Jornal da Praia | 0523 | 22.06.2018

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QUINZENA

22.06 A 05.07.2018 Diretor: Sebastião Lima Diretor-Adjunto: Francisco Ferreira

Nº: 523 | Ano: XXXVI | 2018.06.22 | € 1,00

QUINZENÁRIO ILHÉU - RUA CIDADE DE ARTESIA - 9760-586 PRAIA DA VITÓRIA - ILHA TERCEIRA - AÇORES

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BAIRRO DE SANTA RITA

MORADORES EXIGEM RESPOSTAS

Proprietários das casas recebem ações de despejo dos donos dos terrenos, num diferendo que já se arrasta nos tribunais há anos. Em manifestação os moradores reivindicam o direito constitucional à habitação, reclamam a intervenção do Governo dos Açores e exigem respostas para um problema que afeta 99 famílias. BE/Açores quer impedir novas ações de despejo e anuncia iniciativa parlamentar para intervenção imediata do Governo Regional.

MARCO MONTEIRO

GOVERNO PRECISA DECIDIR O QUE QUER PARA O FUTEBOL AÇORIANO DESTAQUE | P. 8, 9 E 10

NO CONCELHO | P. 3

A SALSA DO NOSSO FUTURO A título simbólico, sugere-se a colocação de vasos com salsa na rua de Jesus e praça do município. OPINIÃO | P. 2 PUB

PROTEGER VIDAS NÃO É SÓ UMA HONRA, É O NOSSO MODO DE VIDA FORÇAS ARMADAS | P. 5

DIA DA REGIÃO

INSÍGNIAS HONORÍFICAS AÇORIANAS AUTONOMIA | P. 7


JP | OPINIÃO

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A SALSA DO NOSSO FUTURO É salutar pretender reverter a situação que hoje se vive nas ruas centrais e praça principal do burgo praiense, mas, em face da força do liberalismo económico que nos subjuga e nos torna consumidores compulsivos e contra a qual é quase impossível lutar, o mais certo é que tal pretensão não passe de um sonho lindo.

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ara que se possa afirmar que a Vila da Praia da Vitória era melhor do que a cidade com o mesmo nome é preciso acrescentar que as circunstâncias de então não são as de hoje e, também, ter em conta a variação de intensidade da atividade sócio económica que nos anos imediatamente anteriores à elevação a cidade já revelava uma redução importante. O modelo sócio económico evoluiu sempre, desde a primeira fixação de população até aos anos mais recentes, sendo que a velocidade dessa evolução tem vindo a aumentar vertiginosamente. Por toda a parte foi e é assim. É salutar pretender reverter a si-

tuação que hoje se vive nas ruas centrais e praça principal do burgo praiense, mas, em face da força do liberalismo económico que nos subjuga e nos torna consumidores compulsivos e contra a qual é quase impossível lutar, o mais certo é que tal pretensão não passe de um sonho lindo. Não sabemos, quando as autarquias, por quase todo o país, decidiram ‘oferecer’ vantagens aos investidores que apostaram na instalação das chamadas grandes superfícies, se os seus edis tiveram a noção das consequências da sua decisão. Provavelmente justificaram-na com a criação de uns quantos postos de trabalho, mas não calcularam o número de quantos seriam perdidos.

Outros fatores, já não diretamente da responsabilidade das autarquias, também conduziram à atual situação. E, quando o poder autárquico se deu conta da destruição da vida cívica no centro histórico, avançou com obras apelidadas de requalificação, com repavimentações de ruas e praças e proibições de circulação automóvel, como se o afastamento das pessoas se tivesse ficado a dever às imperfeições da calçada ou ao demasiado trânsito automóvel. É verdade que as ruas da Praia não têm pessoas. Mas as pessoas que não estão nas ruas estão nos corredores ladeados de prateleiras cheias de poderes de produtos, alguns dos

quais nem sequer se sabe para que servem. E que pensar quando se vê uma pessoa a comprar, nessas grandes superfícies, um raminho de salsa, essa tradicional plantinha de uso culinário e terapêutico que crescia sem pedir licença? Já não se pode voltar atrás. Remediar? Talvez. É bom conversar, trocar ideias, traçar estratégias, para vencer a inércia habitual que nos leva a ficar à espera que outrem faça o que nos compete a nós fazer. A título simbólico, sugere-se a colocação de vasos com salsa na rua de Jesus e praça do município. J. Rêgo •

NOTAS D’O RAPAZ DAS ILHAS (VIII)

EUTANÁSIA CHUMBADA. ACHO BEM OU MAL? NÃO SEI Seremos nós, seres humanos, minimamente sábios para ter a certeza de que a morte é a nossa solução, mesmo quando nem os avanços tecnológicos abonam a favor da nossa continuidade por cá?

Rodrigo Pereira

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m Portugal a eutanásia continua a ser ilegal depois de o Parlamento ter reprovado qualquer um dos quatro projetos-lei apresentados pelo PS, PEV, PAN e BE. A possibilidade de este tema voltar ao centro do debate e votação poderá e, certamente, acontecerá na próxima legislatura, mas nesta muitos deputados mostraram não terem opinião formada sobre o assunto, outros tantos a favor, mas a maioria contra. Tenho consciência do que se trata e da importância que a morte teria para muitas pessoas em fase terminal ou incurável de vida, mas custa-me a aceitar a sua legalização, talvez por ser demasiado esperançoso ou, e talvez mais por isto, achar que ne-

nhum ser humano é suficientemente habilitado, tenha ele todos os diplomas e mais alguns, assim como anos de experiência profissional, para dar um parecer positivo ao fim de vida de alguém, tenho até dúvidas de que, segundo as minhas convicções sobre a nossa existência, uma própria pessoa, esteja em que situação estiver, tenha autoridade para decidir a sua própria morte. Bem ou mal levada, a vida é a maior dádiva do ser humano. Por outro lado, tendo já visto relatos de doentes que estão em situações terminais e cuja única rotina é o sofrimento e, por isso, querem apenas e sem grandes tretas a morte, todo o meu pensamento se cofunde. Quando vejo testemunhos de médicos que lidam diariamente com casos destes, a quem lhes é pedida apenas a morte, seja como for, porque o sofrimento é insuportável e porque se sobrevive, mas não se vive, não consigo ser contra a eutanásia. Um dia contou-me um professor bem conhecido da sociedade açoriana, que não lhe tendo pedido autorização para tal, não referirei o nome,

de um indivíduo que achando que a solução para vida era a morte, decidiu meter uma arma à boca e disparar. Quando chegaram junto dele os bombeiros, só teve oportunidade de dizer uma frase, «por favor, ajudem-me, eu não quero morrer», mas já nada houve a fazer. Sabendo que não é isto comparável com alguém que está num hospital, por exemplo, com cancro espalhado por todo o corpo, entubado por todo o lado e com dores inimagináveis, estando convicto de que a morte é a solução, quem não me garante que, a ser praticada a eutanásia, no seu segundo final, quando já nem força tiver para falar não poderá pensar o mesmo, não poderá sentir arrependimento pelo ato voluntariamente cometido. Seremos nós, seres humanos, minimamente sábios para ter a certeza de que a morte é a nossa solução, mesmo quando nem os avanços tecnológicos abonam a favor da nossa continuidade por cá? Seremos nós, seres humanos, minimamente sábios para ter a certeza de que continuar a sobreviver sem esperança e conforto físico é digno e Deus, ou a crença que se tenha, assim o querem?

Vi as maiores barbaridades sobre este assunto, mas achei que não devia, nem tinha que comentar, mas quando vi os deputados que optaram pela abstenção nesta matéria serem insultados nas redes sociais porque deveriam ter tomado uma posição, tenho que os defender, eu teria feito o mesmo. Sobre a eutanásia acho que faz todo o sentido que cada um vote consoante a sua consciência e ninguém deve ser obrigado a dizer «sim» ou «não» se não se achar preparado para dar esta resposta. Sobre a vida, mas sobretudo sobre a morte é mais do que aceitável que muitos não saibam dar uma resposta. É legítimo o princípio de que «da sua vida cada um faz o que quer», mas quando se fala de deixar de viver é normal que se coloquem muitas reticências. Quando se voltar a falar disto em Portugal posso até ter uma outra opinião, quem sabe os deputados que se abstiveram, assim como os que votaram contra e até os que votaram favoravelmente também a tenham, mas para já, «sim?», «não?», não sei.

FICHA TÉCNICA PROPRIETÁRIO: Grupo de Amigos da Praia (Associação Cultural sem fins lucrativos NIF: 512014914), Fundado em 26 de Março de 1982 REGISTO NO ICS: 108635 FUNDAÇÃO: 29 de Abríl de 1982 ENDEREÇO POSTAL: Rua Cidade de Artesia, Santa Cruz, Apartado 45 - 9760-586 PRAIA DA VITÓRIA, Ilha Terceira - Açores - Portugal TEL: 295 704 888 DIRETOR: Sebastião Lima (diretor@jornaldapraia.com) DIRETOR ADJUNTO: Francisco Jorge Ferreira ANTIGOS DIRETORES: João Ornelas do Rêgo; Paulina Oliveira; Cota Moniz CHEFE DE REDAÇÃO: Sebastião Lima COORDENADOR DE EDIÇÃO: Francisco Soares, CO-1656 (editor@jornaldapraia.com) REDAÇÃO/EDIÇÃO: Grupo de Amigos da Praia (noticias@jornaldapraia.com; desporto@jornaldapraia.com); Elvira Mendes; Rui Sousa JP - ONLINE: Francisco Soares (multimedia@jornaldapraia.com) COLABORADORES: António Neves Leal; Aurélio Pamplona; Emanuel Areias; Francisco Miguel Nogueira; Francisco Silveirinha; José H. S. Brito; José Ventura; Nuno Silveira; Rodrigo Pereira PAGINAÇÃO: Francisco Soares DESENHO NO CABEÇALHO: Ramiro Botelho ADMINISTRAÇÃO José Miguel Silva (administracao@jornaldapraia.com) SECRETARIADO E PUBLICIDADE: Eulália Leal (publicidade@jornaldapraia.com) LOGÍSTICA: Jorge Borba IMPRESSÃO: Funchalense - Empresa Gráfica, S.A. - Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, 50 Morelena - 2715-029 PÊRO PINHEIRO ASSINATURAS: 15,00 EUR / Ano - Taxa Paga - Praia da Vitória - Região Autónoma dos Açores TIRAGEM POR EDIÇÃO: 1 500 Exemplares DEPÓSITO LEGAL: DL N.º 403003/15 ESTATUTO EDITORIAL: Disponível na internet em www.jornaldapraia.com NOTA EDITORIAL: As opiniões expressas em artigos assinados são da responsabilidade dos seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do jornal e do seu diretor.

