Jornal da Praia | 0536 | 11.01.2019

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QUINZENA

11 A 24.01.2019 Diretor: Sebastião Lima Diretor-Adjunto: Francisco Ferreira

Nº: 536 | Ano: XXXVI | 2019.01.11 | € 1,00

QUINZENÁRIO ILHÉU - RUA CIDADE DE ARTESIA - 9760-586 PRAIA DA VITÓRIA - ILHA TERCEIRA - AÇORES

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PADRE

JOAQUIM ESTEVES HOMEM DA CULTURA E MECENAS DESTAQUE | P. 7, 8 E 9

TRABALHO DE VÍTOR SILVA

LIVRO DE CARLA FÉLIX

CULTURA | P. 10

CULTURA | P. 11

PATRIMÓNIO DAS ÁGUAS “MELODIA NOS VERSOS DE ANGRA DE (A)MAR” DEZEMBRO INVERTER O DECLÍNIO DESDE SANTA CRUZ COM CASA MORTUÁRIA DA ILHA TERCEIRA NO CONCELHO | P. 3

Por: António Neves Leal

PRESIDÊNCIA ABERTA

PROXIMIDADE AOS CIDADÃOS É PARA CONTINUAR

Os grandes projectos, aprovados para a ilha, perdem-se nos corredores tortuosos da burocracia e nos atrasos sistemáticos da sua concretização e en- MUNICÍPIO | P. 5 trega ao dono da obra. Apoio ao associativismo, escoamento de águas pluviais e recuperação do património religioso foram as principais preocupações evidenciadas em 2018. OPINIÃO | P. 13

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CANTO DO TEREZINHA / CONTO | JP

2019.01.11

ISENTA? No Centro de Saúde da Praia da Vitória, ao balcão de atendimento das urgências, antes da meia-noite, por estes dias de festejos natalícios e de passagem de ano.

Boa noite. A senhora é isenta? – Indaga a rececionista depois de um longo telefonema.

nha família somos 4 e nenhuma é Isenta. Primeiro a minha avó, depois a minha mãe, eu e a minha filha, somo as 4 Isabel, e com muito gosto!

– Olha menina, fique sabendo que na mi-

REVISOR De aorcdo cum uma peqsiusa de uma uinrversriddae ignlsea, não ipomtra em quaul odrem as lteras de uma plravaa etãso, a única csioa iprotmante é que a piremria e útmlia lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaoul, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqurue nós não lmeos cdaa ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. Se acabou de ler: De acordo com uma pequisa de uma universidade inglesa, não importa qual ordem

as letras de uma palavra estão, a única coisa importante é que a primeira e última letras estejam no lugar certo. O resto pode ser uma bagunça total, que você ainda pode ler sem poblema. Isto é porque nós não lemos cada letra isolada, mas a palavra como um todo. Parabéns! O leitor não precisa de alfabetização, mas se pelo contrário não conseguiu decifrar o texto, é potencial candidato à nossa vaga de revisor! O melhor revisor em quem lê letra-a-letra.

Nas últimas 24 edições, os colegas de redação de CT escreveram na primeira página “Carlos Amando” ao invés de “Carlos Armando” (ed. 226) e “formatva” em vez de “formativa” (ed. 533), o que nos leva a pensar que por estas bandas os imperativos de poupança sobrepõem-se à ordem das letras. São as consequências dos parcos recursos existentes. Vamos desejar que este novo ano seja de maior abundância e não seja necessário poupar caracteres. Uma assinatura anual vinha mesmo a calhar! •

CONTO DO MARQUÊS DE NADA E DE COISA NENHUMA

O ILUSTRE PARRECAS

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O Parrecas sempre fora um génio, um sábio e um culto. Fora a mente mais brilhante que a sua aldeola alguma vez vira. Um jovem pelos seus dezassete anos dotado de uma fisionomia de atleta grego. Todos lhe prestavam vassalagem, uma vez que fora o primeiro da aldeia a ler Os Maias e Os Lusíadas. O seu vocabulário era completo e diziam que escrevia como um Fernando Pessoa. - És brilhante, meu filho! - afirmava com toda a certeza o seu pai – Um dia serás médico. Não te esqueças: os livros pesam menos que as enxadas. O jovem Parrecas vivia numa casa humilde, com o seu pai e a sua mãe. A aldeia onde viviam era linda, um paraíso na terra. Os habitantes da aldeia eram prisioneiros do Oceano Atlântico e reféns dos pastos verdes. As ruas eram estreitas e quando lá passava, as casas engoliam o Parrecas. As velhas nas janelas eram muito atenciosas, estavam sempre a pensar nas vidas dos outros. Viviam constantemente preocupadas com os problemas alheios. Os seus olhos eram câmaras de vigilância e os gatos, eternos companheiros das velhas, ajudavam na tarefa. - Olha o Parrecas! Como está tua mãe? E o teu pai? A tua avó já melho-

rou da constipação? – começava o questionário da velha Maria Dolores, debruçada na janela. - Estão todos bem, senhora Maria. Obrigado por perguntar. – respondia o jovem, confirmando a sua teoria de que as velhas da aldeia eram uns amores. - Até logo Parrecas! Manda cumprimentos à mãe. – acrescentava a velha. Enquanto o Parrecas se afastava, Maria Dolores comentava com a velha da janela em frente, Maria Desgraça – Aquele Parrecas nunca mais se casa! Não há rapariga que se chegue para ele! É compreensível, o rapaz não é beleza nenhuma… Teoria confirmada, as velhas da aldeia são uns verdadeiros amores. Umas queridas! Se todos tivéssemos uma Maria Dolores ou uma Maria Desgraça em casa, vivíamos mais felizes. Esta era uma rotina a que o Parrecas já se habituara. Todos os fins de semana, de manhã cedo, saía de casa a caminho dos pastos para ordenhar as vacas. Todos os rendimentos da família vinham daquela lavoura, e por isso ajudava o pai quando não havia escola. Aquele cenário verde, os pastos onde estavam as vacas de todos os lavradores, era encantador. Era a prova viva de que Deus realmente

existia. Quem mais poderia ter criado aquelas irregularidades no terreno? Ora descia, ora subia. Uns montes aqui e umas matas ali. O nevoeiro já desaparecera e o sol parecia ter vindo para ficar, aquecendo vacas e incomodando gaivotas com comichão. Uma terra divina, com gente como Maria Dolores e Maria Desgraça. Após a ordenha, um almoço esperava o Parrecas. O mesmo prato de sempre, é claro: sopa de couves com feijão. - Ó mulher! A sopa está quente como o diabo! Já disse que não a queria assim. – reclamava o pai à mãe. - Come e cala – te, mas é! – respondia a mãe.- Já te pagaram a renda, homem? A mãe era o espírito da casa. Sem ela não havia lavoura, não havia dinheiro, não havia nada. Era ela que se encarregava das contas e das finanças. Sempre fora uma figura determinada e discreta, sabia cumprir o seu papel. Em casa, o pai e o Parrecas viviam escravos das ideias dela. Para fora, o pai mostrava – se um chefe de família seguro e rígido. Resumindo, todas as saídas de casa resultavam num teatro, em que cada membro da família era um ator profissional. Porém, toda a aldeia sabia que era ela quem governava a casa.

O jovem não sabia ao certo por que razão a mãe se casara com o pai, talvez por interesses financeiros. A perspectiva da mãe naquele casamento fazia-lhe lembrar a expressão vicentina: “Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube”. Ninguém gostava muito da mãe. Quando ela andava na rua todos a olhavam, não pela positiva, mas por ser uma figura que incomodava o olhar. Era muito gorda e também não era bonita. Na verdade, era muito feia, era horrível, era asquerosa. Tinha uma cara gorda e um nariz redondo. Os olhos eram pequenos, mas viam bem. A sua presença assustava tudo e todos. As vacas tremiam só de a ver. O seu corpo acompanhava a mente. As suas ideias eram terríveis e diabólicas, sempre com o mesmo objetivo final: o dinheiro e o lucro. - Ainda não. Aquele velhaco do Fonseca paga – me sempre em atraso. – respondia o pai, com o seu pior tom de voz. Quando ficava indignado, o sangue subia – lhe ao rosto e ficava vermelho como um tomate. - Vê se estudas Parrecas, para ver se não te tornas um tolo como o teu pai – insultava a mãe. Este tipo de comentário já era natural em casa e o pai concordava alegremente. (Continua na próxima edição)•

FICHA TÉCNICA PROPRIETÁRIO: Grupo de Amigos da Praia (Associação Cultural sem fins lucrativos NIF: 512014914), Fundado em 26 de Março de 1982 REGISTO NO ICS: 108635 FUNDAÇÃO: 29 de Abríl de 1982 ENDEREÇO POSTAL: Rua Cidade de Artesia, Santa Cruz, Apartado 45 - 9760-586 PRAIA DA VITÓRIA, Ilha Terceira - Açores - Portugal TEL: 295 704 888 DIRETOR: Sebastião Lima (diretor@jornaldapraia.com) DIRETOR ADJUNTO: Francisco Jorge Ferreira ANTIGOS DIRETORES: João Ornelas do Rêgo; Paulina Oliveira; Cota Moniz CHEFE DE REDAÇÃO: Sebastião Lima COORDENADOR DE EDIÇÃO: Francisco Soares, CO-1656 (editor@jornaldapraia.com) REDAÇÃO/EDIÇÃO: Grupo de Amigos da Praia (noticias@jornaldapraia.com; desporto@jornaldapraia.com); Rui Marques; Rui Sousa JP - ONLINE: Francisco Soares (multimedia@jornaldapraia.com) COLABORADORES: António Neves Leal; Aurélio Pamplona; Emanuel Areias; Francisco Miguel Nogueira; Francisco Silveirinha; José H. S. Brito; José Ventura; Nuno Silveira; Rodrigo Pereira PAGINAÇÃO: Francisco Soares DESENHO NO CABEÇALHO: Ramiro Botelho SECRETARIADO: Eulália Leal LOGÍSTICA: Jorge Borba IMPRESSÃO: Funchalense - Empresa Gráfica, S.A. - Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, 50 Morelena - 2715-029 PÊRO PINHEIRO ASSINATURAS: 15,00 EUR / Ano - Taxa Paga - Praia da Vitória - Região Autónoma dos Açores TIRAGEM POR EDIÇÃO: 1 500 Exemplares DEPÓSITO LEGAL: DL N.º 403003/15 ESTATUTO EDITORIAL: Disponível na internet em www.jornaldapraia.com NOTA EDITORIAL: As opiniões expressas em artigos assinados são da responsabilidade dos seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do jornal e do seu diretor.

Taxa Paga – AVENÇA Publicações periódicas Praia da Vitória


JP | NO CONCELHO

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CENTRO FUNERÁRIO DE SANTA CRUZ INAUGURADO

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nicialmente anunciado para 2016 e depois adiado para 2017, o Centro Funerário de Santa Cruz e Crematório da ilha Terceira foi no passado mês de dezembro inaugurado. Com esta inauguração todas as freguesias do concelho da Praia da Vitória passaram a dispor de casa mortuária e a ilha Terceira ganha um novo serviço funerário – cremação de cadáver. O projeto de construção do Centro Funerário de Santa Cruz e CrematóPUB

rio da ilha Terceira, orçado em 400 mil euros, foi apresentado em conferência de imprensa a 09 de fevereiro de 2016. Na ocasião, o então presidente da Autarquia praiense, Roberto Monteiro, anunciou que as obras arrancariam em abril e estariam concluídas no final desse mesmo ano. No entanto, a inauguração foi por diversas vezes adiada e sensivelmente 3 anos depois da data prevista é que o Centro Funerário de Santa Cruz abre portas ao público.

