Jornal da Praia | 0522 | 01.06.2018

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QUINZENA

01 A 14.06.2018 Diretor: Sebastião Lima Diretor-Adjunto: Francisco Ferreira

Nº: 522 | Ano: XXXVI | 2018.06.01 | € 1,00

QUINZENÁRIO ILHÉU - RUA CIDADE DE ARTESIA - 9760-586 PRAIA DA VITÓRIA - ILHA TERCEIRA - AÇORES

www.jornaldapraia.com

EXIGE TRIBUNAL DE CONTAS À CMPV

DELIMITAÇÃO DO PERÍMETRO EMPRESARIAL ATÉ OUTUBRO NO CONCELHO | P. 3

ENTREVISTA

C A R L O S C O S TA

“A grandeza dos clubes passa pela ambição dos seus dirigentes e o caminho que pretendam trilhar”.

PERSPETIVA TESE MONARQUIA ACADÉMICA | P. 14

FUTURO DA PRAIA PASSA PELO MARKETING TERRITORIAL TURISMO | P. 5

DESTAQUE | P. 8 E 9

CMPV E CCAH

“MARÉ DE POESIA” UNEM ESFORÇOS EM PROL DO DESENVOLVIMENTO Nesta edição o “Jornal da Praia” inicia um espaço dedicado à poesia, sob a coordenação de Carla Félix e aberto à participação de poetas e poetisas praienses.

DO CONCELHO E ILHA

Envie os seus poemas para maredepoesia@jornaldapraia.com e veja-os publicados na página 14.

ASSINALA MAIS UMA VEZ, DIA DA FAMÍLIA

PUB

ECONOMIA | P. 7

SC DA MISERICÓRDIA DA PV SOCIEDADE | P. 11


JP | CANTO DO TEREZINHA & CONTO

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NOVA DOENÇA INFECTO CONTAGIOSA Uma equipa de cientistas portugueses concluiu a primeira fase da sua investigação e acaba de anunciar que, efetivamente, existe uma nova doença infecto contagiosa. Esta equipa esteve (e continuará a estar) analisando umas bactérias suspeitas de poderem vir a ser declaradas como as responsáveis por doenças contagiosas. De momento, apenas confirmam a existência de uma nova doença que batizaram de ‘sokrática’. Como é natural com notícias desta natureza, levantou-se um enorme apreensão entre os que suspeitam ter podido ser

atingidos pela bactéria em causa. A coisa torna-se mais assustadora na medida em que o contágio não se faz pelas vias habituais – contacto físico, relações sexuais, saliva, etc. - mas por um mecanismo a que os cientistas investigadores apelidam de ‘transmissão mental’. Canto do Terezinha está em condições de afirmar que vários cidadãos esgotaram os estoques farmacêuticos de champôs, cremes repelentes, anti comichões, anti sarna, etc., porém sem resultados. A zona de Lisboa onde se verifica a maior concentração de eventuais afetados é o Largo do Rato, mas os cientistas, sabendo

que as bactérias, assim como o amor, são cegas, terão podido espalhar-se por outras zonas, tais como Lapa e Largo do Caldas. Não se conhece se nos Açores há muitos atingidos. Mas, se os houver, poderão ter sido alvo de uma estirpe menos agressiva por ação da sempre elevada humidade relativa do ar que se verifica na região. Seja como for, por aqui também há gente assustada. Perante este quadro, os responsáveis pela saúde pública açoriana aconselham a que os cidadãos se lavem por cima e por baixo.

TENDA MULTIUSO Diz o povo na sua imensa sabedoria popular, «quem não tem cão caça com gato», poderá não ser a mesma coisa, mas não se fica por caçar! Esta capacidade de ‘desenrascar’ é apontada por alguns como um dos grandes obstáculos ao desenvolvimento estrutural

do país e, por outros, uma nobre virtude, que vai permitindo fazer muito, com muito pouco. Canto do Terezinha não conseguiu apurar a que grupo pertence os atuais responsáveis autárquicos, mas não deixou de notar que o ‘defeito’ ou a ‘virtude’ de ‘desenras-

car’ por lá mora. Ora, se o pavilhão multiuso da Praia da Vitória é velha promessa, esquecida na reinvenção da gestão autárquica, monta-se uma tenda. Poderá não a ser a mesma coisa, mas as Feiras não ficam por realizar!.

CONTO INSULAR (IV)

A VIAGEM SALVADORA (NE: Continuação da edição anterior) Por: Emanuel Areias

À

conversa chegava o tema da bravura e da festa. Francisco estava habituado a não ter motivos para ser um rapaz bravo e sem receios. Vivia uma vida muito bem estabelecida, sem que o desafio da natureza se impusesse. Nunca teria de enfrentar os cornos de um toiro pela frente, ou melhor, nunca teria de enfrentar a vida pelos cornos. Havia de sofrer de uma maneira diferente porque o sofrimento era das poucas coisas comuns entre os dois amigos. A vida pelos cornos era, segundo Luís Miguel, para conseguir algo mais do que aquilo que se tinha na ilha, ter de se sair como obrigação. Sair e quase nunca voltar. Depois a festa. Luís Miguel falava do espírito comunitário, da sociedade unida e das festas anuais. Descrevia a sua freguesia como um lugar de magia durante o Carnaval e o Verão. Francisco não sabia que durante o Carnaval na Terceira, as salas de espetáculo abriam durante 4 dias seguidos e as pessoas não arredavam pé, para verem os trajes, as músicas,

as letras e os assuntos de cerca de 60 danças. Não sabia porque não tinha de saber e não teria gosto em aguentar das 3 da tarde às 3 da manhã, num salão de pé, durante os 4 dias, à espera da dança que não estava ali ainda, a beber cerveja, a comer tremoço e bifanas. Impaciente como se tem de ser na cidade não aguentava 2 horas. Luís Miguel adiantava-se naquela noite, à beira-mar, junto do seu amigo lisboeta, e falava naquilo que tinha originado a terra onde estavam. Os vulcões e os sismos. Francisco receou a conversa, porque não queria provar da sensação da terra tremer os seus pés. Só o ilhéu sabia o que era entrar num buraco, nas entranhas da terra, e sentir que isso era parte da sua identidade. O continental entraria e ficaria deslumbrado, mas nunca entenderia a sensação. Quanto aos sismos, o lisboeta via-os como algo perigoso. Luís Miguel explicava que era somente a terra a

respirar, tal como os humanos o fazem. Depois daquela conversa, Francisco soube sentir-se mais próximo da realidade que aquela ilha lhe possibilitava. Ainda faltavam alguns dias para regressar a casa. Embora estivesse mais à vontade, começava a sentir no estômago um certo desassossego. Já estava farto do excesso de mar e a terra já não era suficiente para os passos que queria dar. Era uma agonia tremenda, que lhe fazia vomitar, mesmo que fosse apenas angústia, o que lhe saía do corpo. Na noite antes da partida, Francisco já era mais ilhéu do que alguma tivera sido. Era mais próximo das ilhas do que qualquer outro continental que nunca tivesse visitado aqueles pontinhos do mapa. Continuava a sentir a impressão no estômago. Não lhe passava e dificilmente passaria. Era intrínseco a Francisco não ser da ilha.

Os dois amigos falaram nessa última noite sobre aquilo que consideravam ser ignorância. Eram poetas em momentos de despedida e tinham jeito para argumentar. Sabiam completar as ideias um do outro. Luís Miguel perguntava a Francisco o que era ser ignorante. Este sem uma resposta digna ou bem construída, por não ter muito tempo para responder, começou por dizer que um ignorante é aquele que teima em desconhecer, por defeito, esquecimento ou convicção. É aquele que tem uma noção superficial de cultura e nunca vê o todo, para só conhecer a metade. Luís Miguel concordava com estas ideias sinceras e corretas. No momento da despedida, Luís Miguel chegou-se ao ouvido de Francisco, ao mesmo tempo que o abraçava longamente, e disse: da ignorância, esta viagem te salvou. O lisboeta partiu, convicto de que voltaria. •

FICHA TÉCNICA PROPRIETÁRIO: Grupo de Amigos da Praia (Associação Cultural sem fins lucrativos NIF: 512014914), Fundado em 26 de Março de 1982 REGISTO NO ICS: 108635 FUNDAÇÃO: 29 de Abríl de 1982 ENDEREÇO POSTAL: Rua Cidade de Artesia, Santa Cruz, Apartado 45 - 9760-586 PRAIA DA VITÓRIA, Ilha Terceira - Açores - Portugal TEL: 295 704 888 DIRETOR: Sebastião Lima (diretor@jornaldapraia.com) DIRETOR ADJUNTO: Francisco Jorge Ferreira ANTIGOS DIRETORES: João Ornelas do Rêgo; Paulina Oliveira; Cota Moniz CHEFE DE REDAÇÃO: Sebastião Lima COORDENADOR DE EDIÇÃO: Francisco Soares, CO-1656 (editor@jornaldapraia.com) REDAÇÃO/EDIÇÃO: Grupo de Amigos da Praia (noticias@jornaldapraia.com; desporto@jornaldapraia.com); Elvira Mendes; Rui Sousa JP - ONLINE: Francisco Soares (multimedia@jornaldapraia.com) COLABORADORES: António Neves Leal; Aurélio Pamplona; Emanuel Areias; Francisco Miguel Nogueira; Francisco Silveirinha; José H. S. Brito; José Ventura; Nuno Silveira; Rodrigo Pereira PAGINAÇÃO: Francisco Soares DESENHO NO CABEÇALHO: Ramiro Botelho ADMINISTRAÇÃO José Miguel Silva (administracao@jornaldapraia.com) SECRETARIADO E PUBLICIDADE: Eulália Leal (publicidade@jornaldapraia.com) LOGÍSTICA: Jorge Borba IMPRESSÃO: Funchalense - Empresa Gráfica, S.A. - Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, 50 Morelena - 2715-029 PÊRO PINHEIRO ASSINATURAS: 15,00 EUR / Ano - Taxa Paga - Praia da Vitória - Região Autónoma dos Açores TIRAGEM POR EDIÇÃO: 1 500 Exemplares DEPÓSITO LEGAL: DL N.º 403003/15 ESTATUTO EDITORIAL: Disponível na internet em www.jornaldapraia.com NOTA EDITORIAL: As opiniões expressas em artigos assinados são da responsabilidade dos seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do jornal e do seu diretor.

