Jornal da Praia | 0525 | 20.07.2018

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QUINZENA

20.07 A 02.08.2018 Diretor: Sebastião Lima Diretor-Adjunto: Francisco Ferreira

Nº: 525 | Ano: XXXVI | 2018.07.20 | € 1,00

QUINZENÁRIO ILHÉU - RUA CIDADE DE ARTESIA - 9760-586 PRAIA DA VITÓRIA - ILHA TERCEIRA - AÇORES

www.jornaldapraia.com

GRUPO MOTARD “BRAVOS AÇORES”

IV ROCKFEST PRAIA DA RIVIERA, 20, 21 E 22 JUL. 2018

ENTREVISTA

DANIEL SILVA DESTAQUE | P. 8, 9 E 10

PRAIA DA VITÓRIA

ACOLHEU ENCONTRO DE INVESTIDORES DA DIÁSPORA NO CONCELHO | P. 3

COMISSÃO PARLAMENTAR

ABORDA DESPEJOS NO BAIRRO DE SANTA RITA NO CONCELHO | P. 3 PUB

COM APOIO DO JP

AURÉLIO PAMPLONA LANÇA LIVRO CULTURA | P. 5

NAS SANJOANINAS

EXPOSIÇÃO EX-LÍBRIS DE DAVID SILVA PATRIMÓNIO | P. 7

UMA CIDADE HISTÓRICA E DE CULTURA OPINIÃO | P. 13


JP | CANTO DO TEREZINHA & CONTO

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NOVAS MARCHAS NAS SANJOANINAS Logo depois do 2º dia das marchas sanjoaninas, ocorreu ao enviado especial de Canto do Terezinha àquele evento, que, no proximo ano possa haver um numero ainda maior de marchas, coisa séria que vai precisar de uns 3 ou 4 noites de marchas, tanto mais que algumas vão ultrapassar as 2, 3 ou mais centenas de marchantes. Eis as possíveis marchas: marcha dos implicados no escândalo BPN; marcha dos implicados no escân-

O programa do importante evento que deu pelo nome pomposo de I Encontro Intercalar de Investidores da Diáspora deve ter causado alguma confusão aos participantes. Canto do Terezinha teve, mesmo, ocasião de escutar um lamento de um investidor que, acompanhando um dos muitos Secretários de Estado, estava a tomar o pequeno almoço – uma deliciosa filós de forno. – C’os diabos! Parece que o concelho da Praia da Vitória não tem um local capaz de servir a receção de boas vindas (no programa 19h00 – Receção de boas

dalo BPP; marcha dos implicados no escândalo BES; marcha dos envolvidos no caso Portucale; marcha dos envolvidos no caso dos Submarinos: marcha dos envolvidos no caso dos vistos Gold; marcha dos implicados na operação Marquês; marcha dos implicados no caso Fizz; marcha dos amigos do José Sousa; marcha dos amigos do Farfalha; marcha dos políticos corruptos; marcha dos presos com pulseira eletrónica; marcha da FLA.

PRAIA POR INTERCALAR vindas oferecida pelo Presidente da Câmara da Praia da Vitória, Tibério Dinis, no Hotel Atlântida Mar). Numa mesa ao lado, outro secretário de Estado e a representante do Instituto da Cooperação e da Língua, mais conhecido por Instituto Camões, também abordavam o programa. Dizia esta: – O que me chocou foi o facto de não ter sido oferecida uma visita guiada à cidade da Praia da Vitória. Que se vá visitar Angra do Heroísmo é óbvio. Mas não se pode entender Angra sem falar da Praia. Esta me-

Algumas das marchas, como é fácil deduzir, são compostas por marchantes de Lisboa, e dado o elevado número é provável que se frete um navio cruzeiro. Há, no entanto uma preocupação. Tem a ver com o convívio animado na Rua de São João, à volta das fogueiras. Pode surgir a tentação de empurrar algum marchante para o seio duma fogueira. São João Batista não há-de permitir que tal acontece. Oremos. •

rece ser classificada de cidade Património Municipal e Regional. Também não gostei de ver com se referiram, no programa, ao cargo que vim representar: eu não sou vogal do Conselho Diretivo do Camões, sou, sim, vogal do Conselho Diretivo do INSTITUTO CAMÕES. Enfim, um pouco mais de rigor só beneficiava o promotor do evento. O agente do Canto do Terezinha que ouviu estes desabafos, de tanto triste que ficou, engasgou-se e não acabou de saborear a filós fornecida pelo “Forno”.•

CONTO INSULAR (V)

SUPERAÇÃO E DESCOBERTA (NE: Conclusão da edição anterior) Por: Emanuel Areias

G

ustavo não se vitimava perante a sua situação distinta, face aos amigos que fizera na universidade. Como o seu tio João dizia – essa é a tua tropa. Diariamente vivia uma superação, quer fosse pelo que lhe fazia falta, quer fosse pelo que ganhava e não queria. O pessimismo solitário, a saudade enraizada, a rotina imponente ou a solidão. Eram nomes do meio da sua existência. Quando se lembrava da sua Terceira, telefonava para os seus pais e ouvia as boas novas que havia para saber. O vizinho Pato António morreu e deixou as galinhas por conta do avô Humberto, a festa de Agosto vai ter cantadores da América e do Canadá e o amigo Felismino apanhou umas lapas, que os pais guardaram para quando ele fosse lá nas férias. Quase todas as semanas lembrava-se das longas horas que passava no palheiro do vizinho Pato António, a ouvir histórias do antigamente e sobre a arte de bem cultivar a terra. Depois de saber da sua morte nunca mais dormiu bem. As insónias tomavam-no os sonhos. Para além de ter de conviver com um certo gozo comum entre os continen-

tais face ao seu sotaque vincado, Gustavo era um verdadeiro sobrevivente. Não sabia cozinhar e não podia saborear as refeições, que a sua mãe todos os dias até ao dia da partida para Lisboa, fizera. Ficou preso aos snacks e às refeições da cantina da escola, se bem que a sopa quase nunca tinha sal e o frango estava sempre salgado. Gustavo ia para as aulas de Filosofia e julgasse intimamente. Achava que não pertencia à cidade onde estava. Achava que não era daquele país. Sentia-se longe da noção do que era ser português. Esse receio íntimo que ia sentindo, ao mesmo tempo que sentia a falta da ilha e do espírito da terra natal, fê-lo inaugurar uma nova vaga de escritos no seu diário. A Filosofia ajudava-o a moldar os pensamentos e a definir as metas que queria atingir. Estar em Lisboa era uma obrigação existencial, mas podia regressar logo que garantisse o sucesso da sua missão. Associado a essa missão, Gustavo podia autoconhecer-se melhor e definir a sua identidade pessoal finalmente. Era convicto de que sair da sua zona de conforto tinha um benefício – iria ser mais açoriano do que era antes.

Entre pensamentos e trabalhos da universidade, Gustavo escreveu numa folha a frase da sua vida: É intrínseco ao ilhéu não se desenraizar para sempre. Apenas se ausenta, para depois voltar. A partir desse pensamento, o rapaz soube vislumbrar que Lisboa significava a descoberta do que era sem saber. Era um terceirense na génese, no seu interior, e um açoriano no seu exterior. Ser português era uma indefinição para si. Uma retórica em forma de pergunta que fazia a si mesmo. Não se identificava como um e sentia-se desenraizado na terra da sua missão. Deu azo à imaginação e num texto cru e frio, sobressaiu este excerto: “Em Portugal, tornei-me açoriano. A identidade ganhou um impulso, porque saí de uma zona de conforto. Ser terceirense tornou-se a base do que sou, o espírito total da minha pessoa, ser açoriano foi o exterior de toda essa força interior.” O jovem viu-se tentado a terminar o texto tratando da ideia do que era ser português. Lembrou-se da frase – “O

bom tempo que já passei no Continente, fez-me ter espaço em mim, para aceitar o ser português” – porém, continuava sem ter esse espaço para se sentir do país, mas somente da região. Vivia quase esse absurdo da existência, mas era legítimo que pensasse assim. Tinha a noção de que algum dia poderia acabar um texto com a frase que tinha pensado e aceitar ser português. Ainda não era o momento. A sua estadia em Lisboa amadureceu-o as ideias, mas nunca o cativou a aceitar Portugal na esfera da sua identidade. Deixou escrito na última página do seu diário de viagem: “Vejo que Lisboa não é o lugar que eu quero para mim. É o lugar que me viu amadurecer, mas é o lugar que me cansou e me desgastou. No fim da etapa, eu quero regressar à minha ilha e à minha casa. O tempo útil que a vida nos dá para viver implica que seja devidamente aproveitado junto de quem amamos e onde nos sentimos bem e realizados. Como açoriano que sou, os Açores é a minha vida. O ponto da minha partida e o lugar a onde sempre regresso.” •

FICHA TÉCNICA PROPRIETÁRIO: Grupo de Amigos da Praia (Associação Cultural sem fins lucrativos NIF: 512014914), Fundado em 26 de Março de 1982 REGISTO NO ICS: 108635 FUNDAÇÃO: 29 de Abríl de 1982 ENDEREÇO POSTAL: Rua Cidade de Artesia, Santa Cruz, Apartado 45 - 9760-586 PRAIA DA VITÓRIA, Ilha Terceira - Açores - Portugal TEL: 295 704 888 DIRETOR: Sebastião Lima (diretor@jornaldapraia.com) DIRETOR ADJUNTO: Francisco Jorge Ferreira ANTIGOS DIRETORES: João Ornelas do Rêgo; Paulina Oliveira; Cota Moniz CHEFE DE REDAÇÃO: Sebastião Lima COORDENADOR DE EDIÇÃO: Francisco Soares, CO-1656 (editor@jornaldapraia.com) REDAÇÃO/EDIÇÃO: Grupo de Amigos da Praia (noticias@jornaldapraia.com; desporto@jornaldapraia.com); Elvira Mendes; Rui Sousa JP - ONLINE: Francisco Soares (multimedia@jornaldapraia.com) COLABORADORES: António Neves Leal; Aurélio Pamplona; Emanuel Areias; Francisco Miguel Nogueira; Francisco Silveirinha; José H. S. Brito; José Ventura; Nuno Silveira; Rodrigo Pereira PAGINAÇÃO: Francisco Soares DESENHO NO CABEÇALHO: Ramiro Botelho ADMINISTRAÇÃO José Miguel Silva (administracao@jornaldapraia.com) SECRETARIADO E PUBLICIDADE: Eulália Leal (publicidade@jornaldapraia.com) LOGÍSTICA: Jorge Borba IMPRESSÃO: Funchalense - Empresa Gráfica, S.A. - Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, 50 Morelena - 2715-029 PÊRO PINHEIRO ASSINATURAS: 15,00 EUR / Ano - Taxa Paga - Praia da Vitória - Região Autónoma dos Açores TIRAGEM POR EDIÇÃO: 1 500 Exemplares DEPÓSITO LEGAL: DL N.º 403003/15 ESTATUTO EDITORIAL: Disponível na internet em www.jornaldapraia.com NOTA EDITORIAL: As opiniões expressas em artigos assinados são da responsabilidade dos seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do jornal e do seu diretor.