Segundo justificou Tibério Dinis, presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, na cerimónia oficial de inauguração, as sucessivas derrapagens deveram-se às “complexidades técnicas e legislativas que foram precisas ultrapassar” e ainda pelo “valor da obra”. Neste particular, o autarca enalteceu o trabalho desenvolvido pela Junta de Freguesia de Santa Cruz (JFSC) que fez uma “gestão rigorosa dos fundos públicos”, executando e pagando a obra não deixando encargos para as gerações futuras. Salientando tratar-se de um dia importante para a JFSC, disse também o ser para todo o concelho, por corresponder ao culminar de um projeto iniciado há 10/12 anos, a “construção de casas mortuárias em todas as freguesias do Concelho”. “Esta é uma obra diferenciadora, não só porque a Freguesia fica, finalmente, com um espaço, com toda a dignidade, para velar os seus habitantes, mas, porque acrescenta à ilha Terceira um serviço fúnebre que até agora não existia. A partir de hoje, todas as freguesias da Praia da

Fotografia: GP-MPV

Vitória, estão dotadas de um espaço público, gerido pelas Juntas de Freguesia, para que os entes queridos possam ser velados com toda a dignidade e na sua comunidade”, realçou Tibério Dinis. O Centro Funerário de Santa Cruz e Crematório da ilha Terceira é uma infraestrutura de 300 metros quadrados, constituída por três zonas centrais: Zona de permanência, que inclui a Capela e a Morgue, com capacidade para cerca de cento e cinquenta pessoas; Zona de Serviço, constituída pela sala de tanatopraxia (preparação de cadáver) e crematório; e Zona de descanso, direcionada aos familiares. A obra resulta de uma parceria entre o Governos dos Açores, a CMPV e a JFSC. JP•

CÂMARA DA PRAIA

HOMENAGEIA COLABORADORES

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o âmbito do jantar de Natal dos colaboradores do grupo municipal, o Município da Praia da Vitória homenageou 54 funcionários que desempenham ou desempenharam funções por mais de três décadas na Autarquia, a fim de reconhecer o mérito, empenho e dedicação no cum-

primento de funções ao serviço dos praienses. O evento decorreu a 14 de dezembro, no edifício da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Praia da Vitória. JP•

PASSEIO DE IDOSOS

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Câmara Municipal da Praia da Vitória retoma este ano o passeio anual de idosos do Concelho. O destino é a ilha Graciosa e deverá ocorrer entre o final de maio e o início de junho. O anúncio foi feito por Tibério Dinis, presidente da autarquia, no almoço de Natal dos idosos do Concelho que decorreu a 15 de dezembro

nas instalações da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Praia da Vitória. “No próximo ano contamos com a vossa presença, numa data a definir entre o fim de maio e o início de junho, para uma deslocação à ilha Graciosa, promovida pelo Município da Praia da Vitória”, revelou. JP•


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EFEMÉRIDE | JP

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GENERAL DE DIVISÃO FRANCISCO MARIA DA CUNHA 104º GOVERNADOR DA ÍNDIA PORTUGUESA HISTORIADOR: FRANCISCO MIGUEL NOGUEIRIA

Francisco Maria da Cunha foi um homem que deixou marcas em todos as funções que desempenhou, sendo um homem de ação.

anos, assentou praça como voluntário no Exército português. Passou depois pelo curso da Escola Politécnica de Lisboa e depois pela Escola do Exército (atual Academia Militar). Entre 1863 e 1872, foi eleito deputado pelo Partido Progressista, do qual se tornou uma figura proeminente.

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á exatos 110 anos, a 13 de janeiro de 1909, morria o terceirense Francisco Maria da Cunha. Militar, político e governador-geral português com reconhecimento além-fronteiras, o General de Divisão Francisco Maria da Cunha foi um homem que deixou marcas em todos as funções que desempenhou, sendo um homem de ação. Francisco Maria da Cunha nasceu a 22 de dezembro de 1832, no Castelo de São João Batista, em Angra do Heroísmo. Era filho do depois General de Brigada Francisco Jacques da Cunha e de D. Maria Cândida de França e Horta. O pai, um liberal, vindo do Algarve, encontrava-se aquartelado no Castelo de São João Batista, quando D. Pedro (D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil), após um périplo pela Europa em busca de apoios à causa liberal, veio para a Terceira, a 3 de março de 1832, com o objetivo de preparar a ofensiva aos miguelistas. Foi pelo Nordeste que os liberais vindos da Terceira atacaram S. Miguel, dominando Ponta Delgada e, consequentemente, a Ilha. Aos poucos, todo o arquipélago foi aderindo ao Liberalismo. Foi organizado então um exército de 7 500 homens, os Bravos do Mindelo, liderados por D. Pedro, que desembarcaram no continente português e recuperaram a coroa para D. Maria II. Francisco Jacques da Cunha foi um dos Bravos do Mindelo. Foi neste contexto de lutas liberais que o futuro General de Divisão Francisco Maria da Cunha nasceu, em plena Guerra Civil (1832/1834). Com poucos meses, voltou para o Continente. Entre 1842 e 1848, durante o reinado de D. Maria II, frequentou o Colégio Militar, em Lisboa. Aos 16 PUB

A 11 de outubro de 1865, Francisco Maria da Cunha no reinado de D. Luís I, perto de completar os seus 33 anos, foi promovido a Alferes, tendo então iniciado a sua carreira como Oficial de Infantaria. Como oficial do Exército nacional serviu no Ultramar, em África e no Extremo Oriente. O futuro General de Divisão foi nomeado então, em 1869, comandante do Batalhão português de Macau. Oito anos depois, em 1877, exerceu, em nome do Rei D. Luís I, o seu 1º cargo como Governador-Geral, neste caso, de Moçambique. Durante o seu governo de 3 anos (que durou até 1880), conseguiu terminar com uma rebelião na Zambézia (província situada na região centro de Moçambique). Conseguiu dominar ainda e tomar posse da Ilha de Inhaca (situada à entrada da baía de Maputo, no sul de Moçambique), sendo a sua ação militar muito elogiada pelo Governo Português e até pelo Governo britânico, começando a ser reconhecido internacionalmente. Foi sucedido por Augusto César Rodrigues Sarmento. Em 1881, provavelmente em virtude de toda a sua ação, foi eleito Par do Reino. Entre 1888 e 1890, Francisco Maria da Cunha foi Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa, recebendo imensos elogios pelo seu trabalho em prol do Conhecimento, da Ciência e da Cultura. Entre 1882 e 1890 (alguns documentos apontam outras datas, entre 1883 e 1891), foi diretor do Colégio Militar, sendo substituído pelo Tenente-Coronel Emílio Henrique Xavier Nogueira. Depois da morte do rei D. Luís e a subida ao trono de seu filho D. Carlos I, Francisco Maria da Cunha foi nomeado, em 1891, pela 2ª vez, Governador-Geral, desta vez da Índia Portuguesa, sendo o 104º governante português da-

quele território no Índico. Exerceu o cargo durante vários meses, desempenhando sempre a sua função com louvor. No ano de 1893, Francisco Maria da Cunha foi eleito comandante geral da Artilharia. Em 1895, a 10 de janeiro, foi promovido a General de Divisão. Entre 1895 e 1902, foi 1º Ajudante de Campo do Rei D. Carlos I, sendo também nomeado Comandante da Escola do Exército (entre 1895 e 1896). José Luciano de Castro convidou o General de Divisão Francisco Maria da Cunha para Ministro da Guerra do 48º governo da Monarquia Constitucional. Exerceu as funções entre 7 de fevereiro de 1897 e 18 de agosto de 1898. Sendo também o 1.º Secretário do Presidente do Conselho de MInistro. Entre 1898 e 1900 voltou a exercer pela 2ª vez as funções de Comandante da Escola do Exército. Francisco Maria da Cunha foi, em 1899, nomeado Comandante do Conselho Superior de Disciplina do Exército. Neste mesmo ano voltou à Terceira, à terra que o viu nascer, para uma visita à Ilha. Uns tempos depois, nos inícios de julho de 1901, os reis D. Carlos e D. Amélia visitaram a Madeira e os Açores, numa visita envolta em pompa e circunstância. Em Angra do Heroísmo, D. Carlos relembrou que a cidade fora capital da Regência no tempo dos seus Avós, agradecendo o papel que a Ilha teve na defesa do Liberalismo e ressaltando a forma calorosa com que fora recebido. As senhoras de Angra do Heroísmo, entusiasmadas pela visita daquela que seria a última rainha de Portugal, prepararam-lhe uma surpresa, criaram uma receita nova de queijadas, as Donas Amélias, hoje uma das iguarias mais apreciadas da Ilha. Realizou-se ainda uma feira agropecuária no Paul, na Praia da Vitória, onde os Reis estiveram presentes, juntamente com 30 000 pessoas. Os Reis participaram numa tourada à corda, em São João de Deus, em Angra do Heroísmo. Regressando a Francisco Maria da Cunha, este foi Presidente do Mon-

tepio Geral e exerceu ainda as funções de Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa entre 1905 e 1909. Foi agraciado com o grau de comendador da Ordem da Torre e Espada e recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Avis. Foi condecorado pelo Sultão de Zanzibar com a Ordem da Estrela Brilhante do país. Morreu a 13 de janeiro de 1909, em Lisboa. Uns meses antes, a 1 de fevereiro de 1908, o Rei D. Carlos I, de quem fora próximo, chegando até a ser seu Chefe da Casa Militar e membro do seu Conselho, e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe foram assassinados (Regicídio) em pleno Terreiro do Paço. A vida e ação tão abrangentes de Francisco Maria da Cunha mostra-nos a importância de lutarmos o máximo pela nossa história. A vida cheia de afazeres, de peripécias, de nomeações e feitos em áreas tão diferentes deste Grande Português são o exemplo vivo que não devemos ter medo de arriscar. Ser-se ousado e fazer-se algo que se gosta é o melhor caminho para se ser feliz. Não devemos “jogar sempre pelo seguro” porque “quem não arrisca, não petisca”, por isso, é bom sabermos o que queremos e apostarmos em fazer o nosso caminho, mesmo cheio de curvas e obstáculos, rumo à Felicidade.


JP | AUTARQUIA

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CÂMARA DA PRAIA FAZ BALANÇO DE 1.º ANO DE

PRESIDÊNCIA ABERTA NAS FREGUESIAS “Presidência de Proximidade” iniciada em 2018 vai continuar em 2019.