Taxa Paga – AVENÇA Publicações periódicas Praia da Vitória


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NO CONCELHO | JP

MORADORES DE SANTA RITA COM AÇÕES DE DESPEJO

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o âmbito do diferendo que se arrasta há anos nos tribunais entre os proprietários dos terrenos e os donos das casas no bairro de Santa Rita, no final do mês de maio, começaram a chegar as primeiras ações de despejo. Para já são 9, mas decorre trâmites mais 3 processos e receia-se que possam ser muitas mais, uma vez que o problema é comum a 99 famílias abrangendo cerca de 600 pessoas. Pelo direito constitucional à habiPUB

tação, os moradores manifestaram-se a 04 de junho, na Praça Francisco Ornelas da Câmara, em frente à Câmara Municipal da Praia da Vitória (CMPV), lamentando o silêncio e ausência do Governo dos Açores e exigindo respostas, nomeadamente, o cumprimento das promessas que ao longo de todos este anos foram feitas por proprietários e entidades oficiais. “Compramos as nossas casas com a promessa de podermos também

comprar o terreno”, afirmou Lucas Almeida, porta-voz dos manifestantes. “No passado, prometeram que se a Câmara não chegasse a um acordo com os donos dos terrenos que avançariam para uma solução em que ninguém sairia do seu lar. Esta solução não avançou e estamos nós a ser despejados”, acrescentou, referindo-se à figura de expropriação. Neste mesmo dia, em declarações difundidas na Antena 1 Açores, Álvaro Monjardino, do escritório de advogados que representa os proprietários dos terrenos, depois de defender que os moradores não compraram as casas porque o que outorgaram foi um contrato promessa de compra e venda, apontou o dedo à CMPV acusando-a de “responsabilidades gravíssimas” em todo o processo. Revelou que a Autarquia apenas mostrou disponibilidade para negociar após as primeiras ações de despejo e ainda que aconselhou os moradores a não pagarem as rendas, concluindo, “os moradores estão a ser despejados, porque não compraram qualquer casa e porque não pagaram as rendas que deviam”. Efetivamente em 2002, os donos das casas que até lá pagavam a rendas dos terrenos, por conselho da autarquia deixaram de o fazer.

entre os proprietários dos terrenos e as entidades militares norte-americanas estacionadas na base das Lajes, referente à utilização dos terrenos por um período de 20 anos que depois veio a ser prorrogado. Face à inexistência de um parque habitacional na ilha que cobrisse as necessidades dos militares americanos, estes construíram moradias que mais tarde venderam a civis portugueses. A 08 de junho, o Bloco Esquerda (BE) Açores, convocou a comunicação social para uma conferência de imprensa, em Santa Rita, onde anunciou, uma iniciativa parlamentar com carácter de urgência que recomenda a intervenção imediata do Governo Regional. Segundo Paulo Mendes, deputado bloquista no parlamento açoriano, a prioridade é impedir novos despejos, e encontrar soluções para as famílias que foram obrigadas a sair das suas casas. Reconhecendo qua a solução não é simples, Paulo Mendes quer até ao plenário de julho da Assembleia Legislativa dos Açores, que sejam ouvidos moradores, proprietários e os últimos três presidente da CMPV. “Queremos que estas partes sejam ouvidas, para que se dissipem quaisquer dúvidas que têm subsistido sobre este processo”, concluiu.

Recorde-se que este imbróglio resulta do contrato celebrado em 1956

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DESCONTAMINAÇÃO AMBIENTAL NA ILHA TERCEIRA COM

DEBATE TÉCNICO E POLÍTICO

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Casa das Tias, na Praia da Vitória, acolheu duas sessões de esclarecimentos / debate sobre a pegada ambiental deixada por militares norte-americanos na ilha Terceira. A primeira, intitulada “Sessão Técnica de Informação Pública”, decorreu a 29 de maio, promovida pelo Governo dos Açores, em que intervieram representantes do Governo, da Câmara Municipal da Praia da Vitória, da Faculdade de Ciências Agrárias e do Ambiente da Universidade dos Açores, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, do Laboratório de Proteção e Segurança Radiológica do Instituto Superior Técnico, do Centro de Oncologia dos Açores e da empresa municipal Praia Ambiente. A segunda, levada a cabo pelo Bloco de Esquerda (BE) Açores, decorreu a 01 de junho, subordinada à temática “Contaminação – Uma Questão Política”, moderada por Alexandra Manes, coordenadora da ilha Terceira do BE/Açores, e os oradores, João Vasconcelos, deputado nacional do BE, Armando Mendes, jornalista e especialista em Relações Internacionais, Tibério Dinis, presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória e Paulo Mendes, deputado

regional dos bloquistas açorianos. As sessões de esclarecimento surgem, curiosamente, pouco dias depois da 39.ª reunião da Comissão Bilateral Permanente de Acompanhamento do Acordo de Cooperação e Defesa entre Portugal e os Estados Unidos da América, que decorreu, em Washington, na penúltima semana de maio, com a presença do presidente do Governo dos Açores. No final da mesma, em declarações aos jornalistas, o chefe do executivo açoriano, classificou-a como “construtiva” no que diz respeito ao processo de descontaminação na ilha Terceira, já que foram “apresentados dados que dão conta de uma ação mais diligente, mais concreta e mais efetiva do que aquilo que até aqui estava a ser feito”, os quais necessitam, agora, de “validação técnica e científica, para serem aceites”, disse Vasco Cordeiro. Semelhante cautela revelou a autarquia praiense, em comunicado de imprensa, que congratulando-se pela “evolução positiva”, sublinha a “necessidade de serem pormenorizados os trabalhos realizados e os resultados obtidos”. JP•


JP | HISTÓRIA

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RELEMBRANDO UM DESCOBRIDOR: JOÃO FERNANDES “LAVRADOR” HISTORIADOR: FRANCISCO MIGUEL NOGUEIRIA

O navegador Fernandes Lavrador nasceu, na Terceira, por volta de 1453. Lavrador era um fazendeiro ou lavrador (daí o nome) próximo da família Corte-Real, que eram os capitães de Angra e que eram grandes navegadores. tal como o pai. Fernandes Lavrador teve, por isso, desde cedo, contacto com os conhecimentos de náutica dos Corte-Reais, o que o influenciou e ao seu desenvolvimento.

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oão Fernandes “Lavrador” foi um navegador e explorador terceirense que, no final do século XV, descobriu a região do Labrador (Canadá) e a costa sudoeste da Gronelândia. D. Manuel I fez-lhe, em 1499, a doação prévia das novas terras, que receberam, assim, o seu nome. O navegador Fernandes Lavrador nasceu, na Terceira, por volta de 1453. Lavrador era um fazendeiro ou lavrador (daí o nome) próximo da família Corte-Real, que eram os capitães de Angra e que eram grandes navegadores. João Vaz Corte-Real descobriu a Terra Nova e seus filhos navegaram pelo Atlântico, embora tenham desaparecido, pensa-se que também foram tentar fazer descobertas para o norte do Atlântico, PUB

Lavrador tinha boas relações comerciais com o porto de Bristol, na Inglaterra, o que lhe deu vários conhecimentos sobre o Novo Mundo. Em 1492, João Fernandes Lavrador e Pêro de Barcelos pediram licença para navegar no Atlântico Norte e chegaram à América do Norte onde exploraram terra e ilhas durante três anos (1492-1495). Em 1497, o navegador italiano Giovanni Caboto (John Cabot) partiu para descobrir o que existia na região norte do Atlântico ocidental, a mando do Rei Henrique VII da Inglaterra e provavelmente estabeleceu amizade com Fernandes Lavrador. Muitos historiadores aceitam que o navegador português foi com Cabot, em 1498, como piloto e mapeou as costas da Gronelândia. Em outubro de 1499, depois da viagem de Vasco da Gama à Índia (1497/1498), Portugal sentiu-se seguro em oficializar várias descobertas

no Atlântico Norte, escondidas devido à concorrência marítima, mesmo após a divisão do mundo por Portugal e Espanha em 1494, no Tratado de Tordesilhas. Era importante salvaguardar os descobrimentos nacionais, o que aconteceu até Portugal ter o acesso marítimo até ao subcontinente indiano. A 28 de outubro de 1499, D. Manuel I concedeu uma carta a João Fernandes, em que “nos disse que por serviço de Deos e nosso”, o navegador partisse em busca e descobrimento de algumas Ilhas à sua custa, prometendo-lhe D. Manuel a capitania de todas as ilhas povoadas ou despovoadas que ele descobrisse. Assim, Fernandes Lavrador recebeu a Terra de Lavrador, tornando-se o seu proprietário em nome do Rei de Portugal. No dealbar do século XVI, Fernandes Lavrador chegou à Gronelândia. D. Manuel tinha recebido várias informações sobre esta zona como sendo composta por um mar cheio de gelo, onde abundavam rios, árvores de fruto e animais e cujos habitantes viviam da pesca, utilizando utensílios de pedra. D. Manuel I

incentivava os seus descobridores a partirem em busca de novas terras. A vida deste misterioso, mas importante navegador, continua em aberto. Pouco se conhece sobre este terceirense, mas nos primeiros mapas do século XVI as suas descobertas já aparecem e com o seu nome, Labrador, que ostentam até aos dias de hoje. Apesar de pouco reconhecido, Labrador foi um importante descobridor e influente navegador não só em Portugal, como em Inglaterra, onde transmitiu os seus conhecimentos e informações. Atualmente, João Fernandes Lavrador devia ser mais lembrado e estudado na Terceira e os seus feitos mais divulgados. É importante dar a conhecer os nossos navegadores, que tiveram um papel muito importante no final do século XV, não só Labrador, como João Vaz Corte-Real, entre outros, que são continuamente esquecidos em Portugal. É tempo de dar valor aos nossos antepassados, homenagear e reconhecer o lugar que merecem nos anais da nossa História. É preciso apostar no nosso futuro, no nosso caminho, mas sem nunca esquecer o nosso passado e o caminho por nós trilhado. Neste presente cheio de labirintos, onde muitos dos nossos concidadãos são empurrados para situações de crise, é urgente encontrar um rumo e os governantes não nos podem olhar como meros números e desculparem-se com “lapsos” ou outras habilidades políticas de conveniência, têm de nos dar o valor que merecemos enquanto cidadãos desta Ilha, deste Arquipélago, deste País.


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FORÇAS ARMADAS | JP

PROTEGER VIDAS NÃO É APENAS UMA HONRA, É O NOSSO MODO DE VIDA Muitas vezes, o nosso (final de) dia mais gratificante revelela-se depois do dia mais angustiante doutro cidadão.

Coronel Piloto Aviador César Paulo da Silva Rodrigues Comandante da Base Aérea N.º 4, Lajes

O

s trinta dias do mês de abril foram pródigos em testemunhar o papel pluridisciplinar da Base Aérea N.º 4 (BA4) no que toca à atuação da Força Aérea Portuguesa na Região Autónoma dos Açores (RAA), particularmente no domínio da saúde pública e no que concerne à salvaguarda da vida humana.

EVACUAÇÃO DE DOENTES INTER-ILHAS Com uma génese vincadamente altruísta, estas missões pautaram-se pela transferência com caráter de emergência de 24 doentes entre 7 das 9 ilhas da RAA, traduzidas em 44 horas e 50 minutos de voo.