Taxa Paga – AVENÇA Publicações periódicas Praia da Vitória


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NO CONCELHO | JP

PRAIA DA VITÓRIA É PRIMEIRA ESCALA NA ROTA DE INVESTIMENTOS DA DIÁSPORA

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estinado a proporcionar “networking”, identificar áreas de potencial investimento na região e divulgar os mecanismos governamentais de incentivo aos projetos empresariais, a Praia da Vitória, acolheu na Academia de Juventude e das Artes da Ilha Terceira, de 05 a 08 de julho, o “I Encontro Intercalar de Investidores da Diáspora”. O encontro promovido pelo Governo dos Açores, através do Gabinete PUB

do Secretário Regional Adjunto da Presidência para as Relações Externas e da Direção Regional das Comunidades, em parceria com o Gabinete do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora, SDEA – Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial dos Açores e Câmara Municipal da Praia da Vitória, reuniu mais de uma centena de empresários oriundos de 11 países.

Falando na sessão de abertura, 06, o vice-presidente do Governo dos Açores, Sérgio Ávila, sustentou que os Açores apresentam excelentes condições para o investimento externo e desafiou os empresários, especialmente os da diáspora, a investirem na Região, frisando que a “satisfação de quem já tomou essa opção, é a maior garantia de que se trata de uma escolha segura, rentável e muito competitiva”.

Indicou que isso se deve ao sistema de incentivos ao investimento do governo, que classificou como “o mais abrangente, o mais generoso e o mais intenso que pode haver no contexto europeu”, sustentado por criar “ uma estrutura fiscal substancialmente mais favorável às empresas e aos trabalhadores do que aquela que se verifica noutras regiões”, caracterizada por um diferencial fiscal vantajoso na ordem dos 20% a 30% em relação ao restante território, em sede de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC), de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS), e de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA). Já o presidente da autarquia anfitriã, Tibério Dinis, sublinhou a importância geoestratégica da Praia da Vitória no desenvolvimento dos Açores. “A Praia da Vitória pretende ser, durante estes três dias, um centro

de captação de investimento, pois é reconhecida a sua posição geoestratégica”, afirmou.. Tibério Dinis, anunciou que até o final do ano a autarquia irá criar o Projeto de Interesse Municipal, com o intuito de reforçar a atratividade do concelho na captação de investimento externo. Este projeto integra medidas que envolvem benefícios fiscais, agilização burocrática e flexibilização de taxas praticadas pelo Município. A este projeto, anunciou o edil, junta-se outro programa a criar intitulado “Investir na Praia da Vitória”, que visa beneficiar os investimentos realizados no concelho a nível imobiliário, no sentido de rentabilizar também as diversas vertentes associadas ao sector turístico, nomeadamente, nos hostels, hotéis, alojamento local e outras ações direcionadas à dinamização económica da cidade. Finalizou valorizando o contributo dos investidores da diáspora no desenvolvimento económico dos Açores, para os quais as questões culturais e do domínio da língua são determinantes, sendo por isso fundamental que sejam incentivadas e aprofundadas, para garantir uma proximidade importante na manutenção das ligações às gerações futuras. JP•

POR INICIATIVA DO BE/AÇORES

DESPEJOS EM SANTA RITA EM AUDIÊNCIA

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a sequência do Projeto de Resolução n.º 106/XI do Bloco de Esquerda Açores que “recomenda ao Governo Regional que intervenha para impedir o despejo dos moradores do Bairro de Santa Rita, no Concelho da Praia da Vitória”, a Comissão de Política Geral da Assembleia Regional reuniu na delegação da ilha Terceira, Angra do Heroísmo, para ouvir os vários intervenientes no processo, a 27 e 28 de junho. No âmbito desta iniciativa foram ouvidos os mandatários legais dos proprietários dos terrenos e das casas, o porta-voz da Comissão de Moradores, o atual líder da CMPV e o ex-autarca José Fernando Gomes. Roberto Monteiro, também ex-autarca, convocado pela Comissão, não compareceu. Álvaro Monjardino, advogado dos proprietários dos terrenos, reiterou uma vez mais que as ações de despejo ordenadas pelo tribunal se devem à situação de incumprimento relativamente ao pagamento das rendas devidas pela utilização dos terrenos. Morador que solicitou anonimato declarou ao Jornal da Praia que a decisão de não pagamento surgiu por conselho da autarquia praiense,

à data presidida por José Fernando Gomes. Aos deputados da Comissão, o ex-autarca rejeitou liminarmente a acusação, assegurando que em momento algum deu orientações ou conselhos nesse sentido. Até ao momento já foram emitidas pelo Tribunal 13 ações de despejo, 4 delas, na sequência de processos que correram trâmites em nome de militares americanos. São 52,61 euros o valor que separa os donos dos terrenos da autarquia, que segundo Álvaro Monjardino, só revelou efetiva disposição para negociar, após os primeiros despejos. A autarquia argumenta possuir uma avaliação isenta e justa que atribui aos terrenos rústicos o valor de 20,20 euros por metro quadrado. Do outro lado da barricada, os proprietários sustentam que ao valor de 72,61 euros por metro quadrado que pedem, está associada a cobrança dos vários anos de rendas em atraso e naturalmente os respetivos. Jornal da Praia sabe, que dias após a referida audiência parlamentar foi solicitado por parte da autarquia um encontro com o mandatário dos proprietários tendo em vista novas negociações. JP•


JP | EFEMÉRIDE

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D. ANTÓNIO, PRIOR DO CRATO E CIPRIÃO DE FIGUEIREDO, CONDE DA VILA DE SÃO SEBASTIÃO HISTORIADOR: FRANCISCO MIGUEL NOGUEIRIA

D. António desembarcou em São Sebastião em dia de Sant’Ana, onde era esperado, depois da derrota contra a armada do marquês de Santa Cruz, ao largo de Vila Franca.

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á exatos 436 anos, a 26 de julho de 1582, D. António, o Prior do Crato, desembarcava em São Sebastião, na Ilha Terceira, o único ponto do país que ficou do seu lado, já depois de ter criado o condado da Vila de São Sebastião, que entregou a Ciprião de Figueiredo, o antigo corregedor dos Açores. Quando D. Sebastião morreu em 1578, em Alcácer Quibir, sucedeu-lhe o seu parente mais próximo, neste caso, o tio-avô Cardeal D. Henrique, já idoso, que morreu, em 1580, sem herdeiros diretos, abrindo, assim, uma crise de sucessão. Houve 3 principais herdeiros, D. Catarina, D. Filipe II de Espanha e D. António, Prior do Crato. Este último foi aclamado rei em Santarém, contra a vontade da Alta Nobreza, apoiante de Filipe II. Para este, Portugal era um reino muito importante para a estratégia do Império Espanhol. Filipe II acabou então por enviar o seu exército, que mais bem preparado venceu os apoiantes de D. António. O Prior do Crato acabou por refugiar-se na Terceira. D. Violante do Canto, que herdara uma grande fortuna em 1577, apoiou a causa de D. António, sustentando as tropas anglo-francesas estacionadas na ilha. A Terceira passou a ser, então, alvo das atenções espanholas. D. António desembarcou em São Sebastião em dia de Sant’Ana, onde era esperado, depois da derrota contra a armada do marquês de Santa Cruz, ao largo de Vila Franca. Foi recebido com arcos triunfais e uma ponte de cedro. Depois passou a Angra, recebendo um discurso de receção cheio de portugalidade por Frei António de Merens, onde foi aclamado Pela Graça de Deus, António I, Rei de Portugal e dos Algarves, d’Aquém e d’Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

O Prior do Crato foi morar nos palácios onde vivia o Conde Manuel da Silva, um homem de sua confiança, nomeado novo corregedor dos Açores, substituindo Ciprião de Figueiredo, por estarem suficientemente mobilados os edifícios. Alguns destes palácios já haviam pertencido ao Marquês Cristóvão de Moura, casado com Margarida Corte Real, herdeira da capitania de Angra, enquanto trineta de João Vaz Corte-Real, assumindo Cristóvão a capitania. Este era um fiel apoiante de D. Filipe II, vivendo em Espanha por largos anos e visto como um traidor por larga maioria de terceirenses. Ciprião de Figueiredo continuava a estar na Terceira e a lutar por D. António. Este, quando estava em Paris a procurar apoio junto de Catarina de Médicis, antiga rainha de França e mãe do monarca francês Henrique III, chamou Ciprião e agraciou-o com o título de Conde da Vila de São Sebastião, localidade onde se travou a Batalha da Salga, na qual Ciprião teve um papel de estratégia e de reorganização dos locais muito importante. Ciprião de Figueiredo, a 24 de julho de 1581, na noite antes da famosa Batalha da Salga, este ao avistar a frota que aproximava, mandou o Capitão Domingos Onsel com 20 soldados arcabuzeiros e 10 piqueiros para se juntarem às gentes do Porto Judeu e assim defenderem aquele porto e a baía da Salga. Achava-se que era o suficiente, estavam errados. Onsel julgou poder, e sem receio, dispensar os dez piqueiros, os quais, sem a menor hesitação, remeteu para a cidade. Este procedimento foi estranhado por Ciprião, que começou a duvidar das capacidades de decisão do Capitão Onsel em conseguir com poucos homens dar conta dos castelhanos. Ciprião, no entanto, mandou imediatamente para o Porto Judeu um reforço de alguns homens de pé e de cavalo. Os homens repartiram-se pelas estâncias, desde o Forte do Porto até à extremidade onde estava o poço, na baía da Salga. Foi aí que se constatou que era muita pouca gente na verdade para guarnecer tão largo espaço. A 25 de julho de 1581, a esquadra espanhola comandada por Pedro de Valdés era composta por 10 navios,

com 1 000 homens de guerra, que desembarcaram na baía da Salga e, apanhando de surpresa os locais, conseguiram vencer as primeiras resistências. Nesta fase dos combates distinguiu-se Brianda Pereira, momento em que história e lenda se misturam. As tropas espanholas começaram a incendiar as searas e as casas existentes nas imediações, entre as quais muito provavelmente a de Brianda, aprisionando os homens que encontraram. Lenda ou não, defende-se que Brianda incentivou como podia os terceirenses a lutarem e pegou no que tinha à mão e também foi para os combates.