Taxa Paga – AVENÇA Publicações periódicas Praia da Vitória


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NO CONCELHO | JP

TRIBUNAL DE CONTAS RECOMENDA À CMPV

REFORMULAÇÃO DO SETOR EMPRESARIAL MUNICIPAL ATÉ AO FINAL DE OUTUBRO

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relatório da auditoria do Tribunal de Contas (TdC) ao setor empresarial do Município da Praia da Vitória (MPV), realizada em 2015 e referente ao período compreendido entre 2013 e 2015, apresenta como decisão o envio por parte do presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, até ao final do mês de outubro, informação sobre as medidas tomadas em acatamento das recomendações formulaPUB

das por aquele tribunal. Tornado público na segunda semana de maio, o relatório do TdC conclui que operações realizadas pelo MPV, tal como as planeadas na sequência do Regime Jurídico da Atividade Empresarial Local (RJAEL), caracterizam-se por contrariar diretamente e visarem um resultado contrário à finalidade do mesmo, continuando a autarquia a controlar, indireta-

mente, através da Associação Salão Teatro Praiense (ASTP), as empresas Praia em Movimento, EM e Sociedade de Desenvolvimento do Concelho da Praia da Vitória (SDCPV), SA. Com base neste cenário, o TdC conclui ainda que se à dívida direta municipal fosse agregada a dívida das entidades sob a sua influência dominante, no final de 2015, o limite da dívida total seria ultrapassado em cerca de 13,4 milhões de euros, traduzindo um excesso de endividamento de 118,4% para além do respetivo limite legal. Decorrente destas conclusões o TdC recomenda ao MPV que adote as medidas necessárias para terminar o controlo das empresas locais Praia em Movimento, EM e SDCPV, SA, adira ao mecanismo de recuperação financeira municipal, legalmente previsto, já que a dívida agregada ultrapassa o limite legal, e por fim, promova a delimitação do perímetro de

consolidação do grupo municipal em todas as entidades relativamente às quais se verifiquem indicadores da existência ou presunção de controlo por parte do Município. Os trabalhos de campo da Auditoria decorreram de 27 a 30 de abril de 2015, expressando o TdC, no texto final, apreço pela disponibilidade e colaboração dos responsáveis e colaboradores autárquicos durante a ação. O projeto de relatório final, aprovado a 03 de maio, teve em consideração a posição da Autarquia – divergente – apresentada em sede de contraditório e consubstanciada num parecer jurídico da autoria do Professor Doutor, Pedro Costa Gonçalves, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Da auditoria o MPV deve emolumentos no valor de 17.164,00 euros. JP•

PROJETO “TERCEIRA TECH ISLAND”

CONCELHO DA PRAIA DA VITÓRIA COLHE OS PRIMEIROS FRUTOS

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“Terceira Tech Island” é um projeto criado no âmbito do Plano de Recuperação e Vitalização Económica da Ilha Terceira (PREIT), para potenciar as vantagens competitivas que a ilha e a Região podem oferecer no desenvolvimento das tecnologias de informação, através da formação intensiva de quadros em programação e da criação de condições para atrair investimento privado neste setor. A primeira formação ministrada pela startup nacional “Academia de Código” decorreu na Praia da Vitória, de 30 de outubro de 2016 a 09 de fevereiro de 2017, lançando no mercado de trabalho os primeiros 20 programadores juniores. A segunda formação, iniciada a 21 de abril encontra-se a decorrer, estando previstas outras formações, por agora, sem data marcada. O projeto começa a dar os primeiros frutos e empresas nacionais e internacionais na área da programação informática já estão a instalar-se na Praia da Vitória. Neste momento 1 empresa já se encontra instalada na Praia Links - Incubadora de Negócios e Ninho de Empresas da Praia da Vitória, estando em fase de instalação outras 3.

Segundo Sérgio Ávila, Vice-Presidente do Governo dos Açores, que visitou a empresa “Acin Azores”, já a operar na Praia Links, no passado mês de maio, as 4 empresas (instalada e a instalar) “absorveram a quase totalidade dos programadores já formados” ao abrigo do projeto “Terceira Tech Insland”. Na visita, garantiu o Vice-Presidente, que a “Praia Links, neste momento, é um espaço temporário de acolhimento”, além de outros identificados, caso necessário e até ficar concluída a requalificação da escola e dos bairros anteriormente utilizados pelos norte-americanos. No âmbito deste projeto, o Governo dos Açores criou seis condições essenciais para atrair empresas, designadamente ao nível fiscal, do sistema de incentivos, da disponibilização de instalações para as empresas com a reconversão do complexo escolar e dos bairros adjacentes, nas Lajes, do alojamento para quadros deslocados, da formação de programadores juniores e da captação de programadores seniores. As 3 empresas em fase de instalação na Praia Links são: a Bool, a Bring e a B-Synergy. JP•

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JP | EFEMÉRIDE

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GOVERNADOR CÂNDIDO MÁXIMO MOULES E A FORTALEZA DE SÃO SEBASTIÃO (MOÇAMBIQUE)

HISTORIADOR: FRANCISCO MIGUEL NOGUEIRIA

Cândido Máximo Moules, foi marechal de campo reconhecido, governador de Inhambane e comandante da Fortaleza de São Sebastião, em Moçambique. O seu cortejo fúnebre foi marcado pela adesão da população a uma última despedida ao seu antigo Comandante.

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á exatos 200 anos, a 1 de junho de 1818, nascia o terceirense Cândido Máximo Moules, marechal de campo reconhecido, governador de Inhambane e comandante da Fortaleza de São Sebastião, em Moçambique. Pouco se sabe sobre a sua vida enquanto jovem, apenas que seguiu uma vida militar. Foi-lhe reconhecido caracter e atitude e talvez, por isso, tenha sido enviado para a província de Moçambique, onde desempenhou diversos cargos. Cândido Máximo Moules, em 1836, já ocupava a função de Governador de Inhambane, no sul de Moçambique, já tinha sido elevado a Major. Existem documentos que falam da venda de bolachas na província com a assinatura de Máximo Moules de 4 de agosto de 1836. Moules também escreveu várias cartas aconselhando várias entidades de como agir naquela região, mesmo a estrangeiras. A 1 de dezembro de 1843, o Major Cândido Máximo Moules recebeu, de Lisboa, por portaria ao Governador-geral de Moçambique Rodrigo Luciano de Abreu a informação que lhe tinha sido outorgada a Ordem de Avis. Máximo Moules tornou-se Comandante da Fortaleza de São Sebastião, localizada na Ilha de Moçambique entre o seu canal e a baía de Mossuril. Foi um ponto de paragem da viagem de Vasco da Gama à Índia. Na Ilha de Moçambique, depois da passagem de Vasco da Gama, foi fundada uma feitoria na Ilha, pois percebeu-se a sua posição estratégica no Oceano Índico. Na feitoria era feito PUB

comércio e utilizava-se a Ilha para a construção naval, onde eram também reparadas naus portuguesas. Para a defesa da Ilha, tratou-se da construção de um Forte, a Fortaleza de São Sebastião. Esta começou a sua construção em 1554 ou 1555, ou seja, logo depois do nascimento do ainda Príncipe D. Sebastião, herdeiro à época ao trono português, daí a escolha do nome. As obras de edificação da Fortaleza demoraram vários anos devido aos constantes ataques que a Ilha era sujeita, sobretudo por holandeses, que perceberam a importância estratégica da Ilha. Inimiga dos espanhóis, a Holanda, depois de 1580, com Portugal a fazer parte da Monarquia Hispânica, passou a cercar e a atacar a Ilha de Moçambique, destacando-se o cerco de 1608, de 1607 e 1608. A fortaleza só foi concluída por volta de 1613, embora tenha sofrido ao longo dos tempos obras de aumento e melhoramento. A Fortaleza de S. Sebastião tem a configuração de um quadrilátero irregular rematado por quatro baluartes em cada um dos ângulos. Dos baluartes, em forma de orelhão, salienta-se o de S. Gabriel pela sua conceção. Na praça central da Fortaleza, estruturada em quadrado, encontram-se a cisterna e a antiga Igreja de S. Sebastião. A ilha foi declarada Património Mundial da Humanidade a 1 de janeiro de 1991. Quanto ao Major Cândido Máximo Moules foi membro do Conselho da Província de Moçambique e de fevereiro a abril de 1864, presidente deste conselho. Foi promovido a Marechal de campo. Morreu a 27 de junho de 1865 na Ilha de Moçambique. O seu cortejo fúnebre foi marcado

pela adesão da população a uma última despedida ao seu antigo Comandante. Hoje em dia devemos conhecer a vida destes homens que lutaram pela defesa dos locais que moraram, que tentaram ajudar ao desenvolvimento dos espaços que “governaram”. É importante que se olhe para

a nossa terra e se faça o melhor para o seu desenvolvimento económico, mas não esquecendo o apoio social e a aposta na cultura. Um povo precisa da sua memória, da sua história, para poder aprender mais do seu passado e compreender o presente, sabendo o que os seus antepassados fizeram pela salvaguarda dos bens da sua Terceira. •


