses dois sentimentos vieram com a prática diária.
Enxergar o mundo e registrar em traços de uma peculiaridade ímpar, de quem respira o universo à sua volta. Porém, como disseacima: éum cicloqueseencerra. Todavia,justamenteporsercíclico,inicia-seoutro; assim como o novo ano que se avizinha. Novos acontecimentos a serem retratados, na esperança de que sejam eles mais positivos do que negativos, frente às desventuras da vida, a serem observados e retratados com olhar ainda mais aguçado e atento.
Que venha o novo ciclo, permitindo ensaiar, escrever e quem sabe reescrever histórias cíclicas e importantes, as quais testemunharemos ou as protagonizaremos.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas; ALMA – Academia Literária do Maranhão e AMCAL – Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
WHATSAPP: CENSURA OU DISTRAÇÃO?
dezembro 28, 2024 por A PENA DO PAVÃO, publicado em Opinião
Ano 12 – Vol. 12 – N. 76/2024
https://doi.org/10.5281/zenodo.14567808
Tem sido prática frequente nos grupos de WhatsApp a publicação imediata de mensagens com o propósito de desviar a atenção após um artigo ou conteúdo relevante ser compartilhado por um dos membros do grupo.
Antes de tudo é necessário afirmar: grupo é um conjunto de pessoas vinculadas por pontos comuns, embora não uniformes, por isso mesmo demandando maturidade para reconhecer no outro alguém com valores, princípios, idéias e ideais que podem ser diferentes.
Esse tipo de comportamento, muitas vezes, carrega um viés ideológico e pode ser entendido como uma forma sutil de censura.
Basta que uma pessoa compartilhe um artigo pondo na berlinda crenças ou discuta temas polêmicos e pronto. Logo outros membros do grupo publicam quase instantaneamente memes, noticias descontextualizadas, mensagens desconexas distribuídas em massa, filantropia etc.
Qual seria o objetivo disso? Qual a intenção aparentemente revelada?
Permito-me compreender que outra não seria se não deslocar o foco e impedir que o conteúdo inicial possibilite um debate – não um destemperado embate – ou reflexão.
A par de ser inconveniente, esse tipo de prática desperta questões sérias sobre a a liberdade de expressão, sinalizando intolerância no ambiente digital.
O WhatsApp é uma das diversas vias de manifestação em que deve prevalecer a noção democrática e plural de conhecimento que não se casa com a ideia de silenciamento tão difundida hoje no mundo, mas com destacados adeptos do Brasil.
Discordar é direito de qualquer um quando o assunto for matéria de gente com cognição mínima sobre o assunto. Silenciar, ao contrario, é a mais nítida característica de gente autoritária e intolerante.
Além disso, a verdadeira censura em que reside esse tipo de comportamento só enfatiza ainda mais a polarização nas redes sociais.
O ambiente virtual que hoje nos abriga e possibilita a celeridade como fator de ajustamento de tempo e espaço – tornando o mundo menor – deve assegurar o confronto saudável de ideias, sendo deletéria a prática desse tipo de gente que opta por abafar vozes contrárias, usando-se da dispersão como alternativa.
O pluralismo é um fundamento constitucional, mas sua compreensão não demanda a objetividade dogmática, residindo propriamente no campo da ética que não permite distinções seletivas: ou se é ético aqui ou na Lapônia ou não se é ético.
Portanto, essetipo decomportamentoem nadacontribui paraoconhecimento queformataaevoluçãohumana. Não receba o leitor estas palavras como uma mensagem autoritária. Por dever de oficio a reflexão é matéria prima para a Academia – ambiente em que tenho domicilio – tornada pouco afeita aos discursos que se desalinhem das pautas e mantras amarelados pelo tempo.
Como o propósito é contribuir entendo que o combate do tipo de prática aqui exposto exige que os participantes de grupos adotem posturas mais éticas e respeitem a troca de ideias.
Que tal o incentivo dialógico e a reflexão crítica como nuances do pluralismo político? A expressão (pluralismo político) é aqui utilizada em sentido amplo. Só assim, entendo, conseguiremos aplacar essa forma de censura moderna.
Aliberdadedeexpressão éumdireitonaturaldoserhumanoedeveassimserdefendidaemtemposautoritários como o nosso de hoje no Brasil. Contudo, mesmo no WhatsApp, essa liberdade depende de nossa capacidade de ouvir antes de falar e de priorizar o debate em vez da dispersão.
ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA
A @academiapoeticabrasileira é uma instituição onde podemos encontrar alguns dos maiores valores culturais de nossa contemporaneidade. Tudo muito bonito e comandado com muito zelo e carinho pelo querido @mhariolincoln
O FILÓSOFO, POETA
E ESCRITOR ROGÉRIO ROCHA ESTREIA NO
FACETUBES COMO COLUNISTA
Rogério Rocha é membro da APB/MA e este texto está concorrendo ao PRÊMIO EXPERTISE, da Plataforma do Facetubes.
TEXTOS ESCOLHIDOS
A equipe de pesquisas da Plataforma do Facetubes singra os mares da Internet todas as manhã para descobrir textos interessantes para reprodução. Um deles, hoje, vem assinado pelo imortal APB, Rogério Rocha, cujo título é curiosíssimo: "E se o Nordeste fosse retirado da geografia do Brasil?"
Um tema muito interessante, que, aliás, ressalta de forma excitante a importância insubstituível do Nordeste na formação da identidade brasileira, com produções sine qua non de intelectuais, artistas, cientistas, músicos, poetas, cordelistas, repentistas que foram (e são) fundamentais para o desenvolvimento cultural, artístico e gastronômico do país. Isso porque, segundo o autor, filósofo e poeta Rogério Rocha, a ausência do Nordeste significaria a subtração de um conjunto simbólico e representativo que moldou a "brasilidade" ao longo dos séculos. "Sem o Nordeste o Brasil não seria apenas mais pobre; seria um país irreconhecível", afirma Rocha.
Por essa razão - e com base nas históricas e ricas análises do intelectual brasileiro Gilberto Freyre, que também refletiu sobre a relevância cultural e social da região - fica claro a impossibilidade do Brasil sobreviver sem as dinâmicas sociais, raciais e culturais do Nordeste, formadoras da sociedade brasileira. [Fundação Gilberto Freyre: https://www.fgf.org.br]. sem mais delongas, vale ler Rogério Rocha e seu primoroso texto.
(Nascido em São Luís/MA, Rogerio Rocha é professor, poeta e produtor cultural, pós-graduado em Direito Constitucional (Universidade Anhanguera-Uniderp), pós-graduado em Ética pelo IESMA, Graduado em Filosofia (UFMA), Bacharel em Direito (UFMA) e mestre em Criminologia pela Universidade Fernando Pessoa (Porto/Portugal). É membro da Academia Poética Brasileira, da Academia de Letras, Artes e Ciências do GOBMA e da Academia Maçônica de Letras do Maranhão. Exerceu a advocacia, foi assessor jurídico e é servidor público do Poder Judiciário do Estado do Maranhão. É membro-fundador e coordenador dos projetos INICIATIVA EIDOS e DUO LITERA, que trabalham com eventos nas áreas de filosofia e literatura. Foi segundo colocado no Concurso Gonçalves Dias, na categoria poesia, no ano de 2019 e selecionado para a categoria crônica, na mesma premiação, em sua edição de 2020. É autor do livro de poemas “Pedra dos Olhos” [2020] e “A linguagem da ausência” [2024]. Produz vídeos para o canal Hipertexto, no YouTube, onde divulga e apresenta conteúdos sobre cultura em geral.)
por Rogério Rocha
Imaginar o Brasil sem o Nordeste é um exercício complexo se levarmos em conta a grandeza da contribuição da região para a identidade nacional.
Ao longo dos séculos, a área geográfica tem sido um centro vibrante de produção cultural, intelectual e política em nosso país, moldando de forma significativa os contornos do que chamamos de "brasilidade".
Se, num experimento hipotético, excluíssemos o território nordestino e seu patrimônio cultural da história brasileira, o país não só perderia figuras emblemáticas, mas também uma parcela decisiva de sua essência. Senão, vejamos!
Nas letras, a região ocupa um lugar de destaque, com autores que imortalizaram, em obras fundamentais, suas paisagens, dilemas e personagens. Seríamos privados da leitura de romances que traduzem a luta contra as adversidades e do rico imaginário simbólico
Se eliminássemos o Nordeste do nosso mapa e da nossa história, a literatura brasileira ficaria sem Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Josué Montello, Jorge Amado, Antônio Torres, Francisco J. C. Dantas e Ronaldo Costa Fernandes, apenas para citar alguns.
A produção poética também seria irremediavelmente empobrecida sem os versos de Castro Alves, Gonçalves Dias, Raimundo Correia, Sousândrade, Augusto dos Anjos, Nauro Machado, Salgado Maranhão, João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, Ferreira Gullar, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele e Viriato Gaspar, por exemplo.
No campo científico, a ausência das mentes nordestinas deixaria lacunas significativas.
Nina Rodrigues, psiquiatra, médico legista e antropólogo maranhense, foi responsável pela introdução dos estudos da criminologia em nosso país. A baiana Ana Nery, que foi uma figura de destaque na história da enfermagem brasileira, contribuiu significativamente para o desenvolvimento da profissão.
Na medicina, Nise da Silveira, alagoana de Maceió, revolucionou os tratamentos psiquiátricos com sua abordagem humanizada. No direito, Rui Barbosa, o notável baiano, foi influente como jurista e pensador político. Pelo brilho da inteligência e pela postura intelectual, ficou conhecido como o "Águia de Haia".
A história política do Brasil também ficaria desfigurada sem nomes como Joaquim Nabuco, um dos principais articuladores da abolição da escravatura, Barbosa Lima Sobrinho, Miguel Arraes, Eduardo Campos, Antônio Carlos Magalhães e Luiz Inácio Lula da Silva, pernambucano que alcançou a presidência pela terceira vez na história recente do país.
Outros nomes como Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Epitácio Pessoa, Fernando Collor de Mello e José Sarney, também compõem uma lista de nordestinos famosos que chegaram à presidência da República. A perda seria avassaladora também na música. Imaginem o cenário sem Luiz Gonzaga, o "Rei do Baião". Sem ele não teríamos gêneros brasileiríssimos como o forró e o xaxado, e a sanfona não teria se tornado um ícone nacional.
Sem Dorival Caymmi, a música brasileira perderia canções que evocavam a magia das cidades à beira-mar. A bossa nova não teria o gênio de João Gilberto e a MPB empobreceria sem Belchior, Amelinha, Fagner, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Elba Ramalho, Alcione, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Xangai, Elomar, Chico Science, Zeca Baleiro e Chico César, expoentes da música brasileira, também desapareceriam do contexto. No rock, perderíamos Raul Seixas e Marcelo Nova, herdeiro do legado do Maluco Beleza.
No campo das artes visuais, sem Carybé, as telas que traduzem as belezas naturais e arquitetônicas da cultura baiana não existiriam. No cinema, a contribuição de Glauber Rocha e o movimento do Cinema Novo deixariam de influenciar gerações. A comédia não teria visto o gênio de mil faces chamado Chico Anysio. O
teatro e a dramaturgia também estariam desfalcados sem as colaborações de artistas como Dias Gomes e Ariano Suassuna ou as atuações de José Wilker, Wagner Moura e Lázaro Ramos.
O futebol pentacampeão mundial perderia de vista craques da magnitude de Bebeto, Zagallo, Daniel Alves, Dida, Juninho Pernambucano, Edilson Capetinha, Rivaldo, Bobô, Hernanes, Givanildo, Jardel, Charles, Zé Maria, Júnior Capacete, Hulk, Canhoteiro, Jackson e França.
A culinária deixaria de experimentar o sabor de alimentos como o arroz de cuxá, o acarajé, a buchada de bode, o vatapá, a tapioca ou beiju, a carne de sol e o cuscuz, o baião de dois e o sarapatel, o bolo de rolo, a paçoca, a moqueca e o caruru. Não beberíamos a cajuína, a garapa, o maltado e o guaraná Jesus. Também ficaria de fora do deguste geral nosso maior símbolo etílico: a cachaça.
Retirar o Nordeste da história do Brasil significaria, portanto, subtrair boa parte da identidade nacional.
A região não apenas fornece rica matéria-prima para a nossa cultura, mas inspira uma perspectiva singular em torno das condições humanas que definem um pouco do que somos.
Sem o Nordeste o Brasil não seria apenas mais pobre; seria um país irreconhecível.
VÍDEO-BÔNUS
Abaixo, a participação na edição 84 do programa "Dialogando com a Biblioteca", do canal LibRaS em Prática, do filósofo Rogério Rocha. Em tempo: sigam o canal do projeto do professor Reginaldo, do Instituto Federal do Sul de Minas. A LIVE foi transmitida ao vivo em 30 de março de 2024.
CARTA A BETTO PEREIRA, *MHARIO LINCOLN
Meu dileto amigo. Como me fizestes bem, hoje, logo ao acordar. Em teu Instagram, uma tela retratava os diversos padrões feitos de papel seda que 'cobriam' armações estruturais de talos leves: meus papagaios (pipa) da infância.
Ainda me lembro que, meticulosamente trançava as três hastes, a de baixo, tentava um arco côncavo perfeito, medindo e 'amarrando' cada ponta, circundando o formato com as linhas de costura de minha mãe. Nem sempre conseguia surrupiar o carretel de linha branca; a mesma que servia para alinhavar, chulear, embeber, franzir, fazer pences e plissados....mamãe, quantas vezes, cerziu meus sonhos também.
Por isso, a tua tela também me fez lembrar de minha mãe. E me lembrou também que raríssimas vezes a vi sentada na "Singer", mas guardava os apetrechos de sua máquina de costura, da mesma forma como guardava papéis e fotografias em sua mesa de trabalho, onde, no centro, estava uma “Remington”, com a qual exercia sua atividade de jornalista. Era um pedaço dela mesma. Tua tela me fez lembrar disso e de tantas outras coisas, caro confrade Betto.
Fez-me refletir sobre uma época em que engatinhava em meus sentimentos. Quantas vezes me vi diante de angústias, desespero, medo e glórias, enquanto empinava e 'lanceava' meus papagaios, bodes ou jamantas artesanais, feitas por mim ou compradas na casa de Zezé Caveira, rua das Cajazeiras, esquina com Barraquinha, em minha velha S.Luís-Ma. Aliás, conversando com meu amigo Wellington Reis sobre o assunto, ele completou: "Zezé Caveira foi o cara que inventou o papagaio-bode (de tamanho maior). Esse, a gente empinava com linha 20". Sim, uma linha mais forte em que o cerol grudava melhor. Quantos 'bodes' perdi em grandes lanceadas na praça Deodoro....
Mas o simples ato de observar meu artefato no ar me fazia contemplar não apenas a beleza efêmera entre preceitos físicos de equilíbrio e fricção, das formas, da complexidade equacional entre a espessura da linha e o empuxo de sustentação, como também, o medo de perder meu papagaio para outra linha inimiga, cheia do tal cerol-raio, fabricado com lâmpadas fluorescentes, esmagadas nos trilhos dos velhos bondes do Departamento de Transportes Urbanos de São Luís - DMTUSL.
Sempre acabava perdendo, chorando e me desesperando, porque é muito difícil ir (de) encontro à máxima de Heráclito: 'Tudo flui, nada permanece'. Contudo, há mais do que simples movimento de linhas cruzando o céu em disputa por espaços e lanceios. Isso porque, quando o cerol corta a minha linha, estabelece-se, no ato, um conflito real entre o ser e o não-ser, o prazer e a dor, a liberdade e as minhas limitações. E aí vêm os autoquestionamentos: por que não coloquei menos 'goma' na mistura com o vidro? Por que não usei linha '8', ao invés de linha '10'? Talvez se tivesse feito um buraquinho do lado esquerdo do papagaio ele não ficaria tão 'penso' para esquerda e eu teria mais controle na lanceada.
Parece simples, bobagem, mas não é! Quando empinava meu papagaio, feito com coração, cola branca comprada na Livraria ABC, linhas surrupiadas da máquina "Singer" da minha mãe e papéis de seda coloridos, comprados na quitanda de seu João Carvalho, na rua do Ribeirão, canto com a rua do Machado, no centro de minha Ilha dos Amores, crescia liberdade absoluta em meus olhos. Eu sentia um poder incrível com domínio absoluto sobre a linha, manobrando-o com esmero, pelas correntes de ar, mesmo sabendo ser esse sentimento de liberdade, simplesmente temporário. Ora, eu queria ter meus minutinhos de fama. Então, caro Betto, ao contemplar a tela (no mesmo tom usado pelo maestro Jesus Santos, outro artista maranhense apaixonado por papagaios), essa me oportunizou trazer de volta meus antanhos. Relembrei uma lição importante que aprendi: cada lanceada ou levava ou trazia um pedaço de minha história. Desta forma, a beleza dos teus papagaios em espátula e cores vibrantes, são igualmente linhas imaginárias que meu pensar materializa e as fazem sustentar meus sonhos.
Mesmo que os ceróis intempestivos - vez por outra - cortem minhas linhas imaginárias, me sinto ainda em liberdade absoluta. Sem deixar de refletir sobre a minha existência enquanto indivíduo coletivo. Tentando,
de certa forma, me permitir continuar com meus significados, aprendendo cada dia com as experiências cotidianas.
Esse é o milagre da arte visual bem apurada: arte e simbolismo associados a insights cotidianos, com capacidade notável de evocar reflexões profundas, como em mim provocou, desde a ideia básica da liberdade individual. Porém, consigo vislumbrar com mais clareza que essa liberdade (como me referi acima) é, sim, efêmera. Mesmo que meus papagaios e minhas vontades voem alto, elas sempre estarão 'presas' a uma linha emocional - igual àquela em que Pedro, o apóstolo de Cristo, ensinou: "(...) tudo me é lícito, mas nem tudo convém”.