TRANSPORTE AÉREO DE URGÊNCIA PARA O CONTINENTE Entre as três missões realizadas no quadro desta rubrica é impossível não dar um realce mais carinhoso ao episódio que teve lugar no dia 7, nomeadamente a deslocação urgente dum bebé de 35 semanas a bordo do avião Falcon 50 desde os Açores até Lisboa, com o propósito da criança receber assistência médica especializada. Marlita Lacerda, que se identificou como a mãe da criança, agradeceu nas redes sociais a prontidão dos militares: «Obrigada à Força Aérea por ajudarem o meu filho a sobreviver… Sou uma cidadã comum que trabalha para sustentar a sua família, não sou da família do Governo nem sou rica… Obrigado por este ato heróico… bem hajam… muito obrigado».

TRANSPORTE AÉREO DE URGÊNCIA PARA O CONTINENTE

C-295 da Força Aérea Portuguesa em misão na Base das Lajes. Foto: ©Tiago Alonso Silva vamento das Lajes (RCC Lajes). Quanto ao domingo de 15 de abril, assinalamos a descolagem dum helicóptero com a missão de evacuar um tripulante do navio “Cidade de Amarante”, que navegava a aproximadamente 370 quilómetros a leste da ilha Terceira. Na altura, um jovem pescador de 22 anos encontrava-se por problemas do foro de saúde, sendo resgatado pelo EH-101 numa missão conjunta entre a Marinha e a Força Aérea, resultante da articulação entre o Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo de Ponta Delgada (MRCC Delgada) e o Centro de Coordenação de Busca e Sal-

RESGATE DE FERIDO Já a segunda-feira, dia 9, foi marcada pela deslocação dum dos helicópteros EH-101 Merlin sediados na BA4 para o nordeste da ilha de São Miguel, a fim de retirar uma vítima que tinha escorregado, havendo a exposição de um osso facial, um traumatismo craniano e uma suspeita de fratura de costelas. A intervenção foi ilustrativa das mais valias proporcionadas pelo poder aéreo, designadamente as conferidas pela sua flexibilidade e capacidade de ultrapassar obstáculos no terreno, possibilitando, no caso em apreço, o salvamento com êxito do ferido que se encontrava num local de difícil acesso e inacessível a uma extração por terra ou pelo mar.

TRANSPORTE DE ÓRGÃOS Neste âmbito importa enfatizar a missão que teve lugar no dia 11, quando um avião C-295, dotado com uma equipa médica militar, veio à RAA com o desígnio de recolher órgãos por via aérea. Complementarmente e ainda nesta esfera, somos levados a recordar que o papel da Força Aérea nas missões desta natureza foi recentemente reconhecido pelo Mi-

nistério da Saúde, o qual distinguiu aquele ramo das Forças Armadas, no dia 7 de abril, com a Medalha de Serviços Distintos pelo comprometimento em benefício da Saúde Pública.

[AERO]PORTO DE ABRIGO NO MEIO DO OCEANO Noutra dimensão, devemos sublinhar as 745 pessoas acolhidas nesta Unidade militar fruto de duas emergências com aeronaves civis de grande porte, as quais interromperam a sua travessia transatlântica e selecionaram a BA4 para aqui aterrar em segurança. Lembramos que a infraestrutura aeronáutica e militar das Lajes assume-se como o único aeródromo da RAA a operar incessantemente, 24 horas por dia todos os dias do ano. Tendo a capacidade de assegurar a dupla função de aeroporto alternativo e de assistência a situações de emergência com aeronaves, a BA4 está permanentemente disponível para receber uma miríade de milhares de voos civis que semanalmente sulcam os céus desta região do Atlântico. •

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efendeu-se nos últimos Cantinhos a importância de descobrir novas águas, se possível longe de casa, ou seja, viajar. Mas falar em Aurélio Pamplona águas, pode ser (a.pamplona@sapo.pt) complicado, nomeadamente se metermos o “pé na poça”, o que acontece quando nos enganamos ou fazemos asneiras. Entretanto com isto de meter água não nos podemos ralar demasiado, visto que, frequentemente, é através disto que infelizmente muitos traçam o caminho para progredir.

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Meter Água mórias, experiências, e até do pensamento ou comportamento erros, distorções, deslizes, falsidades que esperamos esclarecer. Também frequentemente vale a pena mudar de assunto, ou até não pensar em nada. Como escreveu Heminguay (2007), quando se reflecte muito sobre um tema, não podemos mais parar, e o cérebro continua a correr como um pêndulo doido. Nessas ocasiões seria mesmo melhor não pensar. E Pang (2017) afirma em livro recente que «uma forma contra-

mais quando trabalham menos». Aquele autor esclarece, ao afirmar que se «o mundo não nos dá tempo para o repouso temos de lho roubar»: (a) o trabalho e o repouso são parceiros; (b) o repouso é activo; (c) o repouso é uma aptidão; (d) o repouso intencional estimula e sustenta a criatividade; (e) começar o dia cedo produz espaço para o repouso, e prepara a mente subconsciente para continuar a trabalhar, quando voltamos a nossa atenção para outras coisas; e (f) é através do repouso que

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siado interesse ou envolvimento no trabalho; e o nono, que tem a ver com ser demais dirigido, e ser único mandante. Os equilíbrios justificam-se porque, como defendem Hafen, Karen, Frandsem & Smith, (1986), as emoções negativas como o aborrecimento, a ansiedade, a hostilidade e a raiva quando estimuladas podem aumentar a susceptibilidade à doença, enquanto as emoções positivas, como o optimismo, o humor e o espírito de luta protegem a saúde, e ajudam na cura. Porque é que isto acontece? Porque, como defendem estes autores existe uma poderosa ligação entre o corpo e o espírito, visto que: 1) o corpo responde à forma como cada um se vê a si próprio e às suas circunstâncias; 2) o apoio social, a amizade, e fortes relações estáveis protegem a saúde; 3) personalidades diferentes têm tendência ou são capazes de resistir à doença; 4) há mudanças cientificamente provadas na química do corpo, ritmo do cardíaco; e sistema hormonal que acompanham as várias atitudes e emoções; e 5) as atitudes e emoções afectam a imunidade à doença.

Aliás o próprio termo “meter água” presta-se a confusões. Basta consultar o site Expressões Idiomáticas para verificar isso. Por exemplo, meter água quando se está a fazer vinho é aldrabice, mas meter água num carro numa estação de serviço é uma forma de cuidar do automóvel, embora aqui também se tenha de encher o depósito com gasolina ou gasóleo para se progredir na viagem traçada. Exactamente para ajudar a florescer sem meter muita água, dir-se-ia “stressar-se”, é que se tem vindo a realçar a importância do equilíbrio entre diversos factores. Entretanto estes exemplos justificam que se recomende às pessoas que prestem a melhor atenção não só ao que dizem e pensam, mas também à forma como interpretam o que os outros expressam, bem como as suas intenções, o que está por detrás das palavras e acções. Nestas interpretações há que ter muito cuidado, visto que podem ocorrer ao nível das sensações, percepções, me-

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Referências:

-intuitiva mas eficaz de repouso deliberado é parar de trabalhar no momento adequado», não obstante se possa ver qual o próximo passo, e importe deixar a sua execução para o dia seguinte. E cita dois escritores, o anteriormente referido, e Da Vinci (1452 – 1519) que terão defendido, respectivamente: (1) «ao se fazer isto todos os dias nunca se fica atolado» e (2) «os maiores génios conseguem

damos sentido ao passado e se procura soluções para os problemas. Entretanto, com vista a mais facilmente se controlar o stress os restantes equilíbrios fundamentais a estabelecer são os seguintes: o sétimo, entre ter muita responsabilidade, e ter pouca responsabilidade; o oitavo, que se constitui entre muito pouco envolvimento no trabalho, e dema-

Heminguay, E. (2007). Por quem os sinos dobram. Carnaxide: Livros do Brasil Pang, A. S.-K. (2017). Descansar: A razão pela qual conseguimos fazer mais quando trabalhamos menos. Lisboa: Círculo de Leitores. Hafen, B. Q. Karren, K. J. Frandsen, K: J. & Smith, N. L. (1986). Mindy/body health: The effects of attitudes, emotions, and relations. Boston: Allyn and Bacon.

Foto: M. Fortes•


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AUTONOMIA | JP

DIA DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

NOVE INSÍGNIAS HONORÍFICAS PARA A TERCEIRA Este ano foram atribuídas 38 Insígnias Honoríficas Açorianas no Dia dos Açores, 9 das quais, a naturais ou instituições da ilha Terceira.

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Dia da Região Autónoma dos Açores, feriado em todo o arquipélago, ocorre anualmente na segunda-feira do Espírito Santo, este ano, 21 de maio. O palco oficial das comemorações de 2018, foi a vila da Madalena, na ilha montanha. Instituído pela Assembleia Legislativa Regional, em 1980, pretende-se com este dia, comemorar a açorianidade e a autonomia, naquela que é a maior manifestação cívica dos Açores. Vinte dois anos mais tarde é aprovado o regime jurídico das Insígnias Açorianas, destinado a distinguir “os cidadãos e as pessoas coletivas que se notabilizarem por méritos pessoais ou institucionais, atos, feitos cívicos ou por serviços prestados à Região”, as quais foram atribuídas pela primeira vez em 2004. Ao todo, são quatro as Insígnias Açorianas: Insígnia Autonómica de Valor; Insígnia Autonómica de Reconhecimento; Insígnia Autonómica de Mérito (com as categorias de Mérito Profissional, e Mérito Industrial, Comercial e Agrícola e Mérito Cívico); e a Insígnia Autonómica de Dedicação. Este ano foram atribuídas um total de 38 Insígnias Autonómicas, das quais, nove foram para naturais ou instituições da ilha Terceira.

INSÍGNIA AUTONÓMICA DE RECO-

DIA DA REGIÃO ocorreu este ano a 21 de maio e foi oficialmente comemorado na vila da Madalena, Pico, com a atribuição de 38 insígnias honoríficas. NHECIMENTO John Carlos Martins, natural dos Altares, nasceu a 21 de abril de 1964; Mário T Cabral (a título póstumo), natural de Angra do Heroísmo, nasceu 09 de julho de 1963 e faleceu 10 de agosto de 2017; Regina de Azevedo Pires Toste Tristão da Cunha, natural da Sé, nasceu 07 de setembro de 1934.

INSÍGNIA AUTONÓMICA DE MÉRITO INDUSTRIAL, COMERCIAL E AGRÍCOLA Basílio Simões & Irmãos, fundado por António Pedro Simões no século XIX. Estabeleceu-se na rua Direita, Angra do Heroísmo, com as prateleiras repletas de especiarias e outros bens vendidos a granel. Resistindo à

voracidade da modernidade, parece ainda conservar os aromas das especiarias vindas de outras paragens daquele longínquo Portugal imperial.