A batalha endureceu, pelas 9h, varrendo os espanhóis a costa com a sua artilharia, o que, dificultava a tarefa dos defensores. Cerca das 12h, Frei Pedro, que participava ativamente na luta, teve a ideia de, como estratagema, dirigir gado para as posições espanholas e assim desbaratá-las. Rapidamente foi reunido mais de um milhar de bovinos, que, à força de gritos e tiros de mosquete, se lançaram sobre o inimigo. Isso levou os espanhóis a recuarem, muitos caíram ao mar, e deu tempo aos terceirenses para se reagruparem e preparem nova defesa da Ilha. Centenas de castelhanos morreram nos combates ou afogados na fuga do gado. Diz-se que não mais do que 50 espanhóis voltaram para os navios, enquanto nos locais, foram poucas as dezenas de mortos. A substituição de um mais carismá-

tico Ciprião de Figueiredo, por um mais impetuoso Conde Manuel da Silva não resultou bem. O povo não gostou da escolha, pois sentia-se mais longe do seu novo governador. Ciprião sempre tivera uma relação próxima com a população terceirense. Aos poucos, a tensão entre o corregedor e os terceirenses foi aumentando. A pressão espanhola e o desembarque da Baía das Mós, com a sua vitória, um ano depois da chegada de D. António, entre os dias 26 e 27 de julho de 1583, o afastamento de D. Violante do Canto, principal financiadora do Prior do Crato (e o seu exílio para Madrid a mando de D. Filipe II) e o afastamento dos apoios estrangeiros, com as consecutivas vitórias espanholas, obrigaram o pretendente ao trono português a partir da Terceira e de Portugal. Os seus objetivos lograram. Nos anos seguintes, vai tentar conquistar Portugal, mas sem resultados, uns por motivos circunstanciais, outros pela força militar das tropas filipinas e ainda alguns apenas pela importância de D. Filipe II para a Cristandade. D. António levou consigo para França, onde se exilou, o fiel servidor Ciprião de Figueiredo, que, em 1601, fez uma viagem à Itália, onde conseguiu a estima do rei de França e do Grã-Duque da Toscânia, pois foi um homem de princípios e que sempre defendeu aquilo em que acreditava. D. António morreu, em Paris, a 26 de agosto de 1595 e Ciprião de Figueiredo em 1606. Não podemos esquecer que a Cultura e a História fazem parte do património e da memória de um povo. Não devemos ter medo em conhecer e dar a conhecer o percurso histórico feito pelos nossos egrégios avós. A história e a memória de Violante do Canto e de Ciprião de Figueiredo, assim como a lenda da Brianda Pereira e História da Batalha da Salga, deviam ser mais ensinada junto das populações locais, que servem de intermediários para os turistas e para os mais novos. Devemos saber mais, para podermos explicar melhor e até incentivar os que nos visitam a quererem investigar mais da nossa História e serem os divulgadores do nosso Passado junto dos amigos, dos colegas, etc. •


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CULTURA | JP

LIVRO DE AURÉLIO PAMPLONA É

COMPILAÇÃO DE ARTIGOS DE PSICOLOGIA DA SAÚDE Reúne os textos publicados entre 22 de maio de 2004 e 09 de janeiro de 2010.

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om apoio do Jornal da Praia, Aurélio Pamplona, autor da rúbrica “Cantinho do Psicólogo” lança na próximo sexta-feira, 27 de julho, o livro “O Cantinho do Psicólogo: Cento e Vinte e Sete no Cravo”, que reúne – como o próprio título sugere – os primeiros 127 artigos de uma longa série a aproximar-se das duas centenas até hoje escritos para o Jornal da Praia. “O Cantinho do Psicólogo” é uma crónica quinzenal de psicologia da saúde, cuja primeira edição foi publicada na edição impressa de 22 de maio de 2004. Com estas crónicas, afirma o autor, “pretendo de uma forma tão simples quanto possível, evitando complexas definições científicas, alertar para a importância do comportamento individual em toda a dinâmica do tecido social. É o nosso comportamento na interação com os demais que determina todo um padrão de relações sociais. Desse ponto de vista, teorizando conceitos, elucido o indivíduo relativamente à forma de reagir e lidar às múltiplas adversidades, preocupações e momentos de enorme stress que a vida nos coloca, numa perspetiva de prevenção da agitação social, no pressuposto de construirmos uma sociedade mais sã, justa, inclusiva e harmoniosa”. Aurélio Pamplona nasceu na freguesia de Santa Cruz, mais precisa-

CONVITE o Jornal da Praia e Aurélio Pamplona, convidam os leitores e assinantes a marcarem presença na cerimónia de lançamento do livro “O Cantinho do Psicólogo: Cento e Vinte Sete no Cravo”, a ter lugar no salão nobre da Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória, pelas 21h00, no próximo dia 27 de julho. mente no lugar do Vale Farto há 79 anos, tendo enveredado pela carreira militar, aposentando-se com a patente de Coronel de Infantaria. Durante a sua vida militar formou-se em Psicologia vindo a assumir várias funções de relevo neste domínio. Um dos fundadores da “Revista de Psicologia Militar”, chefiou por diversas ocasiões a delegação de psicólogos do exército português em encontros ao mais alto nível, nomeadamente reuniões internacionais dos países membros da NATO. Já reformado, continuou a colaborar na sua área de especialização com o exército português e como convidado, escreveu o capítulo “Psicologia Militar”, do livro “Áreas de Intervenção em Psicologia”, editado por aquele ramo das Forças Arma-

das, sendo um dos seus vários coautores. “O Cantinho do Psicólogo: Centro e Vinte Sete no Cravo“, é como já referido uma compilação das 127 primeiras crónicas, duma rúbrica que por mérito próprio se apresenta como icónica deste quinzenário ilhéu, abrangendo todas os articulados publicados até 09 de janeiro de 2010. Esta primeira edição é composta de 250 exemplares.

cimento do contributo das suas gentes numa identidade de açorianidade que tanto nos dignifica e fortalece, foi e continua a ser o nosso principal desígnio, diria mesmo a nossa razão de ser, e isto também se faz promovendo conhecimento que nos permita compreender, refletir e agir em prol de uma sociedade melhor, como os textos do nosso estimado colaborador Aurélio Pamplona tão brilhan-

Para Sebastião Lima, diretor do único jornal publicada numa cidade que deu a Portugal um dos seus mais ilustres comunicadores – Vitorino Nemésio – é “com naturalidade que o nosso jornal se associa a este projeto. Estar ao lado da Praia e dos praienses, pugnando pelo reconhe-

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temente apelam. É pois, com gosto e orgulho que somos parceiros neste projeto”, disse. A sessão de apresentação do livro decorrerá no Salão Nobre da Santa Casa da Misericórdia, pelas 21:00 e contará com a moderação de Cota Moniz, presidente da mesa da Assembleia Geral do “Grupo de Amigos da Praia”, associação cultural sem fins lucrativos proprietária do Jornal da Praia e terá como apresentador oficial, João Lemos, coordenador da Unidade de Psicologia do Hospital Santo Espírito da Ilha Terceira, E.P.E., para a qual estão convidados todos os leitores, assinantes, colaboradores, anunciantes e amigos do Jornal da Praia. Não deixe de estar presente, o Jornal da Praia conta consigo. JP•


JP | SAÚDE o Cantinho do Psicólogo 191

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ossivelmente o autor da fotografia nunca mais esquecerá o dia em que, estando a pescar com um amigo na zona da freguesia das Aurélio Pamplona Quatro Ribeiras se (a.pamplona@sapo.pt) confrontou, por volta das 07H30, com a bela imagem que a fotografia acima reproduz. Ao relatar o acontecimento sublinhou que o momento fora tão especial e único ao ponto de se justificar o dizer que circula na Internet de que «há momentos que valem por uma vida», e certamente aquele foi uma desses. No entanto situações destas podem acontecer a qualquer um, mas o que nos interessa aqui é reforçar o pensamento do dizer na sua totalidade, que afirma também para «nunca se deixar que a saudade do passado e o medo do futuro estraguem a beleza de hoje», enfim de dias como aquele, pois que, também, «há dias que valem um momento». Isto contraria em parte o que disse Camões (1517 – 1580) quando escreveu que «Os bons vi sempre passar / No mundo graves tormentos; / E para mais me espantar, / Os maus vi sempre nadar / Em mar de contentamentos». E diz-se em parte porque o próprio Camões contrariou depois estas afirmações ao adicionar: «Cuidando alcançar assim / O bem tão mal ordenado, / Fui mau, mas fui castigado. / Assim que, só para mim, / Anda o Mundo concertado.» Sintetizando, o mundo encontra-se concertado para PUB

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A Vida É Bela o Camões, que quando escreveu isto admitiu uma certa regularidade da comunidade da terra, e até de todos nós, porque fazemos parte dela, e porque como sugerimos acima, «A Vida é Bela», naturalmente desde que a saibamos aproveitar. Naturalmente que aqueles que se deixam embrulhar pelas situações de stress, que não sabem, e não aprendem a lidar com essas situações, dificilmente alcançam na vida a felicidade que merecem. Porquê? Porque

ao não saber dominar o stress que os afecta deixam “ir por água abaixo” diversos benefícios, entre os quais se apontam (Lovelace, 1990): (1) a redução do stress prejudicial, e a manutenção deste a um nível baixo; (2) conseguir e garantir um melhor estado de humor, a par de um manejo mais eficaz dos casos de tristeza, aborrecimento, agressividade, ciúme

e culpa; (3) ajuda no evitamento e alívio de danos físicos, como dores de cabeça, costas, estômago e pressão arterial elevada; (4) manutenção permanente do controlo do peso; (5) melhoria dos relacionamentos, em casa e no trabalho; e (6) lide eficaz com a ansiedade que prejudica a vida, como o medo de falar em público ou de voar. E ainda, segundo o mesmo autor: (7) influências nos filhos, levando-os a ser mais felizes, saudáveis, e a obte-

rem mais sucesso; (8) superação da procrastinação, ou seja, da tendência em parar ou adiar o que precisa de ser feito no momento; (9) sensação de se sentir mais optimista em relação ao futuro; (10) evitamento ou cura de abatimentos físicos ou mentais, no trabalho e em casa; (11) alívio para os riscos de vícios e de ameaças à carreira; (12) obtenção de mais pra-

zer com a prática de exercício, e com a alimentação apropriada; (13) melhoria ao nível da concentração, e da clareza do pensamento; (14) melhor evitamento das influências negativas dos outros; (15) sentido de afirmação construtiva na satisfação de necessidades importantes; (16) desenvolvimento da auto-estima a todos os níveis; e finalmente, (17) melhoria do aspecto e da apresentação por mais tempo. Justifica-se pois a apresentação de mais distorções de pensamento. Segunda – Filtro Mental ou Abstracção Selectiva, que consiste na focalização habitual da atenção num aspecto específico de uma situação, em paralelo com a ignorância de outras visões relevantes da mesma experiência, tanto positivas como negativas. Pode acontecer também a Visão em Túnel, a Minimização ou Desqualificação dos Aspectos Positivos, em que há realce da parte negativa de uma situação, em paralelo com o desprezo, ou a não percepção de aspectos positivos evidentes. A pessoa com esta distorção de pensamento ignora outras provas, e o resultado é exibir comportamentos, ou tomar decisões desajustadas em relação a si próprio e à sociedade. O resultado é mais stress. Referências: Lovelace, R. T. (1990). Stress master: A complete program to eliminate negative stress, change inaccurate and destructive thinking, and manage your moods. New York: John Wiley & Sons. Foto: L. Valadão•


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PATRIMÓNIO | JP

NAS SANJOANINAS 2018

EXPOSIÇÃO EX-LÍBRIS DE DAVID SILVA Por: Marta Bretão

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ascido em Vila Franca de Xira no ano de 1978, David José Fernandes da Silva é licenciado em línguas e literaturas modernas e mestre em História de Arte Medieval. Desempenha funções de técnico superior da cultura na Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira. Paralelamente, dedica-se ao ensino de áreas que tão bem domina, como sejam o latim, o desenho artístico, a história da arte e a arte heráldica, fruto da sua contínua formação nas áreas de heráldica, genealogia e património. Autor de dezenas de comunicações sobre as temáticas do ex-líbris, heráldica e história, tem desenvolvido diversas atividades nas áreas social e cultural, sendo membro de conceituadas instituições nacionais e internacionais, nomeadamente da Academia Portuguesa de Ex-líbris, do Instituto Português de Heráldica, da Academia de Letras e Artes de Portugal e da Academia Internacional de Ex-libris- Delegação de Portugal. É, também, sócio correspondente do Instituto Histórico da Ilha Terceira. Começou a desenhar heráldica em 1992 e, no ano de 2012, pela “mão” do então Presidente da Academia Portuguesa de Ex-líbris, o arquiteto Dr. Segismundo Pinto, começou a desenhar ex-líbris. Desde então, nunca mais parou! Atualmente, conta com 187 peças desenhadas, sendo 61 açorianas, o que corresponde a 32% de toda a sua produção artística. Para esta exposição criou 28 peças exclusivamente para açorianos. Exímio desenhador, com uma invejável leveza de mão, consegue, com uma facilidade incrível, e em escassos minutos criar um ex-líbris, dando corpo e alma, a uma simples folha de papel em branco, transformando-a em algo único, maravilhoso e apaixonante! Dá gosto ver o David desenhar!! Poucos são os desenhos que não resultam da aplicação

direta da caneta de tinta permanente sobre a folha de papel em branco. Muito raramente é realizado um desenho preparatório, a lápis, para indicação das principais linhas orientadoras. De destacar que o David começou a desenhar e a pintar autodidaticamente, antes de apurar o engenho com formação e estudo nas áreas das belas artes. No âmbito da heráldica não há em Portugal formação de desenho e iluminura, pelo que a sua formação é teórica e a sua arte talento puro!