Por fim, enquanto desenrolo minha "bola" de linha dos meus 70 anos, tento entrar na roda do Samsara, buscando percorrer os seis caminhos diferentes, ensinados por Sidarta Gautama, do carma evolutivo, em busca de voar alhures e de minha clarividente iluminação.
(*) Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.
Publicado em www.facetubes.com.br (Acesse e leia mais).
Obrigado Betto Pereira. Obrigado por ler: Wellington Reis Luis Augusto Cassas Augusto Pellegrini Fllho Pellegrini Socorro Guterres de Souza Luis Augusto Guterres Ceres Costa Fernandes João Batista Do Lago Tereza Braúna Moreira Lima João Pedro Borges João Ewerton Jose Salgado Maranhao Alex Brasil Poeta Vania Texeira Fátima Travassos Susana Pinheiro Daniel Blume Silvânia Tamer Sergio Victor Tamer José Cláudio Pavão Santana Jose De Ribamar Cordeiro Filho Cordeiro
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO
ESCREVER NÃO É SÓ A ARTE DE ESCREVER; É A ARTE DE ESCREVER COM ARTE
EDMILSON SANCHES
Escritor: Por enquanto, arte e técnica, mas não profissão regulamentada Reconhecer é ser, e não autorização para ser Escritor é autor de textos, não de livros
Vem a mim novamente com uma consulta um escritor amigo, fundador e ex-presidente de Academia de Letras em grande Estado brasileiro.
Naqualidadede membro deumaComissãode CadastrodeEntes e Agentes Culturais, e,creio, visandoaações daquele Órgão, faz-me a seguinte pergunta: “ O que reconhece a pessoa como escritor?”
Seria a obra publicada? questiona-se o escritor. Matérias na internet? Originais que escreveu e ainda não divulgou?
Diga-se logo, que a profissão, atividade, ocupação de escritor ainda não é REGULAMENTADA, mas já é RECONHECIDA.
REGULAMENTAÇÃO - A regulamentação se dá com um conjunto de medidas no âmbito legal, que se inicia com um projeto de lei na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal ou, até, por iniciativa do Poder Executivo (Presidência da República). No caso do escritor, há um projeto tramitando no Senado desde 2011. Recentemente, em 2020, foiaprovadooprojeto de Lei que cria aprofissãodehistoriador. Háos que sãocontra essa “legalização”, “oficialização” de, digamos, “atividades do espírito artístico” como o escritor, o filósofo. Entendem alguns que essa regulamentação / oficialização contraria a Constituição Federal, em seu item IX do Art. 5º, que trata da liberdade intelectual, artística, científica e de comunicação, “independentemente de censura ou LICENÇA” (destaque meu).
Regulamentar, criar oficialmente uma profissão, estabelecendo condições, regras etc. para o registro o profissional seria tolher o direito de qualquer pessoa que tenha dom, talento, expressar-se por meio da produção de textos autorais ficcionais (romances, novelas, contos, roteiros de cinema, peças de teatro etc.) e não ficcionais (ensaios, pesquisa histórica, artigos, crônicas, textos especializados / técnicos / didáticos etc.). Nesse caso, DELIMITAR É LIMITAR. Delimitar por meio de leis é limitar a criação artística, estética, e estabeleceria uma licença legal, e a licença para o exercício de profissões ou atividades intelectuais, artísticas, estéticas etc. seria inconstitucional, pois a Carta Magna impõe a “liberdade” e veda, proíbe especificamente “licença” para a utilização da inteligência mental/emocional na produção de obras artísticas.
Mas muitos defendem, querem a regulamentação / legalização da atividade de escritor. (Atenção: para efeito deste texto, “legalização” é diferente de “legalidade”. Legalização NÃO É o contrário de ilegalidade; é tão somente o processo de estabelecer-se em lei a oficialidade de uma profissão. Já legalidade é a legalização instituída, vigente. Não há ilegalidade em ser escritor ou exercer esse ofício, pois não há previsão em lei que diga que é uma contrafação, um ilícito ou um crime a produção de textos artístico-literários ou técnicocientíficos.
ESCREVER NÃO É SÓ A ARTE DE ESCREVER; É A ARTE DE ESCREVER COM ARTE, isto é, com características diferenciadas que envolvem o leitor, estimulam sua curiosidade intelectual, despertam-lhe o emocional, criam estados mentais, em razão das habilidades ou especificidades do texto, que é “carregado” de elementos de beleza, de técnica, de recursos literários, de estilo, de informações ou construções inéditas, de opiniões e/ou argumentos convincentes ou interessantes etc. etc.
A regulamentação “cria” oficialmente uma profissão ou atividade e dispõe sobre sua definição legal, registro e outros direitos e deveres. Médicos, advogados, engenheiros, historiadores... diversas atividades são regulamentadas por lei no Brasil. Algumas se justificam, pois tratam de aspectos técnicos essenciais senão vitais para uma pessoa, como a saúde (profissão de médico e outras da área), a segurança física (profissão de engenheiros, arquitetos e outras), a segurança dos seus direitos (profissão de advogado, promotores, juízes).
RECONHECIMENTO – RECONHECER É SER, E NÃO AUTORIZAÇÃO PARA SER. O reconhecimento, no caso de uma profissão, dá-se pela admissão como verdadeira, correta, lícita (embora nem sempre legalizada), uma atividade, um fazer, uma ocupação como é o caso da atividade de escritor.
A atividade de escritor é reconhecida (embora ainda não legalizada, repita-se) desde 2002 pela CBO, a Classificação Brasileira de Ocupações, do Ministério do Trabalho.
A CBO registra até as diferentes “especialidades” ou “especializações” de um escritor, estabelecendo o que é denominado de “família ocupacional”. São pelo menos treze “tipos” de escritor. Por exemplo, sob o código número 2615-15 estão classificados os seguintes escritores: Escritor de cordel; Escritor de ficção; Escritor de folhetim; Escritor de histórias em quadrinhos; Escritor de novela de rádio; Escritor de novela de televisão; Escritor de obras educativas de ficção; e Novelista (escritor de textos geralmente ficcionais, menores do que um romance e maiores do que um conto. É uma narrativa com menor número de personagens, por exemplo.).
Sob o código 2615-20, registram-se os seguintes escritores: Escritor de não ficção; Escritor de obra didática; Escritor de obras científicas; Escritor de obras educativas de não ficção; e Escritor de obras técnicas. E, AFINAL, O QUE É UM ESCRITOR? – Escritor é quem escreve textos, sejam estes literários, culturais, científicos ou técnicos.
Escritor NÃO É o que escreve livro(s). Escritores são autores, elaboradores, produtores de textos, que podem ou não serem transformados em livros.
Livro (impresso ou eletrônico) é um produto gráfico-editorial, industrial. De modo simples, pode-se dizer que o escritor é o autor de textos e o editor, o diagramador, o gráfico são autores (isto é, os feitores) do livro.
Tanto é verdade o que está no parágrafo acima que se pode ilustrar, assim:
Suponha que alguém escreveu um pequeno conto, de duas, três páginas. Em geral, acredita-se que isso não chega para formar um livro. Então, é aqui que se volta a repetir: escritores são autores de textos (textos com aquelas especificidades ou características estéticas, artísticas, já abordadas ou descritas aqui); editores, diagramadores e gráficos é que são “autores” do livro. Porque, mesmo um pequeno conto de três páginas pode transformar-se em um livro. Depende do projeto gráfico que, é claro, deverá ser aprovado pelo autor do texto.
De início, um livro (digamos, o livro impresso), independentemente do texto do autor, já terá de dez a vinte páginas editoriais (falsa folha de rosto, folha de rosto, créditos editoriais, epígrafe, agradecimentos, dedicatória, sumário, prefácio, resumo biográficodoautor,colofão etc.).Aí,oprojeto gráficopodeestabelecer letras grandes, divisão do texto em períodos curtos, uma frase em cada página ímpar e uma ilustração na página par, papel mais grosso (maior gramatura), capa dura..., enfim, recursos e “penduricalhos” que, ao final, com as páginas editoriais transformam um texto de três páginas no Word em um livro de cinquenta páginas, com o devido direito a ficha catalográfica, registro na Biblioteca Nacional, número de ISBN e código de barras.
Portanto, ESCRITOR É AUTOR DE TEXTOS, NÃO DE LIVROS. Os textos podem ou não serem transformados em livros.
Livros são apenas um dos suportes – físicos e não físicos, como os livros digitais em que se pode inscrever / registrar um ou mais textos. Isso já aconteceu em outras épocas, quando textos e informações eram postos em tábuas de argila, peles de animais (pergaminhos), papiros, ferro, madeira, paredes de cavernas, papel, espaços virtuais...
A natureza do escritor depende, antes, da capacidade de escrever com arte e fazer existirem os escritos, mas estes independem de ser ou não publicados ou divulgados para reconhecer-se a existência do escritor. Uma criança não existe porque sua certidão de nascimento atesta, mas porque ela, criança, É, existe como criança, como o escritor existe por sua capacidade artística e seus escritos, sejam estes manuscritos, datilografados, digitados, impressos em forma de livro ou em suporte digital.
O ser escritor é auto declaratório; ele diz que é e pronto. Se houver necessidade de (com)provar, o escritor apresenta, envia seus textos ou cópia deles, para os casos de um cadastro em uma Comissão, de um concurso
literário, de uma concorrência para bolsa de pesquisa, de apresentação de elementos para uma bancada examinadora / analisadora / julgadora, com vistas ao recebimento de um título ou à admissão para um cargo, função, emprego...
Se o escritor faz parte ou não do “meio”, de uma academia, um sindicato de escritores (e os há, e são diversos), um clube, uma confraria, não interessa. Nada disto o faz escritor, apenas o reconhece naquele meio ou instituição.Poisoméritodoescritoréser.OMÉRITODOESCRITORÉSER;OMÉRITODASOCIEDADE É RECONHECER. Deste reconhecimento da sociedade (por suas instituições, pela coletividade dos leitores etc.) não depende a existência do escritor enquanto escritor. Não importa se seus textos ou livros são vendidos e, até, se seus livros são bons ou ruins... o escritor é escritor por que ele é, não porque qualquer outra pessoa ou instituição diz que ele é.
Apalavra“escritor”talvezdevesse ser escrita com “x”: “excritor”.Porque,em Latim, oprefixo“ex-” significa “colocar para fora”, “tirar” etc. E é esse o mister e o mistério do escritor: pôr para fora, em forma de letras, palavras, períodos, parágrafos... os conteúdos de que está repleto, trabalhados e organizados artisticamente, enfeixados em suportes (livro, espaço digital, jornal etc.) para apreciação de leitores,... ..para a documentação dos tempos,... ... para, de preferência, o enriquecimento da Humanidade.
O SERMÃO DA RUA DO GIZ
...... O velho frade português Manuel Pereira, que circulava Luzia naquela madrugada de 20 de maio de 1811, buscou em Antonio Vieira e William Shakespeare frases para mostrar à mulher do governador José Thomaz, que sua vida estaria além dos marcos da Fazenda Barbados em Cantanhede, no Maranhão.
FRADE MANUEL PEREIRA:
_ Vieste sozinha?
LUZIA PERPÉTUA:
_ Faz sinal de positivo com a cabeça.
........ O frade corrupiava a Luperca de Barbados e dizia.
FRADE MANUEL PEREIRA:
_ A maior parte do que sabemos é a menor que ignoramos.
_ Há homens que são como as velas; sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros.
_ Humildade essencialmente é o conhecimento da própria dependência, da própria imperfeição e da própria miséria.
_ Cada um condena o que não tem, por não confessar o que lhe falta.
_ Se no passado se vê o futuro, e no futuro se vê o passado, segue-se que no passado e no futuro se vê o presente, porque o presente é o futuro do passado, e o mesmo presente é o passado do futuro.
_ O caminho da verdade é único e simples. O da falsidade vário e infinito.
_ O livro é um mundo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.
_ O melhor modo de pedir é agradecer.
_ Quem não tem poder não tem amigos.
_ Duas pessoas podem guardar um segredo se apenas uma pessoa souber.
_ Louco é o homem que fala com a lua. Quem não a ouve é tolo."
...... O velho frade com os olhos remelados e com bafo de vinho parou na cara da visitante e revelou.
FRADE MANUEL PEREIRA:
_ A família Manzas, as moiras de barbados, o caixote de Cervantes, as três graças de Rafael Sanzio, a tentação de Claraval e as estradas do destino traçaram a tua vida como se fosse uma borboleta com asas de glórias e de desgraças.
Além de alcoólatra, dei agora para pensar... na morte...
Tenho questionado Deus, a ponto de um amigo meu me apontar um norte... e se dispor em gratuitas sessões...
Uma enfermaria, um monte de comprimidos, meditação - sem excitação...
Será se isso me fará melhor?
Tenho receio...
Todavia, meu coração, desgraçado e insensato... sempre bateu desse jeito... sem parar... desde que penso...
Estou mais para indigente, do que de Deus, filho... No convívio de muitos vícios, vivo... dentre tantos, esse de me achar estranho, com pensamentos ditos insanos... Por isso esse meu amigo me apresentou sua bússola...
Não posso aceitar, pois aponta sempre para o sentido contrário, da razão da minha vida...
Se eu for seguir essa rosa de vento, esse polo magnético... jamais vou encontrar o aposento, o paradeiro do tempo... onde talvez resida Úrsula... (ANTONIO GUIMARÃES DE OLIVEIRA. DATA: 10.12.2024. SÃO LUÍS-MA).
O babaçu é o boi das matas. O boi é o babaçu dos pastos
"A ÁGUA DESTE LIVRO É BOA; É DA MELHOR. ENTRETANTO, PARA BEBÊ-LA, NÃO BASTA TER SEDE"
Foto: O livro "Miolo de Pote", já em 5ª edição, em sua caixa-embalagem artesanal.
A Botânica até pode nos dizer que poesia não é árvore. Mas tem raiz. Tem origem. Filiação. "Pedigree".
O melhor da interpretação, da declamação, da poesia e Cultura regional foi visto, ouvido e aplaudido em uma noite, há cerca de cinco anos, no Teatro Ferreira Gullar, em Imperatriz (MA). Era Lília Diniz, atriz, poeta, artista, da Academia Imperatrizense de Letras, mulher que prende por sua Arte e empreende em toda parte.
Lília é a ponte entre a capital do país e seu interiorzão. Vive em Brasília e revive e convive em Imperatriz e região.
Além dos muitos conteúdos que traz, Lília traz Cora Coralina dentro de si. E a bota para fora, em poesia, canto e encanto no espetáculo. “Cora Dentro de Mim”, que Lilia interpreta, declama, produz e o levou para diversos estados brasileiros.
Em uma dessas apresentações, durante um daqueles lapsos de 15 segundos, Lília Diniz convidou-me com carinho e dengo, do jeito que só ela sabe convidar para fazer o texto de apresentação da nova edição de seu livro "Miolo de Pote", cujo lançamento aconteceu naqueles dias e noites de bom gosto, Arte e Cultura. Sobre Lilia, escrevi:
Varinha de marmelo, de condão, faça essa mistura em um caldeirão: um pouco daquela (e)terna menina (o nome dela: Cora Coralina); o canto de um pássaro de fé cante lá, Patativa do Assaré ; mais Catulo da Paixão Cearense (apesar do nome, é maranhense) dessa química ou mágica feliz,
distinto público: Lília Diniz!
Reproduzo a apresentação que fiz e que vai no livro.
APRESENTAÇÃO
O babaçu é o boi das matas. Dele, sabe-se, nada se perde. Artesanato, alimento, combustível, medicamento. E mais: entre os muitos aproveitamentos e utilidades do babaçu também está a celulose, o papel. Vale dizer, assim, que de babaçu também faz-se um livro. Este, por exemplo.
E se do boi o babaçu dos pastos o cantor nordestino Ednardo aproveitou até o berro, Lília Diniz empresta voz à mudez do fruto e movimento à imobilidade da palmeira. Voz e movimento, denúncia e sentimento pendem aqui em cachos de letras.
É com muita razão e sensibilidade que a escritora, “bicho do mato”, traz o babaçu para as primeiras páginas desta obra. Lília, cabocla, sabe das brenhas onde se embrenha, dos matos das matas que se desmata. É íntima das palmeiras e das conversas delas com o vento, quando farfalham e gargalham. Lília sabe da essência do babaçu, do âmago das amêndoas. É um gongo que fala -- sobretudo, alerta.
O líquido batismal de Lília deve ter sido azeite, que lhe marcou a fronte e a vida vida povoada de sonoridades, cheiros, sabores e histórias que vêm a partir dos palmeirais, dos cocos que se desprendem, das mãos que os (a)colhem.
Mas uma vida rica de vivências, sofrências, persistências, ardências, consciência e coerência até pode ter um batismo de babaçu... porém há outras plantas e plantações na selva da existência. Daí "MIOLO DE POTE
DA CACIMBA DE BEBER" ir além das lembranças e essências da terra e das palmeiras. Lília sabe que há outros “elementos”, como dizem as xilogravuras que anunciam cada uma das quatro “partes” do livro: “Terra”, “Fogo”, “Água” e “Ar”, as quatro substâncias que sábios pré-socráticos diziam formar tudo e que, neste livro, compõem um quadrifólio poético quatro pétalas, mesma flor.
Se “Terra” é “essência”, que identifica, e “estrume”, que fertiliza, “Fogo” é luz e calor, energia e amor, que ilumina desejos e paixões e incendeia corpos e corações: é a mulher ardente em brasa, “acesa” em casa, “com tanto desejo a queimar”... até que, ao final, “as verrugas do tempo” tragam um certo “enfado” e uma (in)certa esperança de rever o ser objeto de tanto sentimento, tanta chama e incandescência.
“Água” é a parte líquida e certa deste “miolo de pote”. Dela, dos últimos versos do poema “Alimento”, a autora tirou, com concha de comprido cabo, o título do livro. Neste segmento, a água soletra um “abc”, pois está presente, real e metaforicamente, na cheia dos açudes, no molhado dos beijos e no chocalho cuja água as faladeiras parece que tomaram. Águas e mais águas que lembram as lavadeiras, rios e ribanceiras, poços e pororocas, mares e amares águas onde corpos são lavados, roupas enxaguadas, sonhos banhados e sentimentos, quarados.