INSÍGNIA AUTONÓMICA DE MÉRITO CÍVICO Ana Paula Espínola da Costa, natural de São Pedro, Angra do Heroísmo. Nasceu a 05 de maio de 1963; “Almanaque do Camponez”, fundado em 1917 por Manuel Joaquim de Andrade, é considerado o almanaque mais lido nos Açores, Madeira, América e Canadá; Casa de Saúde do Espírito Santo - Irmãs Hospitaleiras, constituída em 1967, pela Congressão das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus; Confederação Operária Terceirense (Associação de Socorros Mútuos),

fundada a 3 de agosto de 1918 pela classe laboral a partir da quotização conjunta das classes de alfaiataria e de sapataria, com o objetivo de ser o porto de auxílio na doença e no funeral dos seus fundadores; Delegação da Cruz Vermelha de Angra do Heroísmo, oficialmente criada em 13 de junho de 1917. Instituição Humanitária não-governamental de carácter voluntário e de interesse público, sem fins lucrativos. Desenvolve a sua atividade no respeito pelo Direito Internacional Humanitário e em obediência aos Princípios Fundamentais e Recomendações do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, constituindo uma instituição de referência de apoio social na ilha Terceira. JP/Foto: JEdgardo Vieira•

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TALHO BORBA & MENDES


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MARCO MONTEIRO

“O FUTURO DO PRAIENSE PA “Trabalho há 3 anos neste clube para o levar o mais longe possível, isto é, subir à II Liga, e sem criarmos uma SAD penso que não será possível”, afirma Marco Monteiro, presidente SCP e líder de um projeto cuja ambição de “vencer” é a palavra de ordem.

M

arco Monteiro, 48 anos, bancário de profissão, assumiu os destinos do Sport Club Praiense na época futebolística 2015/16, sucedendo na presidência Tiago Ormonde. Trouxe para o Praiense a mesma atitude que é génese da sua própria personalidade: Inconformismo, dedicação, trabalho e muita ambição. Ambição que é comum ao elenco diretivo que o rodeia, à equipa técnica e aos jogadores, fazendo com que todos – cada qual na sua função – labutem dia após dia, para levar o nome do SC Praiense cada vez mais longe, porque é essa a matriz identitária dos “vermelhos” da Praia. Jornal da Praia (JP) – O Sport Club Praiense (SCP) assumiu-se esta época como candidato à promoção, no entanto, acabou em 3.º lugar e falhou no play-off. O que correu mal? Marco Monteiro (MM) – Efetivamente o Praiense apostou na subida e ao longo de toda a época trabalhou muito para isso. Este objetivo não foi alcançado, é certo, e pergunta-me o que correu mal? Na minha opinião não tivemos o início de época que esperávamos e houve uma série de fatores que contribuíram para isso. Desde logo, é preciso recordar as circunstâncias da última temporada, na qual disputamos os play-offs de acesso com o Leixões, depois de termos falhado o acesso direto naquele fatídico jogo com o Fátima. É preciso perceber, quer se queira quer não, que as circunstâncias daquele jogo, onde praticamente tínhamos conseguido a subida e que nos foi tirada, marcou negativamente e de forma PUB

profunda o grupo de trabalho, maioritariamente constituído por jogadores que transitaram da época anterior e que viveram intensamente esta experiência. Na verdade, e eu próprio passei por isso, não foi fácil desligar o “chip” e ultrapassar, fazendo com que nas primeiras jornadas da época os jogadores não estivessem tão soltos como deveriam estar e, por conseguinte, a equipa não rendesse como poderia render. Depois, também fomos muito infelizes com as arbitragens, e digo infelizes porque recuso-me a aceitar que assim não seja, que acabaram por ter influência nos resultados e nos prejudicaram muito e, finalmente, faltou-nos aquela pontinha de sorte. Dou como exemplo, o Vilafranquense, que ficou com todo o mérito em segundo lugar, mas que teve aquela pontinha de sorte que nos faltou, pois em 5 ou 6 jogos, empatou ou ganhou nos minutos de desconto. Em suma, ao não estarmos psicologicamente bem, ao não sermos felizes com as arbitragens e ao faltar-nos aquela estrelinha da sorte que é sempre necessário, tudo isto contribuiu para um inicio de época menos bom e que alguma forma condicionou o decorrer da temporada. JP – Foi discutido no universo praiense durante a época que terminou a questão de a equipa dispor de um plantel curto. Decorrente desta ideia, pergunto: Apresentar-se-ia como se apresentou como candidato à subida e em termos de plantel voltaria a manter as mesmas opções? MM – O assumir-se como candidato à promoção decorre de uma mentali-

dade de ambição transversal a toda a atual estrutura do SCP. Eu enquanto presidente do Praiense, e isto resulta da minha própria maneira de ser, não estou aqui só por estar, mas sim, para trabalhar no sentido de levar o Praiense o mais longe possível. Esta minha forma de estar e pensar é comum a toda a direção, equipa técnica e jogadores. Qualquer jogador que venha para o Praiense e que represente o Praiense sabe que cada jogo é para ganhar – não há outra forma de pensar – e sendo assim, é natural que o Praiense se assuma como candidato à subida. É óbvio, que sabemos que não se consegue ganhar todos os jogos, não é nada fácil, até porque o nível competitivo do Campeonato de Portugal (CP) é muito exigente. As equipas de topo do CP são muito equiparadas às equipas do meio da tabela para baixo da II Liga, como ficou a época passada demonstrado no play-off realizado com o Leixões, em que no conjunto das duas mãos, em nada formos inferiores ao Leixões. É verdade que não passamos a eliminatória, em casa perdemos por 0-1 e lá empatamos a 1-1, tendo estado a ganhar por 0-1 e depois deles empatarem tivemos uma grande oportunidade para fazer 1-2, mas infelizmente não concretizamos, era para ser uma época “não” e de facto não subimos. Quanto ao plantel e à questão de ser curto, é óbvio que gostávamos de ter um plantel com 27, 28 ou até 30 jogadores, mas trata-se de uma estratégia desta direção e equipa técnica, em que optamos por correr alguns riscos com um plantel mais curto, mas de qualidade em detrimento de um plantel mais vasto, mas sem grandes garantias de sucesso. Estamos conscientes dos riscos desta opção, mas iremos continuar nesta linha tendo em conta os recursos financeiros disponíveis face aos apoios oficiais que recebemos. Quero salien-

tar que o SCP representa uma cidade, uma ilha, uma região, e enquanto presidente do clube ao levá-lo ao ponto mais alto possível, estou também a elevar o nome da Praia, da Terceira e dos Açores, sendo muito importante que o Praiense e os restantes clubes no mesmo patamar competitivo sejam apoiados por todos, motivando-os a estar noutra patamar. Aliás, neste particular, há uma pergunta que para mim se apresenta decisiva e que corresponde em saber do Governo Regional o que pretende para o futebol açoriano e para as equipas dos Açores a disputar o CP. Esta será uma das questões que colocarei ao presidente do Governo dos Açores numa reunião que conjuntamente com as restantes equipas dos Açores a militar no CP solicitámos ao Gabinete da Presidência do Governo, aguardando neste momento que nos seja comunicado o seu agendamento. JP – Acaba de referir que no que diz respeito aos clubes de topo do CP que estão num nível competitivo muito equiparados com os da II Liga. Nesta perspetiva pergunto se as condições colocadas à disposição do SCP permitem-lhe competir “em pé de igualdade” com os outros clubes, alguns dos quais Sociedades Anónimas Desportivas (SAD) com bons estádios, campos de treino, ginásios de recuperação e um conjunto de outras infraestruturas? MM – Esta pergunta tem realmente muito que se lhe diga. Estou plenamente convencido que o futuro do Praiense passa por criar uma SAD, que lhe traga investidores e com isso outra capacidade financeira. É de esclarecer que se o ano passado tivéssemos subido à II Liga estávamos obrigados a criar ou uma SDUQ [Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas] ou uma SAD, pois trata-se de uma exigência legal das


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ASSA POR CRIAR UMA SAD” competições de futebol profissional. Esta época, só na nossa série existiam 8 SAD(s), com orçamentos a rondar os 600, 700, 800, 900 mil euros e até algumas com orçamentos de 1 milhão euros, orçamentos ao nível da II Liga, mesmo assim, parte delas ficaram atrás de nós, o que é verdadeiramente notável da nossa parte. O que é certo é que esta é uma realidade incontornável com a qual me tenho debatido nos últimos tempos para garantir este patamar ao Praiense, para que mais época menos época o Praiense suba à II Liga. É óbvio que desejo que seja já na próxima, mas quanto mais rapidamente criarmos uma estrutura desta natureza, mais depressa ela ficará consolidada evitando todos os percalços de a criar em cima do joelho num cenário de eventual subida de divisão. Entre uma SDUQ e uma SAD, tenho preferência pela SAD com um ou dois investidores como acontece em muitos outros clubes que nos permita reunir as condições para apetrechar o clube com os meios que – e muito bem – coloca na sua pergunta. Neste momento, e desde que cá cheguei, nós estamos gradualmente a investir num ginásio, tendo já comprado vários equipamentos que montamos no estádio, mas fomos fazendo isso muito devagarinho de acordo com as nossas capacidades e se tivéssemos uma SAD porventura apetrechávamos o ginásio logo de uma vez. Em suma, aos poucos estamos a criar as condições para elevar o Praiense para um clube profissionalizado a pensar na 2.ª liga e nesta perspetiva, na minha opinião, a criação de uma SAD apresenta-se essencial, mas esta será uma decisão que será tomada em Assembleia Geral porque como é óbvio o SCP é dos sócios e a decisão final será sempre deles. JP – Por ocasião do 70.º aniversário do SCP, defendeu a ideia de fazer-se uma reflexão sobre a vida do clube na comunidade e no futuro. Presumo face PUB

MARCO MONTEIRO: “Qualquer jogador que venha para o Praiense e que represente o Praiense sabe que cada jogo é para ganhar”. ao que acaba de dizer que estava a equacionar precisamente a criação de uma SAD no sentido de garantir outra “dimensão” financeira ao Praiense? MM – A constituição de uma SAD é uma realidade nos tempos de hoje que não há que fugir. Trabalho há 3 anos neste clube para o levar o mais longe possível, isto é, subir à II Liga, e sem criarmos uma SAD penso que não será possível. É verdade que há duas épocas poderia ter acontecido, sem SAD criada, mas resultou de uma enorme ambição, crer e acreditar, num ambiente emocional singular e que não é fácil repetir, e caso tivéssemos tido êxito, seriamos obriga-

dos a criar uma SAD apressadamente no espaço de um mês, que convenhamos não seria o tempo adequado. Referi há pouco e volto a repetir, só na nossa série havia 8 clubes com SAD(s) criadas. Estes clubes estão a preparar a sua entrada no futebol profissional com a subida à II Liga, o Praiense deverá seguir o mesmo caminho. Temos a nosso favor um espírito de ambição e compromisso que é comum à direção, equipa técnica e jogadores, fazendo que na classificação estejamos à frente de muitas dessas SAD(s), apresenta-se agora fundamental que encontremos os recursos financeiros que no dê con-

dições para entrar numa liga profissional e por lá estar. Relativamente à comunidade gostava de a ver mais envolvida na vida do clube e por vezes sinto tristeza por não a ver a participar e apoiar este clube como ele merece, tanto pelo percurso que vem fazendo no CP como pela prestação na Taça de Portugal, onde a época passada estivemos entre as melhores 16 equipas de Portugal, prestigiando toda a nossa região, a nossa ilha, mas acima de tudo a nossa Praia da Vitória. É preciso que a comunidade apoie mais o Praiense, quer nos bons como nos (Continua na página seguinte)