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“Presidência Aberta às Freguesias do Concelho” foi um compromisso eleitoral assumido pelo atual presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória (CMPV) e, em 2018, primeiro ano de mandato, Tibério Dinis visitou as 10 freguesias e vila do Concelho, reunindo com as forças vivas locais e com os cidadãos e realizando as reuniões públicas mensais da Câmara Municipal do Porto Martins aos Biscoitos. A recuperação do património religioso, o apoio às coletividades e ao associativismo local e a resolução de problemas relacionados com escoamento de águas pluviais, foram as principais reivindicações das instituições e populações transversais as todas as freguesias. A “Presidência Aberta às freguesias”, iniciou-se na freguesia da Agualva, a 29 de janeiro de 2018 e terminou na freguesia da Vila Nova, a 19 de dezembro. Após receber os munícipes na freguesia da Vila nova, Tibério Dinis em declarações aos jornalistas, informou que este primeiro périplo de “aproximação às instituições e munícipes” terminou, estando garantido que “esta política de proximidade é para levar até ao fim do mandato”, pelo que, em 2019, a volta pelas diversas localidades da Praia da Vitória será, novamente, uma realidade. PUB

“O desenvolvimento socioeconómico do Concelho reside na união de esforços entre a Autarquia, as instituições e os munícipes, por forma a dar uma resposta efetiva às necessidades. Esta é uma condição essencial para o crescimento da Praia da Vitória”, afirmou Tibério Dinis. “Foram 11 dias dedicados às localidades de todo o Concelho. Recebemos os munícipes, realizámos reuniões com as respetivas Juntas de Freguesia sobre os temas que preocupam o Executivo da respetiva freguesia e realizámos também as reuniões públicas da Câmara Municipal nas diversas localidades, num momento mais simbólico de descentralização do poder local”, salientou. No que toca à gestão das águas pluviais, o presidente da CMPV, frisou que, “de inverno para inverno, este problema é maior”, ressalvando que “quer nas estradas regionais, quer nas vias municipais, canadas de servidão e em alguns caminhos agrícolas, a água das chuvas que ficam na estrada é cada vez maior. É certo que as alterações climáticas têm a sua quota-parte de responsabilidade, mas o problema cifra-se, essencialmente, numa alteração de comportamentos por parte dos cidadãos que têm tapado bueiros e canalizado a água das chuvas para outras zonas, o que tem criado vários constrangimentos”. Tibério Dinis assume que a Autarquia “está a fazer o que pode, em articulação com as Juntas de Freguesia e com a Secretaria Regional das Obras Públicas, para resolver estes problemas”.

Fotografia: GP-MPV

Noutra frente, prosseguiu o edil, outra reivindicação das forças vivas das diversas freguesias e vila da Praia da Vitória prende-se com o apoio ao associativismo. Tibério Dinis regista que “o associativismo é bastante rico, do Porto Martins aos Biscoitos”, pelo que, “naturalmente, as respetivas direções tem sempre sonhos de projetos que gostariam de concretizar para as suas associações” e, sendo assim, “a Câmara Municipal, dentro dos meios que dispõe, quer estar na linha da frente para apoiar estas associações”.

REUNIÃO COM DIOCESE Por fim, mas não menos importante, outra matéria que tem sido levantado junto do Município prende-se com “a gestão e conservação do património religioso, em especial das igrejas e ermidas nas respetivas freguesias”. Segundo Tibério Dinis exis-

tem no Concelho da Praia da Vitória “algumas igrejas paroquiais que estão com necessidades de intervenções bastante profundas, intervenções essas bastante caras para as comunidades por si próprias fazerem face a elas, assim como bastante onerosas para a Câmara Municipal da Praia da Vitória assumir sozinha a responsabilidade destas obras”. Assim, afirmou, “pretendemos reunir, brevemente, com a Diocese, na perspetiva de encontrarmos uma solução alargada para o conjunto de problemas que temos vindo a identificar em todo o Concelho”, uma vez que, acrescentou, “o património religioso é muito querido das comunidades e é fundamental do ponto de vista do culto, da tradição, mas também e cada vez mais do ponto de vista turístico, pelo que queremos ter as nossas igrejas bonitas e preparadas para receber a respetiva comunidade, bem como que nos visita”.

PRESIDÊNCIA DE PROXIMIDADE A “Presidência Aberta às Freguesias do Concelho” iniciou-se como referido em janeiro deste ano na Agualva, passando, em fevereiro, pelos Biscoitos e seguindo, mês a mês, para Cabo da Praia, Fonte do Bastardo, Fontinhas, Porto Martins, Quatro Ribeiras, Santa Cruz, São Brás, Vila das Lajes e Vila Nova, tendo as visitas sido determinadas por ordem alfabética. “O conjunto de reuniões com as entidades das freguesias e com os munícipes é muito profícuo, pois assenta num princípio de proximidade que é fundamental para correspondermos às especificidades das nossas localidades. A partilha de ideias sobre o funcionamento e necessidades das pessoas e instituições permite uma resposta mais eficaz e célere”, diz Tibério Dinis, concluindo que “com esta união de esforços, poderemos potenciar o desenvolvimento local e, acima de tudo, colmatar as necessidades dos nossos munícipes”. GP-MPV/JP •


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SAÚDE | JP

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o Cantinho do Psicólogo 202

Castelos no Ar

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fácil concluir que a construção de um castelo como o que se vê na fotografia é uma tarefa ardilosa e a necessitar a boa vontade e colaboração de Aurélio Pamplona um conjunto eleva(a.pamplona@sapo.pt) do de pessoas. No entanto não é preciso ir até à França para apresentarmos um exemplo de cidadela que encha os olhos, visto que também temos entre nós, nomeadamente nesta Ilha de Jesus Cristo. Precisamente devido às dificuldades referidas muitos optam por, em vez de se esforçarem por tudo aquilo que são capazes de construir em proveito das suas vidas, se dedicarem a fazer castelos no ar, a se empenharem em projectos utópicos e irrealizáveis, sem consideração por si ou mesmo pelos outros. Em vez destas fantasias e desvios, recomenda-se que se tome ao longo da vida medidas para termos os pés assentes no chão, ou seja, na nossa realidade, naquilo que construímos em cada momento que passa, e naquilo que possuímos, a começar pelo corpo. Ou seja, existem também frequentemente sinais de stress no nosso corpo que necessitamos de controlar como: (1) irritação ou agressão consigo próprio, ou com os outros; (2) ansiedade ou medo, mesmo que não haja ameaça específica ou imediata; (3) apatia, ao ponto de não se importar com nada, nem mesmo de proteger-se do perigo; (4) depressão, tristeza, desesperança PUB

e desvalorização, em relação ao presente e ao futuro; (5) descontrolos gastrointestinais frequentes; (6) boca seca, como se estivesse cheia de algodão, e dificuldade em engolir; (7) sensações de fadiga e de aborrecimentos injustificados; (8) esquecimentos de ordens e de procedimentos de rotina; (9) tensão ou congelamentos musculares, impeditivos do movimento das pernas, mãos e braços; (10) frustração, quando ocorre a negação de qualquer coisa desejada ou necessária

(11) culpa, mesmo por coisas que não da sua responsabilidade. E ainda: (12) dores de cabeça; (13) sensações alternadas de calor e frio, independentes da temperatura do ar; (14) incapacidade de concentração; (15) sensação de isolamento, em relação à família, e aos companheiros e amigos; (16) baixa auto-estima, e falta de confiança no que ser faz; (17) mau

humor, e desejo de não falar, ou de tomar parte em actividades de grupo; (18) sensações de náuseas; (19) nervosismo; (20) maus sonhos nocturnos; (21) entorpecimentos, tremores de partes do corpo, abitualmente das mãos, dedos e pés; (22) deficiências de respiração e batimentos do coração, mesmo sem ameaças de perigo; (23) racionalizações e atribuição responsabilidades, por não se atingir os objectivos desejados; (24) suores injustificados, que começam nas palmas da

mão e atingem a face ou o corpo; (25) sensações de tensão, antes da partida para a acção ou para o esforço; e (26) enurese ou urinação frequente. Esclareça-se que frequentemente existem dúvidas entre as similitudes e diferenças do que se entende pelos termos stress e ansiedade, mas isto é inteligível, visto que se trata de dois aspectos da mesma realidade. Se por

um lado através do stress é possível perder o controlo de uma situação, e a pessoa se sentir frustrada, medrosa, zangada ou nervosa, por outro, o stress pode acabar espontaneamente, ou até levar a pessoa em empenhar-se a dar a volta por cima das dificuldades que a atormentam. Se não soubermos lidar com as sensações que nos invadem, se não formos capazes de as ultrapassar, o resultado fará aumentar o nível de ansiedade, com consequências que podem atingir um nível de gravidade e de dificuldade extrema, ou até de impossibilidade de conseguir o seu domínio. Daqui a importância de se reduzir a nossa excitação fisiológica, e de aumentar a focalização, o centro da atenção e actividade nos nossos pensamentos e comportamentos, tornando-nos mais criativos, inclusivos, flexíveis e integrativos, no fundo mais resilientes. Isto é possível, se enfrentarmos as dificuldades com optimismo através da (Southwick, & Charney, 2012): (a) ampliação da nossa atenção, (b) aumento da capacidade positiva de reavaliar as situações que inicialmente apareceram como negativas; (c) tendência a lidar com o stress com emprego activo de estratégias de resolução dos problemas; e (d) valorização da vida como algo altamente significativa. Referências: Southwick, S. M. & Charney, D. S. (2012). Resilience: The science of mastering life´s greatest challenges. New York: Cambridge University Press. Foto: A. Pamplona•

O Cantinho do Psicólogo Cento e Vinte e Sete no Cravo LIVRO DE PSICOLOGIA DA SAÚDE DE

Aurélio Pamplona

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JP | DESTAQUE

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PADRE JOAQUIM ESTEVES

PRELÚDIOS DA NARRAÇÃO DE UMA VIDA MARCANTE Joaquim Esteves, está entre os três padres que mais marcaram a vida religiosa, cultural e social da Vila de São Sebastião.

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aríssimas são as instituições que se podem ufanar de comemorar 150 anos de existência. As que o conseguem dão provas de enorme vitalidade, o que só é possível quando uma árvore é nutrida por forte e fecunda seiva, sendo capaz de arrostar contra procelas e vicissitudes diversas e sobreviver apesar de tudo isso. Como será e é, inquestionavelmente, o caso desta portentosa araucária que se chama Seminário Episcopal de Angra, plantada por entre escolhos, disseminados no meio dos rochedos atlânticos que são as nossas ilhas dos Açores. É, pois, em redobrado orgulho e palpitante emoção que aqui estamos a fazer esta festa, com uma lágrima de saudade a brotar do canto do olho. Sobretudo, os que já entraram no túnel dos enta, que nos conduzirá, irremediavelmente, ao seio do desconhecido transcendental, esse mistério torturador e inquietante para muitos seres humanos, e de esperança, serenidade e beatitude para outros. Já em 1938, o então Reitor da Casa santa e mimosa de Deus, Dr. José Vieira Alvernaz afirmava, em Lisboa, numa comunicação intitulada O Seminário Episcopal de Angra: “É, sem dúvida, o estabelecimento mais importante dos Açores. O Seminário possui o maior salão da cidade, talvez dos Açores, onde a população de Angra assiste em massa às esplêndi-

das festas que se realizam, principalmente, no dia de São Tomás de Aquino” (in Livro do Primeiro Congresso Açoreano, Lisboa 1938-ed. Casa dos Açores). Todos os que por lá passaram, nas décadas de quarenta e cinquenta, se lembrarão de quão empolgantes e animados eram os saraus músico-literários e o brilhantismo que depois alcançaram com as participações do Orfeão, dirigido pelo P. José de Ávila, da Orquestra de Henrique Vieira e, a partir de 1952, da Orquestra Filarmónica de Angra. Quem o poderá esquecer?! O Pe. Joaquim, como era vulgarmente conhecido, era um homem culto, influente, meticuloso e dedicado que, com grande proficiência, paroquiou, durante dezassete férteis anos, em S. Sebastião, então com três mil habitantes, em prol da Fé, da Pátria e do engrandecimento da antiga e histórica Vila. Entre as várias dezenas de padres, ele foi o 9º que mais tempo ficou na Vila e um dos três que aí mais marcaram a vida religiosa, cultural e social. As maiores obras sebastianenses têm a sua marca, como o restauro da Matriz, com a descoberta dos seus famosos frescos murais; a construção do Novo Cemitério do Bom Fim; obras de embelezamento da Praça; a barragem de retenção das águas para accionar os sete moinhos do Arrabalde; reabilitação de arruamentos quase intransitáveis etc., tendo um especial carinho na preservação do património histórico, como a Ermida da Senhora da Graça, de grande valor simbólico, à qual dedicou um soneto e dois brilhantes artigos em 1943, ano em que foram sediadas, na