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TURISMO | JP

TESE DE MESTRADO DE RICARDO FERRAZ DA ROSA

MARKETING TERRITORIAL COMO INSTRUMENTO DE VALORIZAÇÃO TURÍSTICA DA PRAIA DA VITÓRIA “Trata-se de uma abordagem científica que, a ser operacionalizada, poderá contribuir seguramente para transformar a Praia da Vitória num destino turístico de eleição, implicando também toda a política aérea e de transportes marítimos para a Região”, sustenta o autor.

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icardo Ferraz da Rosa, licenciado em Gestão, agora no âmbito da obtenção do Grau de Mestre em Ciências Económicas e Empresariais, com especialização em Marketing, defendeu no passado mês de março na Universidade dos Açores (UA), em Ponta Delgada, uma nova Tese sobre “O Marketing Territorial como Instrumento de Valorização de Destinos Turísticos: Aplicação ao Concelho da Praia da Vitória”. Esta dissertação académica foi elaborada segundo um modelo teórico de Planeamento Estratégico de Marketing Territorial adequado às necessidades do concelho da Praia da Vitória, pretendendo constituir “a base de um futuro instrumento de trabalho no âmbito das ações e estratégias concelhias destinadas à valorização deste concelho, nomeadamente como destino turístico”. A referida tese explica que para a concretização de tal projeto “foi necessário conhecer e identificar oportunidades, competências e capacidades do lugar em estudo”, tendo em conta a insularidade e a partilha de características similares no nosso arquipélago e Região Autónoma dos Açores. O trabalho desenvolveu, através da aplicação dos conceitos e métodos do Marketing Territorial, “a possível operacionalização do próprio PUB

projeto proposto, segundo um modelo que poderia seguramente preparar a Praia da Vitória para que ela se conseguisse afirmar e distinguir em termos regionais, nacionais e internacionais, potenciando-a como destino turístico de excelência, com todas as daí decorrentes vantagens económicas, empresariais, sociais e culturais”, começa por dizer Ricardo Rosa ao “Jornal da Praia”. “A tese – sustenta o agora mestre em Ciências Económicas e Empresariais – é também assim uma reflexão metodológica que permite projetar e planear estrategicamente o futuro da cidade e do concelho da Praia da Vitória para os próximos anos”. De resto, acentua Ferraz da Rosa, “já vai sendo mais do que tempo para coletivamente definirmos e afirmarmos o que pretendemos sobre o futuro da Praia, deixando de uma vez por todas aquela inconsequente atitude de querermos ‘sol na eira e chuva no naval’... O futuro faz-se de escolhas e opções, e é tempo de as fazer”, salienta. “Antes de mais – sublinha Ricardo Ferraz da Rosa – é necessário compreender efetivamente o conceito de Marketing... Ora é comum pensar-se nisto apenas como uma ferramenta de divulgação e promoção de um bem, serviço ou lugar. Porém, esta é uma ideia muito redutora, inexata até. No caso particular

MARKETING TERRITORIAL “A melhor forma de planear o futuro de um território consiste em pensar e implementá-lo no presente com uma abordagem metodológica assente numa visão estratégica”... do chamado Marketing Territorial, por maioria de razão, tal ideia é não só simplificadora e enganosa, como eventualmente arriscada, na medida em que promover um território, sem que o mesmo tenha sido prévia e devidamente preparado para tal, poderá ter custos elevadíssimos, quiçá irreversíveis, porquanto são geradas expectativas artificiais ou irrealistas, que podem vir a ser defraudadas”: “O verdadeiro Marketing Territorial deve consistir antes na elaboração de um planeamento estratégico orientado de acordo com uma específica área de desenvolvimento económico, sendo que, no caso concreto deste estudo, o campo de incidência escolhido centrou-se no Turismo e na Praia da Vitória, no sentido de procurar formular, explo-

rar, dimensionar e preparar todas as suas reais potencialidades. Todavia, este tipo de Marketing, obviamente, poderia ser aplicado a qualquer outro setor de atividade económica”, acentua o autor. Este estudo, introdutoriamente desenvolvido apenas no plano teórico, apresenta todavia todas as metodologias necessárias para poder ser subsequentemente operacionalizado, começando logo por proceder à caracterização das cinco fases distintas e próprias de todos os processos de operacionalização, cada um deles imprescindível e fundamental para o sucesso do todo, desde a análise/ diagnóstico (a chamada “auditoria territorial”) da realidade existente – no caso estudado a situação do concelho da Praia da Vitória – com a identificação clara e inequívoca dos seus pontos fortes e também, com o mesmo rigor e importância, dos fatores que contribuem negativamente para a sua majoração como destino turístico. Na segunda fase de abordagem, já numa lógica de visão a médio e longo prazo, procura-se ali definir alguns dos objetivos a atingir, conforme é explicitado neste estudo: “Aqui é essencial sabermos com clara convicção e prospetiva modelar para onde pretendemos ir”, realça Ricardo Rosa, interrogando “se pretendemos mesmo, ou não, criar fatores de atratividade direcionados para o Turismo, apostando, por exemplo, na excelência da baía da Praia para os desportos náuticos e demais atividades navais, aquáticas e subaquáticas ligadas ao mar e suas valências; questionando, sem escamoteamento de interesses locais e regionais, sobre o que faremos se um imaginável mega-transhipment de contentores e suas tripulações sob bandeira internacional avançar à nossa porta – para além do mais, nesse cenário, numa distorcida, ab(Continua na página n.º 10)


JP | SAÚDE

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o Cantinho do Psicólogo 188

As Caminhadas Também Ajudam

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o encontro do que se disse no último Cantinho, e sobre o viajar, cabe referir que Agostinho (2017), Bispo de Ipona, o Santo, considerava Aurélio Pamplona o mundo como um (a.pamplona@sapo.pt) livro e que portanto, aqueles que não viajavam só liam uma página. Entretanto, para quem se queixa e argumenta que viajar fica caro, importa citar o que disse alguém: «se viajar fosse de graça, provavelmente nunca mais me veriam». Acresce que a felicidade deve ser tentada no dia-a-dia, e não só com as viagens, embora estas como temos vindo a mostrar aumentam a eficiência do nosso cérebro, e daqui os seus efeitos positivos. Também se pode sugerir passeios ou caminhadas, nomeadamente à volta da zona onde se vive, ou em locais específicos, visto que também ajudam, especialmente quando se lhe acrescenta um certo esforço físico, porque especificamente criam massa muscular, melhoram a circulação sanguínea, a tensão, o equilíbrio, e fazem diminuir o risco de osteoporose e de constipações, para além de aliviar o stress, a raiva e a fadiga. De qualquer maneira, haja o que houver, o fundamental é ser capaz de fazer algo para facilitar a sensação de felicidade. Quando nos deixamos levar só pela rotina até a capacidade para admirar as maravilhas do mundo se perde, e isso é como cair num poço sem fundo. Isto é, dificilmente se sai de lá.