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ENTREVISTA A MARCO MONTEIRO (Continuação da página 9)

como nos maus momentos, estando em família aos domingos com a equipa no estádio, participando nas atividades e festas do clube, onde para além de se divertirem também estão a ajudar o clube, porque com o contributo de todos, mesmo que pequeno, com certeza que o Praiense será mais forte, a bem da nossa cidade, ilha e região. JP – Passados 15 anos, o futebol açoriano volta a estar presente na I Liga com a subida do CD Santa Clara. Considera que os apoios do Governo dos Açores, quer através da majoração do jogador açoriano quer através do patrocínio da palavra “Açores”, permitem a outros clubes da região, que não SAD(s) como o Santa Clara, ter semelhantes ambições ou pelo contrário acabam por ser castradores deste sonho? MM – Como já referi o CP está de ano para ano cada vez mais exigente com os clubes a fazerem grandes investimentos, contratando jogadores de grande nível, existindo muitas equipas de grande qualidade e face a esta realidade os apoios governamentais são manifestamente insuficientes. No caso da palavra “Açores”, apoio que vem do Turismo, há uma enorme desigualdade, com a equipa da II Liga a receber 1 milhão de euros e as do Campeonato de Portugal 96.400 euros, consignado apenas a 4 equipas. Como vê é uma discrepância enorme, tendo em conta a realidade competitiva dos dois escalões, que como disse anteriormente é muito equivalente entre as de topo de um escalão e as de baixo do outro. Respondendo diretamente à pergunta: Não é possível a nenhuma equipa açoriana ou é quase impossível lá chegar com este quadro de apoios. Outra questão é o apoio ao atleta 100% açoriano, no âmbito dos apoios complementares, que representa uma verba de cerca de 63.000 euros. O SC Angrense e o SC Lusitânia fizeram esta opção, o Praiense de certo modo abdicou, ou melhor, na realidade optou por não seguir essa via por recear que lhe viesse a acontecer o mesmo que se verificou com o Angrense e com o Lusitânia. Gostaria de sublinhar que considero que temos muitos bons jogadores nos Açores, mas a meu ver há um problema de compromisso, o compromisso de viver o futebol a sério ou como um part-time, se for como part-time não interessa ao Praiense, se for a sério, com compromisso, ambição, esforço e entrega nos treinos para ganhar o lugar no 11 a cada domingo, então este jogador interessa ao Praiense. Muitas vezes o que notamos, é que o jogador pensa

que é ele e mais dez e acomoda-se, não se empenhando nos treinos e não treinando bem não jogará bem, porque os jogos são o reflexo do trabalho de uma semana de treinos. JP – Defende uma revisão na forma de atribuição do apoio ao atleta 100% açoriano? MM – Neste momento o apoio é atribuído penalizando as equipas quanto ao número de atletas não açorianos. Uma equipa que tenha 2 atletas não açorianos perde 18.000 euros e vai sucessivamente perdendo apoios até ao máximo de 5 atletas não açorianos em que perde o apoio na totalidade. Defendo que este apoio deverá ser atribuído em função do atleta açoriano e progressivamente, ou seja, uma equipa com 50% de atletas açorianos receberia uma determinada verba, outra com 60% mais um pouco e assim sucessivamente até ao limite máximo de 63.000 euros. Outra questão que também deverá ser revista, na minha opinião, é o prémio de manutenção que considero completamente banalizado. Há uns anos atrás as equipas recebiam uma verba de aproximadamente 15.000 euros pela manutenção, atualmente recebem 680 euros. Que gratificação é essa dada pelo Governo Regional ao trabalho que ao longo de uma época foi desenvolvido por um clube, em seu nome individual, é certo, mas também em nome dos Açores, para continuar a levar mais longe o nome da região? Entendo que os clubes merecem outro incentivo. Penso ainda que deverá ser agilizado o processo de atribuição dos apoios, pois são muitos demorados causando graves constrangimentos de tesouraria aos clubes. JP – Terminada a época perspetiva e trabalha-se na próxima. Duas questões: 1.ª – Como é preparar uma época cujo quadro competitivo está em constante mudança? – Esta é mais uma dificuldade? MM – Claro que é uma dificuldade porque nunca se sabe o que esperar a cada nova época. O ano passado o quadro competitivo era constituído por 5 séries de 16 equipas em que desciam 6 equipas, ou seja, quase 50% da série. Nesta, há uma redução do número de equipas, passando de 80 para 72, agrupadas em 4 séries de 18 equipas, em que descem as últimas 5 e as duas primeiras de cada série irão disputar os play-offs de subida. Como tem sido hábito vai ser a série A, B, C e D em que nas séries A e B estarão predominantemente clubes da zona norte e nas séries C e D clubes da zona sul, incluindo os dos Açores. Neste momento, ainda não está definido pela Federação Por-

tuguesa de Futebol (FPF) se os 3 clubes ficarão na mesma série ou serão divididos com os clubes da Terceira numa e o de São Miguel noutra. É uma decisão que a FPF diz tomar em breve. 2.ª – Em termos de entradas e saídas de plantel, como estão as coisas? MM – Neste momento temos o plantel por assim dizer fechado e é engraçado porque um dia destes fui contatado pelo jornal “A Bola” que pretendia saber como estava o Praiense a preparar a nova época e quando lhes disse que tinha o plantel praticamente fechado, ficaram surpreendidos e me deram os parabéns, porque os restantes clubes que haviam contatado ainda não tinham os planteis definidos. Costume dizer que devemos nos organizar logo no início, e tentar agarrar os jogadores o quanto antes. O plantel é formado por 19 jogadores seniores, aos quais se juntarão mais 2, 3 ou 4 atletas juniores nos treinos, que poderão vir a ser inscritos, jogando nos juniores e caso seja necessário por alguma razão integrar a equipa principal. Como ainda falta muito para a pré-época que se iniciará a 10 de julho, a nova época começa oficialmente a 12 de agosto, daqui até lá poderá surgir mais alguma situação, mas na verdade não há muito dinheiro para proceder a novas contratações. Poderá eventualmente surgir alguma oportunidade antes da pré-época e até ao inicio do campeonato, que nós possamos agarrar. Também posso informar que estamos a agendar com o Santa Clara um jogo de apresentação cá, que será ou a 28 ou a 29 de julho. Nos contatos com o Santa Clara também poderá surgir alguma situação que o clube desejo rodar algum jogador e estabelecermos uma parceria relativamente aos encargos com o mesmo de forma que seja mais um atleta a reforçar o plantel. Vamos aguardar estando atentos a qualquer situação que nos permite dentro dos nossos recursos melhorar o plantel. A primeira preocupação foi fechar com os jogadores que gostávamos que estivessem no nosso plantel, dentro das nossas possibilidades e dentro das características que o mister entende enquadrar-se no grupo de trabalho, e este trabalho está feito. JP – O mister, Francisco Agatão, encontra-se completamente satisfeito com o plantel colocada à sua disposição para mais uma época em que vai lutar pela subida? MM – Completamente satisfeito os treinadores nunca estão… (risos) mas o mister Agatão é um homem do futebol, temos uma relação muito boa, é sério, é competente e no qual confio plenamente. Ele percebeu numa reunião que tivemos quais as nossa possibilidades

e limitações em termos de verbas, e com esta realidade em cima da mesa, construímos um plantel com a ambição de ganhar cada jogo disputado. É com este intuito que vamos trabalhar e portanto penso que o mister estará satisfeito com os atletas que temos e com o que se conseguiu em termos de um conjunto ambicioso e comprometido em obter bons resultados que são bons para eles individualmente, para o grupo, para a equipa técnica e para o clube, todos se valorizam. Daí estarmos conscientes e com a certeza que todos os jogadores vão estar aqui com uma enorme vontade de vencer, porque se assim não for, deixarão de cá estar.

MARCO MONTEIRO: “Confio plenamente no mister Agatão”. JP – Para finalizar, que mensagem gostaria de deixar aos sócios, adeptos e simpatizantes do SCP bem como aos leitores do Jornal da Praia? MM – Quero agradecer ao Jornal da Praia o pedido de entrevista e dizer que é com muito gosto que aqui estou, disponibilizando-me desde já para colaborar sempre que o entendam. Obviamente que quero dirigir uma palavra muito especial de agradecimento a todos os sócios, simpatizantes e adeptos, verdadeira razão da existência do clube, sobretudo a todos aqueles que diariamente com o seu trabalho, dedicação e esforço contribuem para a elevar o nome desse grandioso clube. Por fim, deixar um apelo para haja da parte de todos uma participação mais ativa na vida do clube, ajudando-nos a elevar cada vez mais o nome do Praiense e por conseguinte o nome da Praia da Vitória e de todos nós – praienses. Termino, informando que após pequenas obras de remodelação na nossa esplanada no sentido de a transformar num espaço mais agradável, iremos abrir este verão, convidando todos a por lá passarem, para ao ar livre, disfrutarem de bons momentos de convívio, com a família, amigos e conhecidos, e assim, ajudar o Praiense a concretizar os seus objetivos. JP•

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ÉPOCA 2018/19

PLANTEL DO SPORT CLUB PRAIENSE

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o momento de fecho desta edição e segundo revelado por Marco Monteiro, presidente do SC Praiense, em entrevista que publicamos nas páginas anteriores, o “plantel encontra-se praticamente fechado”, não descurando diz, “oportunidades de última hora que possam surgir e revelar-se vantajosas para o clube”.

juntarão nos treinos, alguns juniores formados no clube e que poderão fazer parte das suas opções. A saber:

O mister Francisco Agatão, que uma vez mais interpreta a ambição de toda uma cidade de subir à II liga do futebol português, conta para já com 19 atletas seniores, aos quais, se

Luciano Serpa; Breno Freitas; Cristiano Pascoal; Diogo Martins (Careca); Itto Cruz (ex-Alcanenense); e Celso Raposo (ex-Almancilense).

GUARDA-REDES Mário Freitas e Leandro Turossi (ex-Olhanense).

DEFESAS

MÉDIOS Vítor Alves; João Peixoto; Diogo Moniz; André Martins (ex-Lusitânia); Kiko Sousa (ex-Gondomar); e Léléco (ex-Olhanense).

AVANÇADOS Diogo Fonseca; Cristiano Magina; André Silva; Daniel Esteves (ex-Alcanenense); e Vasco Goulart (ex-Vilanovense).