Vila, duas companhias do exército português. Como figura benquista do salazarismo e bem relacionado com o escol intelectual da Terceira, foi-lhe fácil conseguir apoios para os seus projectos. O seu pendor para os estudos históricos e intervenção social deram ao Pe. Joaquim Esteves um assinalável prestígio, após a criação do Instituto Histórico da Ilha Terceira, de que foi fundador com mais dezanove proeminentes figuras. Com a vinda dos militares, procurou integrá-los no meio local, criando uma capela, que com os seus cânticos não só daria frutos no domínio social e moral, mas seria uma forma de ocupar o espírito em tempos difíceis de guerra mundial. A imprensa coeva refere-se à invulgar Festa ao Padroeiro da Vila, por sinal um santo-soldado romano. Um facto inédito que suscitou as maiores felicitações e elogios endereçados ao Pároco pelos oficiais e praças, devido ao esplendor artístico atingido. (A União, 22-01-43). Para esse êxito também terá contribuído o sermão do Dr. Couto, conhecido como o Vieira da diocese de Angra, que havia marcado a formação moral, intelectual e artística de J. E. Eram ambos naturais da mesma freguesia - Altares. Ele fora seu professor de Filosofia, considerado como genial pensador e orador distinto. Grande jornalista na defesa das suas convicções e acérrimo causídico dos interesses da ilha natal que ele amava fervorosamente. A sua morte foi muito sentida. A União presta-lhe Homenagem Dorida e faz uma edição inteiramente dedicada ao insigne docente, apresentando

nove depoentes que tecem os maiores encómios ao seu director de vários anos. Outra figura marcante na formação pastoral, intelectual e artística (as três andam indissociáveis no sacerdote), foi o Dr. Garcia da Rosa que ao chegar de Roma, onde estudou, é nomeado Vigário da Matriz da Horta e ali instituiu a festa à padroeira dos músicos, Santa Cecília, ainda hoje celebrada, no Faial, com muita participação e brilhantismo. Em 1939, este ilustre picaroto, natural de S. João, aquando da deslocação do Orfeão de Angra a S. Miguel, proferiu, no Teatro Micaelense, uma erudita conferência sob o título Origem, decadência e Restauração da Polifonia sacra. E no ano de 1938, levara ao Primeiro Congresso Açoreano uma comunicação sobre a Matriz de S. Sebastião Uma velha igreja gótica na ilha Terceira, refundindo um trabalho anterior, publicado na revista Prelúdios. Nessa comunicação elogia J. E., afirmando, a dado passo, E muito folgo por ver tão bem aproveitadas umas lições de Arqueologia e Arte Sacra que há já anos dou no Seminário. Essa intervenção terá sido decisiva para o futuro das obras daquele histórico templo, onde as três câmaras da Terceira se reuniram, várias décadas, a fim de tratarem dos mais candentes problemas ilhéus. Nas páginas seguintes, abordaremos essas influências, incidindo na vertente histórico-cultural e nas realizações artísticas, promovidas pelo ilustre Pároco de S. Sebastião até à cessação de funções, em Janeiro de 1952. ANL/JP•

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TALHO BORBA & MENDES


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PADRE JOAQUIM ESTEVES

DO HOMEM DE CULTURA E MECENAS DAS A

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econhecemos, hoje, a primacial importância do estudo das Humanidades, das línguas clássicas (Grego, Latim) e Hebraico, no curriculum dos Seminários. Idem para a Filosofia e Teologia. Os liceus não tinham a mesma abertura e interesse por estas últimas disciplinas. O Liceu é a ruina do Seminário era uma frase recorrente. As queixas remontavam ao 3.º quartel do séc. XIX. (Boletim Eclesiástico dos Açores, vol. II p.190). A Filosofia viveu muito tempo associada à História. Em Portugal as duas disciplinas não eram autónomas, havia apenas a licenciatura de Ciências Histórico-Filosóficas. No caso do Dr. Couto não seria diferente, andavam ambas de braço dado, mais ainda vivendo numa ilha, onde os feitos históricos transpiravam por todos os poros. Além disso, o Pe. Joaquim descendia de antigas famílias radicadas nos Altares, no dizer do Dr. João Maria Mendes. (In Memoriam, Bol. IHIT, 2002). O próprio ilustre filho dos Altares aventou uma teoria sobre a origem da sua freguesia natal. Nela ele aponta para a época do povoamento, ao indicar que no Continente existe um topónimo idêntico, no concelho de Arcos de Valdevez, contrariando as teses dos Pe. António Cordeiro, Pe. Emiliano de Andrade e Mons. Alves da Silva. O Pe. Esteves, estudioso, culto e interventivo, não podia olvidar que estava na terra de Francisco Ferreira Drummond, o autor dos Anais da Ilha Terceira, considerado o maior historiador da ilha Terceira. Cita-o, amiúde, aprecia o seu grande dinamismo e aparece sempre na linha da frente com o povo sebastianense em tudo PUB

o que contribuía para a valorização da terra e enaltecimento dos seus filhos. Isto ficou bem patente na inauguração pela Câmara Municipal de Angra do monumento erguido, no Rossio da antiga Vila, à memória do incansável historiador, em 14-101951, sendo também um laborioso músico de grande longevidade como organista na Matriz da Praia da Vitória. Este pendor pela história terá sido incrementado pelo convívio mantido com a plêiade de espíritos exigentes e argutos que, em 1942, decidiu fundar o mais antigo instituto cultural dos Açores, o Instituto Histórico da Ilha Terceira. Foram vinte os sócios oriundos das mais diversas formações, irmanados pelo gosto da cultura, com especial enfoque para os estudos históricos e etnográficos. O Pe. Joaquim Esteves Lourenço era o mais jovem e o último fundador a falecer, em 1993, nos EUA. Dos vinte confrades académicos, quatro eram oriundos do Seminário Episcopal de Angra, os já referidos Garcia da Rosa, Manuel Couto, Cónego José Augusto Pereira (meu professor de Português) e o Pe. Joaquim Esteves, pároco sebastianense que ainda conheci antes da sua definitiva partida para a América. Outras relevantes personalidades da sociedade civil faziam parte do IHIT como o Dr. Luís da Silva Ribeiro, Ten. Coronel José Agostinho, Dr. Henrique Brás, Dr. Manuel de Sousa Meneses, Gervásio Lima, sem omitir os nomes dos que exerceram funções políticas: Dr. Cândido Pamplona Forjaz, Dr. Joaquim Moniz Corte-Real e Amaral e Dr. Teotónio Machado Pires. A estes três últimos, o Pe. Esteves fez instantes pedidos,

alguns de difícil concretização, como é justo salientar. O novo cemitério de S. Sebastião, tido então como o melhor das freguesias rurais, foi uma obra emblemática do seu prestígio e influência social. (v. Joaquim Esteves - A bênção do novo cemitério paroquial de S. Sebastião, editado em A União Gráfica Angrense. – Angra do Heroísmo).

actual Pesqueiro dos Meninos. Para essa fonte tinha um projecto. Idealizara mesmo a lápide a colocar com os seguintes dizeres:

Pela introdução do opúsculo, vê-se o apego telúrico, o gosto pela história e a sensibilidade de um sacerdote tido como austero, autoritário e impulsivo. Está satisfeita – e que bem satisfeita! – a gente de S. Sebastião com mãos piedosas e enternecidas acaba de abrir no chão natal uma decorosa jazida para os seus mortos agora finalmente santificada com as bênçãos da Igreja (…) E o inevitável pendor histórico, ao falar da brochura sobre o cemitério do Bom Fim, com tiragem de 500 exemplares, que ele distribuiu pelos paroquianos, afirmando: Hoje servirá de guia e entendimento ao belo cerimonial litúrgico desta bênção; amanhã no escaninho da arca perfumada a poejo e alecrim ou no oratório florido, entre doces lembranças de família ficará a recordar a filhos e netos um momento de sincera emoção religiosa na vida de seus antepassados.

Aqui, com o achado da primeira água e a celebração da primeira Missa, por Frei João de Deus, começou a história do povo terceirense. Para ele, a fonte era o mais valioso documento comprovativo da tradição. Por esse nome sempre a conheceram netos, pais e avós e Drummond encontrou mesmo a escritura que a dava como confrontação de um prédio vizinho. Mas ela não foi preservada. Tal atitude enfureceu o Pároco lutador, como se pode ver pela sua reacção:

ERMIDA DA SENHORA DA GRAÇA

Uma boçal ignorância, junta a uma insensibilidade, emborcou-lhe em cima a mais estupidamente graciosa arquinha deste mundo, e a água atiraram-na a muitos metros de distância para um incaracterístico como desmantelado chafariz. (in A União,16-02-1943).

Já se aludiu ao carinho que o Pe. Joaquim nutria por esta vetusta ermida que, reza a tradição, terá sido o local onde Frei João e seus companheiros encontraram a primeira fonte, ao desembarcarem na ilha, no

Também foi preocupação do Pe. Joaquim Esteves Lourenço o estado de abandono a que esteve sujeita, várias vezes, desde 1522, segundo ele, a correcta data da sua construção. A este respeito, escreve Pedro de


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ARTES AO SEU NOTÁVEL PENDOR HISTÓRICO Merelim: Em 1950, reinava um aspecto de penúria e desolação. Impunha o altar substituição integral. Desmoronava-se o púlpito. Em ruínas a sacristia e as portas desconjuntavam-se. No adro abandonado, devasso aos animais, as ervas daninhas campeavam. Uma comissão local, activada pelo pároco Joaquim Esteves felizmente a restituiu à digna e airosa feição actual, desse modo louvável a freguesia se associando às ce lebrações do V Centenário do Povoamento da Ilha Terceira. (in As 18 Paróquias de Angra, p. 421).