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Todo aquele que possa ter passado por situações de traumas, stress, ou mesmo de medos físicos ou psicológicos, nomeadamente na infância é susceptível de vir a apresentar dificuldades, ou mesmo incapacidades que lhe vão prejudicar a sua relação com o meio ambiente ou com a sociedade, ao nível dos comportamentos e acções essenciais para conduzir a sua vida mais calma ou em paz. O esforço pessoal, e o possível tratamento ou ajuda, passa por levar a pessoa

crianças para o positivo, para o que fazem de bem, para o que lhes pode dar segurança e confiança em si próprias, sensibiliza-as para o que as pode perturbar, inquietar, produzir desassossego, insegurança e desconfiança». E acrescenta que se tivéssemos de apontar as suas falhas não poderíamos deixar de referir alguns equívocos, entre os quais cita os seguintes: (1) reparar no negativo em vez do positivo; (2) castigar, em vez de reforçar; (3) impor em vez de dialogar; e

lidade, (e) a tristeza, em vez da alegria; (f) a derrota e o pessimismo, em vez da esperança; (g) a desconfiança e a ruindade, em vez da confiança e transparência; (h) a insegurança, em vez da segurança; (i) a humilhação, em vez da auto-estima; e (j) o egoísmo em vez da generosidade. E refere que não nos podemos deixar levar também: 1) pelo consumismo que impera sobre o consumo sustentado; 2) pela intransigência, sobre a flexibilidade; 3) pelo dogmatismo, em vez do respeito e da inteligência, 4) pelas “mentes fechadas”, e não pelas “mentes abertas”; e 5) pela reacção e stress, em substituição da tomada de acção e do empenho numa boa saúde. Sem a mudança das formas de pensar, e dos comportamentos que espelham desajustamentos em relação aos objectivos da vida em comum não se vai longe. Enfim, como aliás se tem vindo a defender há necessidade de «fomentar o equilíbrio», e também «a maturidade, o autocontrolo, e desterrar a tirania, a manipulação, a falta de solidariedade, o narcisismo, e a insatisfação permanente». E naturalmente aprender as múltiplas formas que temos à disposição para diminuir o stress a longo prazo.

a conseguir não se deixar levar pelas situações difíceis, devido às suas manias, manipulações, impulsividades, devaneios, conflitos, ou mesmo originadas por distracções, apatias, infantilidades, tédios, negatividades. É por isso que Ryes (2006) interroga-se sobre a educação que recebemos que em vez de «sensibilizar as

(4) usar o dever e o medo em vez da motivação. A autora aponta ainda outras falhas da educação que recebemos, e que acontecem quando se potencia: (a) o seguidismo, em vez da razão; (b) a imobilidade, em vez da criatividade; (c) a dureza, em vez do afecto; (d) a insensibilidade, em vez da sensibi-

Referências: Agostinho, A. (2017). Salvado em 27 de Out. de Fonte: Pensador. Tema: Pensamentos. Website: https://www.pensador. com/pensamentos_de_santo agostinho/. Ryes, M. J. A. (2006). A Inutilidade do sofrimento: Conselhos para aprender a viver de maneira positiva. Lisboa: A Esfera dos Livros. Foto: L. Pamplona•


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ECONOMIA | JP

CMPV REÚNE COM DIREÇÃO DA CCAH COM VISTA AO

DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO DO CONCELHO E DA ILHA TERCEIRA Entidades disponíveis para unir esforços e estratégias em projetos estruturantes para o Concelho e ilha de forma a contribuir para a evolução do tecido empresarial e, consequentemente, da atividade económica de toda a ilha.

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nova Direção da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) reuniu no passado dia 17 de maio, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, na Praia da Vitória, como o executivo da Câmara Municipal da Praia da Vitória (CMPV), presidido por Tibério Dinis, num encontro que visou a união de esforços na persecução de medidas que contribuam para o desenvolvimento económico do concelho. Em concreto, foram abordadas questões relacionadas com a criação do hub marítimo no porto comercial, a situação do terminal de carga da Aerogare Civil das Lajes, os constrangimentos associados aos transportes aéreos e marítimos, e ainda, a revitalização do centro histórico da cidade.. “Acredito que estão reunidas as condições para realizarmos um trabalho profícuo no futuro. A união de esforços é fundamental para executarmos ações que contribuam para o crescimento local que, no fundo, contribuirá para o progresso daquelas que são as áreas estratégicas da Praia da Vitória e da ilha Terceira”, disse Tibério Diniz aos jornalistas no final do encontro. “Creio que com a nova direção da CCAH será possível continuarmos o desenvolvimento dos setores económicos estruturais, através de um reforço da nossa parceria na Asso-

ciação para a Gestão do Parque Industrial da Ilha Terceira - AGESPI e na Associação de Desenvolvimento Regional - GRATER, responsável por mecanismos de incentivo ao nosso tecido empresarial,” acrescentou. “No futuro, queremos continuar a desenvolver um trabalho, em conjunto, que traga benefícios para o comércio local e para os praienses. A valorização do potencial e a motivação dos nossos empresários é uma das nossas prioridades”, concluiu. Rodrigo Hintze Rodrigues, novo presidente da CCAH, salientou o encontro com o presidente da CMPV como uma oportunidade para reforçar a parceria com a autarquia praiense e com a própria comunidade. “Estamos sempre disponíveis para apoiar o Município e o tecido empresarial praiense. Continuaremos ao lado desta entidade na concretização de medidas que permitam o desenvolvimento da economia local”, salientou. “Pretendemos reforçar o nosso papel junto da sociedade, associados e tecido empresarial da Praia da Vitória com as nossas valências e serviços. Estamos empenhados em apoiar a Autarquia praiense no que acharem benéfico para o Concelho”, declarou.

“É necessário continuarmos a trabalhar a nível estratégico, reforçando a importância de projetos que assumam um papel estruturante no desenvolvimento da Praia da Vitória e do Concelho. Neste sentido, e considerando os constrangimentos associados aos transportes, principalmente para os pequenos comerciantes, temos de unir esforços para que o tecido empresarial evolua e dê um contributo mais significativo para a económica na ilha Terceira” concluiu.

VOTO DE RECONHECIMENTO Rodrigo Hintze Rodrigues, sucede a Sandro Paím na presidência da Direção da CCAH. O trabalho desenvolvido por Sandro Paím na defesa e potenciação da economia da ilha Terceira e o espírito de cooperação que sempre revelou no tratamento de assuntos estratégicos para a Praia da Vitória, foi reconhecido pela CMPV, que aprovou por unanimidade um “voto de reconhecimento” na primeira em reunião camarária do mês de maio. Segundo o presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, Tibério Dinis, “a Autarquia praiense acredita no trabalho que Sandro Paim desenvolveu em prol da defesa do tecido empresarial e da economia da ilha Terceira, assumindo uma postura reivindicativa assente no aproveitamento das potencialidades locais, no desenvolvimento das infraestruturas da Ilha e na potenciação dos setores económicos estruturais”.

para a ilha Terceira, em particular a potenciação das infraestruturas logísticas, nomeadamente o porto da Praia da Vitória e a componente civil da Base das Lajes, sendo ambas coincidentes com a defesa da Câmara Municipal da Praia da Vitória,” acrescentou o autarca. O antigo Presidente da Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo defendeu, no exercício das suas funções, a utilização do porto da Praia da Vitória para fins comerciais e turísticos, em prol da economia da Ilha Terceira, em especial a do concelho da Praia da Vitória. “Realço a sua postura na defesa do aproveitamento do porto da Praia da Vitória como plataforma logística para mercadorias, a utilização do molhe norte na baía da Praia como estrutura de atracagem para navios de cruzeiro e a potenciação do tráfego aéreo de mercadorias na Base das Lajes. Estas propostas constituem vetores estratégicos para o desenvolvimento da economia local, particularmente no setor das exportações,” defendeu o responsável municipal. “Pela sua permanente abertura ao diálogo e à cooperação com a Câmara Municipal da Praia da Vitória; pela sua constante posição, de defesa do potencial existente no Concelho; e pela disponibilidade sempre manifestada para a colaboração e parceria foram marcas dos seus mandatos como presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo, que a Câmara Municipal da Praia da Vitória distingue e reconhece,” finalizou.

“De igual modo, assumiu sempre a defesa das questões estratégicas

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TALHO BORBA & MENDES


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CARLOS COSTA, PRESIDENTE DO GD DAS FONTINHAS:

PASSAMOS DE UM CLUBE QUE ENTRAVA PARA PAR Carlos Costa esta de saída da presidência do Grupo Desportivo das Fontinhas e parte com a consciência do dever cumprido, ao dar dimensão regional aquela simpática equipa que vinda do INATEL entrava em campo apenas para participar.

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arlos Costa, 52 anos, Cabo-Mor da Guarda Nacional Republicana, assumiu a presidência do Grupo Desportivo das Fontinhas em 2015, cargo que em breve abandonará, após três anos de liderança que deram dimensão regional aos rubi-negros da freguesia das Fontinhas. Nos feitos históricos do GD das Fontinhas, Carlos Costa, apresenta-se com um denominador comum. Na época desportiva 2005/06, na sua primeira passagem pela presidência do clube, eleva a fasquia competitiva e coloca as Fontinhas a disputar as provas sob o auspício da Associação de Futebol de Angra do Heroísmo, deixando para trás a INATEL, onde recorde-se, o GD das Fontinhas já foi campeão nacional por duas vezes. Dez anos mais tarde volta a assumir a presidência e, num horizonte de 4 anos, compromete-se a fazer do GD das Fontinhas campeão de futebol sénior da ilha Terceira. Consegue-o no segundo ano de mandato, numa época que ficará para sempre gravada a letras de ouro na história do clube, conquistando todas as provas em que disputou e ganhando por direito próprio presença no Campeonato de Futebol dos Açores – prova rainha do futebol açoriano. Três anos depois, está de saída do clube onde para todo o sempre será recordado. Com um enorme sentimento do dever cumprido, têm a firme convicção que o clube está bem entregue na liderança que se segue e, para o futuro, será o que a capacidade PUB

de trabalho e ambição dos seus dirigentes, atletas, sócios e patrocinadores quiserem que seja. Jornal da Praia (JP) – Depois de três anos à frente do Grupo Desportivo das Fontinhas (GDF) está de saída. A que se deve esta saída? Carlos Costa (CC) – Na época 2005/06 liderei uma Direção com a finalidade de mudar de quadro competitivo o futebol sénior. Assim, deixamos de competir no futebol do INATEL, e passamos a estar inseridos em competições com mais visibilidade e prestígio, organizadas pela Associação de futebol de Angra do Heroísmo. Passados 10 anos o GDF só havia conseguido alcançar 2 Taças em torneios de abertura. Prometi a mim mesmo voltar ao clube para coloca-lo no lugar onde deveria estar. Liderar um clube torna-se cansativo, desgastante e ocupa-nos todo o tempo. Achei por bem sair, depois de cumprir os objetivos propostos aos sócios que era sermos Campeões da AFAH, subir ao campeonato de futebol dos Açores e conseguir a manutenção. JP – Quando assumiu a presidência, estabeleceu um prazo de quatro anos para levar GDF conquistar o Campeonato de Ilha. Conseguiu-o no segundo. Qual a chave deste sucesso e como analisa estes três anos de mandato? CC – A chave do sucesso é sem dúvida muito trabalho, ter as pessoas certas nos lugares certos, não ter receios e aceitar o desafio. O mérito esteve num grupo de trabalho constantemente motivado e unido em busca de títulos. O 1º ano de mandato foi extremamen-