Em “Ar”, quarta e última parte, Lília Diniz, com a autoridade natural de quem é dona e maior conhecedora de si mesma, traceja traços (auto)biográficos desde a nascença, pois que ela, deverbal, é sujeita derivada de “alicezear”, verbo formado pela união da cearense Alice com o carpinteiro Zé, dos quais é filha.
Sem necessidade de esclarecimentos sobre manhas e artimanhas, mumunhas e mungangos de exercícios poéticos, somos levados a, sem reparos, reparar no poema “Buchuda” a solução visual com que a autora tratou a disposição dos versos, uma mulher grávida. Este recurso formal, de ascendência concretista, foi inicialmente utilizado na parte primeira do livro, em “Tanta terra”, onde os conceitos intelectuais são visualizados nas palavras postas em cruz.
O “miolo” deste livro não é do pote. É da poeta. Verdadeira e visceral como é, Lília, em linhas, sublinhas e entrelinhas, revela muito de amor e dor. Muito de dignidade e indignações. Muito de talento e Arte. Muito de sua Vida.
A água deste livro é boa; é da melhor.
Entretanto, para bebê-la, não basta ter sede.
EDMILSON SANCHES
OUTRAS INSTITUIÇÕES LITERÁRIAS/CULTURAIS
A ARTE E A MÚSICA DE ZECA TOCANTINS
O cantor/compositor/músico Zeca Tocantins recebe hoje à noite (21), no Salão do Blue Trwee Toweres São Luís, em São Luís-Ma, o Prêmio PAPETE, por sua relevante contribuição à música maranhense. O reconhecimento pela arte de Zeca, não é à toa. Em sua carreira na arte musical ele conviveu nos festivais com grandes cantores/compositores maranhenses que hoje encantam o Brasil e o mundo. Entre estes, o outro Zeca (Baleiro).
Mas não foi apenas na música que Zeca Tocantins se tornou conhecido no Brasil inteiro, compondo músicas que são interpretadas por grandes cantores deste País, por suas parcerias com nomes como Nílson Chaves e, sobretudo, por sua parceria por mais de 30 anos com seu irmão/parceiro, o saudoso Nenén Bragança, com o qual venceu festivais de música por esses rincões brasileiros.
Zeca começou sua vida de artista no palco do teatro, que hoje se chama Ferreira Gullar, em 1976, como ator no grupo teatral Príncipe Teatro de Imperatriz – PRITEI, sob a direção do teatrólogo Pedro Hanaye. Daí em diante se tornou na arte cênica, ator, diretor, produtor e autor de peças que foram sucesso, a exemplo de “Imperatriz por um triz”, no início da década de 80, quando o teatro florescia com força total em Imperatriz.
Irrequieto, ele passou a trilhar por outro caminho das artes: a literatura. Tornou-se então, poeta, articulista, cronista, contista. Publicou, até o momento, 12 livros nos citados gêneros. Foi um dos fundadores da Associação Artística de Imperatriz – ASSARTI e Sindicato dos Músicos de Imperatriz, entidade das quais foi seu presidente. Membro fundador da Academia Imperatrizense de Letras – AIL.
Como membro da AIL criou em 2003, a Semana Imperatrizense do Livro, que mais tarde tornou-se o Salão do Livro de Imperatriz – SALIMP. Há 11 anos criou o Festival de Música de Imperatriz – FMI e o Festival de Interpretação Curumim, integrando-os ao SALIMP. Também criou o Projeto Arte & Cidadania nas Escolas, que passou por mais de 90 escolas de Imperatriz. Hoje coordena uma escola de música para crianças carentes na Vila Lobão.
Como filho de uma lavadeira (Dona Martinha Cezar) e do pescador (Cametá) me sinto orgulhoso de ser irmão biológico do Zeca e também seu confrade na Academia Imperatrizense de Letras. Os Filhos de Cametá, pequenos ribeirinhos, oleiros e pescadores, hoje são reconhecidos pelo trabalho que prestam nas áreas da cultura, social e do meio ambiente. Parabéns, meu irmão, você me orgulha, você merece.
Legenda - Os Filhos de Cametá na Academia Imperatrizense de Letras – AIL (Foto: Terezinha Machado)
ACADEMIA DE LETRAS
Na minha juventude a vida pulsava forte nas instituições: associações, sindicatos, união de moradores... nós mesmo criamos a Associação Artística de Imperatriz - ASSARTI, que brigou tanto até conseguir um teatro para a cidade. Quase todas tinham seu próprio jornal mimeografado, digitados no estencil, depois rodado no mimeografo.Onosso eravendido napraçade Fátima,ondearapaziadaamantedoteatrocostumaseencontrar. Na cidade de Conceição do Araguaia, em um Festival de música encontrei Masofi vendendo seu livro de poesias chamado Pegadas, todo feito na máquina de escrever e xerocado. Achei o máximo, tinha encontrado a fórmula secreta para editar. Cheguei em Imperatriz e preparei com todo zelo o meu primeiro livro: Calumbi. Nas atividades culturais eram normais apresentarem-se objetos trabalhados artesanalmente para venda. Por esse tempo nascia a ética editora, comandada pelo prestigioso Adalberto Franklin que leu Calumbi e declarou que ele merecia melhor tratamento estético. Em pouco tempo o livro ganhara cara nova. Daí ele começou insistir que eu integrasse uma instituição chamada Academia de Letras, resisti. Naquele tempo o postulante era ingressado com apresentação de três membros da instituição, Adalberto conseguiu mais dois. No dia 27 de janeiro de 1994, me tornava membro da Academia de Letras. Portanto, há quase trinta anos.
A Academia ainda levou alguns anos para completar seu quadro de membros fundadores. Mas, sob o comando de Vito Milesi, professor aposentado, já utilizando o Paço de Cultura como sede, a Academia foi assumindo papel importante na vida literária da cidade. Com a criação do Salão do Livro esse papel se ampliou por todo o estado e fez brotar em várias cidades outras Academias.
Os desafios continuam e exigem de cada membro uma parcela de dedicação: Agostinho, Edna, Sanches, Vito, Porto, Trajano, comandantes que conduziram e conduzem essa nau na direção de um porto seguro, onde o livro reine soberano; instruindo, educando, descobrindo em cada novo leitor um caminho para uma cidade mais humana. Z T.
TENHO RAIVA DE DEUS
Esse era o nome de um espetáculo de teatro estreado pelo grupo teatral Oásis, de autoria de Aldeman Costa, radialista e também presidente do Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL. A direção foi assinada pelo competente José de Iramar.
A sede do Mobral ficava ali onde é o restaurante Ritz, próximo a praça da Cultura, onde antes também fora o tãofestejadocineMuiraquitã.Aldemantinhaumprogramademuitaaudiêncianarádio Imperatriz,issoajudou na publicidade, foram três dias de casa lotada.
Na época, os grupos se esforçavam para mostrarem seus trabalhos num grande encontro que acontecia todo ano através da Federação de Teatro; eram as "Mostras", reunindo todo movimento teatral do estado. Esses encontros eram utilizados para se debater sobre a produção teatral, além de oferecerem várias oficinas de aprimoramento à arte cênica.
Na capital era um deus-nos-acuda, não tínhamos conhecimento técnico, não sabíamos o que era marcação de palco, causando dor de cabeça ao iluminador, que também não conhecia o espetáculo. Assim fomos amadurecendo e aprimorando o nosso fazer artístico. Sediamos essa Mostra por duas ou três vezes aqui em Imperatriz, em uma delas fui o responsável.
Quanto ao espetáculo, era um dramalhão que comovia as pessoas, e pasmem, no outro dia a cidade comentava. Tempos em que se vivia a nossa Arte, embora com deficiências, era nossa, era nossos artistas. Z T. Rui Miranda Chaves
Queria fazer uma ratificação, essa peça teatral Tenho Raiva de Deus,foi estreada, apresentada pela primeira vez em no início dos anos 70, Aldeman como ator principal e eu como seu coadjuvante, todo o elenco era aluno do Bernardo Sayão,e fora apresentada no salão teatral do Colégio Ebenezer, lembranças me trazem de alguns atores A.Cruz Pinto, João Batista, Manoel Preto, Evandro etc..,as meninas Marlene, Elvira, nossas armas(02) eram verdadeiras cedidas pelo Sargento Amunjaci, o Cabo Robson extraia o chumbo e pólvora, fuçando somente a espoleta, quem receberia o tiro se trajava de paletó com uma camisa de cir clara com um " dindin no bolso", o resto é com vocês
A POESIA COMO TÁBUA DE SALVAÇÃO
RAIMUNDO FONTENELE
Texto do escritor Raimundo Fontenele sobre o terceiro livro de poemas de Rogério Rocha, a ser lançado no primeiro semestre de 2025.
REFUNDAÇÃO
deixe estar! o que não existe o poeta funda renova, reestrutura recolhe das mãos do silêncio inaugura repõe a falta do ser retira da sepultura revira refaz revê a sagrada reconstrução até acontecer deixe ser! o que não está o poeta inaugura com a voz da palavra perfura a terra fértil até chegar ao que procura incrementa um novo saber apascenta a antiga ira de débeis criaturas revela a cura reencontra a energia das fervuras a egrégora do magma terremotos que abalam a fundação das estruturas palavra após palavra sonho após sonho loucura após loucura
Esta ínfima amostra da poesia de Rogério Rocha poderia ser o cartão de visita do seu livro Frágeis Artefatos, mas não é. Isto porque, com raríssima exceção, ele consegue manter o mesmo nível elevado de depuração técnica e signos e significados metafóricos em todos os poemas dessa obra.
Porque o poeta Rogério Rocha trabalha o verso como certamente trabalha a própria vida. Com esmero e devoção incomuns porque sabe e nos ensina que só temos uma vida e não podemos desperdiçá-la e nem perdê-
la. Assim é como trabalha o verso do seu poema, empregando toda a força mental e todo aparato intelectual para que o verso caia no poema qual uma luva, mas sempre carregando para dentro deste a emoção, sem a qual o poema seria apenas um jogo inconsequente de palavras, carente de mensagem humana e de um sentido mais elevado espiritualmente falando.
Punhal de dois gumes e tridente netuniano, a poesia do Rogério Rocha corta e atravessa o mundo carcomido dos bem pensantes, eivado de ladainhas e missas negras, porque o mundo está perdido e a humanidade não tem mais um caminho seguro a seguir.
A não ser que sigamos o caminho poético desses inquebrantáveis artefatos, só na aparência frágeis, mas que têm a principal força que redime o homem: a liberdade de ser e de criar aquilo para o qual fomos chamados: curar o mundo com oração e poesia. Por que não?
Raimundo Fontenele
Mariza Garcia Membro Fundador da Academia Cururupuense de Letras
Cantor do Mato, rei da floresta, sua voz é música pura e celeste. Maestro Sabiá você encanta harmoniosamente, fascina e emociona. Você é o poeta da natureza, com sussurros que fazem o coração cantar e encantar. Ó Maestro Sabiá. Com penas de jade e olhos de brilhantes, você voa deixando um rastro de sonho! Sua presença é um presente raro, seu canto é um convite do prazer, é um concerto divino, que ecoa pelas árvores, nas tardes e nas manhãs invadindo os corações apaixonados! Quando o amor e a paixão se encontram, você aparece, ó Maestro. Na hora certa sua voz se eleva e o amor se torna um refrão celestial, o acompanhamento ao amor que se entrega, com gemidos suaves você nos guia, pelo caminho do desejo e da entrega. Maestro Sabiá, tu és o condutor da orquestra, do amor e do prazer! Seu canto nos faz voar, em seus acordes encontramos, o ritmoperfeitodo amor, um tesouroqueo coração guarda, um refrão que nos fazsentir, que sua música nunca se acabe, e seu coração continue a cantar, para todos os enamorados.
Ó Maestro Sabiá!
O Emblemático Sete
Sete estrelas brilham no céu, Emblemática luz guiando nosso caminho, Nessas noites escuras elas me inspiram, Sete faróis de esperança iluminando nosso destino, Sete palavras, sete verdades, todas contra a injustiça, Vozes ecoam sem medo, liberdade, igualdade, justiça, Sete muralhas se erguem, Emblemática força contra o medo e a dúvida, Nenhuma sombra pode apagar,
A luz que ilumina o nosso caminho, dando forças para nos amar, O que posso dizer ? O que posso falar?
O sete veio para nos unir ou separar?
Sete dias da semana meu coração é teu, Em teus braços que é o meu refúgio, eu me jogo para te amar, Emblemático o Sete que não quero mandar cortar!
Registro da Comissão na reunião de 7 de dezembro de 2024: indicação, análise e construção coletiva da lista de Patronos da ACADEMIA MIRANDENSE DE LETRAS, ARTES E CULTURA – AMLAC Abimael Costa (Cadeira n° 11/Manoel Bentivi Filho) / Aracy Moreira (Cadeira n°10/Maria das Graças Carneiro) / Levi Ribeiro Sampaio (Cadeira n° 8/Josemar Bezerra Raposo) / Nicodemos Bezerra (Cadeira n°1/Raimundo Abraão Bezerra) / Alexsandro Araújo (Cadeira n°16/Gonçalves Dias) / Rosa Lemos (Cadeira n°2/ Pe. Michel Candas) / Diego Amorim (Cadeira n°20/Francisco Pontes Linhares) / Leopoldino Freire (Cadeira n°12/Leopoldino de Almeida Freire) / José Jorge Marvão (Cadeira °17/Ferreira Gullart)
REUNIÃO COM OS CONSULTORES: ANTONIO NOBERTO, CEZAR BRITO E LEOPOLDO VAZ
Em reunião com Diretoria e membros da ACADEMIA ITAPECURUENSE DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES (AICLA). Na oportunidade compartilhei sobre a criação da ACADEMIA MIRANDENSE DE LETRAS, ARTES E CULTURA. Lembrando que temos uma história em comum e que informações sobre vários de nossos Patronos podem ser obtidas em Itapecuru Mirim
UM ALUIZIO DE AZEVEDO QUE
Em 1884, um caso de identidade trocada e um cadáver desconhecido agitaram a capital do Império, enterrado e desenterrado, sem se jamais saber sua real identidade; seria João Alves Castro Malta ou João Alves Castro Mattos?Eram mesmodoisindivíduosouseriam doisnomesdomesmohomem?Talimbróglio custou acabeça do Chefe de Polícia da Corte e agitou mesmo o Conselho de Ministros, a ponto do mesmo Conselho indicar investigadores para o caso, que permaneceu insolúvel, um ano depois, porém, começam.a circular, na revista A SEMANA ILUSTRADA, os capítulos de um folhetim intitulado "Mattos, Malta ou Matta?" , que seriam "cartas escritas por um que preferia manter-se anônimo, pois seria perigoso revelá-lo" em que , na troca de identidades de um suposto morto, tudo levaria ao acobertamento de um crime; anos de pesquisa entre os artigos da "Semana" e demais fontes, e ao trabalho incansável do bibliófilo Plínio Doyle, nos deparamos com a revelação de que o autor era ninguém menos que Aluizio Azevedo, que, como sói acontecer naquele tempo - e ainda hoje - o escritor, sem ocupação segura, aumentava sua renda escrevendo os chamados "romances ao correr da pena", expressão usada para se falar do que se escrevia para "o divertimento", ou seja, o puro e simples entretenimento, sem pretensão de se fazer grande literatura, mesmo caminho seguido por Sir Arthur Conan Doyle, ao publicar as primeiras histórias de seu famoso personagem Sherlock Holmes, na "Strand Magazine" , destinada ao entretenimento popular; o que de grande mérito se pode ter nessa história é que ela verdadeiramente inaugura o gênero que seria mais tarde chamado de "literatura policial" no Brasil , sendo o nosso Aluizio Azevedo merecidamente guindado ao status de pioneiro....Recomendo muitíssimo a leitura !
A Semana Cultural Samuel Barreto é um exemplo para o Maranhão.
O Prêmio de poesia foi de alto nível.
Os municípios do nosso estado devem copiar o exemplo da terra de João do Vale.
Em tempo, é preciso destacar a força da poesia do Coletivo Vozes do Vale, que classificou cinco poetas para a grande final: Anna Liz, Luiza Cantanhêde, Luís Henrique, Evilásio Júnior e Paulo Rodrigues.
Eu tenho orgulho dos poetas do Vale do Pindaré. Em 2025 tem mais aventuras poéticas pelo Brasil.
DOS ESPORTES
FADINHA CAMPEÃ!!! RAYSSA LEAL VENCE A ETAPA DE TÓQUIO DA STREET LEAGUE SKATEBOARDING (SLS). 11ª CONQUISTA DE RAYSSA EM COMPETIÇÕES DA SLS E UM RECORDE DE 18 FINAIS CONSECUTIVAS, MARCA INÉDITA NA LIGA.
COM A CONQUISTA, RAYSSA GARANTE VAGA NA FINAL DO SUPER CROWN, QUE SERÁ REALIZADO EM DEZEMBRO, EM SÃO PAULO.
Nesse sábado (23), a skatista Rayssa Leal fez história mais uma vez ao vencer a etapa de Tóquio da Street League Skateboarding (SLS). Com essa vitória, Rayssa alcança seu 11º título em etapas da SLS e reforça seu domínio na modalidade, acumulando impressionantes 18 finais consecutivas, o maior recorde entre homens e mulheres.
A conquista em Tóquio também garantiu sua classificação antecipada para a final do Super Crown, que acontecerá em São Paulo nos dias 14 e 15 de dezembro, onde as maiores estrelas do skate mundial estarão reunidas.
O pódio da etapa japonesa teve Rayssa em 1º lugar, a japonesa Liz Akama em 2º, e a atual campeã olímpica, Coco Yoshizawa, fechando em 3º.
Bicampeã mundial e símbolo de perseverança, Rayssa segue quebrando barreiras e encantando o mundo com seu talento e carisma!