PENDOR ARTÍSTICO

Mas era a Matriz a sua jóia mais preciosa, a menina dos seus olhos, que não descansaram na busca da antiga traça e dos frescos tidos, mais tarde, como famosos e de inestimável valor para a história da arte, únicos nos Açores e uma raridade a nível nacional, como advogam os especialistas restauradores e estudiosos desta área do conhecimento. Começarei pela conferência Uma velha igreja gótica na Terceira, de Garcia da Rosa, seu Mestre, respigando algumas passagens sobre o crucial papel desempenhado pelo Pároco sebastianense e que alguns mais tarde quiseram minimizar ou omitir, por despeito ou inveja. Após referir as barbaridades cometidas naquele templo, afirma: O Reverendo Joaquim Esteves, actual Vigário de São Sebastião, espírito culto PUB

e inteligente, não entendeu, porém, assim (…). Olhou para a sua igreja, e soube ver, analizar(sic) e sentir. Viu a arte apreciável da planta e construção primitivas. Analizou(sic)os grandes crimes praticados num monumento artisticamente respeitável. E sentiu fortes desejos de o restaurar, de o restituir à sua forma antiga. Amparado de amigos entendidos, auxiliado por um artista hábil e inteligente, já fez maravilhas. É notável a obra de restauração realizada, e digna dos maiores encómios. Mas ele vive de um sonho e para um sonho--restaurar por completo a velha e artística Matriz de São Sebastião. Deus lhe dê vida, forças e meios para levar a cabo tão nobre empreendimento. (In Livro do Primeiro Congresso Açoreano, Lisboa, p.173). E o palestrante terminava com um apelo ao Governo da Nação, alertando, também, para outros monumentos abandonados ou carecidos de reparos e conservação, sobretudo em Angra e Horta. O Dr. Baptista de Lima, num colóquio internacional, disserta sobre A Igreja de S. Sebastião da Ilha Terceira, e alude ao ilustre sacerdote, nos seguintes termos:

servado, umas vezes melhor outras pior, como salientaria mais tarde Emanuel Félix, técnico do Museu de Angra e perito na área da conservação de obras de arte, num ensaio Sobre os frescos da antiga Matriz de São Sebastião da Ilha Terceira. (in Revista Atlântida, Vol.XXXVIII-1994). Recentemente, com meios mais sofisticados, procede-se a novos trabalhos de restauro das pinturas murais, cada vez mais apreciadas por visitantes nacionais e estrangeiros, alguns deles deslumbrados com a sua antiguidade e beleza. Pode-se agora afirmar a justeza dos pressupostos que acalentaram os desígnios do Pe. Joaquim Esteves, a que não foi alheio o manancial de conhecimentos históricos e artísticos recebidos no Seminário de Angra, durante a sua formação. Se ele fosse vivo hoje, mereceria ser condecorado ao mais alto nível, pois já o foi modesta e postumamente, em 2000, pela Vila que tanto serviu e amou.

O CULTOR DAS ARTES

Há 10 anos, o Pároco, o Rev. Padre Joaquim Esteves vem limpando cantarias, restaurando arcos, refazendo pavimentos, sempre com a maior prudência e cuidado, para que nada se perca e altere. A ele se deve a preciosa descoberta das pinturas murais. (in Bol. IHIT-vol. VII-1949).

Oratória, música, literatura, foram igualmente centros de interesse da sua vida. A poesia merece um tratamento atento e criterioso, o que exige espaço e tempo de que não dispomos neste momento. A sua obra poética está dispersa por jornais e revistas, grande parte inédita, sobretudo a que foi produzida nos EUA.

E ao mesmo tempo expedia volumosa correspondência que manteve com as entidades oficiais, sob a forma de memórias, exposições, ofícios, no dizer de Pedro de Merelim, na sua obra acima citada, e o qual teve estreito relacionamento com Joaquim Esteves. O templo seria declarado monumento nacional em 1951, e desde então mantido e con-

Como orador usava uma linguagem erudita, eivada por vezes de termos que revelavam sólida preparação linguística. Nas aulas de catequese, de que me lembro vagamente, escapuliam-lhe vocábulos inacessíveis à compreensão das crianças. Caso de precoce, ao qual me refiro no livro Maria Vieira, Mártir dos Açores. Contudo, o seu estilo era emotivo nas

homilias, sermões e discursos improvisados de cariz social ou político. Ao lermos os relatos da imprensa coeva ficamos com essa ideia. Veja-se o excerto seguinte de apoio ao general Carmona: O P. Joaquim proferiu um vibrante discurso de enaltecimento do candidato e se referiu à notabilíssima obra patriótica desde 1928 pelo eminente estadista Dr. Oliveira Salazar que através da sua administração recta e inquebrantável abriu novos horizontes ao nosso querido Portugal. (A União, 25/02/1935). Como músico, temos notícias que confirmam o seu interesse pela arte dos sons. Assim, na festa do orago da Vila, lê-se que uma capela de sacerdotes actuou acompanhada ao harmónio pelo Pe. Gonçalves dos Santos e ao violino por Henrique Borba, músico muito conhecido. (A União, 24-01-1947). Dantes, em 1943, já havia sido criado um coro de militares, como foi dito no início desta comunicação, e em 1845, na Festa de Sant´Ana, o próprio Pe. Joaquim cantou missa, acolitado pelos padres João Fraga e Simões. Para este cultor das artes muito terão contribuído os saraus em honra de S. Tomás de Aquino, no Seminário. Já em 1929, declamara um poema da sua autoria, dedicado ao seu professor de Filosofia, o Dr. Couto. Recorde-se que as Festas de S. Tomás foram viveiros de talentos no domínio das artes. Angra com elas ganhou estatuto único, assumindo-se como capital cultural dos Açores até aos anos setenta do século XX. Os angrenses tinham orgulho do seu Seminário. Participavam na festa que os seminaristas davam. O Orfeão, os instrumentos, a poesia recitada, o Teatro, as Sabatinas…Tudo num nível muito bom. (in Revista da Academia de S. Tomás de Aquino, p.7,1998). (Continua na página seguinte)


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COM CHANCELA DO IHIT

PATRIMÓNIO DAS ÁGUAS DE ANGRA Um excelente trabalho de Vítor Silva.

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ontando com a presença de mais de um cento de participantes, no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Angra do Heroísmo, no passado dia 20 de dezembro, foi apresentado o livro Património das Águas de Angra, uma notável obra que constou como tese de mestrado de Vítor Batista Medeiros Brasil e, sem dúvida, é um dos mais interessantes trabalhos sobre o tema. Contando este livro 424 páginas, reproduzindo centenas de imagens sobre o assunto, este livro teve a chancela do Instituto Histórico da Ilha Terceira e contou com o apoio da Direcção Regional da Cultura e da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. O seu autor, Vítor Brasil, é licenciado em História Científica e mestre em Estudos do Património. Nascido em Angra em 1973, é desde 2001 funcionário Municipal, primeiro como administrativo, trabalhando nas secções de obras, de aprovisionamento e do património, até 2010, altura em que é reclassificado como técnico superior, sendo-lhe reconhecida, assim, a sua competência. Já era autor de textos que abordam a história e património edificado das águas, sobretudo na área urbana de Angra. Recordamos que este município tem contado no seu quadro de pessoal com autores que publicaram

obras, como Gervásio Lima, Luís da Silva Ribeiro, João Dias Afonso, Jácome de Bruges Bettencourt, Carina Fortuna, Paulo Mendes Barcelos e agora Vítor Brasil. A apresentação de Património das Águas de Angra esteve a cargo de Paulo José Mendes Barcelos, que, conhecedor do assunto, soube evidenciar claramente o interesse deste trabalho que, sem dúvida vem enriquecer, sobremaneira, agora o tema. Interessantes também, as imagens contidas neste livro, como as do grande fotógrafo que foi, António José Leite, já conhecidas, a de Wilhelm Tobien, do The National Geographic Magazine (1935), William George Hawkins (1944) e as inéditas de Maria José Rego Machado dos Santos (falecida cerca de 1994). Não esquecendo a magnífica recolha de Vítor Brasil, ao fixar imagens de chafarizes, lavabos, tanques, arquinhas, cisternas e outras alusivas. Segundo Vítor Brasil afirmou ao Jornal da Praia: “A cidade de Angra do Heroísmo, inscrita em 1983 na lista do Património Mundial da UNESCO, encerra um património arquitectónico excepcional a todos os níveis. Deste património destacam-se, naturalmente, os elementos relacionados com a arquitectura da água, muito representativos, quer na variedade tipológica e estilística, quer na variedade funcional e operacional. Quer pela sua riqueza e diversidade, quer pelo perigo de desaparecimen-

to, em que boa parte do património das águas de Angra se encontra, torna-se urgente estudá-lo, referenciá-lo e, principalmente, preservá-lo. Conhecer é mais do que saber que existe. Este estudo representa um esforço para criar uma ferramenta que, de um modo concertado, ajude à gestão desse património de valor cultural inestimável. Este estudo está estruturado em três partes. Na primeira, pela pesquisa e tratamento das diversas fontes de informação, organizou-se uma síntese histórica da evolução dos sistemas de captação, condução e abastecimento de água em Angra, bem como da sua administração. Na segunda, apresenta a inventariação — descrição e distribuição —, o mais exaustiva possível, das estruturas relacionadas com o património vernáculo das águas das cinco freguesias urbanas de Angra do Heroísmo, sejam públicas ou privadas, religiosas ou civis, danificadas ou intactas. Na terceira, e última, apresenta um conjunto de propostas e estratégias que podem, e devem, ser observadas para a protecção, salvaguarda e valorização deste património, assim como alguns casos de boas práticas a respeitar. Julgamos ter criado um importante instrumento que permite efectuar pesquisas de natureza quantitativa e qualitativa, fundamentais para delinear estratégias de intervenção, definir planos de manutenção preventiva, de salvaguarda e valorização deste património.

tar o tema do memorial histórico e patrimonial hidráulico angrense, parece-nos interessante e importante tomar este ponto de partida, para o estabelecimento de um estudo de carácter científico. Apresenta documentação teórica e coloca hipóteses de abordagem a esta temática, constituindo aquilo que esperamos venha a ser um útil instrumento de base para outros estudos.” Soubemos ainda que Vítor Brasil vai continuar o seu trabalho com o estudo e inventariação da parte rural, bem assim do Concelho da Praia da Vitória, que fica a faltar para cobertura integral de toda a ilha. Está de parabéns o Vítor e nós também, pelo precioso trabalho que nos oferece.

Sem pretensão alguma de esgo-

Ponce de Leão/JP•

são encarregada de preparar o livro-álbum sobre o Seminário de Angra. Para ele bastou o envio, à pressa, de um email com argumentos injustificáveis e deselegantes, quando se encontrava fisicamente em Angra.

no mesmo ano. Com isso estava o assunto encerrado.

PADRE JOAQUIM ESTEVES (Conclusão da página anterior)

Para terminar, agradeço o convite para dissertar sobre este notável vulto da Igreja açoriana, como eu já o fizera juntamente com o Pe. José Carlos, em 4 de junho de 2000, por ocasião da solene trasladação dos restos mortais da mártir sebastianense de que ele foi educador e protector, a qual contou com a presença das mais altas individualidades civis e religiosas dos Açores, familiares de Maria Vieira vindos expressamente do Canadá e de uma sobrinha do Padre Joaquim Esteves, D. Susana Esteves, presente na mesa de honra da cerimónia. Oxalá este trabalho tenha sido dig-

no da sua memória e da nossa gratidão, pois passa, no próximo ano, o 20º aniversário da sua morte, e que ele tenha estado à altura destas tão auspiciosas celebrações. Estas deverão ser motivo de redobrado júbilo para o Seminário de Angra e para todos os que lá viveram os seus melhores anos. Angra do Heroísmo, Julho-2012

NOTA FINAL Este trabalho não foi publicado integralmente até agora, como era suposto ter sido. À última da hora, foi retirado, autoritariamente, sem o autor destas linhas ser previamente ouvido, pelo coordenador da comis-

Nele, afirma-se que o trabalho destoa dos outros apresentados, mas merece ser publicado, e que essa publicação será concretizada em futuro número da revista Atlântida, como já estava combinado com o presidente do I.A.C. Tal facto, não tendo acontecido, foram por mim extraídas algumas passagens do meu trabalho, que vieram a lume, em três artigos do ”Jornal da Praia”, em 2014, e no jornal “Vida na Vila”, editado pela Junta de freguesia sebastianense,

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Contudo, chegou posteriormente (2017) ao meu conhecimento que um grande amigo do supracitado coordenador havia preparado, também, uma publicação sobre o Pe. Joaquim Esteves. E cúmulo da perplexidade, o seu arrogante autor, até recorreu aos bons serviços de uma ilustre personalidade, oriunda dos Altares e com elevadas funções políticas na Terceira, para convidar-me a ser apresentador da mesma. Com que fins, eis a questão? Por essas razões, aqui se regista esta nota para esclarecimento dos leitores. ANL/JP•

Telefone 295 543 501


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LIVRO DE POESIA LANÇADO A 22 DE DEZEMBRO

“MELODIA NOS VERSOS DE (A)MAR” Segundo a autora, este livro “é a história de um caminho, que embora recente, assenta em raízes profundas de sentir”.