CARLOS COSTA afirma que “a chave do sucesso é sem dúvida muit e unido em busca de títulos”. Quanto ao futuro, considera que “se te difícil na medida em que não conseguimos reunir um bom plantel sénior. O emblema nunca cativou os atletas, nem mesmo os bons executantes da freguesia das Fontinhas que jogavam noutros clubes procurando títulos. O Desportivo das Fontinhas esteve até há bem pouco tempo a participar nas provas da AFAH servindo somente para viabilizar provas e dar títulos aos outros clubes. Eramos um clube simpático que vinha do INATEL. Acontece

que qualquer clube tem de alimentar-se de vitórias e de títulos, caso contrário, não cativa jogadores, sócios, diretores e patrocinadores. Surgiu a oportunidade de contar com a experiência, qualidade e boa vontade de um homem desta freguesia-que tinha acabado de sair do cargo de diretor desportivo do Vilanovense. Refiro-me ao atual diretor desportivo, Fábio Valadão. Este Senhor aceitou o desafio que lhe propusemos, conseguindo


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DESTAQUE | JP

RTICIPAR A UM CLUBE COM AMBIÇÃO DE GANHAR motivação foi sempre a mesma até ao final. Aproveito para agradecer aos jogadores o seu bom desempenho. Todos eles dignificaram a camisola que vestiram. Foi excelente observar neles a união, a entreajuda e o espirito de equipa.

to trabalho” de um “grupo de trabalho constantemente motivado erá o que seus sócios e seus dirigentes quiserem”. fazer história também neste clube. Face à forte estrutura orgânica montada – bom plantel, boa equipa técnica e direção – os 2 anos seguintes foram plenos de títulos e de vitórias. Deixamos de ser um clube só para participar e passamos a ser um clube atrevido, intrometido e com ambição de vencer. JP – Esta época o GDF participou pela primeira vez na sua história no Campeonato de Futebol dos Açores. Conquistando o seu primeiro objetivo – a manutenção – as Fontinhas PUB

foram uma das revelações da prova e durante grande parte da época apresentaram-se como sério candidato ao título, acabaram no entanto em 3.º lugar. O que motivou este final de prova menos bom? CC – Desde logo, o nosso principal objetivo passava por garantir a manutenção na 1ª participação do Campeonato de futebol dos Açores. Tudo o resto viria por acréscimo. Todavia o último jogo da 2ª fase não nos correu bem e ao perdermos esse jogo caímos do segundo lugar para terceiro. De qualquer modo nunca demos tréguas e a

JP – Como vê o Campeonato de Futebol dos Açores e qual é a sua posição relativamente ao alargamento que alguns clubes defendem tendo em vista uma competição cada vez mais competitiva e de qualidade? CC – A continuidade do campeonato de futebol dos açores é fundamental, desde logo, pelo prestígio que a prova continua a ter para os clubes que nele participam e é a rampa de lançamento para o jogador formado nos Açores. É uma prova que se realiza na época baixa e que faz circular comitivas pelas ilhas, movimentando o alojamento a restauração e a transportadora açoriana SATA. Quanto ao alargamento, sou da opinião que 12 clubes a competir seria o mais adequado para salvaguardar a 2ª fase da competição caso se pretenda manter o mesmo figurino da prova. Havendo clubes pares nenhum clube folgaria e o grupo de despromoção com 6 equipas não estaria tão dependente de quem desceria vindo do campeonato de Portugal. Esse aumento não implicaria necessariamente falta de qualidade na competição. Tudo depende dos objetivos delineados pelos clubes que participam. JP – Na sua opinião quais são os grandes desafios do GDF para o futuro? CC – A grandeza dos clubes passa pela ambição dos seus dirigentes e o caminho que pretendam trilhar. A virtude está nessas pessoas que trabalham com seriedade e sem receio de fazer acontecer. A história faz-se pelo inconformismo, pela rebeldia e pela coragem de enfrentar esses grandes de-

safios. Assim sendo, o futuro do GDF será o que os seus sócios e os seus dirigentes quiserem. JP – José Fernando Pacheco Borges é o nome que lhe sucederá na presidência. Entende que José Fernando Pacheco Borges apresenta o perfil adequado para responder positivamente aos desafios que o GDF tem pela frente? CC – Fui eu próprio que convidei o José Fernando Borges para assumir a liderança do clube. Tenho total confiança na sua pessoa e estou convicto que dará continuidade ao bom trabalho que temos vindo a fazer. JP – Para finalizar, que mensagem gostaria de deixar aos sócios, adeptos e simpatizantes do Grupo Desportivo das Fontinhas? CC – Gostaria de deixar aqui um agradecimento muito especial a todos os sócios, adeptos e simpatizantes pelo seu apoio constante e incondicional. Foi o clube que mais adeptos levou aos campos do campeonato dos Açores. A angariação de fundos tem sido feita com uma forte colaboração por parte da população da freguesia das Fontinhas. Temos sido uma grande equipa dentro e fora das quatro linhas. Todos têm contribuído para o sucesso do clube. Um meu muito obrigado pelo vosso esforço. Finalizava agradecendo a colaboração das entidades públicas e privadas porque sem os apoios dos contratos programa celebrados e previstos para o desenvolvimento da atividade desportiva vindos da Secretaria Regional do Desporto, do Serviço do Desporto da Câmara Municipal da Praia da Vitória e da Junta de Freguesia das Fontinhas seria uma tarefa impossível de levar avante. Um agradecimento muito especial aos nossos patrocinadores habituais Equipraia e Etmal. JP•


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ALUNOS DA FRANCISCO ORNELAS

PREMIADOS NO CONCURSO REGIONAL “PALAVRAS COM HISTÓRIA” ria – alunos do 1º ciclo: 3º e 4º anos; segunda categoria – alunos do 2º ciclo: 5º e 6º anos; terceira categoria – alunos do 3º ciclo: 7º, 8º anos e quarta categoria – alunos do 3.º ciclo: 9.º ano.

O primeiro e segundo lugar da categoria 1 da 4.ª edição do concurso regional “Palavras com História”, veio para a Praia da Vitória.

Já na sua IV edição, o concurso “Palavras com História” que tem como objetivos promover o gosto pela leitura e pela escrita, promover e valorizar a criatividade e a imaginação através da escrita, desenvolver o gosto pelos valores da identidade, da cultura e da língua portuguesas, é promovida pela Rede Regional de Bibliotecas Escolares em colaboração com o Departamento de Línguas e Literaturas Modernas da Universidade dos Açores e a Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.