O QUE SÃO EX-LÍBRIS? Ex-líbris significa “dos livros de”, marca de posse do proprietário, do bibliófilo ou de uma biblioteca. Consiste num elemento de papel de reduzidas dimensões que é personalizado através de um desenho e que posteriormente é impresso e colocado na contracapa ou na página de rosto de um livro. O desenho identifica o seu proprietário, sendo, por conseguinte, único. Para além do seu nome, em geral caligraficamente desenhado, poderão ser representadas variadíssimas temáticas, relacionadas com a heráldica do seu proprietário, com a sua profissão, atividades lúdicas ou gostos pessoais. Executado o desenho, é transposto para a matriz, tradicionalmente madeira ou em chapa metálica, invertido, como se de um carimbo se tratasse. O tipo de matriz utilizada dá o nome ao processo de impressão sendo, por exemplo, denominada de xilogravura a gravura obtida a partir de uma matriz de madeira (hoje em desuso); zincogravura e calcogravura as gravuras obtidas a partir de matrizes metálicas, zinco e cobre respetivamente; a linogravura é a gravura obtida através de uma matriz de linóleo. Existem, porém, outros processo menos

tradicionais ou mais modernos que servem de suporte às técnicas de impressão. Segue-se a montagem da matriz na máquina, mecânica ou de pedal, a aplicação da cor sobre um cilindro que, por sua vez, molha a matriz e, mediante a aplicação de pressão, entra em contacto com o papel produzindo a gravura. Grande parte do trabalho do David foi impresso com recurso a métodos tipográficos tradicionais, nomeadamente na Quadratim Letterpress de Luís de Jesus Nunes e filha, Dra. Vânia Nunes, dupla que recuperou as máquinas de uma antiga oficina de tipografia em Corroios, próximo de Almada. O ex-líbris é, portanto, tão antigo quanto é a imprensa. Inicialmente, era um objeto de elite, destinado a uma pequena minoria que desejava embelezar e marcar os seus livros sem os danificar. Atualmente, embora ainda desconhecido por muitos, verifica-se uma liberalização do ex-líbris. Constituem autênticas obras de arte, que contribuem para o embelezamento e enriquecimento de

qualquer livro. Dada a sua beleza, facilmente atrai qualquer colecionador de objetos artísticos. Esta exposição é comissariada por Jácome de Bruges Bettencourt, delegado da Academia Portuguesa de Ex-líbris para os Açores, entusiasta contagiante, detentor da maior e mais interessante coleção de ex-líbris nos Açores e uma das maiores do país, a quem se deve a promoção e a divulgação do ex-líbris na ilha Terceira e nos Açores. Contou com o patrocínio da Junta de Freguesia da Sé e com o apoio do Instituto Histórico da Ilha Terceira. Esteve patente ao público no Teatro Angrense no decorrer das festas Sanjoaninas. David Fernandes Silva, já expôs na cidade da Praia da Vitória, durante as Festas da Praia, em Agosto de 2015 e foi ele que redesenhou, agora, os símbolos heráldicos do concelho, de acordo com os antigos e históricos, que o município quer, e bem, ver restaurados. Foto: J.M. Nunes•

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TALHO BORBA & MENDES


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CONSIDERA DANIEL SILVA, DO GRUPO MOTARD “BRAVOS AÇORES”

ROCKFEST TEM TUDO PARA AFIRMAR-SE NO PANORA Criado em 2015, o festival RockFest surge da própria mística do movimento motard, no qual, à adrenalina da aceleração em duas rodas se alia a uma enorme paixão pelo rock n’ roll. Este fim de semana, a Praia da Riviera, acolhe a IV edição de um festival que pretende devolver-lhe a projeção de outros tempos.

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ais logo por volta das 22:00, abre portas na Praia da Riviera, Praia da Vitória, a edição de 2018 do festival RockFest, iniciativa do grupo motard “Bravo Açores” lançado em 2015, numa aposta de aproximação da comunidade de motoqueiros com a sociedade em geral. Quisemos saber como tudo começou e por isso fomos ao encontro do grupo na sua sede na vila das Lajes. Numa casa com fechada característica da tradicional arquitetura do Ramo Grande, chamou-nos atenção no interior, a imaginativa decoração que combina numa simbiose perfeita, motas, rock n’ roll e símbolos dos Açores. Tivemos como interlocutor Daniel Silva, 48 anos, agente policial profissionalmente, que recusando qualquer outro título, assumiu-se como simples porta-voz de um grupo cujo principal filosofia é o respeito por todos, dispensando por isso qualquer hierarquia. Em tom informal e descontraído decorreu a conversa que passamos a apresentar. Jornal da Praia (JP) – Como nasceu o Grupo Motard “Bravos Açores”? Daniel Silva (DS) – Como grupo existimos desde 2011, embora na altura fossemos uma delegação do grupo motard “Amigos dos Açores” da ilha de São Miguel. Mais tarde, em 2016, por um conjunto de razões, mas fundamentalmente porque desejávamos ter uma identidade própria, fundamos o Grupo Motard “Bravos PUB

Açores”. Penso que fomos felizes na escolha do nome, pois o que é certo, é que este nome têm despertado muita curiosidade e interesse sobretudo junto das comunidades de emigrantes, que frequentemente nos contatam para nos felicitar, manifestando-se interessados em conhecer as atividades do grupo. Resultante desses contatos e do interesse manifestado, acabamos por expandir o grupo ao Canadá. JP - Este é o único grupo motard dos Açores que tem uma delegação no Canadá? DS – Eu diria mais! Este é único grupo motard de Portugal que tem uma representação internacional, neste caso, no Canadá, mais precisamente na cidade de Toronto. JP – O que é que leva um grupo de pessoas a juntar-se e a criar um grupo motard? DS – É primeiro lugar é preciso salientar que todos têm uma enorme paixão por motas e sentem grande prazer – diria adrenalina mesmo – ao viajar na sua mota. Mas não é apenas isso que nos leva a formar um grupo, porque viajar de mota pelas estradas fora qualquer um o poderá fazer desde que a tenha, há algo mais para além disso. É essencialmente o gosto pela sociabilização, o estar com o outro, o conviver, o estar em grupo com espírito de partilha, solidariedade e entreajuda, que leva as pessoas a juntar-se e a formar um grupo de motards, onde as motas e todo o ambiente à volta delas é apenas o primeiro elo de ligação.

GRUPO MOTARD “BRAVOS AÇORES” organiza desde 2015 o festiv dias (hoje, amanhã e domingo), a praia da Riviera revive os sons do Em relação aos demais grupos existentes nos Açores e no país, nós adotamos uma filosofia diferente, que consiste em não existir quotas. E fizemos isto, porque entendemos que a paixão pelas motas, a alegria de nelas viajar e o salutar convívio entre todos, não se atesta, nem se comprova pelo simples pagamento de uma quota. É evidente que temos um conjunto de regras, mas todas estas regras emanam de uma única

regra que para nós é absolutamente fundamental – respeito por todos – observada esta regra todas as restantes acabam por ser cumpridas com naturalidade. JP – Não havendo quotizações, como fazem face às despesas? DS – Ultrapassamos esta questão organizando um conjunto de eventos ao longo do ano, tais como jantares familiares, convívios, f estas alusivas


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DESTAQUE | JP

AMA DE FESTIVAIS MUSICAIS DE VERÃO DOS AÇORES

val musical “RockFest”, que este ano perfaz a IV edição. Durante 3 o “rock n´roll” que a imortalizou na década de 70. a datas comemorativas, etc, que nos permitem angariar os fundos necessários para levar por diante as nossas atividades. É através destes eventos que reunimos as verbas necessárias para prosseguir as nossas atividades, já que como referi não só não temos quotizações como não temos qualquer outra fonte de rendimentos garantido. JP – Destes anos de atividade quais são os grandes marcos do grupo? DS – Vamos recuar ao ano de 2012, porque foi nesse ano que este gruPUB

po de pessoas realizou pela primeira vez um evento em conjunto. Em 2011, quando grupo se formou, então como delegação do grupo “Amigos dos Açores”, como já referi, assumimos o compromisso de realizar uma grande concentração motard na ilha Terceira. Foi uma decisão ambiciosa e muito corajosa porque efetivamente são enormes os riscos que envolvem a realização de um evento desta natureza. Felizmente, depois de muito trabalho é certo, a concentração realizou-se na freguesia dos biscoitos contanto com mais de centena e

meia de motards oriundos das mais diversas ilhas. Este foi sem dúvida o primeiro grande marco do grupo. Também em 2012, iniciamos uma estreita amizade com a Associação de Pais e Amigos da Criança Deficiente da Praia da Vitória, que muito nos honra, visitando as crianças regularmente e também trazendo-as à nossa sede, onde organizamos um conjunto de atividades especificamente para elas, centrada sobretudo em jogos tradicionais. No início as crianças estranhavam um pouco a nossa presença, manifestando-se um pouco assustadas, porventura devido aos ruídos dos motores e à nossa indumentária predominantemente negra, mas aos poucos foram aproximando-se de nós e fortaleceu-se uma tal amizade, que hoje ao cruzarem-se connosco são os primeiros a acenar com verdadeiro entusiasmo e alegria. Além disso, nos eventos que levamos a efeito procuramos sempre ter uma componente solidária, que nos permita dentro das nossas possibilidades, facilitar um pouco a vida daqueles que a têm difícil. No último RockFest por exemplo, oferecemos em parceria com outras entidades uma cadeira de rodas a uma senhora com mobilidade reduzida e neste que se inicia hoje iremos continuar com esta aposta solidária. Obviamente que outro dos grandes marcos deste grupo é a realização em 2015 do primeiro festival RockFest… JP – Indiscutivelmente! Como surgiu a ideia de o criar? DS – Nascemos exatamente da necessidade de sermos diferentes em relação aos demais – digo isso sem qualquer sentido pejorativo – e na senda desta diferença surgiu a ideia de realizar um festival de rock até porque o rock é algo muito característico da mística motard e se olharmos bem, nos Açores não existem assim tantos festivais de rock. Em 2015,