FMF PARABENIZA O ESPORTE CLUBE VIANA PELO TÍTULO DE CAMPEÃO MARANHENSE DA SÉRIE B.
Depois do empate em 0 x 0 no tempo regulamentar, Viana vence o IAPE na disputa de pênaltis (5 X 4) e ganha o título de campeão no estádio Nhozinho Santos.
Viana está registrado na Federação MARANHENSE, mas quem jogou foi o time do Real Codó.
VIANA É CAMPEÃ, MAS OS JOGADORES SÃO DE CODÓ? O TIME DE CODÓ FOI REPRESENTAR O TIME DE VIANA?
o time de Codó jogou o campeonato maranhense da série B com o registro da federação maranhense do time de Viana. A que ponto chegou o futebol vianense por falta de apoio o time profissional de Viana não disputou mais o campeonato maranhense. Para a federação maranhense de futebol o Viana que está registrado na FMF e CBF como time profissional foi quem ganhou, porém o time do Real Codó que disputou o Campeonato com o registro de Viana que venceu em campo, durma com um barulho desse.
MIRANDA DO NORTE E A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES
E LAZERES
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Neste mês de novembro começamos uma consultoria junto à Prefeitura Municipal de Miranda do Norte, para a instalação de sua Academia de Letras, Artes e Cultura. Já criada por Lei Municipal, resta-nos agilizar sua instalação e composição, Patronos e Membros fundadores.
Das conversas, tivemos notíciasdapráticadaEducação Física,incentivadaporEuripedes Bezerra.Nicodemos Bezerra mandou-me uma foto, em que faria referecnia à construção da quadra de esportes:
Abimael, foto jurássica do nosso tempo do Colégio João Lisboa, com Josemar Bezerra Raposo, Rosemary Hayckel e alunos. Quando as aulas de Educação Física era carregar pedras pra construir a quadra da escola
Pedi, então, maiores informações e mandou-me o seguinte:
Passando pelo bairro do Turu, em São Luís, uma placa de identificação de rua me chamou a atenção: RUA CORONEL EURÍPEDES BEZERRA. Nesse momento uma enxurrada de recordações encheram minha memória! Me vi em 1977, com 12 anos, aluno da primeira turma do Colégio João Lisboa, às sete horas da manhã, fazendo polichinelo, tentando tocar o chão sem dobrar os joelhos e correndo no gramado da rua Velha, em Miranda quando ainda era povoado itapecuruense!
Tudo isso sob os comandos fortes do meu professor de Educação Física, que geralmente às sextasfeiras, saia de São Luís para nos dar essas aulas. Não o fazia por necessidade. Fazia apenas pela amizade com o proprietário e diretor geral do colégio, o amado e inesquecível professor Dr. Josemar Bezerra Raposo.
O professor Cel. Eurípedes Bezerra tinha um tom de voz poderoso como um trovão. Dava os comandos aos berros, através de números. Um... dois... três... para cada número gritado era um movimento que deveríamos fazer...
Mas apesar da forma firme e até assustadora de comando, os gritos eram intercalados com palavras de incentivo e eu percebia um certo carinho dele com aquele "bando de menino do mato" (sic). Era ele, meu professor CORONEL EURÍPEDES
BEZERRA.
Não era meu parente, mas pelo mesmo sobrenome eu o via como um tio, ou pelo menos como alguém que, apesar dos exercícios massantes, "só queria meu bem".
Em 1941, aos 26 anos, jovem atleta do Quartel, com incentivo do Governador Paulo Ramos, foi para a Escola de Educação Física, no Rio de Janeiro e acabou entrando para a história como o primeiro professor maranhense de Educação Física, devidamente graduado na área.
Ele foi professor de José Sarney, Ribamar Fiquene, João Castelo e outras personalidades maranhenses... E agora já sabem, né? Foi também meu professor! hehehe
Além de professor, Cel. Eurípedes foi também delegado, vereador em São Luís, deputado estadual e prefeito de Imperatriz na mesma campanha que elegeu José Sarney para governador.
Dizem que certa vez ao presidir uma sessão na Câmara de São Luís, disse:
"Esta é uma Sessão Ordinária, de uma Câmara também ordinária e de vereadores mais ordinários ainda!"
Quanta sinceridade!
Quanto aos esportes, relembrou:
Lembro-me de Prof. Eurípedes, sob o olhar do Prof. Josemar, ensinando "um novo esporte": vôlei Trazia da capital rede e bolas de vôlei e, armada a rede na rua Velha, ia ensinando regras básicas e forma de bater e rebater a bola. Havia certa resistência dos meninos, acostumados com o futebol, pois para eles "jogar bola com as mãos era coisa pra mulher".
SOBRE O CORONEL EURÍPEDES BEZERRA
Matéria de Edivaldo Pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão, de 11 de Maio de 1998
Em 1956 Eurípedes Bezerra esteve reunido com um grupo de amigos desportistas no Lítero, dentres eles Gedeão Matos, Rubem Goulart, Nego Braga, irmãos Marista Tárcisio e Pio, Nepumoceno, Cel. Júlio, Ten. Macedo e Cel. Riod
O primeiro professor de Educação Física do Maranhão a ingressar em um curso superior foi o Coronel Eurípedes Bezerra, em 1941. Um atleta do quartel, que acatando um pedido do Governador Paulo Ramos, foi estudar no Rio de Janeiro como aluno da Escola de Educação Física do Exército. Se tornou orgulho para sua terra e sua gente, que ele ama como ninguém.
Eurípedes Bezerra é da época em a ginástica escolar dava seus primeiros passos através dos professores leigos Luis Aranha e Tenente Bonifácio. Quando aceitou ir ao Rio de Janeiro, o sargento de 26 anos, vindo de Presidente Dutra, jamais poderia supor que entraria para a história. Era apenas um oficial, que cumpria ordens de seus superiores com extrema humildade para o bem do seu Estado. Na então capital federal, estudou ininterruptamente por nove meses, com aulas pela manhã e pela tarde.
Em 1942 voltava à capital maranhense, cheio de novos conhecimentos e passava a trabalhar nos colégios Marista e São Luís. Introduzia em suas aulas o método francês, que buscava o aprimoramento da condição física dos alunos de exercícios de aquecimento, lançar, saltar, trepar, atacar e defender. Disciplinado aos extremos e ao mesmo tempo muito espirituoso, adepto de versos rimados e acrósticos, dizia às suas turmas que as atividades deveriam seguir o método CAGADO: C – Contínua (para que não sofresse interrupção); A – Alternada (exercícios com menor e maior carga); G – Graduada (para não cansar); A – Atraente (para que todos se sentissem impelidos a praticar); D – Disciplinada; O – Observada (para que as falhas pudessem ser corrigidas pelo professor).
Incentivo aos novos – Como era necessário o surgimento de novos professores de Educação Física para o atendimento da demanda – já despertada para a importância da prática de atividades físicas – Eurípedes Bezerra deu incentivos para que os outros apaixonados também buscassem uma formação de nível superior no Rio de Janeiro. Um movimento que foi crescendo a partir de 1942 com a ida para a Escola Nacional de Educação Física de renomados maranhenses, dentre eles os médicos Alfredo Duailibe, Carlos e Laura Vasconcelos e os professores Rubem Goulart, Mary Santos, Lenir Ferreira, Maria Dourado, Nego Braga, Zé Rosa, Rinaldi Maia e Dimas Araújo.
Com o passar dos anos, São Luís teve um aumento significativo do número de profissionais. O governo fazia a parte dele criando órgãos ligados à área e realizando cursos para a formação de outros professores, contando com a ajuda daqueles que haviam saído das Escolas Nacional do Exército de Educação Física. Eurípedes Bezerra dava sua colaboração preparando instrutores e monitores por todo o Estado.
Mesmo com tanto trabalho pela frente, ele continuou por 27 anos nos colégios São Luís e Marista. Seu maior orgulho é ter sido professor de pessoas do quilate de José Sarney, João Alberto, Ribamar Fiquene, João Castelo, Evandro Sarney, João Miranda Sobrinho, Eurico Ribeiro, dentre outras personalidades. Integram ainda essa relação os generais Jesus Silva. Oswaldo Gomes, José Maria Nova da Costa e Murilo Tavares. Dois dos seus alunos chegaram a disputar competições internacionais de atletismo: Ari Façanha de Sá e José Quadros.
Vida de político – Paralelamente à profissão de professor de Educação Física, Eurípedes Bezerra foi um militar incansável, que nos postos de soldado e coronel teve a honra de servir a vários governos. Delegado deslocado para manter a ordem em centenas de municípios maranhenses, obteve prestígio pela segurança e tranquilidade que conduzia situações delicadas. Sua afinidade com políticos contribuiu para que fosse eleito vereador em São Luís e suplente de Deputado Estadual com o célebre número 2229, que ele fazia soar como uma locomotiva. O nome Eurípedes vinha complementando o somo do apito da locomotiva. Chegou a ser também prefeito eleito de Imperatriz em 1967, na mesma campanha que elegeu José Sarney para Governador.
Nessa administração, ajudou na construção do Parque do Bom Menino, de propriedade do Governo do Estado. E levou vários professores para ministrar aulas aos alunos das escolas públicas.
Tudo pela pátria – Integrante da Liga da Defesa Nacional, é ainda hoje responsável pela abertura da semana da pátria. Por ocasião dos 150 anos da Independência do Brasil, em 1972, levou vários alunos do Maranhão para as festividades em São Paulo. Na posse do Presidente João Figueiredo, também coordenou o deslocamento de 110 pessoas dos municípios maranhenses até Brasília, cumprindo um dever cívico, como gosta de frisar.
CORONEL PMMA EURÍPEDES BERNARDINO BEZERRA
Entrevista realizada no dia 21/02/2001, na residência do Coronel Eurípides Bezerra, à Travessa Parque Atenas, n° 25.
EURÍPES BERNARDINO BEZERRA - nasceu em 17 de dezembro de 1915, na cidade de Curador (hoje, Presidente Dutra); filho de Ludgero Alves Bezerra (cearense) e de Maria Bernardina de Oliveira (maranhense). Maria Bernardina era irmã do legendário Manoel Bernardino, o Lenine do Sertão.
Ingressou na Polícia Militar, como soldado, em 1936; promovido a 3º Sargento, por ter feito curso de enfermeiro; em 1941, foi para o Rio de Janeiro cursar Educação Física, na Escola do Exército, a mando do Interventor Paulo, Ramos; na volta, passa a ser o responsável pela educação física na Polícia e torna-se professor do Marista e São Luís.
Em 1967, é reformado no posto de Coronel PM, após passar pelo Gabinete Militar do Governo SarneyJosé Sarney fora seu antigo aluno de educação física, nos Maristas. Foi Deputado Estadual, Prefeito de Imperatriz, Vereador por São Luís; Delegado de Polícia em 105 municípios maranhenses. Por 65 anos prestou serviço público; 55 anos de casamento; 35 de Lions Clube; 40 anos de PTB.
L- CORONEL, VAMOS FALAR UM POUCO DE SUA VIDA, ANTES DO SR. COMEÇAR COM A EDUCAÇÃO FÍSICA. O SENHOR É MARANHENSE. FOI PARA O CEARÁ, PARA BELÉM, RETORNOU À SÃO LUÍS, E INGRESSOU NA POLÍCIA. COMO É QUE FOI SUA CARREIRA NA POLÍCIA?
E – Na Polícia Militar eu cheguei como retirante, vindo do interior do Estado, lavrador convidado por um amigo, para vir aqui em São Luis, com o apelido de Seringueiro; me deu o número [endereço] da Rua 28 de Julho, para eu falar com ele; quando eu cheguei, não estava mais na 28 de Julho, não era Seringueiro, não era residência; era o Colégio Maranhense ... Maranhense não, era Escola Modelo; e com essa circunstância, eu voltei para a Praça João Lisboa, onde fiquei dormindo em cima do banco; pela manhã, fui detido pelo investigador Zé Lopes - que eu não tinha onde dormir -, me levou para a Central de Polícia, e lá eu fiquei carregando comida para os presos do Quartel, lá no Hospital Geral, para Polícia Civil, que era na Igreja de São João; daí eu fui dando recado, comprando cigarro, para os presos por ai, até que a mudança da comida do Hospital Geral, passou para a Polícia Militar, e lá na Polícia Militar eu fiquei levando as comidas; achei bonito os toque de corneta - tinha segundo ano primário - achei bonito o toque de corneta, pedi a um cabo, filho do tenente França (Francisco Soreano de França) se era possível eu servir à Polícia Militar, ele disse: - só se tiver com os documentos; eu não tinha documentos, arranjei na Polícia Civil um atestado de miserável, tirei uma certidão, provando que eu era do Maranhão mesmo - eu tinha uma certidão, filho de outra mãe, do Ceará, meu pai tinha trocado -; daí sentei praça, como soldado. De soldado, passei quase um ano, fiz o curso de ...(?), fui Sargento, fiz o curso de enfermeiro, fui Sargentoenfermeiro, de sargento enfermeiro; fui sargento da ativa, comecei a estudar e na ativa fui fazer Escola de Educação Fisica no Rio de Janeiro, na época do Governo de Paulo Ramos.
L – EM QUE ANO FOI ISSO?
E – Em 1941.
L – VOCÊ FOI PARA A ESCOLA NACIONAL DE EDUCAÇÃO FISICA, OU PARA EDUCAÇÃO FISICA DO EXÉRCITO?
E – Do Exército, do Parque São João, na Urca.
L – Não foi naquela turma - que havia, uma bolsa assim que foi aberta a Escola Nacional de Educação Física?
E – Não, aquela já foi em 1942, já Zé Rosa, meu amigo Braga, Rinaldi, indicados por mim, que cheguei formado
L – Então quando o senhor fez, o senhor ainda era sargento da Polícia?
E – Isso, fui indicado pelo governo de Paulo Ramos para ir fazer educação fisica com mais três colegas
L – O senhor foi fazer então o curso de monitor de educação física?
Exatamente
L – O monitor, que era para sargento... o senhor falou que, com mais três colegas, você lembra o nome dos outros três?
E – Bartolomeu, Nonato e Papagaio
L – Você sabe o nome?
E – Bartolomeu Freire; Nonato Santos e Emílio Vieira, o popular Papagaio.
L – Isso foi em 1941?
E – Em 1941.
L – Seu curso tinha um ano de duração?
E – Um ano de duração, aí Bartolomeu foi reprovado e eu fiquei sozinho, ele foi fazer o curso das Armas, eu fiquei sozinho aprovado em Educação Física, do governo Euclides Figueiredo - pai de João Batista Figueiredo, Presidente da República -, Euclides Figueiredo, ia se diplomar nosso monitor, foi licenciado como professor.
L – ERA OFICIAL, FAZIA O CURSO DE INSTRUTOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA?
E – Isso.
L – O SENHOR RETORNA AO MARANHÃO EM 1942, ENTÃO?
E – Em 1942, e fui logo indicado para lecionar no Colégio Marista e Colégio São Luís, do professor Luís Rego e do professor irmão Floriano, do Colégio Marista.
L – E NA POLÍCIA O SENHOR TAMBÉM ERA RESPONSÁVEL PELA EDUCAÇÃO FÍSICA?
E - Era responsável pela educação fisica, Diretor da educação física do quartel com os meus companheiros auxiliares, Emílio me auxiliava, sargento Sirino, com serviço prestado, eles ajudavam no quartel, também o Soares Nascimento, hoje dentista formado.
L – No colégio marista, nessa época, o senhor era o único professor de educação física?
E - Era o único professor de educação fisica especializado na escola, foi ai que os meus alunos foram, José Sarney, Pedro, Dejard Martins, Mauro Fecury, João Castelo, Ribamar Fiquene, e tantos outros daquela geração
L – Como era a educação física nessa época?
E - Era o método francês, a modalidade de ensino era: os exercícios preparatórios e propriamente ditos, constituía-se evoluções de marchas e depois os exercícios de saltar, trepar, levantar, e despertar, correr, atacar e defender e volta a calma, exercícios progressivos sem solução de continuidade
L – Não usava aquele método que fora adotado pela escola de educação fisica do exército?
E – Era o mesmo método, trazido pela Colônia Francesa, pela Missão Francesa em 1922, para o Brasil.
L – no Colégio São Luís era a mesma coisa?
E – A mesma coisa, de 1943 à 1945.
L – Até 1945 o senhor deu aula no Colégio São LuÍs?
E – Foi, três anos.
L – E no Colégio Marista, você permaneceu mais tempo?
E – Vinte e sete anos, fui aposentado como professor por lá pelo INPS
L – Em 1943, aquela turma vai para a Escola Nacional de Educação Física - Rubem Goulart , Mendes Santos?
E – Rubem não, ele já era formado, é da turma de 1941... Para essa escola foi Mendes Santos, Urbano Santos (?), Maria Dourado, Zé Rosa, Inaldo e Nego Braga ... quando eles chegaram, dois foram para a Escola Técnica, eu não foi porque o Governo disse que eu era obrigado a pagar as passagens, o curso lá do
Rio, eu era obrigado a pagar senão, senão eu não podia sair da Polícia, só se eu pagasse as despesas do Curso que eu fiz lá todinho, aí eu fiquei na Polícia.
L – Quando essa primeira turma que foi para a Escola Nacional voltou? O professor Dimas falou que foi o Senhor, Nego Braga, Zé Rosa e Nego Júlio?
E – Júlio não se formou, foi meu auxiliar, porque era bom praticante nesses exercícios físicos e eu aproveitei nos esportes.
L – E depois veio o professor Furtado, mais tarde?
E – O professor Furtado já é antigo, ele já era professor de corrida, esse também era bom em exercícios físicos, eu convidei para me auxiliar no Colégio Marista; ainda hoje permanece educando Educação Física com 93 anos, fizemos o curso da ... ? Escola de Educação Física em Goiás, junto com ele.
L – O Dimas chegou do interior, em 1944...