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atilde Lopes Teixeira e Tomás de Brito Fontes ambos alunos da Escola Básica e Integrada Francisco Ornelas da Praia da Vitória, venceram respetivamente o 1.º e 2.º lugar na categoria 1, destinada aos alunos dos 3º e 4º anos do 1.º ciclo de ensino, do concurso regional “Palavras com História”. Subordinado ao tema “O Arco-Íris”, participaram no concurso 400 alunos das escolas públicas da Região Autónoma dos Açores, nas quatro categorias: primeira catego-

Rui Marques/JP•

VALORIZAÇÃO TURÍSTICA DA PRAIA DA VITÓRIA (Conclusão da página 5)

surda e absolutamente destituída de qualquer sustentação técnico-estrutural e logística estruturação da outrossim racional consolidação de uma placa giratória interna insular no Porto da Praia, servindo os transbordos e reencaminhamentos de cargas para todo o Grupo Central do nosso arquipélago –, com um porto repleto de cargueiros de grande porte, naquele cenário do acima denominado transhipment internacional (aliás até de duvidoso sucesso perante outras hipóteses consolidadas e já diretamente transeuropeias, como em Sines...), e fazendo apurar se tal é compatível com uma lógica de destino turístico sustentado, favorável ao enquadramento ecológico e paisagístico saudável, de natureza, de praia e mar, ou então ainda com um

terminal de cruzeiros a norte e a sul, mais terminais de contentores, instalações, infraestruturas e estruturas portuárias e industriais poluentes, com grandes impactos ambientais, rodoviários, sociais etc., etc.”,.. Nesta tese académica, depois de caracterizada a etapa da definição dos objetivos e opções, passa-se à explicação da fase de formalização das estratégias a implementar no concelho da Praia da Vitória, tendo em consideração fatores tão importantes como as vantagens competitivas endógenas associadas aos recursos que é necessário alocar para a respetiva efetivação, discriminando-se então o plano das ações específicas e adequadas para a obtenção dos fins previstos e cronologicamente escalonados, em simultâneo indicando-se a necessidade de assegurar controlos e parâmetros de eficácia,

monitorização de desvios ou imprevistos, e a previdente disponibilização de recursos para a eventual aplicação de “Planos de Contingência”, devidamente preparados. “Como vê, – diz o autor – trata-se também, neste campo económico-empresarial, de um plano dinâmico, mas não rigidamente delimitado no tempo porquanto constantemente em revisão, no sentido de monitorizar, controlar e avaliar a eficácia de cada uma das suas ações programadas, articuladas e complementares, tendo sempre em conta os objetivos pré-definidos e a paralela necessidade de proceder a correções de percurso, corrigindo-se erros ou desvios através de planos retificativos ou de contingência, previamente acautelados e preparados”.

“Neste trabalho de mestrado, procurei – conclui Ricardo Ferraz da Rosa – abordar as linhas gerais suscetíveis de contribuir para uma reflexão aplicada às vantagens resultantes da adoção de um Planeamento Estratégico de Marketing Territorial, no sentido de alargar as perspetivas de promoção e de valorização possível do desenvolvimento global da cidade e do concelho da Praia da Vitória, no caso presente através de um planeamento e de uma gestão integrada da nossa potencial atratividade turística, isto é, de um desejável crescimento económico sustentável neste setor, consequentemente a par de uma melhor qualidade de vida para todos, como é aspiração legítima dos praienses desde há muito”. JP•

FACTOS OU NOTÍCIAS FALSAS?

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uas conversas ocorridas no âmbito da Educação Nacional.

A primeira: uma encarregada de educação telefona ao diretor de um establecimento de ensino e pergunta se a filha dela foi à escola. O diretor, espantado e incrédulo, pregunta como é possível que não saiba. Resposta: é que a minha filha esta noite

ficou em casa do namorado e ainda não sei nada dela. Segunda conversa: o diretor de um establecimento de ensino alerta a encarregada de educação para a circunstância de a sua educanda ter vindo para a escola trajando um vestido de verão, não era adequado face ao pleno inverno que se fazia sentir. Desculpa-se a senhora dizen-

do que foi o que a filha quis levar, acrescentando que não consegue fazer nada dela, facto bem conhecido do diretor. Pergunta: estas duas situações ocorreram de verdade, ou trata-se de notícias falsas, também conhecidas por ‘fake news’? Se são factos devia haver conse-

quências. Se são ‘fake’, podiam servir para discutir/debater os caminhos por onde andam os primeiros educadores. Não faltam no nosso concelho psicólogos e técnicos de educação capazes de encontrar linhas de atuação a fomentar junto dos encarregados de educação e da instrução, enfim, da sociedade em geral. J. Diniz

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SOCIEDADE | JP

SCMPV ORGANIZA

V EDIÇÃO DA FEIRA DA FAMÍLIA Evento assinala Dia Internacional da Família.

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elo 5.º ano consecutivo o departamento de Valências Educativas da Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória (SCMPV), em parceria com diversas entidades públicas e privadas levou a efeito a Feira da Família. Este ano, o evento realizou-se na tenda montada no espaço onde anualmente pela ocasião das Festas da Praia, decorre o Music Resort, no sábado, 12 de maio, das 14:00 às 18:00. Como habitualmente, a iniciativa caracteriza-se por proporcionar às crianças uma tarde de felicidade repleta de atividades, enquadrando-se no âmbito das comemorações do Dia Internacional da Família, que ocorre anualmente a 15 de maio, depois de instituído em 1993, pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Após os breves discursos proferidos pelo provedor da SCMPV, Francisco Ferreira e pelo presidente da CMPV, Tibério Dinis, deu-se por oficialmente aberto o espaço. A feira contou com os seguintes espaços: Recomeço; Associação Nascer e Crescer Feliz; CIT; Núcleo PUB

de Prevenção e Combate à Violência Doméstica - ATL do Centro Social de Santa Rita; Farmácia da SCMPV; GRATER; Centro de Ciência de Angra do Heroísmo; Comes & Bebes; Espaço para Fotos em Família; Espaço do

Bebé; Make A Wish; Atelier de Música; ATL Ludoteca; Papás de Feltro; Comissão de Proteção de Crianças e Jovens da Praia da Vitória; Bazar da FUP; e Life CWR.

Houve também a atuação da Orquestra Juvenil da Filarmónica União Praiense, demonstração de Karaté, demonstração de Pound e observação de aves. JP•


JP | EDITORIAL & OPINIÃO

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“VOLTANDO À VACA FRIA” (VI)

E DITORIAL

INSPECTORES DE CACIMBO… QUANTAS VEZES MAIS?...

O Culto ao Divino Espirito Santo

“Todo tipo de absoluto indica patologia”, Friedrich Nietzsche. a viagem, as despesas que faziam e, o relatório que rascunhavam e que ninguém naturalmente deveria ler.

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o passado dia 21 de Maio, comemorou-se o dia da Região Autónoma dos Açores, o Governo Regional, a Assembleia Legislativa Regional promoveram uma sessão solene na Vila da Madalena, na Ilha do Pico. Vivemos em plena época das festividades do Espírito Santo, festa maior dos Açorianos, destas ilhas e dos espalhados pelo mundo. O Professor Agostinho da Silva defendia que Portugal só podia enveredar por um novo e bom caminho, se se organizasse numa sociedade baseada na primitiva ideologia cristã, a do Sermão da Montanha, simbolizada nas Festas do Divino Espírito Santo, “O Espírito Santo da Terceira Era predito por Joaquim Flora”. O dia da Região, também conhecido pela Segunda Feira do Espirito Santo, “O Espirito é a pomba limpa e bela que voa livre”, semeando a solidariedade, a fraternidade e promovendo a liberdade entre todos. De acordo com a tese defendida pelo Professor Agostinho da Silva seria um verdadeiro caminho para a paz, tão desejada e sempre ausente do meio familiar, social e no seio das nações. A geografia não nos importuna, somos constituídos de mar e lava, baptizados no Espirito Santos, por isso não admira que o culto ao Divino Espirito Santo se encontre arreigado nas tradições açorianas desde os primórdios da colonização, até aos nossos dias, gerando no povo açoriano uma identidade muito própria. Assiste-se a uma escalada de violência entre os Palestianos e os Israelitas, onde não se vislumbram um resquício de paz, e os homens teimam egoisticamente com fundamentos fúteis, e sem qualquer razão de ser, que em nada ajuda a pacificação das populações do Médio Oriente, e como se costuma dizer nem sempre tudo termina com o tempo, o tempo faz esquecer tudo, acaba com tudo, antes pelo contrário no caso em apreço aumenta o ódio, a violência por motivos políticos, religiosos, económicos e sociais nada democráticos, sem soluções à vista. Nesta era de incerteza, torna-se necessário mudar as estratégias para que o ritmo actual do progresso tecnológico, sem precedentes na história da humanidade não desumanize mais o homem, destruindo a família e as nações. Não queremos continuar a viver numa sociedade moldada por um espirito em que “os ricos são ensinados a ignorar os pobres, enquanto os pobres são ensinados a ignorar os seus verdadeiros interesses”, e que a inteligência é obrigatória mesmo que seja artificial, mas menosprezando a consciência, que será apenas facultativa. Devemos “viver servindo, viver eliminando os problemas próprios para ter apenas os dos outros, viver com os pés no possível para atingir o impossível, no real para chegar o irreal e tão plenamente no presente que sempre é, ou seja no futuro saudade estimulante ou universalizante”. O culto ao Divino Espirito Santo, vivenciado nestas paragens tem uma economia própria, cujo o lema é a partilha solidária, não “só no banquete comum e livre…, nem na procissão que segue a pomba, no estandarte ou coroa, é a instalação de uma criança como Imperador do Mundo. O Diretor Sebastião Lima diretor@jornaldapraia.com •

José Ventura*

I

nspector do cacimbo: expressão utilizada para designar a pessoa que, sob a capa de uma função ou título importante, pouco ou nada faz. Há expressões que com o tempo se esquecem, mas que muito a propósito foram inventadas. A de “Inspectores do Cacimbo” tiveram o seu tempo quando Angola, nas épocas de chuva as sua estradas se encontravam enlameadas e até pantanosas dificultando as deslocações para o interior. Daí que os referidos “inspectores” só se deslocavam, quando as condições climatéricas fossem mais agradáveis. Mas quem eram, os inspectores de cacimbo? Com cunhas e amizades arranjavam-se no circulo do poder económico/politico central, uma boleia para ir a Angola, investigar, ou verificar qualquer coisa que justificasse