resolvemos então assinalar o nosso aniversário com um evento alargado a toda a comunidade e que fosse gratuito – o que desde logo dificulta exponencialmente a sua realização – para dar a conhecer, aproximar e de certo modo contrariar aquela ideia pré-concebida na sociedade em geral de que os motoqueiros são todos uns arruaceiros. Portanto, foi neste enquadramento que surgiu o festival RockFest. JP – Como é realizar anualmente um festival desta envergadura? DS – A maior dificuldade como é natural num evento desta envergadura é angariar as verbas que permitam fazer face às várias despesas inerentes à sua realização, como cachês, deslocações, estadias, etc. Graças ao trabalho que realizamos literalmente durante todo o ano, ou seja, uma edição ainda nem terminou e já estamos a trabalhar na seguinte e, também, às muitas parcerias que têm sido possível fazer, temos conseguido reunir os montantes necessários… JP – E apoios oficiais. Quais são? DS – Temos uma excelente parceria com a Câmara Municipal da Praia Vitória, que têm vindo a revelar-se um parceiro absolutamente indispensável na organização do evento, funcionando como um coorganizador do mesmo. Sem esta prestimosa ajuda a realização do festival era de todo impossível, não tanto pela ajuda financeira, mas sobretudo pelo grande apoio logístico que tem sido decisivo. Desde há 2 anos a esta parte, temos também contado com o apoio financeiro da Direção Regional do Turismo e da Direção Regional de Juventude, que não nos dando verbas significativas acabam por ser importantes, já que partimos a cada edição do zero. (Continua na página seguinte)


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CARTAZ DO IV ROCKFEST São cinco as bandas presentes no IV RockFest, cinco de origem local e uma do continente português. A estas juntam-se três DJ(s) locais sobejamente conhecidos. ON THE ROAD A abrir as hostilidades, hoje, pelas 22:00, sobem ao palco os terceirenses “On The Road”, constituídos pelo Pedro, Artur, Direitinho e a Melissa. Numa abertura que promete ser com “chave de ouro”, a banda formada em 2015, apresenta um vasto reportório à base de covers de clássicos dos anos 70, 80 e 90. PLANO B Assumidamente uma banda diferente, mais tarde, pelas 24:00 atuam os “Plano B”. Fundada em 2013 e já com trabalhos de composição dos seus próprios originais, o Paulo, a Lisete, o Miguel, o Fábio e o Carlos vão por enquanto atuando com um reportório à base de covers de rock alternativo, aqui e acolá com rasgos sonoros da própria banda. GOMA No segundo dia do festival, sábado, 21 de julho, começam por atuar às 22:00, os terceirenses “Goma”. A banda constituída por Leão, Fogy, João, Raúl e o Chico, estreou-se em

2007 e caracteriza-se por uma sonoridade Pop/Rock, com temas originais em português. Assumindo-se livre de qualquer influência de outras bandas, apresentam um reportório composto pela própria banda tendo gravado o seu primeiro álbum de originais em 2009, precisamente intitulado “Goma”.

“Red Floyd”, um DJ de renome da velha guarda, um guitarrista e um saxofonista – para já no anonimato – subirão ao palco e socorrendo-se de vídeos projetados ao fundo no ecrã gigante darão cor a um espetáculo de homenagem à mística banda londrina, pioneira do rock psicadélico e progressista.

ROCK N ROAD Vinda de Benavente, distrito de Santarém, a segunda banda da noite é os “Rock N Road”, a atuar pelas 24:00. Formada em 1995, com mais de 20 anos de experiência nos mais variados festivais, a banda já partilhou palco com grandes nomes da música nacional e internacional, tais como Tara Perdida, Ena Pá 2000 e WrayGunn. Composta por Vítor Castanheira, Nuno Sousa, Pedro Lucas, Nelson Sousa e Guilherme Romano, a banda apresenta um reportório profundamente influenciado pelas sonoridades de bandas de carisma internacional como os Iron Maidon, Deep Purple, Black Sabath, Led Zepelin e Audioslave.

SUNSET PARTY

RED FLOYD Para o final da noite de sábado, madrugada de domingo, às 02:00, realiza-se um espetáculo multimédia de tributo aos Pink Floyd. Intitulados

ENTREVISTA: DANIEL SILVA (Conclusão da página 9)

JP – Qual o balanço que faz das últimas 3 edições? O objetivo de envolver a comunidade foi conseguido? DS – O grupo sente-se perfeitamente satisfeito com as três edições até hoje realizadas, quanto mais não seja por termos conseguido responder financeiramente à sua realização. Com esta 4.ª edição atuaram no RockFest um total de 126 pessoas, é muita gente e envolve muito dinheiro. Acrescente-se que o festival é totalmente gratuito, logo chegar ao fim e saldar todas as contas, como temos feito até agora, já é uma grande vitória e motivo de grande satisfação. Relativamente à aderência da comunidade, considerando as múltiplas ofertas existentes nos fins de semana em que realizamos as edições anteriores, embora não tivéssemos uma adesão maciça acabamos por ter uma boa participação. Este ano, fruto de termos constatado que naquelas datas haviam muitos eventos concorrentes, entre festividades tradicionais e outros novos que ocorreram naquele fim de semana, resolvemos realizar o festival duas semanas mais tarde. JP – Ao longo destas 3 últimas edições

foram muitas as bandas que passaram pelo festival. Existe alguma que queira destacar? DS – Para nós todas as bandas que passaram pelo RockFest merecem o nosso destaque e reconhecimento, no entanto, pelas circunstâncias, gostaria de relembrar a primeira edição [2015] que contou apenas com artistas locais, a banda RIP [Rest In Peace] que abriu o festival e correspondeu ao último concerto ao vivo do saudoso Kit, na altura já debilitado de saúde, mas que não deixou de estar presente. Na edição do ano passado, pela importância da banda e pelo contributo do Kit, nós reservamos o domingo exatamente para fazer um tributo à banda e ao Kit, que pessoalmente me diz muito e penso que a todos da minha geração. JP – O RockFest têm-se realizado na zona da marina da Praia da Vitória, mas este ano, vai até à Praia da Riviera. É um reviver do Musical Açores, que lá se realizou em 1976 e 1977? DS – Começo por dizer que quando o projeto do festival foi pensado e depois apresentado à Câmara da Praia, a localização propostas foi exatamente a Praia da Riviera, mas na altura por razões diversas a oportunidade não se proporcio-

No domingo, 22, último dia do IV RockFest terá lugar pela primeira vez uma “Sunset Party” com início marcado para as 18:00 e uma duração de 6 horas. Pretendendo-se colocar o areal da Riviera a “escaldar”, começa por atuar o Dj “Rush Rap” (Marco Meneses), segue-se às 20:00, o Dj “Gaspar”, finalizando às 22:00 com a atuação do Dj “Rodrigo do Ó”.

JP•

ATENÇÃO!

RIVIERA É RESERVA ECOLÓGICA

Classificada como zona balnear do tipo 2 ao abrigo do Plano de Ordenamento da Orla Costeira, instituído pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 1/2005/A de 15 de fevereiro, a sua utilização pública é condicionada, ao invés das zonas balneares do tipo 1, como é por exemplo a Praia Grande no coração da cidade. Acresce que trata-se de uma zona balnear galardoada com bandeira azul da Europa e pelas dunas existentes no local foi classificada como reserva ecológica, merecendo por via dessa classificação cuidados suplementares na sua utilização. Daniel Silva, do grupo motard “Bravos Açores”, promotor do RockFest apela ao civismo, bom senso e respeito pela natureza de todos os festivaleiros. “Iremos colocar ao longo da praia contentores em abundância, porque apelamos a todos os que nos visitem que os utilizem para colocar o seu lixo, não os lançando indiscriminadamente para o areal, redondezas e mar”, disse. “Apelo também que respeitem as vedações que iremos colocar a delimitar as dunas, por forma as identificar e preservar a sua conservação. Tenham respeito pelo ambiente pois a natureza é património de todos nós e todos somos convocados para a sua preservação”, enfatiza. “Colaborem connosco e sejam responsáveis, pois desta forma estarão a contribuir para que este festival possa singrar e repetir-se neste mesmo local no futuro”, finaliza. JP•

nou e como a Câmara disponha do palco na zona da marina já montado, que vem sendo utilizado aquando das Festas da Praia optou-se por realizar o festival aí. Este ano, à partida haverá algumas alterações na disposição dos palcos das festas e surgiu a oportunidade de fazermos o festival na Praia da Riviera, o que para nós é fantástico por tratar-se do espaço originalmente idealizado. Quanto ao reviver o Musical Açores, salvaguardando tratar-se de outros tempos e de outro tipo de festival, considero que o RockFest tem todas as condições para se vir a afirmar como um dos festivais de referência no panorama de festivais de verão nos Açores. Na verdade a Praia da Vitória tem sido pioneira em grandes festivais de música, dos Blues ao Jazz passando pelo Rock N’ Roll e hoje não têm um único festival musical que se apresente com identidade própria. Entendo portanto, que o RockFest que já vai na 4.ª edição, o que significa que já emadureceu e solidificou raízes tem tudo para singrar e posicionar-se como festival de referência no panorama de festivais musicais colmatando esta lacuna. Digo isto com a plena consciência que precisamos crescer mais, melhorar, ultrapassar algumas barreiras e simultaneamente estar com os pés bem

assentos no chão, para irmos dando os passos à medida das pernas. JP – Quais são as perspetivas para mais um RockFest que abre portas logo mais pelas 22:00? DS – Sinceramente as perspetivas são as melhores. Pensamos que conseguimos arranjar um cartaz [ver notícia] excelente tendo em conta os recursos disponíveis, embora, esta consideração seja muito subjetiva já que fomos nós que alinhamos o cartaz. Este ano para além das bandas, 4 locais e uma de fora, iremos implementar um novo figurino, promovendo uma “Sunset Party”, com 3 Dj(s) consagrados da nossa praça e destinada a um público mais jovem. Por fim e tendo em conta que a Praia da Riviera está classificado como reserva ecológica pelas suas dunas e para além disso ostentar como zona de veraneio a bandeira azul da Europa, apelamos ao civismo, compreensão e colaboração de todos no sentido de colocarem o lixo nos respetivos contentores e não o jogarem indiscriminadamente para o chão. Com este comportamento as pessoas estarão a contribuir para que o RockFest possa vir a singrar no futuro [ver caixa]. JP/Fotos: Rui Sousa•

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TAUROMAQUIA | JP

NA TOURADA DAS QUATRO RIBEIRAS

CAPINHA ANANIAS RECEBE MERECIDA HOMENAGEM Com 57 anos, Ananias Alves vê publicamente reconhecido o seu contributo para a projeção das touradas à corda na ilha Terceira pela página “Toiro D’Ouro”.