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epois de participar em várias antologias de âmbito local, regional e nacional, a poetisa praiense, Carla Félix, lançou na passada noite de 22 de dezembro, no Salão Nobre da Câmara Municipal da Praia da Vitória (CMPV), o seu primeiro livro de poesia: “Melodia nos versos de (a)mar”. Trata-se de uma edição de autor que compila 57 poemas em verso livre escritos de 2014 à atualidade e representam um mergulho nas águas da baía da Praia da Vitória onde se estabelece um diálogo com o mar, que acalma quem lê e permite recuar no tempo. Apesar da noite chuvosa, mais de sete dezenas de pessoas marcaram presença, entre familiares, amigos, entidades civis e militares. Na mesa de honra, para além da poetisa e da apresentadora oficial, a psicóloga Letícia Leal, sentaram-se o diretor regional da Organização e Administração Pública, Victor Santos, em representação do Governos dos Açores e Carlos Armando Costa, vice-presidente da CMPV e também o responsável PUB

pelo pelou da Cultura da edilidade praiense. Na assistência, de referir a presença do 2.º comandante do Regimento de Guarnição N.º 1, Tenente-Coronel de Infantaria, Teixeira de Almeida, do provedor da Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória, Francisco Ferreira, bem como de muitos poetas e poetisas terceirenses, para além da família e muitos amigos da autora. A cerimónia foi abrilhantada em 2 momentos pela declamação pela poetisa Angélica Borges de 5 poemas que constam da obra. A partir de Alenquer, através de chamada telefónica em alta voz, interveio a escritora e poetisa Ana Coelho, autora do prólogo e responsável pelo design e paginação do livro que conta com fotografia de Carlos do Carmo. A alenquerense começou por congratular a autora a quem profetizou um brilhante futuro, assim como as entidades presentes pelo acolhimento à iniciativa, algo que lamentou nem sempre acontecer na sua terra. Classificou Carla Félix como a “autora das emoções” e confessou que escrever o prólogo e colaborar na edição da obra foi como um “entrar nas águas cristalinas da sua Praia, da sua poesia, no arquipélago das suas raízes e sentimentos,

onde a vida acontece rodeada de mil imagens, memórias e sonhos” e enfatizou, “isto é poesia”. Concluiu afirmando, “há nestes poemas uma síntese de sentimentos transversais a todos nós, mas é a Carla que os desenha em versos simples e tocantes, numa ligação forte às suas vivências, entre amor e dor, entre mar e amar. São as suas emoções, que passam a ser nossas como leitores, numa busca de salvação”. Por sua vez Carla Félix, sublinhou que “Melodia nos versos de (a)mar, não é apenas um livro. É a história

de um caminho, que embora recente assenta em raízes profundas de sentir. Sentir as palavras nele contidas, os locais, as pessoas, os sonhos”. Revelou nunca ter imaginado escrever poemas, mas “a vida ofertou-me com esta agradável surpresa e coube a mim gerir as emoções de escrever e as transmitir em poemas. Vejo a escrita como um ato de cura e libertação”. A obra tem um custo de 9,00 euros. Os interessados na sua aquisição deverão contatar diretamente a autora. JP•


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EDITORIAL & OPINIÃO | JP

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D.D.T.

E DITORIAL

DICLORO-DIFENIL-TRICLOETANO OU DONOS DISTO TUDO…

TEM DIAS QUE A ESPERANÇA É SEMPRE MAIS TEIMOSA DO QUE EU. (desconhecido)

Ano Novo

que foi essa, passou o mesmo a ser utilizado na protecção das plantações mas o seu uso abusivo levou a que:

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vida é um andar de anos, que sucedem uns aos outros, desde o nascimento até à morte, por vezes com espaços temporais débeis e breves, “as coisas depressa nascem, depressa se acabam: a rosa numa manhã nasce, numa tarde fenece” e ao entrarmos no novo ano, numa nova meta, numa nova fase, com novos anseios e desejos, na perspectiva de uma vida melhor, mais livre e feliz a nível familiar e social, que terá de ser também momento de reflexão e de avaliação do ano que passou, afim de aprendermos a melhorar as nossa condutas, contribuindo para a construção de uma sociedade melhor, mais sã, solidária e justa. Infelizmente nem tudo ocorre como desejamos, muitas vezes repetem-se os erros, os infortúnios ressuscitam e as melhorias almejadas com vista a obtermos o bem de tudo e de todos, nem sempre são concretizáveis e alcançadas, porque a mudança como “sinal de existência” dos seres e das coisas, verdade imutável que não devemos ignorar sob pena da destruição do homem e do mundo que o envolve, que urge evitar trilhando caminhos correctos da verdade, que é genuína, sendo sempre viável ajudar as pessoas a encontrarem forma de se tornarem melhores. A história mostra-nos através de inúmeros exemplos que andamos longe de conquistarmos a felicidade, “é extremamente fácil mostrar que a imensa perturbação do mundo que temos diante de nós não poderá ser resolvida pela economia politica”, pois na verdade o economicismo promove desigualdades abissais, há cada vez mais pobres e os ricos estão mais poderosos, “as 62 pessoas mais ricas do mundo têm tanto dinheiro como 3,6 milhões dos mais pobres”, os empregos além de incertos são mal pagos, o trabalho continua sempre mais taxado do que o capital, por isso não admira que proliferem movimentos populistas, quer de extrema esquerda, quer de extrema direita, e por culpa em primeiro lugar dos partidos políticos tradicionais que estão a degenerar-se, com atitudes partidocráticas e corruptíveis, gerando muito descredibilidade perante o povo que pensa, que por causa de tais politicas não são respeitados os seus verdadeiros sentimentos. Devemos exigir mudanças para que os partidos, os políticos, e os governantes enveredam por políticas concretas e viáveis, terminando assim com o sofrimento gerado por políticas erradas, e não devemos recear a mudança desde que seja para nos dar sentido à vida e protegermo-nos do caos. Nesta época que ainda é natalícia, o Jornal da Praia deseja aos leitores muita paz, muita alegria e felicidade durante todo o ano novo, são os sinceros votos da Direção do Jornal da Praia. O Diretor Sebastião Lima diretor@jornaldapraia.com

José Ventura*

Ó

h! Diabo… há siglas que, como sinal gráfico convencional dão para rotular por vezes, mais do que um item, um produto. Assim, temos o DDT potente insecticida sintetizado em laboratório pela primeira vez em 1874 e, primeiramente usado como insecticida, foi posteriormente usado como pesticida cujas propriedades foram descobertas em 1939 pelo químico suíço Paul Muller, Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1948. O outro DDT que conhecemos é um programa de televisão que através de rábulas variadas, gozam que farta a situação política do país e que denominam como, os “Donos Disto Tudo”. Com a devida vénia ao autor ou aos autores e bem assim o meu apreço aos actores que tão bem caracterizam as temáticas situações, vou utilizar a nomenclatura ou melhor a sigla, para rotular a caterva de indesejáveis que por de vez enquanto feitas autênticas pragas invadem as nossas terras, o nosso mar, e o nosso ar. Ainda não assentaram arraiais e, já se fazem DDT -” Donos Disto Tudo”. Pena é que o DDT insecticida e ou pesticida que começou como “missão” e pela primeira vez em 1942, para proteger os soldados nas regiões tropicais e subtropicais da África e da Ásia contra o mosquito transmissor da malária, febre amarela e para impedir a transmissão do tifo por piolhos durante a Segunda Guerra Mundial, terminada

Terminada a guerra, a indústria procurou novas utilizações para o DDT e, assim, ele foi empregado na protecção das plantações contra insectos e, na tentativa do extermínio da malária. Mas, o seu uso desenfreado teve efeito contrário, pois o mosquito transmissor da doença teria ficado resistente ao DDT. Porque descoberto que o mesmo possui a capacidade de se acumular em seres vivos e demora muito para se degradar no meio ambiente, foi em 1970 banida a sua utilização em muitos países. Assim, temos que procurar outra forma de defesa contras as “pragas” que nos têm vindo a atingir através dos “embaixadores itinerantes” a mando dos DDT os “Donos Disto Tudo”. São tantas as “epidemias” que nos têm atingido que muitos as vão esquecendo ou fingindo esquecer não sabemos porque razões. Porque não há remédio para elas, por desinteresse de própria existência física ou, por desmotivação perante o concluo de tantos que são os penetras da “cartilha” aplicada através do “livro das leis gerais da república” a proclamada democrática “Constituição da República”? Cada vez mais é o Povo dos Açores excluído dos seus direitos como tal, feitos meras pedras no “Xadrez Político Internacional” em que, o Estado português joga com o património que não lhe pertence. Dispensamos a “areia que nos atiram aos olhos” os arautos do centralismo de Lisboa. Por cá, não nos falta areia nas praias onde alguns deles se deleitam em banhos de veraneio. Um pequeno exemplo: Cabrita, ministro da Administração Interna de Portugal, em recente visita cacimbeira e colonialista (uma, entre muitas)

prometeu o reforço do efectivo da PSP com 30 novos efectivos. Entretanto continuam em falta a construção de Esquadras prometidas e, inclusivamente o Comando dos Açores por falta de agentes ter suspendido o programa Escola Segura no concelho de Ponta Delgada e pode encerrar o serviço nocturno em algumas esquadras Não serão esses senhores os DDT. Voltaremos ao assunto para relembrar quantos não têm sido os abusos de pendão colonialista sobre os Açores e o seu Povo. MAS ATENÇÂO… O Antídoto para eliminar os efeitos de pragas vindas do exterior, podem passar pelo pela referência feita à “Situação Política nos Açores” referida na Declaração do Arquipélago Canarino das Nações sem estados e das colónias inserida no seu anexo, e divulgada no encerramento do Encontro Internacional de Movimentos Independentistas realizado nos dias 24 e 25 de Novembro p.p. e em que a FLA participou. A situação sócio-política nos Açores: “Declaramos o nosso apoio ao direito do povo açoriano à autodeterminação e ao fim da sua colonização por Portugal. Especificamente, um fim ao artigo 51 da constituição portuguesa que proíbe a criação de partidos políticos açorianos, muito menos partidos políticos independentistas açorianos, e um fim ao decreto de lei português, n. 30/2015 que, embora contra o que está escrito na estatura da autonomia açoriana e é parte integrante da constituição portuguesa, transferiu unilateralmente o direito e as responsabilidades do território marítimo açoriano do governo autónomo dos Açores” (*) Por opção, o autor não respeita o acordo ortográfico. •