E – Do Dimas eu conheço o seguinte: conheço o Dimas como o meu ex-aluno do Marista; conseqüentemente quando foi em 1951, eu o encontro como Sargento da Polícia do Exército, do Rio de Janeiro; e lá, quando volto no ano seguinte, encontro ele como fazendeiro em Pindaré-mirim, casado com a filha do Zé Espicha e tirando leite de gado e vendendo. E eu Inspetor da Região, achei que aquilo era um desastre, um homem formado em Educação Física, nós precisando de professores, inclusive eu, convidava ele para vim trabalhar em São Luís... convidei, intimei... na casa dele, uma manhã todinha, e disse: - se você quiser eu lhe dou até minha vaga no Marista para você. Ele veio, ficou no Marista, ficou com os exames no Marista, e depois foi para o Batista, e depois foi para a Universidade, veio o curso da Universidade, para ser professor...
L – VAMOS VOLTAR UM POUQUINHO SÓ LEMBRANDO... DIMAS FOI PRA PINDARÉ EM 1956/1957; ELE VOLTOU DO RIO DE JANEIRO, JÁ DANDO BAIXA DO EXÉRCITO, EM 1954...
E – Exatamente.
L – ELE ME FALOU... TEM UMA PASSAGEM INTERESSANTE. É EM 1954/1955/1956 ...QUE O SENHOR ERA PROFESSOR DO MARISTA, E HAVIA NECESSIDADE DE FAZER UMA DEMONSTRAÇÃO DE GINÁSTICA; E O SENHOR O CONVIDOU PARA QUE ELE FOSSE RESPONSÁVEL POR ISSO, NO COSTA RODRIGUES OU NO NHOZINHO SANTOS....
E – Fizemos uma demonstração tão bonita que Ministro dos Esportes [refere-se ao Secretário de Educação do Estado da época] Carlos Vasconcelos - era o médico de educação fisica -, o negócio ficou tão bonito que o Eurípedes, Dimas e Sirino... que quando acabou a demonstração, a passagem do povo, e outros dois por pedido de modalidades de exercícios difíceis, o ministro nos deu de presente 400 mil contos para fazer a arquibancada do Costa Rodrigues; aquela arquibancada do Costa Rodrigues foi graças a nossa demonstração de educação fisica no Costa Rodrigues, que ele nos deu esse presente de 400 mil que o Carlos Vasconcelos já Prefeito de São Luis, já aplicou no Costa Rodrigues, que a SEDEL de hoje.
L – VAMOS VOLTAR UM POUQUINHO MAIS... EM 43, O DOUTOR ALFREDO DUAILIBE É FORMADO EM EDUCAÇÃO MEDICINA ESPORTIVA ...
E – Formado em educação física médica, junto com Laura Vasconcelos, formado no Rio de Janeiro; quando ele chegou, eu convidei ele para ser médico do Marista, reivindiquei ao Marista e o Marista convidou ele, e ele ficou como médico especializado de educação física fazendo os exercícios... Exercícios não, exames biométricos; eu fazia os práticos e ele fazia o exame biométrico e dava para mim, eu tenho a relação de todos os alunos daquela época. Muito bonito isso que eu vejo...( ? )... no passado.
L – ELE É CONVIDADO PELO PREFEITO DA ÉPOCA, E ELE CRIA O SERVIÇO. ELE FOI INDICADO PELO PREFEITO PARA IR, NO GOVERNO DE PAULO RAMOS, E NA VOLTA, ELE PRESIDIU O SERVIÇO DE EDUCAÇÃO FISICA; O SENHOR LEMBRA DESSA ÉPOCA QUANDO, EM 1943, FOI CRIADO O SERVIÇO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO DEPARTAMENTO DE INSTRUÇÃO DO GOVERNO DO ESTADO?
E – Lembro, lembro, me lembro muito bem ... chamaram a Mary Santos, chamaram a Lenisse.
L – LENISSE DE QUE, O SENHOR LEMBRA?
E – Mary Santos era a chefa
L – MARY SANTOS FOI DEPOIS DO ALFREDO DUAILIBE, E QUEM CRIOU O SERVIÇO E FOI O PRIMEIRO DIRETOR FOI ALFREDO DUAILIBE...
E – E convidado, ajudado e colaborando com Laura Vasconcelos e mais tarde Mary Santos e Zé Maria Dourado, que durou pouco e foi emborca para o Rio; e uma menina, prima legítima do Dimas, do...?... como é o nome dela? A sobrinha dele, professora também, essa é a prima legítima dele, se formou em educação física e se mudou para o Rio de Janeiro. O menino sabe. (A esposa entra ajudando na entrevista ).
L – EU VOU PERGUNTAR PARA ELE DEPOIS; NÃO, EU PERGUNTO PRA ELE DEPOIS. BEM, É SIM, FOI CRIADO O SERVIÇO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E HAVIAM OUTROS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FISICA TRABALHANDO NO MARANHÃO NAQUELA ÉPOCA?
E – Muito pouquinho, tinha o professor Bonifácio, mas era só Sargento do Exército, não tinha curso, a gente marginalizou, agora Eurípedes, Rosa, Braga, Inaldo e Dimas, já quando chegou, entrou na área de educação física.
L – E O PROFESSOR LUÍS ARANHA, NO LICEU...
E – Luis Aranha ... professor velho.
L – PROFESSOR LEIGO?
E – Professor leigo, meu velho amigo no Liceu, trabalhamos juntos inclusive em demonstração dessas festas patrióticas, Dia do Estudante, fazendo passeatas, indo ao 24° BC, fazendo passeatas do quartel, todo mundo junto ia visitar o 24°BC no dia 25 de Agosto, Dia do Soldado e ainda sou o Presidente da Liga de Defesa Nacional. Já desde aquele tempo estava escrito e fazia também a abertura das festividades da Semana da Pátria como ainda faço hoje, hoje que você precisa ver em cada data de abertura das festividades você sabe os colégios de Paço do Lumiar, Raposa e Ribamar para fazer a abertura das festividades da Maria do Vale junto com as Forças Armadas?
L – BOM, É...
E – Liga da Defesa Nacional, o fogo que simboliza a Pátria.
L – ... TEM ATÉ UMA CORRIDA QUE SE FAZ ISSO AÍ ... EM 56, DIMAS VAI PRA PINDARÉ E RETORNA EM 69 ...
E - ...?. meu parente muito longe, mas convidado por mim, incentivado por mim, vamos, vamos, vamos você não pode ficar aqui juntando bosta de bezerro na costa nas vaquejadas.
L – ELE, QUANDO SE REFERE AO SENHOR, COMO UM PROFESSOR - QUANDO ELE RETORNACOMO UMA PESSOA QUE AJUDOU MUITO ELE NAQUELA DEMONSTRAÇÃO NO MARISTA E DEPOIS QUANDO ELE RETORNA DO PINDARÉ JÁ QUEBRADO E VAI SER PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA E VIVER SÓ DE PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA ... ELE DIZ QUE O SENHOR É PARENTE DELE...
E – Muito longe , muito longe, lá na 5ª geração (a esposa entra explicando que o parentesco dele com o professor Dimas é muito distante).
L – ELE DIZ QUE PARENTE DISTANTE, MAS SÃO PARENTES...
E – (Mostrando fotos) .. Só nas festividades, isso já é com 85 anos, a cada ano que eu faço abertura...
L – ISSO AQUI, AONDE ... NO IPEM?
E – É no Ipem. Ah! O nome da menina é Eunice Bezerra veio também formada da Escola Nacional de Educação Fisica, depois o Dimas, que ficou com a gente aqui, depois casou-se e foi para o Rio de Janeiro e desapareceu da área.
L – ATÉ QUANDO O SENHOR DEU AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA?
E – Até em 70 quando me aposentei, já em 1975.
L – AINDA PROFESSOR DO MARISTA?
E – Ainda professor do Marista, como vereador eu fui para uma outra chamada. Para encerrar, eu fui dar aula de Ginástica Corretiva para eles, também exercícios adquiridos através da Escola Bom Pastor do Rio de Janeiro. Fui também naquela de Centros Comunitários e o nome do Ginásio que tem por ai...
L – SEI, SEI, SEI.
E – Naquele ginásio, fui três anos professor deles, incentivando, acendendo corações, afagando sentimentos, patriotismo e civismo na área.
L – EU ENCONTREI, UMA VEZ, O SENHOR ALI, NO SÃO FRANCISCO; O SENHOR ERA PROFESSOR, SE NÃO ME ENGANO, - NÃO EU TÔ DANDO AULA NESSA ESCOLA. UMA ESCOLA QUE TINHA ALI, AO LADO DO HOTEL LARAVARDIÈRE?
E – Sim
L – VOCÊ FOI PROFESSOR DO MUNICÍPIO, TAMBÉM?
E – Fui, estava, prestava serviço...
L – PRESTAVA SERVIÇO?
E – [Mostrando um diploma] ...Fui até condecorado com a Ordem do Mérito Civil e Patriótico do Rio de Janeiro, diploma que daquela área todinha por esses serviços prestados e agora tenho uma comenda para receber no Rio de Janeiro, na Escola de Educação Fisica por 60 anos de serviços prestados, já tenho um diploma para receber e estou com vontade de ceder a cada ano a um companheiro o nosso Arauto de Defesa Nacional ou Honra ao Mérito. Eu tive 17 anos no Ipem como professor na Colônia de Férias, ascendendo corações, trabalhando...
L – Eu o conheci no Ipem...
E – Aquele juramento sagrado pela nossa honra pelo nosso sangue e para Deus, ser fiel ao sacrossanto da divina Pátria... por isso conseguimos aquela Honra ao Mérito de tanto significativa para um brasileiro que faz tudo pela grandeza do Brasil.
L – PROFESSOR, COM AS SUAS CONSTANTES MISSÕES, QUE O SENHOR TINHA QUE FAZER NO INTERIOR... SABEMOS DO EPISÓDIO DO GENERAL BASTINHO ...
E – Em todas elas eu colocava Educação Fisica. Em Cajarí mataram o Prefeito, mataram o Delegado e mataram o Presidente da Câmara, mataram o Presidente do Correio, o homem da oposição, mataram o chefe do destacamento.... Fazia tudo isso, e eu fui o delegado, mas nunca deixei de pegar de manhã de 7 às 8. uma turma de 30 a 40 meninos de educação fisica; quando encontro gente por aí esse filho do Jurivê Macedo (Sérgio Macedo) foi meu aluno no Bairro de Fátima [Bairro de Imperatiz]. Eu, já eleito Prefeito, dando aula de educação fisica lá no Bairro de Fátima dando aula para 50, 60, alunos, para ver exercício em prática e atuais e atuais evoluções, jogos e diversões e exercícios individuais e coletivos.
L – SIM, NESSE PERÍODO QUE O SENHOR TINHA QUE FAZER, ESSAS MISSÕES NO INTERIOR... SOMENTE QUANDO ASSUMIA AS DELEGACIAS DE POLÍCIA PARA RESOLVER AQUELES CASOS BRABOS QUE TINHA NO INTERIOR... COMO É QUE FICAVAM AS AULAS, AQUI NO MARISTA ? ERAM JÚLIO E FURTADO, ESSE PESSOAL, QUE O SUBSTITUIA?
E – Eu deixava o Júlio para dar aula e assinava no final do mês. O Júlio Adis Pereira e Edmundo Soares do Nascimento e José Raimundo Sirino; eles davam aula e no final do mês eu assinava por eles, mas vinha sempre todo mês dava a minha participação direta, quase sempre.
L – E NESSE PERÍODO, NO INTERIOR, O SENHOR JÁ SE REFERIU; O SENHOR INCENTIVAVA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA?
E – No Brejo, no Brejo com uma turma com quase 50 alunos de 6:00 às 7: 30 e já vejo alunos até na Aeronáutica, até na América do Norte, até na VASP e em Nova York encontro aluno meu nesse Brasil todinho por aí. No Balsas, por onde passei, fizemos uma Col;ônia de Férias, Colônia de Férias em Pedreiras, e em Imperatriz e Colônias de Férias em Bacabal e em Japiruí onde passei lá 17 anos; em Cururupú, em Codó, em Pedreiras, essa sociedade todinha são formadas hoje que estamos integrados nos exercícios físicos, conhecer o vigor dos músculos, a potência do cérebro e a jovialidade do espírito.
L – BONITO.... O SENHOR TEM UMA VIDA BASTANTE RICA E É UMA DAS POUCAS PESSOAS QUE ESSA GURIZADA DE HOJE NÃO CONHECE. HOJE, INCLUSIVE. EU ESTAVA COMENTANDO QUE QUERIA FAZER UMA ENTREVISTA COM O SENHOR E DISSE PRA MINHA MULHER - MINHA MULHER É PROFESSORA DE HISTÓRIA NO LICEU - QUE VALERIA A PENA FAZER UM CONVITE PARA O SENHOR DAR UMA PALESTRA PARA AQUELA GURIZADA NO LICEU... O SENHOR TEM MUITA HISTÓRIA ... PARA, PRINCIPALMENTE, SOBRE A HISTÓRIA RECENTE DO MARANHÃO, COMO PARTICIPANTE ATIVO...
E – No 24°BC fiz uma visita para me apresentar ao novo comandante e disse a ele das três idades, três aspectos para o novo comandante - “copie aí” ... ele diz - encontrei três fatos importantes, ontem eu me lembro da Guerra do Paraguai na Colônia de Dourados no Estado Mato Grosso, onde o tenente Antônio João com 17 homens enfrentava o Exército de 1200 paraguaios; e eis que o tenente Antônio João mandou os pais e a família toda para fronteira e ele ficou guarnecendo a família daqueles pobres coitados; e ele lá davam 1200 tiros e eles respondiam com 17, deram 1200 tiros e eles respondiam com 12, deram 1200 tiros e eles respondiam com 5, deram 1200 tiros e ninguém respondeu mais; e pegou com sangue uma pena de pato e uma folha de banana e escreveu - “Sei que vou, mais o sangue meu e de meus companheiros servirá de protesto somente contra a invasão do solo pátrio”. Mas desses 17 escapou um, mas porém foi preso pelo exército paraguaio e levado lá para o outro lado ... de manhã, amanheceu 90 paraguaios mortos e 17 bandeirantes nosso aqui e 90 paraguaios mortos; escreveram - ele se entregou ...e um covarde brasileiro mata 90 paraguaio. Tá lá escrito em Mato Grosso no município que chama tenente Antônio João. A coisa mais bonita do mundo ... ai eu falei do ontem e falei do hoje, com essa movimentação que a gente vive ascendendo corações, trabalho ardoroso de amor e ardor enquanto eu vivo for, e falei finalmente do que se avizinha, da previsão, da colaboração, da sociedade e em menos tempo com melhor rendimento com a singeleza e a definição tão pequena da grandeza do nosso propósito de bem servir ao Brasil, bem melhor mais feliz desde começada amada São Luís.
L – E IMPERATRIZ? VOCÊ FOI PREFEITO DE IMPERATRIZ?
E – Fui, por um caso acidental mais distoante do mundo.
L – FOI COMO INTERVENTOR OU COMO PREFEITO ELEITO?
E – Como Prefeito eleito, fui delegado de polícia nomeado pelo governo de Newton Belo e prefeito de Imperatriz aconteceu o impossível. O Delegado de Polícia que quando prende é violento e se não prende é relaxado. Foi nessas condições que eu consegui ser eleito Prefeito de Imperatriz, delegado de terra, delegado de polícia, um ruim acordo é melhor que uma boa questão e vamos atenuar a violência do micróbio e evitando os males; dessas condições fui eleito prefeito, perdi por 13 votos e passei a assistente militar encarregado do convenio fiscal Maranhão e Pará, Maranhão e Goiás, Maranhão e Piauí, Maranhão e Pará e dessa movimentação de jovens e diversões; e de fiscalização das fronteiras do Estado. Eu era senhor absoluto dessas fronteiras Maranhão e Pará, Maranhão e Goiás, e Maranhão e Piauí e até o Oceano Atlântico, Tutóia....
L – POR QUANTO TEMPO O SENHOR FOI PREFEITO DE IMPERATRIZ?
E – Não deu 6 meses. Aconteceu o seguinte: no mês de março chegou uma verba de 4,5 milhões e meio, vamos receber esse dinheiro, vamos fazer a cadeia, fazer o meio-fio da Av. Presidente Vargas, vamos também fazer o muro do cemitério, mais algumas benfeitorias e em março não veio o dinheiro e me abril não veio o dinheiro e em maio não veio o dinheiro... chegou 42 milhões isso foi só seis meses e chegou quatro prefeituras em Imperatriz ficou 42, quando eles vieram [os vereadores] em cima de mim, tipo urubu atrás da carniça, aí eu disse -esse dinheiro não é nosso, não pode ser eu podia aumentar dois ou três mas se eu aumentar 36 não pode de jeito nenhum, mas é daqui, é da prefeitura de Imperatriz a sua disposição para recebê-lo, mas eu não quero, um queria 4, outro queria 2, outros queria 6 no total queriam 24 milhões para eles . Eu fiquei tão enojado com aquilo, vocês sabem de uma coisa, peguei a máquina cansado de escrever...( ? )..., - "senhores vereadores, minha presença aqui representou um cachorro fiel encarregado de uma carniça gorda, os urubus famintos não permitiram que eu zelasse até o fim, só assim seu instintos podres e imundos que eu saberei cumprir meu dever. Mulher embarcada com a caixa arrumada através da cerrada, adeus!" ...Vim embora, se alguém mandou me buscar no avião Pepê velho não retorna mais. Tinha alguém lá no aeroporto, qual é Zé as suas últimas palavras para...?... de Imperatriz para prefeito Eurico Novaes. E vim embora, mas aí ganhei a eleição, recorreram aqui para o Tribunal, eu ganhei, recorreram
para o Supremo, no dia do julgamento lá, o outro morre, aí eu assumi, passaram os direitos para mim como segundo mais votado, aí fui, reassumi o que deu essa argolada toda lá.