EQUIPA TÉCNICA

Comandada por Francisco Agatão, a equipa técnica conta com os adjuntos Nelson Silva e Álvaro Pereira. Nuno Pires, é simultaneamente fisioterapeuta e chefe do departamento de futebol, onde é coadjuvado por Ricardo Mendes. Os trabalhos terão início a 10 de julho, estando a apresentação oficial marcada para 28 ou 29 de julho, ao que tudo indica frente ao CD Santa Clara. O sorteio terá lugar a 13 de julho, na Cidade de Futebol, em Oeiras, estando o pontapé de saída agendado para 12 de agosto. JP•

SAD’S E SQUD’S: QUAL A MELHOR?

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decreto-lei n.º 10/2013 é perentório: Desde da época desportiva 2013/14 os clubes a disputar competições profissionais tem que optar obrigatoriamente por um de dois modelos: Sociedade Anónima Desportiva (SAD) ou Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas (SDUQ). Fundamentalmente a diferenciação jurídica entre SQUD’s e SAD’s está no montante de capital social e na percentagem dos clubes no mesmo. Enquanto numa SQUD este capital é exclusivamente do clube PUB

e varia de 50.000 euros a 250.000, conforme a competição profissional seja a I ou a II Liga, nas SAD’s, o clube apenas tem que assegurar 10% desse capital, no montante mínimo de 1 milhão de euros para os clubes da I Liga e de 200.000 euros para os da II Liga. As vantagens de um modelo em relação ao outro não são de todo evidentes, com as opiniões a dividirem-se. Uns sustentam que as SQUD’s preservam a identidade do clube ajustando-se à realidade económica do país e prevenindo eventuais excessos financeiros. Do outro lado

da barricada, argumenta-se que esta é a única forma de abrir os clubes aos investidores, potenciando o seu crescimento financeiro, devidamente auditado pela obrigatoriedade de nomeação de Revisores Oficiais de Contas, profissionalizando a gestão e equiparando-a a uma organização empresarial. Historicamente, existem bons e maus exemplos de cada tipo das opções. Pela negativa nas SAD’s exemplifica-se clubes como o histórico Beira-Mar e Olhanense ludibriados na gula dos investidores, da mes-

ma forna que se aponta em sentido contrário, o notável crescimento de emblemas como Braga e Aves. No caso das SQUD’s, percursos como os do Rio Ave e Tondela contrariam a ideia de projetos modestos e sem ambição. Estatisticamente a análise das últimas temporadas ao nível das duas ligas profissionais, revela que os clubes comercialmente constituídos como SAD’s obtiveram melhores classificações do que aqueles sob a forma de SQUD’s. JP•


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“VOLTANDO À VACA FRIA” (VII)

E DITORIAL

CEGUETAS DE UM OLHO? NÃO DOS DOIS…

A violência e a corrupção no desporto

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”, José Saramago no seu livro “Ensaio sobre a cegueira.

E

stas formas, infelizmente atadas ao mundo desportivo, nomeadamente no futebol, onde a corrupção, a violência, a deturpação da verdade desportiva continuam a fazer correr rios de tinta e sem soluções plausíveis à vista envergonha-nos a todos. A propósito, as recentes revelações do jornalismo de investigação que se têm debruçado sobre a viciação dos resultados desportivos, através do jogo da mala, não tem trazido nada de novo, pois ontem, hoje, isto é há muito tempo que se sabia existir, há e sempre houve intermediários desportivos com a ambição de comprarem jogadores de futebol, para perder, para empatar e ganhar jogos, nomeadamente ligados aos três grandes clubes de futebol, Benfica, Porto, Sporting e não só. E toda esta lamentável situação se agudizou face aos grandes fluxos financeiros a circular no futebol, há muito dinheiro em jogo, há muito dinheiro a ganhar e infelizmente o vil metal corrompe agentes e dirigentes desportivos desonestos, que os há e em abundância no estado actual do futebol português, tendo estas coisas ganhado uma dimensão enorme e diferente ultimamente, com o surgimento das apostas desportivas onde se jogam a rodos de dinheiro. As claques clubistas actuam cada vez mais com violência, por vezes extrema, em que os adeptos não podem assistir aos eventos desportivos descansados, o que implica grandes esforços e investimentos com a segurança, a fim de se evitar verdadeiras batalhas campais. A justiça desportiva tem sido permissiva a toda esta panóplia de situações onde a ética desportiva é atirada para o caixote do lixo, e por vezes perante a indiferença do poder político receoso de mexer em tão nevrálgicas situações que poderá acarretar desaires eleitorais. O direito desportivo, não foi ainda encarado como um verdadeiro ramo de direito, conquistando a autonomia que se arroga, criminalizando e punindo todas estas situações de forma eficaz que corroem e poem em causa a verdadeira essência do desporto, que exige assim uma lei adequada, mas com aplicação prática e efectiva, levando se necessário a despromoção de divisão dos clubes envolvidos em ilícitos criminais, porque o futebol não pode dar “guarida à escória social”. Os três grandes clubes do futebol português, Benfica, Porto e Sporting, não podem continuar a ser comparados, como já alguém muito bem fez, a três grandes eucaliptos que absorvem todos os arbustos e demais vegetação que lhes rodeia, porque a dependência dos pequenos clubes dos grandes clubes, devido à sua fragilidade, empurra-os para situações eticamente lamentáveis que em nada contribuem para a dignidade do desporto. O Diretor Sebastião Lima diretor@jornaldapraia.com

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José Ventura*

E

m artigo intitulado “Pr’á rua ... a toda a força!” publicado neste jornal a 5 de Janeiro de 2018, fazia com um certo ênfase referência à presença militar nos Açores como uma acção de “Psico” como a utilizada na guerra colonial e, numa das forma chamada de “Ação de presença”. No mesmo afirmei e torno a fazê-lo que nada me anima pessoalmente contra quaisquer dos elementos das mesma forças militares mas ao protagonismo do estado português através das mesmas por subordinação ao poder política depois do 25 de abril de de 74. No mesmo texto, divulgava o número de militares de origem açoriana (786 dos quais 613 pertencentes ao exército e desses, apenas 106 do quadro permanente) não conseguindo entretanto, chegar ao número por categoria nos postos de oficiais, sargentos e praças. Noticias de 6 de Janeiro p.p., revelam que o recém empossado Comandante da Zona Militar dos Açores, anunciou a missão de organizar o 7º contingente nacional da coligação de combate ao Daesh. Acrescentou o CZMA que o referido contingente seria constituído por 30 “militares açorianos” S.Exa. o Brigadeiro-Gene-

ral agora à frente da chamada Zona Militar dos Açores, referindo a dualidade da organização militar, acrescenta, a importância acrescida do apoio à população civil com a seguinte afirmação: “não sendo de natureza essencialmente militar, constituem uma das nossas principais responsabilidades e preocupações, e para as quais orientamos parte significativa do nosso treino e encargo operacional”. Abril de 2018, dia 18 : http://www. exercito.pt/pt Exército entregou Símbolo da Pátria ao Contingente Nacional para o Iraque 18-04-2018 11:00. Militares irão ministrar formação às Forças de Segurança iraquianas, no âmbito do combate ao terrorismo. “Realizou-se no dia 18 de abril, no Campo de São Francisco, na cidade de Ponta Delgada, S. Miguel, Açores, a cerimónia de entrega do Estandarte Nacional ao 7° Contingente Nacional para o Iraque.” Satisfazendo os compromissos internacionais assumidos por Portugal, no quadro de apoio e contributo à segurança dos povos, o Exército aprontou, no Regimento de Guarnição Nº 2, na Zona Militar dos Açores (...) Nesta redação, de 478 palavras apenas só duas vezes aparece a palavra Açores e a referência a militares açorianos”nicles”. Referência especial ao “olheiro mor” o Embaixador residente e, aos novos e ditos inspectores do cacimbo o Secretário de Estado da Defesa Nacional, e do Chefe

do Estado-Maior do Exército. Na verdade, e em relação à composição do contingente em relevo, duvidamos de que seja composto por militares açorianos porque, se tivermos em conta os números no inicio apontados, dificilmente teremos o número de graduados entre oficiais e sargentos que do mesmo fazem parte. Quer queiram ou não, é visível que o estado português está a lançar uma campanha psicológica de intensificação de domínio nos Açores, através de uma acção psico-social baseada na presença de um efetivo militar cada vez mais visível, usando uma das práticas mais influenciais, a de “presença”. Ela está, nas na comunicação social através de informações de factos relacionados com a sua acção seja pelos serviços que prestam, sejam com a entrega de equipamentos como lanchas e outros artefactos por parte da marinha. Com paradas militares fora quartéis, concertos, breafings, recepções à juventude com visitas a instalações militares e afins. Entrega de medalhas a quem de direto têm às mesmas mas a conta gotas para fazer render o peixe, como se diz popularmente. Se em tudo isso não há “marosca” vou ali e já volto. Porque só um cego é que não vê! E tal só se diz da pessoa que não quer ver o que está bem na sua frente. Por opção, o autor não respeita o acordo ortográfico. • (*)

EUTANÁSIA: A AUTONOMIA DO PEDIDO

Silveira de Brito

H

oje o argumento mais invocado em defesa da legalização da eutanásia é a autonomia do doente: todo o ser humano tem direito a decidir do seu destino e, portanto, tem direito a optar pela eutanásia. Que o doente tem direito a fazer o pedido, com certeza; que PUB

tenha direito à satisfação do pedido, penso que não. Mas o tema é bem complexo, pelo que merece alguma reflexão. Quanto ao pedido, há dois elementos a ter em conta: (1) “o que é que se entende por autonomia do ser humano?” e (2) “o que é que pretende o doente quando pede a eutanásia?” Numa formulação simples, a autonomia é a capacidade e o direito que o ser humano tem de escolher e construir o seu próprio destino. Trata-se, contudo, de uma capacidade humana e, portanto, limitada, condicionada. Disse Ortega Y Gasset “eu sou eu e a minha circunstância”, ou seja, não sou um deus, tenho as minhas limitações e os meus condicionalismos. E neste capítulo deve

atender-se a dois aspectos: (1) o meio ambiente em que vivo condiciona muito as minhas opções e, (2) sendo a autonomia humana limitada, será admissível que escolha algo que é irreversível como é a morte? A liberdade de escolha poderá justificar a eliminação de quem escolhe? Não me parece. Dizia que a autonomia humana é condicionada. É de facto muito condicionada, pelo que, perante o pedido de eutanásia, antes de mais nada se deve perguntar: qual o motivo que leva o doente a fazer tal pedido? Pretende, efectivamente, morrer ou o pedido significa que se sente mal, está em sofrimento e, no fundo, o que pretende é que o ajudem a (Continua na página seguinte)


2018.06.22

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OPINIÃO | JP

CRÓNICA DO TEMPO QUE PASSA (XXX)

LICEU INTERNACIONAL E A DIVERSIDADE DE CULTURAS: UM TESTEMUNHO VIVIDO (*) (*) 2ª parte da minha intervenção, na qualidade de 1º Director da Secção Portuguesa - Le Pecq, França, 25.05. 2018 de cidadania, intercâmbio de conhecimentos e de fraternidade entre os jovens e adultos de vários países, detentores de diferentes culturas, na mira duma união de todos eles com um objectivo comum: a felicidade dos seres humanos, a paz e a união entre os povos.