NATAL / NATAIS

Silveira de Brito

E

stamos no mês do Natal. O primeiro Domingo do Advento, data em que os cristãos começam a preparação para a vinda do Menino, foi no dia 2 de Dezembro. Quando eu vivia na Praia da Vitória, este era o primeiro sinal de que havia que pensar no presépio. Naquele tempo, era frequente ver-se junto às janelas, ao Sol, pires com trigo a germinar em água, “As searas dos Menino”, como

lhe chamam no Algarve. Nos escuteiros começava a montagem de um grande presépio que ocupava todo o palco da sede, tarefa de que se encarregava o senhor Manuel Amaro. Do ponto de vista religioso, a grande preparação tinha o seu auge na novena do Natal que, como o nome indica, tinha lugar nas últimas nove noites que antecediam o 25 de Dezembro, em que, como acontecia, suponho, em inúmeras paróquias açorianas, os fieis se juntavam na Igreja para rezar o terço, receber a bênção do Santíssimo e cantar os típicos cânticos da quadra. Desse tempo tenho uma recordação inesquecível. Em 1954, D. Guilherme Augusto Inácio da Cunha Guimarães, bispo de Angra, colocou na Praia o Padre Edmundo Machado Oliveira, cumprindo, assim, uma promessa, feita

há bastante tempo, de nomear para a paróquia um sacerdote músico. Os praienses, mais ou menos chegados à igreja, apreciaram imenso o novo pároco e foram-se aproximando dos actos de culto, o que logo se notou na preparação do Natal desse ano. Nas novenas, terminada a devoção, o Padre Edmundo aproveitava para ensaiar os cânticos e, curiosamente, ficava toda a gente na Igreja, ninguém arredava pé. Ele começou por ensaiar todo o povo presente, embora se percebesse que os homens ficavam mais para ouvir do que para cantar. Até que um dia, terminadas as orações, o Padre Edmundo disse que as senhoras podiam ir-se embora, porque o ensaio daquela noite era só para os homens. O curioso foi que as senhoras foram saindo, mas os homens ficaram e dali (Continua na página seguinte)


JP | OPINIÃO

2019.01.11

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CRÓNICA DO TEMPO QUE PASSA (XLIII)

INVERTER O DECLÍNIO DA ILHA TERCEIRA Não é novidade para ninguém que a nossa ilha, desde há vários anos vem trilhando um rumo muito preocupante e perigoso. E isso não é só por causa da redução da presença militar norte-americana nas Lajes da Terceira, mas antes pela forma discricionária como ela tem sido tratada em sucessivos orçamentos e por desinteresse de muitos terceirenses.

António Neves Leal

C

om votos de bom ano para todos os leitores, começo por desejar que todos, ou pelo menos, a grande maioria dos açorianos das nove ilhas sejam contemplados com a justiça dos benefícios e na obtenção do que foi aprovado no orçamento regional. Oxalá, as verbas aprovadas sejam distribuídas, com equidade e elevada percentagem na execução dos investimentos, e não como tem acontecido, bastas vezes, em anos anteriores. Tratando-se de ano eleitoral, a sociedade civil deve estar atenta para não ser ludibriada e sujeita a manigâncias, querelas, nem acatar ataques pessoais, ou manobras de caciques locais sem pejo. Tudo isto é intolerável e contrário à democracia. No caso da Terceira, a segunda ilha mais populosa, os investimentos têm sido inadequados às necessidades do seu povo. Há, muitas vezes, práticas eivadas de ressabiado bairrismo. É preciso estarmos vigilantes e dizermos abertamente o que queremos e como somos. Não é novidade para ninguém que a nossa ilha, desde há vários anos vem trilhando um rumo muito preocupante e perigoso. E isso não é só por causa da redução da presença militar norte-americana nas Lajes da Terceira, mas antes pela forma discricionária como ela tem sido tratada em sucessivos orçamentos e por desinteresse de muitos terceirenses.

Se analisarmos os doze maiores investimentos para a Terceira, nos quarenta e dois anos de autonomia, vemos que os prazos de execução rondam, em média, quase 10 (dez) anos para cada um deles. Noutros casos, nem foram executadas as obras, para as quais havia verbas inscritas, durante anos, mas sem nada se fazer. Os grandes projectos, aprovados para a ilha, perdem-se nos corredores tortuosos da burocracia e nos atrasos sistemáticos da sua concretização e entrega ao dono da obra. Neste caso, o dono da obra é o dito Governo Regional, implicando tais procedimentos pagamentos de sobrecustos consideráveis para o erário público, isto é, para todos os contribuintes. Isto tem sido bem evidente, neste capítulo dos empreendimentos fundamentais para o progresso da Terceira. A lista é longa, e seria fastidioso enumerar aqui e agora. O que se pretende é preparar o futuro e inverter o declínio da Terceira. Isto devia preocupar o Conselho de Ilha que se reúne raramente e, pelos vistos, tudo decorre às-mil-maravilhas, ou então, os seus membros vivem em ilhas virtuais, distraídos dos problemas das suas populações. Um caso paradigmático é a tão falada rampa ro-ro para o Porto das Pipas. Mas o mais insólito é a aprovação de uma proposta socialista pela Assembleia Municipal de Angra em 1987, e cito, «que a Câmara diligencie junto das entidades competentes, a construção de um terminal-abrigo para passageiros no Porto de Pipas» (Boletim Municipal, nº 24, Comunicado, pág.7). Note-se que isto foi há 31 anos. A um ritmo semelhante a este, como se poderá prever e falar em progressos da Terceira!

E já agora, veja-se também como se processam, actualmente, os movimentos de passageiros, durante o Verão, no Porto da Praia da Vitória, pomposamente designado de “Porto Oceânico”. São centenas e centenas de pessoas amontoadas num espaço acanhado. As demoras dos navios e o peso dos sacos e das mochilas, fazem sufocar os passageiros, e se chover é o caos. Há apenas umas escassas cadeiras para tanta gente se sentar, dando-se assim uma imagem de subdesenvolvimento terceiro-mundista. Será desta forma que se vai aumentar o turismo e deixar um postal agradável aos que nos visitam?

para distribuição de cargas, um hub (a última moda), esperando-se que a montanha possa parir alguma coisa, mas não um rato. Apenas se concretizou o Porto de Pescas, arrancado a ferros, salvando-se “in extremis” a honra do convento.

Nós sabemos que a dança do cais de cruzeiros para a Terceira já leva 10 (dez) anos de espera da sociedade civil. Por fim, o Sr. Carlos César, convicto, decidiu que ele ficaria em Angra, ponto final. O seu partido ia ganhar mais votos na ilha. Na altura, alguns alertaram para essa decisão, que era uma manobra de diversão para distrair os terceirenses. Tudo isso resultou em mero “velório” e nada se construiu para o progresso da ilha. E a dança continua…, agora vai ser na Praia, à boleia do antigo porto americano desactivado.

Recorde-se que a construção de um porto artificial na Terceira, a única ilha capital de distrito que não o tinha, devia ter sido uma prioridade para o intercâmbio e o desenvolvimento das ilhas centrais do arquipélago. Tal não foi considerado, sendo antes um mero pretexto, ou melhor, um estratagema para viabilizar o prolongamento e alargamento da pista micaelense, e outras infraestruturas posteriores.

Recorde-se que o fungagá bairrista, sob a batuta do P.S., está a recordar e a despertar velhos divisionismos entre ilhas e entre concelhos da mesma ilha, ao serviço de um feroz e insaciável centralismo ilhéu como nunca se viu, até hoje, no nosso regime democrático. Mas o maior embuste foi, sem dúvida nenhuma, o Porto da Praia. Tanto que se prometeu e veja-se a imagem actual, decepcionante, daquela infraestrutura. Era para ter tido tantos empreendimentos, como estaleiros para reparação e construção naval, entrepostos de combustíveis, e

Até equipamentos imprescindíveis, num qualquer porto, foram também tirados a ferros. Quem não se lembra do triste episódio do rebocador e mais perto de nós, da grua (guindaste) para as operações de carga e descarga dos navios, inúmeras vezes avariada, prejudicando fortemente a estiva e a economia da ilha, com os atrasos daí decorrentes.

Essa realização já fora reivindicada e tida como prioritária, no tempo de Salazar, antes de 1949, como se pode ler na conclusão da informação do Ministério da Marinha de 25 de Fevereiro. Após enunciar as condições naturais da baía da Praia da Vitória, a informação do Ministério da Marinha de 25 de Fevereiro conclui: «Cremos que se faria um porto à altura da importância estratégica da ilha e de todo o arquipélago na baía da Praia da Vitória e talvez sobrasse algum dinheiro para reforçar verbas previstas para as obras a realizar nos outros portos». (citada por Cândido Pamplona Forjaz, in Memórias, 1984, pág.185).

NATAL / NATAIS (Conclusão da página anterior)

a pouco todos cantavam entusiasmadíssimos, como seria de esperar dos praienses, sempre apreciadores de música. Até que o Padre Edmundo foi enviado para Roma, por Dom Manuel Afonso de Carvalho, para completar a sua formação musical e regressar ao Seminário de Angra para criar um coro de enorme qualidade que, com a colaboração da Orquestra Filarmónica de Angra, deu concertos de altíssimo nível. Em termos musicais, a Praia da Vitória esmoreceu com a saída do padre músico. Nem só os escuteiros tinham um presépio; em cada casa havia um, mais simples ou mais grandiosos, mas

todos centrados na gruta com as imagens tradicionais: o Menino na manjedoura, ladeado por Nossa Senhora e São José; mais atrás, a vaquinha e o burrinho. Mas o típico presépio dos praienses dos inícios dos anos 50 do século passado tinha uma novidade, trazida pelos americanos, a árvore do Natal, normalmente uma criptoméria, com a sua forma conífera, enfeitada, entre outras coisas, com tangerinas. Hoje, tanto no país como por todo o mundo, há este Natal cristão, mas também outros natais, geralmente todos eles marcados por um consumismo tão desenfreado que, muitas vezes, leva ao esquecimento de tudo o resto. A pressão para comprar é avassaladora e começa cada vez mais cedo. Há

não muitos anos as referências ao Natal feitas na publicidade limitavam-se ao mês de Dezembro. Foram, depois, aparecendo cada vez mais cedo e hoje em dia, depois da importação do Halloween americano celebrado a 31 de Outubro, logo no início de Novembro começam a aparecer decorações alusivas à quadra natalícia e publicidade convidando à compra das prendas. Quem tiver perto de casa ou frequentar lojas de comerciantes chineses, apercebe-se de imediato disso: nas semanas que antecedem o Halloween há escaparates com artigos alusivos à festa de origem americana; poucos dias depois, o espaço começa a ser invadido com artigos próprios do Natal

por parte de muitos, da prática religiosa, a quadra natalícia, embora culturalmente marcada pelo cristianismo, passou a centrar-se para muitas pessoas noutros motivos que não o Nascimento do Menino Deus. Assim, para muitos, o Natal é a festa das crianças, da família, da paz, da solidariedade… elementos que também o cristianismo associa ao Natal, mas abandonam e mesmo esquecem a marca cristã da festa, o que é absolutamente compreensível numa sociedade secular e pluralista, cujas manifestações, nas suas diferenças, merecem, contudo, ser tidas em conta e respeitadas nas suas vivências e propostas. Braga, Dezembro de 2018

Com a secularização e o abandono,


14 |

MARÉ DE POESIA | JP

2019.01.11

N

a primeira edição do ano, “Maré de Poesia” recebe os nossos habituais poetas e poetisas, alargando horizontes até ao grupo Oriental do ar-

quipélago dos Açores, ilha de São Miguel, recebendo a participação do poeta e escritor Pedro Paulo Câmara.