L – E LÁ O SENHOR CHEGOU A COLOCAR ALGUMA COISA SOBRE EDUCAÇÃO FÍSICA COMO PREFEITO? OU NÃO DEU TEMPO?
E – Não deu tempo; só fazendo turmas de exercícios.
L – DAVA AULAS NO COLÉGIO OU ALGUMA COISA, NÃO?
E – Muito pouco, muito pouco, só orientando os professores no colégio Sebastião Archer, que tem lá, nesse eu ainda peguei os professores, convidei a Maria de Lourdes que era a minha colega e Zé Brandão encarregados de fazer exercícios lá, nessa parte até com os preso, bota esses preso para pegar sol aí, toma banho de sol, banho de água e descansar para melhor o espírito para ver se eles sossegam e diminuem ou atenuar as evidências das falhas cometidas. Ai eu vim para cá, eu era do Gabinete - o Presidente José Sarney foi meu aluno quatro anos -, aí eu fui Chefe do Gabinete Militar nomeado por ele, depois fui para a Prefeitura, voltei; como não tinha vaga no Gabinete Militar quando voltei de lá, fui ser assistente de militar de...?...mas servindo no Palácio. Eles foram meus alunos também - Fernando e Zequinha, no colégio Marista, pai, mãe e filho.
L – O SENHOR SE REFORMOU EM 1967?
E – Em 1969, ou como professor com mais de vinte e cinco anos de serviço, que em educação fisica é salubridade, ou por tempo de serviço 33 anos de serviço ou por idade, 69 anos, eu escolhi primeiro o da idade por que eu não tinha mais repressão.
L – NA POLÍCIA O SENHOR SE REFORMOU COMO CORONEL?
E – Achei que era pouco, achei bonito quando cheguei Sarney, na hora de me aposentar como Coronel, Sarney disse: Agora o que se faz? Devia ser fiscal de renda do Estado. Eu venho de auxiliar de fronteiras e ia ser fiscal de renda... passei para a reserva não remunerada - coronel sem dinheiro a reserva não remunerada de acordo com as atividades militares ... e aí fui enviado a Auditor Fiscal do Estado ganhando dez vezes mais do que salário de polícia, do coronel de polícia, quando é agora, polícia tá na frente e eu fiquei atrás, nem por isso perdi o estímulo.
L – O SENHOR FALOU DA SUA PARTICIPAÇÃO DEZESSETE ANOS NO IPEM?
E – No Ipem, sim com muito prazer e também podemos citar a medalha de...?...nesse movimento de Tutóia, na orla marítima. (Dá um tempo de 10 segundos e depois começa em outro assunto totalmente distorcido). Casou com Fernando e todos os filhos foram professor de natação do Rio de Janeiro.
L – A PRIMA DO PROFESSOR DIMAS CHAMA-SE EUNICE BEZERRA?
E – Casou-se com o Dr. Fernando, e todos os filhos são formados em natação no Rio de Janeiro.
L – PARA ENCERRAR, UMA PALAVRA SOBRE O PROFESSOR DIMAS.
E – O Professor Dimas, maranhense ilustre, lá das bandas do sertão de Mirador, sempre trabalhou com paz e amor, cumprindo o seu dever e foi um atleta e soube desempenhar suas funções preparando as raças do Brasil de hoje para um Brasil bem melhor que o amanhã. Tudo fazendo com garbo, eficiência e sadia. E adquirindo conquistou nos...?...estabelecimentos de ensino pela sua capacidade, dinâmica, arrojada e impetuosa, o mundo de méritos cívicos que bem traduz suas qualidades de homem público.
L – MUITO OBRIGADO PROFESSOR. ENCERRANDO ÁS 2:52 HS.
(A esposa do Cel. Eurípedes liga a televisão, em um volume muito alto, impossibilitando a gravação, havendo necessidade de encerrar-se a entrevista - encerrada a entrevista, Eurípedes continua falando, sobre Futebol de Salão)
E –.... Fazendo jogos interestaduais, elevando o bom nome do esporte a bons tempos...
L - FOI O SENHOR QUE INTRODUZIU O FUTEBOL DE SALÃO NO MARANHÃO?
E – Foi, e o Dimas sabe disso, trazendo essa dinâmica que nem bem existia, mas fizemos isso lá para as bandas de 54 à 57... entregando ao Dimas e outros demais professores. Dizia por exemplo, o Carvalhinho,
o Carvalhinho é um atleta que tem por ai sem ser conhecido mais doido do que eu. Inclusive hoje ele está até aposentado, tá meio doente; corredor de fundo.
L – ETERNO CANDIDATO A VEREADOR!
E – Risos
L – ENCERRANDO. OBRIGADO PROFESSOR!
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Academia
Poética Brasileira
Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Centro esportivo Virtual
O Maranhão tem cada História!!! Ao pesquisar sobre a Educação Física, Esportes e Lazer no/do Maranhão encontrei mais uma contribuição para o seu desenvolvimento. Além da “Capoeiragem tradicional maranhense”, com sua metodologia de ensino própria, desenvolvida a partir dos anos 1970, com a chegada de Mestre Sapo e dos ‘paulistas’ que vieram (re)implantar os Esportes no Maranhão, fruto do trabalho daquela geração que se denominou de “Geração de 53”, em correlação com a “Geração de 45”, de nossa literatura.
O Maranhão, nesse aspecto, é muito rico. Encontramos uma modalidade de corrida, praticada por nossos índios, que é sui generis, a “Corrida de Toras”, base da introdução dos jovens na vida social da tribo. Genuinamente Maranhense... Assim como nossa Capoeiragem...
Ao desvendar-se a História da Educação Física, vemos que é praticada, nas escolas, com características próprias,desdeomeadodosanos1800.Tivemosváriosprofessores,noLiceuMaranhense,eemoutras escolas públicas, e depois, quando começaram, nas particulares. Inclusive para as mulheres, como se dava na escola das irmãs Abranches.
No princípio dos anos 1900, se deu a criação de nosso Departamento de Educação Física, junto à Secretaria de Educação, com a contratação de um professor “alemão” – austríaco, de nascimento -, que veio lecionar a disciplina em nossa escola normal – de formação de professores. Tivemos nosso congresso pedagógico em 1920, onde a disciplina foi destaque, com muito incentivo.
Nos anos 30, várias modalidades de esportes, e o ensino da educação física nas escolas, eram incentivados, assim como nos anos 1940. Nessa década o Governo começa a aperfeiçoar os professores, mandando-os a estudar no Rio de Janeiro, tanto na Escola Nacional – hoje, UFRJ -, quanto na Escola de Educação Física do Exército.
Nessa época, um jovem militar, de nossa briosa Polícia, é mandado fazer o curso de monitoria, na Escola do Exército. Trata-se de Eurípedes Bernardino Bezerra... quem não o conhece?
Como era necessário o surgimento de novos professores de Educação Física para o atendimento da demanda – já despertada para a importância da prática de atividades físicas – Eurípedes Bezerra deu incentivos para que os outros apaixonados também buscassem uma formação de nível superior no Rio de Janeiro. Um movimento que foi crescendo a partir de 1942 com a ida para a Escola Nacional de Educação Física de renomados maranhenses, dentre eles os médicos Alfredo Duailibe, Carlos e Laura Vasconcelos e os professores Rubem Goulart, Mary Santos, Lenir Ferreira, Maria Dourado, Nego Braga, Zé Rosa, Rinaldi Maia e Dimas Araújo.
O método, então adotado, era o francês, a modalidade de ensino consistia em exercícios preparatórios e propriamente ditos, evoluções de marchas e depois os exercícios de saltar, trepar, levantar, e despertar, correr, atacar e defender e volta a calma, exercícios progressivos sem solução de continuidade. Era o mesmo método, pela Missão Francesa em 1922, para o Brasil.
Eurípedes torna-se Delegado de Polícia, além dos postos na Policia Militar, e é mandado para o interior, resolver alguns casos graves. Passa por várias cidades, e sempre introduzindo a Educação Física e a prática de esportes.
Recentemente, de minha passagem por Miranda do Norte, encontrei esse depoimento: [...] foto jurássica do nosso tempo do Colégio João Lisboa, com Josemar Bezerra Raposo, Rosemary Hayckel e alunos. Quando as aulas de Educação Física era carregar pedras pra construir a quadra da escola
Pedi, então, maiores informações e mandou-me o seguinte: “Passando pelo bairro do Turu, em São Luís, uma placa de identificação de rua me chamou a atenção: RUA CORONEL EURÍPEDES BEZERRA. Nesse momento uma enxurrada de recordações encheu minha memória! Me vi em 1977, com 12 anos, aluno da primeira turma do Colégio João Lisboa, às sete horas da manhã, fazendo polichinelo, tentando tocar o chão sem dobrar os joelhos e correndo no gramado da rua Velha, em Miranda quando ainda era povoado itapecuruense!
“Tudo isso sob os comandos fortes do meu professor de Educação Física, que geralmente às sextas-feiras, saia de São Luís para nos dar essas aulas. Não o fazia por necessidade. Fazia apenas pela amizade com o proprietário e diretor geral do colégio, o amado e inesquecível professor Dr. Josemar Bezerra Raposo.
“O professor Cel. Eurípedes Bezerra tinha um tom de voz poderoso como um trovão. Dava os comandos aos berros, através de números. Um... dois... três... para cada número gritado era um movimento que deveríamos fazer...
“Mas apesar da forma firme e até assustadora de comando, os gritos eram intercalados com palavras de incentivo e eu percebia um certo carinho dele com aquele "bando de menino do mato" (sic). Era ele, meu professor CORONEL EURÍPEDES BEZERRA. Não era meu parente, mas pelo mesmo sobrenome eu o via como um tio, ou pelo menos como alguém que, apesar dos exercícios massantes, "só queria meu bem".
Fui buscar maiores informações sobre essas passagens, e não se encontrava nada sobre essa passagem por Miranda, à época, povoado pertencente à Itapecuru-Mirim. Novidade..., mas encontrei referências a um Método adotado pelo Professor Eurípedes: Método CAGADO de Educação Física escolar:
Método “CAGADO”:
C – Contínua (para que não sofresse interrupção);
A – Alternada (exercícios com menor e maior carga);
G – Graduada (para não cansar);
A – Atraente (para que todos se sentissem impelidos a praticar);
D – Disciplinada;
O – Observada (para que as falhas pudessem ser corrigidas pelo professor).
Em 1956 Eurípedes Bezerra esteve reunido com um grupo de amigos desportistas no Lítero, dentres eles Gedeão Matos, Rubem Goulart, Nego Braga, irmãos Marista Tárcisio e Pio, Nepumoceno, Cel. Júlio, Ten. Macedo e Cel. Riod
LEMBRANÇAS PEDREIRENSES
O TIME DISPUTAVA O INTERCOLEGIAL REPRESENTADO O CIENTÍFICO DO COLÉGIO BANDEIRASTES.
EM PÉ: JOSÉ RAIMUNDO, RUI MAIA, JOSÉ ARIMATEIA, _ _ _, SEBASTIÃO RIBEIRO(TIÃO), … AGACHADO: VIANA E OS DEMAIS NÃO RECORDO OS NOMES.
LEONARDO DELGADO
Os Jogos Escolares Maranhenses (JEM's) são a maior competição esportiva estudantil do Maranhão! É um evento incrível que reúne jovens atletas de todo o estado, promovendo o esporte e a educação.
Os Jogos Escolares Maranhenses (JEM's) são uma iniciativa do Governo do Maranhão, por meio da Secretaria de Estado do Esporte e Lazer (SEDEL), que visa promover a prática esportiva entre estudantes maranhenses. A competição abrange diversas modalidades esportivas e reúne jovens de todas as regiões do estado, incentivando a competição saudável e o desenvolvimento de talentos.
Histórico dos Jogos Escolares Maranhenses
Os Jogos Escolares Maranhenses (JEMs) têm uma longa e rica história, sendo um dos eventos esportivos mais tradicionais do estado. Vamos mergulhar nessa trajetória de sucesso e superação!
Origens:
- 1971: Tudo começou com o Festival Esportivo da Juventude, uma iniciativa pioneira que marcou o início do esporte escolar organizado no Maranhão. O grande campeão da primeira edição foi o Colégio São Luiz.
- 1973: O Festival evoluiu e passou a se chamar oficialmente Jogos Escolares Maranhenses (JEMs), consolidando-se como a principal competição esportiva entre estudantes do estado.
Evolução e Crescimento:
- 1990: Ocorreu a expansão dos JEM’s para o interior, inicialmente, os JEMs eram realizados apenas em São Luís. Com o tempo, o evento se expandiu para o interior do estado, descentralizando as oportunidades e revelando talentos de diversas regiões
- Inclusão de modalidades: Ao longo dos anos, novas modalidades esportivas foram incorporadas aos JEMs, acompanhando as tendências e o interesse dos estudantes. Hoje, o evento conta com uma grande variedade de modalidades, individuais e coletivas, como atletismo, basquete, vôlei, handebol, futsal, natação, judô e muitas outras.
- Crescimento do número de participantes: Os JEMs se tornaram um evento grandioso, com a participação de milhares de estudantes-atletas de escolas públicas e privadas de todo o Maranhão.
Importância dos JEMs:
- Revelação de talentos: Os JEMs revelaram grandes atletas maranhenses que se destacaram em nível nacional e internacional, como a jogadora de vôlei Virna Dias e o jogador de basquete Paulão Prestes.
- Incentivo ao esporte: O evento incentiva a prática esportiva nas escolas, promovendo a saúde, a educação e a inclusão social.
- Integração e intercâmbio: Os JEMs proporcionam um ambiente de interação e troca de experiências entre estudantes de diferentes regiões do estado.
- Desenvolvimento do esporte no Maranhão: Os jogos contribuem para o desenvolvimento do esporte no Maranhão, incentivando a formação de atletas e a profissionalização do setor.
Curiosidades:
- Professor Dimas: Um dos grandes incentivadores dos JEMs, o professor Dimas foi fundamental para o desenvolvimento do evento e a inclusão do handebol na competição.
- Cláudio Vaz (Alemão): Outro nome importante na história dos JEMs, Cláudio Vaz, conhecido como Alemão, também foi um dos pioneiros na organização dos jogos.
JEMs hoje:
- Os JEMs são organizados pela Secretaria de Estado do Esporte e Lazer (Sedel).
- O evento é dividido em etapas: regionais e estadual.
- Os campeões estaduais representam o Maranhão nos Jogos Escolares da Juventude, a maior competição estudantil esportiva do Brasil.
Informações Importantes sobre os JEM's:
Objetivo:
Incentivar a prática esportiva nas escolas, revelar novos talentos e promover a integração entre alunos de diferentes regiões do Maranhão.
Organização:
Os JEM's são organizados pela Secretaria de Estado do Esporte e Lazer (SEDEL), em parceria com as Secretarias Municipais de Educação.
Modalidades:
Os jogos incluem diversas modalidades esportivas, individuais e coletivas, como:
- Paralímpicas: Atletismo, bocha, judô, natação, tênis de mesa, futebol de 5, goalball.
Categorias:
Os jogos são divididos em duas categorias:
- Infantil: 12 a 14 anos (2013, 2012 e 2011)
- Infanto: 15 a 17 anos (2010, 2009 e 2008)
Etapas:
Os JEM's são realizados em etapas:
- Etapa Municipal: Competições realizadas em cada município para classificar os atletas para a etapa regional.
- Etapa Regional: Competições entre os campeões municipais de cada região do estado.
- Etapa Estadual: Competição final entre os campeões regionais, realizada em São Luís, para definir os campeões estaduais.
Edição 2024:
- Abertura: 9 de agosto de 2024, no Ginásio Georgiana Pflueger (Castelinho), em São Luís.
- Período: 10 de agosto a 2 de setembro de 2024.
- Modalidades: 20 modalidades individuais e 5 coletivas, além de 16 modalidades paralímpicas.
- Local: As etapas regionais foram realizadas em diversas cidades do Maranhão, e a etapa estadual em São Luís.
Previsão da Edição 2025
- Abertura: 8 de agosto de 2025, no Ginásio Georgiana Pflueger (Castelinho), em São Luís.
- Período: 9 de agosto a 1 de setembro de 2025.
JOGOS ESCOLARES DE BARRA DO CORDA
LEONARDO DELGADO
Os Jogos Escolares de Barra do Corda (JEBC’s) é um evento esportivo importantíssimo para a cidade, incentivando a prática esportiva e a integração entre os alunos das escolas do município.
Em 2025 completará 47 anos, durante esse período tivemos 44 eventos, pois não foi possível realizar os jogos nos anos de 2020 e 2021, por causa da pandemia do covid-19.
Histórico dos Jogos Escolares de Barra do Corda
Na década de 1940, foi criada a Colônia Agrícola Nacional do Maranhão, em Barra do Corda. Seu administrador, Eliezer Moreira, manda construir escolas em cada um dos núcleos agrícolas que contasse com 50 crianças em idade escolar; foram criadas escolas nos núcleos do Naru, Barro Branco, Unha de Gato, Cateté de Cima e Cateté de Baixo, Canafistula, Passagem Rasa, Suja Pé, Seridó, Uchoa, Conduru, Mamui, Centro do Ramos, e outros.
Em períodos certos de tempo concentrava na sede do município os alunos das escolas da Colônia para as Olimpíadas Escolares da CANM (Colônia Agrícola Nacional do Maranhão).
O Moises da Providência Araújo era um dos coordenadores do evento. Centenas de crianças e de jovens disputam na velha Praça da Matriz – Praça Melo Uchoa, hoje – jogos de Voleibol, Futebol, Atletismo em suas várias modalidades, e brincadeiras tais como corrida de saco, cabra cega e outras.
Acidadeparavapara apreciartais competições. Essas Olimpíadas iniciavam-sesemprecom um grandedesfile das escolas que contava com a ajuda das irmãs capuchinhas (MOREIRA FILHO, 2008, p. 97/98).