O

António Neves Leal

espírito internacional que se respirava em Saint-Germain-en-Laye tal como hoje, foi uma das vivências mais interessantes que observámos após a nossa chegada a França. Depressa nos habituámos à convivência e à profusão de línguas e culturas diferentes, porque desde criança havíamos tido oportunidade de haurir uma atmosfera semelhante com a forte presença de tropas aliadas (inglesas e norte-americanas), na Base das Lajes da Ilha Terceira, Açores, Portugal nos anos da Segunda Guerra Mundial e, mais tarde, com a Base Francesa de telemedidas de satélites, na ilha das Flores, a mais ocidental do arquipélago. Tal presença militar trouxe benefícios às ilhas e, no caso da Terceira, criou também graves problemas ambientais e sociais, havendo algumas analogias com o que se passou em Saint-Germain, até 1966, data da transferência do SHAPE para a Bélgica, na sequência da retirada da França da estrutura militar da OTAN. O próprio Liceu Internacional, até aos anos setenta do século XX, era popularmente conhecido por Liceu do SHAPE e Liceu da OTAN. Para mim, não interessado agora na designação, o Liceu Internacional de Saint-Germain-en-Laye foi a senha que me abriu novos horizontes, a bússola orientadora para a minha realização pessoal e profissional, assim como um trunfo ou vantagem para um mais consciente e melhor futuro da humanidade. Sem a minha passagem por ele, a minha vida teria ficado mais pobre e monótona. A perda dessa oportunidade única teria trazido, certamente, alguma inevitável frustração. Os que tiveram a sorte de trabalhar até hoje, neste Liceu, guardam para sempre a mensagem de pertença ao seu ”esprit germainois” e sentem muito orgulho por esta grande escola

Como testemunho particular deste orgulho, em muitas circunstâncias e lugares tenho manifestado apreço, apego e amor incondicional em diversos escritos, entrevistas, congressos e colóquios, encontros com turistas e iatistas francófonos, que passam pelos Açores, correspondência com antigos alunos e amigos da Secção Portuguesa, etc. Na minha página do Facebook, figura, há já alguns anos, a foto do Château do Liceu, como bandeira, incentivo e encanto para a vida. Em dois dos meus livros, sobretudo no «Varanda de Paris», está espelhado esse interesse pela França, um país de grande acolhimento e destino para muitos povos, que me marcou, de forma indelével, como bem observou na sua carta de felicitações, o Embaixador da França em Portugal, Monsieur Jean Michel Casa, aquando do lançamento do referido livro. No conteúdo desta efeméride sobre os vinte anos da Secção Portuguesa do Liceu Internacional neste colégio da cidade de Le Pecq, onde vivi mais de um ano, não posso terminar sem deixar de sublinhar o enorme progresso na criação de novas Secções nacionais, que quase duplicaram as oito existentes, há quatro décadas, e as actividades praticadas entre si. O Liceu, agora, acolhe uma maior diversidade de línguas e culturas. É o berço histórico das Secções nacionais e o modelo para a criação de escolas, colégios e outros liceus interessados no multiculturalismo e multilinguismo, não só em França, mas igualmente nos demais países do planeta, com especial atenção para os de origem românica, cujos falantes representam, actualmente, mais de mil milhões de falantes nos cinco continentes, como eu previra numa comunicação ao «II Colóquio Clássico Internacional», realizado na Universidade de Aveiro, em 1997. Nela falava da crescente saturação da especialização «à outrance» e à avassaladora domi-

nação do imperialismo anglo-saxónico, cada vez mais afastado do Humanismo e desgastado pela erosão do tempo e da hegemonia obsessiva. Por fim, defendia «o alargamento do cânone dos autores e diversidade de textos a estudar, métodos e técnicas diferenciadas, que deverão contemplar várias áreas do conhecimento, numa visão global e centrada no Homem, suas aspirações e sentimentos mais profundos», como preconizam a francofonia e a lusofonia, ambas com raízes latinas. Nas mais diversas latitudes, este espírito internacional, fomentado em Saint-Germain, facultará aos novos aprendentes um ensino verdadeiramente bilingue e bicultural. Isto vem sucedendo já com as crescentes vantagens pedagógicas, fomentadoras da interdisciplinaridade, dos trabalhos de grupo e das exigências técnicas para a investigação. Tudo isto visa a busca de um melhor conhecimento de um mundo tão diverso, cuja natureza não se compagina com a existência de uma única pedagogia e uma só língua. Por mais universal e difundida que uma e outra pretendam ser. Merece rejeição a filosofia centrada nos egoísmos mesquinhos, que ignoram o humanismo, a importância e contributo dos outros povos e culturas, menosprezando os desafios do presente e do futuro da humanidade. As diferenças entre a Secção Portuguesa actual e a dos primórdios da sua existência, são verdadeiramente abissais. Passaram quarenta e cinco anos, mas ninguém outrora podia prever nem esperar tantas e tão rápidas mudanças. O intercâmbio desenvolvido com as suas congéneres internacionais aumentou imenso. Hoje o Liceu Internacional alberga catorze secções nacionais. O bacharelato internacional conheceu incremento considerável, com resultados invejáveis, a rondar os 100 por cento de êxito para os alunos da nossa Secção. A criação dos ensinos pré-primário e primário permitiu o aumento dos efectivos das Secções, nomeadamente os da Secção Portuguesa. Esta até 1979, não tinha conseguido, ainda, aqueles ensinos, embora tivessem sido feitos esforços nesse sentido,

como referido já anteriormente; tudo isto revela uma grande transformação para melhor. Os meios técnicos utilizados são completamente diferentes dos que havia nos primeiros anos de funcionamento da Secção Portuguesa. Os avanços obtidos são incontestáveis, o que muito alegra os alunos, professores, pais e pessoal administrativo dos tempos passados e hoje, nostalgicamente aqui recordados. Não podemos esquecer, também, os amigos que já partiram na viagem sem retorno, mas presentes pela saudade no nosso coração grato e enternecido de portugueses e lusófonos. Tal como eles e através do seu exemplo, estamos convocados para a difusão dos valores da portugalidade. Aqui, ou em qualquer outra parte do mundo. Este incremento deixado pelos cabouqueiros e pioneiros desta aventura constitui um enorme orgulho, merecendo todos os seus intervenientes do passado e os actuais a maior gratidão e apreço por tudo o que foi conseguido, na longa caminhada percorrida. Foram iniciativas tão férteis que conduzirão, em breve, à concretização da antiga divisa e do sonho: uma escola onde todos os seus frequentadores se entenderiam, apesar da diversidade dos povos. Os factos já estão aqui a confirmar as profecias dos fundadores de 1952. Um cosmopolita curioso, aqui chegado, fica emocionado e deslumbrado pelo que pode ver nas actividades escolares: trocas de experiências, métodos diferentes, convívios festivos e iniciativas extra-escolares; saídas à descoberta não só do país anfitrião, mas de todos os que estão representados pelas suas Secções nacionais, com tudo aquilo que eles têm de identitário e de útil para o enriquecimento da formação humanística, científica e técnica dos estudantes hodiernos. Tudo isto é basilar e imprescindível para a preparação de um futuro melhor na nossa casa comum—o planeta-terra, que partilhamos e de que todos somos, ou devemos ser, filhos por inteiro. E para concluir vou ler um poema de Eugénio de Andrade “As palavras,” neste 95º aniversário do seu nascimento. • PUB

EUTANÁSIA: A AUTONOMIA DO PEDIDO (Continuação da página anterior)

superá-lo? Os profissionais de saúde que trabalham em cuidados paliativos, quando interrogados sobre os pedidos de eutanásia, dizem que são raríssimos, que os doentes por vezes chegam aos serviços pedindo-a, mas, depois de devidamente tratados e acompanhados, deixam de falar nisso; ou seja, o que motivava o pedido não era a vontade de morrer, mas o desejo de superarem o sofrimento. Perante isto, o que parece necessário, muito antes de enveredar pela despenalização da eutanásia, é debater a devida e rápida implementação dos cuidados paliativos em todo o país para que as pessoas em fim de vida sejam devidamente cuidadas. Muitas vezes ouve-se a alguém que está de boa saúde: “não é a mor-

te que me assusta, mas o sofrimento que normalmente a acompanha!” Há anos, num colóquio, no fim da minha comunicação, alguém perguntou-me se o sofrimento era humano. Comecei por dizer que qualquer resposta àquela pergunta tinha de assumir como ponto de partida que o sofrimento faz parte da vida, o que não significa andar à procura dele – seria masoquismo. Fazendo parte da vida, temos que o enfrentar quando aparece, tentando encontrar caminhos para o integrar, para o articular com o resto da vida. E uma coisa não podemos esquecer: o sofrimento pensado e o sofrimento vivido são bastante diferentes; a nossa época não deixa ver bem esta distinção, porque está dominada por um individualismo e hedonismo difíceis de ultrapassar. Mas quando o sofrimento chega,

normalmente encontramos motivos para o viver, motivos que nunca nos tinham passado pela cabeça antes, e precisamos de companhia. Acompanhar alguém nestas circunstâncias não é fácil, mas fugir é de um egoísmo inaudito: o sofrimento e a morte do outro dizem-nos respeito. No debate em torno da eutanásia, aparece também o argumento da “morte digna”, expressão de uma vaguidade extrema. A dignidade é uma qualidade/valor que cada ser humano tem pelo simples facto de existir: o ser humano é um ser com dignidade. Ora respeitar a dignidade é tratar e cuidar humanamente as pessoas. NE: Texto publicado originalmente no “Diário dos Açores”, edição n.º 41.557.

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JP | MARÉ DE POESIA

R

icarda Hilária, 42 anos, nasceu a 04 de julho de 1975, na ilha Terceira, na bonita Praia da Vitória Cidade virada para o mar.

2018.06.22 A escrita surge-lhe inconstante, imprevisível, sem padrão, sem regras, ainda na adolescência, em que se apaixona pela primeira vez, em que sente as famosas “borboletas no estômago” e percebeu que não era fome, subitamente tudo ficou mais bonito, a vida mais bonita, até o ar que não se vê é bonito.

sentimentos, inacreditavelmente aos olhos de muitos, é demasiado tímida e muitas vezes pode parecer distante e fria por não saber verbalizar as palavras, é nessa altura que a escrita aparece e lhe permite o que a voz cala e assim, continua a escrever umas coisinhas simples, de vez em quando.

Mas os anos vão passando e a vida é uma verdadeira montanha russa; apercebe-se da capacidade incrível de amar, esquecer e a maior prova de amor… perdoar e até deixar ir, sem tristezas e sem rancor no coração.

Quando escreve não precisa necessariamente estar apaixonada ou triste ou eufórica, escreve única e simplesmente quando menos espera.