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nanias Contente Santos Alves, popular capinha das touradas à corda, foi no passado dia 10 de junho, na freguesia das Quatro Ribeiras, alvo de uma justa homenagem pela página de Facebook “Toiros D’ Ouro”, nas mãos do administrador, Jorge Ganço. Ananias Alves é natural da freguesia de São Mateus, concelho de Angra do Heroísmo onde nasceu a 18 de julho de 1961. Com 57 anos de idade, foi e sempre será um fervoroso apaixonado da festa taurina, tendo-se revelado uma figura incontornável das touradas à corda da ilha Terceira, pelo estilo peculiar, pessoal e inconfundível que sempre imprimiu aos muitos “passos” que por largos anos desafiou e testou a bravura do toiro que tinha pela frente nos mais diversos arraiais por esta ilha fora. “Com o teu exemplo, afirmaste-te como um elo de ligação de várias gerações de aficionados: És uma referência para os nossos jovens e um mar de saudade para os nossos idoPUB

ANANIAS ALVES foi homenageado pela página “Toiro D’Ouro” por ser “história da própria história da tauromaquia terceirense”, afirmou Jorge Ganço. sos”, disse Jorge Ganço enquanto entregava a recordação. “És história da própria história da

tauromaquia terceirense e porque o valor e a importância deve ser reconhecida em vida, em nome da página ‘Toiro D’Ouro’ e de todo o povo

aficionado da Terceira, prestamos-te esta simples, mas sentida homenagem. Obrigado por tudo!”, concluiu. JP•


JP | EDITORIAL & OPINIÃO

E DITORIAL Autonomia Amordaçada pelo Neocolonialismo de Lisboa

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“VOLTANDO À VACA FRIA” (IX)

DUAS DATAS… DOIS DIAS, O 25 DE ABRIL… E, O 1.º DE MAIO (continuação) Mais do que nunca uma Revisão da Constituição deveria ser objecto de uma “MANIF”

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estejou-se este ano o dia 10 de Junho, primeiramente em Ponta Delgada, cerimónias essas presididas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. As comemorações do dia de Portugal, de Camões e das comunidades lusas espalhadas pelo mundo, tais festividades terminaram em Boston, nos Estados Unidos da América do Norte, onde estão radicados um importante número de Açorianos. Nestas comemorações que decorreram em Ponta Delgada, não foi permitida uma manifestação de um grupo de independentistas Açorianos, que se queriam manifestar de forma pacífica, no Largo da Matriz e na Praça Gonçalo Velho, naquela cidade que acolheu as festividades do 10 de Junho, assim como também não foi permitido aqueles manifestantes exibirem bandeiras dos Açores. Esta é sem dúvida, uma atitude extremamente colonialista e antidemocrática que merece o nosso veemente repúdio. Daí que tem toda a razão, Paulo Estêvão, deputado regional pelo Partido Popular Monárquico na Assembleia Legislativa Regional, ao defender que “o neocolonialismo tem e deve acabar nos Açores”, e é pena que tal posição não tenha sido defendida por muitos mais responsáveis políticos regionais, pois estamos saturados dos centralistas arrogantes e sedeados no Terreiro do Paço, a bem da nossa Autonomia Política e Administrativa e em prol da consolidação da democracia nas nossas Regiões Autónomas e inclusive no País, porque a democracia não é só um culto à liberdade, é também uma forma de respeitarmos e aceitarmos as diferentes opiniões políticas, contra a intolerância e contra o chauvinismo. Isto é, sem dúvida alguma, um verdadeiro ataque à liberdade de manifestação, em pleno século XXI, num “contexto político cada vez mais insuportável de restrições ao livre direito de associação dos cidadãos por parte das autoridades portuguesas nos Açores”. Não se compreende o porquê da proibição de partidos regionais “e a perseguição policial de todos aqueles que pretendem manifestar-se pacificamente pela independência dos Açores, é intolerável no quadro das liberdades políticas garantidas na União Europeia”. Sabemos que é uma realidade que não pode ser escamoteada existirem cada vez mais arquipélagos independentes por este mundo fora. A Republica Portuguesa, ao invés do que se passa na Europa democrática é um dos países mais neocolonialista e centralista e nunca teria autorizado autonomia politica e administrativa dos Açores se não tivesse sucedido a manifestação do 6 de Junho de 1975, promovida pela Frente de Libertação dos Açores, e foi perante a “ameaça independentista e o contexto de desagregação imperial em que se encontrava Portugal após o 25 de Abril”, porque para os centralistas portugueses seria um caos para Portugal perderem os Açores, pois perdiam uma imensa área marítima, que contem um valor incalculável, vendo assim reduzido a sua influencia internacional, que pretende exercer no seio das Nações Unidas e “o sonho messiânico do Quinto Império ficaria finalmente sepultado. No quadro de uma Península Ibérica em desagregação política, progressiva, Portugal passaria a ser apenas um - e não o maior - dos Estados taifas que resultarão do processo de desagregação do Estado Espanhol”. Assim sendo, resulta suficientemente claro, e esperamos e temos a confiança que aquando de uma futura revisão constitucional, tal situação seja ultrapassada, permitindo-se o surgimento de partidos regionais, aliás o que sucede na maioria dos países Europeus, daí que não devemos de descorar tais princípios ideais para que a autonomia do Arquipélago dos Açores seja efectivamente democrática e progressiva, num quadro que defenda a verdadeira essência da democracia, tão cara ao velho continente. O Diretor Sebastião Lima diretor@jornaldapraia.com •

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José Ventura*

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omo prometido, damos continuidade ao nosso último texto, complementando-o com a referência ao 1º de Maio, chamado também, o “Dia do Trabalhador”. Trabalhador(a), adjetivo e ou substantivo que em termo amplo inclui todo aquele ou aquela que vive do seu trabalho e, já se chamou de escravo, servo, artesão e de proletário. Hoje, o trabalhador é legalmente (formalmente) considerado, como todo aquele que presta serviços a terceiros baseados em contratos, com salário acordado e, direitos previstos em lei. 1 de Maio de 1886, numa das maiores cidades dos EUA, Chicago, centenas de milhares de operários (refere a história 500.000) iniciaram uma luta histórica, realizando uma greve geral em todos os Estados Unidos, reivindicando a redução do tempo de trabalho pago, para oito horas por dia de trabalho diário. Estava dado como se diz na gíria, “o pontapé de saída” para a proclamação do “Dia Internacional do Trabalhador” Proclamação essa anunciada no Congresso Operário Internacional reunido em Paris, a 14 de julho de 1989, declarando-se o dia 1º de Maio como o seu dia oficial. A partir daquele dia, passou a ser comemorado nos países europeus e noutros países do mundo, cujo lema foi e é a luta pelos direitos laborais e a melhoria das condições de vida dos trabalhadores independentemente do seu género (masculino ou feminino). Referir que ao contrário da maioria dos países onde se celebra o Dia Internacional do Trabalhador, os EUA celebram-o como um dos principais feriados. O “Dia do Trabalho” Labor Day. na primeira segunda-feira de setembro, e é uma homenagem aos trabalhadores que lutaram pelos seus direitos no país e em todo o mundo. No que refere a Portugal, os trabalhadores assinalaram o 1.º de Maio PUB

logo em 1890, o primeiro ano da sua realização internacional. Celebrações limitadas a alguns piqueniques de confraternização, um ou outro discurso pelo meio, pronunciado por algum mais atrevido, uma visita ao cemitério em homenagem aos operários e ativistas caídos na luta pelos seus direitos laborais. Com algumas alterações assumidas pelo sindicalismo ao longo da I República transformou-se o mesmo, reivindicativo, consolidado e ampliado. O 1.º de Maio cresce na sua acção. No decorrer de 1919 e depois de alguma luta, foi consagrado o objectivo principal da manifestação de Chicago, trabalhadores portugueses, veem conquistada e consagrada na lei a jornada de oito horas para os trabalhadores do comércio e da indústria. Marco histórico no movimento operário português, recordaremos, as revoltas dos trabalhadores agrícolas alentejanos no 1.º de Maio de 1.962. Mais de 200 mil trabalhadores agrícolas, trabalhavam de sol a sol, nas acções de protesto realizadas, impondo aos agrários e ao governo de Salazar a jornada de oito horas de trabalho diário. Objectivo primeiro da Manifestação de Chicago 1886. Mesmo no Estado Novo, os portugueses conseguem tornear os obstáculos do regime à expressão das liberdades, 1969 é ano de greves e manifestações. Apesar das proibições e da repressão, houve manifestações de diversos sectores socio económicos. No dia 1 de Maio, do mesmo ano, nos distritos de Lisboa, Porto e Setúbal, contaram-se entre os 100.000 manifestantes. Será bom relembrar que a Doutrina Social da Igreja esteve muito presente na defesa dos trabalhadores através dos movimentos operários da então Acção Católica, nomeadamente a JAC/ JOC, LAC/LOC. De referir o 1.º de Maio como 1974 como o mais extraordinário realizado até hoje, em Portugal. Fruto da Revolução dos Cravos e da “Liberdade” anunciada., ganhando o estatuto de feriado nacional. Conforme referido no artigo anterior, no texto constitucional, de 1976 tal como a Liberdade nele consagrado, sobre “direitos e liberdades individuais”, no Capitulo III - artigo 53º e seguintes, numera vários direitos,

liberdades e garantias aos trabalhadores; O direito à organização sindical; O direito ao trabalho, à segurança social e à protecção da saúde; O direito à educação. Perante tal quadro de direitos, enquadrados no contexto de Liberdade até à data desconhecida e, esquecendo que a “minha liberdade acaba quando a de outro começa” que liberdade não é libertinagem e, os “direitos”, presumem “deveres”, entrou-se num desvario de os acções por vezes violentas e, amorais nos dois extremos da sociedade quanto aos empregadores e aos trabalhadores e que ainda hoje sucede entrando-se num contexto revolucionário constante a quem ninguém favorece. Nem ao empregador quer público (estado) quer empresarial (o privado). Encontrando-mos numa encruzilhada de desentendimento com um batalhão de Ordens Profissionais, de Sindicatos denominados de Livres, Democráticos. Centrais de Direita e de Esquerda, Associações de toda a ordem na defesa disto e daquilo. É razão para se reafirmar o ditado que diz reza: “em casa que não há pão todos ralham e ninguém tem razão” Porque o desastre é completo e, a administração dessa média empresa que é Portugal, está em via de falência, porque não gera riqueza, mas sim, cada vez mais pobreza com a instabilidade do emprego, e o ficto no quanto pode reter dos seus contribuintes. Fazendo com a falta de justiça, crescer o fosso entre os pobres e os ricos, eliminando aos poucos a chamada classe média. Gratificando os corruptos e os criminosos, fomentando a imigração em prejuízo do que também foi prometido em relação à saúde e ao ensino. Que mais acrescentar? Fomos longos e “chatos”. Perdoem-nos os leitores mas, a “Victória, a Liberdade os nossos Direitos, associados aos nossos Deveres, estão intimamente ligados a não ter medo de dizer o que realmente se sente”. Mais do que nunca uma Revisão da Constituição deveria ser objecto de uma “MANIF” Por opção, o autor não respeita o acordo ortográfico. (*)


2018.07.20

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OPINIÃO | JP

CRÓNICA DO TEMPO QUE PASSA (XXXII)

UMA CIDADE HISTÓRICA E DE CULTURA Deambular pelas suas ruas típicas e estreitas é sedução e enlevo... ça. Outra casa a visitar obrigatoriamente é a do pintor Maurice Denis.