Origem dos JEBC’s
Com o crescimento das práticas esportivas, nas décadas de 1960, o prefeito Sr. Alcione Guimarães Silva, cria em 1978 os JEBC (Jogos Escolares de Barra do Corda), tendo o colégio Nossa Senhora de Fátima, como a primeira escola campeã, dos jogos, onde manteve-se campeã até o ano de 1981, pendendo o título para o Centro Educacional Cenecista de Barra do Corda – CNEC.
É importante lembrar que a entrega das medalhas e troféus, ocorriam sempre durante o desfile de 7 de setembro.
Evolução e Crescimento:
2009 – na 31° edição dos JEBC’s, os jogos passam a ser realizados nas categorias infantil e infanto e tivemos a antecipação de sua realização para o mês de maio.
Importância dos JEBCs:
- Revelação de talentos: Os JEBCs revelaram grandes atletas maranhenses que se destacaram em nível nacional e internacional, como a jogadora de vôlei Nyeme Nunes, e no futebol Wenderson Galeno.
- Incentivo ao esporte: O evento incentiva a prática esportiva nas escolas, promovendo a saúde, a educação e a inclusão social.
- Integração e intercâmbio: Os JEBC’s proporcionam um ambiente de interação e troca de experiências entre estudantes de diferentes regiões do municipio.
- Desenvolvimento do esporte no Cordino: Os jogos contribuem para o desenvolvimento do esporte no municipio, incentivando a formação de atletas e a profissionalização do setor.
Etapas:
Os JEBC's são realizados em uma única etapa num período de aproximadamente um mês (final de maio e inicio de junho)
Informações Importantes sobre os JEBC's:
Objetivo:
Incentivar a prática esportiva nas escolas, no município de Barra do Corda, revelar novos talentos, promover a integração entre alunos de diferentes instituições de ensino em torno do esporte
Organização:
OsJEBC's sãoorganizados pelaSecretariaMunicipal de EducaçãodeBarra do Corda(SEMED-BDC), em parceria com Secretaria de Esporte e Juventude – SEJUV e Liga Desportiva Escolar e Cultura de Barra do Corda – LDECBC nas categorias 12 a 14 anos e de 15 a 17 anos.
Modalidades:
Os jogos incluem diversas modalidades esportivas, individuais e coletivas, como:
- Individuais: Atletismo, Atletismo Adaptado, Badminton, Ciclismo, Natação, Vôlei de Praia e Xadrez (Infantil) nos naipes feminino e masculino.
- Coletivas: Futebol, Futsal, Beach Soccer, Handebol, Voleibol e Basquetebol nos naipes feminino e masculino.
- Paralímpicas: Atletismo e Natação.
Categorias:
Os jogos são divididos em duas categorias:
- Infantil: 12 a 14 anos (2013, 2012 e 2011)
- Infanto: 15 a 17 anos (2010, 2009 e 2008)
Previsão para Edição 2025:
- Abertura: 23 de maio de 2025, no Estádio Leandrão, em Bairro Altamira.
- Período para Realização dos Jogos: 26 de maio a 13 de junho de 2025.
- Período para Inscrições dos Municípios Via Sistema: Até 15/06/2025
- Modalidades: 7 modalidades individuais e 6 coletivas, além de 2 modalidades paralímpicas, num total de 13 modalidades no total.
- Local: serão realizadas em diversas localidades na cidade.
Etapa Regional dos Jogos Escolares Maranhenses
AetaparegionaldosJogosEscolaresMaranhenses (JEMs)éasegundafasedessagrandecompetiçãoesportiva estudantil. É uma fase eliminatória onde os atletas de cada região do Maranhão se enfrentam em busca da classificação para a etapa estadual em diversas modalidades esportivas. Os melhores atletas e equipes dessa etapa avançam para a fase estadual.
Importância da Etapa Regional dos Jogos Escolares Maranhenses:
- Descentralização do esporte: Leva a oportunidade de competir para atletas de todas as regiões do estado, incentivando o esporte no interior.
- Revelação de talentos: Permite que jovens atletas de diferentes cidades mostrem seu potencial e sejam descobertos por olheiros e treinadores.
- Espírito esportivo: Promove a integração e o intercâmbio entre estudantes de diferentes municípios, além de estimular valores como a amizade, o respeito e a superação.
- Preparação para a etapa estadual: Serve como preparação para a etapa estadual, dando aos atletas a oportunidade de competir em alto nível e adquirir experiência.
Modalidades esportivas da Etapa Regional dos Jogos Escolares Maranhenses
As modalidades esportivas disputadas variam de acordo com a região, mas geralmente incluem: modalidades individuais (atletismo, atletismo adaptado e vôlei de praia) e as modalidades coletivas (basquete, vôlei, handebol, futsal, beach soccer).
Divisão em regiões na Etapa Regional dos Jogos Escolares Maranhenses
A divisão em regiões na etapa regional dos Jogos Escolares Maranhenses é uma estratégia importante para garantir a organização e o sucesso da competição. A cada edição dos Jogos Escolares Maranhenses, a Secretaria de Estado do Esporte e Lazer (SEDEL) divulga a divisão regional oficial, indicando quais municípios fazem parte de cada região e onde serão realizadas as competições.
No ano de 2024 esta estratégia alcançou 126 municípios (58% do total do maranhão que é 217 municípios), foram 11 cidades sedes (São Luís, Arari, Imperatriz, Barra do Corda, Caxias, Anapurus, Colinas, Chapadinha, Bacabal, Santa Helena e Carutapera)
Essa divisão leva em consideração diversos fatores, como:
- Distância geográfica: As regiões são delimitadas de forma a agrupar municípios que estão próximos geograficamente, reduzindo custos e tempo de deslocamento para os atletas e equipes.
- Infraestrutura esportiva: A disponibilidade de locais adequados para a realização das competições, como ginásios, campos de futebol e pistas de atletismo, também influencia a divisão regional.
- Número de escolas: A quantidade de escolas inscritas em cada região é considerada para garantir um número equilibrado de participantes em cada etapa.
Entre os motivos para as divisões em regiões na etapa regional dos Jogos Escolares Maranhenses, temos:
- Melhor organização: A divisão em regiões facilita a organização da competição, permitindo um controle mais eficiente das inscrições, da programação dos jogos e da logística.
- Maior participação: Ao dividir o estado em regiões, mais escolas têm a oportunidade de participar dos jogos, incentivando a prática esportiva em todo o Maranhão.
- Menorimpacto financeiro: Areduçãodas distâncias entre os municípios de umamesmaregiãodiminui os custos com transporte e hospedagem, tornando a participação mais acessível para as escolas.
Importante: A divisão em regiões pode sofrer alterações a cada edição dos jogos, dependendo de critérios como o número de inscrições e a disponibilidade de infraestrutura esportiva
TERCEIRA EDIÇÃO DA COPA SADAMU URIU DE KARATÊ SHOTOKAN SERÁ REALIZADA NO GINÁSIO PAULO LEITE. ABERTURA DO EVENTO ESTÁ MARCADA PARA AS 8H30
• TIME DE FUTEBOL FEMININO EM MIRADOR, O ANO FOI 1983: NA PRIMEIRA FILA, DEPOIS DE CLÁUDIO: MARIA RAIMUNDA, ANA AMÉLIA, BELINHA, GILDETE (EU) E MARICÉU. NA OUTRA FILA: KACI, IRENILDE E CONSOLA.
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• ELENCO DE CRIANÇAS QUE ERAM TREINADAS PELO PROF. CHICO (CHICO DO CRISTINO), SENDO A MAIORIA DA REGIÃO DA PRAÇA DO MEIO AMBIENTE. NA FOTOGRAFIA É POSSÍVEL PERCEBER COMO ERA O CAMPO ONDE HOJE FICA O ESTÁDIO MUNICIPAL, CONSTRUÍDO NA GESTÃO DO DR. JOACY.
UM RECORTE DA DÉCADA DE 80, NUMA PARTIDA DE FUTEBOL. EM PÉ, COMEÇANDO DA ESQUERDA, ANTÔNIO DO PACA, MANGA LARGA, VALDISON, PEIXINHO, BENEDITO DO BIEN E JORGE PINGA. AGACHADOS, ADAIL, ODILON, ANTÔNIO, O BOLO CRU, EVANDRO E BEBELÔ. FOTO @AVENIDABARMIRADOR #CURTA #COMPARTILHE
TIME CAMPEÃO DA ESCOLA SANTA ROSA, DE UM CAMPEONATO INTERCOLEGIAL PROMOVIDO EM MIRADOR POR VOLTA DO ANO DE 1996 A 1997. CONSEGUE IDENTIFICAR ALGUÉM? COMENTA AÍ… FOTO @JORGEHENRIQUEMACIELSANDES
MEMBROS DA FAMÍLIA DO PROFESSOR APOSENTADO DA UFMA DIMAS, OU ANTÔNIO ZACHARIAS BEZERRA DE ARAÚJO. PROFESSOR DIMAS NASCEU EM MIRADOR EM 30 DE JULHO DE 1928 NA FAZENDA MUMBUCA EM MIRADOR, E ERA FILHO FERNANDO DE ARAÚJO COSTA E ELOÍNA BEZERRA DE ARAÚJO, TENDO AO 11 ANOS INICIADO SEUS ESTUDOS EM MIRADOR, TENDO SIDO, CERTAMENTE, ALUNO DA PROFESSORA ALZIRA CASABONE OU DE LOURDES MOURÃO. NA PRIMEIRA FOTOGRAFIA APARECE SUA AVÓ, DE ROUPA MAIS ESCURA, BELCINA BEZERRA, E À ESQUERDA SUA MÃE, EM PÉ. PROVAVELMENTE A FOTOGRAFIA É DE ENTRE A DÉCADA DE 1930 A 1940. A FAMÍLIA BEZERRA QUE SE INSTALOU EM MIRADOR É PROVENIENTE DO CEARÁ, E AQUI CHEGARAM NA VIRADA DO SÉCULO XIX.
Nadadora maranhense de 16 anos brilhou nos Jogos da Juventude Caixa João Pessoa 2024, consagrando-se campeã, com folga, dos 50m, 100m e 200m peito.
Por: Mhario LincolnFonte: Secom Maranhão
Nadadora maranhense Stefany Amorim nos Jogos da Juventude Caixa João Pessoa 2024 (Foto: Divulgação)
A nadadora maranhense Stefany Amorim, de 16 anos, brilhou nos Jogos da Juventude Caixa João Pessoa 2024, consagrando-se campeã, com folga, dos 50m, 100m e 200m peito. O ouro nas piscinas, alcançado a custa de foco intenso nas metas e muito treinamento diário, é uma inspiração para Stefany, que já sonha com as Olimpíadas, mas também almeja replicar o sucesso na formação acadêmica, com objetivo de estudar Direito no futuro, em uma universidade dos Estados Unidos.
A jovem vem sendo há algum tempo destaque em campeonatos juvenis e estudantis pelo Brasil e alguns internacionais, mas, segundo Stefany, ela e a família recusaram ofertas de centros maiores como São Paulo, Rio e Minas Gerais para seguir treinando na capital do Maranhão, na DM Aquatic Center. O que faz os olhos da menina brilharem é o intenso desejo de ir nadar por uma universidade americana para ganhar bolsa e cursar Direito.
“Já me chamaram várias vezes para sair do Maranhão e treinar no Sudeste. Mas meu pensamento é treinar e estudar em uma universidade dos Estados Unidos. Ainda não tem nada fechado, mas eu gostaria muito de ir nadar e me formar em Direito. Se eu fizer tempos muito bons e tiver boas notas no boletim, eu posso conseguir. Eu me considero boa aluna e tiro notas acima de 8”, comentou Stefany, logo após conquistar mais um ouro, na piscina da Vila Olímpica, na capital paraibana. Em crescimento na carreira e com grande expectativa, a nadadora projeta virar atleta olímpica em Los Angeles 2028 ou Brisbane 2032. “Eu consigo me imaginar disputando os próximos Jogos Olímpicos, ou talvez daqui a oito anos, porque os treinos não me atrapalham nos estudos, estou melhorando meus tempos e eu sou muito dedicada”, finalizou.
Jogos da Juventude
Após 16 dias de intensas competições, os Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024 se encerram na última quinta-feira, dia 28 de novembro, reunindo mais de 4.200 jovens atletas de até 17 anos, representando 26 Estados e o Distrito Federal. A capital paraibana foi o cenário de conquistas, superações e celebrações.
Além das disputas realizadas em 9 instalações esportivas, a competição trouxe inovações significativas, como a estreia oficial da esgrima no programa dos Jogos, a introdução de uniformes padronizados para as equipes de esportes coletivos e novas premiações, como na ginástica rítmica. Formatos renovados em modalidades como na disputa por equipes do wrestling também destacaram o compromisso do Comitê Olímpico do Brasil (COB) com a evolução técnica do evento.
RAYSSA LEAL TIRA 9.1 NA ÚLTIMA NOTA, LEVANTA A TORCIDA EM SP E É TRICAMPEÃ DE LIGA MUNDIAL DE SKATE
FADINHA, NÃO. RAINHA DO SKATE. RAYSSA LEAL FOI COROADA CAMPEÃ DA TEMPORADA 2024 DA STREET LEAGUE SKATEBOARDING (SLS), A LIGA MUNDIAL DE STREET, AO VENCER O SUPER CROWN NESTE DOMINGO, NO GINÁSIO DO IBIRAPUERA, EM SÃO PAULO, QUE RECEBEU O EVENTO PELO SEGUNDO ANO CONSECUTIVO. SENTINDO-SE EM CASA EM SOLO PAULISTANO, ONDE CONTOU COM O APOIO INCONDICIONAL DOS FÃS, A MARANHENSE DE 16 ANOS VENCEU AS DUAS EDIÇÕES ANTERIORES E, PORTANTO, É TRICAMPEÃ.
O TRICAMPEONATO DE RAYSSA LEAL NA STREET LEAGUE SKATEBOARDING (SLS), CONQUISTADO NESTE DOMINGO COM VITÓRIA NA ETAPA DECISIVA DA LIGA, O SUPER CROWN, EM SÃO PAULO, VEIO COM MUITA EMOÇÃO E DEMONSTRAÇÕES DE COMPANHEIRISMO. DO CHORO AO ACERTAR A ÚLTIMA MANOBRA AO APOIO À AMIGA AUSTRALIANA CHLOE COVELL, A MARANHENSE DE 16 ANOS PROVOCOU OS MAIS VARIADOS SENTIMENTOS NO PÚBLICO PRESENTE NO GINÁSIO DO IBIRAPUERA.
CARTA ABERTA, que deveria ser fechada.
Não vou tirar meu chapéu pra qualquer vagabundo. Josias Sobrinho.
Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê. Monteiro Lobato
Duas coisas salvariam o Brasil: interpretação de texto e consciência de classe. Jessé de Souza
Quem é esse tal de Tarcisio Selektah? Origem: Rua do Caratatíua, João Paulo, frequentador assíduo das festas de radiolas desde o início dos anos 80, inclusive tendo participado da equipe da Diamante Negra ao lado de Cesar Roberto, Jr Marley, Junior Roots, Netinho Jamaica, Jorge Pinheiro, Olivia, Jânio, Antônia Carlos e sêo Antônio Rodrigues. Apresentou o programa Planeta Reggae na Difusora FM, da Diamante Negro, ao lado de Jorge Pinheiro. Nesse período participei intensamente da feira do reggae, que acontecia na frente da Rádio Cidade, parque Bom Menino, onde os contratos de festas e eventos eram fechados pelos radioleiros.
Esteve no Show de Gregory Isaacs - Nhozinho Santos, o show de Gregory na Praia, Show de Eric Donaldson, show no espaço cultura, shows no Clube Lítero, encontro de radiolas, os Tributo a Bob Marley de Nayfson no bairro da Liberdade, Espaço Aberto, Clube do Bento, Coqueiro Verde, CB 400, Toca da Praia, Terreiro São Francisco, Clubão da Ladeira, Clubão Cidade, Toque de Amor, Coqueiro bar, Pop Som, Sede do Sampaio, Clubão de Praia, Fetiema, Adape, União do BF, domingueiras do CCN, Black Star, Cooperativa do Reggae Choperia Internacional e um longo etecetera. Só para citar locais e momentos, sem necessariamente uma ordem cronológica.
Pesquisador, colecionador, seletor, fundador do High Vibes Sound System, com Rougher Yet, produtor e roteirista do filme a Tribo do Reggae, dirigido por Beto Matuck. Com financiamento da lei estadual da cultura pela produtora Jah System. O filme conta a história do reggae na ilha tendo a Tribo de Jah. Disponível no YouTube https://m.youtube.com/watch?v=AZi_bkr4TvM
Como seletor tem uma longa lista de gigs em Fortaleza, Salvador, Recife, Belo Horizonte, Rio, São Paulo capital e interior e Curitiba
A perguntar que Emilio Sagaz fez foi sobre o surgimento, a ORIGEM, do que se convencionou chamar “robozinho”, que na realidade foi uma dança que caracterizava esse estilo de música tocada nas radiolas. Em NENHUM momento da minha fala no podcast fiz qualquer menção ao panorama dos dias atuais. E muitos dos ‘ispicialistas’ que fizeram suas logorreias não podem palpitar sobre tema, porque nem eram nascidos ou sequer frequentavam a cena reggae de então. São papagaios de pirata repetindo o que ouviram dizer.
Reconheço que no podcasts cometi uma falha ao não explicitar a origem do termo “Inglês da baixada” que não é, não foi e nunca será, um tratamento discriminatório. Ouvi esse falar várias vezes das bocas dos que faziam a cena reggae de radiola naquele momento, por volta de 99/2000 para se referirem através de epítetos, como “enrolation” e “embrometion” da época, porque os ditos cantores decoravam a pronúncia das letras. Quer conferir? Basta ouvir as músicas, se por acaso alguém ainda tiver, lançadas naquela época pelas radiolas. E ainda tem mais uma outra forma de se referir que não citei, e agora mesmo é que não vou citar mesmo. Trata-se de um fato histórico, que vi, vivi e ouvi! Testemunha ocular, ninguém me contou! No que pese a dita evolução musical das chamadas músicas de radiolas, até hoje ainda são conhecidas como “bate-lata”, “eletrônicas”, “couro” e “robozinho”. Gostem ou não! E volto a reforçar, e sem tirar uma palavra do que disse na minha fala. Ao abraçar esse modo de fazer festas as radiolas, para minha tristeza, perderam força entre os regueiros da Ilha e deram forçar aos grupos de colecionadores e ao surgimento dos bares. É Fato!