Bem recebidos pelos, governadores e demais autoridades, e população autóctone, visitavam: fazendas, fábricas, cidades, vilas e aldeias. Quanto interesse fingido com o ”olho” nas prendas oferecidas pelos da casa. Não omitindo que em algumas áreas, Angola estivesse mais desenvolvida com o que se alcunhava de “metrópole”, os tais “inspectores” achavam-se sempre, no direito de amesquinhar este ou aquele projecto, sugerindo mudanças e dando opiniões, mesmo não percebendo nada da matéria ou da conjuntura local. Aconselhando aqui e ali, regressavam à tal “metrópole” com o sentimento do dever cumprido. Tinham contribuído com o seu trabalho e aconselhamento para o desenvolvimento daquele território. E mais: graças a essa viagem, passavam a ser especialistas em política colonial. É pensando na inutilidade dos então “inspectores de cacimbo” que pergunto se não estamos há algum tempo a ser invadidos por exemplares parecidos ou idênticos àquela figura insolente e ostensiva, personificada nos “missionários políticos,

sindicais e de outras especialidades” que têm aparecido por aí com promessas mentirosas, os primeiros e, com soluções e ou exigências prepotentes os outros. Quantas vezes mais, vamos estar dependentes da interferência e de promessas repetidas feitas pela ministra da justiça, do ministro da administração interna de Portugal, da presunção da ministra do mar, dos ministros da defesa, do ambiente e o dos negócios estrangeiros. Da solidariedade fingida e interesseira quer do presidente da República quer do chefe do executivo português quanto às RUP. Não nos esqueçamos de que “com papas e bolos se enganam os tolos” e de tolos nada têm os açorianos. O 25 de Abril dito “Dia da Liberdade” ainda não chegou no pleno a estas bandas. O que falta? Deixo para a próxima oportunidade uma achega para a questão. PS. Notar que todos os ministros mencionados estão directamente envolvidos em questões do maior interesse para os Açores. Por opção, o autor não respeita o acordo ortográfico. • (*)

EUTANÁSIA: SERÁ UMA PREOCUPAÇÃOS DOS PORTUGUESES?

Silveira de Brito

N

o primeiro texto sobre a eutanásia, chamei a atenção para a necessidade de clarificar os conceitos e disse que se entende por eutanásia o acto ou omissão de um profissional de saúde com a intenção de causar a morte a um doente com doença irreversível que, para se libertar de dor ou sofrimento considerados insuportáveis, pede insistentemente para ser morto. Mas será a eutanásia uma preocupação da generalidade dos portugueses? Parece-me que não; há PUB

problemas muitos mais urgentes a tratar, tais como: estes: os portugueses estão preocupados com a igualdade no acesso aos cuidados de saúde, com a qualidade da assistência prestada, com as listas de espera para consultas e cirurgias, com a cota-parte dos custos dos cuidados de saúde que directamente pagam do seu bolso e, principalmente os mais informados, com o grande problema da sustentabilidade económica do Serviço Nacional de Saúde (SNS). A igualdade no acesso aos cuidados de saúde é um problema. Todos sabemos que, quando alguém precisa daqueles cuidados, viver numa grande cidade ou numa aldeia recôndita não é a mesma coisa. Não é o mesmo viver em Lisboa, em Bragança, em Ponta Delgada ou no Corvo. Há dias, perto da barragem do Fratel, Beira Baixa, houve um acidente com um autocarro e a assistência foi prestada imediatamente por dezenas de

viaturas e pelo pessoal necessário, bombeiros e profissionais de saúde. Em 2015 houve no Corvo um acidente de viação grave; os primeiros cuidados foram prestados com os parcos meios da Ilha; houve que esperar pelo o helicóptero da Base das Lages com profissionais de saúde e, depois, evacuar os feridos para São Miguel e para a Terceira. As pessoas acidentadas que conheço disseram-me que foram bem tratadas, mas também referiram a preocupação por se sentirem longe dos meios de que o SNS possui. Neste capítulo, nos Açores passar um Inverno nas Ilhas do Grupo Ocidental ou nos outros dois grupos não é a mesma coisa. Outro problema é o das listas de espera, que não são pequenas. Se se trata de uma consulta de rotina, é uma coisa, mas se há uma urgência, o aparecimento de um sintoma que leva a pensar em algo grave, aí as (Continua na página seguinte)


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OPINIÃO | JP

CRÓNICA DO TEMPO QUE PASSA (XXIX)

AÇORES ESTÃO MAIS POBRES Recordando Margarida Magalhães Sousa. Emérita açoriana, nascida na Ilha Terceira em 1922 e de quem guardo carinho e profunda saudade. Avessa a vaidades, foi considerada uma das melhores pianistas-acompanhadoras da actualidade por John Yard, director do Trio Mozart de Washington.

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António Neves Leal

á passou um quarto de século sobre o seu falecimento. Não sei se este ano alguém ou alguma instituição dela se lembrou. Estive muito ocupado numa grande monografia e continuo a ter recorrentes problemas de acesso à internet, não podendo saber ao certo o que sucedeu. Daí a minha dúvida e a decisão de republicar no Jornal da Praia o que escrevi no Açoriano Oriental, Telégrafo e A União, há 25 anos, sobre uma emérita açoriana, nascida na Ilha Terceira em 1922 e de quem guardo carinho e profunda saudade. «Tal como muitos dos amigos da nossa princesa do piano, fui dilacerado pela infausta notícia do falecimento dessa grande senhora e virtuosa do teclado que foi a D. Margarida Magalhães Sousa. Avessa a vaidades e nunca procurando publicidade mediática fácil, esta ilustre açoriana nascida há setenta e um anos nesta Ilha Terceira, foi considerada uma das melhores pianistas-acompanhadoras da actualidade por John Yard, director do Trio Mozart de Washington que acrescenta: «Trata-se de uma intérprete que toca com uma técnica perfeita e cristalina, dentro do verdadeiro estilo de Mozart, e que imprime um grande calor às suas interpretações». Robert Soetens considera-a «uma

artista completa, pelos seus dons, pela sua formação, pela sua «consciência artística e pelo seu entusiasmo». Jack Glatzer diz dela: «É verdadeiramente uma artista, não só no seu país natal, como em qualquer auditório do mundo, tanto na qualidade de solista como na de acompanhadora».

as qualidades artísticas, técnicas e humanas como acontecia com aquela que tantas sementes de arte (sobretudo de amor e dedicação total à música) deixou a germinar, durante quase quarenta anos, como professora da Academia Musical, donde nasceria o actual Conservatório de Ponta Delgada.

No Conservatório Nacional concluiu o Curso Superior de Piano com 20 valores. A pianista Helena de Sá e Costa, sua professora, considera-a uma aluna brilhante do Conservatório Nacional de Lisboa. Acrescenta que a nossa conterrânea era «dotada de extraordinária facilidade, dominava com segurança e escrupulosa técnica obras de grande vulto e responsabilidade». E isto mesmo pude constatar quando pela primeira vez ouvi tocar a D. Margarida no Conservatório de Ponta Delgada, no começo da década de oitenta. Eu, que vinha habituado aos concertos parisienses de la Salle Pleyel, Notre-Dame e Saint-Eustache, fiquei maravilhado e surpreso com o talento de Margarida Magalhães Sousa.

Como açoriano, sempre apreciei a sua largueza de horizontes e a sua franqueza e apego às nossas ilhas, que ela tanto amou. Com a categoria das colaborações como solista, ou integrada em vários conjuntos continentais a que pertenceu, poderia ter ficado em Lisboa ou no Porto. Preferiu, no entanto, trabalhar no arquipélago onde nasceu e fez parte dos seus estudos. Margarida Magalhães nasceu na Ilha Terceira, cresceu em Santa Maria e viveu em S. Miguel, como ela gostava de frisar. Era, pois, uma lídima e fraternal açoriana. De nome e de vivência quotidiana.