De signo caranguejo, envolta de

Muitas são as pessoas na sua vida, mas tão poucas a conhecem profundamente e que conseguem tocar-lhe a alma.

DESEJO Sinto o toque suave, dos teus lábios nos meus, O calor do teu peito, que roça contra o meu. Tuas mãos em sintonia com todos os desejos do meu corpo. Sentido apurado, com movimentos em harmonia com cada curva e ambição. Com esse teu olhar, penetrante, entusiasmado e louco, vem aquele desejo bom e inconfundível! Aquela sede insaciável, como se não houvesse amanhã. Aquela sede, sede do teu todo, de ti, aquele que todas as noites, vem saciar a minha sede! Ricarda Hilária PUB

Os mais pacientes e atentos, conseguem ver a caixinha de surpresas que existe em si, por vezes tão frágil como um cristal e outras tão forte quanto uma rocha, que ninguém poderia imaginar. Continua a acreditar no amor, tal como o sentiu pela primeira vez por aquele sorriso, o mais bonito que alguma vez viu. Não que os outros sejam menos bonitos, mas, porque sim. Porque foi esse sorriso que teve a coragem de a conquistar e amar pela primeira vez.

• de idade.

SENTIMENTO COR-DE-ROSA Sinto uma vontade incontrolável Que toma conta de mim, Umas vezes suave como pétalas de rosa Outras tantas, tempestades Em mar revolto. Uma alma dentro de um corpo De mente sã Fantasiada de diabo Quero, quero e tanto quero Mas nem sempre sei se quero, Apertar ou soltar aquele laço ou simplesmente deixar solto Aquele grito Que embora calado Estremece dentro de mim. São sentimentos cor-de-rosa Assombrados de vermelho Labaredas de fogo gelado Chuvas quentes Em verões de inverno. Sentimentos vão e vem Dentro de um corpo Tão frágil quanto o cristal E ao mesmo tempo tão forte Quanto o poderíamos imaginar.

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Descobriu na adolescência que gostava de escrever. Escreveu alguns versos neste período da sua vida, não os tendo guardado. Há seis anos, sente novamente o desejo de escrever, tomando agora o cuidado de ir guardando o que lhe vai na alma.

E

lisa Lopes é natural da Fonte do Bastardo, concelho da Praia da Vitória, residindo em Brampton, Canada, desde os 16 anos

A saudade A saudade é uma chama Que mora no meu peito Um adeus que dentro mora E me deixa assim deste jeito A saudade é aquilo que se foi Que um dia existiu foi presente Em passado transformado, que dói E que nunca se esqueceu da gente A saudade é uma imagem Dum caso dum momento É também a história de alguém Voando com o tempo A saudade é uma pintura Com as cores da alegria Um jardim de flores que inspira E da bálsamo á minha vida

O Jardim da Poesia A passeio pelo mais belo jardim Encontrei letras pelo ar a dançar Agarrei nelas e as decorei assim Nos meus versos as faço cantar

A poesia de Elisa Lopes mergulha na saudade que sente das suas raízes, do amor que nutre pela sua família e pela presença de Deus nas linhas que escreve.

• E neste jardim magnífico Um banco a convidar Também um ombro amigo Um poema a nos saudar Neste jardim encantador Matizado das formosas flores Aonde o sonho é autor Do quadro das belas cores Neste sublime jardim da vida Colorido de bons gestos e gostos Cada dia é uma poesia Um arco iris de grandes amores.

Elisa Lopes

FICHA TÉCNICA COORDENAÇÃO Carla Félix COLABORADORES Ricarda Hilária Elisa Lopes maredepoesia@jornaldapraia.com


2018.06.22

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INFORMAÇÃO | JP Humberto Filipe 18h30 – 21h00 01 JUL Porto das Pipas Angra do Heroísmo – Sanjoaninas Tourada não tradicional Humberto Filipe, João Quinteiro Pai, Francisco Pereira e António Lúcio 15h00 – 17h30

24 JUN Rua de São Pedro Angra do Heroísmo – Sanjoaninas Largada de Touros Ezequiel Rodrigues 13h00 – 15h00 Praça de Toiros da Ilha Terceira Angra do Heroísmo 45º Aniversário dos Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense. Despedida do Cabo Adalberto Belerique e Inauguração do Monumento ao Forcado Cavaleiros: Tiago Pamplona; João Moura Jr. e Francisco Palha Toiros: Ascensão Vaz e João Gaspar Forcados: Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense Banda: Sociedade Filarmónica Rainha Santa Isabel das Doze Ribeiras 18h30 25 JUN Rua de São João Angra do Heroísmo – Sanjoaninas Espera de gado Manuel João Rocha 12h00 – 14h00 26 JUN Praça de Toiros da Ilha Terceira Angra do Heroísmo Grandioso Espetáculo Matadores: Dniel Luque, Tomás Campos e Andrés Roca Rey Toiros: Rego Botelho Banda: Filarmónica Recreio de Santa Bárbara 20h00 28 JUN Estrada Regional Feteira Tourada não tradicional Ezequiel Rodrigues, Humberto Filipe, João Quinteiro Pai e Francisco Pereira 18h00 – 20h30 29 JUN Praça de Toiros da Ilha Terceira Angra do Heroísmo Concurso de Ganaderias Cavaleiros: Vítor Ribeiro, João Moura e João Pamplona Toiros: Rego Botelho, Casa Agrícola José Albino Fernandes, Ascensão Vaz, Falé Filipe, João Gaspar e Francisco Sousa Forcados: Forcados Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense e Forcados Amadores de Merced Banda: Filarmónica Chino Valley D.E.S. Club 20h00 30 JUN Porto de São Fernando Porto Martins Tourada tradicional

HOJE (22/06) Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

HOJE (22/06)

SÁBADO (23/06)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

Praça de Toiros da Ilha Terceira Angra do Heroísmo Espectáculo Misto Cavaleiro: Vítor Ribeiro Matadores de Toiros: Manuel Escribano e Jesús Enrique Colombo Toiros: Casa Agrícola José Albino Fernandes Forcados: Forcados Amadores do Ramo Grande Banda: Sociedade Filarmónica União Católica da Serra da Ribeirinha 18h30 02 JUL Porto de Pescas Vila Nova Tourada não tradicional Rego Botelho 18h30 – 21h00

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

SEGUNDA (25/06)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

TERÇA (26/06)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

QUARTA (27/06)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

03 JUL Nª Srª Ajuda Vila Nova Tourada tradicional Rego Botelho 18h30 21h00 Fontes: CMAH e CMPV

DOMINGO (24/06)

MISSAS DOMINICAIS NO CONCELHO

SÁBADOS

15:30 - Lajes; 16:00 - Fontinhas (1) ; 16:30 - Casa da Ribeira; 17:00 - Cabo da Praia; 17:30 - Matriz Sta. Cruz; 17:30 - Vila Nova; 18:00 - Fontinhas (2); 18:00 São Brás; 18:00 - Porto Martins; 18:00 - Sta Luzia, BNS Fátima; 18:00 - Quatro Ribeiras; 19:00 - Lajes; 19:00 - Agualva; 19:00 Santa Rita; 19:00 - Fonte do Bastardo; 19:30 - Biscoitos, IC Maria (3) ; 19:30 - Biscoitos - São Pedro (4)

Enquanto há catequese; (2) Quando não há catequese; (3) 1.º e 2.º sábados; (4) 3.º e 4.º sábados (1)

DOMINGOS

08:30 - São Brás; 09:00 - Vila Nova, ENS Ajuda; 10:00 - Lajes, Ermida Cabouco; 10:00 - Cabo da Praia (1); 10:00 - Biscoitos, S Pedro; 10:30 - Agualva; 10:30 Casa Ribeira (1); 10:30 - Santa Rita 11:00 - Lajes; 11:00 - São Brás; 11:00 - Cabo da Praia (2); 11:00 - Porto Martins; 11:00 - Casa da Ribeira (2); 11:00 - Biscoitos, IC Maria; 12:00 - Vila Nova; 12:00 - Fontinhas; 12:00 - Matriz Sta. Cruz (1); 12:00 - Quatro Ribeiras; 12:00 - Sta Luzia; 12:15 - Fonte Bastardo; 12:30 - Matriz Sta.

Cruz (2); 13:00 - Lajes, ES Santiago; 19:00 - Lajes; 19:00 - Matriz Sta. Cruz (3); 20:00 - Matriz Sta. Cruz (4)) (1) Missas com coroação; (2) Missas sem coroação; (3) De outubro a junho; (4) De julho a setembro

SANJOANINAS 2018 CORTEJO DE ABERTURA ANGRA, BERÇO DO LIBERALISMO Local: Alto das Covas > Rua da Sé > Rua de São João > Rua dos Minhas Terras > Rua Direita > Praça Velha Hora: 22H00

QUINTA (28/06)

SÁBADO (23/06)

SÁBADO (30/06)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

SEXTA (29/06)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

SANJOANINAS 2018 DESFILE DE MARCHAS DE ADULTOS Local: Alto das Covas > Rua da Sé > Rua de São João > Rua dos Minhas Terras > Rua Direita > Praça Velha Hora: 21H00

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

DOMINGO (24/06)

SEGUNDA (02/07)

DOMINGO (01/07)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

SANJOANINAS 2018 DESFILE DE MARCHAS DE CRIANÇAS E ADULTOS Local: Alto das Covas > Rua da Sé > Rua de São João > Rua dos Minhas Terras > Rua Direita > Praça Velha Hora: 21H00

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

SEGUNDA (25/06)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

SANJOANINAS 2018 DESFILE DAS FREGUESIAS DO CONCELHO DE ANGRA DO HEROÍSMO Local: Alto das Covas > Rua da Sé > Praça Velha Hora: 21H00

TERÇA (03/07)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

QUARTA (04/07)

QUINTA (05/07)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

TERÇA (26/06)

BISCOITOS

SANJOANINAS 2018 DESFILE DO DESPORTO Local: Alto das Covas > Rua da Sé > Praça Velha Hora: 21H00

Posto da Misericórdia ( 295 908 315 SEG a SEX: 09:00-13:00 / 13:00-18:00 SÁB: 09:00-12:00 / 13:00-17:00

QUARTA (27/06)

Farmácia Andrade Rua Dr. Adriano Paim, 142-A ( 295 902 201 SEG a SEX: 09:00-18:30 SÁB: 09:00-12:30

VILA DAS LAJES

SANJOANINAS 2018 DESFILE DA ETNOGRAFIA Local: Alto das Covas > Rua da Sé > Praça Velha Hora: 21H00

VILA NOVA

QUINTA (28/06)

Farmácia Andrade

SANJOANINAS 2018 DESFILE DE CHARANGAS, CARROS CLÁSSICOS, MOTOS E TODO-O-TERRENO Local: Alto das Covas > Rua da Sé > Praça Velha Hora: 21H00

Caminho Abrigada ( 295 902 201 SEG a SEX: 09:00-12:00 / 16:00-18:00 Farmácias de serviço na cidade da Praia da Vitória, atualizadas diáriamente, em: www.jornaldapraia.com


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