Me pronunciei como um ser histórico, no sentido de ter participado de centenas e centenas de momentos cruciais dessa história. E não me lembro de ter visto em qualquer desses momentos iniciais o indigitado estar
presente e ser envolvido com a produção desse estilo musical naquela época. Qual o conhecimento, a vivência que possui para tecer comentários? O que se vê são asneiras e pabulagens.
O Fórum do Reggae nada, repito, nada tem a ver com o meu relato histórico no podcasts. Sou membro e fundador do Fórum do Reggae do Maranhão – FORMAR, que surgiu através de uma luta coletiva da cadeia produtiva do reggae, e teve suas origens em 2007.
E para os que ainda não acompanham essa luta coletiva por políticas públicas para a cultura reggae no Estado do Maranhão, em um ano discutimos, propusemos ao governo através um projeto de lei, levado a Assembleia do Estado do Maranhão – ALEMA, pelo deputado Zé Inácio, e contando com a prestigiosa assessoria de Pinto da Itamaraty, que se chama Lei Júnior Black de nº 12.324 em seu:
Art. 2º - Para efeitos desta Lei, entende-se como entes pertencentes à Cultura Reggae o conjunto de artistas, produtores, artesãos e desenvolvedores de:
II - as radiolas e os sound systems, seus deejays (cantores/as) e seletores/as;
Além disso, propusemos um Edital Específico para a Cultura Reggae que explicita em um de seus módulos o seguinte:
MÓDULO III – Circulação de Espetáculo de Música: Projetos de até R$ 100.000,00 (cem mil reais) cada. Contrapartida obrigatória:
a.3 Quando o projeto for de radiola, equipe de vinil ou coletivo sound system, as apresentações devem ter, no mínimo, duas horas e, no máximo, cinco horas.
Pois é! ... os “inimigos” das radiolas durante os debates e discussões no Fórum sempre trabalharam para contemplar as radiolas dentro das propostas para a cultura reggae no Maranhão, porque sem elas não se conta história nenhuma! Essa, é uma conquista histórica!
E dentro desta perspectiva, o(s) “incomodado”(s) o que deveria(m) fazer era se unir(em) ao FORMAR, pois nas propostas contempladas no edital específico poderão concorrer e obter recursos públicos para gravar suas respectivas produções musicais para as radiolas, ou não!
Em vez de estar falando groselha, abobrinhas e destilando veneno em redes sociais, se passando por “defensor” da cultura reggae deveria se juntar ao FORMAR! Essa luta é de todos e todas!
Mas a pergunta que não quer calar: Qual o motivo do pretenso interlocutor querer envolver o Fórum do Reggae neste tema?
Quem ataca o Fórum do Reggae do Maranhão, ou está mal informado ou mal-intencionado!
Os cães ladram, e a caravana passa – proverbio árabe.
FAZENDO O Q EU AMO COM PESSOAS Q FAÇO QUESTÃO DE ESTAR. NÃO TEM SENTIDO GANHAR UM TÍTULO COM PESSOAS Q NÃO TEMOS CONEXÃO. E QUER SABER???Q EQUIPE LINDA, CHEINHA DE MULHERES MARAVILHOSAS. VICE CAMPEÃ ADULTA COM MUITO ORGULHO DAS MINHAS ESCOLHAS. VALEU MAB. OBG DEUS. NÃO É NADA SOBRE BASQUETE, É SOBRE A VIDA E QUEM ESCOLHEMOS ANDAR. I LOVE THIS GAME
VAMOS CELEBRAR O DIA
MUNDIAL
REVERENCIANDO AUGUSTO SHAW, RESPONSÁVEL POR TRAZER O ESPORTE PARA O BRASIL!
Diretamente de Nova York, Shaw trouxe a modalidade ao país após receber um convite para lecionar na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Ele havia completado seus estudos na universidade de Yale.
Consigo, trouxe livros, obras de arte e, especialmente, uma bola de basquete. A modalidade inicialmente foi aprovada pelas mulheres, o que atrapalhou a difusão entre os homens devido ao forte machismo à época. Aos poucos, Augusto foi convencendo seus alunos de que o basquete era um esporte pra todos. Ao vencer a resistência, ele conseguiu montar a primeira equipe organizada do Brasil: o Mackenzie College, ainda em 1896.
Shaw viveu no Brasil até 1914 e teve a chance de acompanhar a difusão do basquete no país. Faleceu em 1939, nos Estados Unidos.
Com o tempo, o esporte foi se firmando no Brasil, resultando na fundação da Confederação Brasileira de Basketball, entidade máxima da modalidade no país, em 25 de dezembro de 1933, no Rio de Janeiro. Obrigado, Augusto Shaw! O pioneiro do basquete no país!
Meninos jogando bola na Fonte das Pedras, São Luís-MA, 1974, foto do alemão Joachim Erich Hess via Arquivo Geral do Iphan @IphanGovBr( a primeira imagem do carrossel). Recebi essa imagem com uma emoção, mas também percebi visualmente o quanto estava precário a área que envolve a fonte. A emoção que tive é interessante, apesar de às vezes parecer monótono postar uma memória fotográfica da cidade atrelada muito mais ao centro. Pois é, eu sempre me faço essa autocrítica, mas acabo reproduzindo o Centro. Na verdade, eu acho e recebo muitas imagens do Centro, posso até enjoar, mas tem fotos do Centro que são diferentes e mostram momentos singulares. Tiro uma conclusão: É o Centro além dos cartões postais, era outro Centro. Olhando uma imagem dessa, me faz lembrar a cidade do Poema Sujo, imagens que coincidem com os versos de Ferreira Gullar que evocam o aspecto carcomido do centro colonial que estava prestes a ser tombado pelo IPHAN, em 1974, ano da fotografia dos meninos jogando bola na Fonte.
Essa fotografia em especial exala na vitrola dos meus pensamentos aquelas músicas de Jorge Ben, samba rock, futebol e molejo. Meninos jogando bola na cidade da Tábua de Cal Carcomido. Brasil era tri, Pelé consagrado, mas fora da seleção, a Taça Jules Rimet era nossa e pela primeira vez iríamos tentar o tetra. Confiante estávamos, mas nos levaram para passear no Carrossel Laranja comandado pelo senhor Johan Cruyff, o "Milagre" se acabou, e o Tetra só veio 20 anos depois do fracasso de 1974.
Parece que eu tenho uma aura, nunca imaginei visualmente algo assim pela Fonte das Pedras, evidentemente os mais velhos lembram, os mais velhos já contaram histórias antigas da Fonte das Pedras, só que quando vem uma fotografia assim, foto da época deles, eu consigo uma "visualização" que emite aquela sensação de que tudo se "encaixa" entre a memória falada daquilo que foi vivido e a fotografia antiga. O que parece velho é uma novidade nos olhos de quem não viveu a situação representada na antiga foto. Foto antiga fora do armário é uma foto nova quando se tem contato com outros olhares.
ZEZE CAVEIRA E AS LANCEADAS DO MÊS DE JULHO
HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO
São Luís tem vocação cosmopolita e assimila todos os vícios, modismos e formas de comportamentos alienígenas impostos à nossa cultura. Sonha um dia em virar Paris. Somos invadidos diariamente e resistimos bravamente a todas investidas colonialistas. Mantemos viva a nossa cultura com sacrifício e paixão, e o exemplo dessa resistência são as nossas festas juninas, com a maior diversidade do mundo de ritmos, cores, sons, danças e sabores.
Em julho, logo depois do melhor São João do mundo, começa o mês dos ventos e das marés altas, antecipando o que será em agosto e somente quem passa pelo boqueirão pode explicar a força das marés de agosto. Em julho o céu costuma ou costumava ficar mais colorido, todo ele se enfeitava com cores e graça. É a época dos papagaios, jamantas, bodes, arraias e curicas com seus rabos confeccionados com pedaços de algodão e assim se faz ou se fazia as tardes de sábado e de domingo em uma São Luís bem mais feliz.
A plateia, de forma obrigatória, tinha ou ainda tem, em ficar com os olhos em direção ao céu e todos devem participar da arte das “lanceadas.” Quando adolescente, na década de 1970, a lanceada dependia do tipo do “cerol”, uma mistura perigosíssima de goma e vidro. Alguns preferiam o cerol feito com lâmpada fluorescente, outros com o vidro azul do leite de magnésia de Philips ou do fundo de garrafa, de preferência triturados após serem cuidadosamente colocados nos trilhos dos antigos bondes de São Luís ou socados em uma lata, e coados em um pano, posteriormente este pó de vidro é misturado em uma cola feita de goma de tapioca e passado na linha que segurava o papagaio. O artefato lúdico deveria ser matematicamente equilibrado e com a grife do famoso Zezé Caveira. O melhor e mais respeitado fabricante de papagaios da ilha. O Hans Donner das pipas. As lanceadas são verdadeiras disputas celestiais de papagaios, bodes, arraias e jamantas, e que formam uma plateia ávida por emoções. Participam além dos lanceadores, os coadjuvantes, aqueles que “arribavam” os papagaios, isto é, os que ajudavam o papagaio a subir aos céus, os que “escoravam” os papagaios e aqueles que corriam atrás dos que “morriam” ou que perdiam a lanceada. Os experts na arte das lanceadas, contumazes vencedores, não deixavam que o derrotado caísse nas ruas, eles “matavam, cortavam e traziam na rabada os derrotados”, isto é, os papagaios, bodes ou jamantas. A resistência cultural é um ato revolucionário. Viva o São João, São Pedro e São Marçal. Viva os papagaios, bodes, jamantas, arraias e curicas!
Muito feliz em receber o convite do prefeito @rildoamaral11 a fazer parte de sua equipe na gestão municipal na Secretaria de Esportes de Imperatriz no cargo de Secretário Adjunto ao lado do secretário Esportes prof . @getulioma o que me deixa muito honrado. Gratidão e vamos trabalhar chegou a hora !
HAMILTON RAPOSO MIRANDA FILHO
São Luís sempre exibiu ares de contemporaneidade. Nunca fomos ou seremos uma província. Os maranhenses costumam ir e voltar. Aqui tivemos e temos de tudo. Algumas lembranças merecem registro e como contador de histórias e de estórias, registro algumas passagens da cidade e das pessoas que por aqui viveram ou que ainda vivem em São Luís.
Tenho um biótipo longilíneo e sempre fui magro. O meu estado físico algumas vezes preocupava meus pais e o meu pediatra, Dr. Orlando Araújo. Durante a minha infância tomei Biotômico Fontoura, Emulsão Scott, Calcigenol Irradiado e o delicioso Vinho Reconstituinte Silva Araújo. Esportes eram indicados, e pratiquei quase todos. Desta época vem o reconhecimento a diversos professores de educação físicos e aqui faço o registro aos Professores de Judô, Paulo Leite e Vicente Leitão da Rocha. A prática deste esporte traziam algumas consequências, as dores articulares e musculares, e para tratamento destas dores nada como a aplicação da pomada Alginex ou Iodex, e para as dores persistentes, o famoso Emplasto Sabiá.
Gripe e resfriado, tudo era tratado com Vick ou Bromil, o “amigo do peito”, e para garganta inflamada a aplicação dolorosa e incômoda do Colubiazol. Febre? O famosíssimo Melhoral, “o melhor e não faz mal.” As dolorosas injeções de Ozonil ficavam para os casos de gripe mais grave.
Para cólicas, as conhecidíssimas dores de barriga, nada como o Elixir Paregórico, Chophytol, Leite de Magnésia e o Entero-Vioformio, era tiro e queda, resolvia-se qualquer parada indigesta, depois chegou o Metilcolin, Xantinon e outras panaceias.
A chegada da adolescência exigia-se e ainda se exige alguns cuidados, e naquela época, apesar dos problemas serem os mesmos, os recursos eram outros. A acne tinha que ser tratada com Pomada Minâncora e Sabonete Soapex ou de Enxofre com água morna. Dormi várias vezes com a cara cheia de Minâncora. O tempo depois trouxe Hipoglós e Acnase. Chulé somente melhorava com Pó Antisséptico Granado. Disfunção menstrual? Nada que não pudesse ser resolvido com o Regulador Xavier.
As aventuras sexuais tinham os seus riscos, e o risco quase sempre se limitava aos “piolhos chato”, que eram devidamente tratados com Neocid em pó, e o famigerado “esquentamento”, tratado com Penicilina ou Tetrex. Alguns, após o tratamento com estes populares antibióticos, procuravam depurar o sangue com o não menos famoso, Salsa Três Quina.
QUERIDO SENSEI!
MAYRHON FARIAS (O “COLOSSO”)
Quando um mestre completa mais um ciclo, representa mais que uma alvorada pessoal...É uma conquista de cada um de seus aprendizes.
Cada oportunidade que lembro do senhor, penso na sua força e na sua capacidade em transformar vidas. Sem dúvida nenhuma o senhor transformou a minha...
Lembro das tardes que o senhor esperava, sozinho, a minha chegada em nossa antiga academia Seishin, no São Francisco. Impossível não me emocionar. Sem imaginar, ali foi minha primeira lição no Judô... o Jitakyoei, o bem-estar compartilhado... a paciência e a fé no outro, com forte incidência no coletivo.
O senhor tem o dom, quase que artístico, em forjar personalidades e a fazer seus alunos acreditarem em projetos pessoais que, no fundo, são seus... Eu, por exemplo, me tornei um “Colosso”, pelos seus ensinamentos e, sobretudo, pela sua resiliência. Sem dúvidas, o verdadeiro colosso é o senhor, meu Shihan.
Obrigado por cada espera, por cada esculhambação (que foram milhares), por cada ensinamento, por cada investimento emocional, financeiro, por cada oportunidade que abriu mão de sua família por nós, por fazer de nós sua família e por cada ato de fé (em nós, na vida e em nosso Judô).
Sou grato a Força regente do Universo por tê-lo em minha vida e mais grato ainda, pela sua existência.
Enquanto eu existir, seus ensinamentos ecoaram em cada atitude e palavra minha. Afinal, como diria Fernando Pessoa...“tudo vale a pena quando a alma não é pequena” e a sua é gigante e perdurará em cada um de nós, seus alunos... Sempre a caminho do Ippon!
Arigato gozaimasu!
Mayrhon José Abrantes Farias = Professor Adjunto da Universidade Federal do Maranhão, Campus do Bacanga, São Luís - MA, atuando no Departamento de Educação Física (DEF/UFMA). Realizou Pós-doutorado no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Brasília (PPGE/UnB), linha de Estudos comparados. Possui Doutorado e Mestrado em Educação Física pela Universidade de Brasília (PPGEF/UnB); Licenciatura Plena em Educação Física e Especialização em Educação Integral pela UFMA. Possui experiência docente no Ensino Superior na Universidade Federal do Tocantins (UFT) e na Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT), em que foi Presidente de NDE, Coordenador adjunto, Coordenador de Estágio Curricular Supervisionado e Coordenador de área do PIBID do Curso de Educação Física; Atuou como tutor e professor formador do curso de Licenciatura em Educação Física da UAB/EAD/UNB. Na Educação Básica atuou na Secretaria de Educação do Estado do Maranhão (SEDUC-MA) e na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF). É vice-líder do Núcleo de Investigação Multidisciplinar em Educação Física (NIMEF/UFNT) e do IMAGEM - Grupo de Estudo sobre Corpo e Educação (FEF/UnB). Compõe o comitê científico do GTT Corpo e cultura do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE). Tem experiência nas áreas socioculturais e pedagógicas na Educação Física, com ênfase em Educação Física Escolar; Estágio Curricular Supervisionado; Corpo, Educação do Corpo e Práticas Corporais Infantis; Mídias e Educação (Física); Metodologias de Ensino das lutas na escola.
MEMÓRIAS DA CIDADE (*)
ANO 1966 DECISÃO DO TORNEIO INTERMUNICIPAL DE FUTEBOL MARANHENSE DISPUTADO EM SÃO LUÍS ENTRE VIANA X PINHEIRO. VIANA CAMPEÃO DO TORNEIO INTERMUNICIPAL, APÓS O RETORNO DO TIME A CIDADE HOUVE COMEMORAÇÃO PELAS RUAS DO CENTRO HISTÓRICO DE VIANA.
NA PRIMEIRA FOTO DO LADO ESQUERDO VAVÁ E LUPERCÍNIO E DO LADO DIREITO JOSE GOMES O ZÉ IMBALA. NO MEIO DELES O DIRIGENTE E PRESIDENTE DA LIGA ESPORTIVA VIANENSE RAIMUNDO NONATO MENDONÇA O PAPA BANHA SEGURANDO O TROFÉU.
NA SEGUNDA FOTO DÁ PARA VERIFICAR OS CASARÕES COLONIAIS AINDA EM PERFEITO ESTADO.
(*) ÁUREO MENDONÇA, PESQUISADOR E ESCRITOR.
FOTOS: JOSÉ GOMES, COLORIZAÇÃO MARIANO SILVA NETO.
DÁ PRA ENTENDER?
O Viana rompe parceria com o Real Codó e não vai mas jogar em Codó, vai mandar seus jogos em Cantanhede Maranhão.
O Viana Real Codó como agora passa a ser chamado representa a cidade de Viana o famoso Leão da Baixada estreia no campeonato maranhense da primeira divisão no dia 12 de janeiro contra o Pinheiro Atlético Clube na cidade de Pinheiro.
Sua camisa é na cor laranja, tem algo haver com as cores da cidade de Viana?
Viana Real Codó, tem no nome a cidade de Codó representa a cidade de Viana e vai jogar na cidade de Cantanhede, entenderam?