
3 minute read
Capítulo 9. A Faculdade
PELOS CAMINHOS DA VIDA
Depois de perder um ano, após a minha formatura e com tempo disponível e “dindin” no bolso, resolvi entrar para um cursinho para tentar o vestibular. A minha ideia sempre foi fazer medicina, mas ao avaliar a situação cheguei à conclusão de que não tinha condições de me dedicar e “enfrentar a onça”. Então, resolvi me matricular no cursinho de economia, com aulas dadas por alunos e professores da própria escola, que funcionava no colégio Arnaldo.
Advertisement
Trabalhava à tarde no banco e à noite ia diretamente para o cursinho, chegando em casa próximo de meia noite todos os dias. Vida dura, mas era a única alternativa se quisesse entrar para a faculdade. Não deu outra, no primeiro vestibular consegui passar e em 1966 me matriculei e iniciei os estudos. E olha só, naquela época além da prova escrita tinha também a oral. Não era nada fácil. A faculdade de Ciências Econômicas ficava localizada na esquina das ruas Curitiba e Tamoios. Era uma turma grande, mais de 100 alunos, e tiveram que a dividir em três salas. Comecei inicialmente na A e depois fui para a B.
À medida que fomos nos conhecendo, formamos um grupo bom para estudar. Estudávamos na biblioteca da escola e também no apartamento de uma colega, na Rua da Bahia. Quando ficávamos até mais tarde na escola frequentávamos o barzinho Boteco (Rua São Paulo quase esquina de Tamoios e Amazonas), onde o Milton Nascimento começou a cantar suas primeiras músicas. Sempre estava presente. Cantava geralmente às quintas-feiras. Também íamos muito ao mercado central, que ficava próximo da escola, para tomar uma gelada e comer fígado acebolado, em um boteco com esta especialidade. Ficávamos todos assentados nos engradados de cerveja, pois não havia nem mesa e nem cadeiras no local.
Foi um período duro, de muito esforço e dedicação. Estudava pela manhã e trabalhava à tarde. De vez em quando estudava no próprio banco. Os professores eram legais, só a Maria da Conceição Tavares é que era radical, cobrava mesmo e não olhava a cara, dava notas ruins mesmo e até bomba (tinha que repetir a matéria). Era difícil tirar notas boas com ela. Prova sempre muito difícil. Tinha também funcionários do banco que lecionavam na escola.
A turma da faculdade era muito animada. Formamos um grupo para jogar pelada aos finais de semana. Depois dos jogos íamos tomar cerveja. Era uma farra das boas. Jogamos em diversos campos da várzea de BH.
De vez em quanto fazíamos umas loucuras; estávamos assentados no bar tomando umas e, numa sugestão de um ou de outro, combinávamos e
CAPÍTULO 9 - A FACULDADE
saíamos dali diretamente para a praia de Guarapari ou para Ouro Preto. Ir para Guarapari era difícil, pois a estrada tinha grande parte de terra e de vez em quando o carro atolava e era difícil tirá-lo. Mas geralmente nos atoleiros sempre tinha alguém com um burro ou um boi esperando para puxar o carro e ganhar uns trocados.
O período em que estivemos na faculdade coincidiu com o da ditadura. A turma da faculdade era super manjada, pois quase todos eram de esquerda. Consequência, o pau comia quase sempre, ora nas ruas e também na porta da faculdade. Os protestos parava o centro da cidade, na luta entre os militares e os alunos. Chegamos a ficar presos, com os policiais nos fiscalizando, por mais de três dias. Ninguém entrava e ninguém saia. Verdadeira guerra. Para alimentar jogávamos dinheiro para pessoas na rua comprar comida para a gente. Foram dias difíceis.
Depois de formado, passamos a nos encontrar de cinco em cinco anos. Depois fomos aos poucos nos distanciando e só em 2018 fizemos um grande encontro no Minas Tênis Clube, com quase todos presentes. Foi um sucesso. Depois combinamos de nos encontrar de dois em dois anos. Mas aí veio a pandemia...
Hoje, a turma mantém contato pelo Whatsapp. Faço parte do grupo, mas não sou ativo. Começou a haver desentendimentos por causa da política e decidi me afastar.