A

António Neves Leal

minha recente digressão a França foi menos demorada em Saint-Germain-en-Laye do que o previsto. Nos três dias que lá estivemos, recordámos uma cidade cheia de encanto, figurando entre as cidades históricas mais interessantes dos arredores de Paris, de que dista 15 quilómetros. Ela foi cidade favorita de numerosos reis de França desde Louis VI, o Gordo (séc. XII) e local do nascimento, em 1643, de Louis XIV, o Grande, conhecido como o Rei-Sol. Deambular pelas suas ruas típicas e estreitas é sedução e enlevo. Os turistas e habitantes encontram nelas uma forte herança medieval, bem conservada, e os mais variados motivos de interesse artístico e histórico. O seu velho Castelo, um ex-libris do burgo, está classificado como Museu de Arqueologia nacional, sendo considerado, no seu género, um dos mais ricos da Europa. Após a sua visita, não se pode deixar de ir aos grandiosos e lindos jardins, onde o visitante pode passar momentos inesquecíveis, continuando a andar pela célebre e gigantesca esplanada, desenhada por André le Nôtre, donde se tem uma vista panorâmica impressionante sobre o vale do Sena, avistando-se ao longe os altos prédios da zona oeste da cidade-luz. Indo pelas suas artérias, descobrimos casas de homens célebres como a do insigne compositor Claude Debussy, nascido em 1862, grande e influente amigo do maestro Francisco Lacerda, açoriano-jorgense, nascido na Ribeira Seca, concelho da Calheta, o qual se distinguiu como chefe de orquestra em Fran-

Ao calcorrearmos a cidade onde esteve instalado desde 1952 o quartel-general das Forças Aliadas na Europa até 1966, e a colina do Liceu Internacional, outro dos seus ex-libris, podemos observar vários hotéis particulares, outrora antigas mansões ocupadas no séc. XVII por famílias aristocráticas, ou aproveitar para entrar nalguns dos seus cerca de 800 locais de comércio, onde o forasteiro pode comprar e gastar o que bem entender. Também não se deve deixar de ir a dois lugares fundamentais para a avaliação do nível cívico da população de uma cidade qualquer: a igreja e a praça do mercado. A Igreja de Saint-Germain, cuja fachada muito se assemelha à da Madalena de Paris, merece uma visita demorada, assim como a Praça do Mercado com as suas arcadas que fazem lembrar Évora. É um lugar incontornável da cidade, com a sua fonte à volta da qual se organizam inúmeras manifestações de diversa índole. Nos últimos quarenta anos, a urbe desenvolveu-se extraordinariamente devido aos fluxos de turistas que para lá têm convergido. Hoje, é uma cidade verde, animada e agradável, onde apetece viver, mas cara para quem lá quiser habitar. Contudo, há oferta diversificada para todos os gostos desde a gastronomia ao sector imobiliário. A sua actividade cultural, concentrado sobretudo no fim-de-semana, é variada e aliciante, como se pode ver pelos cartazes afixados ou anunciados, com destaque, pelo Journal de Saint-Germain, distribuído quinzenal e gratuitamente pela Câmara Municipal a todos os munícipes, e também disponível a qualquer cidadão através da internet. Atendendo a motivos muito gratificantes, estive uma vez mais em França, e não me levem a mal que faça uma pequena incursão, mais voltada para os motivos a que lá me levaram: assuntos de ensino, literatura, e encon-

tros com pessoas especiais. Assim, não podia deixar de falar do meu livro Varanda de Paris, junto de amigos, colegas e instituições a que estive outrora ligado. Dos primeiros, não quero deixar de citar a família franco-portuguesa da Marie Suzanne e Cindo Simões e a franco-alemã da Martha e do Thomas Clément, que me receberam e à minha mulher, principescamente e com reiterado carinho, nas duas únicas noites disponíveis para o convívio, antes do dia da Festa do 20º aniversário da Secção Portuguesa no Colégio Pierre e Marie Curie, da cidade de Le Pecq, paredes-meias com a de Saint-Germain. Na visita ao Liceu Internacional, a sua Reitora, o Director da Secção Portuguesa e a sua Secretária foram inexcedíveis na gentileza, disponibilidade e amizade para comigo e minha mulher. Foi sorte e um privilégio termos sido acolhidos por gente tão encantadora. O mesmo se poderá dizer da recepção no Colégio PMC, e da afabilidade dos pais, colegas e alunos que, embora não me conhecendo na sua esmagadora maioria, primaram pela hospitalidade, amizade, e no saber receber. Isto ficou patente na maneira elegante e artística como prepararam o cocktail da festa, apetitoso, esmerado, variado e abundante. E se os contactos pessoais foram muito calorosos, como acima se regista, uma palavra também de agradecimento é devida pela forma como fomos acolhidos noutras instituições visitadas: a Biblioteca Pública de Saint-Germain, a Câmara Municipal, a Casa-museu de Claude Debussy, o Velho Castelo, e duas livrarias. Em todas, fomos tratados com gentileza e apreço, atitudes bem diferentes das que tenho encontrado, algumas vezes, entre conterrâneos açorianos. A forma simpática de apreciar e eventualmente vender o livro «Varanda de Paris» foi totalmente diferente da que tive numa de S. Miguel, nos Açores, como foi denunciado há um ano, na minha página de Facebook, e

em mensagens privadas que remeti a catorze amigos micaelenses, dos quais, estranhamente, apenas dois me responderam. Os restantes certamente terão ficado envergonhados com o que leram. Gostaria de frisar, ainda, a forma como fomos recebidos na Câmara Municipal de Saint-Germain, cidade com 42 mil habitantes, detentora de nobres títulos honoríficos, como o de cidade imperial, e dotada de grande peso histórico. O seu Presidente, Arnaud Pericard, antigo estudante do Liceu Internacional, poucos dias após ter lido o meu livro, teve a amabilidade de me enviar as suas referências abonatórias, ao contrário de um membro de certo governo que, apesar de ter convivido longamente comigo em França, nem sequer se dignou enviar, passados catorze meses, um e-mail, acusando a recepção do livro oferecido, ou um simples “obrigado”, através do mesmo portador idóneo, a que eu recorrera. Se tal postura é pouco tolerável em indivíduos sem civismo, mais grave será em pessoas investidas em cargos políticos de responsabilidade. Certamente, esse governante deve considerar-se muito importante, intocável e gostar de ter o rei na barriga, como diz o nosso povo. Ora que isso lhe faça, “Excelência”, muito bom proveito. •

NOTA EDITORIAL Na “Crónica do Tempo que Passa” (31), publicada na última quinzena (524), por lapso não detetado na revisão, o 6.º parágrafo impresso não consta do texto original. Ao autor e aos leitores, pelo sucedido o coordenador de edição apresenta desculpas. •

A ÁFRICA “PORTUGUESA” Como foi possível uma pessoa tão inteligente como ele [Salazar] não ter visto que não havia uma solução militar para aquela guerra?

Silveira de Brito

F

ui sócio do Circulo de Leitores durante anos, mas desisti, porque havia meses que não aparecia nada que me interessasse e não gosto de comprar livros a metro, como dizia Vitorino Nemésio. Dessa época ficaram numa estante dois volumes com o título Os Anos da Guerra. 1961-1975. Os Portugueses em África: Crónica, Ficção e História, organizados pelo João de Melo. Não li muita literatura sobre a Guerra Colonial. Lembro-me de ler Os Cus de Judas, do António Lobo Antunes, Braço Tatuado, do Cristóvão de Aguiar e pouco mais. Não sei explicar

este meu afastamento, pois que a guerra nas antigas colónias bateu cedo à porta de minha casa. Meu irmão Jorge foi mobilizado para Angola na primeira companhia formada no Batalhão de Infantaria N.º 17 (hoje Regimento de Guarnição N.º 1), de Angra do Heroísmo, em 1961. Propôs uma troca a um camarada de especialidade que, por ser menos classificado, tinha sido mobilizado; o rapaz ficou espantado com a proposta e perguntou-lhe se queria alguma coisa em troca; a resposta foi “não”. Antes de embarcar o Jorge disse-me: “isto vai ser guerra para durar; prefiro ir já para ficar despachado e organizar a vida”. Quando, em 1963, o meu irmão estava a chegar de Angola, o camarada com quem tinha feito a troca estava a embarcar para a guerra. Há dias, olhando para a estante onde estavam os dois volumes de Os Portugueses em África, resolvi pegar-lhes. Li bastantes textos, não todos; fiquei pelos que fazem o enquadramento histórico, que são do Joaquim Vieira; textos bastante bons: boa informação, credibilidade e um conhecimento vasto

da realidade. A leitura dos restantes textos limitou-se a autores açorianos, como o Álamo Oliveira, José Martins Garcia, Emanuel Felix e João de Melo. Também li alguns outros de não açorianos: António Lobo Antunes, Mário de Carvalho, Lídia Jorge, Pepetela e mais um ou outro. Fiz tropa em Moçambique em 1968-1970, a primeira metade da comissão em Vila Cabral, actual Lichinga, numa companhia de engenharia e a segunda, no Batalhão de Transmissões, em Lourenço Marques, hoje Maputo. Tive sorte: durante a minha estadia no Niassa, verificou-se um abrandamento muito acentuado da actividade operacional da guerrilha naquela Província, abrandamento que sempre me intrigou e só compreendi quando vi a série da RTP “A Guerra”, da responsabilidade do Joaquim Furtado; nela um responsável da Frelimo explicou que, em 68-69, o Movimento diminuiu drasticamente as acções dos guerrilheiros na região do Niassa porque, devido à escassez de população, era difícil dar apoio aos operacionais. Em termos de guerra, es-

távamos longe da época em que foi Comandante Chefe o General Kaulza de Arriaga, que pôs de pé a operação “Nó Górdio”. Não vivi, portanto, a guerra que encontrei nos livros organizados pelo João de Melo; conhecia-a de estórias que tinha ouvido. Após a leitura, fiquei ainda mais perplexo com o que se passou. Em primeiro lugar, como foi possível o país ter suportado durante tanto tempo a teimosia de Oliveira Salazar? Como foi possível uma pessoa tão inteligente como ele não ter visto que não havia uma solução militar para aquela guerra? Em segundo lugar, como foi possível aos militares do quadro permanente suportarem a guerra durante tanto tempo, quando tinham boa informação (via-se pelos manuais fornecidos na instrução aos futuros oficiais milicianos) e sabiam, portanto, que não havia solução militar? Enfim… a minha leitura só me mostrou com total nitidez a tragédia do colonialismo e da descolonização… tragédia que continua. •


JP | MARÉ DE POESIA

2018.07.20 Para alem de poeta improvisador, Paulo Ávila foi secretário da Junta de Freguesia de Santa Cruz da Praia da Vitória de 1990 a 1994, vereador da Câmara Municipal da Praia da Vitória de 1994 a 2002 e mesário da Santa Casa da Misericórdia da Praia Vitória durante 28 anos, atualmente é presidente da Delegação Cruz Vermelha da Praia da Vitória.

P

aulo Jorge Martins Ávila, natural das Quatro Ribeiras, concelho de Praia da Vitória, reside desde 1983 na rua dos Pastos, na freguesia citadina de Santa Cruz. Poeta e improvisador desde 1977, já publicou dois livros: “Sou Poeta” e “Improvisos e Escritos”.