Entretanto, vivíamos as funestas e tenebrosas noites pós-sismo e a música do seu piano era enlevo e lenitivo como pudemos comprovar com o concerto que ela deu na sua terra-natal, quando a música era mais do que nuca imprescindível para o equilíbrio psico-somático dos terceirenses. Dos contactos que mantive com D. Margarida Magalhães, primeiro nos convívios de amizade sincera, em S. Miguel, e depois na Terceira, guardo a mais indelével recordação da bondade e da simplicidade de uma alma pura que até parecia não ser deste mundo. A D. Margarida era, efectivamente, um anjo. Dificilmente, se encontram reunidas na mesma pessoa

Outra faceta a sublinhar no seu vastíssimo currículo é a de pianista-acompanhadora. Ao contrário de certos artistas que gostam de apagar, marginalizar ou boicotar o trabalho ou o valor dos outros, cizânia frequente nas nossas searas, Margarida Magalhães Sousa nunca se furtou à colaboração com outros artistas. Assim, trabalhou no papel de acompanhadora com os seguintes cantores, conforme consta do disco editado pelo Instituto Cultural de P. Delgada: Margarida Souto-Mayor Amado, Maria Luísa Barros, Ana Blanc, Maria Amélia Abreu, Carmélia Âmbar, Renata Von ShenKendorff, Victor Costa (tenor madeirense), José Oliveira Lopes, Manuel Bigail, Luísa Vilarinho, Amador Cortês Medina, Laurindo Garcia (açoriano), Raquel Botelho Paula, Luísa Alcobia ( soprano, professora de Canto do Conservatório

de Angra e Carmel O’ Byrne ferlisi. Na qualidade de docente de música, para além do seu magistério exemplar, onde pautava a dedicação, o empenhamento e a amzade aos alunos e colegas, é de salientar, igualmente, a sua grande preocupação pelos cursos de actualização ou aperfeiçoamento. Isto prova bem a sua exigência e a grande seriedade que pôs em todo o seu trabalho, para além de mostrar a sua modéstia, apeasr do seu enorme talento e da magna obra legada a todos aqueles que seguiram os seus ensinamentos. Com o desaparecimento de Margarida Magalhães, os Açores perderam um dos seus melhores filhos e um dos seus maiores artistas de sempre. Ficámos todos mais pobres pela falta do seu convívio físico, já que a obra e o seu exemplo ficarão gravados, indelevelmente, na memória e no coração de todos quantos tiveram o privilégio de a conhecer, de a ouvir tocar. Ainda no ano transacto, actuou nos Estados Unidos da América e no Canadá com a orquestra S.M.U., e muito havia a esperar para gáudio dos melómanos e dos amantes das coisas da cultura, aquelas que mais nos enobrecem e distinguem dos restantes seres vivos. Aqui fica, querida amiga, o tributo da nossa homenagem e reconhecimento pelo muito que nos deste. Certamente, outrs homenagens terão lugar na sequência da tua inesperada morte. Não é mais do que justo, Margarida Magalhães sousa, mereces toda a nossa gratidão». NE: Texto escrito a 04 de fevereiro de 1993. •

EUTANÁSIA: SERÁ UMA PREOCUPAÇÃOS DOS PORTUGUESES? (Conclusão da página anterior)

esperas levam ao desespero. Ultimamente tem-se falado muito da falta de profissionais no SNS, o que provavelmente corresponde à verdade e tem implicações nas listas de espera. Mas as contratações também não podem ser feitas sem ponderação, como veremos mais abaixo. O problema dos custos imediatos com saúde também causam preocupações. Há poucos dias lia-se na imprensa que esses custos andam à volta de 28%. Isto é, por cada 100 euros gastos em saúde, os portugueses pagam directamente do seu bolso 28. Ora quantos portugueses se vêem aflitos com estas despesas? Mas provavelmente o maior problema do SNS é a sua sustentabilidade económica. Muitas vezes ouvi a

peritos em Bioética esta afirmação: “a saúde não tem preço, mas tem custos!” A economia não é tudo, mas tudo tem uma dimensão económica! O ser humano não se reduz ao económico, mas o económico é uma das suas dimensões; o SNS não pode escapar ao condicionalismo económico que qualquer actividade humana implica. Até hoje nenhum país conseguiu organizar um serviço de saúde com capacidade para pagar tudo a todos. Há precisamente 10 anos, em 2008, com um grupo de alunos organizei as “III Jornadas Luso-espanholas de Bioética” que tiveram por tema “Ética, Justiça e Cuidados de Saúde”, cujas actas estão publicadas. Foram apresentados trabalhos de especialistas a demonstrar que as despesas do SNS cresciam a uma velocidade

difícil de sustentar. Foi dito que, entre 1995 a 2004, o crescimento anual das despesas do SNS foi de 9,2%, e entre 2004-2007, de 3%; mas estes três anos foram completamente atípicos: houve congelamento de salários e carreiras dos profissionais de saúde e os preços dos medicamentos baixaram bastante por imposição do Governo. Um perito dizia que em média as despesas do SNS cresciam 7 % ao ano e o crescimento da economia não chegava aos 2%. Ora o problema era, portanto: onde se vai buscar a diferença? Quem está atento a esta problemática sabe que a tendência é para as despesas com saúde aumentarem devido: (1) ao envelhecimento acelerado da população, (2) ao facto das pessoas recorrem cada vez mais a cuidados de saúde e (3) porque os

meios disponíveis em termos de medicamentos, aparelhagem, meios de diagnóstico crescem a uma velocidade vertiginosa. Ora, são múltiplas as funções do estado, não apenas a saúde da população, e a grande fonte de receita do estado são os impostos que já pesam imenso no bolso dos portugueses. A dificuldade é a de encontrar uma justiça equitativa na distribuição do orçamento, não beneficiar os sectores com mais instrumentos de pressão, mas tratar os cidadãos equitativamente, e este é um problema que preocupa os portugueses em geral.

NE: Texto publicado originalmente no “Diário dos Açores”, edição n.º 41.551


JP | MARÉ DE POESIA

O

2018.06.01

“Maré de Poesia”

Jornal da Praia abraça um projeto no seguimento do trabalho de divulgação que tem vindo a desenvolver nas últimas edições de escritores/poetas praienses, que pretende ser uma janela de oportunidades a todos/as os/as praienses que escrevem poesia e que desejam dar voz às suas palavras, partilhando com o mundo a sua escrita. Em cada edição serão publicados poemas de vários poetas/poetisas, para isso apenas tem que nos fazer chegar por email os seus poemas (maredepoesia@jornaldapraia.com). Juntos iremos elevar a escrita dos sentidos e das emoções, erguer castelos de palavras nesta Praia que se quer Maré de Poesia!. Carla Félix

Um dia vou embora... Um dia todo o esforço foi em vão todo o sacrifício, foi desperdício e perderei a razão.. quando o tudo se tranformar em nada e o meu sorriso for a derradeira coisa, talvez numa madrugada... Numa noite irei dormir o ultimo sono e numa manhã acordar pela última vez... Um dia ganharei a liberdade e uma mão cheia de “porquês”... Um dia saberei o que fazer, aceitar, deixar adormecer meu coração... Um dia toda a verdade será descoberta Ou talvez não... Não me vou prender ao mundo porque um dia serei apenas eu, não levo comigo os desgostos e as dívidas, os bens materiais e as pessoas, mas talvez parta contente mesmo não podendo enxugar as lágrimas à minha gente... Um dia também eu vi partir porque houve uma manhã, uma tarde ou mesmo uma noite em que eu vi partir... eu fiquei cá à espera da minha vez, a vez de despir o corpo da minha alma, descansar... e ser feliz noutro lugar...

Cheiro a verde e a maresia respira sal e Nemésio, a revolta da natureza, é praia, areias... Açores é paz, é vulcão, sangue verde nas veias...

Açores é Horta Cultivada, terra semeada, natureza morta que ressuscita do nada... Açores são sonhos de basalto, ilhéus solitários pureza nas fontes, calor nas furnas amores necessários... Açores é água,

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POESIA FORMA DE VIDA...

Sou gaivota Em terra A deriva Ausência do mar Harmonia Sentir o calor na pele Poema Pedaços de palavra Azul de compasso lento Ilhéu de emoções

PRAIA DA VITÓRIA À minha cidade... Praia vestida de espuma branca Em noites de Outono Despida de gentes Intensa no seu sentir Murmúrio de maresia Sonho de criança perdida Esperança de poeta enamorado Na saia da baía Amor de Infância Guardado no peito Que salta e parte no poema Hoje e Sempre Praia da Vitória Carla Félix

é chuva, é vento é mágoa, é lamento, entristece, na hora do sismo, mas é Heroísmo que Angra envaidece... Açores é bordado verde... Ciclone em momentos de raiva festa em momentos de alegria São 9 Hortênsias a bailar e a cantar na romaria.. Açores são amores perdidos e reencontrados, são cultos prestados ao mar e a Deus Delgada é a Ponta que não termina por falta de ateus...

Carla Valadão

Açores, bordados no verde...

Gaivota

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São pedaços de terra na introspeção, de lava solidificada marcas de pregação nas mãos do senhor... Açores é vinho, é queijo Açores é amor...

Poesia forma de vida De quem no verso adormece No sonho o verso convida Acorda, e o mesmo acontece... O cérebro vive girando Às voltas em desvario... A rima vai procurando Para do verso ser brio! Poesia é viver sonhando É continuamente amando Mesmo sem ser de ninguém,.. Poesia, talvez loucura... De quem vivendo à procura Do que na vida não tem!...

ESTE ROSTO DE MAR Nesta foto que vejo Da praia que gosto! Sinto em mim o desejo De beijar o seu rosto... Esse rosto de mar Que a todos encanta Vem a areia beijar... E cumprimenta a Santa! Que no cimo da serra Onde está seu altar! Um abraço da terra Vai mandando pro mar! Na areia as pegadas De marcas de pé... Mais tarde levadas No encher da maré! A Areia castanha O mar azul a brilhar! Não há quem mais tenha Este rosto de mar!... Fernando Mendonça

FICHA TÉCNICA COORDENAÇÃO Carla Félix COLABORADORES Carla Félix Carla Valadão Fernando Mendonça

Envio os seus poemas para: maredepoesia@jornaldapraia.com

Carla Valadão

“Maré de Poesia” PARTICIPE


2018.06.01

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