Aprendi que ninguém me pode julgar, Mas que eu também não posso desistir

amo este sol doirado que sobre o horizonte se deita este oceano imaculado da melhor forma que se ajeita este olhar imareado que sobre o mar se deita provável lugar sagrado a mesma seja eleita por lugar abençoado impune a qualquer maleita que fique para sempre guardado nesta imagem perfeita

“SOLIDARIEDADE VOLUNTÁRIA” Quem sois vós? a luz ao fundo do que não vemos. Sim, quem sois vós De dia sois o sol, que, por nós, à noite, o nosso farol. fazeis do vosso bem estar Sois as mãos da confiança o nosso aconchego, que nos afaga a insegurança o nosso lar, e nos acena com a esperança o nosso sossego, que é possível a mudança. o nosso acreditar? Sois o necessário alento Quem sois vós, nas horas de sofrimento, que fazeis do nosso esperar no vazio da imensa solidão, o vosso apressar espalhada no cartão que fazeis do nosso sofrer que nos separa do chão. o vosso afazer? Sois a palavra fraterna, Quem sois vós, a luz quente da luzerna que vos algemais a nós, que nos incendeia a fogueira apagada libertando-nos da solidão, e nos devolve à vida, amainando-nos o coração a cada chegada… nas horas de intempestivo desespero, a cada partida… através de um abraço sincero, Sois vós aliviando-nos a dor, que a troco de nada abrigando-nos no amor? construis a jangada Quem sois vós, que nos levará à foz. que abris vossos corações Não trazeis a cura, partilhando emoções mas o sentimento que perdura, na tristeza, na alegria, para além da nossa desgraça de noite, de dia. e… enquanto o tempo não passa… Quem sois vós sois vós que, de rua em rua, de sorriso pendurado de cama em cama, em rosto enamorado vão afagando esta existência nua, por tão nobre causa, tão vestida de drama. sem intermitência A vós, nem pausa, que não nos deixais sós, repleta de paciência espalhando em nosso redor e em constante procura, gestos, olhares, sorrisos… amor, com carinho e ternura, que nos fazem esquecer a dor… pelo bem estar alheio, queremos, através deste poema recitado, seja bonito, seja feio. dizer-vos… que sois amigos de verdade, Quem sois vós? a personificação da SOLIDARIEDADE. Digo-vos, pois, MUITO E MUITO OBRIGADO. quem sois. Sois o calor da chama, Mário Alves que aquece o frio do nosso drama. Sois a alegria que não temos,

Aprendi que o amor é espiritual, E que inclui desejo por outrem e auto-estima… Que a amizade também é amor, Que o amor é amizade E que nem toda a verdade vem ao de cima…

Aprendi E que só arriscando, É que vou conseguir… Eu aprendi que a coragem também é feita de medo… E que o medo, esse, não sei d’onde vem… E que a única forma de eu guardar um segredo É não contá-lo a ninguém… Vallda

Jorge Morais

Ínsula Negra Existem cidades de mortos e de almas cativas como tantos versos por nascer. Existem cidades de ossos pulverizados e mágoas soturnas por parir ou já paridas e partidas. Derrubaram todas as pedras de todos os portos! Renderam-se as montanhas altivas esmagadas pelo entardecer dos sonhos desgastados. Abraços vácuos. Silêncios. Hiato azul! As brumas descem, lentas, sobre os corpos vis e os lábios e os olhos e as mãos inúteis e pueris. Caíram todas as gotas de todas as nuvens pardacentas na ilha! É o mar! Este inferno líquido! Tormentas vociferadas por velho Adamastor em terra de dor. Pedro Paulo Câmara Ginetes, 22 de dezembro de 2018

SABES!... Estavas muito bonita! Teus olhos grandes adornavam teu rosto com o seu brilhar…

Amar-te Amar-te é rasgar o peito Num eco de emoções Respirar o teu ar na ausência Sentir o peito apertado Voando nas tuas asas Amar-te é ser poema Sonhar ser livro Desfilar nas folhas Pelos dedos Amar-te é ser um Enquanto somos muitos Pulsando a várias vozes Amar-te é aconchegar O nosso encontro Sem a pele sentir... Carla Félix

Quais estrelas cadentes! Fixei-os por momentos e vislumbrei neles uma vontade imensa de desabafar alguns medos… Que te consomem no dia a dia desta ingrata vida que não mereces!... Na despedida, senti teu perfume ao encostares teu rosto ao meu... Perfume intenso, mas deslumbrante! Assim como a suavidade da tua pele qual peça de tecido de veludo! Senti vontade de te dizer: Vem comigo, afaga-me a tristeza e vamos percorrer montes e vales Atravessar rios e oceanos… Até onde o mundo acabe! Fernando Mendonça

DESAFIO: SER POETA ILHÉU Desafie a sua criatividade e envie até dia 15 Fevereiro, um poema com o titulo “Ser Poeta Ilhéu!”.

FICHA TÉCNICA: COORDENAÇÃO: Carla Félix COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Carla Félix; Fernando Mendonça; Jorge Morais; Mário Alves; Pedro Paulo Câmara; Vallda PAGINAÇÃO: FS/JP. As participações aqui presentes são da responsabilidade dos poetas/poetisas. Para participar envie o seu poema para maredepoesia@jornaldapraia.com. PUB


JP | INFORMAÇÃO

2019.01.11

| 15

VOLEIBOL

NACIONAL DA II DIVISÃO ZONA AÇORES Seniores Femininos

13.ª JORNADA | 12.01.2019

FUTEBOL

CAMPEONATO DE PORTUGAL SÉRIE “D”

17.ª JORNADA | 13.01.2019 Redondense

-

1º Dezembro

Olhanense

-

Moura

Oriental

-

Angrense

Casa Pia

-

Real

Ferreiras

-

Amora FC

Sacavenense

-

Louletano

VG Vidigueira

-

SC Praiense

Armacenenses

-

Olímpico Montijo

Sp. Ideal

-

Pinhalnovense

18.ª JORNADA | 20.01.2019 1º Dezembro

-

Moura

Redondense

-

Amora FC

Olhanense

-

Pinhalnovense

Ferreiras

-

Angrense

Armacenense

-

Real

Casa Pia

-

Louletano

Sacavenense

-

SC Praiense

VG Vidigueira

-

Olímpico Montijo

Sp. Ideal

-

Oriental

CAMPEONATO DOS AÇORES

13.ª JORNADA | 13.01.2019 Marítimo Gra.

-

Guadalupe

CD Fontinhas

-

Operário Lagoa

Vitória Pico

-

Águia CD

Cedrense

-

SC Lusitânia

CD Rabo Peixe

-

Graciosa FC

14.ª JORNADA | 19/20.01.2019 Guadalupe

-

CD Fontinhas

SC Lusitânia

-

Marítimo Gra.

Águia CD

-

Cedrense

Operário Lagoa

-

CD Rabo Peixe

Graciosa FC

-

Vitória do Pico

FUTSAL

NACIONAL DA II DIVISÃO SÉRIE AÇORES Seniores Masculinos

9.ª JORNADA | 12.01.2019 SC Barbarense

-

Santa Clara

SC Lusitânia

-

Casa da Ribeira

Ladeira Grande

-

Cedrense

Santa Bárbara

-

Posto Santo

9.ª JORNADA | 19.01.2019 Cedrense

-

SC Barbarense

Casa da Ribeira

-

Posto Santo

Ladeira Grande

-

Santa Bárbara

Santa Clara

-

SC Lusitânia

PUB

FC Calheta

-

AJF Bastardo

C. Kairos - B

-

Santa Cruz SC

ADRE Praiense

-

CDE Topo

HOJE (11/01) Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

SEXTA (11/01)

SÁBADO (12/01)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

14.ª JORNADA | 13.01.2019 FC Calheta

-

AJF Bastardo

C. Kairos - B

-

Santa Cruz SC

ADRE Praiense

-

CDE Topo

DOMINGO (13/01)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

SEGUNDA (14/01)

Seniores Masculinos

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

15.ª JORNADA | 19.01.2019 CD Ribeirense

-

CDE Topo

Angústias AC

-

ADRE Praiense

CD Marienses

-

AA Alunos

TERÇA (15/01)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

QUARTA (16/01)

16.ª JORNADA | 20.01.2019 CD Ribeirense

-

CDE Topo

Angústias AC

-

ADRE Praiense

CD Marienses

-

AA Alunos

MISSAS DOMINICAIS NO CONCELHO

SÁBADOS

15:30 - Lajes; 16:00 - Fontinhas (1) ; 16:30 - Casa da Ribeira; 17:00 - Cabo da Praia; 17:30 - Matriz Sta. Cruz; 17:30 - Vila Nova; 18:00 - Fontinhas (2); 18:00 - São Brás; 18:00 - Porto Martins; 18:00 - Sta Luzia, BNS Fátima; 18:00 - Quatro Ribeiras; 19:00 - Lajes; 19:00 Agualva; 19:00 - Santa Rita; 19:00 - Fonte do Bastardo; 19:30 - Biscoitos, IC Maria (3); 19:30 - Biscoi-

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

QUINTA (17/01) STAND UP BRUNO NOGUEIRA “DEPOIS DO MEDO” Local: Auditório Ramo Grande Classificação: M/16 Hora: 21H30

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

SÁBADO (12/01)

SÁBADO (19/01)

SEXTA (18/01)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290 Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

DOMINGO (20/01)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

SEGUNDA (21/01)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

tos - São Pedro (4) (1) Enquanto há catequese; (2) Quando não há catequese; (3) 1.º e 2.º sábados; (4) 3.º e 4.º sábados

TERÇA (22/01)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

DOMINGOS

08:30 - São Brás; 09:00 - Vila Nova, ENS Ajuda; 10:00 - Lajes, Ermida Cabouco; 10:00 - Cabo da Praia (1); 10:00 - Biscoitos, S Pedro; 10:30 - Agualva; 10:30 - Casa Ribeira (1); 10:30 - Santa Rita 11:00 - Lajes; 11:00 - São Brás; 11:00 - Cabo da Praia (2); 11:00 - Porto Martins; 11:00 - Casa da Ribeira (2); 11:00 - Biscoitos, IC Maria; 12:00 - Vila Nova; 12:00 - Fontinhas; 12:00 - Matriz Sta. Cruz (1); 12:00 - Quatro Ribeiras; 12:00 Sta Luzia; 12:15 - Fonte Bastardo; 12:30 - Matriz Sta. Cruz (2); 13:00 - Lajes, ES Santiago; 19:00 - Lajes; 19:00 - Matriz Sta. Cruz (3); 20:00 Matriz Sta. Cruz (4)) (1) Missas com coroação; (2) Missas sem coroação; (3) De outubro a junho; (4) De julho a setembro

QUARTA (23/01)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

QUINTA (24/01) CINEMA RALPH VS INTERNET VERSÃO PORTUGUESA Local: Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo Hora: 15:00 Classificação: M/06 Sessão também no domingo, 25, às 18H00.

NOTA: Esteja na nossa Agenda Cultural geral@jornaldapraia.com

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

BISCOITOS Posto da Misericórdia ( 295 908 315 SEG a SEX: 09:00-13:00 / 13:00-18:00 SÁB: 09:00-12:00 / 13:00-17:00

VILA DAS LAJES Farmácia Andrade Rua Dr. Adriano Paim, 142-A ( 295 902 201 SEG a SEX: 09:00-18:30 SÁB: 09:00-12:30

VILA NOVA Farmácia Andrade Caminho Abrigada ( 295 902 201 SEG a SEX: 09:00-12:00 / 16:00-18:00 Farmácias de serviço na cidade da Praia da Vitória, atualizadas diáriamente, em: www.jornaldapraia.com


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