Desde há sete anos que envia semanalmente para a rádio “Voz dos Açores”, radicada na Califórnia, Estados Unidos da América, declamações de poemas improvisados sobre várias temáticas, os quais são recebidos pelos nossos emigrantes com muito agrado. O programa vai para o ar aos sábados às 20:00 dos Açores. Nesta edição de Maré de Poesia presta homenagem à sua mãe que recentemente partiu. •

L

eonel Machado (também conhecido por Leonel Purple), embora radicado em Sintra há mais de 30 anos, nasceu, como ele próprio escreveu, na histórica Ilha Terceira, Açores, concelho da Praia da Vitória, a 30 de março de 1958, afirmando com toda a convicção, “sou praiense com alma açoriana, desde o dia que nasci”.

No Silêncio da Noite Jamais me consideraria poeta, Se nunca tivesse escrito poesia… Mas os versos são a minha vida, Força e alento do meu dia a dia. Em mim, a poesia é um estado de espírito, Reflexo do que me vai na alma e coração, Sussurro da voz que esta noite me fala, visita, Descendo sobre mim a mais divina inspiração!

Leonel Purple in “Silêncio da Noite”

Eu vou partir para longe … Vou para longe, vou partir, E hoje quero viajar no tempo. Na bagagem, trago memórias, E embarco na força do pensamento. Eu vou-me embora, vou partir, E sem nunca chegar a sair daqui… Comigo só levo o pouco que me resta, Do muito que eu tanto escrevi. Estou com muita pressa, vou partir, E peço-vos que me deixeis a porta aberta, Para que todo o mundo entre e testifique Que entre vós aqui viveu um poeta!

A ÚLTIMA FLOR DO JARDIM MURCHOU CHEGOU A SUA HORA DE PARTIR MUITAS SAUDADES ME DEIXOU O DESTINO TINHA QUE CUMPRIR ASSIM PARTIU A MINHA MÃE UMA ALMA QUE NÃO DESESPERA FELIZMENTE NO CÉU JÁ TEM DOIS ANJOS À SUA ESPERA AS MINHAS QUERIDAS IRMÃS CHAMADAS POR DEUS EM BÉBÉ. PÁSSAROS CHILRREANDO NAS MANHÃS SOBRE A FRESCA BRISA DA FÉ. FICAM OS IRMÃOS DE SANGUE MEUS PRIMOS DAS VEIAS FRIAS POR ISSO NINGUÉM SE ZANGUE ESTA VIDA SÃO SÓ DOIS DIAS. MEU PAI LEVOU METADE DE MIM. E DEIXOU-ME A MINHA MÃE TUDO TEM PRINCIPIO E FIM A OUTRA METADE PARTIU TAMBÉM. RESTA-ME MEU FILHO E NORA SOGRA E A MINHA MULHER TODOS TEMOS A NOSSA HORA SEJA COMO DEUS QUIZER AO DEUS PROFUNDO E MANSO A MARIA LINDO OLHAR QUE TEM PEÇO O MAIS ETERNO DESCANSO E PAZ À ALMA `MINHA MÃE. O FILHO PAULO JORGE

À MINHA MÃE... Mãe dos meus brilhos, Mãe dos meus mantos, Mãe de cinco filhos, Mãe dos meus encantos. Mãe dos tempos antigos, Mãe dos meus espelhos, Mãe de trabalhos fadigos, Mãe de bons conselhos. Mãe da luz de petróleo, Mãe do fogareiro, Mãe da lenha e óleo Mãe do cheiro do candeeiro. Mãe dos remendos nas calças, Mãe da cozedura do pão, Mãe do loiro, hortelã e salsas Mãe da ferrugem do fogão. Mãe das rugas da idade, Mãe sofrida do trabalho, Mãe da pia da antiguidade, Mãe da açorda de alho. Mãe do sorriso já velhinha, Mãe cansada mas bela, Mãe extremosa e minha Mãe gosto muito dela. Mãe do trabalho fosses, Mãe a sempre mãe, Mãe dos beijos doces, Mãe só ela a que tem. Mãe que me criastes, Mãe que me educou, Mãe que me alimentastes, Mãe fez o homem que sou. Mãe da minha juventude, Mãe da minha estimação, Mãe tenhas sempre saúde, Mãe do meu coração. Mãe do meu apreço, Mãe do amor sem fim, Mãe muito agradeço, Mãe tanto fizestes por mim. Mãe que eu vi a sofrer, Mãe para nos criar, Mãe é o meu dever, Mãe de ti cuidar. Mãe por tudo dado, Mãe do lindo jasmim, Mãe muito obrigado, Mãe tanto fizestes por mim.

Leonel Machado in “Historial Poético”

PARTICIPE

Envio os seus poemas maredepoesia@jornaldapraia.com

Paulo Ávila

FICHA TÉCNICA: COORDENAÇÃO: Carla Félix COLABORADORES: Paulo Ávila; Leonel Machado/Purple; maredepoesia@jornaldapraia.com

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2018.07.20

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INFORMAÇÃO | JP São Sebastião Tourada não tradicional Humberto Filipe 21:00 – 23:00 28 JUL Largo da Fonte São Sebastião Tourada não tradicional Casa Agrícola José Albino Fernandes 18:30 – 21:00

20 JUL Refugo Porto Judeu Tourada tradicional Ezequiel Rodrigues 18:30 – 21:00 Rua da Igreja Ribeirinha Tourada não tradicional José Gaspar Pai; José Gaspar Filho; Manuel João Rocha 18:30 – 21:00 21 JUL Rua Manuel Vieira Santa Bárbara Tourada tradicional Humberto Filipe 18:30 – 21:00 Rua da Igreja Ribeirinha Tourada tradicional José Gaspar Pai; José Gaspar Filho; Manuel João Rocha 18:30 – 21:00 Rua de Baixo São Pedro Tourada não tradicional Casa Agrícola José Albino Fernandes 18:30 – 21:00 Terreiro Porto Judeu Tourada tradicional Casa Agrícola José Albino Fernandes 18:30 – 21:00 22 JUL Largo de Santo António Porto Judeu Tourada tradicional Humberto Filipe 18:30 – 21:00 23 JUL Largo da Fonte São Sebastião Tourada tradicional Rego Botelho 18:30 – 21:00 Conjunto Habitacional Terra Chã Tourada não tradicional Eliseu Gomes 18:30 – 21:00 24 JUL Largo da Fonte São Sebastião Tourada tradicional Informação de ganadero indisponível 18:30 – 21:00 27 JUL Caminho da Vila Porto Judeu Tourada não tradicional Francisco Pereira, Ezequiel Rodrigues, Humberto Filipe e Genoveva Tristão 18:30 – 21:00 Largo da Fonte

HOJE (20/07) Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

HOJE (20/07)

SÁBADO (21/07)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

DOMINGO (22/07)

29 JUL Largo da Fonte São Sebastião Tourada não tradicional Rego Botelho 18:30 – 21:00

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

SEGUNDA (23/07)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

31 JUL Largo da Igreja Fontinhas Tourada tradicional Francisco Pereira 18h30 – 21h00 Cruz dos Regatos São Bartolomeu Tourada tradicional Ezequiel Rodrigues 18h30 – 21h00

TERÇA (24/07)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

QUARTA (25/07)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

01 AGO Largo da Igreja Fontinhas Tourada tradicional Casa Agrícola José Albino Fernandes 18h30 – 21h00 02 AGO Santo António Fontinhas Tourada tradicional Humberto Filipe 18h30 – 21h00 Fontes: CMAH e CMPV NOTA: Sujeito a alterações

CONCERTO ANGRA EM FESTA - MASTER CLASS VIOLINO Local: Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo Hora: 21H00

SÁBADO (21/07)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

SEXTA (27/07)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

SÁBADO (28/07)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

DOMINGO (29/07)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

SEGUNDA (30/07)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

MISSAS DOMINICAIS SÁBADOS

QUINTA (26/07)

NO CONCELHO

TERÇA (31/07)

15:30 - Lajes; 16:00 - Fontinhas (1) ; 16:30 - Casa da Ribeira; 17:00 - Cabo da Praia; 17:30 - Matriz Sta. Cruz; 17:30 - Vila Nova; 18:00 - Fontinhas (2); 18:00 - São Brás; 18:00 - Porto Martins; 18:00 - Sta Luzia, BNS Fátima; 18:00 - Quatro Ribeiras; 19:00 - Lajes; 19:00 - Agualva; 19:00 - Santa Rita; 19:00 - Fonte do Bastardo; 19:30 - Biscoitos, IC Maria (3); 19:30 - Bis-

coitos - São Pedro (4) Enquanto há catequese; (2) Quando não há catequese; (3) 1.º e 2.º sábados; (4) 3.º e 4.º sábados (1)

DOMINGOS

08:30 - São Brás; 09:00 - Vila Nova, ENS Ajuda; 10:00 - Lajes, Ermida Cabouco; 10:00 - Cabo da Praia (1); 10:00 - Biscoitos, S Pedro; 10:30 - Agualva; 10:30 Casa Ribeira (1); 10:30 - Santa Rita 11:00 - Lajes; 11:00 - São Brás; 11:00 Cabo da Praia (2); 11:00 - Porto Martins; 11:00 - Casa da Ribeira (2); 11:00 - Biscoitos, IC Maria; 12:00 - Vila Nova; 12:00 - Fontinhas; 12:00 - Matriz Sta. Cruz (1); 12:00 - Quatro Ribeiras; 12:00 - Sta Luzia; 12:15 - Fonte Bastardo; 12:30 - Ma-

triz Sta. Cruz (2); 13:00 - Lajes, ES Santiago; 19:00 - Lajes; 19:00 - Matriz Sta. Cruz (3); 20:00 - Matriz Sta. Cruz (4)) (1) Missas com coroação; (2) Missas sem coroação; (3) De outubro a junho; (4) De julho a setembro

CONCERTO ANGRA EM FESTA - ANIMAÇÃO DE RUA Local: Ruas de Angra Hora: 10H00

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

QUARTA (01/08)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

CONCERTO ANGRA EM FESTA - SABES CANTAR KARAOKE Local: Largo Prior do Crato Hora: 22H00

QUINTA (02/08)

DOMINGO (22/07)

Posto da Misericórdia ( 295 908 315 SEG a SEX: 09:00-13:00 / 13:00-18:00 SÁB: 09:00-12:00 / 13:00-17:00

CONCERTO ANGRA EM FESTA - GRUPO DE BAILE À ANTIGA DO POSTO SANTO Local: Praça Velha Hora: 22H00

QUINTA (26/07) CONCERTO ANGRA EM FESTA - CITY 2020 ANDRÉ GUNKO E OLGA LYSA Local: Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo Hora: 17H00 NE: Publicite o seu evento na nossa agenda cultural. Envie toda a informação para: geral@jornaldapraia.com.

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

BISCOITOS

VILA DAS LAJES Farmácia Andrade Rua Dr. Adriano Paim, 142-A ( 295 902 201 SEG a SEX: 09:00-18:30 SÁB: 09:00-12:30

VILA NOVA Farmácia Andrade Caminho Abrigada ( 295 902 201 SEG a SEX: 09:00-12:00 / 16:00-18:00 Farmácias de serviço na cidade da Praia da Vitória, atualizadas diáriamente, em: www.jornaldapraia.com


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